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Macaneta ganhou vida coM a ponte

Com a construção da ponte sobre o rio Incomáti, o turismo passou, definitivamente, a ser o mais valioso cartão de visita da Macaneta. É claro que essa mudança também trouxe desafios. Saiba quais

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Às portas de maputo (a pouco mais de

40 quilómetros) mora um paraíso natural, ainda hoje, pouco explorado. Apesar da proximidade da capital, a Macaneta nunca foi, no entanto, o destino principal de férias de quem vivia em Maputo. Muito por culpa das dificuldades do acesso que tinha de ser cumprido, morosa, e desorganizadamente, como muitos certamente se lembrarão, por via de um batelão que fazia prolongar uma viagem, hoje feita em 30 minutos, numa penosa aventura de duas horas. No entanto, esses problemas são hoje província Maputo

Distrito De Marracuene área 703 kM² Habitantes 61 000 região Sul

apenas memórias longínquas. Tudo porque a partir de Novembro de 2016, foi inaugurada a ponte que atravessa o rio Incomáti que liga a Vila de Marracuene e a localidade de Macaneta. Assim, passados quase três anos de funcionamento da infra-estrutura, e se no passado aquele destino turístico conseguia receber pouco mais de 100 mil turistas por ano (de acordo com estimativas dos empresários locais), mesmo com todas as questões relacionadas com a transitabilidade, acredita-se que hoje o número quase tenha triplicado, visto

que lugares de atracção de turistas — mais de 110 — é o que mais abunda na pequena localidade, entre os que estão em funcionamento ou os que ainda estão em fase de projecto. O desenvolvimento turístico é, pois, um dos exemplos que elucidam a evolução trazida pela nova infra-estrutura, sendo que muitos agentes turísticos que lá operam não hesitam em afirmar à E&M que Macaneta “se transformou num dos pólos de maior desenvolvimento turístico do país”, dizem-nos. As opiniões, multiplicam-se. “Já não temos motivos para reclamar, a ponte galvanizou tudo”, garantiu Elvis Barros, gestor da Sunrise Lodge Macaneta.

Mais negócios Quem já começa a esfregar as mãos de contente são os operadores turísticos, claro, porque o negócio começou a fluir como nunca. E nos dias que correm, turistas é o que não falta por ali, mesmo que, na sua maioria, ocasionais, de fim-de-semana, para apreciar a paisagem das águas azuis e tudo aquilo que a natureza ainda pouco tocada pode oferecer. Para o presidente da Associação dos Agentes Económicos de Marracuene (AGEM), João das Neves, “a ponte veio aumentar de forma significativa a procura de serviços de turismo na região. Não há dados estatísticos, mas sente-se que o nível de receitas provenientes do turismo triplicou nestes dois últimos anos, em resultado da disponibilidade da ponte”, assegura, para depois sublinhar que “há uma grande oferta de serviços de hotelaria e restauração ao longo da praia, mas muitos outros estão ainda em construção”. Mais do que isso, a ponte não só fomentou o número de turistas, como também acabou por facilitar a instalação de novas estâncias turísticas dinamizando o desenvolvimento no local até pelo facto de, segundo João das Neves, “haver pessoas da cidade de Maputo que agora começaram a instalar as suas residências e negócios na Macaneta. E a razão não seria outra, se não estar mais perto do local de lazer tendo, com isso, melhor qualidade de vida.” A mesma fonte explica também à E&M que a Estrada Circular de Maputo (que liga a capital a Marracuene) é um outro factor que veio impulsionar o turismo em Macaneta, pois acaba por facilitar a circulação de pessoas e bens. “Naturalmente que veio aliviar as dificuldades que a população tinha de se aproximar do desenvolvimento e trouxe, por outro

100

É o número de estabelecimentos existentes na macaneta, entre complexos que estão a funcionar e aqueles que estão em construção

lado, uma oportunidade para os agricultores e pescadores da Macaneta, facilitando as suas vidas para levar os produtos aos grandes mercados de Maputo”, considera o presidente da Associação dos Agentes Económicos de Marracuene. Carol Dias, gestora do Lodge ‘Lugar do Mar’, destaca os benefícios que a ponte trouxe à localidade da Macaneta, afirmando mesmo que “veio colocar Macaneta num lugar de topo, onde sempre devia ter estado ao nível da província de Maputo. Agora já não temos motivos de queixa. Por exemplo, na quadra festiva passada, esgotámos todas as reservas,”, enfatizou.

turismo doméstico com muito peso Se, por um lado, a entrada em funcionamento da ponte sobre o rio Incomáti galvanizou a entrada de investimentos públicos e privados na localidade e aproximou toda a província de Maputo das praias de águas azuis e areias brancas, por outro, estimulou a prática de turismo doméstico que, antes, se deslocava para as praias do Bilene, Xai Xai e Ponta do Ouro. No entanto, nem tudo é positivo. “De certa forma, a enorme afluência afugentou uma parte daqueles turistas que tradicionalmente vinham visitar a Macaneta”, explica João das Neves. No entanto, apesar disso há que assumir que o sector turístico de Macaneta esteve sempre, ao longo das últimas décadas, muito vinculado ao mercado sul-africano. E o surgimento, em força, do turismo doméstico fez com que alguns turistas sul-africanos que, tradicionalmente, eram os mais avistados por ali, e que tiveram um importante papel no desenvolvimento do turismo de Macaneta, se retraíssem e escolhessem outras paragens. Já ao nível dos preços, e mesmo com a entrada em funcionamento da ponte, continuam a ser competitivos e a inflação não se fez notar. É isso mesmo que nos garantem alguns agentes locais, e uma observação no local. “Os preços continuam a ser muito competitivos e acessíveis para o mercado da classe média, em relação a outros pontos turísticos da região”, garante a gestora do ‘Lugar do Mar’.

problemas ambientais são um grande desafio São questões que se colocam sempre que o desenvolvimento chega em forma de crescimento urbanístico, multidões e automóveis, com as consequências imediatas da erosão num sistema que não está preparado ao nível das infra-estruturas sanitárias e sociais. É por isso que a

província

Ponte demorou a chegar mas, quando abriu, alargou os horizontes de quem apostou na Macaneta, nas áreas do imobiliário e turismo

gestão ambiental, sobretudo dos resíduos sólidos, já se tornou um desafio para a comunidade da Macaneta, sobretudo para os operadores turísticos, aqueles que mais recebem (e de forma directa) reclamações dos turistas. Segundo João das Neves, o desenvolvimento que se torna hoje facilmente observável na Macaneta “não é estruturado e muito menos planificado a médio e longo prazos.” Desse rápido crescimento, que se vai verificando em outras zonas do país em situação semelhante (como na Ponta do Ouro, após a entrada em funcionamento da nova estrada e ponte, por exemplo) não está a ser acompanhado das necessárias infra-estruturas básicas, sobretudo de segurança, saúde e saneamento. “É preciso que se trabalhe no plano de desenvolvimento de toda a região, envolvendo os actores locais. O que acontece agora é que os problemas ambientais, sobretudo relacionados com a existência de mais resíduos sólidos, já estão a tornar-se evidentes, e a levar à necessidade de criação de mecanismos de desenvolvimento estruturados de modo a transformar a Macaneta num destino turístico de excelência”, defende o empresário João das Neves. Mais do que isso, questões relacionadas com a segurança (em terra e no mar) também se têm mostrado como um novo desafio às autoridades locais, uma vez que, segundo contam os operadores turísticos da Macaneta, o número do pessoal do corpo de salvação “é ainda muito reduzido” e não são poucas as notícias de afogamentos provocados pela agitação marítima. A seu tempo, iremos perceber se a maré cheia de turismo se traduz, de facto, em maior desenvolvimento.

“A ponte veio aumentar de forma significativa a procura de serviços de turismo na Macaneta”

OPINIÃO

Droga, um mal que consome o país

Hermenegildo Langa • Jornalista da Economia & Mercado

o consumo e tráfico de drogas ilícitas está a atingir

níveis preocupantes no país. Dados do Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga indicam que, entre 2012 e 2016, foram apreendidos 27 mil quilos de “cannabis sativa”, vulgo ‘soruma’, seis toneladas de haxixe, mais de uma tonelada de efedrina e 553 quilogramas de heroína. Entretanto, em 2017, as autoridades apreenderam cerca de oito toneladas de soruma, das quais 73,39% na província da Zambézia, no Centro do país. Este mal atinge sobretudo adolescentes e jovens, considerados os grupos mais vulneráveis. O relatório das Nações Unidas de 2019 também aponta que cerca de 35 milhões de pessoas sofrem, em todo o mundo, de transtornos por uso de drogas, mas apenas uma em cada sete recebe tratamento médico adequado. Até aqui, nota-se que o país já se encontra num nível preocupante, mas o mais grave, pelas informações que vêm sendo reportadas pelos órgãos de comunicação social, é que o país se tornou, nos últimos tempos, num corredor aberto ao tráfico para abastecer o exterior, sobretudo a África do Sul e um conjunto de países da Europa. E, pela permeabilidade das nossas fronteiras, os traficantes exploram a vasta fronteira terrestre e os cerca de 2 500 quilómetros de costa. Na verdade, esta é uma situação grave para qualquer país que luta contra o enriquecimento ilícito, sobretudo pela lavagem de dinheiro que já tomou conta de inúmeros segmentos económicos em vários países africanos, e não só. A questão aqui é simples: sabemos que o país é usado, há tempo de mais, como corredor para o tráfico de drogas. Mas de onde vêm essas drogas? Quem são os produtores? E por que o nosso país é usado como corredor? Nesta senda, muita coisa existe por ser esclarecida, a bem da saúde pública. No entanto, o que a realidade mostra é que, em regra, não passam duas semanas sem que as autoridades reportem alguma apreensão. Mesmo assim, os traficantes não se cansam de desafiar as autoridades. Leva-me a pensar que, para lá do que é apreendido, existam muitas outras coisas que escapam dos radares das autoridades. E, quando isso acontece, pode crer-se que a ousadia terá valido a pena. Se a má fama se transformasse em pontos para ganhar algum Óscar, o nosso país seria um dos mais cotados no tráfico de droga, marfim ou madeira. É recorrente as nossas autoridades apreenderem cidadãos nacionais ou estrangeiros transportando drogas, mas, mesmo sabendo desde logo que esses não são os verdadeiros donos, nunca convocam a imprensa para apresentar os legítimos donos dessas maléficas mercadorias, o que suscita muitas dúvidas sobre a eficácia desse combate. O comportamento das nossas autoridades leva-nos a pensar que simplesmente se “contentam” em prender os cidadãos usados para transportar essas drogas. No meu modesto entender, seria interessante um dia ouvir da Polícia que conseguiu deter os verdadeiros donos dessas drogas que tanto mal criam na nossa juventude. Sem menosprezar o esforço das autoridades da Lei e Ordem, acho que há necessidade de envidar mais esforços, se realmente as nossas autoridades gostariam de ganhar crédito no seio da sociedade. Sabe-se que não é tarefa fácil chegar a estes barões, mas é preciso que a nossa Polícia comece a valorizar o seu juramento. Se isso acontecer, acredita-se que essas pessoas que usam Moçambique como corredor de drogas, e até mesmo os seus consumidores, poderão se sentir-se minimamente ameaçados.

As nossas autoridades da Lei e Ordem devem envidar mais esforços, se realmente gostariam de ganhar crédito no seio da sociedade

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