Livro de Contos 9º ano A

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DE TUDO FICA UM CONTO EXPOSANTA 2016 – 9º ANO



9º ano A DE TUDO FICA UM CONTO

Os alunos do 9º ano produziram em suas aulas de Língua Portuguesa um conto psicológico em que aliaram uma fotografia de suas memórias ao texto elaborado, criando um diálogo entre o verbal e o não verbal. Essa vontade de contar um conto está presente em muitos momentos de nossas vidas... Às vezes, temos muitas histórias escondidas para contar. Vamos conhecer um pouco desse gênero tão particular, e muito explorado pelos nossos queridos alunos, ao nos contarem um pouco de suas lembranças, emoções e dos medos mais profundos. Além disso, não podíamos deixar de valorizar nossa contemporaneidade tecnológica e publicarmos um pouco desse resultado em uma ferramenta tão inclusiva como é o livro digital.

Boa leitura a todos.

Professoras Cleide, Clara e Melina.


Deixe me ir Nunca me deparei com tal situação, sempre consegui me dar bem em tudo, sempre consigo achar uma saída; agora, aqui, parece que não foi a escolha certa: três da tarde, deitada no sofá, assistindo à sessão da tarde, e olhando a foto do meu presente de aniversário sendo desfrutado por Magali, minha irmã, e minha mãe. Aquela viagem era o meu sonho, não o dela! Um baita sol, mar, areia e alegria retratados naquela imagem, não pareciam sentir a minha falta! O que eu ganho com tudo isso? Uma camiseta do Uruguai? Não! Eu tinha que estar lá! Por quê? Sabe, não é minha culpa se o trabalho comunitário é chato! Já havia pessoas demais ajudando a reformar aquela escola, mesmo porque tinha pintado a minha unha, e feito progressiva, não ia estragá-las! Tudo começou com a aula de Biologia, nossa, como pode ser tão chata? Então, um milagre: o diretor entra na sala, fala que os castigos serão ações beneficentes, e todos, ao invés de irem para


a detenção, iriam reformar uma escola que "adotamos". O quê? Como ousam?! Prefiro um dia de aula de Biologia, um não! Sete! Tive que agir, eu NÃO ia! Preparei tudo, e aproveitei que Magali e Mamãe saíram para comprar coisas para o aniversário de 15 anos dela, e papai, em uma viagem de negócios, em Londres. Quando chegaram, cheias de sacolas, viram-me pálida, com febre, tinha vomitado e estava com "dores musculares". Tudo mentira! Escapei do trabalho comunitário e só esqueci um detalhe: minha viagem de aniversário com a minha mãe. O telefone toca: -Oi mana - vem do outro lado da linha. -Oi, como está aí? -Perfeito! Obrigada por me deixar vir no seu lugar! -Imagina! A mamãe ta aí? -Sim! -Posso falar com ela? Um minuto de silêncio... -Oi, Míriam! -Mãe? Que saudades! -Também! Você iria adorar! Te amo, mas tenho que desligar! Esqueci-me de fazer um pacote, então vai ficar muito caro! À noite, eu te chamo no Skype! Beijos! -Beijos! Novamente silêncio, só eu, Julieta e Romeu. Muitas saudades e arrependimentos me preenchendo. Agora estava doente, mas era de raiva, raiva de mim mesma. "Eu posso ir, não 'tô' tão mal! Até sexta-feira eu fico boa!" Mamãe não deixou, falou que eu tinha que descansar, falou que, depois, viajaríamos juntas e perguntou se Magali poderia ir no meu lugar. Deixei, não ia fazê-la perder a viagem. Mais fotos...não dá! Não aguentei! Chega o dia da viagem, deu vontade de chorar, confesso, mas engoli a seco e desejei uma boa viagem. Como minha mãe sabia que eu estava economizando havia dois anos, para comprar um celular novo, deu-me 300 reais, que era mais do que eu precisava, para poder comprar, e falou para eu ir comprá-lo quando me sentisse melhor. Estava chovendo, muito; levantei do sofá, Julieta tinha acabado de se matar por Romeu; coloquei um casaco em cima do meu pijama, peguei o dinheiro e coloquei em um saco plástico: eu ia para o Uruguai! Usei um pouco do dinheiro, que tinha a mais, para pegar um táxi para o aeroporto de Guarulhos. No caminho, achei um voo. Minha mãe iria voltar amanhã mesmo, vai dar tempo para aproveitar um dia! Combinei com a companhia aérea que eu poderia pagar a passagem quando chegasse no aeroporto. Quando cheguei, um frio na barriga: a chuva tinha apertado, o voo cancelado. Passei no Starbucks, peguei um fraputino de brigadeiro e um pão de queijo. Acabei o lanche e peguei outro táxi para voltar. Parei no shopping, já tinha dado tudo errado. Quando voltei para casa e vi a porta aberta, entrei correndo! Minha mãe tinha chegado! A chuva havia cessado e, no céu, um grande arco-íris. Corri para os braços dela, Magali também veio para dar um "oi". Então, sentamos e ganhei um monte de presentes, vi as fotos e rimos com as histórias. Quando mamãe me viu de pijama, com um casaco por cima, perguntou-me aonde eu tinha ido. Mostrei, então, meu celular, e no plano de fundo, uma foto, a única do celular, dela com Magali, na praia. Passamos a tarde arrumando as coisas, ouvindo música e falando muito. Eu tinha me curado! Beatriz de Souza Kulcsár



Tom Clancy´s - "O banco" Eu me arrependo de tudo até hoje, mas não voltaria para a favela em São Paulo. Moro no Guarujá, graças aos meus crimes, e, quando penso neles, sinto uma nostalgia enorme. Lembro-me do meu maior roubo a banco: meu "parceiro" fugiu sem mim e ainda ligou para a polícia; neste dia o céu estava fechado e eu sentia muito frio. Tudo estava planejado: Trevor estava no carro de fuga e eu ia entrar com as armas. Lembrome do arsenal desse dia, eu usava uma Scar-H e uma Colt-Phyton. O plano era simples: nós estávamos observando o Maze-Bank, (Maze-Bank era um banco novo, há apenas uma semana aberto) e eu iria entrar e fazer alguns reféns. Enquanto isso, Trevor iria desligar a luz do quarteirão. Tudo deu certo! Explodi os caixas, peguei o dinheiro. Eu queria mais, Trevor não aguentou esperar, provavelmente por medo e ele fugiu e chamou a polícia. Quando isso aconteceu eu estava pegando os pertences dos reféns, e a polícia chegou e cercou o banco. Eu fiquei desesperado, libertei dois reféns, ainda tinha quatro comigo. Fiquei esperando, esperei por vinte minutos, mas para mim, pareciam sete horas, pois eu estava muito nervoso. Então eu pensei em um plano sensacional. Eu libertei os quatro reféns e dei um tiro em cada, depois que eles passaram pela porta. Isso fez com que todos perdessem o foco e ajudassem os reféns. Aí saí correndo para o telhado e, de lá, pulei para outro telhado de uma casa vizinha ao banco. Fui pulando, de casa em casa, até despista-los. Em uma casa, de uma senhora, deixei vinte mil reais, peguei o carro dela e fugi para o Guarujá. Após fugir, resolvi tentar ganhar dinheiro de outra maneira, e esse novo trabalho foi isso que você acabou de ler! Maurício Santos


Pesadelo de Infância O sol estava suave, o dia tranquilo e feliz quando cheguei em casa. Queria poder ficar o resto do dia na escola, com aquelas pessoas incríveis, que conseguiam enlouquecer qualquer professor. Nos trabalhos até que fui bem, mas, e daí? Isso nem é tão importante assim. Depois de almoçar, fui para o meu quarto, checar minhas as redes sociais e mensagens. Permaneci até minha mãe chegar. Ela, com seu jeito estabanado, chegou meio afobada em casa e foi direto para meu quarto: —Oi, filha. Como foi na escola? —Ah, mãe, foi tudo ótimo! Lulu e Julia me contaram várias novidades sobre umas viagens que planejam fazer... —Bem, depois a gente conversa direitinho. Mas, antes, quero lhe fazer um comunicado! Marquei uma aula de ballet para você, daqui a uma hora. Meu rosto corou. —Eu não vou! —Eu não perguntei se é de sua vontade! Você vai! —Dona Elisa, já sou bem grandinha e já sei o que quero ou não! —Não me importa como você vai aceitar isso. Ou você vai ou aquela festa que você me pediu está acabada! Bufei e ela saiu do quarto. Droga! O que ela estava pensando? Abri minha gaveta e qual não foi minha surpresa quando vi um colã, uma meia e uma sapatilha, todos cor-de-rosa, comprados especialmente para aquele dia? Vesti aquilo, em frente ao espelho, e tentei arrumar o cabelo. —Viram que bujão entrou para a turma? —E vejam! Nem há um tamanho de colã que sirva para ela, de tão gorda! Risos, risos, risos. E agora, Gigi? Quem é a balofa e quem emagreceu? Voltando-me novamente para meu reflexo: uma porcaria estava meu cabelo! —Ei, você! Você mesma! Aonde a senhorita pensa que vai com esse cabelo parecendo um ninho? — Pegou uma piranha e prendeu todo aquele embaraço no topo da minha cabeça, para todo mundo ver— É bom que tenha um penteado decente para a próxima aula, como o de Gigi! Risos, risos, risos. Acontece que até eu, indo ao cabelereiro antes de todas as aulas, chegaria de cabelo perfeito. —É, como Gigi! - Gritavam em coro. —Ai! Meu dedo começou a sangrar. Também, minha mãe comprara o grampo mais barato. Depois de pesquisar como se faz um coque, saí de casa com o penteado perfeito. O sol que iniciara suave, agora estava mais intenso. Na rua, lojas e mais lojas me perseguiam, carros buzinando e a poluição me sufocando. Atravessei a rua, para onde havia sombra, e ficava minha loja predileta, a de CDs. Passei discretamente, com ar indiferente, bem devagar para apreciar a canção que estaria tocando. Quando a música começou. —Ei, fofinha! Fica entre a Gigi e a Gabi! Não! Você não está fazendo nada direito! Oh...inadmissível! Oh... que movimento grotesco! Mas quanta selvageria! — Vociferava—barriga para dentro! —Mas..., mas estou tentando! —É que ela é tão gorda que nem dá para colocar para dentro! Que sensação sufocante! Passo rapidamente, sem olhar para trás. O sol ardendo na rua e o calor do asfalto pareciam que iriam me evaporar.


Mais adiante, havia uma mãe, histérica, gritando com seu filho: —Menino malcriado! Está pensando o quê? Como ousa! Me aguarde! Em casa, veremos! Meu coração começou a me espremer, me espremer... —E como você acha que vai se apresentar, dançando desse jeito? Ah! Você merecia ganhar o Oscar por pior bailarina do ano e por aluna mais relaxada! Vocês não acham, meninas? —Sim! — Gritaram em coro. Ah! Quem me dera se aquele sofrimento acabasse naquele dia! E quem disse que minha mãe me escutava? O sol já não estava agradável, há muito tempo, mas agora estava me matando! Comecei a me sentir fraca e não estava enxergando direito. Naquele maldito dia nada podia ter sido pior! Estava horrível vestida de árvore. Todas as colegas eram fadinhas, e eu, árvore! Elas tinham uma coreografia e eu, de vez em quando, balançava meus “galhos”. Nada poderia dar errado, afinal não teria como uma árvore estragar tudo! Pelo menos foi isso que todos imaginaram. Era, enfim, o grande dia. Meu coração a mil, minhas mãos suando frio e minha respiração ofegante. Estava tudo ocorrendo bem, quando, já no palco, minha perna começou a formigar e não parava. Dei umas batidinhas, mudei de apoio, comecei desesperadamente a me mexer dentro daquele cubículo. Eu me mexi demais...mais do que devia...acabei perdendo o equilíbrio e caí com tudo em cima dos bailarinos, bem na hora do solo, a parte mais bonita do espetáculo. Buzinas, buzinas, buzinas. Abro os olhos e estou caída no meio da rua. Um carro que está prestes a me atropelar freia bruscamente. Com a ajuda de uma mão desconhecida me levanto e vou até a calçada. Viro me para trás para agradecer a gentileza, deparando-me com um belo rapaz. —Você está bem? Feriu-se? Precisa de um médico? - Deus, quantas perguntas! —Estou bem, obrigada. Só estou um pouco confusa, o que aconteceu? —Respondo-lhe todas as suas perguntas, se aceitar tomar um café comigo. Você tem algum compromisso? —É claro que não — respondo sorrindo. E então nada mais me importava... Apenas muito tempo depois, lembrei-me de meu compromisso, mas naquele momento, realmente, nada mais me importava. Ana Maria Lyra Furtado



Uma amizade para sempre Lá estava eu, em uma sala, com a diretora, em um dia frio. A sala escura, e não estava sozinho, meu amigo Guizinho também estava lá. Até que a diretora nos obrigou a falar. Então, comecei, não queria, mas tive que desabafar, pois era sério. Estávamos na aula, o céu nublado, prestes a chover. A classe estava desanimada e eu e Guizinho fazendo graça para a classe se animar. Porém, todos continuaram quietos, eu e Guizinho pensamos em algo, muito engraçado! Começamos a fazer barulho de pum, falei uma bobagem para o professor, que nos deu uma bronca, principalmente em mim e no Guizinho. Depois de um tempo, o sinal do recreio tocou e quando saímos da sala, Guizinho viu um muro, que dava para o estacionamento do colégio e, que quando éramos menores, pensávamos em pular pra fugir, pois não havia cerca de proteção. Então, Guizinho teve a ideia de pularmos o muro e irmos para a minha casa, já que meus pais estavam trabalhando. Acho que foi o momento de maior tensão da minha vida, pois, se eu pulasse, talvez pudéssemos ser pegos por rondas escolares e, se ficássemos, continuaríamos no tédio. Com muito medo, pulei. Havia um veículo da ronda escolar, mas conseguimos escapar. Guizinho começou a rir e eu também, chegamos em minha casa, ligamos a televisão, conseguimos assistir ao jogo. Daí, a empregada chegou e ficou espantada, pois ela nos ouviu falando que conseguimos dar o fora, mas ela não ouviu de onde demos o fora. Tivemos que mentir para ela não nos dedurar para nossos pais, mentimos dizendo que não teve aula. Mas por um segundo, pensei no que aconteceria no dia seguinte. João Victor Bocato



De braços abertos Estava deitado na minha cama, em meu quarto, sem fazer nada, e, sem querer, olhei para um retrato que estava em cima da escrivaninha, onde estávamos eu e minha família, no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Aquele foi um momento maravilhoso na minha vida. Tinha nove anos, meu irmão sete, minha mãe quarenta e seis e meu pai quarenta e quatro; estávamos no Rio de Janeiro, indo para o Cristo Redentor. Tínhamos acabado de tomar café da manhã na casa da minha tia Joyce, que morava lá, e nos disse que era um bom dia para ir ao Cristo, e pediu que tomássemos cuidado no caminho. Saímos da Barra da Tijuca para ir para lá, e sabíamos que demoraria bastante para chegar, ainda mais com o trânsito que estava. Enquanto estávamos no carro, pensava no que minha tia disse, e fiquei um pouco preocupado, pois o Rio de Janeiro é uma cidade muito violenta e tinha um pouco de medo de ser assaltado. Dito e feito. Estávamos já em Copacabana, quando três bandidos chegaram perto do nosso carro, um na frente, outro do lado e outro por trás. Susto e desespero. Ninguém sabia o que fazer. O tempo estava se fechando, a mata estava cada vez mais densa e parecia estar mais perto de nós. Os homens nos mandaram sair do carro. Fomos, lentamente, e com muito medo de morrer. Começaram a nos ameaçar, dizendo para dar nosso carro e todo o dinheiro que estava conosco, o que não era muito. Eles então pegaram nosso dinheiro e fugiram. Meu pai foi fazer um boletim de ocorrência no décimo terceiro batalhão da polícia militar do Rio de Janeiro. Chegando lá, meu pai conversou com o delegado e explicou toda a situação. Depois de muita conversa, graças à contribuição do meu pai e à competência da polícia militar, nossos bens foram recuperados e devolvidos para nós. No dia seguinte, já com o coração mais tranquilo, eu e minha família fomos finalmente tirar fotos no Cristo Redentor. Chegando lá, o tempo parecia estar mais limpo e a mata mais viva. Subimos as escadas e demos de cara com a sétima maravilha do mundo.

Bernardo Braga Ribeiro


Aquele foi o pior dia de sua vida Uma e meia da manhã, três amigos em um carro. Alta velocidade, gelo na pista. Música alta, muita bebida. Algumas horas depois, Mariana e Ron acordaram no mesmo quarto de um hospital, que nem ao menos sabiam qual era. O carro havia capotado. Muitas coisas passavam por suas cabeças. Onde está Diego? Ele estará bem? Por que estamos aqui? O que aconteceu? Foi então que uma mulher, provavelmente uma enfermeira, não muito alta e com um rosto redondo, entrou no quarto e pediu que a acompanhassem. Ela parecia preocupada e triste. Somente algumas palavras saíram de sua boca.


Os dois se levantaram, com dificuldade em razão de o corpo estar todo dolorido. Seguiram a mulher por corredores vazios e compridos. Pararam em frente a uma porta que se isolava das demais. Ela pediu-lhes que entrassem, sem fazer muito barulho. Assim fizeram e, aos poucos, puderam ver o que havia através da porta. Lá estava seu amigo, deitado, com alguns ferimentos na testa, parecia dormir. Aos pés da cama, o médico. — Com licença — sussurrou Ron Os dois entraram e, com um fraco aperto de mão, cumprimentaram o homem que estava em frente a Diego. — Fiquei sabendo que vocês estavam, há algumas horas atrás, com ele — virou os olhos para Diego. — Sim, mas só nos lembramos disso. Nem ao menos sabemos por que viemos parar aqui. —Bom, vocês sofreram um acidente na estrada e o carro capotou. Vocês estão bem, porém, seu amigo sofreu com o acidente. — O que aconteceu, doutor? O que ele tem? — Diego entrou em coma. Sinto muito, não há nada que possamos fazer, a não ser esperar. Lágrimas escorreram dos olhos de Mariana e Ron que, num forte abraço, uniram-se. Mariana se direcionou a Diego e deitou na beirada da cama. Segurou sua mão e posicionou a cabeça no peito do amigo. Seus batimentos cardíacos eram frequentes, porém fracos. Aquele foi o pior dia de sua vida. Estava muito calor, o dia estava lindo, o céu azul e a areia limpa e quente, seria só aproveitada por Diego e sua melhor amiga, Juliana. Os dois estavam sozinhos e, por isso, fizeram tudo que se poderia fazer numa praia. Tomaram picolé, construíram castelos e brincaram de rei e rainha. Seus pés deixavam pegadas na areia reluzente, enquanto corriam em direção ao mar. Um ouriço-do-mar os fez parar. Juliana pegou em sua mão o pequeno animal, preto, que se destacava na areia branca. Diego nem quis sentir em suas mãos os pequenos espetos do equinodermo. Em sua cabeça, ele seria capaz de engolir sua mão. Ele tinha medo de tudo. Dormia com a mãe, porque achava que um monstro surgiria e ela seria capaz de acabar com ele. Juliana, cuidadosamente, colocou o ouriço no lugar de onde o retirou e junto com Diego, olhou para o céu, que agora começava a ficar nublado. Os dois estranharam, mas isso não atrapalharia a brincadeira. Ela o puxou com um forte aperto de mão e ele o retribuiu. — Ele está bem, doutor! Ele consegue me entender! Acabei de perguntar-lhe se me entendia e me respondeu, dando um aperto na mão, assim como lhe havia solicitado! Felicidade e esperança encheram os corações de Marina e Ron. Os dois amigos entraram no mar. Jogaram água um no outro, cantaram juntos. O mar começou a ficar bravo, e Juliana, com um profundo mergulho, foi puxada, não sabia nadar e então começou a se debater. Diego, por impulso, e mesmo estando com medo, correu em direção à sua amiga, com muita dificuldade, pisou em pedras e forçou suas pernas, já que o mar o empurrava para trás. Quando finalmente conseguiu chegar perto de sua amiga, estendeu seu braço, mas uma enorme onda a engoliu, fazendo-a desaparecer em meio a tanta água. Diego voltou para a areia e sentiu alguns pingos de água em seu ombro, começava a chover. Lágrimas escorreram por suas bochechas sardentas. Mariana as enxugou e olhou para a janela que tremia em razão do vento forte. Sua amiga, agora, estaria em outro planeta, muito longe dele. Raios e trovões eram presentes, agora num lugar que Diego passou a odiar. Sentia-se culpado pela morte da amiga. Aquele foi o pior dia de sua vida.

Daniela N. de Figueiredo


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O amor que eu sinto por ti, eu vou passar para o meu filho. Em uma tarde de sábado, estava em casa, assistindo à TV. Eu e meu pai, ansiosos para ir à Arena que, segundo meu Pai, era um estádio onde havia luta para conseguir a vitória, e tinham que vencer, de qualquer jeito, para serem campeões, em cima de um rival. Para mim, o que iria acontecer seria uma luta, uma briga ou uma batalha. Eu via milhares de pessoas chegando ao monumento sagrado, gigante e muito bonito. Não é à toa que recebeu o prêmio de melhor estádio no ano de sua inaugurarão. A rua, vista de cima, parecia um campo cheio de grama verdinha, porque estava lotada de torcedores com camisas verdes, os mantos sagrados. Apesar do horário tardio da batalha, os torcedores iam, em peso, para a Arena, com rojões e bandeiras, esperando o ônibus do time da casa chegar para fazer a festa. Finalmente, quando os dois oponentes chegaram: um vestido de verde e branco, e o outro, de preto, (daí é que vem a cor preferida do meu pai, o verde). Prestes à entrada dos rivais à Arena, ambos, concentradíssimos, com um clima de tensão no ar, clima de guerra, quando não se poderia errar e nem perder. O de preto e branco havia dado uma irritada no oponente, de verde e branco, e esse estava com raiva; queriam entrar e destruir o adversário. Dentro da Arena, quando começou a batalha, o hino nacional foi substituído pelo hino do verde, isso mostra que seria quente a pegada, entre os adversários, muitas faltas duras e muito suor para conseguir a vitória. O canto da torcida não parava; os de verde cantavam sem parar e muito alto, incentivando os de verde e branco. Começou a chover, um pouco, na Arena, mas sorte que foi chuva passageira, sorte para os rivais, porque, para a torcida, pouco importava a chuva, já que a Arena era coberta. A chuva durou pouco e logo depois o céu, escuro, ficou estrelado. Meu pai é muito fanático, igual a mim. Eu consegui me controlar durante a batalha de rivais, mas meu pai, nervoso e tenso por conta da batalha, passou mal durante uns cinco minutos. Ficou com a pressão baixa. Eu perguntei se ele queria ir ao ambulatório da Arena ou se conseguiria assistir, até o final, à batalha dos rivais. Ele ficava cada vez mais ansioso, mais nervoso, mais tenso e fiquei com medo de ele passar mais mal (ou algo do tipo), ele estava quase chorando de emoção, porque o verde e branco estava ganhando e faltavam apenas cinco minutos para acabar, a emoção aumentava e a Arena explodia. O time de preto e branco teve uma chance, clara, de virar a luta, mas não aproveitou a grande oportunidade; logo em seguida, o juiz da batalha final dos rivais encerrou a luta e a torcida do verde, que estava em casa dentro da Arena, fez dela uma bomba explosiva de emoção, alegria, comemoração e cantoria. Todos começaram a gritar muito alto, comemorando. Graças a Deus, meu pai melhorou e logo já estava cantando e comemorando o tricampeonato, junto a mim e à torcida verde. Abraçado com a minha mãe, também na imensidão de beleza do Allianz Parque, tomada de fogos e bandeiras, cinquenta mil loucos e loucas. O melhor de tudo é que foi em cima do rival, Santos, que já estava cantando a vitória antes da partida. A resposta a eles é que quem ri por último ri melhor, e com o tricampeonato da Copa do Brasil 2015, o Palmeiras conseguiu vaga na Copa Bridstone Libertadores. A placa do Allianz Parque já estava atualizada; dizendo Palmeiras campeão da Copa do Brasil 2015, sobre o rival, o Santos. Parabéns, Palmeiras. Você tinha que ter feito a coisa muito bem, e fez: jogar futebol. Parabéns ao maior campeão nacional !!!! Dedley Nelson Gorayeb Filho.



O Pôr- Do- Sol Já era final de tarde, havia acabado de chover, eu estava sentada em um campo florido, que ainda apresentava um aspecto meio úmido por conta da chuva intensa. Também observava atentamente as belas orquídeas azuis serem levadas pelo vento que zunia em meus ouvidos, criando um leve som de chiado. Tinha meu caderno de desenhos em mãos e, nele eu desenhava diversas figuras abstratas, que se uniam e transformavam-se em rabiscos, sem o menor sentido. Até que algo me despertou, chamando-me extrema atenção: o esplendido pôr-do-Sol. Perdi um pouco de meu tempo reparando naquela imagem. “Como uma figura tão natural e simples poderia ser tão alucinante e encantadora ao mesmo tempo?” Eu me perguntava repetidamente. Após trinta minutos de uma intensa observação, senti uma certa tontura, o belo era exagerado e isso me encantara. Era um domingo qualquer, chato e entediante, até que meu pai deu-me uma notícia que me alegrara instantaneamente: iríamos à praia. Ficara tão feliz com aquela notícia, meu sorriso quase saíra da boca. Rapidamente, arrumei minhas malas, pegara todas minhas “Barbies”, meus baldinhos de areia e, finalmente, todos os meus biquínis de princesa. Estava eufórica. Olhei o relógio, os ponteiros indicavam 10h32min. Já estávamos de saída. Meu pai nos aguardava no carro, arrumando todas nossas centenas de bagagens. Eu, como sempre, animada além da conta, entrara no carro correndo. Queria muito ir à praia. Ela me alegrara, fazia sentir-me bem. Depois de alguns segundos de espera, meu pai dava partida no carro e, assim, fomos viajar. Eu, como de costume, quando saía de carro, deitava minha cabeça no banco de trás do carro, colocava meus pés na janela, e ficara observando as nuvens ( que ainda não eram tão poluídas naquele tempo ), imaginando várias formas diferentes para elas. Era um pouco estranho, mas eu gostava. Era uma menina muito nova, tinha em torno de uns seis ou sete anos, não entendia muito da vida ainda, gostava bastante de animar as pessoas em torno de mim, pois eu nunca ficava triste ou algo do tipo. E, pelo fato de eu ainda ser “ um bebê “ ainda não entendia assuntos complexos (política, música, cultura etc. ) Haviam se passado umas 2 horas. Iálin



Quando eu fui para a Croácia... Não desta última viagem, da outra. 2014, o ano da Copa do Mundo no Brasil. Era 4 de julho, dia de jogo do Brasil, dia da Independência americana, dia da minha tão esperada viagem e dia de muitas outras coisas para muitas outras pessoas. Ia à Croácia, um lugar pouco conhecido, porém, muito bonito. Eu e meu pai, mesmo estando no verão, sentíamos frio, pois acabávamos de cortar o cabelo e, portanto, estávamos quase carecas, principalmente meu pai, devido à sua idade e seu crescimento de cabelo respectivo. Estávamos muito ansiosos para chegar à Croácia, porém, teríamos que aguentar 12 horas de voo até Frankfurt e, depois, mais uma hora e meia para chegar na nossa tão esperada capital, Zagreb. O voo para a Alemanha foi um sucesso, ou seja, nada de problemas por enquanto. Acabávamos de chegar de um voo de 12 horas muito cansativo. Não sou aquele tipo de pessoa que poderia dormir no pico do Everest em pé, sem estar morta, é claro. Então, tinha virado a noite assistindo a filmes, ouvindo uma playlist repetida com músicas que me causavam desgosto e estava desgastado e com fome. A fome seria mais fácil de resolver, precisava, apenas, de comida. Estava na Alemanha, então, pensei: ‘A famosa salsicha alemã, nada melhor do que ela numa hora como essas e, além disso, posso acha-la em qualquer lanchonete neste aeroporto. E foi exatamente assim. Parei na primeira lanchonete que vi e pedi uma salsicha de frango. A salsicha começou a revirar em meu estômago. Parei de comê-la na segunda mordida e alertei meus pais sobre a minha dor. Fomos, mesmo correndo o risco de perdermos o voo, à enfermaria no saguão do aeroporto. ‘Caros passageiros, aqui em Toronto faz 40ºC, o céu está limpo e não há indícios de chuva pela tarde. Tripulação, preparar para o pouso. ’ A enfermeira me diagnosticou, visualmente, devido à sua limitação médica por ser apenas uma enfermeira de aeroporto, com uma doença chamada geca. Seus sintomas são, principalmente, mal-estar e diarreia. Sua recomendação era não viajar, mas ficar em um hotel nas redondezas até a doença passar. Não gostamos dessa sugestão, portanto ignoramos. Não tínhamos tempo de férias e nem dinheiro suficientes para bancar essa opção. Portanto, prosseguimos com o plano inicial. Não ficamos muito preocupados com a doença, já que ela poderia ser curada em 30 minutos com o remédio receitado por ela, que compramos na farmácia ao lado da enfermaria. Minha dor ia melhorando conforme o voo ia seguindo no pequeno jato da Croatia Airlines, a principal companhia aérea do país e uma das poucas a aterrissar ou decolar em um dos aeroportos da Croácia. ‘ Bem-vindos ao aeroporto Pearson em Toronto, suas bagagens estarão disponíveis na esteira de número três. Muito obrigado por escolher a Air Canada para sua viagem. Eu e a tripulação desejamos uma ótima tarde para todos.’ O voo ia terminando, já estava melhor e fiquei muito melhor depois do anúncio de chegada feito pelo comandante. Poderia, enfim, aproveitar minha viagem depois de uma grande tristeza por talvez não aproveita-la. Chegando ao aeroporto de Zagreb, pegamos nossas malas e chamamos um táxi em que o motorista falasse inglês. A alta imigração de povos vindos da Europa já havia iniciado, portanto, não foi surpresa quando descobrimos que o motorista do Táxi era de Istanbul. Como um indiano, tinha uma pronúncia do inglês um pouco difícil de entender, mas era uma oportunidade para praticá-lo. O caminho até o hotel foi muito educativo graças à formação em turismo de nosso taxista. O primeiro ponto dessa viagem educativa foi na morada da presidente croata, a Igreja de São Marcos. A igreja era esplêndida, tinha um telhado colorido com dois brasões lado a lado. O brasão da direita representava o maior estado da Croácia, a Dalmacija. O outro representava os outros estados croatas. Depois, vimos o Teatro municipal de Zagreb, uma construção moderna com telhados verdes, muito bonita, e uma grande, e muito frequentada, praça em frente. Essas viagens me dão saudades nesses tempos de crise. Uma hora você está em uma viagem muito empolgante e, no outro, você está sentado no sofá de sua casa, com um computador em mãos, digitando uma redação para uma exposição na sua escola, relembrando uma viagem esplêndida e chorando, pois você não terá uma evolução cultural com viagens para lugares como esse. Esse tipo de lugar que te ensina um pouco de história, dá novos valores e mostra como viver. João Victor Di Giacomo Ferreira



O nosso defeito Depois de fazer toda a lição, não resisti a dar uma olhada no meu celular, para esquecer um pouco de todas aquelas fórmulas de matemática. Peguei meu celular, sentei no sofá e, no mesmo instante, meu cachorro se deitou ao meu lado, fazendo graça para que eu coçasse sua barriga. Assim o fiz. Olhei meu whatsapp: nada. Vi meu Skype: nada. Minhas chamadas perdidas: nada. Resolvi editar as fotos que eu e Helena havíamos tirado com as sapatilhas de ponta. No meio de tantas fotos, acabei me perdendo. Vi fotos com Bruna e Paola, tiradas na AV. Paulista e até fotos de minha última viagem com Gi, para Juquehy. Então eu a vi e percebi que havia me perdido completamente. Achei que tinha apagado aquela foto e tudo! Mas claramente não apaguei... Eu ainda esperava suas mensagens e possíveis ligações, mas elas não chegavam nunca e meu orgulho e raiva me impediam de tomar a iniciativa. Tudo o que eu queria naquele momento era tê-la para sempre ao meu lado e sua amizade até a faculdade, ou quem sabe, mais tempo do que isso. Éramos confidentes uma da outra, tudo o que dizíamos no quarto, sejam segredos ou confissões, só nós e as paredes sabiam. Tínhamos brigas bobas até para crianças de sete anos. Ainda acho que esse é o nosso problema e, provavelmente, sempre será: damos muita importância para acontecimentos que não a merecem. Eu voltaria atrás e faria diferente, se pudesse, mas ela não. Isso é o que mais me irrita! Eu sempre tento voltar atrás, e consigo, sou flexível, deixo meus sentimentos de lado para que os dela se imponham. Esse é meu problema e o dela é que ela não volta atrás. E, quando volta, não é a mesma coisa. Uma chuva forte cai, com raios e muito vento, fazendo com que as luzes se apaguem. Não tenho lanterna, só a luz de nossa foto favorita iluminando a escuridão. Fui até meu quarto e remexi em minha gaveta atrás de uma lanterna. Tateei o interior da gaveta às cegas e senti um objeto, pequeno e gelado, encostar em meus dedos. Um pingente de pedra que havia dado a ela. — É lindo. —Gostou? —Sim! Onde comprou? —Quer usá-lo? —Sim! —É seu. —Obrigada! Sério, eu amei. Eu amava quando a deixava feliz, ela abria o maior sorriso que tinha e pulava de felicidade Era muito engraçado, eu ria demais com ela. Éramos duas idiotas rindo do vento, eu amava ser idiota com ela. Minha melhor amiga... Ou não. A luz voltou e consegui ver, claramente, o pingente de pedra branca, tão lindo, que ela havia me devolvido. Talvez porque não quisesse mais lembrar. Eu também não! Mas lembrava... Se eu queria tanto me desprender dela, por que ainda lembrava? De toda a nossa amizade ficou um pouco e esse pouco mexia comigo. Desbloqueei meu celular, fui até meus contatos e encarei seu número. Sentei na cama e, antes que me arrependesse, cliquei em ‘’ligar’’ e escutei a ligação chamar: uma vez, duas, três vezes. E quando a ligação ameaçou cair, ela atendeu e disse com uma voz suave, porém surpresa: —Ana? Alô. Foi a primeira vez que ouvi sua voz em dois meses. Desliguei. Uma onda de confusão me invadiu e não sabia mais o que iria fazer em seguida. Pensei na possibilidade de ela me ligar de novo e desliguei meu celular. Fui até a janela e observei os rastros da tempestade no céu azul marinho e laranja do final da tarde, deitei-me no sofá e fiquei imaginando se ela viria falar comigo amanhã e nós iríamos nos entender. Provavelmente não, mas gostava de imaginar que sim.


LetĂ­cia Festi Pereira


Mudanças Um silêncio permanente no carro; lá fora, uma fina garoa no bairro de Perdizes e eu a 20 minutos da nova escola. Minha respiração fria e lenta, além do sono, por dormir tarde e acordar sem o amanhecer. Minha mente, ansiosa e receosa, um lugar novo, pessoas novas e três anos fadado a conviver com isso. Eu indo para a quadra jogar bola e todo mundo com pressa. — Vamo logo.... quero joga! O jogo em andamento e eu distraído olhando para o ar, pensando, o dia em que aquele jogo, e aqueles amigos mudassem, porém não tinha perspectiva de mudar de escola, tudo muito bom, não haveria motivo. Os xingamentos e palavrões eram constantes durante o jogo, porém, depois, todo o mundo era amigo, isso me encantava diante de tudo que passa na televisão, brigas políticas, esportivas, étnicas, entre outras, mas, enfim, lembranças boas acabam. — Tão brigando de novo! — Novidade, o cara sempre zoa os caras novos. É, brigas eram constantes, não por futebol ou diferenças, e sim pelo bullying que alunos novos sofriam. Eram humilhações, xingamentos e raiva, que combinados causavam essa situação. Todos os lugares têm seus defeitos, mas eu nunca tive problema, pois entrei muito novo, com 5 anos, ou seja, 9 anos de escola e amigos e tudo isso em um piscar de olhos mudou. — Vamo! O filme vai começa! — O outro lerdo não chega! — Vamos logo, é pré-estreia, já tá lotado. — Ok. To indo. Meus amigos, esses eram parceiros, podia confiar. Nesse dia, conseguimos ingressos para a pré-estreia de Capitão América. Isso era a melhor parte da escola, amigos, já incontáveis vezes, saímos juntos, incontáveis vezes fizemos o trabalho de escola um do outro e incontáveis vezes brigamos, porém tudo se resolvia em 5 minutos. Minha escola, minha não, mas parte de mim. Tudo naquela escola me encantava, prédios, quadras, pessoas, amigos, inclusive alguns professores, tudo era muito bom e esses fatores que me possibilitaram a escolha, a escolha de sair, apesar de constantes arrependimentos. Lembranças, diversas lembranças me veem a cabeça, cinema, brigas, jogos e as emoções sentidas nesse local, tão marcado na minha vida, algumas boas, outras ruins, porém isso me fez crescer, amadurecer e tudo isso para ir embora posteriormente. —Chegamos... Peguei aquela mochila nova, me despedi de meu pai, observei o sol terminando seu trabalho de secagem da água e fui embora, pois ainda teria que criar novas lembranças para lamentar e rir no futuro. Boa sorte, para mim. Luiz Guilherme D. N. Bassi



Triste adeus Aquele quarto, justamente naquele quarto, em que tudo tinha acontecido. O quarto não era feio, mas também não era bonito. O tempo lá fora estava frio, era noite e eu, toda agasalhada e, se aquilo não tivesse acontecido, minha vida seria melhor, seria diferente. Como iria saber... —Vamos.... Fiquei lá, consciente, mas, ao mesmo tempo, inconsciente. Ela chegou mais perto, mas queria ficar sozinha, ela não entenderia.....Eu também não conseguia entender, tudo ficou confuso dentro da minha cabeça, pessoas começaram a chegar, tristes. Estava em casa quando ela chegou, toda de preto, e perguntei onde ele estava. Ela não respondeu, o que era um ambiente ensolarado, logo começou a se tornar triste e chuvoso. Aqueles dias em que ele me acolhia de meus medos, não iriam mais existir. Por que, por que ele? Quem eu teria para me aconselhar e ajudar nas lições? Minha vida tinha acabado... Minha infância não continuaria a mesma, naquele momento tinham retirado uma parte do meu coração. Aquilo não fazia sentido na minha cabeça: rezava, rezava e de tantos milagres no mundo não poderia ter acontecido mais um? Ele, que era tão gentil, bondoso, boa pessoa, carinhoso, tinha família..., eles, nós sofríamos sua perda. O meu mundo... tinha acabado. Momentos felizes ficaram para trás, ele foi para o hospital, estava muito mal. Câncer, fôra diagnosticado e já havia se manifestado. Ele voltou para casa, ficou bem por muitos anos e então... parou, parou de falar, mexer o lado direito do corpo, havia perdido o movimento, uma parte de seu cérebro já havia parado de funcionar. Ele vai ficar bem? Muitas viagens... Muitas perguntas... Será que quando ele melhorar e voltar a falar, vai contar um montão de coisas que guardou durante todo esse tempo? Mas, essas perguntas não tinham mais como ser respondidas. A tristeza era pouca, mas persistia lá, cada vez se intensificando mais, conforme os acontecimentos. Mas... aquilo havia mesmo acontecido? O enterro, o funeral! Não queria ter uma última visão dele feio, morto, não queria ver pessoas tristes e chorando, pois isso só aumentaria mais a minha tristeza. Mas eu também queria apenas dizer adeus, será que eu conseguiria dizer adeus? Conseguiria dizer adeus a uma parte de minha vida, uma parte de mim? Minha vida inteira passava dentro da minha cabeça e só não conseguia pensar em como seria, e eu não conseguia ver uma vida sem ele, não conseguia imaginar....Eu estava passando muito mal, todos de preto, tristes, como havia imaginado. Na noite anterior, tinha vomitado quatro vezes e ainda estava me recuperando do meu mal-estar, não estava completamente boa. Havia muitas flores, lindas! Não sabia que era assim, eu nunca tinha ido a um funeral; muitos ramos de flores, cada um enviado por uma pessoa ou empresa, um, enviado pelas irmãs Marcelinas, outro era nosso, da família mais próxima, e muitos outros. O funeral era de corpo presente e fiquei olhando para aquele rosto familiar que, naquele momento, estava tentando me fazer rir, mas que dali em diante seria apenas uma lembrança que naquele momento era muito forte e dolorida. Aquela ferida ainda estava aberta e iria demorar um longo tempo para cicatrizar. O cemitério era muito bonito, muito diferente de todos os outros que havia visto, não era aquela coisa cinzenta, feia, morta, era mais para algo vivo, cheio de alegria, o que, para mim, não fazia o menor sentido. Era verde, florido, e mesmo assim, não aceitava a ideia de deixa-lo ficar lá. Senti que as lágrimas iam sair e saí, correndo para o banheiro e desabei. Comecei a passar mal e a amiga da minha mãe me levou para casa. Eu fui para o funeral, mas não consegui ficar para o enterro, consequentemente a amiga da minha mãe também não. Senti-me um pouco culpada, mas não disse nada. Quando cheguei em casa, minha irma estava lá, brincando com sua amiga.... . Começou a trovejar... Como ela poderia estar daquele jeito, em uma hora daquelas? Como poderia estar feliz? Naquele momento, eu não compreendia que ela estava apenas tentando esquecer seu sofrimento, e eu...com inveja dela, por estar alegre, mesmo em um dia cinzento. Começou a chover, chover muito. E eu compreendia agora que sempre apareceriam pedras em meu caminho e, naquele caso, até montanhas, mas eu teria que ultrapassar, contorná-las e seguir em frente, pois a vida continuava, independente do que acontecesse. Eu podia ficar ali, parada, em frente ao problema ou seguir em frente. Era minha escolha. E eu escolhi seguir em frente, estava começando a dizer adeus. Maria Julia Magalhães de Almeida



Nostalgia em 2 rodas Todos os finais de semana, eu e alguns amigos combinávamos de andar de moto. No Rio de Janeiro, há vários lugares para isso. Às vezes, saímos em quatro pessoas e vamos a 40km/h, durante horas, sem parar, e, uma vez, um desses meus amigos pegou a moto que o pai dele não lhe deixava pilotar, por ser muito rápida. Ele pegou 60km/h e caiu. Na mesma hora, desmaiou e ficou imóvel, durante um tempo, e a moto ficou deitada do outro lado. Por um momento, ficamos desesperados, sem saber o que fazer. Se nós chamássemos a ambulância, os pais dele saberiam que ele pegou a moto sem pedir permissão, escondido, e nunca mais o deixariam pilotar novamente. Foi então que decidimos ir à casa de um amigo próximo. Assim que chegamos lá, resolvemos que era melhor leva-lo para o hospital, já que ele não havia acordado desde então. Ligamos para os pais dele e eles foram até o hospital. Assim que ele foi atendido, o médico disse que, se ele não recebesse ajuda médica em uma hora, poderia ter morrido, já que, na queda, havia rompido um vaso do cérebro. Após a saída do hospital, ele já estava bem, mas ficou sem andar de moto por um longo tempo. Nós já estávamos andando no mesmo lugar em que houve o acidente, e havia três garotos da nossa idade, um deles caído no chão e a moto jogada longe dele. Paramos e ajudamos. Eles haviam cometido o mesmo erro que nós, não queriam ligar para os pais dele, mas contamos nossa história. Se não fosse assim, o garoto talvez não teria conseguido sobreviver à queda. Pedro Pelaes



Amigas para a eternidade Muitas pessoas têm uma amiga que conhecem desde que se conhecem por gente e comigo não foi diferente. Seu nome é Fernanda, é filha de uma amiga da minha mãe e, por isso, nós nos conhecemos desde bebês. Sempre nos demos bem, estávamos sempre juntas, nos divertindo; ela sabia de todos os meus segredos e eu, os dela. Com a Fê, tudo era mais fácil: ela me apoiava quando eu precisava e curtia a vida ao meu lado. Porém, eu não conseguia imaginar que apenas alguns dias poderiam estragar uma amizade de doze anos. Tudo aconteceu em um feriado, quando fomos juntas à praia. No início, tudo foi muito divertido, o sol brilhava, íamos ao mar, à piscina, tomávamos sol. Então, quando estávamos andando pela praia, o conhecemos, um garoto lindo e simpático. Na hora, eu e minha melhor amiga sentimos algo por ele; no começo, estava tudo bem, nós duas apenas esperávamos para ver qual de nós ele iria escolher. Mas o garoto não escolheu apenas uma de nós e, em vez de percebemos que a atitude dele era errada, brigamos por ele. Após muita discussão, paramos de nos falar e essa foi a última vez que a vi. Um dia, minha mãe disse que iríamos à casa da Fernanda e nessa hora fui consumida por vários tipos de emoções. Não sabia ao certo, se a noticia me animava ou entristecia, porém, com certeza, estava ansiosa. As minhas opções eram ir e ignorá-las, ou ir e resolver essa briga boba, que nunca deveria ter começado. Meu nervosismo está no máximo e a dúvida sobre o que fazer estava me consumindo. Cheguei à casa dela e aquele corredor sombrio, vazio, que lembrava uma espécie de labirinto, levando a uma porta branca. No momento, meu maior medo era vê-la aberta, e eu sabia, no fundo, que era inevitável; na hora em que nos olhamos, uma diretamente nos olhos da outra, pude ver que ambas estávamos arrependidas. Começamos a chorar e nos abraçamos. Depois disso, ficamos amigas como sempre fomos, e prometemos, uma para a outra, que nunca mais brigaríamos por um motivo desnecessário como aquele.

Rafaela Lopes



A escolha errada Era um dia quente, casa de praia, domingo de almoço familiar. Esse seria diferente. Sophia estaria lá. Minha prima que não vejo há 4 anos. A última vez em que nos vimos, tínhamos 12 anos. Sophia tinha ido passar um tempo com seu pai, que não estava muito bem. —Stella, olha o que eu achei! Uma foto de quando éramos pequenas, na praia! Sophia montou um “castelo” de areia com nosso balde. Fiz uma estrela em cima. Depois, derrubamos e fizemos outro. Paramos para comer um sanduíche que trouxemos de casa. O sol brilhava muito naquela tarde, sem nuvens, mar calmo. Duas ou três da tarde. —Stella, tenho que te contar uma coisa. Mas você deve jurar que não vai contar pra ninguém. —Sem problemas! Pode me contar. —Então... Na casa do meu pai, tinha um menino que sempre gostou muito de mim. Nós ficávamos escondidos. Até que um dia, tivemos uma relação mais íntima e... —E...? —Estou grávida. Mas, isso não é o maior problema. —Como assim, não?! —O menino com quem me envolvi é traficante de drogas. —Meu Deus! Eu sinceramente não sei o que dizer. Sophia chorava, estava em prantos. Na hora, pensei em tudo, até em remédio para aborto. Tudo mesmo. Mas não o faria. Fomos até a janela, para esfriar a cabeça. O tempo fechou. As gotas de chuva caiam sobre nós e se misturavam às lágrimas de tristeza de Sophia. Saímos do quarto e fomos até a cozinha, onde toda a família estava conversando. A mãe de Sophia também estava lá e Sophia iria contar-lhe: estava com medo de sua reação, mas não dava para esconder aquilo por muito tempo. —Mãe, preciso te contar uma coisa. Mas antes, quero te pedir desculpas pela filha que ando sendo ultimamente. Por tudo o que fiz de errado. Mas também quero te agradecer por tudo o que você fez por mim. Lamento em dizer, mas estou grávida. A primeira lágrima rolou pela pele lisa da mãe de Sophia. —Ele é traficante de drogas. Conheci na casa do meu pai. Envolvi-me com ele e depois de um tempo nos relacionamos mais intimamente. Sua mãe ficou destruída. Para ela, era o fim do mundo: sua filha, grávida de um traficante! A família era muito tradicional, logo, sua filha não iria, de maneira alguma, dar à luz aos 16 anos. No dia seguinte, sua mãe entrou no mercado negro, pela internet e comprou um remédio para aborto, que chegou em 2 dias. Sophia tomou. Mas, depois de uns dias, ela passou muito mal, todos achavam que era natural da gravidez. Porém, as dores sentidas por ela não eram normais. Sua mãe a levou ao médico. Ela ficou 2 semanas internada. Seu caso era grave. E eu, tão besta, não fui vê-la antes de a tragédia acontecer. Morreu tão nova. Sua culpa ou de sua mãe? Raíssa de Sousa Santos



Viagem em família Era um dia nublado, e lá estávamos eu, minha irmã, minha mãe, prima e avó; indo a caminho do Porto de Santos para embarcar em um navio, até chegarmos em Santos, demoraria um pouco. Decidi dormir para passar o tempo mais rápido, então, quando eu acordei, já estávamos num calor danado, e o nosso carro em uma rua que era pertinho do mar, fiquei muito feliz por saber que chegaríamos no porto em uns 10 minutos e, enfim, iríamos ver o navio que tanto esperamos. Os 10 minutos se passaram num flash de tão ansioso que eu e minha família estávamos. Quando chegamos, descemos do carro e fomos direto deixar nossas malas para colocarem no navio que ainda não conseguíamos ver. Deixamos a mala e tivemos que esperar em uma fila enorme, minha avó nem precisou esperar nem um segundo, pois ela é idosa e tem preferência. Após uns 40 minutos, conseguimos entrar em um ônibus que nos levou até o navio, que por fora, com certeza, foi um dos meios de transporte maiores e mais bonitos que já vi na minha vida. Assim que entramos, ficamos boquiabertos de tão maravilhoso de que era o navio. Em seguida, fomos comer no restaurante do navio, já que estávamos morrendo de fome, era tão grande e cheio de comida que eu parecia uma criança em um parque de diversões. Comemos tanto que não iríamos nem mais jantar naquele dia. Fomos dar uma volta no navio para conhece-lo melhor, e também fazer a digestão, e depois ao nosso quarto para ver como era, o que não era nada comparado ao navio, e cansados, fomos descansar um pouco nas camas. Levantamos da cama, então eu tive a brilhante ideia de irmos na piscina brincar e relaxar um pouco. Depois disso, resolvemos tomar banho e nos trocar para irmos ao espetáculo que ocorria toda noite antes de nosso jantar. Após o espetáculo, eu estava cheio de fome e minha família também, então fomos ao restaurante que era diferente do almoço, porém melhor, mais chique, comemos e conversamos a respeito do que estávamos achando do navio. Acabamos de comer e fomos nos trocar, eu, minha irmã e minha prima, para irmos onde ficava o pessoal da nossa idade, que era o espaço teen. Quando estávamos indo, eu quis dar uma de espertão e fazer uma competição para ver quem chegava primeiro no espaço teen que era no 16°andar, foram elas para um lado e eu para o outro, caminhos diferentes para ver quem chegaria primeiro. Nem me lembrava de onde vim e nem sabia em qual parte do navio eu estava, então continuei andando até que eu cheguei aonde ficavam as piscinas e lá estava um breu que eu não conseguia enxergar nada. Comecei a correr procurando alguém ou algum lugar, mas eu não conseguia achar ninguém, e a cada segundo que passava, eu ficava mais aterrorizado. Comecei a correr, cada segundo que passava ficava mais frio. Tentei ligar para minha mãe, mas só caia na caixa postal, começou a surgir um barulho muito alto do que parecia de canos batendo no chão. Então, eu me escondi, com medo, pois além desse barulho, uma voz gritava meu nome, e eu pensei ..... sei lá .... que fosse, talvez.... um mostro de duas cabeças...... Fiquei onde estava escondido e esperei aquilo passar, mas não passava. Levantei um pouco a cabeça para ver o que era, mas não consegui ver, porém, acho que a coisa tinha me visto, pois ela vinha na minha direção. Comecei a pensar na minha mãe e achar que eu estava prestes a morrer. Então virei para a parede e fechei meus olhos, e uma mão me tocou e gritou: Raphaellllll.... Descobri que o monstro era o mesmo de sempre, minha irmã, que sempre me inferniza, estava me procurando. Ouvi uma enorme lição de moral, para não fazer mais esse tipo de brincadeira, então voltamos para o quarto e finalmente pudemos dormir. Raphael Ferreira



Demônios de verão Juro que queria superar esse trágico passado, mas, ao sair do avião, e começar a ver aquelas máscaras, as pessoas parlando aquela língua que nunca compreendi direito, remeteram-me até aquele momento fatídico que, a meu ver, nunca vou superar. Era noite de sábado, quando eu e meus pais chegamos naquela bela cidade, composta por ruas tortuosas e de canais que encobriam a geografia do local. Estávamos indo em direção ao hotel, com esperanças de que aquela viagem fosse inesquecível, e que enfim, estreitasse nossos laços familiares. Quando chegamos lá, logo que o recepcionista nos deu a chave de nossos quartos, partimos para nossas camas, ao encontro de nossos tão desejados sonhos, que tardaram para aparecer graças a um atraso do voo. Foram tão almejados. Eu sonhava com as felicidades que essa viagem poderia me trazer, e esperanças de que, a partir daquele momento, tudo mudasse para melhor, e de que tudo que tinha ocorrido naquele passado assombroso desaparecesse para todo o sempre. Depois de dormir, nós tomamos nosso café da manha, incluso na reserva, e fomos conhecer aquela cidade cheia de maravilhas, distinta das demais. E foi naquele momento, naquele instante muito marcante, quando meus pais começaram a olhar para aquelas vitrines estupefatos, em que aquela multidão começou a me sugar para longe de meus pais, para a perdição. Foi nas ruas em que eu aprendi a importância dos meus pais, a dificuldade de estar só, e o medo da polizía, que não parava de gritar por meu nome. Aqueles homens vestidos de azul, falando meu nome como se eu fosse um condenado, um fugitivo da lei, assustaram-me de uma forma que não posso descrever, que, por pura ingenuidade infantil, me fizeram correr o mais longe o possível deles. E era com esse temor que passava as noites entre as gôndolas, e de dia, eu driblava “La polizía” pelas ruas tortuosas e estreitas daquela cidade que me marcou eternamente. A cidade estava cheia, as pessoas tumultuavam todo o lugar a que iam, com todas aquelas máscaras, assustadoras, aqueles demônios que me atormentavam, sem descanso, e que, em qualquer momento, dariam-me um bote mortal, e, enfim, dariam fim a essa louca aventura, acabariam com esse sofrimento que atormentava minha alma sedenta por carinho e companhia. No meio daquelas pessoas, falando “scuzi” e “vincit”, a cidade começou a alagar, uma tempestade que nunca vi antes. Os canais começaram a se encher, e as pessoas, abraçadas e unidas, começaram a entrar nas lojas, fazendo aquela multidão se dissipar e, ali, eu me vi mais sozinho ainda. Era pelas ruas, vazias e escuras que eu andava, com fome, com sede, com angústia e dor no coração, e zanzava, à procura de um beco coberto, o qual, encharcado, consegui encontrar. Quase morto de fome, deitei-me nos becos infestados de ratos e, aos poucos, comecei a me acalmar, sensação dissipada por um grupo de mendigos que, com suas faces cobertas de cicatrizes, começaram a andar até mim. O desespero voltou a tomar minhas entranhas, e, a cada suspiro que dava, os homens amedrontadores chegavam mais perto, e meu medo cada vez maior. E foi lá, naquele momento em que o monstro de camiseta azul apareceu no final do beco, e foi ali que eu tive de fazer a escolha mais difícil da minha vida. Eu estava paralisado de medo, minhas pernas não se moviam, encontrava-me em apuros, amedrontado e perdido, mas, quando o mendigo chegou perto de mim, ergueu suas pálidas mãos sobre meu rosto, em uma dura decisão súbita, corri o mais rápido que pude, até o final do beco, até os braços do policial. Depois dessa difícil escolha, o homem me levou para o departamento de polícia, onde achava que iam me prender pelo resto de minha vida, mas, como uma enorme ironia, o homem me levou até uma sala clara e limpa, ao encontro de meus pais. E assim, me senti seguro, feliz e aliviado por, finalmente, estar nos braços daqueles que eu amo. Victor Hugo Moreira Gomes


BOAS LEMBRANÇAS “Passageiros do voo 2417, da British Airways, com destino à Inglaterra, embarque imediato”. Como estou ansioso! Não vejo a hora de entrar no avião. Cada passo que damos, cada fila, uma penitência! Parece que nunca chegaremos... Finalmente, no avião. Aquele cheiro das poltronas, o barulho crescente dos bagageiros se fechando, a voz robótica do piloto, lembram-me das melhores viagens que havia feito. Mas há uma coisa, uma lembrança que me incomoda. E, ao mesmo tempo, satisfaz-me imensamente, mas não me recordo do que pode ser... Talvez um pensamento vazio, ou alguma lembrança passada. Talvez... Estávamos em Roma, Itália. Meu avô caminhava com um enorme mapa nas mãos, completamente concentrado. Eu estava fascinado por aqueles monumentos centenários, enormes, colossais. Eu era uma pequena formiga numa imensa floresta. “Decolagem autorizada”. Fomos andando. Meu avô, com os olhos vidrados no mapa; eu apreciava cada pedrinha que via na calçada; amava tirar fotos, registrar cada edifício, mesmo que em ruínas, como se fosse esquecer de sua beleza, quando parasse de apreciá-lo. Minha mãe, preocupada como sempre, puxava-me para perto dela, sempre que eu ficava a alguns milímetros para trás. Meu irmão, no


auge de sua infância, não parava de fazer perguntas estúpidas e sem sentido, além de esbarrar no meu calcanhar a cada passo dado. -Quando vamos ver a torre Eiffel? Aqui era a casa de Pedro Álvares Cabral? Estou com sono, estou com fome, estou cansado, estou com sede... Já chegamos? E agora? Podemos parar numa lanchonete? Minhas pernas estão doendo. Eu tentava aproveitar tudo ao máximo, mas parecia que minha família não permitia isso. Aquela viagem estava começando a ficar abaixo das minhas expectativas. Seguimos meu avô até uma exposição. “Por gentileza, permaneçam sentados e com os cintos afivelados. Enfrentaremos uma turbulência em alguns minutos”. Não sabia direito do que se tratava, ninguém falava comigo. Minha mãe não fazia outra coisa a não ser responder às perguntas cretinas do meu irmão, e meu avô andava quilômetros a nossa frente, e mesmo se estivesse ao meu lado, nem sequer ouviria qualquer pergunta, do jeito que estava vidrado naquele mapa. Se fosse atropelado, talvez nem percebesse... Enfim, chegamos à exposição. Um guia nos acompanhava por uma larga escadaria, que terminava num salão coberto, até o teto, com peças históricas. Havia artefatos impressionantes, que eu, porém, não podia observar por mais de cinco segundos, antes que minha mãe me puxasse pelo braço. Ela não poderia deixar de seguir meu avô, e não poderia também me deixar para trás, e eu não podia deixar meu irmão para trás. Era uma verdadeira cadeia de puxões e trancos sem fim. Reparei num grande pedaço de madeira preso na parede. Era uma parte do casco do navio de Cristovão Colombo. -Mas o que um pedaço de madeira tem de tão especial? Ainda este, tão velho e desgastado! – dizia meu irmão, uma verdadeira caixa de som ambulante, ligada no volume máximo. Nem o guia o aguentava mais. Fiquei observando a peça não sei por quanto tempo. Viajava nas aulas de História e pelos mares que aquele “pedaço de madeira” percorreu. Talvez alguns minutos, horas, não sei, mas o suficiente para olhar ao redor e não encontrar nem meu avô nem minha mãe. Dei voltas e mais voltas pelo salão, sem resultado. Decidi descer as escadas, correndo. Estava preocupado, angustiado. E, no fundo, com um pouco de medo. Saí correndo pelas ruas romanas. Devo ter passado por todos aqueles monumentos de novo. Coliseu, Piazza Navona, o Vaticano, o Foro Romano, do começo ao fim e do fim ao começo. Naquele momento, as ruínas eram apenas pedras empilhadas. Corria como um louco, e nada. Parei, olhei para os lados, e nada. Senti um aperto no coração. Sentei numa sorveteria, com vista para o grande Castelo de Sant’Angelo, na tentativa de recuperar minhas emoções. Como é bonito aquele castelo... E agora? Estou sozinho, no meio da cidade! Bem que eu podia vê-lo de perto... Estou sozinho em Roma... Que castelo diferente... Espera! Estou sozinho em Roma! Não havia me dado conta de que aquele era o momento mais feliz da minha viagem! Não ouvia a voz do meu irmão, não esperava mais os puxões de minha mãe. Poderia, agora, tirar quantas fotos quisesse, sem me importar para que lado estava indo, e melhor, sem me importar em para que lado meu avô estava indo. Visitei os monumentos que mais tinha sede de conhecer, comi em várias sorveterias romanas. As que antes me davam água na boca, e agora, satisfaziam-me imensamente. -Lá está ele! Virei para trás num salto. Minha mãe vinha correndo em minha direção. Senti minha felicidade voando para longe à medida em que ela chegava mais perto. Mas, ao mesmo tempo, nunca me senti tão feliz em vê-la. Confesso que foi um momento confuso. Foi, sem dúvida alguma, uma das melhores viagens que havia feito. Estava muito feliz e satisfeito. Deve ter sido essa a experiência de que tentava me lembrar. A que me satisfazia e me incomodava ao mesmo tempo, ao viajar nas boas lembranças que as novas expectativas oferecem. “Senhores passageiros, estamos iniciando nossa aproximação. Sejam bem-vindos à cidade de Londres! Tenham todos uma ótima viagem!” Victor Lopes



Para Sempre

Era um dia nublado, frio e chuvoso, como muitos outros. Decidi, neste dia, visitar uma amiga de vários anos, pois estamos afastadas e sinto sua falta todos os dias. Confesso que estou com medo de entrar naquele prédio de paredes escuras, cujas janelas não permitiam que a luz do sol entrasse. Suas portas me dão a sensação de que iriam me trancar quando estivesse dentro, e as pessoas que ficassem, não iam me querer lá. Ela havia sofrido um acidente e a culpa foi minha, senti que deveria tê-la visitado, mas estava me sentindo muito culpada para olhar em seu rosto. Tinha sido um acidente e não havia se machucado tanto, só quebrou o braço, mais ainda assim machuquei minha melhor amiga. Depois disso, ela me perdoou, mas nos afastamos e não nos falamos mais. O porteiro ficava me encarando, querendo saber se eu ia entrar, mas essa pergunta não poderia ser respondida, pois eu também não sabia. Estava nervosa, ansiosa e com medo. Todos os sentimentos que esqueci por anos estavam de volta. Parei, simplesmente congelei na frente daquela grande porta de vidro. Estava na calçada, apenas decidindo se iria, ou não, entrar. Olhava para aquele prédio e, de repente, ele ja não estava mais tao escuro: o céu se abria devagar e agora as janelas permitiam que o sol entrasse. Tomei coragem e andei, até chegar à porta. Cumprimentei o porteiro, que agora sorria para mim. Não tinha mais volta. Entrei no elevador, mais calma, cheguei à frente de sua porta e tudo o que eu imaginei estava acontecendo. Correndo, toquei sua campainha. Enquanto escutava o barulho de seus passos, pensava no que eu iria falar. Ela abriu a porta, sorriu e falou: -

Não esperava sua visita. Sei que vim meio de surpresa, mas estava sentindo muito sua falta! Também estava sentindo sua falta!

Nós nos abraçamos na frente de sua porta, que naquele momento não parecia tão assustadora como eu imaginava. Então, ela me convidou para entrar e nós conversamos sobre tudo. Neste momento, percebi que as coisas estavam em seu devido lugar, tudo se encaixava, me sentia mais leve: eu estava com minha melhor amiga, novamente.

Victoria Campos Tomasi



Viagem da Saudade Wayne tomava chá, em casa, com seu amigo e começa a contar sobre sua viagem à Londres. Chegara no aeroporto, Heathrow, exausto. Ele tinha uma sensação de falta de algo. Wayne pegou um táxi para o hotel em que ficaria, dormiu no caminho, de cansaço. Na manhã seguinte, está se sentido mal, está na frente do ''Rolls Royce Museum'', um museu de automóvel. Estava dentro do museu, diante do Rolls Royce Ghost, um automóvel com nome de fantasma. Wayne dá um toque no ombro de um homem que também observava o carro, porém sua mão o atravessa. Num susto, Wayne acorda, era apenas um sonho. Ele acha uma boa idéia e escolhe visitar esse museu em pessoa. Desce o elevador, toma café da manhã e pega um ônibus, desce na frente do museu. Wayne entra, procura o local que estava no seu sonho. Acha o local, não acreditava no que vê. O homem do sonho estava lá no mesmo local. Wayne vai se aproximando e acha que conhece aquela pessoa. Ele novamente dá um toque no ombro dele: -Ah, Wayne, que saudades! -disse o homem Wayne vira as costas e corre para fora do museu, pega o ônibus mais próximo que vê. Era um ônibus que fazia paradas no Hyde Park. Ele resolve descer no parque para dar uma distraída pelo que acabou de ocorrer. Compra um sorvete e senta num banco para tomá-lo. Ele não consegue tirar as imagens da cabeça, vai associando tudo, sente que o homem do sonho era um fantasma. Em seguida, associa fantasma com o nome do carro que estava no museu. Num susto, percebe que o homem no museu era seu pai, que não via há muito tempo, ele lembra de quando visitavam museus de carro juntos. Termina o sorvete e volta para o hotel. Já era tarde de noite, Wayne janta, toma banho e vai dormir. Pela manhã, faz check out no hotel, após o café da manhã, pega um táxi e para em frente a um prédio alto. Entra no prédio. Ele trabalha com energia solar e viajou a Londres para apresentar um projeto que fizera para um cliente. Seu trabalho é aprovado, pega um táxi para o aeroporto. Mudou seu destino para a França, pois quer visitar seu pai. Wayne espera até entrar no avião. Só então ligou para seu pai e deu a notícia. Na manhã seguinte, o avião desce na França, Wayne pega toda sua bagagem e vai encontrar seu pai. Os dois se abraçam fortemente. Colocam a bagagem no porta malas e entram no carro. O pai dá a partida no motor de seu carro, um Rolls Royce Ghost. Wayne abre um sorriso. John Luiz Tambor


Eu o conhecia Eu nunca tinha andado de avião, nunca tinha nem mesmo pisado em um aeroporto, e eu estava sozinha a caminho de Miami, para rever minha irmã. O tempo estava se fechando, eu estava nervosa, e me perguntava se o voo não seria adiado. Passei pelo detector de metais e entrei no Duty Free, não que eu fosse comprar algo, só para dar uma olhada... Quando, por mim, passou um rapaz, meus olhos inevitavelmente não o deixaram sair de meu campo de visão. Ele era alto, forte e bonito, tinha olhos claros, cabelos lisos e brilhantes, e a barba estava por fazer. Eu o conhecia. Um calor me subiu dos pés à cabeça. Eu o conhecia! — Ele está olhando para cá toda hora Ele não está olhando para cá, ele está olhando para você! Vai falar com ele! Quando o garçom trouxe mais uma garrafa, e junto, um bilhete que constava: "cortesia, Lucas 980245337" Não, não era ele. De onde eu o conhecia? Parei em uma cafeteria já perto de onde eu embarcaria. Sentei-me na bancada, quando ele passou por mim novamente; usava camisa e calça social, com um braço, segurava o paletó que pendia nas costas, e com o outro, levava uma pequena mala de rodinhas. Sim, desta vez fui mais discreta, mas não pude deixar de observá-lo passar, meus olhos obcecados seguiam seus passos refletidos no espelho a minha frente, até desaparecerem. Eu o conhecia! — Vamos mãe! Quantos anos você acha que eu tenho? Eu não aguento! Se me acompanhar vai ficar com a aparência de trinta! Nossa! Trinta? Só não falo vinte, porque estou nessa casa! Estávamos correndo no parque, e começamos a rir como duas bestas. Passou um cachorro por nós, sem coleira, e seu dono caminhando atrás. — Ai que gracinha!- Berrou minha mãe - Olha como é bonitinho?! Tão independente... - O dono olhou para nós e sorriu. Minha mãe nunca foi discreta, e foi um erro não responder, porque sua próxima ação foi seguir meu olhar e dizer a toda altura: — Pelo visto, não foi o cão que você achou uma graça, e sim o dono... Acho que naquele momento fiquei vermelha como uma rosa. Não, não era ele, pelo menos, espero que não, rever uma pessoa dessas seria no mínimo, o


maior mico. Ele é tão sério, deve estar viajando a trabalho. Eu o conhecia! No balcão da cafeteria, estava pensando em várias possibilidades de onde eu podia conhecêlo, percebi que o misterioso rapaz andava em minha direção; eu já estava ensaiando as palavras para cumprimenta-lo, abri um sorriso, respirei fundo e, quando abri a boca, ele se virou para o atendente e disse: — Um café puro e um descafeinado, por favor. Era óbvio, eu havia me perdido da realidade, olhei ao redor para me dar conta de onde estava, o relógio marcava seis e meia, faltava ainda meia hora para a decolagem. Eu me encaminhei até as poltronas, já perto de onde embarcaria totalmente desiludida, havia uma moça sentada lá, dei o espaço de uma poltrona entre nós e me recolhi. Como o tempo era vago, coloquei-me a pensar: Um homem, digamos, bem apessoado, provavelmente (desejo com todas as minhas forças) desacompanhado, que comprou dois cafés, deve realmente adorar a cafeína, o que só me leva a pensar, que também provavelmente goste de trabalhar... Na minha cabeça, ele era cada vez mais interessante. Ele vinha novamente em minha direção, com dois copos de café nas mãos... OK, pai, ainda faltam os ovos, a farinha, leite e molho. Tá, pegue a farinha e os ovos que eu pego o resto. Ir ao mercado com meu pai era sempre muito engraçado, ele designa as funções e quer apostar uma corrida para ver quem pega primeiro, era assim desde que eu era pequena, mas até que, na pressa, ele derrubou o carrinho de compras de alguém: Me desculpe jovem, mil perdões, eu ajudo você a recolher! Não tem problema senhor! Não se preocupe, eu pego sozinho, sem problemas... O estrondo foi tão forte que todos no recinto pararam o que estavam fazendo, então fui à procura de meu pai para perguntar se ele tinha visto o que foi: — Ai meu Deus! O que foi que aconteceu, pai!- ele começou a gaguejar - Me desculpe, por favor- continuei enquanto agachava e ajudava-os a recolher as coisas que haviam caído. — Eu quem peço desculpas, o senhor não se machucou? — Não, claro que não! Não, não era nem comparável, e agradeço por isso. - Com licença? Eu já aprendi, ele não está falando comigo... Com licença? Por que estaria? Já aprendi o quanto ele gosta de café... Até que senti um leve toque no meu ombro: —Moça, com licença? Se importa? - disse apontando para a cadeira ao meu lado. —Sim, perdão, fique à vontade... Ele entregou o descafeinado para a moça ao meu lado (eu sabia que ele gostava de café). Finalmente, a chamada para o embarque, peguei minha bolsa e fui para a fila, e de longe os observei, e percebi que houve uma despedida seca, um abraço sem graça, nada de beijo, a moça recolheu suas coisas e seguiu para outro portão, já o misterioso rapaz, que ainda tentava buscar em minha memória a sua recordação, pegou sua mala e foi para o final da fila em que eu estava. Dentro do avião, encontrei minha poltrona e sentei-me na janela, comecei a observar o terreno plano inacabável em que a pista se encontrava. Pouco tempo depois, uma voz soou. Novamente, a mesma frase: — Com licença?- eu conhecia aquela voz, era o rapaz misterioso, hesitante e nervosa olhei para ele e respondi: — Oi, fique a vontade... Olha! você de novo...Obrigado. Novamente aquele calor me subiu dos pés à cabeça, alguma coisa nele me deixava muito nervosa, mas algo nele também me despertava felicidade. Eu o conhecia, e não gostava nem um pouco do fato de não saber de onde. Os motores ligaram e tudo começou a tremer, como um gato, num pulo, agarrei os braços do assento e fechei os olhos. É a sua primeira viajem de avião? Abrindo somente um dos olhos e um sorriso sem graça, fiz que sim com a cabeça. —Entendo- disse, soltando pequenas risadas, seguidas de um sorriso convincente antes de continuar. Não se preocupe, só sentirá um frio na barriga na decolagem, mas logo esquecerá que está em um avião.. Quando o gigante pássaro de metal iniciou a decolagem ele tentou me distrair, puxando assunto: — Então... Qual é o seu nome? — Ah! Clara... — O meu é Escuro, muito prazer...estendeu a mão a espera de um comprimento formal, com uma cara tão séria que se ninguém nunca houvesse feito essa piada, juro, que acreditaria. — Muito prazer, piada que mais ouvi na minha vida... pelo menos você não me chamou de racista...-eu disse segurando o riso, até que começamos os dois, a gargalhar como duas crianças felizes, mesmo que não tivéssemos achado a


mínima graça, rimos para conservar o momento agradável em que estávamos. - Meu nome é Henrique- Ele se corrigiu. E você é carioca? Acertei? Sim- ele sorriu- É meio difícil esconder o sotaque.. E você? É paulista? — Não, sou carioca também, mas moro aqui já faz alguns anos... Que coincidência! Eu o conhecia! Devia ser da minha escola no Rio, mas como eu não lembrava? Vai logo! Sobe rápido! ele vai passar!! Meus Deus! Mas isso é muito alto!! Ah, pronto, era o que faltava... Oque você acha que pode acontecer? Que vai cair de um teleférico fechado? Ai, cala a boca Luís... Mas Luís era loiro, Henrique tem cabelos castanhos... Quando você veio para São Paulo? — Aos 14 anos, lembro como se fosse hoje, o dia que antecedeu minha vinda... — Ela está vindoouvi o berro ensurdecedor de Bia, vindo do lado de fora da escola. E assim que passei pelo portão, todos jogaram sobre mim ovos e farinha, e a noite, a festa, que por mim foi nomeada " a noite do choro", nunca pensei que poderia ser tão emotiva, ou que existisse tanta agua dentro do meu corpo. As pessoas que mais me irritavam me emocionaram... o Luís e o Matheu... Era óbvio! Como não havia percebido antes! Ele não mudou nada! Matheus! era ele... Matheus Henrique... Como não pôde ser a primeira pessoa em que pensei? e a primeira coisa que se passou na minha cabeça depois da descoberta foi " será que ele se lembra?" Você está indo para onde?- perguntou ele. - Para a casa da minha irmã... Faz tanto tempo que não a vejo.. E você? A trabalho? — Não, a trabalho não, estou indo rever alguém também... Uma amiga de muitos anos; ela disse que tinha uma surpresa para mim, fez tanto suspense que aqui estou...Acho que não consegui disfarçar muito bem o meu sorriso totalmente forçado ao saber que ele ia rever uma AMIGA. Sabia que estava sendo ciumenta demais com alguém que acabara de conhecer, ou que já conheci, mas esqueci. Por qual motivo até agora eu não contei a ele que o conhecia? Eu não tenho motivos para isso, mas algo em mim não quer assumir... Também, se eu dissesse, e ele não se lembrasse? Seria mais doloroso... E então, abriu-se um terrível silêncio entre nós, quando me dei conta de que tinha me esquecido da viagem, olhei para a janela, o céu estava nublado, mas um horizonte sem fim, azul, seguia para a eternidade. Feliz por ter esquecido de meu medo, fui informar ao Matheus, Henrique, não sei como chamá-lo, mas percebi que ele estava dormindo. Coitado! Deixe-o dormir em paz! A gente vai deixar ele dormir, porém não prometo nada quanto ao "em paz"- disse a bia com um sorriso perverso no rosto e uma caneta preta permanente na mão. O balançar do ônibus só aumentava e eu já estava cansada. Vai Bia! Faz logo- exclamou Luís, sussurrando. E cuidadosamente, um bigode de pontas enroladas ia surgindo no rosto adormecido de Matheus. Por que eu não contaria? Me desculpa não ter dito antes... Dito o que? Espera só um segundo! tenho tanta coisa para fazer... É importante... faz depois Não posso! Pode sim! Este foi o dia em que toda menina sonha em ser perfeito, ser programada, ensaiada, cena de contos de fadas, e com o príncipe perfeito. Do meu príncipe não vou reclamar, quanto ao resto, meu primeiro beijo foi inesperado, surpreendente, estranho e terrível... Mas não deixou de ser algo que adorei ter acontecido.... Esse era um motivo pelo qual eu devia contar que o conhecia, mas não vou, e o porquê, também não sei. Você promete?- perguntou Bruna. Prometo.- exclamou Matheus como se a resposta fosse óbvia. Mal sabiam os dois que eu estava no corredor, e que estava ouvindo tudo. Mas você vai falar com a Clara não vai? você tem que falar! porque em poucos meses ela vai para São Paulo, e não pode ir sem saber disso... O problema é que o Luís pode falar primeiro. Então fala logo para ela! Não eh tão simples assim... eu vou falar " clara eu te amo desde o inicio da nossa amizade a 5 anos atrás , e só vou te falar isso agora porque sei que você vai embora" Por que você pediu minha ajuda, então? Porque eu não sei oque fazer!!!!- exclamou Matheus. Nós éramos tão infantis... Até que uma sensação estranha começou, me sentia levitando e depois pesando novamente, e percebi que o avião estava pousando, então Henrique finalmente acordou, sem saber do enorme resgate de memórias que havia feito. Simplesmente me despedi, e entrei no táxi. Pela janela do carro, ele ficou para traz, em minha vida. Ao ligar meu celular me comuniquei primeiramente com minha irmã: —Oiii... cheguei! Estou a caminho do apartamento. Você não fez isso! Oi para você também... fiz o que? Estragou minha surpresa! Como assim? Que surpresa? Você viajou com o Matheus! Como sabe? Acabei de falar com ele... e ele disse que vocês viajaram juntos, e que você não reconheceu


ele! mas pelo visto, reconheceu... Ele lembrou de mim? Claro que sim! Assim que você disse seu nome... mas ele só não te falou por algum motivo, que ele disse que nem ele sabia... Mas como você sabia que ele estava vindo? Fui eu quem chamou ele! ele era a visita importante que eu te disse.. e você era a surpresa dele... Mas eu achei que eu fosse a visita importante... Ah... Clara... fala sério! Você é minha irmã, você é tudo, qualquer coisa, menos visita!! Vem logo, que ele também já está chegando. Laís Pinheiro


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