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ANTES E DEPOIS DE PLANALTINA
from Mapeamento
A construção da Capital Federal, concluída em 1960, representou um marco na história moderna da nação. Contudo, ao considerarmos todas as cidades do Distrito Federal, encontramos lugares com histórias riquíssimas e anteriores a este fato. Planaltina é exemplo disso. Trata-se da Região Administrativa mais antiga do Distrito Federal.
O território do Distrito Federal, Brasil, é um mosaico morfológico. Brasília não foi construída em território virgem: os núcleos urbanos de Planaltina (século XIX) e de Brazlândia (anos 1930) e sedes isoladas de fazendas preexistiram a edificação da nova capital. O modernismo clássico de Brasília contrastou, de inicio, como vernáculo de construções seculares. (HOLANDA, 2003, p.02)
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As veredas da história desta cidade.
O surgimento e/ou desenvolvimento de muitos centros populacionais como vilas, arraiais, aldeiais e cidades do interior do Brasil está relacionado muitas vezes às viagens exploratórias dos Bandeirantes,em busca por ouro.
Nas regiões centrais do atual território brasileiro, ... com a efetiva descoberta do ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, e do firme propósito da Coroa de expandir seus domínios a oeste de Tordesilhas. ... Os exploradores aventureiros, (bandeirantes) [realizaram] levantamentos cartográficos para o conhecimento da região, demarcação de novos territórios, ..., o estabelecimento de algumas povoações e aldeamentos ... . Em Goiás, especificamente, ... fizeram surgir mais de cinqüenta arraiais em um território que desde os primeiros momentos do século XVIII “ (BOAVENTURA, 2007, p. 25)
Também ocorreram criações de cidades por conta das missões jesuíticas na catequização dos indigénas e mesmo nos territórios já ocupados pelos diversos povos indígenas dos grupos Macro-Jê, além das tribos dos Caiapós, Carajás, Goiá, Xacriabás, Xavantes, Xerentes. Consequentemente esses centros populacionais cresceram atraindo cada vez mais pessoas. Isso ocorreu constantemente na região de “Goiaz” principalmente a partir de fins do século XVII e início do século XVIII.
[...] com a elevação de cerca de setenta vilas e lugares efetuados num período de aproximadamente cinco anos (1754/ 1759). Estas foram, na sua maioria, as antigas aldeias das missões que o governador e seus sucessores “rebatizaram” com nomes portugueses elevando-as à categoria de vilas. Tal procedimento implicou, em parte, uma reconversão simbólica. Com a elevação das aldeias indígenas a vilas, pretendia-se transformá-las em povoações civis utilizando esta expressão no duplo sentido de retirar o cunho religioso que o aldeamento missionário mantinha e de ser, alegoricamente, uma mudança que as traria para o seio da “civilização”. (MOREIRA, 2000, p. 190-191).
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Para as explorações dos Bandeirantes e escoamento dos produtos da mineração, diversas estradas foram sendo construídas. E era nas proximidades de uma dessas estradas, que ligava Salvador – Bahia ao Distrito Federal – Rio de Janeiro, a capital do Brasil, e passava pelo Arraial dos Couros (Formosa), onde encontrava- se a região de Mestre D’Armas.
Dentre elas, a mais extensa estrada colonial brasileira cortava o Brasil de leste a oeste, da Bahia ao Mato Grosso, ligava Salvador a Bela Vista, passava pela região norte, hoje Distrito Federal, e servia de chão para bandeirantes, autoridades da Coroa Portuguesa, exploradores de minérios, mercadores de sal, fazendeiros e migrantes fugitivos da seca. São vários os nomes dados a elas ao longo do tempo: Estrada do Sal, Estrada dos Currais, Picada da Bahia, Estrada Colonial do Planalto Central (LIMA, 2015, p 43-44)
A tradição oral da cidade remete a origem do nome a um profissional que trabalhava com ferro e outros metais, um Mestre das Armas que provavelmente era dono de algum terreno nestas proximidades. Outra referência à região é feita em mapa de época a uma corrente de água: o “Ribeirão do Mestre d’Armas”.
Mas a primeira menção documental ao “Mestre d’Armas” encontra-se na Carta do Ouvidor Geral de Goiás, Antônio Sotomaior ao Rei de Portugal, D. José, de 30 de abril de 1758. Esta referia-se a um sítio chamado Mestre de Armas. Confira o trecho do texto no original: Assim, podemos identificar as raízes míticas do nome Mestre d’Armas tendo como base a localidade do ferreiro; o ribeirão e ou o sítio, não tendo necessidade de determinar a “correta” origem, uma vez que o mais interessante são as possibilidades e a riqueza de histórias e origens diferentes relacionados ao nome e que, por extensão, passou a nomear a região como um todo.
Já a semente da futura cidade de Planaltina pode ser encontrada no desenvolvimento do Arraial de Mestre d’armas.
Segundo historiadores, a região Mestre d’Armas era ocupada por diversas fazendas originárias das sesmarias, onde a população produzia alimentos para o próprio sustento, além da criação de gado e aves. Por volta de 1810-11, os habitantes desse território sofreram com uma grave epidemia. Foi então que resolveram fazer uma promessa a São Sebastião, caso a comunidade se visse livre da doença, doariam ao santo uma porção territorial para construção de uma capela em sua devoção. Assim, em 20 de janeiro de 1811, os moradores celebram a missa de ação de graças e cumprem a promessa doando-se o terreno.
Depois de construída, a Capela de São Sebastião tornou-se um espaço de agregação dos habitantes das fazendas, que se localizavam distantes umas das outras. Eram nas festas, sacramentos e enterros onde os moradores se reuniam. O que passou a determinar, com o decorrer do tempo, a necessidade de construção de ambientes para acolher as pessoas que frequentavam tais celebrações. Tem-se assim o embrião do Arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas, futura cidade de Planaltina.
Com o desenvolvimento desse núcleo populacional, em 19 de agosto de 1859 é criado o Distrito de Paz de Mestre d’Armas pertencente ao município de Formosa da Imperatriz. Já em 19 de março de 1891 o Distrito de Mestre d’Armas torna-se um município. São construídas as primeiras escolas, o chamado espaço para “Aula de Primeiras Letras”, a Cadeia Pública e os espaços administrativos do novo município, os Cartórios Imobiliários e de Órfãos, de Registro Civil de Nascimento e Óbitos.
Em 1892, a cidade recebe a Comissão Exploradora do Planalto Central, a Missão Cruls, encarregada de demarcar o quadrilátero de 14.400m² onde seria instalada a futura Capital do Brasil. Bem como, em 1946, recebe o segundo grupo de estudiosos, a conhecida Comissão Poli Coelho, que ratifica o espaço demarcado pela comissão anterior.
No período de fins do século XIX e início do século XX, a cidade vai adquirindo características mais urbanas. São construídas pontes, estruturas para canalização de água. A partir de 1920, a Vila recebe energia elétrica e são realizadas obras de infraestrutura, como a construção de estradas, ruas e praças.
Finalmente, em 1938, a Vila de Mestre d’Armas é elevada à categoria de cidade. E, posteriormente, com a inauguração da nova Capital, Planaltina passa a fazer parte do território do Distrito Federal, recebendo assim, modificações e alterações estruturais, culminando hoje na existência de diversos bairros, que formam a cidade.
Diante das veredas da história da cidade já vista, a construção da capela de São Sebastião, as primeiras casas em adobe, as praças, além dos festejos e celebrações que estão presentes desde a origem do Arraial Mestre d’Armas revelam a importância da preservação desse Patrimônio Cultural, testemunho da história, dos que já passaram pela cidade, enfim, elementos que ainda hoje são locais de convívio, de contemplação, de saber e dinamicidade.
20 DE JANEIRO DE 1811
Missa de ação de graças e entrega das terras prometidas ao vigário de Santa Luzia, a semente do futuro Arraial de Mestre d’Armas.
19 DE MARÇO DE 1891
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O Distrito de Paz de Mestre d’Armas torna-se município – A Vila Mestre d’Armas.
1910
Nomeada a Comissão ExplorA Vila Mestre d’Armas tem seu nome alterado para Vila de Alta-Mir.adora do Planalto Central do Brasil – Missão Cruls.
1922 1946
Lançamento da Pedra Fundamental da Capital do Brasil.
Nomeada a Comissão de Estudos para Localização da Nova Capital do Brasil–Comissão Poli Coelho.
30 DE ABRIL DE 1758
Data da carta contendo a mais antiga referência a “Mestre d’Armas”.
19 DE AGOSTO DE 1859
Criação do Distrito de Paz de Mestre d’Armas – Data O cial de criação da cidade. Nomeada a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil – Missão Cruls.
1892
1917
A Vila de Alta-Mir torna-se Vila de Panaltina.
1938
A Vila de Planaltina é elevada a Cidade Planaltina
21 DE ABRIL DE 1960
Inauguração da Capital Federal: Brasília e Planaltina passa a fazer parte o cial-mente do Distrito Federal.