Livro de Contos 9º ano C

DE TUDO FICA UM CONTO EXPOSANTA 2016 – 9º ANO

9º ano C DE TUDO FICA UM CONTO

Os alunos do 9º ano produziram em suas aulas de Língua Portuguesa um conto psicológico em que aliaram uma fotografia de suas memórias ao texto elaborado, criando um diálogo entre o verbal e o não verbal.

Essa vontade de contar um conto está presente em muitos momentos de nossas vidas.... Às vezes, temos muitas histórias escondidas para contar.

Vamos conhecer um pouco desse gênero tão particular, e muito explorado pelos nossos queridos alunos, ao nos contarem um pouco de suas lembranças, emoções e dos medos mais profundos.

Além disso, não podíamos deixar de valorizar nossa contemporaneidade tecnológica e publicarmos um pouco desse resultado em uma ferramenta tão inclusiva como é o livro digital.

Boa leitura a todos.

Professoras Cleide, Clara e Melina.

O recomeço O dia estava chuvoso, nublado, perfeito para fica em casa e ver um filme. Mas, como eu precisava comprar presentes resolvi ir ao shopping.

Estava andando, olhando vitrines de várias lojas quando me deparei com uma agência de viagens, onde havia uma promoção de viagem para Natal.

O buggy ia tão rápido, que a areia das dunas chegava a machucar meus olhos, e lágrimas escorriam. Nossos cabelos voavam e o sol estava tão quente, que o banco do buggy queimava nossas pernas.

O sorriso dela era radiante, seus olhos eram mel, iguais aos meus. Nós estávamos tão felizes, ela estava tão feliz. Uma felicidade de dar gosto.

— Mãe, quando chegarmos em São Paulo, quero revelar todas essas fotos que tiramos!

— Eu também, filha! E, ainda quero colocar todas em porta-retratos, para lembrarmos essa viagem para sempre!

O buggy parou em um lugar onde podíamos andar de camelo, e vestir roupas muito legais para passear neles. Fomos.

— Filha! Eles são enormes, e muito altos, dá um medo de cair, não da !?

— São gigantes mesmo, mãe! Mas são tão lindos, e está tudo tão legal, que o medo passa!

Tiramos mais algumas fotos. Depois de descermos dos camelos, fomos tomar um açaí, ela adorava, e eu também. Seu sorriso estava cada vez mais bonito, e nossa felicidade só aumentava a cada instante.

Resolvi continuar andando, pois estava ficando tarde e ainda faltava comprar mais dois persentes. Por onde eu andava, lembrava como estávamos felizes. Perdi a maior parte de mim, minha vida está de ponta cabeça, e não, esse não é o lado certo.

Enquanto eu pensava na situação em que a minha vida se encontrava, lagrimas escorriam. Eu estava ficando louca, não conseguia aceitar que ela se foi, se foi para sempre. Ela me deixou. Por quê? Por que ela fez isso?

Eu sempre soube que mamãe sofria com alguma coisa na cabeça, não sei o que atormentava seu psicológico, mas ela se tratava, fazia terapia e tomava medicamentos.

Ela estava em seu quarto lendo, de porta aberta. Escuto a porta bater, penso que foi o vento, afinal estava ventando bastante nesse fim de tarde, então, nem dei muita importância e continuei o que estava fazendo.

Passaram-se alguns minutos, escuto o interfone tocar, e ao mesmo tempo, a campainha. Eram meus vizinhos de porta, eles entram, parecem chorar. No interfone era o porteiro: — Senhora, encontramos o corpo de sua mãe aqui embai...

Comecei a berrar, corri para o quarto dela. Ela não estava, a janela estava aberta e a rede cortada. Meu mundo desabou. Tentavam me acalmar, mas não conseguiam, era impossível. Levaram-me para a casa do meu pai, ele tentava mostrar uma boa aparência, pelo menos melhor que a minha. Tentava ser forte e não chorar na minha frente, mas de que adiantava? Eu nunca mais ia ver minha mãe, nunca mais trocaria uma palavra sequer com ela. Só isso passava pela minha cabeça.

Hoje eu tento suportar isso com todas as minhas forças, e mesmo que a saudade insista em bater, recomeçar também faz parte de viver. É quase impossível, mas a vida continua.

Ana Laura Betiol

Passos na areia Eu estava ali sentada, observando as crianças brincarem, um grupo ou outro de amigas rindo, conversando e até cantando, o vento balançava a folhagem das arvores, e fazia barulho de folhas secas.

A tarde estava linda, ensolarada, podíamos ver o pôr-do-sol, mas ainda sentia meus pés queimarem na areia quente, clara e fina, decidimos caminhar, tudo estava perfeito. Era minha primeira viagem só com minhas amigas.

Olhava meus pés chutarem a água sem intenção, quando de repente, eu trombei com um menino, que parecia ter em torno de 16 anos, ele era alto, seu cabelo loiro escuro tinha cachos nas pontas. Um surfista, que levava uma prancha, ficamos alguns segundos nos encarando, por mais que para mim parecesse uma eternidade, até a hora em que ele interrompeu.

— Qual é o nome da menina que fisgou minha mente?

— Luciana.

— Eu sou o Henrique. Você mora aqui no Rio? — Não, estou viajando com minhas amigas.

— Há... Mas você vai ficar quanto tempo?

— Mais seis dias.

— Então posso te levar para conhecer o Cristo Redentor, amanhã?

— Claro, eu adoraria.

— Combinado, às 13h30min, aqui mesmo.

— OK. Tchau!

— Tchau!

Era 13 horas e eu já estava pronta, esperando ansiosamente, olhava na janela de cinco em cinco minutos, minhas mãos suavam e mordia meus lábios. “Será que ele vai gostar de mim?”, “Será que ele vai querer me ver mais vezes?”...

Estava mergulhada nos meus pensamentos quando a campainha tocou.

O dia foi perfeito, ele me levou ao Cristo, grande, alto e cinzento, tão realista, comprou um sorvete de três bolas, uma de morango, outra de hortelã e outra de flocos, e me presenteou também com um balão super fofo. Parecia tudo um sonho, e ele me chamou para passar o dia seguinte em sua casa.

— Lu, não se iluda vocês nem moram na mesma cidade.

— Mas, nós nos gostamos, e nem a distância vai nos impedir.

— Você vai acabar se machucando, nos escute. Por favor!

— Já sei o que vocês têm vocês estão com dor de cotovelo, inveja! Isso sim.

— Nós queremos o seu bem, mas faça o que você quiser.

Foram vários encontros, mas eu estava muito confusa, com tudo que estava acontecendo. “Será que eu devia escutar minhas amigas?”, “Será que é tudo uma ilusão?”, “Será que ele vai esquecer de mim?”...

As cortinas balançavam, e os papeis voavam, tudo estava embaralhado.

Faltavam dois dias para acabar a viajem.

— Lu, você sabe que não existe nada entre a gente?

— Como assim?

— Nós somos apenas bons amigos. Eu não gosto de você como minha namorada...

Nessa hora, meu mundo acabou, tinha perdido minhas amigas, e agora o surfista mais gato, ou melhor, o surfista mais besta de todos.

O tempo estava nublado, cinzento e sem um raio de esperança. Foi nesse momento que percebi, minhas amigas eram muito valiosas, apenas queriam que eu não me machucasse tudo que queriam que eu não me machucasse tudo que queriam era o meu bem, não o surfista. Eu tinha estragado tudo. E agora, o que iria fazer? O vento forte zunia e tudo estava fora do lugar.

Fomos embora, o avião estava escuro, sombrio, silencioso, e tenso. Nós não nos falamos durante a viagem de volta, e estamos sem nos falar até hoje, sinto que um pedaço de mim foi junto com elas. As boas risadas, os segredos, os “boys” e a nossa amizade.

As arvores pararam de balançar, o tempo começou a se abrir, e bem longe eu via sombras, vindo em minha direção, quando chegaram mais perto, percebi que eram minhas amigas. Elas estavam ali na minha frente, pedindo desculpas.

Graças a Deus, tudo eu certo, agora éramos as amigas mais unidas que eu conheço.

Isabella Berdós

O desespero Era uma coisa que eu não entendia. Já tinha aos meus amigos já tinha minha vida, não gostava de como meu pai decidia as coisas sem antes consultar a mim e a minha mãe. Ele tinha muitas propostas de emprego e ele queria impressionar os outros como se tivesse a melhor convivência no seu trabalho e uma vida maravilhosa, mas minha mãe nem dormia mais com ele, pois haviam brigado e para ela era desgastante.

Naquele dia ele estava mais nervoso do que o normal e minha mãe estava tensa, pois não aguentava o modo como era tratada, e tentar evitálo ao máximo. Minha mãe estava sentada na mesa e me chamava para que eu fosse jantar, eu conversava com ela contando as coisas que tivera feito no dia, foi então que a porta abriu e o silêncio tomou conta do ambiente. Ele chegou reclamando e dizendo que seu chefe não quis dar seu aumento, ele se dizia cansado e foi então que minha mãe disse que já havia arrumado o sofá para que ele descansasse. Ele olhou para ela fixamente e empurrou sua cadeira para trás, causando um ruído no chão que machuca os meus ouvidos, pegou-a pelo braço gritando com ela, jogou-a contra o móvel da sala. Ela apenas se levantou e dirigiu-se ao seu quarto, trancou sua porta e ficou quietinha lá dentro. Eu apenas terminei de jantar fui até meu quarto.

Eu estava com vontade de ir até o quarto de minha mãe, mas pensei que, ela talvez quisesse ficar sozinha. Eu estava com medo, pois se meu pai tinha batido nela, ele poderia até matá-la.

Eu não tinha mais a figura dele como meu pai, mas tinha que conviver com ele e eu queria apenas ir embora com a minha mãe e sumir da vida dele, já havia conversado com minha mãe sobre a possibilidade de irmos para outro lugar, mas ela tinha medo de que ele encontrasse. Porém, foi num dia escuro, nublado, com nuvens pretas no céu que dava uma pista de que iria chover muito.

Eu saía da escola, normalmente, as 17 horas só que minha mãe demorava a chegar. Então, resolvi ir caminhando, rápido até a minha casa, pois já estava relampejando e caindo alguns pingos de chuva, era o dia em que deveria fazer uma pipoca com manteiga e assistir a filmes de romance em baixo da coberta e chorar, mas foi bem diferente.

Na hora em que eu abri a porta, eu não ouvi nenhum barulho, apenas a TV no programa de culinária, imaginei que ela estaria no trabalho e rodeei o sofá e fui correndo para dentro, encontrei minha mãe caída e ensanguentada, meu mundo desabou, eu gritei muito e chorei muito. Liguei imediatamente para uma ambulância.

Assim que a ambulância chegou, eu fui com ela até o hospital, mas tive que esperar, pois ela levou uma facada e eles iriam dar pontos e anestesia para que ela não

sentisse a dor. Estava chovendo muito, o céu estava preto e com muitas nuvens e o tempo não passava.

Depois de 13 horas no hospital, as 13 piores horas da minha vida, ela estava com dor, mas queria sair do hospital, e teria alta apenas às 10 horas do outro dia. Ela dizia que iria sair para buscarmos nossos pertences e iríamos embora da cidade.

A gente saiu do hospital e fomos até nossa casa, desta vez ela estava determinada em não ficar. Chegamos rapidamente em casa de táxi, minha mãe estava bem machucada. Pegamos o elevador que demorava mais do que o normal, pegamos tudo, enfiamos em malas grandes de viajem e nenhum sinal do meu pai, mas vi apenas uma carta em cima do mármore da cozinha: "meu amor, me perdoe, eu perdi a cabeça e eu juro que irei que te tratar bem, estou arrependido e estou aqui vindo me desculpar, pois te devo o mínimo de respeito" Eu apenas joguei no lixo, talvez ela voltasse atrás.

Fomos embora, e nos abrigamos na casa da minha avó, em Ribeirão Preto, ficamos lá e nossas vidas seguiram adiante, sem o incômodo de meu pai.

Luiza Naccarato

A guerra pelo meu amor Eles estavam lá tão bonitos tão mortais Sally, Sally, Sally...

Era noite, o mar agitado, o convés escorregadio, até que o motor parou, uma luz incandescente brilhou e soou um alarme ensurdecedor gritos para todos os lados do navio. Nós estávamos chegando ao porto americano até que até que até que... um calor insuportável nos pegou de surpresa, o convés que antes foi úmido se tornou mais quente que o fogo do inferno parecendo lava para os marinheiros.

Tantos gritos tantas mortes tantas viúvas, tantos órfãos, tantas dores e corações partidos. Um grande submarino alemão nos atingiu na sala de máquinas do grande navio de metal. Estávamos chegando com suprimentos e munição da Inglaterra para os soldados americanos só que fracassamos. Todos morreram só eu sobrevivi, ao chão de lava causado pela forte e ardente luz incandescente. O navio não afundou por inteiro, eu me arrastei até a cabine do capitão e esperei por umas três horas com o seu cadáver ao meu lado eu disse —Capitão?

—Capitão você está bem?

Nada, nada, nada, nada aquele silêncio, aquele maldito silêncio me perturbava de tal forma que comecei a chorar pensei comigo mesmo pare com isso seu imbecil mas eu não quero morrer aqui desespero não é a solução —Sally! Sally! Desculpe-me, por favor! Eu te amo muito!

Uma luz branca iluminou meu rosto me cegando uma voz alta disse —Há alguém aqui? O apito do capitão, me lembrei, tomei-o do pescoço dele e assoprei com todas as forças que me restavam até que até que até que... desmaiei. Acordei com outra luz branca e vozes dizendo —Aguente! Força camarada! Você consegue soldado! Não desista!

Abri os olhos e estava em uma cama, coberto, enfaixado e havia alguém do meu lado direito, duas pessoas acho que era um médico e uma enfermeira não sei ao certo, mas a presença do lado esquerdo eu soube quem era só de sentir o seu perfume, ver a cor de seus cabelos e o toque o toque de o toque de sua... de sua mão no meu rosto Sally, era ela em todo o seu louvor eu olhei para ela, ela olhou para mim e eu disse: —Cheguei amor.

Adalberto Flaviano Piotto Filho

Meio-Dia Eu estava lá... Mais um dia... Mais uma vez. O tempo não passava. As árvores, as nuvens, o sol de meio-dia nada se movia. Só conseguia ouvir o barulho dos meus colegas de Jaula nadando: Baltz e Matildes.

— Hora do sol, Philo. — exclamou Baltz enquanto subia na pedra mais alta da Jaula.

— Você continua esperando por elas? — Retrucou Matildes.

Resolvi ignorar e continuei olhando para a porta cheia de esperanças.

Matildes era bem mais velha do que eu, ela detestava as crianças que vinham brincar com a gente (deduzo que ela tinha algum trauma que jamais contou). Baltazar era seu oposto. Adorava as crianças tinha um pouco de ciúmes pelo fato de toda atenção ser pr mim, já que eu era bem menor e bem mais ativa do que ele. Mas isto não é difícil, já que ele é bem preguiçoso.

Lembro como se fosse ontem, a época em que elas me visitavam, todos os dias, no mesmo horário...

Eu havia chegado ao lago há apenas cinco meses quando duas meninas começaram a nos visitar. Matildes não dava a mínima para elas, Baltazar, como de costume, no horário do sol, começava a dormir. Então nós três eu e as meninas brincávamos por horas, sem parar. E assim foi por um longo tempo, elas chegavam e traziam o sol junto. Mas um dia foi diferente... Um dia, eu pude sentir a liberdade...

Estava um dia normal, Baltz dormindo, Matildes no sol e a gente brincando. Até que elas me pegaram gentilmente pelo casco e me colocaram lá, fora da jaula. Não sabia o que fazer, estava ventando muito. O chão de fora era frio mais ainda era mais confortável do que o piso da jaula tudo de fora parecia bem maior do que dentro da jaula. Eu resolvi entrar no casco, respirar e pensar. O mundo era grande demais para ficar naquele casco. Comecei a caminhar, aproveitando cada segundo.

Só então percebi o quão pequena eu era, não consegui enxergar nem Matilde e Baltazar aquela sensação estava Incrível, Mas, o que é bom dura pouco...

Ouvi um barulho de uma porta batendo as meninas se assustaram, e em um piscar de olhos, elas me levantaram, me pegaram e me jogaram de volta na jaula. Abriu um abismo dentro de mim, não pude ficar parada. Subi na pedra e fui ver o que estava acontecendo: Um homem mais velho brigava com minhas amigas enquanto apontava pra mim. Desde então, nunca mais as vi... As últimas palavras que me lembro de ter ouvido foram. Tchau pequena tartaruguinha.

Amanda Weiss

De longe Eu estava ali deitada na cama, que estava desorganizada, em um fim de tarde de um dia muito quente. Aquela brisa que batia sobre meus pés era relaxante, observando aquele avião que parecia minúsculo, mas os aviões não são minúsculos “olhe pai, aquele avião é tão pequeno” “Não filha, ele apenas está longe de nós”. E aquele vento relaxante estava se tornando frio e forte.

“Mas por que você tem que ir, papai? não, não quero que você vá, os aviões parecem ser tão perigosos” “Minha filha, não é uma opção minha, é a trabalho” Estava ficando com frio, será que tem algo que me aqueça? A discussão de meus pais já estava me deixando aflita e o tempo lá fora continuava fechado, escuro. “Mas, Marcos, você tem que sacrificar seu trabalho pelo menos uma vez por sua filha” “As coisas não são assim tão fáceis como você pensa!” “É mais fácil deixar sua família, não?” Já não estava conseguindo ficar parada, já não tinha mais unhas para roer, o tempo lá fora parecia só piorar “Se você pegar aquele voo, pode esquecer-se da sua família!”

Consegui pegar no sono finalmente, e aquela tempestade tinha se tornado uma garoa fina. Parecia que tudo tinha acabado.

O barulho da porta tinha me acordado do rápido cochilo. Meu pai estava lá parado, me olhando, senti que ele queria me dizer algo. “Pai, o que foi?” “Nada, minha filha, apenas estou confuso sobre meu trabalho” “eu sei, pai” “Você tem que saber que eu apenas penso em ir por sua causa, o melhor para nossa família é o que eu quero” “ E você estando bem, eu também vou estando bem, eu também vou estar, por mais que doa ficar longe de você”. Papai já estava sentado na cama e mamãe estava na porta, provavelmente ele não a viu.

Mamãe e eu estávamos no aeroporto em uma manhã nublada, fria, vendo voo em que papai estava partir. Nunca doeu tanto. Acordei do meu longo cochilo e aquele avião, ainda estava lá por cima de um arco-íris que foi formado depois da tempestade que estava lá fora e aqui dentro.

Gabriela Viera

Uma viagem ao passado Entro no avião e observo a janela. As pessoas. O vento batendo sobre as árvores.

As minhas lembranças, tão bem guardadas, perturbando minha mente. Lembranças. ‘’ Iris, volte já aqui!’’, ‘’Para que eu voltaria? “, “Você não pode fazer isso comigo“, “Posso sim”.

As lembranças já não me pertenciam.

As lembranças pertenciam ao nada. Eram um vago espaço de minha existência, um vazio sem saída.

Vazio... apenas o vazio.

— Você está bem?

O homem de olhos azuis me encara. Digo que sim, quase de forma involuntária.

Eu apenas não queria voltar aonde tudo aconteceu. Aonde tudo se torna tão real.

Olho novamente para a janela. O vento poderia mover montanhas, o dia estava nublado.

Mas eu permanecia me sentindo como que em um sol escaldante, podia sentir as mãos de minha mãe passando protetor solar em minhas costas. De repente, tinha dez anos novamente.

— Me ligue quando chegar a Copacabana, filha.

— Sim, pai!

— Fico preocupado, você sabe.

— Sim, eu sei.

— Se cuide, querida.

Desligo o celular e fecho os olhos. Consigo sentir o olhar do homem de olhos azuis fixos em mim, mas eu não me importava. Nem sequer me sentia viva.

Percebo que começa a chover. O vento, seguido da chuva, formava uma neblina, e eu não enxergava mais nada. As coisas pareciam confusas.

Mas, por quê? Por que ela tinha que ir embora, e me deixar nesse mundo, indefesa, vivendo uma vida sem sentido?

E o que seria de mim? Se ela tivesse permanecido ao meu lado, ao invés de acabar com sua vida, conquistar a própria morte?

Respiro, conto até cem. Respiro novamente. Estou de volta, pelo menos por um tempo. “ Iris, cuidado Iris! Não Iris! O carro Iris! “ “ Não mãe, não! “ O avião finalmente pousa, e parece que só me dou conta disso quando todos vão embora. O homem de olhos azuis (que logo descobri que se chamava Paulo), permanece ao meu lado. Ele não me olha, não fala e não mantém nenhum tipo de contato. Mas permanece ali, calado, em meio a outra realidade. Uma realidade que compartilhávamos indiretamente.

Eu nunca esquecerei, ele nunca esquecerá, independente do que estivesse pensando. Então, eu olho novamente para a janela, e ele também olha, e consigo sentir...

Será uma longa viagem.

Giovanna Pasquarelli

Amor de amiga Estava sentada no meu sofá, tranquila, lendo um livro de um autor que gostava muito, até que Carlos interrompeu minha leitura e disse que tinha um telefonema muito importante para mim. Aquele dia estava ensolarado. Atendi a ligação, uma voz estranha, parecia de um homem, dizendo que uma amiga minha, Lívia estava internada em um hospital e não tinha condições de pagar a estadia e o tratamento. Disse também que ela não tinha ninguém para cuidar dela.

Fiquei muito assustada, a casa ficou quieta, só pensava em Lívia, lembrava-me de todas nossas brincadeiras e momentos que vivemos em nossa infância e juventude, brincávamos e conversávamos todos os dias em uma casa, ao lado de uma praça, sempre nós duas e um amigo.

No telefonema, me disseram a cidade e o hospital em que ela estava, pedi para Carlos preparar meu carro, iria visitá-la. Naquela casa, éramos eu e Carlos, meu mordomo e mais ninguém, sempre sentia saudades de ter alguém por perto, sentia muitas saudades de Lívia, tinha um carinho enorme por ela.

Então, fui eu a caminho do hospital. No meio do caminho, cada vez lembrava mais dela, talvez aquele telefonema pudesse ter sido um engano, um trote. Iria desistir, mas aquela vontade de ter alguém por perto era tão grande que segui o caminho.

Chegando à cidade, parei em uma loja para perguntar onde ficava o hospital.

Ninguém soube me explicar. Eu, desesperada. Estava chovendo agora, as ruas estavam enchendo de poças de água, pessoas correndo pelas calçadas, parei em outra loja e, até que enfim, um homem que eu parecia conhecer, grisalho, um pouco mais alto que eu, com uma voz grossa me disse o caminho certo.

Chegando ao hospital, perguntei em que quarto Lívia Martins estava, mas naquela recepção ninguém me disse. Estava cada vez mais preocupada e o tempo cada vez mais frio e mais chuvoso. No terceiro andar, perguntei de novo, uma moça me levou até o quarto 323, estava muito nervosa e muito ansiosa, quando entrei no quarto, vi-a deitada na cama. Abriu um sorriso em seu rosto, e eu em meu.

Corri e a abracei, o hospital já havia dado alta a ela. Saímos de lá, conversamos muito naquele dia, diverti-me e cuidei de Lívia. Já que ela também estava sozinha, morava em uma casa pequena, escura, sem ninguém, levei-a para morar comigo.

Estava doente, mas já se tratava.

Agora éramos eu e ela naquela casa enorme, não estávamos mais sozinhas. Todos os dias naquela casa eram uma festa, o dia sempre ensolarado e com várias flores no jardim.

Isabella Felipe Ferreira

Ela só quer paz Estava em pé, ao lado de um buraco cavado no chão de terra, que daqui a pouco tempo irá receber o corpo de minha mãe, pálido e frio, suas marcas roxas que a marcaram pelo decorrer de sua vida sofrida, hoje já não apareciam mais.

Estava sentado, à espera do choque de realidade que estava prestes a me atingir.

Estávamos andando no campo, para realizar a colheita de grãos de café o mais rápido possível, nuvens negras já rodeavam a fazenda, estava cansado, não aguentava mais andar.

Moro nesse cativeiro desde que nasci, hoje, com 15 anos, já estava fraco, abatido, minha mãe vive aqui há 27 anos, o tempo não fez bem a ela, mas naquele dia, parecia estar mais cansada, debilitada, provável consequência de nossa dieta à base de pão e água. Perguntei a ela se era necessário parar para descansar, mas negou meu pedido e continuou sua caminhada.

As nuvens aproximavam-se cada vez mais rápido e o tempo começara a escurecer.

O vento zunia e balançavam as folhas das plantas, mamãe andava cada vez mais devagar.

Eu me ofereci para ajudá-la a carregar as cestas, mas negou novamente e disse que não precisava me preocupar, continuamos andando, até que a chuva começou a cair e no mesmo momento, mamãe caiu.

Corri até seu corpo e me ajoelhei, seus olhos estavam semiabertos, e acabaram se fechando, chamei seu nome, mas não me respondeu, gritei e sacudi seu corpo, mas não expressava reação alguma, o desespero tomou conta do meu ser, tentei me acalmar, mas foi em vão, tentei acordá-la de qualquer maneira possível, fiz de tudo e não consegui.

Deitei com minha cabeça apoiada em seu corpo e senti o movimento lento de seu peito, não consegui mais aguentar as lágrimas, desabei, chorei como nunca antes e esperei, esperei seu último suspiro, o último suspiro de uma vida sofrida.

Não demorou muito e o movimento em seu peito, já não existia mais. As lágrimas caiam repentinamente e se misturavam com as gotas de chuva. Uma parte de minha alma morrera junto com minha mãe, mas pelo menos, ela foi em paz, dando fim à sua jornada sofrida, onde quer estivesse, ela estaria em paz.

Isadora Primo

Uma viagem, uma história Novamente nesse aeroporto, novamente indo para Los Angeles, só que dessa vez sozinha, o tempo do lado de fora do aeroporto é chuvoso e está frio.

Uma mala caiu, fazendo um barulho gigante, olho para o lado e vejo Fernanda tentando levantar uma mala praticamente do seu tamanho, começo a rir com a cena, e vou ajuda-la.

Fui despachar minha mala, e após esperar um bom tempo, escuto meu voo ser chamado. Fernanda fica toda eufórica, e fomos rindo ate a entrada do avião.

Entrei e me sentei na poltrona, coloquei meus fones e fechei meus olhos. Ouvi bem baixo a aeromoça pedindo para todos os passageiros se sentarem, e um garoto não muito alto sentou-se entre Fernanda e eu. Nós conversamos a viagem inteira.

Descobri que seu nome é Dylan, ele era muito legal e bonito também. Descemos do avião, eu e Fernanda nos despedimos dele, pegamos as nossas malas e fomos em direção ao hotel. Chegando lá, tomamos banho e fomos jantar, estávamos andando pelo corredor do hotel, até que eu esbarro em alguém. Na hora que fui pedir desculpas, vi que era o Dylan, estava mais lindo do que nunca, senti um frio na barriga estranho, conversamos e fomos jantar todos juntos.

Os dias foram se passando, e cada vez que eu me aproximava do Dylan, aquele estranho frio na barriga crescia mais. Em uma certa noite, Fernanda e eu estávamos conversando, ela estava falando algo sobre roupas mas eu não estava prestando muita atenção, ate ela gritar: — Camila! — saí dos meus pensamentos e a olhei.

— Tá tudo bem?

— Tá sim... Fê posso te perguntar uma coisa? — ela balançou a cabeça positivamente.

— O que você acha do Dylan?

Assim que falei isso, ela parou um pouco e falou: — Ah ... Cami, sei lá – ela deu um suspiro e continuou – acho que eu tô meio afim dele.

No momento que ela falou aquilo foi a minha vez de parar, um ódio que eu não sei de onde veio, subiu pelo meu corpo, mas logo sumiu, ate ela perguntar: —E você, o que achou dele?

—Eu, é... eu acho ele legal — disse meio gaguejando.

—Camila, não minta pra mim — ela disse olhando bem no fundo dos meus olhos.

—Tá... — suspirei. — Acho que também tô meio afim dele — no momento que eu falei isso, ela ficou um pouco assustada, mas respirou fundo e disse: — Vamos fazer assim, não vou brigar com você por conta de um garoto, e não vai ser hoje que vou. Então vamos fazer uma promessa, nenhuma de nós pode ficar com ele — achei aquilo loucura, mas aceitei.

Os dias passaram muito rápido. Faltavam três dias para voltarmos para o Brasil, e eu não queria deixar aquela cidade maravilhosa de jeito nenhum. Acordei e o dia estava muito frio. Fê não estava no quarto, me troquei e desci. Ela não estava em nenhum lugar, então fui ate a piscina, tinha quase certeza que ela não ia estar lá, mas por via das duvidas...

A cada passo que eu dava em direção á piscina, o frio ficava cada fez maior, e no momento em que abri a porta, um frio de cortar a alma invadiu meu corpo, olhei para frente e vi a pior cena de todas, Fernanda estava beijando o Dylan. Saí correndo, acho que eles nem notaram minha presença.

Fui para o quarto, arrumei minhas malas, e comprei uma passagem pra voltar naquele mesmo dia. Quando ia pegar minhas malas para sair d quarto, a porta do mesmo se abre, e um barulho de trovão invade o quarto. Fernanda perguntou o porquê das minhas malas já estarem prontas, sendo que voltaríamos só daqui a três dias, e aí a briga começou de vez.

Abri meus olhos, limpei as lagrimas que tinha, e o tempo estava esfriando cada vez mais, estava morrendo de saudades da Fê, me ajeitei na poltrona e fechei meus olhos novamente, ate que sinto alguém sentar ao meu lado, abri-os novamente, me deparando com a Fernanda me olhando assustada.

— Fê, desculpa, desculpa, desculpa. Como senti sua falta, não queria ter te tratado aquele jeito.

— Claro que te desculpo — comecei a chorar mais ainda, mas acho que quem tem que desculpas aqui sou eu , eu quebrei a nossa promessa, e não teve um dia que se passou que eu não me arrependesse do que fiz, me desculpa.

A abracei mais forte, e acho que ela entendeu o que eu quis dizer, e agora finalmente eu iria ter a tão sonhada viagem para Los Angeles com a minha melhor amiga.

Julia Toledo

Dez anos atrás Os meus cabelos voam com o vento, o que faz um sorriso aparecer em meu rosto.

Estou dirigindo há dois dias nesse carro velho, que jurei que venderia e trocaria por um bem melhor. Milagrosamente, avisto uma estradinha de terra com uma placa de madeira, e nela escrito: ‘’Casas de Monte Verde’’. Deus! Por um minuto, pensei que havia me perdido.

“Crianças! Chegamos!”. Meu pai, ótimo em sua função de sempre dirigir o carro da família, fez uma manobra arriscada na curva da estrada, passando pelo portão branco. Estacionou em frente à casa. Eu e Samuel, meu irmão mais velho que tinha dez anos, enquanto eu tinha oito, estávamos exaustos. Meu pai tirou uma cadeira de rodas do porta-malas, colocando a minha mãe nela.

Observo a casa, ela continuava a mesma, uma casa típica americana de dois andares, janelas azul-marinho separadas por uma porta marrom da mesma cor que o telhado. Cansada, entro nela, a casa era simples, tinha no seu primeiro andar uma salinha com poltronas viradas para a lareira. Do lado da salinha havia uma cozinha com poucos armários e uma geladeira e fogão velhos. A mesa de jantar ficava no canto direito da cozinha. Subindo as escadas, havia o meu quarto, que eu infelizmente, compartilhava com meu irmão, onde dormíamos em um beliche, eu em cima, ele embaixo. Do lado, o quarto de meus pais, que tinha uma cama de casal, e em sua frente, um guarda-roupa que minha mãe odiava. Havia, em frente ao quarto de meus pais, um banheiro pequeno, que por ser o único da casa, servia de palco todos os dias para brigas, principalmente as minhas com Samuel, sobre quem o usaria primeiro.

“Elisa, passe a salada?”, minhas mãos pequenas e frágeis pegaram o pote de salada e deram ao meu pai. O silêncio na mesa era óbvio. “Crianças, amanhã iremos à praia de manhã, bem cedinh...”, antes de completar a frase, minha mãe começou a tossir, fazendo com que meu pai a acalmasse. “Samuel, vá pegar o inalador, e traga os comprimidos!”, Samuel subiu as escadas, correndo desesperadamente à procura dos remédios.

De manhã, acordo cansada. O beliche é desconfortável, não é mais aquele de quando eu era criança, o proprietário que continuou o mesmo desde quando alugávamos, o trocou. Fui para a cozinha e fiz um café, levei já para a varanda. Sentome em uma cadeira, e observo o mar e a praia à minha frente. Por um minuto, acho que alucinei, pois me vi correndo com Samuel, correndo e rindo de alguma coisa.

“Mamãe, precisa de algo?” Ela me deu um adorável sorriso, dizendo que não com a cabeça, pois para ela, passou a ser difícil falar, o que me fazia frequentemente sentir saudades de sua doce voz. Estávamos à beira do mar sentados em cadeiras. Sento em seu colo, e ela passa seus dedos magros e fracos em meus cabelos cacheados, me fazendo um carinho. Pálida e com seu aspecto de doente, se esforçava para me fazer qualquer coisa, pois já não tinha forças. Só tinha 38 anos.

Pulei de seu colo e corri para o mar. “Elisa, cuidado!”, gritava meu pai. Comecei a nadar junto com Samuel, e sem nos darmos conta, já estávamos lá há um bom tempo.

“Samuel, não entendo...”, questionei timidamente. “O que, Elisa?”, ele me fitou com aqueles olhos azuis que eu não herdei, e que me causavam inveja só de olhá-los.

“Por que viemos para cá? Não temos muito dinheiro, e não estamos de férias.” Achei justo perguntar, e eu tinha certeza que ele sabia, porém ele desviou o olhar, e sem responder, começou a boiar. Eu queria saber boiar, o invejava nisso também. Devia ser algo relaxante, algo que eu pudesse fazer, e esquecer os problemas, todos os

problemas. Sem perceber, o meu café esfriou, e ondas enormes se formaram no mar. Eu sabia a resposta para a minha pergunta, só não admitia para mim mesma que fomos para a casa de praia porque mamãe havia piorado, e a casa era o lugar favorito para ela passar seus últimos dias. Levantei-me, corri para o mar, e joguei-me nas ondas, involuntariamente, como se meu corpo estivesse me obrigando. O que tenho na cabeça? Por que não consigo esquecer? As ondas me atacam como se eu fosse uma ameaça.

“Papai, o que houve?” Observei-o ao entrar na casa, estava sentado em uma das poltronas da salinha, olhando fixamente para a lareira, e fui capaz de perceber a tristeza em seu olhar. “Papai?”, aproximei-me com cuidado, e ele me olhou como se não soubesse quem eu era. Sem mais nem menos, caiu de joelhos no chão e começou a chorar.

Fui a sua direção e toquei seu ombro, o que o fez se levantar imediatamente e subir as escadas, indo para o quarto. Eu o conhecia, sabia que ele não aceitaria que o vissem chorando, sabia que ele não se mostraria fraco, vulnerável, nem para mim, nem para ninguém.

Sou novamente atacada por uma onda, o que me faz ser levada para o fundo do mar e bater a cabeça violentamente contra a areia. O mar está tão forte... Ele está tão furioso, assim como eu. Tento inutilmente nadar para cima, mas as ondas me atacam com brutalidade, fazendo-me bater em rochas e na areia. Consigo voltar para a superfície depois de muito esforço, e enxergo o céu, escuro e carregado, como meu humor. As ondas me atacam mais uma vez, e agora, sinto que vou morrer, digo... não que eu já não estivesse morta há muito tempo. Minha cabeça se choca contra uma pedra, e só vejo o denso preto, como um horizonte.

“Mamãe?”, ela estava na cama, como sempre. “Venha, querida, venha.”, gesticulou sua mão até minha direção, e eu pulei na cama. Meu pai estava no canto do quarto, olhando pela janela, fitando a vista, ignorando tudo ao seu redor. “Filha... Eu sei que é complicado. Sei que é difícil para você e seu irmão eu estar doente. Eu nunca imaginei que eu estaria assim aos meus 38 anos, achei que estaria como aquelas mães, felizes com sua vida perfeita, mas a realidade é difícil de encarar, até para mim... ’’ Passou seus dedos em meus cabelos, e continuou: ‘’ Mas você sabe que um dia já não estarei mais aqui, com vocês todos, com a minha doce família.” Seus olhos se encheram de lágrimas, e eu me senti sem chão. “Dói tanto em mim saber que não te verei crescer, não verei você ter seu primeiro namorado, sua primeira formatura, seu sorriso ao saber que irá para a faculdade. Mas quero que saiba que só porque não vou estar aqui fisicamente, não significa que não estarei aqui.” Apontou para o meu coração, e olhou-me nos olhos, já enxugando as lágrimas que desciam pelas minhas rosadas bochechas, elas poderiam encher um oceano. “Quero que continue...”, começou a tossir, mas logo se recompôs, pois a doença não a impediria de dizer o que sempre me quis dizer. “Quero que continue a sua vida, certo, mocinha?”.

Acordo na areia, minha testa estava sangrando, e meu corpo estava todo dolorido. Fiquei ali pensando o que fiz com minha vida. Ela morreu dois dias depois, na casa da praia, fazendo meu pai desmoronar, e meu irmão entrar em choque, mas eu só conseguia pensar em como eu nunca mais veria seu sorriso e seus olhos acolhedores, e tentava me recordar de suas palavras, para mim, ela sempre estaria comigo, sempre...

Ergo-me da areia, vou para a casa e faço as minhas malas às pressas, e entro no carro. Observo a casa pela última vez, eu já não sinto mais a angústia, a dor. Parece que tudo faz mais sentido agora, parece que agora eu sei que preciso seguir em frente, e posso sentir minha mãe em meu coração, dizendo para mim continuar minha vida. Dirijo para a estrada, pensando como agora estou pronta para a faculdade, estou pronta para a vida.

Lara Bessa

Mudanças Estava chovendo, uma tempestade para ser mais exata, isso acabou me levando para outro lugar...

Minha mãe largou meu pai por outro, um tal de Alberto do trabalho.... Meu pai demorou para superar, eu consequentemente também , já é difícil, agora imagina como piora quando você só tem 10anos e precisa de uma mãe! Mas, para falar a verdade, nem sei por que foi tão difícil, ela nunca havia sido uma ''verdadeira'' mãe, ela sempre preferiu o trabalho, sempre estava ocupada, e quando estava comigo não era tão diferente... Hoje, eu percebo que aquele trabalho, na verdade se chamava ''ALBERTO''.

Já meu pai sempre dava seu melhor, quer dizer ainda dá, mas depois de quatro

anos sendo só eu e ele, eu o conheço muito bem para saber quando algo esta diferente, não no sentido físico, pois ele continua com seus olhos verdes e seus cabelos com alguns fios brancos, mas uma coisa mudou em seu comportamento, andava mais sorridente, o tempo inteiro distraído, e quando eu contei isso para a Fernanda na segunda feira durante a aula de física, a resposta dela me fez sentir um frio na barriga e uma leve tremedeira que eu não sentia há algum tempo.

— AH Helena! Seu pai esta apaixonado!!

Decidi voltar para casa pensando nisso que a Fernanda me disse sobre meu pai...

Meu pai apaixonado? Definitivamente não!

Quando cheguei, encontrei meu pai e uma mulher almoçando em nossa mesa! Ei! ESPERA! Ela estava sentada na MINHA cadeira! Um sentimento de ódio começou se formar dentro de mim!

Eu me aproximei dos dois, meu pai se adiantou e disse: - Helena! Sente aqui, precisamos falar algo muito importante com você!

No momento em que ele disse a palavra ''NÓS'' eu me recordei do que Fernanda havia me falado, e tudo voltou a fazer sentido, os sorrisos, as conversas ao telefone até tarde, as distrações...

Não podia ser! Já tinha perdido minha mãe para o tal do Alberto, não posso perder meu pai para essa loira de quinta!

Não conseguiria ouvi-lo falando que estão namorando é demais para mim!

Minha reação foi simplesmente sair correndo! Fui para o único lugar que, na minha cabeça, faria eu me sentir melhor! O Central Park, sentei na grama e o mundo desabou .

Estava nublado, e começou a chover forte, percebi uma mão em meu ombro era meu pai! Ele sabia que eu adoro esse lugar, o problema é que, por alguma razão, aquele lugar estava triste, ele sempre me deixava mais leve, feliz, hoje não, hoje não...

— Filha, aquela moça que estava lá em casa é a Carol, minha namorada...

—ótimo! Eu te perdi também!

—Helena você nunca vai me perder, somos eu e você , e sempre vai ser assim, independentemente de ter a Carol ou não , ela é tão boa ,bonita ,engraçada ,se você der uma chance para ela, você vai perceber como ela é divertida ...

Nesse momento, eu percebi como meu pai estava apaixonado e principalmente feliz e eu não poderia fazê-lo perder essa tal de Carol, se ela o fazia feliz, o que eu poderia fazer? Seria egoísta de mais da minha parte!

—O.K. pai, eu vou dar uma chance para a Carol . Percebi que, aos poucos, o céu foi clareando, a chuva já havia parado, agora só havia alguns pingos. Nós nos abraçamos e fomos para casa conhecer a tal da Carol.

Laura Moraes

Ondas Violentas

Finalmente, depois de uma grande e cansativa viagem, cheguei na fazenda do meu avô. Descarreguei as malas e fui atrás dos meus cavalos. Fazia muito tempo que eu não cavalgava, desde a última vez que vi a praia.

Decidi fazer uma trilha e escolhi o maior cavalo que eu tinha para me acompanhar. De tanto pensar, acabei me distraindo e me perdi.

A árvore no caminho do meu retorno me fez enfrentar o meu maior medo.

Quando comecei a escutar o barulho de água, minha mão suava e tremia, o barulho das ondas incomodava os meus ouvidos.

Fiquei pálido, minha respiração aumentou e o pânico tomou conta do meu corpo.

Não conseguia me mexer. Escutei um trovão enquanto a maré subia e ficava mais violenta.

A água cobriu as costas do meu cavalo e nos puxou para baixo. Fiquei um tempo tentando achar a superfície, mas o tempo se fechava e as ondas ficavam cada vez mais fortes.

Perdi as esperanças e parei de nadar, minha cabeça já doía e estava perdendo os movimentos das pernas. Não conseguia respirar direito e já havia engolindo muita água. Não sabia o que aconteceria comigo dali para frente.

Lembro-me de acordar na areia da praia, minhas pernas estavam formigando e minha visão estava embaçada. Fui atrás do meu cavalo e deixei cair uma lagrima quando o vi estirado, sangrando e sendo comido pelos urubus. Em vão, minha tentativa de espanta os urubus, já era tarde demais.

Travei e pensei melhor. Fiz meu cavalo retornar porque sabia que não era hora de superar esse trauma. Voltei para a fazenda pelo canto da praia, bem longe do mar.

Ainda conseguia sentir a alma de meu cavalo vagando pela praia.

Luccas Coelho

Janela do Olhar A cela estava fria, tão fria, quanto o vento que ultrapassava a janelinha no canto de cima da parede acinzentada.

“Marcelo, você não está nem perto de resolver o problema, precisa de ajuda?”

Sim. O sinal tocou, o professor se retirou da sala de aula, deixando os alunos sozinhos.

Senti alguém tocando minhas costas e instintivamente me virei. Aqueles olhos verdes me encantavam, ela era minha. Só minha. Costumávamos passar muito tempo juntos, na escola, fora dela, todo lugar que ela ia, eu ia atrás. Eu era o amor da vida dela. E ela era o meu.

Comecei a olha-la de outra maneira após nosso último encontro. “Quero apresentar a vocês o Rodrigo, meu novo amigo”. “Amigo”? Eu via o jeito que ela olhava para ele. Não! Você só pode olhar para mim! “Ele acabou de se mudar de campinas, espero que vocês o façam se sentir em casa. Ele ta aqui para fazer o último ano com a gente!” Logo após essa conversa minha cabeça começou a doer tanto, que parecia que havia me dado um tiro.

Um policial abre minha porta e traz junto a ele um frango destroçado mergulhado em uma sopa que dava nojo.

O almoço estava na mesa, minha família inteira presente, Clara presente, meu mundo inteiro à mesa. Aquelas facas, todas apontadas para mim, parecia que estavam sendo atraídas por um imã, que nesse caso era eu. Marcelo é agora ou nunca! Você quer perdê-la para sempre? Claro que não! Então, agora é a sua chance. Eu e Clara nos sentamos para conversar no sótão, meu lugar predileto em casa. Aqueles olhos, novamente apontados para mim, me provocavam, me irritavam.

“Pare, Marcelo! Você está me machucando!” “Silêncio, meu amor, agora nós ficaremos juntos para sempre!” “Como assim, juntos? Você é só meu amigo!” Só? Só seu amigo, então está bem, agora que você não sairá daqui mesmo. Fechei a janela do sótão e saí pela porta deixando-a presa. Agora sim, meu coração estava seguro, pois sabia que ela nunca mais me deixaria. Dois dias depois, fui levar seu almoço preparado com muito carinho por mim. Clara ficou muito feliz de me ver, até levantou e me cumprimentou com um beijo! Nossa relação estava cada vez melhor, pelo menos, eu achava que estava.

“Marcelo, não acredito que preparou essa sopa para mim, que gentileza da sua parte!” “Imagina, foi tudo para você, minha linda!” Ela foi se aproximando de mim, novamente com aquele olhar. Senti minha pele queimar, meus olhos e o resto do meu corpo. Ela havia empurrado o prato de sopa quente em mim e com muita agilidade subiu na cama que tinha feito para ela, abriu a janelinha, começou a agitar os braços e a gritar muito alto. Por que, Clara? Você não me amava? Um carro de polícia que passava por lá a escutou, arrombou a porta, tirando-a de dentro e me separando de minha vida.

A cela estava fria, tão fria quanto o vento que ultrapassava a janelinha no canto de cima da parede acinzentada. Tão fria, como a alma e o olhar de meu amor. Que me deixou. Que me traiu. Que me abandonou.

Maria Fernanda Peccin

Escolhas Acordei com a aeromoça trazendo o jantar, o cheiro forte da comida e o gelado do avião me deram certo enjoo, ela também não gostava, odiava viajar de avião, a pressão machucava seus ouvidos, mas ela fingia que estava tudo bem para não me amedrontar, eu ainda estava com seu perfume com essência de rosas, seu favorito e minha maior lembrança.

Nevava, nevava muito, o frio só aumentava, em minhas mãos havia as fotos enviadas por meu pai e meus retratos antigos, olhava minha nova casa, minha nova mãe...

Houve uma turbulência no avião...

Talvez meu novo pai, meu novo tudo, meu novo todos.

Minha foto favorita era aquela do piquenique, todos reunidos, felizes, isso não voltaria mais, nunca entendi o porquê, mas depois daquela conversa só piorou.

Filha, a mamãe e o papai amam muito você, agora o papa vai morar em outra casa, em outro país, com outra família, mas ele continua te amando e eu vou continuar aqui com você, pra sempre.

Eu só não entendia a duração do sempre dela.

O ar-condicionado parecia mais gelado, eu sentia arrepios, comecei a mexer no celular e achei um vídeo do meu pai com sua nova família, o Pedro e a Maria das Graças ou Maria Desgraça como eu a chamava, já que até o primeiro nome ela tinha em comum com a minha mãe, eles estavam ensinando o Pedro a andar de bicicleta, assim como meu pai fez comigo, só que ele parecia mais empolgado, era um menino, tudo o que ele sempre quis.

Pedala filha, pedala, eu e a sua mãe estamos aqui.

Não mais.

Eu poderia estar precipitando o meu julgamento sobre o meu pai, ele demonstrava sentir minha falta, embora desta vez eu estivesse tão magoada.

Foi anunciado o pouso, um calafrio tomou-me subitamente, estava arrepiada, era a pior parte para ela, pegava minha mão e dizia para eu me segurar, o “Wi-Fi” do aeroporto já era presente em meu celular, as mensagens começavam a chegar, uma amiga e um pai, questionando minha demora, que para mim poderia ser eterna.

Ao chegar ao aeroporto, avistei duas placas: Embarque e Desembarque, eu já sabia para onde iria, mas uma pequena parcela de mim gostaria de fazer o oposto, desistir do recomeço e apostar no acaso.

Quase no fim da jornada, só faltavam minhas malas que traziam consigo meu tudo, meu eu, toda a minha história até hoje, só faltava ela, o elemento principal, e de certa forma, a razão de tudo isso.

As malas não chegavam, estranhei, sempre, em todos os lugares, do Canadá até Austrália, minhas malas eram as primeiras, seria um sinal? Não havia mais tempo, minha escolha já estava feita e minutos depois avistei duas imensas malas cor de vinho, cortando qualquer outra chance e pensamento em voltar para casa.

Meu celular estava bombardeado de mensagens, todas do meu pai. Estava preocupado.

Eu me dirigi à saída e lá estava ele, sem barba, careca, parecia suar frio, mas meu pai.

Olhei em seus olhos e sem dizer uma palavra, peguei na sua mão e segui, com meu pai ao meu lado e minha mãe presente com seu perfume.

Maria Cunha

De volta ao passado Sábado, 10h45 da manhã e eu aqui nesse lugar, normalmente, eu estaria me preparando para o café com meu pai. Afinal somos só eu e ele depois da morte dos meus avós. Mas não, estou aqui nesse hospital sem resposta nenhuma do meu pai, estou com muito medo. O que vai acontecer, e se meu pai não resistir? Para onde eu vou?

Perguntas que eu não sei como responder, meu pai é a única coisa que eu tenho nesse mundo. Minha mãe não vejo faz cinco anos, a última vez que eu a vi, tinha oito anos, não lembro muito bem dela, por mais que eu não goste de lembrar e nem chamar aquela mulher de mãe. Porque se fosse mãe, não faria isso comigo, como se faz isso com uma criança? Sua filha.

Nunca vou me esquecer o que aconteceu naquela noite chuvosa, com muito vento, lembro me do barulho das árvores sendo quase arrancadas pelo vento, eu estava deitada no sofá, assintindo a um filme e tomando meu leite, quando começei a ouvir gritos vindos do quarto dos meus pais. Eles deviam estar brigando como sempre, mas daquela vez estava sendo diferente.

Quando as coisas começaram a melhorar e meu pais foram se acalmando, minha mãe foi fazer o jantar, jantamos como sempre, na mesa, todos juntos e depois fomos dormir. Na manhã seguinte, ao acordar eu estava com um pressentimento horrível, fui até o quarto dos meus pais para falar com a minha mãe.

Ao chegar, vi meu pai sentado na beira da cama com um papel na mão, era uma carta da minha mãe. Ele estava chorando, perguntei o que havia acontecido e onde minha mãe estava e o silêncio naquela casa se prolongou pelo dia todo.

Meu pai, no quarto, eu queria muito saber o que estava escrito naquele papel, mas nunca soube, por que depois de um tempo e nada da minha mãe, meu pai havia queimado o papel. O tempo foi passando e a saudade aumentando e eu não sabia nada, depois de dois anos, isso já não era mais um problema para mim, eu estava com meu pai, deixamos aquela casa que nos trouxe tanta tristeza e fomos morar com meus avós.

Depois de dois anos eles chegaram a falecer, primeiro o primeiro foi meu avô de ataque cardíaco e depois minha avó depois de um ano de câncer, aquela casa passou ser só minha e do meu pai.

Eu e meu pai passamos por momentos por momentos muito tristes, mais não podemos nos esquecer que tivemos momentos muito felizes também e com toda a fé que eu tenho sei que nossa história não vai acabar agora, nosso amor é maior que tudo e Deus vai nos ajudar.

Ouço passos no corredor, e lá vem o médico, estou com muito frio na barriga, quero saber como está meu pai. Meu Deus, me ajude, tenho fé de que ele está bem.

— Bom vim lhe dar notícias de seu pai — o silêncio o cerca por alguns minhutos.

Com tom de suspense me diz: Ele passa muito bem e está fora de perigo. Logo, logo ele estará em casa com você.

Agora a tensão passou. Iremos voltar a ser o que éramos. Deus me ajudou. Pai, meu pai, ele não corre mais risco, estou muiro feliz.

Nayara Ferreira

Cauda de peixe

Marco, um velho amigo de meu pai, foi nos buscar no aeroporto. Estava eu e meu primo Piortre, vindo da Sibéria, na Rússia, apenas para passar um curto período de férias no Brasil, pois é um país tropical e, definitivamente, mais quente que a Rússia.

Piortre estava bem animado e otimista com essa viagem, pois era um cara aventureiro, e já que Marco tinha planejado um safári no Pantanal no dia seguinte, ele estava mais ansioso do que o normal. Já eu, preferia passear dentro da cidade, pois não gostava de pântanos e tinha medo de jacarés. Mas não queria falar sobre isso, pois estava cansada e só queria ir para casa dormir.

No dia seguinte, acordamos bem cedo para ir ao Pantanal. Piortre estava muito animado, já eu não queria ir: — Por que você não quer ir?

— Eu não gosto de lugares assim, sem contar o fato de que lá é cheio de animais perigosos.

— Tem razão, mas eu prometo que nada de mal vai acontecer a você.

Então entramos no jipe e fomos ao “grande pântano”. Comecei a observar as plantas, e assim fiquei mais tranquila. Havia muitas plantas exóticas e bonitas. Conforme adentrávamos na mata, a variedade de plantas aumentava. Havia samambaias, bromélias, aguapés e quaresmeiras.

Mas, uma planta em especial me chamou a atenção. Uma “cauda de peixe”. Quando avistei essa planta, tudo ficou mais escuro, o vento bateu com mais intensidade e eu senti muita tristeza no coração. Estava eu, ainda bebê, no colo da minha mãe, no vilarejo onde nasci, diante de um homem grande, usando uma capa de pele de urso segurando uma tocha. Era meu pai, que eu nunca conheci, defendendo a aldeia de um homem misterioso que usava uma capa vermelha, verde e amarela com um brasão.

Quando contei a Piortre, ele disse que teríamos de voltar para casa o mais rápido possível, pois ele já havia tido essa “visão”. Dissemos isso a Marco e ele disse que só poderia nos levar ao aeroporto no dia seguinte.

Acordamos bem cedo e Marco nos levou ao aeroporto. Despedimo-nos dele e entramos no avião. Ao chegar em casa, contei tudo para minha mãe que reagiu de forma misteriosa.

Depois de muito insistir, ela pegou um álbum de fotos antigas em que aparecíamos todos juntos, inclusive o meu pai. Muitas histórias me foram contadas, mas uma em especial me chamou a atenção e era sobre o homem da capa vermelha, que eu tinha identificado na “visão”. Esse homem era o líder de uma facção que representava uma ameaça a nossa aldeia, por isso via meu pai com ar severo e preocupado.

Ainda hoje não sabemos o nome dessa gangue, mas pelo que minha mãe me contou, meu pai lutou bravamente, até a morte, para nos proteger. Entendi, assim, que minha “visão” era uma lembrança do grande herói que foi meu pai.

Pedro Henrique Casagrande de Souza

5

O Diário de Bordo — Todos a bordo! Última chamada!

O condutor do trem buzina...

— Estou aqui! Esperem! — Eu chamo correndo.

— Passagem, por favor. — O Fiscal pede.

— Está aqui-eu estendo a mão.

— Muito bem, pode entrara.

Humm... Número 13, 14, 15, 16 e 17: meu lugar.

Isto me é familiar, este é o mesmo trem, não é? Meu primeiro trem... O dia em que recebi meu Diário de Bordo, a capa azul, o cheiro dos subúrbios de Londres. Isto foi a muito tempo atrás...

Eu estava em casa, acabando de me preparar para a minha primeira viagem sozinho, eu não queria ir, só tinha doze anos... Ainda eram 7 horas da manhã e continuava escuro, chovendo e muito nublado, não dava para ver nada na escuridão densa de névoa.

— Filho... já acordou?

— Já, mãe.

— Vem comigo, vamos tomar café.

— Bom dia-diz meu pai-Está pronto filho?

— Sim senhor.

Sentei à mesa com a minha mãe, pai e irmão, meu irmão não era de falar muito, ele tinha 17 anos e já era a quinta vez que ele estava indo viajar sozinho, não sei como ele conseguia, eu estava desesperado e suando.

Quando saímos de casa, antes de entrar na Charrete, minha mãe se ajoelhou e me deu um caderninho azul de presente para que eu pudesse escrever e registrar a minha viagem, era muito confortante ter aquilo, mas mesmo assim eu não conseguia me aquietar.

No caminho para a estação, a chuva só piorava, começou a trovoar e os cavalos se apressavam; era difícil enxergar com a névoa, porém o sol começava a aparecer através das nuvens; finalmente chegamos na estação, mas ainda faltava uma hora até o trem partir, então nós fomos comprar o almoço para a viagem.

O restaurante tinha de tudo; saladas, carne vermelha, carne branca... era muito bom; Eu pedi um sanduíche de carne desfiada com queijo, eu adorava queijo e eu fiquei muito ansioso e feliz.

Enquanto meus pais compravam as passagens, eu e meu irmão estávamos esperando no restaurante, ele tentou me encorajar; falou comigo e me contou uma das suas histórias de viagem, ele me disse que era só relaxar; mas para mim essa viagem parecia o fim do mundo.

Meus pais voltaram, e deram a passagem do meu irmão para ele, e ele foi para o seu trem, meus pais me acompanharam até a minha plataforma, a estação era fria e muito tumultuada.

Ouvimos chamarem os passageiros do meu trem, meu pai e mãe chegaram mais perto e me abraçaram, eu me despedi deles, e eles de mim, eu fui para a fila do trem, o barulho só aumentava; um homem de uniforme me encarando pediu a minha passagem... entreguei-lhe o papel, subi os degraus do trem e sentei, finalmente o barulho parou, tudo acalmou, acenei para meus pais, e o trem saiu.

Finalmente: apareceu o sol.

Pedro Ramos.

Barulho dos trovões Eu esperava o ônibus no ponto ao lado da escola, por volta das duas horas da tarde. O trânsito, violento, fazia um barulho ensurdecedor que incomodava meus ouvidos. O dia tinha amanhecido quente e ensolarado, agora fazia frio e chovia, chovia tão forte que o barulho dos trovões se misturava ao das buzinas na rua.

Mamãe dizia que estava tudo bem, mas eu a via chorar escondida nos cantos do pequeno apartamento, meu pai saía de casa cedo pra trabalhar e só voltava de madrugada, fora de si. Ele até tentava se justificar, falava que a situação financeira estava difícil, que o trabalho não estava rendendo.

Eu a vi de um jeito diferente do que era normalmente, tinha o costume de usar vestidos, cabelo preso e nunca passava muita maquiagem. Agora, mangas compridas até no calor, seu rosto, carregado de corretivo. O que ela queria corrigir? Por que usava tanta maquiagem? Uma vez eu ouvi que isso era um modo de esconder o que não se queria ver.

Mãe, você precisa me dizer o que tá acontecendo. Você não precisa saber, não quero que se envolva. Ela chora, chora muito, como se algo horrível tivesse acontecendo. Será que você não entende que a pior coisa para mim é te ver desse jeito? Conta, mãe. Eu te vi chorando várias vezes. Você mudou muito.

O barulho da porta nos interrompe e ela esfrega os olhos. Meu pai olha enraivecido para o que estava acontecendo. Escuto minha mãe dizer algo sobre o quanto seria melhor que a nossa conversa não tivesse acontecido, mas logo viro meus olhos porque não conseguiria encarar aquela cena de novo, os gritos da minha mãe me deixavam tão assustado quanto da primeira vez. Me senti inútil por não poder me mexer aquela hora e tomar alguma atitude contra aquele animal que havia chegado na minha casa, naquele momento eu conheci um lado do meu pai que apesar de tudo eu nunca tinha visto antes, senti uma raiva que achei que nunca fosse passar.

O ônibus demorava a chegar, a chuva não parava e eu precisava voltar logo pra casa, para novamente tentar inventar uma desculpa para fugir do almoço escabroso junto a meu pai. Os últimos dias em casa tinham sido assim, só nós dois, sufocantes.

Eu ainda conseguia sentir o cheiro dela nas partes do apartamento onde ela mais gostava de ficar, a churrascaria do lado do ponto de ônibus me fazia lembrar da carne que só a mamãe sabia fazer.

— Estou indo.

— O que posso fazer para que decida ficar?

— Nada mais, a essa altura, não tenho mais condições de ficar aqui e você sabe disso.

— Mas eu preciso de você. – eu dizia e implorava, sem conseguir conter as lágrimas.

— Amo você, filho, só você, para sempre.

A porta se fechou e naquele momento senti meu mundo desabar, fiquei sem chão. Não conseguia imaginar minha vida sem minha mãe.

O ônibus chegou, e foi. Chovia forte, tão forte que o barulho dos trovões se misturava ao das buzinas na rua.

Pietra Fasanella

Desculpa - Mãe! ... Vamos logo.

Eu estava parada em frente daquela enorme casa, a neve gélida caindo sobre meu corpo fazendo com que eu me arrepiasse, o frio chegava a doer a espinha, entro no carro vermelho e me acomodo no banco do passageiro. Ligo o aquecedor e o frio não passa, ela entra no carro toda vestida de preto, parecendo que vai à algum velório, seguimos em direção à casa da minha avó, o caminho é o mais silencioso possível, também não quis ser a primeira a romper o silencio, mas também não quis questionar sobre sua aparência, e posso notar a apreensão em sua face.

Já estávamos quase chegando meu pai à casa da minha avó, quando meu pai se vira para me olhar, eu estava sentada no banco de trás com minha boneca que acabara de ganhar, e o cinto de segurança me apertando, eu reclamo meu pai diz que é para o meu bem e sorri para mim. Quando eu vou lhe oferecer um sorriso igual o que me mostrou, algo nos atinge fazendo com que o veiculo que estávamos capotasse inúmeras vezes, e fechei os olhos instantaneamente.

— Filha!

— Você esta bem, porque esta chorando?

— Dói, dói, mãe, e muito.

— Eu entendo que esteja doendo, é a primeira vez que volta aqui, mas não posso fazer nada, só depende de você.

— Eu não consigo, só consigo pensar que a culpa foi minha se...

Minha mãe me interrompe.

— Não se culpe querida.

O carro para aos poucos e é como se a cada segundo que passasse o oxigênio acabasse e eu vou parando de respirar, como se eu estivesse morrendo aos poucos sufocada. Minha mãe sai do carro e eu permaneço nele, minha respiração esta descontrolada e, aos poucos o que parece uma eternidade volta ao normal, quando o carro parou, abro meus olhos e não entendo o que esta acontecendo. Levanto a cabeça e vejo o meu pai ensanguentado, sem respirar, começo a chorar pois meu corpo esta dolorido e meus braços estão com leves cortes que estão sangrando, começo a chamar meu pai, porque sei o que aconteceu ele morreu.

— Minha mãe bate duas vezes na janela, fazendo com que eu a olhe.

— Não vai sair, filha? Já está ai há bastante tempo, e sua vó está à sua espera.

Não tinha percebido que tinha passado tanto tempo que estou aqui dentro, como disse minha mãe.

— Não tenho coragem, ela sabe que a culpa é minha.

— Claro que a culpa não foi sua.

— Sim, claro que é. Minha avó aparece na porta e subitamente paro de falar e a acompanho com os olhos, vem em nossa direção, minha mãe olha para trás para ver quem estou olhando. Vovó para ao seu lado.

— Olá, querida, não vai entrar e dar um abraço na vó? É tão gostoso o abraço da minha vó que é irresistível não sair do carro e abraça-la. Quando percebo, já estou abraçando-a e apreciando seu abraço, que me trás uma sensação de acolhimento. É tão caloroso que acaba inibindo o frio que sentia e acabo percebendo que esse abraço é de perdão, que ela me perdoou pela morte de meu pai.

Entro naquela casa que há não vinha e percebo que está do mesmo jeito de antes. Meu desespero é tanto que acabo não conseguindo me soltar do cinto de segurança de imediato, quando consigo, deposito um beijo na testa de papai, a caminho do céu.

Alana Silva

Afundar ou despencar?

Era uma tarde de verão, estava em um avião com destino a Salvador junto a meu amigo João. Ele nunca havia andado de avião, por isso estava com medo. Muito medo.

— Vitor, isso é mesmo seguro?

— Sim, eu gosto muito de andar de avião. É completamente seguro, você não deve se preocupar com nada!

Aquela construção de metal que segurava as turbinas estava balançando bastante e o avião estava indo bem rápido. O frio na barriga que eu sabia que ele sentia era como o meu, na minha primeira vez.

— André, isso é realmente seguro?

— Sim, Vitor não precisa se preocupar com nada.

— Espero que não mesmo.

Eu, avoado, me assusto com o grito de André dizendo que uma tempestade havia chegado.

— Não se preocupe ficará tudo bem, Argos é bom muito bom, ele nos salvará dessa.

— Não confio nele tanto assim, ele não é meu amigo, é só um amigo seu Vitor.

Eu virei para o lado e vi uma onda gigantesca que quase nos acertou de tão grande que era.

— André, quase que ela nos derruba. Eu estou com medo.

— Não fique preocupado, Vitor. Argos é forte e nos protegerá.

Então, vem uma onda maior que todas juntas, com uma tempestade gigante e nos atinge. Argos que ia bem até então, não resistiu, e quebrou ao meio.

Eu olho para cima e vejo máscaras de ar sendo arremessadas. João estava até meio calmo no inicio da viagem. Mas estava agora desesperado, pois nosso avião com destino a Salvador começou a despencar. E como Argos estava desmaiado, nossas vidas ficaram nas mãos do copiloto.

Um homem me socorreu em uma ilha, e eu perguntei para ele: — Onde estou? E cadê meu amigo André? Piloto de Argos.

Ele me respondeu: — Em Salvador. Seu amigo foi parar em uma ilha do outro lado da cidade eu acho. Pois uma parte dos destroços do barco foi para lá e a outra para cá. Vá para casa leve um amigo, alimento, água e me procure no aeroporto de Salvador. Vamos achar seu amigo. Meu nome é José e ajudarei você a encontrá-lo na aquela ilha deserta.

Sinto uma batida abro os olhos e vejo que conseguimos. O Copiloto fez um pouso forçado e João que estava com medo, agora estava bravo, muito bravo.

Eu me senti normal, minhas únicas preocupações eram: meus dois amigos, Argos que desmaiou e André, o capitão.

Vitor Barra

O Mundial Era uma tarde de sábado, eu estava em minha casa, sentado no sofá, assistindo ao jogo do São Paulo. Foi quando meu netinho entrou na sala para assistir ao jogo comigo.

Disse para ele: — Pedrinho, venha aqui do lado do vovô. E comecei a falar com ele sobre o jogo.

Me lembro de quando tinha sua idade e estava a caminho do Morumbi para assistir à final do Mundial. Eu estava todo tenso e não conseguia parar quieto no banco do carro, nem por um instante sequer.

Quando chegamos no estádio, ficamos rodando em volta dele para acharmos algum lugar para estacionar. Ficamos dez minutos procurando, quando achamos um lugar, finalmente.

Depois disso, fomos andando até o portão 5 que nos levava a arquibancada, que era de onde iríamos assistir ao jogo.

Os jogadores começaram a entrar justo quando uma música de rock também começou a tocar. Aquilo para mim era uma grande emoção, e eu já estava até bobo só de olhar os jogadores entrarem. Tirei um monte de fotos, e, logo após o hino do São Paulo começou a tocar, e todos os torcedores começaram a cantar junto. O estádio estava lotado, e a cantoria formava um eco que ficava até bonito de se ouvir.

Quando o hino acabou, os jogadores foram para seus devidos lugares no campo, e a torcida organizada começou a cantar e a batucar.

O juiz deu o apito inicial e então os jogadores começaram a correr de um lado para o outro do campo atrás da bola. A cada ataque do Barcelona, o meu coração batia a milhão, mas o Rogério Ceni agarrava a bola, e daí o meu coração voltava a bater normalmente.

A cada gol que o São Pulo perdia, a torcida xingava, assoviava e fazia muito, mas muito, barulho mesmo! O jogo foi passando e o gol não saía de jeito nenhum e eu já estava ficando impaciente. Já estava aos oitenta e oito minutos finais, e o juiz já havia sinalizado que não ia haver acréscimo.

Foi quando o Ganso deu uma enfiada de bola por entre três zagueiros e o Rogério pegou a bola do outro lado, ele estava em posição legal, e o goleiro já havia saído para agarrar a bola, porém, o Rogério estava esperto e quando o goleiro deu o bote, ele trouxe a bola para junto de si e chutou-a no ângulo. Por aqueles milésimos de segundo todos haviam parado de respirar e os olhos não piscavam, tudo só voltou ao normal quando a bola ultrapassou a linha do gol e todos saíram se abraçando e gritando “ gol ’’. Não dava para ouvir a própria voz no meio de tanta gritaria, e eu pulava, gritava e comemorava o título que o São Paulo acabara de ganhar!

O jogo havia acabado e então todos os torcedores invadiram o campo para abraçar os jogadores e agarrar a taça, foi uma festa inesquecível. Havia fogos de artifício que explodiam no céu escrevendo “São Paulo – Campeão Mundial” em várias cores diferentes. Até que depois de uma hora comemorando, eu e minha família cansamos, saímos do Morumbi e fomos diretamente para nosso carro onde iríamos para casa finalmente descansar para o dia seguinte, em que tinha aula.

Eu estava até sem voz, mas meu coração dizia que aquilo havia valido à pena.

Matheus Bastos