MELANCIA #24 | Julho 2019

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Cultura Visual e Lifestyle | #24 | JULHO 2019 | melanciamag.net


@pedromkk


EDITORES

MAFALDA JESUS RITA ALVAREZ

COLABORADORES

LUร SA VITORINO separa(dores) intro aos convidados

Ivan CASALEIRO a voz do povo

CRISTINA MARQUES toma nota

CONVIDADOS

rafaela mascaro ana das aventuras hugo coelho adfuntink jady salvรกtico jassil mernell anna berger Anna Masiello fernando nuwanda

melanciamag

Cultura Visual e Lifestyle | #24 | julho 2019 | melanciamag.net



QUEM SEMEIA SEMENTES, COLHE MELANCIAS EDIÇÃO #24

É o 5o Verão da MELANCIA. O sangue corre-nos nas veias e as emoções estão à flor da pele arrepiada depois de um banho de mar. Para celebrar o verão (e a vida!), preparámos uma edição quente, com muita cor e boas vibrações. Na capa desta edição, temos uma ilustração bem sumarenta de Rafaela Mascaro, autora do projecto Studio Grand-Père. Padrões expressivos e cores garridas abrem a época balnear aos nossos leitores. Fotografia, ilustração, lettering... esta é uma edição dinâmica, em que exploramos uma panóplia de ramos e prezamos pela estética e pelas boas ideias. Com o lançamento da #24, chega também um apelo: Somos uma revista auto-sustentável e independente mas, tal como as estações, queremos renovar-nos! Queremos pôr as ideias a fluir a cada lançamento e, por isso mesmo, queremos que façam parte de nós. Esta revista é - e sempre foi - feita de pessoas, do que as move, das suas próprias ideias e iniciativas. Apelamos agora a todos que partilhem as vossas ideias, que sugiram colaborações... queremos abraçar projectos neste grande depósito comum de criatividade! Lançámos as sementes, esperemos que cresçam grandes e ricas melancias! Bom verão a todos os nossos leitores.

CAPA POR: RAFAELA MASCARO


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| C AT E G O R I A

Ó LINDA ENTÃO! @o.linda.entao “Escultura e pintura em pulseiras de madeira foram o mote para dar a conhecer o que me vai na cabeça. Mas não vou ficar por aqui, mais ideias e materiais surgirõ.”



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studio grand- p è r e

ana das aventuras

hugo coelho

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anna berger

hero to zero

toma nota

Ilustração & Pintura

Tatuagem

Ilustração & Escrita

Lifestyle

Fotografia

Novidades


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adfuntink

jady salvático

jassil mernell

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rapidinha

voz do povo

por aí

Tatuagem

Menos conversa e mais acção

Lettering

The voice of the people is not the sheeple voice

Ilustração

Entrevistas de pessoas ao acaso


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ILUSTRAÇÃO & PINTURA

STUDIO GRAND-PÈRE RAFAELA MASCARO ENTREVISTA: rita alvarez

De uma paixão escondida, nasceu o projecto Studio Grand-Père, de Rafaela Mascaro. Ilustradora e designer, deixou sempre que a timidez levasse a melhor dela, mas em 2015 decidiu divulgar o seu trabalho para que todos vissem. Parte de um ponto de vista feminino, sempre representando o cromossoma X de maneira elegante, real, vibrante e completamente desprovida de regras... Precisamente como é a mulher.

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1) MELANCIA: Quem é a Rafaela? RAFAELA: Uma designer de São Paulo, que é amante de Golden Retriever, gosta de assistir TV, comer chocolate e tirar boas fotos com suas câmeras. Quando não está criando suas ilustrações, você pode encontrá-la assistindo “Friends” ou criando delícias culinárias na cozinha. 2) M: Fala-nos do teu percurso no mundo da ilustração e da pintura. R: Grand-Père quer dizer “avô” em francês. O nome é uma homenagem ao meu avô Osvaldo, pai da minha mãe. Sempre penso nele quando crio minhas ilustrações. Eu comecei a desenhar muito nova, com uns três anos. E desde então sempre desenhei muito, mas tinha muita vergonha de mostrar ou expôr o que eu criava. Até que em 2015, um amigo meu me incentivou a mostrar os meus desenhos e foi quando eu criei o projeto. 3) M: A tua página de instagram (@studiograndpere) conta com mais de 27mil seguidores. Sentes que tem um impacto positivo na tua arte? Sentes que é uma mais valia? R: A verdade é que eu nunca vi meus desenhos dessa forma, para impactar a vida das pessoas. Eu via como uma forma de me distrair. Mas no ano passado várias meninas começaram a me mandar mensagens falando que são muito inspiradores e como mudaram a vida delas. Foi assim que eu percebi que uma ilustração, por mais simples que seja, pode melhorar o dia de uma pessoa. É muito legal receber esse feedback do pessoal, eu fico muito feliz! 01


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ACHO QUE UM DOS OBJETIVOS É MOSTRAR MESMO AS IMPERFEIÇÕES DA VIDA E COMO ISSO NOS TORNA HUMANOS

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STUDIO GRAND-PÈRE | 15

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4) M: As tuas ilustrações giram à volta de temas florais e utilizam combinações de cores vibrantes e deliciosas! Como descreverias o teu estilo? R: Eu descrevo como um estilo livre, não me preocupo muito com as formas e as perspectivas. Eu não quero que seja perfeito, acho que o legal delas é que são imperfeitas e tudo bem. Acho que um dos objetivos é mostrar mesmo as imperfeições da vida e como isso nos torna humanos. 5) M: Quem são as figuras femininas nas tuas ilustrações? São mulheres aleatórias ou são referências? R: São as mulheres do dia a dia, as mulheres que trabalham muito, que cuidam dos filhos, que passam por dificuldades. Mulheres reais mesmo, que eu vejo e vi minha vida toda. Me inspiro nelas e em suas histórias. 6) M: É uma escolha consciente não teres a figura masculina presente? Porquê? R: Sim, porque na verdade a ideia do projeto é uma criação de uma mulher para todas as mulheres do mundo. Não é preconceito, nem rejeição, é apenas algo dedicado exclusivamente as mulheres e como elas me inspiram. Algo que trás a representatividade das mulheres no mundo. 7) M: O que realmente te inspira? O que mexe contigo e te faz querer agarrar nos pincéis? R: Acho que o que mais me inspira é o trabalho duro, o esforço para alcançar algo. Eu sinto que quanto mais você trabalha em coisas boas, mais volta pra você e para o projeto. Quando alguém fala que algo que eu criei ajudou de alguma forma, eu ganho meu dia. Tenho ainda mais vontade de criar coisas novas.

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MULHERES REAIS MESMO, QUE EU VEJO E VI A MINHA VIDA TODA. ME INSPIRO NELAS E EM SUAS HISTÓRIAS

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8) M: Como foi ver o teu trabalho em algo tão físico, tão “real”, como nas peças de roupa que fizeste em parceria com a Patrícia Vieira? Qual foi o feedback? R: A Patrícia é uma pessoa incrível, é uma das profissionais mais inspiradoras com quem eu já trabalhei. Ela é muito intensa e dedicada em tudo o que faz e é por isso que o resultado é tão legal. Trabalhar nesse projeto com ela foi muito emocionante, quando as modelos entraram na passarela eu e a minha mãe ficamos com lágrimas nos olhos. É muito legal ver tanta gente admirando o seu trabalho. 9) M: Tens algum trabalho recente ou algum que “esteja mesmo aí a aparecer” que queiras destacar? R: Tenho várias surpresas, mas não posso contar por enquanto por conta de contratos. Mas em alguns meses vão estar todos publicados no meu Instagram e portfólio. 10) M: No site Studio Grand-Père podemos ver como descrição “Projecto de Ilustração de Rafaela Mascaro”. Ainda o vês como um projecto ou sentes que evoluiu para algo mais? R: Acho que eu desenvolvi um carinho muito grande pelo projeto, mas ele não é mais tão pequeno como no começo. Hoje em dia tem tanta coisa legal rolando que fica difícil dizer. Mas eu acho que tem muito futuro pela frente, muitas vertentes que deixam ele ser maior de quando começou. E isso é bem bacana.

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PREFERES Campo ou Cidade? Campo. Pincéis ou Canetas? Canetas. Praia ou Piscina? Piscina. Livros ou Filmes? Filmes. Chamada ou Mensagem? Chamada. Lua ou Sol? Sol. 15

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14 (1) Girl drinking tea (2) Summer girl (3) Send love (4)(5) Oil Paiting (6) Be patient, everything will be fine (7) Fashion week girl (8) Girl enjoying summer

(9)(10) Desfile da Patrícia Vieira (11) Just chillin (12) Be yourself, no matter what (13) Reading all day (14) Oil paiting (15) Where you are is where you should be (16) Winter girl

11) M: Planos para o futuro? R: Tenho vários, mas são surpresa! (risos) 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. R: Eu quero agradecer meus pais, Marcia e Marco, que sempre me apoiaram e ainda me apoiam. Sem eles nada disso teria sido possível. A minha família e amigos que sempre estiveram comigo e que me inspiram muito! E aos meu seguidores e parceiros que mantêm tudo muito vivo. Saber que tanta gente gosta do meu trabalho é realmente emocionante, nunca imaginei que chegaria ao nível de hoje. Muito obrigada de verdade a todos! Especialmente a revista MELANCIA que abriu essa oportunidade para divulgar o meu trabalho com os seus leitores! V


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@anitarrebita

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Almada Negreiros

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“Quando nasci, as frases que hão-de salvar a Humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a Humanidade. Há sistemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar, só não há sistemas para saber amar.”

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Fotografia por: @insmachado

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I L U S T R A Ç Ã O & E S C R I TA

ANA DAS AVENTURAS ENTREVISTA: MAFALDA JESUS

São as suas aventuras e desventuras que a inspiram. Ana Ventura procura trazer familiaridade a um público que, tal como ela, se aventura todos os dias no trabalho, na vida, no amor, nos hobbies, na vida real... Ilustradora, modelo e youtuber, sabe que a vida custa mas que, com um pouco de cor e humor, custa menos. E é isso que nos traz nos seus comics.

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Sou sonhadora mas receosa insegura mas atrevida


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1) MELANCIA: Quem é a Ana? ANA: A Ana é ainda várias Anas, com muitas àVenturas pela frente e muita aprendizagem pelo meio. Adoro o mundo do cinema, da animação e da música e vivo diariamente dentro deles, salvo seja. Sou sonhadora mas receosa, insegura mas atrevida. Não aceito uma vida baseada na sobrevivência que é dita a forma normal de viver, isso revolta-me. Criei a Ana das aventuras, um desenho meu que, ao contrário do que aparenta, não vive no mundo fantástico dos desenhos animados mas sim no meu mundo, no mundo real. Criei-a em busca de uma vida feliz com pequenos momentos tristes em vez de uma vida triste com alguns momentos felizes. Faço-o através de comics representativas de medos, obstáculos, sentimentos íntimos, histórias do passado, do futuro, enfim, desventuras da vida por que todos passamos. Porque acredito que talvez seja a partilhar com os outros que as respostas me chegam a mim. 2) M: Vens de uma família de artistas. Conta-nos como foi crescer dentro desse meio. A: Crescer numa casa de artistas foi, sem dúvida, algo que me proporcionou, desde sempre, a criar em modo non-stop, em qualquer momento livre que tivesse. Em pequena, com a minha mãe desenhava zoos em folhas A2, com o meu pai desenhava ditados populares interpretados à letra. Por exemplo a expressão “Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo” ilustrava numa corrida entre um Pinóquio e um senhor coxo prestes a ficar em primeiro lugar. Com pais separados, consegui fazer tantos tipos de desenhos, pinturas, histórias, colagens que, aos meus 10 anos, os meus pais já me falavam na importância de vender as minhas obras de arte a preços justos. Claro que não nasci uma pro mas fui aprendendo, com muitas birras pelo meio quando não ficava perfeito. Aliás, lembro-me perfeitamente de querer deitar desenhos fora quando a coisa corria para o torto e de o meu pai me dizer que isso nunca se faz, que deitar um desenho fora é crime. Não me lembro quando comecei a ter este amor pela arte porque nasci com ela, pudera, com estes meus pais nem teria outra hipótese.


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3) M: Como surge esta necessidade de ilustrar histórias e sentimentos? A: Eu sempre fui uma miúda que pensa demasiado ao ponto de começar a ter enxaquecas, daquelas que só passam mesmo com iboprufeno. E quando digo pensar, é esmiuçar as coisas ao extremo. Questiono tudo constantemente, desde o porquê de ainda existir tanto preconceito e discriminação no mundo a o que poderá vir depois da morte. E eu tenho quase a certeza que este tipo de enxaquecas só acontecia mais vezes porque eu não vomitava os meus pensamentos, as minhas histórias, as minhas opiniões. Então juntei o útil ao agradável e experimentei dedicar-me a isso através do Instagram, desenhando. Antes, já postava desenhos mas não me atrevia a expressar-me como faço hoje, não sei se por vergonha, se por achar que ninguém me ia ouvir. Admito que anteriormente sempre achei que os meus desenhos não eram valorizados nas redes sociais e

nas primeiras vezes que tive tanto hype, que recebi tanto amor e tanta admiração pelas minhas comics, fiquei espantada. Não sabia que tanta gente passava pelo mesmo que eu. Isso acalmou-me e acalmame, saber que não estou sozinha nisto. Como não tenho 50 euros para gastar num/a psicólogo/a por mês, comecei então a usar a técnica do dar e receber, expondo o que sinto e recebendo o que os outros sentem através dos meu desenhos. Somos os psicólogos uns dos outros, ajudamos e deixamo-nos ser ajudados. É mútuo porque nos identificamos. 4) M: O que pretendes despertar nas pessoas? A: Sinceramente, eu só quero que as pessoas consigam perceber o que realmente deve ser estimado no mundo. É essencial saber como nos podemos polir para sermos pessoas melhores, aquilo a que nos podemos apegar para sermos felizes, o que podemos fazer para não cairmos na depressão,


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02 (1)(2)(4) Foto por @agualuis (3) Foto por @sarahawkkk (5) Foto por @goncaloasilva (6) Foto por @insmachado

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ensinarmo-nos mutuamente que nos devemos respeitar e apoiar e não reprimir ou invejar. É urgente desconstruir padrões de beleza, saber que quanto mais puros somos por dentro, menos relevância se dá a superficialidades que têm um impacto estúpido nos dias de hoje. Saber ter amor próprio de modo a poder dar amor ao próximo, proteger quem é considerado diferente, quando para ti é totalmente igual. Reconhecer que somos todos igualmente diferentes. No fundo, sermos pessoas, pessoas felizes e boas. É tão importante acabar com estereótipos. Tudo o que eu quero é despertar consciência limpa, optimista, humanitária e descomplexada. 5) M: Para além da ilustração, trabalhas no mundo da moda. Onde vais buscar energia e inspiração para alimentar tantas atividades em simultâneo? A: Na verdade, o que faço profissionalmente é vídeo e edição, naquelas 8 horinhas diárias, 7 dias por semana. Mas sim, muitas vezes tenho castings através da minha agência de moda, a Elite, e sim,

pode-se tornar cansativo. É engraçado porque já fui a milhares de castings e o nervosinho miudinho continua sempre lá, todas as vezes. Mas o que me cativa tanto nestas mini aventuras é o facto de este tipo de trabalhos- anúncios, campanhas de moda - me testarem a mim mesma, continuo a frisar a importância de construirmos a nossa confiança ao provarmos a nós mesmos que somos capazes de coisas em que somos desastrosos na nossa mente. É urgente movermo-nos a esse ritmo, focarmo-nos não sempre nas pessoas que adoramos mas também em nós mesmos. E mesmo que corra tudo mal, a diversão deve ser sempre dominante, mesmo que tenha tido uma prestação péssima (felizmente as filmagens dos castings depois são sempre apagadas, graças a deus). Rir-me de mim mesma é rir-me comigo. Para além disso, eu fui feita para o mundo das artes e entretenimento por isso qualquer área artística inspira-me instantaneamente, simplesmente corre-me no sangue. Ah, e muita da minha energia vem também do chocolate preto.


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6) M: Sabemos que a realização também é uma das tuas paixões. Vais investir nessa área? A: Nem que tenha 80 anos, um dia, eu vou ser uma grande realizadora. É daquelas coisas que eu nunca vou deixar passar ao lado e que, no momento em que me dedicar à séria, irei deixar-me prender de tal forma que vai ser um começo sem fim, tenho a certeza. Tenho simplesmente demasiadas ideias, demasiadas coisas para dizer e nada melhor que contar ao mundo o que eu quero tanto transmitir através de um filme. Os filmes mudaram a minha vida, salvaram-me da ignorância. Já desejei muito fazer filmes de animação na Pixar Studios, mas infelizmente e rapidamente descobri que animação bem feita, digna de Óscar, demora demasiado tempo e eu ainda quero ser muitas coisas durante esta vida. Por isso, cinema de acção real, here we go! 7) M: Que coisas são essenciais para o teu dia-adia? A: No meu dia-a-dia o mais importante é não ficar

parada. É essencial miminhos da Verinha, refeições que não desiludam, exercício físico q.b., mover projectos para a frente, cantar alto, rir até doer a barriga, as minhas pessoas e ao final do dia, o conforto da minha casa com trash tv ou um bom filme. 8) M: Destaca três artistas, que qualquer pessoa devia conhecer. A: Na ilustração, a grande Polly Nor porque é o exemplo perfeito de uma ilustradora de sucesso. A Lykke Li porque quando for cantora quero tocar pessoas como ela me toca a mim. E o enorme Wes Anderson porque um dos meus sonhos dita: “directed by Wes Anderson and Ana Ventura” 9) M: O que te mantém acordada durante noite? A: Nervos de um compromisso importante no dia a seguir, uma comic que quero muito terminar, fome, uma bela de uma série que me prende até ao fim da temporada ou a junção disso tudo.


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Um artista deve ser sempre fiel a si mesmo e nunca deve perder a sua essência por opiniões alheias

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10) M: Na tua opinião, que noção um artista nunca deve perder? A: Para mim, qualquer tipo de artista nunca se deve esquecer daquilo que o incentivou a criar inicialmente, daquilo que adorou em si como artista ao ponto de se querer mostrar aos outros. Um artista deve ser sempre fiel a si mesmo e nunca deve perder a sua essência por opiniões alheias ou pouca aprovação. É fundamental orgulhar-se sempre daquilo que faz, do talento que tem e de como decide exteriorizá-lo. 11) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. A: Pessoas, agarrem a vida, não a deixem passar ao lado. E se nascemos num corpo humano, que usemos a nossa ferramenta melhor- a cabeça - e que façamos isto valer a pena, já agora! Sejam felizes e contagiem os outros com essa felicidade!

PREFERES Séries ou Filmes? Filmes. Moda ou Ilustração? Ilustração. Ténis ou Casacos? Casacos. Chá ou café? Café no fim de cada refeição, adoro o sabor, acorda-me 0. Nurb ou Verinha? Vale se for metade nurb, metade Verinha? Tipo uma quimera. Digital ou Manual? Manual para as formas, digital para colorir. Sempre.

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Lápis ou Caneta? Lápis.


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@rosa.paixao.rosa

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“Things of quality have no fear of time”

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F OTO G R A F I A

hugo coelho ENTREVISTA: rita alvarez

Hugo Coelho, fotógrafo de 34 anos, habituou o olho desde cedo aos detalhes. Começou pela fotografia comercial, mas foi a fotografar casamentos que se sentiu realizado. Este fotógrafo escapa à típica fotografia de casamento que todos já conhecemos, criando memórias únicas e retratando de uma forma muito mais íntima e dinâmica, o dia mais singular da vida do casal.

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Gosto muito do que faço e isso reflecte-se nas minhas imagens. Faço~as com o mesmo valor com que gostaria que alguém as fizesse para mim

” 1) MELANCIA: Quem é o Hugo? HUGO: Tenho 34 anos, vivo em Lisboa e sempre fui apaixonado por esta cidade. Sou casado e tenho um filhote. A minha fonte de inspiração é a estabilidade. 2) M: A fotografia sempre fez parte da tua vida? Quando a assumiste enquanto profissão? H: Desde sempre que gostei de fotografar graças ao meu pai. Estudei Fotografia na ETIC durante três anos e estagiei como fotojornalista na Agência Global Imagens, do Grupo Diário de Notícias. Depois disso passei para a fotografia comercial, uma área completamente diferente e muito técnica, que me deu o conhecimento e o olho mais perfeccionista e atento aos detalhes. Neste momento fotografo casamentos há cinco anos a full time. 3) M: Descreves-te como “Wedding and Elopement Photographer”. Explica-nos um bocadinho melhor em que consiste. H: Tenho vindo cada vez mais a fotografar casais estrangeiros e também fora do país. Apesar de fotografar muito em Portugal, as viagens começam a ser habituais para fotografar noutros lugares, o que é muito enriquecedor por ter esse voto de confiança e poder alargar os horizontes.


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(1) Fotografia listada como “One of the Best Engagement Photos of the Year” pela Junebug weddings

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ainda falta quebrar alguns clichês


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4) M: Tens mais de 10mil seguidores no instagram. Consideras ser uma ferramenta essencial para o sucesso do teu trabalho? H: Penso que as redes sociais são uma ferramenta muito importante do meu trabalho. Alguém dizia que se não estivermos online não existimos. Temos de dar a conhecer o nosso trabalho aos outros e uma maneira de se chegar mais longe é sem dúvida pelo instagram. Hoje em dia diria que 80% dos contactos que tenho passam pela minha conta. 5) M: Como tem sido o feedback dos teus seguidores? H: A julgar pelos comentários tem sido boa (risos). Gosto muito do que faço e isso reflecte-se nas minhas imagens. Faço-as com o mesmo valor com que gostaria que alguém as fizesse para mim. Penso que isso seja uma boa parte desse bom feedback.

6) Não posso deixar de salientar que o teu trabalho é muito diferente (no melhor dos sentidos) do da maioria dos fotógrafos de casamentos. Ainda assim, sentes resistência ao reconhecimento do teu trabalho no mundo da fotografia? H: Portugal tem estado a crescer muito nos últimos anos e a afastar-se da tradicional fotografia de casamento. Temos excelentes profissionais que competem com os melhores do mundo nesta área. Os clientes têm um maior gosto pela Fotografia, por estar mais acessível a todos e porque, nos dias de hoje, todos somos um pouco fotógrafos, todos captamos imagens com os telemóveis e isso só veio elevar a fasquia. Ainda falta quebrar alguns clichês mais tradicionais que não fazem tanto sentido nos dias de hoje… até porque o dia do casamento deve ser vivido de uma forma descontraída e intimista, pelo menos são esses os casais que procuro.


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é quase como um namoro: tem que haver química. tento dar a perspectiva de um amigo muito próximo do casal

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7) M: Como é, normalmente, a logística de fotografar um casamento? Quantas sessões fazes? Explica-nos o processo. H: É um dia bem intensivo. Fotografo sempre sozinho, gosto desse desafio porque tenho uma visão muito própria. São muitos detalhes e pormenores que devem ser capturados. Afinal de contas é um dos dias mais importantes da vida de duas pessoas e é, também, um legado que vamos deixar para as futuras gerações. Não nos podemos esquecer disso. Normalmente há uma sessão antes do casamento (a engagement session) importante para conhecer o casal e ganhar a sua confiança. É quase como um namoro: tem que haver química. Tento dar a perspectiva de um amigo muito próximo do casal com uma abordagem familiar e, para isso, é preciso conhecê-los bem. 8) M: Onde gostarias de ver o teu trabalho exposto? H: A pergunta não será bem essa, mas sim onde gostaria de fotografar. Sou como uma criança cada vez que vejo algo novo (risos). É preciso estimular a criatividade e é por isso que adoro viajar e conhecer novos sítios. 9) M: Conta-nos a tua maior aventura a fotografar! H: Há dois anos tive uma das maiores experiências: um casamento no “Kruger Park”, na África do Sul. Sem dúvida que não me irei esquecer desta aventura. Desde pequeno que adoro ver o programa “Vida Selvagem” da BBC e foi como estar dentro dele. 10) M: Fotografia preferida? Porquê? H: Difícil escolher uma… talvez não seja a melhor fotografia mas esta (fotografia 2) é uma das que mais gosto e que não me sai da cabeça. Gosto muito de pintura e esta faz-me lembrar isso mesmo.

(2) Fotografia seleccionada por Hugo como uma das preferidas (3) Stellenbosch (4) Lanzarote, Islas Canarias


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11) M: Onde te podemos encontrar se não estiveres a fotografar? H: Tento aproveitar ao máximo o tempo que tenho disponível com a minha família. Viajar ocupa muito tempo e quando regresso dou-lhes o máximo de atenção. Andar de mota é uma das minhas outras paixões. 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. H: Parabéns por seguirem uma revista tão cool! Eu não conhecia e vou ser um deles :)

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PREFERES Analรณgico ou Digital? Digital. P&B ou Cores? Cores. Campo ou Cidade? Campo. Interior ou Exterior? Exterior. Noite ou Dia? Dia. Livros ou Filmes? Filmes. Chamada ou SMS? Chamada.


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@sarajvieira

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Desconhecido

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“Agora as pessoas não Sabem morrer, estar doentes Sofrer, ter prazer Tocar-se Dantes também não”

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TAT U A G E M

adfuntink ENTREVISTA: mafalda jesus

Defunta mas bem viva ao mesmo tempo, assim podemos entender Marta ou Adfuntink que, entre o P&B e a cor, vai marcando a pele de quem tem bom gosto. Tatua há 6 anos, mas a paixão já vem de longe, mesmo que perdida no bolso de um casaco... A subtileza que apresenta, nas linhas, na cor (ou a falta dela), não faz lembrar ninguém, tornando-se assim inconfundível a olho vivo.

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5 0 | TAT U A G E M

cOMECEI HÁ 6 ANOS NUMA BANANA E NO SEGUNDO SEGUINTE NO MEU NAMORADO

” 1) MELANCIA: Quem é a Marta? ADFUNTINK: Basicamente come palhacinhos ao pequeno-almoço, nasceu e cresceu “à estorreira do sol” mas derrete-se pelo frio, adquiriu um calo aos seus 3 anos fruto de tanto carregar no desenho, bebeu design gráfico e salivou gauffres pelo caminho, e claro, é adfunta. 2) M: Porquê “adfuntink”? A: Porque na verdade era adfunto, eu é que me auto-boicotei, o resto da história conto se quiseres enquanto te tatuo! 3) M: Fala-nos do teu percurso. Quando e como começou esta aventura no mundo da tatuagem? A: Comecei há 6 anos numa banana e no segundo seguinte no meu namorado. Nos entretantos, fui tatuando em vários cantinhos de lisboa, fiz um curso de tatuagem profissional para tirar teimas, mas só quando a Cathy (notfromthisbox) esbarrou na minha vida, me senti abraçada! Há 3 anos decidi atirar-me ao que realmente me fazia sentido fazer a tempo inteiro! Dei a mão à Agataris e PatriciaShim, criaturas que muito admiro e estimo, e juntas gerimos o nosso Pantano.studios! Embora tenha descoberto há pouco tempo, num bolso de um casaco que não visto há 20anos, uma folha cheia de “flashes”, escrito num canto “tatoages”! Portanto posso dizer que esta aventura nunca começou, fui trazendo no bolso.


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4) Qual foi a sensação de tatuar pela primeira vez? A: No meu caso foi mesmo por amor...! E ya, foi puro amor! Ficou uma m*rda? Ficou. Mas já tinha visto piores e actualmente é uma das minhas tattoos favoritas! E pronto, quis logo fazer outra! 5) M: Na tua opinião, o que é essencial para ser um bom tatuador? Qual é o maior desafio profissional nesta indústria? A: Como em tudo o que se quer ser bom.. Amor, trabalho, sabedoria, empatia e honestidade. Neste momento é conseguir comprar agulhas 7rl/25! Fica o apelo! 6) M: Qual é a tua maior motivação para criar? O que te inspira? A: Não é motivação, é uma necessidade de expressão que mesmo desmotivada ela permanece. Tudo o que me faz quentinho no coração e também o que o vai matando.

7) M: Que conselhos deixas a quem quer fazer a sua primeira tatuagem? A: Faz e lê a resposta seguinte. 8) M: Qual é a tua opinião relativamente à remoção de tatuagens? A: Só a morte é que não tem remédio né?!... E no fim até já estamos todos...! 9) M: Para além de tatuar, o que te faz feliz? A: Desenhar e desenhar, o cheiro da chuva, o barulho da tranquilidade das plantas e uma tablete de chocolate sff! 10) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. A: Bebam água e deitem só as pevides para o chão!


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PREFERES Cor ou P&B? Os dois ao mesmo tempo. Papel ou Digital? Digital em papel. Séries ou Filmes? Dia sim dia não. Lisboa ou Porto? Beja-Lisboa-Porto-Mundo. Caneta ou Lápis? Muitas canetas. Cães ou Gatos? Animais. Noite ou Dia? Lusco-fusco.


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Bebam água e deitem só as pevides para o chão!


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@matilde__cunha

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via artpolicekollektiv

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“A arte é um bem q faz mal”

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LETTERING

JADY SALVÁTICO ENTREVISTA: RITA ALVAREZ

De cadernos bonitos na escola, a fazer do lettering parte do seu ofício. Jady é designer, mas o lettering persegue-a desde cedo e agora até lhe sobe pelas paredes. Acompanhada pela curiosidade e pelo sentido de estética, cria as mais bonitas composições, com influências do tradicional, moderno e até industrial. Aqui, letras bonitas introduzem frases bonitas, às quais inevitavelmente nos rendemos.

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60 | LETTERING

estava deixando de fazer o que queria por causa da quantidade de likes que teria ou não


J A DY S A LV Á T I C O | 6 1

1) MELANCIA: Quem é a Jady? JADY: Uma moça tímida, apaixonada por arte e com grandes objetivos em mente. 2) M: Sabemos que és designer, mas a tua praia parece ser o lettering. Como surgiu esta tua paixão? J: Eu sempre gostei de desenhar, mas não tinha muita habilidade para desenhar o que imaginava na minha mente. Então, desde a escola, escrevia o meu nome, o das minhas amigas, das matérias, etc com uma letra mais bonitinha. O meu caderno era sempre o mais bonito da sala, até que um professor pediu para ficar com ele no fim do semestre (risos).

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3) M: Tens quase 30mil seguidores no instagram. Usas a página como ferramenta potenciadora do teu trabalho? J: Já tem um tempo que eu não me prendo mais aos números de seguidores de facto, porque isso estava me travando demais aos números e eu estava deixando de fazer o que queria por causa da quantidade de likes que teria ou não. Desde que abri mão de ficar contando seguidor, sinto que tenho conseguido mais trabalhos e mais pessoas se interessando pelo que faço. Hoje em dia é sim a maior fonte de divulgação do meu trabalho, mas se o algoritmo ajudasse seria muito melhor (risos).


62 | LETTERING

4) M: Eventos, parcerias, paredes, posters... o que te enche mais a alma? J: Sou libriana*, difícil escolher! (risos) Eventos são legais porque atingem muitas pessoas fora da sua bolha de seguidores e o encantamento é imediato. Gosto da troca de energia que acontece e das histórias que conheço. Mas acho que fico com as paredes, que me dão muito mais trabalho, mas ficam ali praticamente eternizadas com os meus desenhos. *signo balança, em português do Brasil.

5) M: Quais as tuas inspirações e referências? J: Eu acompanho muitos artistas de lettering e de outras áreas totalmente diferentes da minha, justamente para não me prender no “mais do mesmo”. Gosto também de, quando viajo, ver as artes regionais e as escritas nos comércios, feitas pelos próprios moradores. Tudo me inspira um pouco, estou sempre atenta as coisas ao meu redor. 6) M: Tens algum trabalho favorito? Porquê? J: Não, não costumo olhar muito para os trabalhos que faço porque fico encontrando defeito em tudo! (risos)

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7) M: És um caso de sucesso! Quando percebeste que conseguias e que irias fazer de tudo isto a tua profissão? J: Não percebi até agora. Sempre me aparece algum desafio novo, que eu não costumo recusar. Primeiro eu aceito, depois eu penso como fazer. Acho que assim tenho me forçado a sair da zona de conforto e consequentemente amplio meu trabalho para mais pessoas terem contato. Mas me lembro da primeira vez que fechei uma parceria para criar uns adesivos de decoração, fiquei muito empolgada de poder trabalhar com o que até então era só meu hobby. Gratidão demais!

(1) Cerveja Dia dos Namorados (2) Parede num Shopping em Santa Cruz (3) “ALMA”, Parede Colaborativa (4)(5) “Feel the Musica”, personalização de colunas (6) “Seja Gentil” (7) Orelha para a “Ear Parade 2019” (8) T-shirts “Loopalooza 2019”

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J A DY S A LV Á T I C O | 6 3

O meu caderno era sempre o mais bonito da sala


6 4 | C AT E G O R I A

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PREFERES Papel ou Pared? Parede. P&B ou Cores? P&B. Gatos ou Cães? Gatos. Doce ou Salgado? Doce. Vinho ou Cerveja? Não bebo (risos). Mas prefiro suco de laranja. Noite ou Dia? Dia. Jantar fora ou Cinema? Jantar fora.

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J A DY S A LV Á T I C O | 6 5

meu principal conselho é não confundir inspiração com cópia. Tem espaço para todo o mundo

” 06 8) M: Quais as maiores dificuldades que sentiste até agora? Tens conselhos para quem está a tentar fazer o mesmo? J: Meu principal conselho é não confundir inspiração com cópia. Tem espaço para todo o mundo, se for para trabalhar com arte em geral, leve a sério e procure se destacar! As dificuldades do começo são sempre saber quanto cobrar e a insegurança de pegar trabalhos grandes. Mas acho que se concentrar e dar o melhor de si é o melhor caminho. 9) M: Onde te podemos encontrar quando não estás a desenhar? J: Em alguma hamburgueria ou sorveteria da cidade. 10) M: Próximos passos? J: Muros externos e testes com spray. Ah, também estou me arriscando a aprender caligrafia, com pena mesmo. Ainda quero criar um estilo novo, unindo caligrafia e lettering. 11) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. J: “Seja gentil com as pessoas, você nunca sabe o que elas estão enfrentando.” Gratidão MELANCIA! Contem comigo para tudo.

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@anaformigo

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“Fazer ver sem mostrar”

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6 8 | C AT E G O R I A


ILUSTRAÇÃO

JASSIL MERNELL ENTREVISTA: mafalda jesus

Em comunhão com o que o rodeia, Jassil produz arte desprendida de padrões e composições frequentemente tão confusas quanto balançadas - talvez como o próprio. Como ele mesmo afirma, a sua obra é um jogo e, nele, joga confortavelmente com riscos, cores, claros e escuros, manual e digital. Um enlace quase surreal que se estranha mas que depressa se entranha.

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70 | ILUSTRAÇÃO

1) MELANCIA: Quem é Jassil? JASSIL: Jassil Mernell é um humano de ar, uma brisa desca de verão ou um tufão tropical destrutivo. Sempre equilibrado e carmático.

1) MELANCIA: Quien es Jassil? JASSIL: Jassil Mernell es un humano de aire, una brisa fresca de verano o un tifón tropical destructivo. Siempre equilibrado, y karmatico.

2) M: Como surge a paixão pelo desenho? J: Não vem de nenhum lugar, já vem no adn. E se te referes ao que me inspira, então, tudo! A inspiração vem de tudo que me rodeia.

2) M: Cómo surge la pasión por el diseño? J: No surge de ningún lugar, ya viene en el adn. Y si te refieres a con que me inspiro, pues, con todo! La inspiracion surja de todo lo que me rodea.

3) M: Os teus desenhos são incríveis e inconfundíveis, com muita textura e cor. Desenhas à mão ou no computador? J: Trabalho das duas formas, misturo-as. Satisfação total.

3) M: Tus diseños son increíbles y inconfundibles, con mucha textura y color. Dibujas à mano o con el ordenador? J: Con ambas disciplinas trabajo, las mezclo. Satisfacción total.

4) M: Fala-nos um pouco das tuas inspirações e elege um artista que gostes. J: Como comentava, a inspiração surge de tudo. Uma tempestade, uma pedra, uma pessoa, uma rua, etc. E eu não consigo escolher um artista em específico, são muitos. Muito talento.

4) M: Háblanos um poco de tus inspiraciones y elige un artista que te gusta. J: Cómo lo comentaba, la inspiración me surge de todo. Una tormenta, una piedra, una persona, una calle, etc. Y no puedo elegir un artista en especifico, son bastantes. Mucho talento.


A R T I S TA | 7 1


72 | ILUSTRAÇÃO

5) M: O teu trabalho é surrealista e sombrio. De que forma de equadra com a tua personalidade? J: É um jogo, um todo... Não posso definir a minha personalidade. Até o último momento da existência, a pessoa está em constante mudança. 6) M: Estive no México e fiquei encantada. Como o descreverias a uma pessoa que nunca tenha lá estado? J: México... México é magia, magia onde a queiras ver, é energia, fantasia, loucura, um orgasmo... Literal. Em todos os aspectos.


JASSIL MERNELL | 73

5) M: Tu trabajo es surrealista y sombrío. De qué forma se encuadra con tu personalidad? J: Es un juego, un todo... No puedo definir mi personalidad. Hasta el último momento de existencia uno está en un constante cambio. 6) M: Estuve en México y me encantó. Cómo lo describirías a una persona que nunca ha estado allí? J: México... México es magia, magia por dónde le quieras ver, es energía, fantasía, locura, un orgasmo.. Literal. En todos los aspectos.


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7) M: Para além do desenho, que outras paixões tens? J: Outras paixões? Pois... Gostava de ter tempo extra para essas coisas. 8) M: Se pudesses mudar alguma coisa no mundo, o que seria? J: Ui, pffff são tantas coisas que nem sei por onde começar... Mas tem tudo a ver com os humanos e os bonitos defeitos que têm. Não todos, claro, mas bem, tu entendes... 9) M: Qual é o teu lema de vida? J: Para viver e disfrutar, porque amanhã não sabes se acordas. 10) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. J: Abram a vossa mente, e de igual forma a vossa energia. E repetir que a vida é para disfrutar.


JASSIL MERNELL | 75

7) M: Además del dibujo, que otras pasiones tienes? J: Otras pasiones? Pues... Quisiera tiempo extra para esas cosas. 8) M: Si pudieras cambiar una cosa en el mundo, ¿qué sería? J: Uy, pfffff son tantas cosas que no se por dónde empezar... Pero todo tiene que ver con los humanos y los bonitos defectos que se cargan, no todos, claro está, pero bueno, tú me entiendes... 9) M: Qual es tu lema de vida? J: A vivir y disfrutar, que mañana no sabes si despertarás. 10) M: Deja un mensaje a MELANCIA y sus lectores. J: Abran su mente, y de igual forma su energía. Y a cotorrear que la vida es para disfrutar.


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Abram a vossa mente, e de igual forma a vossa energia

” PREFERES Noite ou Dia? Noite sempre, eu e o sol temos por aí uma inimizade. Tequilla ou Mezcal? Ambas, amo os destilados. Ainda agora bebemos tequilla. (sessão de desenho nú e destilados para animar o momento) Lápiz ou Caneta? O lápis aborrece-me e não encontro o tom certo. Para sempre canetas. Cães ou Gatos? Gatos. Tenho dois, Gizmo y Úrsula. Natureza ou Cidade? Um pouco de ambos os mundos, natureza e cidade. Soutien ou Free the nipple? Sempre exibindo, sem remorso.


JASSIL MERNELL | 77

PREFiERES Noche o Dia? Noche por siempre, el sol y yo tenemos por ahí una enemistad. Tequilla o Mezcal? Ambas bebidas, amo los destilados, justo a horita bebemos tequila. (sesión de dibujo al desnudo, y destilados para amenizar el momento) Lápiz o Boligrafo? El lápiz me aburre, y no me regla el tono adecuado, por siempre bolígrafos. Perros o Gatos? Gatos. Tengo dos, Gizmo y Úrsula. Naturaleza o Ciudad? Un poco de ambos mundos, naturaleza y ciudad. Sostén o free the nipple? Siempre exhibiendo jamás inexhibiendo.

Abran su mente, y de igual forma su energía.


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@atumacaco

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Chico Buarque

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“Abre o teu coração Ou eu arrombo a Janela”

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TAT U A G E M

anna berger ENTREVISTA: rita alvarez

Natural de Tel Aviv, mas residente em Lisboa há um ano e meio, Anna Berger trouxe com ela a mestria em linhas e storytelling que, em Portugal, decidiu começar a marcar em pele. Anna fala-nos de um processo criativo peculiar que, conjugando diversas histórias e inspirações artísticas, cria uma linha de trabalho clara e sequencial, com os seus icónicos quadrados, como que molduras para pendurar na pele.

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8 2 | TAT U A G E M

capto estas tensões de momentos frágeis

” 1) MELANCIA: Quem é a Anna? ANNA: Artista, ilustradora e, aparentemente, beginner tattoo artist de Tel Aviv, nascida em Moscovo. 2) M: Porque vieste de Tel Aviv para Lisboa? A: O meu plano inicial, há um ano e meio atrás, era mudar-me para Berlim para estudar. Após a minha curta visita para tratar de todos os papéis fui, espontaneamente, passar uns dias a Lisboa. No momento em que entrei na cidade percebi que Berlim não era para mim e que só tinha de estar aqui, em Portugal. Um ano depois, fui aceite na incrível residência artística PADA no Barreiro, sabendo que não ia voltar para Tel Aviv. 3) M: Pelo teu instagram, conseguimos perceber que tudo isto é muito recente - e essa foi, em parte, uma das razões pelas quais te quisemos muito entrevistar... começaste agora mesmo e é impressionante! Como aconteceu tudo? A: Em primeiro lugar, muito obrigado pelas palavras. É muito importante para mim ouvir isto porque estou a tentar equilibrar-me neste ponto de partida difícil onde o apoio significa muito. Tudo começou muito recentemente: Eu tinha a ideia de tentar tatuar em Israel mas não consegui encontrar uma maneira de o fazer. Depois já em Lisboa, conheci através de um amigo o talentoso (também israelita) tatuador Omri Levi (@omrilevi_tattoo), que acreditou imediatamente em mim e se ofereceu para me ajudar. Acho que nuncninguém acreditou tanto em mim como ele e nunca poderei dizer-lhe o quanto lhe estou grata por me acompanhar em tudo isto e estar sempre ao meu lado para ajudar - como mentor e como grande amigo.


ANNA BERGER | 83

I JUST capture THESE tensions of fragile moments

” 1) MELANCIA: Who is Anna? ANNA: Artist, illustrator and apparently also a beginner tattoo artist from Tel Aviv, born in Moscow. 2) M: Why did you came all the way from Tel Aviv, to Lisbon? A: My initial plan, one and a half years ago, was to move to Berlin to study. After my short visit there to arrange all the papers, I spontaneously went to Lisbon for a few days and the moment I entered the city I realized Berlin wasn’t for me and that I just had to be here, in Portugal. So, a year later, I got accepted to the amazing PADA art residency in Barreiro, knowing I was not coming back to Tel Aviv. 3) M: By your instagram, we can tell all this is very recent - and that was part of the reason we really wanted to interview you... because you just started and it’s simply astonishing. How did it all start? A: Firstly, many many thanks for that. It’s very important for me to hear that because I’m balancing on this edge of rough start where support means a lot. It all indeed started very recently: I had the idea on my mind of tattooing back in Israel but I couldn’t find a way to do it. Once in Lisbon, I met through a friend the talented (also Israeli) tattoo artist Omri Levi (@omrilevi_tattoo), who immediately believed in me and offered to help me. I don’t think anyone ever believed in me as much as he did and I will never be able to say how grateful I am to him, for taking me trough all this and always being by my side to help both as a mentor and as a very good friend.


8 4 | C AT E G O R I A

4) M: Fala-nos do teu processo criativo. A: Bem, não é tão romântico como pode parecer. Eu apenas guardo enormes quantidades de imagens que me fascinam nos meus dispositivos - desde cenas de filmes, fotos do iPhone, instagram, etc - e depois desenho-as, porque foram imagens que me disseram alguma coisa. Também tive o mesmo processo criativo com a pintura. Eu apenas capto estas tensões de momentos frágeis através da forma como vejo as coisas. 5) M: Linhas finas, preto e branco e, o mais característico de tudo, quadrados que contam histórias sequenciais. Como descreverias o teu estilo? A: Eu nem sequer tentaria descrevê-lo. O que é importante para mim não é o estilo, mas a história. Adoro colocar imagens em quadrados para composição, para clareza e para sequência de narração. 6) M: Como é que as pessoas estão a reagir até agora? A: Eu recebo muito apoio! Dos meus clientes (são do melhor até agora), de amigos, de pessoas aleatórias e, também, de tatuadores locais... o que significa muito para mim. Por outro lado eu, como todos os seres humanos, também recebo algum feedback negativo. Mas encaro-o como um elogio. Desde que as pessoas tenham as suas emoções despertadas, vale sempre a pena.


ANNA BERGER | 85

4) M: Tell us about your creative process. A: Well, it’s not as romantic as it might seem. I just have giant stocks of images that I find fascinating on my devices - from movie scenes, to iPhone photos, instagram, etc - that I draw later on because they spoke to me. I had the same creative process with paintings as well. I just capture these tensions of fragile moments through the way I see things. 5) M: Fine lines, black and white and, the most distinctive of all, squares that tell sequential stories. How would you describe your style? A: I wouldn’t even try to describe it. What’s important for me is not the style, but the story. I love putting images in squares for composition, for clarity and for sequence of storytelling. 6) M: How are people reacting so far? A: Oh I receive a lot of support! From my clients (they are the best so far), friends, random people and also local tattoo artists, which means a lot to me. On the other hand I also, like all human beings, receive some negative feedback... but I take it as a compliment as well. As long as people have emotions evoked it’s totally worth it.


8 6 | TAT U A G E M

7) M: Reparámos que costumas fazer alguns desenhos e depois publicá-los na tua página, a perguntar se alguém quer tatuá-los em si próprio. Como está a funcionar este método? A: Eu desconheço (para ser sincera) qual deveria ser o método, por isso este acaba por ser um método natural para mim, uma vez que ainda me considero em primeiro lugar uma artista. Estas imagens “falam” às pessoas e deixa-me imensamente feliz que alguém as aprecie e queira tê-las - independentemente de ser na pele ou na parede. No final do dia, cada trabalho que sai do meu estúdio tem um monólogo pessoal inesgotável. 8) M: Além do método de que falámos, estás a começar a receber pedidos personalizados? A: Sim, claro. Eu faço designs personalizados desde que seja eu a fazer os desenhos, para manter a autenticidade do meu trabalho.

9) M: Quais são as tuas maiores e mais verdadeiras inspirações? A: Jean Luc Godard e basicamente toda a nova onda francesa, Henri Rousseau, Pirosmani, David Hockney (uma lista interminável de artistas), muita poesia, rolos de câmera, fotografia de cinema e noites acolhedoras com as pessoas que amo. 10) M: O que te faz continuar? A: Emoções, acho eu. Nada bate quando sentimos alguma coisa, independentemente de ser agradável ou frustrante. 11) M: Deixe uma mensagem à MELANCIA e aos seus leitores. A: Apenas vai em frente se o quiseres. (espero mesmo que isto funcione).


ANNA BERGUER | 87

7) M: We noticed that you usually make some drawings and then post them on your page, asking if anyone wants to tattoo them on themselves. How’s this method working out for you? A: I am not aware (to be honest) how it should be like, so I find this way a natural one for me as I still consider myself an artist first. These images do manage to speak to people and it gives me great happiness that someone appreciates them and wants to have them, regardless if it’s on their skin or on their walls. At the end of the day, every work that leaves my studio has inexhaustible personal monologue. 8) M: Besides the method we talked above, are you starting to get custom requests? A: Yes, of course. I do offer custom designs, as long as I make the drawings myself to keep it authentic. 9) M: What are your biggest and truest inspirations? A: Jean Luc Godard and basically all french new wave, Henri Rousseau, Pirosmani, David Hockney (a never ending artists list), lots of poetry, camera roll, film photography and cosy evenings with people I love. 10) M: What keeps you going? A: Emotions I guess. Nothing can beat it when you feel something, regardless if it’s pleasant or frustrating. 11) M: Leave a message to MELANCIA and its readers. A: Just go for it if you want it (I really hope this actually works).


8 8 | TAT U A G E M

PREFERES P&B ou Cor? Preto e branco. Digital ou Pintado à mão? Pintado à mão. Campo ou Cidade? Natureza com refúgios urbanos. Cães ou Gatos? Gatos. Lápis ou Caneta? Caneta. Discoteca ou Bar? Wine bar. Jantar fora ou Cinema? Jantar fora no cinema.


ANNA BERGER | 89

prefer B&W or Color? Black and white. Digital ou Hand-painted? Hand-painted. Country or City? Nature with city getaways. Cats or Dogs? Cats. Pencil or Pen? Pen. Club or Bar? Wine bar. Dinning out or Cinema? Dinning in the Cinema.


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@fuiminadx

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William Shakespeare

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“O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui”

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9 2 | C AT E G O R I A


LIFESTYLE

HERO TO ZERO Anna Masiello ENTREVISTA: mafalda jesus

Da paixão pela Natureza e pelo mundo que a rodeia, nasce uma preocupação: querer evitar o desperdício. O R-Coat foi a maneira que Anna encontrou para mostrar que o caminho passa pela sustentabilidade e reciclagem. Casacos que, para além de giros, despertam consciência e evitam a alimentação de uma das indústrias mais poluentes da atualidade - a indústria da fast fashion.

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94 | LIFESTYLE

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A ecologia tem feito parte de mim desde sempre, mas aprendi muito nos últimos anos

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H E R O TO Z E R O | 9 5 (1)(2) Produtos retirados do lixo (3) “Second-hand and natural fibers” (4) Infusor de chá (5)(8)(13) R-coat (6) “Period underwear” (7) “Natural cleaning product” (9)(11) “Zerowaste grocery shopping” (10) “Essentials in the bathroom” (12) Livraria em Veneza

03 1) MELANCIA: Quem é a Anna? ANNA: Faço 26 anos este mês, adoro a natureza, gosto de rir e sou apaixonada pelas coisas que faço. Sou italiana, mas tive a sorte de viajar bastante e há muitos lugares onde me sinto em casa. 2) M: O que te trouxe a Portugal? A: Durante a licenciatura, fiz Erasmus em Lisboa e apaixonei-me por Portugal. Queria muito voltar e, por isso, procurei um Mestrado em Lisboa na área ambiental. Estou a acabá-lo, mas já sei que vou ficar. 3) M: Quando descobriste que havia uma Anna ecológica dentro de ti? A: Acho que sempre houve. O meu pai é guarda florestal e cresci a brincar nas florestas e a apreciar a natureza. A ecologia tem feito parte de mim desde sempre, mas aprendi muito nos últimos anos.

04 4) M: Segues uma ideologia de zero desperdício. Como começaste a mudar os teus comportamentos? A: Quando me mudei para Lisboa em 2017, vi um vídeo da Lauren Singer a falar do frasquinho dela, em que consegue guardar o lixo produzido nos últimos anos. Esse vídeo inspirou-me e comecei a procurar mais coisas sobre o “zero desperdício”. Percebi que era um tema de grande importância e que tinha poder para mudar coisas. Comecei a olhar para o que deitava fora e procurei alternativas melhores que não produziam lixo. A primeira coisa que fiz foi deixar de comprar os saquinhos de chá e comecei a usar um infusor com chá comprado a granel com os meus saquinhos e frascos reutilizáveis.


96 | LIFESTYLE

5) M: Achas mesmo possível uma pessoa fazer zero desperdício? A: Não, acho que fazer algum tipo de desperdício - seja lixo, energia, ou outras coisas - é normal, especialmente num contexto urbano. Eu vejo o “zero” em “zero desperdício” como uma meta ideal que me inspira a fazer sempre melhor no meu dia a dia.

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6) M: Não te preocupa que a comida que vais buscar ao lixo comprometa a tua saúde? A: Não, não estou muito preocupada com isso. Primeiro, não acho que a comida que encontro nos contentores esteja pior da que é vendida nos supermercados... Só está um bocado mais esmagada e pegajosa porque está toda acumulada num caixote, como se fosse lixo. Segundo, para ter a certeza de evitar eventuais riscos, só levo para casa produtos embalados e não como frutas e verduras cruas. 7) M: Como surgiu a ideia de criar casacos a partir de chapéus de chuva? A: Quando mudei para Lisboa comecei a ver que nos dias de chuva havia muitos chapéus

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H E R O TO Z E R O | 9 7

Eu vejo o “zero” em “zero desperdício” como uma meta ideal

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partidos nas ruas. Na altura estava a aprender muitas coisas sobre o “desperdício zero” e ao ver os guarda-chuvas só pensava na quantidade de recursos usados para produzi-los e no impacto que seria criado ao dar-lhes uma utilização... Deixá-los lá, sim, seria um grande desperdício! Sabia que o valor desses chapéus não tinha desaparecido, só porque uma pequena parte estava partida, então comecei a levá-los para casa sem saber o que ia fazer com eles. Só depois de um ano é que decidi costurar o primeiro R-Coat. 8) M: Como funciona o processo até terminar o casaco? A: Os chapéus são encontrados nas ruas ou doados por pessoas nos pontos de entrega em Lisboa. Primeira coisa, desmonto a parte de metal/plástico e lavo os tecidos. Depois deixo a criatividade escolher as cores e o design e faço um desenho e levo tudo para a costureira. Gostaria de fazer eu a parte da costura também, mas só aprendi a costurar quando decidi fazer o primeiro R-Coat, há um ano e as minhas competências não são suficientemente boas para fazer um bom produto.


98 | LIFESTYLE

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PREFERES Portugal ou Itália? Portugal, com mais comida Italiana Pizza ou Pasta? Pizza. Cães ou Gatos? Cães. Fruta ou Vegetais? Fruta. Vinho ou Cerveja? Vinho. Noite ou Dia? Tatuagens. Soutien ou Free the nipple? Free the nipple.

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H E R O TO Z E R O | 9 9

9) M: Na tua opinião o que é mais urgente? Mudança de comportamento nas pessoas ou na indústria e serviços? A: As duas são fundamentais, mas se tiver de escolher, acho que é melhor haver mudanças de comportamento. Se houver mudança na indústria e serviços, as pessoas serão obrigadas a mudar, mas acho que isso pode levar a situações contraproducentes. Por outro lado, mudanças de comportamentos são o resultado de um ganho de consciência, conhecimentos e sensibilidade para o tema e é provável que vá haver algum efeito de trasbordamento em outros comportamentos. Por exemplo, quando se começar a reduzir o desperdício por razões ambientais, é provável que o passo seguinte vá ser reduzir produtos animais, andar menos de carro, comprar produtos biológicos, etc... 10) M: Achas que a indústria está preparada para mudar radicalmente num futuro próximo? A: Acho que sim, temos tecnologias suficientemente avançadas para substituir, em grande escala, muitas das coisas que representam um perigo para o ambiente e para a nossa saúde.

13 11) M: Que comportamento simples podemos adotar e que faz a diferença? A: Acho que sermos curiosos e querermo-nos informar é a melhor coisa! Quando estamos prestes a comprar qualquer coisa, temos que pensar por um momento como foi produzida esta coisa, qual é o impacto dela no ambiente e nas comunidades, se precisamos mesmo dela e quais são, se houver, as melhores alternativas. 12) M: Deixa uma mensagem à Melancia e aos seus leitores. A: Se acharem que o mundo precisa de mudança, comecem por as pequenas coisas no vosso dia a dia e acreditem que todas as vossas escolhas fazem a diferença... porque o fazem.

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@umasimagensaoacaso

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Pablo Neruda

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“Mas se amo os teus pés é só porque andaram sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até me encontrarem.”

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bicho mau Se passas por Campo de Ourique, não podes deixar de espreitar o Bicho Mau. Este espaço combina o conhecimento que Rita Gama e Tomás Rocha foram adquirindo pelas cozinhas do mundo. A ementa vai sendo alterada de modo a integrar novidades e oferecer uma maior diversidade. A palavra que poderia resumir este espaço é mesmo “partilhar”, partilhar porque o menu não está dividido entre entradas e prato principal. A ideia é que toda a oferta contemplada no menu possa ser recriada em doses maiores ou menores para que possam ser partilhadas. O que achas do conceito? Nós achamos que a ideia está muito bem conseguida, mas nada como visitar e experimentar.

TOM A RuBRICA POR CRISTINA MARQUES


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mahyni swimwear Quando a paixão pelo mar e pela praia vivem dentro de alguém que também pratica a sustentabilidade, só poderia nascer algo tão criativo e ecológico como a Mahyni Swimwear. Esta marca de fatos de banho não é apenas mais uma, as peças são feitas de redes de pesca, e 75% dos constituintes são recicláveis. Ana Leite Velho é a criadora, e criou-a por sentir falta de peças no mercado que verdadeiramente a apaixonassem. Como não as encontrou decidiu criá-las. Começou por procurar alternativas à lycra, e hoje em dia a marca oferece diversos materiais, modelos e padrões. Se gosta de peças distintas, originais e criativas não podes deixar de conhecer a Mahyni Swimwear.

tinta nos nervos Não, não é só coisa para pintores nervosinhos... Arte, café e livros. Se para ti esta é uma combinação perfeita então tens mesmo de conhecer a “Tinta nos Nervos”, um recanto muito inspirador e suis generis no coração da Madragoa. No leque de livros expostos encontrarás autores como Philipe Guston, Lorenzo Mattotti ou Robert Crumb. Quanto às exposições, há sempre novidades e peças exclusivas, desenhadas unicamente para estarem ali. A agenda também é muito rica, com propostas de diversos workshops. Mas se quiseres apenas tomar um bom café e desfrutar de uns momentos de leitura, a porta estará sempre aberta para te receber. Sabemos (quase de certeza) que vais querer voltar.


AP IDIN H

1 0 4| C A T E G O R I A

MENOS CONVERSA E MAIS ACÇÃO.


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RAFAELA MASCARO 7 QUESTÕES (IM)PERTINENTES

1) Uma Música? I Am Mine - Pearl Jam. 2) Uma frase? Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você. (Jean Paul Sartre) 3) Um sítio? San Diego - Estados Unidos. 4) Um prato? Pizza. 5) Uma asneira? Dormir muito. 6) Uma pessoa? O meu pai e a minha mãe. 7) Um segredo? Não posso contar (risos).


V O Z DO OVO

1 0 6| C A T E G O R I A

The voice of the people is not the sheeple voice


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HÁ UMA LINHA QUE UNE CRÓNICA DE IVAN CASALEIRO Fotografia por: Cátia Barbosa

Mais uma crónica da “Voz do povo”, onde o pensamento é livre e partilhado. Desta vez convidámos D.Fidalgo aka Fidel, uma pessoa inspiradora e cheia de visões para partilhar. É com enorme prazer que vos deixo um excerto do cérebro deste grande artista. Partindo do principio que “distância é a medida da separação de dois pontos e a distância entre dois pontos é medida pelo comprimento do segmento de recta que os liga”, podemos concluir que apesar de distantes, existe uma linha que os une. Estar no ponto B não nos remete então para a ausência do ponto A? Que linha é essa que os liga? Estar distante é estar ausente? Na verdade para nos distanciarmos não temos necessariamente de percorrer um caminho entre 2 pontos. Distanciarmo-nos ou desapegarmo-nos são por exemplo, ferramentas cruciais para um processo criativo. Distanciar permite desafogar e deixar respirar para voltar mais leve e livre. Esta distância não pode ser medida pelo comprimento do segmento de recta que percorremos, não nos distanciamos da obra em metros ou quilómetros. Esta é uma distância abstracta, emocional e cerebral que criamos, sem espaço, tempo ou prazo definidos. Enquanto permanecemos no nosso Universo em constante mutação e crescimento, geramos um Universo paralelo onde a obra permanece intacta até nos aproximarmos de novo. Ela só ganha uma nova forma se nos dispusermos a isso. Somos donos e senhores da palavra, até um dia deixarmos a obra falar por si. Quando existe uma distância concreta entre 2 pontos terrestres existe um Universo em comum. Dois corpos independentes. Duas almas em constante mutação. O mesmo tempo, 2 espaços distintos, explorados de formas e intensidades diferentes. Dois criadores moldados pelo caminho que percorrem no seu processo evolutivo e que originam 2 realidades em paralelo. A distância existe de facto e podemos medila numa grandeza concreta. A ausência física é inevitável. A memória permite uma aproximação, sempre distante. A ausência emocional existe, mas ao mesmo tempo uma ligação profunda. Uma linha. Uma linha espiritual que os une, na esperança de que a obra seja um dia concluída.


ENTREVISTAs DE PESSOAS AO ACASO.

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fernando nuwanda 22 ANOS, fotografia & rh, lisboa

1) Se pudesses mudar uma coisa no mundo, o que mudavas? Acabava com o ódio, inveja e esta falta de empatia que nos rodeia... estamos todos muito virados para o nosso umbigo. 2) És um super-herói. Qual é o teu poder? Teletransporte. 3) Se a tua vida fosse uma música, qual seria? Dela - We Will Be Free. 4) Dão-te a oportunidade de conhecer 3 pessoas. Quem escolhes? José Saramago; Sebastião Salgado (fotógrafo); Valete. 5) Podes ir para qualquer sitio do mundo. Para onde vais? Jamaica. 6) Inventaram a máquina do tempo e viajaste para o futuro. Voltaste a correr para nos contar que… Devemos ser gratos todos os dias. 7) A tua máquina fotográfica só tem um click disponível. O que fotografavas? A minha mãe.


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