A segunda edição da conferência Besides the Screen no Brasil se debruça sobre os Métodos e Materiais da Curadoria, ressaltando a importância das práticas curatoriais tanto para o trabalho com imagens em movimento quanto a partir delas. Dando corpo a circuitos e acervos, a curadoria proporciona territorialidade e historiografia ao filme, colaborando na constituição dos espaçostempo nos quais ele pode vir a existir. Nesse sentido, lhe cabe um papel fundamental para o desenvolvimento do cinema frente à voracidade tecnológica. Com seu potencial de definir formas para apresentar as novas modalidades de imagem e preservar as antigas, não seria a curadoria capaz não apenas de perguntar o que será do cinema, como também de inventar respostas para essa questão? O evento reúne pesquisadores, artistas, arquivistas e curadores (que atuam tanto de maneira independente, quanto junto a algumas das mais importantes instituições audiovisuais do país) para discutir as possibilidades de um cinema que poderia abranger desde a projeção de slides e a recuperação da bitola super8 ao vídeo computacional e outros processos de audiovisual generativo.
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Programação Vitória Segunda-feira 23/11 09h00 Credenciamento 10h00 Abertura 10h30 Conferência: A mídia no museu: desafios curatoriais com Thomas Elsaesser (Universidade de Amsterdam) 14h00 Painel: Instituições: Territorializando a Imagem com Thereza Farkas (Associação Cultural Videobrasil) e Ramiro Azevedo (Cine Esquema Novo) 16h00 Conferência: Construindo a história do cinema: experiências do British Film Institute com Jane Giles (BFI) 18h00 Lançamento de livros 18h30 Performance: Accelra
Terça-feira 24/11 09h00 Oficinas: Máquinas do Tempo (com Andrei Thomaz), Corpo e Cine ma Entrópico (com Bruno Vianna) e Síntese Sonora Composição Musical (com Gavin Singleton) 13h30 GTs: Festivais e Mostras: Mapeamentos; Curadoria AV multimo dal: arte, arqzzzzuitetura, VJing; e Atiçando os acervos 16h00 Painel: Cinema em Baixa Definição com Marcelo Ikeda (UFC) e Lucas Bambozzi (FAAP/Labmovel) 18h00 Conferência: Sobrevivendo à exposição: curadoria de práticas generativas e duracionais para telas com Sarah Cook (Univeridade de Dundee) 20h00 Performance: Paris Repeat (com Lucas Coimbra) 20h30 Mostra de Super8 2
Quarta-feira 25/11 09h00 Oficinas: Máquinas do Tempo (com Andrei Thomaz) e Curadoria em Super8 (com Miro Soares) e a Curadoria de Si (com Alexandra Antono poulou) 13h30 GTs: Diálogos entre imagens e diputas de espaço; Curadoria AV multimodal: instalação, software, visual music; e Matéria & Memória 16h00 Painel: Projeções do Passado e do Futuro com Roberto Cruz (FEBASP/ Duplo Galeria) e Virginia Crisp (Universidade de Coventry) 18h00 Conferência: Performando sensações: antropologia sensorial, per- formance e imersão para além do olhar com Chris Salter (Universi- dade de Concordia) 20h00 Noite de projeções (com Herbert Baioco, Lucas Bambozzi e Fernando Velázquez)
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Programação São Paulo
Quinta-feira 26/11 (Sala Paulo Emílio / Prédio Central da ECA, USP) 17h00 Credenciamento 18h00 Abertura 18h30 Conferência: A mídia no museu: desafios curatoriais com Thomas Elsaesser (Universidade de Amsterdam)
Sexta-feira 27/11 (Auditório A, CTR/ECA, USP) 10h30 Conferência: Performando sensações: antropologia sensorial, performance e imersão para além do olhar com Chris Salter (Universidade de Concordia) 14h30 Painel: Audiovisualidades com Rubens Machado (USP), Sílvia Lauren tiz (USP) e Sérgio Basbaum (PUC-SP) 17h00 Conferência: Construindo a história do cinema: experiências do British Film Institute com Jane Giles (BFI)
Sábado 28/11 10h00 Workshop: Imersão para desenvolvimento de projetos – CAP/USP 16h00 Conferência: Sobrevivendo à exposição: curadoria de práticas generativas e duracionais para telas com Sarah Cook (Universidade de Dundee) – TIDD/PUC 20h00 Lançamento de livros – Atelier Paulista
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CONFERÊNCIAS A mídia no museu: desafios curatoriais Thomas Elsaesser | Universidade de Amsterdam Vitória: 23/11, 10h30, Cine Metrópolis, UFES São Paulo: 26/11, 18h30, Sala Paulo Emílio / Prédio Central da ECA, USP
Essa palestra vai examinar alguns dos desafios, tanto práticos quanto conceituais, enfrentados pelos curadores na tentativa de trazer as artes baseadas no tempo para o museu. Esses desafios vão desde a superação dos antagonismos inerentes (e históricos) entre as obras de imagem em movimento (cinema, vídeo) e o mundo da arte (museus, história da arte), até a construção do novo meio de massa em que o museu de arte contemporânea se tornou (impulsionado pelo turismo, parte integrante do branding das cidades globais). Além disso, precisamos pensar em como preservar e restaurar obras que dependem de tecnologia obsoleta (hardware) e sistemas operacionais inoperantes (software). A quem os curadores servem: aos artistas, ao público, ao mercado da arte ou à instituição? Frequentemente os curadores devem tomar decisões que podem trair o artista ou frustrar o público, ao mesmo tempo em que negociam o valor do trabalho e a reputação da instituição. Thomas Elsaesser é professor emérito no Departamento de Mídia e Cultura da Universidade de Amsterdam. Entre 2006 e 2012 foi professor visitante em Yale e desde 2013 é professor visitante e Columbia. Ele escreveu, editou e co-editou mais de vinte livros sobre o primeiro cinema, teoria cinematográfica, cinema europeu, Hollywood, novas mídias e instalações. Entre seus livros mais recentes estão The Persistence of Hollywood (New York: Routledge 2012), German Cinema – Terror and Trauma: Cultural Memory Since 1945 (New York: Routledge, 2013) e (com Malte Hagener) Film Theory – An Introduction through the Senses (2a edição revisada , New York: Routledge, 2015). Atualmente finaliza um livro sobre cinema europeu e filosofia continental.
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Construindo a história do cinema: experiências do British Film Institute Jane Giles | British Film Institute Vitória: 23/11, 16h, Cine Metrópolis, UFES Paulo: 27/11, 17h, Auditório A, CTR/ECA, USP
Desde o começo do cinema, existem dilemas sobre sua permanência. Quais filmes devem ser preservados e quais devem ser descartados – se é que devem? Muito da história do cinema já se perdeu por causa da reciclagem de materiais, dos custos de armazenagem, e também da natureza instável de alguns formatos de filme e vídeo. Acervos foram estabelecidos em diversos países para preservar e proteger os filmes. Mas qual o sentido de arquivar esse material se ele não pode ser acessado para ser visto e interpretado? Essa palestra vai abordar os modos como o British Film Institute (BFI), o maior acervo de filmes e programas de televisão do mundo, cria acesso para a coleção nacional Britânica por meio de aparelhos como as salas de projeção do BFI Southbank, as estações multimídia da sua cinemateca, o seu selo de publicação de DVDs, a venda de material para realizadores e canais de TV, e a sua recente plataforma video-on-demand, o BFI Player. Examinaremos os obstáculos e as oportunidades criadas por questões materiais, pela negociação de direitos e pelos custos de acesso, ilustrados com um estudo do inovador projeto Unlocking Film Heritage, considerando os seus resultando públicos tais como a coleção on-line Britain on Film. Jane Giles é a atual coordenadora de Desenvolvimento de Conteúdo do BFI, o departamento encarregado da distribuição de filmes, do lançamento de vídeos, e da venda para TV e pela internet das coleções do British Film Institute. Possui formação em exibição cinematográfica, tendo sido programadora do cinema Scala (Londres), do Institute of Contemporary Arts (ICA) e também de curtas do London Film Festival. Ela também trabalhou para companhias distribuidoras como Electric Pictures e Tartan Films, bem como no Channel 4 no desenvolvimento de roteiros, no setor de produção e de compras. Jane é autora de três livros sobre cinema (The Cinema of Jean Genet; Cinema of Desire; The Crying Game) e de um capítulo na coletânea History of British Cinema (Routledge). Produz resenhas e artigos para uma série de publicações, tais como Sight & Sound, The Guardian, Time Out, Artforum.
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Sobrevivendo à exposição: curadoria de práticas generativas e duracionais para telas Sarah Cook | Universidade de Dundee Vitória: 24/11, 18h, Cine Metrópolis, UFES São Paulo: 28/11, 16h00, TIDD/PUC
Atualmente, a história da arte-mídia consiste numa mistura de análises técnicas dos trabalhos de arte, de estudos laboratoriais das colaborações entre arte e tecnologia, e da descrição de exposições que incluem obras de arte-mídia. O problema com essas últimas é que elas tendem a omitir tanto a criação das obras quanto a sua sobrevida. Isso acontece especialmente nas situações em que a obra de arte existe apenas pela duração da exposição e de sua interação com o público, para então se dissolver novamente na rede de tecnologias e relações da qual emergiu. Uma curadoria à parte das telas implica prestar atenção em todos esses momentos variáveis na realização da obra. No livro Rethinking Curating: Art After New Media, defendi que a compreensão e documentação do conjunto de comportamentos exibidos pelos trabalhos pode ser mais útil para a sua crítica, historicização e preservação do que a manutenção dos próprios objetos. No seu próximo livro Revisions – Zen for Film, a conservadora de arte Hanna Holling defende que precisamos definir não apenas o quê, e como, mas também quando um trabalho é arte, como quando é exposto e preservado para futuras exposições. Nessa palestra, desenvolverei essa ideia ao considerar o que ela implica para trabalhos generativos que se valem de bancos de dados e códigos. Vou explorar o modo como se deu o comissionamento e a preservação de um trabalho de Thomson & Craighead (Stutterer) que usa televisores, e a sequência do genoma humano, para exibir um banco de dados de clipes, que levará mais de 75 anos para ser completamente reproduzido. Também abordarei um trabalho de Daniel Brown (Flowers) que se encontra na coleção do Museu da Universidade de Dundee, e que tem como proposta durar ad infinitum – o que isso significa para a sua coleção? Buscarei mostrar como é difícil documentar e “capturar” experiências de exposição que se valem de telas, nas quais os processos institucionais de distribuição, marketing e exposição se confrontam com a duração de trabalhos generativos que buscam subsistir para além de nós.
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Performando sensações: antropologia sensorial, performance e imersão para além do olhar Chris Salter | Universidade de Concórdia Vitória: 25/11, 18h, Cine Metrópolis, UFES São Paulo: 27/11, 10h30, Auditório A, CTR/ECA, USP
A palavra “performance” foi por muito tempo empregada no contexto da antropologia como uma metodologia viável para a exploração do que Dwight Conqergood chamou de “a natureza fabricada, inventada e construída da realidade humana”. Nesse sentido, a antropologia performativa buscou enfocar o “fazer” da antropologia, particularmente na captura da experiência por meio de pesquisa etnográfica. Ainda que historicamente a antropologia performativa tenha enfatizado o jogo, o processo e a participação no registro de etnografias, recentes desenvolvimentos das tecnologias digitais e da chamada antropologia dos sentidos (HOWES, 1991) ampliaram o escopo dessa performance para incluir novas formas de sensação que o público poderia vir a experimentar diretamente, para além da imersão visual. Essa palestra aborda pesquisas recentes sobre o papel que outros sentidos que não a visão podem desempenhar nas histórias do passado, presente e futuro da performance. Reunindo trabalhos de antropologia sensorial, teoria da performance e novas mídias, buscarei examinar tanto os antecedentes históricos para essa nova “virada performativa sensorial” quanto meus próprios projetos interdisciplinares de pesquisa-criação realizados em colaboração com antropólogos, engenheiros e artistas. Esses trabalhos buscam alterar, contrariar ou retrabalhar hábitos socioculturais de percepção. Ao mesmo tempo, tais novos “ambientes sensoriais performativos” dão prosseguimento a uma longa série de investigações sobre a relação entre experiência sensorial e as novas tecnologias, nas quais as fronteiras tradicionais entre as sensações corporais e o ambiente são progressivamente borradas e reimaginadas. Chris Salter é artista e pesquisador da cadeira New Media, Technology and the Senses na Universidade de Concórdia, Montreal. Co-diretor da rede Hegram para pesquisa de criação em Arte-media, design, tecnologia e cultura digital em Montreal. Seu trabalho artístico foi exibido em eventos de investigação em arte e tecnologia reconhecidos internacionalmente como a Bienal de Arquitetura em Veneza, BIAN 2014, LABoral, Lille 3000, CTM (Berlim), National Art Museum of China, Ars Electronica, Transmediale, EXIT Festival, entre outros.
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PAINÉIS Instituições: Territorializando a Imagem Vitória: 23/11, 14h, Cine Metrópolis, UFES
Associação Cultural Videobrasil (Thereza Farkas) Existem no Brasil peculiaridades históricas na relação entre a imagem em movimento e o circuito das artes plásticas. O Videobrasil, ao longo de sua trajetória de mais de 30 anos, teve papel estratégico nesse trajeto. Com o surgimento do vídeo nos anos 60 e sua assimilação pela produção artística nacional, no início dos anos 80, o sistema artístico se redesenhou, culminando nas práticas contemporâneas que borraram as fronteiras entre linguagens e suportes para manifestações artísticas. Esse cenário fez com que, em diversos momentos dessa história, redesenhássemos o Festival Videobrasil – principal atividade da Associação Cultural Videobrasil – por exemplo, tornando-o desde 2011 um festival voltado para arte contemporânea em sentido amplo. Esta participação pretende desenhar a trajetória do Videobrasil, que coincide com a própria trajetória da imagem em movimento no Brasil. Iniciada em 1983 com a primeira edição de seu Festival, voltado na época para a produção de video nacional, hoje a Associação Cultural Videobrasil tem atuação muito mais ampla e complexa, dedicando-se ao fomento, difusão e mapeamento da arte contemporânea, bem como à formação de público e ao intercâmbio entre artistas, curadores e pesquisadores. Atuando nas lacunas do universo da arte e no estímulo à experimentação artística, a associação destina especial atenção à produção do circuito geopolítico Sul (que compreende América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Oceania e alguns países da Europa e da Ásia) e promove a existência de uma ativa rede de cooperação internacional. Independente e comprometida com o papel questionador da arte, tem se voltado, com crescente ênfase, para ações públicas e de ativação de seu acervo, uma representativa coleção de vídeo e performance do Sul geopolítico global. Thereza Farkas graduou-se em Cinema pela FAAP (São Paulo, Brasil. 2008) e atriz pelo Teatro Escola Célia-Helena (São Paulo, Brasil. 2003). Hoje dedica-se à gestão de projetos artísticos e à projetos curatoriais, como as exposições Wabi-Sabi (2011) e Futuro do Pretérito (2012) na galeria Mendes Wood, em São Paulo. Em 2009 co-fundou a Casa Tomada – espaço de 9
investigação artística dedicado ao incentivo e à discussão da jovem arte contemporânea brasileira, onde atuou como diretora até final de 2012; em 2013, passa a atuar como diretora de programação na Associação Cultural Videobrasil – associação dedicada ao fomento, difusão e mapeamento da arte contemporânea, com especial atenção à produção do circuito geopolítico Sul e ao video enquanto linguagem artística.
Cine Esquema Novo (Ramiro Azevedo) O Cine Esquema Novo teve sua primeira edição realizada em 2003 e surgiu a partir de uma necessidade e em um contexto específico, na cidade de Porto Alegre/RS. Ao longo dos últimos 12 anos, o CEN já experimentou e se reinventou diversas vezes, buscando dialogar com o seu público a partir das propostas curatoriais de seus organizadores. Ao longo desta fala, vou traçar esta linha do tempo do festival e trazer comentários a respeito do processo curatorial, filmes, cineastas e sua relação com o público, bem como os desafios para realizá-lo. Ramiro Azevedo é formado em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, pela UFRGS, trabalhou no Estúdio de Vídeo, onde teve seu primeiro contato com a área do audiovisual. A partir de 2005, passou a trabalhar em produções independentes para cinema e televisão nas funções de produtor e assistente de direção. Participou do Cine Esquema Novo 2006 como assistente de curadoria e, a partir daí, trabalhou em diversos eventos ligados à difusão cultural – mostras no Brasil e no exterior, 8ª Bienal do Mercosul, lançamento de filmes. Fez parte da diretoria da APTC/ABD-RS no biênio 2009/2011. Em 2009, passou a ser sócio organizador do Cine Esquema Novo. Em 2012, assumiu a Coordenação de Licenciamento da Box Brazil – programadora de TV por assinatura com sede em Porto Alegre. Em Maio de 2015 passou a atuar como Coordenador Geral do canal Prime Box Brazil (canal pago dedicado a exibição de filmes e séries brasileiras) na mesma empresa.
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Cinema em Baixa Definição Vitória: 24/11, 16h, Cine Metrópolis, UFES
O cinema de garagem: apontamentos para um cenário em construção (Marcelo Ikeda, UFC) Nesta fala, abordarei o que chamamos de “cinema de garagem” (Ikeda e Lima, 2011), analisando os cenários de transformações na produção e difusão do audiovisual brasileiro a partir do início deste século. Buscarei apontar para as características desse cenário, através de um entrecruzamento entre aspectos tecnológicos, econômicos, estéticos, éticos e políticos. Marcelo Ikeda é professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Diretor e Roteirista de diversos videos, participou de diversos festivais nacionais e internacionais. Crítico de Cinema, escreveu para variados veículos, especialmente na internet, como ViaPolítica, Claquete, CurtaoCurta, Revista Etcetera, mantendo o blog Cinecasulofilia desde 2004. Curador da Mostra do Filme Livre (CCBB/RJ) desde 2003. Desenvolve pesquisa sobre o cinema contemporâneo independente brasileiro, publicando, em 2011, o livro Cinema de garagem: um inventário afetivo sobre o jovem cinema brasileiro do século XXI, em coautoria com Dellani Lima. Organizou (com Dellani Lima) a mostraCinema de Garagem (Caixa Cultural/RJ – julho/2012; Cinema do Dragão – Fortaleza/2014; Centro Cultural da Justiça Federal – RJ/2014). Em 2014 publicou o livro Cinecasulofilia (Editora Substânsia).
Do invisível ao redor: o lugar do instável (Lucas Bambozzi, FAAP / Labmóvel) Esta fala busca analisar as transformações recentes da noção de “lugar” em função da emergência dos chamados espaços informacionais, permeados por conectividade e fluxo de comunicação. A proposta envolve processos criativos que possam auxiliar formas de “ver” ou visualizar campos eletromagnéticos, ondas hertzianas, sinais wi-fi e de celulares, gerados por meios de comunicação em espaços de circulação. Tal intromissão dos fluxos de informação nas formas mais físicas do mundo vem demandando o cruzamento de campos distintos do conhecimento, que passam a considerar novos fatores subjetivos, comumente associados à arte. Cabe pensar em novos procedimentos de medição e visualização de informações, pois o que se entende por lugar, hoje, passa a incluir fluxos que escapam ao nosso olhar, mas que
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moldam o uso, a natureza e as especificidades do espaço (conceitos em negociação entre arquitetura, comunicação e arte), influenciando nossos corpos, hábitos e percepção, em uma espécie de cinema do invisível, para além das telas. Lucas Bambozzi é artista multimídia e pesquisador em novos meios. Produz vídeos, instalações, performances audiovisuais e projetos interativos, tendo trabalhos exibidos em mais de 40 países. Conduziu atividades pioneiras ligadas a arte na Internet no Brasil entre 1995 e 1999 na Casa das Rosas. Foi curador e coordenador de eventos como Sónar SP (2004), Life Goes Mobile (Nokia Trends 2004 e 2005) e Motomix (2006), Red Bull House of Art (2009) e Lugar Dissonante (2010), tendo atuado também em eventos coletivos como Mídia Tática Brasil (2004), Digitofagia (2005) e Naborda(2012). Foi artista residente no CAiiA-STAR Centre/i-DAT (Planetary Collegium) e concluiu seu MPhil na Universidade de Plymouth na Inglaterra com a tese Public Spaces and Pervasive Systems, a Critical Practice. Como artista dedica-se à exploração crítica de novos formatos de mídia independente. Em 2010 foi premiado no Ars Electronica em Linz/Austria com o projeto Mobile Crashe em 2011 teve uma retrospectiva de seus trabalhos no Laboratório Arte Alameda, na Cidade do México. Em 2012 participou das exposições Tecnofagia (Instituto Tomie Ohtake, SP) e da Bienal Zero1 (San Jose, EUA) com trabalhos comissionados pelos organizadores. Entre 2013 e 2014 participa da Bienal de Artes Mediales no Chile, das exposições Gambiólogos 2.0 no Oi Futuro, BH eSingularidades, no Itaú Cultural em SP. Foi criador e coordenador do Festival arte.mov – Arte em Mídias Móveis (2006-2012) e do Labmovel, um veículo criado para atividades laboratoriais e artísticas em espaços públicos (2012) que recebeu em 2013 menção honrosa no Prixars, do Ars Electronica. É um dos idealizadores e curadores do Multitude, um evento de arte contemporânea que tem como ponto de confluência o embate com o termo multidão.
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Projeções do Passado e do Futuro Vitória: 25/11, 16h, Cine Metrópolis, UFES
Slide e super-8: primeiros passos do experimentalismo audiovisual no Brasil (Roberto Cruz, FEBASP / Duplo Galeria ) Viveu-se no Brasil, no período que transcorre do final da década de 1960 até os anos da redemocratização no início da década de 1980, um momento de afirmação da cultura nacional contemporânea e da necessidade de identificação com as correntes artísticas internacionais. Vitimado pelo domínio de uma doutrina política de restrições e pouca liberdade de expressão, o artista divagava entre a herança do neoconcretismo, as tendências da nova objetividade brasileira e o interesse pelos novos suportes. Neste contexto, o slide e o super-8 eram mídias recentemente desenvolvidas e estavam destinadas ao mercado de consumo doméstico. Motivados pela potencialidade que estas tecnologias ofereciam como formas de expressão de linguagem, os artistas passaram a experimentar com estes novos meios. Estes trabalhos ocorreram de maneira discreta, resultante de uma produção que se restringiu a poucos grupos e que raramente encontrou respaldo das instituições artísticas. Circulando por mostras ou festivais alternativos, presentes em uma ou outra exposição de maior repercussão, esta produção ficou praticamente esquecida pela crítica de arte e, de certa forma, ainda carece de uma pesquisa mais aprofundada. Roberto Moreira S. Cruz é curador independente e produtor cultural. Possui doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Está vinculado especialmente às áreas de vídeo e filmes de artista, interessado em cinema expandido e artistas brasileiros que trabalhem nessas áreas. Realizou a curadoria de importantes exposições de vídeo, cinema e live image, trabalhando principalmente em colaboração com o Itáu Cultural, onde atualmente realiza consultoria para a aquisição e constituição da coleção de filmes e vídeos de artistas para a instituição. Também idealizou e coordena a Duplo Galeria.
Curando o passado cinematográfico: exibições de eventos no Prince Charles Cinema (Virginia Crisp, Universidade de Coventry) Esse artigo vai apresentar descobertas de um estudo empírico do Prince Charles Cinema (PCC), em Londres, conduzido em colaboração com o Dr. Richard McCulloch (Regent’s University, Londres). Apesar de ser uma sala de projeção second-run, que conta com diversos lançamentos em sua grade, o PCC busca estruturar sua pro13
gramação primariamente em torno de exibições de material “cult” ou “nostálgico”, tais como Tubarão, Meninas Malvadas, e retrospectivas de John Hughes. O cinema também se especializa em “eventos” cinemáticos, que tomam a forma de maratonas que duram a noite toda, ou que convidam o público a cantar junto com o filme ou se fantasiar como os personagens. O que teria levado o cinema a buscar essa abordagem, e a qual tipo de público ela se endereça? Ainda que esse tipo de projeção aliada a eventos tenha crescido em popularidade recentemente, aquilo que o PCC oferece é impressionante por causa de sua localidade central e o fato que os “eventos” são a regra da programação, e não a exceção. Ao invés de encorajar a norma de espectação silenciosa e reverente do filme, a programação do Prince Charles estimula ativamente o comportamento participativo do público. Como essa maneira de apresentar o filme se relaciona com a longa história de práticas marginais de consumo cinematográfico, e o modo como elas se tornaram progressivamente mainstream? Virginia Crisp é professora de Mídia e Comunicação na Universidade de Coventry. Ela é autora deFilm Distribution in the Digital Age: Pirates and Professionals (2015) e co-editora (com Gabriel Menotti) de Besides the Screen: Moving Images through Distribution, Promotion and Curation(2015). Crisp é uma das coordenadoras da rede de pesquisa Besides the Screen.
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Audiovisualidades São Paulo: 27/11, 14h30, Auditório A, CTR/ECA, USP
O experimentalismo superoitista, dos anos 70 aos dias de hoje: Estéticas de meta-resistência? (Rubens Machado Jr, USP) Entre o Super-8 experimental dos anos 70 e os dias de hoje sucederam-se com o advento do neoliberalismo uma série de modismos e ciclos — pós-moderno etc. Interrogamos a pouca pesquisa desde então e o esquecimento histórico das experiências sociais radicalmente questionadoras do progresso da indústria cultural, de par com o declínio do seu debate político.
A interdisciplinaridade selvagem (II): Sinestesia, Cromossonia, Visual-Music, live-cinema (Sérgio Basbaum, PUC-SP) A contar dos desenvolvimentos conceituais e técnicos iniciais, as primeiras pesquisas que permitiram formular o conceito de Cromossonia datam do início dos anos 1990. De lá para cá, mais de 20 anos de trajetória em várias mídias e derivas de pesquisa permitiram um entendimento necessariamente aberto dos conceitos de Sinestesia, Cromossonia e Visual-Music, que desagua numa confiança nas possibilidades, no sentido e na potência da performance coletiva audiovisual. Em meio ao dilúvio das imagens técnicas, essas duas décadas também testemunharam a emergência de inúmeras poéticas de som e imagem, eventualmente imersivas e sinestésicas, num contexto que chamei de “percepção digital”. Os trabalhos realizados recentemente com os coletivos Plano Z (2013-14), Pantharei (2012-14) e L!QU!D!F!CADOR (2015), fizeram conceber a prática performática audiovisual como acontecimento em que as noções de circunstância, presença, risco, atenção, contraponto e polifonia se impõem na busca do devir poético por meio do qual a arte, a seu modo, faz mover o mundo. Sérgio Basbaum é multiartista e pesquisador. Músico, bacharel em Cinema (ECA-USP), mestre e doutor em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), com pós-doutorado em filosofia (UNESP). Professor do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD) da PUC-SP, é autor de Sinestesia, Arte e Tecnologia (Annablume-FAPESP), além de diversos artigos publicados no Brasil e no exterior. Possúi dois álbums de composições originais no terreno música
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instrumental e da cançaõ popular, e diversos trabalhos realizados como artista, empregando diferentes suportes e mídias. Atualmente, dedica-se a pesquisas de improvisação audiovisual envolvendo recursos análógicos e digitais, em trio com o video-artista Rodrigo Gontijo e o sintesista Dino Vicente.
Pioneiros da artemídia no Brasil (Sílvia Laurentiz, USP) Termos como multimídia ou artemídia são abrangentes, como resultado do surgimento de um campo de discussão que cruza arte e comunicação. A partir de um breve histórico, apresentaremos artistas brasileiros que desde os anos 50 são precursores de um modo de pensar que organiza um sistema com unidades complexas de informação (com estrutura em hipertexto, utilizando diferentes modos de representação) que se liga a um contexto maior, uma rede, ou estrutura de outra grandeza. E, a partir do final dos anos 80, ampliam-se as possibilidades com o uso de múltiplas plataformas, diferentes dispositivos e formatos, bancos de dados, resultados diretos do desenvolvimento tecnológico na área da informação. Recuperar estes artistas pioneiros não tem a intenção de um retorno-ao-evento em si, mas antes, procura: a) apontar como certas dinâmicas sígnicas já percorreram extensos caminhos; b) que certa tecnicidade acompanha sempre toda uma produção de sentidos; c) como estes trabalhos precursores explicam o desenrolar dos procedimentos atuais; d) e, finalmente, como o termo mídia não dá conta desta produção de artistas. Silvia Laurentiz é Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP); Professora Associada da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP); Professora e Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais e de Graduação em Artes Visuais do Departamento de Artes Plásticas; Artista Multimídia; Coordenadora do Grupo de Pesquisa Realidades.
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GRUPOS DE TRABALHO Festivais e Mostras: Mapeamentos Vitória: 24/11, 13h30, Cemuni V, Sala 1A, UFES
Por um cinema com arestas – A experiência da Mostra Corsária no Festival de Cinema de Vitória (2012-2015) (Erly Vieira Jr., UFES, & Rodrigo de Oliveira) Em 2012, assumimos a curadoria do Festival de Cinema de Vitória, em meio a uma ampla reformatação de suas mostras competitivas, visando oferecer janelas de exibição mais adequadas para filmes autorais brasileiros. Buscamos repensar a grade de exibição a partir de novos programas, sob recortes mais específicos, que pudessem complementar o caráter mais panorâmico/cartográfico das mostras competitivas oficiais de curtas e longas-metragens. Novas estratégias curatoriais foram experimentadas para tentar dar conta das especificidades de cada recorte. Um desses programas é a Mostra Corsária, que se caracteriza pela abertura a propostas audiovisuais de caráter mais experimental, de realizadores cujos nomes estão mais associados a projetos estéticos (e políticos) bastante aproximados ao risco e à expansão/esgarçamento de um repertório da linguagem audiovisual já consolidados – ou seja, filmes que apontem para o futuro do chamado “Novíssimo Cinema Brasileiro”. O próprio nome da mostra remete a um cineasta-farol para boa parte do cinema brasileiro contemporâneo: Carlos Reichenbach. Anualmente, de quinze a vinte títulos são selecionados para a Mostra e suas sessões são seguidas de debates entre realizadores e público. Alia-se, assim, o debate e a crítica à difusão dos filmes. Este trabalho pretende ser um relato de experiências da dupla de curadores do Festival, referentes às quatro edições já realizadas da Mostra Corsária, focando as mudanças ocorridas a cada edição e buscando perceber de que formas as potentes arestas contidas no conjunto de filmes nela exibido vem a “contaminar” diretamente o caráter de outras mostras, em especial as competições oficiais (mainstream) do próprio festival.
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As Mostras de Cinema de Bordas no Brasil (Bernadette Lyra, UAM) No Brasil, o rótulo de cinema independente pode ser considerado como regra geral, não como um selo de exceção. Mas várias denominações dão conta da pulverização que ocorre nos mais diversos tipos de cinematografias que não param de se multiplicar, por força do desejo de fazer cinema, sem ou quase sem nenhum recurso, sem distribuidoras majors e sem interferências do mercado global. Entre elas, se inclui o Cinema de Bordas. O termo Cinema de Bordas se aplica a filmes que apresentam características específicas de produção, realização e exibição. São filmes alternativos, invisíveis aos olhos do publico que frequenta as salas de exibição, realizados com baixíssimo orçamento, técnicas precárias, falta de aparatos tecnológicos, amadorismo de atores e atrizes, diretores autodidatas e muita criatividade. Desenvolvem narrativas marcadas pela ação e pelo sentimento, com um certo sotaque regional, pois são feitos em todas as regiões do pais e sobrevivem “às bordas” do cinema comercial ou artístico. Neles predominam os modos do sistema da cultura popular, como a oralidade e a corporalidade, intensamente contaminados pelas formas do cinema de gênero, já conhecidas, filtradas e repassadas pelo crivo do sistema massivo, como a televisão e a internet. São esses os parâmetros que uma curadoria deve levar em conta, ao selecionar e exibir filmes para Mostras de Cinema de Bordas em salas alternativas, debruçando-se, ao mesmo tempo, mais detalhadamente sobre os elementos materiais que constituem e especificam os filmes nesse tipo de produção.
Festival do Rio e a Construção do Imaginário da Cidade (Tetê Mattos, UERJ/UFF) No século XXI estamos assistimos a uma série de transformações nas sociedades que irão impactar de forma vertiginosa na arte cinematográfica e revolucionar o cotidiano das massas, em especial no que diz respeito ao consumo de filmes. Para Henry Jenkins vivemos um momento de transição onde a convergência midiática está remodelando a relação entre os consumidores e os produtores de mídia (JENKINS, 2009, P.46). Os novos consumidores passam a ser os condutores dos processos de convergência, na medida em que se tornam mais ativos, mais conectados socialmente e de certa forma mais públicos. A partir do estudo de caso do Festival do Rio, buscaremos entender, de que forma estas transformações irão refletir no segmento dos festivais audiovisuais.Buscaremos entender de que forma se dá a orquestração de discursos do Festival, como operam na mediação entre as “obras” e os “espectadores”, e como ele se relaciona com a cidade onde é realizado.
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Observamos que há um discurso de construção/manutenção de um imaginário de representação da cidade do Rio de Janeiro, que a nosso ver, estabelece pactuações com a cidade num jogo que remete às representações onde a “Marca Rio” aparece como uma mercadoria a ser consumida. A promessa da cidade ideal, cosmopolita, global, moderna, tecnológica pautada no clichê da “cidade maravilhosa” é visível em seu discurso, que reforça a narrativa da cidade como espetáculo. Há uma utopia de cidade maravilhosa estetizada pela paisagem que apresenta um simulacro do real.
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Curadoria AV multimodal: arte, arquitetura, VJing Vitória: 24/11, 13h30, Cemuni V, Sala 1B, UFES
O audiovisual na Bienal de São Paulo: Reflexões sobre a 13ª edição (Cassia Hosni, Fundaçao Bienal) Essa apresentação reflete sobre algumas questões diante à expografia do audiovisual nas Bienais de São Paulo, especialmente a partir da 13ª edição, realizada em 1975. Conhecida como a Bienal dos Videomakers, o evento obteve participação significativa do audiovisual por meio das obras enviadas pelas representações nacionais dos Estados Unidos e do Japão. A Bienal de Artes Plásticas/Artes Visuais, presente desde 1951 na capital paulista, além das polêmicas presentes em todas as edições, pode ser vista como um importante marco para pensar o audiovisual em exposições de grande formato. É de interesse apresentar estudos de casos que tratem a questão da espacialidade, sonoridade, assim como a relação das obras com o público, transformada ao longo dos anos.
Arquitetura e audiovisual: Abordagens curatoriais interdisciplinares (Laurem Crossetti, Universidade do Porto) O presente estudo analisa e tece reflexões sobre a exposição intitulada No Place Like: 4 houses, 4 films, apresentada por Portugal na 12a edição da Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza, tido por especialistas como o principal evento de âmbito internacional dedicado à cultura arquitetônica contemporânea. A exposição portuguesa no evento de 2010 apresentou ao público quatro grandes nomes da arquitetura atual do país: Álvaro Siza, João Luís Carrilho da Graça, Ricardo Bak Gordon e a dupla Francisco e Manuel Aires Mateus. A equipe curatorial – composta por Delfim Sardo, Júlia Albani, José Mateus e Rita Palma – teve como ponto de partida a temática da habitação, desenvolvendo o assunto em paralelo à preparação para a 2a Trienal de Arquitetura de Lisboa, sob o título “Vamos Falar de Casas”. Dessa forma, os curadores selecionaram um projeto de habitação de cada
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arquiteto. O ponto de destaque acontece exatamente no modo como os curadores optaram por exibir esses projetos: através de filmes, que foram encomendados à quatro artistas visuais portugueses – nomeadamente Filipa César, João Onofre, Julião Sarmento e João Salaviza. Assim, partindo do conceito de habitar – entendido pela equipe curatorial como o motor fundamental do pensamento arquitetônico – em seu sentido mais amplo, foram selecionados quatro habitações consideradas exemplares para apresenta-las através de filmes curtos feitos especialmente para a ocasião. Este trabalho, inserido no projeto de doutorado em curso, explora a abordagem interdisciplinar de apresentação da disciplina arquitetônica em relação com o audiovisual e a museologia.
Curadoria em contextos institucionais (Patrícia Moran, USP) Discutiremos duas naturezas de projetos curatoriais: a experiência do CINUSP Paulo Emílio (cinema da Universidade de São Paulo) e de performances audiovisuais no evento acadêmico Arranjos Experimentais em 2013. A curadoria do CINUSP é coletiva, parte dos estagiários e de debates internos, é fruto de interesses particulares, mas se constrói a partir das intervenções do grupo. Para exemplificar a dinâmica das pesquisas e curadoria tomaremos a mostra Ouvir Imagens como caso exemplar por haver contemplado além da tradicional exibição de filmes, performance audiovisual em cinema, com Peter Kubelka e em vídeo com o grupo de Fernando Iazzetta. Ao pensarmos a curadoria no cinema, vamos problematizar a evasão do público das salas e as estratégias para lidar com esta situação.
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Atiçando os acervos Vitória: 24/11, 13h30, Cemuni V, Sala 5, UFES
Em defesa da imagem (Patrícia Mourão, USP) Em 2015 as principais salas de cinema de Nova Iorque voltadas para filmes de repertório ou cinema independente dedicaram programações a formatos de projeção ou características técnicas do cinema. Motivadas pela mudança do analógico para o digital no fazer e no exibir cinematográfico, essas programações lançavam luz a aspectos técnicos do cinema e, sobretudo, a sua dimensão experiencial. Em resposta às telas pequenas e luminosas, eles traziam o cinema na sua mais gloriosa forma; ao invés da experiência privada, um encontro coletivo. Antes dos programadores, artistas vinham respondendo de maneiras distintas a essa mudança. Assim, enquanto Tacita Dean colocava-se como a guardiã do 16 mm, e parte de sua obra sedimentava-se como uma espécie de lamento e canto poético à obsolescência de uma técnica, uma outra artista, Hito Steyerl. defendia, explorava e turbinava as potências éticas e estéticas da imagem digital “pobre”, corrompida, de baixa qualidade, apontando para o que poderia haver de elitismo no culto à película. As desconfianças de Steyerl parecem partilhadas por cineastas como Frederick Wiseman, Joel Cohen, James Benning que, nos últimos anos, voltaram-se para museus do século XIX. National Galery, Museum Hours e National History Museum são estudos lentos sobre a dinâmica, o funcionamento, os tempos de três importantes museus europeus, que enfrentam as dificuldades de se adaptar a um novo público leigo e global. Estariam estes cineastas, ao olhar para os museus do século passado, tentando imaginar o espaço que os aguarda quando o cinema também tiver perdido seu sentido coletivo e partilhado?
Cinemas temporários como uma historiografia vernacular (Maria Antonia Velez-Serna, Universidade de Stirling) No folder do festival Scalarama 2014, uma série de exibições cinematográficas que acontecia por todo Reino Unido, os organizadores convidavam os participantes a “encher o país de cinemas para que todos possam encontrar um lugar para assistir filmes juntos. Esse desejo de transformar pubs, galerias, parques e até mesmo barcos 22
em espaços temporários de projeção recentemente se cristalizou no termo “pop-up cinema”, ainda que tenha um passado muito mais distante. O pop-up cinema articula a ideia de experiência coletiva a partir do que o cinema foi anteriormente, conforme a perspectiva do que Robert C. Allen chamou de “era pós-moviegoing”. Esse artigo introduz um projeto de pesquisa sobre cinemas temporários que se inicia a partir de estudos de caso pilotos, como os festivais Scalarama e Glasgow Southside desse ano. O artigo questiona a relação entre os espaços de exibição e as escolhas de programação, indagando como as estratégias e discursos curatoriais colocam o pop-up cinema em relação à história do cinema.
O dispositivo cinema nos espaços de artes visuais (ênfase para o elemento tela) (Viviane Vallades, USP) Nas exposições, galerias de arte, espaço urbano, observamos atualmente a presença de numerosas obras de imagens em movimento projetadas. Estas obras se utilizam em sua construção do dispositivo cinema: projeção, tela, espaço escuro, filmes, mas produzem alterações na forma padrão dominante de apresentação associada a esse dispositivo: espectador sentado, duração imposta de observação de aproximadamente 1 a 2 horas, sala escura, projeção única e frontal sobre uma única tela, apresentada em uma sala com a arquitetura semelhante à do teatro italiano. A presente pesquisa destina-se a estudar as alterações que estão sendo feitas com esse dispositivo nos espaços de artes visuais. Observaremos sucintamente algumas modificações realizadas nesse dispositivo e focaremos na tela, através do estudo desse elemento. Para isso, faremos descrições de algumas obras, que façam uso da tela de forma diferenciada do padrão, alterando sua quantidade, disposição no espaço, formato e materialidade, como Experiência de cinema/ 2004 de Rosângela Rennó, The Influence Machine (2000) de Tony Oursler, algumas das obras do Bloco de Experiências in Cosmococa- program in progress de Helio Oiticica e Neville D’Almeida, 24 Hour Psycho (1993) de Douglas Gordon, e algumas obras de Viviane Vallades como a série: Autorretrato com duração e sons variáveis (2011-2014) que trabalha a projeção sobre telas de gelo e Pintura em atos (2012) videoinstalação com projeção sobre tela de eucatex perfurada e suspensa pelo espaço expositivo.
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Diálogos entre imagens e disputas de espaço Vitória: 25/11, 13h30, Cemuni V, Sala 1A, UFES
Projeções expandidas: as interferências de Krysztof Wodiczko no Espaço Público (Thiago Carrapatoso, Bard College) A cidade em si pode ser considerada um organismo vivo. Ela respira (sistema de ventilaçãodo metrô, sacos plásticos voando), move-se (novas construções, demolições, abertura de lojas, moradores se locomovendo) e tem sua própria personalidade (história, geografia). São os cidadãos que provocam a existência deste organismo vivo quando se relacionam com os espaços físicos que a cidade oferece. A fim de tornar essas relações visíveis, é necessário um estranho, o outro, alguém que explore e compreenda a cidade como um organismo vivo e faz com que o seu sentido emirja. Este artigo investiga as obras do artista polonês Krzysztof Wodiczko como uma forma de fundamentar o conceito de uma projeção expandida e para demonstrar como elas questionam a relação entre cidadãos e espaços públicos.
Além da tela, o acervo: disputa pelo espaço museal (Sônia Aparecida Fardin, MIS Campinas) O Museu da Imagem e do Som de Campinas vem se diferenciando na realização de mostras de audiovisuais nas quais todo o ciclo organizativo é autogestionado por coletivos culturais e movimentos sociais, da programação à divulgação de sessões gratuitas seguidas de debates e rodas de conversas. Nestes exercícios de autonomia curatorial, diversos segmentos sociais ocupam o museu de segunda a sábado, com frequência semanal de 200 a 400 usuários. Trata-se de uma bem-sucedida estratégia de democratização do acesso aos instrumentos de fruição da memória e da cultura visual internacional. Mas esta opção não objetiva mera sustentação institucional pela ampliação de atendimentos. Seu foco é desvelar as lógicas de poder contidas nas relações tradicionais entre museus/públicos e cinemas/frequentadores. Seu propósito é subverter os usos políticos de territórios culturais, espacialidades institucionais e competências técnicas e estéticas, historicamente hegemonizados nas sociedades capitalistas pela pequena parcela que acessa recursos e conhecimentos legitimatórios. 24
A condição de sujeito na programação audiovisual também tem possibilitado que indivíduos e grupos não hegemônicos se tornem autores de processos de documentação museológica, pois as produções que selecionam para exibição ganham também lugar no acervo do museu. Destacam-se as cinco edições anuais da SEDA (Semana do Audiovisual Campinas) e as oito edições do MOSTRA LUTA, produzidas de forma coletiva e independente, que além de exibir, também organizam coleções audiovisuais. Assim, para além da tela e da prática cineclubista, incidem também no acervo como parte das disputas em torno dos campos do audiovisual contemporâneo.
Tem muita vida aqui dentro – curadoria como investigação e resposta (Gabriela Motta, USP) Em 2009 recebi uma carta com o título Tem muita vida aqui dentro, do cineasta Fabiano de Souza, meu marido. A carta foi redigida durante um festival de cinema e é um desabafo sobre um momento de crise existencial e artística. Em 2011, Fabiano reencontrou a carta e, pensando em fazer um filme, resolveu enviá-la para vinte realizadores, pedindo que lhe respondessem de forma audiovisual. Desses todos, onze cineastas responderam e o resultado foi um material composto por dez vídeos e uma fotografia. Neles, imagens diversas, com pontos de vista masculinos e femininos, gravadas em locais tão diferentes como Veneza e Punta Del Diablo, São Paulo e Éfeso. Em 2014, pela primeira vez, assistimos juntos todo o material reunido nesse projeto de filme. Ao final, ao vermos estas diferentes imagens, percebemos a qualidade individual de cada uma e que transformá-las em uma narrativa linear seria limitar a potência deste projeto. A partir daí, concebemos uma instalação em que esse conjunto é exibido ao lado da carta que os motivou, explorando não só as várias interpretações que o texto gerou, mas também propondo relações entre elas. Como crítica e curadora, entendo que realizar essa exposição e discutí-la no âmbito das artes visuais é a minha resposta à carta que recebi em 2009. Em que pese o meu declarado envolvimento pessoal no projeto Tem muita vida aqui dentro, a ideia de apresentá-lo em um contexto expositivo pretende acercar-se das múltiplas possibilidades de trânsito entre o espaço de veiculação do cinema e o espaço expositivo das artes visuais. Ao mesmo tempo, a partir dessa proposta, é possível abordar os vínculos afetivos e a permeabilidade entre a atividade de curadoria e a manifestação artística própriamente dita. Isso se dá na medida em que o projeto em questão surge da sobreposição de pontos de vista: de um lado o cineasta e marido, de outro a curadora e esposa. 25
Curadoria AV multimodal: instalação, software, visual music Vitória: 25/11, 13h30, Cemuni V, Sala 1B, UFES
Adrenalina: a imagem em movimento no século XXI (Fernando Velázquez, Red Bull Station) O presente artigo discorre sobre algumas das questões apontadas na exposição”Adrenalina: a imagem em movimento no século XX|”, por sobre tudo, em relação a imagem em movimento de matriz algorítmica e generativa, ou seja, criações que se utilizam de sistemas ou regras que permitem o aparecimento de soluções imprevistas em obras que exploram os recursos narrativos e de linguagem do chamado tempo real, estratégia alternativa à edição convencional de natureza aristotélica. Interessa particularmente no conjunto de obras apresentadas, a forma de perceber e representar a realidade, as coisas e as pessoas, revelando estruturas e qualidades visíveis e invisíveis a partir de perspectivas que nos solicitam condicionamentos cognitivos específicos, além da abertura ao diálogo com imaginários pouco conhecidos. No percurso também refletiremos sobre a relação das obras apresentadas com a história da pintura do s. XX, sobre a utilização disruptiva de dispositivos técnicos e sobre os critérios curatoriais de viés conceitual, espacial e narrativo. “Adrenalina” incluiu obras de Chris Coleman (EUA), Donato Sansone (Itália), Henrique Roscoe (Brasil), Hugo Arcier (França), Lucas Bambozzi (Brasil), Luiz Duva (Brasil), Matheus Leston (Brasil), Mike Pelletier (Canadá/Holanda), Rick Silva (Brasil/EUA), Ricardo Carioba (Brasil), Richard Garet (Uruguay/EUA), Ryoichi Kurokawa (Japão), Santiago Ortiz (Colômbia), Semiconductor (Reino Unido), Susi Sie (Alemanha), Transforma (Alemanha/Inglaterra) e aconteceu de 14 de março a 04 de Maio no Red Bull Station, equipamento cultural localizado no centro de São Paulo.
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A política da primeira arte computacional: Frieder Nake, Gustav Metzger e a Computer Art Society (German Alfonso Nunez, University of the Arts London) Ecoando aquilo que Paul Brown uma vez chamou de “o beijo da morte” (Brown, 1996), o campo artístico conhecido primeiro como arte computacional, depois eletrônica, digital, e finalmente em novos meios foi historicamente caracterizado pelos críticos como ingênuo, sem alma, utópico e tecnocrático. Ainda que generalizem um conjunto de práticas muito heterogêneas, em constante desenvolvimento, esses rótulos, quando confrontados com a gênese do campo e sua eventual institucionalização, demandam nossa atenção. Ao se desenvolver na periferia da arte contemporânea, a insularidade do que podemos chamar de mundo da Arte, Ciência e Tecnologia (AST) é o resultado de um conflito interno histórico: entre os pioneiros críticos das tendências apolíticas e comerciais da AST e aqueles que se engajaram com o debate apresentado n’”As Duas Culturas” (Snow, 2012 [1963]). De modo a demonstrar as consequências dessa disputa interna, elegemos uma peça fundamental da pré-história da AST: o controverso “There should be no computer art” de Frieder Nake (1971), publicado no newsletter PAGE, da Computer Art Society, que na época era editado pelo artista e ativista antibélico Gustav Metzger. Ao acompanhar a controvérsia que se desenrolou a partir do texto e de suas réplicas, o quadro que fazemos não é de um grupo coeso mas, sim de uma turba disputando o futuro de seu campo. A controvérsia de Nake, ainda que coberta pela bibliografia contemporânea, não foi completamente compreendida como o que realmente representou: sinal da franca disputa entre dois grupos que estavam respondendo aos desenvolvimentos (contra-) culturais da longa década de 1960.
Da Harmonia Digital à Cromofonia: Contribuições Conceituais para o Campo da Música Visual (Sergio Basbaum, PUC-SP) Dentre um conjunto complexo de parâmetros e critérios relevantes para seu exercício, o trabalho de crítica e curadoria deve sustentar-se sobre referências estéticas e conceituais relevantes para a compreensão, ou para a proposição de possibilidades interpretativas, com relação às práticas artísticas. Essa proposta aborda o trabalho de dois artistas que desenvolveram trabalhos e pesquisa no domínio do som e da cor, partindo de campos e formações distintas para propor idéias teóricas singulares e diferenciadas para o terreno da música visual. O primeiro é o cineasta experimental — e pioneiro do vídeo digital –, John Whitney, Sr., que propôs uma teoria pessoal de Harmonia Digital entre som e luz, baseada numa concepção pioneira de “complementaridade”; o segundo é o compositor brasileiro Jorge Antunes, que desenvolveu também uma teoria original sobre a relação entre os sons e as cores, sustentada em 27
achados de pesquisa bastante originais e trabalho pioneiro de composição. Em suas aberturas e seus limites, ambos contribuem para a formação de um repertório básico de conceitos e proposições estéticas que, de diferentes modos, contribuem para a reflexão, interpretação e compreensão das práticas contemporâneas de música visual
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Matéria & Memória Vitória: 25/11, 13h30, Cemuni V, Sala 5, UFES
Projeção cinematográfica, publicidade e mediação religiosa (Richard MacDonald, Goldsmiths, University of London) Esse artigo apresenta pesquisa e documentação audiovisual da economia ritual da projeção cinematográfica ao ar livre na Tailândia. Fora da rede urbana de multiplexes e estabelecimentos comerciais, existe um circuito alternativo pulsante na região rural do Nordeste do país e nos subúrbios de Bangkok, na forma de grupos de projeção ao ar livre itinerantes, que apresentam filmes em espaços sagrados e comunitários, templos budistas e altares espirituais, como parte da performance de diversas práticas ritualísticas. O artigo descreve os diversos repertórios de apresentação e curadoria que caracterizam esses eventos ao ar livre e discute a multiplicidade dinâmica de fatores que convergem para lhes dar forma: as infraestruturas marginais de distribuição, projeção de imagem e amplificação sonora, sua operação habilidosa, as ideias de eficácia e auspiciosidade que informam a prática do ritual. Os repertórios de apresentação constróem ocasiões públicas ambivalentes. Eles produzem uma aura de publicidade na sua escolha de lugar e na preferência pela maior escala e volume: as amplas telas montadas em andaimes, alta amplificação sonora e imagem de alta resolução. Entretando, a sua principal audiência seriam seres sobrenaturais em vez do público (humano). Sendo assim, esse modo de apresentação cinematográfica coloca em questão nossa noção da projeção como sendo intrinsecamente social, ao canalizar as suas propriedades em prol de práticas de mediação religiosa. Ao contextualizar a projeção cinematográfica como o produto de repertórios sagrados e profanos, esse artigo busca expandir nossa compreensão dos modos contemporâneos e históricos da exibição de filmes, tal como ela aparece na encruzilhada entre diferentes tradições religiosas, culturais e artísticas.
Questões de acervo e historiografia material do audiovisual (Antonio Laurindo dos Santos Neto, Arquivo Nacional) O acervo de imagens em movimento do Arquivo Nacional representa um importante patrimônio audiovisual brasileiro. Foi a partir da década de 80 que a instituição começou a se consolidar no tratamento técnico de filmes cinematográficos e registros de canais de televisão. Hoje em dia possui cerca de 60 mil rolos de películas e 5.000 fitas videomagnéticas. Destacam-se no acervo os cinejornais produzidos pela 29
Agência Nacional, reportagens e programas da TV Tupi, cortes e recortes da censura federal e filmes de ficção e documentários de cineastas como Nelson Pereira dos Santos, Roberto Farias, Vladimir Carvalho, Ivan Cardoso, Lúcia Murat entre muitos outros. O Arquivo Nacional realizou em parceria durante 13 anos o Festival Internacional de Cinema de Arquivo – REcine, que tinha como objetivo a promoção e a conscientização sobre a preservação de acervos audiovisuais públicos e privados. Em 2015, inaugura um novo evento: Arquivo em Cartaz – festival de cinema dedicado às questões relacionadas aos materiais de arquivo, destacando a (re) utilização das imagens em novas produções e a preservação de acervos. Evento vocacionado para divulgar e incentivar a realização de filmes com imagem de arquivo e para debater e refletir a preservação de acervos cinematográficos. A programação do Arquivo em Cartaz é formada por mostra competitiva de filmes com imagens de arquivo, oficinas técnicas, mesas de debates, exibição de filmes raros, préestreias, sessões especiais para o público infanto juvenil, entre outras atrações. A proposta é apresentar essas duas iniciativas pioneiras voltadas para as questões de acervo desde a preservação até a difusão, destacando maneiras inovadoras de se produzir obras audiovisuais a partir de imagens de arquivo.
Curadoria, história do cinema, arte moderna brasileira (Adilson Mendes) A partir da reflexão de Hans Belting sobre a função da instituição museológica na construção da história da arte, esta proposta desenvolve pressupostos sobre a curadoria em cinema (e suas fronteiras) como uma tomada de posição frente a certa historiografia. Tomando então a curadoria como gesto criativo, mas também científico, aqui pensaremos as contribuições de mostras e retrospectivas realizadas pela Cinemateca Brasileira ao longo do século XX e seus impactos nos campos do cinema, mas também no campo das artes visuais, principalmente na formação das primeiras Bienais de São Paulo. A análise do cinema e sua interação com as outras artes é fundamental para se compreender a reformulação da arte moderna brasileira na passagem da década de 1950 para 1960. A partir da concentração nas programações realizadas pela Cinemateca Brasileira para as primeiras Bienais, discutir-se-á de que forma o campo das artes plásticas repercute no recém formado campo do cinema e a reflexão sobre uma arte de vanguarda no Brasil no começo da década de 1960. Nesse sentido, a VI Bienal, concebida por Mário Pedrosa, é um caso exemplar na medida em relaciona a arte tradicional com a arte de vanguarda (sobretudo o trabalho de Kurt Schwitters) e tem, na sua programação, uma vasta retrospectiva do cinema soviético, concebida por Paulo Emilio Sales Gomes. 30
WORKSHOP São Paulo: 28/11, 10h, CAP/USP
Como em edições passadas da conferência Besides the Screen, além da programação acadêmica mais convencional, buscamos abrir espaços que favoreçam o intercâmbio entre a prática artística e o pensamento crítico. O principal deles é esse workshop, que funcionará como uma plataforma para diálogo e networking. A atividade terá o formato de uma desconferência, com grupos de trabalho se constituindo espontaneamente entre os participantes, de modo a fomentar trocas inesperadas, experimentações práticas e a criação de parcerias mais duradoras. Será uma oportunidade para os participantes trocarem ideias sobre as suas pesquisas correntes sem necessariamente precisarem se adequar a modos de apresentação pré-estabelecidos. Eventuais resultados – entre artigos, instalações, performances e protótipos – poderão ser apresentados ao público no encerramento do evento. Os participantes desse ano são: After.Video Collective, Herbert Baioco, Lucas Coimbra, Duo B, Samanta Fluture, Lucas Gervilla, Paloma Oliveira & Matheus Knelsen, Lali Krotoszynski, Estúdio Laborg, José Dario Vargas Parra, Yiftah Peled, Gavin Singleton, Miro Soares, Andrei Thomaz, Viviane Vallades e Fernando Velázquez.
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OFICINAS Máquinas do Tempo com Andrei Thomaz Vitória: 24-25/11, 09h, Cemuni I, UFES
Essa oficina busca apresentar aos participantes os softwares desenvolvidos pelo artista Andrei Thomaz no projeto Máquinas do Tempo, contemplado pela Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014. Estes softwares criam imagens a partir da sobreposição de imagens e pixels capturados em diferentes momentos, de modo a termos camadas de tempo em uma mesma imagem. Todos eles foram desenvolvidos em Open Frameworks, e o código está sendo disponibilizado no Git Hub. Sobre o oficineiro: Andrei Thomaz é artista visual e professor no Istituto Europeo di Design em São Paulo. Mestre em Artes Visuais pela ECA/USP e formado em Artes Plásticas pela UFRGS. Sua produção artística abrange diversas mídias, digitais e analógicas, envolvendo também várias colaborações com outros artistas, entre as quais encontram-se performance sonoras e instalações interativas. Entre os prêmios e editais pelos quais foi contemplado, encontram-se a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014; #1 C.LAB – Blau Projects, com curadoria de Negrisoli, 2014; Edital de Estímulo à Produção Audiovisual do Espaço do Conhecimento UFMG 2012; Prêmio de Ocupação dos Espaços da Funarte 2010, junto com Daniel Escobar e Marina Camargo; Edital do Centro Cultural Banco do Norteste 2010; 63 Salão Paranaense, 2009; Prêmio Atos Visuais, 2007; Prêmio FIAT Mostra Brasil, 2006. Participou de festivais como Videobrasil (2011), FILE (diversas edições) e outros. É sócio do estúdio Mandelbrot, onde atua como programador e coordenador no desenvolvimento de projetos interativos. Vive e trabalha em São Paulo, SP.
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Corpo e Cinema Entrópico com Bruno Vianna Vitória: 24/11, 09h, Cemuni I, UFES
A oficina propõe uma exploração da performance corporal com técnicas de vídeo em tempo real no espaço público. Vamos propor uma excursão às obras e às técnicas que vem redefinindo o lugar da imagem em movimentos em galerias, dispositivos portáteis, internet, na rua e até em salas de cinema. A oficina tem enfoque teórico e prático, cobrinado desde o levantamento de referências, até os softwares usados para edição em tempo real, passando pela teoria de montagem clássica do cinema. Em seguida, será feito um trabalho a partir de filtros de manipulação de vídeo em tempo real, com o objetivo de criar uma coreografia a ser encenada em uma praça, rua ou espaço público em geral, caso possa se programar uma apresentação final noturna. Sobre o oficineiro: Bruno Vianna trabalha com esculturas audiovisuais, cinema e suportes móveis. É formado em cinema e tem mestrado em artes interativas pelo ITP/NYU. Fazia filmes lineares narrativos de ficção em formato curto e longo, até realizar o longa interativo Ressaca; recebeu diversos prêmios, desde melhor filme no Festival de Gramado até o prêmio Vida, da Telefonica espanhola. vem se dedicando também a organizar e participar de encontros, residências e colaborativas.
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Síntese Sonora e Composição Musical: a Construção do Áudio como Narrativa com Gavin Singleton Vitória: 24/11, 09h, Cemuni I, UFES
Nessa oficina, Gavin Singleton vai detalhar o seu processo de criação utilizando sintetizadores tanto para a produção de trilhas sonoras de obras audiovisuais quanto para projetos musicais autorais. Sobre o oficineiro: Gavin Singleton compôs a trilha para diversos filmes de ficção e publicidade, tendo trabalhado para clientes como MADE, COS (H&M) e os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Ele também já realizou sound design e foley para Paramount Pictures e Jennifer Lopez. Como Accelra, trabalhou em colaborações com 65daysofstatic (Monotreme Records), Alessandro Cortini (NIN), Big Black Delta & The Protomen, e já se apresentou no Reino Unido ao lado de µ-Ziq (Planet Mu),Venetian Snares (Planet Mu), Chris Clark (Warp), Cylob (Rephlex) e Ceephax (Rephlex / Planet Mu).
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Curadoria em Super8 com Miro Soares Vitória: 25/11, 09h, Cemuni I, UFES
A obsolescência tecnológica torna o engajamento os acervos de filmes em formato Super8 relativamente complicado, uma vez que dificulta o acesso aos meios adequados para a sua difusão. Operando nesse contexto adverso, a curadoria cinematográfica precisa ir além da seleção de títulos para uma exibição. Por vezes, o curador precisa fazer o trabalho de garimpeiro de película e de técnico de projeção, lançando mão de expedientes que não emprega usualmente. Diante dessa realidade, a oficina propõe a curadoria como uma abordagem para explorar o universo do cinema em pequenos formatos, suas tecnologias e linguagens. Sobre o oficineiro: Miro Soares vive e trabalha em Paris [França] e Vitória-ES [Brasil]. Artista visual, filmmaker, pesquisador e viajante, trabalha explorando o conceito de mobilidade e de arte contextual. O deslocamento, a viagem e a caminhada assumem um papel essencial no processo criativo de suas obras. Miro Soares é mestre em Arte Contemporânea pela École Superieure d’Art de Grenoble e em Artes e Mídias Digitais pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É doutor em Artes e Ciências da Arte pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Tem participação em exposições e festivais em diferentes países, incluindo: Centre Pompidou e Forum des Images (França), Bergen Kunsthall (Noruega), Amber Art and Technology Festival (Turquia), Centro Cultural Oi Futuro, Museu de Arte do Espírito Santo e FILE (Brasil). Realizou residências artísticas em sete países. Foi premiado pela Fundação Bienal de São Paulo, teve trabalho comissionado pelo Centre Pompidou e recebeu bolsa de produção da Bergen Kommune.
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A curadoria de si: um ato libertador de auto-design com Alexandra Antonopoulou Vitória: 25/11, 09h, Cemuni I, UFES
Refletindo sobre a íntima ligação entre a identidade de um artista e o seu trabalho, essa oficina propõe que utilizemos a curadoria como um um método para o desenvolvimento do potencial criativo. Os métodos e materiais utilizados são baseados na espontaneidade do jogo e da brincadeira. Ao permitir que os participantes se deixem levar pelo fluxo da criação (por meio da representação de papéis, da contação de histórias, da performance), exploraremos como podemos nos posicionar como curadores do nosso próprio trabalho e discutiremos como isso pode afetar nossa percepção como artistas/ designers/ seres humanos. Sobre a oficineira: Alexandra Antonopoulou é Senior Lecturer na Universidade de Greenwich, trabalhando em uma ampla gama de cursos de arte e design. Sua pesquisa explora os usos da contação de histórias, das ficções e do jogo nos processos de aprendizagem, design e pesquisa, bem como ideias sobre colaboração e autoria compartilhada. Como parte de sua pesquisa, ela desenvolveu programas educacionais em colaboração com museus, escolas, universidades e laboratórios. Seu trabalho em arte e design já foi apresentado em locais como o museu Victoria & Albert, o Museu do Design de Londres, a Whitechapel Gallery e em diversas universidades pelo mundo.
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SONS & IMAGENS Accelra com Gavin Singleton Vitória: 23/11, 18h30, GAP/UFES
Accelra é Gavin Singleton, compositor londrino cujo trabalho musical é marcado por um espírito narrativo com referências ao universo cinemático. Seu som mistura linhas de piano suaves, texturas eletrônicas sutis, drones e orquestração clássica com paisagens sonoras pulsantes e crescendos de guitarra post-rock. Aqui, ele estará apresentando uma série de improvisações e arranjos para sintetizador, instrumentos eletrônicos e computadores, com o intuito de criar mundos capazes de envolver o público.
Paris Repeat com Lucas Coimbra Vitória: 24/11, 20h, GAP/UFES
Paris Repeat nasce de dois cartuchos de filme Super 8mm. Seu conteúdo é a cidade de Paris, filmada através do cotidiano de seus visitantes-moradores. Neste projeto de live cinema, as imagens e sonstrabalham como uma máquina de lembranças. São engrenagens de um brinquedo que se esforça para revisitar um espaço física e temporalmente distante. Como a memória, o resultado da manipulação dessa máquina é um encontro com eventos passados que se esbarram e conversam na sintaxe da repetição.
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Mostra de Super8 Vitória: 24/11, 20h30, GAP/UFES
Essa sessão apresentará o resultado da oficina de Curadoria em Super8 coordenada pelo artista Miro Soares com Gabriel Menotti e suporte do Baile/UFES. A programação será definida colaborativamente pelos participantes da oficina, a partir do material que estão levantando em Vitória e arredores desde Outubro. Integram o grupo: André Arçari, Polliana Dalla Barba, Letícia Comério, Vinícius Fábio, Luana Loss, Cássio Siquara, Thaylan Tolentino e Yasmin Zandomenico.
Noite de projeções Vitória: 25/11, 20h, GAP/UFES
Há uma luz que nunca se apaga (Herbert Baioco, 2015) A performance usa um fonógrafo cuja mídia de gravação são velas. A proposta é que sejam recolhidos os materiais sonoros do público ao longo da conferência para que sejam utilizados na performance. Criando um sistema relacional com o público, é oferecido a quem participa um reconhecimento – ainda que distante – durante a performance. Além disso, são trabalhadas as expectativas sonoras a respeito de um equipamento que opera em nível de fidelidade diferente daquele que o ser humano do século XXl está acostumado.
Eu não vou juntar tudo isso (Lucas Bambozzi, 2015) Trata-se de uma tentativa de remixar trabalhos realizados pelo artista ao longo dos anos 1990 e 2000. A proposta é sugerir o entendimento dos videos como um único trabalho. É uma ideia em processo, iniciada de forma experimental e despretensiosa no Besides the Screen.
FF>_01 audiovisual set (Fernando Velázquez, 2015)
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Besides the Screen - Os Métodos e Materiais da Curadoria UFES 23-25 Novembro 2015 USP/PUC 26-28 Novembro 2015 Coordenação BTS Network Virginia Crisp; Gabriel Menotti. Programação Besides the Screen Brasil Gabriel Menotti; Marcus Bastos; Patrícia Moran. Assessoria de Comunicação Marcela Tessarolo. Produção Maria Grijó Simonetti; Melina Leal Galante. Identidade Visual Gavin Singleton. Diagramação Edson Rangel. Documentação Audiovisual Janela Universitária (Vitória), Almir Almas (SP). Suporte Isabella Altoé, Matheus Andreatta, Alpha Ceesay, Luana Cabral, Georgina Chandler, Gurjeevan Dahal, Fabricio Fernandes, Daniel da Gama, Sann Gusmão, Renika Klair, Elisa Kobi, Dionne Lee, Chieh-Er (Jada) Lien, Aline Lopes, Ayla Lourenço, Willian Loyola, Adriano Monteiro, Jeannie-Michaela Nicolas, Henrique Oliveira, Rafael José Oliveira, Luna Pacheco, Ana Carolina Pagani, Angelo Parrela, Heitor Perpétuo, Juliana Prudente, Carolina Quinete, Luiza Grillo Rabello, Gabriela Sampaio, Izabela Silva, James Wells. Agradecimentos Rogerinho Borges; Ângelo Bortolon; José Cirilo; Vitor Graize; Marcus Neves; conselho GAP; Edgard Rebouças; José Soares Jr. //besidesthescreen.com besidesthescreen@gmail.com
ISBN 978-85-919103-1-1 40