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OPINIÃO

O Mercado Secundário da BVM

Líria Nhavotso • Directora da Tesouraria e Mercado de Capitais do Banco BIG

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omercado de capitais é um segmento fundamental do mercado financeiro, no qual, os agentes económicos detentores de excesso de liquidez (investidores institucionais, empresas ou particulares que procuram soluções de poupança e investimento), e outros agentes económicos com necessidade de liquidez (tipicamente entidades públicas ou empresas que procuram financiamento) se encontram para transferir capital de uns para outros.

Este mercado caracteriza-se pela sua elevada liquidez e desintermediação, e representa uma alternativa ao financiamento bancário tradicional e a outros sistemas de financiamento existentes.

O mercado de capitais divide-se entre o mercado primário e o mercado secundário. O mercado primário é o mercado onde os agentes com necessidade de liquidez se encontram numa primeira instância com os investidores, vendendo títulos seja através de emissões de dívida ou emissões de títulos de participação de capital (acções). Este mercado em

Moçambique é primordialmente utilizado pela Direcção

Nacional do Tesouro. A título de exemplo, o Orçamento do

Estado para 2021 prevê que o Estado deverá financiar-se internamente este ano em MZN 41 mil milhões, essencialmente através da emissão de Obrigações do Tesouro. Adicionalmente, outras empresas como a HCB, CDM e Bayport, utilizaram recentemente o mercado primário para emissões de capital e dívida.

O mercado secundário, por sua vez, é um mercado onde são transaccionados títulos já existentes, ou seja, são transacções que ocorrem posteriormente às transacções em mercado primário. A existência de um mercado secundário é fundamental, na medida em que permite aos investidores fazer aplicações ou realizar liquidez através da compra e venda de títulos já cotados. Quanto mais líquido for o mercado secundário, maior é a rapidez e a probabilidade de executar uma transacção, e mais baixos serão os próprios custos de emissão de dívida ou capital, pois os investidores exigirão um prémio de risco mais reduzido pelas suas aplicações. O mercado secundário serve também de referência para emissões futuras de dívida e capital de empresas, pois é no mercado secundário que os preços variam e devem reflectir de forma actualizada as alterações das condições de mercado dos títulos em circulação. Em Moçambique, ao contrário de outros mercados mais desenvolvidos, o mercado secundário de dívida ainda se

Ano 2017 2018 2019 2020 Jun-21 Volume Mercado Primário vs Secundário (Obrigações) Mercado Primário Mercado Secundário %Sec/PRIM 18 779,45 2 477,55 13,19% 17 625,00 2 094,74 11,89% 18 526,11 4 177,52 22,55% 39 800,00 4 840,36 12,16% 24 758,00 2 643,84 10,68%

caracteriza por uma reduzida liquidez, e o volume de transacções é muito inferior ao do volume do mercado primário. Do lado das acções, os indicadores são ainda mais frágeis, sendo que das 11 empresas cotadas somente três transacionam com maior frequência. O volume médio diário é muito reduzido, o que dificulta a afirmação e relevância desta classe de activos nas carteiras de investimento de longo prazo dos principais investidores em Moçambique. Para além da liquidez, outros indicadores como a capitalização bolsista e o número de empresas cotadas também comparam desfavoravelmente com as bolsas de valores de países vizinhos. De acordo com o útimo Relatório de Desempenho da BVM, o índice de capitalização bolsista em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é actualmente de 8,6%, abaixo dos 30% que é a média da região da SADC. Apesar do esforço recente que resultou na admissão à cotação de 6 empresas na Bolsa de Valores entre 2017 e 2021, este indicador também se encontra muito abaixo da média da região. A fraca dispersão (free-float) dos títulos cotados, a reduzida liquidez, as características do sistema de negociação da BVM, a cultura de buy-and-hold (deter os títulos até a maturidade) e a falta de conhecimento sobre o tema são algumas das causas identificadas que justificam o lento desenvolvimento do mercado secundário em Moçambique, no

“Quanto mais líquido for o mercado secundário, maior é a rapidez e a probabilidade de executar uma transacção, e mais baixos serão os próprios custos de emissão de dívida ou capital...”

A emissão recorrente de obrigações de tesouro é um dos factores que contribuem para a fraca capitalização do mercado secundário de dívida soberana

entanto estas não devem ser analisadas individualmente. Uma característica principal corresponde à falta de conhecimento de vários investidores sobre a existência de um mercado secundário. Derivado disso, muitos investidores (incluindo investidores instituições como bancos, seguradoras e fundos de pensões) compram títulos no mercado primário detendo os mesmos até à maturidade, independentemente das condições de mercado e das suas necessidades de liquidez. Outro factor que também não contribui para uma maior liquidez do mercado secundário de dívida soberana inclui a existência de um calendário recorrente de emissões de obrigações de tesouro (mercado primário), que apesar de garantir maior flexibilidade ao Estado enquanto Emitente, penaliza o desenvolvimento e crescimento do mercado secundário, permitindo aos investidores de adquirir títulos no mercado primário de 15 em 15 dias, em vez de recorrerem aos títulos já cotados na BVM. Desta forma, para o crescimento sustentável do mercado de capitais em Moçambique, torna-se crucial repensar o desenvolvimento do mercado secundário de um modo integrado. A implementação de programas de educação com foco em literacia financeira, a disponibilização de incentivos fiscais ao investimento e à poupança, a melhoria da disseminação de informação e modernização do sistema de negociação, e a formação dos agentes económicos sobre os mercados de capitais são alguns exemplos de medidas que poderão ajudar ao crescimento do mercado de capitais nacional. No entanto isto corresponde apenas a estímulos iniciais, na medida em que o trabalho de desenvolvimento deve ser contínuo e integrar todos os agentes económicos, não podendo recair toda a responsabilidade apenas sobre um agente, seja o Estado, a Bolsa de Valores, os Bancos, ou os Investidores. Apenas com um mercado de capitais secundário líquido e vibrante teremos um crescimento da Bolsa de Valores, um aumento natural das empresas a procurar admissão à cotação em mercado primário e uma redução dos custos de financiamento por parte dos emitentes, permitindo assim uma célere e eficiente canalização do capital para financiar os projectos estruturantes que Moçambique necessita, e a famosa alavancagem financeira a funcionar na economia nacional, gerando riqueza quer para o País quer para as famílias.

NÚMEROS EM CONTA

AS 100 MAIORES EMPRESAS GLOBAIS — EUA VS RESTO DO MUNDO

Quando se trata de derrubar as 100 maiores empresas do mundo, os Estados Unidos da América ainda comandam a maior fatia da tarte. Ao longo do século XX, e antes de a globalização atingir o que é hoje, as empresas norte-americanas fizeram daquele país uma potência económica e a fonte da maior parte do valor do mercado global. Mas mesmo à medida que países como a China fizeram progressos com empresas multi-bilionárias próprias, e os sectores mais importantes do mercado global mudaram, os Estados Unidos da América conseguiram manter-se no topo. Como é que as 100 maiores empresas do mundo se acumulam ao longo do tempo? Em que diferem umas das outras? O que as separa? A infografia ao lado mostra o ranking anual das maiores empresas de todo o planeta, utilizando dados de capitalização de mercado de Maio do ano corrente, num valor de mercado de cerca de 31,7 biliões de dólares. É interessante aferir que a diferença entre a maior empresa do mundo (a norte-americana Apple) e a 100ª maior (a também norte-americana Anheuser-Busch) é de $1,9 biliões de dólares, mas, entre países, essa divisão torna-se ainda mais acentuada. Dos 16 países (nenhum do continente africano) com empresas no ranking dos 100 primeiros, os Estados Unidos da América são responsáveis por 65% do valor total do limite de mercado global.

A gigante estatal da Arábia Saudita, Saudi Aramco, é a terceira maior empresa do mundo. É nos EUA que estão 59 das 100 maiores firmas mundiais, e 65% do total da capitalização de mercado.

Nos 16 anos de história do Henley Passport Index, a maioria das posições do ‘Top 10’ são ocupadas por países da União Europeia. As chinesas Tencent e Alibaba são duas das empresas do Top 10 mundial em capitalização de mercado.

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