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Sobre a série Dragon lords 1 - O Principe Bárbaro 2 - O Principe Perfeito 3 -O Príncipe Sombrio 4 - O Principe Guerreiro 5 - Sua Alteza o Duque 6- O Lorde Teimoso 7- O Lorde Relutante 8 - O Lorde Impaciente 9 - A Rainha do Dragão
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Envio: Ana Tradução: PRT Revisão Inicial: Silvia Revisão Final Milena Calegari Formatação: Milena Calegari Leitura Final: Macris Sá
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Sinopse Mede do Draig tem três coisas como certas: Como a única dragão shifter fêmea de seu povo, ela é especial. Ela pode chutar o traseiro de alguém. E ela, definitivamente, não quer se casar. Mede passou a vida tentando provar que ela é tão forte quanto qualquer guerreiro macho. Infelizmente, sendo uma criatura especial, rara com ela é, já foi reivindicada como a futura noiva de quase três dúzias de Draigs – todos confiantes de que quando eles se encontrassem para pleitear sua mão em casamento, o destino iria escolhê-los. Quando os homens não estão se vangloriando sobre como vão casar com ela, estão agindo como se ela fosse uma flor rara, delicada, necessitada de sua proteção. Mas Mede está longe de ser uma flor delicada a se esconder. O Príncipe Llyr de Draig sabe de quatro coisas que tem como certas: Ele é o futuro rei dos dragonshifters. Ele deve agir honradamente em todos os sentidos. Ele absolutamente, positivamente destina-se a casar com Lady Mede. E ela é totalmente contra o casamento. O destino de Llyr está nas mãos de uma mulher determinada a não ter qualquer homem. Com uma nova ameaça surgindo entre os seus vizinhos shifters gato, uma ameaça cujos olhos estão focados firmemente na Mede, o tempo pode estar se esgotando. Cabe a ele convencê-la a ser sua rainha dragão.
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Há um tempo atrás Prólogo de um prólogo
Antes
de
quatro
príncipes
e
quatro
nobres
encontrarem suas noivas, antes da morte do rei Var Attor e a ameaça dos Tyoe aos mineiros, houve um momento de paz no planeta Qurilixen. Não foi uma paz efetiva, mas durou um longo tempo, entre os shifters gatos da casa de Var e seus vizinhos do Norte, os shifters dragões da casa de Draig. Durou porque ambas as casas tinham pouco em comum uma com a outra. Este foi o momento antes da Grande Guerra dividir o planeta e colocar dragões contra gatos e as únicas batalhas eram escaramuças ao longo da fronteira do território e lutas entre bêbados que tentavam demonstrar qual animal tinha
uma
força
superior.
encontraram sua rainha.
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Foi
ali
que
os
dragões
Prólogo Norte
das
Montanhas
de
Draig,
Planeta
Qurilixen Havia três coisas que Medellyn sabia que era um fato certo. Ela era especial. Podia chutar o traseiro de qualquer pessoa. E não queria se casar e ter filhos. Ela era especial. Medellyn era uma das únicas mulheres dragão em todo o universo e, sem dúvida, única em toda população Draig. Apenas uma vez a cada mil nascimentos, nascia uma mulher fêmea dragão. Era raro ou era o que todos diziam para ela. Sua infância foi uma estranha contradição. Sua mãe adequadamente a tratava como se fosse um cristal frágil que poderia se romper. Seu pai, um guerreiro, a treinava como um garoto enquanto se vestia como uma garota. Ela podia chutar o traseiro de qualquer garoto. Medellyn odiava quando os homens tentavam atuar como se fosse indefesa e precisasse de proteção. Seu dragão
era
tão
feroz
como
qualquer
um
deles,
provavelmente mais. Para provar seu ponto, ela com muito
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gosto
esmurrava
qualquer
um
que
a
desafiasse,
derrubando-os ao chão... e alguns que não o faziam. Ela, absoluta e positivamente, não queria se casar e ter filhos. Sendo uma criatura especial e, como diziam, rara, ao fazer vinte anos de uma vida não tão fácil, foi reivindicada como futura esposa de quase três dezenas de rapazes; Cada um acreditando que quando tivessem idade para se casar, ela faria seu cristal brilhar e aos deles. O brilho dos cristais não era mais que uma metáfora. O dia em que nasceu, seu pai viajou para o Lago do Cristal, como todos os novos pais faziam. Mergulhou nas águas, nadou até a parte mais profunda e puxou sua pedra do leito do lago. Como todas as crianças Draig, usava uma pedra ao redor de seu pescoço e continuaria levando-a até o dia que brilhasse,
dizendo
qual
dos
machos
dragões
estava
destinado pelos deuses a se casar com ela. A partir deste momento suas almas se uniriam, ouviriam os pensamentos um do outro, teriam bebês dragões ou o que fosse. Tecnicamente, ela poderia estar destinada a se casar com um homem de outro mundo, assim como com a maioria dos Draig, mas ninguém em seu planeta parecia pensar assim. Ossos dos deuses, ela esperava que não estivesse destinada a acabar com qualquer um dos idiotas de seu planeta. Ainda precisavam impressioná-la. 10
Quando chegasse sua vez de ir ao Festival de reprodução, o seu cristal iria brilhar, o que significaria sua maldição para que todos vissem. Bom, sua benção, como sua mãe dizia. Lady Grace não apreciava sua filha dizendo que o casamento era uma maldição. Grace não apreciava muitas coisas que Medellyn gostava, como espadas e arcos, passeios em ceffyl, acampar no bosque, caçar, lutar, tirar olhares arrogantes dos rostos dos homens dragões. Foi uma briga com sua mãe quando ela a enviou para a montanha. Medellyn odiava a mulher, odiava a pessoa que sua mãe queria que ela fosse. Grace era apenas um ser humano, levada ao seu planeta como uma noiva comprada. Casou-se com o pai de Medellyn sem questionar e passava a maior parte de seus dias completamente de acordo com o que seu marido queria, de forma doce. Medellyn não podia se imaginar considerando as opiniões de outra pessoa como a sua própria. Seu pai, Axell, era um guerreiro muito elogiado no exército Draig e tinha o título de Melhor Criador de ceffyls. Toda a vida do homem se concentrava em quatro coisas: sua esposa, sua única filha, éguas e cavalos. Seu pai era um homem muito importante, mas seu trabalho o mantinha fora de casa várias noites na semana enquanto dormia ao ar livre com a manada. Com um período de gestação de três anos e apenas uma taxa de nascidos vivos de cinquenta por cento, os 11
animais não eram um recurso que poderia ser facilmente renovado. Seus ceffyls serviam como montarias para os soldados e os agricultores os usavam para transportar cargas e para ajudar nos campos. Como Axell, Medellyn era um dragão orgulhoso. Se houvesse nascido um homem, ela seria um guerreiro também. Em troca, ela era especial. Como podia sua mãe humana entender o sangue selvagem que corria em seu sangue de dragão? Se entendesse, Grace nunca pediria a Medellyn para domar seu espírito. Respirando com dificuldade, parou de forma abrupta e gritou para as árvores. Seu corpo tremia de raiva e ela rasgou seu bonito vestido. Odiava seu corpo, odiava ser especial, odiava que esperassem que atuasse como uma dama quando se sentia como um dragão. Seu dedo indicador enganchou no cristal ao redor de seu pescoço e cortou a corrente de couro que o segurava. O cristal caiu a vários metros de distância. — Não serei o bem móvel de nenhum homem. — Gritou ela, sabendo que correu longe o suficiente de sua mãe para não ouvir seus gritos. Desde que mudou sua voz era mais rouca, potente e se deleitava com a força da mesma. — Não sou um ceffyl fêmea para ter filhos. Não quero ter cinquenta netos. Não posso fazer nada se teve apenas um filho. Se tivesse produzido um garoto, eu não seria uma decepção para você! 12
As
lágrimas
queimavam
seus
olhos
enquanto
caminhava sem rumo e Medellyn procurou no chão do bosque pelo colar caído. Vendo onde estava, agarrou o cristal em seu punho. Era uma lembrança de tudo o que esperava que fosse. Respirou fundo, olhando seu punho e logo para as pedras que cobriam o chão do bosque. Um pequeno sorriso se formou em sua boca. Medellyn jogou o cristal forte no chão e o olhou. Raiva fervia dentro dela, o tipo de raiva que com certeza somente um dragão poderia sentir. — Isto é o que penso de seu destino. — Grunhiu enquanto caía de joelhos. Medellyn agarrou a pedra pesada e a bateu no colar. O cristal se rompeu. O ruído lhe deu certa satisfação, assim bateu nele novamente. Grunhindo com cada golpe da pedra, não parou até que seu futuro fosse um monte de pó. — Isto é o que penso sobre seu destino.
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Capítulo Um Palácio Real de Var, dezoito anos mais tarde... O príncipe Attor de Var sorriu para o Senhor Myrddin do outro lado do pátio, dentro do palácio onde estava jantando do lado de fora da sala do rei. Apesar de não estarem relacionados, o homem era como um irmão mais velho para ele e inclusive fazia as vezes de um pai. Myrddin era muito querido na corte Var, especialmente pelos dignitários femininos. Apesar de ser mais baixo que a maioria dos gatos shifters, seu cabelo escuro e os olhos pareciam atrair as mulheres. Havia um ar de poder que era muito bem recebido. Vinha de uma longa linhagem da nobreza, uma das mais antigas casas. Como a maior parte do palácio Var, o pátio interior tinha padrões simétricos intricados nas paredes de azulejos decorados em vermelho, laranja, azul, ouro e verde, com entradas bem arqueadas sem portas. Não havia dúvidas de que o palácio era luxuoso, mas o labirinto de corredores era deliberadamente confuso para os forasteiros. A ideia era desorientar aos que não deveriam andar sozinhos pelo palácio.
Em
seu
lugar,
durante
muitas
noites,
os
empregados eram enviados a encontrar algum dignitário bêbado que tropeçou e se perdeu.
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Attor propôs a instalação de um computador central conectado a todos os cômodos. Não apenas ajudaria aos bêbados a encontrarem seu caminho de volta a seus quartos sem ajuda, mas poderia monitorar seu paradeiro. Fez
sua pesquisa,
encontrou
um
sistema
que
podia
responder a ordens, abrir portas, entregar alimentos e localizar qualquer pessoa programada no sistema mediante um simples comando. Mas seu pai o ouviu? Não. O rei riu e saudou com a mão do lado de fora da sala de jantar. Attor olhou para a fruta em sua mão. Disseram que o pátio era um dos lugares favoritos de sua mãe e, desde criança, era uma das únicas formas que podia sentir sua presença. A rainha Auguste amava seu filho à distância e Attor nunca conheceu o amor de sua mãe. Morreu dando à luz a ele, seu único filho e o rei nunca se recuperou totalmente da perda de sua companheira de vida. Com os anos, o rei levou outra mulher para sua cama, mas vinha dos acasalamentos vazios. E, com cada ano que passava, seu pai parecia perder um pouco de si mesmo até que era apenas uma casca ébria, um rei oco. Attor se ressentia da fraqueza que seu pai se permitia mostrar. Se houvesse se incomodado em mudar a sua forma de leão da montanha, teria sido capaz de ouvir Myrddin na fonte de água atrás dele. A fonte estava no centro da sala, rodeada de árvores frutíferas e samambaias amarelas. Comia uma fruta no lugar de jantar, já que evitava seu pai 15
bêbado. Myrddin piscou um olho e alisou a parte dianteira de sua jaqueta larga de nobre. Attor riu brevemente. Não precisava ouvir a conversa para saber o que o homem estava fazendo. Myrddin não acreditava que deveriam ter apenas uma mulher. Queria várias e fez sua a missão de ter sexo com tantas mulheres como pudesse seduzir. E se as mulheres não apareciam facilmente, não diziam não ao dinheiro e ao poder. E ao contrário de seu amigo, Attor não estava disposto a convencer uma mulher a ir para sua cama. —
Pensei
que
estivesse
perseguindo
a
mulher
Azoomian de visita. — Disse Attor quando Myrddin se aproximou. Myrddin sorriu, colocando a prova a firmeza da fruta amarela sobre ele. — Mm, não era um grande desafio, como me fez acreditar. — Ele apertou a fruta com força. — Para provar seus sucos ontem à noite tive que dizer a ela esta manhã que não a faria minha esposa. — Você prometeu se casar com ela? — Attor sabia que não seria a primeira vez que seu amigo usava esta linha de sedução. — Importa? — Myrddin riu e deu ao fruto um puxão, tirando-o à força do galho. O nobre lançou-o para Attor, que foi obrigado a abandonar o que segurava antes que 16
este o atingisse no rosto. — As mulheres são como os frutos desta árvore, servem para ser provadas, desfrutadas e logo descartadas pela próxima. — Myrddin jogou uma fruta mordida no chão. — Fique com ela muito tempo e com certeza irá apodrecer em sua mão. — Há muitos que encontram a felicidade com companheiros de vida. — Attor argumentou. — Como seu pai se uniu plenamente com sua mãe, inclinando-se ante ela como um tolo embrutecido? Eu era jovem, mas ainda me lembro de como ele a adorava. Não é a prova de que um homem não pode ceder a uma mulher e ainda chamar-se a si mesmo de homem? As mulheres têm o potencial de ser a ruína dos homens e reinos. — Myrddin respondeu. Suspirou com tristeza e negou com a cabeça. — A vida de acasalado é para os camponeses que não podem se permitir muitas esposas. Mas vai ser rei algum dia Attor. Logo, se seu pai continuar bebendo e comendo tanto. — Sentou-se e colocou a mão sobre o ombro do jovem. — Ser governado por uma mulher é ser governado por uma fraqueza e reinos são tão fortes como seus governantes. Um rei deve ficar sozinho, não deve ficar em dúvida com ninguém. Quando você é rei, pode ter meias-companheiras, muito bonitas. Se uma morrer, pode ter filhos com as demais. Attor não disse nada. Esta não era a primeira vez que Myrddin tentava convencê-lo de tais coisas. Olhou para a 17
fruta em sua mão. Estava madura, mas não parecia tão firme como a que segurava antes de Myrddin fazê-lo derrubá-la. Os reis que lhe precederam, todos tiveram companheiras e foram felizes, baseando-se pelas histórias contadas. — O rei está bêbado novamente, não? — Myrddin soltou o ombro de Attor e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. Attor assentiu. — Saí quando começou a desafiar os nobres de Azoomian em duelos. Myrddin achava o rei patético e com frequência admitia isto ao príncipe Attor. Attor, no entanto, apenas achava seu pai um homem triste. — Chega de depressão. Deixe o rei com seus jogos. Seu tempo chegará logo e poderá levar este reino à grandeza. Você pode dar ao seu povo a guerra que seu pai nos prometeu há anos. Estarei do seu lado, levarei seus exércitos, enquanto derrotamos os odiosos dragões Draig e tomamos as terras do Norte como nossa. O seu será um grande reino, os gatos governando sobre os dragões escravos. Por que devem ficar com a montanha, enquanto o meu castelo fica na sombra dos pântanos? Attor não se importava com a política. De fato, lhe irritava. As guerras eram tediosas e longas. Tinha um 18
palácio. O que iria querer com mais terras? Então, uma vez mais, se vivesse nas águas pestilentas do pântano talvez pensasse diferente. — Sei o que precisa. — Disse Myrddin, em um sussurro. Colocou a mão na túnica e tirou uma pequena garrafa. — Adquiri alguns Nef de uns agricultores do pântano. — Você sabe que são chamados assim porque fazem seu licor com a água do pântano, verdade? — Attor sentiu um arrepio de repugnância. — Mas não o Nef. — Disse Myrddin. — E a água do pântano se purifica no processo. Não são ruins se quiser ficar bêbado rápido. Mas não quero educá-lo na qualidade do álcool. Viu a bonita Syog com quem conversava? Algumas gotas disto em seu vinho e ela estaria disposta a uma brincadeira de esconde-esconde na floresta. Meu tradutor universal não é bom quando se trata de Syog, mas tenho certeza que ela iria querer carne branca e escura. Myrddin tocou o cabelo loiro de Attor. Os olhos de seu amigo mudaram para ouro liquido. Todo Var gostava de caçar. A respiração de Attor acelerou. O Nef era ilegal e muito difícil de conseguir. Domesticava o felino dentro deles e criava uma moderação nos homens Var. No entanto, não era por isso que a droga estava proibida. A 19
restrição era positiva. A moderação natural sem a ajuda das drogas era melhor. Mas dar Nef a uma fêmea humanoide
tinha
o
efeito
contrário,
deixavam-nas
incontroláveis e com uma paixão indiscriminada. Quando tomado em conjunto, o prazer dos homens demorava mais e deixava a mulher insaciável. Suas fossas nasais se abriram como se pudesse sentir o chão sob suas patas. Syog não era a espécie mais brilhante, mas era atlética e forte. A menos que estivessem marcados, o que acontecia com muitos deles devido as constantes lutas em suas culturas, eram simetricamente os mais atraentes nos universos conhecidos. A mulher da qual falava Myrddin era fenomenal de se olhar. Tinha o cabelo preso em um coque, mas parecia ser maravilhosamente longo solto. Usava um casaco curto e saia plissada de seu povo e pelo aspecto de suas pernas nuas era capaz de correr duro e rápido. Seus olhos escuros eram cheios de valentia e desafio e como cultura Syog ela não olharia para o outro lado até que o fizesse primeiro. — Qual seu nome? — Perguntou Attor. — Importa? — Myrddin perguntou. — Ela concordou em tomar o Nef? — Attor engoliu o entusiasmo. Uma corrida lhe faria bem, sobretudo se terminasse em um acoplamento duro no bosque. — Ela quer os dois? 20
— Está decidido. — Disse Myrddin a título de resposta. — Vou arrumar tudo. Vemo-nos na árvore flexível da floresta. *** Território Draig na fronteira Var-Draig — Mede, eu sempre quis perguntar. Pode voar? Mede fez uma careta. Saben estava claramente bem em sua posição, embora a Ordem dos Dragões Mortos houvesse apenas começado. Os membros da Ordem se reuniram para presenciar sua iniciação. Bom, isso era apenas meia verdade. Eles realmente estavam ali pela festa que aconteceria depois que ela passasse pela prova. — E então? — Saben insistiu. — Não. É apenas uma antiga história. — Disse. — Mas é uma mulher. — Saben insistiu. — Se for capturada esta noite, não terei a oportunidade de perguntar novamente. — Sou uma mulher? — Mede perguntou com falso choque. Fingiu olhar para baixo a seu próprio corpo. — Isso explica porque me propôs casamento quando éramos crianças. — Ah, vamos. — Saben inclinou para lhe sussurrar, mas não era tão silencioso, sobretudo considerando que estavam em um acampamento de dragões com uma 21
audição incrivelmente sensível. — Pode me dizer a verdade. Transforma-se no dragão da lenda, verdade? Pode voar. — Ele inclinou-se para trás, apontando com o dedo indicador enquanto segurava seu copo cheio. — Eu vejo isso em seu rosto. Pode voar. Mede ouviu esta mesma pergunta quase tantas vezes como foi pedida em casamento. Então sim, ela sonhou. Sentia seu corpo se elevar sobre paisagens estranhas. Sentia seus braços amplos como asas. Sentia o fogo da respiração e a lava em seu sangue. Seu corpo ficava tão quente que mal podia se conter e sabia que um corpo humano não poderia sobreviver com sangue puro de dragão nele. Pelo que ela podia dizer, os homens nunca tiveram este tipo de sonhos. Seu pai parecia pensar que era uma lembrança residual do que foi vivido durante o dia. Apesar de que o flagrou frequentemente, quando era criança, observando como ela se movia, como se esperasse que levantasse voo. A lenda do dragão existia desde antes dos humanos irem para Qurilixen, quando os dragões fêmeas eram grandes e ferozes e não podiam tomar forma humana como os homens. Seu povo não tinha provas destas coisas, apenas histórias transmitidas de geração a geração, as criaturas ferozes eram representadas com valentia em todas suas obras de arte e cerâmica.
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— Pode guardar um segredo? — Mede se inclinou para ele. Saben assentiu. — Não posso voar, mas você pode. A testa de Saben se enrugou em confusão. Mede se transformou em dragão, deslizou as mãos por baixo do homem e o ergueu, tirando-o do chão. Em sua forma humana
e
ébrio,
ele
não
entendeu
o
que
estava
acontecendo a tempo de impedir que voasse no ar. Tropeçou ao aterrissar sobre seus pés. Logo, com um sorriso, ele se endireitou e levantou o copo. — Nenhuma gota derramada! Os que viram, aplaudiram. Saben bebeu um gole e inclinou a cabeça para trás. Franziu o cenho e virou o copo. Estava vazio o tempo todo. Animado, riu. Mede não pode deixar de rir enquanto ia lavar as mãos. Amava Saben como um irmão, mas ele suava como se estivesse correndo pelo bosque. — Se quer ser um de nós, Lady Medellyn, já sabe o que tem que fazer. — Rolant se aproximou e lhe deu um sorriso arrogante quando seus olhos se encheram de desafio. Mede secou a umidade das mãos e se virou para ele. Ela conhecia o homem há anos. Treinaram juntos quando crianças e ele herdou o controle das minas de minério de seu tio, sem filhos. Inclusive, anos atrás, tinha afirmado 23
que iria se casar com ela. Até o momento, seu cristal nunca brilhou ao redor dela, assim sua relação era quase cimentada pela amizade. — O nome é Mede. — Respondeu Mede. — Não me importa se você é um príncipe, faça as coisas bem ou farei com que se curve quando voltar com meu prêmio. — Você conhece as regras da iniciação. — Rolant advertiu, não pela primeira vez. Abaixou a voz para que os guerreiros Draig não pudessem ouvi-lo. Seus olhos verdes brilhavam com preocupação. — De verdade, Mede, uma vez que cruzar a fronteira, não poderemos ir atrás de você. Se a pegarem estará por sua conta até que seu pai venha buscá-la. Ela não disse nada. Ter um grande guerreiro como seu pai resgatando-a dos Var seria muito humilhante, quase tanto como ser presa em primeiro lugar. Cynan se aproximou e se inclinou. Era um guerreiro fornido com um comportamento feroz e a alegria de uma criança travessa. — O que estamos sussurrando? — Meu irmão ainda quer conhecer Mede, mas ela se nega. — Rolant disse antes de sorrir para Mede. — Ele um dia será rei. Você não pode evitá-lo para sempre. Acho que vocês dois iriam... — Não me faça cortar seu pescoço. — Mede advertiu. 24
Cynan riu. Também ele tentou reivindicar Mede como noiva quando criança. De fato, ela tinha certeza que todos os dragões da Ordem também. Para os demais ele disse que não invejava o homem que tivesse a sorte de reivindicar este dragão. Os homens riram mais e começaram a brincadeira. Desde que zombassem dela sobre o fato de ser guerreira, Mede não se importava tanto. — Ele é um bom homem. — Disse Rolant quando Cynan se afastou e já não podia espionar, a menos que realmente
quisesse.
Shifters
tinham
uma
audição
excelente, assim era difícil manter segredos em um pequeno
acampamento.
No
entanto,
eram
dragões
honrados e respeitavam a vida privada de cada um com pouco esforço. — Não pode continuar ignorando os convites ao palácio para sempre. É a única mulher, Mede. Isso é... — Nunca coloquei os olhos em nosso futuro rei e não quero. Acho difícil quando as pessoas com poder tentam me controlar. Não quero ter que desafiar as ordens de seus pais, mas não sou uma mascote para ser exibida. Respeito o rei Tared e a rainha Lorna, muito, como qualquer cidadão, mas não tenho nenhum interesse na vida na corte. Esta coisa de conhecer homens o faz soar como minha mãe. Ela constantemente tenta me enganar para conhecer novos homens com a esperança de que seus cristais pulsem em minha direção, assim saberá antes da cerimônia 25
qual meu futuro. Todos os homens têm noivas alienígenas. Por que meu destino tem que ser diferente? É possível que meu cristal brilhasse para um estrangeiro, mas eu o quebrei e não me arrependo disso. Ainda não tenho nenhum interesse em um marido. Dê-me uma arma, uma garrafa de rum Qurilixen e... — Pelos ossos dos deuses, mulher. — Disse com voz grave. Mede sabia que estava lutando contra a necessidade Draig de proteger suas mulheres. No entanto, a maioria das mulheres precisava da proteção de um homem porque eram humanas. Ela era uma shifter e esta era sua oportunidade de demonstrar de uma vez por todas. Ao menos a Rolant e os outros da antiga Ordem dos Dragões Mortos, que a tratavam de forma mais equilibrada que a maioria. — Tem certeza que quer fazer isso? Não precisa provar nada para ninguém. — Por quê? — Ela ficou rígida. — Por que sou uma mulher? Rolant afastou o olhar. Esta foi resposta o suficiente. — Eu o farei. Conclui cada tarefa cansativa que a Ordem exigiu de mim. E quando voltar, serei um membro da Ordem dos Dragões Mortos por direito. — Mede chegou a afastar uma mecha de cabelo castanho claro, o que lhe obrigou a olhá-la. Em sua dura expressão, ele assentiu e Mede o deixou ir. — Bem. 26
Devido aos três sois e uma lua girando ao redor do pequeno planeta em diferentes ângulos, sempre havia sol, com exceção de uma vez ao ano, quando todos os sois se punham ao mesmo tempo. A luz tinha um tom verde que atenuado chegava ao azul, assim era considerado uma noite longa. No entanto, perto dos pântanos da fronteira, as árvores eram muito mais grossas do que na casa na montanha e as folhas verdes que recebiam muito raios solares ficavam largas o suficiente para fazer sombra. Isto criava uma falsa escuridão nas proximidades dos pântanos e bosques. Seus olhos se moveram enquanto olhava para as árvores, cortando as sombras como se seu olhar fosse a luz. — Mantenha-se ao leste, longe das sombras do pântano e o castelo negro. Os ninhos de Givre são ruins estes anos. Continue se movendo. Tente sentir o cheiro de algum agricultor do pântano. Deve ser fácil detectar. A maioria deles dorme como mortos. Fique tranquila. — Rolant instruiu. Mede assentiu. — Eu acredito em você. Não me desaponte. — Entregou-lhe uma faca. Em voz alta, proclamou. — Você sabe o que tem que fazer. Volte ao amanhecer. O grupo Draig mudou por completo e começaram a grunhir com entusiasmo, animando-a. Continuariam a celebrar enquanto ela ia sozinha. 27
Mede sentiu a antecipação por sua tarefa bombear em suas veias, o perigo perto, a emoção correndo. Chegou sobre ela como um arrepio. A pele marrom escura substituiu a pele bronzeada, crescendo sobre o corpo como um escudo sob sua calça e camisa túnica. Uma parte mais saliente saiu em sua testa, protegendo o nariz e testa, os dentes se alongaram em sua boca. — Voar seria mais rápido! — Saben gritou. Levantando a faca em uma mão com garras, ela sorriu. Suas palavras eram o som brusco de um dragão quando declarou. — É hora de esfolar um gato! Mede se lançou para o bosque, deixando os rugidos dos homens atrás dela. Não podia falhar. Esta era sua única oportunidade de demonstrar que era digna de ser um dragão. Ninguém poderia tratá-la como uma simples mulher novamente. E com sorte, a deixariam fora da próxima cerimônia de casamento.
28
Capítulo Dois Mede correu pelo bosque desconhecido. O perigo de estar nas terras Var a excitava. O ar do pântano enchia seus pulmões, tingido da mistura da decomposição das plantas e animais. Se ela fosse para o oeste, iria se encontrar em água parada. Sua audição realçada se concentrava ao redor, agudamente sintonizada com o meio ambiente. Um animal deslizou no chão pantanoso antes de ir para a água. Insetos zuniam e zuniam. Folhas mortas rangiam sob seus pés. O ruído atraiu sua atenção novamente. O som era um ritmo constante, marcado por ela, inclusive a respiração. Mede correu através
das
sombras,
saltando
sobre
os
troncos,
agachando-se sob os galhos, esquivando o musgo caído que se aferrava as folhas muito grandes. Fios de luz brilhavam através dos galhos das árvores grossas criando pequenos pontos dançantes. O estiramento dos músculos fazia-a se sentir tão bem que queria correr para sempre. Mas esta noite não iria correr. Tratava-se de liberdade, a liberdade de ser especial, a liberdade do Festival de Reprodução que aconteceria em alguns meses, a liberdade do destino e do casamento. Esta era sua oportunidade de provar a si mesma aos mais atrevidos homens Draig. 29
O Ordem dos Dragões Mortos era uma irmandade que começou como uma sociedade secreta. Os membros eram protetores da coroa, confiáveis para realizar qualquer tarefa que estivesse diante deles. Eram chamados Dragões Mortos porque eram tão bons que pareciam mortos, pegavam todas as oportunidades que apareciam. Com frequência, estas oportunidades eram arriscadas, e com direito, havia vários assassinatos. Como a maioria dos segredos, o tempo e os rumores se estenderam e logo surgiram histórias sobre suas nobres ações. A sociedade secreta já não era mais tão secreta, apesar da admissão como integrante ser ainda um desafio e rumores ainda circularem sobre seus rituais antigos. Na verdade, já não estavam em guerra, a maioria destas cerimônias místicas se reduziam a beber e a dizerem coisas estúpidas. Correr
sozinha
pelo
território
Var,
em
terreno
desconhecido, sem autorização para cruzar, a fim de conseguir um troféu de um desconhecido felino? Sim, ela tinha
certeza
que
contava
como
algo
incrivelmente
perigoso. Sua mente fez eco com o ritmo primitivo, uma velha canção de acampamentos brincou em sua mente ao passar das horas. Persuadia. Apenas quando correu milhas terra adentro,
ela
finalmente
parou,
saltando
no
ar
para
aterrissar em uma posição agachada escondida por um arbusto. Ela inclinou a cabeça, ouvindo o toque da presa. 30
Quando não sentiu nada, correu uma milha mais e parou novamente. Mede repetiu o processo até que finalmente ouviu o suave ronco de um homem. Ela ainda segurava a faca curva na mão. Seguir sua presa até onde dormia foi fácil. Em primeiro lugar, pegou o cheiro forte de licor. Depois, tudo o que tinha que fazer era seguir o brilho da luz na floresta. O acampamento era pequeno. O fogo brilhava sob uma garrafa de metal grande que cheirava a licor de baixa qualidade. Ali era de onde vinha
o
cheiro
de
vinho.
Cobriu
a
boca.
Era
assustadoramente picante para seus sentidos shifter. Mede deixou sua forma humana tomar seu corpo. O cheiro se manteve forte, mas ao menos agora podia respirar sem o nariz e a garganta arderem. Perto do fogo um homem Var dormia. Era fácil dizer que shifter era, mesmo sem saber que estava em território Var. Ele cheirava a felino, suor e licor velho. Foi quase com decepção que se arrastou adiante para reclamar seu prêmio. Esta fera não era um desafio. Era um bêbado desmaiado no bosque. Mede ficou sobre ele, a faca na mão, enquanto olhava para cima ao que os rodeava. Não era o que imaginou. Não precisava mudar de forma. Empurrando-o com a ponta da bota, ela tentou acordá-lo. O homem Var grunhiu e deu uma palmada em seu pé. Ela suspirou. Por que não podia ter encontrado um 31
guerreiro, alguém digno de uma luta? Com este triste inútil pedaço de gato ela nem sequer conseguiria uma boa cicatriz para mostrar. Ela cutucou novamente, muito mais forte. — Vamos, acorde. Nada. Não havia garantia de que encontraria outro felino antes do amanhecer. Tinha que tomar o que podia. Aproximou-se do acampamento em busca de pitas na terra. Encontrou algo quebrado, velho que parecia um círculo. Com o cenho franzido, tomou a ponta da faca e golpeou o metal de lado. Fez um ruído. — Gar-umph-arr! Mede saltou com surpresa quando o Var se agitou sobre a terra como um homem selvagem. Seu corpo se transformou em um felino marrom escuro, logo de volta a homem sujo, depois a felino uma vez mais, como se seu corpo não pudesse decidir o que queria ser. Respirava pesado, intimidante levantou os braços para os lados. — Não dragões novamente. Você não vai tomar um pedaço de Owain! — A decisão de continuar sendo um felino mudou, o bêbado girou os braços violentamente, as garras em posição de ataque. Deu volta em círculos, como 32
se um grupo Draig o rodeasse. Mede notou que o felino tinha pelos faltando em todo o corpo. Ao parecer, ela não era o primeiro Dragão Morto a encontrá-lo no bosque. Não era de estranhar que Rolant apontou esta direção. — Apenas preciso de pele, Owain. — Disse Mede. — Consiga a sua própria, Dragão. — Ele arrastou as palavras. — Eu sei que busca meu ouro. Mede ficou quieta e logo olhou para o felino com incredulidade. Não tinha certeza de que ouro era, se a bebida ou o casaco emaranhado. — Tente golpear novamente. — Desafiou, as palavras mal articuladas. Antes que pudesse responder, um grito feminino soou através
das
árvores.
Mede
ficou
rígida,
ao
instante
mudando para cheirar o ar. O licor a agrediu novamente. Foi então quando percebeu que caia pelo chão. Ao que parecia, os outros dragões fizeram estrago em suas visitas. Bom, isto era o que queria dizer. Ele era provavelmente o bêbado patético que todos abordavam. — Eu sabia! — O felino gritou. Virou suas garras para ela como se quisesse apontar com todos os dedos. A mulher gritou novamente, soando aterrorizada. Como os Draig, a genética Var era afetada pela radiação do sol azul e normalmente apenas tinham filhos machos. Pelo que sabia, ela era a única shifter fêmea atualmente no 33
planeta. Isso significava que a mulher provavelmente era uma estrangeira. Mede pensou em sua mãe humana. Não havia como poder se defender de um ataque shifter. Mede tomou a decisão num instante e correu fora do acampamento para ajudar. O felino sarnoso gritou insultos a suas costas, com valentia pensando que a assustou. — Está bem. Diga aos seus dragões que não se luta com Owain! Ela o ignorou, sabendo que estava muito bêbado para dar-lhe caça. Uma nova caça estava em marcha. Três pessoas estavam no bosque. O som de pés tropeçando vinha na mesma direção dos gritos, com dois mais fortes caçando. Mede não podia mudar o foco, assim nem se incomodou
em
tentar.
Apenas
esperava
que
os
perseguidores estivessem concentrados na busca e não a ouvissem até que fosse muito tarde. O cheiro do medo encheu seu nariz. Ela estava perto. Não passou despercebido para ela que estava sozinha em solo estrangeiro, tão dentro que os outros dragões não responderiam sua chamada de auxílio. Ninguém iria buscála até depois do amanhecer. Ela estava sozinha. *** 34
A excitação da perseguição martelava no sangue de Attor,
aumentando
os
efeitos
do
licor
espesso
que
consumiu antes de iniciar os jogos. A mulher fazia um bom espetáculo ao demonstrar medo e quase acreditou ser verdade. Cheirava a adrenalina, ouviu seus gritos quando Myrddin brincou com ela. Ainda que a fêmea Syog tivesse muita força física, quando o assunto era correr nos bosques escuros, os felinos poderia superá-la. O cheiro dela estava no nariz, o que alimentou seu ardor. Ainda tinha que tomar o Nef, não queria embotar seus sentidos antes do tempo. Todo o estresse que sentiu no interior do palácio, olhando seu pai fazer o ridículo, sumiu. Myrddin o conhecia bem o suficiente para saber que Attor precisava desta diversão. Tudo se acentuava. Sentiu o ar que se movia em seus pulmões. A terra beijava seus pés enquanto corria sobre ela. Galhos tocavam suas mãos quando ele os pulava sobre troncos caídos. Assim era como um Var vivia. Caça. Corrida. Liberdade. Um som chamou sua atenção e parou antes de mudar de rumo. Alguém se uniu a caça. O fato o irritou e se virou para detê-lo. Que melhor maneira de alimentar seus desejos que com uma luta? Quem quer que fosse estava indo para ele a toda velocidade. Em questão de segundos se conheceriam enquanto
ambos
saltavam 35
pelos
ares
em
um
velho
acampamento. Um Draig passou por ele e ele sacou as garras em defesa automática. À medida que avançou, golpeou o braço do dragão. O contato faria pouco dano contra a armadura de pele de dragão. Aterrissou no chão e se virou para enfrentar seu oponente. O que estava fazendo um Draig em seu bosque? O dragão imitou sua postura, de frente a ele. Attor respirou fundo, antecipando-se à luta. Ninguém o culparia por matar um Draig em um bosque Var; isso se alguém descobrisse o que estava a ponto de fazer. Algo impediu Attor de atacar. O dragão cheirava a licor, mas sob isso havia doçura. Attor sentiu um arrepio pelo corpo. — Quem é você? Você não fede como os guerreiros Draig. Quem é sua mãe? É um hibrido? O que faz em minhas terras? O Draig não respondeu. Um raio de luz brilhou de cima, deixando ao descoberto o cabelo longo. Attor cheirou o ar outra vez. Algo sobre este cheiro o fez desejar se mover, como quando uma mulher estava no cio. Uma mulher? — É a garota dragão! — Exclamou, diminuindo a postura desafiante. A Syog gritou, o som mais fraco que antes. 36
A mulher dragão ficou rígida. — Solte a fêmea. — A fêmea? — Attor riu. Agora que sabia que não enfrentava uma ameaça real, relaxou. Deixou a mudança em suas feições acontecer e ficou de pé diante dela como um homem, com a esperança de que ela fizesse o mesmo. Queria ver a criatura rara que ela era. — Mude o dragão. Então podemos ter uma conversa civilizada. Notícias do nascimento do dragão fêmea se filtrou pelo caminho até o palácio quando era criança. Sempre sentiu curiosidade em conhecê-la, mas nunca pensou que iria surgir a oportunidade. Attor gostava de coisas raras, gostava de colecioná-las. Pensou nas masmorras do castelo negro. Myrddin lhe permitira manter a mulher dragão ali como mascote. — Onde estão suas asas? Pensei que dragões fêmeas pudessem voar. — Ele a olhou. Sim, uma boa mascote. Ela simplesmente ficou olhando-o. — Busca asilo aqui? — Perguntou. Sua captura poderia ser fácil, de fato. Poderia levá-la direto para sua jaula.
37
A mulher Draig relaxou. A armadura escura de seu corpo ondulou, passando de uma pele dura a pele flexível. O ouro liquido em seus olhos diminuiu para revelar o cinza sob ele. Uma vez que rosto se normalizou, a testa ficou lisa. O fôlego de Attor ficou preso. Não esperava beleza, no entanto, ela era uma das criaturas mais bonitas que já viu. Isso o surpreendeu. Os Draig eram fortes, mas não esperava nunca se sentir atraído por uma. — Asilo? — Ela riu novamente. Sua voz humana era bonita, mas matizada com um toque de descaro irônico. Attor franziu o cenho, sem gostar da reação. As pessoas riam de seu pai, não dele. — Então, porque está aqui? Ela levantou a faca e tocou um dedo largo e cônico em uma lamina curva. — Talvez queira arrancar a pele de um gato. — Apontou a lamina para ele. — E talvez seja este gato. Nenhuma mulher se atreveu a falar assim com ele. Ele era um príncipe, depois de tudo. Ainda assim, a audácia lhe excitou. Ele nunca sentiu medo de uma mulher. Logo, olhando ao redor do bosque, percebeu que talvez ela não soubesse quem ele era.
38
— Todos estes anos nenhum Var a viu. Especulava-se que a mantinham presa e que realizavam estranhos rituais Draig. É verdade que bota ovos cheios de poder? A mulher olhou-o de forma desagradável. — É verdade que os Var comem suas crias? Foi a sua vez de expressar desgosto. Fez uma careta. — Então precisa de ajuda. Por isso está aqui. — Pareço uma donzela presa em um castelo? — Ela o olhou fixamente, seus olhos cinza brilharam como ouro apenas para desaparecer novamente. — Você tem tenacidade. — Ele levantou as mãos como se fosse domar um animal selvagem. — Não vou julgar. Pergunto-me se também há suavidade em você. — Você tem suavidade, gato. Que tal se deixarmos de conversar e nos transformamos? — Ela moveu a lamina de forma significativa. Franziu o cenho, não gostou dela dizer que era suave. — Pode não ser fácil para os homens ficarem ao seu redor sem serem suaves. Uma mulher que tem sua aparência não pode ser de todo dura. Abaixa e faca e deixe de me ameaçar.
39
Ela estendeu os braços de lado, sem soltar a faca, mas já não apontando para ele. — Bem. Fale. A Syog fez um som estranho. A mulher apontou a faca para ele num instante. — É um jogo. — Disse. — Um que se joga por vontade própria. O dragão não parecia acreditar. — Se nenhum Var colocou os olhos em você, posso assumir que você não conhece nenhum Var. Não somos o que seu povo diz. Sei que há séculos de discórdia, mas não estamos em guerra neste momento. Não tem nenhuma razão para não confiar em mim. Não temos razões para machucar as mulheres. — Ele inclinou a cabeça, tentando ouvir o que estava acontecendo com a Syog. — Use seus ouvidos. Ouve? Pouco a pouco a mulher assentiu com a cabeça. — O que estão fazendo? Attor sorriu. Estava claro para ele que a Syog foi capturada e Myrddin estava na agonia do sexo selvagem. Ah, assim o dragão era inocente. Isto lhe agradou. Talvez não a prendesse em uma jaula como mascote. Attor se alegrou de não ter bebido o Nef. O prazer que brotou em seu interior era feroz e forte. Já acentuado 40
pela perseguição, seu gato implorava para brincar. Seus olhos percorreram a forma humana com renovado interesse enquanto se concentrava no ruído. Os barulhos de Myrddin e a mulher alienígena despertavam mais seu ardor. — Estão... — Attor deixou um sorriso tocar seus lábios. Um sorriso sedutor que lhe escapou. — Estão se acoplando. — Oh. — Respondeu ela, seguido por mais uma frase surpresa. — Oh. Então são casados. Sim, inocente. Isto estava claro agora. — Não. Ela está visitando o palácio. — Disse. — Do espaço? — A mulher franziu o cenho. — Ouvi que seu povo convida os estrangeiros ao planeta. Não acha que seria melhor não trazê-los? Por que dar as boas-vindas para correrem livremente pelas terras? — Eles o deixam em paz. Ficam apenas no território Var. Além disso, seu povo se reúne com estrangeiros. — Apenas o Embaixador das Minas para o comercio. — Suas naves de casamentos. — Apontou. — Sim, isto também. — Ela não parecia muito entusiasmada com a ideia. — Esta parte não se pode evitar, mas ao menos é uma vez por ano. Ainda que, suponho que não tem nada a ver a decisão de permitir os estrangeiros 41
em território Var. Todo mundo sabe que o rei gosta de companhia desde que sua esposa morreu. — Explique isto. — Disse Attor, ficando rígido com a menção ao seu pai. — A perda de um companheiro não é fácil. Já vi o que aconteceu com os anciões que perderam suas esposas. É triste. Attor relaxou gradativamente. Ela claramente não sabia quem era. Quando não estava o ameaçando, a mulher tinha uma beleza majestosa digna da realeza. Possuía estas coisas que não podiam ser ensinadas — atitude, confiança, um porte nobre, tudo uma evidencia de classe superior. O fato dela ser um shifter a deixava mais poderosa. Ser uma Draig era raro. Ninguém em seu planeta ou em qualquer dos universos conhecidos, tinha uma esposa dragão. Ela era a única de sua espécie viva. E, sua inocência ainda não foi corrompida. Por que não se conheceram antes? Apenas assumiu que seu sangue de dragão a cobria de forma varonil com suas escamas. O que não era o caso. — E apenas para ter um filho? — Continuou. — Sou filha única porque minha mãe é descendente de um povo delicado. Sei como meus desejavam que fosse diferente. Eles tentam escondê-lo, mas eu sei. Imagino que o príncipe 42
Var deve sentir o mesmo. Fico contente de não ter que governar um reino. As mulheres não governavam um reino. Este não era seu papel. — O bosque não é lugar para uma dama. — Disse Attor, sentindo-se muito protetor com ela. Mas era mais que isto. Ele a desejava. E por que não a ter? Era o herdeiro do trono Var. Algum dia iria governar a metade do planeta, todo o planeta se Myrddin se saísse com a sua. Precisaria de uma rainha digna ao seu lado. — Posso cuidar de mim mesma. — Respondeu ela. Feroz, inocente e compassiva. Tudo tinha sentido. O destino com certeza tinha uma mão nesta aventura noturna. O encontro era um sinal do que viria. Ele iria possuí-la. Esta mulher seria sua noiva. *.* * — Por que me olha assim? — Perguntou Mede para o gato. Não que ela houvesse revelado grandes segredos. Tudo o que disse sobre sua família era de conhecimento comum entre sua própria gente. A curiosa era maior. Nunca conversou com um Var antes e este parecia civilizado. O homem era bonito, mas também o eram a maioria dos shifters ao seu redor. Seu cabelo curto e loiro, parecia recentemente cortado e ele claramente tinha hábitos de asseio impecável. As histórias 43
que ouviu dos gatos era de que eram animais sujos, sem educação com línguas maldosas e coração escuros como feras selvagens. Havia uma razão para os Draig evitarem as fronteiras. Lições de geografia lhe ensinaram que nem todo território Var era pântano, mas ela sempre teve a impressão de que a boa terra pertencia aos Draig. — Você está me olhando. — Disse quando ele não respondeu. A calça do homem era apertada e sua camisa se ajustava aos músculos de seu peito. Ela notou os cordões prendendo a parte de trás. Eles mantinham o material junto, ao mesmo tempo permitindo um olhar à pele ao longo das costas do homem. Os Draig usavam calças mais soltas e camisas túnicas que melhor se acomodavam a transformação dragão. — Você é linda. — Respondeu simplesmente. Seus olhos brilhavam. Reconheceu a força nele. Ela também a tinha. — Qual seu nome? Isso a surpreendeu. — Você não sabe? Quem era este homem, que não via a ela como os demais homens viam? Os Var não tinham cristais, mas se baseavam em métodos mais primitivos para encontrar um companheiro. Era um alivio conhecer um homem que não era obsessivo com casamento. Normalmente, antes de dois segundos estavam olhando seus colares para ver se 44
brilhavam, tentando fazê-lo sem que ela percebesse, como se isso ajudasse. Alguns inclusive tentaram fazê-la segurar a pedra como se seu contato fosse ativá-lo. Vários minutos se passaram e nenhuma vez o gato mencionou
a
vontade
dos
deuses
e
companheiros
predestinados. Este fato por si a fez não desejar cortar um pedaço dele para o desafio da Ordem dos Dragões. Ela suspirou. A hora mais alta da madrugada se aproximava e ela ainda tinha que voltar. — Não vai me dizer? — O homem começou a rir. — Muito justo. Assim não preciso dizer quem sou. Os sons dos jogos amorosos diminuíram. O gato avançava
lentamente
enquanto
conversavam.
Provavelmente pensou que não notou quando na realidade percebia todos seus movimentos sem olhar diretamente em seus olhos. Seus movimentos eram cheios de graça, algo que guerreiros mais fortes Draig não tinham. Cada gesto era um convite para dançar. — Ao menos me dirá o que está fazendo em nosso bosque? — Perguntou. — Já o fiz. Tenho que arrancar a pele de um gato. — Ela levantou a faca e balançou para frente para trás. — Temo que não possa permitir isto. — Temo que não estou pedindo sua permissão. — Ela gostou do desafio dele. Em muitos sentidos, sua atitude foi 45
um alivio. — Tudo o que preciso é uma mecha de pelo e logo posso voltar. Fracassar em minha tarefa não é uma opção. O gato sorriu. Levantou o braço e deixou que sua pele mudasse de forma parcial. Pele brotou de pele. Era uma coloração loira diferente. Mede não precisou de mais um convite. Arrancou o pelo de seu braço com a faca, segurando o braço. Mas ela estava a ponto de soltá-lo e agradecer ao homem quando ele a surpreendeu inclinando-se para frente e pressionando a boca contra a dela. Ela ficou rígida com o movimento audaz. Ele segurou sua cabeça com uma mão e puxou-a com força contra seus lábios. Sentiu a faca contra sua carne, ainda que não tentou cortá-lo. Os homens com frequência imaginavam que seriam seu companheiro escolhido, mas nunca se atreveram a beijá-la. Separou os lábios, mas ela não se moveu para devolver o gesto. A sensação era mais impactante que desagradável, ainda que não estivesse com vontade de devolver o beijo. Quando por fim a soltou, sussurrou. — Você tem seu prêmio e eu o meu. Mede engoliu nervosa. O gato olhou seu braço cortado despreocupado. Um rastro largo de sangue corria
46
de seu antebraço para os dedos. Podia deixar uma cicatriz, mas não era uma lesão grave. — Eu te verei logo, pequeno dragão. — Seus olhos se iluminaram quando se afastou dela. — Mas agora é melhor ir depressa para casa. Mede tropeçou longe dele como se ele a houvesse assustado. A sensação do beijo esquentava sua boca, mas ela ficou muito surpresa para reagir. Deveria ter feito mais que cortá-lo. Para sua vergonha, inclusive a pequena ferida foi um acidente. Em lugar disto, congelou-se. Um bonito homem a beijou e ficou congelada. Um pequeno preço a pagar para conseguir o que foi buscar. O felino tinha razão. Era tarde e tinha que correr para as fronteiras. —
Aqui.
—Apontou
para
o
território
Draig.
—
Continue reto. Evite os trabalhadores. Absorvem tanta fumaça que sempre estão bêbados. Mede limpou a boca com o dorso da mão. — Quem é você? — Perguntou em voz alta, com vontade de conhecer ao menos o nome do primeiro homem que se atreveu a beijá-la. —
Sou
o
homem
em
quem
pensará
encontrarmos novamente. — Disse com confiança. 47
até
nos
Mede abriu a boca para responder, mas o homem saltou no ar, mudando antes que suas mãos encontrassem o galho para empurrá-lo e pegar o caminho para fora da pequena clareira. Ouviu seus passos afastando-se dela. Apertando os lábios, ela desceu o olhar para a mão cheia de pelos. Era uma boa coisa que foi embora. Não tinha certeza do que iria responder. *.* * — Onde está a Syog? — Perguntou Attor, olhando ao redor do bosque. Alcançou Myrddin junto a uma árvore caída. A idade e o musgo cobravam seu preço das grandes árvores, derrubando-as no chão em lugar de elevá-las ao céu. — Ela teve que pegar seu voo. — Myrddin esticou os braços acima de sua cabeça. Sujeira manchava sua roupa e tinha um olhar satisfeito no rosto. — Não imaginei que a Syog iria embora tão rápido. — Attor franziu o cenho. Estava à espera de poder liberar sua tensão. Pelas manchas nos joelhos de Myrddin, o homem tomou a Syog por trás como um animal. Um arrepio percorreu Attor ante a ideia. Teria gostado de assistir. Satisfazer a mulher dragão aumentou seu ardor já aquecido e queria se afundar em algo suave e cálido. Tanto como queria foder sua futura rainha, via um alcance maior. Se ela fosse digna de se casar com ele, seria digna de sua 48
sedução. O beijo foi apenas uma forma de marcá-la como sua. O gesto funcionou, pois a acalmou depois. Myrddin arranhou a cintura. — O que aconteceu? Por favor, diga que não perdeu o rastro. — Outra coisa aconteceu. — Disse, na realidade sem querer compartilhar sobre sua futura rainha ainda. Myrddin poderia não aprovar seu plano. — Mais importante que uma caça? — Seu amigo balançou
a
cabeça
com
incredulidade.
—
Se
quiser
encontrar um agricultor ainda, poderíamos tomar um copo juntos depois. — Myrddin abaixou o olhar para olhar a túnica de Attor e cheirou o ar. — Se não podia esperar por uma bebida... Attor sabia que havia um leve rastro de licor em seu corpo quando tocou a mulher. O cheiro se impregnou em sua roupa. Myrddin levantou o punho em sinal de advertência. — Vou golpeá-lo antes de deixá-lo tão fraco como seu pai. Attor bateu em sua mão. — Não sou meu pai. Se quiser saber eu estarei sentado em seu lugar quando tomar o trono. 49
— Ah sim? — Myrddin arqueou uma sobrancelha. Ao menos já não o olhava com decepção. Contra seu melhor juízo, explicou. — Decidi tomar a fêmea Draig como minha rainha. Myrddin retrocedeu fisicamente ante a ideia. — Eu a conheci. Ela é bonita e... — Deixou um Draig escapar? — Myrddin exigiu. Seus olhos se moveram e inclinou a cabeça. — Onde ela está? Que caminho tomou? — Não. Deixe-a ir. — Attor não queria Myrddin perto da mulher. — Tenho planos para ela. — Que planos poderia ter para lady Medellyn? — Myrddin exigiu. — A menos que seja para torturá-la e iniciar uma guerra? — De repente o homem assentiu com a cabeça. — Poderíamos sequestrá-la e fazer um espetáculo público de sofrimento. Este seria um ato que os Draig não iriam ignorar. Medellyn. Este era seu nome? Escondeu seu sorriso. — Não. — Attor tentou reverter a sede de sangue de seu amigo. — Penso no fácil que seria tomar os territórios do norte se me caso com sua única mulher. Se ela me escolher acima de qualquer um deles. Se ela se inclinar diante de mim, seu marido e rei, ante todos os demais. — A ideia lhe excitava. Ele seria o único a possuir a mais rara 50
das criaturas. Ela seria sua. Ela o amaria. Ela entendia sua posição como filho único, destinado a governar. Tinha compaixão por seu pai bêbado. Attor se aferrou a estes fatos. — Juntos vamos governar todo o planeta. Myrddin sorriu. — Sim. Juntos vamos governar. Attor queria dizer ele e sua noiva, mas não corrigiu o homem. — Muito bom, filho, muito bom. — Myrddin bateu forte em seu ombro. Então, assentindo com a cabeça para baixo, onde o corpo de Attor mostrava a evidencia de sua noite insatisfeita, acrescentou. — Vamos. Vamos encontrar uma serva para chupar o veneno de você. Prometo que na próxima caça você poderá ir à frente.
51
Capítulo Três Os pulmões de Mede ampliaram com o esforço da corrida forte. A manhã se arrastava pelo horizonte, iluminando a noite. Em uma mão agarrou a faca de Rolant e na outra seu prêmio. Por um momento, sentiu o ardor nas pernas, a calça roçando-a, seus pés ágeis. Quando ela saltou por cima dos galhos, voou. O exercício a fazia sentir-se maravilhosa, mas não tão maravilhosa como os sons dos aplausos vindo da fronteira. Haviam acendido um fogo para guiá-la e ela correu até ele. Enquanto se aproximava do grupo de dragões saltou sobre a fronteira. Levantando a mão, ela gritou: — Dragões! — Dragões! — Os homens disseram em voz alta, que celebravam sua vitória. Mede girou a empunhadura da faca para entregar a Rolant. Ele pegou. Ao instante, seu sorriso sumiu quando viu o sangue. Seus olhos a percorreram enquanto deixava que o dragão desaparecesse de seu corpo. Antes que pudesse perguntar a respeito, com orgulho levantou o punho e apertou ao redor da pele. — Vitória! 52
—
Vitória!
—
com
suas
animados
Os
homens
taças.
gritaram,
Enquanto
ela
claramente tinha
sua
aventura, eles estavam festejando. — Nossa senhora encontrou o gato. — Disse Arthur com um sorriso, quando ele sentiu o cheiro de licor nela. O homem tinha um nariz torto que foi golpeado muitas vezes. Quando bebia, gostava de brincar. — O gato sarnoso? — Perguntou Cynan. — Owain lhe recorda com carinho. — Respondeu Mede, sorrindo. Uma ronda de gritos e risadas cortou a conversa. Depois que finalmente se acalmou, estendeu a mão. — Meu prêmio. Alguns dos homens olharam sua mão estendida, depois, alguns mais. Sua risada sumiu na conversa. — Isso se parece a... — Saben lhe dirigiu um olhar inquisitivo. Dyllan chegou a beliscar um pouco a pele. — É loiro. — Mede? — Rolant perguntou, desejando claramente que explicasse. — Não encontrou o caminho? — Sim, mas eu queria um alvo mais difícil. — Disse. — Além disso, ao agricultor já faltava muita pele. Senti pena dele. 53
Rolant levantou a faca, mostrando o sangue a todos. — Com quem lutou? Mede pensou no estranho. Não havia nenhuma razão para dizer-lhes o que aconteceu. Eles não precisavam saber que o gato a beijou. Este seria seu segredo. — Nós não trocamos nomes. — Ela deu um pequeno encolher de ombros. — Vamos fazer a prova, assim ninguém pode impugná-la. — Disse Rolant. Enquanto vasculhavam em uma bolsa para fazer o teste genético. Quando estavam distraídos, Rolant a puxou de lado. — Eu a enviei direto para o agricultor. Em que estava pensando? Os únicos Vars loiros são os guardas de elite do palácio. Ou o príncipe. Como conseguiu? Por que há sangue? — Vamos! — Gritou Dylan, levantando um pequeno frasco que verteu na pele. Quando a pele do gato combinou com os produtos químicos e ficou azul pálido, ele gritou. — É Var. — Agora não, Rolant. — Disse Mede. — Preciso de uma bebida. Uma garrafa foi empurrada no mesmo instante em sua direção. Ela bebeu um longo gole de licor. Ardeu em sua garganta e esquentou seu ventre. — Conte-nos sobre a caça. — Disse Cynan. 54
— O que é isto? — Uma voz masculina retumbou sobre o acampamento. Mede se sentiu aliviada, já que a salvou de ter que contar esta história em particular junto à fogueira. — Têm permissão para estarem em minhas terras? — Continuou o desconhecido. Mede abaixou a garrafa e limpou a boca com a manga.
Não
reconheceu
a
voz.
Vários
dos
homens
bloquearam sua visão. Já que estavam acampados nas terras do palácio com o príncipe Rolant, isto não a preocupava demais. — Irmão. — Rolant reconheceu. — Voltou. Pensei que estivesse caçando yorkins. — Gildas foi ferido. Nada grave, mas decidimos trazêlo para casa para que pudesse ter uma atenção médica adequada. — Respondeu o príncipe Llyr. Mede mudou de opinião. Não gostou da interrupção. Esta manhã era para comemorar sua vitória. Não queria conhecer o novo macho Draig e certamente não o príncipe herdeiro ao trono. O príncipe não estava casado e Rolant disse que ele queria conhecê-la. — Dê-me uma bebida. — Disse Llyr. — Estão celebrando a vitória de quem?
55
Como as águas se separando pelo vento, os homens abriram caminho para que Llyr pudesse vê-la. Ela ficou rígida e automaticamente levantou a mandíbula. — Minha. — Sua? — Llyr repetiu com incredulidade. Olhou para Rolant por confirmação. — E ela passou? — E nós a vimos voar. — Saben assentiu. Levantou o copo e anunciou. — Isto foi você voando. — Disse Arthur. — Oh está bem. — Saben assentiu. Levantou seu copo e anunciou. — Eu voei! — Como está Owain? — Perguntou Llyr. — Precisa de um banho. — Disse Mede. — Ela trouxe pelo loiro. — Rolant declarou. — Loiro...? — Llyr entregou a garrafa que segurava para seu irmão e deu um passo adiante para olhá-la. Mede se alegrou de cheirar a suor e licor ainda. E provavelmente parecia uma fera selvagem depois da corrida. Obrigou-se a não olhar para seu peito, para o cristal. Mas olhar seu rosto foi pior. Em muitos sentidos, ele lembrava Rolant, mas seus olhos eram de um verde tão brilhante que quase a furou, tomando-a como se pudesse ver todos seus segredos. 56
Mede não gostava de se sentir exposta. Seu cabelo era castanho claro e chegava até o queixo enquanto que o de Rolant era maior. Ela pensou no beijo que o Var roubou dela. Não esperava e realmente não sentiu nada mais que surpresa quando aconteceu, mas a lembrança a fez olhar para a boca de Llyr. — Finalmente nos encontramos, Lady Medellyn. — Disse. Mede se obrigou a tirar os olhos de seus lábios firmes. Engoliu saliva com nervosismo. — Me chamo Mede. E não sou uma dama. Hoje sou um Dragão Morto. Com as palavras os homens ébrios gritaram. — Dragões Mortos! Llyr riu. Mais para si mesmo que para ela e disse. — Posso ver que não se joga fora licor por aqui. — Desculpe-me príncipe, mas ganhei a marca dos Dragões Mortos e quero minha cicatriz. Ela fez um movimento para sair de sua presença, negando-se a olhar para baixo. A ideia de que príncipe pudesse ser seu companheiro a aterrorizava. Nunca quis este encontro.
57
— Espere. — Disse Llyr tão audaz que a segurou pelo braço. — Gostaria de parabenizá-la pela boa caça. Mede
arqueou
a
sobrancelha.
Quanto
mais
se
encontrava hipnotizada por seus olhos, mais teimoso seu comportamento ficava. Quando ele não falou nada, ela disse. — E então? — Parabéns pela caça. — Disse em voz baixa. — Obrigada, príncipe. — Respondeu obedientemente antes de se mover-se adiante dele. Os homens começaram a cantar uma canção obscena, unidos e abraçados andando pelo acampamento. O círculo foi para longe. Esperou que ficassem de costas. Llyr agarrou seu braço novamente. — De verdade cortou a pele de um membro da corte real? No momento não ficou nervosa, mas agora, que Rolant e Llyr mencionaram a cor da pele, isto a deixou com o estomago embrulhado. Nervos se agruparam em seu peito e ela assentiu com a cabeça uma vez. —Suponho que sim, ainda que na hora não perguntei seu nome. — Como parecia? 58
— Um felino. — Respondeu ela de propósito. Seus dedos ainda seguravam seu braço, o toque de alguma forma íntimo. Finalmente teve coragem de olhar para baixo. No princípio, pensou ver um suave resplendor na pedra. Ficou rígida, até que ela percebeu que era um reflexo do fogo. Não era seu companheiro. Um suspiro de alivio saiu de seus lábios... seguido de uma sensação de decepção. A decepção a confundiu e lhe deu vontade fugir como uma covarde. — Está casada? — Perguntou Llyr, olhando a falta do cristal em seu pescoço. Sempre era isto. Ela abaixou os olhos. — Não tenho nenhum interesse no casamento. Mas quero minha cicatriz. — Ela tentou puxar seu braço. Ele apertou mais forte. — Então é verdade. Você quebrou o cristal. Por quê? Mede fez uma careta ao se lembrar deste dia a muito tempo. Sua mãe chorou abertamente por mais de meses. — Como você. — Pegou o cristal em seu peito, puxando-o de onde estava e olhou-o. Ele pulou. Uma fissura quase microscópica arranhava o interior da pedra. — Um acidente quando era criança, caí de um ceffyl enquanto brincava. — Disse Llyr.
59
— Meu pai é um criador de ceffyl. Não deve montálos para brincar. — Chamou sua atenção. — São delicados e não para jogos. — Eu era uma criança. — Indicou. Sua atitude a enfureceu. — Não há desculpas. — Respondeu ela com igual arrogância. — Quebrei o braço, se isto ajuda. — É um começo. — Ela novamente tentou puxar o braço de seu agarre. Um leve arrepio a percorreu onde ele tocava, uma estranha vibração a obrigou a se concentrar no contato. O
canto
alcançou
o
bosque
e
os
homens
desapareceram atrás de uma árvore colossal. De alguma maneira ficar sozinha com ele a deixava nervosa. — Solte-me, príncipe. — Disse por fim. — Eu ganhei meu lugar aqui. Llyr olhou para seu braço com surpresa, como se não notasse que a segurava. No mesmo instante os dedos a soltaram. — Diga-me primeiro, porque quebrou seu cristal? — O que? Eu me amo. Casei-me comigo mesma. — Não tinha certeza do porque estava sendo tão sarcástica. O único que sabia era que seu braço estremeceu quando ele a 60
tocou. Lançou um olhar para pedra. Sem brilho. Ainda assim, o impulso de fugir dele era demais. Seus músculos pareciam gelatina. Com certeza seu corpo estremeceu pela longa noite de exercício, nada mais. Sua mente parecia confusa porque estava cansada. Não tinha nada a ver com a cor de seus olhos. Estes malditos olhos verdes. — De alguma maneira não acredito que seja tão narcisista, minha dama. — Muito bem. Se quiser saber, é porque controlo meu próprio destino. — Mede deu um leve salto diante dele e foi se unir aos homens. Saben e Cynan romperam a corrente para deixá-la entrar. À medida que se afastou do príncipe, ficou contente por escapar. Algo sobre o homem a deixava frustrada. Tinha certeza que eram seus olhos. Nenhum homem deveria possuir olhos assim. *** Llyr não podia respirar enquanto observava a mulher se afastar dele. Mede cheirava a suor e a sujeira em seu cabelo o deixava estranho. Mas havia um brilho em seus olhos que fazia todas as demais imperfeições sumirem. Ela era exatamente tão feroz como se lembrava, há muito tempo, quando a viu no bosque. Ele sempre quis conhece-la oficialmente, mas algo dentro dele lhe dizia para esperar. E ele esperou, durante quase vinte anos esperou. 61
Ninguém acreditaria em seus limitados poderes de adivinhação quando criança, mas Llyr nasceu com o conhecimento inato de que se casaria com uma mulher como ela. Desde criança sonhou em encontrar uma companheira shifter. Quando mais velho, uma visão de Mede o confirmou. Era muito jovem no momento para receber realmente a vontade dos deuses e seu cristal não brilhou. Mas ele a reconheceu. No fundo a reconheceu. Não precisava de um cristal para lhe dizer isto. Durante muitos anos se aferrou a este momento fugaz. Inclusive agora, com o cheiro do bosque e da montanha, agitava-se com a lembrança. Llyr nunca imaginou que voltar a vê-la faria os sentimentos dentro dele aumentaram e que podia senti-los tão fortemente como esta noite. Sim, teve seus momentos de dúvida. Vinte anos era muito tempo para manter algo por uma mulher que apenas viu uma vez. Mas valeu a pena. Tudo o que precisava saber se confirmou quando a olhou. —
Então,
o
que
achou
da
fêmea
dragão?
—
Perguntou Rolant. — Não disse que ela era bonita? Ah, mas a beleza vem com conjunto de dentes afiados. Ela pode arrancar um pedaço de qualquer homem e manter sua posição ante qualquer guerreiro. Não invejo o homem que está condenado pelos deuses a ser seu companheiro.
62
Em lugar de responder, Llyr colocou a mão no bolso e puxou seu cristal. Levantou-o para Rolant para que comprovasse por si mesmo. Rolant soltou um leve suspiro e se virou para olhar onde Mede dançava ao redor da fogueira com os demais. — Mas...? — Rolant olhou o peito de Llyr, o cristal que usava. — Estou enviando convites para o palácio há meses no nome de nossa mãe, mas ela sempre encontra uma desculpa. Você me disse como ela se sente sobre o casamento. — Disse Llyr. — Ouvi suas advertências. Está pedra pertence a Gildas. — O servo do palácio esteve mais que disposto a emprestar sua pedra ao príncipe, pensando que isto lhe traria sorte. Honra ditava que o objeto fosse devolvido em bom estado. Bom, em tão bom estado, como quando Llyr o pegou. — Ele está machucado e não tem nenhum uso atual. Já que ele não confia nas unidades médicas, vai ficar de repouso por um tempo. — Por que não contar para ela quem é você? — Rolant franziu o cenho. — Me entregue a pedra de Gildas e coloque a sua no pescoço. Deixe que ela veja. Pode impedir que consiga a marca da Ordem. — Não vou mudar seu caminho até que os deuses oficialmente nos abençoem. — Llyr escondeu seu cristal no bolso. — Quem sou eu para interferir no destino da futura rainha? 63
— Uh, você que é o futuro rei? — Rolant declarou o obvio. Llyr riu de leve. — Vocês viram que conseguiu a pele. Assim ganhou sua cicatriz. Se tirar isto dela, ela irá se afastar de mim. — Ele sorriu e era difícil esconder sua emoção. — Você não dita ordens e espera ganhar uma mulher assim. Se for possessivo, se souber quem sou, ela nunca irá ao próximo Festival de Reprodução. Eu preciso dela no Festival. Os deuses cuidarão do restante. Rolant franziu o cenho. — Como sabe como ganhar uma mulher assim? Não há outras por aqui. —
Porque
conheço
os
dragões
e
seu
espírito
guerreiro. Aquele que se une a Ordem dos Dragões Mortos é de uma raça especial. Ninguém neste acampamento poderia ganhar ou ser persuadido à força. — Llyr observava Mede dançar. Seus olhos se encontraram e ele assentiu lentamente para reconhecê-la. Era tudo o que podia fazer para não ir dançar com ela. Ela era uma verdade que preenchia todo seu ser. Esperou toda sua vida por ela. Mas este conhecimento não o preparou para o que estava sentindo no corpo e no coração — a realidade que era Lady Mede. Mesmo agora podia senti-la contra seus dedos. Os nervos de sua mão 64
formigavam, enviando diminutas ondas de choque por seu corpo. Por alguma desconhecida força de vontade se conteve e observou o balanço de seus quadris e seu cabelo. Llyr sabia que os deuses estavam sempre os provando para se assegurarem que fossem dignos das bênçãos que lhes eram outorgadas. — Marque-a como ela deseja. Deixe que se una à Ordem. Estes homens se converterão em seus irmãos e a protegerão com suas vidas. — Llyr disse. — Vai marcá-la? — Perguntou Rolant. — A tradição diz que o mais alto nível deve cortar a pele. Llyr não podia machucar Mede. Para ele, mesmo quando solicitado, ia contra todo o instinto de proteção que crescia dentro dele. — Não. Deixarei que você o faça. — Ele respirou fundo. — Apenas se assegure que ela não vá a nenhuma missão mais perigosa. Dragão ou não, as fronteiras não são lugar
para
uma
mulher.
Pode
que
não
estejamos
oficialmente em guerra, mas o rei Var é uma marionete e os antigos senhores fazem o que querem. Não irão honrar nenhuma paz se conseguirem entrar em nossas terras. — Tentei impedi-la. — Rolant se defendeu. — Claro que
tentei
impedi-la.
Dei-lhe
as
tarefas
mais
asquerosamente difíceis que me ocorreu. Ela cumpriu todas sem se queixar. Quando isto não funcionou, eu enviei direto 65
para o alvo mais fácil que dorme no bosque quando está bêbado. Seu pai é um guerreiro muito respeitado. Não podia rejeitar suas tentativas sem razão. Não sei como ela encontrou alguém do palácio Var esta noite. O bosque perto dos pântanos deveria estar vazio. Cheiram a morte e árvores putrefatas. Ninguém vai ali a não ser obrigado ou que estejam na agricultura ilegal. Não há festivais Var nesta época do ano. Llyr colocou o braço sobre o ombro de seu irmão. — Ela está a salvo. Isso é o que importa. Mas agora que sabe que ela é sua irmã e futura rainha, talvez veja as coisas diferentes. O futuro de nosso reino descansa nela. *** A felicidade futura de Attor recaía sobre a mulher dragão, sua futura rainha. Attor fechou os olhos na longa extensão do bosque, a vista de sua sacada particular. Ficou olhando para o pequeno lago e as montanhas distantes. Uma suave brisa lhe acariciava, fazendo cócegas nos cordões transversais que cruzavam a parte de trás de sua camisa. Sendo o terraço bem alto, ninguém no pátio do palácio poderia vê-lo, ainda que se inclinasse no balcão podia ouvi-los caminhando abaixo. Attor gemeu e se apoderou da garrafa de licor com mais força. O som fez a mulher de joelhos diante dele
66
diminuir o ritmo de sua boca e chupar com mais força. Sua respiração acelerou. Já podia sentir o amor de Medellyn por ele, sua adoração. Como não podia ser de outra forma? Sentia que seu destino era ela. Attor abriu os olhos. Logo toda esta terra seria sua. Medellyn seria uma boa rainha. Teriam muitos filhos fortes, metade-gato, metade-dragão, uma nova raça feroz para se apoderar do planeta. O gene Draig seria recessivo, claro, já que os genes dos gatos eram muito melhores e mais fortes. Mais que isto, Medellyn tinha a capacidade de amá-lo. Ela o amaria. E ele a amaria. Sua força estava em seu patrimônio. Ela era forte. Não iria morrer dando à luz como sua mãe. Nunca teria que ficar sozinho. Attor olhou a mulher de joelhos antes de tomar uma taça do licor espesso. O prazer da boca sumiu quando olhou seu rosto. Os olhos olhando-o eram azuis e não prata. E seu cabelo era vermelho e não negro. Com sua mão agarrou a parte posterior da cabeça e segurou em seu eixo. Independentemente de seu aspecto, encontrou sua liberação. A pressão em seu estomago diminuiu e ele gemeu, fechando os olhos com força ao imaginar sua futura esposa. — Venha, garota. — Myrddin disse vendo Attor amarrar os cordões. O homem estava apoiado contra a 67
pedra e o ferro ao longo da sacada. O céu azul-verde da manhã brilhava em seu rosto excitado. Começou a abrir a calça. A mulher sem dúvida foi até o nobre. Quando Attor se moveu para entrar no quarto, Myrddin girou na sacada e continuou abrindo a calça. Attor passou pela porta. A saída da sacada dava direto para seu enorme quarto. Parou tempo suficiente para tirar a camisa e jogá-la no chão para ser lavada. Tirou os olhos de seu armário na parede oposta e suas numerosas roupas para olhar pela janela. Myrddin estava levantando a saia da mulher com a intenção de tomá-la por trás. Attor observou o espetáculo por alguns minutos. — Diga que é o melhor pau que já teve. — Myrddin ordenou, claramente sem perceber que Attor ouvia do lado de
dentro.
—
Todos
os
homens
empalidecem
em
comparação com seu grande tamanho, verdade? Chameme de seu rei. Chame-me de seu rei! A mulher obedeceu, mas provavelmente não com o entusiasmo que Myrddin queria porque grunhiu e lhe golpeou com mais força. Attor estava muito cansado e muito bêbado para se preocupar como Myrddin encontrava sua liberação. O príncipe empurrou a porta do quarto e de imediato foi para a cama. Havia fogo na lareira de mármore, a empregada limpou tudo antes de ter se colocado de joelhos. A grande sala com o chão de pedra lisa, almofadas 68
tecidas e decoração em ouro se perdeu. Caiu de barriga para baixo no colchão, encontrou-se em lençóis suaves e de imediato dormiu. *** Mede apertou os dentes quando o símbolo do dragão foi cortado na parte baixa de suas costas. Sentiu o licor no ombro descoberto. Escorreu para baixo fazendo a ferida arder, a qual Rolant fez com uma faca especial. A lâmina que tinha o formato de um dragão foi aquecida, de modo que pudessem cortar e cauterizar ao mesmo tempo. Ela não tinha permissão para mudar e tinha que suportar a dor como humana. — Agh. — Ela gritou quando o licor caiu na ferida pela segunda vez. Sua camisa túnica estava somente um pouco levantada para que Rolant trabalhasse e não expusesse seu corpo aos demais. O licor molhou sua calça. Neste momento não importava se a roupa cheirava a uma fábrica de cerveja e tinha várias gostas de sangue. Esta manhã marcou o início de sua nova vida, uma vida de liberdade e respeito. Respirou forte, tomando a dor pela qual lutou arduamente. Os homens aplaudiram, felicitando-a com grunhidos e brincadeiras, todos estavam cansados, mas apenas Saben dormiu com o rosto na terra algumas horas antes. — Acabou. — Rolant sussurrou em seu ouvido enquanto entregava a faca para Arthur guardá-la. Alguém 69
colocou uma venda em suas costas e puxou a camisa para baixo. Mede se encontrou procurando por Llyr, mas sabia que o homem que interrompeu sua celebração não ficou para ver sua cerimônia. Sentiu-se menosprezada por seu desaparecimento. — Tenho uma unidade médica na tenda. Não vai curar a ferida, mas irá tirar a dor. — Rolant a puxou de lado para ajudá-la a se levantar. — Sem tratamento especial. Sou um irmão da Ordem agora. Irei atuar como um. — Disse Mede. — Nunca tivemos uma mulher. Acho que é uma irmã de... — Quis dizer o que disse. Não sou diferente de qualquer um aqui. — Mede se afastou dele e pouco a pouco se aproximou de sua tenda para dormir. A brilhante luz da manhã brilhava ao seu redor, como um renascimento, já que seus novos irmãos encontraram seu caminho para os sonhos. Ela abriu a tenda e se arrastou para as peles no chão. Um gemido escapou enquanto se deitava sobre o estomago. Murmurando, ela tentou ignorar o formigamento no braço que o príncipe tocou. — Não me importa que não ficou para presenciar minha cerimônia de honra, príncipe Llyr. Você não foi convidado esta noite de qualquer forma. Volte ao palácio e não me toque mais. 70
Capítulo Quatro Norte das Montanhas Draig, Casa da Família de Medellyn Mede apertou os olhos. O som das lágrimas de sua mãe era a única coisa que podia fazer com que se sentisse culpada, não importava que tentasse atuar como se não importasse o que sua mãe pensava. Toda mãe era delicada e doce. Sua voz era baixa e suave, como se sempre consolasse uma criança doente. As pequenas mãos nunca golpeavam com força, nem sequer quando fazia um pão. Quando chorava eram soluços suaves e leves ruídos de decepção que partiam o coração de sua filha. Claro que Mede sabia que Lady Grace não iria gostar de seus novos irmãos. De fato, não tinha a intenção de contar a sua mãe e esperava que todos que a conhecessem não fizessem piadas a respeito; mas, ao que parecia, nem todo mundo tinha bom senso para manter a tranquilidade das notícias. — Mãe. — Disse Mede, afastando a mecha de cabelo negro que parecia com o seu. Ela tocou o ombro de sua mãe. Algumas pessoas diziam que quando estava parada era uma versão mais jovem de Grace, mas quando se movia e conversava ficavam muito diferentes. Mede era agressiva
e
obstinada,
enquanto 71
Grace
era
gentil
e
reservada. — Trago honra ao nome da família. A Ordem é uma das mais antigas do planeta. Grace respirou fundo. Pegou um prato com biscoitos açucarados e começou a organizá-los enquanto caminhava até a mesa da cozinha. — Se é tão honrada, porque suas relações são tão reservadas? Ouvi que cortam seus membros. Tínhamos clubes para cavalheiros em meu planeta natal. Há uma razão pela qual as mulheres não podiam entrar. A marca nas costas de Mede já não doía, mas a ferida tinha uma casca. Ela se negava a confirmar isto para sua mãe. Com sorte, a mulher nunca veria a cicatriz. Apesar de seus anos rodeada por dragões e espíritos selvagens, Grace ainda mantinha uma certa inocência de sua juventude. Grace nasceu em uma das luas Florencian, um museu vivo de uma época vitoriana da antiga Terra. Eles não usavam a tecnologia espacial, mas a Terra antiga tinha ferramentas
mecânicas
que
seu
tataravô
considerava
modernas. Esta existência simples preparou Grace para ser uma noiva em um planeta cujos habitantes também optaram por viver com simplicidade. No entanto, Qurilixen não ofereceu a dama o mesmo alto padrão dos costumes sociais e as regras que aprendeu em sua casa. Pelas histórias que Mede ouviu do passado de sua mãe, ela duvidava que os clubes de cavalheiros fossem tão ferozes como a Ordem. 72
— Não acho que se possa comparar homens sentados e conversando sobre política e bebendo licor com os nossos. — Disse Mede. Ela desejou, no mesmo instante, poder pegar de volta tais palavras que, inadvertidamente, deslizaram de sua boca. — Chá. — Sua mãe destacou com um suspiro de cansaço. — A bebida se chama chá. — Tem certeza? — Mede franziu o cenho. Assim não era como se lembrava. — Sim. Tenho certeza. — Os príncipes pertencem a Ordem. — Afirmou Mede, com a esperança de aliviar a expressão de sua mãe. — Disse que gostava de Rolant. — Os príncipes? Ambos os príncipes? — Isto a animou um pouco. — Sim. — Mede assentiu. — O príncipe Llyr também. — Então conheceu o príncipe herdeiro? — Perguntou Grace, sem se incomodar em esconder seu tom animado. — Sim. — Mede assentiu novamente. Pensou no homem
que
constantemente
aparecia
em
seus
pensamentos. Não havia nenhuma razão para estar ali, mas estava. O fato lhe incomodava mais que o desejo de sua mãe vê-la casada e grávida. — Conheci o príncipe Llyr. Ele foi muito amável. 73
— E? — Sua mãe esqueceu as lágrimas. — Foi ao palácio? Viu a corte do rei? Estavam os guardas do palácio ali? — Não. Conheci o príncipe herdeiro no acampamento. — De imediato Mede descobriu seu erro. — Acampamento? Dormiu fora de casa? — Sua mãe lhe olhou irritada. Ela voltou a respirar fundo. Sua mão tremia. — Nada impróprio aconteceu. Foi nas terras do palácio. — Mede pensou no corte, na dança dos bêbados pelas tendas, o toque de Llyr sobre seu braço, a pele Var. A pele Var? Como esqueceu que foi beijada por um gato? O beijo deveria estar mais em seus pensamentos que o toque em seu braço. Grace a observou detalhadamente. Mede sorriu. Que os deuses a perdoassem por mentir à sua mãe. — Juro. Comportei-me como uma dama. — O que ele falou para você? Foi convidada ao palácio? — Perguntou sua mãe. A mulher nunca se dava por vencida? Mede segurou um suspiro. — Não conversamos muito. Por que um príncipe herdeiro iria querer conversar comigo? Parabenizou-me pela minha honra. — Nada mais? — Grace insistiu. 74
— Nada de importância. — Mede pensou na mão em seu braço. Inclusive agora podia sentir o formigamento. A lembrança
constante
deste
toque
era
estranha,
considerando a evidencia de seu cristal. Talvez os anos de sua mãe sonhando acordada apodreceram seu cérebro. Ela estava
imaginando
uma
conexão
onde
não
existia
nenhuma, porque ele era um príncipe. — E os outros homens da Ordem? — Sua mãe perguntou. — Todos os homens são amáveis e me trataram como uma irmã. — Mede esperava dar a sua mãe um pouco de consolo. Ela sempre falou de como desejava poder dar irmãos à Mede e como sua incapacidade para ter mais filhos era um pesar em sua vida. Grace tocou o cabelo escuro de Mede, escorrendo pelo dorso de seus dedos. — Você é bonita, minha filha. Em meu mundo de origem você seria convidada para festas da sociedade e para chás da tarde. Os homens pediriam a seu pai permissão para levá-la em passeios de carruagem. Era uma fantasia que Mede ouviu com frequência. Quando sua mãe falava, seus olhos ficavam vidrados e sua mente ia longe. Se não fosse por determinação, Grace nunca teria deixado seu mundo vitoriano. Por um momento
75
a máscara serena de sua mãe deslizou para revelar sua perda e uma tristeza intensa se apoderou de Mede. — Quer dizer que queria ter ficado? Nunca fala do que aconteceu e da decisão que tomou. — Mede colocou a mão sobre a de sua mãe que organizava os biscoitos desnecessariamente. — Não há nenhuma razão para reviver lembranças desagradáveis. — Disse Grace. Mede podia ver que sua mãe revivia palavra a palavra. Queria lhe perguntar o que aconteceu, mas sabia que não deveria se intrometer. Esta era uma história que sua mãe guardava para si mesma. Mede nem sequer tinha certeza de que seu pai sabia a verdade. — Arrepende-se de ter vindo para cá? Grace piscou e saiu de seus pensamentos privados. Ela no mesmo instante balançou a cabeça em negação. — Nunca. Nem por um segundo me arrependi de vir para cá. Adoro seu pai mais que minha própria alma. E você, você é minha linda filha. Lamento não poder mostrar meu mundo, as grandes damas que viviam ali, mas nunca me arrependi de tê-la. Você e seu pai são minha vida. Sem vocês não sou nada. — Sinto muito, não posso ser a dama que quer que eu seja. — Disse Mede.
76
— A força do dragão é mais forte. — Sua mãe assentiu com a cabeça em compreensão. — Gostaria que pudesse sentir a humana em você como o faz com o dragão. Você dá a este lado muita atenção. Quero mais... — Grace se balançou sobre seus pés. — Mãe? — Não é nada. Estou cansada. — Grace sorriu fraca. Suas palavras saíram sem fôlego enquanto tentava atuar como se nada houvesse acontecido. — Quero muito para você. Quero que sinta sua alma humana. Quero que sinta o que é ter o coração de uma mulher. Conheça o amor e se case, isto deixaria minha vida completa e eu não teria nada mais para fazer neste universo. Mede olhou o rosto pálido de sua mãe, preocupada. — Quero que veja um médico. — Não. Não é nada. — Ela afastou a mão de sua filha. — Estou um pouco cansada. — Mãe, de verdade. Por mim. — Mede ficou na frente dela com seriedade. — Se não o fizer, falarei com papai. — Não o incomode com tolices. Ele tem muito com o que se preocupar com os rebanhos. — Sua mãe se afastou dela,
brincando com
o arsenal
de
armas antigas
e
decorativas que seu pai mantinha pendurado na parede. Eram lembranças de família, facas com séculos de uso. A 77
mão da mulher se moveu lentamente, na realidade sem fazer algo útil. Manteve o rosto à vista. — O que posso fazer para que veja um médico? Fale o quê. — Mede viu as costas de sua mãe, percebendo que estava magra, muito magra. Nós de preocupação se agruparam em seu estomago. Grace sempre foi delicada. Com a expectativa de vida dos Draig, a morte não era algo no qual Mede pensava muito. Ela nunca considerou a mortalidade de seus pais antes. O que sua mãe estava escondendo dela? Por que estava atuando assim? O medo se apoderou dela. Não estava preparada para fazer frente à perda. Precisava de sua mãe. Grace não podia ficar doente. — Qualquer coisa. — Qualquer coisa? — Sim, apenas se concordar em ver um médico. Posso ver que algo não está bem. —
Fechado.
—
Sua
mãe
se
virou,
sorrindo
alegremente. Mede congelou. Esta não era a expressão triste que Grace tinha há alguns momentos. — Espere aqui. Vai amar o que tenho para você. Mede viu sua mãe endireitar os ombros e empurrou as
mechas
de
seu
cabelo
trançado
para
o
coque
novamente. Mede olhou sua mãe em estado de choque. O que acabou de acontecer? Sua doce e inocente mãe simplesmente a manipulou para que aceitasse... o que? 78
— Fiz para você. — Grace levantou um vestido para ela, toda orgulhosa. — Vai ser a mais bela noiva do Festival. — Não vou a festa. — Mede disse aturdida, olhando o vestido. — E o que é esta coisa? Parece um vestido normal, mas que foi atacado e as rendas se perderam. — Não seja tola, filha, claro que vai. Assim como irei ver um médico. A senhorita dragão deve manter nosso acordo.
—
Grace
continuou
sorrindo,
ignorando
os
comentários sobre o vestido. — Acabou de me manipular? — Mede não podia se mover. Ela não viu aparecer. Sim, sabia que sua mãe queria que fosse a festa, mas nunca em um milhão de vidas pensou que Grace poderia fingir uma doença para manipulá-la. — Oh filha. — Grace sorriu secretamente. — Pedi durante anos para lhe ensinar sobre como ser uma dama. Vocês dragões tolos sempre acham que devem resolver tudo pela força. Seu pai é assim, apenas não percebe quando empurro suavemente em uma direção para seu próprio bem. Se não houvesse interferido, seu nome seria Thor. — Ah. — O som saiu estranho de sua garganta. — Você planejou isto.
79
— Não, eu a venci com sua própria teimosia. Estou realmente surpresa por ter levado algum tempo para perceber. De verdade acredita que foi sua ideia ter seu quarto limpo quando criança? — Não queria ser comida por yorkins que seriam atraídos pelo cheiro de... — Mede franziu o cenho. — Espera um momento, yorkins nunca entram nesta parte da montanha. Grace moveu o vestido no ar. — Tente usá-lo. Mede não se moveu para pegar o vestido, olhava-o como se fosse golpear e mordê-la a qualquer momento como um givre venenoso dos pântanos. — Então, você manipula meu pai com frequência? — Isso é persuasão. — Grace corrigiu. — Quando estiver casada vai entender. Os homens gostam de serem homens. Deixe-os. Que pensem que o que você quer que façam seja ideia deles. Deixe de tentar tão duro ser um homem, Medellyn. Atua como se os machos fossem os únicos
com
mulheres
ferramentas
para
naturais.
ajudá-los.
Nem
Eles
precisam
sempre
das
admitem,
especialmente os tipos alfa, mas em muitos aspectos as mulheres podem ser muito mais poderosas do que se usarem a força bruta. Mede ficou sem fala. 80
— Feche a boca querida. — Disse Grace. Mede
o
fez.
As
palavras
incrédulas
saíram
murmuradas. — Fez o vestido para mim. Sabia que podia fazer com que fosse ao Festival. — Claro que tinha o vestido pronto. Uma dama sempre planeja com antecedência. Agora prove para mim. — Grace colocou o vestido contra o peito de sua filha obrigando Mede a aferrar-se a ele. Abaixando o tom, acrescentou. — Pode ser que quando o use para o Festival possa não se ajustar perfeitamente. Você não quer andar nua pela festa, verdade? Ainda que isso pudesse me dar netos mais rápido. Mede ofegou quando ouviu sua mãe comentar tais coisas
de
brincadeira.
Grace
começou
a
cantarolar
alegremente enquanto se movia para trás para arrumar seu prato de biscoitos, deixando sua filha atrás dela em silêncio. *** — Ir nua é uma opção? — Mede franziu o cenho enquanto levantava o vestido de noiva para não ser estrangulada pelo tecido. A parte de cima parecia um corpete ajustado até a cintura e mal podia respirar e tinha certeza que seus seios nunca foram empurrados tão altos em sua vida. Sua mãe apertou-o, puxando os laços ao 81
longo das costas como se Mede pudesse escapar da coisa horrenda e fugir. Por sorte o vestido escondia a cicatriz para que sua mãe não pudesse vê-la, ainda que o aperto doesse. — Diga a verdade. Isto é realmente uma espécie de dispositivo usado em prisioneiros. A saia se agitou ao redor de suas pernas enquanto se movia, o tecido era de seda e renda. Tanta renda. Seria impossível correr sem tropeçar. — Eu usava um destes quando me casei com seu pai. — Disse Grace. — Traz boa sorte usar algo do passado da moda. — Acho que será uma sorte respirar. Que tal se fizermos isto? — Mede ofegou. — Irá se acostumar a ele. — Disse sua mãe, despreocupada. — Impedirá que saia correndo. Sua mãe a conhecia tão bem. — E isto. — Disse Grace mostrando um tecido branco. — É seu véu. Grace deslizou uma pulseira de seda sobre o pulso de Mede. Um longo pedaço de tecido fino. Ela primeiro passou a tira pelas costas de Mede antes de conectar um segundo bracelete ao outro pulso. — Lindo.
82
Mede tentou puxar as mãos para frente, apenas para descobrir que o véu no pulso limitava seus movimentos de forma significativa. Puxou uma mão para frente, o que obrigou a outra a ir para trás das costas. — Tire-me disto. — Disse Mede, tentando se mover. — Há alguém lá fora? — Perguntou sua mãe. — O quê? —Mede se virou, surpresa ao ver sua mãe sair. — Não, volte. Solte-me! O som de vozes abafadas chamou sua atenção. Mede alcançou atrás das costas, respirando com dificuldade, enquanto tentava encontrar uma forma de afrouxar o corpete para escapar do vestido de noiva. O esforço a deixou enjoada e cambaleou. — Príncipe Llyr, bem-vindo, entre e sente-se. — A voz de Grace a alcançou desde a sala. — Sinto muito, mas meu marido está com o rebanho. Um dos ceffyl está esperando um filhote. Mede ficou rígida. O que o príncipe fazia ali? Seu braço imediatamente estremeceu, mas não tinha certeza se era pela lembrança de seu tato ou a falta de fluxo de sangue em seu corpo. Ela puxou pela cintura e o estomago, tentando afrouxar o tecido. Seus pulmões começaram a arder. Ela ficou tonta e suas pernas ficaram fracas quando tropeçou para a porta.
83
— Não posso... respirar. — Sussurrou. — Não posso...
84
Capítulo Cinco Llyr tentou não olhar ao redor com muito entusiasmo na pequena casa da montanha, Enquanto que sua casa era rodeada de pedra talhada, esta casa era construída de madeira. A textura da parede era ainda evidente nas tabuas suavizadas. Era limpa e decorada impecavelmente. Ainda que a casa inteira se encaixasse facilmente em uma ala do palácio, este lugar era muito mais acolhedor. Potes diminutos cheios de flores secas estavam espalhados uniformemente ao longo de mesas pequenas, junto a um sofá. Fechou os olhos um instante, esperando detectar a deterioração. Em troca, sentiu o cheiro de um perfume embriagante de uma mistura de pétalas secas. Uma pequena lareira com lenha empilhada pronta para ser acesa, apesar dos dias quentes. Tecido floral cobria a janela. Coincidia com o padrão do sofá. Pelos tons suaves, supunha que a senhora da casa fez a decoração. Axell realmente não parecia o tipo caseiro. Sempre que Llyr encontrava o pai de Mede, sentia o cheiro de suas atividades ao ar livre, uma combinação não desagradável de ceffyl e ar fresco da montanha. Desde
que
conheceu
Mede
oficialmente
no
acampamento, quis descobrir o que podia sobre sua família, com a esperança de iniciar uma conversa quando a encontrasse novamente. Conhecia seu pai. Era o principal 85
criador de ceffyl no planeta, Axell era muito respeitado e querido. Seus modos rudes não o faziam menos Draig. Sua mãe, no entanto, tinha a reputação de fazer muita caridade. A maioria das histórias era sobre como levava comida para os doentes e ajudava as novas mães a limparem suas casas para poderem descansar. Na verdade, ele pensava que suas boas ações eram para aparecer, até hoje a olhando cara a cara. Havia virtude nela, o tipo de decência que refletia através dos olhos do espírito. Não podia ser falsificada. Quando olhou para Lady Grace, se encontrou literalmente querendo ser uma pessoa melhor. E logo havia a filha de Grace. Mede era uma mistura estranha de sua bonita mãe e seu pai, um feroz dragão. Inclusive agora os nervos de seus dedos se lembravam de como se sentiram contra a pele do braço dela. Fechou o punho firmemente, tentando abrandar a sensação para poder se concentrar. Lady Grace sorriu educadamente para ele, esperando que falasse. Tinha a impressão de que esperaria o tempo que precisasse, sem ser rude com ele olhando com a boca aberta sua casa depois de aparecer ali sem ser convidado. Llyr caminhou até a parede de armas. — São muito impressionantes. — É da família de meu marido... — Começou Grace. — Não posso respirar. 86
Llyr se voltou surpreso justo a tempo para segurar Mede enquanto caía sobre ele. Seu corpo inerte ao redor de seus braços. Sem pensar, levantou-a contra ele. Sua cabeça rodou para descansar em seu ombro. A respiração superficial golpeou o lado de seu pescoço, tão leve que ouviu mais do que sentiu. O choque repentino quase debilitou seus joelhos e ele ficou tenso para suas pernas não cederam. — Oh. — Grace ficou sem fôlego. Ela fez um gesto para que Llyr colocasse Mede no sofá. Obedeceu em silêncio a dama. Inclusive enquanto se sentava, ele não queria soltar sua presa. — Tomos, uma unidade médica, rápido. — Llyr chamou o homem esperando do lado de fora, sabendo que ele o ouviria. — Mantenha sua posição vertical. — Grace disse. Llyr levantou Mede e a apertou mais, puxando-a contra o peito. Não tinha certeza de que poderia deixá-la ir. Seus dedos prendiam sua pele. O cheiro de seu cabelo o atingiu e ele respirou profundamente, tentando não ter uma reação inadequada a sua proximidade. Sonhou com o encontro com ela, mas nunca imaginou que chegaria este momento assim tão rápido. Grace sacudiu as costas de Mede, afrouxando os cordões do vestido. Quando o material cedeu, Mede ofegou 87
quase no mesmo instante para tomar fôlego. Levantou a cabeça. — Sempre o usei apertado. — Disse Grace. — Irá se acostumar a ele. Mede piscou várias vezes. — Ow. — Seu braço direito estava preso desajeitado de lado. Inclinou-se para a esquerda. Ele não a deixou ir enquanto se endireitava. — O que... O olhar prata de Mede encontrou o dele. A princípio, ele
pensou
que
seus
olhos
estavam
completamente
monocromáticos, mas de perto podia ver os pontos violetas neles. Durante um longo momento, maravilhoso, ela não lutou. Em troca, ela se limitou a olhá-lo, como se estivesse se assegurando de algo. —
Tenho
a
unidade
médica.
—
Disse
Tomos,
passando correndo pela porta. Seus olhos castanhos escuros estavam escondidos pelo cabelo mais escuro, que caía por seu rosto. Estava claro que o homem correu para conseguir a unidade medida para Llyr. Tomos tinha um bom coração e com frequência acompanhava o príncipe quando chegava às montanhas, principalmente porque era filho de um dos mineiros e nasceu na Vila de Mineração. Voltava sempre para poder visitar seus pais. Mede ficou tensa ante o som e empurrou os braços sobre o peito de Llyr. Ela olhou o cristal em seu pescoço. A 88
suavidade a abandonou quando ela o obrigou a soltá-la. Bom, na realidade, poderia provavelmente a manter contra ele com a força bruta, mas não achava que causaria uma boa impressão em Mede ou sua mãe. — O que aconteceu? — O olhar de Mede foi para sua mãe. Tomos lentamente se aproximou do sofá. — Irá precisar disto? — Sim. — Disse Llyr. — Não. — Respondeu Mede ao mesmo tempo. — Sim. — Disse Llyr novamente, a palavra saindo com
força
para
Tomos
saber
que
era
uma
ordem.
Raramente usava sua posição para fazer valer a sua vontade, mas este era um caso especial. Os olhos de Mede o desafiaram. Grace indicou que Tomos deveria prosseguir. Tomos olhou a unidade por um momento. Ele era um mineiro que ainda tinha que encontrar uma esposa e não estava acostumado a examinar mulheres medicamente. O fato de Mede talvez ser uma das primeiras mulheres sem marido agravava a situação. Olhou seu cristal, parecendo relaxar quando não brilhou. — Tomos. — Llyr insistiu, tentando dar permissão ao homem com o som de sua voz e o estimulo que claramente precisava para continuar. 89
Confuso, Tomos começou a caminhar adiante com a unidade médica apenas para puxar sua mão. — Talvez eu deva? — Grace ofereceu. Tomos praticamente empurrou a unidade para a dama e saiu para dar-lhes privacidade. Llyr riu. A que estava predestinada para Tomos deveria ter caráter forte. Duvidava que o homem desse o primeiro passo, ainda que os próprios deuses descessem e lhe dissesse para se casar. — Estou bem. — Mede insistiu. Seu tom era ainda rouco, mas olhou para o outro lado do sofá. Perguntou-se se sua voz agradável era um benefício para sua mãe. Agora que havia distância entre eles, Llyr foi capaz de olhar seu vestido. A parte de cima do vestido de noiva era justo até a cintura e os quadris, de uma maneira que a camisa túnica bem larga que usava na noite de sua iniciação na Ordem, não era. Também fazia subir seus seios como uma oferta tentadora. Llyr não tinha certeza do que queria fazer mais, agarrá-los ou esconder da vista dos demais. Espera, não, isto era uma mentira. Definitivamente queria se apoderar deles mais que escondê-los. Pareciam suaves. Grace correu até a unidade médica e colocou no peito e cabeça de sua filha. O movimento rompeu seu olhar obsessivo. Llyr percebeu que estava olhando os seios de 90
mede como um tolo. Tentou afastar o olhar das mulheres, mas não funcionou. Assim, olhou para o rosto de Mede. — Aqui diz que seu coração está um pouco acelerado. — Grace olhou para Mede e depois ao príncipe. — E sua temperatura mais alta que o normal. Mede arrebatou o dispositivo de sua mãe. — Claro que está. Tentou me estrangular com um vestido de noiva. Acho que é um sinal dos deuses para não ir ao Festival. Llyr ficou tenso e teve que evitar interromper. — Boa tentativa. Vamos. Deu sua palavra. — Logo com um sorriso, Grace pegou a unidade de sua filha e começou uma exploração em si mesma. Quando terminou, virou a tela para Mede ver. — Tudo limpo. — Se tiver que ir ao Festival, então você tem que ir a um médico. Este era o trato, não simplesmente usar uma unidade médica. Acho que o médico mais perto, vive nas montanhas perto do palácio, mãe. Grace na verdade empalideceu. — Devo devolvê-la para Tomos. — Sua mãe precisa de atenção médica? Enviarei Tomos com ela ao palácio. — Disse Llyr, ficando de pé. Mede agarrou seu pulso. 91
— Não se atreva. Se quiser que eu sofra ao tentar encontrar um companheiro de vida, pode sofrer andando em um ceffyl. Ela odeia estas coisas. — Mas seu pai... — Cria-os? E todo mundo diz que os deuses são bons formando casais. No entanto, colocaram juntos um criador de ceffyl e uma mulher da nobreza que fica nervosa ao redor de grandes animais. É por isso que não há rebanhos perto da casa na maior parte do tempo. Se me perguntar, os deuses estavam bêbados quando os colocaram juntos. Mede o soltou. Desejou não precisar fazê-lo. Seu toque enviou ondas de choque sobre ele. Como não podia sentir também? Como podia não a afetar tão ferozmente quanto a ele? Mesmo agora parecia como se quisesse golpeá-lo, quando o único que queria era beijá-la. *** Mede não queria nada além de deixar de olhar nos olhos de Llyr. Ossos dos deuses, estes olhos eram perigosos. Quando ele a olhava a fazia se sentir fraca por dentro. Odiava se sentir fraca. E quando ele a abraçou... oh, quando ele a abraçou. Ela respirou fundo, ainda sentindo cada polegada de seu corpo como nunca sentiu. Cada nervo estremeceu violentamente. Seu coração acelerou. E, sim, sua temperatura estava muito alta. Ela quase agradeceu sarcasticamente a sua mãe por apontar 92
este fato vergonhoso. Como se o desmaio não fosse ruim o suficiente. Uma vez mais olhou o colar de Llyr. Nada. Sem brilho. O destino não estava de pé na frente dela. Apenas um homem, um homem dragão grande e perfeitamente sexy. Mede se levantou e foi para o quarto a fim de poder tirar o ridículo vestido. Tentou pensar em algo inteligente para dizer, mas nada veio à mente, assim ficou quieta e tentou não parecer como se estivesse fugindo da presença do príncipe. Uma vez sozinha, ela lutou para sair do vestido. Depois de finalmente conseguir movê-lo pelos quadris e pernas, lançou-o contra a parede. Fez um som abafado antes de cair no chão. Quase desafiante, ela respirou fundo várias vezes. Como supunha que uma mulher pudesse correr ou lutar com este instrumento horrível de tortura? Mede mal podia caminhar pela casa. Foi até seu baú, encontrou-se pegando um bonito vestido,
em
lugar
da
calça
e
camisa
que
usava
normalmente. Sua mãe ficaria feliz. Apesar de escolher o vestido, agarrou uma camisa no lugar, sabendo que estava sendo infantil. Ela vestiu uma calça e botas antes de voltar para a sala. Grace sorriu. 93
— O Príncipe Llyr veio falar com seu pai. Mede assentiu e evitou olhar o príncipe diretamente. — Ele não está aqui. Procure nos vales ao norte. — Sua mãe me disse. — Respondeu Llyr. Sua voz tinha que ser toda suave e baixa? Ela começou a tremer. — Bom, então você pode ir. — Mentiu. Se nunca o visse novamente, nunca se sentisse toda trêmula e fraca com seu toque, seria bom. — Mede. — Disse Grace com firmeza. Um sorriso se mantinha em seu rosto agradável apesar da advertência em seu tom. Sem dúvida, Grace queria que Mede o convidasse para jantar, que se converteria em um desfile insuportável de pratos deliciosos, mas de forma lenta. — Como tenho que me preparar para ir até o palácio ver um médico, você terá que escoltar o Príncipe Llyr até onde está seu pai no campo ocidental. Os olhos de Mede se abriram. — Mas... — Você deve ser capaz de seguir a pista com muita facilidade. — Disse Grace. — Mas... — A mente de Mede procurava por uma saída. Ela se aproximou de sua mãe e abaixou a voz, ainda 94
que soubesse que Llyr poderia ouvi-la. Estava de pé a poucos metros de distância. — Decoro. Sempre diz que as mulheres nunca devem andar com um homem sem escolta. Grace
começou
a
rir
como
se
Mede
estivesse
contando uma piada engraçada. — Em meu mundo antigo e vitoriano, com machos humanos. Desde quando se preocupa com a decência? Mede
sabia
que
contar
a
sua
mãe
sobre
o
acampamento foi um erro. — O que a preocupa? — Sussurrou Grace. — É um Draig e seu cristal não brilha. Leve o príncipe para ver seu pai. Mede olhou o príncipe, em silêncio implorando para que a deixasse livre. — Sua presença será uma adição bem-vinda ao nosso grupo de viajantes. — Llyr disse. Amaldiçoou-o. — Vamos esperar que você possa reunir os pertences necessários para a viagem. — Agregou. —
Por
quê?
O
que
vou
precisar?
Os
campos
ocidentais não estão longe. — Desafiou. — Podemos ir e voltar esta noite se corrermos sem parar. 95
— Estamos preocupados com alguns ceffyl. Pensamos que era melhor levá-los até seu pai, em lugar de convocálo ao palácio e afastá-lo de sua manada. Estão viajando lentamente. — Llyr não mordeu sua isca. — Meu pai não vai ficar feliz com isto. — Murmurou arrumando uma mochila. Mede esperava que não fosse mais que uma noite, ainda que a ideia de passar uma noite com Llyr no acampamento a deixasse com receio.
96
Capítulo Seis Palácio Var, quarto de Attor — O que quer dizer com não sabe onde ela está? — Attor exigiu, olhando o guarda. — É tão difícil encontrar uma fêmea dragão? Andou por seu quarto com frustração. Era como se Mede houvesse desaparecido. Onde eles a mantinham? Enviou seus melhores exploradores ao território Draig para encontrá-la. Deveria tê-la diante dele neste momento. — Estivemos observando o céu, mas não a vimos. — Disse o guarda Novem se defendendo. — Os céus? — Attor tentou respirar fundo para acalmar
sua
indignação.
Se
não
estivesse
tão
decepcionado, teria rido do homem. Em troca, ele agarrou o objeto mais perto e lançou-o na cabeça do guarda. — Ela não pode voar, seu idiota! São histórias para crianças. O guarda se esquivou do objeto e parecia querer escapar. — Por que me olha? — Gritou Attor. — Volte. Encontre-a. Procure nas montanhas desta vez. Novem rapidamente assentiu e saiu do quarto. Attor agarrou o objeto de decoração e jogou. A antiga peça se rompeu, mas não fez com que se sentisse melhor. A 97
lembrança do beijo o perseguia. Queria Lady Mede. Ele queria dominá-la, fazê-la sua rainha. Vê-la, tocá-la, abriu seus olhos. Ela o entendia. Poderia amá-lo. Viu a simpatia em seus olhos quando falou do príncipe. Por que não lhe contou que era o príncipe? Por que não terminou sua sedução no bosque aquela noite? Attor olhou para a longitude de seu corpo, para sua ereção. Sentia-se fora de controle. Onde estava Myrddin e seu Nef? Precisava controlar seus desejos. Quase com irritação virou-se para os passos entrando em seu quarto. Uma serva levava um balde de água quente e alguns produtos de limpeza. Ela congelou quando o viu. — Eu... eu vim limpar o quarto. O... o guarda disse que... — Ela fez um gesto para o objeto quebrado. — Deixe-o. — Attor ordenou. Logo olhou seu quadril e ordenou. — Tire este vestido e fique na cama. — Seu cabelo loiro e figura arredondada não era o que queria, ainda que fosse agradável à vista. — Eu sou casada. — Sussurrou ela em estado de choque. — Então me traga alguém que não seja! — Gritou Attor. A mulher saiu correndo do quarto, deixando o balde para trás. Attor agarrou outro objeto, uma estátua de gato 98
e a jogou. O metal ecoou, batendo no chão, mas não se rompeu. As paredes do palácio o sufocavam. Odiava sua vida, odiava seu pai fraco e sua mãe morta. Esta raiva o alimentava. Desde que decidiu tomar Mede como esposa, a vida sem ela ficou insuportável. Fazer sexo trazia alivio, mas sempre era temporário. Onde estava a serva? Como se atrevia a usar o casamento como desculpa para não o obedecer? Por que estava demorando tanto tempo? Teria que tê-la obrigado a ficar de joelhos para ele, casada ou não. Ela era uma empregada.
Era
seu
trabalho
satisfazer
todas
suas
necessidades. Attor jogou outra estatua, apontando em direção ao metal que estava no chão. O ruído ainda não aliviou sua ira. — Apenas tragam minha noiva. — Sussurrou entre os dentes apertados. — Quero minha noiva. *** — Por que é tão contrária ao casamento? Seus pais parecem se adaptar bem um ao outro. — Llyr observava Mede cuidadosamente enquanto caminhava junto aos ceffyl doentes. — Este ceffyl comeu flor solar. — Respondeu Mede. O grande animal caminhava lentamente com seu chifre 99
apontando a frente e com cabeça baixa. A criatura ficou perto de Mede como se lembrasse dela do estábulo. O mais provável era que sim. A criatura abriu a boca e deslizou sua larga língua contra o braço de Mede. A ação foi lenta e os olhos do réptil estavam sem brilho. — E então lhe deram comida normal. Isto é o que há de errado com ela. Eles não podem comer flor solar e comida normal juntas. É tóxico para eles. — Isto não responde a minha pergunta; por que não gosta da ideia do casamento? — Você realmente deve cuidar mais dos animais sob sua responsabilidade. Mede continuou caminhando, sem olhá-lo. A brisa fresca da montanha era um estranho contraste com o calor do meio-dia. Ao ver o orbe azul do sol se lembrou de como o nascimento de Mede era raro. As temperaturas do planeta eram sempre mornas, ainda que pudesse fazer frio nas montanhas. A radiação azul alterava geneticamente os homens, assim a maioria de seus filhos eram machos. — Não vai responder minha pergunta? — Quão difícil é se assegurar que não tenha flor solar perto das terras onde pastam? — Perguntou. Llyr riu. — Certo. Não quer responder. 100
Mede olhou por cima do ombro para onde Tomos seguia
atrás
deles.
Estava
muito
longe
para
ouvir
facilmente. — Todo macho durante meu crescimento tentou me reclamar como noiva. Minha mãe quer que tenha mil filhos. Meu pai quer qualquer coisa que satisfaça minha mãe. Quero ser tratada como igual e não uma égua de reprodução. — Apenas mil? — Llyr arrastou as palavras com ironia. Mede se virou com assombro para ele e logo começou a rir. — Sim, apenas mil. — Assim que sua mãe quer ser avó e os meninos queriam se casar com você desde criança, assim não quer se casar apenas para contrariar? Mede fez uma careta. — Não fale assim. Faz-me soar ridícula. — Bem... Ela arqueou uma sobrancelha. — Não vou pedir desculpas por ser eu mesma e pelo que quero, não a um plebeu, não a um Var, não a um príncipe Draig e não ao rei do maldito Universo. Assim pode 101
sorrir este sorriso bonito e pensar o que quiser, mas insulte minha escolha de vida novamente e isto será uma batalha que irá perder para uma mulher. Llyr tentou olhar como se tivesse sido castigado. — E está me colocando uma isca, verdade? — Perguntou com exasperação. Llyr não pode manter a inocência e começou a rir. — Acha que meu sorriso é bonito? — Acho que você, príncipe, está zombando de mim. — Mede levantou a mão para acariciar o ceffyl enquanto caminhavam. Seus dedos longos e delicados passaram pelo centro da cara do animal. — Não tenho certeza do porquê. — Talvez porque eu gosto. — Llyr admitiu. Era apenas uma fração da verdade. Quando ele a olhou, sentiu como se houvesse encontrado a si mesmo. Quando ela lhe tocou, sua pele ardeu e uma onda de choque o sacudiu até a medula. Pensava nela mais do que pensava em si mesmo. Queria desesperadamente conquistá-la, não pelo cristal em seu bolso que dizia estarem predestinados, mas por escolha dela. Queria que ela o escolhesse. Como Draig, passavam toda sua vida dizendo que os deuses sabiam o que era melhor quanto a assuntos do coração e os recompensariam
se
vivessem
uma
vida
honrada
e
cumprissem seu dever. Esta prática contradizia dragões
102
independentes como Mede que não apreciavam que lhe dissessem o que deveria fazer. — Eu fiquei muito emocionada quando ouvi que seu pai entrou em contato com a Corporação Noivas da Galáxia e pediu um envio constante de noivas que concordaram em se casar com estrangeiros. É genial pensar em comerciar noivas
em
troca
de
pedras.
—
Ela
suspirou
dramaticamente. — Tinha a esperança de que fosse distrair os homens com sangue novo, mas rapidamente descobri que ainda não impediu os homens de me procurarem. Mede era uma mulher estranha e complicada. Ele podia dizer dentro de cinco minutos depois de conhecê-la. Desafiou os deuses e a tradição, esmagando seu próprio cristal e não parecia lamentar. Não, uma mulher como Mede não queria que um cristal
lhe
dissesse
o
que
deveria
fazer.
Havia
a
necessidade de descobrir seu futuro por si mesma. O fato do cristal brilhar, não significava que a noiva tinha que dizer sim. Llyr precisava que ela dissesse sim. — Por que me olha assim? — Perguntou. — Há sujeira em seu nariz. — Respondeu. Mede limpou o rosto. Llyr riu.
103
Ao perceber que outra vez brincava, fez um leve ruído infantil de descontentamento e fixou sua atenção no caminho a frente deles mais uma vez. *** Montanhas Draig ao norte, campos ocidentais Mede
bateu
distraidamente
no
animal
doente
enquanto caminhava, tentando dar ao ceffyl um pouco de consolo. Seu pai lhe ensinou muito sobre os rebanhos, especialmente depois que descobriu o que ela fez com seu cristal.
Apesar
de
na
realidade
nunca
dizer
nada
diretamente a ela, tinha a sensação de que ele queria que ela tivesse uma habilidade em caso de nunca se casar. O cuidado
do
rebanho
era
um
trabalho
honrado,
que
garantiria seu futuro e o legado, ao menos por mais uma geração de Axell. Os campos ocidentais eram fáceis de encontrar. Consistiam em uma serie de vales conectados entre precipícios. As paredes rochosas proporcionavam segurança e sombra para os rebanhos. Encontrar seu pai em algum recanto destes vales revelou-se difícil. Em troca, se observasse os ceffyl poderia encontrá-lo, pois sabiam quando outros estavam perto. Llyr era uma companhia agradável. Não podia culpálo por seu encanto e simpatia, mas ainda ficava tensa a seu lado. Voltar à consciência em seus braços depois de ser 104
estrangulada pelo vestido de noiva foi uma experiência surreal. Estes olhos verdes a perfuravam, até que a confusão e o desejo bloquearam seus músculos e deixavam a resistência impossível. Ainda que o momento fosse breve do ponto de vista real, sentia-se como se tivesse durado uma eternidade em sua mente. Uma parte dela, dizia para correr. Uma parte dela, dizia para beijá-lo. Uma parte dela dizia ao restante dela, para ficar em silêncio e controlar suas emoções. Mede não podia explicar o fio que se filtrava fora dela para ele. Encontrou-se olhando seu pescoço, sua pedra em estado latente. Tudo em sua cultura dizia que não estavam destinados a ficarem juntos. De seu pescoço, o olhar foi para o peito. A túnica moldava seus músculos. Lembrou-se do contato com seu estomago quando ela o abraçou no sofá. Havia muito homens em boa forma em seu planeta, mas por alguma razão ela estava olhando Llyr com uma renovada visão. Seus passos vacilaram e ficou alguns passos atrás dele. A brisa soprava sua camisa contra as costas, enterrando-se nos músculos ali. Seu ventre formigou. Mede não queria se casar. Ela se aferrou a este fato. Como tudo dentro dela se agitava, tinha que pensar com lógica. — Minha dama? — Llyr perguntou. 105
Mede percebeu que parou de caminhar. Em vez de admitir
que estava olhando
seu
traseiro,
apontou à
distância. — Meu pai gosta de acampar perto daquela caverna. Se ele não estiver ali, podemos seguir a partir daí. Llyr levantou a mão e indicou novamente a Tomos antes de mudar de direção. Mede fechou os olhos e respirou fundo. O ar da montanha era doce nos vales. Uma mistura de ervas e flores azuis minúsculas com o cheiro ácido das rochas porosas
negras
que
cobriam
o
chão,
como
peças
esquecidas do passado. — Não acho que já estive nesta parte de nosso território antes. — Disse Llyr. — Muita gente não vem aqui. — Respondeu Mede. — Não há nada aqui, mas as terras são um bom pasto para os ceffyl. O território é protegido. Nada de caça. Não há razão para vir aqui. Llyr agachou e pegou uma pedra negra. Ele seguroua na mão. — Nunca vi pedras afaníticas como estas também. — Afaníticas? — Ela franziu o cenho.
106
— Vê os grãos finos? Isto ocorre quando as rochas esfriam rápido nas altas temperaturas. — Passou o dedo pelo centro da rocha. Observou o tato, cativada pela ponta do dedo. — Gosta de rochas? — Gosto de ler. — Admitiu. Llyr deixou cair sua mão, mas manteve a rocha, como se fosse ficar com ela. — Você disse antes que comerciamos rochas em troca de noivas. Na verdade comerciamos minerais, não simplesmente pedras. O minério é uma grande parte de nossa economia planetária, pelo que li sobre o tema. Depois li sobre estas rochas e minerais. Então li sobre a transformação do minério em combustível. Depois sobre os motores que usam este combustível. Mede levantou a mão para a rocha. Ele a olhou inquisitivamente antes de entregá-la. — Deveria ter lido sobre nossas leis. — Deixou cair a rocha no chão. — Esta terra está protegida, o que significa que pegar pedras está proibido. — Apenas se eu for pego. — Llyr deu um passo audaz para perto. Seu olhar desceu para os lábios. — Não iria me denunciar, verdade? —
Qual
seria
o
ponto?
—
Ela
arqueou
uma
sobrancelha. Era difícil atuar indiferente quando ele estava perto. Imaginou que podia sentir o calor de seu corpo. Seus 107
olhos foram a seu peito, ao cristal rachado. Sem saber porque, ela tocou levemente a pedra fria. Havia apenas alguns centímetros entre eles quando tocou o cristal com seus dedos. — Tenho a sensação de que não seria preso pelo delito. — Está dizendo que poderia usar minha posição para quebrar a lei? — Estendeu sua mão para cobrir a dela. Seus nervos saltaram a vida. — É possível que não queiram fazer isto com seu pai vendo. — Disse Tomos casualmente enquanto passava por eles. — Parece irritado. Muito irritado. Mede soltou a mão rapidamente. Ela deu a volta para ver seu pai, de pé perto da entrada da pequena caverna. Os braços de Axell estavam cruzados sobre o grosso peito. Podia ver porque pensavam que seu pai era intimidante. Raramente sorria e tinha um gênio seco que deixava
os
outros
ponderando
sobre
o
verdadeiro
significado. Mede sorriu e correu adiante. Sobretudo, afastou-se de Llyr. Precisava colocar distância entre eles. — Alguns dos ceffyl do palácio parecem ter comido flor solar. — Disse Mede. Fez uma pausa para beijar seu rosto. — O príncipe Llyr os trouxe para que você olhe. Precisava de um guia para encontrá-lo e mamãe me enviou.
108
— E comeram depois? — Perguntou Axell. Ele colocou sua mão com carinho no ombro de sua filha e assentiu em saudação. — Acho que sim. — Respondeu Mede. Flores solares matavam as criaturas de fome quando combinada com outros alimentos no processo digestivo, deixava-as doentes com as toxinas liberadas. O verdadeiro problema era que um ceffyl podia encontrar uma flor solar em um grande terreno, como um agricultor com seu licor no pântano. — Mostram sintomas clássicos. — Vou comprová-los. — Seu pai suspirou forte. — Verifique o recém-nascido para mim. — Vivo? — Perguntou. — Sim, esta manhã mais cedo. Está um pouco doente. — Seu pai indicou que deveria entrar na caverna. — É sorte que tenha vindo. Quando menos tempo esperar para se unir aos demais, mais chance de sobreviver terá. Entrou na caverna e encontrou o bebê ceffyl no saco de dormir de seu pai. A caverna era pequena, com o chão de pedras. Inclusive com uma pequena fogueira, a luz era tênue, mas podia ver facilmente. O ceffyl bebê gostava de temperaturas mais frias e ambientes mais escuros. A carinha da criatura assomou fora da pequena abertura do saco de dormir. Sua longa língua estava para fora e estremecia com cada respiração. Mede sentou-se no 109
chão de terra e moveu o pacote sólido para seu colo. Coçou suavemente a protuberância na cabeça do animal, onde um chifre iria crescer mais tarde. Fez um ruído feliz e esticou as patas rechonchudas contra o lençol. — É uma pequena fera. — Sussurrou em voz baixa. — Abra os olhos. A criatura obedeceu lentamente sua gentil insistência. Olhos marrons encontraram os dela. — Boa pequena fera. *** Llyr ouviu a carinhosa voz de Mede enquanto falava com o ceffyl. Emoção crua fez um caminho instável por cima de seu corpo. Era impossível se mover. A ternura deu luz a um intenso anseio. Sua mão se moveu de forma automática por baixo da túnica para chegar a seu bolso. O cristal estava quente e sabia que brilhava. O zumbido de energia que vinha dele irradiava para sua mão. Sua palma ardia, o poder queimava sua pele. — Teria sido melhor não lhes dar comida até que digerissem as flores solares, pelo menos três dias. Llyr deu uma leve sacudida de surpresa e soltou a pedra no bolso quando se virou para enfrentar o pai de Mede. Ele sempre respeitou Axell e não importava sua natureza rude. 110
— Não devem comer as flores. Axell olhou para a caverna onde estava sua filha e logo de volta ao príncipe. — Oh, as flores solares. — Llyr rapidamente moveuse, obrigando seu cérebro a funcionar. — Não tinha certeza se comeram alguma. Tenho dois rapazes constantemente procurando-as, mas crescem como erva daninha pelo palácio. — Diga-me, como ninguém reconheceu que estavam doentes por causa das flores? Como você mesmo disse, crescem como erva daninha no palácio. — Axell o observou. Llyr não podia encontrar o olhar perceptivo do homem. — Por que veio aqui de verdade? — Perguntou Axell. — Ouvi rumores de que os Var estão se aproximando das fronteiras. Supunha que nossos jovens na fronteira tenham dado um pouco de trabalho. Llyr olhou de novo para a caverna, ouvindo Mede. Pensou na noite que ela foi introduzia a Ordem. — É mais do que isto? — O homem franziu o cenho. — Se veio para pedir mais filhotes de ceffyl, não posso acelerar o processo. Não há mais filhotes em meu rebanho. Dentro da caverna Mede falava suavemente com o animal como se fosse seu próprio filho. 111
— O que está fazendo Mede ali? — Perguntou Llyr. Axell riu. — Ah, então não veio aqui por mim. Ao menos diga que não alimentou os animais de propósito. Llyr riu, sabendo que o homem estava brincando com ele. Axell sabia que nunca machucaria um animal. Olhou tímido para o chão. — Ela está ajudando na união com os demais animais. — Disse Axell. — São mais sociáveis com as pessoas quando são recém-nascidos, mas precisam de um lugar tranquilo. — O homem o observou. — Mede tem uma fraqueza pelos animais. Você deve entrar e oferecer ajuda. Pode deixar os animais doentes comigo. Irei me assegurar que purguem as flores. Llyr sorriu, agradecendo o conselho. — E Tomos lhe ajudará com os ceffyl antes de irmos para a Vila de Minério. Esta é nossa próxima parada. Ele tem
família
ali.
Lady
Grace
também
pediu
que
trouxéssemos comida. — Minha esposa, sem dúvida, enviou o suficiente para alimentar todo o exército Draig. Você deve se unir a mim para uma refeição antes de ir. Llyr assentiu. — Com prazer. 112
— Obrigado. Gostaria de passar algum tempo com minha filha, mas neste caso... — Axell olhou para a entrada da caverna. — Diga a Mede que precisa de um guia fora do vale. Mas tenha a honra de um príncipe ou... — Você virá atrás de mim como qualquer pai faria? — Não. — Axell negou com a cabeça e colocou as mãos nos ombros de Llyr. — Minha filha pode prendê-lo nas minas e deixar onde ninguém o encontraria. Este dragão tem temperamento. Llyr riu nervoso. — E é possível que queira envolver esta pedra em seu bolso com algum material mais escuro. Quando está parado nas sombras posso vê-la brilhando através da túnica. Llyr sem necessidade olhou para baixo. — Posso explicar. — Não precisa. Conheço minha filha. — A risada brusca de Axell foi baixa enquanto pegava um pacote perto da entrada da caverna. Colocou a mão no pacote e tirou um pedaço de tecido antes de entregar à Llyr. — Desejo sorte, príncipe. Irá precisar. Llyr observou o homem enquanto caminhava para os ceffyl doentes. Envolveu o cristal no tecido antes de colocálo novamente no bolso. Uma pequena onda de culpa se 113
apoderou dele, mas não se atreveu a mostrá-lo ainda. Ele queria que ela soubesse de forma inata que estavam destinados a estarem juntos. Era fácil descobrir onde Mede estava na caverna. Seguindo o brilho sutil da luz do fogo, encontrou-a sentada no chão com o filhote em seu colo. Um olhar para baixo ao seu lado assegurou que o brilho estava escondido. — Aí está meu doce amor. Não sei como não vi antes. — Disse. Llyr ficou todo rígido ante suas palavras. — Tudo tem sentido, não? — Continuou. Seu coração acelerou e buscou ansioso no bolso, para ver se mostrava seu destino. Será que era isto? Ela iria ver. Ela viu. — Saia! — O tom de Mede era baixo. — Sua inquietação está rompendo minha conexão. Llyr percebeu que as palavras não eram para ele. Ele soltou uma leve gargalhada de si mesmo por atuar como um tolo. — Aí está o lugar. — Continuou falando com o animal. — Pode me mostrar como se faz? — Perguntou Llyr.
114
Mede assentiu sem olhá-lo. A luz do fogo acariciava sua pele com tons laranja. Ele se aproximou mais. Segurou o filhote em suas pernas cruzadas enquanto olhava em seus olhos. Llyr sentou-se junto a ela, de propósito tocando suas pernas. — Eles não podem ver muito bem nesta idade, assim precisa se assegurar que sua cara esteja perto. — Mede manteve a voz suave e tranquila. — Não importa o que diz, mas como diz. E este gosta quando acaricio o lugar onde nascerá seu chifre. — Mede deslizou o dedo para trás e para frente na cabeça do filhote. — Como esqueci este lugar? Sim, gosta disso. Devemos dar ao príncipe uma oportunidade? O animal deslizou a língua. A longitude larga e fina lambeu seus braços ainda no colo de Mede. Ela finalmente rompeu o contato visual e sorriu. — Viu isto? Funcionou. Ele gosta. — Como não gostar? — Llyr tocou o rosto de Mede. Ela interpretou mal o gesto e empurrou o animal nos braços. — Quando te lambe, você cria uma conexão para vida toda com ele. — Mede bateu em seu braço e se levantou. — Não vai ficar? — Começou a ficar de pé, mas a criatura se agitou em seus braços com um ruído de protesto. 115
— Funciona melhor se estiver sozinho. — Saiu da caverna. Llyr suspirou. Logo olhou a pequena criatura em seus braços e disse. — Vai ter que me ensinar seu segredo. Estar com ela durante dois segundos e já está unida a você. O animal fez um estranho som de grunhidos e golpeou as patas contra o peito de Llyr. Llyr arqueou a sobrancelha e soltou uma leve gargalhada. — Tudo bem. — Esfregou a cabeça da criatura como viu Mede fazer. Ao instante o animal de acalmou. — Tente manter seu segredo, ceffyl.
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Capítulo Sete Havia muito a dizer sobre as tardes no vale. Lembravam a Mede sua infância, de correr para tocar uma rocha irregular e depois voltar, já que seu pai treinava sua velocidade. Apenas mais tarde percebeu que era para que parasse de olhar sobre seu ombro e fazer perguntas. A luz da fogueira brilhava suavemente da clareira de terra. O fogo era mais para o calor que luz. Mede inalou um pouco de ar fresco. Os pastos desprendiam um cheiro sutil de baunilha doce. Ficaria apenas mais uma hora antes de desaparecer. Em todo funcionamento do deserto, nunca encontrou um cheiro parecido em nenhum outro lugar do planeta. — Gosta dele. — Declarou Axell sorrindo. Mede olhou seu pai e logo olhou onde Llyr estava com o filhote ceffyl. Llyr se movia para colocar o animal para baixo. A criatura protestou chutando seus pés. O príncipe se rendeu e o ajustou nos braços. O filhote num instante ficou quieto. A risada de Mede se uniu a de seu pai. Axell colocou a mão na bolsa de comida que sua mãe enviou e lhe entregou o pacote de tecido. A forma e o peso eram familiares para ela e sorriu a espera, inclusive antes de abri-lo. Enquanto abria uma parte para revelar a massa 117
recheada de carne e parou a meio caminho de uma mordida quando viu Llyr olhando-a. Tinha um estranho olhar em seu rosto, que ela não podia decifrar. Fechou a boca sem morder, olhou sua comida e logo estendeu sua mão para ele para que pudesse comer sem soltar o animal. A ação a obrigou a inclinar-se adiante. Separou os lábios lentamente, mas ele não abaixou os olhos. Ela tremeu nervosa enquanto observava a comida entrar em seus lábios. —
Bem.
—
Disse
Axell
limpando
levemente
a
garganta. — Vou ficar ou a pequena vai começar a pensar que é sua mãe. Eu tenho um vínculo com esta pequena fera. Ela será uma das criaturas mais sociáveis que já vi desde há muito tempo. — Pegou o ceffyl, que protestou, dos braços do príncipe afastando-se para longe e os deixando sozinhos. Mede rapidamente afastou o olhar de Llyr. O que estava fazendo? Seu coração estava acelerado e sua cabeça lhe parecia como se estivesse em círculos e, no entanto, tinha que parar de girar. Ela se perguntou se o cristal rachado, de alguma forma, parou de funcionar corretamente, porque sentia uma atração por Llyr. Era feroz e quente, ela suspeitava
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que se não colocasse distância entre eles, logo algo aconteceria. O destino era muito claro. Não estavam destinados a ficarem juntos como marido e mulher. Mas estavam destinados a ficarem juntos como algo mais? Mede sabia que os homens do planeta encontravam, muitas vezes, prazer físico com mulheres solteiras de outros mundos. Neste mundo ela era a única mulher solteira e assim não era uma opção. Mas, o que aconteceria se...? Ela não entendeu o olhar de Llyr quando estendeu a carne que ele mordeu Seu dedo roçou o dela quando o pegou. O choque do breve contato abriu caminho por seu braço. Ficar ou correr? Seu corpo implorava para ficar. Para tocá-lo uma vez mais. Duas vezes mais. Três... Sua mente começou a correr. Isto era exatamente o que nunca quis sentir. Acabou de se unir aos Dragões Mortos, ela mesma demonstrou ser um da elite. Ela era primeiro um dragão. Sempre um dragão, não uma mulher. Não como sua mãe. Ela era feroz e independente. Tinha a alma de um guerreiro. Ela... Não podia deixar de olhar seus lábios, não podia afastar a sensação de formigamento nos dedos onde 119
entraram em contato. A guerra dentro dela lhe dava vontade de gritar. Seus olhos cheios do brilho da luz do fogo. A atração magnética piorou. Era como se todos os deuses brincassem com ela. Malditos deuses. Maldito príncipe. Maldita traição de seu corpo e mente. — Tenho certeza que Tomos gostaria de ir para a aldeia ver sua família logo. Não é uma viagem longa. — Disse Mede em um esforço para incentivar o príncipe a ir mais rápido. Ficar sozinha com Llyr era muito difícil manter a compostura. — Pensei que gostaria de passar um tempo com seu pai antes de irmos. — Respondeu Llyr, não parecendo que iria sair com rapidez. — Planejei ficar com meu pai para ajudá-lo, enquanto você vai até a Vila de Minério. — Disse. — Seu pai insistiu que nos mostrasse o vale. — Seu sorriso encantador estava intacto. Perguntou-se se podia evitar olhar. Nascer como um futuro rei, provavelmente lhe dava a confiança que irradiava de cada gesto e olhar. Ossos dos deuses, era um olhar sedutor. — Como nosso príncipe não pode andar sozinho por nosso vale? — Perguntou Mede. 120
— Talvez queira companhia. — Disse. — Talvez eu tenha planos importantes que está interrompendo. — Ela respondeu. — Tomos vai me abandonar por sua família e não quero interferir. Pensei em explorar as minas. — Llyr lançou um olhar significativo ao redor. — Sem dúvida, um companheiro Dragão Morto não seria adverso à aventura. Ante a menção das minas, se sentou um pouco mais reta pelo entusiasmo. — Nunca estive nas minas. São perigosas e restritas aos mineiros. — Vou contar um segredo. — Sussurrou inclinando-se para ela. Ela se moveu automaticamente mais perto para ouvi-lo. — Sou um membro da família real. Posso ir quase a qualquer parte que quiser e com quem quiser. Sua respiração tocou sua bochecha. A caricia parecia como fogo sob sua pele. Encontrou-se assentindo. — Maravilhoso. — Llyr manteve a voz baixa. — Vou desfrutar de encontrar problemas com você. — Vou ficar com o ceffyl de Tomos. — Axell anunciou. Mede ofegou e se afastou de Llyr. Seu pai estava de pé ao lado do fogo, observando-os. Mede piscou, tentando recuperar seus sentidos da nevoa que se assentou sobre ela. Abriu a boca para 121
balbuciar uma desculpa para seu comportamento, mas não teve a oportunidade de falar. — Sua filha concordou em me mostrar a rota mais rápida para Vila de Minério. — Disse Llyr. — Mede tem um bom sentido de orientação. — Disse seu pai. As palavras foram baixas e inclusive o orgulho por sua filha era evidente na forma que um leve sorriso tocou o canto de sua boca. — A menos que precise de mim aqui. — Mede impulsionou. Não tinha certeza de que resposta esperava. — Adoraria sua companhia, mas não. Não há nada para fazer aqui, além do recém-nascido. — Axell se sentou e se serviu de carne. — Sua esposa é incrível, com comida. — Disse Llyr. Axell assentiu. Soltou um leve suspiro, como se sentisse falta de sua companheira. — Ela é uma esposa doce, caridosa e um amor perfeito. Sou verdadeiramente um homem abençoado pelos deuses. Mede escondeu seu cenho franzido. Seu pai quase citou as características que Mede não herdou. — Ela a ensinou a cozinhar? — Perguntou Llyr para Mede. 122
Axell riu forte e começou a bater a mão em seu joelho. — A única tentativa de Mede na cozinha foram biscoitos que ficaram duros como pedra, tanto que pode usá-los para acertar alguns garotos da aldeia com eles durante os jogos de guerra. — Não tentei deixá-los duros como pedras. — Mede sussurrou. — Apenas aconteceu. — Pelos deuses, juro que tentei comer um e quase quebrou meus dentes. — O sorriso de Axell aumentou e riu com mais força. Mede adorava o som da risada de seu pai, ainda que a causa fosse seu fracasso na cozinha. — Faço outras coisas. — Mede disse em sinal de protesto. Axell limpou uma lágrima do canto do olho. — Não se preocupe príncipe, vou compartilhar minha comida com você. Não precisa morrer de fome em sua viagem. Llyr riu e agradeceu. Mede fez uma careta amarga e estendeu a mão. — Posso ter minha carne agora? Axell colocou a mão na bolsa e lançou a comida em sua direção. Ela a pegou com uma mão. 123
— Por isto que não quero me casar. Se continuar em casa não precisarei cozinhar e nem cozer ou qualquer outra destas tarefas tediosas de esposas. — É melhor que não diga isto a sua mãe. — Axell advertiu brincando. — Ela vai acabar com a comida mais rápido que um dragão cuspindo fogo. *** — Gosto de seu pai. — Llyr disse enquanto abriam caminho pelo campo. — Ele é um bom homem. — Ela concordou. — São suas habilidades na cozinha tão ruins? — Estaria mentindo a si mesmo se não admitisse que a revelação o decepcionou um pouco. A comida de sua mãe era a coisa mais deliciosa que provou. — Não vou morrer de fome, mas não são nada demais. — Mede não olhou para ele. Manteve-os adiante enquanto chegavam às rochas proeminentes. Ela apontou para cima. — A forma mais rápida e sem ceffyls está ali acima. Llyr a viu mudar para sua forma de dragão e saltou no ar. Dragão, humana, não importava a forma que tomasse, ela era linda. Ouviu os passos de Tomos se aproximando dele. O homem também mudou de forma para que pudesse saltar facilmente pela rocha. O coração de Llyr acelerou. Soltou um grunhido baixo quando a dura 124
pele do dragão cobriu seu corpo. Mudar esfriava seu desejo sexual um pouco, mas não diminuía a conexão que sentia com Mede. Quando aterrissou sobre uma rocha, viu que Mede estava adiante, saltando de rocha em rocha, antes de finalmente aterrissar no caminho mais alto e fazendo a execução completa. Sem ficar atrás, a seguiu com entusiasmo até a rocha, fazendo um caminho diferente do de Tomos. Uma parede de pedra e terra passou junto a seu braço e do outro lado registrou um precipício. Não iria matá-los, mas uma queda assim causaria algum dano, mesmo em sua forma de dragão. Havia suficiente espaço para correr em fila indiana. Com Tomos entre eles, Llyr via apenas a cabeça de Mede e as pernas largas enquanto corria. *** Mede olhou por cima do ombro para ver Llyr aproximar-se dela. O estreito caminho aberto em um bosque levava ao povoado. O terreno era pouco familiar, mas conhecia a direção. Logo ela deveria ser capaz de pegar os sons dos mineiros e suas famílias, o que ajudaria a guiá-la o restante do caminho. Correu mais rápido, seu coração tão acelerado que quase explodia fora do peito. Esquivando algumas plantas, quase tropeçou com uma pilha de galhos caídos. Mede ficou sem fôlego pela surpresa e patinou até parar justo a tempo de
evitar
se
empalar
no 125
galho
quebrado.
Pequenos
filamentos a acertaram, mas não doeu. Ela se empurrou para trás apenas para descobrir seu cabelo enredado nos galhos com espinhos amarelos. Com mais vergonha que outra coisa, ela puxou as mechas para soltá-lo. — Calma, Mede, deixe-me ajudar. — Disse Llyr. Respirava com força. — Príncipe? — Perguntou Tomos, parando perto. — Dê minhas saudações a sua família. Vamos acampar nas minas esta noite se precisarem de algo. — Llyr gritou com voz rouca. Os olhos de Mede encontraram os seus. Sozinhos? Toda a noite? — Muito bem príncipe. — Disse Tomos. Ouviu o homem continuar sua corrida. Llyr
mudou
novamente
a
sua
forma
humana,
incentivando-a a fazer o mesmo. Seria mais fácil soltar seu cabelo com os dedos em lugar de garras afiadas. — A menos que esteja com medo de dormir em uma caverna. — Disse, puxando suavemente as mechas de seu cabelo, soltando-as. — Por que deveria ter medo de uma caverna? —
Trolla,
a
protetora
das
minas,
não
tolera
amavelmente outros que não sejam os mineiros em seu território.
126
Llyr soltou a última mecha, mas não a liberou de imediato. Deslizou os dedos sobre seu cabelo. — Não temo nenhuma mulher. — Disse Mede. — Na verdade, não tem medo do confronto, certo? — Llyr riu. — Trolla é uma deusa. — Não. Não tenho. — Mede sorriu ante o elogio. — Mas se uma deusa se revelar e nos pedir para sair, prometo ir sem uma luta. Llyr colocou seu cabelo atrás do ombro e deixou a ponta do dedo se arrastar sobre a pele do pescoço. Traçou um caminho claro onde o cristal estaria se ela não o houvesse destruído. — Tenho a sensação de que mesmo os próprios deuses não poderiam lhe dizer o que fazer, minha dama. — O nome é Mede. — Ela respondeu por costume, mas as palavras faltavam a força habitual. — Mede. — Sussurrou. Sua voz era mais íntima que uma caricia. Os sons do bosque ficaram altos ao seu redor, os gritos e movimento desenhando seu feitiço. Estremeceu e se afastou, sem saber se poderia ou não colocar distância entre eles. Antes que pudesse responder, um bando de pássaros vermelhos desceu, até as espinhas amarelas e as arrancou do galho. Mede soltou um leve som de surpresa e saltou 127
para
trás.
Foram
tão
rápidos
como
chegaram,
desaparecendo entre as arvores. — A cidade está tranquila. Vamos. — Llyr agarrou um pacote que devia ter caído quando foi ajudá-la e logo abriu caminho pelo bosque. Caminhava a passo rápido, mas não correndo. Quando ia passar adiante dele, estendeu o braço e apontou. Uma pequena casa apareceu a vista. Luz brilhava desde dentro e viu uma sombra junto à janela. — Vá com calma. Não queremos alarmar as famílias da localidade. Fizeram
uma
trilha
curta
no
bosque,
onde
transitavam por décadas. A Vila de Minério se encontrava ao longo do vale rodeado por arvores e precipícios ao norte, justo depois de um barranco ao sul. A água fluía sempre dentro do vale. Ela concentrou sua audição na água caindo em cascata pela pedra. A cidade parecia uma estranha combinação de tendas e casas recém-construídas. Era evidente que tiveram cuidado em onde colocar as casas. Agrupavam-se em um padrão próprio, em uma linha de quatro casas separadas por ruas laterais. Algumas casas estavam ainda em construção, como se houvessem começado no centro da cidade e simplesmente abriam caminho para o exterior. No entanto, as tendas ao redor da aldeia eram mais casuais,
otimizava
espaço
e
muito
provavelmente
bloqueava o vento dos precipícios. Caminhos de terra 128
convergiam em uma estrada principal que conduzia às casas. As ruas eram de terra, mas os caminhos até as casas estavam cheias de pedras recortadas. Um pequeno grupo de homens Draig caminhava até as
tendas.
Suas
risadas
cansadas
chegavam
tranquilamente e saudaram Mede e Llyr quando passaram, mas não pararam. Iam vestidos com calças largas de cordões e camisa túnica, cobertos de terra das minas. Apenas seus olhos e bocas estavam limpos onde mais provavelmente
usavam
óculos
e
respiradores
para
trabalhar. Llyr se afastou da cidade até um largo precipício. Arbustos e árvores grossas preenchiam a paisagem abaixo, assim era muito difícil ver o quão profundo era realmente. A água que ouviu antes era na realidade uma cascata. Golpeava abaixo sobre as pedras e fazia eco ao redor dos precipícios como um trovão constante. A mão de Llyr em seu braço a fez olhar para ele. Ele assentiu com a cabeça a uma clareira antes de passar e saltar acima e logo desapareceu do outro lado. Ela o seguiu, descobrindo uma abertura de uma caverna atrás do véu de videiras verdes brilhantes. Ele ficou de lado para ela passar. Quando as vinhas caíram atrás deles, criou uma parede que bloqueava a água. Capaz de falar sem gritar, ela mudou a forma humana e perguntou. 129
— Estas são nossas grandes minas de minério? Olhou ao longo das paredes da grande caverna, tentando ver a fortuna Draig nas paredes de pedra azul misturada com cinza prateado. A formação de cristais gigantes bloqueava a rota, já que imitavam árvores caídas e grossas. Mede passou a mão pela superfície lisa, vendo sua mão ficar vermelha, já que a luz brilhava através de seu corpo. Llyr saltou e estendeu sua mão para ela. Ela o ignorou, seu dragão não precisava de ajuda para cruzar. Subiram
pela
formação
de
cristais.
Quando
estavam
novamente no chão da caverna, Llyr se moveu para trás e sorriu. — Sim, são as minas. — E é mineral combustível? Prata? — Mede apontou a parede onde a prata brilhante corria de lado como se entrasse mais fundo. Quando ela se aproximou, apenas podia distinguir seu próprio reflexo. O rangido das rochas soltas atrás dela assinalou sua posição, mas ela não precisou olhar para saber que ele estava atrás dela. Ela o sentia. Era como um farol inato dentro dela que apenas sabia onde estava a todo momento. — Não. O minério fica mais profundo. Venha comigo. Quero lhe mostrar algo. — Llyr não a tocou, mas não precisava fazê-lo. Cada roce de seus corpos queimava sua 130
carne, sua mão no braço no acampamento da Ordem, seu corpo junto ao dela quando desmaiou em seus braços, seus dedos quando comeu de sua mão. — Llyr? — Sussurrou ela, insegura. — O que estamos fazendo aqui? — Acampando. — Respondeu simplesmente. — Você sabe que não é o que quero dizer. — Ela respirou fundo. Tinha que sentir o que sentia. Como não poderia? Era muito poderoso. — Apenas venha comigo. Por favor. — Ele se afastou vários passos antes de voltar e dar a volta para adentrar mais. A caverna se estreitou e caminharam até a caverna natural que se convertia em um túnel artificial. Em lugares que a água se movia sobre eles, detectável pelo suave fluxo, fazendo eco em uma corrente subterrânea. — Se você estiver me levando para algum tipo de sacrifício para Trolla, vou ficar muito irritada. — Disse ela, tentando fazer uma piada. — Aí está ela. Pergunte você mesma. — Llyr apontou a uma fêmea dragão aterrorizante que foi gravada na parede. Ela se mantinha de pé, rodeada por pequenos adoradores. Llyr olhou a pedra e logo Mede. — Eh, você se parece com ela, menos as asas. Tem sua essência, eu acho. Mede arqueou uma sobrancelha. 131
— Acaba de tentar me felicitar? — Não vai deixar que te chame de dama, assim vou chamá-la de deusa. — Respondeu brincando claramente com ela. — Cuidado ou Trolla te ouvirá. — Vamos ali. Teremos que engatinhar, mas vale a pena. Confie em mim. — Ele jogou sua bolsa para cima em um buraco estreito antes de entrar. Empurrando para frente, ele avançou. Mede vacilou, olhando ao redor da caverna. Ao ver Trolla olhando-a, sussurrou. — Humildemente pedimos sua proteção, muita. — Vem? — Gritou Llyr. Mede conteve a respiração enquanto entrava no espaço estreito. Não gostava da sensação de estar fechada e tentou se apressar. Ela fez um ruído fraco quando um inseto de seis patas quase tão grande como sua mão se lançou fora dela para entrar em um buraco. A rocha pressionou ao seu redor e ela fechou os olhos. De alguma forma se empurrou adiante e apenas abriu os olhos quando ouviu Llyr cair para o chão. Logo a ajudou sair do buraco e ficar de pé. Luzes diminutas dançavam ao seu redor como as estrelas em uma noite de névoas planetárias. As criaturas 132
bioluminescentes abriram caminho para deixá-los passar, estendendo-se longe até as paredes arredondadas. Llyr chutou a bolsa para o centro do lugar. — Nós acamparemos aqui. — Disse. — É notável. — Mede girou em círculos lentos antes de caminhar até a parede. Ela tentou tocar uma das luzes, mas as diminutas criaturas se espalharam fora de seu caminho e ela nem sequer podia distinguir sua verdadeira forma. — Nunca vi nada igual. — Os mineiros chamam pó de estrelas porque parecem estrelas e vivem no chão. Iluminam as minas e sempre viajam em grupos. — Estão brilhando. — Mede declarou o óbvio. — A bioluminescência. Eles produzem luzes para se comunicarem entre si. Ao menos isto é o que me disseram. Se caírem sobre você, é sinal de boa sorte. — Llyr se ocupou da bolsa, puxando sacos de dormir e colocando no chão. — Está com fome? Mede se aproximou dele. Ela lhe tocou o ombro. Llyr olhou surpreso. Quando ela não se moveu e nem falou, ficou de pé lentamente. — Não estamos destinados a ficar juntos. — Mede apenas declarou um fato, no entanto, provocou uma onda de tristeza em seu interior. Enterrou a sensação e se obrigou a tocar a pedra latente. 133
— Então vá embora. Afaste-se. — Sua expressão dizia que não queria ir. Ela tentou. Seus pés não se moveram. Sua mão não saía de seu ombro. — Não posso. — Então fique comigo e me dê um beijo. — Llyr, pode ver tão bem como eu que não vamos nos casar. Seja o que for, não pode durar. Trabalhei muito duro por minha reputação. Não posso... — Mede, não tenho nenhum desejo de arruinar sua reputação. Ninguém vai saber nada sobre esta noite se não contar. Dou minha palavra como um príncipe, como dragão e como homem. Desde o primeiro momento quis beijá-la, mas não vou forçá-la. Aconteça o que acontecer será como você quiser. — Vacilou ao tocá-la. Quando ela não se afastou, seus dedos correram sobre sua bochecha. — Não pense no casamento, nos deuses e os cristais. — Tirou o colar e o deixou cair na bolsa aberta antes de voltar a acariciar seu rosto. Os dedos deslizaram pela garganta, sentindo o pulso martelar em seu pescoço. — Não pense na sorte ou a reputação, inclusive no mundo fora deste lugar mágico. O que quer? O que sente? Mede não pode se conter. Ela apertou os lábios contra os dele. Toda a preocupação e dúvida sumindo com o toque da boca dele. A partir deste primeiro segundo 134
deixou de lutar contra seus sentimentos por ele. Eles a encheram
totalmente,
queimando
seu
estômago
para
enchê-la de fogo e necessidade. Antes que pudesse pensar no que estava fazendo, seus dedos se apoderaram de sua camisa e estava puxando-a para tirá-la. Llyr rompeu o beijo e amavelmente tirou a camisa. Deixou cair no chão e voltou para o beijo. Desta vez, ela tocou a pele nua. O calor dele combinado com a suave textura de sua pele a hipnotizou quando explorou toda a longitude de seu peito e costas. Seus dedos tocaram a cicatriz dos Dragões Mortos e se afastou. — Você não ficou para me ver ganhar minha marca. — Disse ela, seu olhar indo para os lábios úmidos antes de olhar em seus olhos. — Foi durante minha cerimônia de honra. — Como pode me culpar por isto? Tanto como queria, de verdade acha que poderia ficar de lado e ver sua pele linda ser marcada? Fui embora porque era em sua honra. Não precisava que eu arruinasse sua marca porque não podia suportar a ideia de estragar este corpo seu. — Então não tinha nada a ver com eu ser mulher e pensar que sou indigna? — Indigna? Não, minha dama. — Llyr corrigiu rapidamente. — Mede. Fui embora porque seria obrigado a
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levantar sua camisa, teria me envergonhado e desonrado grandemente. Deslizou a mão ao redor da parte baixa de suas costas, onde a cicatriz curada estava por baixo da camisa. Um leve e feliz sorriso escapou. — Você ganhou a marca. Ainda não sei como conseguiu pelar um membro da corte real. — Ele começou a se inclinar para ela, apenas para se afastar. — Como conseguiu? Mede fez uma careta. — Não quero contar. — Prometo que seu segredo está a salvo comigo. Não enganou ninguém, verdade? — Claro que não. Eu consegui esta noite. É apenas que... — Ela fez um ruído fraco e logo rodou os olhos. — Bem. O gato me deu. Queria lutar por ela, mas se negou. — Ele lhe deu...? — Sim. Deu-me. E não havia nenhuma regra quanto à forma de obter o prêmio, apenas que precisava fazê-lo. Eu estava correndo pelo bosque e encontrei o agricultor bêbado no pântano. Estava a ponto de tirar um pedaço dele como todos, o que não seria um desafio, quando ouvi uma mulher gritar. Naturalmente fui ajudá-la, mas então, encontrei um Var. Conversamos. Parecia muito interessado 136
no fato de eu ser uma fêmea dragão. Disse que precisava da pele e deixou-me cortar a sua. — Quase na defensiva acrescentou. — Negociação precisa de mais habilidade que a força bruta. —
Apenas
assim?
Você
pediu
e
ele
lhe
deu
livremente? — Bom, ele... — A voz de Mede desceu a um murmúrio. — O que? — Ele me beijou, está bem! — Mede deu uns passos atrás. Sua mão deslizou de seu corpo. — Juro que não sabia que iria vir e terminou antes que pudesse levantar minha faca. Acho que era apenas curiosidade sobre mim porque sou uma fêmea dragão, como todos os homens sentem curiosidade por mim. Apenas sou algum prêmio, uma joia especial, rara que pode ser possuída. A expressão de Llyr endureceu. — Ele te beijou? — Por que está irritado? Não é que o conhecia. — Ela cruzou as mãos sobre o peito. — Não é como se corresse por aí procurando homens para beijar. — Este Var se atreveu a tocá-la sem sua permissão? — Llyr respirou com força. Cada segundo que passava
137
podia ver sua ira aumentando. — Eu o matarei. Vou caçar seu traseiro felino fedido e vou pendurá-lo e matá-lo! Quando Mede percebeu que sua ira não estava dirigida a ela, relaxou. — Não foi nada. Menos que nada. E sem dúvida nada pelo qual vale a pena uma guerra. — Ele se aproveitou de você. — Llyr apertou as mãos em punhos. — E posso cuidar de mim mesma. — Mede colocou a mão em seu peito e lhe deu um olhar severo. Ela sentiu seu coração bater selvagem sob seus dedos. Sua ferocidade a excitava ainda mais, junto com seu olhar protetor. — Sei que pode cuidar de si mesma, é apenas que é... — Uma mulher? — Ela empurrou seu peito. Ele cambaleou um pouco, mas não caiu. — Minha mulher. — As palavras foram suaves e ele olhou suas mãos. Estava nervoso como se fosse pegar algo dentro do bolso. Mede agarrou suas mãos e a segurou entre as suas. Os homens possessivos e arrogantes diziam tantas coisas. Ela
sabia
que
ele
era 138
capaz
de
tal
arrogância
e
possessividade, mas não a olhava como um objeto. Seus olhos tinham uma paixão agitada por ela. Mede respirou fundo. Ela podia ter lhe lembrado que não pertencia a nenhum homem. Poderia ter dito que o cristal não estava latente. Ela poderia ter rido e fazer uma cara boa. Em troca, ela não fez nenhuma destas coisas. Em sua inquietude, algumas criaturas bioluminescentes se aproximaram, pulando ao redor. — Mede, tenho que dizer, você... — Shh. — Ela negou com a cabeça. — Sem mais falar. Olhe onde estamos. Não olhou para a caverna. Em troca, seu olhar vagou por seu rosto. Mede deixou cair as mãos e se inclinou para beijá-lo. Um gemido escapou enquanto deslizava a língua pelos lábios, separando-os. Ela respirou fundo e seu cheiro a encheu. Ela não era de fugir de uma aventura e sempre foi atrás do que queria. Neste momento, isto era o que queria, era o que ela queria. A paixão surgiu entre eles em um frenesi de roupa sendo tirada e caricias ansiosas. Llyr levantou sua camisa sobre a cabeça. Fez uma pausa para desfrutar da roupa interior que usava. Uma tira de tecido que a envolvia para suportar o peso de seus seios, cobrindo a parte superior até a
cintura.
Um
gemido
baixo
de
aprovação
escapou
enquanto segurava o montículo de carne sensível. Ele roçou 139
o mamilo ainda escondido sob a tela antes de enganchar os dedos na parte superior para puxar a alça sobre seu ombro. Como se abrindo um presente, tirou o tecido lentamente por seu corpo e ficou de joelhos diante dela. Quando tirou sua roupa interior, também se apoderou de sua calça e a tirou pelas pernas, ficou de pé quase nua. Mede usou os dedos para tirar suas botas e colocar a roupa de lado. Llyr se levantou novamente. Este primeiro contato da carne quente com seu corpo nu foi um choque de prazer e surpresa. Ele a abraçou com força. Seu peito pesava com a respiração contra o peito dela. Ela sentiu a dura pressão de seu membro contra seu estômago. Mede cresceu em um planeta de shifters masculinos. Ela não era completamente inocente quanto à forma masculina e sua função. Instinto a encheu com o que faltava de conhecimento real. Seus corpos tomaram o controle por completo. Mãos vagavam por braços sólidos, pescoço e o peito quente, passando por sua coluna vertebral. Lábios absorviam a língua e a boca. Quadris buscavam avançar e se esfregar contra a longitude dura sob sua calça. Mede encontrou a cicatriz antes de descer mais e agarrar seu traseiro, deslizando os dedos pela parte traseira de sua calça. Ele gemeu e agarrou a cintura para soltar os cordões. O tecido deslizou pelos quadris. Não pode evitar sua curiosidade, rompeu o beijo e olhou para baixo.
140
Llyr aproveitou o momento para empurrar suas botas com os dedos dos pés e lançar o tecido ao redor dos pés. O eixo grosso se manteve de pé e se inclinava adiante
como
se
apontando
seu
estomago.
Ela
se
aproximou tocando a ereção firme e suave. Segurou o fôlego. Mede usou sua mão livre para segurar seu pescoço e puxá-lo para frente. Beijaram-se novamente, mas desta vez
os
movimentos
se
viram
obstruídos
por
suas
respirações fortes. Não tinha certeza de quem começou a descer para o chão, mas os dois se moveram ao uníssono para se ajoelharem em um saco de dormir. Mede o empurrou para ficar de costas. Ela deslizou seu corpo contra o dele, desfrutando do contato. Llyr colocou o joelho entre suas pernas para tocar seu sexo. O calor úmido de seu corpo a ajudou a deslizar e ela sacudiu com o intenso prazer do gesto. Ela soltou um ruído fraco e ficou rígida. Llyr a rodou sobre suas costas. Em uns momentos, ele estava entre suas pernas, empurrando seus quadris para frente para fundir seu membro dentro dela. A prensa dura contrastou com sua suavidade feminina, obrigando seu sexo a ceder. Ele levantou seus braços para segurar seu peso quando penetrou mais fundo. Mede arranhou seu peito
enquanto
tomava
toda
a
plenitude
dele.
estiramento doeu, mas o prazer superou tudo o demais.
141
O
A aventura a excitava e o que era isto senão uma aventura? Seu coração acelerou, sua respiração ficou ofegante,
seu
corpo
estremeceu,
seus
nervos
estremeceram, seu sexo doía. — Não imaginava que isto seria tão... — Llyr fechou os olhos com força e gemeu. Deslizou totalmente dentro dela e pressionou os quadris entre as coxas entreabertas. Ela podia sentir o pulsar em seu sexo. Quando ele não se moveu, ela se moveu sob ele. Llyr abriu os olhos. Seus lábios se curvaram como se a ação causasse dor física. Ele começou a se mover dentro dela, pouco profundo no início como se ambos provassem o ritmo e saboreasse o momento. O eixo aumentando a necessidade inata dentro de seu sexo e ela enviou os quadris para trás e acima para animar seus movimentos. Logo estava acelerando o ritmo e movendo seu quadril para frente com tanta força que sua pele batia contra a dele. — Por todos os deuses, não pare. — Gritou Mede. As pequenas luzes dançando ao redor de sua cabeça. A mudança do ouro irradiava de seus olhos e se imaginava que ela tinha o mesmo olhar liquido, quente e cheio de paixão. — Os deuses me ajudem. Eu te matarei se parar. Llyr bombeava seu quadril mais forte. Ele grunhiu com violência, abrindo a boca para morder o ar, como se o fato de não poder tocar seus seios e manter o ritmo de seus corpos o frustrasse enormemente. Mede nunca sentiu 142
algo tão intenso, nem sequer quando explorou seu corpo e aprendeu o funcionamento. Se soubesse que um orgasmo poderia ser tão poderoso teria, provavelmente, encontrado um companheiro de cama muito antes. No entanto, ela não acreditava que os outros dragões pudessem fazê-la se sentir tão bem como Llyr. Ela ficou rígida, arqueando as costas enquanto se aproximava. Os tremores a tomaram, tremia até a medula. Ela abriu a boca, um som agudo de liberação. Llyr empurrou algumas vezes mais antes de assentar-se duro e firme em seu interior. Seu corpo sacudiu com força. Durante muito tempo foram incapazes de se moverem. Quando por fim sua respiração se acalmou e ele saiu dela, deitou-se de costas. O frenesi de fazer amor excitou as criaturas
brilhantes
e
fervilhavam,
visualmente
em
contradição com o caos e a serenidade que sentia em seu interior. Seus ossos, sem dúvida, estavam líquidos. Seus músculos
relaxados.
Llyr
deve
ter
experimentado
as
mesmas sensações porque mal se movia, apenas colocou a mão sobre a dela. Nenhum dos dois falou. O que poderia ser dito depois disto? Mede ficou olhando as estrelas dançarem e sorriu. Pela primeira vez em sua vida, ela não se arrependeu de ter nascido mulher. *** Palácio Var, Sala de jantar 143
— Temos algo. Eu senti. — Attor olhou para seu pai quando o homem se atreveu a rir dele. Foi tão tolo ao pensar que poderia dizer ao rei seus planos para se casar com a mulher dragão. — Você quer se acasalar com um dragão? — O rei Auguste segurou seu ventre gigante que balançava de alegria. — Quer colocar um destes dragões em meu trono? — Não será seu por muito tempo. — Attor murmurou. Traçou o dedo sobre a pequena cicatriz que estava aparecendo ao longo de seu braço onde Mede o cortou. O comentário não foi baixo o suficiente, porque seu pai ouviu. Imediatamente seu pai se moveu e balançou-se sobre ele. Havia uma força surpreendente pelo tamanho do homem. Sua pele marrom claro escondia o nariz se avermelhando e os círculos sob os olhos. Lançou Attor contra a parede. — Acha que pode me ameaçar, garoto? Acha que é homem o suficiente para tomar meu trono? Attor estremeceu, odiando-se por tremer de medo ante o rosto mudado de seu pai. Ficou pressionado contra a parede. Quando mudava para um felino, seu pai quase parecia um homem feroz e orgulhoso. A máscara de pele escondia os sinais da gula, mas não podia esconder o estômago arredondado pela bebida.
144
— Isto foi o que pensei. — O rei Auguste o despediu com um gesto da mão. Deixou a mudança desvanecer de seu corpo. — Por que a mulher mais poderosa nascida neste planeta iria querê-lo? Tenho certeza que os Draig têm planos para ela. Por que eu iria conectar nossas casas? Eles nos deixam em paz. Nós os deixamos em paz. O planeta está em paz. Por que mudar o que funciona? Attor não se incomodou em mencionar que este sistema não estava funcionando para muitos dos antigos nobres da casa como Lorde Myrddin. Obrigou-se a ficar de pé, ainda que não desse um passo adiante. — Ela me quer. Inclusive me beijou quando eu a encontrei no bosque. Ela queria ficar comigo, mas me fez voltar para que pudéssemos fazer isto corretamente. Não posso buscá-la pelos canais reais sem sua benção. Tanto que estou pedindo por isto. Guardas do príncipe não puderam localizá-la. Se seu pai dissesse que não, Attor iria buscá-la por sua própria conta. No entanto, os membros da realeza Draig seriam capazes de encontrá-la muito mais rápido e poderiam salvá-lo da dor de cabeça. — Quer minha benção para ir ao rei dragão e pedir que lhe envie a única mulher Draig para ser sua noiva? Assim não é como se faz as coisas. Eles esperam que seus cristais brilhem para mostrar-lhes o caminho. — O rei grunhiu e se aproximou da mesa para tomar uma bebida. 145
— O rei Draig não mandará ninguém para se casar com você, porque é um Var e assim deseja. — Eu fiz seu cristal brilhar. — Attor mentiu. Não se lembrava de ter visto nenhuma pedra, mas na verdade não procurou por uma. Os Draig eram um povo primitivo e supersticioso. Apenas se inclinavam ante a vontade dos deuses. Isso fez a expressão de seu pai mudar. — O fez? Tem certeza? — Sim. — Attor deu um passo desafiante mais perto. — Seus deuses nos abençoaram. Agora apenas preciso de sua benção, meu rei. — Ele sabia que o ego de seu pai gostaria de estar no mesmo nível que os deuses, inclusive dos deuses dos dragões. Funcionou porque seu pai assentiu lentamente. — Por que não? Se for para ser assim, assim será. Tem minha permissão para recuperar a mulher Draig e fazê-la sua companheira. — Eu irei ao palácio Draig para fazer meu pedido. — Attor tentou ir, mas seu pai o impediu. — Não. Se é como você diz, irá ao Festival de Reprodução quando a noite chegar à terra e irá reclamá-la ali. Se quiser se casar com um dragão será melhor se assegurar que siga seus costumes, então eles não podem 146
negar e usar como uma desculpa para uma guerra. Depois da cerimônia, traga-a de volta aqui e então será sua responsabilidade se assegurar que saiba atuar como uma dama Var, não um dragão pagão. Era uma pequena concessão, mas Attor odiava assim mesmo. A única noite no ano? Isto não aconteceria durante semanas
ainda.
Não
queria
esperar
por
ela.
Queria
reclamá-la agora. Apertou os dentes. — Como quiser, meu pai. — Incapaz de suportar a presença
do
homem
por
mais
tempo,
caminhou
rapidamente até a porta. O rei bufou ante uma risada antes de gritar para seu filho. — Espero que seus filhos não se pareçam a ela. Assim terei os netos mais feios de todo o reino Var! Attor saiu ao som da piada. Ao ver um guarda no final da sala, pegou o homem desprevenido e o lançou contra a parede. O homem surpreso cambaleou, aturdido pelo impacto da pedra na cabeça. Attor aproveitou o momento e começou a golpear o felino no estômago e no rosto tão forte como pode. Mesmo quando o guarda era um caos sangrento no chão, não pode parar. Ao ver o rosto atônito de uma serva próxima, ele balançou os dedos e o sangue pingou no chão.
147
— Não se limite a olhar com a boca aberta para mim. — Grunhiu. — Limpe esta bagunça!
148
Capítulo Oito Llyr esticou as pernas, os músculos fortes mal se movendo. Um relaxamento profundo se instalou em seus ossos. Deixou que sua mente fosse à deriva, contemplando se caía no sono novamente ou acordava por completo. Algo fez cócegas em seu peito e abriu os olhos. Mede. Levantou a cabeça, esperando ver sua mão sobre ele. Em lugar disso, várias criaturas bioluminescentes caíram sobre sua pele nua, cobrindo-o com luzes suaves. Com cuidado para não assustá-los, pouco a pouco virou Mede que estava deitada junto a ele. Eles desabaram depois do sexo e dormiram profundamente, tão profundamente que praticamente não se moveram muito durante a noite. Ele esperava que as minas fossem mais frescas, mas a sensação térmica era quase perfeita. — Mede, não se mova. — Sussurrou. — Abra os olhos. Ela
obedeceu,
piscando
várias
vezes
como
se
despertasse de um sono profundo, mas sua respiração não mudou. O fato o impressionou. Era uma antiga tática os soldados acordarem sem revelar o fato ao inimigo. Ainda que tivesse pouco uso para o engano, era uma tradição que
149
passavam aos jovens soldados. Alguém treinou Mede muito bem. Supunha que Axell o tenha feito. O olhar de Llyr foi para seu corpo nu. O pó de estrelas cobria seus seios e estômago e ele imaginou que poderia sentar e verificar se estariam em suas maravilhosas pernas atléticas. Os corpos transparentes e magros tinham fios de luz e ele viu asas batendo acima deles. Mede soltou um longo suspiro. Um sorriso curvou sua boca quando ela o olhou. Lentamente levantou os braços para ver. Algumas luzes saíram voando. — Lindo. — Sussurrou ela, com os olhos cheios de assombro, enquanto tentava levantar o braço mais perto para observar melhor os pequenos seres. — Suponho que isto significa que vamos ter um pouco de boa sorte. Llyr não pode resistir por mais tempo. Inclinou-se e passou o dorso da mão pelo centro de seu peito. Os bichinhos voaram até o teto. Mede soltou uma leve risada e finalmente esticou suas extremidades. — Acho que já tenho sorte. — Disse. Ela começou a falar, mas acabou virando a cabeça em um bocejo. — Mm, acho que ouço alguém. —
Os
mineiros
irão
Respondeu Llyr. 150
começar
a
trabalhar.
—
Mede se sentou e olhou ao redor do lugar. Pegou sua roupa. — Depressa. Se vista. A última coisa que quero é que alguém descubra o que fizemos. Llyr franziu o cenho. — Seria realmente tão ruim que alguém soubesse? Sua expressão foi resposta o suficiente. Jogou a camisa nele. Virou a cabeça, sem se importar em pegar, já que golpeou seu peito. — Não acho que virão aqui. — Disse, ainda que sua atenção estivesse mais em suas pernas que suas palavras. Ela se virou e viu a cicatriz da Ordem. As linhas ainda estavam vermelhas e ele bem se lembrava da dor que a marca produzia. Uma unidade médica o curou, mas sabia que não iria deixar ajudá-la. —
Não
quero
correr
o
risco.
—
Ela
virou
freneticamente em círculos em busca de suas botas. Encontrou-as alguns metros de distância, foi até ele e colocou suas roupas no centro de seu peito. — Não gosto da ideia de acasalamento e casamento sobre nossas cabeças, mas se as pessoas souberem o que fizemos, então as
expectativas
irão
começar.
Eles
esperarão
que
estejamos destinados. Então vão esperar que nos casemos. E quando descobrirem que o cristal não brilha... onde está minha outra bota? 151
Pouco a pouco vestiu a camisa e depressa vestiu toda sua roupa como se o inimigo estivesse esperando para invadir. — Passei muito tempo tentando ganhar meu lugar. Não quero ser uma noiva. Não quero que outros homens pensem em mim como uma amante em potencial. — Ela perdeu o cordão da cintura. De repente parou. — Oh, então há minha mãe. Sabia que algum idiota falou sobre os Dragões Mortos e que eu era um membro? Idiotas me frustram como o inferno. — Frustram o quê? — O inferno. É algo que minha mãe fala. Maldições da época vitoriana. — Ela de repente parou. — Sei que minha bota não saiu por sua própria conta. De qualquer forma, qualquer um que conhece minha mãe sabe que não deve fofocar sobre certas coisas com ela. Posso imaginar a notícia sobre nós. Ela vai chorar durante um século por causa da minha virgindade. — De verdade? Por quê? — Llyr franziu o cenho. — Tenho certeza que exagera. — É sua cultura. São sérios com a coisa da noiva virgem. — Calçou uma bota e começou a caminhar procurando a outra. Llyr chegou a suas costas e pegou a bota que faltava e a segurou no alto. Ela não viu de imediato, assim simplesmente esperou que ela olhasse em 152
sua direção. — Oh, aí está. — Mede cruzou até ele e pegou a bota. — Assim que todos os homens e as mulheres são virgens
quando
se
casam?
—
Perguntou
Llyr,
estranhamente fascinado com o costume. Mede sorriu levemente. — Apenas as mulheres, não os homens. Os homens não vivem pelo mesmo padrão virginal como as mulheres. Há normas diferentes. Os homens governam o exterior e a mulher governa a casa. Se você acha que os Draig são estritos quanto aos papeis masculinos e femininos, não viu os costumes vitorianos. — Isto não parece justo. — Llyr não se incomodou em ficar de pé para vestir a calça sobre suas pernas. Estava de costas e empurrou seus quadris antes de amarrar os cordões na cintura. — Exatamente. — Ela virou de costas para ele, sem olhá-lo, mas não para fazer realmente qualquer coisa quando acrescentou. — Não é que será um noivo virgem em seu casamento. — Já não mais. — Ele concordou. —
Quer
dizer,
você
provavelmente
teve
mais
mulheres que se pode... — Suas palavras pararam de repente e ela se virou para olhá-lo. — Disse “não mais”? Ontem a noite...? Eu fui...? 153
Llyr riu ante sua surpresa. Soube a vida toda que estava destinado a estar com ela. Como poderia ter ficado com outra mulher? Sim, as estrangeiras se ofereceram, mas nunca se sentiu tentado. — É tão difícil de acreditar? — Mas você é um príncipe. Sei que Rolant esteve com... quero dizer, eu o ouvi conversando com alguns dos homens sobre as mulheres que se oferecem a realeza. — Mede parecia confusa, como se quisesse acreditar, mas via como era possível. Ela pegou as botas dele e levou até ele. — E é muito bom nisso. —
Obrigado.
—
Disse
arrastando
as
palavras,
alcançando as botas. — Você é boa nisso também. Então devo suspeitar que não era sua primeira vez? — Claro que era. — Ela rejeitou. Logo sorrindo, disse. — Acha que sou boa? Agora que estava vestido, ficou de pé e se aproximou dela. Tocou seu rosto. — Sim, Mede, muito talentosa. — Llyr se moveu para beijá-la, desejando-a novamente. Seu pau tremeu com a lembrança do que compartilharam. Mede se retirou. — Devemos arrumar nossas coisas e sair daqui.
154
— Você não estava preocupada com o que pensariam os outros ontem quando veio aqui comigo. — Decepção soou em sua voz. — Isso foi antes de nos convertermos em amantes. Agora é diferente. — Ela pegou os sacos de dormir e guardou na bolsa. — Eu te disse que não queria minha reputação arruinada. — Ninguém vai saber a menos que você diga... ou a menos que nós sejamos pegos no ato. — Eles sentem o cheiro. — Disse ela cheirando seu braço. — Devemos tomar um banho. Ou ir correr para tirar o cheiro. Ela tinha um ponto. Seu cheiro ficou em seu corpo. Era glorioso e não estava pronto para lavá-lo. Uma parte dele ficou ferida com sua insistência em esconder o que eram. Como podia não sentir sua conexão? Não suspeitava que seu cristal era falso? — Há uma cascata na frente. Apenas siga o caminho. Podemos nos limpar ali. Os mineiros trabalham em um lugar completamente diferente. — Llyr fez um gesto para uma abertura oposta por onde entraram. Mede levava a bolsa e seguiu sua direção. Com uma leve risada, ela disse. — Seu bolso está brilhando. Alguns bichos querem dar um passeio. 155
Llyr olhou para baixo. O cristal que se esqueceu de esconder. Tirou-o do bolso e tentou levantá-lo para mostrar, mas ela caminhou adiante. Suspirando, colocou-o novamente no tecido escuro e uma vez mais o escondeu. Mede precisava descobrir sozinha. Algo no seu íntimo sabia que isto aconteceria. Do contrário, podia fazer com seu cristal o que fez com o dela — destruí-lo para impedir o processo de acasalamento. Por muito que confiasse no destino
e
nos
deuses,
estava
muito
assustado
para
mostrar-lhe a verdade.
*** Mede não tinha certeza de porque caminhava tão rápido através da caverna. Por alguma razão parecia difícil respirar quando ela ficava muito perto de Llyr. Concentrou seus olhos mudados adiante, ignorando os insetos de seis patas que se escondiam nos buracos e apenas saiam para picar os lagartos pequenos que corriam através de seu caminho. Não demorou muito para ouvir a água e sem nenhuma ajuda encontrou o lugar. Os passos de Llyr atrás dela a fizeram ir mais rápido. O som da água ficou mais forte, um trovão constante. Os passos de Llyr aumentaram o ritmo. O coração de Mede acelerou rapidamente. Luz a saudou e ela já não precisava de olhos mudados para ver. O ar frio lhe beijou a pele ao entrar na câmara. 156
A cascata que detectou fora da caverna caía por uma abertura, criando uma parede móvel iluminada pela luz exterior. A maior parte da água fluía pela ladeira da montanha, mas chovia pela caverna para alimentar uma piscina que cobria quase todo o lugar. Musgo estava pendurado em grossas cordas pelas paredes e colunas naturais. Eram verdes e grossos perto da água onde o sol brilhava através da cascata. Llyr a capturou por trás. A bolsa deslizou de seu ombro e caiu forte no chão duro de pedra com ruído surdo. Envolveu sua cintura e a puxou com força contra ele. Um arrepio percorreu seu corpo e ela fechou os olhos. Mede não entendia sua conexão. Sua mente racional tentava pensar, mas ele a tocava, ela se esquecia de si mesma. Talvez fosse a novidade de ter um amante. Talvez anos de sua mãe falando com ela finalmente entraram em seu
cérebro
sem
que
soubesse.
Talvez
agora
que
finalmente se converteu em um Dragão Morto, sua mente precisasse de uma nova aventura e escolheu Llyr. Eles não estavam destinados. Eles não foram escolhidos pelos deuses. Eles não estavam destinados a ficarem juntos para sempre. Mas então... — Não fuja de mim. — Sussurrou Llyr. 157
O coração acelerou com suas palavras. Havia uma suavidade nelas, quase uma súplica que a fez sentir uma grande emoção. Tentando soar confiante e segura, disse. — Por quê? Acha que é de você e não que queria uma corrida? Deslizou a mão por seu pescoço, pelo braço que descansava entre seus seios. O braço ao redor de sua cintura era como aço quando a abraçou com força ao seu corpo. A evidência de seu desejo pressionando-a por trás. — Sinto seu coração acelerado. — Ele estendeu os dedos sobre seu pescoço. Sua voz baixa em um timbre sedutor. — Sinto seus pulmões agitados. Não acho que deseja correr, minha dama. — Mede. — Ela corrigiu automaticamente, já sem fôlego como ele apontou. — Acho que quer me sentir novamente. — Llyr moveu os quadris. — Você me quer dentro de você. Quer meu cheiro em você. Quer o prazer. Diga. Diga para soltála, minha dama. — Mas se me soltar, príncipe, então não será capaz de fazer todas estas coisas. Eu poderia escapar. — Brincou. Um grunhido baixo revelou o dragão em seu tom. A mão em sua cintura num instante deslizou para baixo, passando pela barriga até seu sexo. Ele a massageou 158
através da calça. Tremia enquanto o prazer abria caminho através dela. Esqueça sua mente racional. O que ela sabia de qualquer forma? — Você quer meu pau. — Llyr enterrou seu rosto em seu cabelo e seu fôlego tocou a nuca. Ela estremeceu e pequenos arrepios percorreram sua pele. Ela assentiu com a cabeça, rendendo-se. — Sim. Llyr puxou seu ombro, obrigando-a a girar em seus braços. Seu peito parou o impulso à medida que a apertava contra ele. Lábios quentes pressionavam os dela. Suas mãos se converteram em um frenesi de movimentos, desnudando-se.
Roupa
voou
ao
redor
da
caverna.
Vagamente ouviu um movimento atrás dela, mas decidiu ignorar. Fosse o que fosse poderia esperar. Ela queria mais dele. A sensação de suas mãos e boca não era suficiente. Envolveu os braços ao redor dela como se a fosse devorar. *** Llyr não podia se controlar. Foi atrás dela apenas para poderem tomar um banho e sair da caverna, mas seu corpo atuou fora da vontade de sua mente. Um olhar para ela e a água e se viu obrigado a capturá-la. 159
A
pele
suave
misturada
com
uma
vontade
desafiadora criava uma mulher frustrantemente perfeita. Como podia resistir? Llyr podia ser o futuro rei, mas ele iria inclinar-se diante desta mulher cada vez que quisesse. Se ela o tivesse, controlaria a metade Draig do planeta, porque ela o controlaria. Llyr sabia que isto era tão certo como nada mais. Claro, estas eram palavras que nunca seriam ditas. Um rei não podia admitir este tipo de coisas. Mas sentia a verdade delas. Agarrando-a pelo traseiro nu, ele a levantou do chão. Ela envolveu as pernas ao redor de sua cintura. Llyr tentou se manter beijando-a enquanto procurava um bom lugar. O chão era uma combinação de área úmida com manchas de barro. Aferrou-se a seus pés e tentou encontrar algo que poderia ser uma cama. Sem provar a água, imaginava que estava muito fria, assim não queria nadar e correr o risco de matar a ereção agora pressionada entre eles. Optando por uma parede da caverna, levou-a e a apertou contra a pedra de musgo acolchoada. Llyr manteve a força em suas pernas. Mede agarrou as videiras penduradas atrás de sua cabeça antes de envolver a corda grossa ao redor de seu pulso para ajudar a manter seu peso. Em questão de segundos ele mesmo se dirigiu a ela. Ao ver um seio perto de seus lábios, ele gemeu. Abriu a boca e mordeu suavemente. O mamilo se 160
franziu contra sua língua enquanto chupava. O calor úmido de seu sexo o chamou e ele empurrou com força. Um rugido agudo escapou em seu reclame. Moveu-se
dentro
dela,
incapaz
de
impedir
os
movimentos de seu quadril. Desesperadamente, ele precisava que ela sentisse o mesmo
que
ele
e
admitisse
seus
sentimentos.
Este
desespero se manifestava com uma paixão selvagem. Seu corpo o acolheu perfeitamente. Tudo nela o acolhia. Seu seio deslizou de sua boca. Llyr agarrou suas coxas e se inclinou para tocar sua testa na dela. Mede ofegou. Seu olhar manteve o seu, mudando. O prazer se apoderou dela fortemente, culminando em uma explosão vertiginosa que quase o fez cair de joelhos. Apertou-a novamente contra as pedras quando seus músculos tencionaram. Mede puxou a videira. Viu seu braço flexionar antes da planta se romper. Seu peso repentino o fez tropeçar para trás. Seu pé escorregou no barro e ela montou seu corpo enquanto caía no chão. A areia raspou seu traseiro nu. Mede sentou-se sobre sua cintura, pulando sobre seu pau quando caíram. Ela fez um ruído estranho gemendo enquanto seu corpo sacudia violentamente. Suas mãos apertadas contra seu peito,
161
enquanto
sacudia
novamente,
ainda
encontrando
a
liberação. Uma breve gargalhada aturdida lhe escapou. — Está ferido? — Não sei. — Llyr moveu os quadris. O movimento com seu pau ainda dentro dela causou um leve espasmo de liberação. Fechou os olhos e gemeu ante o prazer. — Acho que talvez devêssemos reconsiderar nossa posição na próxima vez. Llyr abriu um olho. — Próxima vez? — Preciso de uma nova aventura. — Sussurrou, inclinando-se para beijar a ponta de seu nariz. — Até nos vermos obrigados a ir ao Festival de Reprodução para encontrarmos companheiros, será a minha. — Então vai ao Festival? — Ele deixou suas mãos se moverem até seus quadris. — Tenho que ir. Não tenho que me casar. — Mede ficou de pé. Ela fez uma careta quando suas pernas se esticaram.
Seus
joelhos
se
arranharam
na
queda.
Silenciosamente se ofereceu para ajudá-lo a se levantar. Llyr levantou e tirou a areia do traseiro. A carne ardia. 162
— Há uma unidade médica na bolsa. — Limpe-se primeiro. — Disse Mede. Aproximou-se da água e colocou a ponta do pé. — Você não irá querer um curativo com areia em sua pele. Gosto do seu traseiro como é. Não precisa transformar este pedaço em algo parecido a um yorkin careca. — Como minha dama desejar. — Respondeu Llyr. Mede arqueou uma sobrancelha, mas desta vez não o corrigiu.
163
Capítulo Nove — O rei enviou um mensageiro e o convoca ao palácio de imediato. — Disse Tomos. Manteve os olhos afastados de Mede enquanto olhava o Príncipe Llyr. — Ele não disse por que, apenas que é uma questão real e requer sua assistência. — Não há informações? — Perguntou Llyr. — Nada. — Disse Tomos. — Apenas que deve fazer a viagem de imediato. Mede observou os dois homens com interesse. Llyr conseguiu sair da caverna sem incidentes. Os mineiros trabalhavam em uma câmara diferente, longe de onde caminhavam. Quando saíram, Tomos estava encostado em uma rocha esperando-os. Llyr assentiu e logo se virou para ela. — Vem comigo? —
Ao
palácio?
—
Mede
negou
com
a cabeça
instantaneamente. — Não. — Tomos ficará aqui com sua família. — Insistiu Llyr. — Gostaria de companhia. Mede olhou para Tomos que parecia surpreso com o plano. Sua voz muito alta quando respondeu. 164
— Não. Acho que vou para casa ajudar minha mãe... a fazer... algumas coisas. Não é um longo caminho até o palácio. A estrada é fácil. Ficará bem. — Como príncipe, não deveria viajar sozinho. —Disse Tomos. — O peso da coroa. Llyr assentiu com o olhar. Mede viu Tomos olhar duro. O homem levantou as mãos e se afastou dela. Caminhou vários passos adiante, deixando um pouco de intimidade. — Tem medo de ir ao palácio? — Llyr arqueou uma sobrancelha. — Não tenho medo de nada. — Mede ficou rígida. — Não tenho certeza. Você está evitando os convites reais há algum tempo. Mede mordeu os lábios. Abaixando a voz, perguntou. — Então notaram? — Meus pais? Sim, claro, o rei e a rainha notaram que a única mulher dragão no planeta menosprezou o convite da rainha enviando desculpas em seu lugar. Várias vezes. Mede se aproximou mais. Uma de suas botas caiu na água quando tiraram as roupas e agora fazia barulho cada vez que movia a direita. Ela virou a cabeça em direção a Tomos, sussurrando. 165
— A rainha ficou irritada? — Pensou em sua mãe, chorando de decepção por algo que Mede deixou de fazer. Llyr não respondeu e não podia ler sua expressão. — Se insiste que eu vá, então vou. — Ela endireitou os ombros e tentou parecer indiferente. Tomaram banho, mas suas roupas não estavam realmente em forma para a corte real. Talvez se causasse uma má impressão, a rainha não a convidaria mais. Este pensamento não a deixou tão feliz como deveria. Ela queria que gostassem dela. Não simplesmente porque eram rei e rainha, mas porque queria que os pais de Llyr gostassem dela. —
Maravilhoso.
—
Llyr
agarrou
seu
cotovelo
suavemente quando passou ao seu lado. — A rainha ficará muito contente. — Deixou cair seu braço e deu umas palmadas no ombro de Tomos enquanto passava por ele. — Nos vemos no Festival, Tomos. Boa sorte para encontrar uma noiva. Mede deu a Tomos um sorriso tenso. A bota fazia um barulho de água audível enquanto caminhava atrás de Llyr. O palácio? No que se meteu? *** A corrida para o palácio foi mais fácil em outra forma. Llyr não admitiria, mas a convocação o preocupava. Seus pais não o chamavam de volta ao palácio desde que era criança. O comprovavam de forma regular, sabiam seu 166
horário diplomático e fugia algumas vezes durante seu tempo livre para caçar ou acampar ou mais recentemente para se dedicar a sua futura esposa. Sem necessidade olhava por cima do ombro, confirmando o que já sabia. Mede estava ali, mudada e correndo descalça sobre o terreno áspero. Ofereceu-se para encontrar suas botas por ela, mas riu dele, dizendo que a bota secaria rapidamente se ela não a usasse. Não havia nuvens no céu tingido de verde e os sois brilhavam quente, mas Mede não se queixava, não que ele esperasse que o fizesse. A ampla trajetória de vermelho e cinza era uma rota direta ao palácio perto da base das montanhas. Picos em forma de lança disparavam desde a terra atrás deles como uma advertência da terra, ficando mais suave enquanto se dirigiam ao sul nas colinas. Quanto mais longe viajavam, mais vermelho o chão ficava, até o cinza desaparecer por completo. Os sentimentos de temor não se dissiparam ao se aproximar do palácio, ainda que não pudesse entender porque estava apreensivo. Queria que Mede conhecesse seus pais. Por todos os direitos, deveria estar emocionado com o fato. Em troca, tinha um impulso de correr até sua casa. — Alguém vem. — Disse Mede, parando sua corrida. Quando ele a olhou, estava em forma humana, mas seus olhos brilhavam enquanto ouvia ao longe. — Um homem. 167
Llyr ouviu também. — Estamos muito perto do palácio. Provavelmente seja um guarda. — Não. É Rolant. — Disse Mede. — Passei horas correndo com ele em minha iniciação. Conheço seu passo. Como se para provar seu ponto, seu irmão apareceu no caminho. Mede tinha um bom ouvido. Llyr assentiu, impressionado. Rolant sorriu tenso e assentiu em sinal de saudação antes de passar para Mede. No mesmo instante ficou paralisado. Olhando para Llyr disse. — Ossos dos deuses, Llyr, por que a trouxe? Mede ofegou em choque. — Vou levá-la ao palácio. — Llyr olhou para seu irmão em advertência. Rolant olhou o pescoço de Llyr ainda com a pedra errada. — A rainha quer encontrá-la há algum tempo. — Não sabe o que aconteceu? — Perguntou Rolant, seu corpo tenso. — Pensei que voltou para... — Papai enviou um mensageiro para me encontrar. Ele apenas disse que havia um assunto importante que tinha que atender. — Respondeu Llyr.
168
—
O
que
está
acontecendo,
Rolant?
—
Mede
perguntou, parando ao lado dos irmãos. — Cynan se foi. — Disse Rolant. — Dois dias agora. Saben e Dylan encontraram seu acampamento abandonado e Saben seguiu um grupo de felinos Var nos pântanos perto da fortaleza de Lorde Myrddin. — O que está sugerindo é um ato de guerra. — Disse Mede. — Acha que Lorde Myrddin tem algo a ver com isto? Eu sei que ele nos odeia, mas iria se atrever a isto? — Não temos nenhuma prova além de seus homens que patrulham perto de nossas fronteiras. — Disse Rolant. — Esta pele loira que conseguiu deve vir de alguém do palácio. Não sei por que, mas a maioria dos felinos loiros são recrutados como guardas do palácio. Suponho que é uma coincidência? — O felino lhe deu alguma pista de sua identidade? — Llyr pensou no que lhe contou, de como o homem tomou liberdades e a beijou. O dragão nele queria encontrar o guarda do palácio e derrubá-lo por isto. Não era muito lógico, mas o cérebro masculino do dragão estava por trás deste espetáculo possessivo dominante de amor. Mede negou com a cabeça. — Era apenas um Var correndo pelo bosque perto do agricultor no pântano. Estava bem vestido e falava com eloquência, mas comparado a Owain todos pareceriam bem 169
vestidos. Poderia estar protegendo alguém mais no bosque. Ouvi uma mulher e um homem. — O quê? — Rolant perguntou. — Estavam se acoplando. — Murmurou. — Talvez o guarda estivesse ali como proteção? Disse que a mulher era uma estrangeira e não estavam casados. Talvez o príncipe estivesse correndo com alguém que não era sua esposa? Ouvi que os homens casados Var com frequência dormem com outras mulheres. — Chama-se meio acasalamento. — Rolant franziu o cenho. — No entanto, os membros da realeza não têm uma metade gêmea, não que tenha ouvido falar. E o príncipe Attor casado? — Não acho que seja ele. — Llyr se virou para Mede. — Não vejo o príncipe deixando o luxo do palácio para ter um encontro. Ouvi que é um pouco... — Delicado. —Rolant ajudou. —
Sim,
delicado.
—
Llyr
repetiu,
no
entanto,
pensando. Nas poucas vezes que teve reuniões com o homem, o príncipe Var pareceu um homem mimado. Inclusive o rei Auguste indicou em uma conversa que Attor era um fracote. — Deuses ajudem os felinos quando este homem estiver no poder. É possível que tenha ouvido falar da antiga casa nobre. Eles são a verdadeira ameaça. O rei é mais uma figura decorativa. 170
— Isto foi o que aconteceu. — Mede lançou a Llyr um olhar suplicante. Ele não iria dizer a ninguém sobre o beijo. — Ouvimos o casal. Peguei a pele. Saí. Agora, o que é isto sobre Cynan? — Mede trouxe o tema novamente ao dragão que sumiu. A preocupação era evidente em seu rosto. — E por que não me quer aqui? — O rei reuniu os Dragões Mortos. Desde que Cynan é um dos nossos vamos atrás dele. Qualquer um de nós dentro de um raio de cinco quilômetros do palácio vai se reunir para a busca. — Sim, claro. — Respondeu Mede. — Vamos agora. — Mede, isto não é uma caça para tirar a pele de um gato. — Disse Llyr. — Isto não será agradável. Não sabemos o que está acontecendo. — Mais razão para nos colocarmos em marcha. — Mede disse entredentes, com firmeza. — Treinei toda minha vida para a batalha. Não tenho medo. Não quero a guerra, mas se me chamarem para a batalha irei. Não vou desonrar meu sobrenome. — Eu a proíbo. — Llyr reconheceu o erro de suas palavras no instante que as falou, mas ele não queria pegálas de volta. — É muito perigoso. — Você não tem o direito de me proibir. Não é meu pai e não sou uma criança. Você não é meu rei. Não é nada. É o príncipe que deveria estar mais preocupado em 171
responder ao chamado de seu pai ao palácio do que me dizendo o que posso ou não fazer. Sou um Dragão Morto. Ganhei o meu lugar. E Cynan não é apenas um irmão Dragão, é meu amigo. — Virou-se para Rolant. — E você, não se atreva a me deixar para trás nas montanhas. Vou encontrar os outros e me preparar. Mede se afastou deles. Llyr tentou segui-la, mas Rolant agarrou seu braço e puxou-o. — Ela tem razão. Você não tem nenhuma autoridade para impedi-la agora que está aqui. Llyr colocou a mão no bolso para segurar seu cristal. — Isto me dá autoridade. Ela é mi... — Sua o quê? — Rolant exigiu. — Não tem nada para dizer. Não é seu marido. Ela tem que o escolher primeiro. — Mande-a para casa. — Llyr ordenou. — Eu disse para não deixar que a marcasse. Adverti que impedisse quando tivesse a oportunidade. Agora está fora das minhas mãos. Ela é um de nós e não posso favorecê-la. A tradição antiga e o decreto do rei ditam o contrário. — Rolant colocou uma mão em seu ombro. — Ela está aqui. Ela vem conosco. Eu a protegerei como faria com qualquer dos meus irmãos. — Vou com você. — Llyr fez um movimento para seguir Mede. 172
— Não. — Rolant agarrou o braço dele com força e apertou. — Vá ao palácio. Tenho a impressão de que algo mais está acontecendo ali do que simplesmente o sumiço de Cynan. Descubra o que é. Proteja nosso povo. Cumpra com seu dever. — Se ela vai, eu vou. — Soltou o braço do agarre de Rolant. — Você sabe que não é o mesmo para você. É nosso futuro rei e comandante e precisam de você no palácio. Está é uma missão na qual não pode se unir a nós. — Não tenho medo dos Var. — Llyr negou, apesar de saber que seu irmão tinha razão. Ganhou sua marca na Ordem, mas ele tinha que cumprir com seu direito de ser o primeiro na linha de sucessão do governo do planeta. A menos que fossem a uma guerra, não participava de combates. Ninguém pensaria menos dele por não ir. De fato, se fosse poderiam pensar que não se preocupava com o futuro de seu povo. Mas, e seu futuro e o de Mede? — Você sabe o que é melhor. — Rolant franziu o cenho. — Nosso pai não enviaria alguém atrás de você a menos que fosse grave. Tem que haver mais nisso do que o desaparecimento de Cynan. Llyr odiava suas circunstancias atuais. — Vá ao palácio e descubra. — Rolant empurrou seu ombro para que ele se movesse. 173
Llyr assentiu lentamente. — Encontre Cynan e traga-o para casa. E, Mede, por favor... Rolant assentiu. — Se for necessário, darei minha vida por ela, Llyr, eu juro. Llyr sabia disso. Rolant correu atrás de Mede onde os Dragões Mortos se reuniam. Ficou olhando o lugar onde seu irmão desapareceu na linha de árvores. Tudo dentro dele exigia que fosse junto. Mas se o fizesse, desonraria a si mesmo desafiando suas leis. E pior ainda, desonraria Mede ao dar a entender que ela não merecia estar junto aos homens. — Por todos os deuses, mantenha-se a salvo. — Llyr sussurrou atrás de seu irmão. É assim como as esposas se sentem quando os soldados Draig vão para a batalha? O temor e o pânico que não podiam mostrar ao mundo? O desejo do homem lutou com o dever de um príncipe. — Imploro que a mantenham a salvo. *** Cruzar a fronteira para as terras Var nesta segunda vez, para Mede, em nada se assemelhava com a primeira. Antes, apenas o orgulho importava. Agora, a vida de Cynan estava em risco. O homem já poderia estar morto. Ninguém sabia por que os Var o levaram. Cynan com 174
frequência acampava no bosque fora do palácio, vivendo da terra e sempre abrindo a tenda para um amigo. Não podia também deixar de pensar em Llyr ou como, de forma frustrante, ele colocou em dúvida suas habilidades frente a Rolant. Tentou realmente impor que fosse para casa por que era muito perigoso. — Guarde sua ira para os Var. — Rolant sussurrou, parando perto dela. Sem mudar para forma humana, falando no idioma Qurilixen. Agacharam-se atrás de uma árvore, esperando o sinal para seguir adiante. — Sei que meu irmão pode ser um idiota, mas ele tem boas intenções. — Não sei do que está falando. — Mede mentiu, também sem mudar novamente. Precisava de seus sentidos em alerta máximo. — Então não estava amaldiçoando-o agora mesmo em voz baixa? — Rolant sorriu. Ele estava tentando aliviar seu estado de ânimo, mas via a preocupação em seus olhos. — Talvez estivesse. — Mede levantou uma mão para colocar fim a conversa e logo apontou à distância onde viu um movimento dentro de uma clareira. Rolant seguiu seu olhar. Durante um longo momento ficaram olhando. Alguém diante deles soltou um assovio e um pássaro voou. Relaxou sua guarda e se levantou para seguir adiante. 175
O verde de sua roupa se misturava ao redor, como a cor marrom de sua pele blindada. Os Var estavam em desvantagem quando se moviam pelo pântano, em razão de sua pele colorida nem sempre conseguiam se esconder. Até agora viajaram sem incidentes, seguindo o exemplo de Saben até onde terminava o caminho. Estavam perto do lago, tão perto que se viram obrigados a entrar na água pútrida. Os ninhos de serpentes se contorciam, advertindo-os do perigo que era realmente a água. Mede saltou sobre um galho particularmente grosso, vermelho e negro para deslizar e cair no barro. Por sorte, conseguiu se equilibrar e não cair. — Cuidado com as marcas no terreno. — Rolant ordenou. Mede fez uma careta. Ela já sabia, mas não podia fazer nada para responder sua reprimenda. O deslizamento foi um acidente. Ele assentiu com a cabeça sobre o pântano onde ela pode somente distinguir um muro de pedra sobre a água. — A Fortaleza de Myrddin. — Musgo de um tom doente de amarelo e verde lhe lembrava de pus e infecção estava ao redor do castelo. Pelo que ouviu falar de Myrddin, era uma cena apropriada para o homem. Rolant a levou longe da fortaleza. Ao ver os outros dragões reunidos juntos em um pequeno lote de terra seca, se reuniram com eles. — Cheira a gato molhado. — Arthur tocou a ponta do nariz torcido. 176
— O castelo de Myrddin está logo ali. — Disse Rolant. — Quem levou Cynan acampou ali. — Saben apontou ao norte de onde vieram e logo moveu os dedos para apontar ao sudoeste. — Mas continuou por ali. — Está longe da fortaleza. — Rolant franziu o cenho. — Assim que não podemos culpar os antigos nobres da casa? — O que acontece com o agricultor do pântano? — Mede perguntou. — Ele não estava longe daqui quando o encontrei. Estava irritado por o perseguimos e reclamou sobre seu licor. Não o vejo capaz de idealizar um plano, mas se tiver amigos... — Eu pensei o mesmo. — Respondeu Saben. — Revisei os alambiques atrás de seu rastro. Não havia evidência de que estes bêbados fizeram algo, além de andar por aqui. — Myrddin pode ter saído da pista para nos enganar e logo voltou aqui para a fortaleza. — Disse Arthur. — Não confio em Myrddin, mas seguirei o rastro. — Disse Rolant, sua decisão tomada. — Se entrarmos e não encontrarmos
Cynan
ali,
perderemos
qualquer
oportunidade de encontrá-lo. — De acordo. — Saben assentiu uma vez e ficou para dirigir o grupo fora da fortaleza. 177
Não conversaram muito enquanto andavam pelas terras Var. Mede manteve seus olhos no chão e nas árvores, em busca de pistas de que um grupo poderia ter passado. Foi Dylan quem finalmente encontrou várias pistas. As pegadas eram fáceis de seguir, mas não havia nenhuma garantia de que era o grupo correto de Var. — Marcas de algo arrastado. — Saben apontou. — Poderia ser uma partida de caça. — Disse Arthur. — As presas neste pântano não são tão grandes. Tem que ser ele. — Rolant não esperou que concordassem com ele e acelerou o passo através das árvores. Mede o seguiu sem hesitar. A apreensão que sentia era compartilhada por todos, via em suas expressões graves. Mas nenhuma pessoa demonstrava temor, nenhum guerreiro vacilava. — Eles pararam aqui. — Rolant franziu o cenho, olhando o chão. Ficaram em uma pequena clareira de terra firme ao lado de uma borda rochosa. O bosque estava em silencio, talvez muito tranquilo, mas não podia detectar a presença de algum Var. — Eles simplesmente sumiram. Mede levantou os olhos do precipício e lentamente retrocedeu. Justo acima de onde terminavam as pistas havia uma pequena enseada de pedra. Ela abaixou a voz em um sussurro. — Uma caverna. Lá
178
Juntos os homens dragões olharam para cima e se afastaram da borda para ver onde indicava. — Podemos subir. — Disse Saben. — Mede e Dylan que são menores. Precisamos de você caso haja um espaço reduzido. Vocês dois subirão comigo. O resto fica aqui vigiando. — Rolant ordenou antes de saltar e subir pela parede escarpada. Seu pé escorregou, mas rapidamente conseguiu se endireitar. Mede e Dylan obedeceram, indo atrás. A pedra era suave e as peças irregulares não permitiam muito espaço. Enquanto se aproximavam do topo, Rolant agachou e estendeu o braço puxando-a para cima e sobre a borda, antes de fazer o mesmo com Dylan. Estavam de pé em uma borda larga na entrada da caverna. Uma escada de corda se enroscava no chão perto da entrada. Mede chutou para o caso de ser necessário para os outros subirem. Rolant mudou à forma humana para passar através da abertura pequena da caverna. Seu corpo dragão não era flexível o suficiente para passar. Mede o seguiu, forçava a usar as mãos humanas para abrir caminho. — Não há como terem trazido Cynan aqui. Rolant apontou uma espessa mancha de sangue e de imediato tocou-o. Ele o cheirou. — É Draig. 179
*** Llyr olhava para o bosque do balcão do escritório. A sacada de pedra lhe impedia saltar pela borda. O desejo de ir atrás de Mede era tão forte que mal podia se conter, mas a queda provavelmente iria matá-lo. Ela estava ali no bosque Var, caminhando através dos pântanos e apenas os deuses sabiam o que mais. Suas garras arranharam a pedra. O palácio era mais uma fortaleza que um castelo. Se alguém olhasse de baixo, não veriam as janelas ou as sacadas dos quartos reais. O exterior foi cuidadosamente talhado com um aspecto natural, como a borda de uma montanha. O vale que rodeava seria onde se celebraria o Festival. Mais além, havia o pequeno povoado perto das enormes árvores. Podia distinguir os caminhos de pedra forrados e quadrados entre as casas de madeiras. O povo era uma lembrança do porque não podia ir atrás de Mede. Todo povo Draig estava sob a proteção da Câmara Draig, a casa de seu pai. Sob o governo de sua família, as famílias prosperavam. Ninguém passava fome. Ninguém ficava sem refúgio a menos que quisessem. Todos trabalhavam e contribuíam dentro de suas possibilidades. Seu olhar passou pelas aldeias Var. O príncipe e o homem. Como podia escolher que caminho tomar quando levavam em direções opostas? Seu povo? Ou Mede, seu
180
coração, sua razão de viver? Inclusive agora ela poderia estar em perigo. Ele agarrou a pedra mais forte, arranhando-a em sua frustração. Ante o som de um de seus pais se unindo a ele, virou-se com impaciência. — Eu sei sobre Cynan. Vi Rolant em meu caminho para cá. Que outra coisa aconteceu? A rainha Lorna levantou as mãos e se moveu para frente, como se para acalmar a fera selvagem dentro de seu filho. Ela não era uma mulher dragão, mas lidava bem com os Draig. A rainha chegou a Qurilixen quando tinha idade o suficiente para se casar. Ela tinha os cabelos escuros e os olhos de seu povo e não se encolhia diante de obstáculos colocados em seu caminho. Como a única filha de uma pobre artesã Serean, sua mãe aprendeu a fazer moveis ainda menina, ajudando-a a talhar. Ela fez isto em vez de ir para a escola e não sabia ler nada, nem mesmo Serean até seus vinte anos de vida. Esta infância a deixou com cicatrizes nas mãos que nunca tentou esconder. — Relaxe, meu filho. — Disse a rainha. Ela colocou a mão em seu peito. — Seu coração está muito acelerado de preocupação. — Lorna, onde está... — A voz do rei sempre era rouca com ela, como se suas cordas vocais se bloqueassem
181
de forma permanente em meio a uma mudança e afetasse seu tom. — Aí está. O rei Tared era muito parecido com o herdeiro do trono, Llyr, um apaixonado por seu povo e protetor com sua família, de tal maneira que os dois homens poderiam, inclusive,
ser
réplicas,
mais
ou
menos
por
algumas
cicatrizes de batalha. Rolant parecia mais uma combinação de seus pais, como a cor do rei e as feições Serean de sua mãe. — O que está acontecendo? Eu deveria estar com o grupo de procura por Cynan. — Llyr fez um gesto além das fronteiras. — Bom, então sabe que há uma urgência. — Disse o rei. — Há algo mais? — Llyr apertou o balcão. — Todos sabem que Cynan acampa sozinho. — Seu pai foi à frente. — Acho que não iríamos descobrir que desapareceu tão rapidamente. É possível que tenha sido levado para poder dar informações sobre os Dragões mortos, nossos exércitos ou o palácio. Ele tem privilégios com os três. — Cynan tem sempre cuidado. — Llyr sabia que era um fato. Era um guerreiro muito forte. — Não temos certeza do que aconteceu. Havia marcas de algo sendo arrastado em seu acampamento. É 182
possível que nem sequer teve a oportunidade de lutar. — O rei observou seu filho. — O que sabe de nossa fêmea dragão? Lady Medellyn. — Eu a conheci. — Disse Llyr com cuidado. Ele pensou, sentindo-se culpado pela pedra escondida em seu bolso. — Ela está com os Dragões Mortos atrás de Cynan. — Deixou uma mulher ir? — A voz do rei Tared se levantou pela surpresa. — Ela é mais dura que muitos homens de nossa espécie. Rolant garantiu que está treinada para a guerra e ela é um membro da Ordem. Você decretou que todos os Dragões Mortos dentro de um raio de cinco quilômetros deveriam se reunir para um grupo de busca. — Llyr teve que afastar o olhar do olhar de observação de seu pai. — Você deu a ordem, meu rei. — Por que não uma mulher? — A rainha Lorna exigiu de seu marido. — As mulheres devem ser protegidas a qualquer custo. Os homens são guerreiros. As mulheres pertencem a casa sob nossa proteção. Esta foi a forma como os deuses criaram os gêneros. — O rei defendeu sua posição, mas Llyr tinha a sensação de que seu pai se desculparia profusamente
com
sua
sozinhos.
183
esposa
quando
estivessem
A rainha Lorna bufou, mas não disse mais nada. Sim, seu pai iria ter muitas desculpas para pedir mais tarde. — Por que me pergunta sobre Lady Mede? — Llyr chamou a atenção de seus pais novamente para si mesmo. — Recebi uma mensagem do rei Var que perguntava sobre nossa fêmea. Solicitou permissão para participar de nosso Festival de Reprodução. — O rei Tared balançou a cabeça com incredulidade. — Em todos meus anos, nunca ouvi falar de um Var ser convidado para nossa festa sagrada. Não encontro um bom motivo para seu pedido. Temos uma fêmea a anos. Por que perguntar por ela agora? Logo quando Cynan desapareceu. Até agora, pensei que o rei Auguste queria que nossa paz durasse. Os Vars permaneceram do seu lado. Ficamos no nosso. Nenhuma das partes tem nada a ver com a outra. Gosto assim. Este pedido me inquieta. O coração de Llyr acelerou violentamente. O que queria o rei Auguste com Mede? E ela estava ali, neste mesmo momento, no território Var. O sequestro era uma armadilha? — Quando Mede fez sua iniciação pelo bosque Var, voltou com uma pele loira, não a pele de um agricultor do pântano como a maioria dos homens. E se foi assim como o rei Auguste ouviu falar dela? Se encontrou alguém da casa real, pode ter contado ao rei. Ela é bonita e forte, causa muita impressão. 184
— Não há nada mais que possamos fazer ao respeito, mas apenas esperar notícias de Cynan. — A rainha tocou o braço de seu marido. — Devemos ir ao templo e pedir aos deuses para protegê-los. É mais produtivo que especular. — Vamos filho. — O rei fez um gesto para Llyr seguilos. — Dê-me um momento. — Disse Llyr, tentando manter o controle. — Já vou. Sua mãe sorriu suavemente. Seu pai de forma brusca. Ambos se foram. Por que o rei Var queria ir ao Festival de Reprodução? O
rei
Auguste
esteve
casado
uma
vez,
mas
sua
companheira morreu. Não tinha certeza de exatamente como funcionava, mas os Var não eram como os Draig. Nem sempre se acasalavam com uma mulher apenas. Podiam, mas também podiam ter meias companheiras. Em teoria,
supunha-se
que
um
Var
podia
tomar
várias
mulheres e logo uma meia companheira. A ideia era estranha para Llyr. Como podia um homem amar mais de uma mulher? Como podia um homem se casar com ela se não estava completamente apaixonada? Se a companheira de Llyr morresse, nunca iria se recuperar da perda. Llyr virou-se novamente para o povoado e as terras da fronteira, sentindo-se pior que antes. Poderia se arriscar pela mulher que amava, que nem sequer poderia estar em perigo? Ou deveria defender a honra de seu título e fazer o 185
que a tradição, seus pais, os deuses e a lei Draig exigia dele? Como deveria escolher? Como iria escolher?
186
Capítulo Dez Mede levantou a camisa túnica e puxou a espada da cintura. Ela esperou enquanto Rolant e Dylan faziam o mesmo. Seus olhos se moveram para que pudesse ver na luz tênue da caverna. A pedra era vermelha como era a do palácio Draig. O túnel se abria em uma grande caverna de formações de cristais que refratavam a luz e a convertia em um arco-íris prismático. Enseadas pequenas não revelavam nada além de rocha e terra. Pegadas frescas estavam no chão sujo e eles as seguiram dentro dos túneis. Ainda que houvesse alguns giros, se mantiveram no caminho. As pistas terminavam perto de uma forte descida. Quando Rolant vacilou, Mede saltou primeiro. A pedra estava úmida. Ela deu um passo com cuidado sobre as poças de água. De repete parou, levantou a mão para os outros dois fazerem o mesmo. Uma porta de ferro grossa estava no final de túnel, em um lugar onde não deveria ter uma porta. Ela colocou a mão sobre a porta. Esta se moveu ao seu contato, batendo no marco antes de se abrir o suficiente para deixar a luz entrar no túnel. Ouviu, capaz de detectar o que poderia ser uma respiração superficial. Rolant a agarrou pelo braço e puxou-a com um olhar de advertência. Inclinou-se para olhar a luz. Lentamente, abriu a porta. Movia-se em silencio. O homem saiu à luz. 187
Mede o seguiu, ignorando o medo em seu ventre e as batidas aceleradas de seu coração. Estavam em um laboratório de alta tecnologia. A pedra do chão da caverna estava forrada com metal. Cadeiras foram empurradas foras das tabuas. Documentos e arquivos estavam espalhados pelas mesas. Quem quer que esteve ali desapareceu. — Que lugar é este? — Perguntou Mede, olhando para Dylan. Moveu-se a um monitor de computador e começou a procurar nos arquivos. — É minha irmã dragão ou estou alucinando? Mede ficou rígida e virou-se para a voz. Cynan estava preso em uma jaula junto a um Owain morto. O cheiro quase inexistente dizia que a morte foi recente. Linhas de liquido negro saiam do nariz e olhos de Owain em uma poça no chão. Estava muito escuro para ser sangue e tinha um cheiro estranho. — Cynan! — Mede alcançou a porta da jaula e a sacudiu. A tranca era muito forte para se romper. Para os demais, ela gritou. — Preciso de uma chave. — Não, pare. — Disse Cynan cansado. — Você deve sair deste lugar. — Viemos por você. — Mede observou seu rosto. Parecia doente. Tinha olheiras sob os olhos. Tossiu, muito 188
fraco para levantar a mão. Uma pequena linha negra desceu por seu queixo. — O que aconteceu? Quem fez isto? — Os Var me capturaram. Tinha que ser um Var. Invadiram meu acampamento, acertaram-me com algo e a próxima coisa que vi foi que acordei aqui junto a este filho da puta ruidoso, rodeado por quatro cientistas estrangeiros. — Os olhos de Cynan foram brevemente para Owain. — Pelo menos está tranquilo agora. — Onde foram? — Perguntou Rolant. — Não sei. — Cynan fechou os olhos. — O cientista nos injetou algo. Quando este agricultor do pântano começou a ficar doente entraram em pânico e saíram daqui. Não poderiam sequer fazer o decente e nos tirar de nossa miséria. — Vamos levá-lo para casa. — Disse Mede. — Dylan abra a porta. — Por todos os deuses. — Sussurrou Dylan. Seu rosto pálido enquanto se afastava do monitor para olhá-la. — Não acho que podemos. Cynan voltou a tossir. Algo negro saiu de seu nariz e pingou no peito. — Ajude-o! — Ela exigiu. — Não há nada que possa fazer. — Insistiu Cynan. — Deixem-me. Fechem este lugar com uma rocha. 189
— Não. — Mede negou com a cabeça. As lágrimas deslizando de seus olhos e ela não se importava que vissem. Estendeu a mão para a jaula, tentando tocar Cynan. — Dê-me sua mão. — Mede, não toque o negro, é contagioso. Ele tem razão. Não podemos fazer nada por ele. Temos que deixálo. Esta substância que injetaram, mata shifters. Se o levarmos daqui, vamos matar todos que o tocar. Neste momento não está no ar, mas se estender-se, é apenas uma questão de tempo antes que mude e se adapte... Mede caiu no chão. Sua mão indo ao fundo da jaula, mas não a puxando. Ela apertou o rosto contra as grades. —
Argh!
derrubando
—
tudo
Rolant na
gritou
mesa.
Os
com
ira,
pequenos
sua
mão
frascos
se
espalhando por todo laboratório. Mede ignorou-o. Rolant somente atuava como se sentia. — Continue procurando Dylan. — Sussurrou. — Tem que haver uma forma de impedir isto. — Encontre algo. — Rolant repetiu a ordem. Uma lágrima negra saiu do olho de Cynan. Mede não tinha certeza de quanto tempo ficou olhando-o, desejando desesperadamente consolá-lo e incapaz de chegar a ele. Falava em voz baixa, sem saber o que realmente dizia, apenas sua voz parecia dar-lhe um pouco de consolo. Ela viu sua dor e quis tirá-la. A pouca profundidade de seu 190
peito e a queda suave fazia parecer que quase não se movia. — Vamos vingá-lo. — Prometeu ao homem. — Não vão vencer. — Se foi, Mede. — Disse Rolant colocando a mão em seu ombro. — Sinto muito. — Disse Dylan. — Eu tentei. Eu... — Foi bom pelo menos estarmos aqui com ele. — Declarou Rolant. — Ninguém deve morrer sozinho. Mede voltou os olhos duros para o príncipe. Ele era um Draig. Não estava destinado a morrer em uma jaula. Ela afastou a mão de Rolant. Virou-se e moveu-se pelo laboratório. Logo, ao ver um jaleco branco, o agarrou e apertou contra o rosto. O cheiro do médico ainda estava ali. Virou-se para Dylan. — Abençoe-o. Enviou-o para se sentar ao lado dos deuses. Não deixe seu espírito ficar neste lugar. Logo bloqueie este lugar e o enterre sob uma rocha onde ninguém possa encontrá-lo por centenas de anos. Deixe tudo dentro. Dylan mudou e começou a cantar as palavras antigas para um funeral.
191
Mede não podia controlar seu dragão, já que se apoderou dela em uma ondulação forte. Ela destruiu o jaleco com ira e lançou os pedaços de lado. — Vou caçar estes estrangeiros e destroçá-los em pedaços. Saiu do laboratório, correu pelo túnel e logo saltou pelo buraco. Rolant manteve-se atrás dela. Ouviu sua respiração irritada e sabia que deveria tentar impedi-la. Correndo, ela não parou até se encontrar na entrada da caverna do lado do precipício. Mede esquadrinhou o bosque do alto do precipício. Seus olhos se estreitaram quando se concentrou em sua visão. Os pássaros voaram à distância como se surpresos. Com um grunhido, ela caiu mais baixo pela rocha. Os demais se reuniram ao redor dela. — O que aconteceu? — Arthur exigiu. — Morto. —Mede conseguiu dizer, a palavra quase não saindo de sua garganta. — Mede? — Llyr deu um passo diante dela. O choque de vê-lo a congelou no lugar. Deve ter se unido ao grupo enquanto
ela
estava
na
caverna.
Seus
encontraram com os dele. — O que aconteceu? Rolant saltou. — Cynan está morto.
192
olhos
se
Mede suspirou com força. Llyr estendeu a mão para ela, mas ela se afastou dele. Agora não era momento para ternura. — Dragões às armas! — Gritou ela, correndo para o bosque. Sem dúvida, seguiram seu exemplo, mudando ante a batalha que estava por vir. Cada um de seus sentidos se concentraram na tarefa de encontrar os cientistas estrangeiros e matá-los. Fúria borbulhou dentro dela, afastando todo pensamento de prudência. Era mais fácil ficar irritada que admitir sua dor. Ela cortou sua mão de lado, com as garras. Seu corpo se movia como se por vontade própria, enquanto seu cérebro se concentrava em vingança. Ouviu uma risada no mesmo momento que sentiu o cheiro que estava no laboratório. O ruído a enfureceu. Como se atreviam a rir? Como se atreviam a respirar? — Ria tudo o que quiser. Não merecemos viver, não depois do que fizemos. — Disse um homem. Falava o idioma antigo das estrelas com um sotaque que não reconhecia. — Em meu mundo natal seríamos executados por isto. A morte é a morte. — Este não é seu mundo natal, Cragen e não tem obrigações com as leis deste planeta. Logo teremos ido embora e não importará. — Respondeu o outro homem. Parecia mais jovem que o primeiro, com uma energia 193
nervosa que quase podia cheirar e irradiava pelo bosque. Mede seguiu o som. — As coisas morrem com os sujeitos que foram cobaia. Ninguém sequer saberá o que fizemos. Não importa. Esta pequena estúpida parte do planeta não importa. — Não deveríamos ter aceitado este trabalho. — Respondeu uma mulher. — O código genético é muito forte. O DNA shifter é muito similar e se transforma na natureza. Olha onde nos colocou. Não há uma cidade decente neste planeta primitivo. — Você foi a que disse que podia ser alterado e acelerar o processo do Rastejar Negro, Shann...shh ouvi algo. — Disse a segunda mulher. — Está sendo paranoica. — O homem mais jovem respondeu. Mede saiu de entre as árvores, as garras a mostra. Foi diretamente ao cheiro do jaleco que encontrou. Uma mulher ruiva gritou quando Mede caiu sobre ela. O vestido prateado da estrangeira brilhava como um alvo. Dragões surgiram do bosque. O zumbido de um laser passou por ela e acertou uma árvore. Todos os guerreiros foram
treinados
para
usarem
um
laser,
mas
eram
considerados armar desonrosas porque precisava de pouca
194
habilidade para apontar e disparar em um alvo. Em todo caso, Qurilixen preferia facas. Ou garras. — Pegue-o! — Llyr grunhiu. A raiva fluía através de Mede e era difícil se concentrar além de qualquer coisa que não fosse à vingança. Seu sangue se sentia como lava de dragão, queimando sob sua pele. Os dedos de Mede envolveram a garganta da ruiva e ela virou sua presa pelo pescoço para poder ver melhor o campo de batalha. Outro disparo de laser soou. A ruiva se sacudiu enquanto era atingida nas costas. Ela abriu a boca para falar, mas apenas saiu sangue. Mede deixou cair o peso morto. Rolant
e
Arthur
seguravam
uma
morena
pelos
braços. A mulher chutava violentamente os homens, mas eles não sentiam. Ainda que um olhar no rosto de Rolant dissesse que ele queria rasgar em pedaços a mulher pelo que fez. Llyr enfrentava o cientista que se chamava Cragen, quem apontava uma pistola laser para o príncipe e outra de lado. O homem mais jovem, um humanoide estava junto a ele, chegando para pegar a segunda arma. Mede correu de lado para derrubar os homens. O coração estava acelerado de preocupação. O laser dirigido a Llyr poderia perfurar sua armadura de dragão facilmente. Um disparo o mataria. Observou o cano da arma. Se disparasse poderia impedir com seu corpo. Ninguém mais 195
morreria. Hoje não. Não Llyr. Por todos os deuses, por favor não Llyr. O homem disparou. Mede saltou diante de Llyr para tomar a explosão. Llyr grunhiu com ira e a puxou para seus braços contra seu corpo. O coração batia com tanta força e queimava tanto que pensou que Cragen fez um buraco em seu peito. Llyr tentou virá-la, mas ela lutou contra ele, usando o corpo para protegê-lo de outro disparo. Esperou a dor ardente da morte, mas ela nunca chegou. Quando olhou para baixo, estava inteira. O cientista mais jovem caiu de joelhos com um olhar de assombro no rosto. Cragen disparou em seu colega no peito no momento que tentou tomar a pistola. O homem virou a pistola dirigida a Llyr de lado e disparou novamente, desta vez acertando a morena que estava com Arthur e Rolant. Ela caiu e fez um ruído borbulhante. Os dragões diminuíram seu domínio sobre ela. O homem estava matando sua própria gente. Mede soltou-se do agarre apertado de Llyr. Ela grunhiu ao cientista. Precisavam saber quem o contratou antes de matá-lo. — Eu não sei se falam meu idioma, mas Shann não lhe deu a dose correta. — Disse Cragen. Estava claro que não entendia a língua do dragão. — A potência estava errada. Esta doença é muito pura em seu estado atual e a 196
cura não é forte o suficiente para funcionar ainda. Não era nossa intenção matar ninguém. Mede se lançou ao mesmo tempo em que Llyr o fez. Llyr a empurrou de lado, fora do perigo. O cientista virou o laser para sua cabeça e atingiu a si mesmo ante de poder ser detido. Mede olhou os cadáveres. Ela negou com a cabeça sem energia. Isto não era o que imaginava em sua primeira batalha. Sua cabeça estava zonza. — O que acaba de acontecer? — Voltou-se contra os seus. — O olhar de Llyr estava irritado sobre o dela e teve que afastar os olhos. — Alguém quer me explicar o que estamos fazendo aqui? — Eles... — Mede respirou fundo e fechou os olhos. A raiva não se foi. Ver os cientistas mortos não tirou sua dor. Ela ainda queria romper algo. — Mataram Cynan. — Rolant terminou por ela. — Eles injetaram nele algo contagioso. Não podemos mover o corpo com temor que se estendesse. Tivemos que deixá-lo na caverna Var. Dylan está cuidando dele. — Rolant virouse para Arthur e Saben. — Eu mostrarei o caminho. Temos que ajudar Dylan a enterrar o laboratório uma vez que acabar os rituais do funeral.
197
—
Laboratório?
perguntou
quando
Em Rolant
uma
caverna?
começou
—
a
Arthur
caminhar
rapidamente. Deixou-a sozinha com Llyr. — Está louca? Este tiro era para mim! — Llyr grunhiu, girando ao redor dela e puxando-a. Tropeçou, não estava pronta para o movimento repentino de seu corpo. Uma lágrima deslizou de seu olho para a bochecha. A mudança tirou a energia de seu corpo. — Não me questione. Não tenho humor para me defender. Fiz o que era preciso: proteger o futuro rei. — O futuro rei? — Perguntou. Llyr também mudou para a forma humana. — Isto é tudo? — Sim. — Ela fez um gesto fraco. Não. Não, isto não era tudo. A ideia de ele morrer era mais do que poderia lidar. O medo que sentiu neste segundo subiu por sua garganta. Se ela o perdesse... se perdesse Llyr... Mede olhou os corpos antes de fazer seu caminho até os demais. Ela não pode respirar quando olhou para Llyr. — Que apodreçam onde caíram. Não merecem uma sepultura abençoada. — Mede, pare, diga-me o que aconteceu. Não parece você mesma. — O que está fazendo aqui? Supunha que tinha que estar no palácio. — Disse ao mesmo tempo. 198
— Um dragão estava com problemas. Não iria me sentar no palácio e esperar. — Llyr a seguiu durante vários passos antes ficar na frente dela e pará-la. — Isto é exatamente o que deveria ter feito, príncipe. — Mede grunhiu. — Você não pertence aqui. Você é o futuro do reino. Isto é mais importante que qualquer coisa... — Pensou em Cynan, não muito segura de sua declaração. — Não há nada para você fazer aqui. Deveria ter ido ao palácio como o rei ordenou. — Eu fui ao palácio. Meu pai me disse sobre o sequestro de Cynan e a suspeita da participação Var e me advertiu sobre os homens de Lorde Myrddin ao longo de nossas fronteiras. Também havia um incomum pedido do rei Var. — Que pedido? Llyr negou com a cabeça. — Não estou autorizado a falar sobre isto. — Então por que mencionou? — Porquê... — Passou as mãos pelos cabelos em sinal de frustração. — Porque eu... — O que está fazendo aqui, príncipe? Você é o futuro rei. Vá ficar no trono. — Mede o empurrou. Sua garganta e estômago queimando como se houvesse engolido uma tocha ou algo que ela própria cozinhou. Apertou o punho 199
contra seu peito, tentando deter o ardor. — Não deve correr para o perigo. O que acontecerá se for infectado? O que acontecerá se lhe dispararem? Refiro-me ao povo. O que o povo fará então? — Então Rolant irá herdar o trono. — Gritou novamente. Sua voz fez eco e respirou fundo para se acalmar. Com mais cuidado, continuou. — Não sou mais que um futuro rei, Mede. Conheço meu dever e fui ao palácio como deveria. E quando terminou, vim por você, Mede. — Por mim? — Mede deu um passo atrás para colocar distância entre eles. — Não preciso da proteção de um homem. — Não estou aqui porque é uma mulher que precisa da minha proteção. Sei que você pode lidar com tudo como um dragão. — O tom de Llyr era de súplica, tentando fazêla entender algo. Não tinha certeza do que, no entanto. Tudo era muito confuso. — Eu vim porque precisava fazêlo. Vim porque eu te amo. Ela soltou uma leve gargalhada para abafar as lágrimas.
As
palavras
teriam
trazido
prazer
se
não
houvesse visto a prova de sua falsidade claramente no cristal latente. — Ouviu, minha dama? Eu te amo. Quando saltou diante de mim quase me mata. Eu te amo. — Llyr tentou se 200
aproximar, mas ela levantou a mão para impedi-lo. — Ossos dos deuses, mulher, estou dizendo que a amo. Diga algo. Mede
lambeu
os
lábios
lentamente,
tentando
conseguir que deixasse de tremer. Se apenas suas palavras fossem certas. Ela negou com a cabeça. — Olhe seu cristal. Você não pode me amar. Eu apenas sou a única mulher que conheceu. O sexo foi apenas...
—
Seu
fôlego
ficou
preso,
mas
conseguiu
terminar. — Uma má ideia. Está confundindo as coisas entre nós. — Este não é meu cristal. Você fez meu cristal brilhar. — Llyr alcançou os bolsos. — Eu provarei. — Ele franziu o cenho, procurando dos lados e desesperadamente olhando para o chão. Mede arqueou a sobrancelha com incredulidade. — Llyr, não faça isso. Tentar alterar os fatos não vai mudar nada. — Ela deu um passo amplo ao seu redor para que não pudesse impedi-la. — Não posso ter esta conversa com você. Tenho que ajudar a enterrar meu irmão agora. — Claro, tem razão. Foi egoísta da minha parte. Devemos honrar Cynan. — Llyr parecia desesperado para dizer mais, mas não o fez. Ela virou de costas para se unir aos outros. Mede parou, ouvindo seus passos. 201
—
Vem?
Estamos
em
território
inimigo
neste
momento. Mede esperava que a dor que sentia por Cynan escondesse seus sentimentos por Llyr para que ninguém percebesse a profundidade de sua agonia. Hoje não foi um bom dia. Era possivelmente o pior dia de sua vida. Ela não precisava de sua pedra triturada para lhe dizer o que já sabia. Amava o príncipe Llyr. Por desgraça, não
havia
um
mapa
claro
sobre
como
os
cristais
funcionavam. Era possível que seu cristal brilhasse por Llyr, mas o dele não brilhou por ela. Coisas raras aconteciam. Sua própria vida era uma prova disso. Talvez ela fosse antinatural e os deuses não queriam que se reproduzisse. Talvez as fêmeas dragão não devessem existir. Dragões eram fortes. Supunha-se que as mulheres eram mais suaves. Talvez o equilíbrio entre a mulher e o dragão fosse muito difícil, muito contraditório, muito instável e também impossível. Llyr não estava destinado a ela. Talvez fosse o sussurro dos deuses que fizeram com que esmagasse sua pedra quando criança. Sabiam a dor que sentiria quando chegasse este momento. Mas mesmo com sua intromissão não podia curar com coração partido. Não seria a razão do futuro
rei
Draig
não
ter
filhos
ou
uma
companheira ou o amor verdadeiro. O sacrifício provavelmente a mataria. 202
verdadeira
E como podia estar tão concentrada em si mesma quando Cynan estava morto? Ela deveria ter entrado na jaula. Os cientistas deveriam tê-la capturado em seu lugar. Queria dar a volta e matar os bastardos já mortos. — Mede? — Sussurrou Llyr. Percebeu que deixou de caminhar. — Não pude salvá-lo. Eu o vi morrer e nem sequer pude tocar sua mão. Não pude salvá-lo. Llyr
a
apertou
contra
seu
peito
enquanto
ela
começava a chorar. — Eu queria tanto. — Ela chorou. — Mas não pude salvá-lo.
203
Capítulo Onze Llyr não deixou Mede fora de sua vista enquanto abriam caminho de volta através dos pântanos para a terra Draig. Saben explorou na frente para se assegurar que o caminho estava livre. Arthur e Dylan se moveram através das árvores a cada lado do grupo. Ninguém falava. Llyr voltou a procurar no bolso. Seu cristal se foi. A medida que avançavam, tentou procurá-lo no chão, mas não havia como saber quando ou como desapareceu. Quando ele tomou a decisão de seguir seus amigos, concentrou-se apenas em segui-los e ajudando a assegurar que todos chegassem à casa a salvo. Nem sequer podia se lembrar da rota exata que tomou, apenas que deu a volta perto da fortaleza de Lorde Myrddin. Pelo que sabia, seu cristal se perdeu na água do pântano onde havia muitos ninhos de givre. Hoje não era o dia de convencer Mede de seu amor. Ele não tinha nenhuma prova. A dor de sua perda estava muito recente. Parecia
que
muito
tempo
se
passou
cruzarem novamente para o território Draig. Saben parou perto da fronteira. 204
antes
de
— Vou olhar a tenda de Cynan. — Vou ajudá-lo. — Respondeu Arthur. — Ele tem um irmão que vive nas altas montanhas. — Dylan olhou para Llyr. — Precisamos contar a ele. — Vou para as montanhas. — Mede disse. — Conheço a área. Eu estava com ele no final. Devo ser a que conte ao irmão de Cynan que ele morreu como um herói. — Vou com você. — Disse Llyr. Mede o olhou e negou com a cabeça. — Não. Você e Rolant devem informar ao rei. O nome de Cynan deve ser honrado. Tudo depende de você para descobrir se os Var foram os responsáveis em trazer os cientistas ao nosso planeta. — Ela tem razão. — Rolant concordou. — Vou até a torre de comunicações. Temos que controlar as naves espaciais em nosso céu. Alguém iria buscá-los. Você precisa dizer a nossos pais o que aconteceu e logo todos temos que nos sentar e descobrir qual a relação dos Var com o ocorrido. Llyr sabia que tinha razão. Não queria Mede fora de sua vista, mas ao menos nas altas montanhas estaria longe das fronteiras. Estaria a salvo. — Bem, dê-me um momento a sós com Lady Mede. 205
Rolant e Dylan os deixaram sozinhos. — Quando terminar, quero que vá para casa e fique ali até o Festival. Llyr não pode resistir a tocá-la. Ele a pegou nos braços. — Preciso saber que está a salvo. É a única maneira que posso me concentrar no que deve ser feito. — Posso cuidar de mim mesma. — Ela se afastou para tocar o cristal em seu pescoço. — E você deve se concentrar na busca de uma companheira. — Mede. — Llyr parou quando ouviu seu irmão conversando com Dylan. Este não era o momento de explicar. — É uma ordem real. Vá para casa depois de falar com o irmão de Cynan. E não pode contar a ninguém como morreu. Não podemos causar pânico. Apenas diga que foi um herói e atuou com honra. Ela o olhou e se obrigou a deixá-la ir com um forte empurrão. — Dylan. — Llyr chamou. — Ela está pronta. — Não manda em mim, príncipe. — Sussurrou. — Acabo de fazer. — Afirmou. — Não desonre seu sobrenome ao desobedecer a um decreto real. — Na última vez, ia contra a diretiva do rei de que todos da ordem 206
deveriam lutar. Agora não havia tal conflito e teria que ouvi-lo. Dylan apareceu com Rolant. Assentiu com a cabeça para Mede e se virou para as montanhas. Ela deu a Llyr um último olhar duro antes de dizer a Dylan. — Eu sei onde há amoras silvestres no caminho caso esteja com fome. — Realmente não quero comer. — Disse Dylan. — Eu também não. — Mede não olhou para trás. Llyr queria que ela o fizesse. — Temos que ir. — Disse Rolant. — Ela vai ficar bem. Estará longe dos Var. — O rei Var perguntou por ela. — Llyr não pode esconder seu medo. — Isto era o que nosso pai queria dizer. O rei Var pediu para assistir ao nosso Festival. — Por que o rei Var quer vir ao nosso Festival? — Todo o corpo de Rolant ficou rígido. Como se chegasse a sua
própria
conclusão,
olhando
para
onde
Mede
desapareceu e logo para seu irmão. — Não. Não ocorreria a ele se casar... — Vá para a torre de comunicações e logo se reúna comigo no escritório real. — Llyr pensou em seus pais. — Você pode ajudar a explicar por que os desafiei e fui atrás 207
de Mede. Ou talvez devêssemos dizer que fui atrás dos Dragões e não mencionar Mede? Mamãe vai ouvi-lo e se a convencer, ela cuidará de nosso pai. Rolant sorriu cansado. — Sim, irmão, eu irei resgatá-lo dos problemas com nossos pais. *** Escritório Real, Palácio Draig — Mede se comportou como uma verdadeira rainha. — Rolant olhou para Llyr antes de se concentrar em seus pais. — Ela mostrou compaixão quando se sentou com Cynan até o final. Foi feroz ao levar os Dragões Mortos para a batalha para vingar sua morte. Foi decisiva na hora de lidar com o laboratório. E seu compromisso com a Ordem é muito forte. Estavam sentados no escritório privado do rei ao redor de uma lareira. Quatro cadeiras estavam situadas na frente do fogo ao redor de uma mesa que a rainha construiu com suas próprias mãos. O rei e a rainha estavam irritados com a partida de Llyr para o bosque Var para lutar, quando não havia guerra. Por um momento ninguém falou. Então, de repente, a rainha Lorna se endireitou e ela mesma se dirigiu ao seu filho mais velho. 208
— Rolant disse que ela se comporta como uma rainha. Ela fez seu cristal brilhar? Ela é a única? E ali estava, o toque sutil de Rolant com sua mãe. Ele sempre tinha uma maneira de parafrasear as coisas para que ela fosse receptiva. Rolant deixou escapar um meio sorriso pelo canto da boca quando a Rainha pegou a dica. — Sim. — Llyr assentiu uma vez. — Ela é razão pela qual se colocou em perigo sem necessidade? — A rainha sempre disse a seus filhos que não havia desonra no trabalho duro ou decisões difíceis. Sua escolha foi difícil depois que sua mãe morreu e foi para Qurilixen casar-se com um desconhecido e os deuses recompensaram esta valentia com um bom marido. Ainda que neste momento não houvesse nenhum contrato com uma nave de noivas, apenas alguns anúncios em revistas. — Vim quando fui chamado e quando cumpri com meu dever, tomei a decisão difícil de desafiar a tradição e me unir à Ordem. — Quando descobriu que o rei Var perguntou por ela, foi quando quis protegê-la porque a ama. — A rainha sorriu suavemente. Llyr assentiu. — Pode me punir se for necessário, mas Cynan era meu irmão e Mede é meu coração. Tinha que ir. 209
— Não haverá castigo para isto. — Disse a rainha Lorna com um olhar severo para seu marido, como o desafiando a se atrever a não concordar com ela. Não o fez. — Se ela é minha filha, então por que não está aqui conosco? — Perguntou o rei. — Cynan tem um irmão que vive nas montanhas altas. Foi informá-lo sobre sua morte. Enviei Dylan com ela. — Llyr tentou não deixar sua preocupação transparecer. Queria ir atrás dela, mas sabia que depois de seu decreto para enviá-la para casa, ela não iria querer vê-lo. — Pensei que estaria mais segura ali, longe das fronteiras. Os outros irmãos foram acampar perto de sua casa para protegê-la. Eles não conhecem a ameaça completa e não pediram por detalhes, mas irão mantê-la a salvo. — Descobriu algo mais sobre o porquê do rei Auguste estar interessado em Mede? — Perguntou Rolant antes de acrescentar. — O rei Var não se casou novamente. Não acha...? Llyr ficou tenso enquanto esperava a resposta de seu pai. Mede era sua e Llyr não iria deixar que o rei Auguste se aproximasse dela. — Tudo indica que sua primeira esposa era uma companheira completa. Ele não vai tomar outra. — Afirmou o rei Tared. 210
— Não era uma meia companheira? — Perguntou Rolant. — Não, era uma companheira completa. Podia ter amantes, mas não vejo o rei Var indo tão longe para nos insultar tentando fazer de nossa fêmea sua amante. — Disse a rainha Lorna. — Não? — Perguntou o rei, claramente mostrando sua opinião sobre o caráter dos felinos. — E o príncipe Var? — Perguntou Rolant. — O rei pode estar procurando alguém para se casar com seu filho? — Acho que a guerra é o cenário mais provável aqui. — O rei declarou. — Os rumores de que o rei Auguste bebe em excesso e o comportamento errático chegou aos meus ouvidos. Não é nenhum segredo que Lorde Myrddin e os outros nobres antigos odeiam nossa espécie. Um homem de bem conseguiu informações e disse que Myrddin está indo com muita frequência ao palácio nos últimos anos. Com a presença Var em nossas fronteiras e o assassinato de Cynan, apenas posso supor que planejam usar Lady Medellyn como desculpa para se aproximarem do Festival de
Reprodução.
Vou
negar
oficialmente
o
pedido
e
aumentar as patrulhas esta noite. Rolant lançou a Llyr um olhar culpado, antes de dizer. — Devemos cancelar o Festival este ano? Ou ao menos atrasá-lo? 211
— A cerimônia é sagrada. Terá lugar e acontecerá em terra sagrada. Não vou me acovardar ante a ameaça Var. — O rei Tared levantou a mandíbula com orgulho. — Inclusive se as intenções dos Var são honrosas, o destino já decidiu que a dama não será para seu filho. — Disse a rainha a seu marido. — Não há nenhum motivo para termos Var ali. Tomou a decisão correta. — Os Var e os Draig não devem se misturar. — Disse Rolant. — É tudo o que podemos fazer para coexistir no mesmo planeta. — Llyr? — A rainha se endireitou e lhe lançou um olhar preocupado. — Onde está o cristal? — Eu o perdi. — Llyr admitiu. Devolveu o colar a Gildas horas atrás, agora que o homem se recuperou. Foi uma ideia estúpida, uma que nunca deveria ter tomado. Agora seu próprio cristal se perdeu no bosque Var e não tinha como demonstrar seu amor a Mede. — Quando fomos atrás dos cientistas, devo tê-lo perdido. Procurei, mas não encontrei. — Mas sem ele não pode se casar. — A rainha olhou para seu marido. — Poderá? — Isto não importa. Brilhava. Ambos viram. Vou aceitar a palavra de um Dragão Morto e meu filho na cerimônia. Vai se casar. — O rei levantou a mão para sua
212
esposa e ela aceitou sem vacilar. — Fomos abençoados este ano, minha dama. Ela assentiu com a cabeça, mas ainda parecia preocupada. — Os deuses sorriam para nossa família. Llyr entendia a preocupação de sua mãe com seu futuro. A tradição dizia que Mede tinha que quebrar o cristal na cerimônia para consolidar o vínculo. Se não fosse assim, seriam capazes de se acasalar de verdade? Queria acreditar que o que sentia por ela era suficiente, mas como iria saber? Logo estava o fato de que nunca viu o brilho do cristal. Acreditaria se tentasse explicar novamente? Seu pai confirmaria? Com certeza ela acreditaria em seu pai. Uma pequena parte dele desejava que confiasse no que sentia e aceitasse se casar com ele sem o maldito cristal. *** Território Var, Marismas — O que estamos fazendo aqui? — Attor perguntou para Myrddin. —Eu sei que não me chamou do palácio para vagar pelo bosque. Não tenho nenhum desejo de me comunicar com a natureza. A menos que seu nome seja Mede e ela esteja nua em minha cama, pensou. Gostaria de me comunicar com a natureza. 213
A brisa se moveu e um cheiro horrível se aproximou. Enrugou o nariz. — O que é esta podridão? Trouxe-me aqui para me mostrar um animal morto? — Deixe de choramingar como uma mulher. — Myrddin chamou sua atenção. — Adverti que iria te dar uma surra se ficar fraco como seu pai. Estamos quase lá. Myrddin o levou para cadáveres apodrecendo, mas não eram animais. Quatro humanóides mortos estavam no chão. Seus corpos destroçados por garras. Os que os atacaram
fizeram
uma
bagunça.
Entranhas
estavam
espalhadas sobre o chão do bosque. Partes dos corpos foram lançados aqui e ali como uma decoração mórbida. Attor encolheu os ombros. — Assim que você passou um bom momento com os estrangeiros. Não os reconheço como meus convidados para o palácio se esta é sua preocupação, ainda que seja difícil dizer exatamente como eram antes de todo este dano. A única mulher que falta é a Syog que perseguiu no bosque. Seu grupo não a viu e me irrita sobre o paradeiro dela. — A Syoh? Não sou nada dela. — Disse Myrddin. — Provavelmente ela saiu correndo em uma destas naves. A última vez que a vi estava em suas mãos e joelhos pedindo que a tomasse. 214
Attor realmente não se importava com as pessoas mortas em seu bosque ou a puta Syog que se deixou capturar por Myrddin. Fez um gesto com a mão para os estrangeiros sacrificados. — Faça com que seus guardas os queimem. Não vou ajudar a limpar isto aqui. — Trouxe você aqui para mostrar por que temos que ir à guerra com os Draig. — Disse Myrddin. — Estes cientistas eram meus. Paguei para que trabalhassem em um projeto altamente secreto em meu laboratório na caverna. —
Tem
um
laboratório
em
uma
caverna?
—
Perguntou Attor. — Não mais. Os Draig destruíram. Você mesmo viu a mulher dragão em território Var, correndo quando não tinha o direito de estar aqui. Ela não foi a única. Os Draig estão cruzando nossas fronteiras há muito tempo. — Pele de gato. — Attor murmurou, lembrando-se das palavras de Mede. — O quê? — Eles chamam este jogo de despelar um gato. — Disse Attor com muita autoridade, como se não tivesse menos conhecimento político que Myrddin. — Eles cruzam nossas fronteiras para arrancar pedaços de pele de nossos agricultores. 215
— Você chama isto de jogo? — Myrddin fez um gesto irritado aos corpos. — Este é um insulto não apenas à minha casa, mas a sua, príncipe. — Qual era seu projeto? — Attor perguntou. — Meu pai sabe? — O rei? Este idiota bêbado está muito ocupado fingindo ser um governante, enquanto que o resto de nós protege este país. Ele é um velho idiota e não preciso de sua permissão para me ajoelhar no bosque e muito menos proteger seu direito de nascimento, filho. Alguém tem que proteger os Var e você. Attor deu um passo por cima dos corpos para observar mais de perto. Eles foram cortados com garras e isto era evidente. — O que estavam fazendo para você? — Uma arma que poderia nos livrar do planeta Draig de uma vez por todas. Envenená-los e nos deixar ilesos. Apenas nós teríamos o antídoto. Os dragões que aceitarem nos servir irão receber a cura. Os outros irão morrer. — Myrddin parecia muito orgulhoso da ideia. — Seria um presente de coroação, para usar quando assumir. Mas os Draig o arruinaram. Olhe o que fizeram. Mataram os cientistas antes de terem uma oportunidade de terminar seu trabalho. Destruíram meu laboratório, enterrando-o sob os escombros. Não são nada além de animais. 216
— Cuidado. — Disse Attor. — Vou me casar com uma. — Entendo a sua ideia. — Myrddin assentiu, ainda que não parecesse desfrutar do pensamento. — Por que não tomar uma meia companheira, sobretudo agora que arruinaram meu plano? Se ela se converter em uma carga, há maneiras de se livrar de uma mulher não desejada quando não serve a um propósito. Attor não queria pensar em matar Mede. Imaginou sua relação na cabeça e seria perfeita. — São garras e poderia ser de outro animal. Como sabe que é Draig? — Encontrei isto. — Myrddin colocou a mão no bolso e tirou um cristal de dragão. Lançou o colar para Attor. — Eles nunca tiram isto, exceto para quebrar durante a cerimônia. Alguém deve tê-lo arrancado no massacre. Attor virou a pedra entre seus dedos antes e prendêlo dentro da mão. — Este cristal será muito útil. Obrigado. Myrddin suspirou forte. — Não o trouxe aqui por uma pedra. Trouxe para mostrar a necessidade de uma guerra. — Meu pai não quer uma guerra. Mal sai de seu palácio. Tenho que esperar minha vez. O que quer que eu faça? — Attor grunhiu. — Matar o rei? 217
— Não, não, não deve fazê-lo. — Disse Myrddin lentamente, como se ele mesmo não acreditasse em sua proposta. — Não vou matar meu pai. — Declarou Attor. — Claro, meu príncipe. Não seria bom começar seu reinado sob tal mancha, inclusive se os nobres da casa apoiam sua ascensão. — Está claro, então. — Attor estava se aborrecendo com a conversa. — Vou falar com meu pai sobre os Draig entrarem em nosso território. Enquanto isto tenho homens patrulhando a fronteira. Não tinha intenção de falar com seu pai sobre as preocupações de Myrddin ou qualquer outra coisa deste assunto. Ele já pediu ao rei para assegurar a busca por sua noiva e não queria se arriscar a que mudasse de ideia. Evitar o tema parecia ser o melhor plano no que se referia ao rei Auguste. — Já está feito. — O sorriso de Myrddin era estranho, mas Attor não estava interessado em verificar mais. — Voltarei ao palácio. — Attor enrugou o nariz com desgosto enquanto se afastava da cena. — Diga aos homens para queimarem isto e na próxima vez, não me traga ao bosque para ver cadáveres. Apenas fale o que precisa dizer.
218
Capítulo Doze Norte das Montanhas Draig, casa de Medellyn — Medellyn, tem que sair da cama. — Grace colocou a mão na cabeça de sua filha, — Venha comer. — Não tenho fome. — Disse Mede do travesseiro, sem olhar para sua mãe. Não queria que a mulher visse seus olhos vermelhos e soubesse que estava chorando novamente. — O que aconteceu com minha filha teimosa? — Perguntou Grace acariciando seu cabelo. — Por que não me conta sobre como Cynan morreu? Não entendo como não puderam trazê-lo para casa para junto de sua família. Só posso concluir que o resultado foi uma imagem que não quero na memória de minha filha. Falar sobre isto ajudará. Compartilhe sua carga. Mede pensou nas lágrimas negras saindo dos olhos de Cynan. Invadiam seus pesadelos, aparecendo em todos os rostos em seus sonhos. Tanto como ela queria ter levado seu corpo para a casa de seu irmão, não podia se arriscar a propagar a doença. A única coisa que podia fazer era bloquear o lugar e rezar aos deuses que o segredo morresse com os cientistas. Dylan parecia muito seguro depois
da
leitura
dos
arquivos
de
que
apenas
era
contagioso por contato físico direto. Quando os corpos se 219
decompuserem a doença iria se eliminar. Dado que todos os
Dragões
Mortos
tinham
conhecimentos
científicos,
precisava confiar em sua avaliação. Mede não podia lançar a imagem dos últimos momentos de Cynan à mente de sua mãe. Na verdade, não podia contar a ninguém. Llyr decidiu que era melhor não fazer a população entrar em pânico com a ideia da doença. Tal pânico daria lugar a suspeitas que poderiam levar a uma guerra planetária. Não tinham provas para acusar Lorde Myrddin ou os Var. Tudo o que tinham era um mau pressentimento profundo que o tempo de paz estava chegando ao fim. Guerra se igualava a morte e nenhum deles queria isto. As coisas estavam bem. Porque o rei Var queria mudar isto? — Por que não me responde? — Sussurrou Grace. — É a carga de segredos, mãe. — Respondeu Mede. Ela finalmente levantou os olhos. — Não posso dizer por decreto real. Grace sorriu simpática e assentiu com a cabeça em compreensão. — Apenas tenha certeza de falar com alguém, Medellyn. Não guarde a feiura dentro de você. — Como foi a viagem para ver o médico? Nunca gosta de montar em ceffyl. — Mede se sentiu culpada por isto durante algum tempo. — Não me contou. 220
— Enviei um mensageiro. Como não havia limite de tempo para ter que ver o médico, ele irá passar aqui quando estiver por perto. — Grace riu entredentes. — Realmente não pensou que poderia manipular sua mãe, verdade? Mede negou com a cabeça. — Pensei em persuadi-la, não manipulá-la. Deveria saber que viria com uma solução alternativa. — Qualquer coisa para evitar montar em um ceffyl. — Grace inclinou a cabeça com o pensamento. — E o príncipe Llyr? Tenho certeza que ouviria suas preocupações. Parece ter-lhe muito carinho. — O que te faz pensar isto? — Mede sentiu-se culpada quando pensou em seu tempo na caverna, fazendo amor apaixonadamente. Inclusive agora a ideia lhe dava vontade de encontrá-lo e beijá-lo, nunca deixar de beijá-lo. Então se lembrou da razão pela qual estava em casa, em lugar de esconder-se com sua dor no bosque: porque ele ordenou. Ela não gostava que dissessem o que fazer. — O que ouviu? — Deveria ter ouvido algo? — Sua mãe arqueou uma sobrancelha. — Não. — Disse Mede, incapaz de fazer contato visual. — Disse algo sobre comida? Acho que estou com fome. 221
Ela não estava, mas sua mãe tinha como segunda natureza a generosidade com quem a cerca, sempre tinha que alimentar as pessoas. Para sua surpresa Grace segurou sua mão, não se levantou de imediato para buscar uma bandeja de comida. — Oh Mede, por favor, diga-me. Morro por saber. — Não posso. Decreto real. — Isto não. O príncipe Llyr. Ele é o único, verdade? Vi a forma como a olhava. Ele é seu amigo. Uma mãe sabe estas coisas. Uma mãe sabe quando um homem está interessado em cortejar sua filha. — Eu não te entendo, às vezes. — Disse Mede. — Quando um dragão quer lançar-se e reivindicar sua companheira. — O tom de Grace diminuiu como se dizer tais coisas fossem segredo e não podiam ser ouvidas. — É necessário que lhe conte sobre o acasalamento? Sabe como se faz bebês? — São presentes dos deuses. — Respondeu Mede com ironia. — Por arte de magia colocam em nossos ventres como sementes na plantação. Grace fez um ruído fraco. — Bom, sei que foi o que eu disse quando...
222
— Mãe, estou brincando. Sim, eu sei. — Mede não quis entrar em detalhes. — Oh graças a Deus. — Grace suspirou com alivio e logo ficou rígida. — Oh, não, os ceffyls. Minha querida menina, não. Não são assim as coisas entre marido e mulher. Não se sinta mal. Pensávamos a mesma coisa quando íamos de visitas a fazenda onde criavam cavalos. Mede a olhou, desejando que a mulher parasse de falar. Ela poderia ter cem anos e tinha certeza que nunca, nunca, sequer sob ameaça de morte, queria voltar a falar sobre sexo com sua mãe. — Sinto muito, mas está errada. Não faço seu cristal brilhar. — Ela tentou manter o rosto sério, mas seu coração se rompeu com as palavras e ela ofegou, apertando a mão contra o peito. Uma lágrima desceu por sua bochecha. — Por favor, não vamos falar sobre isto. — Então o cristal está quebrado. — Declarou Grace com naturalidade. — Seus antepassados vitorianos não precisavam de um cristal para dizer tais coisas. Talvez por ser uma fêmea dragão precisasse de ambos os cristais para funcionar. Desde que quebrou o seu, o dele não brilha. Vi a forma como te olhava. É a mesma forma como seu pai me olha. É a mesma forma como todos estes homens Draig olham suas esposas. Este homem pularia de um precipício para fazê-la feliz. Atravessaria o fogo, cortaria sua própria mão e te daria todo o universo que pedisse a ele. Sei que 223
pensa que sou uma mulher tola com ideias bobas, mas conheço o amor quando o vejo. Este homem te ama. E pela dor que sente agora, suspeito que o ama. — De verdade acha que é por que não temos dois cristais? — Mede queria acreditar, mas se preocupava que o desejo de Grace de ver sua filha casada contaminasse seu juízo. — Talvez. Ou talvez você terá que esperar até o Festival para que funcione. Ou os deuses estão loucos por ter quebrado sua pedra tão cedo e estão brincando com você. — Grace segurou os dedos de sua filha e colocou sobre seu coração. — Você não precisa da magia para lhe dizer o que sabe seu coração. Quando fecha os olhos, o que sente? Em quem pensa? Com quem quer estar? Esta é sua resposta. Não eu, um cristal ou os deuses precisam te dizer o que é o amor. Você sabe que o ama, Medellyn. É tão simples e tão complicado assim. — Não sei o que sinto. — Admitiu. Outra lágrima deslizou por sua bochecha. — Tenho medo de me casar. Nunca quis me casar. Não quero pertencer a alguém. Quero ser alguém. Lutei toda minha vida para ser tão boa, senão melhor, que qualquer dragão macho neste planeta. Sou mais forte e mais rápida e trabalho mais duro que eles. Como posso renunciar a isto para ser uma mulher? Grace não se sentiu insultada pela honestidade. Ela suspirou, acariciou a bochecha de sua filha e limpou uma 224
lágrima com o polegar. — Se realmente quer ser tão boa como qualquer dos dragões machos neste planeta, então deve aceitar o amor como eles fazem. Este é um traço dos dragões que você nega. Todos eles sabem que vão se casar e se acasalar para sempre. Assim como você se casará algum dia. O casamento não vai mudar o que é Medellyn. Irá melhorá-la. E, se você escolher o príncipe Llyr, não pertencerá a um homem. Vai reinar sobre uma nação. Será alguém,
minha
filha
feroz.
Será
sempre
alguém.
O
casamento e a maternidade apenas deixarão sua vida plena. Ninguém poderá dizer que é menos a não ser que o deixe. — E se não está destinado a ser? O que acontece se vou ao Festival e seu cristal brilha para outra pessoa? Não posso ver isto. — Se Llyr não é seu príncipe, então outro homem será em seu momento. — Grace a tomou nos braços e abraçou com força. — Então fará o que cada um faz depois que a vida lhe dá um mau momento. Virá para casa. Aconteça o que acontecer, sempre poderá voltar para casa. — Llyr é tão... — Mede apertou os dentes, pensando em seu último encontro. — É tão frustrante. Sempre tenta me dizer o que fazer, me proteger, ou... Grace riu e a soltou. Mede franziu o cenho. 225
— Não ria. — Não me olhe assim. — Disse Grace. —Estou rindo porque sinto pena de qualquer homem que tentar ficar ao seu redor. Imagino que tenta protegê-lo como ele tenta protegê-la. Um pouco de atrito em uma relação é a parte divertida dela. Mantém as coisas animadas. — Você e papai nunca têm discutem. Grace riu mais forte, todo seu corpo tremia enquanto balançava para trás. — Oh, não que você tenha visto. Nunca discuto com seu pai na sua frente. Este homem pode me enfurecer como nenhum outro. Amadurecemos com a idade e encontramos um ritmo que funciona para nós, mas quando nos casamos eu quis afogá-lo no lago uma vez, em outra joguei nele um sapato cheio de barro e então ele fazia algo muito adorável e eu esquecia por que estava irritada. — Papai? Adorável? — Mede amava o homem, mas na verdade ele não parecia do tipo romântico. — Uma vez cobriu toda a casa com pétalas de flores solares. — Disse Grace. — Foi ele? — Os olhos de Mede se abriram em choque. — Eu me lembro disso. Tinha, o que, seis anos? Pensei que tivesse feito um estranho ritual de limpeza;
226
— Queria me fazer sorrir. Pensei que estava grávida novamente e não resultou em nada... outra vez. O médico que me atendeu, disse que eu não podia mais ter filhos e fiquei muito triste por não poder lhe dar uma grande família como as outras esposas Draig. E sabe o que me disse? Disse que lhe dei a mais rara das flores solares como filha e que não precisava de meninos. Ele tinha a mim e de fato isto completava sua vida. — Por que não me contou? — Você era uma criança e adultos não conversam sobre estas coisas com crianças. Mas eu a vi crescer tanto, Mede. Eu a via amadurecer nestes dois meses. Talvez foi o que aconteceu com Cynan. Talvez foi Llyr. — Grace se levantou e puxou Mede de pé. Ela suspirou e olhou para uma parede exterior como se pudesse ver através dela. — Agora, filha, o que farei com o exército de homens no jardim? Negam-se a ir embora, por ordem do príncipe e cantam canções que não são próprias para os ouvidos de uma dama. Mede riu, incapaz de evitar. Os Dragões Mortos acamparam perto de sua casa, não no jardim como sua mãe reclamou, mas estavam perto o suficiente para ouvir seus gritos nas primeiras horas da manhã. — Acho que o príncipe me queria longe das fronteiras depois da morte de Cynan, assim os enviou aqui para evitar que saísse em busca de vingança. 227
— Assim a morte tem algo a ver com as fronteiras? — Perguntou Grace, com perspicácia. — Posso ir falar com eles e mandá-los embora. — Mede começou a ficar de pé. — Não. — Grace colocou uma mão firme em seu ombro. — Vamos comer. Há comida na cozinha. Coma alguma coisa. Falarei com eles. Sei como lidar com dragões. Minutos mais tarde, Mede se encontrou de pé na porta da casa, olhando com assombro como sua mãe chamava a atenção suavemente dos guerreiros endurecidos sobre a falta de harmonia quando bebiam, suas botas sujas e as mãos sem lavar. Quando terminou, estavam se oferecendo para cortar para ela uma pilha de lenha e comendo biscoitos doces de uma bandeja. Nenhuma vez sua mãe ameaçou com violência ou elevou a voz. — Talvez tenha subestimado a senhora. — Mede disse quando Grace voltou com uma bandeja vazia. — Você se surpreenderá com o que os homens fazem por comida. — Respondeu Grace. — Cada vez que quero que seu pai faça algo, cozinho seu prato favorito. Ainda não se negou a nada. — Acho que suas habilidades vão além de servir biscoitos açucarados. — Mede pegou a bandeja vazia. — Não deixou que comessem todos, verdade? 228
— Claro que não. Deixei os maiores para você. — Grace fez um gesto para a cozinha. — Ainda não posso acreditar que eles fazem o que quer por comida. — Mede riu entre dentes. — Os homens são criaturas tão simples para serem manipulados tão facilmente. Fico contente por ser uma mulher e muito inteligente para cair neste tipo de truques. — Sim, querida. — Grace respondeu com um leve sorriso. Esperou até Mede voltar a sair segurando um biscoito em cada mão. Abrindo caminho para o quarto do fundo, disse. — Preciso que prove o vestido de noiva. Alterei a barra. Estava um pouco longa. Mede parou no meio da sala e viu sua mãe desaparecer no quarto. Ao perceber que ela também foi manipulada com a promessa de comida para aceitar algo, fez uma careta. Murmurou. — Tem sorte de serem realmente bons. — Desafiante colocou um inteiro na boca e foi fazer o que sua mãe queria. *** Llyr não queria nada além de ir para as montanhas para ver Mede. Sabia que estava a salvo, porque ele ordenou
aos Dragões Mortos que
fizessem relatórios
quando ele acampou com o exército Draig perto das fronteiras. Estava com um pequeno grupo de guerreiros 229
que foram chamados de suas casas, mas eram de confiança e valentes. O rei queria que os homens estivessem preparados para a noite da festa e confiou em Llyr para distribuir as tarefas. Os Dragões Mortos precisavam de tempo para chorar, assim Llyr não os colocou neste grupo. A noite da escuridão se aproximava rapidamente. Havia tantas coisas que queria dizer a Mede, mas mantê-la a salvo era um assunto mais importante. Ele enviou os homens
para
as
fronteiras
para
verificar
se
havia
movimentação dos Var. Construíram ganchos nas arvores perto dos terrenos do Festival para ver melhor a festa e o bosque. Com atenção a cada detalhe, Llyr trabalhou durante a maior parte do dia. Cada noite, quando o céu escurecia aos poucos, fugia para um pequeno templo de pedra coberto pela vegetação, para se ajoelhar no chão de pedra ante os deuses. Os deuses não se importariam que a natureza houvesse superado o templo. O tempo dava ao lugar algo de poder espiritual e isto realçava seu sacrifício pessoal. Ele implorou aos deuses por suas bênçãos, para perdoar a perda de seu cristal, para proteger Mede e fazê-la sua esposa. Apenas quando já quase não podia manter os olhos abertos e seu corpo estava tão rígido que doía ao se mover, se permitia a engatinhar e buscar algumas horas de sono antes de fazer tudo novamente. 230
*** — O que quer dizer com que o rei Tared disse não? — Attor exigiu, quando entrou no quarto de seu pai. Lançou a mensagem que seu pai redigiu para ele. O pergaminho caiu sobre a cama do homem. O rei Auguste murmurou incoerências, meio acordado e meio bêbado. O estado aturdido deu a Attor coragem. — Fiz apenas um pedido. Um! Para Lady Medellyn ser minha esposa. Os deuses foram claros. Eu a quero. Preciso dela. O rei se queixou e lançou uma almofada em Attor. Ele a pegou com uma mão e agarrou com força. O rei Auguste virou as costas para Attor despedindo-o. Attor foi para perto da cama. — Você é um rei inútil, um pai sem valor e uma desculpa queixosa de um felino. Os Vars estariam melhores se abdicasse ao trono. — Ele o golpeou com uma almofada com força. O rei Auguste grunhiu e esticou a mão para Attor. Seus olhos nem sequer estavam abertos de tudo, como se seu filho não fosse uma ameaça real a ser levada a sério. —
Deixe-me
seu
moleque
ingrato.
Quer
agora
governar o reino? A única coisa que fez em sua vida miserável foi matar sua mãe! 231
Raiva saiu de Attor, fazendo-o mudar de maneira incontrolável. Garras apertaram a almofada, com tanta força que não podia obrigar suas próprias mãos a se abrirem.
Ele
simplesmente
ficou
ali,
estremecendo
violentamente. — Sem valor. — O rei Auguste murmurou, movendose pela cama para dar as costas novamente para Attor. Attor se lançou adiante. Caiu na cama, impedindo seu pai de se virar uma vez mais. O rei Auguste moveu-se com surpresa. Incapaz de se livrar de seu agarre, Attor usou a almofada para abafar o rosto desagradável do rei. Queria apagar as palavras de ódio. Queria apagar sua infância. Queria esquecer seu pai. Quando o rei Auguste tentou se defender, Attor apertou os joelhos para frente, aumentando a pressão da almofada e prendendo o rei ao mesmo tempo. O rei se moveu, tentando se livrar de seu filho. Attor mal sentiu os cortes no antebraço antes dele segurar seus pulsos. A raiva o manteve forte, mais forte do que jamais se sentiu. — Você é um pai sem valor. Você é um pai sem valor. — Repetiu, ficando nesta mesma posição até os golpes do homem parar O fôlego de Attor estava ofegante. Seus punhos se moveram lentamente e soltaram a almofada. Retrocedeu, saindo da cama. 232
Na verdade, sem pensar, tirou a almofada do rosto do rei. Um dos olhos do rei Auguste o olhava estreitado. O outro estava fechado. Suas mãos tremiam e olhou ao redor do quarto. Ele procurou por sangue na almofada e depois a colocou junto a cabeça de seu pai. O corpo ainda estava quente enquanto empurrava a pálpebra para baixo para esconder o olhar acusador. Aturdido, pegou a carta no chão e saiu do quarto. — Sim, pai, deve dormir. Durma.
233
Capítulo Treze Festival de Reprodução, Palácio Real Música se filtrava pelos terrenos do Festival, o som enchendo a única noite do ano, quando o povo Draig poderia
se
casar.
Llyr
amava
a
ressonância
dos
instrumentos de quatro cordas. As fogueiras estavam acesas, chamas gigantes com certeza podiam ser vistas do espaço. Os fogos foram colocados de forma a guiar a nave de noivas à terra, o que aconteceu uma hora antes. Um novo logotipo verde e rosa brilhante estava pintado no casco da nave que dizia: “NG” que significava Noivas da Galáxia. A nave ainda não se abriu e estava estacionada na colina. Apesar de entender a necessidade dos negócios de seu pai com a corporação, Llyr não estava interessado nas noivas estrangeiras. Conhecia seu destino. Ele ia ao Festival por anos com seus pais, mas este era seu primeiro ano assistindo como noivo. Como sabia com quem queria se casar, ele não se incomodou em ir para a zona de recepção com os outros homens. Não queria explicar por que perdeu seu cristal. No momento, todo mundo podia supor que estava sob a camisa de seda do noivo. Os noivos mascarados se misturavam a multidão reunida. A medida que a única noite do ano se aproximava do planeta, as estrelas brilhavam no céu. As manchas de 234
cinzas ardentes regurgitavam nas fogueiras, as brasas vermelhas flutuavam na escuridão. As folhas grossas caiam das árvores colossais na selva. Diferente das montanhas, as árvores do palácio eram grossas e com muitas folhas. Alimentos assados, folhas dormindo, tudo misturado em um cheiro que era exclusivo desta noite e deste lugar. Uma vez que as portas da nave se abrissem, os noivos formariam uma linha. As mulheres estrangeiras caminhariam por ela. Os cristais brilhariam. Os casamentos seriam realizados e decepções seriam sentidas. As grandes tendas em forma de pirâmide se reuniam à borda dos terrenos do Festival para casais afortunados. Famílias decoravam as tendas com bandeiras coloridas, como símbolo de bênçãos e assim os desejos familiares seriam concretizados. Uma tocha ficava acesa em cada entrada de cada tenda e se queimaria durante toda a noite. Aqueles
que
não
assistiam
ao
Festival
como
noivos
mostravam seu forte apoio deleitando-se ao redor do fogo dançando, bebendo e brindando à celebração. Seus pais estavam sentados do outro lado da multidão,
presidindo
a cerimônia de
seus
tronos de
madeira. Sabia que o rei estava segurando a mão de sua esposa, enquanto a rainha em um sussurro o lembrava como se conheceram em sua cerimônia há muito tempo. Rolant subiu à plataforma de madeira que mais tarde serviria de palco para as noivas. Llyr estava ali para ter 235
uma melhor vista dos terrenos do Festival. Entregando a seu irmão um copo de hidromel, Rolant sorriu. — Ela está aqui. — Você a viu? — Llyr perguntou ansiosamente procurando por todo o lugar. — Onde? Está vestida de noiva? — Eu vi seus pais. — Rolant tomou um gole de seu copo, terminando antes de entregar a um empregado que passava. — Lady Grace perguntou por você. — O que disse? — Llyr não pegou o copo, assim Rolant tomou o copo dele e levou aos lábios. — Disse que Mede estava aqui para se casar comigo? Rolant riu. — Queria saber onde estava sua tenda. Nosso pai não tinha
uma
tenda
montada
para
Mede
já
que
está
convencido de que a dama estará na sua com você esta noite, assim suponho que Lady Grace queria colocar algo nela para dar sorte. Eu diria que é um sinal. — Seu pai viu meu cristal brilhar quando entregamos os ceffyls no vale do norte. Ele pode ter contado a sua esposa. — Llyr franziu o cenho com preocupação. — Mede pode ter outros planos. Ela é cabeça dura e toma suas próprias decisões.
236
Era uma das coisas que amava nela, ainda quando o frustrava. — Não tenha medo, irmão. Passou muito tempo no templo, rezando aos deuses e negou seu desejo de vê-la antes desta noite. Tenho certeza que verão seu sacrifício. Llyr teria ficado sobre a pedra dura do templo durante dez mil anos se isto significasse que Mede seria sua.
Alcançou seu
pescoço,
desejando
que
o
cristal
reaparecesse para ajudá-lo a convencer Mede de seu amor. — Não deveria tê-la enganado. —
Não,
provavelmente
não
deveria.
—
Rolant
concordou. — Mas posso entender por que o fez. A dama teria corrido de você e se escondido do Festival quando visse o brilho de seu cristal por ela. Não teria durado três minutos em sua presença. Acho que se aproximou dela da única forma que podia, como um amigo. — Escrevi uma nota. — Llyr admitiu em voz baixa. — Escrevi umas cinquenta notas. Queria saber como estava depois da morte de Cynan. — Fez isto? — Rolant perguntou com surpresa. — Ela respondeu? — Eu não enviei. Não podia me arriscar a que os deuses pensassem que meu sacrifício era pela metade. — Llyr franziu o cenho. — E se ela acha que não me preocupo com sua dor? 237
Rolant terminou seu segundo copo de hidromel e entregou-o ao empregado. — Dois mais, por favor. O empregado assentiu. — Ela não é tão dura como demonstra. Acho que simplesmente esconde suas emoções assim, como qualquer guerreiro. Isto não significa que não sentimos. — Llyr novamente buscou na multidão. Onde estava? — Tente relaxar e aproveitar a noite. Você tem homens registrando toda a área. Ninguém passará por nossos guardas. Mede está entre a multidão. Está a salvo. Dei ordens a Dylan que seja sua sombra onde quer que vá, antes mesmo de irem para as altas montanhas para ver o irmão de Cynan. Dylan não sairá de seu lado. Llyr relaxou com a notícia. — Obrigado. — Você deve colocar a máscara de noivo. — Disse Rolant. — Uma noiva não pode ver o rosto de seu marido antes de aceitá-lo. Llyr se esqueceu de a colocar em sua urgência para encontrar Mede entre a multidão. Colocou a mão no bolso e pegou a máscara de seda. Combinava com o azul de sua camisa túnica. Sua calça branca tinha cordões azuis cruzados dos lados de cada perna. O corte da roupa era 238
muito antiquado, mas tradicional de um noivo. Seu povo não quis mudar o traje, pois muitos encontraram a felicidade com tal roupa, mudar era de alguma forma manchar o casamento futuro. Pensando em toda a sorte que poderia conseguir, Llyr amarrou a máscara ao redor da cabeça. A seda mostrava seus olhos e nariz, os buracos eram grandes o suficiente para ver. A máscara era um símbolo de fé inquebrantável, a escolha com o coração e não com os olhos. Ouviu seu pai uma vez dizer que houve um tempo onde os noivos cobriam-se plenamente e as noivas não podia vê-los e escolhiam às cegas. Llyr não tinha certeza se a história era verdadeira ou apenas um conto que passou de geração a geração. A risada salpicava a noite. Llyr sentia Mede, mas não podia vê-la. A sensação o enchia de desejo e anseio. Um fio invisível lhe atravessava o coração e o prendia ao dela. A distância e tempo não podiam romper tal conexão. Mesmo se ela o rejeitasse ele sempre a amaria. Não haveria ninguém mais. Nunca houve ninguém mais. Mesmo quando jovem, sonhou somente com uma menina shifter. Não muito assustava o futuro rei dos dragões, mas a ideia de não ter Mede em sua vida o aterrorizava. Conteve o fôlego, freneticamente procurando-a, tentando seguir suas emoções.
239
Seus olhos a viram perto de uma das tendas e ele foi capaz de respirar novamente. Usava o vestido branco de noiva que viu em sua casa no dia que caiu em seus braços. Inclusive agora podia sentir seu corpo contra o dele. O empregado chegou com os copos e Rolant pegou os dois. Estendeu uma mão para seu irmão, mas Llyr ignorou enquanto saltava da plataforma de madeira. A multidão se afastava para deixá-lo passar e ele sorriu ao mar de rostos enquanto caminhava até Mede. Tinha que vê-la. Seja como fosse, precisava convencê-la de que estava destinada a ser sua esposa. *** O que estava fazendo ali? Isto era um erro. Era um erro? Mede se sentia uma tola. As pessoas continuavam olhando-a com o vestido de noiva rendado e sorrindo. Sorriam muito. Não tinha certeza se riam do ridículo que parecia ou se realmente queriam ser agradáveis. Daria sua mão direita por uma camisa túnica e um pouco de privacidade. Sua mãe apertou bem o corpete, mas não tanto como antes. Mede ainda estava convencida de que a peça foi inventada para evitar que se movesse e saísse correndo. Como iria funcionar se não pudesse encher os pulmões de 240
ar? A ponta de seu dedo se transformou numa garra e ela sentiu a tentação de enganchar os cordões para afrouxálos. Talvez então seus seios não ficassem tanto em exibição. A tela de gaze contra o dorso de sua mão lhe lembrou como sua mãe chorou de felicidade e alegria quando colocou as pulseiras nos pulsos de Mede. Retraiu a garra e não cortou nada. Os nervos a faziam engolir seco. Seu vestido dificultava sua respiração. Seus pensamentos hiperativos
não
a
deixavam
se
concentrar
além
da
sensação de enjoo que se instalou em seu cérebro. O que aconteceria se o cristal de Llyr ainda não brilhasse? E se ela estivesse destinada a ter um coração partido para sempre? O que aconteceria se seus sentimentos houvessem mudado desde que ela o viu pela última vez? O que aconteceria se esta horrível dor dentro dela nunca sumisse? Mede não foi amável com ele na última vez que se viram. Ela estava distraída pela dor e a ira. Deveria ter dito: eu te amo, também. Ela deveria fugir. Fugir seria muito mais fácil que enfrentar seus medos. Seu corpo ficou rígido, implorando para mudar e ir para o bosque, para encontrar o ritmo 241
familiar dos pés contra a terra. Sua mente obrigou seu corpo a se comportar. Além disso, não tinha certeza de que o corpete a deixaria mudar sem romper algumas costelas. — Mede? O sussurro veio por trás, surpreendendo-a e ela quase gritou. Fechou os olhos. — Llyr. Sentiu-o
passar
ao
seu
redor.
Sua
respiração
acelerou, como seu coração. Uma mão tocou seu rosto. Um arrepio abriu caminho sobre ela. — É bom vê-la. — Disse. Mede abriu os olhos. Ela começou a sorrir, mas parou. Seu olhar passou por seu pescoço quando ela o olhou. Não usava o colar. Como podia ser? Será que já tinha encontrado alguém? — Eu deveria... — Ela tentou falar, mas sua garganta se fechou. Ninguém poderia esperar que vivesse com a dor que sentia neste momento. Ela sabia que com certeza a mataria. De alguma maneira ficou ali de pé. — Eu... — O quê? — A máscara escondia a parte superior de seu rosto, mas isso apenas fez com que se concentrasse em seus olhos penetrantes e a boca firme. Lembrou-se da sensação destes lábios sobre os dela. Sonhou com seus
242
beijos cada noite, eles ainda eram sentidos entre a névoa do sonho e o despertar de cada manhã. — Eu o felicito por... — Ela balançou a cabeça, incapaz de dizer as palavras. — Vá. Quero dizer, eu devo ir. — Mede, espere, por favor, não o faça. Quero falar com você. — Llyr pegou seu braço, vacilou e logo a tocou suavemente. — Eu sei. Vejo que as bênçãos estão acontecendo. Você não tem que explicar com detalhes. É má sorte falar até que sua noiva tire sua máscara, príncipe Llyr. — Mede queria arrancar o vestido de noite de seu corpo e correr para as montanhas. Com certeza se ela fosse para longe o suficiente poderia acabar com a dor no peito. — Não quer... — Então a tire. — Disse. Mede fez um leve ruído. — Não me irrite. Posso ver que seu cristal se foi. — Eu o perdi quando estávamos no bosque Var. Suponho que os
deuses
decidiram
que
querem
que
resolvamos isto por nós mesmos sem sua orientação. — Eu sei que não o perdeu. Vi você usando quando voltamos para sua casa. — Ela balançou a cabeça, desejando poder acreditar. — Perdê-lo não muda a vontade dos deuses.
243
— Esqueça os cristais. Esqueça os deuses. Mede, eu te amo. Quero que seja minha rainha. Não porque você é uma fêmea dragão. Quero por você mesma. Quero porque não posso pensar em nada mais agradável na vida que fazê-la sorrir. Quero que seja feliz e quero ser a casa de sua felicidade. Quero tocá-la, beijá-la e ficar com você. Mede ouviu alguém rir e se virou para ver Dylan sorrindo diante deles. Levantou seu corpo, sem vergonha vendo e ouvindo o que diziam. Llyr levantou a mão e disse. — Vá embora, Dylan. Encontre alguém mais para perseguir. Dylan se inclinou, sem perder o sorriso por um instante. — Sim meu príncipe, como você deseja. Segurando o pulso de Llyr, Mede afastou-o da área principal para um lugar mais privado atrás da tenda mais próxima onde não pudessem ser vistos em público. —
Você
realmente
não
sabe
fazer
as
coisas
tranquilamente, verdade? Dá má sorte falar agora. — Mede ficou mais perto dele agora que tinham um pouco de intimidade. O tecido do véu flutuou atrás de suas costas, mantendo os pulsos presos para que não pudesse envolver facilmente os braços ao redor de seu pescoço. — Vou ficar tranquilo se disser que vai se casar comigo. — Ele segurou seu rosto e se inclinou para beijar 244
sua boca. Llyr gemeu contra seus lábios. — Diga que será minha noiva. Diga que ficará comigo para sempre. Talvez ela estivesse louca. De alguma forma ela não se importava. — Sim, Llyr. — Ela respondeu. — Para sempre. — Llyr? Llyr, está aqui? Eles precisam de você para poder começar a cerimônia. — Rolant disse. Ele passou ao redor da tenda. Ao ver Mede com o rosto entre as mãos de Llyr, sorriu. — Olá, Mede. — Príncipe Rolant. — Reconheceu, sem se incomodar em esconder sua felicidade. — Llyr, o rei e a rainha o esperam. — Disse Rolant. — A menos que queira que lhes diga que está dando mal exemplo ao beijar sua noiva atrás das tendas antes da cerimônia começar oficialmente? — Ignore-o. — Disse Llyr a Mede. — Ele não pode lidar com sua bebida. — Quem disse que sou sua noiva? — Perguntou Mede, perguntando-se como Rolant sabia o que ela mesma acabou de confirmar. — Será melhor que seja. Não posso suportar meu irmão resmungando por você. É muito patética a forma como o faz. — Rolant lançou adiante e agarrou o braço de Llyr. — Vamos, irmão há outros noivos que esperam se 245
casar. Quanto antes o fizer, mais rápido poderá voltar aqui e chegar a noite do casamento. — Vá. — Mede disse. — Ficarei aqui. — Não quero deixá-la. Venha comigo. — Não. Não quero ficar no cenário. Este vestido já chama muita atenção. Vá. Eu esperarei. — Talvez tenha razão. Não quero ninguém tentando levá-la para longe de mim. — Llyr a beijou novamente. Deslizou a língua para frente por um breve segundo antes de Rolant o afastá-lo. Llyr riu, deixando que seu irmão o arrastasse. Enfrentou Mede, tropeçando atrás e levantou sua mão ao coração. — Eu te amo. Mede iria dizer novamente quando Llyr saiu de sua vista. Seu coração estava acelerado com violência. Ela sorriu de felicidade. —
Deuses,
por
favor
não
nos
derrube
se
os
desafiamos, mas não posso viver sem ele. — Sussurrou. Mede passou para trás da tenda e logo outra, caminhando até que pode ter uma visão clara dos tronos. Llyr ainda não passou pela multidão e o rei e a rainha estavam sentados sozinhos. Seu sorriso vacilou. Rainha. Ela algum dia seria rainha. Mede olhou para a rainha Lorna, estreitando os olhos para que o rosto ao longe aparecesse sobre a 246
multidão. A mulher parecia ter nascido para o trono, regia e elegante. Há uns momentos antes Mede quis arrancar seu vestido e correr de forma selvagem pelo bosque. Como seria rainha? Llyr e Rolant se uniram a seus pais. Olhou as pessoas que estavam de frente a família real. Como iria fazê-lo? Não era mais que um dragão da montanha. O pânico a invadiu. Amava tanto Llyr, mas como seria sua vida com ele? Llyr se virou para a multidão e se concentrou em seu rosto. Uma sensação de calma a invadiu e relaxou. Nada seria tão ruim como a vida sem ele. Podia fazer isto. — Eu te encontrei. A princípio, Mede não acreditava que as palavras fossem para ela. Ficou na ponta dos pés, inclinando-se para ver sobre as cabeças que se moviam em seu campo de visão. — Sabia que estávamos destinados a ficar juntos. As palavras estavam mais perto. Mede franziu o cenho, dando a volta. Olhou o homem que tinha a sua frente. Estava vestido com uma camisa túnica e calça, ao estilo Var. Seu cabelo loiro estava penteado para trás de seu rosto. De alguma maneira, o penteado deixava seu rosto mais severo. Levou um momento para reconhecê-lo. 247
— Você é o homem do pântano. — Disse, apontando para seu braço. — O que me deu a pele. — Lembra-se de mim. — Ele levantou seu braço e traçou o dedo pela cicatriz final do corte que fez. — Eu sabia que estaria pensando em mim depois de nosso momento juntos. Mede franziu o cenho, confusa. Ela realmente não pensou
neste
homem
em
absoluto.
Não
desde
que
conheceu Llyr. — Não entendo. O que está fazendo aqui? O homem começou a rir. — Como se já não soubesse. Seu cenho se enrugou mais e seu corpo ficou tenso em advertência. — Não sei. Está invadindo. É um evento sagrado. O que está fazendo um guarda real Var em um Festival Draig? O felino inclinou a cabeça para trás, rindo mais forte. — Preocupa-se com uma invasão? Depois da forma como nos conhecemos? Dragões não respeitam nossas fronteiras. De verdade acha que seu rei poderia me impedir de vir à cerimônia?
248
— Do que está falando? Por que um guarda Var iria querer vir a esta cerimônia? — Mede olhou para trás. Todos os olhos ainda estavam sobre o rei Tared. Ela ouvia o tom da voz do rei, mas não podia se concentrar nas palavras de benção. — Não sou um simples guarda do palácio. — O homem declarou. — Então, quem é você e o que quer? — Começou a se sentir enjoada. Odiava os felinos. Sabia que era errado odiar um grupo de pessoas pelas ações de uns poucos, mas não podia evitar seus sentimentos. Não precisava de uma prova sólida para saber que foi um Var que contratou os cientistas. A morte de Cynan estava muito recente. — Sou seu noivo. Vim me casar com você. Mede negou com a cabeça. — Nunca me casarei com um gato. Vou me casar com o príncipe Llyr. Está tudo certo já. — Assim que é por isto que o rei Tared negou meu pedido para vir esta noite? Ele te queria para seu filho. Mas não se preocupe. Posso protegê-la. Sou príncipe herdeiro ao trono Var. Vim a você para reivindicá-la como esposa e a levarei ao seu novo lar. Assim veja, não tem que temer por minha vida se vier comigo. O rei dragão não poderá me machucar.
249
Mede se perguntou se o felino sempre teve este olhar selvagem em seus olhos. A leve amabilidade que mostrou ao lhe dar a pele a impediu gritar. — Não é assim como funciona isto. Há costumes. Leis. Vou me casar com o príncipe... — Aqui. — O homem Var lançou um pequeno objeto em sua direção. Com reflexo ela o prendeu contra o corpo. O véu impedia seu movimento e ela o apertou contra seu estomago. — Vamos. Não posso ficar aqui muito tempo. — Quem acha que é para vir aqui e dar ordens? — Ela notou o brilho suave e olhou para baixo. O cristal que segurava brilhava na noite escura. Ela abriu a boca, deixando-o cair como se a houvesse queimado. — Não pode ser. — Eu sabia. Sabia que estava destinada a mim. — O resplendor excitou o príncipe Var e ele foi para ela. Ela cambaleou para trás, aturdida. — Agora viu nosso destino. — Quem acha que é? — Repetiu mais forte. — Príncipe Attor, futuro rei de Qurilixen. — Não há rei de Qurilixen, apenas Var e Draig. —Por que o cristal dele brilhava? Ela estava apaixonada por Llyr e não por este homem. Por que os deuses a colocariam com um Var? É o príncipe Var? — Não entendo. Vamos
250
promover a paz? Nosso casamento pode causar de alguma forma a guerra? Não posso... eu não... Por que os deuses esperavam este sacrifício? — Quebre a pedra e vamos ao meu palácio. — O príncipe Attor estava cada vez mais irritado com ela. Seu sorriso sumiu e ela viu sua mandíbula se apertar. — Como conseguiu a pedra? — A evidência da reivindicação deste homem estava olhando para ela, mas não queria acreditar. De quem ele o pegou? — Os Vars não têm pedras. — O que importa? — Attor se agachou, pegou-o e logo se inclinou para frente para enganchar com força o colar ao redor de seu pescoço. A pedra brilhou mais quando tocou sua pele. Se este era um sinal dos deuses então por que queria gritar pedindo ajuda de Llyr? — Eu não... — Ela balançou a cabeça em negação. — Não. Não vou a nenhuma parte com você. Você me fez um favor uma vez, é a única razão pela qual não estou gritando por um guarda neste momento. Irritado, Attor a pegou pelo braço e agarrou-a. — Não tenho tempo para isto. Temos que ir. — Solte-me. — Ela sacudiu, mas seus pés ficaram presos na saia do vestido de noiva e tropeçou. Um punho 251
pesado a golpeou por trás e cambaleou adiante, surpresa. Sua visão ficou borrada enquanto lutava para se endireitar. Ela abriu a boca para gritar. Outro golpe lhe enviou ao chão. Sua cabeça bateu em algo e logo não viu nada além de escuridão.
252
Capítulo Quatorze — Para aqueles de vocês que foram abençoados com uma noiva, será uma das noites mais difíceis de sua vida. — A voz do rei Tared ecoou sobre a multidão. Os homens gritaram com entusiasmo e as brincadeiras começaram. Os Anciões do Conselho se reuniram a família real ao cenário para mostrar seu apoio. A rainha lançou a seu marido um olhar exasperado, mas não o interrompeu. Inclinou-se para sussurrar para Llyr. — Cada ano faz isto. — Cada ano o deixa beber antes do discurso. — Llyr sussurrou. — Somos fortes! — Gritou o rei, levantando o punho no ar. — Somos fortes! — Llyr gritou com a multidão, que respondeu ao grito do rei. — Somos valentes! — O rei Tared gritou. —
Somos
valentes!
—
Llyr
levantou
o
punho
enquanto respondiam ao rei. Ele sorriu para seu irmão que sacudia um dos Anciãos do Conselho pelo braço. Os mais velhos toleravam as brincadeiras do príncipe mais novo.
253
— Somos Draig! — Todos gritaram juntos pelo campo. Llyr colocou a mão no ombro de seu pai quando o rei voltou a ocupar seu lugar no trono. Riu quando parte do público não diminuiu o ruído. A rainha deixou que eles tivessem seu momento antes de se mover para onde seu marido estava de pé. Ficou ali com graça, sorrindo para seu povo enquanto esperava que se acalmassem. Ao vê-la, os espectadores se tranquilizaram com respeito. — Meu povo maravilhoso. — Disse a rainha, não tão forte como seu marido, mas com um tom que todos os dragões poderiam ouvir. — Desejo muitas bênçãos a vocês esta noite. Como recebi uma vez quando vim a este planeta como uma noiva estrangeira e fui bem recebida. Peço que recebam bem as mulheres esta noite. Algumas terão a sorte de ficar. Trate-as bem, meus dragões, respeitem-nas e os deuses sorrirão a vocês como sorriram a mim. — Por nossa rainha! — Uma voz entre a multidão gritou. — Por nossa rainha! Por nossa rainha! — Começou o canto. A rainha Lorna se sentou junto ao seu marido. O rei levantou sua mão e a levou aos lábios. Llyr viu a boca de seu pai se mover. 254
— Por minha rainha. — Sua mãe tocou o rosto do rei e apoiou sua testa na dele com amor em seus olhos. Llyr olhou para onde viu Mede pela última vez entre duas tendas. A multidão se moveu e a nave espacial começou a se abrir. Noivos fizeram filas para saudar as noivas. A emoção era palpável. — Vá. — A rainha se virou para olhá-lo. — Encontre sua noiva. Vamos nos encontrar pela manhã. Llyr inclinou-se para beijar seu rosto. Sentiu Rolant dando uma palmada em suas costas. Emocionado saltou da plataforma para a multidão. Seu progresso foi lento, já que tentou fazer seu caminho para onde a viu pela última vez. Todo mundo que passava queria desejar-lhe sorte ou brincar sobre a noite que se aproximava. Deu atenção a todos, mas o que realmente queria era voltar a beijar sua noiva. *** — Gatos sagrados, tenha cuidado! — Attor disse para Myrddin. — Gostaria que fosse para minha cama consciente esta noite. — Estava a ponto de alertar aos outros. — Myrddin segurava Mede sobre o ombro e se apressou para a árvore mais próxima. — Você estava levando muito tempo. Temos que voltar antes que seu pai sinta nossa falta.
255
— Não tenho medo de meu pai. — Declarou Attor. — Não tenho medo destes animais. Myrddin assentiu com orgulho. — Ainda assim, deveríamos voltar. Não podemos lutar contra a multidão com um exército de dois. — Vê como brilha a pedra? — Attor ficou atrás de Myrddin para tirar o cristal do pescoço de Medellyn para mostrar ao homem. — Os deuses falam a mim, o que? Onde está? — Vamos, príncipe, devemos nos apressar. — Insistiu Myrddin, caminhando mais rápido. — Somos fortes! — A multidão aplaudiu. Attor olhou para os Draig e fez uma careta. Olhou ao redor do chão. — Você deve tê-lo deixado cair. Preciso encontrá-lo. — Você não precisa de um estúpido costume Draig. — O homem se virou e se dirigiu para onde Attor estava de pé. — Tudo o que precisa fazer é decretar que ela é sua meia companheira. Você é o príncipe. Ninguém vai desafiálo. Serei testemunha. O único que pode desfazer sua reivindicação é o rei e ele provavelmente está desmaiado de tão bêbado agora. Se ela protestar e não se comportar, vamos prendê-la em meu calabouço até que o faça.
256
Attor não gostava de receber ordens. Seus olhos se estreitaram. — Deixe de falar e se mova. Myrddin piscou surpreso com o tom duro. — Somos valentes! — Somos Draig! — Vocês são uns imbecis. — Myrddin murmurou para os dragões. Attor passou junto a ele. — Vamos enquanto estão distraídos por essa tolice. *** O sorriso de Llyr sumiu quando finalmente passou pelo campo das tendas. Mede não estava ali. Olhou ao seu redor, perguntando-se onde poderia ter ido. Ela estava em sua tenda? Ela disse que o esperaria ali. Algo estava errado. Uma estranha sensação, um pressentimento se apoderou dele. Ela não o deixaria, não depois que disse que se casaria com ele. Mede não era uma criatura volúvel que mudava de opinião por um capricho. Se ela dizia algo, cumpria sua palavra. Isso apenas podia significar que algo aconteceu. Fechou os olhos, tentando senti-la. A conexão entre eles estava se formando, mas a cerimônia
não
foi
completada. 257
Não
estavam
verdadeiramente acasalados e até que isto acontecesse ele não a ouviria chamá-lo em sua mente. Em lugar de uma vez mais tentar cruzar pela multidão para chegar a tenda do outro lado para procurála, decidiu olhar ao longo do caminho ao redor do círculo exterior de tendas, onde havia menos pessoas. Um servo passou, assentindo com alegria e desejando sorte. Llyr sorriu e respondeu de forma automática sem realmente ouvir algo. Ao chegar ao redor da tenda, sussurrou. — Deuses, ajudem-me. Estamos muito perto de nos unirmos. Deixe-me senti-la. Sentiu seu... Sua bota tocou em uma pedra solta e esteve a ponto de tropeçar. Olhou para baixo, com a intenção de sair. Um brilho
chamou
sua
atenção.
Llyr
pegou
o
cristal
abandonado. O brilho aumentou quando o tocou. A forma familiar era tão conhecida para ele como sua própria mão, porque sempre o carregou. Meu cristal? Olhou ao redor. Como seu cristal estava onde Mede esteve pela última vez quando a viu? Conhecimento
o
golpeou
como
um
estômago. Perdeu seu cristal no pântano Var. — Mede. — Sussurrou. 258
punho
no
Se ela estivesse em sua tenda, estaria a salvo. Mas se sua pedra fosse um sinal dos deuses, isto significava que o rei Auguste ignorou o pedido negado e enviou homens para capturar a noiva de Llyr. Devem ter feito isto enquanto os guardas estavam distraídos pelo discurso do rei. Por muito que queria encontrar aos homens e sacudilos pela falta de atenção, sabia que encontrar Mede e colocá-la em segurança era mais importante. Lançou um olhar para terra em busca de pistas. Pegadas com botas levaram as árvores. — Príncipe Llyr, o que está fazendo? Não deveria estar na fila com os demais noivos? Llyr olhou para cima. Tirou a máscara e colocou-a no bolso. — Saben, venha me ajudar. O Dragão Morto desceu no mesmo instante e se uniu ao príncipe. — Acho que os Var levaram minha noiva. — Llyr apontou as pegadas. Saben olhou seu cristal brilhante e logo para o chão. — Devo alertar os guardas? — Ele fez um movimento como se fosse sair. — Não, não quero que percebam que estamos aqui. — Disse Llyr. — Se dermos um alarme saberão que algo 259
está acontecendo e vamos causar pânico entre a multidão. Será um
caos. É
o melhor rastreador. Ajude-me
a
encontrá-los em silêncio. — Mas se for um ataque Var... — Confie em mim, Saben. Vieram por Mede. O rei Auguste a quer. Já tentou levá-la por uma via diplomática. Negamos, mas agora veio pela força. — Por isto que nos enviou para protegê-la. — Disse Saben, uma vez mais olhando a pedra que brilhava intensamente na mão de Llyr. — Ossos dos deuses. Está dizendo que Mede é sua noiva? Como não soubemos isto? — Saben. — Insistiu Llyr com seriedade para o homem se concentrar. Saben concentrou sua atenção no chão e abriu caminho
entre
as
tendas
até
as
árvores.
Uma
vez
escondidos, ambos mudaram para dragão para ver melhor na escuridão. — Cheira a gato. — Sussurrou Saben. — Está fraco. — E Mede? Há algum sinal dela? — O medo tentou aparecer e Llyr tentou se concentrar em sua pedra. Com certeza os deuses estavam com eles. Eles a encontrariam. Eles tinham que a encontrar. — Apenas vejo duas pegadas. Parecem muito grande para ser de Lady Mede. 260
— Estão com ela. Eu sei. — Llyr deslizou o colar sobre sua cabeça onde pertencia. Saben não o questionou. — Eles não estão tentando esconder seu caminho. Poderia ser uma armadilha. — Ou estão com pressa para fugir antes que alguém descubra que Mede sumiu. — Respondeu Llyr. Saben acelerou o ritmo. Llyr praticamente sentiu a tensão do homem. Depois de Cynan, todos estavam ressentidos com os Vars — ainda que não tivessem nenhuma sólida comprovação da participação deles. O fato do rei Auguste se atrever a enviar homens pela fronteira para sequestrar uma mulher apenas aumentava a raiva. Saben parou de repente e olhou ao redor. Llyr pode ver por si mesmo duas pegadas que terminavam em um luta de algum tipo e logo se convertia em uma. Ambos levantaram os olhos imediatamente para as árvores. Um som felino repugnante soou quando um brilho de patas se mostrou acima. Llyr saltou, agarrando o tornozelo e puxando o shifter de pelos escuros. — Por ali. Encontre-a! — Saben apontou para Llyr seguir as pegadas antes de saltar sobre o atacante. Llyr se apressou através do bosque. Os sons de uma briga vieram por trás dele. O coração estava acelerado com 261
violência agora que suas suspeitas se confirmaram. Os Vars estavam em seu bosque. Correu mais longe da cerimônia entre as árvores. Era muito tarde para se afastar. Tinha que ir atrás dela sozinho.
262
Capítulo Quinze Mede se sacudiu enquanto acordava. Algo prendia suas mãos e no mesmo instante lutou para soltar os braços.
Suas
costas
rasparam
contra
uma
textura
granulada. Olhou um pouco mais para se concentrar na escuridão e teve que piscar várias vezes para limpar a cabeça. Estava amarrada a uma árvore com o que parecia o véu do vestido de noiva. Apesar de tentar ser valente, uma onda de medo se apoderou dela e começou a tremer. Sua respiração estava irregular e precisava controlá-la. Árvores. Estava amarrada a uma árvore. Não eram grandes como as do bosque perto do palácio, nem finas como as do bosque perto de sua casa. Estava em terras fronteiriças. Onde exatamente era impossível dizer. Sem pontos de referência, podia estar em qualquer lugar ao longo de milhas. Sentia o cheiro leve de putrefação. Os pântanos? Estreitava-se abaixo. Se ela escapasse deste cheiro poderia se familiarizar com o terreno, a menos que, claro ela corresse para o sudoeste, o que a conduziria mais dentro do território Var. Não tinha nenhuma dúvida de que estava do lado errado da fronteira. O príncipe Attor a levou a um lugar onde se sentia seguro. 263
Príncipe Attor. O homem que a beijou no bosque era o príncipe Var? Por seu porte arrogante e a fala, poderia acreditar que era da realeza. Ele também parecia um pouco louco, falando que estavam destinados a se casarem, como se este momento insignificante fosse mais do que isto. Todo seu encontro apenas significou para ela o fim de seu período de iniciação. Se não houvesse se encontrado com Attor, teria tirado a pele daquele agricultor do pântano. Não importava se o homem lhe entregasse cinquenta mil cristais brilhantes, ela nunca se casaria com ele. Amava Llyr. Sem nenhuma pedra estúpida para lhe dizer o que fazer. Llyr. Pensaria que fugiu dele? Iria atrás dela? Levaria muito tempo até que procurasse entre a multidão. Poderia ser de manhã, antes que alguém percebesse que se foi. — Bem. Está acordada. Mede ficou tensa, forçando o medo dentro dela a retroceder enquanto olhava o príncipe Attor. — O que está fazendo? Sequestrar um cidadão Draig é
um
ato
de
guerra.
Realmente
deseja
iniciar
o
derramamento de sangue entre nosso povo outra vez? — Sequestro? — Attor riu de forma sombria e se aproximou mais. Ela ficou rígida. Sua camisa túnica estava salpicada de sangue. — Eu a reclamo, Lady Medellyn como
264
minha primeira meia companheira. Não se pode sequestrar sua própria mulher. Mede ficou sem fôlego. — Não aceito. Vou me casar em outro lugar esta noite. As promessas já foram feitas. Os deuses têm... — Ninguém te perguntou! — Attor gritou. Mede inclinou-se para trás ao ver a ira incontrolável em seu rosto. — Bem-vinda ao trono Var, minha esposa. Attor se aproximou e ela tentou se afastar de seu corpo apertando-se contra o tronco da árvore. Seu fôlego tocou seu pescoço. Ela tentou chutá-lo, mas seus pés estavam presos. Ignorou o desafio. Seus olhos desceram por seu corpo até os seios. Quando levantou a mão, ela sentiu o cheiro de sangue. Ela não tentou olhá-lo, mas seu rosto a pressionava insistentemente para obrigá-la a olhálo nos olhos. Uma garra tocou a parte superior de um seio, traçando a linha da borda do corpete. — Nossos filhos serão lindos, minha esposa. — Sussurrou.
—
Metade
gato,
metade
dragão,
nossas
impressionantes genéticas, nossos filhos serão poderosos. Serei conhecido como o rei que colocou este planeta sob apenas uma regra. — Quer que te ajude a conquistar meu povo e derrubar a monarquia Draig?
265
Mede não podia acreditar neste homem e teve que questionar sua sanidade. Deixou uma garra sair na ponta do dedo enquanto tentava soltar os pulsos. Os laços tinham um ângulo incomodo e eram difíceis de cortar. — Sempre há um pouco de resistência. — Sua garra fez a viagem de volta sobre seus seios. Ela era muito consciente do quanto era perigosa sua posição. Um gesto irritado e este homem poderia rasgar seu peito. — A chave é ter a vontade mais forte e estar disposto a matar qualquer um que se colocar em seu caminho. — Não é muito tarde. Pode me deixar ir. — Mede tentou soar razoável. Manteve a voz baixa, tentando se lembrar exatamente o que disse ou fez para ganhar o retorcido afeto deste homem. — Mas estamos casados. Estamos em terra Var e te reclamei como meia companheira. Está feito. Não vou deixá-la ir, esposa, me pertence. — Deu um passo atrás. Sua garra saiu de seu peito e ela inalou profundamente com alivio temporário. Olhou suas mãos. — Assim não vai funcionar. Mede fez um leve ruído enquanto levantava sua saia. Agarrando a barra, cortou-a com suas garras em tiras irregulares antes de conseguir arrancar um pedaço de seda e renda. Limpou as mãos ensanguentadas antes de deslizar em sua túnica em um esforço de se limpar. 266
O ar livre contra suas pernas expostas a fez olhar para baixo ao que fez. O tecido que envolvia seu tornozelo, estava preso ao redor da árvore. Mantinha suas pernas abertas para que não pudesse fechá-las. Tentou se mover enquanto ele estava distraído, mas as barras de ferro do corpete
em
seu
peito
e
estômago
estavam
muito
apertadas. Diferente da carne humana, a dura pele do dragão não podia se moldar a forma da roupa. Mesmo se tentasse seria muito doloroso. Mede nunca esteve em uma situação na qual tinha que lutar como uma mulher e não como um dragão. — Attor. Preciso que me solte. Voltou o olhar bruscamente para ela. — Esta não é uma forma de começar um casamento. — Ela tentou sorrir.
—
Vamos. Solte-me. Deixe-me
caminhar ao meu novo palácio com dignidade. Attor riu. — Boa tentativa, minha dama, mas não sou estúpido e você não é uma boa atriz. Sua ira se nota em seus olhos ardentes. — Jogou o tecido rasgado de lado e lhe tocou o rosto. — Mas está bem. Gosto de domar minhas mulheres. Neste momento tem medo por sua inocência. — Ou porque me golpeou na cabeça e me amarrou a uma árvore. — Respondeu ela. 267
— Há este fogo em você, eu o vi na noite que nos conhecemos. — Attor deu uma palmada. — Você não é tão dura quando não está usando uma espada, verdade? Mede começou lentamente a se lembrar mais de sua primeira conversa. Lembrou-se de quando pensou que este homem era bonito, mas agora já não o via assim mais. — Lembro-me que você disse que não tinha nenhuma razão para machucar as mulheres. — Também disse que não estávamos em guerra. Neste momento, não estávamos. Agora... — Então quer começar uma guerra? — Mede sentiu os laços que seguravam seus pulsos se engancharem na casca da árvore e começou a trabalhar com seus braços enquanto ele estava distraído. — Isso dependerá em grande medida de você, mulher. — Attor a observou e ela deixou de se mover. — Realmente é digna da realeza. Gostaria de poder ver o rosto do rei Tared quando descobrir que está casada comigo e não com seu filho. Sua expressão caiu e se perguntou pela estranheza de seu olhar. — Vamos ter muitos filhos. Tinha razão quando disse que ser filho único é uma carga e nossos pais eram fracos por... 268
— Nunca disse isto. — Mede negou. — Está torcendo minhas palavras. — Como minha esposa, você será capaz de levar os dragões em seus calcanhares. — Attor começou a andar. Enquanto falava, ela trabalhou os braços mais rápido. De repente, as amarras nos tornozelos afrouxaram. Seus joelhos se dobraram levemente. Como aconteceu isto? Ela não tentou livrar seus pés ainda. — Verão que sua dama dragão me escolheu sobre seu príncipe... — Continuou Attor. Um golpe soou atrás dela, seguido por um “Aagh”. Attor num instante mudou e enfrentou Mede. Ela estremeceu, trabalhando os pulsos mais rápido. Se ela fosse atacada, não poderia se defender. *** Llyr permaneceu tranquilo enquanto se arrastava para onde Mede estava presa a uma árvore. Os Vars gostavam de saltar sobre os galhos das árvores e precisava se assegurar que não houvesse ataque surpresa. Saben estava atrás dela, tentando cortar as amarras. Apesar de poder precisar, não tinha tempo suficiente para conseguir mais ajuda. — Aagh.
269
Llyr dirigiu sua atenção para frente ao ruído. Saben estava no chão atrás de Mede, segurando a cabeça. Enquanto estava distraindo a atenção de Attor, Llyr se encarregou. Saben ficou de pé, cambaleando um pouco, mas disposto a lutar com tudo o que se movia perto dele. Mede chutou violentamente, golpeando seus pés enquanto os pulsos estavam presos. Attor deve ter ouvido Llyr porque se virou. Saben lutou contra seu atacante. Parecia o mesmo gato que caiu sobre ele no Festival. Llyr sentiu os olhos de Mede nele e ele lutaria com qualquer pessoa que tentasse impedi-lo de chegar a ela. Ele cortou o príncipe Var com suas garras. Attor rugiu. Llyr grunhiu. Nenhum deles vacilava enquanto lutavam. A mão de Attor mirou por cima do disco da armadura no peito de Llyr.
As
pontas
afiadas
morderam
sua
carne
como
pequenas agulhas se arrastando ao longo da pele. Llyr levantou o braço, enviando-o com força sobre o pescoço de Attor. Quando o homem cambaleou, Llyr girou novamente para golpeá-lo do outro lado. Attor sacudiu e fez um ruído estranho. Llyr viu o movimento entre as pernas do homem. Mede chutou o príncipe Var nas bolas. Forte. Llyr fechou o punho e golpeou. A cabeça de Attor caiu e ele tropeçou antes de cair no chão.
270
Mede chutou seus pés e gritou enquanto tentava alcançar o corpo de Attor de seu lugar presa na árvore. Ele sentia a ira dela como a sua própria. Saben tinha o outro Var cravado no chão e estava sufocando-o. — Diga que posso matá-lo. — Saben suplicou. — Deveria tê-lo matado na primeira vez. É como um barril ruim de cerveja que sempre reaparece quando menos quer. — Não. — Mede ordenou. — A honra dita que devemos deixá-los vivos. É de um nobre. Eu os ouvi conversando quando estava voltando a consciência. Este é seu príncipe. — Mede chutou o pé pela última vez, ainda sem poder se aproximar de Attor. — Se os matarmos, seremos responsáveis pela guerra. Isso é o que querem. Llyr foi até ela. Seu coração batia tão rápido que tinha certeza que iria explodir. Ele segurou seu rosto para olhá-la. — Sente alguma dor? Mede negou com a cabeça. Ele percebeu que era uma mentira. O sangue seco estava em sua testa. Seus lábios se abriram e ele a beijou. Toda a paixão e preocupação se verteram neste momento. Ele a aceitou totalmente, deu-lhe o poder sobre tudo o que era e a sua vez a sentiu entrar em sua alma. Ela o amava. Ele sentiu. O mesmo toque enviou fogo através de seu sangue e a reivindicou com seu coração. 271
*** — Tire as mãos de minha esposa! — Gritou Attor. Mede gritou. Llyr se inclinou para trás quando o príncipe Var se levantou do chão e o agarrou pela parte de cima da túnica. Foi para o pescoço de Llyr com as garras estendidas, a ponto de arrancar a garganta do homem. Mede gritou de novo. Sem pensar, obrigou seus braços a irem para frente. Os laços se romperam. O calor percorreu seu corpo. A lava de sangue de dragão queimou suas entranhas. Ela gritou novamente, incapaz de controlálo. Fumaça saía de seus lábios. Suas costas se expandiram dolorosamente contra o corpete. Viu Attor olhando-a com assombro, seu braço pronto para matar. Sentiu a carne romper
as
barbatanas
no
corpete.
Suas
costas
se
sacudiram para cima e se levantou do chão. Sem saber como, seu corpo ondulou no ar. Olhou para Attor e queimou de ódio. Llyr se moveu e a olhou com assombro e confusão. Um brilho de uma asa chamou sua atenção por sua visão periférica. Tinha asas. Ela voava. Outro grito saiu dela, mais animal que humano e sua respiração se converteu em puro fogo, que saía de seus pulmões. Attor saiu de seu caminho. Virou a cabeça, tentando não atingir Llyr quando a fêmea dragão primitiva tentou 272
alcançá-lo. Ela tinha uma necessidade básica de proteger sua família. O crepitar das chamas lambeu as árvores. Ela gritou novamente, mas agora que sabia o que viria, lançou as chamas para o céu. Llyr ficou de pé e levantou as mãos em garras. Falou com ela, mas ela não entendia suas palavras. De alguma maneira ela conseguiu aterrissar. Não porque ela não tinha habilidade para controlar seu novo corpo, mas porque o dragão instintivamente queria colocar Llyr atrás de si. Observou Attor fugindo deles. Ela sentiu uma mão em seu traseiro e se virou. De alguma maneira, seu traseiro não pareceu ir com ela. Llyr colocou sua calda sob o braço para impedi-la de balançar. Ele gritou novamente para ela, estendendo a mão. Seus olhos se concentraram no brilhante em sua palma. Seu longo pescoço se virou novamente para se assegurar que Attor tivesse ido embora. Fogo queimou e ela respirou fumaça pelo nariz para apagá-lo. Pouco a pouco, sua figura começou a se retrair, ficando cada vez menor. Sentiu a dor, não pela recolocação física dos ossos, mas mais pela força de vontade para controlar a fera. Seu corpo caiu. Os pedaços de seu vestido ficaram pendurados, aferrando-se a um ombro, mas sem esconder a nudez. Llyr se apressou e tirou a camisa túnica pela cabeça. Sentia o cheiro de seda queimada. 273
Ela respirava com dificuldade, tremendo de frio. — Llyr? Queimou-se? Levantou os braços e primeiro uma perna nua, logo a outra. Ela chamuscou sua calça e estava pendurada pela cintura como um pedaço de seda, mas sua pele estava ilesa. — Na verdade foi como cócegas. — Disse Llyr. O brilho do cristal irradiava sobre o bonito rosto enquanto segurava a pedra. — Eu disse, minha dama, você é meu destino. — Como conseguiu isto? — Ela correu para ele, feliz por não tê-lo machucado. A pedra não estava quebrada e ficou mais brilhante quando ela se aproximou. — É meu. Os deuses o devolveram para mim. Não estava mentindo quando disse que fez meu cristal brilhar. Sinto
muito
por
enganá-la
usando
a
pedra
de
um
empregado meu. Queria que me conhecesse primeiro. Realmente eu quebrei o braço ao montar um ceffyl, mas não a pedra. Sinto muito não ter contado a verdade desde o início. Prometo que vou explicar tudo uma vez que estivermos em segurança. — Eu sabia. — Gritou Saben. Saltou para cima e para baixo com entusiasmo enquanto cobria a boca. Entre os dedos disse. — Você pode voar!
274
— Por que não mudou e se soltou antes? — Perguntou Llyr, tentando ignorar Saben. — Eu tentei. Mas não pude. — Ela ainda tremia de frio. O fogo levou seu calor corporal. — Minha mãe me fez colocar
este
estúpido
corpete
novamente.
É
muito
constritivo. — Ela envolveu seus braços ao redor de Llyr e o abraçou com força, enterrando sua cabeça contra seu peito. — Estava com tanto medo de não me encontrar. Este louco queria que eu fosse sua meia companheira. — Ele te reivindicou? — Perguntou Saben, ofegante. Levantou a mão e deixou uma garra crescer até o final. — Tem que me deixar ir atrás dele e o matar. Eu o farei. Suas mãos ficarão limpas. Ela não pode se casar com dois... Mede pegou o pedaço sujo de sangue de seu vestido que Attor arrancou. Levantou-o e o segurou diante dos olhos de Llyr para simbolizar a máscara que usava na cerimônia. Por estar sujo, não o deixou tocá-lo. — Escolho você, príncipe Llyr, como meu marido. — Ela a retirou e deixou cair no chão. — Eh. — Saben olhou para os dois e logo encolheu os ombros levemente. — Parece vinculante e oficial para mim. A cerimônia era apenas uma tradição, mas não se importava. — Você é meu Llyr. E eu sou sua.
275
— Uh, vocês dois poderiam querer apressar as coisas. — Saben se aproximou de onde o nobre começou a se mover. Inclinou-se e apertou a garganta dele com força para nocauteá-lo. — As pessoas irão notar se o príncipe dragão não aparecer esta manhã para anunciar seu casamento. Não sei quantos mais destes gatos malditos estão vagando fora esta noite, mas por causa do fogo, devem ter lançado um aviso. — Tem razão. — Disse Llyr. — Beije-me. Llyr. Agora. — Ela exigiu. — Você não quer irritar uma fêmea dragão. Llyr obedeceu. Ela gemeu em sua boca, deixando que língua
percorresse
seus
lábios.
Seu
calor
corporal
esquentando sua pele fria. Ela ouviu o sussurro em sua mente: eu te amo, Mede. Sempre, ela respondeu. — De verdade, temos que ir agora. — Saben disse. — Pode correr? — Perguntou Llyr. — Tentem me alcançar. — Mede mudou a sua forma de dragão e foi para o bosque. Os pedaços de seu vestido rasgado balançavam ao redor de suas pernas enquanto corria. Llyr e Saben a seguiram. — Mede. — Saben gritava de emoção à medida que se moviam pelo bosque. — Parecia um daqueles dragões 276
nos tapetes. Tinha asas e calda. E cuspiu fogo! Oh pode fazê-lo? Cuspa fogo. Por favor, Mede. Quero ter minha roupa queimada também. Pode mudar para o dragão novamente? Mede correu mais rápido. — Ei, pode pelo menos nos levar voando para casa? Isto poderia ser mais rápido. — Saben tentou manter o ritmo. — Sinto muito, Saben. — Mede respondeu. — Há apenas um dragão que acende meu fogo.
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Capítulo Dezesseis Mede não queria esperar para selar seu destino. Quando
chegaram
ao
acampamento
o
sol
estava
começando a aparecer pela manhã. Era cedo ainda e muitos dos casais ainda dormiam. No entanto, o Festival ainda fervilhava e a multidão de bêbados estava mais que disposta a olhar o trio andarilho que saiu do bosque. Llyr usada um pedaço de seda e nada mais. Segurava seu cristal na mão já que a corrente de couro queimou. Mede tinha um bracelete e um véu preso ao pulso, uma túnica masculina queimada que mal cobria seus seios e uma saia em tiras. Saben estava tirando a camisa. Tirou-a e esfregou a sujeira da pele e parecia tão arruinado como o casal. A rainha Lorna cochilava em sua cadeira e o rei conversava com um dos anciões. Ao ver a situação de Llyr, imediatamente ficou de pé com preocupação. A multidão se acalmou. O trio parou em seco. A rainha acordou e olhouos em silencio. Ela piscou com força. — Rainha Lorna. Rei Tared. Posso apresentar Lady Medellyn, minha esposa? Aplausos se ouviram. A rainha olhou as roupas com uma expressão de pânico. O rei começou a caminhar para seu filho, apenas para parar quando Llyr levantou seu cristal. 278
— Acho que você tem experiência com isto. — Disse entregando-o para Mede. — Devo encontrar uma rocha no bosque para você? Mede arqueou uma sobrancelha. — Como sabe como eu destruí o meu...? — Eu te vi neste dia correndo pelo bosque e a segui. — Llyr admitiu. — Estava tão irritada e queria ajudar. Quando parou, não pensei que quisesse companhia, assim que fiquei olhando para me assegurar que estava bem. Meu cristal não brilhou porque era muito jovem, mas eu sabia que teria que a esperar. Senti que seria minha noiva. Mede soltou uma risada suave. — Você e qualquer outro garoto que encontrei. — Acho que isto me dá razão. — Llyr lhe entregou o cristal brilhante. Ela o pegou, o deixou cair no chão e pisou. Uma leve sensação trabalhou sobre ela como um arrepio. Mede sorriu, muito feliz. A dor por causa da longa noite aumentou agora que não havia euforia. — Bem-vinda a família, Lady Medellyn. Espero que aprecie sua nova casa. — A rainha declarou em voz alta para que todos pudessem ouvir sua benção. Então ela foi para o lado de seu marido, perto do casal.
279
— Obrigada. — Mede reconheceu. —Desculpe por não aceitar seu convite ao palácio antes. Não quis ignorar todos eles. — Todos? — A rainha olhou confusa. — Não entendo. Eu perdi algo? — Oh, sim. — Disse Llyr com um olhar culpado. — Eu escrevi os convites. — Ele sorriu timidamente para Mede. — Eu realmente, realmente queria te conhecer. Mas isto foi tudo. Estou sendo totalmente honesto. Prometo que não terá mais enganos. — O que aconteceu esta noite? Por que há sangue em sua roupa? — O rei Tared olhou para seu filho e a nova filha com preocupação. Llyr
fez
um
gesto
para
que
Saben
subisse
a
plataforma e o homem se levantou. — Ele vai explicar tudo. Quanto a mim, vou levar minha esposa para a tenda nupcial para um sono muito necessário. Mede sorriu enquanto segurava no braço de seu marido. Muitas bênçãos e desejos vieram daqueles que estavam no caminho. Quando Llyr levantou a entrada da tenda, Mede parou e disse. — De verdade acha que vou deixá-lo dormir agora que é meu marido? 280
— Linda esposa estou a suas ordens. Faça comigo o que quiser. —Llyr se inclinou para beijá-la. — Oh, claro que sim, meu príncipe. — Mede o agarrou pela camisa e puxou para tenda atrás dela. — Acredite, eu farei. *** Attor caminhava pela sala do palácio para seu quarto. Nada podia aliviar a acidez de seu estado de ânimo. Perdeu Mede. Perdeu sua única oportunidade de felicidade e amor. A
obsessão
que
sentia
por
ela
não
diminuía,
mas
transformou-se em ódio e concentrou-se na vingança. Ele não a mataria. Não, isto seria muito fácil, mas ele tomaria tudo o que amava. — Vou esperar minha vez, Lady Medellyn e mesmo que demorar anos, vou destruir tudo o que ama. Tenha seus filhos com o príncipe Llyr. Veja-os crescer. E quando tentarem
iniciar
suas
famílias
verá
sua
linhagem
desmoronar. Vai ver seus filhos perderem o que tomou de mim, suas companheiras. — Aí está. — Apareceu Myrddin olhando para Attor. — Ouviu as notícias? Seu pai foi encontrado morto esta tarde. Ao parecer, ele estava apodrecendo no quarto todos estes dias. As empregadas pensaram que estava apenas dormindo em um dos estupores bêbados e não quiseram correr o risco de acordá-lo. Quando os cozinheiros notaram 281
que não pedia comida, um guarda se aventurou e o encontrou morto. Attor ficou rígido, recordando o corpo de seu pai sob suas mãos. Deveria saber que este momento chegaria, mas quando não aconteceu empurrou a realidade de seus atos de sua mente. — Você é o novo rei. — Myrddin disse. — E depois desta noite, você tem que concordar. A guerra pode finalmente começar. Um pequeno temor de que suas ações fossem descobertas o encheu e empurrou. — O que fez a meu pai? — Attor gritou para o antigo nobre. — Nada. — Myrddin disse com surpresa. — Não fiz nada. Morreu dormindo. — Não acredito. Você falou em matá-lo quando estávamos no bosque. — Attor apontou acusadoramente para ele. — Diga agora. Jogou sujo? — Juro que morreu naturalmente, meu rei. Eu não matei o antigo rei. Tem que acreditar. — Myrddin caiu de joelhos. — Eu não o trairia, meu rei. O título era quase oficial já que não houve nenhuma coroação, mas era bom para o orgulho de Attor e não o corrigiu. 282
Attor
fingiu
considerar
a
resposta
do
nobre.
Finalmente, ele assentiu com a cabeça lentamente. — Eu acredito em você. Agora fique de pé e vá. Quero dormir. — Quer que mande uma mulher para aliviá-lo? — Myrddin ficou de pé. Attor pensou nas bolas inchadas, onde Mede o chutou. — Não. Se quisesse uma mulher teria pedido uma. Vá e se assegure de que não seja perturbado. Vou chorar o choque repentino da morte de meu pai. — Sim, meu rei. — Myrddin saiu do quarto.
283
Epílogo Mede olhou o novo desenho do vestido de noiva com um olhar de horror e diversão. Ao que parecia, seu debute como a nova princesa causou uma grande revolução, sobretudo quando a história de Saben de sua valentia frente ao sequestro Var caminhou pelo campo. Claro, ninguém acreditou quando ele disse que podia voar. Mede mal podia acreditar ela mesma. Tudo em que podia pensar era que seu amor por Llyr aumentou tanto a ponto de querer protegê-lo. Lembrou-se da sensação do dragão ao pensar na família e em sua proteção. Supunha que se a vida de Llyr estivesse em perigo em algum momento, o dragão apareceria novamente. Até então, a mudança de Mede voltou ao normal. — Ao que parece. — Disse a rainha Lorna com um sorriso divertido enquanto descia o papel. — Os noivos pensam que esta nova roupa trará sorte e abençoará seus casamentos com mulheres fortes como a nova princesa. Estava
no
escritório
real
onde
a
família
com
frequência se reunia para socializar longe dos olhos dos empregados. Estar casada com um príncipe era difícil de se acostumar, mas havia gratificações — como um marido muito devoto que não podia manter as mãos longe dela. — O que acontece com os noivos? Se as noivas precisam ficar quase nuas, não acha que os homens 284
deveriam também? — Mede gostava de sua sogra. Ela foi acolhedora nos meses desde que se casou com Llyr. — Estava pensando em um pedaço de pele. — Sussurrou a rainha Lorna. — Pequenos pedaços de pele e nada mais. Mede riu, ofegante enquanto assentia. — Sim claro. Saben adorará, ainda que tenha certeza que ninguém irá. Apenas é melhor não mencionar nada a minha mãe quando ela vier de visita amanhã. A última vez que falei com ela, tinha ideias para mudanças que queria que eu implantasse agora que tenho o poder. Disse algo sobre como iniciar um movimento para acabar com o consumo de bebidas alcoólicas, a luta das mulheres em batalhas e a Ordem dos Dragões Mortos. — Se alguém pode fazê-lo, é sua mãe. Esta mulher é incrível. A forma como consegue que estes dragões façam o que quer sem levantar a voz. — A rainha suspirou com admiração. — Isto é um talento. — São os biscoitos açucarados. — Disse Mede. — Ao que parece, os homens fazem qualquer coisa por doces. — Vou me lembrar da próxima vez que o rei tentar me convencer a ir acampar no bosque. — A rainha ficou de pé. — Os homens devem se reunir com o novo comandante logo. Estou ansiosa para ouvir o que descobriram. O rei Attor está muito tranquilo neste último ano. Gostaria de 285
pensar que se arrepende por suas tolas tentativas de casamento, mas temo que pode ser a calma que precede a tempestade. Mede observou como a rainha saía do escritório. Fechou os olhos, tentando chamar Llyr para seu lado. Em uns momentos, estava passando pela porta. — Me chamou, minha princesa? — Ele sempre tinha um sorriso para ela. —
Sim,
meu
príncipe.
Alguma
notícia
do
comandante? — Mede levantou a mão para ele. — Ainda tranquilo. Não há sinais de movimento Var no bosque. — Llyr pegou sua mão e a beijou antes de se inclinar
sobre
o
braço
da
cadeira
para
beijá-la
corretamente. — Sei que está preocupada com um ataque ao próximo Festival, mas não há evidências de que planeja um ataque. Ficamos atentos durante todo o ano. Os guerreiros foram melhor treinados que no ano passado. Os soldados se multiplicaram ao longo da fronteira e há uma forte presença em todo o local do Festival. Eu mesmo pedi ao Noivas da Galáxia que fizesse uma varredura de calor sobre o bosque antes de aterrissar. Estará a salvo. — Sabe, eu estava pensando, nunca chegamos a experimentar nossa noite na tenda nupcial. Não me interprete mal, adorei fazer amor antes de desmaiar de
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cansaço e dormir por doze horas na manhã seguinte, mas acho que quero a experiência completa. Llyr começou a assentir com a cabeça, mas de repente inclinou-se para trás. — Espere, não. Lembra-se que os casais não podem ter relações sexuais na noite anterior que se quebra o cristal? Eles podem conversar e brincar, mas não podem encontrar liberação. — O que? Tem medo de não conseguir? — Perguntou. Llyr riu. — Oh minha bela princesa. Veremos quem pede primeiro. Mede gemeu suavemente em sua boca. Seu corpo estremeceu de desejo. Um ano não fez nada para esfriar seu desejo por ele. — O bom é que ainda há algumas semanas pela frente. — O que quer dizer? — Ele tirou seu cabelo do rosto. Inclinou-se
para
sussurrar em
seu
veemência. — Leve-me ao nosso quarto e saberá.
287
ouvido
com
Llyr a tomou nos braços antes que pudesse terminar a frase. Correu pelos corredores do palácio, sem importar que os empregados os vissem. — Eu te amo, para sempre, senhora esposa. — Disse enquanto empurrava a grossa porta de sua ala particular. — Sim. — Sussurrou Mede. — Eu te amo, para sempre.
Fim
288
A série continua… Quer ver como é a virada dos filhos de Rei Attor, apesar dos ensinos do seu pai? Senhores do Var: O Rei Selvagem Isto foi o primeiro dos Dragon Lords? Volte para o início! Dragon Lords 1: Príncipe de bárbaro Leia todos os Dragon Lords e Senhores de Var ? Sim, continue indo! Senhores Espaciais 1: (Sua) Donzela Gelada Livros de Dragon Lords Relacionados Série Dragon Lords Príncipe de Bárbaro Príncipe Perfeito Príncipe Escuro Príncipe de Guerreiro Sua Alteza O Duque O Lorde Teimoso 289
O Lorde Relutante O Lorde Impaciente A Rainha do Dragão Série Senhores de Var O Rei Selvagem O Príncipe Brincalhão O Príncipe Prisioneiro O Príncipe Desonesto O Príncipe Pirata
Não deixe de verificar os outros livros no mundo futurístico dos Lord Dragons: na Séries Senhores espaciais, Série da Dinastia de Zhang, com muitos mais livros para vir! Aprenda mais e fique acordado com a visita de lista de livro mais recente em www.MichellePillow.com
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Sobre a Autora Michelle M. Pillow. Michelle M. Pillow, All Things Romance™, é uma premiada autora de múltiplas publicações, escrevendo em muitos gêneros de romance de ficção inclusive futurístico, paranormal, histórico, contemporâneo, fantasia e escuro paranormal. Desde que ela pode se lembrar, Michelle teve uma fascinação estranha com qualquer coisa sobrenatural e sci-fi. Depois de descobrir romances históricos, era só natural que os sobrenaturais e elementos de amor/romance deviam algum dia encontrar em seu cérebro o pais das maravilhas. Ela está contente como se eles fossem suas crianças e os têm despejado sobre a tela de computador desde então. Michelle ama viajar e tentar novas coisas, se é uma investigação paranormal do velho Vaudeville Theatre ou subindo templos maia em Belize. Ela é viciada no cinema e costumava deixar sua mãe louca enquanto citava cenas fortuitas com seu irmão. Apesar disto ainda não ter acontecido, seu sonho é estar em um filme de horror como um zumbi ou como o desprezível covarde que grita e consegue isto nos créditos iniciais. Mas, pela maior parte do tempo
ela
pode
ser
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escrevendo
em
seu
escritório com uma xícara de café e em suas calças de pijama. Ela tem estado na lista de bestsellers da Amazon várias vezes, indicada para o Romantic Teme Lifetime Achievement Award 2011, é vencedora do Prêmio Escolha 2006 dos RT Revisores, indicada para a o RT Award 2007, um Brava Novella Concurso Finalista e um membro do PAN de RWA. Michelle tem títulos publicados com The Raven Books, Pocket Books, Random House, Virgin Books, Adam’s Media, Samhain Publishing, Running Press, e mais. Ela ama ouvir seus leitores. Eles podem contatá-la por seu site da web www.michellepillow.com Michelle ama ouvir sobre leitores e poder ser achada interagindo em mídia social. Site da autora na web: Http://www.MichellePillow.com Blog de conversa de Pillow: Http://www.michellepillow.com/blog The Raven Books: www.TheRavenBooks.com Facebook: Https://www.facebook.com/AuthorMichellePillow Twitter: @MichellePillow Book Release Newsletter: Http://www.michellepillow.com/newsletter/?p=subscreve (Newsletter: Nós não compartilhamos e-mail. Normalmente enviado não mais do que um por mês) 292
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