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ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS

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OBSERVAÇÃO

OBSERVAÇÃO

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O FUTURO DAS RENOVÁVEIS

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Moçambique tem potencial para se tornar num dos mais importantes players da área das energias renováveis ao nível da África Subsaariana. Mas é preciso explorar as oportunidades e investir mais. Na 8ª Edicão do MMEC especialistas falaram sobre este tema

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OPINIÃO

“Capitalizar os Recursos Locais de Gás”, Keith Webb & Ducla dos Santos

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PANORAMA

As Notícias Sobre Energias Renováveis no País e lá Fora

Raios X ao Futuro das Renováveis em Moçambique

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa começa a tomar as renováveis mais a sério nas suas prioridades de produção. O Fundo de Energia anuncia novos investimentos de expansão e a Associação Moçambicana de Energias Renováveis fala da possibilidade de o País se tornar num dos mais respeitados fornecedores de África. O caminho é promissor, mas não isento de desafios…

TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA MMEC 2022 & DR

Especialistas nacionais e internacionais do sector de energia juntaram-se, no início de Junho do presente ano, na 8.ª Conferência e Exposição de Mineração, Petróleo e Gás de Moçambique (MMEC 2022), e entre os diversos temas abordados falaram sobre o que está, deve e vai mudar ao nível das renováveis. Fazendo uma espécie de enquadramento no painel que tinha como tema “Encontrando o Futuro: Energias Renováveis na Electrificação de Moçambique”, Ricardo Costa Pereira, presidente da Associação Moçambicana de Energias Renováveis (AMER), começou por lamentar o facto de que, apesar de o dente da AMER, nos últimos anos, tem havido uma mudança de paradigma na abordagem do mercado das energias, que é favorável ao País. É que, durante muitos anos, as renováveis não eram competitivas: a tecnologia era muito complexa, o financiamento não estava disponível e a adaptação das tecnologias era muito complicada.

Mas, hoje, todos estes elementos estão disponíveis e há progressos que permitem que as empresas invistam com segurança nos diferentes projectos, sendo prova disso o Programa de Leilões de Energias Renováveis em Moçambique (PROLER) e todos os outros que estão a ser conduzidos pelo Fundo Nacio-

nal de Energia (FUNAE). Apercebendo-se destas oportunidades, a AMER, organização criada em 2017 que conta, agora, com quase 50 membros nacionais e internacionais, tem vindo a trabalhar com o Governo e com o sector privado para dar destaque às energias renováveis, no sentido de caminhar para a plena exploração de um potencial que “não só é suficiente para o País como para toda a África Subsaariana”, segundo Ricardo Costa Pereira.

As energias renováveis serão o caminho para, de uma forma justa, fazer a transição energética… e podemos ser nós mesmos (Moçambique) o exemplo na África Subsaariana...

continente africano contribuir com menos de 2% nas emissões de gás de efeitos estufa, os países já pagam uma factura que varia entre 3% e 9% do seu PIB por causa dos efeitos das alterações climáticas.

“Assim, as energias renováveis serão o caminho para, de uma forma justa, fazer a transição energética… e podemos ser nós mesmos (Moçambique) o exemplo na África Subsaariana de fazer este caminho de forma sustentável e que essa sustentabilidade signifique lucro para as empresas que trabalham nesta área. Temos, agora, uma oportunidade única de fazer as coisas juntos”, enfatizou o responsável. Ainda de acordo com o presi-

HCB não será mais a mesma

Neste momento, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) fornece energia Hidroeléctrica à empresa pública

Electricidade de Moçambique, mas, no futuro, pretende desempenhar um papel de relevo no fornecimento de energia limpa, em resposta à crescente procura do público e à adopção das renováveis por parte de um cada vez maior número de empresas.

Mas não é só por isso que a empresa está a assumir uma nova postura. Na sua intervenção, Rafael Abrão, administrador- executivo da HCB, recordou que, em 2016, depois de uma produção recorde de electricidade nos anos anteriores, se registou um período de seca que obrigou a empresa a reflectir sobre o risco hidrológico, isto é, quando deixa de haver água suficiente para a geração de energia. Naquele ano, perante a possibilidade de não cumprir os compromissos com os clientes, a HCB teve de repensar no seu plano estratégico relativamente à diversificação de fontes para minimizar o risco hidrológico.

Tendo em conta essa lição, actualmente a HCB está a desenvolver um trabalho com um consultor que presta apoio no campo das energias limpas. “Este consultor tem como objectivo ajudar-nos a identificar possíveis fontes renováveis, nomeadamente de carácter hídrico, solar, geotérmico, entre outras fontes, que nos vão ajudar a contribuir para a diversificação energética do País”, revelou Rafael Abrão.

O responsável chama a atenção, entretanto, para a necessidade de uma reflexão sobre como integrar as renováveis na rede. “Para pequenos sistemas, se calhar, não temos grandes problemas sendo, por isso, possível fazer essa integração através de soluções simples. Mas quando falamos de grandes sistemas, fotovoltaicos, por exemplo, há necessidade de uma visita ao código de rede para vermos como poderemos acomodar estas fontes sem prejudicar os sistemas já existentes”, argumentou.

O caminho da auto-suficiência: Mini-redes e solares residenciais

Porque a adopção das renováveis é irreversível, o Fundo Nacional de Energia (FUNAE) lança, neste mês de Junho, uma oportunidade de financiamento para iniciativas de expansão de sistemas solares residenciais, no valor de cerca de 26 milhões de dólares.

Detalhes sobre como este instrumento vai funcionar ainda não há, mas a ideia é apoiar os investidores do sector a ex-

De uma taxa nacional de acesso a energia de 44%, apenas 6% está na zona rural, de acordo com dados do Fundo de Energia, logo “há muito trabalho a ser feito para responder a este fosso”.

pandirem a sua capacidade de intervenção tendo em vista o alcance do acesso universal até 2030, de acordo com o respectivo PCA, António Saíde. Para uma expansão mais célere da rede de energia fora da rede – que é onde as renováveis entram em cena, estando mais concentrada no Centro e Norte do País –, o FUNAE vem apostando no desenvolvimento de mini-redes, que são estruturas localizadas de geração e distribuição para um consumidor local. Utiliza também a abordagem virada para os sistemas solares residenciais. Ou seja, para as zonas onde a rede não cobre todos os habitantes, o FUNAE vai em busca de respostas para a cobertura.

António Saíde faz menção a um estudo encomendado pelo FUNAE, que indica que, para o alcance do acesso universal, a rede eléctrica nacional vai ampliar a cobertura de 44% para 68% e os

AUTO-SUFICIÊNCIA NO CENÁRIO ÓPTIMO

Um estudo encomendado pelo FUNAE aponta que as Renováveis terão um papel importante no alcance do acesso universal à energia, na seguinte proporção:

Taxa de cobertura em %

Fora da rede

32

68

Dentro da Rede

Na estrutura fora da rede, maior ênfase deve ser dado às solares residenciais e mini-redes. Ambas devem perfazer 32%

Mini-redes

13

Outras fontes

68

19

Solares residenciais

restantes 32% fora da rede. E no contexto fora da rede, a cobertura das mini-redes deverá estar na ordem dos 13% e as soluções solares residenciais vão perfazer 19%. “No meio rural os sistemas residenciais são uma resposta bastante para a procura de energia”, frisou o responsável.

Neste momento, a empresa orienta a sua intervenção no meio rural onde, segundo dados apresentados pelo PCA do FUNAE, estão concentrados 65% dos moçambicanos. É que, de uma taxa nacional de acesso a energia de 44%, apenas 6% está na zona rural, logo “há muito trabalho a ser feito para responder a este fosso”, explicou o PCA do FUNAE.

Desafios e oportunidades

A ambição de crescer no campo das renováveis não é isento de obstáculos. A tarefa de resumir o que se pode esperar neste percurso coube a Piergiorgio Evangelista, director-executivo da Renco Moçambique, empresa italiana que aposta na construção de centrais eléctricas, estando também envolvida na construção da base da TotalEnergies em Afungi, Cabo Delgado.

Começando pelas oportunidades resultantes do investimento nas renováveis, o responsável referiu-se à possibilidade de incentivar a autonomia energética de empresas localizadas em áreas remotas e o armazenamento de energia e soluções de backup. Também entende que as mini-redes para áreas remotas têm potencial de criar um ambiente competitivo para que as tais oportunidades não sejam deixadas apenas para projectos de cooperação sem fins lucrativos, como se tem assistido. No campo da expansão de projectos existentes, a vantagem está na possibilidade de reduzir o prazo de financiamento e execução, e em aproveitar as lições aprendidas dos projectos pioneiros.

Para Piergiorgio Evangelista, os obstáculos incluem a atenção limitada do sector bancário doméstico para iniciativas da área das energias renováveis, o alto risco percebido pelos investidores e financiadores em relação a certas áreas geográficas, a logística internacional e o aumento de custos nos factores de produção.

Na conferência, que juntou diversas individualidades do sector energético, vários outros temas foram levantados com a perspectiva de que o País está bem posicionado no contexto global.

Keith Webb • Responsável pela área de Midstream e Infra-Estruturas no Rand Merchant Bank (RMB) & Ducla dos Santos • Responsável Interina pelo Sector Energético do FNB Moçambique

A indústria das energias renováveis está a crescer rapidamente e torna-se necessária a produção de gás de média e alta potências para a respectiva estabilização.

Capitalizar os Recursos Locais de Gás

Moçambique deve fazer uso dos seus consideráveis recursos de gás para dinamizar as indústrias locais. Em suma, foi este o tema que o FNB levou à 8.ª Conferência de Mineração, Petróleo e Gás e Energia de Moçambique na qual foi um dos main sponsors.

Porque este é o momento certo de expandir o investimento no sector do gás e energia, em Moçambique, e estamos cientes que o desenvolvimento dos jazigos de gás no Norte de Moçambique requerem investimentos externos consideráveis que, por sua vez, dependem da formalização de contratos de exportação de Gás Natural Liquefeito (GNL) para a bancarização destes clientes. O investimento expectável de, até, 100 mil milhões de dólares irá traduzir-se em melhorias significativas no desenvolvimento das infra-estruturas rodoviárias, portuárias, hidráulicas e eléctricas da região, que devem ser dinamizadas para benefício local.

O Governo deverá, para o alcançar, avançar com o plano de desenvolvimento das infra-estruturas sociais e de capital humano e, ainda, alavancar o desenvolvimento industrial em curso na região. Ao mesmo tempo, a dinamização de indústrias secundárias, como da produção de fertilizantes, seria ideal, uma vez que estas requerem fontes de gás acessíveis de modo a tornarem-se competitivas e impactantes. Moçambique deve tirar partido da utilização regional de gás, de modo a fomentar a criação de economias de escala também para uso local. O investimento significativo em infra-estruturas de gasodutos, liquefacção, transporte e requalificação conta com a existência de economias de escala que sejam viáveis para todos.

Embora a procura de gás local possa ser inicialmente limitada, as economias de escala podem ser alcançadas se pudermos servir-nos das redes de gasodutos existentes para satisfazer a procura latente de gás na região. Para sermos bem-sucedidos, é importante ter em conta a relevância dos investimentos em redes de distribuição e na conversão a partir de outras fontes de energia. Neste momento, é importante dar ênfase ao gás, sendo esta uma fonte de energia segura e ideal para equilibrar as redes de energias renováveis regionais que podem, também, beneficiar a economia moçambicana. Moçambique fornece energia hidroeléctrica considerável (Cahora Bassa e, no futuro, Mpanda Nkuwa), o que capacitou a indústria do alumínio, enquanto o Grupo de Energia da África Austral é dominado pela energia do carvão (Eskom).

A indústria das energias renováveis está a crescer rapidamente e torna-se necessária a produção de gás de média e alta potências para a respectiva estabilização. A energia gerada pelo gás é importante para equilibrar a rede eléctrica local e regional, e Moçambique pode recorrer ao gás local para fornecer este serviço, o que requer escala e capacidade bancária suficientes para que o investimento seja compensador.

O gás como um potenciador de uma “transição justa”

O gás pode ser o ingrediente chave para Moçambique alcançar os seus objectivos de transição energética. Webb diz: “As tecnologias de geração de energia a gás são muito flexíveis e podem ser iniciadas rapidamente — o que as torna ideais para equilibrar a geração de energia variável a partir de energia solar e eólica renovável. Como tal, a geração de energia a gás pode formar um poderoso facilitador da transição de energia renovável. Além disso, o gás (particularmente o GNL), como combustível, resulta numa queima mais limpa — muito mais limpa do que o carvão ou o gasóleo. Por outro lado, é muito mais eficiente, o que significa geração de mais electricidade e níveis menores na emissão de dióxido de carbono. Num formato de “ciclo fechado”, as turbinas a gás podem ser ainda mais eficientes como fonte de energia de base em substituição da energia alimentada a carvão”.

Em última análise, um investimento bem-sucedido e o crescimento do mercado do gás em Moçambique exigem um investimento direccionado e um banco que tenha em conta as particularidades do País, o contexto e os objectivos em causa. O RMB, em parceria com o FNB, orgulha-se de ter trabalhado em transacções semelhantes a nível regional e, juntamente com parceiros locais de confiança, está capacitado para oferecer uma visão contínua e negócios estruturados de acordo com as necessidades dos nossos Clientes e da indústria mais vasta.

Expansão

Governo pretende investir em renováveis para tornar o preço da energia eléctrica mais acessível

O Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) está a trabalhar em reformas do quadro legal para atrair mais investimentos no ramo das energias renováveis e tornar o preço da energia eléctrica mais acessível. Para isso, estabelece como meta cerca de 20% do processo de electrificação com base nas energias renováveis, numa altura em que persegue o objectivo de garantir o acesso universal à energia até 2030, num investimento global de até 40 milhões de dólares. A mobilização das diversas fontes energéticas já disponíveis em Moçambique deverá permitir que mais de dez milhões de moçambicanos tenham acesso à energia eléctrica até 2024.

Com o financiamento da União Europeia (UE) e outros parceiros de cooperação pretende-se alavancar investimento privado de, aproximadamente, 200 milhões de euros para a implementação de 120 megawatts de projectos de geração de energia renováveis. Ainda nas perspectivas do Governo, a aposta nas energias renováveis poderá assegurar a transformação e desenvolvimento industrial, agro-processamento, aquacultura e um aumento do acesso energético por parte de mais famílias. Hidroeléctrica

BAD vai fornecer consultoria ao projecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa que vai incluir as energias limpas

O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) vai fornecer serviços de consultoria ao projecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa, ao abrigo de um acordo assinado em Acra, por ocasião da recente visita do Presidente da República e o líder do BAD.

Filipe Nyusi considera que o passo dado é a resposta ideal à questão da visão do País sobre a transição para as energias limpas. Mphanda Nkuwa, que se poderá tornar na segunda maior barragem de produção de electricidade de Moçambique, depois de Cahora Bassa, é um projecto orçado em 4,5 mil milhões de dólares, que prevê a construção de uma central eléctrica na província de Tete, Centro do País, e uma linha de transmissão de alta tensão com uma extensão de 1300 quilómetros, até à província de Maputo.

O Governo espera conseguir concretizar o projecto por forma a entrar em funcionamento em 2031 para alimentar o mercado doméstico e a África Austral.

Investimento

Banco Mundial reitera a aposta nas energias renováveis em África

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, afirmou, recentemente, que o gás natural é importante como combustível de transição, mas que África deve apostar nas energias renováveis para crescer economicamente e resistir a crises como a guerra na Ucrânia.

Reiterou, entretanto, que “novos investimentos em manutenção de hidroeléctricas e barragens são importantes” e que “aumentar a eficiência energética e fazer os investimentos necessários na rede para absorver as energias renováveis também serão passos fundamentais”. “Estes vários passos serão essenciais

O Ministros da Energia e representantes de Governos africanos concordaram em criar uma parceria com empresas alemãs para produzir energia renovável. O objectivo é acabar com a dependência europeia do petróleo e do gás russos. O 15.º Fórum Alemão-Africano de Energia, realizado na cidade alemã de Hamburgo entre os dias 1 e 2 de Junho, foi uma oportunidade para os principais actores africanos e alemães no sector da energia discutirem formas de alcançar uma parceria vantajosa para a produção de energia renovável.

Isto significa que as empresas alemãs irão financiar iniciativas africanas para produzir energia a hidrogénio para exportação para a Europa.

na transição de África da agricultura de subsistência para a actividade económica produtiva na agricultura, serviços, indústria e sectores públicos”, vincou o responsável. Um maior uso de energias renováveis, acrescentou, é também “um alicerce fundamental para a segurança e melhorias em geral no crescimento e no nível de vida”.

África é o continente com o mais baixo nível de acesso a energia, onde apenas 55,7% da população tem eletricidade, contra uma média de 90% no resto do mundo, de acordo com estudo publicado pela Fundação Mo Ibrahim, recentemente. Segundo o mesmo estudo, mais de 930 milhões têm de usar combustíveis poluentes, como carvão, madeira ou gasolina, para cozinhar, agravando os riscos de saúde, resultando em quase 500 mil mortes prematuras por ano. Ainda assim, 22 países africanos já usam energias renováveis como principal fonte de electricidade, sobretudo energia hídrica, mas também solar e geotérmica.

Cooperação

Alemanha e África criam parcerias para produzir energia renovável

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