MELANCIA mag #4 dezembro

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MELANCIA mag

Cultura Visual & Lifestyle # 4 | Dezembro 2015 | www.facebook.com/melanciamag

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Fred Almeida


MELANCIA cultura visual e livestyle mag #4 /dezembro 2015

idealizadoras Juliana Lima & Mafalda Jesus sp e

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Danny Zappa | fotógrafo Mariana, a Miserável | ilustradora Márcia Nazareth | designer de moda OKER | ilustrador e graffiter Nouvelle Rita | tatuadora Tânia CatClaw | tatuadora Ana Morais | fotógrafa e escritora João Saramago | ilustrador Magali Viajante Cátia Fialho Yasmine Santana Família | Amigos

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Capa e Contra Capa by OKER

e-mail: melanciamag@gmail.com | facebook/melanciamag | instagram: @melanciamag


estamos DE VOLTA :) Com o frio, os agasalhos e as épocas festivas, cheias de brilho, cor, ruas iluminadas, pinheiros enfeitados e um espírito bem característico da quadra natalícia, chega Dezembro e uma prenda antecipada: mais uma edição da MELANCIAmag! Passaram quatro meses desde o início desta aventura e, já que é altura de festejar, queremos partilhar contigo a alegria que cresce connosco, de mês para mês, à medida que vamos dando vida e “corpo” ao que idealizámos com tanto carinho. Um projeto tão delicioso quanto o nome, que nos alimenta a todos os níveis e nos faz crescer em aspetos essenciais. No decorrer deste percurso, temos conhecido pessoas espetaculares, falado com artistas de quem somos fãs, realizado muitos sonhos, mas o mais importante é o facto de termos um ótimo feedback e cada vez mais leitores interessados em participar na nossa revista! O-B-R-I-G-A-D-A, a cada um de vocês, por acreditarem em nós e nos motivarem a continuar, obrigada por partilharem ideias e darem sugestões, porque, ao fim ao cabo, a MELANCIAmag serve para isso mesmo, dar a conhecer o que a vida tem de melhor. E já agora, FELIZ NATAL! Contamos contigo em 2016. Confere o conteúdo da MELANCIA mag #4, Feito especialmente para saborear e inspirar.




Fotografias da primeira intervenção do Mural do Chiado, instalação feita de fitas.



índice

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OKER

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ANITA DOS SETE OFICIOS

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NOUVELLE RITA NAZARETH

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DANNY ZAPPA

MARIANA, A MISERÁVEL

MADEMOISELLE MAURICE

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RECEITA DE MELANCIA

88 TOMA NOTA

JOAO SARAMAGO

ESTILO QUE ANDA POR AÍ

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#melanciamag

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MAKEUP

AGENDA



Fotografia

Entrevista por: Juliana Lima Fotografias por: Danny Zappa

Danny Zappa é sueco, nascido em Estocolmo, mas com raízes portuguesas. Hoje vive no Brasil, em São Paulo, porém, sempre demostrou muito carinho pelas suas origens, seja nas conversas ou com o seu olhar e as suas fotografias. Atualmente encanta e inspira diariamente mais de 270k seguidores no seu perfil de Instagram. Fomos saber mais sobre este artista que com todo o seu sucesso assumiu-se como mobile photographer e, atualmente, faz disso a sua profissão.

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Será que toda gente é como nós, que sempre quer saber mais sobre quem está por de trás das câmeras? Descubram connosco quem é o Danny Zappa e inspirem-se!

1) MELANCIA: Antes de falarmos dos teus clicks. Qual é a tua formação e o que te motivou trabalhar com a criatividade? DANNY ZAPPA: Desde pequeno, sempre fui muito ligado às Artes como um todo. Na época da escola, eu gostava mais das matérias que exigiam a minha criatividade, desde aulas de artes, marcenaria, costura, aulas desenho e fotografia. Acabei optando por estudar Design Industrial com Habilitação em Design de Produto e depois outro curso complementar de Design Gráfico, pois via neste mercado uma área em que eu conseguia mesclar o meu interesse pessoal com trabalho. 2) M: Sabemos que trabalhaste anos e anos em grandes empresas como designer, a criar e construir identidade de marcas de grande visibilidade. Conta-nos um pouco sobre este seu percurso profissional. D: Durante quase 10 anos, eu trabalhei na área como designer gráfico e digital no mercado de agências de publicidade, escritórios de design e consultorias de marca. Tive a experiência de aprender na prática com muita gente competente do mercado no dia-a-dia, em todos os lugares por onde passei. Trabalhei uma boa parte com grandes marcas, criando identidades visuais e soluções digitais como aplicativos, sites, sistemas de pagamento, etc. Com certeza foi uma época de muito aprendizado que ainda consigo aplicar em tudo que faço hoje em dia.

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3) M: E a fotografia? Como esta arte surgiu na tua vida? Conta lá! Queremos saber mesmo o princípio de tudo! D: A fotografia sempre esteve presente na minha vida. Quando pequeno, meu pai tinha uma câmera-escura (darkroom) improvisada na casa de banho, onde revelava os filmes e as fotos a preto e branco manualmente e pendurava-as no estendal para secarem. Na minha adolescência, as primeiras câmaras digitais surgiram e tive acesso a elas em casa. Foi aí que comecei a treinar o meu olhar para a fotografia. A parte técnica aprendi nas aulas de fotografia na escola e práticas de estúdio e iluminação na faculdade. A evolução disso para fotografia mobile veio naturalmente. 4) M: Consegues fazer uma intersecção entre o teu percurso como graphic designer e ser fotógrafo? D: O design gráfico trouxe a sensibilidade estética e o direcionamento artístico às minhas fotos. As imagens que publico nas redes sociais são bastante gráficas e milimetricamente pensadas. Uns dizem que é assinatura, outros dizem que é T.O.C. :P [transtorno obsessivo-compulsivo] Ter trabalhado como designer foi fundamental para a minha escolha na mudança de profissão, para fotografia. Aprendi a acostumar-me a olhar, a ver o mundo com uma estética gráfica e traduzo isso diretamente para as minha imagens.

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5) M: O teu perfil de Instagram é uma verdadeira galeria de arte. Ainda te lembras de como descobriste esta rede social? D: Muito obrigado pelos elogios! :D Lembro me muito bem do começo de tudo! Lá pelos meados de 2009/2010, eu participava de um grupo de fotografia em que a cada fim de semana fazíamos um encontro fotográfico para explorar algum lugar novo dentro da cidade. Fotografávamos com câmaras analógicas e revelávamos os filmes e postávamos as fotos no Flickr, “A” rede social para fotografia do momento. Na mesma 12 MELANCIA

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época, o iPhone estava a começar a surgir com aplicações boas e câmaras com qualidade interessantes. A app do Flickr já não era rápida o suficiente para visualizar e interagir com as fotos dos amigos. Em outubro de 2010, o Instagram lançou a sua aplicação e, por coincidência, fiz o download no primeiro dia. Gostei dela desde o princípio porque o propósito da aplicação era diferente dos outros e extremamente rápido. Rapidamente se tornou a app número 1 para compartilhar fotografias. Na época do lançamento só era possível fotografar com a câmara do iPhone. Tomei isso como uma meta e comecei a fotografar exclusivamente com o iPhone para os meus posts do Instagram. Com a facilidade de compartilhar as imagens com qualquer pessoa do mundo, aos poucos fui ganhando visibilidade dentro da rede social. Devido aos destaques que as imagens estavam a ter, naturalmente, fui descoberto pelos olheiros do próprio Instagram e convidaramme para entrar na lista seleta de usuário sugeridos.

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6) M: És conhecido mundialmente, e o teu trabalho tem ganho cada vez mais proporção. Já realizaste projetos e parcerias com grandes marcas, ganhaste concursos, realizaste exposições. Quando começaste, imaginaste que irias tão longe? Como te sentes em relação a tudo isto? D: Comecei a fotografar por brincadeira, mostrando o meu ponto de vista sobre os lugares por onde passo. Eu não imaginava que a brincadeira e hobby fossem tão longe ao ponto de todas estas conquistas. Sinto-me feliz por saber que algo que eu faço com prazer, que considerava como um hobby, conseguiu trazer-me tantas conquistas e boas parcerias. Tudo isto foi acontecendo de forma muito natural, acredito que isso seja o resultado de quando fazemos aquilo de que gostamos. 7) M: E hoje, sentes-te realizado com as tuas conquistas? D: Sinto-me feliz pelo sucedido e acredito estar no caminho certo. 8) M: Quais os principais factores que te fizeram assumir como mobile photographer e dedicares-te a isto como a tua profissão oficial? D: Além de mobile photographer, eu vejo muito potencial na área de criação de brand content com conteúdo original e com linguagem própria para as redes sociais. Aos poucos, vou ganhando visibilidade no meu ramo. Com a experiência que tenho da profissão como designer, trabalhando com

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1. “existe verde em SP #padrõesdesãopaulo” 2. “Apresento à vocês Kevin, Stuart e Bob do filme Minions. Fiquem ligados nesta aventura amarela! #MinionsTicTacChallenge” 3. “stripes // stripes” 4. “Daily Essentials Organized Neatly.” 5. “stripes, rain & her” 6. “Camel back riding with @marwanpresenter in the desert at the @babalshamshotel on #MyDubaiTrip together with @peetaplanet :) What a great feeling it is to make new friends from all around the world! Cheers @wildpeeta & @gourmetshawarma (and the rest of the wonderful crew) for all of this! These days spent in Dubai and the desert couldn’t have gone better! I really appreciate the thought a time you guys took into this to make it a truly unique experience!” 7. “new underwater profile selfie”

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comunicação e identidade de consistência para grandes marcas, tenho facilidade de ver os possíveis estilos fotográficos e campanhas que as marcas poderão usar nas redes sociais para fidelizar a sua audiência.

imagem a uma marca. Primeiro, procuro entender os propósitos da campanha, como será executada e com quem ela fala. Então analiso se isto condiz com a minha imagem e com o que a minha audiência está disposta a ver e a interagir.

9) M: Acompanhamos o teu trabalho há uns anos. De início não havia presença das pessoas. Entretanto, começaste a fotografar com esta intervenção. Conta-nos o que te fez incluir o fator humano nas tuas fotografias. D: Introduzir o fator humano no meu estilo fotográfico é algo relativamente novo para mim. Acredito que incluir uma pessoa em cena, interagindo de alguma forma com o local, é um recurso usado para ajudar a contar uma história sem o uso de palavras. As vezes ajuda na composição e também a trazer um senso de proporção à imagem.

13) M: E, destes projetos de brand content que já fizeste, qual foi o que mais gostaste? D: Fiz um trabalho de brand content recentemente com a VisitBritain que foi bastante interessante. Montámos uma viagem feita à medida para mim com duração de 12 dias, em que viajei por quatro cidades ainda pouco exploradas pelos viajantes, fotografando os seus encantos com o meu olhar, para promover a Grã-Bretanha como destino turístico. As imagens fazem parte de uma campanha mundial e serão lançadas no início de 2016.

10) M: Sei que, na tua galeria do Instagram, apresentas patterns, faces, on two wheels, windows, colors, entre outras. Como escolhes estes temas? A: Os temas vêm naturalmente a mim como interesses pessoais. Fotografo o que eu acho bonito e interessante e, por repetição, acabam por tornar-se temas definidos.

14) M: Qual o teu maior sonho? D: Viajar o mundo todo com a Carolina [namorada], explorando cantos desconhecidos.

11) M: E, como descreverias, de forma breve, o teu estilo de fotografar? D: Penso que é minimalista. Tento sempre fazer um enquadramento “justo” para cada fotografia - isso quer dizer que elimino intervenções que poderiam distrair na foto, envolvendo o espectador na imagem. 12) M: Deves ser abordado por várias marcas a quererem fazer parcerias, mas pareces ser criterioso nas escolhas que fazes nesse sentido. Fala-nos sobre isto. D: Sou muito criterioso quando se fala em associar a minha

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15) M: A tua última visita a Portugal, com a a tua namorada @carolinasacco, resultou em alguns projectos em conjunto e parcerias, além de lindas fotografias em Lisboa e Porto que embelezam a tua galeria PLACES. Fala-nos desta experiência. D: A nossa ida a Portugal foi uma viagem que nos rendeu muita história para contar e parcerias interessantes. Para começar, elaboramos e montamos uma exposição fotográfica com imagens que havíamos clicados (exclusivamente com iPhone) durante a nossa estada em Portugal. A vernissage da exposição foi um sucesso com casa cheia e muitos quadros vendidos. Realizamos uma parceria com a Schizzibooks, empresa de cadernos hand-made, onde co-criamos uma linha de cadernos com quatro tamanhos com tiragem limitada. Cada sketch-book recebeu um padrão de azulejo português diferente.

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Por fim assinamos a linha Limited Edition 2014 com a NEVOA design, uma empresa portuguesa de design de objetos domésticos feito em madeira e serigrafia. Nesta parceria exclusiva foram criados objetos de decoração de interiores, como bandejas, caixas, luminárias, para-livros entre outros. As peças limitadas ficaram à venda na loja do Museu do Serralves. 16) M: Queremos saber se há alguma próxima visita planeada para Portugal? E, para qualquer outro lugar do mundo? D: Ainda não, mas tenho muita vontade de explorar a Croácia e as belezas naturais escondidas pelo país. Quem sabe uma próxima viagem não será por lá... 18) M: Para fechar, deixa cá um recadinho t para a MELANCIA mag, para os admiradores do teu trabalho e para os nossos leitores :) D: Acredito que quando fazemos algo com prazer e damos o nosso melhor, o sucesso vem atrás. Então o meu recado é: Sejam vocês mesmos, sigam as vossas intuições e deixem-se ser levados pelo vosso dom. Façam aquilo que vos deixar felizes e dêem todas as vossas energias por isso, que o sucesso vai acompanhar-vos.

8. “Ocean sunset in Krabi with my love. Krabi, Thailand. #HNKexplorer #thedreamisland #thedreamisland” 9. “Olhar Dele & Olhar Dela - Cores e Padrões de Portugal”. 10. “Desfile do @fragaronaldo no SPFW #InstaMeetSPFW14 #InstaSPFW” 11. “Daily companion” 12. “Porto at Ponte Don Luis I” 13. “Silenciosamente passando e batendo as suas asas. London, England #BigBen #LoveGreatBritainat.” 14. “tweet, tweet, tweet.” 15. “Go!” 16. “Why so serious, Mr. Owl? at Parque Ecológico Cândido Portinari - SP/Brasil.” 17. “Novos membros da família.” 18. São Paulo, 18:45 at. Parque do Ibirapuera. 19. Rock in Rio 2015. 20. “I’m very proud to announce that one of my pictures got selected by Apple to be part of the World Gallery #shotoniphone6 campaign. The picture got featured in back covers of different architecture magazines from around the world.”

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Auto-Retrato, Mariana a Miserรกvel


Ilustração

Entrevista por: Mafalda Jesus Ilustrações por: Mariana Santos

Mariana Ramos dos Santos, mais conhecida como “Mariana, a miserável”, nasceu em 1986 em Leiria. Quando era pequena, sonhava ser florista mas acabou por se render ao design gráfico, onde desenvolveu uma grande paixão, a ilustração. Conta já com várias exposições individuais e coletivas, onde nos apresenta ilustrações originais, com as quais qualquer pessoa se identifica, devido à proximidade dos temas. O seu traço é inconfundível, destacando-se pelos traços rudes e pelos corpos desproporcionais. Entrega-te ao mundo da Mariana, um mundo repleto de desenhos e frases que celebram a ironia da vida e nos fazem rir do azar e das expectativas frustradas.

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1) MELANCIA: Quem é a Mariana, a Miserável e o que a difere da Mariana Ramos dos Santos? MARIANA: É só uma desculpa para poder chorar em público. 2) M: Qual é o teu lema de vida? M: Nunca pensei nisso. A minha avó Mila, rainha dos provérbios e das palavras bonitas para escrever em forma de dedicatórias nos livros, costuma dizer “Amanhã é outro dia” e eu acho que é uma frase muito reconfortante porque amanhã há sempre oportunidade de recomeçar. 3) M: Tudo começou com um blog, fala-nos desse projeto. M: Fazer desenhos não começou com o blog, foi exactamente o oposto. O blog nasceu da necessidade que tinha de partilhar os meus desenhos com as 10 pessoas que o visitavam, na altura não sabia fazer sites e não existia o facebook em Portugal. 4) M: Como chegaste à ilustração? Que fatores te encaminharam para o mundo das artes? M: Acho que foi involuntário, por obra do demo, mas se houver um momento que possa assinalar foi um dia em que o meu pai me levou a Lisboa para ver uma exposição colectiva de Ilustração Portuguesa, em 2002, com ilustradores que via no jornal Público que ele comprava na altura e que ainda hoje são grandes referências para mim. 5) M: Tens uma forma muito própria de desenhar. Como descreverias o teu trabalho? M: Despreocupado e miseravelmente feliz. 6) M: O amor é um tema frequente no teu trabalho, assim como a representação de lágrimas. Fala-nos sobre isso e de que forma essas emoções se interligam. M: Vou citar a Adília Lopes: “Gosto das cebolas e das pessoas. Mas as pessoas são como as cebolas fazem chorar.”

7) M: Que projeto te deu mais prazer desenvolver? Porquê? M: Eu não consigo escolher um favorito mas tenho um muito especial, a Lonely Hearts, a minha exposição com o Júlio Dolbeth na Mundano aqui no Porto. As exposições dão sempre gozo fazer, porque há uma liberdade total, quer na escolha do tema, quer na quantidade das peças, quer nas técnicas, nos tamanhos, no ambiente, na música e no modo de divulgação. Para desenvolver a Lonely Hearts foi feito todo um trabalho de investigação como solitários infiltrados no tinder, em eventos de speed dating, no mundo das tristezas do coração onde se pode comer gelado da directamente da embalagem com colheres de sopa. Fizemos também um teaser lindíssimo com o meu amigo talentoso Fred Gomes( https://vimeo.com/140729481) . É a segunda exposição que faço em conjunto com o Júlio e desta vez estamos mais sábios e mais crescidos. 8) M: Conta-nos como funciona um dia de trabalho da Mariana. É previamente organizado ou acontece por instinto? M: Por muito que tente, ainda não consegui instituir uma rotina, tendo em conta que o meu trabalho não é sempre o mesmo. Numa semana faço um desenho A5 sentada à minha secretária e na semana seguinte posso estar a pintar um prédio ou a pesquisar referências fora de casa para outra coisa totalmente diferente. Mas tento acordar cedo, começar pelas coisas mais simples como resolver lides domésticas, responder a emails, beber café e comer, para depois com mais calma me sentar a desenhar enquanto oiço tv ou rádio. Às vezes preciso de estar enclausurada para ter ideias e trabalhar, outras vezes sintome melhor se for trabalhar para um café. Às vezes estou mais produtiva de manhã, outras vezes prefiro desenhar pela noite fora. É muito inconstante mas é bom porque tenho liberdade para trabalhar onde e a que horas me apetecer.

1, 2, 3, 4, 5, 6. Exposição “Lonely Hearts” 7. “Twinkle, twinkle, little star“ 8. Trabalho encomendado 9. Mural Walk&Talk 10. Exposição “Eu tenho dois amores” 11. Inocent 12, 13, 14. Ilustrações para a Ó! Galeria 5

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9) M: Em todas as áreas criativas é preciso uma constante busca. Quais são as tuas referências / inspirações? M: Durante estes 6 anos fui armazenando no facebook muitas pessoas e páginas ligadas às artes visuais que lá partilham o seu trabalho, tenho amigos que me aconselham muito sabiamente filmes e séries para consumir, sigo gente incrível no pinterest e vivo numa cidade extremamente estimulante. 10) M: Que projetos vêm aí? M: Até ao final do ano: um cartaz para um acontecimento fixe em breve no pavilhão do conhecimento, um desenho para um novo mapa da cidade do Porto, o meu terceiro Little Miserable Book, um workshop na Experimenta Design, um workshop na We Came From Space, a exposição colectiva de natal na ó! Galeria e talvez uma primeira experiência com cerâmica. 11) M: Qual é o teu maior sonho? M: Ter conforto suficiente para desenhar sem ter de pensar em pagar contas e claro, deixar um contributo importante na minha área.

“É muito inconstante mas é bom porque tenho liberdade para trabalhar onde e a que horas me apetecer.”

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12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e aos seus leitores : ) M: À MELANCIA mag: Continuem o vosso excelente trabalho e obrigada por este convite. Aos leitores: Se tiveres interesse, visita o meu site: www. marianaamiseravel.com, se fores milionário opta por este link www.marianaamiseravel.com/shop, se preferires desabafar podes escrever para o hello@marianaamiseravel.com.

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Fotografia por: Jorge Tavares 18 MELANCIA


Moda e Fotografia

Entrevista por: Juliana Lima Imagens: Divulgação

Quando algo assim acontece, percebemos que, aos poucos, vamos alcançando os nossos objetivos. Estamos em constante atualização, sempre em busca de novidades e projetos que enchem os olhos, mas é delicioso quando eles chegam até nós por si só. Foi assim com a nazareth collection. Recebemos um email com a apresentação deste projeto genuíno e belo, de moda e fotografia, contemporâneo e de autor, que correspondia a tudo aquilo em que acreditamos! E por tudo isso, e com muito gosto fomos entrevistar a Márcia, a criadora desta marca que nos fez brilhar os olhos.

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Ter um sonho e ter a coragem de o realizar. Márcia Nazareth teve tudo isso. A criadora da nazareth collection, uma marca que une moda e fotografia, deu-nos esta entrevista exclusiva e contou-nos como decidiu começar a estampar o seu belo olhar em peças de roupa. Conheçam o seu percurso, a sua força de vontade e o seu olhar contemporâneo sobre o mundo. 1) MELANCIA: Sabemos que a Márcia estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, tendo seguido depois a carreira de Designer de Comunicação. Entretanto, 10 anos depois, deixou a diretoria da sua agência para lançar a própria marca de moda. Conte-nos um pouco sobre este seu percurso e como foi tomar esta decisão. MARCIA: Terminando o curso de design de comunicação na FBAUP, trabalhei em algumas agências de design e comunicação. Alguns anos depois percebi que evoluiria mais como pessoa e profissional estando à frente do meu próprio negócio e em 2003 abri a minha agência de comunicação. 10 anos passados, já casada e duas filhas depois, aproveitei a má conjuntura económica e decidi não adiar mais o sonho que tinha: aliar a fotografia à moda. 2) M: Como surgiu o seu gosto por moda? M: O gosto pela moda não surgiu do nada; sempre existiu. Tive a sorte de ter duas avós ligadas à roupa e à moda. A avó Luz trabalhou com saias plissadas e a avó Aurora era mestre de guarda-roupa no teatro experimental do Porto. Cresci portanto no meio de figurinos, roupas do sec. XVII e com o cheiro do rolo de tafetá. A fotografia sempre me apaixonou, principalmente pelo professor que tive nas Belas Artes. E a moda também. Combinar os dois foi mais que um desejo ou uma vontade, foi um desafio

3) M: E a nazareth collection? Explique-nos de forma breve este conceito único da marca, que une moda e fotografia, e o porquê do nome. M: Vestir fotografias é a minha proposta, é a proposta da nazareth collection. Uma marca que apresenta coleções temáticas enquanto objetos de arte e design que dizem muito de quem as veste. A impressão têxtil de fotografias temáticas permitiu a criação de uma linguagem própria, altamente visual e cultural no mundo da moda, aplicando padrões fotográficos em têxteis de alta qualidade e com fittings certos. Cosi a minha visão fotográfica com a talentosa equipa de produção, que só após vários estudos técnicos preliminares, provou ser possível a ideia da marca: aplicar fotografias únicas a 100% de cada peça de roupa. O nome Nazareth é o meu nome de família e utilizo-o como marca porque encaro-o como uma forma de responsabilização pelo trabalho que desenvolvo. Collection porque todas as propostas da marca são apresentadas como coleções dedicadas a um tema, como o Porto, o Fado, Lisboa, Green e a recente Air Collection. Apenas seleciono temas que me interessem explorar, seja pela sua variedade ou originalidade fotográfica. Todas as fotografias são originais, captadas por mim, e depois selecionadas de acordo com as que melhor funcionam nos enquadramentos pretendidos para cada peça. 4) M: Desde quando existe a nazareth collection? Gostaríamos de saber como surgiu a ideia e quanto tempo demorou para se concretizar o projecto? M: A nazareth collection existe desde meados de 2013. A Ideia sempre foi amadurecendo comigo. No início não sabia que a tinha, mas explorei-a vezes sem conta, como por exemplo, fazendo várias aplicações de padrões originais em diferentes peças de mobiliário. Continuei a explorar a ideia até dar por

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mim a aplicar fotografias em peças de roupa. Mas demorou um ano a desenhar e a aprimorar apenas a ideia. Depois foi outro ano a encontrar o fornecedor certo, a matéria prima ideal para combinar a visibilidade fotográfica com o conforto que uma peça de roupa tem de ter.

“VESTIR FOTOGRAFIAS É A MINHA PROPOSTA. É A PROPOSTA DA NAZARETH COLLECION. UMA MARCA QUE APRESENTA COLEÇÕES TEMÁTICAS ENQUANTO OBJETIVOS DE ARTEE DESIGN que dizem muito de quem as veste”

5) M: Quem considera o público-alvo dos produtos nazareth? M: Costumo dizer que o público-alvo da nazareth collection são pessoas bem resolvidas consigo mesmas, com orgulho de quem são e que, por isso, apreciam serem o zoom. Numa linguagem de marketing, este está definido dos 16 aos 46, urbano de ambos os sexos, com gosto pela arte, cultura e design de autor. Mas claro, existem sempre extensões a este foco, como as crianças, com as propostas kids da Green Collection, ou algumas avós como a Iris Apfel, uma senhora amorosa, cheia de estilo e já com 90 anos... Adorava vê-la vestida com nazareth collection! 6) M: Como e onde faz toda a criação, confeção e produção das peças da nazareth collection? M: Esse foi o caminho mais difícil. Mas felizmente sou uma portuguesa a viver no Porto, onde existe uma grande tradição e conhecimento têxteis. É com bastante dificuldade que tenho encontrado os fornecedores que pretendo para a nazareth collection, que respeitem os critérios de qualidade, acabamento, prazos de entrega... entre tantos outros, claro. 7) M: Gostaríamos de saber como idealiza as peças? Desenha os modelos? M: A nazareth collection está realmente muito centrada em mim, do início ao fim de cada proposta. Sou eu que escolho os temas de cada coleção, quem fotografa e seleciona os best of. Ocupo-me também do desenho de moda e de todo o processo

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de produção. É extenuante, mas por enquanto é só assim que consigo levar ao mercado, que felizmente está a crescer, as propostas como as quero. 8) M: Pensa a peça mediante as imagens ou as imagens adaptam-se aos modelos depois? Fale-nos um pouco sobre o processo criativo. M: Acima de tudo adoro perder-me a fotografar. E à medida que me divirto com esse prazer, de registar determinado tema conforme o vejo, natural e intuitivamente, o molde respetivo vai aparecendo. Quase que é a foto a pedir a peça de roupa... Durante esse processo começo a imaginar que parte da fotografia ficará na frente ou nas costas. Mas às vezes acontece o inverso... O meu processo criativo começa com a definição de um tema. No fundo, inspiro-me no mundo. Sou uma pessoa que olha e absorve muito do que me rodeia, como viagens, blogues, conversas, pessoas. A Nazareth Collection resulta por ser uma conjugação de todas estas coisas. Em seguida vem o demorado trabalho de seleção e de enquadramentos. E daí em diante é uma exploração contínua e cada vez mais técnica de cada produto final. 9) M: Como escolhe os temas das coleções? E quantas coleções são planeadas / lançadas por ano? M: Ás vezes sou eu a escolher os temas, outras, é o tema que me escolhe a mim. Basta sentir o «click». Faço duas coleções por ano, lançadas em Fevereiro e Setembro. 10) M: Das 6 coleções já lançadas, qual foi a sua preferida e a que teve mais satisfação em criar? Conte-nos o porquê. M: É difícil dizer de que filho mais gostamos, mas tentando não fugir à pergunta, diria que a coleção que mais me satisfez criar foi a última: a air collection! Acho que sempre quis fazer algo do género e como diz Almodóvar: “somos mais autênticas quanto mais próximas estamos com o sonho que temos de nós mesmas.” 11) M: Para além do site, onde podemos encontrar os produtos nazareth? M: Felizmente os pontos de venda da nazareth collection estão a crescer de forma contínua, embora exista sempre a necessidade de escolher os locais certos para encontrar o público da marca. No Porto: Loja do Museu de Serralves, Lojas nos Barcos Douro Azul, Casa da Musica, Workshops Pop Up. Em Lisboa: Loja Portfólio no Aeroporto de Lisboa, Loja do Museu do Fado, Apaixonarte – S. Bento, Voo da Andorinha – Alfama. Online: portugalinbox.com, lusamater.pt, ilovetextile. com, smallisamazing.com, minty.pt. 12) M: Gostaríamos de perceber as suas inspirações e influências criativas. Indique-nos projetos, artistas, fotógrafos, estilistas, ou outros que são, de alguma forma, referências para o seu trabalho. M: Fotógrafos: Miles Aldridge, Annie Leibovitz, Sebastião Salgado. Estilistas: Katy Xiomara e Mary Katrantzou. Artistas: tantos... Mas o último que perdemos: Paulo Cunha e Silva. 13) M: Como se sente com a sua marca? Conte-nos quais foram as principais mudanças na sua vida depois de lançar a nazareth. M: Acima de tudo, sinto-me realizada. Não só pela sensação de estar bem, ao fazer propostas que estão a ser bem recebidas pelo público e que eram o interesse de várias pessoas, como da MELANCIA mag, mas também porque me sinto a crescer com a marca. Estou a amadurecer e a aperfeiçoar cada vez mais, tanto a nível profissional, como pessoal. Mas sei que tenho um longo

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caminho pela frente. Quanto a mudanças, bem... são imensas. Desde logo, o tempo. Tenho muito menos tempo disponível porque decidi estar mais disponível para a marca, mas como esta é uma extensão pessoal, no fundo estou também mais disponível para mim. Por outro lado, sinto que os meus dias são mais diversificados, ocupando-os com várias coisas que me interessam. Principalmente, com o meu nome no mercado, sinto maior responsabilidade e consciência em tudo o que faço. 14) M: Quais foram os principais desafios que enfrentou ao criar e fazer a gestão de uma marca de moda. . M: Os desafios foram principalmente interiores. De superação, de persistência, de acreditar em mim. Tem sido um crescimento incrível, que continua a existir e quero muito que continue, porque evoluímos muito a gerir todos os nãos e todas as barreiras. A gestão de uma marca, neste caso de moda, tem desafios muito concretos, diferentes e crescentes da fase de nascimento e durante as várias etapas do crescimento. Da identidade à comunicação, da correspondente personalidade da marca no produto proposto e serviço que o acompanha, na seleção e procura dos pontos de venda. Todos são pontos de contacto determinantes para os objetivos a atingir, e que por isso merecem uma atenta gestão de marca. 15) M: Ficamos muito lisonjeadas com o contacto e interesse em rechear a nossa revista com o seu trabalho :) Agora é a sua vez de deixar cá um recadinho para a MELANCIA mag e aos nossos leitores. M: Antes de mais, é para mim um privilégio estar na MELANCIA. Desde logo, pelo elevado nível de design editorial da revista, porque só assim é possível oferecer, com tanta elegância e noção contemporânea, os vários conteúdos de referência escolhidos. A fotografia, a ilustração ou o lifestyle de pessoas que valem a pena conhecer, todos juntos mostram como a liberdade no trabalho que desempenhamos é essencial para resultados genuínos. A MELANCIA é fresca e rejuvenesce a cada número. Quem gosta de estar por dentro das boas histórias de vida que existem por aí, lê a MELANCIA. Come-se com os olhos!!

Todas as fotografias que ilustram a entrevista são da nova coleção da marca: air collection

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Auto-Retrato, Mรกrio Fonseca


Ilustração e Street Art

Entrevista por: Mafalda Jesus Trabalhos e ilustrações por: Mário Fonseca

“Um puto de 30 anos que nasceu na cidade da Maia”, assim se descreve Mário Fonseca, mais conhecido como OKER. Licenciado em Artes Digitais e Multimédia, este artista português, desenvolve trabalhos no âmbito da ilustração, graffiti e street art. Neste entrevista, fala-nos do seu percurso no mundo das artes e conta-nos a influência que a música teve no seu trabalho. Fica a conhecer este artista ousado, com um estilo muito próprio e com um porfólio recheado de vida e cor.

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1) MELANCIA: Quem é o Mário Fonseca? OKER: Um puto de 30 anos que nasceu na cidade da Maia, desenvolve trabalhos de ilustração, graffiti e street art , no mundo dele as pessoas chamam-lhe Oker. 2) M: Porquê o nome “Oker”? O: Ao longo da minha caminhada no graffiti, fui tendo sempre imensos tags, era muito indeciso e mudava quase de semana em semana. Passado uns tempos fartei-me de estar constantemente a mudar e queria manter um que não tivesse significado e que fosse para sempre, então juntei as letras que mais gostava e surgiu o nome Oker. 3) M: Como começou esta aventura no mundo do graffiti? O: Tudo começou por volta de 1998, no Bairro do Sobreiro da Maia, com um abecedário de tags, juntamente com um amigo. Passado uns tempos, o “bixinho” de tentar saber mais sobre graffiti começava “a comer parte do meu cérebro” e desta maneira ficava de olhos vidrados com as pinturas da rua. Entretanto, conheci pessoal da cultura Hip Hop e passado uns tempos formava a minha 1ª crew CAM (Criminal Art Makers) com um grande artista chamado Óscar Maia, que nos dias de hoje é um excelente designer gráfico. 4) M: E a ligação a outras áreas? O: Daí para a frente foi uma altura com grandes influências porque estava ligado à cultura Hip Hop, em que surgiu o grupo NM (Novo manifesto). Também estava ligado ao skate e foi mais ou menos nesta altura que surgiu o gosto pelos 28 MELANCIA

stickers, ilustrações e posters... Além disto era grande fanático de desenhos animados, como “Ren & Stimpy”, “He-Man”, “Tartarugas Ninja”, “Rugrats”, “Thundercats”, “Moto-Ratos” e muitos outros. O meu fanatismo pela “bonecada” vem muito daí, de mundos de criaturas irreais, a identidade de cada personagem e os estilos de desenho. Tudo isto ia-se acumulando do meu lado da fantasia e dos sonhos. 5) M: Como surge o gosto pelo desenho? O: Em 2004 entrei para a crew CMK (Crime Make Kings) onde vivi grandes experiências, comecei a pintar com mais regularidade e aqui nasce a vontade de querer fazer mais produções e o verdadeiro gosto pelo desenho. Também comecei a fazer alguns posters e stickers, foi uma fase em que introduzi outras técnicas para além do spray, como marcadores, pincel e tintas plásticas. 6) M: Tiraste um curso superior. De que forma isso te influenciou? O: Licenciei-me em Artes Digitais e Multimédia, e com a minha passagem na ESAD (Escola Superior de Artes e Design), em Matosinhos, trago na mochila muita educação visual, técnicas de produção, o conceito e idealização de ideias. Uma fase de melhoramento do meu trabalho, levou-me para o lado “mais profissional”, ou seja, tentar dar qualidade ao que fazia. Daí o meu vício de fazer pesquisas de writers, pintores, ilustradores, designers gráficos e outras linguagens visuais, tudo isto através da experiência na ESAD, a pesquisa é muito importante e serve para dar continuidade ao estudo visual.


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7) M: Participaste no “Redbull Street Galery”. Como foi essa experiência? O: 2008 foi a data que mudou o meu percurso, recebo uma chamada do Bruno Santinho (conhecido por Quillograma) para participar na 2ª edição da “Redbull Street Galery”, em Lisboa, fiquei “MEGA” surpreendido porque o meu contacto com pessoal fora do Porto era muito pouco. Convite aceite e resultou numa “lavagem cerebral”. Estava rodeado de bons writers, ilustradores e designers com trabalhos de uma diversidade incrível, e ver o meu trabalho integrado naquele meio foi memorável e muito confortante. Neste evento surge uma grande amizade, Nuno Barbedo (Vulto aka Caver), grande writer e ilustrador, mostrou-me como é o graffiti em Lisboa. Só conseguia pensar: “este pessoal dá-lhe muito!”. Desenhavam constantemente, faziam grandes produções e a qualidade nem se fala. Confesso que quando vou a Lisboa venho em modo “Speedy Gonzalez”. 8) M: Entretanto, recebeste mais convites? O: Sim. Uns tempos depois, além de fazer parte da crew Bymalodja com Mr.Dheo, surge também o convite para o Colectivo CNJS (Cabidela Ninjas), juntando-me a grandes artistas como Tosco, Ugandalebre e Fossil. Um estilo sombrio com criaturas horrendas, explorando na maioria das vezes preto e branco, estilos semelhantes, expressividade e toque satânico nas criações.Daqui para a frente foram surgindo convites para eventos como “Secret Wars”, “Walk&Talk Azores”, “VSP” (Visual Street Performance), “Underdogs”, “Putrica”, “Street Art Axa – Porto”, etc, assim como trabalhos para algumas marcas, Vandoma design, Redbull, LSH, RTP, Jameson Portugal, etc.

9) M: E actualmente? O: Neste momento ando bem acompanhado com o meu novo coletivo, os RUA, com os artistas Alma, Draw e Fedor, tem sido um prazer fazer parte de um colectivo com grandes capacidades distintas e, além disso, um grande grupo de amigos, diria até Família. Desde o evento realizado pela Circus em Guimarães e Putrica em Freamunde, que produzimos juntos, convivemos diariamente. Somos unidos pelo que nos une, RUA! 10) M: Tens um estilo muito próprio. Qual foi o segredo para construir uma identidade tão forte? O: Não tenho nenhum segredo, sempre pesquisei muito e tento absorver muita cultura visual, sou um observador nato, dou por mim muitas vezes a olhar para coisas que para muita gente são insignificantes. Neste momento, posso ter um estilo definido, mas se formos a ver as minhas produções há, por exemplo, três anos, acho que não têm muito a ver com o que faço agora, gosto de ir evoluindo com o tempo, não gosto de ficar “confortável” num só estilo, gosto de explorar... Até porque me canso de fazer sempre a mesma coisa. E essa é a luta, não pela perfeição, mas sim pela evolução. 11) M: Conta-nos como funciona o teu processo criativo na construção de um graffiti. O: Como referi, tudo passa pela pesquisa. Antes de fazer algo gosto sempre de ver formas, cores, texturas, etc. Depois “colo-me” a desenhar e, primeiro que surja algo que me agrade, demora o seu tempo. Risco e apago, mil vezes, se for preciso até que por fim tenho o desenho pronto e uma folha massacrada que mais parece braille.

4 1. O Marisquiño 2015, Coletivo RUA & Doce 2. “Knowhere Sheriff” 3. “Game Over”, Coletivo RUA 4. “Quem foi ao mar, perdeu o lugar!” Fusing Culture Experience 2014, Coletivo RUA 30 MELANCIA

5. “Island” 6. “Trash” 7. “O Porto é uma nação” 8. “Future?” 9. “PornoGraphic”

10. “Lone Story” 11. “Natureza Morta”, Coletivo RUA 12. “Airães School” 13. Trabalho realizado para o “Redbull Street Galery” 14. Colectivo RUA x Breakone - Push Porto 2014


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12) M: Além de pintar, o que fazes mais? O: Neste momento, trabalho a full-time como operário semiespecializado na empresa Ach.Brito, em Vila do Conde, é uma marca de sabonetes muito conhecida e das mais antigas em Portugal. Não é de todo a minha área mas foi o que consegui arranjar para pagar as minhas despesas. Fora isso, tenho os meus trabalhos como freelancer e aí já faço o que realmente me dá prazer. Por vezes, chega a ser complicado conseguir conciliar tudo, mas tenho de acreditar e lutar para que um dia surja uma oportunidade melhor. Não podemos baixar os braços.

“Claro que um dos objetivos que todos deste meio têm e eu não sou exceção, é viajar pelo mundo para espalhar as minhas criações. Mas, sinceramente, adorava trabalhar para uma marca de streetwear ou algo do género. ”

13) M: A música também faz parte da tua história enquanto artista. Fala-nos sobre isso. O: Sim, acompanhou-me imenso e por vezes sinto falta dela. Foi algo que ia fazendo por curtir, não fazia para ter futuro ou ser muito bom, apenas servia para libertar as minhas opiniões do que via e do que vivia. Tanto a música, na altura, como o graffiti, agora, faço porque são uma terapia. O tempo pára e entro na minha imaginação. Assim, os problemas desaparecem por instantes.

15) M: Quais são as tuas referências e inspirações? O: Tudo o que seja relacionado com graffiti, street art, ilustração, pintura, textura, tipografia, música, design, oldschool, abandonado, velho, etc. Neste conjunto de influências existe muita matéria inspiradora.

14) M: Que objetivos gostarias de alcançar no futuro? O: Claro que um dos objetivos que todos deste meio têm e eu não sou exceção, é viajar pelo mundo para espalhar as minhas criações. Mas, sinceramente, adorava trabalhar para uma marca de streetwear ou algo do género. Desta forma, o graffiti era algo que faria com um significado ainda mais puro, ensinado pelas suas raízes, pintar para os meus, para quem realmente percebe e sente o mesmo feeling, deixar para trás as opiniões de pseudo-artistas e pseudo-apreciadores. Imaginem voltar à infância, em que éramos livres de fazer o que queríamos.

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16) M: Elege o trabalho que mais te marcou e diz-nos porquê O: Foi, sem dúvida, o que fiz para o evento da “Redbull Street Galery”, em 2008. Foi um mês intensivo a fazer uma obra grande, toda ela num estilo muito diferente do que faço agora, não houve estudo nenhum, apenas ia fluindo com as memórias do dia-a-dia, num freestyle em que o erro seria “a morte do artista”. Considero o trabalho que me marcou mais também porque foi a partir daí que comecei a ficar “viciado” nisto, conheci imensa gente, fiz laços de amizade para a vida e foi o primeiro grande evento da minha história. 17) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e a todos os seus leitores :) O: Continuem a valorizar os nossos artistas nacionais.

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Fotografia por: Lais Pereira


Tatuagem

Entrevista por: Juliana Lima Fotografias por: Nouvelle Rita

Apesar de fazer parte das artes desde cedo, Nouvelle Rita começou a tatuar por um acaso. Sorte a nossa! ;) Entretanto o seu trabalho tem ganho cada vez mais reconhecimento, não só em Portugal, mas internacionalmente. Dona de traços firmes e cheios de sensibilidade, Rita conta-nos um pouco sobre si e o seu percurso nesta deliciosa entrevista exclusiva.

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Nouvelle Rita começou a tatuar há pouco mais de 2 anos e, apesar de pouco tempo, a artista vem a destacar-se cada vez mais na arte da tatuagem pelo seu estilo autêntico. Foi a paixão pela arte e a admiração pelos traços firmes e sensíveis desta tatuadora, que nos levou a querer saber mais sobre as suas técnicas, referências e sobre o que a motivou a espalhar por aí as suas lindas ilustrações em forma de tatuagem. 1) MELANCIA: Antes de mais, gostaríamos de conhecer um pouco mais a Rita, por isso vou fazer algumas perguntas mais pessoais. Vamos lá! Quantos anos tens e de onde és? RITA: Tenho 27 anos e sou de Setúbal. 2) M: Sabemos que a profissão de tatuadora surgiu por acaso, em função da tua vida e proximidade com a Tânia CatClaw (tatuadora que admiramos muito e que também vai fazer parte deste artigo). Por seres tão boa ilustradora, com um traço tão único e um trabalho tão autoral, gostaríamos de saber qual a tua formação e como o teu gosto pelo desenho começou. Conta lá! R: Acho que o meu gosto pelo desenho começou desde que tive destreza suficiente para, simultaneamente, agarrar num lápis de cera e esfregá-lo numa folha de papel pra cá e pra lá. Estive três anos em Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Entretanto fui-me direcionando mais para o desenho digital e para a animação e acabei por mudar de curso para Arte e Multimédia, na vertente de animação, onde me arrastei mais um pouco e finalmente me licenciei.

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1 e 8. Exemplos de ilustrações de Nouvelle Rita, sckeths amtes de serem tatuados. 2.5. 7.9.10.13 Exmplos de tatuagens por Nouvelle Rita. Traços e Pormenores. 3. 6. 11. Exemplos de tatuagens com pormenores e traços de outra cor, a complementar os traços pretos. 4. Tatuagem de Sereia que Nouvelle Rita destaca como uma de suas preferidas. 5. Tatuagem de Nouvelle Rita, em parceria com Tânia CatClaw

3) M: Como te descreverias de forma breve? Fala-nos um pouco da tua personalidade, gostos pessoais, a tua forma de ver e lidar com a vida... R: Essa é uma pergunta complicada, não sei bem o que responder... Sou uma pessoa direta, awkward e sarcástica... Gosto de chocolate, gatos, comida confortável, dias de sol e café forte. Aprendi a viver a vida um passo de cada vez. Assusto-me se olhar demasiado para o futuro, por isso deixei de fazer planos a longo prazo. Sei que hei-de chegar onde tenho de chegar, no meu tempo, e preocupar-me com o que está para vir só vai fazer com que azede o que estou a fazer agora. Tento ser sempre o mais compreensiva e justa possível com toda a gente e recebo o mesmo em retorno. 4) M: E o teu trabalho? Toda a gente fala sobre ele, mas gostaríamos de ter a tua descrição. Como vês os teus traços e como poderias explicar-nos, de forma mais assertiva, o teu estilo? R: Na verdade não sei bem como o explicar. É algo que surgiu quando comecei a tatuar. Não desenhava desta forma antes de começar a explorar esta arte. Foi um ciclo que nasceu entre tatuagem e ilustração que, até então, nunca tinha sido possível. Inicialmente queria fazer desenhos com bastante linhas, para as treinar na tatuagem, antes de passar a qualquer outra coisa. Portanto comecei a fazer desenhos em que todo o volume e sombra era dado através da linha. Na altura foi uma construção de conveniência e aprendizagem mais do que tudo. Mas apercebi-me de que era um tipo de desenho que funcionava bastante bem por si só, que não precisava de mais nada para se destacar. E comecei a ter feedback muito positivo de quem o via, o que para mim foi a confirmação disso mesmo.

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5) M: Também queremos saber a tua visão sobre o teu percurso profissional, a tua evolução nestes anos de atuação, a tua visão sobre ser tatuadora em Portugal. R: Sinto que tenho sido uma sortuda desde o início. A tatuagem surgiu, para mim, na altura certa, salvou-me e esteve no inicio de uma reviravolta gigante. O facto de estar próxima da Tânia fez com que o processo inicial de aprendizagem fosse mais rápido para mim. Quando me dedico a alguma coisa que acho interessante aprendo muito rápido e facilmente (já coisas chatas... É uma verdadeira luta... Por exemplo, demorei três anos para tirar a carta de conução, acho que foi a coisa mais aborrecida da minha vida). Quando comecei a tatuar dei-me conta de que já tinha bastantes conhecimentos técnicos que vinham da observação do trabalho da Tânia. Eu gosto de tatuar em Portugal, temos um público bastante crítico e que cada vez mais procura coisas novas e originais. Os meus clientes são na sua grande maioria pessoas espetaculares, que me deixam bastante à vontade para criar peças que funcionem bem (também já sabem mais ou menos o que esperar). Ainda que tatue maioritariamente em Lisboa, não sinto que esteja assim tão cingida a Portugal, já que quase metade dos meus clientes não são de cá. É um fenómeno que tem vindo a crescer: o turismo de tatuagens. As pessoas procuram o estilo que preferem, o/a artista que querem e viajam para conseguirem tatuar com ele/ela. Acho que faz todo o sentido e faz com que haja lugar para todo o tipo de diferentes estilos e abordagens à tatuagem. Tenho sentido que esses clientes, que vêm de longe, valorizam ainda mais a tatuagem que levam com eles e eu fico contente por fazer parte da viagem e da história deles.

6) M: Sabemos que todos os artistas têm as suas referências. Conta-nos um pouco das tuas. Quais são os tatuadores ou ilustradores que mais admiras e que de alguma forma inspiram o teu trabalho? R: A minha maior influência inicial foi o trabalho do ilustrador Luke Dixon. Admiro imensos tatuadores e tatuadoras e quase todos os dias descubro alguém que ainda não conhecia e não deixo de ficar surpreendida. Posso deixar aqui alguns nomes (sou péssima com nomes e vou estar aqui meia hora a tentar lembrar-me deles... A minha memória é maioritariamente visual) Alex Tabuns; Diana Severinenko; Nomi Chi; Kelly Violet; Joe Frost; Fredão Oliveira... Entre muitos outros nomes, que a minha memória já varreu para debaixo do tapete.

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7) M: Gostaríamos de saber se consegues indicar-nos uma tatuagem que, particularmente, gostas muito e que te orgulhas de a ter feito. Mostra-nos e conta-nos o porquê. R: Todas as minhas tatuagens me são bastante queridas por uma razão ou outra. Mas gosto bastante do resultado final desta sereia (Imagem 4). Foi um desafio, normalmente não faço figura humana de corpo inteiro, porque não há espaço suficiente para dar o pormenor necessário e a cara perde todo o impacto. Felizmente o meu cliente tinha um braço grande, que deu para me alargar um pouco mais. Quando estava a fazê-la queria conseguir dar a ideia de que era uma sereia, mas sem ter que desenhar a cauda toda, para poupar espaço. E fiquei bastante contente com o resultado final, a cara não perdeu o seu impacto porque não é do tamanho de uma ervilha e ninguém fica em dúvida de que é realmente uma sereia e isso para mim quer dizer que cumpri o meu objetivo para esta peça.

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8) M: E o teu processo criativo? Como funciona tudo para ti? Gostaríamos de saber como fazes a gestão de tudo desde a marcação, os desafios de criar a ilustração e responder às vontades do cliente, até realizar e finalizar a tatuagem em si. R: O que acontece habitualmente é que o cliente me contacta através do e-mail ou da página de facebook, falamos sobre a sua ideia e a zona que pretende tatuar, vejo o que posso fazer para tornar aquela ideia numa tatuagem exequível e funcional e marcamos uma data para a tatuagem. Depois, um ou dois dias antes, envio o desenho ao cliente. O processo de desenho é normalmente mais demorado que a tatuagem em si (também porque sou a rainha da procrastinação). Quero ter a certeza de que faço o meu melhor sempre e isso leva algum tempo. Pensar na melhor composição/posição para a área que vai ser tatuada, pesquisar imagens de referência (imagens reais na sua maioria), fazer o sketch e finalmente o desenho final. 9) Sabemos que já tens a agenda lotada meses e meses no estúdio em Lisboa, onde atualmente atendes os teus clientes. Como te sentes com o teu grande sucesso? R: Sinto-me muito feliz claro, é sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido e nunca imaginei, quando comecei, que ia ter tanta aderência e que ia crescer tanto em tão pouco tempo. Ao mesmo tempo parece-me tudo bastante irreal, como se a Nouvelle Rita fosse um alter-ego meu. Apesar de ter a apreciação de tanta gente como tenho tido, é como se estivesse a olhar para tudo isto de um círculo exterior muito próximo. Como quando acompanhamos alguém de que gostamos muito, suceder naquilo que gosta de fazer e isso deixa-nos felizes.

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10) M: Começaste a tatuar por influência e convivência com a Tânia, entretanto tens um estilo completamente diferente do dela. Hoje em dia, as duas têm projetos juntas, que nós particularmente adoramos! Gostaríamos de saber como surgiram as tatuagens em conjunto e qual a tua visão sobre esta parceria. R: Os projetos em conjunto surgiram quando alguém me falou na possibilidade de adicionar pintura a uma das minhas tatuagens. Visto que a Tânia é a “boss” da pintura e que os nossos estilos têm bastantes semelhanças (ainda que sejam completamente diferentes) pareceu-nos ser a melhor opção. Estamos habituadas a trabalhar juntas já antes das tatuagens começarem, portanto temos uma comunicação bastante fácil entre as duas. Além disso ela deixa-me ser mandona e “control freak” (como sou) e faz-me as vontades. Não confiaria a mais ninguém a continuação/complementação do meu trabalho (pelo menos por enquanto). Penso que resultam sempre peças muito interessantes das nossas parcerias. É verdade que o meu trabalho funciona por si só, mas quando a Tânia entra ao barulho, dá-lhe outra profundidade e outras possibilidades de leitura que não seriam possíveis. 11) M: Já tiveste experiências internacionais? Como foram e quais os planos sobre as próximas viagem em trabalho? R: Sim já. Este ano comecei a fazer guest spots. Estive em Roma, Londres (duas vezes) e Berlim. Este ano já não tenho mais planos, mas no início do ano irei novamente a Londres e espero ir a outras cidades, mas ainda não tenho programas concretos por isso prefiro não revelar mais. É uma das desvantagens de não querer fazer planos a longo prazo. Viajar é uma oportunidade ótima, que me permite, não só conhecer lugares e pessoas novas, como retribuir um pouco o amor que recebo das pessoas que seguem o meu trabalho e ser eu a ir ter com elas. Até agora tem sido sempre muito positivo. 11 44 MELANCIA


12) M: Quais as tuas expectativas? E o teu maior sonho? R: Deixei de criar expectativas quando deixei de fazer planos a longo prazo. Estou a viver o que me surge e até agora estou-me a dar bem com isso e só me tenho surpreendido. O problema das expectativas é que normalmente são sempre um pouco romantizadas e mais facilmente nos desiludimos. Desta forma é tudo lucro. Na verdade acho que estou a viver o meu maior sonho: fazer algo de que gosto, ser reconhecida pelo meu trabalho e esforço, viajar e conhecer sítios e pessoas novas... Acho que foi sempre o que pensei que gostaria de fazer quando fosse grande. 13) M: Para fechar, deixa a tua mensagem para a MELANCIA mag e para os nossos leitores. R: Tudo acontece por uma razão. Sei que parece um grande cliché, mas é verdade. Aquilo que nos faz perguntar na altura “porquê eu?” é o que nos leva a agradecer mais tarde que tenha acontecido. Por isso não se preocupem... Tudo é passageiro e tudo melhora. E se a coisa estiver mesmo difícil, enrosquem-se num gato e comam uma tablete de chocolate... Na verdade, esta é uma boa opção para qualquer estado de espírito. Gatos e chocolates para todos/as!

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Tânia Catclaw tem 29 anos e fez a sua primeira tatuagem há 7 anos atrás. Com o desafio de aproximar as suas tatuagens da ilustração, encontrou o seu estilo único, que mistura lindamente a geometria e a aguarela. Nesta entrevista exclusiva, Tânia conta-nos de forma breve o seu percurso e expõe a sua perspetiva de como é ter projetos em parceria com a Nouvelle Rita.

1) MELANCIA: Há quanto tempo tatuas? Conta-nos de forma breve o teu percurso profissional e como tudo começou? TANIA: Estudei sempre artes e estava nas escola de belas artes quando a oportunidade de aprender a tatuar se proporcionou e o curso foi para segundo plano. No momento em que fiz a primeira tatuagem, isto há 7 anos atrás, soube que era o que queria fazer para o resto da vida.

3) M: Admiramos muito o teu trabalho e sabemos que o convívio contigo e com as tuas tatuagens foram alguns dos motivos que fizeram a Rita a começar a tatuar. Conta-nos como te sentes em relação a isso. T: A Rita foi crucial no meu percurso enquanto tatuadora, acabámos por aprender ao mesmo tempo, ela apenas demorou um bocadinho mais a meter em prática.

2) M: Tens um estilo muito próprio para tatuar, com a geometria e a aguarela. Gostaríamos que nos contasses como encontraste esta tua autenticidade. T: O meu estilo resultou da necessidade de tornar a tatuagem um pouco mais próxima da ilustração e foi evoluindo nesse sentindo. As aguarelas no papel foram-se tornando cada vez mais tatuáveis e as tattoos começaram a transmitir cada vez mais o toque de ilustração. O objetivo era encontrar uma harmonia entre ambos, tal como um equilíbrio entre a delicadeza fluida da aguarela e a rigidez das geometrias.

4) M: E para ti, como é ter projetos em parceria com a Rita? Conta-nos como é o processo criativo conjunto e como é trabalhar com ela. T: É bastante natural, sempre tivemos projetos em conjunto e é ótimo poder trabalhar uma ideia com a ajuda de outra perspetiva. As nossas colaborações resultam no melhor que as duas partes têm para oferece 5) M: Deixa cá a tua mensagem para a MELANCIA mag e para os nossos leitores. T: Faz o que gostas e alguém há-de gostar do que fazes

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6 1. Ilustração de Melancia de Nouvelle Rita e Tânia CatClaw feita especialmente para MELANCIA m,ag :) 2, 3, 6. Exemplos de Tatuagens de Tânia CatClaw. 4,5. Tatuagem de Nouvelle Rita em parceria com a Tânia CatClaw. 5 48 MELANCIA


W W W. A N A J O A O J E W E L R Y. C O M


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Fotografia, Escrita, Design e Música

Entrevista por: Mafalda Jesus Fotografias por: Ana Morais

Tivemos a oportunidade de falar com a Ana Morais, que com uma simplicidade e simpatia invejáveis, nos falou do seu percurso e da origem do nome “Anita dos Sete Ofícios”. Uma mulher de armas, sempre pronta a resolver desafios, que conta com um portfólio recheado nas áreas da fotografia, escrita, design e música. Faz-nos questionar como um ser humano tem tempo e predisposição para desenvolver tantos projetos e prova-nos que a força de vontade e a dedicação permitem-nos alcançar todos os sonhos. Percam-se no mundo encantado desta artista, no verdadeiro sentido da palavra.

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1) MELANCIA: Quem é a Ana Morais? ANA MORAIS: A Ana Morais é um ser com muitos layers que insiste em viver sem se deixar prender pelas dificuldades que a vida impõe seja a que nível for. Sou simplesmente eu a querer viver a vida com a mesma simplicidade que quero fotografar o mundo com a minha câmara. Ah! E também sou lamechas :)

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2) M: Porquê “Anita dos Sete Ofícios”? A: A “Anita dos 7 Ofícios” surgiu por fruto de um acaso e como tal teve um processo natural e de certo modo lento. Começou por os meus colegas de trabalho, por graça, me apelidarem de “mulher dos 7 ofícios” e como sempre achei que os exageros dão bons títulos decidi dar esse mesmo nome ao meu blog (mulher7oficios.com) e gerir o seu conteúdo direcionado aos meus trabalhos, mas também dedicá-lo à promoção do trabalho de outros que como eu se dedicam a vários ofícios. É também onde, de quando em vez, publico textos de um livro que tenho vindo a escrever ao longo dos anos. Com a criação de um perfil no instagram em Maio de 2014 e ainda sem qualquer perspectiva em uma identidade criativa/ artística, quis personificar o meu blog, substituindo o que era generalizado na expressão do nome do mesmo, pelo nome carinhoso que os amigos mais próximos me chamavam que coincidia com os afamados livros infantis da Anita e as suas aventuras, que é exatamente assim que gosto de ver o meu percurso artístico: uma aventura com muitas histórias para contar. Agora é também o meu site www.anitados7oficios.com onde alojo o meu portefólio e o blog em sintonia. 3) M: Se pudesses escolher: fotografia, escrita, design ou música? Porquê? A: Seria uma escolha muito difícil, tenho de confessar. São as minhas grandes paixões e ao longo dos anos encontrei um fio condutor que as relaciona, daí a dificuldade em me dedicar somente a uma. Sou formada em línguas e literaturas por isso a escrita é transversal à fotografia e à música. Esta última relação advém de ter tido a oportunidade de ser canta-autora. A forma como a música transmite sentimentos e emoções de uma forma tão eficaz não cessa de me encantar, por ser subjetiva pode facilmente transformar-se na banda sonora da nossa vida, por isso poder cantar o que escrevo tornou-se num desafio com uma recompensa muito boa: o das pessoas se identificarem e emocionarem-se com as mesmas, apesar de nunca ter editado nenhuma das minhas músicas originais, já tive a oportunidade de as cantar ao vivo. A escrita e a fotografia também têm a sua relação, para além do óbvio uma imagem vale por mil palavras, para mim, dependendo das palavras que a acompanham, essa imagem pode adquirir variadíssimos significados. O facto de as pessoas e da cultura serem o meu principalmente estimulo para fotografar, as fotografias com história são o meu “prato predileto”. Agora com o mestrado em Design e Cultura Visual espero colmatar na minha formação esta sincrocidade que eu encontrei entre estas 3 áreas.

8 1. “the sweetest morning view” 2. “take me home” 3. “at your door” 4. “on my mind #TAPMRO” 5. “Connecting to the roots of the heart” 6. “The best feeling ever” 7. “Ok,i’m right here! Now what?” 8. Fotografia de Inês Marcelo 9. “à conversa com...” a Sara Chéu para o P3 10. “Beautiful places with beautiful people” 11. “#tiredportrait in the cosmos” 12. “Partners in crime” 13. “it’s all about attitude” 14. ”3,2,1...”

4) M: O que te fascina na fotografia? A: O facto de nos permitir sonhar e de nos “obrigar” a sonhar com a essência de criança quase para nos ultrapassarmos. A visão e o alcance da imaginação de uma criança é incrível e poder agregar isso a uma qualquer realidade pensada, vivida e idealizada como adulto é para mim o santo graal da inspiração e que muitas vezes me custa muito alcançar ou manter. Essencialmente tento manter uma ideia de narrador omnipresente para cada fotografia o que me leva a viver várias e histórias diferentes em cada uma. Viajar em grãos de prata é como eu lhe chamo. MELANCIA 53


5) M: Destaca um click que não esqueces. A: Incrivelmente os clicks dos quais não me consigo esquecer são exatamente aqueles que, por alguma razão, não consegui executar. São os clicks visuais impressos de forma cerebral, que ficam na memória por tempo indeterminado. 6) M: Onde vais buscar energias e inspiração para alimentar tantas atividades em simultâneo? A: Não tenho nenhuma receita milagrosa, até porque tem sido um processo intenso e de constante aprendizagem. Para mim é necessária muita força de vontade e uma certa dose de loucura saudável. Ultrapassar a timidez, estarmos dispostos a testar os nossos próprios limites dizendo “sim” a novos desafios e ir ajustando as prioridades ao longo do caminho. A persistência sempre me caracterizou e aprendi com a vida que “acreditar é meio caminho andado”. Como o meu percurso profissional sofreu um desvio inevitável, acreditar que um dia poderei trabalhar somente no que me apaixonada é um forte incentivo para continuar a arriscar em todos os projetos que me vou envolvendo. Acreditar, mas sem sofrer com isso, nem viver em ansiedade, e para isso também é preciso capacidade de encaixe e adaptabilidade às condições e oportunidades que vão surgindo. 7) M: Que projeto te deu mais prazer desenvolver? Porquê? A: Sinceramente não consigo destacar um só projeto, talvez porque a todos os projetos a que me dedico é de coração e o envolvimento é de muito amor. Aliás nada do que eu faço faria sentido se não fosse por amor. Por isso todos foram ensinamento e os seus respetivos envolvidos professores. 8) M: Quais são as tuas inspirações? Nomeia uma pessoa que te inspire diariamente. A: Esta deve ser das perguntas que mais me fazem e que mais me custa definir uma resposta ainda. As pessoas são parte muito importante na minha inspiração. No geral como sociedade

e especificamente as que se cruzam na minha vida e que de uma forma ou doutra a transformam. 9) M: A escrita e a fotografia combinam na perfeição. Porque não lançar um livro? A: Já faz parte dos planos há muitos anos, mas tem estado adormecido na gaveta. Neste momento já tenho listados na minha cabeça três títulos e temas, mas antes disso ainda tenho a tese para terminar :) 10) M: Qual é o teu maior sonho? A: Eu sou o que eu chamo de “sonhadora realista”, porque os sonhos acabam por ser racionalizados por metas e objetivos e por isso a lista é longa, e nunca encurta, porque vou concretizando alguns e adicionando outros tantos. Uns mais óbvios que outros, poder trabalhar exclusivamente na comunicação, editar os livros que ando a adiar e formar família são alguns deles. 11) M: Elege um projeto que, na tua opinião, todas as pessoas deviam conhecer. A: Gerador: www.gerador.eu 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e aos seus leitores :) A: ”(...) às vezes na vida é exatamente isso que temos de fazer… sair de nós mesmos para ajudar a simplificar. Para aprender é preciso falharmos, cairmos à água muitas vezes. Às vezes já perto da praia, outras vezes ainda a meio de nos pormos em pé numa prancha. Depende sempre do que aprendemos em cada queda, se somos persistentes, destemidos, se identificamos a razão de termos caído para na próxima tentativa a razão não ser a mesma. (...) Quero com isto dizer que vos desejo força para realizarem todos os vossos sonhos sem medo de errar!

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15. “Shadows play” 16. “there are no coincidences part II” 17. “There should be words” 18. “i found a lost dream and i brought him home” 19. “ work on the imaginary :: [the airplaines were not allowed to take off - wanna bet?”

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20. Modelo @sailorettes 21. “Wonderlust” 22. “just like any other day” 23. “How should this story end?”


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Instalação e Street Art

Artigo por: Mafalda Jesus Instalações por: Mademoiselle Maurice

Mademoisell Maurice, uma artista francesa que trouxe uma lufada de ar fresco ao mundo da street art, construindo enormes murais de origamis de papel coloridos. Diferente de tudo visto anteriormente e inspirado nos desastres naturais que ocorreram no Japão em 2011, este trabalho tem como objetivo criar uma ligação entre a natureza, o ser humano e o espaço que o rodeia. Deixa-te deliciar e está atento, pois a qualquer momento podes-te cruzar com um destes murais.

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Mademoiselle Maurice, artista francesa de 29 anos, apresenta uma obra de intervenção urbana, marcante pela inovação, criatividade e cor. Cresceu nas montanhas da Alta Saboia, estudou arquitetura em Lyon, trabalhou em Genebra e Marselha e viveu um ano no Japão. Ao longo desse ano, e tendo como inspiração os terríveis acidentes naturais que se registaram em Março de 2011, vislumbrou nos origamis de papel um meio para expressar a sua arte. Começou a visualizar e a projetar esta nova forma de colorir as ruas e dedicou-se a criar galerias a céu aberto, gerando explosões de cor que nos levam a viajar no imaginário. Atualmente a viver em Paris e rendida aos materiais naturais, papel e linha, quebra a monotonia e escuridão das ruas da cidade com as suas vibrantes instalações.

1. Baker Beach, São Francisco 2. ARTAQ 2013 – França 3. “Black Out” 2014 White Night 4. Angers, França 5. Para o EMERGENCE FESTIVAL, Itália 6. Singapura 7. Vietnam 8. Estádio em Atenas, Grécia 9. Festival Artscape Suécia 10. Eslováquia 11. Fate Festival 2015, Itália 12. “With Skin” 13. São Francisco 14. Paris 15. A giant suspension, Paris 60 MELANCIA

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No seu portfólio conta já com intervenções na Suécia, Vietname, Inglaterra, Austrália, Portugal, México, Itália, China, Singapura, entre outros países. Para além de um ato decorativo poderosamente emocional, a sua obra reflete um espírito ativista e tem como objetivo questionar a interação entre a natureza humana e o meio ambiente, mas também estimular a ligação entre o Homem, a natureza e a cidade. A efemeridade é uma marca forte desta arte. Os trabalhos são feitos em papel e estão expostos aos elementos atmosféricos que os deterioram (chuva, vento, sol) e também à mercê da manipulação dos transeuntes. Sempre focada no apoio de causas, Mademoiselle Maurice doa 20% das taxas de projetos comerciais a organizações humanitárias ou ambientais. Não deixes que esta artista te passe ao lado e deixa-te cativar por esta obra capaz de embelezar e suavizar rotas urbanas. MELANCIA 61

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Arte e Ilustração

JOÃO

SARAMAGO Entrevista por: Juliana Lima Imagens e Ilustrações por: João Saramago

Conheci o trabalho do João Saramago através de uma grande amiga, que também tem o olhar virado para a arte. Rendi-me a esta ótima dica, não apenas a esta deliciosa entrevista, mas também ganhei uma admiração pelo trabalho, pela simpatia e disponibilidade, mas principalmente pelo talento do João. Espero que gostem de tudo tanto quanto eu.De cada traço, de cada palavra. Tudo. Pura inspiração!

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João Saramago vive no centro de Lisboa há três anos. Durante este tempo, vem ganhando espaço e reconhecimento como artista independente. Em entrevista exclusiva, este jovem artista português de 30 anos, que é reconhecido pelas suas pinturas com canetas esferográficas, conta-nos um pouco sobre seu trajeto processo criativo. Inspirem-se! 1) MELANCIA: Antes de falarmos do teu trabalho, gostaríamos de saber quem é o João Saramago. JOAO SARAMAGO: Nasci em Agosto de 85, vivo e trabalho no centro de Lisboa há três anos. Estudei design gráfico e mais tarde fui para a faculdade que decidi não terminar. Sou um tipo pacato, que gosta de coisas simples e práticas. 2) M: Antes de seguir a carreira de artista independente, tiveste algum outro emprego? Conta-nos as tuas experiências e o teu percurso profissional. J: Tive outros empregos que conciliava com a faculdade, ficando sem tempo mental para criar. Quando decidi abandonar a faculdade, então voltei a dedicar-me inteiramente a esta carreira. 3) M: Como e quando tiveste a certeza de que seguirias uma carreira de artista independente? J: Acho que sempre soube. Em pequeno desenhava bastante, era assim que me entretinha. 4) M: Que fatores te encaminharam para o mundo das artes? J: Não houve nenhum facto concreto. Acho que é um “acontecer”. 5) M: Como encontraste o teu estilo de arte? E como descreverias o teu trabalho? J: Quando comecei a estudar, senti uma grande conexão

com o surrealismo e o movimento dada [O Dadaísmo foi um movimento cultural, artístico e filosófico de grande abrangência, envolveu a literatura, o cinema, o teatro, a fotografia, a pintura e a escultura.]. A partir daí comecei a desenhar os meus sonhos e a criar histórias baseadas nesse universo. Isto foi há 12 anos atrás. Hoje não consigo definir o que é o meu estilo e não sei se o quero fazê-lo, sei que quero criar. Contudo, atraem-me alguns conceitos que vejo acontecerem no meu trabalho, a repetição é um deles por exemplo. 6) M: Temos acompanhado o teu trabalho, e percebemos que cada vez mais participas em exposições e eventos. Como te sentes em relação a isto e a toda a repercussão e reconhecimento do teu trabalho? J: Existe uma entrega muito grande, sinto que me dedico inteiramente aquele projeto, vivo nele naquele período. Depois tento retirar o máximo dele e divertir-me. 7) M: Sabemos que para o artista, toda a obra tem a sua importância, entretanto gostaríamos de saber se consegues destacar o teu projeto preferido, aquele que te deu mais prazer desenvolver? Conta-nos porquê. J: Do meu trabalho pessoal, não, porque não o sinto como fechado no sentido de ser só uma representação de uma coisa, é antes algo em constante expansão que possibilita direções. Dos projetos externos, destaco o “Trampolim Gerador”, a segunda edição. Pintei o interior de um palacete localizado no Príncipe Real, em Lisboa. Foram quatro dias, cerca de 38 horas a pintar bonecos de nariz grande a voar pela divisão do palácio e, foi fantástico, não tinha ainda tido uma experiência do género, nunca tinha feito murais nem nada em semelhante escala e deu-me um prazer imenso ver o resultado final e a interação com os visitantes.

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1 e 5. :: meditation series :: 2015 ballpoint pen on cardboard paper, 50 x 50 cm 2. :: alice down the rabbit hole – 2015 :: drawing pen on paper 21 x 29,7 cm 3. :: on the wall :: meditation circle ballpoint pen on paper, collage on cork circle. 37 cm x 1 cm 4 e 6. :: meditation 2015 :: ballpoint pen on cardboard paper, 30 cm x 30 cm 7 e 8. Processo de trabalho de ilustração realizado no evento Trampolim Gerador, Príncipe Real, Lisboa, 2015. 9. esferográfica preta sobre marcadores sobre papel, 42 cm x 59,7 cm

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8) M: Também gostaríamos de saber sobre as dificuldades e desafios que encontras neste teu percurso de artista independente em Portugal. J: Há momentos e dias menos fáceis e frustrantes. O que importa realmente é a ação. É não parar de produzir. Saber dosear o pensamento crítico, a distância do trabalho e a sua execução. 9) M: E a tua forma de trabalhar, como é? Tens um ateliê? Trabalhas com alguma metodologia? Gostaríamos de saber mais sobre o teu processo criativo. J: De momento, não tenho um ateliê, trabalho em casa. Tenho algum espaço que me permite criar livremente e, acredito por experiência própria que o espaço influência no processo e método criativo. Atualmente, estou interessado em criar peças de grande escala e a solução que encontrei para o fazer é começar por pequenos formatos e expandir a partir daí. A criação acaba por ser de certa maneira um jogo e, começo a perceber de que preciso de um espaço maior. Sobre o processo criativo por norma, não parto de um conceito mas sim da emoção. Começo pelo desenho e algo acontece e surgem direções. Quando estou a fazer ilustração o processo não é muito diferente, o que muda é a intenção, há uma ideia, fazem-se os esboços e depois a execução.

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10) M: Em todas as áreas criativas é preciso uma constante busca. Quais são as tuas referências / inspirações? J: A música. 11) M: E os teus próximos passos? Costumas planear? Se puderes contar, gostaríamos de saber quais os projetos do João Saramago que vêm aí. J: Estou focado em criar corpo de trabalho. Estou a executar peças de grandes dimensões de ideias que nasceram em 2012 e recentes. Tenho o plano de dar corpo a estas duas coleções: “microforms” 2012 e “meditação” 2015. 12) M: Deixa uma mensagem à MELANCIA mag e aos seus leitores :) J: Muito sucesso com foco e dedição e até breve. 72 MELANCIA

10. ::: lady – 2015 :: markers and drawing pen on cardboard paper 21 x 29,7 cm 11. :: blueberry girl – 2015 :: markers and drawing pen on cardboard paper 25 x 25 cm 12. :: :: alice – 2015 :: drawing pen on paper, 21 x 29,7 cm


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Toma Nota

ATELIER 193 Costurar está na moda. Que o diga Catarina Lourenço que fez um curso de costura na Maria Modista e acabou por abrir uma retrosaria na porta ao lado. Aberto em novembro, o Atelier 193 cativa com o seu ambiente de loja de tecidos moderna onde uma coleção de máquinas de costura antigas faz a ligação ao passado. Recuperar velhos hábitos é, aliás, um dos objetivos da loja que tem tudo o que faz falta em qualquer caixa de costura que se preze. Se não tiveres máquina em casa e quiseres experimentar, podes vir alinhavar ideias para o 193 da Almirante Reis: as máquinas são para partilhar com os clientes. Saiba mais em: www.facebook.com/atelier193

MURAL DO CHIADO Num ponto de passagem, um vulto imprevisto rouba-nos a atenção. Tão grande que não nos cabe no olhar. Tão discreto que nem demos por ele a espiar-nos em rotinas passadas. A certeza hesita e a surpresa dá um passo em frente. Uma surpresa vira-casacas que conta uma nova história quando bem lhe apetece, porta-voz intervencionista daqueles que têm algo novo a manifestar. É arte de encher o olhar. É o Mural do Chiado. Não deixem de visitar a primeira intervenção do Mural do Chiado, uma instalação feita com 764 metros de fitas de acetato, uma homenagem ao comércio tradicional da Baixa Pombalina. Uma homenagem às retrosarias. Saiba mais em: www.muraldochiado.pt OU www.facebook.com/muraldochiado

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Toma Nota

CAVE 23 Situado na cave do Torel Palace, uma guesthouse de charme instalada num palacete do século XIX, o Cave 23 é uma descoberta inesperada. O ambiente é elegante e sofisticado mas muito acolhedor e descontraído. A cozinha é inspirada na gastronomia tradicional portuguesa com o toque de inovação que torna a refeição emocionante. Com experiência num restaurante Michelin de San Sebastian, em Espanha, a chefe de cozinha regressou a Portugal para criar de raiz o seu próprio restaurante. Para jantar mas também para beber um cocktail de autor ou descontrair ao final da tarde, o Cave 23 é aquele lugar em Lisboa que vais querer mostrar aos amigos estrangeiros. E espera até eles subirem ao terraço. Saiba mais em: www.cave23.pt

FAB LAB Já imaginaram uma comunidade criativa com apoio da Câmara Municipal de Lisboa? Assim é o FAB LAB, uma oficina Municipal de apoio à criatividade e fabricação digital. Todas as Terças e Quintas-feiras qualquer pessoa pode visitar e utilizar os equipamentos gratuitamente para experimentação e prototipagem (sempre com marcação prévia). A equipa FAB LAB agradece que os utilizadores retribuam com o conhecimento gerado através de documentação e instruções para o site da oficina. Nos outros dias da semana, o desenvolvimento de projectos e as reservas de equipamentos têm sempre custos de utilização. Saiba mais em: www.fablablisboa.pt OU www.facebook.com/FabLabLisboa

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delícia de melancia por: Magali Viajante

Essa é uma receita muito fácil de se fazer, prática e muito saborosa. O gaspacho normalmente é feito com tomates, mas como esta revista se chama Melancia Mag e o meu blog é o Magali Viajante, criei esta versão com melancia, que fica deliciosa e muito refrescante, para além da fruta trazer um equilíbrio perfeito de doçura e acidez e agregar uma textura aveludada única. Blog: www.magaliviajante.com Facebook: www.facebook.com/MagaliViajante Twitter e Instagram: @magaliviajante Snapchat: magaliviajante Youtube: youtube.com/magaliviajante

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Gaspacho de Melancia INGREDIENTES Sopa - 2 xícaras de chá de tomates em cubos grandes - 2 xícaras de chá de melancia em cubos grandes - ½ pimenta dedo de moça - 1 dente de alho - Sumo de 1 limão tahiti - Sal a gosto - Pimenta do reino a gosto Molho de pepino e avocato - ½ avocado maduro - ½ pepino japonês - Sumo de ½ limão tahiti - 2 ramos de coentro - 2 colheres de sopa de burrata - Sal a gosto PREPARAÇAO 1. Corte a melancia e os tomates em cubos grandes. 2. Retire as sementes e os veios brancos da pimenta dedo de moça. 3. Coloque todos os ingredientes da sopa num

bowl e deixe no frigorífico por uma hora, para tomar gosto. 4. Enquanto isso, corte o avocado em cubos pequenos, descasque o pepino e também corte em cubos pequenos. 5. Misture o avocado, o pepino, o suco de limão, o coentro picado e o sal. Reserve na geladeira. 6. Bata no liquidificador todos os ingredientes da sopa que estavam marinando na geladeira até ficarem bem homogêneos. 7. Passe em uma peneira e descarte todos os resíduos sólidos, aqui o que interessa é o líquido. 8. Prove o tempero e se necessário, acrescente mais sal. 9. Em um prato fundo, coloque a sopa até metade do prato. No centro, coloque um pouco do molho de avocado e pepino no fundo, para que a burrata possa ficar em cima sem afundar. Coloque mais molho no centro do prato e posicione a burrata ao lado. 10. Enfeite o prato com folhas de coentro e pingos de azeite extra virgem. 11. Sirva a sopa bem geladinha e aproveite! Bom apetite! Se sobrar um pouco da sopa, comemore. Se guardar em um recipiente de vidro, ela fica ainda mais gostosa no dia seguinte!

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#melanciamag

@b.gameiro.ant

@ritagandumalvarez

@narittasoares

@luziaceste

@marreirosjoao

@livrosaladadefrutas

@moohbiscateira

@carlahansen

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@anamax_1965

Fred Almeida

Ana Alexandra Henriques

@carluchu_

@ritagandumalvarez @tatiana_drumond

@catiafialho_

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ZineFest

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O “ZineFestPt” propõe uma série de atividades que tragam à vista de todos o universo zine; da micro-edição, da auto-edição, da publicação independente e da cultura alternativa associadas aos livros e sobretudo aos fanzines! 1 a 11 | Centro Comercial de Cedofeita, Porto

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Muvi Lisboa

BD- A culpa é do like

O MUVI Lisboa é o primeiro festival de cinema específico sobre música e pretende ser um palco onde toda a produção audiovisual que acontece dentro do âmbito da música possa brilhar aos vossos olhos. 1 a 6 | Cinema S. Jorge, Lisboa

Trata-te de uma exposição que reflecte o papel do Facebook como berço da Banda Desenhada. Vai conhecer quatro autores que editaram livros por culpa do like 1 a 31 de Março | Bedeteca, Amadora

dezem 12x12 // edição 2015

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O 12X12 é um encontro/exposição de pintura, desenho, gravura e fotografia, que junta dezenas de artistas na partilha de experiências e confronto dos seus trabalhos com o público. Todas as obras expostas são vendidas pelo valor simbólico de 10 euros. Lisboa

EXD’15 | LAB MORPHE

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Morphe reúne um conjunto de máquinas de desenhos desenvolvidas no último ano, no seio de uma pesquisa que procura questionar a relação do corpo com o desenho. No laboratório preparado para a EXD, os participantes poderão experimentar essas máquinas ligadas ao seu corpo, que ao mover-se desenham. Prìncipe Real, Lisboa

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Bounce Portugal

BOUNCE é um mundo onde as regras da gravidade são desafiadas fazendo com que as paredes se tornem o chão que pisas. Atreve-te e diverte-te com os teus amigos e familiares, numa nova dimensão cheia de adrenalina. Alfragide, Lisboa


Feira Vizinha

A Feira Vizinha é um mercado de rua, associado aos comerciantes locais, que ocupa o Largo Dr. António de Sousa de Macedo e a Travessa do Poço dos Negros em Lisboa, no primeiro sábado de cada mês, entre as 10h e as 18h. Lisboa e Porto

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StockMarket

Comic Con

A Comic Con Portugal é a maior convenção de Cultura Pop a realizarse no nosso país, albergando diversas áreas, como Cinema, Séries Tv, Videojogos, Banda Desenhada, Cosplay, Anime e Manga. 4 a 6 | Exponor, Porto

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De 4 a 6 de Dezembro, o Centro Cultural de Belém recebe mais uma edição do Stockmarket de Natal, mercado de liquidação de stocks que procura oferecer boas oportunidades de negócio na aquisição de produtos de qualidade com até 80% de desconto. 4 a 6 | CCB, Lisboa

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Star Wars - O Despertar da Força

A Lucasfilm e o visionário diretor J.J. Abrams uniram esforços para levá-lo novamente a uma galáxia muito distante com o retorno de Star Wars às telas do cinema.

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FUNFARRA ELETRÓNICA

A Fuse Lx – produtora de eventos noturnos alternativos – organiza, na passagem de ano, uma festa bem divertida para os amantes do groove eletrónico. Voz do Operário | Lisboa

Pista de gelo em Elvas

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A maior pista de gelo da Península Ibérica, com 800 metros quadrados, está de regresso ao Coliseu Comendador José Rondão Almeida, com muita diversão, para todas as idades. 18 a 7 de Janeiro | Elvas MELANCIA 85


make up Os jantares de Natal, a noite de Consoada, a Passagem de Ano. Sim, Dezembro é um mês duro mas nada que a maquilhagem certa não resolva. Acentua o brilho do olhar e cintila nos eventos festivos com as dicas da Cátia Fialho.

Maquilhagem por: Cátia Fialho | Fotografias por: João Portela 86 MELANCIA


1. Aplicar uma sombra castanho médio esfumando do côncavo para a pálpebra superior.

2. Marcar o côncavo com um lápis castanho escuro puxando um pouco em direcção a sobrancelha. Com um pincel pontudo esfume o lápis castanho de forma a obter um degrade entre o côncavo e a pálpebra superior.

3. Aplicar uma sombra dourado velho em toda a pálpebra móvel.

4.Aplicar o mesmo lápis castanho escuro na linha d’água e abaixo da mesma. Em seguida utilize um pincel pontudo para esfumar a baixo dos cílios inferiores.

5. Faça um eyeliner fino que acompanhe a puxada que fizemos na marcação do concavo.

6. Aplicar muita mascara e uns cílios postiços para o olhar ficar mais poderoso.

DICAS: 1. Antes de aplicar qualquer sombra passe em toda a palpebra um primer, este vai realçar mais as cores e fazer com que as sombras durem mais tempo.

2. Aplique um iluminador ou sombra iluminadora a baixo da sobrancelha e no canto interno do olho para criar pontos de luz e deixar o olhar ainda mais bonito. MELANCIA 87


anda POR AÍ YASMINE SANTANA IDADE: 24 anos PROFISSAO: Fashion Designer Encontrámos a Yasmine ao final da tarde, ao pé do atelier da Morena Jambo. Foto por: Marisa Inglês, amiga e colega de trabalho da Yasmine.

LOOK: Sweatshirt: Pull&Bear Camisa: Vintage Jegging: Primark Botins: Stradivarius O MEU HOBBIE É Gosto de experimentar diferentes tipos e modalidades de desporto, desde os mais radicais, aos que exigem mais concentração e força. Fugindo um pouco dos treinos convencionais. O MEU ESTILO É Nao gosto de dizer que tenho um estilo definido, pois isso limita-me. Visto-me conforme a ocasião, mas principalmente pelo meu humor. Posso acordar e apetecer-me estar completamente feminina e provocante, como posso acordar e querer sentir-me bonita da forma mais simples e natural. Mas uma coisa que para mim é fundamental, o “conforto” sou incapaz de usar ou vestir qualquer coisa que me faça sentir desconfortável. 88 MELANCIA


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Fred Almeida


Para “Preguiçoso-Lazyproductions” by: OKER

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