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ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS
Petróleo em Alta nos Mercados. Renováveis têm de Esperar?
Apesar das grandes companhias petrolíferas terem vindo a perder batalhas públicas sobre as alterações climáticas, os stocks de energia e os preços do petróleo estão a subir em flecha
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TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA Istock Photo , D.R
Foram várias semanas terríveis para grandes companhias petrolíferas como a Exxon Mobil, Chevron e Royal Dutch Shell, que têm sido repreendidas por uma opinião pública cada vez mais adversa, que está a pressionar com o advento das alterações climáticas. No entanto, tem sido também um tempo glorioso para os investidores em energia, o sector com melhor desempenho na bolsa de valores este ano. Os preços das empresas de energia e do oil & gas têm vindo a subir em flecha. Muitos desses aumentos podem ser atribuídos a um aumento da procura à medida que a economia se recupera da pandemia do corona-
vírus. Mas a perspectiva de restrições de fornecimento de energia a longo prazo, uma vez que as empresas são forçadas a responder às alterações climáticas, complica enormemente a situação.
As más notícias para as Big Oil
Em primeiro lugar, consideremos esta estranha combinação de desenvolvimentos. As notícias para as empresas de combustíveis fósseis ultimamente têm sido incessantemente sombrias, uma série de derrotas em importantes votações de accionistas e nos tribunais. Além disso, o negócio da energia tem sido o foco de um relatório político de referência da Agência Internacional de Energia que apela a cortes acentuados na produção de combustíveis fósseis. As várias batalhas são diferentes, e os detalhes são importantes. Mas, resumindo: Os accionistas da Chevron votaram contra a actual gestão no mês passado, orientando a empresa para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. No caso da Exxon, os share holders desafiaram a administração e votaram pela admissão de três directores independentes com o objectivo de empurrar o gigante da energia para reduzir a sua pegada de carbono. E um tribunal na Holanda decidiu que a
Shell deve acelerar na redução das emissões em 45 por cento em relação aos níveis de 2019 até 2030. A petrolífera disse que iria apelar, enquanto os ambientalistas exultaram com a decisão que abriu um precedente para esforços legais concertados a nível mundial. O que estes eventos díspares tinham em comum era o facto de colocarem as principais empresas cotadas na bolsa sob pressão crescente para enfrentarem as alterações climáticas de forma muito mais enérgica. No seu relatório, “Net Zero até 2050: Um Caminho para o Sector Energético Global”, a Agência Internacional de Energia
foi explícita ao afirmar o que deve ser feito para evitar os danos mais catastróficos. Afirmou que os Governos de todo o mundo precisam de parar imediatamente de aprovar o desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás, e que as companhias petrolíferas têm mesmo de reduzir a produção. Embora o relatório não exigisse o fim do negócio petrolífero, a agência projectou uma indústria em retracção num mundo futuro com muito menos extracção, refinação e distribuição de produtos energéticos à base de carbono. Em suma, as manchetes sugeriram que as grandes empresas petrolíferas estavam em grandes dificuldades, e a longo prazo, isso pode ser verdade se não mudarem os seus caminhos.
Maravilhoso desempenho nos mercados
commodities, que parecem estar concentrados no curto prazo, têm vindo a contar uma história muito mais optimista. Apesar de uma breve recessão, este tem sido um período fabuloso para investimentos em empresas de energia, bem como para as mercadorias que têm fornecido a base tradicional para a existência destas empresas. Consideremos alguns dos números de desempenho recentes. Seis dos dez melhores desempenhos no S&P 500 deste ano são empresas de energia, lideradas pela Marathon Oil, que aumentou 88 por cento só em 2021. As empresas do sector energético do S&P 500 fizeram melhor do que qualquer outra grande fatia do mercado - ganhando 37% em 2021, em comparação com cerca de 11% para a referência global do mercado bolsista. Impulsionados por um aumento no preço do petróleo, os retornos das acções das grandes empresas de energia têm sido excelentes, apesar do castigo público. Eis alguns aumentos de preços representativos, expressos em percentagens, para 2021: Exxon, 47 por cento; Chevron, 22 por cento; Shell, 11 por cento; barril de Brent, 41 por cento. O preço do petróleo bruto nos Estados
Unidos subiu acima dos 70 dólares por barril, o seu nível mais alto em três anos. O petróleo, por sua vez, fez subir o preço da gasolina ao consumidor final, algo que se sente em inúmeros países e que não demorará a sentir-se em Moçambique também.
Uma reviravolta e um futuro mais obscuro
A principal razão a curto prazo para a tendência crescente dos preços no sector da energia é a clássica: um simples desequilíbrio entre a oferta e a procura. “Parte disto é exactamente o que acontece ao mercado energético quando a economia cresce após qualquer recessão”, explica Ed Crooks, vice-presidente de energia nas Américas para a empresa de investigação da Wood Mackenzie. A procura disparou à medida que a economia foi despertando do seu “sono pandémico”. Ao mesmo tempo, o fornecimento de petróleo foi limitado por um declínio na produção durante a recessão, quando as pessoas deixaram de conduzir e viajar de avião e as grandes companhias petrolíferas perderam milhares de milhões de dólares e começaram a retrair-se. O abastecimento foi também restringido pela restrição exercida pelo grupo conhecido como OPEC Plus - constituído pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e produtores aliados como a Rússia. A OPEP Plus já anunciou que os seus membros estão a começar a aumentar um pouco a produção, o que poderá impedir que os preços aumentem muito mais. Mas a situação da oferta e da procura a longo prazo é muito mais sombria. A dada altura, se aceitarmos que o planeta está a aquecer - ou seja, se aceitarmos o veredicto da ciência incorporado no relatório da Agência Internacional de Energia - a extracção de grandes quantidades de carbono terá mesmo de parar. A pressão pública sobre as grandes companhias petrolíferas pode ser um prenúncio de declínios na produção de combustíveis fósseis. A possibilidade de restrições no abastecimento futuro está a pesar no mercado e pode estar a ter um impacto marginal nos preços, diz Crooks. Os mercados petrolíferos sempre estiveram ligados à geopolítica, mas podem vir a sê-lo ainda mais na próxima década. Empresas sediadas na Europa, como a Eni, Total e BP, seguidas pela Shell, têm sido mais rápidas a fazer o tal shift para um futuro de energia alternativa e emissões reduzidas de carbono do que empresas americanas como a Conoco Phillips, Chevron e Exxon, de acordo com um novo estudo da Carbon Tracker, um grupo de reflexão (think tank) independente. Mas as empresas petrolíferas estatais em nações como a Arábia Saudita e a Rússia, e as empresas privadas que podem comprar bens a empresas públicas, não são tão receptivas à pressão dos ambientalistas e poderiam facilmente compensar a falta de oferta, como Jason Bordoff, professor de assuntos internacionais e públicos na Columbia, escreveu recentemente na Foreign Policy.
A perspectiva de lucros, sem um imposto sobre o carbono
A economia básica diz-nos que, enquanto a procura superar a oferta, os preços são susceptíveis de subir, estimulando novos aumentos da oferta, até que um novo equilíbrio seja alcançado. É por isso que a maioria dos economistas recomenda alguma forma de imposto sobre o carbono ou sistema de “cap-and-trade”, que diminuiria a procura e reduziria as emissões de carbono ao aumentar os preços ao consumidor, sem proporcionar lucros inesperados aos especuladores da energia. O preço da gasolina ainda é demasiado barato em alguns mercados para estimular uma mudança voluntária e em massa para veículos eléctricos. Sem um imposto, ou alguma outra forma mais intrusiva de intervenção governamental, é provável que o ciclo do preço da energia continue, mesmo apesar das alterações climáticas. Por agora, pelo menos, os investidores estão a colher grandes lucros enquanto o planeta aquece.
O Ambicioso Plano da China Para a Transição Energética em Cinco Gráficos
Em Setembro de 2020, o Presidente Xi Jinping anunciou os passos que a economia iria dar no sentido de alcançar a neutralidade de carbono até 2060 perante a Assembleia das Nações Unidas em Nova Iorque. O que é, por si só bastante relevante, e decisivo até, para todo o mundo, no qual a China é o maior consumidor de electricidade, bem à frente do segundo maior, os Estados Unidos. Actualmente, 80% da energia da China provém de combustíveis fósseis, mas este plano prevê apenas 14% de carvão, petróleo, e gás natural em 2060. O ambicioso plano chinês passa por atingir a neutralidade em termos de carbono e isso requer a mudança de toda a economia nos próximos 40 anos, uma alteração de paradigma que a AIE— Agência Internacional da Energia compara com a ambição das reformas que industrializaram a economia do país no século XX. Esta infografia analisa como seria este ambicioso plano e que esforços estão em curso para atingir este objectivo.
A CHINA TEM UM PLANO AMBICIOSO PARA ALTERAR TODO O SEU MIX ENERGÉTICO E REDUZIR AS EMISSÕES DE CARBONO.
A EVOLUÇÃO DO MIX ENERGÉTICO CHINÊS 2025
CARVÃO
Este gráfico utiliza dados do Instituto da Energia da Universidade de Tsinghua que apresenta em detalhe como o maior consumidor mundial de energia espera atingir a neutralidade de emissões até 2060.
2060
CARVÃO PETRÓLEO
GÁS NATURAL
A China continuará a queimar metade da oferta mundial de carvão. HIDROELÉCTRICA
EÓLICA
BIOMASSA
Mil Milhões de Toneladas de carvão.
PETRÓLEO GÁS NATURAL
HIDROELÉCTRICA
NUCLEAR SOLAR
EÓLICA
NUCLEAR SOLAR BIOMASSA A geração de energia nuclear irá aumentar 533%. A geração de energia solar irá aumentar 667% entre 2025 e 2060.
Apesar de a China ser hoje um consumidor gigantesco de energias fósseis, o mix energético do país irá mover-se cada vez mais para uma neutralidade de emissões de carbono.
O DECLÍNIO DO USO DE CARVÃO PERCENTAGEM DE ELECTRICIDADE DO CONSUMO ENERGÉTICO
O NOVO PLANO NUCLEAR CHINÊS A CAPACIDADE DE CRESCIMENTO - Percentagem DA PRODUÇÃO DE ENERGIA SOLAR de consumo energético – Objectivo de 2020 40% A percentagem de electricidade consumida deverá subir 30% em 2025. - Capacidade nuclear - O objectivo em 2025 A China planeia ter 70 GW (20 novos reactores) em 2025, face aos 50 GW que tinha em 2020. A energia Solar poderá chegar aos 110 GW até 2025, o suficiente para dar energia a 33 milhões de lares.
FONTE Bureau Nacional de Estatística da China FONTE Agência Internacional da Energia; State Grid Corp. da China FONTE Bloomberg; Agência Nacional da Energia da China FONTE Photovoltaic Industry Association
carbonsink Um Negócio em Que Todos Ganham, Sobretudo o Ambiente
“Melhorar a vida dos moçambicanos, com poucos recursos e sem lesar o ambiente”. É assim que se resume a Carbonsink. Mas há mais
TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva
Desenvolver actividades em que a sustentabilidade é mais do que uma palavra... é, sim, uma solução. No País, e no mundo, é um conceito que tem vindo a ganhar lugar em quase todos os sectores de actividade. Neste caso, a produção de fogões melhorados é um dos bons exemplos de uma prática cujo objectivo é reduzir a pegada ambiental sobretudo a através da diminuição de dióxido de carbono. Desenvolvido por um grupo de consultores italianos, o projecto existe em Moçambique há cerca de dois anos e o seu impacto mede-se pela sua presença em diversas províncias do País. A Carbonsink Moçambique, é uma empresa de consultoria composta por cinco gestores que pretendem consciencializar a sociedade moçambicana sobre o perigo que os fogões tradicionais têm, não só para o meio ambiente, como para a saúde humana, de um modo geral. “Os fogões mais abertos ou tradicionais, além de consumirem carvão vegetal criam também uma fumaça que é prejudicial à saúde. Então, a grande vantagem dos fogões melhorados é que utilizam muito menos carvão para cozinhar”, explica António di Silvestro, coordenador da Carbonsink Moçambique. “A grande diferença dos nossos fogões tem que ver com a diminuição da biomassa
B
EMPRESA
Carbonsink Moçambique
FUNDAÇÃO
2019
GESTOR
António di Silvestro
COBERURA
Três províncias
BENEFICIÁRIOS DOS FOGÕES:
12 mil famílias desde Abril de 2020
que se usa para cozinhar, dependendo do tipo do fogão melhorado, este pode poupar 50% até 60% em relação aos fogões tradicionais”, conta a fonte. Implementado nas províncias de Maputo, no Sul do País, Zambézia (Centro) e Cabo Delgado (Norte), já é possível medir o impacto do projecto apesar de ser ainda recente no mercado. “Começámos este projecto em Abril do ano passado, e só na província de Maputo já vendemos mais de 12 mil fogões”, afirma o gestor. No entanto, não é apenas no projecto de produção de fogões melhorados que a Carbonsink Moçambique está envolvida. A empresa também está em frente de outros projectos sustentáveis nos diversos pontos do País, todos com foco na redução das emissões do dióxido de carbono, numa altura em que as Nações Unidas alertam para o facto estar a tornar-se, progressivamente, na maior ameaça à vida no planeta. “Também estamos na província de Manica, na reserva de Chimanimane num projecto de conservação florestal e na província de Tete, num projecto de abastecimento de água potável usando painéis solares”, disse António di Silvestro. Até agora, a consultora considera os seus projectos bem-sucedidos em Moçambique, apesar dos efeitos negativos da pandemia do novo coronavírus, que vieram s“retrair um pouco” as suas actividades.
Solar
Central de Metoro em Cabo Delgado só será entregue no próximo ano
Foi estendido para Janeiro do próximo ano o prazo da conclusão e entrega das obras de construção da Central Solar de Metoro, no distrito de Ancuabe, em Cabo Delgado. O anúncio foi feito por Dinis Vilankulos, representante da Neoen, empresa parceira da Electricidade de Moçambique na implementação do maior projecto de energia solar do País, cuja primeira pedra da sua construção foi lançada em Novembro do ano passado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi. Dinis Vilanculos disse que as obras que inicialmente deviam terminar no presente mês de Agosto estão atrasadas e executadas em 68%, apontando como causas principais as actuais adversidades que a província vive. A fonte falava no âmbito da visita que o Secretário de Estado na província, António Supeia, efectuou recentemente àquela empreitada.
Energia
Iniciou, recentemente, a etapa experimental da central eléctrica de Zimane, no distrito de Mabote, em Inhambane, cujas obras vêm decorrendo desde Setembro do ano passado. A infra-estrutura foi erguida no âmbito da implementação do “Projecto Energia Para Todos”, visando a expansão da rede eléctrica para as zonas rurais. Trata-se de uma central de painéis solares, com a capacidade de produzir, numa primeira fase, cerca de 60 KW de energia que, para além de electrificação das instalações da sede da localidade, posto policial, unidade sanitária e escola, vai também beneficiar a população local. O administrador de Mabote, Carlos Mussanhane, confirmou que as obras do pequeno sistema de abastecimento de energia eléctrica, avaliadas em cerca de 27 milhões de meticais e que incluem a construção de uma fonte de abastecimento de água, também movida a painéis solares, estão praticamente concluídas e que, neste momento, está-se na fase experimental, aguardando-se a confirmação da data de vistoria a ser feita por técnicos do Fundo de Energia (FUNAE).
Investimento
Fundos atribuídos à energia limpa no mundo representam um terço do necessário
Os fundos atribuídos à energia limpa nos planos de recuperação da crise concebidos pelos governos de todo o mundo representam apenas 35% dos necessários para cobrir os objectivos de limitação das alterações climáticas, adverte a Agência Internacional da Energia (AIE). Num relatório publicado neste mês, a AIE estima que, com esta adopção insuficiente das políticas de transição energética, as emissões atingirão um nível recorde a partir de 2023 e continuarão a crescer nos anos seguintes. Em particular, as emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia serão muito superiores a 33 gigatoneladas em 2023, ou seja, mais 3 500 milhões de toneladas do que o previsto no roteiro para alcançar o objectivo de emissões líquidas zero até 2050. De acordo com o roteiro elaborado pela AIE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), uma injecção de um bilião de dólares por ano em energia limpa - equivalente a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) - durante três anos geraria um aumento da actividade global de 1,1 pontos percentuais do PIB por ano.
Inovação
Novo método permite que painéis solares possam produzir mil vezes mais energia
Os investigadores da Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU) descobriram que, com camadas cristalinas de titanato de bário, titanato de estrôncio e titanato de cálcio, colocadas alternadamente, é possível aumentar a eficiência dos painéis solares. A produção de energia dos cristais ferroeléctricos em painéis solares pode ser aumentada graças a uma inovação que envolve a monitorização de camadas finas dos materiais. Ao fazer experiências com diferentes combinações de materiais, os cientistas descobriram que podiam juntar camadas extremamente finas de diferentes materiais para aumentar significativamente a produção de energia solar. “O importante é que um material ferroeléctrico é alternado com um material paraeléctrico. Embora este último não tenha cargas separadas, pode tornar-se ferroeléctrico sob certas condições, por exemplo, em baixas temperaturas ou quando a sua estrutura química é ligeiramente modificada,” refere Akash Bhatnagar, do Centro de Competência de Inovação SiLi-nano da MLU.