MELANCIA mag
Cultura Visual & Lifestyle # 9 | Maio 2016 | melanciamag.com MELANCIA
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Fotografia e produção: Juliana Lima e João Jesus. Modelo: Bobby. Print: Miss Print
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MELANCIA cultura visual e livestyle mag #9 / maio 2016
idealizadoras Juliana Lima & Mafalda Jesus sp e
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Daniel Eime | street art Jean Pierre Oliveira | yoga Um estranho por dia | fotografia Akacorleone | ilustração e street art Mário Cruz | fotojornalismo Há monstros debaixo da cama | handmade David Penela | ilustração Miss Print | tipografia Natália Viana | fotografia Gabriel Campino | receita de melancia Ana Henriques | revisão Gisela Loureiro Família | Amigos
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Capa e Contra Capa by: Natália Viana
e-mail: melanciamag@gmail.com | www.melanciamag.com | facebook/melanciamag | instagram: @melanciamag
delícias de maio :) Não sabemos se também acontece convosco, mas estamos com a sensação de que 2016 está a passar a todo vapor. Parece que ainda agora festejámos a passagem de ano, com fogo de artifício, champagne e as 12 passas e já virámos o calendário para o quinto mês! Maio é especial, afinal, mesmo que tenha sido domingo, começou com um feriado (Dia do Trabalhador). E agora, um pouco de História... Maio deriva do nome da deusa Maia (que na mitologia romana é considerada a deusa da fecundidade e da primavera). Em alguns países também é considerado o mês das noivas, sendo realizados muitos casamentos. Maio, um mês intenso, rico em comemorações, mas também em simbologias, pairando no ar a aura da maternidade. O mês das flores, das mães e, “puxando a brasa à nossa sardinha”, também é o do aniversário de uma das co-fundadoras da MELANCIA mag, a Juliana (que completa 31 anos, com ar de 21, no próximo dia 10). Assim, convidamos todos a aproveitar estas nossas páginas de Maio recheadas de beleza, de artistas e projetos cheios de boas energias, cores e formas. Contamos tornar este vosso mês ainda mais leve e alegre, como devem ser todos. Até Junho :)
“SMELLS LIKE SUMMER” por: Constança
Ensaio fotográfico com cheirinho a verão que destaca a melancia, a nossa fruta favorita, através do olhar e das lentes da brasileira Constança Sabença. Constança vive atualmente em Lisboa e é responsável pelo Cora Food Concept.
índice HÁ MONSTROS DEBAIXO DA CAMA
DELÍCIA DE MELANCIA
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PINGPONG
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MÁRIO CRUZ
MISS PRINT
AKACORLEONE
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DAVID PENELA
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UM ESTRANHO POR DIA
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DANIEL EIME
YOGA SPIRIT
90 A ESCOLHA DAS EDITORAS
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92 ESTILO QUE ANDA POR AÍ
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Street Art & Ilustração
Entrevista por: Mafalda Jesus Obras por: Daniel Eime
Uma intervenção num mercado de bairro em Roma (integrada numa iniciativa que chama a atenção para o perigo de extinção destes locais) é um dos últimos trabalhos de Daniel Eime, 30 anos, artista do stencil. Tudo começou há uns anos, na “cena” urbana das Caldas da Rainha e foi-se espalhando por aí. Fica a conhecer o percurso deste artísta e delicía-te com a delicadeza e o contraste das suas obras.
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1) MELANCIA: Quem é o Daniel? DANIEL: Um rapaz simples, razoavelmente obcecado pelo trabalho mas que adora o que faz. 2) M: Como é que a street art entrou na tua vida? D: Foi de uma forma bastante discreta, porque quando comecei a fazer os primeiros gaffitis ainda não se falava desta coisa da “street art”. Pinto e desenho desde que me conheço, por isso o passo para algo mais urbano foi natural e inconsciente. Sempre gostei de experimentar coisas novas, algumas com um grau de risco elevado (hoje em dia já nem tanto) e talvez por isso, tenha começado a pintar na rua. Na altura, o movimento urbano nas Caldas da Rainha estava em crescimento e acabei por ser apanhado nessa teia. Foi uma fase estranha, com várias mudanças na minha vida, mas agradeço por ter dado esse passo no escuro. Devo a vida que hoje tenho, a esses momentos.
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3) M: O que diferencia o teu trabalho? D: Primeiro, porque é uma perspectiva pessoal mas provavelmente pelo facto de usar uma técnica pouco acarinhada, o stencil, onde tento conjugar uma estética diferente do comum, com outras escalas e universos mais geométricos e/ou abstractos. 4) M: Fala-nos das tuas inspirações e referências. D: Mencionar algumas torna-se impossível porque não bebo sempre da mesma fonte. Tudo pode ser motivo de inspiração. Precisamos é de andar atentos ao que nos rodeia porque é constante o que nos chega e que pode ser usado para os nossos trabalhos. 5) M: Destaca um trabalho teu e diz-nos porquê. D: O que fiz em 2014 na minha primeira vez no festival Memorie Urbane em Itália, marcou uma nova fase na minha vida artística. 4 MELANCIA 13
6) M: Na tua opinião qual é o papel da street art na comunidade? D: A meu ver tem vários papeis, mas penso que principalmente é o de tentar quebrar a quarta parede, entregando livremente diversas manifestações artísticas a qualquer tipo de pessoa. 7) M: Que noção é que um artista nunca deve perder? D: Noção da realidade. Podemos e devemos por vezes andar nos nossos mundos mas convém estarmos atentos aos outros e ao que nos rodeia. 8) M: Já fizeste várias exposições nacionais e internacionais. Quais são os próximos objectivos? D: O objectivo é sempre o mesmo, continuar a trabalhar e a puxar por mim para conseguir crescer tanto a nível pessoal como profissional / artístico. 9) M: Qual é o teu lema de vida? D: Não tenho um lema, mas gosto de ir seguindo o vento, para não estagnar nem andar sempre a pisar os mesmos caminhos. 10) M: Onde encontramos o Daniel quando não está a pintar? D: Em casa, com as minhas duas senhoras. 11) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos seus leitores. D: Primeiro, obrigado Melancia pelo convite e de um modo geral, aproveitem as oportunidades que vos surgem e não se deixem acomodar. 5
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8 1. EMOZIONATA, festival Memorie Urbane em Itália 2. TAGLIO. Rome / Italy 2016 for Forgotten Project 3. CADENTE. Ariano Irpino, Italy 2015 4. FAUSTO, Lisboa 5. FVRIOSO, Ragusa, Sicily / Italy 2015 6. Daniel Eime . Acquapendete / Italy 2015 for Urban Vision Festival. 7. VEDO. MENTA solo show. 8. OTROS TIEMPOS, Cuenca, Spain at Zarajos Deluxe 9. IL CUOCO, Faenza / Italy 2015. 10. SOPHIA, Lisboa 11. MIRA, Porto 12. MENTA, Exposição em Itália 13. MOVE, exposição no Porto
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“PRECISAMOS É DE ANDAR ATENTOS AO QUE NOS RODEIA PORQUE É CONSTANTE O QUE NOS CHEGA E QUE PODE SER USADO PARA OS NOSSOS TRABALHOS.”
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Filosofia e Lifestyle
Artigo por: Juliana Lima Imagens: Divulgação e Mario Fragoso
Não obstante tudo o que possa ter na vida (dinheiro, posses, status, etc. ) se o corpo não está saudável, como poderá aproveitar? Consequentemente, é de importância primordial que se mantenha um corpo saudável e forte. Algumas pessoas tentam fazer isto através dos desportos e temos observado um grande crescimento de interessados pela pratica do yoga como uma alternativa diferente para tonificar o corpo. O yoga tem vindo a tomar conta do mundo ocidental, os seus estilos diversificados que permitem a adaptação dos vários públicos à modalidade e o evidente impacto benéfico na saúde de quem o pratica levam a este crescente sucesso. E, durante a nossa procura e vontade de perceber mais sobre este fenómeno, encontrámos Jean-Pierre de Oliveira, 44 anos, um especialista que tem muito para nos ensinar. Respire fundo e venha filosofar connosco. Namasté.
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Sempre tive bons yogis amadores a minha volta, daqueles mesmo sem ser profissionais, que amavam a prática do yoga. A minha avó, por exemplo, adorava fazer uma invertida perfeita na praia. Aquela imagem sempre me fascinou, e como boa neta seguia os ensinamentos e o bom exemplo dela.O yoga sempre esteve comigo, mas há mais ou menos seis ou sete anos iniciei os meus estudos independentes nesta filosofia assim como a minha prática tão amadora quando a prática dos yogis que citei acima. Durante estes anos a buscar o meu caminho no yoga, além de praticar sozinha, frequentei algumas aulas, experimentei algumas vertentes diferentes, conheci muita gente interessante e professores inspirados. E, cada vez mais tenho a certeza que o segredo da prática do Yoga encontra-se numa simples, porém, importante palavra: equilíbrio. Jean-Pierre de Oliveira descreve o yoga como um conjunto de ferramentas que nos devolve o controlo da nossa existência. Antes de dedicar-se por inteiro ao yoga, Jean era um gestor de Marketing bem sucedido, mas, revelou-nos, com um grande sentimento de vazio e à procura de respostas. A primeira vez que ouviu falar de yoga, Jean tinha 16 anos, quando a sua irmã mais velha, Cristina, com 19 na altura, começou a fazer aulas. Desde então, o interesse pelo yoga despertou, na sua forma física e na sua forma mental. Começou a estudar os seus fundamentos por volta dos 20 anos, com o objetivo de encontrar respostas para a sua mente sempre muita activa. Entretanto a prática (Hatha yoga e posturas), iniciou tinha quase 30 anos. A palavra “Yoga” significa unidade, união do corpo, mente e espírito. Não é uma religião e sim uma filosofia. É a arte de ser feliz, conquistando a saúde física e uma mente calma, com coragem e contentamento. Para Jean, o yoga foi a resposta para aquele vazio que sentia, apesar do sucesso profissional que atingiu ao longo da carreira. De um processo de consciência e
bastante pessoal, deixou de ser gestor para os outros e virou gestor do seu próprio projecto, o Yoga Spirit. Criado em 2009, tem sempre como objetivo principal cultivar e divulgar a ideia de que não temos de adaptar-nos ao yoga mas que este foi pensado para se adaptar a nós, à nossa vida. Mas porquê praticar yoga, se existem tantas atividades que também fazem tão bem? Cada um encontra a sua válvula de escape, é verdade. Este artigo não tem a intenção de convencer quem quer que seja a aderir ao yoga. Mas é certo que cada yogi tem a sua própria resposta para a pergunta anteriormente formulada. Como praticante, acredito que, de facto, o yoga funciona e pode mudar a vida para melhor. Afinal, ajuda-nos a “voltarmonos para dentro” e descobrir em nós mesmos um espaço de tranquilidade, apoio e força interior. Jean-Pierre não é um professor de yoga convencional. Está conectado com o mundo, e por ser muito criativo na sua essência e a pensar nas pessoas que querem ser mais ativas, no entanto não se identificam com a cultura de ginásio, Jean desenvolveu algumas práticas de yoga que têm despertado a curiosidade de muita gente, pois são práticas que oferecem a aliança perfeita entre espiritualidade e atividade física. As aulas de Hot-Yoga, por exemplo, tem ganhado bastante repercussão e popularidade. Pedimos a opinião de Jean sobre esta modalidade e que nos falasse do interesse e motivação dos praticantes. “O Hot-Yoga é uma prática intensa. É, sem dúvida, desafiante e, à primeira vista, o objetivo principal está nos seus efeitos no corpo. No entanto, as condições extremas de calor e humidade recriadas obrigam a uma maior atenção no corpo (para evitar
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que as mãos e os pés escorreguem) para manter equilíbrio e os alinhamentos requeridos para manter a estabilidade e uma prática segura. O foco deve ser constante. Estas mesmas condições desenvolvem no praticante uma maior e melhor resistência ao esforço fisico, desenvolvendo qualidades de força de vontade e de persistência, em que o fluxo mental é domado (pela restrição de pensamentos). O praticante desenvolve capacidades apuradas de concentração e melhora a sua condição física. É uma experiência diferente de yoga que nos leve a perceber quais são os nossos limites físicos e mentais.” Jean-Pierre de Oliveira. O yoga não é uma religião e sim uma filosofia. É a arte ser feliz, conquistando a saúde física e uma mente calma, com coragem e contentamento. É tornar-se o seu verdadeiro amigo, aprendendo a apaziguar a mente, que é o alicerce de uma vida feliz e da paz interior. Essa prática ajuda a superar medos, condicionamentos e limitações que nos impediam de ser mais realizados e felizes. O yoga ensina a desligar e relaxar, num mundo em que existe tanta pressa e inquietude.
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E, para fechar este conteúdo com propósito de reflexão a desenvolver uma mente positiva, confiante, paciente e calma, perguntámos a Jean sobre o seu projecto social. Como o idealizou, como foi coloca-lo em prática e qual era a maior recompensa que obtém com estas aulas. ”As aulas comunitário têm por objetivo de criar uma comunidade crescente de yogis em Lisboa. Criar um lugar de encontro, de troca de experiência e novas #yogamizades! De facto, nao se trata só de um aspeto social em termos económicos, é muito mais do que isso… O donativo livre tem vários propósitos, o de quebrar barreiras na gestão do orçamento individual, sendo nalguns casos impeditivo a uma prática regular num estúdio ou escola de yoga, e, para outros, tem o objetivo de permitir redefinir o valor intrínseco próprio que damos ao yoga, e assim redefinir a sua gestão de prioridades. Por vezes, precisamos de nos encontrar com outros para perceber o que é importante para nós e reajustar o nosso sistema de valores. Uma comunidade é um grupo de pessoas que interagem no mesmo lugar para praticar juntos, mas uma comunidade yoga rapidamente torna-se muito mais do que isso... Numa comunidade de yoga, as pessoas cultivam relacionamentos de uma forma diferente. Tenho consciência de que o professor tem um papel especial nesses relacionamentos em desenvolvimento e, para mim, criar um ambiente que é propício à construção de uma comunidade yoga que irá beneficiar os alunos em tantos aspectos da sua vida (na sua expansão e crescimento) é o mais gratificante. O yoga é um conjunto de ferramentas que deve levar à expansão dos indivíduos. Ao encontrarem-se num espaço com outros que têm intenções semelhantes, tem um efeito tão poderoso nas suas mentes, corpos e corações que os leva a querer criar elos de ligação com outras pessoas, que vieram para viver uma experiência semelhante e comecem a conversar antes ou depois da aula. Estas novas amizades são espontâneas e genuínas que têm o Yoga como núcleo. 6 24 MELANCIA
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1. 2. 3. 4. 5. 10. 11. 13 e 14. Fotografias por Mario Frangoso e de arquivos pessoas de Jean-Pierre das aulas sociais por donativo livre dadas no primeiro dominho de cada mês, no espaço Inatel - A Mouraria. A sala é um ginásio do antigo Colégio dos MeninosOrfãos, um prédio com um interior muito interessante, em Lisboa. 6. “Desejo que a minha visão do Yoga mude a tua perspectiva” Jean Pierre. Fotografia por Msrii Frangoso. 7. “Gosto desta foto. Esta imagem retranscreve a forma como vejo o Yoga. Uma partilha, no momento presente. Sat Chit Ananda.”” Jean Pierre. 8 .9.11.15e16 Jean Pierre a praticar yoga e meditação em diferentes sítios. 12. Jean Pierre em NYC, 2015.
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“YOGA É UM CONJUNTO DE FERRAMENTAS QUE DEVE LEVARA EXPANSÃO DOS INDIVÍDUOS E AO ENCONTRAR-SE NUM ESPAÇO COM OUTROS QUE TÊM INTENÇÕES SEMELHANTES, TEM UM EFEITO TÃO PODEROSO NAS SUAS MENTES, CORPOS E CORAÇÕES QUE OS LEVA A QUERER CRIAR ELOS DE LIGAÇÃO COM OUTRAS PESSOAS, QUE VIERAM PARA VIVER UMA EXPERIÊNCIA SEMELHANTE E COMECEM A CONVERSAR ANTES OU DEPOIS DA AULA. ESTAS NOVAS AMIZADES SÃO ESPONTÂNEAS E GENUÍNAS QUE TÊM O YOGA COMO NÚCLEO.” JEAN-PIERRE.
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No fundo, uma comunidade de pessoas a crescerem na sua prática e, ao conectarem-se com outras pessoas, a levar estas novas amizades para fora da aulas de yoga. Por em prática foi relativamente fácil: decidi investir a fundo perdido num espaço cuja localização fosse central, uma sala maravilhosa desconhecida por muitos, e de fácil acesso. Em poucos meses a sala foi enchendo cada vez mais um pouco. Ja chegámos a ter mais 90 pessoas..” Jean-Pierre de Oliveira. Estas aulas acontecem apenas uma vez por mês, sempre no primeiro domingo de cada mês, no quarto andar do espaço INATEL Mouraria, um antigo ginásio de um prédio histórico de Lisboa, que por si só, já é encantador. Eu fui no primeiro domingo de maio, e recomendo. Acompanhe as novidades do site e redes sociais de Jean para saber mais detalhes. E, para fechar este conteúdo, deixo cá um dizer da filosofia do yoga: “Se o corpo está fraco, se as veias e os nervos estão fracos, se não há a força do Prana (força vital do universo), então como podes ter alguma alegria de viver?”
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Fotografia
Entrevista por: Mafalda Jesus Fotografias por: Um estranho por dia
Se, de repente, te abordarem na rua e te pedirem para tirar uma foto, não te asssustes! Pode, simplesmente, ser um dos fotojornalistas do projeto “Um Estranho por Dia”, em busca do seu clique diário, apontando a objectiva a um perfeito desconhecido. A MELANCIA mag ajuda-te a descobrir um pouco mais sobre esta iniciativa que pretende mostrar “que todos nós temos uma história”.
1) MELANCIA: Descrevam as personalidades por detrás deste projeto. MIGUEL: Somos quatro fotojornalistas, Miguel A. Lopes, Rui Soares, Rui Miguel Pedrosa e João Porfírio. Já conhecia o Rui Soares aqui de Lisboa, cruzávamo-nos em alguns serviços. Da mesma maneira conheci o Rui Miguel Pedrosa, mas penso que em campanhas eleitorais onde andei pelo país, pois o Pedrosa é de Leiria. O João, como disse, foi estagiário na Lusa, onde o fiquei a conhecer melhor. 2) M: Como surgiu a ideia de criar “um estranho por dia”? M: No dia 29 de novembro fotografei o Benjamim. Coloquei um post com a foto no meu Facebook a dizer que iria começar a fotografar uma pessoa estranha por dia. Nos comentários à foto o Rui Soares e o Rui Miguel Pedrosa acharam muita piada e que gostariam de fazer o mesmo. Perguntei-lhes o que achavam de criarmos um projeto, e o nome “Um Estranho Por Dia” surgiu-me logo na cabeça. Eles concordaram e eu convidei o João Porfírio também a participar. O João foi estagiário na Lusa onde trabalho e achei que ele iria gostar e todos concordámos que sim e criámos nessa noite o projeto.
3) M: Qual é o processo? Como é feita a abordagem? M: Não há nenhuma “fórmula” na forma como abordamos os nossos “estranhos”. Depende do ambiente, da situação, do espaço e cada pessoa reage de maneira diferente ao nosso primeiro contacto. No meu caso em particular, por norma, começo sempre porque fazer uma abordagem a explicar o projecto, mostro na maior parte das vezes o Facebook ou o instagram do projecto a partir do meu smartphone e pergunto se posso contar com a colaboração da pessoa. Há pessoas bastantes curiosas como nós e perguntam-me como é que surgiu a ideia, quem são os outros elementos, para que finalidade é a sua fotografia ou até “porque é que me escolheu a mim?”. Nestes casos respondo sempre com sinceridade e explico o porquê que de ter escolhido aquela pessoa. Tentar o equilibro entre uma boa foto e uma boa história é o nosso objectivo diário mas que nem sempre se consegue concretizar. No que diz respeito à organização interna do nosso grupo, discutimos as fotos de cada um, damos opinião sobre qual a melhor foto a ser publicada e é aí também que tomamos as principais decisões do projecto. É uma maneira funcional e rápida de estarmos todos em contacto.
“SENTI UMA GRANDE FORÇA DA FOTOGRAFIA LIGADA AO JORNALISMO. AS FOTOGRAFIAS .”
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4) M: As pessoas são receptivas a este tipo de exposição? M: Depende muito. Há vários dias em que levamos bastantes “negas”, explicamos o projecto e as pessoas não querem se expôr dessa maneira mas na maior parte das vezes a recepção é bastante positiva. 5) M: Há algum critério na escolha? M: Não temos estereótipos de pessoas que abordamos, tanto pode ser uma mulher, homem, novo, velho, rico , pobre etc mas notamos que quando as histórias são ditas normais não tocam tantas pessoas mas quando são histórias reais de dor, de desemprego, de fatalidades na vida dos nossos estranhos há uma preocupação do nosso público em dar força a essas pessoas.
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6) M: Já fotografaram e falaram com imensas pessoas. Destaquem uma personalidade ou um episódio marcante (por mais difícil que seja). M: Acho que nunca senti, nem ouvi, nenhuma história estranha. Nem mesmo aquelas que as pessoas pedem para não falar delas. São histórias do dia-a-dia, a vivência de cada um. Algumas histórias são tristes. Outras são tristes, mas de alguma forma foram ultrapassadas. E outras são mesmo felizes. Eu gosto de ter a sorte de encontrar uma história feliz. E depois aliar isso a uma boa fotografia é o verdadeiro desafio. Por vezes, não conseguimos nem uma coisa nem a outra. Recentemente, aconteceu uma coisa que só dei conta em casa ao tentar escrever o texto. Fiquei tão absorvido pela conversa que acabei por falar muito pouco sobre a “estranha” em questão. Fiquei aborrecido, mas a conversa valeu a pena. Naquele dia ponderei fotografar outro estranho, mas depois pensei que não fazia sentido. Aquela pessoa era a “minha estranha” do dia. 7) M: Na vossa opinião, o que é mais fascinante no ser humano? M: O mais fascinante no ser humano é o facto de nos habituarmos às diversas situações e problemas com relativa facilidade. 8) M: Que objectivos pretendem cumprir? M: Neste momento estamos a organizar uma exposição em Lisboa e estamos em negociações para um possível livro, a ser lançado no final do ano. 9) M: Qual é o vosso lema? M: Não temos nenhum lema em especial, só queremos mostrar a nossa fotografia e mostrar que todos nós temos uma história. 10) M: Deixem um recado à MELANCIA mag e aos seus leitores :) M: Nunca desistam dos vossos sonhos e quando ouvirem um “não” façam todos os possíveis para da próxima ouvir um “sim”.
1. Rita Miguel, 36 anos 2. Alcino Oliveira, 46 anos. 3. Fábio Gabirro, 22 anos. 4. João José Faria, 70 anos 5. Arlindo Bettencourt, 50 anos 6. “Bazhe “Rasta”, 31 anos 7. Brigitte Roth, 52 anos 8. Sadik Mahomed, 65 anos 9. Gilberto Pacheco, 60 anos. 10. Sr. Rocha, 87 anos 11. Mauro Silva, 26 anos. 12. Victor Moreira, 72 anos. 12. João José Faria, 70 anos 13. Sérgio Yurov, 52 anos. 14. Ricardo Costa, 24 anos 15. Jorge Barrento, 51 anos 16. João Gonçalo. 58 anos 17. Raquel Pereira, 32 anos. 18. Sara Silva, 19 anos 19. Roberto Ledo, 39 anos. 20. Braz Boa Ventura, 54 anos. 21. José Medeiros Marques, 83 anos 22. Maria Oliveira, 72 anos MELANCIA 35
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Let Nature Make The Rules instagram.com/hempact_organicclothes facebook.com/hempactorganic
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Ilustração e Street Art
Entrevista por: Juliana Lima Imagens: Divulgação
Pedro Campiche, akacorleone, tem 30 anos e diz ser um “gajo contraditório”. Talvez seja... Entretanto, nesta entrevista, revelou-nos bastante coerência no seu percurso artístico e processo criativo. Entra connosco neste mundo cheio de referências, formas e cores e inspira-te.
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1) MELANCIA: Antes de falarmos da tua arte, queremos saber: quem é o Pedro Campiche? AKACORLEONE: Sou um gajo descontraído, distraído, focado, parvo, curioso, extrovertido, ambicioso, perfeccionista, desenrascado, não me levo demasiado as sério, contraditório certo? 2) M: Como sabemos que gostas de filmes, imaginamos o motivo, entretanto queremos saber de ti o porque do teu nome artístico ser “Akacorleone”? A: Como mencionaste, sou um film buff [especialista em cinema], mas acima de tudo sou obcecado pelas subculturas e submundos, sobre os códigos de sociedades paralelas, o mundo do crime organizado sempre me interessou como objeto de estudo. A máfia é um destes submundos cheios de códigos, regras, rituais, linguagens, sempre me interessei pelo tema, muito impulsionado pelo cinema e pelo “Padrinho” em particular. Na altura de escolher um tag de graffiti, achei que era um nome apropriado porque impunha respeito e soava-me bem. 3) M: Como começou o teu gosto pela arte? A: Começou desde que me lembro, o meu pai é escultôr e professor de artes, logo sempre estive ligado a este mundo, mas nunca me senti “direccionado” para lá, era simplesmente fascinado pelo atelier do meu pai, pelos materiais, pelos desenhos dele, pelos livros, pelas bandas desenhadas, foi tiro e queda.
4) M: E a tua entrada no mundo do graffiti, como aconteceu? A: O graffiti foi a minha porta de entrada para a prática artística, mesmo que de forma inconsciente, porque não era o objectivo quando comecei. No ínicio, foi, acima de tudo, um ato de rebelião, de fazer algo contra as regras, era a minha forma de expressar a vontade de ser diferente, de fazer parte de algo. Mergulhei neste mundo (já tinha o fascínio pelas subculturas) e foi como uma obsessão durante toda a minha adolescência e início de vida adulta. Foi a minha vida e é ainda um dos meus maiores focos de inspiração nos dias de hoje. 5) M: Sabemos bem que, para ter destaque, tens de ter um estilo muito próprio. Reconhecemos o teu trabalho a andar por Lisboa, no Village Underground ou em algum muro pela Graça. Gostaríamos de saber como foi o teu percurso para encontrar a tua identidade artística? A: O meu percurso de procura de identidade artística é constante, não parou desde que comecei e acredito que é a melhor forma de me motivar, no dia em que o meu estilo estiver estagnado é um dia em que terei que encontrar outra identidade. Neste percurso que ainda decorre, procuro sempre estar atento ao que me rodeia, procuro evoluir a minha técnica, tento experimentar o máximo possível, procuro puxar pelos meus limites, aborrece-me ter uma fórmula e repeti-la, gosto da incerteza, da insatisfação, obriga-me a melhorar.
“O QUE EU FAÇO É MURALISMO, É ARTE NO ESPAÇO PÚBLICO, SOU INSPIRADO PELO MOVIMENTO DO GRAFFITI, FOI A MINHA ESCOLA E USO AS MESMAS TÉCNICAS, MAS NÃO É M MESMO ACTO, NEM O PRETENDE SER.”
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6) M: Cores fortes, geometria, e personagens. Conta-nos com funciona o teu processo criativo na construção de um graffiti. A: É importante perceber que o que eu faço não é graffiti. Graffiti é será sempre um acto ilegal, um acto de protesto, faz parte de um movimento que não procura aceitação do público, nem comunica para ele, comunica para quem faz parte da cultura, é como um diálogo privado à vista de todos. O que eu faço é muralismo, é arte no espaço público, sou inspirado pelo movimento do graffiti, foi a minha escola e uso as mesmas técnicas, mas não é o mesmo acto, nem o pretende ser. Acho que tem que haver espaço para várias linguagens, uma não pode “engolir” a outra. O meu processo é simples, passa sempre pelo papel, pelos meus esboços, pelas ideias que vou tendo e que procuro sempre anotar, que depois muitas vezes são passadas para o formato digital, em que exploro as cores, transparências, acumulação e subtração de elementos, até achar que tenho o equilíbrio perfeito entre cor e forma. Depois passo para o formato final, seja numa parede, numa tela, numa instalação ou poster. Este é o processo normal.
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7) M: Sabemos que, além de pintar, tens outros gostos engraçados e bastante específicos como: colecionador de brinquedos, biker, amante de viagens e jogador de ping-pong, entre outros. Fala-nos um pouco sobre as tuas outras atividades. A: Bem, acho que está aí quase tudo resumido... sou um coleccionador compulsivo, gosto de acumular tralha, sou viciado em feiras da ladra, livros antigos, banda desenhada, velharia, objectos kitsch, serigrafias, streetwear, ténis... Quando vejo o programa “Hoarders” fico assustado porque sem autocontrolo transformo a minha casa num junkyard [depósito de ferro velho]. Se seguirem o meu instagram conseguem conhecer-me melhor, para além do meu trabalho.
1.2.8 e 11. Trabalhos apresentados na xposição a solo chamada “Find Yourself In Chaos” que akacorleone fez na na galeria Underdogs, 3. Tons da Primavera VISEU 2015 - Fotografia por Rui da Cruz. 4. Trabalho feito nos contentores do Village Underground, Lisboa 6.. Cons Project Lisboa. 5. Muro do akakcorleone no Miradouro da Senhora do Monte, Janeiro 2016, Lisboa. Fotografia por Paulo Rocha. 7. Let’s Fight and Jungle Jogging. Walls Painted for 180 Creative Camp on the Streets of Abrantes (2013). 9. Creativeblock Elevador da Glória, Lisboa. 10. Sunglasses para Chilli Beans, MEOSUDOESTE, 2013. 11. Distant Land exposição no Toot Yung Art Center 13. Typography Mural para o Festival TODOS, 2013, Lisboa. 14. Trabalho criado para uma das bandas favoritdas de akacorleone, ORELHA NEGRA.
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8) M: Estas tuas atividades influenciam de alguma forma a tua arte? A: Tudo influencia a minha arte. Um filme que vejo, uma banda desenhada, um neon na rua, uma conversa de café, um papel no chão... A piada da inspiração é que pode vir a qualquer momento de qualquer lado...temos de estar sempre atentos e abertos a estas influências... 9) M: Que objetivos gostarias de alcançar no futuro? A: O objetivo mais imediato é o de conseguir viver da minha arte, de gradualmente deixar de fazer ilustração comercial (que é uma boa escola e em que posso explorar algumas linguagens, mas estou sempre “preso” a um briefing ou caprichos do cliente) e focar-me inteiramente no meu trabalho artístico, em exposições, murais, novos projectos que me dêem liberdade para explorar a minha linguagem e esperimentar o máximo possível. Espero poder continuar a viajar e a pintar pelo mundo fora, conhecer outras culturas, interagir com novas realidades, que me influenciam sempre e fazem o meu trabalho evoluir. Continuar a fazer o que realmente gosto, ser feliz com o que faço e com as pessoas que me rodeiam. Conquistar o mundo. 10) M: Como todo o artista, imaginámos que também tens as tuas inspirações. Destaca-nos as tuas principais referências. A: Esta é a questão mais difícil de responder, as minhas influências mudam diariamente, todos os dias tenho acesso a nova informação que me inspira, há tanto conteúdo, tanta informação, tantas influências, que é injusto enumerar apenas algumas. 11) M: Elege o trabalho que mais te marcou e diz-nos porquê. A: O trabalho que mais me marcou foi a primeira exposição a solo que fiz na galeria Underdogs, “Find Yourself In Chaos” (imagens 1, 2, 8 e 11) porque foi para mim um ponto de viragem no meu 9 trabalho. Foi o início de uma parceria que é hoje um dos maiores pontos de foco do meu trabalho. O Alexandre e a Pauline acreditaram o meu trabalho e deram-me todas as condições para o evoluir, a partir daí, abriram-se portas e surgiram convites que moldaram o meu trabalho para o que é hoje... E agora estu de volta à mesma aventura... Estou a preparar uma nova exposição a solo na galeria Underdogs para o fim de Junho, em que estou a focar toda a minha energia. Under Pressure! 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e a todos os seus leitores :) A:Eencontrem a vossa vocação, paixão, obcessão, o que lhe quiserem chamar e mergulhem de cabeça nesse projecto, não há nada melhor do que lutarmos para fazermos aquilo que realmente gostamos.
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Fotojornalismo
MÁRIO CRUZ Entrevista por: Mafalda Jesus Fotografias por: Mário Cruz
O trabalho “Talibés, escravos contemporâneos” (sobre crianças escravas em escolas islâmicas do Senegal e da Guiné Bissau) valeulhe a distinção no World Press Photo 2016 (patente no Museu de Electricidade) e o Prémio Fotojornalismo do Estação Imagem Viana do Castelo. Mário Cruz, 28 anos, cria narrativas poderosas sobre o real. Para denunciar, alertar, revelar para além do superficial.
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“SENTI UMA GRANDE FORÇA DA FOTOGRAFIA LIGADA AO JORNALISMO. AS FOTOGRAFIAS SERIAM A MINHA VOZ.” 1) MELANCIA: Quem é o Mário? MÁRIO: Sou fotojornalista. Desde 2006 que represento a Agência Lusa que coopera com a EPA - European Pressphoto Agency. Em 2012 decidi dedicar-me a projetos documentais que neste momento são a minha prioridade. 2) M: Como chegaste até ao mundo da fotografia? M: O meu pai é fotógrafo e devido a esse facto o “mundo da fotografia” sempre fez parte da minha vida. Ao receber a minha primeira máquina fotográfica, quando tinha 11 anos, não senti uma ligação imediata, sobretudo, por não perceber as capacidades que vinham com ela. Nunca me interessei muito pelo tipo de fotografia que o meu pai desenvolvia. Ele sempre esteve ligado ao corporativismo e ao desporto. Mas o interesse mudou quando me apercebi que ao formar um conjunto de fotografias podia contar uma história ou o que sentia 3) M: Quando descobriste que o fotojornalismo era o caminho? M: O jornalismo foi a escolha natural para aquilo que mais queria fazer. Senti uma necessidade enorme de mostrar coisas que na minha cabeça mereciam atenção mas por motivos que na altura não compreendia não apareciam nos jornais ou televisões. Senti uma grande força da fotografia ligada ao jornalismo. As fotografias seriam a minha voz. 4) M: Trabalhas sobretudo temas sociais e humanos e, por isso, tenho a certeza que tiveste episódios marcantes e inesquecíveis. O que consideras mais importante para se ser um bom fotografo? M: Na minha opinião para ser fotojornalista existem 3 bases fundamentais: integridade, honestidade e imparcialidade. Embora todas estas condições possam parecer semelhantes ou, facilmente, interligadas não deixam de constituir um desígnio que hoje em dia parece ausente em muitas das redações de jornais e revistas. Só depois da interiorização destes princípios se pode começar a entrar nos campos técnicos e subjetivos da fotografia. Um fotojornalista deve
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documentar a realidade com que se depara sendo ao mesmo tempo presente e ausente. Esse equilíbrio difícil tornasse determinante na qualidade do seu trabalho. A mensagem que quer passar tem de ser lida por todos e para todos e o barómetro desse sucesso é precisamente a memória. A memória de quem vê o seu trabalho. No presente em que vivemos este objetivo é particularmente desafiante pela quantidade de informação que temos ao nosso dispor. É uma overdose visual diária sem sentido, daí o desafio de alguma fotografia ficar realmente na nossa memória. A subjetividade da fotografia no que se deve à parte estética e plástica da imagem no fotojornalismo e bem como nos restantes campos fotográficos é o que muitas vezes distingue os vários autores. O fotojornalista que reúna o melhor de cada componente deste processo complexo é o que será mais bem sucedido. 5) M: O que te inspira? M: A minha inspiração vem dos muitos exemplos que provam o poder do fotojornalismo e da sua absoluta necessidade. Os resultados que tenho obtido começam também a ajudar a criar essa inspiração por acreditar que poderei continuar a contribuir para trazer atenção a realidades escondidas e ignoradas. 6) M: Na tua opinião, qual é a maior dificuldade no mundo do fotojornalismo? M: A maior dificuldade, neste momento, é encontrar mecanismos de sobrevivência. Não penso que o fotojornalismo irá acabar, longe disso! Mas, presentemente, o fotojornalismo atravessa por um período de muitas restrições económicas e até existenciais. A fotografia que dá prova e testemunho não tem espaço nos jornais que lemos e nas revistas que compramos. A narrativa é substituída pelo superficial. A exigência pelo facilitismo. O tempo é hoje um inimigo do fotojornalismo e por isso a absoluta urgência em encontrar soluções que ponham o fotojornalismo no lugar que é seu e que a sua valorização e necessidade seja de uma vez por todas uma prioridade.
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7) M: Já participaste em exposições e publicações nacionais e internacionais e inclusive foste premiado no World Press Photo 2016. Qual é a sensação de ver o teu trabalho a atravessar fronteiras e a ser destacado num concurso tão importante quanto este? M: O que sinto ao ganhar o World Press Photo, o POYi, o Estacão Imagem ou uma distinção da Magnum é o mesmo e o significado também. Todas estas distinções vão ao encontro do que mais procuro: visibilidade. Visibilidade e atenção para as histórias e temas que documento. É esse o meu objetivo e estes prémios acabam por colmatar a falta de espaço que existe na imprensa nacional e internacional. Naturalmente que existe um sentimento especial quando se ganha um prémio do World Press Photo com um conjunto de 8 fotografias que mostram uma realidade que não devia existir como é o exemplo da realidade Talibé. Um mundo em que milhares de crianças são escravas de falsos líderes islâmicos e que para além de serem obrigadas a mendigar são também torturadas e violadas pelos seus supostos guardiões. Esse sentimento especial ganha ainda mais expressão quando o fotojornalismo mostra o seu poder e foi precisamente isso que aconteceu quando tantas crianças foram resgatadas e o governo senegalês assumiu o compromisso de usar as minhas fotografias para uma campanha nacional de sensibilização. 8) M: Onde encontramos o Mário quando não está a fotografar? M: Estou com a minha família e amigos. Mas, sobretudo com a minha namorada que é essencial para o meu equilíbrio e fundamental no apoio que preciso para continuar a fazer os meus projetos pessoais. Ela também é fotojornalista e percebe bem o grau de exigência associado ao tipo de trabalho que faço.
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9) M: Qual é o teu lema de vida? M: Não tenho nenhum lema de vida. Sinto que sou uma pessoa com muita sorte pela educação que tive e pelas oportunidades que me deram e o que tento fazer é dar sempre o meu melhor na criação de documentos que originem discussão e diálogo em torno de questões essenciais para o desenvolvimento social e humano. 10) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos seus leitores :) M: Sei que qualquer novo desafio editorial neste momento é sempre fruto de muita vontade e esforço pessoal e por isso espero que a Melancia Mag seja bem sucedida. Um abraço e sorte para toda a equipa. 8 56 MELANCIA
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ilustração Mariana Cáceres
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Rua Nova da Piedade Nº10 MELANCIA 59
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Handmade
Entrevista por: Juliana Lima Imagens: Ana Salomé
Já imaginaste tu e a tua família como bonecos? Agora podes tornar real esta imaginação, transformando todos em bonecos e deixando-os em retrato na tua casa! “Há Monstros debaixo da cama” é um projecto engraçado e bastante lúdico criado por Ana Salomé, 29 anos, uma algarvia que vive em Lisboa há 6 anos. Ana fez do seu gosto e talento pelo handmade o seu trabalho a tempo inteiro. Mas, o que mais nos chamou a atenção não foi só a sua dedicação e coragem, mas também o seu processo criativo e a forma como vem espalhando por ai muita graça e criatividade com os seus bonecos encantadores.
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1) MELANCIA mag: Quem está por de trás do projecto? HÁ MONSTROS DEBAIXO DA CAMA: Sou a Ana Salomé, tenho 29 anos sou uma algarvia que emigrou para Lisboa á 6 anos, tenho apenas um1,50m e uma orelha rasgada. 2) M: Como o teu gosto pelo handmade começou? H: Foi algo transmitido geneticamente pela minha mãe. Desde cedo educação visual sempre foi a disciplina favorita e tanto eu como os meus irmãos estamos todos ligados ás artes. Eles de uma forma digital no design, e eu de forma artesanal com direito a mãos sujas, pó e nódoas de tinta. 3) M: Sabemos que para além dos bonecos, tem colares o outros acessórios. Quais foram as primeiras peças do projecto? H: Inicialmente, quando era apenas um hobbie as primeiras peças que surgiram eram criaturas parecidas a monstros e só muito mais tarde surgiriam as pregadeiras, colares etc. 4) M: E o nome? Bastante lúdico e divertido, sentimos que tem uma alusão ao universo infantil, mas gostaríamos de saber como e porque o projecto foi nomeado assim? H: No inicio era tudo um hobbie que me preenchia o tempo durante as férias de verão. Não comercializava nada e todas as experiências, cabeças, membros e outras criaturas acabavam armazenadas debaixo da cama. Daí nasceu ‘Há Monstros Debaixo da Cama’ ! 5) M: Para nós, o grande diferencial do projecto, para além de serem peças exclusivas artesanais, feitas em pasta de papel e pintadas á mão, são os bonecos. Lembra qual foi o primeiro boneco a criado? H: A pasta de papel resulta melhor no verão pois precisa de muito sol para secar. No entanto, há monstros o ano inteiro! Por esse motivo eles sofreram uma mutação e hoje não são mais de pasta de papel, mas sim de massa de modelar. QUanto ao primeiro boneco, foi uma boneca, a ‘Marie OLive’, que é inconscientemente uma homenagem á minha mãe OLívia Maria. 6) M: Onde trabalhas? Tens um atelier ou algum ambiente que gostas de estar para criar? H: Eu tenho uma secretária em frente á janela da sala cujo o tampo mais parece uma paleta de tintas, e é aí que eu trabalho sempre com o ipad ao lado e phones nos ouvidos. As horas de maior aproveitamento são sem dúvida á noite e por vezes madrugada fora.Alguns dias por semana também vou trabalhar no Atelier ‘Porta16’ que partilho com outras criativas em Alfama. 7) M: Fala-nos do teu processo criativo dos bonecos. Queremos saber como tudo funciona: Desde do pedido, do briefing, da criação e execução, ate o moemento de entrega. H: Mais artesanal não podia ser! estão a imaginar uma fábrica industrial com aqueles tapetes rolantes com produtos sempre a sair a alta velocidade? é o oposto! as peças são feitas e pensadas uma a uma por ‘nós’ que estamos por trás do ‘Há Monstros Debaixo da Cama’, eu. posso dar o exemplo dos retratos de família. AS encomendas surgem maioritariamente pelo facebook, eu dou toda a info que o cliente precisa saber para confirmar a sua encomenda. depois, peço um pequeno briefing sobre sua família, fotos e tudo o que gostaria de ter na sua peça. É agendada a encomenda. Agora é hora de pôr literalmente a mão na massa! penso na imagem final, faço um pequeno esboço, crio as formas com a massa, espero secar, lixo, sacudo o pó da mesa, sacudo o pó da cara,
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“MAIS ARTESANAL NÃO PODIA SER! ESTÃO A IMAGINAR UMA FÁBRICA INDUSTRIAL COM AQUELES TAPETES ROLANTES COM PRODUTOS SEMPRE A SAIR A ALTA VELOCIDADE? É O OPOSTO! AS PEÇAS SÃO FEITAS E PENSADAS UMA A UMA POR ‘NÓS’ QUE ESTAMOS POR TRÁS DO ‘HÁ MONSTROS DEBAIXO DA CAMA’, EU.” ANA SALOMÉ.
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pinto e por fim tenho o resultado final que não se aproxima em nada do esboço inicial.finalizada a peça envio para a morada ou entrego em mãos á cliente. 8) M: Conta-nos uma história que te marcou com a criação dos bonecos e que vale a pena partilhar com toda a gente ;) H: Humm... ainda não tenho nenhuma história espetacular. no entanto, recentemente recebi uma encomenda, em que foram os alunos de uma turma da primária que escolheram o retrato do ‘Há Monstros Debaixo da Cama’ para oferecer ao professor. eles próprios escreveram o briefing que é o melhor que eu recebi até hoje e fiquei muito contente de ter a simpatia do público infantil. 9) M: Para além das peças artesanais, o que mais fazes? H: Já faz cerca de 7 anos que o ‘Há Monstros Debaixo da Cama’ é o meu trabalho a tempo inteiro. E tempo inteiro é o termo certo, não sobra muito mais para me dedicar a outras actividades. tentei o jogging mas não resisti muito tempo. Nos tempos livres gosto de pegar numa revista, sair de casa e ir lê-la na esplanada, no outro dia almocei com os pés na relva na gulbenkian, sou fã de concertos grátis ou muito baratos em Lisboa, gosto de voltar para casa de 28 (moro na graça), e de um bom filme antes de dormir. 10) M: Quais são as tuas referências e inspirações? H: Eu menciono sempre o TIm Burton e o resto é um mix de outros criadores, desfiles de alta custura e imagens do pinterest. 11) M: Que objetivos gostarias de alcançar no futuro? H: O meu maior alvo é conseguir dedicar cada vez mais tempo a novas colecções e a criar as peças que me sinto inspirada a fazer, e cada vez menos áquelas que me são impostas pelas encomendas. 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e a todos os seus leitores :) H: Continuem o bom trabalho e nunca deixem que a criatividade se esgote!
Todas as fotografias são do arquivo pessoal da Ana Saolmé e ilustrtam o processo e o resultado final do trabalho do projeto “Há monstros debaixo da cama.”
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@anaeresaieira97
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Ilustração
David Penela Entrevista por: Mafalda Jesus Ilustrações por: David Penela
Desde cedo que o seu interesse artístico se manifestou. Na faculdade seguiu Belas Artes e entrou no mundo da Ilustração. Cultura popular, ficção científica e comics servem-lhe de inspiração, nunca perdendo “a noção de saber quem é” e cultivando “as necessidades de inovar e evoluir.”
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1) MELANCIA: Quem é o David? DAVID: O David é ilustrador, procrastinador, gamer e comedor semi-profissional de pizza. 2) M: O que te levou até ao mundo da arte? D: Foi algo natural desde miúdo. Começou na escola primária até ao momento da escolha de curso no secundário. No entanto só após 2/3 do curso na Faculdade de Belas Artes é que decidi enredar pelo mundo da ilustração. 3) M: Onde fazes a diferença? D: Talvez na vida de cada pessoa que aprecia e compra o meu trabalho para ter em casa. Onde consigo. 4) M: Destaca um trabalho teu e explica porquê. D: Hmmm... Man & Nature: The Double Edged Sword parte da minha exposição o ano passado no Balneário. É uma ilustração acerca dos efeitos que as ações dos humanos têm na Natureza e indirectamente em si mesmos. 5) M: O que te inspira? D: Tudo e mais alguma coisa. Cultura popular, ficção cientifica e comics principalmente. 6) M: Que coisas são essenciais no teu dia-a-dia? D: O meu sketchbook, a minha lapiseira rotring e o meu computador.
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7) M: Na tua opinião, que noção é que um artista nunca deve perder? D: De quem é. De inovar e evoluir. 8) M: Onde encontramos o David quando não está a desenhar? D: Em casa ou por aí ;) 9) M: Qual é o teu lema de vida? D: Não tenho nem sigo algum dito por alguém. Talvez “be nice to people. don’t be an asshole” circa 2016 David Penela 10) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos seus leitores :) D: Tenho um website novo www.davidpenela.com. Favor checkar :D 1, 2, 3, 4. Man & Nature 5, 6. SW. 7, 8, 9, 10. Sizoo 11. NO. 26 Zine! 12. Peep Show at Ó! Galeria 13, 14, 15. Jules Verne
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“O DAVID É ILUSTRADOR, PROCRASTINADOR, GAMER E COMEDOR SEMI-PROFISSIONAL DE PIZZA.”
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Rita Canas Mendes por Bárbara Araújo 78 MELANCIA
Tipografia artesanal
Entrevista por: Juliana Lima Imagens por Rita Canas Mendes
Sabes aquele sentimento bom quando alguém vem até nós mostrar o seu trabalho e, além da arte, encanta-nos com o seu entusiasmo e a sua paixão por tudo o que faz? Miss Print chegou até a MELANCIA mag e apresentou-se. O seu contacto fez-nos lembrar que não importa a dimensão do projeto, mas sim a intensidade e a verdade com que o fazemos. Afinal, projectos criados e geridos com o coração (com talento e muita técnica também, claro!) têm muito para nos ensinar. E, pronto, merecem destaque. Neste caso, nas nossas páginas e na nossa capa, e também em muitas paredes por aí. Encanta-te com esta Miss que nos encantou com as suas prints.
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Filha de pais pintores, licenciada em Filosofia e com uma pós-graduação em Edição e mais mil pequenos cursos disto e daquilo, Rita Canas Mendes, 31 anos, iniciou o seu projeto 2012 depois de participar num workshop de tipografia com Amos Kennedy, um impressor americano, na Associação Oficina do Cego. Foi ali que ela conheceu e apaixonou-se pelo processo. Sentiu um vendaval interior. Depois, foi uma questão de tempo; as ideias vinham em catadupa e, à medida que ia reunindo mais materiais e descobrindo novas técnicas, ia podendo fazer coisas novas. Em 2015, registou a marca Miss Print, lançou o seu site e oficializou o seu estúdio de tipografia. Apesar de estar dentro da sua casa, confessa ser o atelier a ocupar mais metros quadrados. Afinal, a tipografia requer espaço para trabalhar, luz natural, janelas para o ar circular e zonas para a secagem dos papéis, porque, segundo Rita, as tintas, à base de óleo, levam vários dias a secar! É de questionar, como ela como consegue se organizar assim? E a resposta de Miss Print é de deixar qualquer um surpreso. Simples e prática: “Quando estou dedicada a outras coisas, compacto o estúdio o mais que posso, arrumando tudo ao melhor estilo matrioska. Quando me dedico às impressões, aí tenho o estendal completo. Consigo gerir bem esse alternar de funções do espaço; é tão fluido quanto essas áreas na minha vida - ora traduzo, ora faço prints, ora descanso, ora escrevo, ora acompanho projectos de clientes, ora recebo amigos para jantar. Como gosto muito da minha 3 80 MELANCIA
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casa e tenho tudo relativamente organizado, o facto de trabalhar e viver no mesmo sítio é um prazer. Posso ter uma ideia na cozinha e ir executá-la imediatamente na sala ao lado.” disse Rita. Rita esteve ligada aos livros desde sempre. Há dez anos qur trabalha no mundo editorial, tendo cargos em diversas editoras. Em 2011, tornou-se tradutora e consultora em regime independente (www.comtexto. pt). Por isso sempre esteve rodeada de palavras, sejam dos outros ou próprias. Aproveitando esta experiência no mundo editorial, escreveu um guia prático chamado “Como Publicar o Seu Livro”, com a chancela da Bertrand. Investigou, entrevistou, compilou, redigiu e vai apresentá-lo no dia 18 de Maio às 18h30, na Fnac do Chiado. Sabendo que Rita sempre gostou das palavras e que as suas prints são sempre recheadas de letras, tendo base a tipografia artesanal, pedimos-lhe para falar um pouco sobre o seu processo criativo e quisemos saber mais algumas curiosiades sobre a Miss Print. MELANCIA mag: Fala-nos sobre o teu processo criativo. Miss Print: Gosto muito de palavras, gosto muito de cores, não me importo de ter ideias parvas nem de sujar as mãos. Essa é a base de tudo. Depois, o processo criativo está sempre a acontecer, esteja eu onde estiver.
“A MISS PRINT É A PURA EXPRESSÃO DO MEU SENTIDO DE HUMOR, DOS MEUS NEURÓNIOS E DA MINHA SENSIBILIDADE VISUAL.” 7
Ocorrem-me ideias constantemente, algumas das quais anoto. Quando a ideia já apurou, quando ela não me larga, vou para o estúdio. Monto tudo, visto roupa de trabalho e, aí, começa o jogo. Tenho de combinar o tipo de letra certo com a cor certa no papel certo, que imprimo com a força certa, na posição certa. Isto leva muito tempo e, claro, saem muitos disparates antes de sair qualquer coisa para a qual não me importo de olhar. Se tiver sorte, sai qualquer coisa para a qual gosto muito de olhar. No fim do processo, o resultado até pode ser bastante diferente do que tinha imaginado ao início. Gosto muito quando isso acontece. Vou deixando que as coisas fluam, vou adaptando, até chegar a um ponto em que me identifico com o que vejo. Aí chegada, missão cumprida, passo para a ideia seguinte (sabendo que posso sempre revisitar ideias antigas). 8 82 MELANCIA
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MELANCIA mag: Sabemos que produzes impressões tipográficas de autor, originais e únicas.Quais as tuas principais inspirações e referências para fazê-las? Miss Print: Todas as minhas prints são peças únicas. O processo que uso é tão manual que não é sequer possível ter duas impressões iguais. Ninguém leva para casa uma reprodução, todos os trabalhos são originais, pensados e produzidos de raíz por mim – da escolha dos papéis à mistura das cores que obtenho e à aplicação das tintas. Daí falar em impressões únicas. Mas não é só por isso. Aquilo que imprimo sai quase sempre da minha imaginação, salvo excepções claramente indicadas: encomendas ou citações que escolhi. As citações certeiras são uma das minhas inspirações, mas há uma infinidade de coisas que me inspira: a linguagem – seja em português, inglês ou noutra língua qualquer –, os relacionamentos, a pop e a street art, a música, a stand up comedy, o design, a publicidade... Acabo por misturar tudo num grande rebuçado de tutti-frutti visual, que quero o mais saboroso, bonito e divertido que conseguir (sem nunca almejar à perfeição). 1 2.4. 6 e 8. Fotografias do processo de trabalho da Rita. 3. 5 e 9 Fotografias dos quadros finais do projecto. Miss Print, 7. Capa do guia prático escrito por Rita chamado “Como Publicar o seu Lirvro” Editora Bertrand.
MELANCIA mag: No site sugeres que pessoas com ideias para uma print enviem e-mail com a sugestão. Já fizeste algum trabalho com sugestões enviadas? Miss Print: A Miss Print tem encontrado alguns espíritos afins, e há certamente muitas pessoas com ideias giras que merecem tradução gráfica. O meu estúdio tem a porta aberta a boas ideias que venham de fora. Recentemente, um amigo meu usou a expressão “moscas do tempo” para se referir ao dito inglês “time flies”. A piada dele fez logo luz na minha cabeça e fui fazer uma print com ela. Se alguém tiver uma ideia boa que queira partilhar, sou toda ouvidos. MELANCIA mag: Como foi criar a print para a MELANCIA mag? Gostamos tanto que decidimos fotogtafá-la para compor a a nossa o nosso conteúdo desta edição! :) Miss Print: Foi muito divertido criar esta print. Soube de imediato qual o papel que queria usar, e lembrei-me logo de recorrer a acentos ortográficos (virados de pernas para o ar) como sementes. Depois, o nome Melancia andou a bailar na minha cabeça até se partir em três: me-lan-cia. Na vertical, por se tratar de uma capa de revista. Me lan... parece o começo de uma frase. Então, como o que a MELANCIA mag faz é lançar talentos, melancei!
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floreie-se ;) NATALIA VIANA
Estilista e Fotógrafa brasileira, 28 anos. De Belém do Pará, atualmente em São Paulo. Aproveita esta rápida conversa com a responsável pela deliciosa capa desta edição. 1. Como e quando o teu gosto por fotografar flores começou? Minha cidade natal tem uma proximidade gigantesca com a natureza, tanto que ela é conhecida como”cidade das mangueiras”, é uma cidade cercada pelo verde. Então, eu cresci tendo este contato muito forte com ela. Meus pais contribuíram muito pra isto, eles são apaixonados por flores e plantas, meu pai principalmente. Ele que cuida do jardim da casa e costuma me enviar fotos quando nasce uma nova no seu jardim. Mas eu comecei a fotografá-las constantemente um pouco antes de mudar para São Paulo, tem quase dois anos. 2. O que as flores representam para ti? Hoje representam saudade (da casa dos pais). Mas, elas também representam conforto e união. Acredito que faz melhorar o dia de qualquer pessoa e sinto Deus em cada uma delas 3. Qual a tua flor preferida? É muito difícil responder essa pergunta porque todas são tão maravilhosas, cada uma tem sua beleza e eu sinto alegria com cada uma delas. Uma vez respondi que eram gérberas, depois girassol, outra vez lisianthus, mas para vocês são bougainvilleas (na casa dos meus pais tem uma). 4. As tuas redes sociais são um jardim. Quase conseguimos sentir o perfume nas imagens. Conta-nos como te sentes e o que pretende ao espalhar tantas flores e folhas? Muito obrigada! Fico realmente feliz em saber que vocês sentem isso. Me sinto a cada dia ainda mais inspirada por elas porque tenho recebido muito carinho das pessoas através das fotos, sinto que a natureza divina está me retribuindo com isso. Se você dá amor, recebe amor. Se você passa energia positiva, recebe energia. É o que faço ao espalhar flores e folhas, porque é o que a natureza me traz. MELANCIA 85
delícia de melancia POR: GABRIEL CAMPINO
PANACOTA DE BAUNILHA COM GELATINA DE MELANCIA E SALADINHA DE MORANGO E MELANCIA
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1. PANACOTA - 200g de nata - 100g de leite - 50 g de açúcar - 2 folhas de gelatina - Qb de baunilha líquida 1. Aquecer a nata, o leite e o açúcar, juntar a gelatina previamente demolhada em água fria. 2. Por fim adicionar a baunilha. 3. Deixar arrefecer um pouco e colocar em copos e levar só frigorífico até solidificar. 2. GELATINA - 200g sumo de melancia - 25g de açúcar - 2 folhas de gelatina 1. Aquecer o sumo com o açúcar, adicionar a gelatina previamente demolhada em água fria e deixar arrefecer totalmente. 2. Quando frio colocar nos copos por cima da panacota. 3. Levar ao frigorífico até solidificar. 3. SALADA - 100g de morango - 100g de melancia - 2 folhas de hortelã 1. Cortar o morango e melancia em cubos pequenos, picar a hortelã e envolver bem. 2. Colocar a salada só mesmo antes de servir.
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Das EDITORas
tropical trend LOOK FEMININO
CASACO - ADIDAS | CAMISOLA - ZARA MALA - PUMA | TÉNIS - VANS | RELÓGIO - CASIO CALÇÕES - H&M
escolha de:
Juliana Lima
simple paradise LOOK MASCULINO
CASACO - H&M T-SHIRT - PEPE JEANS CALÇAS - PULL&BEAR TÉNIS - NIKE
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sun lover
LOOK FEMININO
CASACO - STRADIVARIUS | MACACAO - H&M TÉNIS - NIKE | ÓCULOS - GUESS BRINCOS - PARFOIS
escolha de:
Mafalda Jesus
street style LOOK MASCULINO
T-SHIRT - BERSKA CALÇAS - PULL&BEAR TÉNIS - ASICS ÓCULOS - VONZIPPER
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anda POR AÍ GISELA LOUREIRO IDADE: 26 anos PROFISSAO: Fahion Designer Este mês partilhamos o street style de uma jovem lisboeta apaixonada por moda. Encontrámos com a Gisela no Príncipe Real num final de da tarde, antes de encontrar as amigas para jantar.
LOOK: Casaco: H&M Trend Top: H&M Trend Calças: Breshka Botas: Zara Mala: Zara
O MEU HOBBIE É Adoro ver séries, ler livros e revistas e ouvir música. Sempre que posso vou à praia. Como adoro moda, gosto muito de ir às compras e também costumo de costurar.. O MEU ESTILO É Considero o meu estilo trendy, descontraído e comfortável. Depende um bocado do meu estado de espírito.
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Fotografia e produção: Juliana Lima e João Jesus. Modelo: Bobby. Print: Miss Print
by: Natรกlia Viana
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