DE TUDO FICA UM CONTO EXPOSANTA 2016 – 9º ANO
9º ano B DE TUDO FICA UM CONTO
Os alunos do 9º ano produziram em suas aulas de Língua Portuguesa um conto psicológico em que aliaram uma fotografia de suas memórias ao texto elaborado, criando um diálogo entre o verbal e o não verbal. Essa vontade de contar um conto está presente em muitos momentos de nossas vidas.... Às vezes, temos muitas histórias escondidas para contar. Vamos conhecer um pouco desse gênero tão particular, e muito explorado pelos nossos queridos alunos, ao nos contarem um pouco de suas lembranças, emoções e dos medos mais profundos. Além disso, não podíamos deixar de valorizar nossa contemporaneidade tecnológica e publicarmos um pouco desse resultado em uma ferramenta tão inclusiva como é o livro digital.
Boa leitura a todos.
Professoras Cleide, Clara e Melina.
A viagem dos fortes impactos Estamos indo para uma viagem incrível para Salvador, Bahia. Sento na janela, próximo a porta, quando olho por ela, vejo as nuvens; sempre ia á casa do meu primo, Antunes, e ficávamos olhando ás nuvens e tendo uma esperança de um dia poder voar entre elas. Nessa viagem, esta eu e meu primo, Henrique, estamos muito felizes. Nesse exato momento, estamos jogando ”MINECRAFT”. A viagem durou aproximadamente duas horas. Chegamos ao aeroporto de Salvador e vejo, nesse exato momento, uma lanchonete e como estou com muita fome, começo a chamar meu primo, para comer alguns pães de queijo. Começo a sentir seu cheiro. Minha “vovó” adorava fazer pão de queijo, ela o tirava do forno e eu sentia aquele cheirinho, que fazia me apaixonar pelo pão de queijo. A moça que vende o pão de queijo, pergunta: ”Qual é o pedido?”. E então respondo: “Gostaria de quatro pães de queijo e dois achocolatados”.
Pegamos a comida e vamos em direção ao hotel, onde ficaremos hospedados até o final da viagem. Chegamos ao hotel e começo a ver uma menina linda. Minha namorada, que possui um cheiro de pétalas, com um cabelo liso, incrível. Vamos até o quarto, e quando entramos a primeira coisa que faço é deitar na cama, e dormi á tarde, todo um belo sono profundo. Acordamos ás oito horas da manhã, então chamo meu primo, Henrique. Ele acorda e descemos escadas e direção á mesa de café da manhã. Descendo, vi uma mesa com vários tipos de comida, como frutas, bolos, pães. Então, estamos saindo do hotel para irá praia, para passar o dia, na areia. Sempre viajava com a meus pais para Ilhabela. Uma mulher começa a ficar gritando: ”Ladrão.... ladrão.“ Começo a entrar em desespero não sabe se saio correndo para fugir do ladrão ou começo a correr atrás do fugitivo. Fico parado, e nesse exato momento a mulher vem em minha direção, perguntando: ”Você viu o rosto dele?” Respondo: ”Sim”. A moça, responde: “Venha comigo á delegacia, fazer um boletim de ocorrência”. Chegamos á delegacia e vimos um lugar sombrio, repleto de esperanças, medo, escuro. Então vem vindo um policial e pergunta: “Como posso ajudar?” A moça responde que foi assaltada na praia. E o policial pergunta como era o rapaz. Na praia, tinha visto um moço alto cabelo liso, preto, e de pele negra. E foi isso mesmo que falei ao policial. Dando a caricatura ao policial, deixando a caricatura. Eu e o meu primo estamos voltando para o hotel, pensando em voltar logo para São Paulo. Meu primo quer conhecer os pontos turísticos e ir embora, amanha á noite. Chegamos ao hotel, subimos a escada, entrando no quarto. Vou direto para a cama e começo a dormir. De manhã, acabamos de acordar e se arrumar para descer para tomar café da manhã. Agora, finalmente vamos conhecer os pontos turísticos e almoçar. Vem chegando o prato e começo a sentir aquele cheiro vindo da feijoada. Minha mãe fazia uma feijoada que era tão boa que me levava ao céu. Começo a comer o prato de feijoada. Meu celular toca e atendo e então atendo e pergunto: “Quem é?” Respondem: “Aqui é da delegacia de Salvador e estamos informando que um suspeito pelo roubo de assalto a praia foi achado e preciso que venha reconhecer o suspeito.” Respondo: “Irei”. Chegamos á delegacia e estou indo em direção de um policial, para reconhecer o suspeito, observando bem, percebo que é ele o ladrão e já vou avisando ao policial. Então o policial prende o suspeito. Vou arrumando ás minhas coisas e meu primo arruma as coisas dele, para volta para São Paulo. Olho para o quarto e vejo os bons momentos e ruins momentos passados nessa cidade tão perigosa e incrível, apago as luzes e fechando a porta. Descendo as escadas, com lembranças incríveis que nunca esquecerei.Chegamos ao aeroporto, esperamos algumas horas, até que então vem chegando o avião. Pegamos o avião, sentando na poltrona na janela novamente e meu primo fica muito triste pela volta tão cedo para São Paulo, até que adormecemos.
João Victor De Jesus Souza
DISPUTA DE PRIMOS Eu estava escutando os gritos horrendos da minha mulher, então elevei a mão em sinal de silencio e disse: — Calma, não precisa gritar desse jeito, já está á noite. Respondeu raivosa: —Cale a boca! Não me mande ficar calma. Ela começou a jogar nossas fotos, juntos, eu quase chorei de tristeza. Pegou o vaso que eu tinha a dado de aniversário, e arremessou na televisão. Por fim, arrancou a nossa aliança, arremessou no meu peito e saiu pela porta da frente de nossa casa. Eu caí de joelhos e comecei a sentir uma dor no meu pulmão como se ele estivesse se enchendo de uma água dolorosa! Senti como se estivesse me afogando. Aquela sensação parecia conhecida, eu já havia sentido algo parecido. Quando foi isso? Não me lembro... Eu e meu primo estávamos num barranco na margem de um rio escuro, e neste momento eu disse que estava apaixonado por sua namorada. Ele se encheu de raiva, seus olhos se tornaram mais escuros, levantou-se e me empurrou do barranco. Eu comecei a rolar, girar, e um galho entrou na minha barriga. Depois, cai no rio e meu primo começou a tentar me afogar: ele ficou me empurrando para baixo, a água começou a entrar no meu pulmão, a coisa que eu mais temia neste momento era não poder dizer a ela que a amo. Enquanto eu me afogava, quase a ponto de desmaiar Emily, a namorada do meu primo, chegou, e empurrou o meu primo e me salvou. Ela disse a meu primo que estava tudo acabado. Ele saiu correndo e eu disse a Emily que estava apaixonado por ela. Ela disse o mesmo para mim. Depois de ter batido a porta na minha cara. Fui para o quarto correndo, peguei o celular, liguei para ela e quando ela atendeu a primeira coisa que eu disse foi: — Emily. Arthur
Livre como um pássaro
Que luz forte, cega meus olhos, nunca vi tão brilhante, uma luz como essa, desde a praia, não devia existir tanto brilho nessa floresta de memórias, tão escura e nebulosa. — Melissa, cuidado como você estaciona o carro, ele não é indestrutível. — Daniel, fica quieto, não sou mais criança! Estacionamos o carro na areia da praia, nunca vi tão deserta, como esperados acharam a praia mais excluída da civilização. — Você tem certeza de que não vão nos achar aqui? — Mel, tenho certeza absoluta. Por quê? Não confia em mim? — Não é isso! A sua família é rica, podem contratar alguém muito bom para nos rastrear! — Acredite tenho tudo sobre controle! Essa praia, nomeada de Mel, por mim. Estou tremendo, por que estou com medo? Não deveria, mas se nos acharem, será nosso fim. Minha família nunca aprovou nosso namoro: — Não se deve namorar alguém dois anos mais nova do que você- dizia minha mãe. Nunca acreditei nessa besteira, quem disse que eu, com dezoito anos, não posso namorar alguém com dezesseis?! — É um crime contra as regras da nossa família- dizia meu pai, com seu ar autoritário. Nossa família há gerações só namora ou casa com alguém de sua idade. Regra estupida e Melissa, minha namorada, concorda e por isso essa viagem à praia Mel, para fugirmos da minha família, do jeito que são ricos, não nos deixaria ficar juntos. Mas isso não é algo para nos preocuparmos agora. Entramos na casa da praia, deserta, apenas nós neste mundo solitário, mas tão real. Colocamos as malas nos quartos, nunca teremos vontade de colocar tudo no lugar. Finalmente, estamos a sós. Esta floresta, árvores ocas, passado triste, parece que nunca serão felizes como eu, nunca abrirei um sorriso. Olho um esquilo junto de uma esquila, não me importo como se fala, esquilo desgraçado! Quem me dera ter uma arma para disparar nele, ele não tem minha permissão para ter uma companheira, nossa agora que percebi, pareço meus pais. — Você quer matar o pobre esquilo, Dani?! — Amor, eu quero matar esse desgraçado que destruiu a parede do nosso quarto, tão bonita que está agora, cheia de buracos! Maldito, queria ter uma arma, por que Mel tinha de ser tão pacifista, se nos acharem aqui, desarmados, vão nos matar, não, não podem matar um inofensivo esquilo como eu e Melissa. Não poderiam ou será que podem? Possuem meus pais, a raiva que tenho sobre este maldito esquilo? A noite cai sobre o breu, brilhante como o mais lindo mar, como poderia ser tão parecida com a noite que se passou há tempos atrás?! — Nossa, o mar, está tão lindo, amor! — Verdade, Mel! — O brilho do reflexo da luz na água faz qualquer um ficar tranquilo! — Mel, você acha que iremos ser livres neste lugar? — Por que não seríamos Dani? — Parece que estamos presos a correntes do passado! — Dani, não esqueça, somos livres como pássaros, devemos voar em direção ao céu aberto, iluminados pelo brilho do sol, deixando todas as preocupações para trás! — Você tem razão, Mel. O que poderia dar errado?! Nosso encontro romântico continua, à beira do mar, à luz da lua, perfeito, quero que nunca acabe. Nossa nunca tive insônia, durmo
sempre tranquilo, sem preocupações, mas naquele dia a insônia tinha motivo. — Amor, não consigo dormir! — Dani, para de reclamar e durma! Levantei da cama, maldita insônia, fui à sala de estar, que tedio, não tem nada para fazer na sala. Fiquei acordado a noite inteira, sentado no sofá, olhando para o nada, não se conseguia ver nenhum sinal de vida através da minúscula janela da sala, apenas o azul escuro do céu, que silencio, tão pacifico, mas quebrado facilmente. Já era de manhã, como o tempo passa rápido, ouço passos e vozes vindos da praia, barulhos de armas sendo recarregadas não podem estar errados, já estive no exército, sei como é esse som, é o som de desespero inundando meu coração. Saio correndo para o nosso quarto, preciso acordar Mel, o corredor que leva ao quarto, parece, a cada passo meu, mais e mais estreito. Mas não posso me deixar abalar, chego ao quarto e cutuco Mel, que ainda está dormindo. — O que foi Dani? — Homens armados estão na praia, temos que ir. — Mas, para onde vamos? — Eu tenho uma casa nesta mesma praia que comprei, caso isso acontecesse. Corremos de mãos dadas pela porta dos fundos, e saímos em disparada em direção à outra ponta da praia, já consigo imaginar a casa reserva. Na ponta, se avista uma palmeira, chegar lá é nosso objetivo, corremos como se o mundo fosse acabar, essa era a verdade desta realidade. Os homens aramados já deviam ter entrado na casa a esta altura, não sei como, mas conseguimos chega na casa reserva, o pânico da correria a àquela altura passou e a tranquilidade se acomoda em nós dois. Acordo sem sentimentos, já deve ter amanhecido, apesar da insônia, consegui dormir, vai ver tudo fora um sonho, quem me dera. Analiso os meus arredores, parece mais fria, essa floresta, do que o normal cai em minha frente, cheio de moscas, parece que fizeram de proposito só para me lembrar do dia terrível, em os pássaros livres morreram. Chegamos a casa reserva, quando já percebi era noite, parecia ter sido tão rápido a corrida, mas na verdade foi o dia que passou rápido e fomos nos deitar na cama não tão confortável. — Bons sonhos, amor! — Bons sonhos, Mel! Maldita insônia, tive que dormir na sala, estranhamente parecida com a casa que estávamos, a única diferença, era mais fria e solitária. Estranho, achei que estava com insônia, bom parece que não, então o sono me invadiu. No dia seguinte, que luz fraca, as janelas são grandes, deveria ter mais luz do que a outra casa, o dia mais sombrio que já vi, o céu está nublado. Eu achei que nunca pararia de aparecer o sol nessa praia. Bom, parece que nada é perfeito. Estranho, Melissa ainda não acordou, decidi ir ao quarto dela, um relâmpago cai ao lado da janela, encontro muito sangue no chão, outro relâmpago, vejo Melissa morta na cama, outro relâmpago, grito muito alto ate cada nervo meu explodir de dor, outro relâmpago, levo Mel em meus braços e choro até que meus olhos ardam, outro relâmpago, olho ao meu redor e vejo meus pais, agora entendo, uma faca ao lado de cada um, houve uma luta, vieram para fazer o trabalho eles mesmos, ah, pois é, deixo o corpo de Mel e saio pela porta de vidro da varanda do nosso quarto, quer dizer, agora só meu quarto, quem me dera que essa casa tivesse dois andares, mas possui apenas um, como eu, agora sozinho, sem Mel ao meu lado. Uma gota de chuva cai em meu rosto, mais um relâmpago. Chuva começou a cair, por que me lembra de tristeza? É esta floresta, tenho certeza, maldita floresta tão sombria como minha mente, não quero mais esta vida, não me pertence mais, não mereço mais viver, por isso vim a esta floresta
depois do triste acontecimento, para ciar simplesmente e um sono profundo. Pego um graveto parecido com uma estaca, ouço o canto de pássaros, devem estar em seu ninho, devem estar felizes, como um pôr-dosol, que deve existir em alguma praia distante neste mundo cruel e solitário, debaixo desta chuva. — Nossa, que lindo pôr-do-sol, né Dani? — Mel, você sabe que te amo, né? — Sim, eu sei que você me ama, seu bobo, também te amo!- ela rouba um beijo, mas me afasto rapidamente. — O que foi Dani? — Será que ficaremos juntos para sempre, Mel? E se nos acharem? — Não importa se a maré cruel estiver contra nós, nunca me separarei de você! Eu concordei com ela e peguei sua mão, ela apoiou a cabeça no meu ombro, mas até eu sabia que, em alguma hora, os pássaros perdem sua liberdade. Enfio a estaca em meu coração, ela atravessa meu corpo e não sinto nada, agora me lembro do que aconteceu. Saio da varanda da casa reservo, como isso pôde acontecer, eu deveria estar ao lado dela esse tempo todo, maldito sono, fez minha Mel ir embora, vejo um graveto na praia, a chuva batendo em meu rosto, aumentando sua intensidade a cada minuto, um relâmpago, a estaca já estava cravada em meu coração, caio no chão, escorrendo muito sangue de meu corpo. Como eu poderia ser tão burro, nada disso funciona, porque eu já estava morto. Bruna Pozzi Linhares
Nunca mais! Carolina e seus dois irmãos, Matheus e Lucas, viajaram para Atibaia, o destino era Hotel Bourbon. Quando chegaram ao lugar, tudo parou e ficou tão quieto. Paredes brilhavam, os passarinhos cantavam, ouviam risadas de crianças e a diversão contagiava. Escureceu quando eram dezenove horas e trinta minutos, os três irmãos jantaram e foram para a monitoria do hotel. Algumas crianças especiais os acolherem, a Maju, a Mafe, Henrique, Isabela e Renata com uma monitoria super carinhosa e divertida, a tia Vareta, tia Chocolate, tio Magrão tia Neca. Então, decidiram descer para o complexo de lazer — onde tinham todos os tipos de esportes, piscina e bar —, jogar futebol. Os irmãos avisaram seus pais, igual às outras crianças e foram se divertir. Estavam jogando bola quando o Lucas, o irmão mais novo, decidiu sair do campo para ir ao banheiro, pois estava apertado. As crianças nem perceberam a falta dele, continuaram jogando e, depois de uma hora, subiram para o quarto. Nada da presença do menino e o pessoal nem percebeu que o Lucas não estava com eles. Eu estava ali, no bar do hotel, tomando uma água, junto aos meus irmãos e amigos, quando ouvi uma mãe, desesperada, gritando: - Socorro! Pelo amor de Deus, meu filho desapareceu! Ajudem-me! Quando, de repente, tudo ficou tão quieto e tão triste que as nuvens nublaram. Começou a chover, o vento zunir, as palmeiras frágeis e assustadas, que estavam do lado de fora, adentravam na porta giratória do hotel. O tempo todo estava pedindo silenciosamente, para Deus me ajudar no meio daquela floresta escura, sem cor, sem amor, sem vida e maltratada. Não sabia o que ia acontecer comigo e se iam conseguir me encontrar.
A monitoria, os seguranças, o grupo de amigos, meus irmãos e meus pais se reuniram no saguão, pegaram “walk talks”, dividiram-se em grupos e me procuraram por todo o hotel, de A a Z. Minha mãe estava chorando muito, meu pai a consolou, abraçou-a, sentaram no sofá, tomaram uma água e meu disse: - Se acalme amor. Não o encontramos hoje, mas tenha fé em Deus de que amanhã será um dia de brilho. O dia seguinte amanheceu, com o sol brilhando, céu azul como o mar, um arco-íris lindo e meus pais, irmãos, amigos, monitoria e segurança se reunindo. Mas, desta vez, tomaram café da manhã e nos mesmos grupos, foram me procurar, novamente. Mas nem precisou. Sabe por quê? Sabe? POV Lucas Eu acordei e vendo que o sequestrador estava com um arco-flecha mirando para matar um passarinho para comer, aproveitei sua distração e corri... corri...corri muito até chegar ao saguão do hotel. Estava morrendo de fome! O cara não tinha dado nada para eu comer e beber, então fui até o café da manhã e enchi a pança! Quando todos me viram, correram em minha direção e me abraçaram muito forte. Na realidade, aprendi uma lição: nunca mais saio de qualquer lugar, sem avisar.
Carolina Baccaro Leoncini
Garota Solitária Era um domingo chuvoso, eu estava sentada, fazendo minha lição de casa, no meu quarto, quando, por alguma razão, senti o cheiro do perfume de Pedro, meu ex-melhor amigo. Aquela fragrância me fez lembrar tudo que nós passamos, inclusive de nossa briga. Lembrei da briga porque dizem que as piores lembranças prevalecem na nossa memória, e não foi diferente: aquela briga ficou instalada em meu cérebro e, por algum motivo, não conseguia removêla. Pedro e eu brigamos porque, simplesmente, se nossa amizade não fosse para “frente”, não daria certo. Você pode me achar louca por acabar com uma amizade de quatro anos, porém era necessário: eu não aguentava mais ficar brigando e vivendo daquele jeito... Meus sentimentos ainda não mudaram, eu continuo me lembrando dele e o amando, mesmo não querendo isto. Mas, como toda decepção passa, eu não fiquei preocupada, sei que em algum dia eu não irei mais me lembrar dele e, como todas as amizades esquecidas pelo tempo, ele só irá ser mais uma lembrança qualquer. Minha família resolveu viajar de ultima hora para a Bahia, para passarmos as nossas férias de julho. Então comecei a fazer minhas malas. Estava ansiosa! Depois de três dias, fomos ao aeroporto e pegamos o avião, ficaríamos na Bahia uma semana. Fui conhecer o hotel e meu quarto, o mesmo é belíssimo e muito luxuoso, nunca tinha visto um lugar assim. Estava tudo indo bem, tudo ótimo, até chegar a hora do jantar... Estava indo jantar, quando me deparo com ninguém mais, ninguém menos, que Pedro! Senti um ar frio bater em meu rosto, fiquei paralisada, como se uma nuvem negra parasse em cima da minha cabeça e começassem a cair turbilhões de raios furiosos em cima de mim. Todas as pessoas que estavam presentes naquele jantar desapareceram e eu só tinha olhos para Pedro. Nunca tinha me sentido assim antes, talvez porque eu havia mudado de escola e a última vez que o vi foi há seis meses, o que, para a gente, que se falava todo dia, era uma eternidade. Fiquei confusa, não poderia ser ele! Com tantos hotéis no mundo, era praticamente impossível ser ele, quer dizer, as chances eram poucas. Cheguei um pouco mais perto e, sim, era realmente ele, com os mesmos olhos intensos de sempre. Que péssima coincidência, parece que o mundo estava conspirando contra a gente. Por que ele? Por que não outra pessoa? Como eu iria conseguir falar com ele, depois de tudo? Ele começou a se aproximar de mim, fiquei sem reação e totalmente gelada. Ele parou na minha frente, encarou-me por um tempo e, de repente, saiu uma frase de sua boca: — Nossa, Gabi! Quanto tempo! Eu não sei o que aconteceu com a gente, depois daquela nossa briga... Na minha cabeça passavam um milhão de respostas para aquela pergunta, um monte de palavrões e sentimentos que não cabiam em mim. Como assim? Ele não sabia o que tinha acontecido? Mas eu não queria demonstrar que eu estava me importando com ele. Minha resposta foi curta e fria: — Foi melhor assim, Pedro. Virei ás costas e sai andando, sem olhar para trás, depois das mentiras que ele me contava, dos sentimentos que ele criou em mim, sem ter a intenção de alimentá-los, depois de ele ter me ignorado e falado mal de mim pelas costas, era o mínimo que eu poderia fazer. Era óbvio que ele não iria desistir, e admito que precisávamos resolver isso. Só assim para acabar com os caos que se habitava dentro de mim, sinceramente eu queria que nossas férias acabassem o mais rápido possível.
Passaram-se três dias e nem sinal de Pedro. Estranhei, pensei que ele havia desistido de mim, pensei... Como as minhas férias no hotel estavam acabando — faltavam dois dias —, decidi falar com Pedro, por mais que ele tenha mentindo para mim e me decepcionado, ele fez parte da minha história, da minha vida, eu não sou aquele tipo de pessoa que ama e depois vai embora e some, na minha vida tudo é extremamente intenso. No meu último dia no hotel, resolvi ir procura-lo. Pensei que não seria tão ruim, afinal, nós dois iríamos passar mais um ano sem nos vermos, eu não tinha nada a perder. Eu tive meus vinte segundos de coragem insana e fui falar com ele. Minha boca soltou a primeira palavra: — Oi Pedro! Será que a gente poderia conversar? Não quero brigar nem nada, só quero ter uma conversa normal com você. — Oi, Gabi. Claro, eu precisava, mesmo, falar com você. Ele se aproximou de mim, escutava sua respiração, gelei. — Então, fala você primeiro, Pedro. — O que aconteceu com a gente, Gabi? Nós éramos tão próximos, eu sei que eu cometi muitos erros e fiz várias bobagens das quais me arrependo amargamente hoje, mas foi você que se afastou de mim. — E o que você queria que eu fizesse, Pedro? Eu me afastei porque percebi que, com ou sem a minha amizade, você ficaria bem. Para você, tanto faz, tanto faz nossa amizade. Eu pensei que você fosse diferente, eu confiei em você. — Me entenda! Eu fiz realmente várias bobagens na hora da raiva, Gabi. Eu te amava... — Amava, Pedro? Essa é uma palavra muito forte para algumas pessoas, quem ama não faz isso... A cada dia que passa, tenho certeza de que me afastar de você foi a melhor coisa que eu fiz. Não que eu tenha superado, mas já não dói tanto. — Para você, Gabriela, foi muito fácil se afastar de mim né? — Eu me afasto de tudo aquilo que me faz mal, isso inclui você. E respondendo sua pergunta, em afastar foi a coisa mais difícil que eu fiz. Eu queria ignorar você sem me arrepender depois. Mas com o tempo eu consegui, falam que o tempo cura tudo... — Gabi, você começou a ficar distante de mim e eu não estou falando de quilômetros. Só queria recuperar nossa amizade. Acredite! Não esta sendo nada fácil para mim. — Pedro, você não demonstra absolutamente nada, fica difícil decifrar você. — Só porque eu não demonstro, não quer dizer que eu não sinta. — Pedro, não torne isso mais difícil para mim, afinal, cada um vai seguir um caminho. Eu não quero ficar magoada novamente. Ficar magoada com alguém que você gosta, é como se estivesse em uma multidão, mas, ao mesmo, sentir-se sozinho, abandonado, triste. Eu preciso seguir em frente, mas com você, eu só vou para trás. Eu preciso recomeçar, entenda. — É incrível como dois amigos se tornam estranhos em tão pouco tempo. Eu mudei, Gabi! Acredita em mim! — Isso é o que eu mais quero, Pedro. Mas não dá, minha experiência em decepções e despedidas não deixam eu acreditar. Eu me afastei de Pedro, virei e voltei para o hotel. Confesso, virei para trás, para olhar Pedro, e pude ver uma lágrima escorrendo em seu rosto. Nós não nos acertamos, mas tirei um peso das costas. Sabe, não me arrependo de nada que eu fiz. De coração, eu espero que Pedro seja ainda muito feliz, mesmo não sendo comigo. Ele deveria me agradecer, afinal, ele se livrou do desastre que eu sou. Para falar a verdade, até eu fugiria de mim... Que ironia. Depois de um tempo, fui me acostumando à ausência de Pedro, afinal, não sei se voltaria a vê-lo. Quem conseguiria viver comigo e com as minhas confusões? Eu sou um depósito de mágoas, dramas e palavras não ditas... No final dessa história, aprendi que a melhor saída para você não ter um coração partido é você, simplesmente, fingir que não tem um. Nessa vida, é preciso ser forte e frio, porque se você não levar a vida, ela acaba levando você. Maria Eduarda Reis
Tarde das Lembranças Estava pronto, coloquei meu casaco, naquela tarde fria e sai de casa tranquilamente. Estava indo visitar minha avó materna, na qual não falava há muito tempo. O inverno chegara nesse mês de Junho. Durante a minha caminhada, percebi muitas árvores já mortas, enquanto a rua dormia. Era em torno das 15h20 quando passei por aquela casa azulada, com janelas grandes. Em poucos instantes ouvi um grito, bem fino, de uma criança pequena, mesmo sendo fina dava pra saber que era um menino. Após esse grito eu parei de andar e meus olhos se abriram e me lembrei: — Jefferson, volte aqui e não corra! — Mas o que eu fiz? — Quieto e não chore! Essa lembrança voltei Ao mundo real, mas nem tanto. A rua ficava vazia, e o vento que zunia em minhas orelhas, aumentara e o céu ficava preto. O tempo era em câmera lenta como se cada segundo era um milénio. Fiquei pesado e meus ombros iam para baixo, cada vez mais. Mais um calafrio havia me dado após mais um som de um grito seguido por de um vaso quebrando, cada som que saia de dentro da casa era como se eu levasse um tapa na minha cabeça. Ela parecia uma bomba que estava prestes a explodir. O tempo não passava, cada vez mais eu era puxado para aquele mundo sombrio. Meus olhos se abriram mais ainda e acabei me deitando com as folhas mortas no chão. A brisa que batia em meu rosto, matava-me cada vez mais, emocionalmente. Consegui me levantar, mas fui andando mancando e com o peso de 5 elefantes em minha cabeça, as coisas só pioravam. A neblina aumentava cada vez mais, mas mesmo assim consegui ver um sobrado de madeira, o que mais se destacava na rua pelo seu brilho, mas não deixava de ser simples. Continuei andando, mancando, pois minha perna estava ''sem funcionamento'' naquela hora. Finalmente, estava lá, estava melhorando desse ''ataque'', o que ainda me deixava mal era o fato de meu coração estar na garganta, mas não era nada demais. Toquei a campainha e abriu a porta uma velhinha com cabelos de algodão. Ela olhou pra cima e me disse: — Nossa como você cresceu hein! — É verdade, depois de tantos anos assim, sem te ver! — Vó, deixa eu lhe contar, a senhora lembra de meu pai? Aquele homem terrível que só me maltratava? — Claro, eu nunca gostei dele, nunca quis que minha filha se casasse com ele, a primeira vez que eu o vi, já sabia que ele era um homem com, mas intenções. — Enquanto eu estava vindo eu tive varias lembranças dele, a senhora acredita? Lembrei-me dele após ouvir um menino gritando no caminho para sua casa! Lembrei-me das surras diárias e de seus maus tratos a mim e a minha mãe, eu me senti muito mal. — Oh querido, esqueça isso, não olhe para o passado, olhe para o agora e o seu futuro! Isso foi uma fase ruim, eu sei, e deve ser esquecida! — Obrigado vó pelo conselho! Estou me sentindo bem melhor! Após a tarde inteira de conversas, bolinhos e etc. Eu voltei para casa, mas por uma rua diferente obviamente, não queria passar por aquele constrangimento de novo. Enzo Rocha
BRIGAS DE CASAL Naquela noite, o pai de Jorge havia se lembrado de momentos difíceis e de muita tensão de sua infância, quando ele era bem novo, como seu filho. Jorge não entendia o que estava acontecendo em sua casa naquela noite, tudo parecia diferente, a casa, a noite e principalmente seus pais, a casa havia mudado sua personalidade alegre e cheia de paz para uma casa triste, com um ar pesado de brigas, de ódio e rancor, que pairava sobre a antiga construção; Jorge não compreendia. Jorge assustado e um tanto quanto confuso, se encontrava espiando, atrás da porta de seu quarto, os seus pais, o ensinaram que brigas não eram a melhor solução para nada, estavam, dessa vez, dando um péssimo exemplo; Jorge, cansado de assistir seus pais brigando furiosamente, sai de seu quarto e indignado pergunta aos pais o que está acontecendo. Imediatamente, seu pai congela, paralisa, como se tivesse parado no tempo, ou voltado, por um instante, se recordava de um momento de sua infância semelhante ao de seu filho. — Papai, por que você e mamãe estão brigando? Ele dissera ao seu pai. — Filho, saia daqui agora! Fique em seu quarto! De dentro do quarto, era possível ouvir gritos furiosos, ruídos de objetos se estilhaçando no chão de azulejos brancos, até que se ouve um forte barulho da porta de saída abrindo e fechando-se rapidamente, logo após isso, ouvia-se sua mãe chorando, depois se trancando no quarto, não se ouvia o pai. O pai de Jorge volta de suas tristes lembranças e vendo aquela cena em sua casa, percebe que sua mulher estava furiosa, a ponto de chorar, quase o expulsando da residência, com o seu filho assistindo tudo. A noite agora parecia mais densa, mais escura, não se via estrelas, a lua havia se escondido atrás de enormes nuvens carregadas de tristeza em forma de água, que agora tinham tomado o céu. Quando tudo parecia que iria ter o mesmo desfecho de sua horrível lembrança, que o perturbara por sua vida inteira, o Pai diz à sua mulher: — Me desculpe, em minha infância, quando tinha a mesma idade de nosso amado filho, meus pais tiveram uma briga feia como a nossa, foi o pior dia da minha vida, meu pai se foi e nunca mais pude vê-lo, não quero que nosso filho tenha a mesma horrível e perturbadora recordação, nós ainda podemos reverter a situação. Nesse momento, seu rosto se abriu em choro e a mãe, mesmo ainda um pouco brava, ficou comovida com a triste história, reconheceu que a família não deveria se dividir naquele dia e nem nunca. Pede desculpas por começar a briga. Naquele instante, o céu da escura noite, cheia de nuvens enormes, carregadas de tristeza em forma de água, se tornou uma noite de muitas estrelas, sem nuvens e com uma linda lua cheia iluminando toda a cidade.
Gabriel Zaros
Novamente um amor de verão Eu de novo nesse restaurante? Nem me imaginaria novamente aqui, me lembro perfeitamente como se fosse ontem, eu e ele estávamos sentados nessa mesa. Quando ele começou a falar comigo, uma tempestade enorme começou, pessoas começaram a brigar e eu só conseguia ouvir os carros buzinarem, não estava entendo nada e cada vez mais a tempestade aumentava. Quando saímos, ele foi para sua casa e eu para a minha, eu sabia que aquilo não estava certo, meu coração batia forte, naquele exato momento, minha melhor amiga me ligou e eu já sabia o que faria, iria viajar com ela para esquecer tudo o que havia acontecido comigo. Finalmente, chegou o dia em que eu e minha melhor amiga Lara iriamos viajar. Quando eu e ela chegamos lá, eu estava feliz, vi que tinha escolhido um ótimo lugar para esquecer tudo e relaxar um pouco, então fizemos o check-in e fomos ver como era o nosso quarto, vimos que o quarto era maravilhoso, mais do que pensávamos. Então deixamos nossa mala no quarto e fomos para o parque-aquático que havia no hotel em que havíamos ficado. Estamos lá nos divertindo, quando tudo em volta de mim começou a ficar preto e, assim, uma chuva forte dava início. Estava ele lá, Rodrigo com seus amigos, eu não conseguia acreditar que ele estava no mesmo hotel que eu, e ainda mais com aqueles amigos dele que tentam atrapalhar nosso relacionamento. — Deixa a Giovana, esse relacionamento vai dar errado, ela é ciumenta e chorona. Termina logo, vamos viver nossa vida, pegar muitas meninas. — Mas eu não acho isto certo, eu a amo muito, vocês nem imaginam. — Vai logo, esse relacionamento é só fachada, ela só tá com você porque você tem dinheiro. — Não, claro que não, até parece que ela só tá comigo por esse motivo, eu não vou terminar com ela. E assim ele saiu de lá comigo e ficou tudo bem. Só que, no dia seguinte, fomos a um restaurante comemorar meu aniversário, ele foi e disse que não dava mais, que eu era muito ciumenta e “tals”, aí terminou comigo, eu me senti horrível e muito triste, não acreditava no que havia ocorrido e então fui destruída para casa. Quando eu o vi, ele me chamou, mas não tive reação, saí correndo e fui para o meu quarto. Minha amiga foi lá falar com ele e disse que á noite, nos esperaria. Ela me disse o que falou para ele, eu quase a matei e fiquei muito nervosa, o tempo havia mudado, havia ficado mais frio. Quando chegou a hora de ir falar com ele, haviam borboletas em meu estomago e parecia que tudo estava diferente, quando eu e a Lara chegamos, o Rodrigo ainda não havia chegado, e assim fiquei mais aliviada. Ele só chegou 30 minutos depois, e me abraçou, perguntou se eu queria mesmo conversar com ele, eu disse que eu ia resolver e já iria. Eu não sabia se eu ia falar com ele e tentar resolver e ficar tudo como em um dia ensolarado ou se não ia e ficava tudo com um dia de chuva, frio e cinzento. Então resolvi ir lá falar tudo, o que sentia, ele disse que o que ele havia feito era errado e então me pediu em namoro, eu não sabia o que falar, então disse que no dia seguinte falaria o que eu havia resolvido. O dia seguinte passou depressa, no café da manhã, fui falar com ele e disse que aceitava e assim saímos felizes daquele hotel. Quando chegamos a São Paulo, fomos ao restaurante onde havíamos terminado, só que dessa vez eu estava feliz. Giovana Figueiredo
Chanel 5 Já havia passado por muita coisa, perdi minha mãe; foram épocas muito difíceis, mas desde então Clarice, minha prima mais velha, cuidou de mim. Sempre a considerei como uma mãe, alguém em que eu poderia acreditar e ser feliz. Era um dia ensolarado, as flores estavam em cores vivas da primavera; estava indo trabalhar, quando alguém, um ser anônimo, passou carregando aquele perfume; aquele cheiro de Chanel 5 que levava junto consigo todas as minhas boas memórias. Aqueles abraços, aqueles sorrisos, todas as brincadeiras, o gosto da comida que só Clarice sabia fazer; somente ela sabia fazer aquela boa massagem, só ela sabia cantar para me fazer dormir, somente ela me fazia feliz. Meus pensamentos e lembranças são interrompidos pelo som de meu celular; pego-o. Número desconhecido. Atendo-o e uma voz estranha fala do outro lado da linha. —Alô? —Oi! Quem é? —Sra. Macedo? —Ela mesma. Quem é? —Oi, aqui quem fala é Doutor Fernando do Hospital Felipe Lins. Estou ligando para infelizmente te dar a triste notícia de que sua prima, Clarice Macedo, acabou de falecer, pois sofreu um grave acidente de carro e não conseguiu resistir aos ferimentos. Não conseguiu chegar a tempo no hospital. Meus pêsames pela perda. O silêncio havia me tomado naquele momento, havia um vazio dentro de mim. Parei. Simplesmente parei por alguns segundos; morri; o ar não passou por minha garganta. Somente parei. Fiquei ali, sem reação; até que, finalmente, o ar chegou aos meus pulmões e comecei a desabar. Desliguei o celular. A vida perdeu todo o seu sentido naquele meio minuto. Cada dolorosa palavra que aquele homem tinha dito, matou-me. Aos poucos, fui caindo para dentro de um infinito abismo. Um abismo. Aquelas paredes de terra e pedra. A terra mais seca que já tinha visto; sem graça, sem vida. Vida. A minha, já tinha perdido, já não tinha mais sentido, aquilo só me torturava. Não saia de casa, não falava com mais ninguém, nem comigo mesma. Eu só estava ali, só era algo existente. Já não tinha mais forças, razões para continuar ali, no mundo. Uma última lágrima, aquela mísera lágrima me fez perceber que já não sou mais nada. Eu não sou ninguém, eu havia desistido da vida, mas ela não havia desistido de mim, mesmo sabendo que não me restara nada de bom. Não me restara mais nada. Realmente, não me vivia mais nada que me tiraria dali, ou daquilo; naquele imenso abismo. Chanel 5, aquele, guardado dentro do armário, aquilo, sim me tiraria de tudo isso. Levantei-me, cambaleei um pouco, não me levantava fazia alguns dias. Peguei o perfume. O abri. Só queria sentir, pela última vez, aquele cheiro bom; aquele cheiro que seria como o perfume de meu próprio veneno. Delicadamente, toquei naquele frágil frasco de vidro, aquele vidro frio, igual a minha alma. Jogo-o, com força, contra o chão. Aquele cheiro invade meus pulmões e dilacera meu coração. Pego um pedaço daquele vidro. Consigo sentir Clarice ali, naquele cortante pedaço de vidro. Coloco-o em meu pescoço, vai rasgando minha sensível pele, aos poucos; consigo vê-la, ela faz parte de mim agora e consigo ver no sangue que escorre. Vou sumindo aos poucos, e aos poucos para de doer. A vida desistiu de mim. Isadora Caldin
Decisões quase impossíveis Atravesso a rua, e depois de andar por mais de uma hora, sinto-me aliviada por ver todas aquelas vidraças brilhantes, coloridas e que escondem tantas e tantas memórias. Abro a porta com toda a delicadeza e solto um suspiro ao ver tudo aquilo, o palco todo apagado com as cortinas vermelhas que chegam a fazer meus olhos brilharem de tão perfeitamente cuidadas, as escadarias cobertas de ouro e a plateia iluminada com a luz do sol que entra pelas gigantes janelas, tudo isso faz com que eu me sinta em casa, aliás, minha verdadeira casa, o teatro. Minha felicidade é rapidamente interrompida por um grito, mas não um grito de desespero, nem de dor, e sim, um grito que eu conheço bem.... Minha irmã, Gabriela, mais velha que eu, porém às vezes, acho que sou bem mais madura que ela. — Lívia! - Fala ela gritando- Eu te avisei que eu tinha exames para fazer hoje, não era dia de vir ao teatro, por que você nunca presta atenção no que eu falo?!- Ela me puxou com toda a sua força para a porta de saída. — Calma Gabi, ainda estamos dentro do horário, eu só queria dar uma olhada no teatro de novo. Saímos do teatro e fomos encontrar meus pais. Minha mãe era muito parecida com minha irmã e meu pai se enchia de orgulho quando Gabi começava a falar sobre a faculdade e todas as suas experiências lá. Mesmo eles negando, eu sabia que eles tinham uma preferência por ela, mas eu não ligava muito para isso. Diferentemente de minha irmã, eu não dedicava todo o tempo que tinha aos estudos, não era má aluna, mas preferia terminar minhas lições rapidamente, para ir ao teatro e passar o dia inteiro lá. Gabi estava fazendo muitos exames ultimamente e parecia sempre aflita na hora de receber os resultados, papai e mamãe diziam que era apenas ansiedade, mas, no fundo, eu sabia que eles estavam preocupados. Os resultados chegaram e fomos direto para a sala do médico, ele fechou a porta e desde este momento a minha vida nunca mais foi a mesma. Senti um terremoto dentro de mim, tudo caía sobre a minha cabeça, meus pais corriam sem parar e Gabi se afastava… se afastava cada vez mais, até que de repente, sumiu… No caminho para casa, ninguém falou nada, meus pais estavam completamente atordoados e Gabi... estava mais quieta do que nunca, eu só via as lágrimas escorrerem de seus olhos verdes. Chegando em casa, fui para o meu quarto e fiquei por horas conversando com minha irmã, mas ela só ouvia, não falava absolutamente nada. — Gabi, eu imagino o quanto deve ser difícil estar no seu lugar, mas se você não se abrir com ninguém, vai acabar tendo que lidar com tudo sozinha. Ela me encarou, limpou as lágrimas e finalmente falou: — Você não entende Lívia? Eu estou com câncer! Vou morrer daqui a pouco... Para que perder meu tempo falando sobre isso?!- ela gritava, de uma forma que nunca havia feito antes. Ela gritou tão alto, que mamãe entrou desesperada no quarto, ela estava com os olhos muito inchados, afinal, Gabi estava com câncer e a cura seria muito difícil. — Preciso conversar com vocês duas- disse ela muito séria - Eu sei que estamos passando pelo pior momento de nossas vidas, mas ficar brigando não vai adiantar nada. O tratamento do câncer só existe na Austrália, então eu e seu pai decidimos que vamos todos nos mudar para lá. Iremos daqui poucas semanas, já estamos preparando tudo, vocês terão que largar tudo o que tem aqui.
Aquilo caiu como uma bomba em cima de mim, quer dizer que, se eu tivesse que largar tudo, teria que deixar o teatro também. Seria o fim de tudo, afinal, qual sentido minha vida teria em um lugar que eu não conheço, sem meus amigos e sem meu teatro, que era a coisa que eu mais amava fazer. Estávamos todos sentados na mesa de jantar, ninguém havia nem tocado na comida, só olhávamos um para o outro e não sabíamos o que falar, então papai decidiu acabar com aquele silêncio que dizia tanta coisa: — Bom, eu sei que o dia não está sendo fácil para ninguém, mas nós precisamos começar a nos organizar para a mudança. Foi quando eu tomei coragem e disse: — Eu não vou. — Como assim você não vai? - Disse mamãe — Não vou deixar o teatro, me desculpe, eu amo muito vocês e estou sofrendo muito com a doença da Gabi, mas eu tenho um sonho e não posso abrir mão dele. Todos olhavam para mim da forma mais fria e indignada que podiam, naquele momento, eu me senti a pior pessoa do mundo, mas infelizmente, essa era a verdade, eu não podia largar tudo e simplesmente ir embora. — Mal posso acreditar que você falou isso, sua irmã está doente e precisa de um tratamento! - Disse mamãe chorando- Te dou dois dias para pensar, se decidir ser uma boa filha e uma boa irmã, venha conosco, mas se preferir ficar aqui só por causa disso, ficará sozinha. Minha mãe nunca havia falado comigo daquela forma, fui para meu o quarto, tranquei a porta e chorei, chorei muito. Aqueles dois dias foram os dias mais difíceis de toda a minha vida, milhões de coisas passavam dentro da minha cabeça, uma tempestade de medos e incertezas me cercavam cada vez mais e sentia como se minha vida tivesse se despedaçado em milhões de pedacinhos. Lembrei-me de todos os meus momentos bons com minha irmã, houve um dia em que fomos a um parque todo florido, brincamos e nos divertimos muito por horas e, no final do dia, Gabi disse que me amava muito e que jamais poderia pedir uma irmã melhor. Percebi que estava sendo egoísta, pensando só em mim mesma, então comecei a pesquisar sobre a Austrália e descobri que as escolas de teatro de lá, são fantásticas, fiquei tão feliz, que fui correndo falar com minha mãe: — Mamãe, mãe! Eu vou com vocês, me perdoa por tudo, vocês são a melhor família que eu poderia ter! — Meu amor, que bom você escolheu vir com agente, tenho certeza que seremos muito felizes. — Descobri que na cidade onde vamos ficar, tem uma universidade de artes cênicas conhecida no mundo inteiro- eu disse com muita empolgação. — Lívia, eu e toda nossa família jamais iríamos fazer com que você desistisse de seu sonho, você e sua irmã são as coisas mais importantes e preciosas da minha vida e da de seu pai, não suportaríamos ficar sem vocês. Após uma ou duas semanas, fomos para a Austrália. Despedi-me de todos e prometi que um dia voltaria e que todos teriam orgulho de mim pelo que pretendo me tornar. Após dois anos vivendo aqui na Austrália, sinto que tudo está perfeito! Estou estudando muito, para daqui alguns anos tentar uma bolsa de estudos na universidade de artes cênicas. Mas com certeza, a melhor notícia de todas, é que Gabi está curada! Faz um ano que ela não tem recaídas e os tumores não apareceram mais, o cabelo dela já cresceu bastante e ela está cada vez mais linda. Papai e mamãe conseguiram ótimos empregos e eles têm me ajudado muito nos estudos e dado todo o apoio para continuar a seguir meus sonhos. Descobri que, no meio de tantas tempestades, consegui achar meu porto seguro, minha família, são eles que me fazem cada vez mais, querer alcançar meus objetivos e tenho certeza de que estaremos sempre juntos, não importa onde. Jade Ito
Realidade da escola? Em uma manhã ensolarada, levava o meu filho Harold à sua nova escola, onde eu havia estudado a muito tempo atrás. Praticamente, passei minha infância e adolescência naquela escola, mas não me lembro de ter tido muitas lembranças boas, além de ter conhecido minha esposa, mãe de meu filho. Muito pelo contrario. Só me lembro de coisas ruins. — E aí pequeno John? — O que você quer, Guilherme? — Eu quero seu dinheiro da merenda. — Eu não tenho dinheiro, só um suco e um lanche. — Isso serve. Isso não é uma coisa que eu queria para meu filho, porém, minha esposa dizia que a escola era forte e que iria deixar nosso filho bem inteligente. Eu sabia disso, mas não concordei de primeira. Continuamos indo para a escola, mas, a cada metro que andávamos, o dia ficava mais feio: nublado e com uma ventania, que balançava as folhas das árvores de uma maneira tão estranha, para o lado, se elas fossem arrancadas, iriam continuas voando por um bom tempo. Quando chegamos na escola, estacionei o carro e começou a chover. Deixei meu filho e fui para meu trabalho, o dia voltou a ficar ensolarado, porém, a cada minuto que passava, eu pensava em Guilherme. — Johnzinho, tá na hora de eu te fazer de saco de pancada. — Pequeno John, me dá sua lição, porque eu esqueci de fazer a minha. — John, que relógio bonito... Eu o quero! “Coitado do meu filho Harold, tão pequeno quanto seu pai era. Será que ainda há um Guilherme, ou uma criança pior na escola? Será que meu filho está dando seu lanche que eu fiz com tanto amor para um valentão qualquer? Não espero a hora de ver meu filho e perguntar o que aconteceu na escola.” Fui voando para ver meu filho, que já estava em casa, pois voltou de perua. — Filho, como foi escola? — Foi muito legal, fiz vários amigos e amigas e as professoras são excelentes. Fiquei surpreso e contente ao ouvir isso, apesar de achar que ele estava mentindo, já que eu falava isso para meus pais, mas diferente de mim, ele não tinha hematomas. Então, permaneci tranquilo. Ele tinha que continuar na escola. João Pedro Amaral dos Santos
PERSPECTIVA Não foi neste Réveillon, mas em um em que já eram dez e meia, um pouco mais e “Feliz Ano Novo!”. Lá estava eu, ansioso para o espetáculo de fogos de artifício, deitado na cama, imaginava aquele céu escuro como uma gigante folha de papel, prestes a tomar várias bombas de tinta, perguntava a cada segundo quantas horas eram para meu primo, que depois de um tempo, impaciente começara a responder com xingamentos e sempre falando “você vai me fazer perder o jogo, sô!”. Entediado, peguei o “tablet” ao meu lado e comecei a jogar, fiquei um bom tempo distraído, então, ouvi minha mãe dizer “bora, desce meninada!”. Eu me virei e olhei na tela do computador: Onze horas! Desci correndo para a sala e saí “para fora”, onde fui recebido pelo cachorro. Este Réveillon seria diferente, sugeriram a fantástica ideia de assistirmos aos “fogos” em cima do telhado, fui em direção ao lado da casa e encontrei meu padrinho segurando a escada, corri em direção ao meu padrinho, e perguntei: —— Uai, já vamos subir? —— Não vamos subir. Então toda ansiedade “foi embora”, continuei a conversa com uma risadinha “risadinha” falsa: —— Então para que a escada?
—— Na verdade, estou tirando ela daqui. Após essa resposta, fui andando para frente da casa, desapontado, antes de entrar na casa, dei uma olhada naquele céu vazio, preto e sem graça e entrei na casa. Dentro da casa, fui para a cozinha onde encontrei minha mãe, comecei a perguntar o porquê do cancelamento da ideia, eu já esperava a resposta “porque é perigoso”, o que eu não esperava é que “toda a família” concordasse (quase toda), comecei a sugerir vários “mas e se”, porém isso só aumentou a impaciência da minha mãe, então admiti a derrota, pois seria melhor do que ficar de castigo. A viagem em que não fui o sítio em que não dormi, mas é claro que a “mãezona” não deixaria essa “rolar” também. Triste, olhei para o relógio da sala, já eram onze e meia, mas nada de escada. Frustrado e entediado, voltei “para cima” e chamei meu primo para descer, ele reclamou que ainda faltava meia hora e “para variar” disse que eu estava atrapalhando a “concentração dele”, já ia voltar para baixo quando olhei para o banheiro, e lembrei que no teto do banheiro havia uma passagem para o lugar onde ficava a caixa da água, mas o que me importava naquele lugar era sua janela que “dava” ao tão desejado telhado. De repente, toda a ansiedade voltou aquele réveillon “tinha graça” novamente, desci para o jardim que se encontrava atrás da casa, onde encontrei “a escada menor”, não era tão pesada para ser carregada, mas quando tem que ser carregada pelas escadas, e em sigilo, ai “é outra história”. Subi correndo para pedir ajuda para o meu primo, foi quando olhei para a tela do computador, faltavam dez minutos para o réveillon! O que justifica o porquê dele estar desligando o computador. Expliquei para ele a situação, ele me respondeu “com aquele clássico” “tá bom”, buscamos a escada e voltamos para cima, mais rápido do que tinha eu imaginado. No banheiro meu primo começou a ajustar a escada, aproveitei que ele tinha deixado o celular em cima da pia e dei uma olhada nas horas, faltavam cinco minutos para o réveillon! Já se podiam ouvir algumas explosões, meu primo, após terminar o serviço, pegou o celular e antes de descer me avisou “me deve uma hein!”. Agarrei o degrau da escada e comecei a olhar para cima, foi quando comecei a ouvir algumas risadas, minha família estava se divertindo, olhei para cima novamente, mas a ideia já não parecia tão divertida, olhei para os degraus que estava segurando e comecei a pensar, então comecei a ouvir mais explosões e vários gritos de alegria, então, nem feliz ou triste, disse a mim mesmo “pois é, fica para a próxima”. Larguei a escada e corri “para baixo”, para assistir ao espetáculo, não estava no telhado, mas pelo menos, não estava sozinho. Após muito tempo, os “fogos” finalmente acabaram, os gritos, ao redor da cidade, também pararam, o fim do festival sinalizou o fim do ano velho e início do Ano novo. Após várias conversas e brindes com a família, olhei para o lado onde vi meu primo, que estava me chamando para voltarmos para os “games”, abracei minha mãe como sinal de despedida e fui “para cima” com meu primo, onde jogamos até às seis horas da manhã, e ao deitar na minha cama, antes de dormir prometi a mim mesmo “nesse ano, com certeza vai rolar!”.
João David Reich
Volte Mais um clarão. 1 , 2 , 3 , barulho. Clarão. 1 , 2 , barulho. Desde que minha mãe me ensinou esse jeito de saber quando uma tempestade está perto ou não de acabar, uso-o sempre. É fácil, funciona assim: você conta quantos segundos passam entre um clarão e o barulho, quanto maior o tempo, mais longe a tempestade está, o que significa que está acabando. Não sei se funciona, também não acho que funcione, mas me faz lembrar dela. Pelo jeito, esta tempestade está cada vez mais longe de acabar, mas isso nunca impede e nunca impediu ninguém de continuar vivendo, seguindo em frente,...né? É, vivendo não. Sendo feliz? Talvez. Isso não me incomoda mais, a água caindo, a ansiedade de saber quando isso vai acabar. Incomoda Guilherme, que tem medo sempre que chove, mas eu entendo, ele ainda não tem idade para entender, por isso, quando ele se senta no meu colo, no sofá da sala e vemos a chuva cair pela janela e o céu bater na terra com seus clarões afiados e pontiagudos, falo pra ele: —Gui, vai passar! Tudo passa, até isso, essa chuva forte, vai ser a que vai passar mais rápido... —Não “tô” preocupado com a chuva. —Com o que, então? Já sabia a resposta. —Cadê a mamãe? Ela “tá” chegando? —Não sei. —Deve “tá” no trânsito. Não respondo nada, temo que se respondesse que sim, acabaria soando irônica, ou até mentirosa. E não quero acabar com as esperanças dele. Depois de algum tempo, ele começa a ficar inquieto e fala que está com fome. —Quer que eu prepare sua comida? —Quero que a mamãe prepare.
—Mas ela vai chegar tarde. —Ta! Então prepara você. Levanto-me, deixando-o deitado no sofá. Me dirijo com passos pesados para a cozinha. Abro a geladeira e, enquanto pego os vegetais, que já estão em seus últimos dias de luta contra a podridão, as luzes da cozinha piscam e falham, mas nem gasto mais meu tempo tentando concertalas. A carne vai no micro-ondas, por 1 minuto, 59, 58 ... Já previa tudo aquilo, os problemas de casal e a separação. Mas não foi isso que fez com que as nossas vidas mudassem. Não, não foi. Tenho certeza de que não...foi depois que tudo começou, ou melhor, desmoronou. O barulho das chaves na porta de trás me tira um grito, pelo susto que levo, mas é só Úrsula. Ela fala Oi filha respondo Oi mãe onde está seu irmão? já foi com o papai por que você ainda está aqui? queria te esperar. Ela sempre faz isso, vai fazer de novo... pedir para eu ir embora pois precisa se reunir com uns amigos ou vai sair ou quer ter um tempo sozinha ou outros muitos motivos. Pergunto onde vou dormir então, mas não quero saber a resposta, muito menos dormir em outro lugar. Você não pode me expulsar daqui! A casa também é minha! E ela fala para eu não começar falo que não estou começando nada, que nada disso teria acontecido se ela se importasse mais comigo. E ela fica brava, fala que não vai discutir comigo, que se eu não sair, quem sai é ela. Ela abre a porta, novamente, pega as chaves e me olha inexpressivamente. E eu imploro, dramaticamente, Fica aqui por favor por favor não vai tudo bem eu saio eu dou um jeito... Volta mamãe por que tudo não pode ser como antes? Volta, não me deixa aqui! Eu não quero ficar sozinha POR FAVOR! Mas acho que não imploro o suficiente. Acho que nem falo. E a tensão paira no ar. Ela continua me olhando. Se ao menos eu falasse qualquer coisa, qualquer mínima coisa. Mas não. silêncio s i l ê n c i o S I L Ê N C I O S I L Ê N C I O E N S U R D E C E D O R Fico surda. Não ouço mais nada. Só a vejo fechar a porta e ir embora. E tudo fica vazio e escuro. BIIIIP. O tempo do micro-ondas acaba e realmente levo um susto com ele. Meu irmão vem correndo me ver, devo estar com uma cara ridícula, pois ele começa a rir. E é a risada mais genuína do mundo...Tão leve e pura! Sei que o momento não vai durar, mas caio na gargalhada junto com ele, tornando, assim, esse momento glorioso. Sirvo a comida na mesa e os vegetais parecem dançar, felizes (ou somos nós dois que dançamos?). Antes que eu perceba, a porta se abre e o momento de felicidade se acaba. Meu pai entra e fala que quer conversar com nós dois. Sei que vai falar que nossa mãe viajou, para não ter que falar na nossa cara a verdade. Eu estava na hora, sei que ela foi embora. Não quero saber a explicação que ele tem para dar... Só volto a contar a tempestade. 1, 2, 3, 4, 5, barulho. Clarão. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, barulho. Está acabando.
Julia Sanches de Almeida
Amizade sem fronteira No aeroporto novamente, com pessoas se despedindo e eu apenas ali sem pensar em mais nada além daquilo que aconteceu a seis meses atrás. Porque eu não conseguia ir? Eu não queria ficar sozinha, mas aquela porta me assustava, não conseguiria passar por ela tão cedo, vê-las passando por lá era tão fácil, quando chegaram no avião só pegaram seus assentos e foram para muito longe. Mas eu, eu não conseguiria. Ali estava eu, sentada tomando um Frapuccino de brigadeiro do Starbucks, ouvindo músicas, esperando o meu voo ser chamado. As seis meses atrás, a questão era, ir ou não? Morar com elas ou sem elas? Como eu entraria naquele avião? Teria que enfrentar meu maior medo e quando chegasse seria um lugar totalmente novo, diferente, além disso, estaria sozinha, perdida, mas valeria a pena, reencontra-las e começar praticamente uma vida nova. Abandonaria, tudo aqui no Brasil, a minha família, meu namorado, o teatro, mas lá eu poderia começar, ter uma carreira nova, novas experiências.
— Não grita comigo! A gente veio aqui para buscar meu pai ou para você ficar brigando comigo? Você sabia que isso a gente pode fazer em casa? Ah é quase me esqueci você faz isso comigo lá também. Que saudades da minha mãe. Quando ouvi a menina falando com a mãe, eu me lembrei das minhas brigas com a minha mãe. —Lara, já falei...Você faz o que quiser, mas se eu fosse você, eu iria. — Mas o problema não é esse, é que eu tenho medo, medo de ir sozinha, medo de voar naquela coisa, que as pessoas chamam de avião, conhecer um mundo e viver nele sem você. Os abraços os beijos, que me faziam sentir acolhida como se estivesse sendo abraçada por um ursinho de pelúcia, se eu fosse, demoraria a sentir isso novamente. —Fernando, SE eu for, vou recomeçar minha vida, eu posso investir na minha carreira. — Mas, eu não quero te perder. — Você não vai. — NAMORAR A DISTÃNCIA NÃO É A MESMA COISA. — Então, você quer terminar? — Não sei, você tem 17 anos, nem é maior de idade e já quer sair do Brasil sozinha. — Se você não quer me apoiar, o problema é seu, se você não me apoia você não quer o meu bem. Lembrei-me de tudo isso quando começou a tocar “Love Yourself” do Justin Bieber e uma lágrima começou a cair do meu olho direito e uma poça começou a se formar no chão, um rio, um mar, um oceano. Um casalzinho de namorados passou, lembrei, de quando pedi ajuda para a Jade. — Jade o que eu faço? Não vou aceitar, se minha mãe descobrir, ela me mata. — Mas amiga, está todo mundo namorando. Com aquela conversa, comecei a namorar, com o Fernando. Para esquecer, resolvi ver um vídeo no YouTube e vi um vlog de uma menina que foi viajar com a amiga e me lembrei de quando fui com a Gi para a porta do Sol no interior de São Paulo, onde os avós dela tem uma casa. Estávamos, brincando de canibal quando, de repente, eu caí em um buraco e ela cuidou de mim. Eu tomando meu Frapuccino, lembrei, da Marina que amava ir no, Starbucks e nós sempre íamos juntas. Eu entrei no avião e somente fechei os olhos. Quando abri, já estava pousando, saí do corredor por aquela porta sem um peso no coração, quando fui pegar as bagagens, elas estavam lá e a frase que elas falaram antes de me abraçar foi “nós te dissemos que estaríamos a sua espera, pois a verdadeira amizade nunca é esquecida e nós nunca deixamos e pensar em você quando estávamos aqui”. Tudo clareou lá fora. Até agora, a angústia e a agonia não existiam mais, apenas felicidade. Lara Perelman
“A Estrada” Ele estava animado para rever a tia em Tapiratiba, interior de São Paulo, localizado a uma distância de 15 minutos para Poços de Caldas. Fazia tempo que ele não via sua tia. Francisco, nascido no interior e trabalha em São Paulo, ia uma vez para sua cidade natal, onde sua tia mora. Estava na estrada, contente, indo para lá, cantando a música do rádio e super tranquilo no carro. O carro estava cheio de coisas; comida, mala e tudo que sua tia lhe pedisse. Ele estava andando, sem trânsito, faltava 1 hora para chegar ao destino final, dizia o GPS. Ele vê um carro vermelho batendo em um carro preto. Ele tinha seis anos, nesse dia ele estava indo passar as férias no interior e o carro bateu em seu carro, um carro vermelho mais precisamente. No momento da batida, muito barulho na hora, foi realmente uma batida horrorosa, o carro foi considerado perda total, e sua mãe, Marta, também foi uma perda total. No momento após a batida, ele precisa decidir entre parar e ajudar os acidentados ou continuar o seu caminho para Tapiratiba. Ele se desespera e pega o telefone. Liga para a emergência. Quando vê dentro do carro uma criança pequena, que aparenta ter entre cinco e seis anos, ele corre e a consegue salvá-la, chorando, ele a acalma, e espera a emergência chegar. Pega um doce no carro e dá para a criança, que se acalma, os pais da criança tiveram ferimentos não graves. Depois do acidente ocorrido na estrada, Francisco nunca mais conseguiu andar de carro e não pode ver um carro vermelho sem sofrer calafrios.
Leonardo Ferramola
Um voo triste Era mais um dia de férias com a família, meu padrasto conseguiu uma viagem de helicóptero para nós. Estávamos em Las Vegas, mas até chegar no aeroporto, uma limusine veio nos pegar, iríamos até o Grand Cayon. Quando chegamos para pegar o helicóptero, antes de embarcarmos, tivemos que ver um vídeo, recebemos algumas instruções, então fomos para a aeronave e decolamos. No meio do caminho um barulho na hélice. “Esse barulho está me assustando, ficou tudo preto, muito escuro e o carro esta mais rápida”. — Pai, o carro está derrapando - falei assustado. Quando olho meu pai, ele está mais assustado que eu, o carro desliza devagar e começa a girar, via tudo de ponta-cabeça, meu pai estava sem cinto e começou a bater a cabeça por todo o carro e eu desmaiei. Quando acordei vi um homem de branco tentado me salvar, logo atrás dele, um carro grande com sirene ligada e uma multidão estava lá para ver o que tinha acontecido. Olho para o meu pai e ele não estava mais lá, só vi uma poça de sangue, estava tudo muito turvo na minha visão. Logo após, desfaleci novamente. Só fui acorda no hospital, despertei assustado, gritando. — Cadê meu pai? Ele está bem? Onde ele está? Estava começando a ficar muito preocupado e ninguém me falava o que estava acontecendo, só diziam que ele iria ficar bem. Quando o médico veio falar comigo, eu olhei para a cara dele, que refletia tristeza e comecei a ver as flores, tristes. Quando o médico abriu a porta do quarto onde eu estava, vi minha mãe logo atrás, sentada no chão chorando, ficou tudo preto, tudo em câmera lenta, por um minuto fiquei surdo, logo depois fiquei cego com tanta água escorrendo. Foi quando soube que meu pai estava morto, eu não aguentei e comecei a chorar, meu choro estava tão alto que meu padrasto começou a ficar preocupado e me chamou... Abri os olhos e vejo que o helicóptero já tinha pousado. Lucas Catarino Nunes
Uma companhia ruim Hoje vai ser um dia diferente de todos os outros, finalmente, eu acabaria com toda aquela culpa que ficou presa dentro de mim, essa vai ser a primeira vez que eu revelo isso a alguém e esse alguém irá entender o que eu fiz e meus motivos para ter agido dessa forma. Eu era somente um garoto de dez anos, não tinha consciência sobre meus atos. Eu não era uma criança com muitos amigos, a minha família era a coisa com a qual eu mais me importava, apesar de eu gostar dos poucos amigos que eu possuía. Estávamos tendo aula de matemática (essa aula não vai acabar nunca) e, então, eu escutei um sinal de felicidade: a aula havia acabado. Eu e meu grande amigo, Pietro, estamos indo para minha casa, o dia estava claro e ensolarado era como se o sol estivesse sorrindo. Assim que nós chegamos em casa, corremos para o meu quarto, para jogar vídeo-game. Olhei pela janela, vi os pássaros voando, livres e felizes. Como se não houvesse amanhã. Após jogar vídeo-game, iríamos fazer um trabalho. O papel havia acabado e fui a papelaria. Senti como se algo estivesse acontecendo, era como uma pontada no coração; o céu havia se fechado, o tempo estava cada vez pior. Começou a chover e os relâmpagos estavam mais fortes. Ao chegar em casa. Ouvi minha mãe gritando: –Alguém me salva, esse cara é um monstro! Eu subi as escadas da tristeza. Avistei Pietro com uma arma em sua mão apontando ela para minha mãe. Meu Deus! Isso não pode estar acontecendo! Corri para o porão, havia uma pistola guardada lá. Quando eu cheguei ao porão, abri a porta. Avistei a arma, fria, no meio de vários lençóis para que ninguém a encontrasse. Peguei-a na mão, é agora ou nunca! Vou salvar a minha mãe desse monstro! Subi novamente a escadas e avistei-o, ajeitei a arma e então escutei: –Eu sei que você está aí! Escutei um som forte, como um tiro: ele havia atirado em minha mãe. Gritei para ele:“ desgraçado”. E então não pude me conter, escutei novamente um som forte como um tiro, mas, dessa vez, quem havia levado um tiro não era a minha mãe... o que eu havia feito, meu Deus?! Havia um vulto ensanguentado no chão.
Lucca Pamboukian Lico
Cinza A tia me pediu para usar mais cores, jurei de dedinho que ia tentar... tentei mesmo, até tirei todos os lápis da caixa, pinteirisquei-pintei e foi amarelo com vermelho com azul com rosa e roxo e verde e laranja... mas tudo junto ficou escuro de novo! Eu usei as cores tia, mas não prometo fazer de novo não... todo mundo pinta colorido! Por que você não pede para eles pintarem branco e preto? Mas, naquele dia que todo mundo ouviu o papai e a mamãe da menininha morena, sempre feliz, gritando um com o outro, ela não desenhou colorido, eu queria saber: por que ela não pintou colorido? Mamãe disse que quando os pais de alguém brigam, eles não estão felizes... no dia seguinte, o papai dela a levou. Ela voltou a pintar colorido. Quando a mamãe dela foi buscar ela, com uma camiseta preta, ela torceu o narizinho... ela não acha cores escuras bonitas, como eu... E continua igual, aquela simples construção, um andar, uma cerca branca ao seu redor e crianças correndo por aí, joelhos esfolados e gargalhadas sinceras... tão simples... felicidade a deles, que não vem em um momento e some no outro. A luz acende no painel meu cartão já está no negativo mesmo assim conduzo até o posto “Completa pra mim por favor” o cheiro da gasolina invade o carro, já vejo a prisão de longe dias, meses, anos ! uma vida! controlada, moldada usada como um rascunho de um, dois, três, trinta em mais uma curva meu pai freou bruscamente...passaram na frente do Gran Torino outros detentos me pareciam...contentes? e de novo no meio de modelos novos o “clássico”... acelerou entre as curvas.. “Belo carro” meu saldo definitivamente foi brutalmente massacrado eu forçava o Gran Torino ao máximo...era descuidado e excruciante virar nas curvas a tempo... ! como podiam parecer tão felizes! tão conformados! habituados! banais! óbvios, previsíveis?? Como? curva ! Ignorantes!! Sei que somos um diário em branco, mas como... por que se sujeitam a ter suas paginas manchadas, borradas, rasgadas, arrancadas por alguém se não eles mesmos???? curva ! Idiotas, entendo que pessoas, a maioria, são fracas e caem nessa mera ilusão, mas qual o problema de todos? Por um lado se deixam iludir, pelo outro iludem e influenciam de modo que alguns não serão capazes de questionar!!! curva,curva,curva , para O sinal estava lá, desenhado perfeitamente no quadro, o giz desgastado estava sobre a mesa, tão perfeito, anos com o mesmo desenho, linhas traçadas automaticamente, anos nesse mesmo lugar, anos co essa expressão de tédio que suaviza no momento em que todos pisam fora do cômodo ao som daquele alarme irritante as viaturas passaram em um piscar de olhos, os nós dos dedos de minhas mãos logo se tornaram brancos devido à força com que eu apertava o volante maldito som das sirenes maldito aprisionamento de ideias, de tempo.. O relógio de bolso que ele sempre carregava devia estar sempre parado ou talvez ele contava o tempo para tudo acabar seus traços,
me recordo, eram suaves, cansados e preguiçosos como será a sensação? De estar sempre desenhando o mesmo semáforo... curva acho que também estou fadado a isso... ano que vem voltarei a estar preso aprendendo como deixar alguém atrás das grades e não deixar sair em nenhuma circunstancia curva talvez esteja sendo um tanto egoísta(hipócrita?), afinal tenho plena consciência do meu aprisionamento futuro e presente interno,curva a estrada fica estreita me forçando a desacelerar tem um radar por aqui, não quero levar uma multa (nem ser controlado) não queria ter como pagá-la sem que faça grande diferença não queria ficar encurralado entro os dois meios-fios, mas é o único jeito de chegar a algum lugar queria poder parar.. Brequei quando um grupo de jovens passou na minha frente cambaleando pra lá e pra cá um bando de gente desconhecida passava por mim, copos vermelhos nas mãos, baseados em festas comuns, caminho ainda em linha reta em direção à casa, o volume da música é ensurdecedor e o comprimido que havia tomado para as minhas dores de cabeça fazia efeito agora sob o jogo de luzes coloridas, qual direção que iluminavam certamente tinha mais sentido do que se passa na minha cabeça, me lembrando do gosto amargo que teve o limão para disfarçar o sabor do esquecimento seguido pelo aperto no meu peito e o alivio de ver as cores mais vivas.Pelo menos, todos aqui devem entender, mesmo que mínima, uma parte de mim nesse momento eu cambaleei, talvez não seja tão diferente curva a neblina cobria a estrada curva só tenho tempo para ver um carro passar por mim de vidros abertos como se o clima repentino não os afetasse já que continuavam cantando felizes não consigo enxergar curva,por pouco viro a esquerda, estaciono e saio do carro me encostando no capô vendo à frente o penhasco, o mar, agitado sob os raios suaves de sol e do outro lado vejo a floresta sendo castigada por uma ventania e todos os seres que lá vivem se escondem ou pedem socorro, implorando para que os tirem do breu, talvez aquela festa tenha sido uma forma de escape, para todos eles... para mim. Aquela garota loira dançando loucamente com qualquer um que chegasse perto e aquelas outras três garotas a observando, rindo com desprezo, não entendo a necessidade desses julgamentos de qualquer julgamento(menos aqueles perante as leis) afinal eles não te levarão a nada, não passam de uma falha tentativa de se sentir melhor consigo mesmo não vi nenhuma pessoa chegando perto dessas meninas... Me recordo do cara vomitando no banheiro não colocou nada para fora... nunca o faria. Acreditei que fosse uma saída mas todas as portas só indicavam continuações. Meu mundo preto e branco é mais bonito mais certo mais incerto. As ondas castigam a costa o sol não brilha, mas está lá, a floresta ressoa incompreensíveis lamentações, alegrias e confusões. O mar chama brilhando, ele canta num mais perfeito tom nunca acreditei no perfeito, mas ele com certeza é fascinante e atrativo e uma chuva cai, o mar a recebe de braços abertos a estrada, suas curvas, se tornam perigosas, mais incertas eu? me molho de um jeito ou de outro entro no carro incomum, uma bagunça organizada que acabou de aumentar, um sorriso cruza meu rosto só espero que essa bagunça não pare de aumentar no final ela me estrutura por meio de tantas curvas~ Maria Luiza L. Reginato V. Boas
Um príncipe sem encanto É
tāo estranho estar aqui, mas é incrível também. Tantos anos sendo criticada e excluída por todos, só porque não podia estar aqui, onde estou agora! Até que é uma sensação boa! Saber que só estou aqui porque conquistei essa viagem, durante anos lutei estudando e trabalhando, mas havia um motivo, sonhava em estar mo mundo onde os sonhos se tornam reais, e aqui estou eu, embarcando para lá! Tenho a sensação de que o meu sonho é o próximo que este lugar vai realizar. Assim que o comandante anunciou o meu voo, não sabia o que fazer, milhares de pessoas andando de um lugar para o outro, isso me deixava angustiada. Quando chegou a minha vez de mostrar meus documentos, fiquei encantada, aqueles comandantes, pilotos e aeromoças com um sorriso no rosto, prontos para me receber, parecia que eu estava mesmo em um castelo, um castelo de contos de fadas. Assim que o comandante me disse “senhora, seu passaporte por favor!” olhei ao meu redor e meus documentos caíram no chão. Lembrava de meus colegas dizendo como eu era estranha e inferior por eu não ter dinheiro. Nesse instante, uma lagrima se foi ao chão e um sentimento de desespero tomou conta de mim, mas um homem que também estava na fila recolheu meus documentos e minha lagrima também e, com uma simpatia, perguntou “olá, tudo bem? Qual é o seu nome?” “Isabela, eu estou bem, obrigada! E qual é o seu nome?” “ Meu nome é Enzo, você é uma bela moça!” Fiquei sem palavras, só pensava que acabara de encontrar o meu príncipe encantado. Entreguei os meus documentos para o comandante e embarquei, um simples passo que dei para entrar no avião mudou a minha vida! A partir desse momento, tudo passou a ter mais cor. Quando fui colocar minha mala de mão no bagageiro, avistei Stephanie, a garota que mais me excluía, tudo ficou preto e minha mala caiu em cima de mim. Levantei rapidamente e meu mundo clareou novamente,
vi Enzo, meu príncipe encantado coincidência era ao meu lado.
chegando
ao
seu
assento,
que
por
Ele, surpreso, disse “Olá Isabela, que bom te encontrar novamente!” Conversamos praticamente o voo inteiro. Teve uma hora, em que ele me perguntou se eu ainda tinha contato com os meus amigos da escola, não consegui responder, uma forte turbulência começou, lembrava de meus colegas, e depois olhei para Stephanie, a turbulência ficava cada vez mais forte. Enzo, com seu jeito calmo, perguntou “Está tudo bem? Eu não queria ofender!” “Sim fique tranquilo, estou bem é que eu nunca tive amigos na escola, todos me ridicularizavam!” “Ah, entendi” “Não quero ofender, mas por que? Você é uma moça tāo bonita!” “Obrigada, é porque eu quase não tinha dinheiro para comer, minha vida era muito difícil, e para eles eu era inferior por isso” “Mas que besteira!” Nesse momento quando eu estava terminando a minha história, ouvi uma voz dizendo “Enzo, o que você está fazendo aqui?” Olhei para trás, e vi que era Stephanie que tinha feito a pergunta, de repente as luzes do avião se apagaram “Queria fazer uma surpresa pra você” respondeu Enzo “Vocês se conhecem?” não aguentei de curiosidade “Sim, Steph é minha namorada!” messe momento meu mundo parou, o príncipe encantado acabara de perder o seu encanto “E você, já a conhece?” Antes que eu abrisse a minha boca para começar a responder, Stephanie me encarou com um olhar amedrontador, achei melhor mentir “Não, nunca a vi antes!” A aeromoça, nesse instante, anunciou o início do pouso. Só queria que esse pesadelo acabasse, para eu sair do avião e me livrar desse sentimento que não consigo nem explicar. Um tempo depois tudo isso passou, porque estava bem na frente daquele castelo azul e branco que via na abertura dos filmes da Disney, estava diante do Castelo da Cinderela. Realmente não era brincadeira, aquele lugar era realmente mágico, olhar para aquele castelo iluminado por fogos, podia mudar um momento, um dia, ou até uma história.
Marina Araujo Siqueira
Culpa ‘’A culpa é sua, ela é nossa amiga! Você sabia quem era, sabia, e não falou? Eu juro que não estou te reconhecendo mais’’. — Filha, filha está tudo bem? — Não pai, não está tudo bem! Minha melhor amiga está desaparecida, e a culpa é minha, toda minha. E você acha que está tudo bem? — A culpa não e sua, a culpa não é de ninguém. Toda a polícia está a procura de Nina, eles vão encontra-la. —Pai...você não entende — Eu estou indo ao supermercado, você quer que eu traga alguma pra você? — Sim pai! Quero que você traga minha amiga de volta! É só isso que eu quero! Ele me olhou, com uma expressão irreconhecível. Ele ficou parado na porta me olhando... disse algo que não entendi... me traria alguma coisa talvez. Durante algum tempo ele ficou parado na porta, na esperança que me pronunciasse...Mas continuei estática, ele se foi deixando aporta aberta. Me levantei da cama pisando fortemente no chão. — Eu já cansei de falar!- gritei - se você entrou no meu quarto e a porta estava fechada, quando sair deixe-a como encontrou FECHADA! E bati a porta, com tanta força que a casa estremeceu. A casa que algum tempo perdeu o brilho, a cor, e só sobrou aquela casa, fria, escura e vazia, ela estremeceu. Voltei para a minha cama, agarrei-me ao meu travesseiro e senti uma lagrima escorrendo pelo meu rosto. Fiquei me mexendo de um lado para o outro tentando dormir mas eu não consegui. Até que escutei uma sirene da policia com um som estridente que parecia destorcer meu CEREBRO... — Então você é a melhor amiga da Nina? Sabe alguma coisa sobre o desaparecimento dela? — Não senhor delegado — Tem certeza? Onde você estava naquela noite? Nina estava com quem? A senhorita sabe? — Eu estava em casa, mas não sei onde e nem com quem, Nina estava. MENTIRA! MENTIRA você sabe... Aquela voz ficava repetindo isso na minha cabeça. — Katharine você realmente não sabe de nada? — Não, senhor — Obrigada, pode se retirar. Sai da sala, e sentei-me. Estava esperando Caroline depor para irmos embora juntas. — A CULPA É SUA, quem mandou você assaltar aquela loja- Escutei uma moça falando para um rapaz no fim do corredor. A culpa é sua... Ela era minha boneca predileta e você a quebrou. Eu, Nina e Caroline éramos amigas desde de sempre e uma vez eu quebrei a boneca de Nina de tanta inveja que eu tinha daquela boneca perfeita, loira do olho azul, com o vestido rosa todo rendado. Mas agora Nina estava desaparecida e eu era a culpada. Caroline me disse isso, minha consciência me disse isso. E pensar quem tudo isso começou EM UMA FESTA. Era aniversario de uma menina do colégio e Nina estava namorando Damon, líder dos jogadores, Nina estava muito feliz e fez questão de levá-lo. Damon disse que ia embora mais cedo porque não estava se sentindo bem. A festa foi ótima exceto o fato de descobrimos que Damon estava traindo Nina com uma menina da festa. Nina foi para casa e durante alguns dias não quis falar com ninguém, só a víamos na escola, pareceu ter perdido seu brilho. Eu e Caroline achamos que o melhor jeito de acabar com isso era achando um ‘substituto’ para Damon. Pensei imediatamente em Mike, meu primo, eu conhecia Nina e Mike muito bem e eles eram perfeitos um para o outro. Mike era a pessoa mais doce e gentil que já conheci ou pelo menos era. Mike estava dependente de drogas mas quando descobri já era tarde. Após algumas semanas quem Nina e Mike se conheceram eu fui até a casa dele para saber o que ele estava achando dela. Ele abriu a porta, estava alterado, os olhos avermelhados, a casa estava com um cheiro horrível. — Mike, esta tudo bem? — Obvio que tá, porque não estaria? — Por favor não me diga que você... — Estou fumando! Estou, e o que que tem? — Escuta eu quero que se afaste da Nina.
— Você não manda em mim! Não conte sobre essa conversa ninguém! Ele bateu a porta depois da ameaça e pensei que o único jeito de afastar Nina dele era separando os dois, através de Nina. No dia seguinte logo pela manha fui até a casa de Nina fui tentar colocar na cabeça dela que Mike não era uma pessoa boa... — Miga, você não sabe quem me pediu em namoro... vou dar uma dica... — Não me diga que é com o Mike! — Nossa nem precisou de dica! — NÃO, NÃO, NÃO... Não consegui terminar de falar ela estava tão empolgada, o brilho que ela tinha retornara e eu não queria acabar com ele de novo. — Tomara que desta vez dê certo... EU SEI que deveria ter dito a verdade mas eu não consegui... Semanas se passaram e Nina estava ficando estranha, meu contato com ela diminuiu, ela aparecia com e marcas no corpo e sempre dava desculpas diferentes, não respondia mais minhas mensagens e não retornava as minha e as ligações de Caroline. Caroline não conhecia Mike e nem sabia que ele era meu primo, quando Nina desapareceu eu fingi que não sabia de nada e Caroline acreditou. Nina foi ficando cada vez mais distante até que ela desapareceu e só me deixou uma mensagem dizendo: — ’’Miga estou bem, estou com seu primo, não diga a polícia nem a ninguém” Eu liguei e mandei diversas mensagens, mas ela não retornou. Os pais dela ficaram preocupados e todos os amigos, e os pais dela foram chamados para depor, inclusive eu a melhor amiga dela que disse que disse ‘’não sei senhor delegado’’, menti pra ele, menti pra mim, menti pra todos. Quando contei a Caroline sobre a mensagem e a contei a historia ela me culpou de tudo de T u D o. — Vamos já terminei de depor- disse Caroline — Você disse ao delegado sobre a mensagem, e o que eu te contei — Não, e acho que não deveríamos contar, Nina pediu pra você não contar, acho melhor esperamos mais um pouco. Voltamos para casa, e fiquei lá, deitada na cama, sem saber o que fazer, o que sentir, rolando de um lado para o outro enquanto minha amiga esta por ai, e foi quando meu pai entrou e disse que ia ao supermercado. Caroline havia me mandado uma mensagem ‘’é hora de contar a policia’’. Levanteime fui para a delegacia. Cheguei lá já era tarde, a rua estava vazia, e quando cheguei na porta pensei nas ameaças de Mike, na mensagem de Nina em tudo, encostei me na parede e fui me arrastando minhas costas na parede ate sentar no chão. Encostei minha cabeça nas mãos e três meninas passam por mim, de mãos dadas, vestidos e os cabelos soltos. E a única coisa que consegui escutar foi uma das meninas dizendo — Seremos amigas para S E M P R E. Para sempre, eu Caroline e Nina dizíamos isso sempre, e nesse momento me dei conta que estive colocando a vida da minha amiga em risco. Levantei-me e entrei na delegacia. O mesmo delegado que estava lá no dia que eu fui depor estava presente, disse que queria falar com ele entramos em uma sal e eu contei tudo que sabia — Então Mike, seu primo e o suposto culpado pelo desaparecimento de Nina, e ele estava dependente de drogas. — Isso. — E eu posso ver a mensagem que a senhorita mencionou senhoria Katharine? Peguei o celular da bolsa e abri na mensagem. — No momento em que o delegado terminou de ler a mensagem um home com o uniforme da policia, barbado e alto entrou na sala e disse algo no ouvido do delegado e se retirou. — Aqui esta seu celular senhorita Katharine, ele não será mais necessário, Nina e Mike foram encontrados mortos em uma cabana no interior, Nina estava com marcas de sufocamento e Mike estava afogado na banheira, não se sabe quem matou quem mas o caso será estudado mais a fundo. Eu sinto muito. Meu mundo desmoronou, perdi meu primo e minha melhor amiga de uma vez, e a única coisa que sobrou foi aquela voz na minha cabeça ‘A CULPA E SUA’! Depois disso, acabei seguindo o caminho do meu primo, me perdi nas drogas ,perdi meu rumo e agora estou aqui nesse inferno. — Hora do almoço! — Faz coisa errada vem parar aqui na cadeia e Caroline oque houve com ela? — Sumiu depois que disse que estava dependente, você é minha única amiga. — A culpa não e sua você na sabia oque ia acontecer — É SIM A CULPA E TODA M I N H A.
Renata
ÚLTIMO VERÃO Cheguei no restaurante e a Maya já estava lá, quase não a reconheci, ela havia mudado muito. Não tinha mais aquela cara de criança e tinha emagrecido. A gente se cumprimentou e, conforme eu falava com ela, me dei conta de que, realmente, fazia muito tempo. Conversamos um pouco, ela me contou que tinha feito faculdade de Publicidade, está morando sozinha, mas foi pedida em casamento pelo Pedro, fiquei surpresa ao saber que, depois de dez anos, eles ainda estavam juntos. Ela disse que depois que começaram o namoro, ficaram juntos por quatro anos, depois ele morou no Canadá e eles terminaram e há uns três anos ela o encontrou em uma viagem e voltaram a namorar, a Maya sempre quis viver uma dessas histórias de filme. Finalmente, a Jordana chegou, parecia a mesma de sempre, porém mais sorridente e simpática. Conversamos muito e falamos de tudo que aconteceu nos últimos dez anos. Eu contei que estou namorando há um ano e meio e me formei em psicologia. A vida da Jordana continuava movimentada, ela está representando um site americano que fala de moda em vários países e vive viajando, ela tinha morado em Nova Iorque e na Austrália, mas decidiu que prefere ficar em São Paulo mesmo. Ficamos lá por duas horas, e decidimos ir para a minha casa. Dei carona para a Jordana, porque ela tinha ido de táxi, chegando em casa, eu peguei as fotos que eu tinha guardado e logo me lembrei do dia em que nos conhecemos e da nossa adolescência juntas. Nos conhecemos durante as férias de verão, em um condomínio na praia. Eu e a Jordana sempre íamos para a minha casa em janeiro, a Mariana, que também era nossa amiga, estava na casa dos avós e a Maya morou lá até os 16 anos, depois seus pais decidiram voltar para São Paulo. Todas nós tínhamos uns 14 anos, aquela fase em que a gente não tem muita independência, mas não quer ficar grudada nos pais. Era quase sempre a mesma rotina por um mês, de manhã íamos à praia, almoçávamos em casa, a tarde íamos para o centrinho e assistimos ao por do sol na areia, depois a gente via algum filme ou série e dormia bem tarde. Claro que, conforme fomos crescendo, conhecemos mais gente, saiamos mais e havia algumas festas, mas sempre fizemos tudo juntas. A gente ia para lá no comecinho de janeiro e só voltava no começo das aulas. Nessa época, o mês de dezembro parecia uma eternidade, contávamos os dias e ficávamos ansiosas. Eram os melhores dias do ano, claro que nos encontrávamos em São Paulo e, em alguns feriados. Eu via a Jordana todo dia, porque a gente estudava na mesma escola, mas não era igual, talvez por conta das férias, do verão, por estarmos reunidas, a atmosfera era muito boa. Depois de mostrar o apartamento e de vermos todas as fotos, a Maya e a Jordana foram embora, nos despedimos e prometemos que manteríamos contato e que iriamos nos encontrar novamente. Algum tempo depois, resolvi ligar a TV, o noticiários das oito horas estava começando, não prestei muita atenção, até o apresentador falar ‘Jovem de dezesseis anos sofre acidente em rodovia após fugir com o namorado.’ Ao ouvir isso, era como se eu tivesse voltado no tempo, pois eu ainda me lembro com detalhes, como se fosse ontem, do dia em que perdi minha melhor amiga sem poder ao menos me desculpar ou me despedir. Foi no último verão que passamos juntas. Era dia trinta de Dezembro, eu tinha 17 anos, a Jordana chegou na minha casa com aquela mala de roupas gigante que ela levava para a praia toda vez. — Meu Deus, até hoje eu não entendo pra que essa mala. Você não usa metade de tudo isso!eu disse. — Sophia, não enche! Você sabe que eu odeio repetir roupa e também ‘to’ levando mais coisa pra gente se arrumar no ano novo. Vai ser tão legal íamos passar o ano novo juntas pela primeira vez, estávamos muito animadas, Minha mãe entrou no quarto e falou que eu deveria terminar minha mala logo, porque se a gente demorasse ia pegar trânsito. Coloquei tudo na mala e fomos para a garagem. Chegamos no condomínio bem tarde, então achamos melhor encontrar a Maya e a Mariana no dia seguinte, Acordamos com a Maya tocando a campainha, eu estava com saudades, não a via desde setembro. Ela tomou café com a gente e fomos direto pra casa da Mariana. O dia estava muito ensolarado, colorido e bonito, típico de verão, que sempre foi minha estação favorita, Estava muito calor, decidimos ir para a praia. Passei em casa para pegar as cangas e uma toalha. Ficamos lá até a hora do almoço, eu fiquei lendo, a Jordana não saia do sol, a Maya ficou conversando comigo e a Mariana não saia do mar por nada. A gente acabou apelidando-a de ‘sereia’, pois ela dizia que se pudesse nunca sairia do mar, pois estar lá a fazia esquecer dos problemas. Até hoje, toda vez que eu vejo a praia é como se ela ainda estivesse viva, como se o tempo tivesse parado de passar desse jeito, tão rápido. Depois, voltamos para casa e à noite fomos para uma festa na casa do namorado novo da Maya, o Pedro. Tinha bastante gente lá, reencontrei alguns amigos e conheci algumas pessoas. Quando deu meia-noite, comemoramos e fomos ver a queima de fogos na praia, ficamos sentadas,
pensando no ano novo, e agradecendo por termos umas às outras, e, por mais um verão juntas. Pens que, sem a gente saber, aquele era o último... No dia seguinte, havíamos dormido na casa da Mari e acabamos ficando lá. Conversamos sobre a festa, os amigos que encontramos, a Maya falou do namorado novo e a Mariana falou que um tal de Ricardo tinha trocado telefone com ela e disse que queria sair com ela. — Ah, ele parece ser bem legal, só é um pouco mais velho – ela disse. — Muito mais velho?- a Jordana perguntou. — Ah, uns cinco anos. — Toma cuidado hein. Não vai fazer besteira. — Tá, já sei. Ás vezes, você parece minha mãe- elas riram e mudamos de assunto. A primeira semana foi bem normal e tranquila, mas depois algumas coisas ficaram estranhas. A Mariana saiu com o Ricardo que ela conheceu na festa, disse que gostou muito dele e por uns três ou quatro dias ela nem ficou mais com a gente, só saía com esse cara e os amigos da faculdade dele até que, um dia ela chegou meio alterada em casa, parecia ter bebido muito, e a mãe dela a proibiu de sair. Quando ela saiu do castigo, ela estava muito estranha, nunca queria sair, só saia para encontrar o Ricardo. A Jordana teve que voltar para São Paulo, pois tinha sido contratada por uma marca e estava tentando ser modelo há algum tempo, então eu fiquei sozinha com a Maya, o que não era ruim, sempre fomos próximas. Após alguns dias, a Jordana voltou e contamos que a Mari estava distante. — A gente devia falar com ela. — Verdade, ela ‘tá’ muito diferente e se distanciou. Chamamos-a para ir à praia, eu fui antes com a Mari para conversar com ela. — Posso te perguntar uma coisa? — Claro. — Mari o que ‘tá’ acontecendo com você? Você ‘tá’ tão distante. — Sophia, essa história de novo? Eu não ‘tô” distante, só ‘tô” andando com outras pessoas. — Mas você não acha que ‘tá’ sendo meio egoísta? A gente deveria passar as ferias juntas, viemos aqui pra isso. — E eu acho que você ‘tá’ com ciúmes. — Eu não ‘tô” não, só queria passar um tempo com vocês, mas você só liga pra gente quando não tem outra opção. Parece que nossa amizade nem importa pra você. Ficamos o resto do dia sem nos falarmos. A noite fomos para uma festa e a Mari estava lá com o Ricardo. Eles não falaram muito com a gente, mas eu reparei que ele estava bebendo durante a festa, lá pelas onze horas, eles estavam indo embora, a Maya encontrou a Mariana no banheiro e ela disse que eles estavam indo para outra festa em outra praia. E a gente nunca imaginaria que algo tão grave estava prestes a acontecer. Algum tempo tempo depois, a Jordana atende o telefone e vai para a varanda. — Gente, ´vamo´ lá fora, acho que é importante. Conforme ela ouvia a pessoa do outro lado, ela ficava pálida e sua expressão indicava que não tinha notícias boas. — O carro que a Mari ´tá´´ capotou, ela disse que conseguiu me ligar, pediu pra chamar uma ambulância na rua que ela ´tá´ e não avisar a mãe dela ainda. Ela falou que machucou a perna e que não consegue sair de lá. Ligamos para a ambulância e em seguida, pedimos para o meu irmão nos levar no lugar em que ela estava. Eu lembro que, no caminho, eu estava com muito medo e rezei pra que ela estivesse viva. Chegamos lá, quando eu vi o estado do carro, comecei a chorar muito, a Maya nem conseguia sair do carro e a Jordana não falava nada, estava em estado de choque. Em seguida, os médicos chegaram e tiraram primeiro o Ricardo do carro, pois ele estava desacordada, depois tiraram a Mari, ela estava quase desmaiando e havia muito sangue. Ela não respondia mais quando falávamos. Não consegui dizer nada, só observei a ambulância indo embora. Passei a noite no hospital com as meninas, os pais e os avós dela. Ver tanta gente doente ou morrendo naquela noite só me fazia pensar em como nossas vidas são frágeis e que, do nada, tudo pode mudar. Lá pelas quatro da manhã. Recebemos a notícia, o estado da Mari era muito pior do que imaginávamos , ela havia perdido uma perna e devido a uma hemorragia que não foi controlada, ela não sobreviveu. A mãe dela desmaiou e a família ficou desesperada. Já nos três parecíamos não ter entendido aquilo, ficamos nos olhando até cair a ficha, aí choramos muito e nos abraçamos como se cada uma de nós tivesse um pedaço da Mari. Aquela foi a pior noite da minha vida. Voltamos para São Paulo e levamos a Maya, fomos no enterro e ficamos na minha casa por uma semana, ninguém flava nada e eu nunca chorei tanto. Próximo ao começo das aulas, a Maya voltou para casa. Eu a Jordana voltamos para escola e, em Março ele decidiu se mudar pra Austrália, ela disse que queria ficar longe e esquecer tudo. Parecia que a ficha não caía, eu fiquei muito mal e nos distanciamos muito, talvez isso tenha sido bom, era impossível olhar para as minha amigas e não lembrar da Mariana, do nosso tempo juntas, do acidente, do funeral . Aos poucos, paramos de nos falar e só nos reencontramos agora, após dez anos. Já superamos isso, mas ela sempre via ter um lugar especial nas nossas memórias. Quando o jornal terminou, recebi uma mensagem da Jordana. “ Ei, que tal se a gente fosse pra praia no carnaval? Acho que ainda temos muito assunto. Saudades de vocês.” Respondi: “Claro a gente vai combinando! Também senti saudades.” Sinto saudades até hoje, mas elas sempre estarão comigo, não importa o que aconteça ou onde elas estejam.
Vitória Zago
Inferno na Terra Os agudos rangidos do piso velho de madeira ecoavam pela casa, o que era indiferente para ele, estava sozinho. O rangido o acompanhou em sua trajetória ao banheiro. Encarou-se no espelho, não pôde deixar de se impressionar com o tamanho de suas olheiras devido a noites mal dormidas, no entanto os desenhos obscenos e xingamentos feitos com caneta colorida eram praticamente rotina diária, mas nunca deixavam de machucar. Essas eram as consequências de ser diferente, de ser uma aberração. Lentamente, abriu a torneira e começou a limpar-se, esfregou com força seu próprio rosto, queria retirar os rabiscos, mas também queria se machucar. Queria que seu rosto ficasse tão vermelho por conta da aspereza da bucha, a ponto de sua dor física superar a psicológica, ao ponto de limpar sua dor. Porém, no fundo, sabia que isso era só um mito. Suas lágrimas desciam silenciosas. “Bicha...” “Aberração...”. A criança tapava seus ouvidos, e escondia sua cabeça entre as pernas, em posição fetal. Queria se fundir à parede. Estava apavorado. —Será que você nunca consegue fazer a coisa certa, Wade? — gritava seu pai, que com uma das mãos segurava uma garrafa pela metade de uísque e com a outra apontava acusador para o garotinho — Por uma vez na vida, você não pode ser normal e não causar problema? O bafo de bebida vindo da boca de seu pai impedia-o de se concentrar, não conseguia entender o que tinha feito de errado. Permaneceu quieto, só observando seu pai balbuciar algo para si mesmo. Entre as palavras sussurradas, conseguiu captar uma coisa: tenho vergonha de ser seu pai. Wade olhava confuso para o quadro-negro, tentava com dificuldade entender o que o professor de Física queria dizer com aqueles números e palavras escritas na lousa de forma ilegível. “É, eu sou definitivamente de humanas.”, pensou ele. O sinal estridente tocou segundos depois, acabando com seu sofrimento. Por enquanto... Colocou o capuz ao passar pelas portas de madeira, adentrando o corredor, o lugar que fora apelidado gentilmente por ele de: “corredor da morte”. A luz natural vinda das janelas abertas trazia uma essência inocente, mas Wade aprendera a não confiar nas aparências, as fileiras de armários cinza estreitavam o corredor ainda mais, portanto os alunos estavam sempre esbarrando uns nos outros sem querer; entretanto, nunca esbarravam sem querer nele. Esconder-se em baixo do capuz falhou, os garotos o farejavam como lobos. Enquanto os outros alunos seguiam para suas respectivas classes, o menino era encurralado na porta do banheiro por seus cinco agressores diários.
Sem aviso prévio, o primeiro soco foi desferido diretamente na boca do estomago da vítima, que se curvou de dor. — Isso – abriu os braços malhados e olhou ao redor — vai te ensinar a ser normal. A ser macho, não a bichinha que você é hoje. Um dia você vai me agradecer – falou o garoto mais alto. O nome dele era Chuck, nada mais clichê que um menino chamado Chuck para ser o agressor. Mas todos sabem toda boa história precisa de um Chuck. — Se por macho significa ser que nem você, eu acho que eu passo — murmurou Wade. Fechou os olhos, preparou-se para receber outro golpe, e assim foi feito. O sangue quente começou a escorrer da sua boca inchada, sujando o queixo com espinha e então pingando no chão. Os agressores partiram, porque as consequências de seus atos, muitas vezes, eram fortes de mais para eles. A vítima passou as mãos pela roupa, tirando a sujeira que tinha se acumulado. Usou o dorso da mão para limpar o ferimento que agora sangrava com menos intensidade. Ele se sentia tão fraco. Tão impotente. Contudo não é como se tivesse sido a primeira vez. O barulho do vidro quebrando contra a parede foi ensurdecedor. Cacos de voaram pela sala e caíram no corpo do garoto, provocando vários cortes. Estava todo machucado, mas o que o assustou mesmo foi um caco que havia de ter se enfiado a dois centímetros de seu olho, poderia ter ficado cego... Seu pai abria e fechava a boca, procurando palavras. Que diabos ele tinha feito? Em um estalar de dedos, o homem pegou suas chaves do carro e saiu pela porta, como o covarde que realmente era. Saiu na noite e foi engolido por ela. Cambaleando pela rua, por conta dos músculos doloridos, Wade seguia para seu ligar favorito no mundo: a farmácia. Comprou alguns remédios em capsula, alguns não, vários! Sentia-se no céu com eles! Mas dessa vez, queria mais que só sentir-se no céu, queria estar lá. Assim fez seu caminho para o posto de gasolina, comprou sua segunda água, mais conhecida como Vodca barata. “Ah, identidade falsa, você faz milagres.”, pensou. Partiu para ultima parada do dia, e se tudo corresse como planejado, de sua vida também. O lugar escolhido acabara por ser o pico mais alto da região, dava para ver toda cidade, toda a desgraça que tinha acontecido com ele em uma só paisagem. Subiu no banquinho de madeira, contornou a boca com as mãos em forma de concha e gritou com raiva: —“Senhoras e senhores, apresento-lhes minha morte”. Quero mais que vocês se f... E que essa sociedade estragada, preconceituosa e falsa caia em ruínas! Pegou os “ingredientes” que o levariam para o paraíso. Com calma, sentou-se no banco, pegou as pílulas e com a ajuda do álcool os mandou goela abaixo. Tirou um bilhete da bolsa e colocou ao seu lado, depois deu um tapinha em cima dele e abriu um sorriso fraco. Apoiou a cabeça e deixou-se ir, em paz, finalmente. De um modo não trágico, mas sim, poético. “Ás vezes a vida não é justa com as coisas que jogam em nós. Amigos mentem, pessoas morrem e amantes traem e, ainda assim o mundo não para de girar. Sempre quis que ele parasse por mim, e agora ele parou.” Beatriz Favaron