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| Terça-feira, 26 de abril de 2011 |

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O que fazer Se os pais descobrem que o filho é vítima de bullying, devem procurar imediatamente a escola para que se interrompa o procedimento.

BRINCADEIRA QUE NÃO TEM GRAÇA! Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola? Risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos como “bola”, “rolha de poço”, “quatroolhos”... Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas. Mas esse comportamento, considerado normal, por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: bullying. Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. E isso não deve ser encarado como brincadeira de criança. Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na auto-estima até o suicídio. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explica o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Prote-

ção à Infância e Adolescência (Abrapia). Segundo Aramis, “para os alvos de bullying, as conseqüências podem ser depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinqüentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”. Crianças violentas têm enormes possibilidades de se tornarem adultos violentos, usuários de drogas, transgressores da lei, entre outros. Não deixe acontecer, por achar que “é coisa da idade”. VIOLÊNCIA NÃO É NORMAL... Vale lembrar que os episódios que terminam em homicídio ou suicídio são raros e que não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio. Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, como os citados, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Dados recentes mostram sua disseminação por todas as classes sociais e apontam uma tendência para o aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade dos alunos. “Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode ocorrer a partir dos três anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada. Quando perceber o bullying Aos três anos já dá para identi-

ficar reações de bullying. Tapas e mordidas freqüentes, sempre na mesma vítima, são algumas características. À medida que as crianças crescem, o abuso se torna mais psicológico. Nas meninas, o mais comum é fazer fofocas, ficar “de mal”, excluir.

angústia, medo, terror e tristeza, é bullying. A criança que não se importa com apelidos e consegue se defender não sofre bullying. Por algumas das agressões não serem físicas, os pais e a escola tendem a negligenciar, dizendo que é coisa da idade.

Nem tudo é bullying: como identificar? Naquele dia em que seu filho voltou com um arranhão para casa, depois de brigar com um coleguinha, ele tinha sofrido bullying? Calma! Não é bem assim... Existe uma maneira de brincar, entre as crianças, que às vezes é mais agressiva mesmo. Os meninos que brincam de luta podem se arranhar. Às vezes, até chorar de dor ou susto. E isso é normal. O que vai assegurar que é uma brincadeira, é a diversão das crianças. Nesses casos, não interfira: brincar de brigar é um exercício e ensina as crianças a resolver conflitos e a ter limites. O bullying é diferente das brigas com causa, como a disputa por um brinquedo. Resolvido o conflito, as crianças voltam a brincar juntas. Para ser bullying, a agressão tem de ser intencional e repetitiva, ou seja: dia após dia, a criança passa por situações que causam dor ou sofrimento. Observe ainda a idade das crianças: se existe diferença maior que dois anos é preciso intervir. Isso porque as brincadeiras devem ocorrer entre iguais: se há desequilíbrio de poder, é bullying. E, finalmente: se os sentimentos da vítima são de

Existe bullying quando... - As agressões, físicas ou psíquicas, são repetitivas e intencionais, contra a mesma criança, por muito tempo; - Não existem motivos concretos para as agressões; - Há desequilíbrio de poder: o agressor é mais forte ou mais poderoso que a vítima; - O sentimento que causa nas vítimas é de medo, angústia, opressão, humilhação ou terror; - A diferença de idade entre as crianças é maior que dois anos. Mesmo que o menor seja mais forte. E não existe quando... - As agressões são casuais ou pontuais. As crianças logo estão brincando juntas de novo; - As brigas são causadas por motivos como a disputa de um brinquedo; - A brincadeira, mesmo que mais agressiva, é entre iguais; - Os papéis se alternam: a criança que hoje é a vítima na brincadeira, na semana seguinte pode ser o agressor; - O sentimento na brincadeira é de alegria. A criança gosta dos apelidos e se diverte nas brincadeiras.

Importante é sempre demonstrar para a criança que ela é amada, e que a culpa não é dela. “É preciso fazer tudo para melhorar a auto-estima da vítima”. Também estimule seu filho a confiar em alguém no colégio (um professor, um coordenador) e contar o que acontece com ele, pois muitas vezes a criança guarda para si, tornado demorada a identificação do bullying. O melhor é que a escola trabalhe com a prevenção. Afinal, quanto mais cedo se intervir, mais chances os envolvidos terão de se recuperar. Se o seu filho é o agressor, mostre que o ama, e que desaprova seu comportamento, e dependendo da situação, aplique a punição necessária. Lembre-se sempre de que, VIOLÊNCIA SÓ GERA VIOLÊNCIA. Não adianta querer corrigir a criança que está utilizando-se de desrespeito, com surras e castigos violentos ou despropositais. O ideal é tratar, e no dia-a-dia, trabalhar valores como fraternidade, compaixão, respeito. Desde pequenos, os pais devem ensinar isso em casa. Independente de sua crença ou religião mostre para ele que fazer o bem é o que importa, e vale à pena. Dê importância quando receber bilhetes ou ligação do colégio, falando sobre esse tipo de comportamento de seu filho, pois uma criança que agride constantemente, não está tendo um comportamento normal e saudável. Por último, cobre do colégio sim uma postura e atitude com relação ao ocorrido, mas é importante saber que o agressor é um ser humano, que precisa ser tratado, bem como sua família, pois muitas vezes a criança externaliza no colégio aquilo que passa em casa. O colégio tem uma série de medidas que pode tomar (e deve fazê-lo) antes de, simplesmente, excluir a criança agressora do convívio social. Seu filho merece ir para o colégio, ser feliz e sentir-se seguro, para tornar-se um adulto assim. E para ambos os lados da história, a receita é uma só: bons exemplos, humildade, conversa e muito, mas muito amor! No Colégio Milenium, as conversas e trabalhos com os alunos sobre a prevenção ao Bullying, são constantes, pois acreditamos que não basta falar do assunto quando uma notícia trágica é trazida à tona, mas sim estar sempre falando e relembrando do tema. Também está sendo implantada uma urna, para que os alunos que possam estar sendo vítimas, coloquem suas queixas, já que normalmente a vítima tem medo ou vergonha de falar. Na semana do dia 25 a 29, haverá um ciclo de palestras com o tema “Bullying? Aqui não!”, destinado à alunos de 1º ano à 8ª série. Prevenir, ainda é o melhor caminho! Pricila Rebello Coordenadora de 5ª à 7ª série do Colégio Milenium Fontes: revistaescola.abril.com.br/. www.bullying.org/ www.brasilescola.com


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