Revista EXPRESSA

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EXPRESSA Ano 1 // Edição #0 // Junho // 2016

O ARQUITETO

Entrevista com Edgar Vasques, um dos maiores nomes da arte gráfica gaúcha

Panela de pressão

A VIDA E O TRABALHO DE HENFIL

+ RABISCOS INTERNACIONAIS CHAPÂNCIA PELA DINAMARCA OS SORRISOS DE MONA LISA EXPOSIÇÕES + GUIAS + AGENDA ADVM BRA TI O

R$ 17,00 - Não assinantes R$ 15,00 - Assinantes


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Índice

ENTREVISTA EDGAR VASQUES

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CAFÉ CARTUM

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ZINES FEMINISTAS

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CARTUNISTAS NA DITADURA

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MOSAICOS DE MONA LISA

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ESPECIALISTAS EM AQUARELA

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IRMÃO DO JOREL

TIPOGRAFIA E ALCOOLISMO

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EXPOSIÇÃO RS CONTEMPORÂNEO

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Mariana Bello Max de los Santos

Joana Berwanger JosĂŠ AntĂ´nio Kalil


EXPRESSA O desenho é a mais antiga forma de expressão do ser humano. Composições criadas com pigmentos e outros materiais são preservadas e enfeitam cavernas e paredes de pedra até hoje. Ao longo dos anos, novas técnicas, materiais e formas de produções foram criadas. O pincel se tornou, por muito tempo, o responsável pelo testemunho de eras. Pinceladas escreveram história e eternizaram homens e mulheres em grandes telas. Em um Brasil contemporâneo, as formas de expressão gráfica e artística conquistaram cada vez mais espaço, se reinventando a cada

dia. São pinturas, tipografias, animações, intervenções, artísticas, poemas, enfim: existe um infinito de possibilidades. Criada a partir da proposta de uma produção de revista na cadeira de Planejamento Editorial e Gráfico, a Revista Expressa tem como principal objetivo reunir, em suas 80 páginas, artistas contemporâneos brasileiros e dar visibilidade para as mais diversas maneiras de produção gráfica no país. A revista é realizada pelos alunos Joana Berwanger, José Antonio Kalil, Mariana Bello e Max de los Santos, e tem como professores orientadores Celso Schröder e Luis Adolfo.

“O NOME DO MEU PATO É ABACATE” Disciplina Planejamento Editorial e Gráfico Professores Celso Schröder e Luiz Adolfo

Alunos Joana Berwanger, José Antonio Kalil, Mariana Bello e Max de los Santos Capa / Contracapa Praia do Hermenegildo / Altair (Edgar Vasques)

Agradecimentos especiais Café Cartum, Cristina Mazzei, Duna the cat, Fan Clube Odiamos o Zé, Verônica Solange & Mariazinha Berwanger.


AQ RE

A tĂŠcnica d onde pigmento e harmonizam


“Declaration of Love”, de Pixie Cold (2012)

UA ELA

de pintura os se misturam m com a água

A

aquarela é uma técnica muito antiga cujo aparecimento se supõe esteja relacionado com a invenção do papel e dos pincéis de pelo de coelho, ambos surgidos na China há mais de 2000 anos. No ocidente, há vários exemplos do emprego desta técnica desde a Idade Média, como Tadeo Gaddi, discípulo de Giotto. Ele viveu até 1366, e teria produzido uma série de desenhos aquarelados, feitos sobre papel tipo pergaminho. O método foi utilizado por artistas flamengos, e amplamente empregado em Florença e Veneza. Foi com Albert Dürer que a aquarela pode resistir ao tempo, já que ele deixou pelo menos 120 obras suas. Com o passar dos anos, surge uma grande contradição em torno deste método, notadamente no Brasil, onde a aquarela é vista como um método escolar. Apreciada por alguns, desprezadas por outros e incompreendida por muitos, o certo é que a aquarela deve ser defendida pelas suas qualidades intrínsecas, como uma técnica em si mesma.


Agnes Cecile

Será que existe perfeição na arte? Durante um longo período da história humana ocidental a arte perfeita foi considerada toda aquela que conseguisse retratar a realidade da maneira mais fiel possível, esse momento ficou conhecido como o renascimento. A perfeição passava a existir quando se conseguia alcançar a beleza suprema nas telas, e era esse o principal objetivo da maioria dos pintores da época. Depois de tantos momentos históricos conturbados, onde a perfeição criada da realidade foi desconstruída inúmeras vezes, a arte transmutou-se de maneiras múltiplas até que chegasse a arte liberta que temos hoje. Toda essa introdução é para falar da obra da artista Silvia Pelissero, mais conhecida como, Agnes Cecile. Essa artista italiana, nascida em 1991, consegue mexer com tintas como ninguém. Começou estudando na escola de arte italiana Giorgio De Chirico, mas abandonou o curso e decidiu estudar de maneira autônoma. Desenvolveu o seu próprio estilo de pintura com aquarela fazendo com que cada quadro seu mexa de maneira intrigante com a imaginação de quem tem a oportunidade de apreciar suas obras. Nos dias de hoje, onde o compartilhamento de ideias é muito maior, pela existência de variados meios de comunicação, torna-se cada vez mais difícil encontrar obras verdadeiramente originais e que causem aquele impacto único.

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Lora Zombie

Lora Zombie é uma das artistas do Eyes On Walls. Esta é uma companhia de arte que agencia jovens promissores cuja inspiração é a cultura popular urbana. Autonomeou-se Lora Zombie para homenagear o “Zombie Flesh Eaters”, coletivo criado para atender todas as demandas do projeto musical Gorillaz, onde sonhava trabalhar no início da carreira. Autodidata também autointitula sua obra como grunge art. “Eu sou apenas uma galinha feliz”, diz a “artista grunge” russa, autodidata Lora Zombie, de 25 anos de idade. Nascido Larisa Novik, Zombie está fazendo seu nome com coloridas pinturas acrílicas, pop-influenciado de cultura que caracterizam as crianças, os animais e o roqueiro ou desenhos animados caráter ocasional. Ela combina imagens incongruentes para obter pinturas como uma criança abraçando um crânio, Spider-Man em um tutu, ou Chapeuzinho Vermelho puxando uma metralhadora da cesta da avó de guloseimas como as abordagens de lobo. Zombie, que vive em St. Petersburg, tem ignorado o sistema de galeria, crescendo o seu público através de postagens diárias de sua arte em mídia social, explica Tom Rowlandson de Montreal olhos varejista on-line on Walls, que vende o trabalho de Zombie. Ela também lançou uma linha de vestuário e acessórios, Herotime.r

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MONA LISAS MONA LISAS MONA LISAS MONA LISAS MONA LISAS 10

INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS POR POA

Artista leva cor a Porto Alegre com Mona Lisas feitas em mosaico DÉBORA FOGLIATTO Porto Alegre

A

rtista especializada em mosaicos, Silvia Marcon ministra oficinas e trabalha com grandes projetos para arquitetos, instalando suas obras em calçadas, murais, piscinas – ou seja, decoração em geral. Ela trabalha profissionalmente com o ofício há cerca de quatro anos, mas foi em novembro de 2014 que começou o projeto que passou a estampar sua arte por diversas ruas da capital gaúcha, em um local de Pelotas e no Rio de Janeiro. As “Mona Lisas” que constrói, cada uma com suas caraterísticas específicas, surgiram a partir da vontade de realizar intervenções urbanas. Uma oficina em novembro de 2014 na Casa Duplan, onde trabalham grafiteiros e outros artistas envolvidos com arte urbana, foi o ponto de partida das Mona Lisas. Anteriormente, Silvia

já havia participado de pequenas intervenções, como coraçõezinhos de lajota em calçadas da Cidade Baixa e bueiros. “Eu já tinha a veia da arte urbana, mas não tinha nada definido. Vi que queria fazer isso e comecei a pensar em figuras emblemáticas, chegando na Mona Lisa. É a obra de arte que tem mais releituras até hoje no mundo, trabalho em cima disso, com a releitura”, relata a artista. No próprio evento, um workshop chamado Paxart, nasceram as duas primeiras Monas. Em menos de duas semanas, ela foi convidada a ministrar uma oficina no festival Mira, em Pelotas, para onde levou a ideia e instalou três obras, perto da Universidade Federal de Pelotas. De volta à Capital, Silvia foi convidada para uma oficina no Vila Flores, sempre com as Monas, e instalou cinco delas no local. Quando já havia cerca de 30 Mona Lisas instaladas — atualmente, são 60 — uma artista de Buenos Aires veio ao Brasil e perguntou se po-


Guilherme Santos/Sul21 Mosaicos das Mona Lisas podem ser encontradas em vários pontos da cidade de Porto Alegre. Na foto, intervenção no bairro Vila Flores.

deria fazer uma “filial”, colocando obras semelhantes em sua cidade. “Eu vi bem como uma proposta de coletivo, por isso aceitei. E ela fundou um Mosaico Urbano argentino, que já tem 20 Mona Lisas instaladas atualmente”, relatou Sílvia. Ela conta ainda que há a possibilidade de o trabalho se expandir para Portugal, onde tem um aluno residindo. As obras são instaladas sempre em lugares públicos, especialmente muros e viadutos. “Sou contra botar em lugares tombados também, não faria isso. Então eu primeiro boto olho no local. Essa do Viaduto da Conceição, na Avenida Independência, que foi colocada no domingo (20), ficou bem bom, porque ali é um lugar que não é tombado, não é ‘de ninguém’, é na via pública”,

relata Silvia, destacando que as obras também trazem cor e “deixam bonita” a paisagem urbana. Na última semana, Silvia ministrou um curso de mosaico, ensinando os interessados a fazer suas próprias Mona Lisas, em oito horas/

“Eu já tinha a veia da arte urbana, mas não tinha nada definido” aula. No dia seguinte, é necessário ainda reservar um turno para a instalação das obras nos locais externos. “As ideias vêm de cada pessoa, tem uma inspirada em uma Tartaruga Ninja, outra em Salvador

Dalí, tem a Mona ‘Gata” e fizemos uma de caveira. Eu não sou a mais criativa para Mona Lisas, as minhas não são as mais criativas, mas os alunos sempre têm ótimas ideias”, relata. Além das pequenas Monas espalhadas pelas ruas, Silvia também construiu uma grande Mona Lisa temática para a Ocupação Lanceiros Negros. Exposta na entrada do prédio, na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, ela foi doada pela artista. A grande Mona, na verdade, nasceu como projeto particular para o responsável por uma passagem de pedestres também chamada Lanceiros Negros. “Eu e esta minha amiga de Buenos Aires começamos a fazer essa Mona Lisa grande. Quando, de repente, eles deram para trás, a gente já estava na metade do

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trabalho. Aí pensamos em seguir fazendo. Um pouco depois disso, eu estava subindo para meu ateliê, que é a uma quadra da ocupação, e vejo aquela faixa escrito ‘Lanceiros Negros’”, conta. A coincidência imediatamente chamou a atenção de Silvia, que entrou no local e conversou com os moradores sobre o assunto. Bem recebida, ela decidiu terminar a obra e doar a Mona Lanceira Negra para a ocupação. “Eles adoraram a ideia e a gente fez no amor, porque, claro, que não teríamos como cobrar deles. Para nós, foi super positivo. Acho que às vezes algumas portas se fecham e outras muito melhores se abrem, e foi o caso desse mural”, afirma Silvia.r Silvia quebra azulejos que compõem as Monalisas feitas em mosaico.

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Atelier onde Silvia ministra as oficinas de mosaico.

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Guilherme Santos/Sul21

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Mas quando uma distribuidora aceitou o trabalho de Schulz, sugeriram uma mudança no nome, pois já havia duas tiras parecidas. LI’L ABNER

LITTLE FOLKS

Para evitar qualquer tipo de confusão, a distribuidora deu o nome de “Peanuts”, uma referência a um programa de TV dos Estados Unidos. HOWDY DOODY

Programa de auditório infantil que foi ao ar entre 1947 e 1960. Contava com a “Peanut Gallery”, uma plateia com aproximadamente 40 crianças.

A “peanut gallery” era o setor mais barato, e também mais barulhento, dos teatros circenses, famosos nos Estados Unidos de 1880 a 1930.

Schulz nunca gostou do título da sua tirinha

Snoopy, na verdade, deveria se chamar Sniffy

Em uma entrevista de 1987, o cartunista falou sobre o título de seu trabalho: “É totalmente ridículo, não tem sentido, é simplesmente confuso e indigno.”

O nome já tinha sido utilizado para outra tira. Depois, lembrou que Snoopy seria o nome do próximo cão caso sua mãe tivesse adotado mais um. Do norueguês: snoopy = snuppa = meu doce.

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VOCÊ SABIA? VOCÊ SABIA? VOCÊ SABIA?

De 1947 a 1950, os quadrinhos de Charles M. Schulz, criador de Charlie Brown, se chamavam LI’L FOLKS.

KATHERINE BROOKS The Huffington Post // EUA

VOCÊ SABIA?

O nome “Peanuts” não foi ideia do criador

VOCÊ SABIA?

(Reprodução)

?

Traçado do personagem Charlie Brown feito por Charles M. Schulz ao longo das décadas.

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TIPOGRAFIA E ALCOOLISMO

TIPOGRAFIA E ALCOOLISMO

MEUS ANOS PERDIDOS COMO UM ALCOÓLATRA ADOLESCENTE

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Como a tipografia redefiniu os rumos de um dinamarquês comum JAKOB ENGBERG PETERSEN VICE // Dinamarca

Q

uando eu tinha 25 anos, uma manhã de segunda-feira normal para mim envolvia acordar no chão do quarto de um apartamento escroto em Nordvest, nos subúrbios de Copenhague. Com as mãos tremendo, meu coração disparado e o rosto ensopado de suor. Eu me sentia vazio e envergonhado, mas a única coisa que eu conseguia imaginar para me sentir melhor era virar seis cervejas Harboe Bear1 e uma garrafa de vinho na faixa das 2 libras esterlinas2. Agora tenho 34, e posso olhar para os quase 20 anos de abuso de álcool que destruíram minha adolescência e começo da vida adulta. Tomei meu primeiro gole aos 12 anos e soube imediatamente que aquilo era a coisa certa para mim. Achei o gosto OK, mas curti especialmente o efeito no meu cérebro. E meus amigos se sentiam da mesma maneira. Nesse ponto, também estávamos sempre fumando maconha, andando de skate, pichando e comendo cogumelos. Crescendo como um bando de pivetes numa cidade pequena, era isso, futebol ou andar de moto. E a gente não curtia futebol ou motos. Eu morava só com o meu pai desde os nove anos, e fiquei com ele até os 17. Nossa relação sempre foi mais de amigos curtindo junto do que pai e filho. Em vez de ter uma figura paterna propriamente dita na minha vida, eu tinha um amigo que me deixava beber o que eu quisesse, e que me apresentava ao mundo maravilhoso da maconha. Quando eu tinha 15 e mudei de escola, ele prepa-

rou meu lanche e colocou um punhado de brotos de cannabis junto como surpresa. Levou alguns anos para alguém me dizer pela primeira vez que eu tinha um problema com a bebida. Eu tinha uns 18, 19 anos, e minha namorada insinuou sutilmente que eu deveria procurar algum tipo de ajuda. Eu não achava que isso era necessário na época, apesar de ter o hábito de começar o dia com quatro cervejas Tuborg3 no café da manhã, e consequentemente acabei expulso de algumas escolas. Um por um, os amigos com quem eu tinha começado a jornada começaram a se focar na escola e estágios. Eles desapareceram da minha vida, então me cerquei de pessoas parecidas comigo, ou seja, gente que não pensava duas vezes em secar uma garrafa de vodca genérica numa noite de terça-feira. Mas eu fazia isso sem nenhum amigo presente também. Aos 17, mudei para Copenhague para começar de novo, mas claro que aconteceu o oposto. Tentei estudar um tema atrás do outro, mas só o que aumentava era minha dívida estudantil, que eu estourava ainda mais com bebidas e drogas. Minha mãe também tinha me ajudado com algum dinheiro e menti para ela sobre onde ele tinha ido parar. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo, mas se sentia muito culpada por ter me deixado morar com meu pai quando eu era criança, então me dar dinheiro sem fazer perguntas era o jeito dela de compensar. Meu pai morreu há alguns anos, mas ainda tenho raiva dele. Quanto mais velho fico, mais vejo como a influência dele na minha vida foi péssima. Meu senso de autopiedade sempre se deu excep-


Jakob durante uma bebedeira no início dos anos 2000. (Cortesia de Jakob Engberg Petersen)

1: Cervejaria fundada em 1883 na cidade de Skælskør, a 114km de Copenhague, o mesmo que ir de Porto Alegre a Lajeado. A cerveja tipo Bear Beer possui 4,2% de teor alcoólico. 2: R$ 10,45 na cotação de 30 de maio de 2016. 3: Cervejaria fundada em 1873 na cidade de Hellerup, a 8km de Copenhague, o mesmo que ir do Centro Histórico de Porto Alegre até o bairro Partenon. Desde 1970, a Tuborg faz parte do grupo Carlsberg e é exportada para mais de 30 países. Seu tipo mais vendido, a cerveja Green, possui teor alcoólico de 4,6%.

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(Cortesia de Jakob Petersen)

Jakob, à esquerda, com os seus amigos numa bebedeira convencional. (Cortesia de Jakob Petersen)

Jakob, torto de bêbado, numa bebedeira convencional. (Sarah Buthmann)

Jakob, hoje sóbrio, trabalhando em um de seus vários letreiros.

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cionalmente bem com a bebida. No começo dos 20 anos, eu tomava de 50 a 60 drinques num dia de final de semana — cortando para a metade disso no meio da semana, para conseguir um pequeno nível de funcionalidade. Àquela altura, já estava bem claro que eu era alcoólatra, e eu estava passando por um tratamento pesado de Antabuse — uma droga que te impede de beber acrescentando efeitos colaterais escrotos quando você toma álcool. Para compensar, parti com tudo para o haxixe e pílulas. Mas se você quiser mesmo, dá para beber tomando Antabuse — e eu queria. Ele faz a cabeça inchar, causa taquicardia, náuseas, dificuldades para respirar, e manchas vermelhas e piniquentas na pele. Mas no final, o álcool subjuga o sistema nervoso a tal ponto que você não sente mais a reação alérgica. Sempre achei que eu só precisava de alguns meses de medicação e estaria pronto para beber com responsabilidade. Mas toda vez que eu terminava um tratamento, só piorava. A parte mais difícil foi realmente perceber e admitir para mim mesmo que o álcool estava além do meu controle. Eu tinha essa ideia falsa de que um dia aprenderia a regular meu consumo de álcool, mas só porque eu não tinha coragem de abordar o verdadeiro problema: Eu bebia porque me sentia um merda. Se para de uma vez, você precisa confrontar os demônios que estão na raiz do seu

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problema – e tem que fazer isso sóbrio. Não estava em meu poder ficar sóbrio, mesmo que isso estivesse me custando caro em vários aspectos da vida. Tive três relacionamentos de longo prazo naquela época, todos estragados pela bebida. Quando estava com minha segunda namorada, eu tomava antidepressivos e os misturava com álcool, o que resultava num comportamento estranho de autoflagelação, que envolveu quebrar garrafas na cabeça e me dar um olho roxo na frente dela. E teve todas as vezes que ela chegou em casa e me encontrou caído no chão da sala, numa poça de mijo, vômito e vodca. Quase morri duas vezes. Uma foi num festival de techno em que desmaiei e acordei no hospital. A outra foi durante um set do Jeff Mills num clube em Copenhague, onde tive uma overdose de GHB e muito goró. Meu coração parou e fui ressuscitado debaixo da chuva na frente do pessoal na fila para entrar. Acordei no Hospital Universitário de Copenhague no dia seguinte com eletrodos por todo o corpo. Lembro de ver a minha calça dentro de um saco plástico — por que eu aparentemente me mijei enquanto os paramédicos me reviviam na calçada. O médico me avisou, mas não adiantou: enchi a cara de novo naquela noite. Em ocasiões menos emocionantes, eu ficava sentado em casa com as cortinas fechadas, bebendo sozinho e chorando.


Quando fiz 31, comecei um curso para fazer letreiros. Eu tinha passado seis ou sete anos entrando e saindo de tratamentos, mas quando minha namorada terminou comigo, tive uma recaída. Isso se chocou com o aprendizado: minha síndrome de abstinência era tão forte que eu não conseguia fazer o trabalho de precisão com o pincel. Eu adorava aquele trabalho e realmente queria terminar o curso, o que lentamente me fez perceber que eu realmente tinha vontade de viver. Eu sabia, lá no fundo, que tinha que parar com tudo e cortar todos os laços com o álcool. Tive uma sequência de recaídas entre os tratamentos e ainda fumava maconha todo dia, mas em agosto de 2013, procurei ajuda de vários grupos de apoio e larguei o álcool, a maconha e as drogas pesadas inteiramente. Hoje, a droga mais potente que uso é a cafeína. Seria um eufemismo chamar isso de ponto decisivo. A maioria das pessoas me conhecia como um fodido que geralmente era encontrado caído na rua, num coma

induzido por álcool e drogas. Sinto que as pessoas que testemunharam essa época têm respeito pelo fato de que consegui me levantar. Claro, essas são as pessoas com quem não falo mais. Hoje tenho novos amigos, que bebem e usam drogas bem mais moderadamente. Posso sair com eles sem me sentir tentado a beber. E honestamente: me divirto tanto quanto antes quando saio, e geralmente sou a pessoa mais feliz e animada do lugar. Mas chegar aqui levou tempo. Um amigo próximo também parou de beber, e tem sido uma grande ajudar para me reintroduzir à vida noturna. Não sinto falta de ficar bêbado. Me sinto melhor agora — espiritual, física e socialmente. Hoje, clareza é de longe a sensação mais recompensadora para mim. Não posso prometer que não vai chegar um dia — depois que eu trouxer alguns filhos para este mundo e tiver uma barba branca — quando vou fumar um beck escondido no quartinho de ferramentas. Mas acredito firmemente que nunca vou beber de novo.r

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ENTREVISTA

EDGAR VASQUES, UMA TRAJETÓRIA

ENTREVISTA

ENTREVISTA

ENTREVISTA

ENTREVISTA

A vida e a militância de um grande cartunista

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E

dgar Luiz Simch Vasques da Silva, gaúcho de Porto Alegre, nascido no dia 5 de outubro de 1949, é um ilustrador, artista gráfico e cartunista brasileiro. Entre suas obras destacam-se a as ilustrações de O Analista de Bagé em quadrinhos e a série de livros com o personagem Rango. Edgar Vasques fez seu primeiro desenho remunerado aos 14 anos. Durante a faculdade de arquitetura, começou a ser ilustrador profissional. Atualmente, com 45 anos de carreira, é o segundo desenhista a ser retratado na série Artistas do Traço, da editora Gastal&Gastal, que pretende abordar os cartunistas gaúchos. Desde a criação do seu mais famoso personagem, Rango, em 1970, até os desenhos atuais, a crítica social permeia o trabalho de Vasques, sempre de forma bem-humorada e irônica. Para o artista, essa é uma das atribuições do humor. “A tarefa do humorista gráfico se divide em duas partes: uma é fornecer o riso, que ajuda as pessoas a não enlouquecerem durante as pressões da vida em sociedade, e a outra é usar a linguagem do hu-


mor, que é atraente e prazerosa, para fazer com que as pessoas se deem conta dos problemas”, acredita. E é isso que ele se dedica a fazer: usar a linguagem do humor para fazer seu público perceber os problemas sociais, tanto os relacionados a ações humanas quanto os estruturais. E, também, se interessar por eles. “A fome é um exemplo de uma questão cultural do sistema econômico que vivemos, que é um sistema excludente. A sociedade acha que nos dividimos em pessoas merecedoras e não-merecedoras, quando na verdade, quem nasce em certa realidade não tem nenhuma chance de ser outra coisa”. O personagem Rango é um exemplo dessa convicção de Vasques. Descabelado e barrigudo, ele é pobre, passa fome e vive em um lixão. A primeira vez que Rango apareceu foi em uma revista da faculdade de arquitetura, quando o artista observava um “descompasso muito grande entre a miséria que se via e o discurso oficial ufanista”. “Criei o personagem por essa perplexidade de ‘como é que ninguém fala do que está na cara?’. Para isso, parti do ponto mais baixo possível”, explica, referindo-se à pobreza em que vive Rango. Mas o fim da ditadura não representou o fim do personagem. “O Rango seguiu em frente porque os problemas não terminaram. O final da ditadura não garantiu a justiça social. Só agora, finalmente, depois de tantos anos, começaram a existir programas oficias de combate eficiente à miséria”, afirma.

Nascido em Porto Alegre em 1949, aos 19 anos ingressou na UFRGS, no final dos anos 1960, quando os estudantes tinham forte participação no combate à ditadura militar. A necessidade de contestar os acontecimentos, aliada à censura midiática que não permitia que discussões viessem à tona tornou crucial o papel das charges e quadrinhos, por ser uma forma de contestação baseada na arte.

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Trajetória de arte e militância Na época, segundo ele, a arquitetura era o mais “parecido com uma profissão” que se relacionava ao desenho, o que o fez optar por esse curso. Apesar de ter entrado também na Escola de Artes, ficou apenas um ano e meio, mais pelo fato de a faculdade estar à margem das discussões políticas do que pela falta de perspectiva profissional. Apesar de formado, Vasques nunca exerceu a profissão de arquiteto. Sem menosprezar a importância da arquitetura, acredita que suas charges podem influenciar a “cabeça das pessoas” de forma mais direta. “Acho que arquitetura é uma ciência e uma arte, que trata de necessidades básicas do ser humano. Mas para me dedicar profissionalmente eu achava mais adequado desenhar, até porque no Brasil a arquitetura não serve necessariamente para trazer moradia para as pessoas”, opina. Já formado, desenhou também para jornais como Folha da Manhã e O Pasquim. Nos anos 1970, foi processado pela Polícia Federal, junto com Rango e o editor do Pasquim da época. Na semana da pátria de 1977, Vasques publicou uma tirinha com uma piada a respeito da data. A ação não levou a nenhuma medida, pois o juiz alegou

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conflito de autoria e arquivou o processo. “Quando chegou às mãos dos promotores, o processo precisava se enquadrar ou na lei de segurança nacional ou na lei de imprensa, e os dois (promotores) disseram que na sua lei não tinha nada. Aí viram que era uma besteira”, conta, lamentando, no entanto, ter passado por muito estresse e agonia devido ao processo. Ainda nos anos 1970, foi um dos colaboradores do Coojornal, órgão da Cooperativa dos Jornalistas que era um dos principais veículos de resistência à ditadura. Além de Rango, nos anos 1980 surgiu outro grande personagem de Vasques: o Analista de Bagé, baseado nos contos de Luis Fernando Verissimo. O autor pediu ao cartunista que ilustrasse seus textos, em formato de quadrinhos que a dupla publicou de 1983 a 1990 em uma página colorida na revista Playboy. Os desenhos chamavam atenção por serem coloridos com aquarela, uma inovação no segmento. Já nos anos 2000, a coleção rendeu um álbum com as melhores publicações. A iniciativa de publicar a série Artistas do Traço é atribuída a Susana Gastal, da editora Gastal&Gastal, que conta com

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Desenhista Crônico recursos da Fumproarte e pretende abordar cartunistas gaúchos. O primeiro volume da coleção é sobre o cartunista Santiago, amigo de Vasques, também arquiteto por formação e ilustrador com décadas de carreira. Vasques entrou em contato com o projeto porque deu depoimento sobre o amigo quando ele foi retratado. A exposição faz parte da Artistas do Traço. O artista precisou realizar o que chama de “trabalho arqueológico”, para encontrar desenhos antigos e descobrir datas. Foi um ano de preparação para que as duas coisas ficassem prontas e fossem lançadas na mesma data. “O pessoal que trabalhou na forma de expor fez um trabalho excelente, está fácil de ler, bonita, e o legal é que tem coisas que nunca foram publicadas”, elogia Vasques. Para completar a programação, no dia 23 de novembro, o artista participa de uma mesa-redonda que terá mediação de Susana Gastal, e a participação de Ana Albani Carvalho, Luciene J de Campos e Santiago. “Esses eventos são muito importantes porque o cartum, de todas as formas de arte no Rio Grande do Sul, é sem dúvida a mais premiada internacionalmente. E ainda assim esse fenômeno não é devidamente estudado e nem repercute”, lamenta Vasques. Para ele, isso só pode evo luir se houver diálogo e reflexão. Atualmente, considerado um dos principais cartunistas gaúchos, EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil

Vasques ainda vive em Porto Alegre e mantém alguns trabalhos fixos. Mensalmente, publica uma charge na revista Bens e Serviços, da Fecomércio, e uma tirinha no Jornal do Mercado, que tem como personagens os gaúchos Olé e Repé. O Rango permanece vivo no jornal Extra Classe, do SinPro, que é publicado uma vez por mês, e o artista ainda mantém uma tira diária noDiário Popular, de Pelotas. Vasques ainda está envolvido no desenho de setenta páginas sobre a história do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre para sua comemoração de 80 anos. Também está desenvolvendo desenhos para a nova coleção das obras de Moacyr Scliar que será lançada pela L&PM, editora com a qual Vasques tem um histórico de proximidade – foi criada nos anos 1970 por seus amigos Paulo de Almeida Lima e Ivan Pinheiro Machado. Aos 64 anos, o quadrinista, cartunista e chargista espera que sua obra colabore de alguma forma para melhorar o país. “Acredito que o Brasil já avançou muito desde a época da ditadura, quando comecei a desenhar, e acho que eu botei a minha pedrinha para que isso acontecesse”, se alegra. Brasil já avançou muito desde a época da ditadura, quando comecei a desenhar, e acho que eu botei a minha pedrinha comecei a desenhar, e acho que eu botei a minha pedrinha comecei a desenhar.

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Os cartunistas Edgar Vasques (abaixo), Santiago e EugĂŞnio Neves, na ĂŠpoca em que trabalhavam no Coojornal


ENTREVISTA Edgar Vasques, cartunista, desenhista, jornalista e arquiteto, faz parte de um dos grupos mais seletos do Brasil: o dos criadores. Entre muitíssimos trabalhos, esse gaúcho tem nas costas a criação do melhor anti-herói do Rio Grande do Sul, o Rango. Com esse personagem, Vasques faz uma crítica à fome e à pobreza. Além do Rango, Vasques faz ilustrações, entre elas a do fabuloso livro Cuca Fundida, do mestre Wood Allen e, também, do livro de Eduardo Bueno que fala a respeito do descobrimento do Brasil. Quer mais? Edgar Vasques já trabalhou nos principais veículos de comunicação da terrinha. Entre eles a Playboy (onde fazia tiras sobre o Analista de Bagé, ao lado do meu herói Luis Fernando Verissimo) e o revolucionário Pasquim (com o passo-fundense Tarso de Castro ensandecido criando polêmica ao lado dos outros também polêmicos Ziraldo, Jaguar e Cia. Ltda). Quando você se envolveu com histórias em quadrinhos? O que você lia na época que o influenciou? Edgar - Comecei a ler HQ na infância (aprendi a ler com 6 anos), e curtia o Pato Donald, mas só quando os desenhos eram de Carl Barks ( não tinha assinatura, mas eu já tinha “olho clínico”). Lia também a revista “Cacique”, da Secretaria Estadual da Educação, e ali me amarrei nos desenhos de Renato Canini, com seus personagens Corta-corta e Ligeirinho (duas formigas), o indiozinho Cacique, o gauchinho Ponche Verde e o neguinho Tibica. Queria (ainda quero) desenhar que nem eles. Depois, já na adolescência, descobri os maravilhosos

quadrinhos (“Dr. Macarra”) e secções ilustradas (na revista “O Cruzeiro”) de Carlos Estevão (minha maior influência gráfica) e o grande “Pererê”, do Ziraldo. A partir daí, o processo nunca cessou: tudo o que eu vejo e gosto, de alguma forma, me influencia. Por que a escolha de temas impactantes em seus quadrinhos, como a pobreza e, de certo modo, a política? Edgar - Porque estes temas, a partir de um determinado momento, me impactaram. Assim, foi o impacto da fome e da miséria que me levaram a abordá-los. Impressionado, usei a linguagem que melhor dominava para me manifestar, e dividir com os outros o que me impressionou. O que você levou em conta para criar o Rango? Edgar - Minha experiência de conviver com a miséria no centro de Porto Alegre, uma área residencial que sofreu um processo de decadência (que coincidiu com o começo da minha adolescência). Passaram a coexistir ali a classe média e diversas gradações de pobreza, que eu acabei registrando no Rango. E o descompasso entre essa situação, e o discurso ufanista da ditadura, que censurava qualquer menção aos problemas, que eram visíveis, óbvios (também influenciaram a criação do personagem). Além do Rango, você fez muitíssimas outras coisas, entre elas desenhos para livros e, em especial, os desenhos do livro de Eduardo Bueno que abarca o descobrimento do Brasil. Como foi essa experiência? Edgar - Não foi o primeiro nem o único trabalho de ilustração que tenho

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feito, embora tenha sido marcante, pelo exercício da documentação e o trabalho com aquarela. Gostei bastante do resultado, apesar de algumas bobagens das designers gráficas, e da tendinite crônica que adquiri por andar para cima e para baixo com 8 kg de livros de referência numa pasta... Você está produzindo uma versão em aquarela do analista de Bagé, da época em que era publicado na playboy. Como é esse projeto? O livro sai esse ano, né? Edgar - Trata-se de uma coletânea das HQs que Verissimo e eu fizemos mensalmente para “Playboy” durante 7 anos. São 82 páginas a cores (a maioria em aquarela), e está na fase da criação da capa. Deve sair esse ano, e especialmente dirigido às mulheres... Quem é, ou quais são, seus grandes ídolos nos quadrinhos? Edgar - São aqueles que eu citei na primeira resposta, seguidos de dezenas de outros que eu nem me animo a começar a citar (até porque a lista cresce dia a dia). Mas tem um cara que me parece o maior desenhista vivo, e não só nos quadrinhos (na ilustração e na caricatura também): o argentino Carlos Nine. Há algum personagem de outro autor que você gostaria de ter criado? Edgar - Acho que não, embora curta e admire muitos personagens alheios, inclusive alguns que eu imitei na infância e adolescência. Você se identifica com seus personagens? Você já viveu algum momento em que aparece nas suas histórias? Edgar - Ainda não fui autobiográfi-

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co nas minhas histórias. Sempre fui tímido, preferindo observar os outros do que falar de mim. Talvez ainda não tenha amadurecido o bastante para me expor pessoalmente na minha obra. Você já teve alguma história vetada, por abordar temas impróprios? O que você pensa sobre isso? Edgar - Houve alguns solavancos de percurso, tanto com a censura oficial quanto com alguns editores, mas história vetada inteira não. Meu caso é mais pesado: por causa dos meus temas e das minhas opiniões, fui vetado por inteiro: passei pelo menos uns 15 anos praticamente excluído da mídia (de certa forma,

ainda estou). Em que jornal ou revista vocês leem o meu trabalho? Como era trabalhar no Pasquim, com aquela equipe que revolucionou o jornalismo brasileiro? Edgar - Foi legal (muitos deles eram meus ídolos), mas curto. O Pasquim foi recolhido de todas as bancas do Brasil, em 77, por causa de algumas tiras do Rango. A ideia dos censores era atingir o pasquim, mas quem dançou fui eu, que nunca mais publiquei lá. Como você se relaciona com a crítica? Edgar - Acho que o mercado de HQ no Brasil é tão desorganizado que não gerou uma crítica profissional (que aparece, em geral, para orientar um público consumidor). Muitas vezes, os próprios quadrinistas assumem o papel de analisar o que está rolando, coisa que eu mesmo tenho feito, de forma intermitente. Na verdade, até sinto falta de uma crítica competente e isenta para balizar a produção da HQ brasileira. Quais são seus projetos futuros? Edgar - Nos quadrinhos, estou voltando (depois de 8 anos) a desenhar tiras novas do Rango: finalmente apareceu um jornal com uma proposta profissional decente, é o mensário “Extraclasse”, do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS. Fora isso, tenho várias ideias: um livro infantil (O Morcêgo Chorão), uma novela gráfica (que tô “cozinhando” há dez anos) sobre um pintor de cavernas na pré-história, chamada “O Captor”. Além disso, espero abrir uma nova frente: passar o conhecimento acumulado, não só através de oficinas, mas cursos de extensão em universidades.r

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O CARTUNIST A DITADURA CO


TA QUE driblou OM DESENHOS


DANIEL CAMARGOS Estado de Minas

G

raúna, o bode Francisco Orelana, o Capitão Zeferino e os frades Cumprido e Baixim são todos geniais personagens de Henfil, mas, apesar de marcarem a história do cartum brasileiro, nenhum deles conseguiu ser tão politizado e passar uma mensagem certeira como um desenho do irmão do Betinho, que para a maioria dos leitores soou despretensioso. Uma criancinha advertida em uma tirinha publicada em jornal: “Juliana, chega de comer sorvete com morango, pois você vai ter caganeira”. Para entender a história é preciso voltar ao início dos anos 1970, quando Gilse Cosenza, então uma aguerrida militante da Ação Popular (AP), estava presa na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Era o auge da repressão, iniciada com o golpe militar, em 1964, e agravada com a decretação do Ato Institucional número 5 (AI-5), em 1968. Gilse foi barbaramente torturada nos porões da ditadura em Belo Horizonte e quando foi presa, sua filha Juliana tinha apenas 4 meses. A irmã de Gilse, Gilda Cosenza, era casada com Henrique de Souza Filho, o Henfil, que ainda hoje é chamado carinhosamente

por elas de Henriquinho. Gilda e Henfil cuidaram de Juliana por dois anos, enquanto Gilse estava presa. Gilse recorda que quando chegou ao presídio em Juiz de Fora não sabia como estava sua filha. “Durante as sessões de tortura, eles (torturadores) colocavam uma criança chorando, dizendo que estavam maltratando a Juliana”, lembra Gilse da violência psicológica, acompanhada das barbáries físicas. Quando foi transferida para Juiz de Fora, Gilse recorda que a condição era melhor. “Fazíamos greves de fome para ter direito a banho de sol e até conseguir ler um jornal diário”, destaca. “Quando chegou o primeiro exemplar do Jornal do Brasil todas queriam o primeiro caderno para ler as notícias de política, mas eu queria ver a parte com os cartuns para saber se estava tudo bem com o Henfil e, assim, com a Juliana.” Quando leu o quadrinho, ela não se recorda se era com a Graúna ou algum dos fradinhos, viu um recado, que a fez chorar de emoção e gritar de alegria para as colegas de luta que estavam presas: “Juliana, chega de comer sorvete com morango, pois você vai ter caganeira”. O recado cifrado de Henfil fez com que Gilse soubesse que sua filha estava bem. “Depois, soube que não era a primeira vez que ele fazia isso”, conta Gilse. O irmão dela, Gildásio, que também era preso político, assim como o marido, Abel Rodri-


Henfil posa com camiseta do personagem TeotĂ´nio Vilela, criado para a campanha das Diretas


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gues Avelar, também recebiam recados cifrados de Henfil. “Eles esconderam, protegeram e criaram minha filha”, recorda Gilse. O agradecimento dela foi tanto, que, quando ficou grávida pela segunda vez, ainda levando uma vida clandestina, com nome falso, decidiu que o nome do filho seria um agradecimento para a irmã e o cunhado. “O nome dela vai ser Gilda, se for menina, e Henrique, se for menino. Foi uma forma de dizer obrigado”, lembra Gilse, que batizou a filha com o nome da irmã. Namoro Gilse era namorada do também militante da AP Abel, amigo de Henfil. Ambos estudavam juntos na Faculdade de Economia da UFMG. “O Henriquinho era espirituoso em tudo. Minha irmã já estava namorando, mas ele ficou doido com ela”, recorda Gilse. Ela lembra que Gilda vestia uma saia xadrez em preto e branco e o Henfil tentou conquistá-la de todas as maneiras. “Ele fez uma charge e colocou um desenho de uma moça com aquela saia sentada em um banco de praça com o namorado e com um desenho dele entrando por trás dos dois e separando”, lembra Gilse. Traços da resistência O mineiro Henrique de Souza Filho, o Henfil, nascido em Ribeirão das Neves, foi um dos maiores cartunistas brasileiros. Resistiu à ditadura com cartuns inteligentes e irônicos e é o autor da expressão “Diretas Já”, que marcou a campanha pela volta das eleições populares para presidente e pelo fim dos anos de chumbo. Fez história no semanário O Pasquim, em companhia dos não menos brilhantes Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Paulo Francis e Ivan Lessa. Em 5 de fevereiro Henfil completaria 70 anos, mas morreu em janeiro de 1988, um mês antes de completar 44 anos, vítima do vírus da Aids, contraído em uma das transfusões de sangue a que era submetido periodicamente. EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil

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Ele edificou jazigos para economistas tecnocratas; para medicos que cobravam fortunas; para cientistas que se tornaram coniventes a corrida armamentista.

O cartunista era hemofílico, assim como seus irmãos o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o músico Chico Mário. Henfil teve um filho com Gilda, Ivan Cosenza, hoje responsável pela acervo da obra do pai. Recentemente, a Coleção Fradim foi relançada pelo instituto e ONG batizados com o nome do artista. Hoje com 45 anos, Juliana é grata

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aos tios por terem cuidado dela enquanto a mãe estava presa. “Tenho uma gratidão sem tamanho por ele e por minha tia. Sem tamanho. Eu devo minha vida a eles”. E lembra do tio como um “um cara extremamente brincalhão”. A tia Gilda lembra que a pequena Juliana estava muito frágil quando foi recebida pela família, aos quatro meses tinha

apenas três quilos. E vê com maus olhos a pouca informação sobre a ditadura militar nos dias de hoje. “É importante falar dessa época para que as pessoas não se esqueçam disso. Assusta-me muito que os jovens não saibam o que foi a ditadura, o que essas pessoas passaram e o horror que foi a tortura”, afirma. Na prisão era difícil até para ler os

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jornais diários, mas eventualmente um exemplar caía na cela de Gilse. Ela conta que todos iam direto ver as notícias e ela corria para ver as tirinhas do Henfil e saber se ele estava bem, desta forma, Juliana talvez também estivesse segura. Chorou e gritou de alegria ao ler num quadrinho com a Graúna e os fradinhos “Juliana, chega de comer sorvete de morango, pois você vai ter caganeira”. Ela entendeu na hora o recado do cunhado Henfil, que a avisava sobre Juliana estar bem, e soube mais tarde que o tal frase, para muitos sem pé nem cabeça, havia sido publicada em muitas edições, para de alguma forma o recado chegar a ela. Como forma de agradecimento, se tivesse outro filho, levaria o nome da tia Gilda caso fosse menina, ou do tio Hen-

fil, caso fosse menino. Ainda na clandestinidade Gilse teve mais uma filha a quem deu o nome da irmã. Uma ave magrinha, mas muito combativa, chamada Graúna; um bode intelectual, Francisco Orelana, que gostava de devorar livros; um “cangaceiro-macho-lutador”, porém dado a gestos carinhosos, de nome Zeferino. São estes os três personagens criados pelo cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988), para discutir – esporadicamente no semanário O Pasquim, diariamente no Jornal do Brasil e mensalmente na revista Fradim – os problemas sociais, políticos e econômicos por que passava o Brasil dos anos 1970. O curioso trio habita um lugar denominado Alto da Caatinga, onde tudo parece uma metáfora do país que o hu-

morista quis retratar. O cenário onde circulam os personagens é desolador. Os cactos, que acentuam a aridez local, são uma alegoria da escassez e do desconforto. As caveiras de gado – os macabros “Caverinos” – simbolizam a proximidade da morte. E o sol causticante, que não dá trégua ao grupo, representaria a situação sufocante imposta ao país pela ditadura militar instaurada em 1964. Neste ambiente de privações há, no entanto, espaço para delicadezas. Graúna, na intimidade, chama Zeferino de Zefé ou Zezé. O cangaceiro chama a ave de Ninita, e ambos tratam o “bode pensador” como Chico ou Chiquim. Só este último, talvez por seu caráter pragmático e pouco afeito a sentimentalismos, não adota apelidos afetuosos no tratamento com os parceiros.r

Zeferino, Graúna e Bode Francisco Orelana

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Artista lança zine de homem feminista

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Alice Porto/Reprodução

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“Ser um omi feministo“ ironiza a participação masculina nos movimentos feministas brasileiros

ANA CLÁUDIA DIAS Diário Popular

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as últimas semanas a artista visual Alice Porto tem-se dedicado a divulgar o zine Ser um omi feministo. A publicação com quatro ilustrações no miolo e uma na capa e contracapa aponta para uma discussão: “Os homens são capazes de total empatia à causa feminista a ponto de poder participar dela sem tropeçarem nas raízes do machismo?” O assunto é polêmico, tanto que ganhou uma fan page, contribuições e objeções também. O zine começa chamando atenção para a expressão “feministo”. Alice Porto explica que a palavra surgiu há algum tempo e se refere, de forma debochada, aos homens que querem ter voz no movimento feminista, mas geralmente de maneira “esdrúxula”. Alinhada a um grupo de feministas que não considera relevante a participação masculina no ativismo em favor das mulheres, a artista e professora de Artes Visuais da Furg caricaturiza no zine imagens reais deles na Marcha

das Vadias, em diferentes partes do país. Na capa e na contracapa a inspiração vem da música Ser um homem feminino, sucesso do músico baiano Pepeu Gomes, nos anos 1980. As imagens são contundentes ao se perceber um certo desalinho entre o que eles argumentam e todo o histórico social que ainda expõe a mulher como uma cidadã de segunda classe. “No início eu comecei a separar as imagens, depois as mulheres começaram a participar e pinçar, o que torna o projeto uma criação coletiva, porque acaba envolvendo uma certa comunidade”, diz. Quanto ao tema, Alice fala que o motivo principal é “poder rir um pouco, porque o feminismo lida com muita desgraça o tempo todo”.


Ideias de dominação De fato a artista defende que os homens envolvidos, por exemplo, na Marcha das Vadias, não contribuem efetivamente para o reconhecimento da mulher. É em momentos como este que, fala a artista, eles reproduzem padrões de comportamento ou ideias de dominação. “Querem pegar o megafone, dizer que sofrem. Fora que, se a gente tá pensando num ambiente em que as mulheres

“Quando se juntam numa mesa de bar e os amigos fazem piadas misóginas, nestas horas não conseguem ou querem debater”

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Alice Porto/Reprodução

sofrem violência, por que colocar os caras no meio?”, argumenta. Para Alice os homens poderiam ajudar de outra forma. “Falando com outros homens, ouvindo as mulheres, levando em consideração o que elas têm para dizer. Quando o assunto é o feminismo querem debater, mas quando se juntam numa mesa de bar e os amigos fazem piadas misóginas, nestas horas não conseguem ou querem debater”, questiona. Até mesmo a própria Marcha das Vadias, protesto que surgiu há cinco anos no Canadá, tem caráter um pouco ambivalente, segundo Alice. “Pode ser porta de entrada pra quem quer saber sobre o assunto, mas a maneira como são abordados (os temas) pode ser um pouco superficial”, diz. A artista também critica a postura de algumas mulheres que colocam os seios à mostra ou tiram

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a roupa. “Algumas acreditam nesta ideia de uma libertação ilusória, que não me interessa. Elas se colocam numa situação vulnerável, atrapalha.” Mas, ao mesmo tempo, a professora percebe nestes movimentos um espaço para todo mundo falar e chegar a uma compreensão coletiva. Tudo faz parte de uma construção. “Geralmente a gente entra no movimento com ideias muito senso comum, com o tempo se aprofunda. A realidade da mulher é muito dura. Mas até que ponto a sexualidade da mulher não está chamando a atenção dos homens da forma errada?”

Alice Porto/Reprodução

Lançamentos O zine Ser um omi feministo foi lançado na 4ª Feira Plana, que ocorreu entre os dias 15 e 17 deste mês em São Paulo, na sexta-feira foi a vez de apresentar o trabalho aos porto-alegrenses. No sábado a artista mostrou o novo trabalho em Pelotas, na cafeteria Vapor Barato. Graduada em Artes Visuais pela UFPel e mestre pela UFRGS, Alice Porto deve prosseguir com o tema nos seus próximos trabalhos. Com a quantidade de fotografias com imagens dos “feministos” que tem recebido, a artista pretende no futuro editar um livro. Esta é a primeira vez que o trabalho de Alice levanta o tema “feminismo”. “Me questionava por não trabalhar com isto, agora consegui enxergar algo que poderia estimular o debate.”r

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Arte de Juliano Enrico

O IRMÃO DO JOREL EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil


Arte de Juliano Enrico

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VINÍCIUS MACHADO ARAÚJO Porto Alegre

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Arte de Juliano Enrico

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rimeira animação original do Cartoon Network no Brasil e na América Latina, “Irmão do Jorel” estreou em 2014 e foi bem recebida por público e crítica: se tornou a mais vista do canal entre crianças de 4 a 11 anos naquele ano, e recebeu em novembro o prêmio de melhor roteiro no festival Telas, voltado ao mercado televisivo. Não à toa, a série já tem sua segunda temporada garantida, com estreia prevista para o segundo semestre de 2016. A trajetória do desenho no Cartoon Network começou em 2009, quando a animação saiu como a vencedora de um pitching feito pelo canal. Até 2011, Juliano investiu na criação do piloto do programa em parceria com a Copa Studios,

que hoje faz a produção executiva da série. A animação voltará ao ar com pequenos ajustes no tom do roteiro e nos traços dos personagens, adianta o criador da animação. “A série continua a manter a essência, esse humor absurdo e rápido”.

ELENCO PRINCIPAL Irmão do Jorel - Andrei Duarte Jorel - Juliano Enrico Dona Danuza - Tânia Gaidarji Seu Edson - César Marchetti Nico - Hugo Picchi Neto Vovó Juliana “Juju” - Melissa Garcia Vovó Gilda “Gigi” - Cecília Lemes Lara - Melissa Garcia


Foto: Iconic Network

“Todos somos o Irmão do Jorel”

Arte de Juliano Enrico

Criada por Juliano Enrico, “Irmão do Jorel” mostra o dia a dia de um menino, que é ofuscado por seu irmão mais velho, e de toda sua família. Foram as próprias lembranças familiares do roteirista que o inspiraram a criar o personagem, em 2003, e levá-lo para histórias em quadrinhos e, mais tarde, para a TV. Mas ele não considera a série autobiográfica – apesar de ter um irmão chamado Jorel – e acredita que seu grande trunfo é poder se conectar com o público. “Eu não sou o irmão do Jorel, todos somos ‘irmão do Jorel’”, diz Enrico, citando as contribuições de atores, animadores e demais roteiristas. “É usar uma história pessoal

Juliano Enrico bebendo algo da bota do irmão do Jorel.

para contar uma história que poderia acontecer com todo mundo”. A descontração e o improviso marcam os bastidores da série – e durante o processo de gravação do áudio original e da animação surgem várias ideias que são aproveitadas depois. “O improviso também é um grande parceiro, muitas falas icônicas aconteceram espontaneamente, na liberdade que a gente tem no estúdio”, explica Juliano. Atualmente, a série é exibida no Cartoon em toda a América Latina, e a 2ª temporada também sofreu ajustes para se tornar mais universal, mas mantendo suas referências nacionais. “Quero conquistar o mundo dançando lambada”, brinca Juliano.

ELENCO SECUNDÁRIO Steve Magal - Hugo Picchi Neto Ana Catarina - Melissa Garcia Samantha - Jussara Marques William “Billy Doidão” da Silva - Cassius Romero Perdigotto - Hugo Picchi Neto Diretora Lola - César Marchetti Professora Adelaide - Cecília Lemes Dra. Suzana - Tânia Gaidarji Gesonel - Hugo Picchi Neto

Fabrício e Danúbio - Cassius Romero e César Marchetti William Shostners - Daniel Furlan Wanderley - César Marchetti Carlos Felino - Daniel Furlan Seu Adelino Lobo do Nascimento - César Marchetti Rambozo - Andrei Duarte Rose - Cecília Lemes Tosh - Hugo Picchi Neto

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Arte: Juliano Enrico

Arte: Juliano Enrico

O FAMOSO JOREL O filho do meio, popular, bonitão e atraente que sempre se dá bem. Ele é silencioso, e sua única fala é um riso fechado. O roteirista brinca que a história é uma espécie de biografia da sua família e comenta rindo: “eu sou o típico irmão do Jorel porque quando era pequeno e morava com meus irmãos, era difícil definir minha persinalidade. Eram muitas opções dentro de casa para se espelhar”, mas de alguma frorma “esquisita”, como conta Juliano, ele se identificava com o irmão mais velho e vivia o imitando. “O Jorel é demais, todos querem ser como ele. Ele é bonitão, charmoso e atleta, até eu quero ser o Jorel”, brinca o roteirista.

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“Até eu quero ser o Jorel” ENRICO, Juliano


A FAMÍLIA DO JOREL E DO IRMÃO DO JOREL A série mostra o cotidiano de uma família excêntrica e extravagante. Junto de sua família composta por seus dois irmãos mais velhos, seu pai, sua mãe, suas duas avós e seu cachorro eles vivem situações típicas de uma família brasileira no final da década de 80. “É uma família bem esquisita, mas muito divertida. Na verdade, cada um de nós colocamos um pouquinho de nós nela”, conta Juliano.

O caminho até a estreia foi longo e envolveu mudanças – a Vovó Gigi, por exemplo, fumava, o que não ficaria bem numa animação infantil. Mas a recompensa veio: foi a animação mais vista do Cartoon Network e seus personagens chegaram até a produtos não-licenciados. E Juliano, além de ter retorno dos espectadores, passou por uma situação inusitada envolvendo sua avó.r

BATEU A CURIOSIDADE? 1ª temporada completa 2ª temporada confirmada para 2017 Horários: De segunda a sexta, às 14h e às 20h Sábado às 16h Domingo às 17h30 Canal: Cartoon Network

Arte: Juliano Enrico

“É uma família bem esquisita, mas muito divertida. Na verdade, cada um de nós colocamos um pouquinho de nós nela”, descreve Juliano Enrico.

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CAFÉ CARTUM CAFÉ CARTUM

CAFÉ CARTUM

CAFÉ CARTUM

CAFÉ CARTUM

O Café / Bar / Galeria dos Cartunistas

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JOSÉ KALIL PORTO ALEGRE

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ar, cafeteria, galeria de arte, espaço cultural e de eventos! Esta é uma nova e bacana atração na cidade, de dois queridíssimos amigos, Guilherme Moojen e Sharlize Prates. Com muito bom gosto eles misturaram arte com botequisses na medida certa. A

abertura foi no começo de 2015 e gerou muita alegria para quem sentia falta do Tutti Giorni (bar anterior do Gui e de seu antigo sócio Nani). A proposta é um diferente, mas a alma artística continua a mesma. Sou um pouco suspeita para falar, mas adorei as mudanças e novidades! O Tutti era um local único que muitos adoravam, mas também tinha problemas (o aglomerado de pessoas que infelizmente incomodavam os vizinhos). Mas


Guilherme Moojen, o dono do Café Cartum (Reprodução)


agora o bar esta tão bom, que não da vontade de ficar na rua! O cardápio é variado, mas o que mais gostei foram as tortinhas (de espinafre, palmito, cheesecake…) e o chopp! Sem falar da maquininha de pipoca free que fica em cima do balcão, um amor. Além de servir o chopp Saint Bier e a cerveja Província, também uma ótima opção é o café feito numa máquina profissional Italiana, que faz toda a diferença. Não conheço muito sobre café, mas sei que a pressão e o a temperatura perfeita da água são extremamente importantes. Quem lembra do fliperama? Ainda continua lá. O sino? Também. Coisas boas que perpetuam. Sem falar da reunião da GRAFAR (associação dos cartunistas), que ainda acontece na quarta-feira, a partir das 20h, reunindo cartunistas e simpatizantes. Se você quer se sentir numa aula de desenho da Grécia antiga, estará no lugar certo, pois lindas meninas (ou meninos que se candidatarem) posam para a arte ser criada. Outra coisa interessante que vai acontecer, serão workshops como o de Aguada de Nanquim e Dicas de Aquarela com Alisson Affonso (no dia 7 de março). Caso queira participar, entre na fanpage do Café, ou melhor, vá até lá para se inscrever e aproveite para conhecer! Um bar com artes pelas paredes, arte sendo feita ao vivo e artistas que se encontram para apreciar um bom café. Super indicado por mim! Tenho certeza que o Gui e a Sharlize vao te receber com muito carinho.

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Atual fachada do Café Cartum em Porto Alegre (Reprodução)


Em uma das quartas-feiras, o popular Cara da Sunga — famoso por correr 20 quilômetros diariamente em trajes de banho, seja verão, seja inverno —, deu mais um passo rumo ao estrelato, posando de modelo vivo para desenhistas amadores e profissionais no Café Cartum, da Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa. A escalação da personalidade encheu de expectativa os frequentadores e até o dono do estabelecimento: — O pessoal perguntou se ele vai ficar nu, mas eu disse que não, daí não seria o Cara da Sunga. Seria como o Zorro sem máscara, o Batman sem capuz... — disse o empresário Guilherme Moojen, 36 anos, antes da chegada do modelo. — Eu estou curioso pra ver se ele vai parar quieto, porque ele está sempre correndo — complementou Caju Galon, 37 anos, artista visual. Com duas corridas por dia, usuário do Parcão perdeu 100 quilos. As especulações acabaram se confirmando. Eduardo chegou por volta das 22h e, depois de cumprimentar os desenhistas um a um, acatou todas as sugestões de pose quase sem respirar. Vestia os tradicionais chapéu azul, tênis e a sunga preta. — Nem sempre a gente tem essa oportunidade de registrar essas personalidades da sociedade de Porto Alegre — destaca Caju. EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil

O Cara da Sunga como modelo vivo no Café Cartum (Jéssica Rebeca Weber)

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Modelo Vivo no Cartum Imagine você, rabiscador de canto de cadernos, adentrar um corredor e dar de cara com grandes nomes da cena de ilustração gaúcha desenhando casualmente enquanto dão golinhos de suas doses de uísque. Bem, acredite — é possível e mais fácil do que você pensa: honrando sua tradição gráfica, Porto Alegre conta com clubes de desenhos voltados a fazer profissionais e amadores (inclusive aqueles sem nenhuma experiência) empunharem o lápis e colocarem as mãos à obra. Veja a cena descrita no primeiro parágrafo, por exemplo. Criado há quase um ano pelo artista Guilherme Moojen, o Café Cartum, no bairro Cidade Baixa, oferece, toda quarta-feira, duas horas de modelo vivo, em que um voluntário posa nu para que os frequentadores possam exercitar o desenho de figura humana. O ritual é um pouco mais antigo: começou há um ano e meio no bar Tutti Giorni (não à toa conhecido como “o bar dos cartunistas”), à época situado na Praça dos Açorianos e que já encerrou suas atividades. Ao abrir o novo endereço, Moojen decidiu reinstituir a quarta-feira como o dia do clube do desenho, agora não mais reservada apenas aos artistas da Grafistas Associados do Rio Grande do Sul (Grafar) que tinham no Tutti seu ponto de encontro. — Quis criar algo que crescesse e que não fosse restrito a quem é das artes visuais — diz.r

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Quarta-feira de modelo vivo no Café Cartum (Reprodução) EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil


Galeria no Cartum

Mostra de fotos “Mulheres do Chile”, de Thaís Maciel (Reprodução)



EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES 50

As exposições podem ser visitadas de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos, das 13h às 19h.

RS CONTEMPORÂNEO NO SANTANDER Santander Cultural recebe exposições de duas gaúchas LUÍS EDUARDO GOMES | TEXTO JOANA BERWANGER | FOTOGRAFIA Jornal Sul21

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té o dia 1º maio, a quinta edição do projeto RS Contemporâneo leva ao Santander Cultural duas exposições de artistas gaúchas: “Aqui tudo é diferente”, de Lívia dos Santos, e “Presença Sinistra”, de Letícia Lopes. As exposições podem ser visitadas de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos, das 13h às 19h. A entrada é gratuita. “Aqui tudo é diferente”, que tem curadoria do

cearense Carlos Eduardo Bitu Cassundé, é uma exposição que aborda os movimentos físicos e simbólicos do nosso cotidiano e foi inspirada nas viagens diárias de trem da artista entre Porto Alegre, onde mora, e Novo Hamburgo, onde cursa Mestrado. “Fiquei por muito tempo transitando por essas cidades e sempre de trem para evitar o trânsito e fui me dando conta de que várias coisas que aconteciam no trem despertavam o meu interesse”, conta Lívia, acrescentando que teve o interesse de transformar estas viagens em obras para mostrar como a arte está presente no cotidiano.


A artista conta que a exposição nasceu de seu interesse por imagens noturnas, sobre como o flash revela “coisas que não deveriam ser vistas”, e acabou, naturalmente, pendendo para “algo noturno e lunar”


A exposição é composta por sete obras individuais

Um de seus trabalhos consiste em formar um pêndulo com o seu corpo e um pincel para captar o movimento que o trem faz no solo durante seu trajeto entre as duas cidades. Ela também trabalha com desenhos, vídeos, frases, fotografias e outros registros dessas viagens. Já a exposição “Presença Sinistra”, de curadoria do carioca Marcelo Campos, é composta por pinturas, colagens, fotografias e vídeos e busca revelar enigmas “escondidos pela noite”. A artista conta que a exposição nasceu de seu interesse por imagens notur-

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nas, sobre como o flash revela “coisas que não deveriam ser vistas”, e acabou, naturalmente, pendendo para “algo noturno e lunar”. A partir disso, ela passou a trabalhar na investigação de como os diversos recursos pictóricos ajudam a compor esses enigmas e revelações. A exposição é composta por sete obras individuais, uma delas formada por um conjunto de 24 telas, que tem por objetivo articular-se em “um trabalho só”, diz Letícia. O RS Contemporâneo é um projeto que busca estimular discussões culturais

e artísticas, além de atender à necessidade de inovação e criatividade, aliadas à formação de um público que faz suas próprias interpretações. Em cada edição, a iniciativa prevê um Conselho Curatorial que indica artistas, cujos trabalhos, capazes de gerar uma contribuição relevante ao meio cultural, são observados por curadores de fora de sua área geográfica de atuação e que, até o momento, não haviam se voltado às suas poéticas. Nesta quinta edição, ainda serão apresentadas mais duas exposições no segundo semestre.r

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O RS Contemporâneo é um projeto que busca estimular discussões culturais e artísticas, além de atender à necessidade de inovação e criatividade, aliadas à formação de um público que faz suas próprias interpretações.

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“Fiquei por muito tempo transitando por essas cidades e sempre de trem para evitar o trânsito e fui me dando conta de que várias coisas que aconteciam no trem despertavam o meu interesse”


VOCÊ SABIA?

A

ugust Rodin trabalhou em “O Pensador” no final do século 19, como uma figura para parte da obra chamada “The Gates of Hell”, que ficariam em torno de uma porta. Ao total eram 180 peças separadas e, originalmente, a peça era muito menor do que a obra solo, produzida mais tarde por August. A peça recebeu o nome de “O Pensador” por sua semelhança com “Il Penseroso”, de Michelangelo.r

VOCÊ SABIA?

“O Pensador” foi produzido como parte da peça “The Gates of Hell”

VOCÊ SABIA?

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VOCÊ SABIA?

E

dvard Munch criou a série “The Scream”/“O grito” entre 1893 e 1910. Das quatro obras, duas são pinturas, uma é pastel e a outra é uma litografia. Em 2012, o desenho a pastel (a obra menos conhecida) quebrou um recorde na Sotheby como “a obra mais cara do mundo já negociada em um leilão”, vendida por 119.900 milhões de dólares. Com exceção às outras obras deste artigo, a série The Scream na verdade não sofreu alterações significativas com o tempo - já que não faz nem um século direito desde que as obras foram concluídas. A questão de incluir The Scream aqui na lista é que apesar da obra ter sido tão impactante quanto Mona Lisa foi em sua época, poucas pessoas sabem que a obra é dividida em quatro peças significantemente diferentes uma da outra. A imagem do topo esquerdo é a pintura original, a do topo direito é a litografia; no canto inferior esquerdo é a pastel e inferior direito é a outra pintura.

VOCÊ SABIA?

O Grito são 4 obras diferentes

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20 - Me Dispo

27 - Fronteiras do Pensamento

O quê: Exposição fotográfica que incentiva a comunidade a despirem-se de preconceitos, esquecendo os eufemismos e expressões que minimizam quem realmente somos. Onde: UniRitter (Campus Zona Sul, Rua Orfanotrófio, 555), Saguão do Prédio A Horário: das 8h às 22h Valor: R$ 0

O quê: Ciclo de palestras com Pierre Lévy Onde: Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110) Horário: 19h45 Valor para passaporte de 8 dias: R$ 780 (idosos, estudantes e pessoas com deficiência // R$ 1.560 (público geral)

28 - A cor do som

23 - Scliar - Ouro Preto O quê: Exposição com 10 pinturas de Carlos Scliar, datadas de 1973. Onde: Pinacoteca Aldo Locatelli (Paço dos Açorianos, Praça Montevidéu, 10). Abertura: 18h30 Visitação: 23 de junho a 5 de agosto, entre segundas e sextas, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30. Valor: R$ 0

25 - A Modernidade Impressa – Artistas ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre O quê: A jornalista e historiadora da arte Paula Ramos lança livro e apresenta obras originais dos principais ilustradores da Livraria do Globo durante a primeira metade do século XX. Onde: Pinacoteca do Margs (Praça da Alfândega, s/nº, Centro Histórico) Abertura: 11h Visitação: 25 de junho a 21 de agosto, entre terças e domingos, das 10h às 19h. Valor: R$ 0

O quê: Exposição organizada por Rodrigo Corrêa que começou 8 de junho. Onde: Gravura Galeria de Arte (R. Corte Real, 647) Horário: das 9h30 às 18h30 (segunda a sexta) e das 9h30 às 13h30 (sábados) Valor: R$ 0

29 - Capacitação Livro, Leitura e Literatura - Edital do FAC O quê: Oficina de capacitação para o edital FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Onde: R. André Puente, 318, Independência Horário: 14 Valor: Inscrições no site da Secretaria da Cultura do RS

30 - Mulheres no Cinema / Mostra de filmes de Jeanine Meerapfel O quê: Essa edição do Projeto Mulheres no Cinema apresenta obras da cineasta que estudou na Hochschule fuer Gestaltung, em Ulm, Alemanha, entre 1965 e 1968 na classe de Edgar Reitz e Alexander Kluge. Onde: Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112) Horário: a partir das 18h45 Valor: R$ 0

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1 - Mostra de Cinema Estudantil e Universitário O quê: Workshops, debates e sessões comentadas promovidos pela Oficina de Cinema de Porto Alegre Onde: Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo (Rua dos Andradas, 1.223, 4º andar - Centro Histórico) Horário: 9h Valor: R$ 0

2 - Nessa Festa tem Bagunça O quê: Espetáculo teatral infantil com direito a muita brincadeira, bagunça e diversão. Onde: Teatro Renascença (Av. Érico Veríssimo, 307) Horário: 15h Valor: R$ 20

5 - IV FRAPA O quê: O FRAPA – Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre – é o primeiro evento voltado ao roteiro de cinema e televisão na América Latina. Sua 4ª edição será realizada de 5 a 8 de julho. Onde: Teatro Renascença (Av. Érico Veríssimo, 307) Horário: 15h Valor: R$ 20

14 - Casuarina O quê: Espetáculo musical. Onde: Opinião (Rua José do Patrocínio 834) Horário: 22h Valor: R$ 30

16 - Humanas Interlocuções O quê: Amostra estética da presença da figura humana na arte contemporânea pelo prisma de 54 diferentes artistas. De 9 de abril a 16 de julho. Onde: Fundação Vera Chaves Barcellos (RS-040/ Av. Sen. Salgado Filho, 8.450 - Viamão) Horário: 22h Valor: R$ 30

19 - Concertos Didáticos O quê: Espetáculo musical da Banda Municipal de Porto Alegre. Onde: Teatro Renascença (Av. Erico Veríssimo, 307) Horário: 10h e 15h Valor: R$ 0

9 - Funk-se Soul Train O quê: Apresentação musical busca revivier o melhor do soul. Onde: Opinião (R. José do Patricínio, 834) Horário: 19h Valor: R$ 135 EXPRESSA - Edição #0 - Junho de 2016 - Porto Alegre/RS - Brasil

24 Futurama 2 O quê: Exposição coletiva na Casa de Cultura Mario Quintana, no Museu de Arte Contemporânea, junto às galerias Xico Stockinger e Sotero Cosme. Onde: R. dos Andradas, 736 Visitação: 14 de junho a 24 de julho, das 10h às 19h (entre ter e sex) e das 12h às 19h (sáb., dom., e, feriados).

30 - Os Caminhos da Matriz (Roteiro 2) O quê: Visitas guiadas que passam por instituições e patrimônios que circundam a Praça da Matriz. No roteiro 2, serão visitados locais como a Cúria Metropolitana, o Arquivo Público e o Memorial do Legislativo. Onde: Praça Marechal Deodoro, s/nº - Centro Histórico) Horário: 14h Valor: R$ 0


Guia de artistas locais e gringos, em ascensão ou já consagrados

ALLAN SIEBER1 Com 43 anos nas costas, Allan Sieber é uma referência quando o assunto é humor negro. O porto-alegrense já teve vários de seus quadrinhos publicados no Estadão e na Folha de SP. Além de cartuns, Sieber produz animações e curta metragens para TV e cinema.

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EXPRESSA RECOMENDA

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PABLO CARRANZA2 O humor ácido e grotesco é a marca do sergipano Pablo Carranza. Tirinhas leves são raridade e o quadrinista de 30 anos aborda com frequência o comportamento humano diante da religião, do sexo e da política. Já ilustrou publicações como Revista MAD, Folha de São Paulo, Revista Monet e Mundo Estranho.

RAFAEL SICA3 Sem cor e sem falas, mas extremamente filosófico. O pelotense Rafael Sica mostra as dificuldades da vida urbana com tiras marcadas pela subjetividade e que despertam o medo, a solidão, e ainda questões existencialistas. Seu trabalho já foi publicado pela Folha e pela revista Piauí.


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Aleksandra Waliszewska4

ASTERISCOS

Polonesa natural de Varsóvia, a pintora se destaca pela obscuridade em suas obras. Aleksandra Waliszewska mistura o estilo medieval com o surrealismo, mas sua abordagem pode variar de rabiscos imprecisos a traçados incrivelmente detalhados. O resultado dessa fórmula são pinturas com conceitos fortemente reflexivos e graficamente indigestos

1 Sem título circa 2011 2 Série “TV Lama” 2013

REZA FARAZMAND5

3 Sem título 2011

O traçado simples e as piadas toscas sobre a modernidade e o cotidiano fizeram de Reza Farazmand um dos desenhistas mais populares da internet. Responsável pela série Poorly Drawn Lines (“Linhas Mal Desenhadas”, em tradução livre), o artista deu início à sua carreira apenas na faculdade e hoje possui mais de 750 mil seguidores no Facebook, além de tiras espalhadas por diversas redes sociais.

4 Sem título 2012 5 “Weather” 2013 6 “Opus Nigrum” (30x40 cm) 2016

ALESSANDRO SICIOLDR6 Com apenas 25 anos de idade, o italiano de Tarquinia, cidade que fica a 95 quilômetros da capital Roma, tem chamado atenção ao produzir pinturas a óleo em meio ao universo de ilustradores digitais. Alessandro Sicioldr combina estilos tradicionais, como a era renascentinsta, e contemporâneos em obras surrealistas.

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John Kenn Mortensen7 Oficialmente, ele é responsável por dirigir e animar programas infantis na Dinamarca. Quando possui tempo livre, John Kenn Mortensen, também conhecido como Don Kenn, usa sua experiência para criar um mundo amarelado de fantasias, monstros e pesadelos. O autor Stephen King e o próprio folclore dinamarquês são as principais influências do desenhista de 38 anos, que também já ilustrou livros infantis.

ANDRÍCIO DE SOUZA9

JOHN BAIZLEY8 A cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, deu à luz um artista abençoado. John Dyer Baizley tem sucesso tanto como ilustrador quanto como músico. Líder da Baroness, uma das bandas mais efervescentes do metal moderno, ele também incorpora elementos de art nouveau nas capas de seus álbuns e de outros grupos, como Kvelertak, Skeletonwitch e Kylesa.

Das sacadas inteligentes aos trocadilhos infames, o santista Andrício de Souza ganha notoriedade não só pelo conteúdo, mas também pela forma. Através de seu exército de canetas azuis Bic (e às vezes, vermelhas), seus desenhos passam longe de ser caricaturas e ganham belíssimos toques de realismo.

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7 Sem título 2015

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Capa do álbum “Kvelertak” 2010

9 Série “Doutoures” 2016

10 “Love Gum“ (50x50 cm) 2013

11 A Alma Encantadora das Ruas 2015

12 Hospital Psiquiátrico Parker: 2016

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SERGIO MORA10 Tendo no currículo clientes como Warner, EMI, Motorola (hoje Lenovo) e Le Monde, o ilustrador espanhol é um exemplo de versatilidade em seus trabalhos. No entanto, o estilo mais abordado por Sergio Mora é o que pode ser chamado de lowbrow, um movimento underground que surgiu na Califórnia na década de 1970 e que mistura pop art com surrealismo. Embora seja um estilo consideravelmente antigo, o lowbrow ganhou notoriedade nos últimos anos, em especial na pintura e na arte digital.

CHIQUINHA11 Pode-se dizer que Fabiane Bento Langona é uma aprendiz de Allan Sieber, vide o humor sarcástico, os traços caricatos e a terra natal, Porto Alegre. Porém, a jornalista de 31 anos se diferencia ao abordar temas relacionados ao comportamento jovem, especialmente o feminino, além do cotidiano do Rio de Janeiro, seu novo lar. Seus desenhos já ganharam destaque na Folha de São Paulo.

Thais Rivoire12 Natural de Caxias do Sul, Thais Rivoire deixou a carreira de odontologista para trás e seguiu o caminho das artes visuais. Morando hoje em São Paulo, ela junta imagens de enciclopédias, guias e revistas para criar colagens com ambientes vivos e grotescos. Um ótimo resgate do estilo kitsch, gênero desenvolvido na Alemanha no século XIX.

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