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OPINIÃO

Claudio Pondja • Director Wealth Management do Banco BiG Moçambique

O Mercado Cambial e o Arranque da Exploração de LNG

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Vários são os agentes económicos expectantes com o anúncio da petrolífera ENI de arrancar com a produção e primeira exportação de gás liquefeito ainda no decorrer deste ano de 2022. O Mercado Cambial será dos primeiros mercados a sentir os efeitos destas exportações, com o aumento de liquidez em moeda estrangeira, quer seja nas transacções entre bancos comerciais, quer nas transacções entre os bancos comerciais com o público.

Esta expectativa é ainda reforçada com a possível retoma das operações da TotalEnergies no Norte do País, quando estiverem garantidas as condições de segurança junto do projecto de gás em Palma. Contudo, é preciso recordar que, de acordo com a balança comercial, existe um grande fosso entre a procura de moeda estrangeira para fazer face às importações, e as fontes existentes de moeda estrangeira para cobertura dessas mesmas importações. O desenvolvimento dos projectos de gás, que serão geradores de receitas em moeda estrangeira no futuro, são também, neste momento, deficitários de moeda estrangeira, pois necessitam de importar maquinaria e combustíveis.

Assim sendo, com a retoma das actividades em Cabo Delgado, as importações de combustíveis, como o gasóleo, irão sofrer um incremento face à média de importação dos últimos anos, que, somente no gasóleo, principal fatia no total da factura dos combustíveis, rondou os $500 mil/ano.

O gráfico abaixo demonstra a evolução da Conta-Corrente, neste caso o défice entre as entradas e saídas das divisas, onde se destaca o primeiro trimestre de 2022, quando existiu um incremento significativo de +490% nas importações, devido à aquisição de maquinaria para os grandes projectos

Com a retoma das actividades em Cabo Delgado, as importações de combustíveis, como o gasóleo, irão aumentar face à média de importação dos últimos anos

LNG. Embora a expectativa seja grande, a realidade irá ser bem mais moderada uma vez que os acordos estabelecidos entre as petrolíferas e o Governo não acautelam uma entrada de volumes elevados de receitas de exportação do gás, quer pela utilização de contas offshore, quer porque o volume que entrará em Moçambique será canalizado para os cofres do Estado via Banco Central. Embora se espere uma entrada para alguns bancos comerciais com exposição ao sector, o montante será uma fracção dos volumes totais da exploração.

A falta de visibilidade de quando a TotalEnergies voltará a Cabo Delgado, mesmo depois de surgirem notícias que estaria a mover de novo contractors para essa região, e a ausência (ainda) de decisão final por parte da Exxon Mobil, exigem ponderação, motivo pelo qual os agentes económicos devem, então, refrear as expectativas de uma possível inundação de divisas no mercado cambial, pelo menos a curto prazo, e esperar que os grandes impactos a médio e longo prazo sejam uma realidade.

Algo que poderá ajudar a manter a expectativa viva será a constituição do Fundo Soberano, no qual o mercado espera que se materializem notícias mais concretas sobre a regulamentação e timings nos próximos meses.

Contudo, estamos ainda no início de um longo caminho que levará ao cumprimento dos objetivos a que se propõe o Fundo Soberano: a acumulação de recursos através da maximização do valor do Fundo, com vista a assegurar que receitas obtidas de recursos naturais não renováveis sejam repartidas, através de investimentos, entre várias gerações, com o intuito de contribuir para a estabilização fiscal e isolar o Orçamento de Estado e a economia nacional dos impactos nefastos resultantes de flutuações dos preços das commodities nos mercados internacionais.

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