Projeto "MEMÓRIA-Nona Ilha"
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VIEIRA, ALBERTO SERÁ O ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA NO SÉCULO XV A PRIMEIRA ETAPA DA GLOBALIZAÇÃO?
Cadernos de divulgação do CEHA. Projeto “Memória-Nona Ilha”/SRETC/DRC, N.º 07. VIEIRA, Alberto – Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?]. Funchal. Outubro de 2017.
Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
SERÁ O ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA NO SÉCULO XV A PRIMEIRA ETAPA DA GLOBALIZAÇÃO? ALBERTO VIEIRA* CEHA-SRETC-MADEIRA
ALBERTO VIEIRA. N. 1956. S. Vicente Madeira. Títulos Académicos e Situação Profissional: 2016- Coordenador do CEHA e de projetos de investigação; 2013-2015:Diretor de Serviços do CEHA; 2008- Presidente do CEHA, 1999 - Investigador Coordenador do CEHA; 1991-Doutor em História (área de História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa), na Universidade dos Açores; 1980. Licenciatura em História pela Universidade de Lisboa. ATIVIDADE CIENTÍFICA. Pertence a várias academias da especialidade e intervém com consultor científico em publicações periódicas especializadas. É Investigador-convidado do CLEPUL-Lisboa. Membro da Catedra Infante Dom Henrique. Desenvolveu trabalhos de investigação nos domínios da História do Meio Ambiente e Ecológica, História da Ciência e da Técnica, O Mundo das Ilhas e as Ilhas do Mundo, História da Autonomia, História da Ciência e da Tecnologia, História da Escravatura, História da Vinha e do Vinho, História das Instituições Financeiras, História do Açúcar. Atualmente desenvolveu estudos e coordena projetos sobre Historia Oral /Autobiográfica, com os projetos: MEMÓRIA das Gentes que fazem a História; NONA ILHA- as Mobilidades Madeirenses; AUTONOMIA. Memórias e testemunhos. PUBLICAÇÕES. Tem publicado diversos estudos, em livros e artigos de revistas e atas de colóquios, sobre a História da Madeira, dos espaços insulares atlânticos, da Nissologia/Nesologia e sobre os temas de investigação referidos acima. Informação curricular desenvolvida em: https://app. box.com/s/248a0h63 7wi5llm26o66o9bbw2kd182z.
Imagem da capa: 1502. Carta de navegar pela ilha novamente achada na parte da Índia. Oferta de Alberto Cantino ao Senhor Duque Hércules (Biblioteca Estense Universitaria). CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Uma vida precária, frugal, permanentemente ameaçada, esta a sorte comum das ilhas. Em termos exteriores, porém, o seu papel histórico é de uma grandeza pouco de esperar em zonas tão pobres. Com efeito, os grandes eventos históricos culminam frequentemente nas ilhas. Mas seria talvez mais justo dizer que se «servem» delas. (…) E é natural. As ilhas, situadas nas mais importantes rotas marítimas, são afectadas por todas as grandes convulsões, que normalmente têm reflexos no rumo da sua evolução. Isto é especialmente verdade no campo económico, dado que as estruturas das ilhas não lhes permitem resistir eficazmente a forças exteriores, como acontece quando são tomadas por culturas estrangeiras que só se justificam em termos de mercado mediterrânico, quando não mesmo mundial. BRAUDEL, F. 1953, O Mediterrâneo e o Mundo Mditerranico la época de Felipe II., Lisboa, p. 177-178. Depois da Segunda Guerra Mundial, a emergência dos Estados Insulares no concerto das nações, a Convenção sobre os Direitos do Mar, a definição da Zona Económica Exclusiva (ZEE) e o incremento do turismo provocaram mudanças de tal ordem na percepção da insularidade que, em certos meios leigos e eruditos passou-se a falar dos “mares das ilhas”, do “milénio dos ilhéus” e mesmo da Nissologia ou “ciência do mundo insular”. TOLENTINO, André Corsino, 2006, Universidade e Transformação dos Pequenos Estados em Desenvolvimento. O Caso de Cabo Verde, Lisboa, Universidade de Lisboa/FPCE, p. 58. As ilhas estão assim no centro do nascimento da Europa e dos seus valores. Elas são um elemento essencial para que esta bizarra e peculiar ideia de que o indivíduo é o centro do mundo, portador de direitos que só se podem desenvolver num ambiente democrático, tenha nascido e criado um nicho de aplicação. TELO, António, 2011, A Europa e as ilhas - uma dinâmica milenar. In AAVV, As Ilhas e a Europa. A Europa das Ilhas, Funchal, CEHA, p. 12. Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer o mundo. VIEIRA, Pe. António, Sermão de Santo António, Roma, na Igreja de Santo António dos Portugueses, 1670, § IV.
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A ilha da Madeira... que Deus pôs no mar ocidental para escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes, que de Portugal e de outros regnos vão, e de outros portos e navegações vêm para diversas partes, além dos que para ela somente navegam, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muito dinheiro para se aproveitar do retorno que dela levam para suas terras... [FRUTUOSO, Gaspar, 1979, Livro Segundo das Saudades da Terra, P. Delgada, pp. 99-100] “A irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a Madeira. E irmã que se estremou em termos de mãe para com a terra bárbara que as artes dos seus homens... Concorreram para transformar rápida e solidamente em nova Lusitânia” [FREIRE, Gilberto, Aventura e Rotina, 2ªed., pp 440-446, 448-449] “...O conjunto dos arquipélagos das Canárias, Madeira e Açores: escalas obrigatórias em todo esse sistema mundial, uma vez que o globo se tornou em periferia desse centro dinâmico, empreendedor e avassalador, que é a Europa ocidental dos séculos XVI-XVIII. (...) A Madeira situa-se no centro deste sistema de duplo sentido, e por isso de certo modo comanda todo este espaço, porque vive sobretudo da riquíssima produção própria.” V. M. Godinho, Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar. Séculos XIII-XVIII, Lisboa, 1990. ...para que o rei lhe mandasse madeirenses “que cortavam as serras pera fazerem levadas, com que se regam as cannas de açúcar”, para desviar o curso do rio Nilo. 1973, Comentários de Afonso de Albuquerque, vol. II, Lisboa, parte IV, cap. VII, p. 39. “...porque a ilha da Madeira meu bisavô a povoou, e meu avô a de são Miguel, e meu tio a de são Tomé, e com muito trabalho, e todas do feito que vê...”.João de Melo da Câmara, 1532, in História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. III, p. 90; cf. Vera Jane GILBERT, 1978, “Os Primeiros Engenhos de Açúcar” in Sacharum, nº.3, São Paulo, pp. 5-1. Zargo povoa a Madeira, um filho S. Miguel, um neto S. Tomé e um bisneto, embora sem êxito, tenta o mesmo com o Brasil. Uma dinastia de colonizadores com raízes e tirocínio inicial madeirense. David F. GOUVEIA [1987, A manufactura açucareira madeirense (1420-1550), Atlântico, 10, p. 127].
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Projeção de Mercator: Nova et Aucta Orbis Terrae Descriptio ad Usum Navigatium Emendate (1590)
INTRODUÇÃO
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á um debate no meio académico, especialmente latino-americano, sobre o que realmente aconteceu no mundo a partir do século XV com o processo de descobrimentos e expansão europeia. • Afinal, entramos no caminho da globalização ou da ocidentalização /europeização do mundo? • Será este discurso da globalização, que pretende definir o que aconteceu no mundo, a partir do século XV como a primeira etapa da globalização, eurocêntrico? • A evocação dos 600 anos da globalização será o retomar de velhas questões que marcaram, a partir de meados do século XX, o debate académico, a reação violenta do mundo latino-americano, ou teremos o salto em frente no caminho da post-modernidade, da decolonialidade?
Há um conjunto de académicos sul-americanos1, oriundos do Brasil, Cuba, Bolívia, Venezuela e México que têm assumido um papel relevante neste debate. A eles juntam-se alguns de fora2, como é o caso do português Boaventura Sousa Santos, para alguns considerado o pai das “Epistemologias do Sul”. Em torno deste debate académico perfilharam-se teorias, enriqueceu-se o vocabulário científico com 1
Destes podemos salientar Fernando CORONIL (1996-2000), Enrique DUSSEL (1993-2004), Ramón GROSFOGUEL (1996-2010), Octavio IANNI (1992-2000), Edgardo LANDER (2000-2006), Walter MIGNOLO (1995-2016), Renato ORTIZ (1992-2009), Alejandro PORTES (1997-2006), Anibal Quijano (1990-2007), Eduardo RESTREPO Uribe (2007-2012). Obs.: entre parêntesis vão as datas limites das publicações, referenciadas na bibliografia.
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Devemos referir o caso de Samir AMIN (1988-1997), Andre Gunder FRANK (1990-2012), Imanuel WALLERSTEIN (1987-2016). Obs.: entre parêntesis vão as datas limites das publicações, referenciadas na bibliografia.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? novos e inusuais conceitos, ideias e discursos. O mundo latino-americano enfrentou este paradigma cognitivo de forma violenta, afirmando claramente a sua oposição a este processo de globalização, que considera ocidental e eurocêntrico e uma estratégia de afirmação colonial dos europeus.3 Desta forma, as chamadas epistemologias do sul4 são a denúncia da soberania epistémica da ciência moderna e o princípio para a busca de um novo padrão do conhecimento científico5. Na atualidade, o debate já não é a questão da globalização e o momento da sua afirmação. Ninguém parece querer saber quando e como começou este processo histórico, mas quando dará lugar a um novo momento de mudança, com aquilo que alguns definem como a definitiva globalização que culminará com um ideal de uma nova aldeia global, porque, como afirma Boaventura Sousa Santos (2010b: 51) a “diversidade epistemológica do mundo continua por construir”. A nossa investigação parte sempre de uma pergunta e inquietação que nos conduzem a múltiplas respostas e à formulação dos pressupostos que as fundamentam. Não pretendemos encerrar o debate do tema e ignorar as suas múltiplas variantes. Apenas é nossa intenção apelar a uma maior atenção e participação das ilhas, tão ignoradas e esquecidas, neste debate. Em nosso entender, como no de outros que conhecem a História das ilhas e do mundo atlântico, o que aconteceu no século XV foi um momento importante no sentido do processo de globalização que ainda não está devidamente valorizado quanto ao protagonismo do mundo insular. E é isso que pretendemos fazer, afirmando a participação das ilhas, a partir da Madeira. Tudo isto porque aqui, no arquipélago, se experimentaram múltiplas mobilidades e mudanças, em termos sociais, económicos, culturais e botânicos, que lançaram os alicerces da modernidade e de um mundo diferente, global. Partimos, assim, de questões e, ao longo da nossa exposição, pretendemos reunir as nove peças do puzzle que permitirão a cada um de nós encontrar a resposta. Intencionalmente não daremos as soluções, pois não queremos substituir o discurso do eurocentrismo pelo do ilhocentrismo ou madeirensecentrismo. Não queremos fazer do mundo uma madeirolândia6. As nove razões que apresentamos abaixo são a fonte e justificação da nossa opção em prol da afirmação da Madeira como uma etapa fundamental deste processo de globalização de que agora se evocam os seiscentos anos. 3
Desta forma, para Serge GRUZINSKI (A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.,p..297) “... imaginar que seria o prelúdio da conquista e da ocidentalização de todo um continente, e até, na realidade, uma das primeiras etapas da globalização que se esboça entre o fim do século XV e o início do XVI corresponde a um fenômeno global de ‘desencravamento’...” . Mas, “Já não é possível construir a partir de uma só epistemologia um desenho global como “solução única” aos problemas do mundo, seja da esquerda (socialismo, comunismo etc.) ou da direita (desenvolvimentismo, neoliberalismo, democracia liberal etc.). A partir dessa diversidade epistêmica há propostas anticapitalistas, antipatriarcais e anti-imperiais diversas, que apresentam diferentes maneiras de enfrentar e solucionar os problemas produzidos pelas relações de poder sexuais, raciais, espirituais, linguísticas, de gênero e de classe no presente “sistema-mundo capitalista/patriarcal moderno/ colonial”. (...). O mundo ocidental não pode impor seu conceito liberal de democracia às formas de democracia indígena, islâmicas ou africanas. Por exemplo, o zapatismo de cosmologias tojolabales redefine a democracia como “mandar obedecendo” e sua institucionalidade prática constitui os “caracóis”. Conceitos muito distintos à democracia ocidental em que “o que manda não obedece e o que obedece não manda” e cuja institucionalidade prática são os parlamentos ou assembleias nacionais (GROSFOGUEL, 2008: 34).
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Cf. “A epistemologia do Sul que tenho vindo a propor visa a recuperação dos saberes e práticas dos grupos sociais que, por via do capitalismo e do colonialismo, foram histórica e sociologicamente postos na posição de serem tão só objeto ou matéria prima dos saberes dominantes, considerados os únicos válidos.” (SANTOS, 2008: 11). E como afirmam Suze de Oliveira Piza; Daniel Pansarelli, (2012:30) “A epistemologia moderna eliminou de suas reflexões o contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento. É como se esses temas não fossem questões, ou não merecessem problematização e resolução. A consequência dessa não atenção é uma espécie de cegueira que impede o próprio conhecimento de se efetivar. Estamos subordinados a uma epistemologia dominante que, sendo dominante, apresenta-se universal e neutra. A dominação colonial e capitalista global é, também, uma dominação epistemológica que coloca os dominados numa relação de subalternidade. “
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Cf. Boaventura S. SANTOS, e M. O. Meneses que afirmam [ (Org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010 p. 7]. Por que razão, nos dois últimos séculos, dominou uma epistemologia que eliminou da reflexão epistemológica o contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento? Quais foram as consequências de uma tal descontextualização? São hoje possíveis outras epistemologias? (…) Trata-se do conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam a supressão dos saberes levada a cabo, ao longo dos últimos séculos, pela norma epistemológica dominante, valorizam os saberes que resistiram com êxito e as reflexões que estes têm produzido e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos. A esse diálogo entre saberes chamamos ecologias de saberes. (…) O colonialismo, para além de todas as dominações por que é conhecido, foi também uma dominação epistemológica, uma relação extremamente desigual de saber-poder que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprias dos povos e nações colonizados, relegando muitos outros saberes para um espaço de subalternidade.”
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Recordo que para muitos dos ilhéus a ilha é quase sempre o centro do mundo.
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Atlas Catalão de Abraham Cresques (1375)
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A MADEIRA E O MUNDO E O MUNDO DA MADEIRA
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azendo nossas as palavras do padre António Vieira, poderemos afirmar que Deus deu aos madeirenses um berço estreito para nascer e o mundo inteiro para morrer7. A Madeira e os madeirenses chegaram, efetivamente, aos quatro cantos do mundo e tiveram uma intervenção, desde os primórdios do processo de mundialização iniciado no século XV, com os chamados Descobrimentos de que hoje somos plenos usufruidores, e que merece ser, aqui e agora, destacado. Partindo desta constatação, seguimos à descoberta dos madeirenses no mundo e dos múltiplos papéis que protagonizaram, porque, afinal, a ilha foi um cais de permanentes chegadas e partidas. Não queremos fazer da ilha o centro do mundo, mas apenas chamar a atenção de todos para o facto de que, em quase todos os recantos da terra, há um pedaço da ilha, um poio madeirense, que se afirma pela sua presença atual ou passada. Daí esta ideia de um mundo inteiro para morrer, que a pequenez do espaço insular repele e o protagonismo que, em diversos momentos e situações, a História define. Recordo que a diáspora dos madeirenses, como a de todos os povos ou regiões, foi um desafio e a busca incessante de um lugar ou território, que a ilha já não comporta, pela pequenez e fracos recurso que apresenta.
Com os navegadores quatrocentistas e quinhentistas, partimos à descoberta deste mundo novo, que equaciona as ilhas e a Madeira de uma forma distinta, que olha e reflete sobre as ilhas de dentro e não de fora. Se insistirmos nesta postura, vamos constatar que o processo de globalização8 que partiu da Europa no século XV tem um suporte relevante nas ilhas do Atlântico, porque as ilhas são protagonistas dos grandes momentos da História9. 7
Diz este que: Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer o mundo. VIEIRA, Pe. António, Sermão de Santo António, Roma, na Igreja de Santo António dos Portugueses, 1670, § IV.
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Sobre esta ideia do processo de mundialização, que parece ser uma invenção do Homem do século XX, atente-se nas produções e reflexões dos últimos anos. Cf. HOPKINS, A.G., 2002 Globalization in World History. New York: Norton; A Quick Guide to the World History of Globalization, University of Pennsylvania. Disponível na internet em: http://www.sas.upenn.edu/~dludden/global1.htm; BORDO, Michael D., Alan M. Taylor and Jeffrey G. Williamson, editors, 2003, Globalization in Historical Perspective. Conference held May 3-6, 2001. University of Chicago Press. Disponível na internet em: http://papers.nber.org/books/bord03-1; RODRIGUES, Jorge Nascimento, Devezas, Tessaleno, 2009, Portugal Pioneiro da Globalização. A Herança das Descobertas, Lisboa, Centro Atlãntico lda; 2013, The History of Globalization, Yale Global Online, Disponível na internet em: http://yaleglobal.yale.edu/about/history.jsp.
9 Cf. Uma vida precária, frugal, permanentemente ameaçada, esta a sorte comum das ilhas. Em termos exteriores, porém, o seu papel histórico é de uma grandeza pouco de esperar em zonas tão pobres. Com efeito, os grandes eventos históricos culminam frequentemente nas ilhas. Mas seria talvez mais justo dizer que se «servem» delas. (…) E é natural. As ilhas, situadas nas mais importantes rotas marítimas, são afectadas por todas as grandes convulsões, que normalmente têm reflexos no rumo da sua evolução. Isto é especialmente verdade no campo económico, dado que as estruturas das ilhas não lhes permitem resistir eficazmente a forças exteriores, como acontece quando são tomadas por culturas estrangeiras que só se justificam em termos de mercado mediterrânico, quando não mesmo mundial. BRAUDEL, F, 1953, O Mediterrâneo e o Mundo Mditerranico la época de Felipe II., Lisboa, p. 177-178. As ilhas estão assim no centro do nascimento da Europa e dos seus valores. Elas são um elemento essencial para que esta bizarra e peculiar ideia de que o indivíduo é o centro do mundo, portador de direitos que só se podem desenvolver num ambiente democrático, tenha nascido e criado um nicho de aplicação. TELO. António, 2011, A Europa e as ilhas - uma dinâmica milenar. In AAVV, As Ilhas e a Europa. A Europa das Ilhas, Funchal, CEHA, p. 12. Temos desenvolvido de múltiplas formas este tema para o efeito consulte-se: 2015, Da História das Ilhas à Nissologia e Novíssima História. O
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? É certo que, desde o século XIV, são insistentes as expedições e disputas pela posse das Canárias, assim como a realização das primeiras expedições de ocupação, nos alvores da centúria seguinte, mas tardou até que se conseguisse conquistar a população aborígene e consolidar a ocupação efetiva do arquipélago. A Madeira parecia fadada para cumprir essa missão mítica de abertura ao novo mundo: estava próxima da Europa e tinha múltiplas vantagens: era a abundância de arvoredo e de água; era o facto de não estar, naquele momento, ocupada por qualquer população. Assim, podemos afirmar que se abriram as portas do paraíso e permitiram que o arquipélago fosse o primeiro passo efetivo na concretização do plano europeu de conquista do mundo, o primeiro passo conducente aos desafios da globalização, afirmados na sua plenitude, séculos depois. Desta forma, a Madeira é tanto o primeiro exemplo de uma realização de sucesso como a referência e o modelo para posteriores iniciativas. Daí podermos afirmar, com alguma propriedade e numa perspetiva global, que a Madeira foi o começo do processo dos descobrimentos europeus, assim como da globalização ou mundialização que eles arrastaram. A condição da ilha da Madeira como espaço de sucesso dos europeus fora da Europa foi muito importante, em termos de afirmação da Madeira, nos séculos XV e XVI, assim como da sua projeção nos novos espaços, entretanto revelados aos europeus e alvo de ocupação e exploração económica. Assim, servimos de modelo de sociedade, das novas estruturas institucionais geradas com as capitanias, das formas de organização e aproveitamento do espaço produtivo e da sua expressão institucional e espacial, que serviram de base a uma economia de exploração intensiva, assente em produtos de exportação de grande rentabilidade económica como o açúcar e, ainda, das formas de sociabilidade, como a escravatura. A afirmação da economia açucareira no mundo começou na Madeira e foi o arquipélago, o princípio das mudanças necessárias para que esta cultura e produto assumissem a dimensão que tiveram, a partir da segunda metade do século XV. Entre meados do século XV e princípios da centúria seguinte, apareceram inventos significativos, por mãos hábeis de madeirenses, que permitiram que a cultura da cana sacarina se afirmasse e o consumo do açúcar começasse a vulgarizar-se na Europa. Há uma revolução tecnológica e alimentar que dá os primeiros passos na Madeira e que vai permitir essa hegemonia do açúcar no espaço atlântico e no mercado europeu. Apenas sinalizamos o efeito multiplicador neste processo do aparecimento do engenho de cilindros para a moenda da cana e do sistema acoplado de caldeiras, conhecido como trem jamaicano, para o fabrico do açúcar, como os mais relevantes avanços que acontecem na Madeira, por mãos de madeirenses e que estão na origem desta revolução tecnológica. Criaram-se condições para uma agricultura em larga escala e de produção intensiva. Descobriu-se um outro ouro que animou as trocas europeias e que financiou as descobertas e encontros de novos tesouros e do verdadeiro ouro. O protagonismo da Madeira na revolução agrícola e tecnológica dos tempos modernos, associada à posição destacada no processo de afirmação dos impérios europeus, nos séculos seguintes, transformou a Centro de Estudos de História do Atlântico. 1985-2015: 30 anos ao serviço da História da Madeira e das Ilhas, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 4; Discurso da Anti-insularidade e o Poio Madeirense como a sua Negação, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 5; As Ilhas Atlânticas (Canárias, Madeira, Açores) como Espaços de Fronteira, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 7. 22; 2012, A propósito das ilhas Atlânticas e da Europa. Um percurso histórico a partir da Madeira, Congresso Internacional: As ilhas da Europa e a Europa das ilhas, Funchal. 21 a 23 de Setembro de 2011, Funchal, CEHA, pp. 34-70; 2012, AS ILHAS - Nissologia ou Nesologia, in Mundo Açoriano, disponível em: http://www.mundoacoriano.com/index. php?mode=noticias&action=show&id=80 (visita em 02.05.2011); 2010, As Ilhas: Da Nissologia à Nesologia, in, Anuário-CEHA, n.º 2 (2010), Funchal, CEHA [cdrom], pp. 16-212010, The Islands: From Nissology to Nesology in, Anuário-CEHA, n.º 2 (2010), Funchal, CEHA [cdrom], pp. 22-26; 2010, Las islas: Navegación y Economia en el Atlántico en los siglos XV y XVI, in FÁBREGAS GARCIA, Adela (ed.), Islas y sistemas de Navegación durante las Edades Media y Moderna, Granada, Alhulia, pp. 119-225; 2009, Repensar os Estudos Insulares Hoje, in Anuário do CEHA, n.º 1 (2009), [cd-rom], pp. 16-71 (ANEXO: Bibliografia Insular. 1980-2009, 368 pp. ); 2008, As Ilhas e o Sistema Atlântico, in Anuario de Estudios Atlanticos, n.º 54-1, 2008. Las Palmas de Gran Canaria, pp. 207-222. 2005, BIBLIOGRAFIAS: História e Historiografia nas Ilhas, Funchal, CEHA; 2004, As ilhas atlânticas. Para uma visão dinâmica da sua História, in Anuario de Estudios Atlanticos, 50, t.1, pp. 219-264; 2002, The Fortune of the Fortunates. The Islands and the Atlantic System, in Pietschmann, Hors, Atlantic History. History othe Atlantic System. 1580-1830, Gottingen, pp. 199-248; 1999, Las islas portuguesas en el tiempo de Filipe II. 1558-1598, in Bethencourt Massieu, Antonio, Seminario Felipe II, El Atlantico y Canarias, XIII Coloquio de Historia Canario-Americana/VII Congreso Internacional de Historia de America, Las Palmas de Gran Canaria, Ediciones del Cabildo de Gran Canaria, pp. 49-124; 1995, As Ilhas Atlânticas, Lisboa CTT; 1995; Riquezas novas e os Novos Mercados de Procura e Venda. As ilhas Atlânticas, in Boletim do Instituto Histórico da ilha Terceira, Angra do Heroísmo, IHIT, vol. LIII, pp. 593-638; 1994, Guia de História das ilhas Atlânticas, Funchal, CEHA; 1992, Portugal y las yslas, Madrid, Mapfre; 1987, O comércio inter-insular nos séculos XV e XVI (Madeira, Canárias e Açores), Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? ilha e fez dela uma placa giratória fundamental para outras aventuras. A variedade de plantas encontradas foi marcando presença no quotidiano, na economia e na alimentação e inserindo outras mudanças. Há uma alteração significativa na dieta alimentar que tem a Madeira como uma ponte de comunicação/adaptação aos novos espaços. O cardápio não foi só enriquecido com novos sabores, como se universalizou. A Madeira parece ter sido, assim, um dos principais viveiros desta revolução ecológica mundial, que deu os primeiros passos no atlântico. Aqui, a História assinala os madeirenses como agentes de múltiplas funções, que se afirmam tanto como descobridores ou guerreiros, na senda da descoberta ou reconhecimento do Novo Mundo, como da defesa das possessões africanas ou das conquistas orientais. Também os encontramos como exímios agricultores, capazes de adaptar o solo a uma exploração agrícola, de adaptar e transformar técnicas e processos produtivos, dirigindo os seus conhecimentos e sabedoria para a construção das levadas que trouxeram profundas transformações no processo de moenda da cana-de-açúcar e do processo de fabrico do açúcar. Daqui resulta a nossa intenção de redescobrir os madeirenses na ilha e fora dela como interventores presentes e ativos em diversos momentos e espaços da História. Partimos à procura e definição da aldeia global dos madeirenses. Propusemo-nos, então, desenvolver e elucidar os aspetos que importam a este propósito, como a de descobridores, de escalas e rotas, o mundo em movimento a partir da Madeira. Daqui para o Mundo tivemos homens, instituições, plantas, técnicas e o mundo do Madeirense perfeitamente delineado na territorialidade expressa no poio. Foram o sangue da ilha derramado pelo mundo pela ação e riqueza dos Madeirenses; foi o Mundo e o mar das ilhas a partir da Madeira. O reconhecimento deste protagonismo e realidade insular só aconteceu a partir da década de sessenta do século XX, dando maior atenção às ilhas no quadro da História e Cultura europeias10. Primeiro, valorizou-se o papel das ilhas no contexto da expansão europeia, como espaços de apoio à navegação oceânica, campos de ensaio de novas culturas ou técnicas, usadas em pleno nas amplas terras que depois se descobriram. Estava, então, dado o mote para o protagonismo do mundo insular na História do Ocidente, a partir do século XV. Aos aspetos históricos, juntaram-se os resultados das investigações da História das Técnicas e das Ciências, acabando por concluir-se por idêntico protagonismo. Os europeus lançaram as culturas de grande demanda, como a cana-de-açúcar, mas foram os insulares que buscaram do seu engenho e arte, para conseguir produzir, em condições apropriadas, os produtos solicitados pelas praças europeias. Aqui se adaptaram as técnicas de arroteamento das terras à orografia dos novos espaços, com algumas soluções engenhosas. Surgiu, então, a nova tecnologia que permitiu a produção do açúcar em maiores quantidades e com melhor qualidade11. 10 Cf. o que já afirmamos em: 2015, Da História das Ilhas à Nissologia e Novíssima História. O Centro de Estudos de História do Atlântico. 1985-2015: 30 anos ao serviço da História da Madeira e das Ilhas, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 4, disponível na Internet em: https://app. box.com/s/zfzgg6ygl4675bsvsq29ey1uf2o8wt6k;2015 As Ilhas Atlânticas (Canárias, Madeira, Açores) como Espaços de Fronteira, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 7. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/cjp0le0mqjrb2myokmz5kwbre6px9zpd; 2º11, A propósito das ilhas Atlânticas e da Europa. Um percurso histórico a partir da Madeira, Congresso Internacional: As ilhas da Europa e a Europa das ilhas, Funchal. 21 a 23 de Setembro de 2011, Funchal, CEHA, pp. 34-70. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/ueu0od87dpu6mrp3lcv0nnadojzl5ykf; 2010, Las islas: Navegación y Economia en el Atlántico en los siglos XV y XVI, in FÁBREGAS GARCIA, Adela (ed.), Islas y sistemas de Navegación durante las Edades Media y Moderna, Granada, Alhulia, pp. 119-225. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/8yjo6fogffxque4li38dsht3bdzcpr6p; 2008, As Ilhas e o Sistema Atlântico, in Anuario de Estudios Atlanticos, n.º .54-1, 2008. Las Palmas de Gran Canaria, pp. 207-222. Disponível na Internet em: http:// mdc.ulpgc.es/cdm/ref/collection/aea/id/2096 ; 2004, As ilhas atlânticas. Para uma visão dinâmica da sua, in Anuario de Estudios Atlanticos, 50, t.1, pp. 219-264. Disponível na Internet em: http://mdc.ulpgc.es/cdm/singleitem/collection/aea/id/1897/rec/2 ; 2002, The Fortune of the Fortunates. The Islands and the Atlantic System, in Pietschmann, Hors, Atlantic History. History othe Atlantic System. 1580-1830, Gottingen, pp. 199-248. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/j7rz8folfmnptthhgngyz6tqyqr1znnm; 1995, As Ilhas Atlânticas, Lisboa CTT. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/4b4jppa0rx3n73pkdgztzzn1e6uv805m; 1992, Portugal y las yslas, Madrid, Mapfre, 316 pp. Disponível na Internet em: https://app. box.com/s/6yjk0etxexhtsrq2edy03a9m0sefycfh. 11 Cf. o que já afirmamos em: 2015, Alfenim da Madeira para o Mundo, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 8.; 2010, Redescobrir a Civilização do açúcar in NUNES, Naidea, Outras Palavras Doces, Funchal, CEHA [cdrom], pp. 14-24; 2009, Canaviais e Açúcar no Espaço Insular Atlântico, in O Açúcar Antes e Depois de Colombo. Seminário Internacional de História do Açúcar, Colecção DEBATES, n.º 1, Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico, 390 pp. [CD-ROM]. ISBN:978-972-8263-59-1, pp. 14-41; 2008, A Civilização do Açúcar na Madeira in Eduardo Franco (coordenação), Cultura Madeirense Temas e Problemas, Porto, Campo das Letras-Editores Sa, pp. 56-80; 2007, As Ilhas e a expansão da cultura e tecnologia da cana-de-açúcar no Atlântico nos séculos XV a XIX, in Labor £ Engenho, I:1, pp. 1-20; 2006, Azúcar y Tecnologia en las Islas, in El Azúcar y el Mundo Atlântico. Economia y Hacienda, Património Cultural y Geobotânico (2004), Coordinado por Santiago de Luxán Meléndez e Ana Viña Brito, Las Palmas de Gran Canaria, Casa de Colón, pp. 355-378, 2006, Administração e Direitos Fiscais no sector açucareiro. Madeira.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? No âmbito da História da Ciência, é certo e evidente o papel das ilhas, o que levou alguém a chamá-las “escalas científicas” do Atlântico12. Para o caso, porém, podemos definir com propriedade que as mesmas foram, sim, laboratórios da ciência, nomeadamente para os séculos XIX e XX. Laboratórios onde se ensaiaram as técnicas de recolha, análise e estudo do mundo animal e vegetal, que depois foram usadas nos locais de destino. Mais uma vez as ilhas, nomeadamente a Madeira e as Canárias, serviram de ponte entre o Velho e o Novo Mundo, fazendo com que os laboratórios da ciência europeia se transferissem das instituições para o campo aberto das ilhas e depois das colónias. Vamos ao encontro de uma ilha que se revela e anexa ao mundo europeu, a partir do século XV e que nos revela, entre muitos colonos apegados à terra ou deserdados dela, inúmeros descobridores que partem em múltiplas direções ao serviço do rei, mas também à procura dos seus interesses. Revelamos, com o devir histórico, um espaço insular que ganha importância e se torna imprescindível nas estratégias de descobrimento/conhecimento do espaço atlântico, bem como da definição e construção dos impérios europeus. Daí o apelo a portos e a permanentes escalas oceânicas. Ao mesmo tempo, descobrimos que, neste burburinho e movimento, os madeirenses não se revelam apenas como espetadores atentos, mas também como ativos intervenientes do processo. Surge, então, a vida ribeirinha, as permanentes partidas e as raras chegadas, o levar ao mundo novo aquilo que inventamos e testamos pela primeira vez, em termos de formas de organização institucional, de métodos e técnicas tecnológicas capazes gerar uma nova riqueza e de uma realidade económica capaz de mudar o mundo. Foi assim que se construiu o universo dos madeirenses, que a ilha aumentou a sua superfície de afirmação, com esta fórmula mágica de presença e domínio de outras ilhas e mesmo continentes, plantou-se ou territorializou-se a Madeira em quase todos os recantos do mundo. A partir de meados do século XV, o mundo da ilha entrelaça-se com outros mundos onde se projeta e afirma. O sangue, o suor e o sémen madeirense derramam-se, por todo o lado, em momentos de glória e tristeza, em vitórias e fracassos. Mas, afinal, tudo isto faz parte da alma madeirense e da força de viver e vencer os desafios, tanto de ontem como de hoje.
Séculos XV a XX, in História do Açúcar. Fiscalidade, Metrologia, Vida Material e Património, Funchal, CEHA, pp. 47-76; 2005, João Higino Ferraz. Copiadores de Cartas (1898-1937), Funchal, CEHA, pp. 1-44[ Coordenação e Prefácio: Alberto Vieira; Leitura e notas de Filipe dos Santos.]; 2005, Açúcar, Melaço, Alcool e Aguardente. Notas e experiencias de João Higino Ferraz (1884-1946), Funchal, CEHA, pp. 9-16. [Coordenação e Prefácio: Alberto Vieira; Leitura e notas de Filipe dos Santos]; 2004, Açucares, meles e aguardente no Quotidiano madeirense, in O Açucar e o Quotidiano. Actas do III Seminario Internacional sobre a História do Açúcar, Funchal, CEHA, pp. 15-27; 2004, Sugar Islands. The Sugar Economy of Madeira and the Canarieis, 1450-1650, in, Tropical Baylons, edited by Stuart B. Shwartz, The University of North Carolina Press, pp. 42-84; 2004, Canaviais açúcar e aguardente na ilha da Madeira. Séculos XV a XX, Funchal, CEHA; 2004, Canaviais, Açúcar e Engenhos. Bibliografia Fundamental, in O Açúcar e o Quotidiano, Funchal, CEHA, pp. 387-396; 2004, Cana-de-açúcar e meio Ambiente nas ilhas, in Islenha, n.º 34 (Janeiro-Junho), Funchal, DRAC, pp. 121-134; 2003, Apresentação, in NUNES, Naidea, Palavras Doces. Terminologia e Tecnologia Históricas e atuais da cultura açucareira do Mediterrâneo ao Atlântico, Funchal, CEHA, pp. 7-9; 2002, A Madeira e o Mercado do Açúcar. Séculos XV a XVI, in História do Açúcar. Rotas e Mercados, Funchal, CEHA, pp. 55-90; 2000, A Madeira, a Expansão e História da Tecnologia do Açúcar, in História e Tecnologia do Açúcar, Funchal, CEHA, pp. 7-27: 1998, O Açúcar, Expo 98. Pavilhão da Madeira, 64 pp. ; 1996, Escravos com e sem açúcar na Madeira, in Escravos com e Sem Açúcar, Funchal, CEHA, pp. 93-102 (com edição em inglês); 1996, Agua Trabalho e Açúcar. O Caso da Madeira nos séculos XVI e XVII, In Actas del Sexto Seminario Internacional. Agua, Trabajo y Azúcar, Motril, pp. 101-146; 1993, O açúcar na Madeira- séculos XVII e XVIII, in Actas III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal., pp. 325-344., 1993, O Açúcar na Madeira. Produção e comercio nos séculos XV a XVII, in Producción y comercio del azúcar de caña en época preindustrial. Actas del Tercer Seminario Internacional, Motril, p. 31; 1989; O Açúcar na Madeira. Séculos XVII e XVIII, in Actas do III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, CEHA, pp. 325-344; 1993, O Regime de Propriedade na Madeira. O Caso do Açúcar (1500-1537). Problemas, análises futuras in Congresso Internacional de História da Madeira (1986), Funchal, DRAC, pp. 539-611; 1993, Consequências do Povoamento e o ciclo do açúcar na Madeira nos séculos XV e XVI, Portugal no Mundo, direcção de Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa. 12 Cf. o que já afirmamos em: 2008, História das Ciências e das Técnicas na Madeira. 1880-1926, in República e Republicanos na Madeira. Seminário, Funchal, CEHA, pp. 25-67 Disponível na Internet: https://app. box.com/s/u9lnnyiukmx1fjo238jr03v0nh88ndgx; 2004, A Madeira na rota da Ciência e das Investigações Científicas, in, As Ilhas e a Ciência. História da Ciência e das Técnicas. I. Seminário, Funchal, CEHA, pp. 23-36; Disponível na Internet: https://app. box.com/s/2hxoj93vhtdan93qs941txqee5xe3af3.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
Mapa-mundi de Cantino.1502
EM TORNO DE QUESTÕES TEÓRICAS E DE FORMA SOBRE A ALDEIA GLOBAL: EUROPEIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E MUNDIALIZAÇÃO
O
mundo global é uma realidade cada vez mais evidente no quotidiano, fazendo jus ao interesse e debate académico sobre o tema13. Hoje, embora de diferentes perspetivas, fala-se e insiste-se na ideia de um mundo global, de distintos conceitos como mundialização, mundialidade, de globocentrismo14. Desde a década de noventa do século XX que assistimos a esta situação e a uma cada vez mais evidente internacionalização do modus vivendi15. Mas, no presente, já ficaram para trás as ideias de aldeia global de MCLUHAN (1962), de economia-mundo de I. WALLERSTEIN (1976) e de sociedade mundo de LEVY (1993) e cada vez mais ganha força um outro discurso científico/académico de negação do ocidentalismo15, do eurocentrismo16 e da pressão exercida por uma outra realidade que é definida como de transmodernidade17, 13 Assim a “globalização caracteriza-se por um conjunto de alterações sejam elas de carácter político, económico, cultural ou social, a nível mundial, e da integração internacional das mesmas. Essas alterações tornaram-se globalmente comuns, causando impacto na vida política, económica, social e cultural diária de várias e diferentes sociedades. Assim, nasce o conceito de Aldeia Global. O conceito, desenvolvido por Marshall MCLUHAN, consiste no desenvolvimento de um espaço de convivência mundial, onde o avanço das tecnologias permite a rápida difusão da informação. Não há barreiras para a informação e para a comunicação. Barreiras culturais, étnicas e geográficas ficam para segundo plano, criando uma homogeneização ao nível das sociedades e das suas culturas (MCLUHAN,1972 cit. in SALADINI, Ana (2011), Trabalho e Imigração: os direitos sociais do trabalhador imigrante sob a perspectiva dos direitos fundamentais, Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Ciência Jurídica, Universidade Estadual do Norte do Paraná, Brasil. 2011:20). 14 Sobre este tema Cf. CORONIL, (2000) 15 Sobre a ideia de ocidentalismo cf. BURUMA/ MARGALIT (2006), CORONIL (1996, 1999, 199ª), MIGMOLO (1998), QUIJANO (1996B). A oposição surge, por exemplo, com o orientalismo. Cf. SAID (2004, 2007); TINAJERO (2004); BURUMA, MARGALIT (2006); MAHBUBANI (2013); MIGNOLO (2012); ABDEL-MALEK (1963); CORONIL (1996). 16 A globalização é entendida como uma afirmação do ocidentalismo e do eurocentrismo tendo em oposição dos discursos do orientalismo, e a busca de uma libertação deste estigma, através do discurso post-moderno e decolonial. Neste quadro os discursos dividem-se. Cf. AMIN (1989), ARAÚJO (2010, 2012), BARBOSA (2004), BERNARDES (2010), BEVERLEY/ARONNA/OVIEDO (1995), BLAUT (1992, 1993, 2000), BORTOLUCI (2009), BRYDON (2000), CABA/GARCIA (2014), CORONIL (1996, 1999, 2000), DIRLIK (2002), DROIT (2008), DUSSEL (1993, 1995, 2000), DUSSEL (2000), ESCOBAR (2005), LANDER (2000, 2004, 2006), LANDER (2001, 2005), LANDER (2005), MAIA (2017), MIGNOLO (1998), NAVARRO (1982), NIETO OARTE (2009), QUIJANO (1993, 2000), RABASA (1993), SAYYID (1993, 2003, 2004), SHOHAT (1994), SOTO (2007), WALLERSTEIN (2007). 17 De acordo com DUSSEL (2001) a transmodernidade é o mecanismo adequado para transcender a visão eurocêntrica da modernidade, que se
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? de post-colonial/ocidental/moderna18, decolonial19. Ao longo das últimas décadas, o debate em torno do tema da globalização ganhou múltiplas dimensões e aproximou diversas áreas do conhecimento. Gerou ruturas, mas abriu novas vias para uma diferente forma e expressão dos olhares dos conhecimentos e escritas. Enriqueceu o vocabulário da ciência, tornando-nos familiares termos como globalidade, diversalidade, de(s)colonialidade20, transmodernidade21, epistemicídio22, epistemologias do sul23 ou subalternas24, egopolitica do conhecimento; expressou ruturas, como a de desobediência epistémica25; abriu caminhos para a interculturalidade e à chamada “ecologia” dos saberes26. Fica a esperança de um reordenamento dos saberes, por um outro conhecimento intercultural e ecológico. Este processo foi considerado, durante muito tempo, como uma invasão e afirmação da Europa. Depois, completa com o processo de descolonização. Desta forma para MIGNOLO (2000) a transmodernidade equivale à diversalidade por força do pensamento “crítico de fronteira” e esta diversalidade surge através das “epistemologias subalternas”. Entenda-se que “ a descolonização epistemológica é um caminho necessário para refletir sobre o pensamento e a linguagem, para que não nos habituemos com o descaso social, histórico, político e econômico como são tratados os negros [e outros grupos marginalizados]. Trilha esta que passa pela revisão crítica do papel social da Universidade e da Ciência, e, consequentemente, pelos modelos método epistemológicos de uma ciência que não é de todo imparcial e isenta de valores, ideologias e preconceitos, mas que vigora sob a égide do saber científico puro, neutro e inquestionável. Por isso, ansiamos por uma nova prática sociológica, associada a um novo fazer antropológico, que resulte em um novo agir político, porque acreditamos que outros modos são possíveis, que um novo humanismo é preciso, que apague o rastro de eugenia e teoria evolutiva racial, social, comportamental, econômica e cultural que ainda persiste em nós. (BARBOSA, 2014:10). Cf. GROSFOGUEL (2008, 2010). 18 SANTOS (1989, 1999); SLATER (2004); MELLINO (2008); MEZZADRA (2008); MOORE-GILBERT (1997); OMAR (2008). 19 Cf. BALLESTRIN (2013), CASTRO-GÓMEZ/ GROSSFOGUEL (2007), GARCÉS (2007), GROSSFOGUEL (2006), MIGNOLO (2016), RESTREPO/ MARTINEZ (2010), WALSH (2007). 20 Cf. QUIJANO (1992, 1997, 1998, 2000, 2007); MIGNOLO (2016); MALDONADO-TORRES (2007); MEJÍA (2014); MONTSERRAT (2016). 21 GROSFOGUEL (2008: 139) afirma que a transmodernidade é “a diversalidade de respostas aos problemas da modernidade”. Cf. GROSFOGUEL (2005, 2006, 2006a, 2006b, 2008, 2010). 22 Segundo SANTOS (1998, p. 208), epistemicídio, é um conceito que designa a morte de um conhecimento local originada por uma ciência alienígena. MIGNOLO (2008) fala em desobediência epistémica com um discurso de rutura que fundamenta a decolonialidade, que acaba se afirmando como a universalidade e interculturalidade epistemológica dos saberes. Cf. NUNES (2010: 280); SANTOS (2010); CASTRO-GÓMEZ (2005). 23 A expressão foi sistematizada em 1995 por Boaventura Sousa SANTOS (2000) e teve grande repercussão, tendo-se generalizado neste debate. Cf. AGUILÓ (2014), ALMEIDA (2011), BERTAGNOLLI (2012), BOTERO (2010), CAMPO (2013), CASTRO GOMEZ (1998, 1999, 200), CATHALIFAUD (2012), CHIBBER (2013), CORONEL (1997), ESCOBAR (2010), FRANCO (2013), GROSFOGUEL (2010), HUISH (2006), LANDER (2000), MALDONADO-IVRES (2006), MEJIA (2008), MELANIE e CANSADO (2007), MENESES ( 2008), MIALIEVIV/RIBEIRO (2011, 2012, 2013), MIGNOLO (1996, 2000, 2006, 2008), MONTÚFAR (2001), NUNES (2008). RIBEIRO (2011), SANTOS (2003, 2004, 2005, 2006, 2007), SANTOS e MENEZES (2010: 19); STEPHAN (1996), TLOSTANOVA (2006), TLOSTANOVA/MIGNOLO (2006), WALSH (2002, 2003, 2007), WEIBKER (2010),Assim “ O mundo possui inúmeras epistemologias – do Norte, do Sul, do Oriente, do Ocidente, entre outras – a diferença entre elas é a falta de horizontalidade no tratamento de seu conhecimento. A relação entre os diversos conhecimentos não são horizontais, ou seja, existe uma verticalidade entre elas. Por exemplo, existe uma dominação capitalista, patriarcal, colonial com diferentes durações, mas especialmente forte na África e na América do Sul. A hegemonia das epistemologias do Norte não é monolítica, ao contrário, torna-se diversificada, com diversos pensadores se opondo à dominação. Entretanto, cabe destacar que existem correntes dominantes, que perduraram através dos últimos séculos, sendo que essas possuem uma predominância sobre as outras (interculturais), por assim dizer. Como nos diz o próprio Boaventura de Sousa Santos (2012), numa de suas Aulas Magistrais, onde ele se faz a pergunta “O que são as epistemologias do Sul?” e responde, durante a conferência, que elas o acompanham até a atualidade, surgidas em 1995, no capítulo final de um livro, onde ele escreveu que devemos: (...) aprender que existe o Sul, aprender a ir para o Sul, aprender com o Sul. Dessas três fases, existe hoje uma nova, diferente, que é como se conhece a partir das perspectivas do Sul. As epistemologias do Sul são um conjunto de práticas cognitivas e de critérios de validação do conhecimento, a partir das experiências dos grupos sociais que têm sofrido, de uma maneira sistemática, as injustiças do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado. Portanto, é a partir desse “sulfrimento”, desse sofrimento sistemático, que não tem uma cara, tem várias caras, que fazemos uma proposta alternativa do ponto de vista epistemológico, por que cremos que o problema contemporâneo, quer no Norte, quer no Sul, não é apenas um problema social ou político, é também um problema cultural, obviamente, mas é também um problema epistemológico; é um problema do conhecimento. Nós não temos, hoje, conhecimentos suficientes ou adequados para lutarmos duma maneira vigorosa e eficaz, com uma justiça social global. As Epistemologias do Sul se propõem à tarefa de responder aos seguintes questionamentos: Por que razão, nos dois últimos séculos, dominou uma epistemologia que eliminou da reflexão epistemológica o contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento? Quais foram as consequências de uma tal descontextualização? São hoje possíveis outras epistemologias?” (SANTOS; MENESES, 2010: 7). 24 Os movimentos e grupos de estudos subalternos apresentam-se como uma crítica ao eurocentrismo em oposição à afirmação dos saberes silenciados ou subalternizados [MIGNOLO (2000: 183/186, 213/214; 200a); FALS BORDA, MORA-OSEJO (2003); DUSSEL (2000); LANDER. (2000b), RODRIGUEZ (2001), CUSICANQUI (1997), GROSGOGUEL (2005), GUHA (1998)]. 25 De acordo com MIGNOLO, W. (2012) é “La desobediencia epistémica es más que la desobediencia a la ley: es el cuestionamiento mismo de los principios que rigen tal ley. No solo cuestiona lo dicho por la ley sino, más aun, su decir. ¿En qué se legitima la legalidad de la ley, quién se beneficia con ella, a quién le conviene, a quiénes la ley permite eliminar? ¿Sobre qué principios, qué creencias, qué historias locales, qué categorías de pensamiento y qué proyectos, fue tal ley enunciada y establecida?”. Cf. PINHEIRO, SILVA (2016), MIGNOLO (2009, 2010, 2010a, 2012, 2012a, 2013, 2013b). 26 Cf. SANTOS (2006: 137-165, 2007), SANTOS, MENESES, NUNES (2006), GITAHY (2008); TAVARES, M. (2007); GARCÉS (2007). De acordo com J. Nunes (SANTOS, MENESES, 2010: 66) É próprio da natureza da ecologia de saberes constituir-se através de perguntas constantes e respostas incompletas. Aí reside a sua característica de conhecimento prudente. A ecologia de saberes capacita-nos para uma visão mais abrangente daquilo que conhecemos, bem como do que desconhecemos, e também nos previne para que aquilo que não sabemos é ignorância nossa, não ignorância em geral”.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? adveio a constatação27 e a revolta epistémica e partiu-se para a ideia de dominação/imposição cognitiva do discurso. Temos, assim as ferramentas que vivificam os debates académicos e que poderão fazer, sem dúvida, deste momento em que se celebram os seiscentos anos da globalização, uma fase importante de viragem. Em 1992, com a evocação dos descobrimentos colombinos, ressuscitou-se o debate do eurocentrismo, abrindo-se novos caminhos no discurso científico para uma diferente formulação dos encontros e desencontros entre europeus e americanos. Daí que depositamos desusadas esperanças neste momento de evocação dos seiscentos anos da globalização para que aconteça um novo discurso que substitua os afrontamentos legados pelas epistemologias do sul e que possamos trilhar a nova senda da multiculturalidade.
A Madeira Global O século quinze marca o início da afirmação do Atlântico, novo espaço oceânico revelado pelas gentes peninsulares. O mar, que até meados do século catorze se mantivera alheio à vida do mundo europeu, atraiu as atenções e em pouco tempo veio substituir o mercado e via mediterrâneos. Os franceses, ingleses e holandeses que, num primeiro momento, foram apenas espetadores atentos, entraram também na disputa a reivindicar um mare liberum e o usufruto das novas rotas e mercados. Nestas circunstâncias, o Atlântico não foi apenas o mercado e via comercial, por excelência, da Europa, mas também um dos principais palcos em que se desenrolaram os conflitos que definiam as opções políticas das coroas europeias, expressas muitas vezes na guerra de corso. Em 1434, ultrapassado o Bojador, o principal problema não estava no avanço das viagens, mas sim na forma de assegurar a exclusividade a partir daí, já que, na área aquém deste limite, isso não fora conseguido. Primeiro, em 1443, foi a concessão ao infante D. Henrique do controlo exclusivo das navegações e o direito de fazer guerra a sul do mesmo cabo e, depois, a procura do beneplácito papal, na qualidade de autoridade suprema estabelecida pela “res publica christiana” para tais situações28. A presença de estrangeiros neste processo foi considerada um serviço ao Infante, como sucedeu com Cadamosto, António da Noli, Usodimare, Valarte e Martim Behaim, ou uma forma de usurpar o domínio e afronta ao papado. Os castelhanos, a partir da década de setenta, intervêm na Costa da Guiné como forma de represália às pretensões portuguesas pela posse das Canárias. Não obstante as medidas repressivas, definidas em 1474, contra os intrusos no comércio da Guiné, a presença castelhana continuará a ser um problema de difícil solução, alcançada apenas com cedências mútuas, através do tratado exarado em 1479, em Alcáçovas e depois confirmado a 6 de março do ano seguinte, em Toledo. À partilha do oceano, de acordo com os paralelos, sucedeu mais tarde outra, no sentido dos meridianos, provocada pela viagem de Colombo. O encontro do navegador em Lisboa com D. João II, no regresso da primeira viagem, despoletou o litígio diplomático, uma vez que o monarca português entendia estarem as terras descobertas na área de domínio. 27 Cf. De acordo com Luiz Fernandes Oliveira (Oliveira, 2016: 1-39) “….o colonizador destrói o imaginário do outro, invisibilizando-o e subalternizando-o, enquanto reafirma o próprio imaginário. Assim, a colonialidade reprime os modos de produção de conhecimento, os saberes, o mundo simbólico, as imagens do colonizado, e impõe novos. Opera-se então, a naturalização do imaginário do invasor europeu, a subalternização epistêmica do outro não europeu e a própria negação e esquecimento de processos históricos não europeus. Essa operação pode se realizar sob várias formas, como a sedução pela cultura colonialista e o fetichismo cultural que o europeu cria em torno de sua cultura, realizando uma verdadeira aspiração pela cultura europeia por parte dos sujeitos subalternizados. Portanto, o eurocentrismo não é a perspectiva cognitiva somente dos europeus, mas também do conjunto daqueles educados sob sua hegemonia.(...) a população dominada nas novas identidades que lhe haviam sido atribuídas foram também submetidas à hegemonia eurocêntrica como maneira de conhecer. O imaginário dominante do sistema mundial moderno funcionou como máquina para subalternizar outros conhecimentos, estabelecendo um padrão epistemológico planetário. (…) Para Quijano, ao mesmo tempo em que se afirmava uma dominação colonial, forjava-se uma complexa concepção cultural denominada racionalidade e estabelecia-se um paradigma universal de conhecimento, onde existe uma humanidade racional (a Europa) e o resto do mundo. Esta formulação nos leva aos conceitos de colonialidade do saber. (...) A colonialidade do saber operou a inferioridade de grupos humanos não europeus do ponto de vista da produção da divisão racial do trabalho, do salário, da produção cultural e dos conhecimentos.“ Cf. GITAHY (2008), SANTOS (2006, 2006b, 2009, 2014). 28 As bulas de Eugénio IV (1445), Nicolau V (1450 e 1452) preludiaram o que veio a ser definido pela célebre bula “Romanus Pontifex” de 8 de Janeiro de 1454 e “inter coetera” de 13 de Março de 1456. Nela se legitimava a posse exclusiva aos portugueses dos mares além do Bojador pelo que a sua ultrapassagem para nacionais e estrangeiros só seria possível com a anuência do infante D. Henrique.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? O conflito só encontrou solução com o tratado assinado em 7 de julho de 1494, em Tordesilhas, e ratificado pelo papa Júlio II, a 24 de janeiro de 1505. A partir de então, ficou estabelecida uma nova linha divisória do oceano, a trezentas e setenta léguas de Cabo Verde. Estavam definidos os limites do mar ibérico. Para os demais povos europeus, só restava uma reduzida franja do Atlântico, a Norte, e o Mediterrâneo. Mas tudo isto seria verdade se fosse atribuída força de lei internacional às bulas papais e às opções das coroas peninsulares, o que, na realidade, não sucedia. O cisma do Ocidente e a desvinculação de algumas comunidades da alçada papal retiraram aos atos jurídicos a medieval plenitude “potestatis”. Em oposição à doutrina definidora do mare clausum, antepõe-se a do mare liberum, que teve em Grócio o principal teorizador. A última visão da realidade oceânica norteou a intervenção de franceses, holandeses e ingleses29. A História do Atlântico, no século XV, abre as portas do mundo e define as rotas que nos conduzem à sociedade. O curso do tempo determina a Madeira – arquipélago e ilha - como uma das mais importantes etapas do processo, com o seu reconhecimento e ocupação, cujos seiscentos anos se prepara para celebrar, a partir de 2018. Daqui resulta tudo aquilo que contribuiu para a sua afirmação no atlântico e no mundo, com as suas eiras, engenhos, lagares e adegas que alimentam os negócios dos europeus em ascensão, com a tecnologia que favorece o regadio e a transformação dos produtos, como a cana-de-açúcar, e que fazem do Funchal uma importante praça dos negócios do Atlântico. A sua vocação de paraíso ou Éden afirma-a com um dos mais destacados rincões do turismo, como na Arca de Noé, que preserva e alimenta a aventura das plantas, como valor económico e ornamental. A Madeira, arquipélago e ilha, identifica-se nesta aldeia global pelo poio, que define, em simultâneo, a pequenez e a grandeza do madeirense. O poio é a expressão criada da noção do território para o madeirense e que materializa a ideia de espaço que ultrapassa os limites da sua fronteira e que se expande para além dos limites da própria ilha.
1:- O POIO – A IMAGEM E EXPRESSÃO DO MADEIRENSE NA ALDEIA GLOBAL. Globalização também é mobilidade humana30, pois é este processo que a provoca. E, para poucos este fenómeno global da mobilidade humana fará tanto sentido como sucedeu com a Madeira. Daí a nossa definição de “nona ilha”, para a ilha dos madeirenses no mundo. Não podemos esquecer que as questões em torno do espaço e do território são fundamentais para uma ilha, onde este é limitado e não satisfaz os anseios de crescimento dos madeirenses. Esta consciência do espaço e da sua apropriação faz-se através daquilo a que, na ilha da Madeira, se designa de poio. O poio materializa tudo e identifica o espaço de poder, da riqueza e da casa. A sua afirmação como território pode acontecer dentro e fora da ilha, porque, na verdade, todo o madeirense, dentro ou fora da ilha, apresenta-se sempre no seu poio, perfeitamente delimitado e identificado. Atente-se que o processo de ocupação dos territórios insulares no século XV foi o princípio da sua apropriação para a Cristandade Ocidental e para a Coroa portuguesa. É o chamado processo de territorialização31. Um simples gesto ritualístico dava conta disso. Ao desembarcar na ilha, os portugueses fazem erguer uma cruz, o padre que os acompanha reza a primeira missa. E, depois recolhem água, terra e verduras para servir de testemunho do feito, perante a coroa ou o Infante D. Henrique. Na ilha, o território e o espaço apresentam-se, em primeiro lugar, com um peso evidente nas nossas vidas e destinos. O Homem conquistou e domou o território, construiu e idealizou o seu espaço e rematou com uma materialização própria, o poio, que en29 Frei Serafim de Freitas, Do Justo Império Asiático dos Portugueses, vol. I, Lisboa, 1960. 30 Cf. MARTINE, 2005. 31 Segundo Oliveira (1998b: 55), processo de territorialização é: “ […] justamente, o movimento pelo qual um objeto político-administrativo... vem a se transformar em uma coletividade organizada, formulando uma identidade própria, instituindo mecanismos de tomada de decisão e de representação, e reestruturando as suas formas culturais (inclusive as que o relacionam com o meio ambiente e com o universo religioso.”
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? cerra as noções de território e espaço. Fizemos da ilha um mundo de poios e, a cada um, demos a sua marca identitária, que perdura no tempo. Desta forma, torna-se importante refletir sobre os conceitos – território, espaço e poio – 32 que lhes dão forma e ver o que a ciência, a tradição têm a dizer. A Ilha, pela sua geografia, pelos condicionamentos impostos pelo mar e, ainda, pela ação ou não-ação do homem, define-se como uma forma singular de mundividência. A insularidade é a sua expressão, evidenciada na vida, história e mentalidade islenha33. A ilha é, também, um cadinho da tradição e cultura. O isolamento, definido pela linha de água do litoral, é o mecanismo que favorece a tradição e possibilita a sua preservação. A definição do insular mergulha as suas razões no devir do processo histórico e no meio geográfico. Ambos os fatores condicionaram o modo de ser e estar no mundo do colono que aí assentou morada desde o século XV, moldando-se e demarcando-se do reino, pela acumulação de fatores de ordem histórica34. Mas há questões, com matriz geográfica, que marcam a realidade das ilhas que vêm a propósito desta orientação. Para os madeirenses, o poio é tudo, em termos da afirmação do território e da noção de espaço. Ele parece associar ao madeirense uma dimensão de pequenez, projetando, ao mesmo tempo, a sua ambição de grandeza e de alargamento do horizonte. Ora, o poio, como território físico, mas também mental, pela perceção que temos dele, alimentada em quase seiscentos anos de História, é uma realidade sempre presente no quotidiano, chegando mesmo a ultrapassar a fronteira da ilha. Daí a outra ilha que, nas mobilidades, designamos nona ilha, que vai com ele na mala para todo o lado, porque o madeirense nasceu com o poio umbilicalmente agarrado a si, e transporta-o consigo a todo o lado. O poio é o seu elo à terra, à História e 32 Os conceitos lugar, território e territorialidade tornaram-se hoje, também, comuns no debate académico em torno da criação e materialização dos poderes e das instituições. Algumas definições do conceito de território permitem entender o rumo que pretendemos imprimir ao debate. Assim, segundo Félix GUATTARI e Suely ROLNIK (1996 Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, p. 323) “A noção de território aqui é entendida num sentido muito amplo, que ultrapassa o uso que fazem dele a etologia e a etnologia. Os seres existentes se organizam segundo territórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos cósmicos. O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente “em casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos.” GREGORY (2009: 746) apresenta o território como: “Uma unidade de espaço contíguo que é utilizado, organizado e gerido por um grupo social, indivíduo ou instituição para restringir e controlar o acesso a pessoas e lugares. Embora às vezes é usado como sinônimo de lugar ou espaço, o território nunca foi um termo primordial da terminologia geográfica. O uso dominante tem sido político, envolvendo o poder de limitar o acesso a certos lugares ou regiões, ou ainda, no sentido etológico com o domínio exercido ao longo de um espaço por uma dada espécie ou um organismo. Cada vez mais, o conceito de território atrela-se ao conceito de rede, com intuito de ajudar na compreensão de processos complexos onde o espaço é gerido e controlado por organizações poderosas.” (FÉVERO & GRAMACHO, 2004: 8) afirmam que “o território se define, essencialmente, a partir dos seus usos (das experiências e dos seus resultados materializados) e das estruturas de cooperação que foram geradas por e para esses usos, de modo que ele é, ao mesmo tempo, palco (lugar) e ator (agente) ”. Todavia, para a E. SAUBORIN (2002, Desenvolvimento Rural e Abordagem Territorial: conceitos, estratégias e atores. In: SABOURIN, Eric e Teixeira, Olvio (orgs). Planejamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais Conceitos, controvérsias e experiências. Braslia: UFPB/CIRAD/EMBRAPA. pp. 21-37)) o território surge como um espaço construído socialmente, marcado culturalmente e delimitado institucionalmente, enquanto Bertha BECKER, (Logística e ordenamento do território, Rio de Janeiro, 2006, p. 51 [mimeografado]): 51) relaciona “o território à prática e ao poder, caracterizando-o como o espaço da prática; considerando que por um lado é o produto da prática espacial: inclui a apropriação efetiva ou simbólica de um espaço, implica na noção de limite ñ componente de qualquer prática ñ manifestando a intenção de poder sobre uma porção precisa do espaço”. De acordo com Robert. D. SACK (1986: 05), “Territorialidade para humanos é uma poderosa estratégia geográfica para controlar pessoas e coisas, através do controle da área. Territorialidade é uma primária expressão geográfica de poder social. São os meios pelos quais sociedade e espaço estão interrelacionados”. E, reforça a ideia, ao afirmar que “A territorialidade humana é melhor de ser pensada não de como se fosse motivada biologicamente, mas sim enraizada social e geograficamente. Seu uso depende de quem está controlando quem e em qual contexto geográfico de espaço, lugar e tempo. Territorialidade está intimamente relacionada à forma como as pessoas usam a terra, como se organizam no espaço e como elas dão sentido ao lugar. É evidente que essas relações mudam, e a melhor maneira de estudá-las é rever suas mudanças ao longo do tempo [...] Territorialidade é um uso sensível histórico do espaço, especialmente uma vez que é socialmente construído e depende de quem está controlando quem e por quê. É a perspetiva geográfica o componente para compreensão de como sociedade e espaço estão interconectados.” (SACK, Robert, 1986. D. The Human Territoriality: Its theory and history. Cambridge University Press, Crambidge, pp. 10-11). Cf. CANTELMO, Welesley e outros, 2015, Território e territorialismo: a abrangência conceitual e a noção de poder, Caderno de Geografia, v.25, n.º 44, pp. 343-367. CARVALHO, C. D., 1929, Introdução à Geografia Política. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves. COSTA, R. H. da, 2006. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: ed. Bertrand Brasil. COSTA, W. M., 1992, Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: Hucitec/USP. COSTA, Wanderley M., 1988, O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo: Edusp/Contexto. HAGGMAN, B. 1988, Geopolitics: classical and modern. A selected bibliography and an introduction. Center for Research on Geopolitics, Helsingborg, Paper, nº 1. MATTOS, C. M. 1977, A Geopolítica e as projeções do poder. Rio de Janeiro: Ed. J. Olympio. RAFFESTIN, Claude, 1993. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática. 33 Cf. B. Escandell Bonet, Las Baleares encrucijada de culturas mediterraneas, Madrid, 1989. 34 Já o afirmámos que “a açorianidade surge como síntese reflexiva do devir e meio histórico-geográfico açoriano”, art. cit., p. 19, corroborado por José de Almeida Pavão, Popular e popularizante, Ponta Delgada, 1981; idem, Aspectos do Cancioneiro popular Açoriano, Ponta Delgada, 1981.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? cultura35. O poio representa o seu mundo à medida e em miniatura. É aquilo que mais contribui para a definição da madeirensidade. E a ambição do madeirense é fazer do mundo (e porque não do Universo?) o seu poio, a sua casa. A geografia da Madeira apresenta especificidade da ocupação e aproveitamento do espaço, situação que acontece desde o início da sua ocupação no século XV. O poio assume muita importância, uma vez que foi o núcleo inicial do sistema de exploração económica do espaço. É em torno dele que se orienta todo o processo de povoamento e o quotidiano madeirense. A orografia e o limitado espaço geográfico, marcados por importantes declives, obrigaram o madeirense, desde o início, a intervir no espaço. O poio, uma invenção do madeirense, serve, ao mesmo tempo, de retenção dos terrenos e reunião das pedras dispersas. Muitas vezes, por falta de terreno arável, o madeirense constrói poios minúsculos, quase sempre à beira do abismo, como acontece nas proximidades do cabo Girão, ou noutras zonas costeiras e do interior. Desta forma, o poio isola e cria um mundo à parte dos demais, condiciona a linha do horizonte e gera múltiplas insularidades, definindo o espaço de intervenção e limitando as possibilidades de evolução e progresso e, mesmo, de convívio com os vizinhos. Estamos perante uma re-insularização do espaço que, em espaços continentais, se diz balcanização ou libanização. Pelo contrário, as fajãs, obra da natureza, sem delimitações ou obstáculos, abrem o caminho do ilhéu para o mar e obrigam-no a vislumbrar a linha do horizonte, podendo ser entendidas com a imagem da anti insularidade. Hoje, no mundo que faz apelo à globalização, temos estas realidades, que podem ter origem geográfica, mas que amadurecem na mente e se afirmam como um quadro mental atuante e definidor ou limitador de comportamentos. É certo que a Internet, a televisão por cabo ou satélite chegam ao poio, mas não tem força capaz para abater os muros de pedra ou de arbustos que os cercam. Abrem-se brechas nos muros e nas sebes, mas que são, quase só, para olhar para o poio dos outros e, deste modo, alimentar, afirmar e expandir a nossa invejidade, intolerância ou xenofobia. O madeirense tem plena consciência de que o poio é limitado e que raras vezes é capaz de resolver as questões da sobrevivência. Daí o seu apego e valorização, defendendo-o e tornando-o indivisível, situação que o contrato de colonia conseguiu garantir e perpetuar36. A ilha conviveu historicamente com problemas de subsistência e fome, que se agravaram em momentos de conflitos mundiais. E, exauridos os recursos, com uma intensiva exploração do solo, pouco ou nada resta ao madeirense. A emigração é, assim, uma válvula de escape para a sociedade e um dado mais na valorização do poio. Os que saem procuram fora da ilha uma extensão do poio e são, para os que ficam, uma garantia de continuidade, de adiamento da rotura. À pequenez do espaço geográfico37, o madeirense contrapõe a ideia do mar, pois: O mar é para o Ma35 De acordo com Orlando RIBEIRO (1985: 80): Os poios cobrem toda a superfície cultivada. Sobem desde o litoral até 700 ou 800 metros de altitude. Se o declive é médio, o poio não é mais do que um pequeno muro de sustentação separando parcelas mais ou menos inclinadas. Mas se o declive é muito acentuado é necessário levantar um muro alto e espesso. Nas arribas, para suster as terras destinadas às culturas ricas (bananeira e cana-de-açúcar), vêem-se parcelas onde a superfície cultivada é inferior à dos muros que a protegem. Os poios são servidos por uma escada muito estreita, frequentemente formada pelas pedras salientes do muro. Por aí se sobe e desce para dar à terra os numerosos cuidados que ela exige, para fazer circular as águas de rega e para colher os produtos que, penosamente, são transportados às costas. Os poios formam construções que é necessário vigiar constantemente. Se as chuvas torrenciais, tão frequentes, ali abrem brechas, logo há que repará-las, sob pena de ver ruir todo o edifício. A construção e a reparação dos muros é muito penosa. É preciso levar aos ombros ou à cabeça grandes pedras e trabalhar à beira de precipícios. Não basta construir poios: é necessário ainda criar o solo. Frequentemente os muros assentam na rocha nua. Vai-se então buscar a outro lado terras de boa qualidade, que se transportam em cestos e se mistura~ em diyersas proporções. Muitas vezes esta,-terra constitui um solo artificial que nada tem a ver com a rocha sobre a qual assenta. Os poios, sempre muito pequenos, os mais exíguos medem apenas algumas dezenas de metros quadrados, parcelam em extremo a superfície cultivada. Constituem unidades de exploração. Estes campos minúsculos impedem o emprego de animais de lavoura e de instrumentos aratórios potentes. Revolve-se a terra com uma picareta comprida, que serve para desterroar o solo pedregoso, cavar os sulcos de rega ou arrancar a batata-doce. (...)”. 36 Na década de sessenta do século XX o turismo surge como a resposta a esta situação de rutura, pois afirmava o deputado Agostinho Cardoso que: Já não há mais terra a arrotear. Que do turismo brote o pão para a população madeirense. (1964, Cardoso, Agostinho, Assembleia Nacional, VIII Legislatura, Sessão de 3-3-1964, Diário n.º 138, pp. 3455-3468). 37 Nos últimos anos, deu-se muita importância às influências da pequenez do espaço das ilhas na mentalidade e diferentes áreas da vida do insular, nomeadamente no plano económico. Cf. BLAIR, P. , 1968. Le problème des micro-États. Genève, Dotation Carnegie pour la paix internationale;
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? deirense o seu grande latifúndio pois, para além da pesca e de outras actividades que no mesmo têm lugar, é pelo mar que ele estabelece o contacto com as mais diversas regiões do Mundo. É pelo mar que o Madeirense emigra, à procura de melhor sorte ( ) foi pelo mar que a Madeira se afirmou como estância de turismo de fama mundial38. O mar poderá ser uma extensão do poio e a ilha o centro do mundo, porque, afinal, o problema do ilhéu é ser visto como periférico, respondendo a esta situação com a centralidade da ilha, ou melhor, do poio. Desta forma, temos de entender uma tendência quase permanente da sociedade madeirense para a mobilidade e que contrapõe o madeirense como cidadão global que, desde meados do século XV, chegou a todo o lado, em oposição ao madeirense barricado no seu poio. Hoje, são passados quase seiscentos anos em que o primeiro português, continental, pisou o solo da ilha e transpôs os socalcos da Serra da Estrela, adaptando-os e dando-lhe um cunho diferenciado, daí o nome de poio. Apesar de toda a evolução, o poio, como espaço geográfico e mental, manteve-se incólume e cada vez mais fortalecido. Os que partem são expelidos para o exterior de um poio que vão tentando manter, através dos vínculos da “saudade”, mas cujas ligações vão perdendo com o tempo. É verdade que quem parte aspira voltar. Mas é verdade também que não é esse o desejo de quem ficou na terra. Daí que o desejo de retorno muitas vezes não passa disso e, quando acontece, como foi por força de circunstâncias adversas na África do Sul e Venezuela, gera animosidade e expressões de xenofobia. A mobilidade insular foi e continuará a ser um fator de consolidação do poio, porque o poio é limitado em termos de espaço e recursos, e não comporta todos. O limite do poio é estabelecido por uma linha de fronteira, montada por uma cerca de arbustos ou de pedra, que delimita o espaço. A partir do século XVI, a “colonia” estabeleceu que o poio era uno e indivisível e assim se manteria para sempre. Não há, portanto, lugar a partilhas e estabelecem-se estratégias para a sua indivisibilidade: um poio deve continuar do mesmo dono, pelo menos uma vida, porque o demais a Deus pertence. A História, porém, assinala diversas formas de descompressão deste espaço, muitas violentas. É o caso das aluviões, que acontecem com frequência desde o século XVII, que, para além de desestruturarem o poio, atuam como reforço daquele que resiste à tempestade. O facto de o madeirense ter sido pioneiro na construção da sociedade e economia atlânticas, assim como todas as mobilidades que a História foi registando, obrigaram a um fortalecimento do poio, o coração do mundo do insular. Abrem-se as portas para que os excedentários partam sem retorno. Uma vez transposta a linha de fronteira do poio, será difícil, quase impossível, regressar. A literatura, nomeadamente, Horácio Bento de Gouveia, em 1949, em Ilhéus, hiperboliza esta ideia. Do poio, porém, o madeirense olha o mundo que se esconde para além da ilha do horizonte do oceano, pois raras vezes a orografia o impede de ver o mar. Deste modo, tem ao seu alcance o mundo vivido e sonhado e o limite não é apenas o que a sua vista alcança, mas também a sua capacidade de sonhar e recriar o que está para além do visível. Do seu poio, o madeirense avista outros poios. Defende o que é seu, mas sabe que não está sozinho. É óbvio que esta ideia de poio, como mundo individualizado, faz parte de um quadro mental que anda sempre associado ao madeirense e que não implica necessariamente a sua existência física39. Daí que sempre DOUMENGE, F., 1985, Les Iles et le Micro-états Insulaires. Herodote, 37-38: 297-327; DOUMENGE, F., The viability of small intertropical islands. In DOMMEN E e HEIN P (EDS.), 1985, States, Microstates and Islands. Croom Helm, London: 70-118; SANGUIN André-Louis. 1981: “”Small is not beautiful”: la fragmentation politique de la Caraïbe”. Cahiers de géographie du Québec, n°66, p. 343-360; TAGLIONI, François, 2007, ‘La périphéricité: du concept au lobby politique’ (‘Periphericity: From Concept to Political Lobbying’), L’Espace politique nº 2, online at: http://espacepolitique.revues.org/index594.html - accessed March 2011. 38 1956. Sousa, Teixeira de, Assembleia Nacional, VI Legislatura, Sessão de 8-2-1956, Diário n.º 125, pp. 464-466. 39 Será o mesmo que nos diz Raphaël ENTHOVEN (2004, L’île intérieure, Revue LIRE, 01/06/2004, [En ligne] http://www.lexpress.fr/ culture/livre/l-ile-interieure_809184.html.), citado por SOULIMANT, de Nina, 2011, Faire face au changement et réinventer des îles. Thèse de Doctorat, Université de La Rochelle Institut du Littoral et de l’Environnement/LIENSs - Equipe AGÎLE. Disponível na web: https://tel.archives-ouvertes.fr/file/ index/ docid/750862/filename/2011Soulimant26498.pdf. Consulta em 07-09-2015, p. 24 : «l’individu, lui aussi, est une île. Un périmètre paradoxal de chair et de pensées qui s’inscrit dans le monde tout en lui demeurant étranger. Qu’il soit corps ou esprit, l’être insulaire est, par définition, coupé du continent des autres.». Sobre a contestação do determinismo geográfico veja-se FEBVRE, L., 1922, 1970, La Terre et l’évolution humaine, Paris: La Renaissance du livre; GÓMEZ MENDOZA, J., J. Munõz Jiménez, e N. Ortega Cntero, 1982, El Pensamiento Geográfico. Estudio lnterpretativo y
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? ouvimos dizer que as barreiras e amarras que nos prendem ao mundo-ilha, são mais de ordem mental do que física e que a sua superação passa pelo quebrar dessas fronteiras e pelo abrir das portas do mundo ao universo mental do insular. Se discorrermos sobre a História das ilhas atlânticas, no quadro de referência de mais de seis séculos, teremos testemunhos dessa outra realidade, que muitas vezes, ao ilhéu, custa a identificar, porque está preso ao conforto deste quadro mental limitador, é certo, mas do qual poderá retirar dividendos. Este tipo de abordagem e chamada de atenção podem, contudo, contribuir para revelar a face oculta do madeirense, esbater as fronteiras e desatar as amarras que ainda o prendem.
Antologia de Textos (De Humbolt a las tendencias radicales), Madrid: Alianza Editorial; MORAN, Emílio F., 1979, Human Adaptability. An Introduction to Ecological Anthropology, Boulder, Cobrado: Westview Press.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
BORDONE, Benedetto, ?-1539: Isolario di Benedetto Bordone nel qual si ragiona di tutte Iªsole del mondo, con li lor nomi antichi & moderni, historie, fauole, & modi del loro viuere, & in qual parallelo & clima giaciono. – impresse In Vinegia : per Nicolo dªAristotile, detto Zoppino, 1534.
2:- A HISTÓRIA: - DOS DESCOBRIMENTOS E OCUPAÇÃO DA MADEIRA E ESPAÇO ATLÂNTICO. O Atlântico não é só uma imensa massa de água, polvilhada de ilhas, pois está associado a uma larga tradição histórica. Foi na Antiguidade que recebeu o seu nome de batismo. As ilhas foram e continuam a ser o principal pilar e o mar o traço de união. Estamos perante um conjunto de ilhas e arquipélagos, relevantes no processo histórico, quase sempre como intermediários entre litorais dos continentes europeu, africano e americano. Anicham-se, de um modo geral, junto da costa africana e americana. Apenas os Açores, Santa Helena, Ascensão e o grupo de Tristão da Cunha se distanciam dela. Desde o pioneiro estudo de Fernand Braudel40 que, às ilhas, foi atribuída uma posição chave na vida do oceano e do litoral dos continentes. Segundo Pierre Chaunu41, foi ativa a intervenção dos arquipélagos da Madeira, Canárias e Açores, o Mediterrâneo Atlântico, na economia europeia dos séculos XV e XVII42. O Atlântico pode ser considerado uma invenção europeia dos séculos XV e XVI, articulando-se diretamente com as políticas coloniais das potências emergentes. A partir daqui estabeleceu-se, em ambos os lados do oceano, um vínculo direto entre ilhas e áreas costeiras. A História e a Geografia marcaram a vida do oceano nos últimos cinco séculos43. A partir do século XV, foi um espaço privilegiado para os impérios europeus, assumindo as ilhas uma função fundamental no cruzamento de rotas, circulação de pessoas e produtos44. 40 O Mediterrâneo e o Mundo Maditerrânico na Época de Filipe III, 2 vols., Lisboa, 1984 (1ª edição em 1949). 41 Sevilla y América. Siglos XVI y XVII, Sevilha, 1983[Estudo abreviado dos 14 volumes de Séville et l’Atlantique y del Pacifique des Ibériques, 1949, 1955-60]. 42 Confronte-se nossos estudos: Comércio Inter-insular nos Séculos XV e XVI. Madeira, Açores e Canárias, Funchal, 1987; Portugal y las Islas del Atlántico, Madrid, 1992. 43 D. W. Meinig, The Shaping of América: A Geographical Perspective on 500 years of History, vol. I: Atlantic America 1492-1800, New Haven, 1986. Pieter Emmer, In Search of a System: The Atlantic Economy, 1500-1800, in Horst Pietschmann, Atlantic History. History of the Atlantic System 15801830, Gottingen, 2002, pp. 169-178; Barbara L. Solow, Slavery and the Rise of the Atlantic System, N. York, 1991. 44 Cf. José Manuel Azevedo e Silva, A Importância dos Espaços Insulares no Contexto do mundo Atlântico, in História das Ilhas Atlânticas, vol. I,
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? Na História do Atlântico, o mundo insular é uma realidade sempre presente. A Antiguidade Clássica faz apelo às ilhas míticas, fantásticas e imaginárias, cuja localização acontece sempre no Atlântico45. O fascínio do mundo insular manteve-se nos descobrimentos europeus. Tendo sido uma dominante da cultura Ocidental e Oriental, ganhou papel de relevo na mitologia clássica e na construção de novos mitos46. Daqui resultou certamente a moda de divulgação com os isolarios, em que se destaca o de Beneditto Bordone, de 152847. Depois, construíram-se pontes entre ambos os lados do oceano como pilares assentes nas ilhas. As rotas do Atlântico, Índico e Pacífico só se afirmaram por força da presença de ilhas. D. Manuel, monarca português, ciente da importância desta realidade, mandou estabelecer o Livro das Ilhas para tombar toda a documentação mais significativa que a elas se referia48. As ilhas foram espaços de construção das utopias, escalas retemperadoras da navegação, áreas de desusada riqueza para o europeu, como destino de desterro de criminosos e políticos, refúgio de piratas, aventureiros, espaços de convalescença, lazer e turismo. No vasto conjunto de ilhas que povoam o oceano, devemos salientar pelo menos três grupos: oceânicas (Açores, Madeira…), continentais (Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Santa Catarina…) e fluviais (São Luís,…). A posição que cada uma assumiu conduziu a diferente protagonismo histórico. As fluviais e continentais evidenciaram-se pela dependência ao espaço continental vizinho, enquanto as oceânicas ficaram entregues a si próprias. A favor da valorização dos espaços insulares temos, ainda, a tese que vingou no seio da Historiografia americana de que o Atlântico é uma unidade de análise, delimitada cronologicamente entre os inícios de expansão europeia, a partir do século XV e a abolição da escravatura, em 188849. A função assumida pelas ilhas no contexto da expansão quatrocentista, quer como terra de navegadores, quer como principal centro que modelou a realidade socioeconómicos, é a evidência da imprescindível da dimensão atlântica. Se tomarmos em linha de conta alguns dos temas comuns, como o vinho, o açúcar e a escravatura, seremos forçados a concluir que foram eles, em boa parte, os responsáveis pela opção atlântica. As rotas comerciais, os mercados, e, acima de tudo, o oceano como mar aberto são uma permanência. Acontece que a historiografia vem defendendo a vinculação das ilhas ao Velho Mundo, realçando apenas a importância da relação umbilical com a mãe-pátria. Os séculos XV e XVI seriam os momentos áureos, e a conjuntura setecentista, a expressão da viragem para o Novo Mundo, em que alguns produtos, como o vinho, assumem o papel de protagonista e de responsáveis pelas trocas comerciais. Estudos recentes confirmam que o relacionamento exterior das ilhas não se resumia a estas situações50. À margem das importantes vias e mercados intercontinentais, subsistem outras que ativaram a economia Funchal, 1997, pp. 125-161. 45 W.H. Babcock, Legendary Islnads of the Atlantic, N. York, 1922; Marcos Martinez, Canárias en la Mitologia, Santa Cruz de Tenerife, 1992; IDEM, Las Islas Canárias de la Antiguedad al Renacimiento. Nuevos Aspectos, Santa Cruz de Tenerife, 1996. 46 Antonio Carlos Diegues, Ilhas e Mares. Simbolismo e Imaginário, S. Paulo, Editora Hucitec, 1998, pp. 80, 129-193. 47 Inácio Guerreiro, Tradição e Modernidade nos Isolarios ou “livros das Ilhas”, dos Séculos XV e XVI, in Oceanos, nº. 46(Lisboa, 2001), pp. 28-40. 48 Cf. José Pereira da Costa, O Livro das Ilhas, Lisboa, 1987. 49 Cf. Jacques Godechot, Histoire de l’Atlantique, Paris, 1947; Alan L. Karras e J. R. Macneill, Atlantic American Societies-from Columbus Through Abolition 1492-1886, London, 1992 [nomeadamente a apresentação de A. L. Karras:”The Atlantic World as a unit of Study”]; Alfred W. Crosby, the Columbian Exchange, Biological and Cultural Consequences of 1492, Westport, 1972; S. Mintz, Sweetness and Power, N. York, 1985. Michael Meyerr, “The Price of the new Transnational History”, the American Historical Review, 96, nº 4, 1991, 1056-1072; D.W. Meinig, Atlantic America 1492-1800, New Haven, 1980: Lan Stelle, The English Atlantic, 1675-1740 - An Exploration & Communication and Community, N. Y. 1986; David Armitage e Michael J. Braddick, The British Atlantic World. 1500-1800, N. York, 2000 (especialmente os textos de Bernard Bailyn e David Armitage); John Elliott, En Búsqueda de la Historia Atlântica, Las Palmas, 2001. 50 A partir de 1976 a realização de diversos colóquios sobre estas ilhas, nas Canárias, Açores e Madeira tem evidenciado esta realidade. Aqui apenas damos conta de alguns dos nossos trabalhos, entre muitos que estão reunidos nas referidas actas: “O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira no Século XVII”, in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVII), A. Heroísmo, 1984; “O Comércio de Cereais das Canárias para a Madeira nos Séculos XVI e XVII”, in VI Colóquio de História Canario Americana, Las Palmas, 1984; “Madeira e Lanzarote. Comércio de Escravos e Cereais no Século XVII”, in IV Jornadas de História de Lanzarote e Fuerteventura, Arrecife de Lanzarote, 1989.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? insular desde o séc. XV. As conexões entre os arquipélagos próximos (Açores e Canárias) ou afastados (Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe) foram já motivo de aprofundada explanação, na medida em que propiciaram a valorização da estrutura comercial51. Aqui ficou demonstrada a importância assumida pelos contactos humanos e comerciais que, no primeiro caso, resultou da necessidade de abastecimento de cereais e, no segundo, das possibilidades de intervenção no tráfico negreiro, mercê da vinculação às áreas africanas como a Costa da Guiné, Mina e Angola. Em qualquer das situações, o estreitamento dos contactos depende, primeiro, da presença de uma comunidade que pretende manter o vínculo à terra-mãe e, depois, as possibilidades de troca favorável. A oferta de vinho e a sua procura pelos agentes do tráfico negreiro, para, enganadoramente, o oferecerem aos sobas africanos, ou do outro lado do Atlântico, saciarem a sede do europeu a troco do açúcar, foi o principal móbil. A situação influenciou decisivamente a estrutura comercial insular a partir da segunda metade do século XVI. No caso do Atlântico português, a conjuntura foi particular, pois a atuação em três frentes – Costa da Guiné, Brasil e Índico – alargou os enclaves de domínio ao sul do oceano. Neste contexto, surgiram cinco vértices insulares de grande relevo - Açores, Canárias, Cabo Verde, Madeira e S. Tomé – que foram imprescindíveis para a afirmação da hegemonia e defesa das rotas oceânicas. Aí assentou-se os pilares atlânticos fazendo das ilhas desabitadas, lugares de acolhimento e repouso para os náufragos, ancoradouro seguro e abastecedor para as embarcações e espaços agrícolas de exportação. No primeiro caso, podemos referenciar a Madeira, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé, Santa Helena e Açores, que emergiram em princípios do século XVI como os principais eixos das rotas do Atlântico. Algumas foram fundamentais nas rotas intercontinentais, como foi o caso das Canárias, Santa Helena, Açores; outras filiam-se nas áreas económicas litorais, como sucedeu com Arguim, Cabo Verde, e o arquipélago do Golfo da Guiné. Todas viveram numa situação de dependência em relação ao litoral que as tornou importantes. Apenas em S. Tomé, pela importância que aí assumiu a cana-de-açúcar, esta subordinação não atingiu a mesma dimensão no início. O protagonismo dos arquipélagos das Canárias e Açores é muito mais evidente no traçado das rotas oceânicas que se dirigiam ou regressavam das Índias ocidentais e orientais, resultado da sua posição às portas do oceano. Atuaram como via de entrada ou de saída das rotas oceânicas, orientando a pirataria e corso para a região circunvizinha. Estas, porém, não foram apenas áreas de apoio, uma vez que o solo fértil permitiu um aproveitamento agrícola, projetando-as para um lugar relevante na História do Atlântico. A valorização socioeconómica dos espaços insulares não foi unilinear, dependendo da confluência de dois fatores. Primeiro, os rumos da expansão atlântica e os níveis da sua expressão em cada um, depois as condições propiciadoras de cada ilha ou arquipélago em termos físicos, de habitabilidade ou da existência ou não de uma população autóctone. Quanto ao último aspeto, é de salientar que apenas nas Antilhas, Canárias e a pequena ilha de Fernão do Pó, no Golfo da Guiné, já estavam ocupadas quando aí chegaram os marinheiros peninsulares. As restantes encontravam-se abandonadas – não obstante falar-se de visitas esporádicas às ilhas dos arquipélagos de Cabo Verde e S. Tomé por parte das gentes costeiras – o que favoreceu o imediato e rápido povoamento, assim que as condições o permitiam. Se na Madeira a tarefa foi fácil, não obstante as condições hostis da orografia, o mesmo não se poderá dizer dos Açores ou de Cabo Verde, onde os primeiros colonos enfrentaram diversas dificuldades. Para as ilhas já ocupadas, as circunstâncias foram diferentes, como foi o caso das Canárias, em que os castelhanos se defrontaram com os autóctones, durante largos anos (1402/1496). Já em Fernão do Pó e nas Antilhas, foi mais fácil vencer a resistência indígena. Os arquipélagos da Madeira e Canárias afirmam-se pelo pioneirismo da ocupação que fez com que se projetassem no espaço atlântico. É evidente a vinculação económica e institucional dos espaços do atlântico português à Madeira, como sucede em relação às Canárias com as índias de Castela. Daqui resulta a sua importância para o estudo e conhecimento da História do Atlântico e a valorização da História de ambos os 51 O Comércio Inter-insular (Madeira, Açores e Canárias) nos Séculos XV e XVI, Funchal, 1987.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? arquipélagos52. Para nós, as ilhas desempenharam um papel fundamental na estratégia de afirmação colonial no Novo Mundo, pois que foram pilares destacados do complexo que começou a construir-se a partir do século XV. Elas são, ainda, a imagem do Paraíso que se afirma como espaço de rica exploração económica, escala retemperadora e de apoio aos intrépidos marinheiros. Paulatinamente, ganharam a merecida posição na estratégia colonial, projetando-se nos espaços continentais próximos e longínquos. Abriram as portas do Atlântico e mantiveram-se, até a atualidade, como peças fundamentais. Foram imprescindíveis à descoberta do oceano e à afirmação e controlo dos mercados continentais vizinhos, como sucedeu em Cabo Verde e S. Tomé. Nos séculos XVIII e XIX, não foi menor o protagonismo insular. As ilhas passaram de escalas de navegação e comércio a centros de apoio e abastecimento de carvão aos vapores e laboratórios da ciência. Cientistas cruzam-se com mercadores, funcionários coloniais e militares e seguem as rotas delineadas desde o século XV. A estes juntaram-se os primeiros “turistas”, que afluem às ilhas desde o século XVIII, na busca de cura para a tísica pulmonar ou à descoberta das belezas. Foi o início do turismo insular que só adquiriu a dimensão atual a partir da década de cinquenta do século XIX. A segunda metade do século XIX confiou ainda outro papel às ilhas. Foram elas pontos estratégicos fundamentais do lançamento dos cabos submarinos intercontinentais. A situação perdurou até à década de setenta do século XX, altura em que os sistemas de telecomunicações começaram a afirmar-se e a dominar, em definitivo, as trocas de informação intercontinentais53. Parte da fortuna destas Afortunadas está patente no papel que as ilhas assumiram no mundo atlântico, a partir do século XV. Daqui resultou uma forte vinculação ao mundo europeu que nunca prescindiu da posse na estratégia expansionista e de domínio do espaço atlântico. O progresso das comunicações não lhes retirou protagonismo, pelo contrário, revalorizou-as. Os portos dos veleiros deram lugar aos vapores e aos cabos submarinos e acabaram cedendo o seu protagonismo aos aeroportos. Hoje, assumem uma nova dimensão no âmbito político, como espaços independentes ou autónomos, continuam a assumir a vinculação europeia, sendo mais evidente a vocação de estância turística.
3:- AS ILHAS, COMO O PRINCÍPIO DO DESENCRAVAMENTO DO MUNDO. No conjunto, os arquipélagos do Atlântico Oriental - Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé– deram um contributo à plena valorização e afirmação do novo espaço que se evidenciou na construção dos impérios europeus. A Madeira surgiu, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais, que depois foram utilizados em larga escala noutras ilhas e litoral africano e americano. O arquipélago foi o centro de divergência dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro, tivemos os Açores, depois, os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Idêntica função preencheu as Canárias, em relação ao modelo colonial castelhano que, num primeiro momento, se orientou pela experiência madeirense54. 52 Cf. Alan L. Karras e J. R. Macneill, Atlantic American Societies- From Columbus Through Abolition 1492-1886, London, 1992; Alfred W. Crosby, the Columbian Exchange, Biological and Cultural Consequences of 1492, Westport, 1972; S. Mintz, Sweetness and Power, N. York, 1985. Michael Meyerr, “The Price of the new Transnational History”, the American Historical Review, 96, nº 4, 1991, 1056-1072; D.W. Meinig, Atlantic America 1492-1800, New Haven, 1980: Lan Stelle, The English Atlantic, 1675-1740 - An Exploration & Communication and Community, N. Y. 1986. 53 Cf. Francis M. Rogers, Atlantic Islanders of the Azores and Madeiras, Massachusetts, 1979, pp. 175-230. 54 Cf. José Pérez Vidal, Aportación de Canárias a la Población de América, Las Palmas de Gran Canária, 1991.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? O sistema institucional madeirense apresentava uma estrutura peculiar definida pelas capitanias. Foi a 8 de maio de 1440 que o Infante D. Henrique lançou a base da nova estrutura, ao conceder a Tristão Vaz a carta de capitão de Machico. A partir daqui, ficou definido o sistema institucional que deu corpo ao governo português, no Atlântico insular e brasileiro. Também os castelhanos vieram à ilha receber alguns ensinamentos para a sua ação institucional no Atlântico, como se depreende do desejo manifestado, em 1518, pelas autoridades antilhanas, em resolver a difícil situação das pequenas ilhas de Curaçau, Aruba e La Margarita, recorrendo ao modelo madeirense de povoamento. As Canárias assumiram idêntico papel para o império de Castela55. Tenha-se em conta que algumas ilhas, nomeadamente a de La Gomera, foram pilares fundamentais no apoio das viagens colombinas e, depois, de toda a estratégia imperial56. A partir daqui, os castelhanos fizeram chegar a cultura da cana sacarina às ilhas da América central.57. A Madeira foi ainda o ponto de partida para organização da sociedade no Atlântico, em torno da escravatura. De acordo com S. Greenfield,58 ela serviu de trampolim entre o “Mediterranean Sugar Production” e a “Plantation Slavery” americana. O autor não faz mais do que retomar os argumentos aduzidos por Charles Verlinden59 desde a década de sessenta. Entretanto, os argumentos mereceram alguns reparos na formulação, mercê de novos estudos60. Os descobrimentos europeus não podem ser vistos apenas na perspetiva do encontro de novas terras, novas gentes e culturas, devendo associar-se-lhe, também, as migrações humanas, que arrastaram consigo um universo envolvente de fauna, flora, tecnologia, usos e tradições. Estamos perante aquilo a que Pierre Chaunu61 define como desencravamento planetário, vinculado às transformações resultantes da expansão europeia do século XV. Os descobrimentos foram também responsáveis pela transformação e revolução ecológica, com impactos positivos ou negativos. Uma das transformações fundamentais ocorreu ao nível alimentar com a descoberta de novos produtos e condimentos que enriqueceram a dieta alimentar62.
4:- O MADEIRENSE CIDADÃO DO MUNDO. No conjunto, os arquipélagos do Atlântico Oriental – Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé – deram um contributo à plena valorização e afirmação do novo espaço que se destacou no império português. A Madeira assume, aqui, um papel fundamental. Senão, vejamos. Logo a partir de 1515, a presença madeirense é notada no transplante das socas de cana na Baía e S. Vicente (Santos), mas a presença é mais notória na economia açucareira brasileira, a partir de meados do século XVI. Também a cultura da vinha no Brasil está 55 Como o confirmam os textos de A. Rumeu de Armas,Canárias y el Atlántico. Piraterias y Ataques Navales, Madrid, 1991(reedição) Pierre Chaunu, ob. Cit.; e Francisco Morales Padron, El Comercio Canario-Americano (siglos XVI-XVIII), Sevilla, 1955. 56 António Tejera Gaspar, Las Cuatro Viajes de Colón y las Islas Canarias (1492-1502), La Laguna, Francisco Lemus Editor, 2000. 57 Cf. Justo L. del Rio Moreno, Los Inicios de la Agricultura Europeia en el Nuevo Mundo, Sevilla, 1991, p. 303. 58 “Madeira and the Beginings of New World Sugar Cane Cultivation and Plantation Slavery: a Study in Constitution Building”, in Vera RUBIN e Artur TUNDEN(eds.), Comparative Perspectives on Slavery in New World Plantation Societies, N. York, 1977. 59 Précédents et Paralèlles Europeéns de l’Esclavage Colonial», in Instituto, vol.113, Coimbra, 1949; «Les Origines Coloniales de la Civilization Atlantique. Antécédents et Types de Structure», in Journal of World History, 1953, pp. 378-398; Précédents Médiévaux de la Colonie en Amérique, México, 1954; Les Origines de la Civilization Atlantique, Nêuchatel, 1966. 60 Confronte-se Alfonso FRANCO SILVA, “La Esclavitud en Andalucia...”, in Studia, nº.47, Lisboa, 1989, pp. 165-166; Alberto VIEIRA, Os Escravos no Arquipélago da Madeira. Séculos XV a XVII, Funchal, 1991. 61 A História como Ciência Social, Rio de Janeiro, 1976, 287-326. 62 Pierre Chaunu, A História como Ciência Social, Rio de Janeiro, 1976, pp. 181-239; José E. Mendes Ferrão, A Influência Portuguesa na Difusão de Plantas no Mundo, Lisboa, 1980; Transplantação de Plantas de Continentes para Continentes no Século XVI, Lisboa, 1986; IDEM, A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1999.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
Painel alegórico da agricultura de Guilherme Duarte Camarinha (1912-1994). Átrio da antiga Junta Geral (atual sede do Governo Regional da Madeira)
ligada à Madeira, pois, em 1532, Martin Afonso de Sousa terá conduzido para lá, as primeiras cepas madeirenses plantadas em S. Vicente e que, a partir de 1551, avançaram para o interior, na área que é hoje S. Paulo. A Madeira foi pioneira e ponto de partida para a expansão do cultivo da cana sacarina e fabrico do açúcar no espaço atlântico. Mas não se fica por aqui, alargando-se às ilhas da América Central. Note-se que muitos, afugentados do Nordeste brasileiro pelo ocupante holandês na década de trinta do século XVII, foram parar às Caraíbas onde promoveram a indústria. Foi, aliás, no período da ocupação holandesa do Pernambuco que se evidenciou, de igual forma, o protagonismo dos madeirenses na defesa face à cobiça holandesa. Muitos madeirenses corresponderam à chamada para correr com o invasor, sendo o movimento chefiado por um outro madeirense, João Fernandes Vieira, conhecido como libertador de Pernambuco. São aqueles madeirenses que se haviam batido com bravura nas pelejas de defesa das praças marroquinas, de Angola ou na expansão e conquista do Índico que estão agora, na primeira linha da salvaguarda deste rincão do mundo colonial. O mesmo princípio orientará a presença de muitas famílias madeirenses e açorianas no Sul do vasto espaço brasileiro, dando origem às colónias de povoamento na ilha de Santa Catarina e litoral próximo. A atual cidade de Portalegre, no Brasil, foi criada por iniciativa de um madeirense que conseguiu convencer um grupo de açorianos a avançar para o sertão. O movimento de colonização das terras do sul do Brasil foi uma forma de defesa da soberania face à cobiça castelhana animada pela guerra de fronteiras. Mais uma vez, os insulares cumprem a missão de defesa de soberania nos mais recônditos espaços do império. As ilhas não foram apenas contribuintes financeiras do processo que levou a cultura e soberania imperial portuguesa aos quatro cantos do mundo, mas participantes ativas do processo. Por isso, muitos foram CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? tragados pela fúria das ondas ou sucumbiram vítimas das doenças tropicais e muitos outros caíram no campo de batalha, para que, tal como nos assinala o poeta, “fosse nosso o mar”. É evidente o contributo madeirense para a construção da sociedade brasileira. A riqueza propiciada pelo açúcar não escapa ao engenho e arte dos nossos antepassados. Mas esta dádiva espraia-se noutras ações de defesa do espaço nos séculos XVII e XVIII. As colónias de povoamento do sul, impropriamente designadas de açorianas, são criadas com o esforço de aventureiros madeirenses e açorianos. As condições socioeconómicas de ambas as ilhas aliadas às questões políticas definiram a necessidade deste surto migratório incentivado pela coroa que conduziu, ao extremo sul do vasto espaço brasileiro, a presença açórico-madeirense. O seu testemunho é ainda visível em algumas tradições culturais que persistem. Se é certo que os ilhéus estiveram ausentes do “achamento” das terras da Vera Cruz a presença torna-se notada no percurso histórico que se seguiu e que levou ao descobrimento do Brasil. E a construção como espaço açucareiro ou dos bandeirantes em busca dos metais e pedras preciosas foi também fruto do sangue e suor de muitos insulares. As ilhas não ficaram alheias ao descobrimento e processo de construção do Brasil e por isso não podem ser esquecidas na atual comemoração. A Madeira e os Açores foram terras descobertas, mas foram também terras de descobridores. Na verdade, os insulares afirmaram-se no processo da expansão europeia pela singularidade da intervenção. Vários são os fatores que o propiciaram, no momento de abertura do mundo atlântico, e que fizeram com que a Madeira, sobretudo, fosse, no século XV, uma das peças chave para a afirmação da hegemonia portuguesa no Novo Mundo. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que iam ao encontro da Europa em expansão. É considerada a primeira pedra do projeto que lançou Portugal para os anais da História do oceano que abraça o seu litoral abrupto. A fundamentação de tudo isto está patente no real protagonismo da ilha e das suas gentes. À função de porta-estandarte do Atlântico, a Madeira associou outras, como “farol” Atlântico, isto é o guia orientador e o apoio para as longas incursões oceânicas. Por isso, nos séculos que nos antecederam, foi um espaço privilegiado de comunicações, tendo a favor as vias traçadas no oceano que a circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana sacarina e vinha. Ambas as condições contribuíram para que o isolamento definido pelo oceano fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho continente europeu e o Novo Mundo. Como corolário desta ambiência, a Madeira firmou uma posição de relevo nas navegações e descobrimentos no Atlântico. O desenvolvimento da economia de mercado, em uníssono com o empenho dos principais povoadores em dar continuidade à gesta de reconhecimento do Atlântico, contribuiu para a sua posição e fizeram avolumar os serviços prestados pelos madeirenses. Surgiu uma nova aristocracia dos descobrimentos, cumulada de títulos e benesses pelos serviços prestados, no reconhecimento da costa africana, na defesa das praças marroquinas, ou nas campanhas brasileiras e índicas.63 A proximidade da Madeira ao vizinho arquipélago das Canárias, em conjugação com o rápido surto do povoamento e valorização socioeconómica do solo, orientaram as atenções do madeirense para as ilhas. Assim, decorridos apenas vinte e seis anos sob a ocupação, os moradores da Madeira empenharam-se na disputa pela posse das Canárias, ao serviço do infante D. Henrique. Em 1446, João Gonçalves Zarco, foi enviado a Lanzarote, como plenipotenciário, para afirmar o contrato de compra da ilha. Acompanham-no as caravelas de Tristão Vaz, capitão do donatário, em Machico e de Garcia Homem de Sousa, genro de Zarco64. Mais tarde, em 1451, o infante enviou nova armada, em que participaram gentes de Lagos, Lisboa e Madeira, sendo de salientar, no último caso, Rui Gonçalves filho do capitão do donatário do Funchal. Para as aristocracias madeirenses e açorianas, as ações marítimas e bélicas são, ao mesmo tempo, uma forma de homenagem ao senhor (monarca, donatário) e de aquisição de benesses e comendas. Zurara na 63 Confronte-se João José Abreu de SOUSA, “Emigração madeirense nos séculos XV a XVII”, in Atlântico, nª.1, Funchal, 1985, pp. 46-52. 64 José PEREZ VIDAL, «Aportación portuguesa a la población de Canarias. Datos», in Anuario de Estudios Atlânticos, nº 14, 1968; A. SARMENTO, «Madeira & Canárias», in Fasquias e Ripas da Madeira, Funchal, 1931, 13-14.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? «Crónica da Guiné» confirma-o, referindo que a participação madeirense ia ao encontro dos princípios e tradições da cavalaria do reino, o que não invalida a sua presença com outros objetivos, como sucede a partir de meados do século XV. Os principais obreiros do reconhecimento e ocupação da Madeira, como criados da casa do infante D. Henrique, foram impelidos para a aventura africana, com participação ativa nas viagens henriquinas de 1445 e 1460 e nas aventuras bélicas nas praças africanas do norte, nos séculos XV e XVI. A presença de gentes continuará por todo o século XV, em três frentes: Marrocos, litoral africano além do Bojador e terras ocidentais. Na primeira e na última a presença dos madeirenses foi fundamental. A tradição refere que o primeiro homem a lançar-se à aventura do descobrimento das terras ocidentais foi Diogo de Teive que, em 1451, terá saído do Faial à procura da ilha das Sete Cidades, mas que, no regresso, apenas descobriu as de Flores e Corvo. Outros madeirenses seguiram o seu exemplo, gastando muita fazenda para abrir o caminho, mais tarde, trilhado por Colombo. A ilha estava em condições de propiciar ao navegador as informações consideradas imprescindíveis ao descobrimento das terras ocidentais. Note-se que o apelo do Ocidente é consequência lógica do reconhecimento dos Açores, ocorrido a partir de 1427, apesar das ilhas mais ocidentais (Flores e Corvo) só terem sido pisadas por marinheiros portugueses, em 1452. A entrada no domínio lusíada deu-se por mãos de Pedro Vasquez de la Frontera e Diogo de Teive, em 1452, no regresso de uma das viagens para o Ocidente à procura das ilhas míticas. As ilhas açorianas, por serem as mais ocidentais sob domínio europeu até à viagem de Colombo, foram paradeiro para aventureiros interessados em embrenhar-se na gesta descobridora dos mares ocidentais. Desde meados do século XV, madeirenses e açorianos saem, com assídua frequência, à busca de novas terras assegurando, antecipadamente, por carta régia, a posse do que descobrissem65. É de notar que este interesse dos insulares pela descoberta das terras ocidentais é muito anterior a Colombo e persistiu após 1492. A primeira carta conhecida é de 19 de fevereiro de 1462, sendo a posse das novas ilhas Lovo e Capraria e de outras que iria descobrir, dadas ao João Vogado. Ainda antes de 1492, temos outras concessões a Rui Gonçalves da Câmara (21 de junho de 1473), Fernão Teles (28 de janeiro de 1474), Fernão Dulmo e João Afonso do Estreito (24 de julho de 1486). Após a primeira viagem de Colombo, não esmoreceu o interesse dos insulares por tais viagens. A atestá-lo estão as cartas concedidas a Gaspar Corte Real (12 de maio de 1500), João Martins (27 de janeiro de 1501) e Miguel Corte Real (15 de janeiro de 1502). O Ocidente exerceu sobre os ilhéus, madeirenses e açorianos, um fascínio especial, sendo acalentado, ademais, pelas lendas recuperadas da tradição medieval. Por isso, desde meados do século XV, eles entusiasmaram-se com a revelação das ilhas ocidentais - Antília, S. Brandão, Brasil. Do extenso rol de navegadores anónimos que deram a vida por esta descoberta, referenciamos os madeirenses Diogo de Teive, João Afonso do Estreito, Afonso e Fernão Domingues do Arco. A. Ballesteros66 identifica o último como o piloto anónimo que, em 1484, veio a Lisboa pedir ao rei uma caravela para, segundo Fernando Colombo, “ir a esta tierra que via.” A estas iniciativas isoladas acresce a tradição literária e os dados materiais visíveis nas plagas insulares. A literatura fantástica, a cartografia mítica, o aparecimento de destroços de madeira e troncos de árvores nas costas das ilhas açorianas acalentavam a esperança da existência de terras a ocidente. Na costa das ilhas açorianas, Faial e Graciosa, encalhavam alguns pinheiros, enquanto nas Flores davam à costa dois cadáveres com feições diferentes das dos cristãos e dos negros. Tudo isto levantava o fervor dos aventureiros que, com assiduidade, se viam perante ilhas que nunca existiram. A “décima ilha”, por exemplo, nunca passou de uma miragem. A curta permanência de Colombo no Porto Santo e, depois, na Madeira possibilitou-lhe um conhecimento das técnicas de navegação usada pelos portugueses e abriu as portas aos segredos, guardados na memória dos marinheiros, sobre a existência de terra a Ocidente. Bartolomé de Las Casas e Fernando Colombo dizem 65 Manuel Monteiro Velho ARRUDA (Colecção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos Açores, Ponta Delgada, 1977) refere as cartas atribuídas a João Vogado (19 de Fevereiro de 1462), Gonçalo Fernandes (29 de Outubro de 1462), Rui Gonçalves da Camara (21 de Janeiro de 1473), Fernão Teles (28 de Junho de 1474 e 10 de Novembro de 1475), Fernão Dulmo e João Afonso do Estreito (24 de Julho e 4 de Agosto de 1486). 66 Cristóbal Colón y el descubrimiento de América, 2 vols, Barcelona, 1945.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? que o mesmo teria recebido das mãos da sogra “escritos e cartas de marear”67. Os dois cronistas fazem dele um destacado navegador quatrocentista. A verdade, porém, é que tudo isto não passa de criação para enfatizar a ligação de ambas as famílias: Bartolomeu Perestrelo, ao contrário de muitos genoveses ou descendentes, não é referenciado nas crónicas portuguesas como navegador68, mas apenas como o capitão do donatário da ilha do Porto Santo que, por carta de doação de um de novembro de 1446, e na condição de povoador da ilha, acompanhou João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, em 1419. Mais importantes foram os elementos fornecidos pelo cunhado Pedro Correia, capitão da ilha Graciosa (Açores) que dava conta de outras notícias das terras açorianas, sem esquecer os estranhos despojos que aportavam, com frequência, às praias da ilha do Porto Santo. Aí, na Madeira e Porto Santo, ouviu histórias e relatos dos aventureiros do mar, teve acesso a provas evidentes da existência de terras ocidentais legadas pelas correntes marítimas nas praias. Um dos vestígios foi a castanha do mar, mais popularmente conhecida como “fava de Colombo”. É, por isso, legítimo de afirmar que o navegador saiu do arquipélago, em data que desconhecemos, com a firme certeza de que algo de novo poderia encontrar a Ocidente, capaz de justificar o empenho e da coroa. A ilha ficou-lhe no coração e nunca mais a esqueceu. Bastaram alguns anos de convívio com os marinheiros madeirenses, esporádicas viagens ao golfo da Guiné, para ganhar o alento, a sabedoria e os meios técnicos necessários para definir o plano de traçar o caminho de encontro às terras indicas pelo Ocidente: Cipango (=Japão) era o objetivo. Durante os cerca de dez anos que permaneceu em Portugal, Cristóvão Colombo acompanhou de perto as expedições portuguesas ao longo da costa africana. O fascínio do navegador pelo mar, conquistado no Mediterrâneo como corsário ou comerciante, despertou-lhe o apetite para as navegações atlânticas portuguesas. No momento em que se fixou em Lisboa, toda a atenção e azáfama estavam orientadas para o desbravamento da extensa costa africana além do Bojador, conhecida como costa da Guiné. Na época, toda a área costeira até ao Cabo de Santa Catarina, era já conhecida e navegável, tendo sido alcançada em 1474, no período do contrato de Fernão Gomes. Não obstante o espaço ser vedado à navegação de embarcações que não fossem portuguesas, os estrangeiros poderiam fazê-lo a bordo e ao serviço de embarcações nacionais. Assim havia sucedido na década de cinquenta, com Cadamosto e Usodimare. Tal como o fizera o patrício Usodimare, Colombo embarcou em caravelas portuguesas que demandavam as costas da Guiné, facto normal para um experimentado marinheiro genovês que, na praia do Porto Santo ou na Madeira, acompanhava o vai e vem das nossas caravelas. É de salientar que, por muito tempo, a Madeira foi escala obrigatória das embarcações portuguesas que se dirigiam à costa africana. Tal facto derivou de o Funchal ser o único porto seguro, avançado no Atlântico, que dispunha de excedentes de cereais e vinho, necessários à dieta de bordo dos marinheiros. A par disso, os madeirenses acalentavam, desde a década de quarenta, a aventura das navegações africanas, tendo-se empenhado nisso as principais famílias da ilha. Por tudo isto é inevitável associar a viagem de Colombo à sua curta estadia nas ilhas da Madeira e Porto Santo, onde contactou com a realidade atlântica, adquiriu as necessárias técnicas para se embrenhar na aventura de busca das terras ocidentais. O retorno do navegador à ilha, em 1498, no decurso da terceira viagem, pode e deve ser entendido como o reconhecimento aos madeirenses. Aqui teve oportunidade de relatar, aos que com ele acalentaram a ideia da existência de terras a Ocidente, o que encontrara de novo. O convívio com as gentes do Porto Santo havia sido prolongado e cordial, pois, em junho de 1498, aquando da terceira viagem, não resistiu à tentação de escalar a vila. A aproximação foi considerada mau presságio pois os porto-santenses pensavam estar perante mais uma armada de corsários. Desfeito o equívoco, foi recebido pelos naturais da terra, seguindo depois para a Madeira. A 10 de junho de 1498, a chegada 67 História de Las Índias, vol. I, México, 1986; Vida Del Almirante Don Cristóbal Colón, escrita por su hijo, México, 1984. 68 Esta situação foi já realçada por Henry HARRISSE, Cristophe Colomb devant l’histoire, Paris, 1892; Henry VIGNAUD, Histoire critique de la grande entreprise de Cristophe Colomb, 2 vols, Paris, 1911; Gaetano FERRO, As navegações portuguesas no Atlântico e no Indico, Lisboa, pp. 181-183.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? do navegador ao Funchal foi saudada apoteoticamente, como nos refere frei Bartolomé de Las Casas, o que provoca mais uma vez, a familiaridade com as gentes e a esperança em tal empresa. O cronista remata da seguinte forma o ambiente de festa que o envolveu: “le fué hecho mui buen recibimiento y mucha fiesta por ser alli muy conocido, que fué vecino de ella en algún tiempo”69. O sistema institucional madeirense apresentava uma estrutura peculiar definida pelas capitanias. Foi a 8 de maio de 1440 que o Infante D. Henrique lançou a base da nova estrutura, ao conceder a Tristão Vaz a carta de capitão de Machico. A partir daqui, ficou definido o sistema institucional que deu corpo ao governo português no Atlântico insular e brasileiro. Sem dúvida que o facto mais significativo da estrutura institucional deriva de a Madeira ter servido de modelo referencial para o delineamento no espaço atlântico. O monarca insiste, nas cartas de doação de capitanias posteriores, na fidelidade ao sistema traçado para a Madeira. Assim o comprovam idênticas cartas concedidas aos novos capitães das ilhas dos Açores e Cabo Verde. O mesmo sucede com a demais estrutura institucional que chegou também a S. Tomé e Brasil. Também os castelhanos vieram à ilha receber alguns ensinamentos para a sua ação institucional no Atlântico, como se depreende do desejo manifestado em 1518 pelas autoridades antilhanas em resolver a difícil situação das ilhas de Curaçau, Aruba e La Margarita, com o recurso ao modelo madeirense de povoamento. Tudo isto prova a presença modelar da ilha no contexto da expansão europeia e demonstra o interesse que ela assumiu para a Europa. João de Melo da Câmara, irmão do capitão da ilha de S. Miguel, resumia, em 1532,70 de uma forma perspicaz, o protagonismo madeirense no espaço atlântico, pois a família era portadora de uma longa e vasta experiência, dando-lhe o alento necessário e abrindo-lhe perspetivas para uma iniciativa no Brasil. Ele reclamava o protagonismo do ancestral Rui Gonçalves da Câmara que, em 1474, comprara a ilha de S. Miguel, dando início ao povoamento. A mesma perceção surge em Gilberto Freire quando, em 1952, não hesita em afirmar o seguinte: “A irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a Madeira. E irmã que se estremou em termos de mãe para com a terra bárbara que as artes dos seus homens,.. Concorreram para transformar rápida e solidamente em nova Lusitânia”71. Outra componente importante da afirmação da ilha como modelo de referência tem a ver com a organização da sociedade no espaço atlântico e da importância aí assumida pelo escravo. Mais uma vez, a Madeira é o ponto de partida para esta transformação social. De acordo com S. Greenfield,72 ela serviu de trampolim entre o “Mediterranean Sugar Production” e a “Plantation Slavery” americana. O autor não faz mais do que retomar os argumentos aduzidos por Charles Verlinden73 desde a década de sessenta. A argumentação mereceu alguns reparos na sua formulação, mercê de novos estudos74. Na verdade, todo o concretizado em termos do mundo atlântico português teve por matriz o sucedido na Madeira. A Madeira foi, ao nível social, político e económico, o ponto de partida para o “mundo que o português criou...” nos trópicos. É sumamente importante o conhecimento do sucedido na Madeira quando pretendemos estudar e compreender outras situações. 69 Fray Bartolomé de LAS CASAS, História de las Indias, vol.I, México, 1986, 497. 70 História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. III, p. 90; cf Vera Jane GILBERT, “Os primeiros engenhos de açúcar” in Sacharum, nº.3, São Paulo, 1978, pp. 5-12. 71 Aventura e Rotina, 2ªed., pp 440-446, 448-449. 72 Madeira and the beginings of New World sugar cane cultivation and plantation slavery: a study in constitution building”, in Vera RUBIN e Artur TUNDEN(eds.), Comparative perspectives on slavery in New World Plantation Societies, N. York, 1977. 73 «Précédents et paralèlles europeéns de l’esclavage colonial», in Instituto, vol.113, Coimbra, 1949; «Les origines coloniales de la civilization atlantique. antécédents et types de structure», in Journal of World History, 1953, pp. 378-398; Précédents médiévaux de la colonie emn Amérique, México, 1954; Les origines de la civilization atlantique, Nêuchatel, 1966. 74 Confronte-se Alfonso FRANCO SILVA, “La eclavitud en Andalucia...”, in Studia, nº.47, Lisboa, 1989, pp. 165-166; Alberto VIEIRA, Os escravos no arquipélago da Madeira. séculos XV a XVII, Funchal, 1991.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? 5:- DAS EIRAS, ADEGAS E ENGENHOS MADEIRENSES PARA O MUNDO GLOBAL. A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi, assim, o centro de irradiação dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro, os Açores, depois, os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Daqui resultou para a Madeira o papel fundamental de difusão das culturas existentes na Europa e que tinham valor para assegurar a subsistência ou a exportação. Depois, com a revelação de novos espaços do Atlântico e Índico, tivemos o retorno de novas culturas e produtos que vieram enriquecer o cardápio europeu. E, uma vez mais, as ilhas da Madeira e Cabo Verde voltaram a assumir um papel disseminador75. A Europa contribuiu com os cereais (centeio, cevada e trigo), as videiras e as socas de cana, enquanto da América e da Índia aportaram ao velho continente o milho, a batata, o inhame, o arroz e uma variada gama de árvores de fruto. As ilhas atlânticas, pela posição charneira no relacionamento entre estes mundos, foram viveiros da aclimatação dos produtos às novas condições endafoclimáticas que os acolhem. No século XV, a Madeira funcionou como viveiro experimental das culturas que a Europa pretendia implantar no Novo Mundo, isto é, os cereais, o pastel, a vinha e a cana-de-açúcar. A presença dos madeirenses faz-se quase sempre notar pela dádiva que trouxeram aos novos espaços onde chegaram, fruto da sua contribuição em termos de conhecimento e técnica para a construção de novas sociedades e economias. O pioneirismo da experiência madeirense de povoamento e ocupação e valorização efetiva do solo levaram a que, aos madeirenses, fossem atribuídos estes papéis de carpinteiros e mestres de engenhos, de hábeis modeladores da paisagem, tendo em conta as exigências da agricultura num lugar como a Madeira, com a construção de poios e levadas. Por vezes, nesta sua missão divulgadora de técnicas e culturas, acabam por criar espaços concorrentes à sua ilha, acarretando algumas consequências desastrosas para a economia e sociedade. O processo de ocupação e definição das estruturas administrativas nas ilhas atlânticas, no decurso do século XV, não obstante a diversa subordinação a Portugal ou Castela, apresenta inúmeras semelhanças. O ritual cristão valorizou o pão e o vinho que facilmente se adaptaram nas ilhas aquém do Bojador. A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano, o mesmo não sucedendo com as da Guiné. A viticultura ficou reservada ao Mediterrâneo Atlântico, onde o vinho adquiriu um lugar importante nas exportações. A partir da Madeira, as cepas chegaram a todos os recantos do Novo Mundo. As primeiras cepas foram conduzidas à ilha do Pico donde se expandiram às demais ilhas. Também terão chegado às Canárias. A evolução da safra vitivinícola madeirense dos séculos quinze e dezasseis só pode ser conhecida através do testemunho de visitantes estrangeiros, uma vez que é escassa a informação das fontes diplomáticas. Nos sécs. XVIII/XIX, a documentação e os visitantes foram unânimes em considerar o vinho como a principal riqueza da ilha e a única moeda de troca. Desde o século XVII que o ilhéu traçou a rota no mercado internacional, acompanhando o colonialista nas expedições e fixação na Ásia e América. O comerciante inglês soube tirar partido do produto, fazendo-o chegar em quantidades volumosas às mãos dos compatriotas que se haviam espalhado pelos quatro cantos do mundo colonial europeu. O movimento do comércio do vinho ao longo dos sécs. XVIII e XIX imbrica-se, de modo direto, no traçado das rotas marítimas coloniais que tinham passagem obrigatória na ilha. A estas jun75 Cf, G. Lapus, Les Produits Coloniaux d’Origine Végétale, Paris, 1930; J. E. Mendes Ferrão, Transplantação de Plantas e Continentes para Continentes no Século XVI, Lisboa, 1986; IDEM, A Difusão das Plantas no Mundo através dos Descobrimentos, in Mare Liberum, nº. 1, 1990, 131-142; IDEM, A Aventura das Plantas, Lisboa, 1992.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? tavam-se outras subsidiárias, quase todas sob controlo inglês. São as rotas da Inglaterra colonial que fazem do Funchal porto de refresco e carga de vinho no rumo aos mercados das Índias Ocidentais e Orientais, donde regressavam, via Açores, com o recheio colonial. Depois, temos os navios portugueses da rota das Índias ou do Brasil que escalavam a ilha, onde recebiam o vinho que conduzem às praças lusas. Juntam-se, ainda, os navios ingleses que se dirigiam à Madeira com manufaturas e fazem o retorno tocando Gibraltar, Lisboa, Porto e, finalmente, os norte-americanos que traziam as farinhas e regressam carregados de vinho. O vinho ilhéu conquistou desde o séc. XVI o mercado colonial em África, Ásia e América, afirmando-se até meados do séc. XIX como a bebida por excelência do colonialista e das tropas coloniais em ação. Regressado o colonialista à terra de origem, com o surto do movimento independentista, trouxe na bagagem o vinho da ilha. Aqui releva-se a posição do mercado americano, dominado pelas colónias das Índias Ocidentais e portos norte-americanos. O último destino sedimentou-se, a partir da segunda metade do século XVII, mercê de um ativo relacionamento. O vinho foi uma presença assídua nos portos atlânticos - Boston, Charleston, N. York e Filadélfia, Baltimore, Virgínia - onde era trocado por farinhas76. Esta contrapartida reforçou o relacionamento comercial e atuou como circunstância favorecedora do progresso da economia vitivinícola. Apenas nas Canárias e nos Açores, a cultura da vinha e o comércio do vinho atingiram posição similar à Madeira77. Os mercados foram os mesmos, sendo disputados com extrema concorrência. Note-se que os arquipélagos dos Açores, Canárias e Madeira, ficaram conhecidos na documentação oficial norte-americana como as ilhas do vinho78. Face aos privilégios concedidos pela coroa britânica no período após a Restauração – as actas de navegação de 1660 e 1665 e o tratado de Methuen em 1703 – a Madeira e os Açores conseguiram firmar uma posição de destaque. Nos séculos seguintes, porém, apagaram-se as diferenças e o vinho das ilhas entrava em pé de igualdade nos portos e mesa dos norte-americanos. A cana-de-açúcar é considerada, com propriedade, a cultura mais importante da História da Humanidade. A ela se deve os maiores fenómenos de mobilidade humana, económica, comercial e ecológica. A sua afirmação como cultura agrícola é milenar e abrange vários quadrantes do planeta. Dentre todas as plantas domesticadas pelo Homem, foi ela que lhe trouxe maiores exigências: quase que o escraviza, esgota o solo, devora a floresta e dessedenta os cursos de água. A exploração intensiva, que ocorre no espaço atlântico a partir do século XV, gerou grandes exigências de mão-de-obra, sendo, por isso, responsável pelo maior fenómeno migratório à escala mundial que teve por palco o Atlântico, isto é, a escravatura de milhões de africanos. Ligado a tudo isso, está também um conjunto variado de inovações técnicas e manifestações culturais. Foi o Oriente que descobriu a doçura da cana-de-açúcar, tendo a Papua Nova Guiné como berço. Os árabes fizeram-na chegar ao ocidente, ficando para a História como os principais arautos da expansão, deixando aos genoveses e venezianos o comércio nos principais mercados europeus. No processo de transmigração desta cultura para o Ocidente, desde o Mediterrâneo ao Atlântico, as ilhas foram o principal viveiro da afirmação e divulgação: Creta e Sicília no Mediterrâneo, Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde e S. Tomé no Atlântico Oriental, Santo Domingo, Cuba, Jamaica, Demerara (…) nas Antilhas, S. Vicente (Brasil) no Atlântico ocidental. A realidade socioeconómica, que serve de suporte ao avanço do açúcar no espaço e no tempo, é diferenciada, sendo marcantes as singularidades e mudanças no percurso do Pacífico/Índico para o Mediterrâneo/Atlântico. Assim, no primeiro caso, nunca assumiu uma posição dominante na economia agrícola e de mercado, enquanto no segundo é patente o efeito dominador na economia e sociedade em associação ao 76 António Béthencourt Massieu, Canarias e Inglaterra el Comercio de Vinos(1650-1800), Las Palmas, 1991; Manuel Lobo Cabrera, El Comercio del Vino entre Gran Cnaria y las Indias en el Siglo XVI, Las Palmas,1993; Agustín Guimerá Ravina, Burguesia Extranjera y Comercio Atlantico, La Empresa Comercial Irlandesa en Canarias(1703-1771), Madrid, 1985. 77 António Béthencourt Massieu, Canarias e Inglaterra el Comercio de Vinos(1650-1800), Las Palmas, 1991; Manuel Lobo Cabrera, El Comercio del Vino entre Gran Cnaria y las Indias en el Siglo XVI, Las Palmas,1993; Agustín Guimerá Ravina, Burguesia Extranjera y Comercio Atlantico, La Empresa Comercial Irlandesa en Canarias(1703-1771), Madrid, 1985. 78 Veja-se A. GUIMERA RAVINA, “Las Islas del Vino (Madeira, Açores e Canarias) y la América Inglesa durante el Siglo XVIII. Una Aproximación a su Estudio”, in II C.I.H.M. Actas, Funchal, 1990, pp. 900-934, confronte-se Albert SILBERT, art. cit., pp. 420-428.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? escravo, situação que começa no Mediterrâneo e se reforça e afirma em pleno no Atlântico. A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas, no litoral africano e americano. O arquipélago madeirense foi o centro de irradiação dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Daqui resultou para a Madeira o papel fundamental de difusão das culturas existentes na Europa, quer aquelas que tinham valor mercantil, quer as que eram fundamentais para assegurar a subsistência. Depois, com a revelação de novos espaços do Atlântico e Índico, tivemos o retorno de outras culturas e produtos que vieram enriquecer o cardápio europeu. No traçado das rotas oceânicas, situava-se o Mediterrâneo Atlântico com um papel primordial na manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e Canárias surgiram, nos séculos XV e XVI, como entrepostos do comércio no litoral africano, americano e asiático. Os portos principais da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro, Tenerife e Lanzarote animaram-se de forma diversa com o apoio à navegação e comércio nas rotas da ida, enquanto nos Açores, as ilhas de Flores, Corvo, Terceira, e S. Miguel foram a escala necessária e fundamental da rota de retorno. A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e navegação atlântica fez com que as coroas peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa e controle do trato comercial. As ilhas foram os bastiões avançados, os suportes e os símbolos da hegemonia peninsular no Atlântico. A disputa pela riqueza em movimento no oceano fazia-se na área definida por elas e atraiu piratas e corsários ingleses, franceses e holandeses, ávidos das riquezas em circulação. Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi a defesa das embarcações das investidas dos corsários europeus. A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores foi o principal foco de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao velho continente. A História do Açúcar nas ilhas teve dois momentos distintos. Nos séculos XV a XVII, elas assumem um papel na expansão da cultura e definição do mercado atlântico-europeu para o açúcar. Depois de um hiato de quase duas centúrias, a cultura retorna aos campos insulares por condições diversas e em posição distinta. Assim, a segunda metade da centúria oitocentista foi marcada pela dominância dos canaviais em algumas das ilhas, assumindo na Madeira um protagonismo evidente. Apenas nos Açores havia-se abandonado definitivamente a cana sacarina, apostando-se na ilha de São Miguel noutro recurso, a beterraba, para produzir açúcar e álcool. A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da sua elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo, quem quer que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos da realidade económico-social, que teve plena afirmação nas Antilhas e no Brasil. Aqui surgiram os primeiros contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho de água) e político-económicos (trilogia rural) que materializaram a civilização do açúcar. É, então, imprescindível uma análise da situação insular e, de forma especial da madeirense, para uma definição exaustiva da história do açúcar no mundo atlântico. Na Madeira, a cultura confunde-se com a conjuntura de expansão europeia e dos momentos de fulgor do arquipélago. A presença é multissecular e deixou rastos ainda hoje evidentes na sociedade madeirense. Perduram alguns canaviais e três engenhos que apenas laboram para o fabrico do mel e aguardente. A poncha e o bolo de mel são responsáveis por esta sobrevivência. Dos séculos XV e XVI, ficaram os imponentes monumentos, a pintura e a ourivesaria que os embelezou e que hoje se encontra quase toda no Museu de Arte Sacra. Do século XIX e do primeiro quartel do século XX, perduram ainda a maioria dos engenhos da nova vaga de cultura dos canaviais. A cana diversificou-se no uso industrial, sendo geradora do álcool, aguardente e, raras vezes, do açúcar. Nos demais arquipélagos, a cultura é ainda mais residual. Assim, nas Canárias, a
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? presença é apenas notada em Gran Canaria e La Palma. Nos Açores, desapareceu para dar lugar à beterraba açucareira, enquanto em Cabo Verde subsiste em algumas ilhas (Santiago, Santo Antão e S. Nicolau), por força do uso da aguardente em algumas bebidas típicas, como o grog, bandoi e ponche79. O açúcar é, de todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, aquele que moldou, com maior relevo, o quotidiano das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação da garapa em açúcar, implicou uma vivência particular, assente num específico complexo sociocultural de vida e convivência humana. Ainda hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, à conta da cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum80. Foi no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo posição dominante nas trocas. Fernand Braudel define, com clareza, a forma de intervenção e as mudanças provocadas pelo açúcar: “Devastadora do antigo equilíbrio, a cana é tanto mais perigosa quanto é apoiada por um capitalismo poderoso, que, no século XVI, provem tanto de Itália, como de Lisboa ou de Antuérpia, e ao qual ninguém consegue resistir.”81 Vitorino Magalhães Godinho acrescenta que “a génese do mundo atlântico está pois, em grande parte, ligada àquilo a que Fernand Braudel chama muito apropriadamente dinâmica do açúcar.”82 As grandes inovações relacionadas com a cultura e tecnologia do açúcar aconteceram nas ilhas. A primeira muda de cana é originária das ilhas, pois foi na ilha Papua da Nova Guiné que o homem iniciou o processo de domesticação. A cana sacarina começou por ser uma cultura do mundo insular, e em todo o processo de expansão nos diversos espaços, as ilhas foram importantes áreas de aclimatação, mas foi nos continentes que adquiriu maior dimensão e pujança. Cuba, por exemplo, que, durante muito tempo, ocupou uma posição cimeira na produção açucareira, perdeu protagonismo. O açúcar é, entre todos os produtos com valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações tecnológicas para o fabrico, por força da pressão do mercado e do ciclo vegetativo da cultura. No caso do vinho, a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias condicionantes favoreceram a necessidade de permanente atualização da tecnologia de fabrico do açúcar, situação que se tornou mais clara no século XVIII com a concorrência da beterraba. Mesmo assim, ainda hoje persiste a tecnologia tradicional em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou. O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em que a percentagem de sacarose era mais elevada83. Assim que está pronta para ser colhida, cada dia que passa representa uma perda. Depois de cortada, tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, pois, caso contrário, começa a perder sacarose e inicia o processo de fermentação. Daqui resulta a necessidade de acelerar o processo de fabrico do açúcar através de constantes inovações tecnológicas que cobrem o processo de corte, esmagamento e cozedura84. A isto junta-se o aumento da mão-de-obra, que se faz à custa de escravos africanos. A cana-de-açúcar não está na origem da escravidão africana, mas no processo de afirmação em relação ao açúcar que acontece a partir da Madeira. Enquanto a cultura se fazia 79 João Lopes Filho, O Corpo e o Pão, Oeiras, 1997, p. 212. 80 A cana sacarina é encarada por muitos autores como um dos motores do progresso em vários sectores: Luiz de Castilho, A Fabricação do Assucar de Canna. Notas e formulas…, Rio de Janeiro, 1893, p. 5; P. Horsin-Déon, Le Sucre et L’Industrie sucrière, Paris, 1894, p. 5; D. Sidersky, Manuel du Chimiste de Sucrerie, Paris, 1909; Idem, Aide-Mémoire de Sucrerie, Paris, 1936, p. 3; F. A. Lopez Ferrer, Fabricación de Azúcar de Caña Mieles y Siropes Invertidos com su Control Técnico-Quimico, La Habana, 1948, p. V; Idem, Maquinaria y aparatos en los Ingenios de Azucar de Caña, La Habana, 1949; A. C. Barnes, Agriculture of the Sugar-Cane, Londres, 1954, p. IX; Andrew Van Hook, Sugar its Production, Technology and uses, N. York, 1969, p. III. 81 O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico, Lisboa, 1983 [1ª edição em 1966], p. 178. 82 Mito e Mercadoria Utopia e Prática de Navegar. Séculos XIII-XVIII, Lisboa, 1990, p. 478. 83 Cf. J. de Laguarrique de Survilliers, Manuel de Sucrerie de Cannes, Paris, 1932, p. 29. 84 Cf. Nilo Cairo, O Livro da Canna de Assucar, Curitiba, 1924, pp. 85-86, 109; A. Bernard, “A Evolução das Moendas de Canas”, in Brasil Açucareiro, XXXVIII, 2, 1951, pp. 73, 76.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? em pequenas parcelas, a maior parte das questões não se colocavam, mas quando se avançou para uma produção em larga escala houve necessidade de encontrar soluções capazes de resolver a situação, através da aceleração do processo de moenda e fabrico. A viragem aconteceu, na Madeira, a partir de meados do século XV, e deverá ter implicado mudanças radicais na tecnologia usada e na afirmação da escravatura dos indígenas das Canárias e negros da Costa da Guiné. É por isso que se assinalam, a partir da Madeira, importantes inovações tecnológicas no sistema de moagem da cana com a generalização do sistema de cilindros. A história tecnológica mostra que a expansão europeia condicionou a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de novas que contribuíram para revolucionar a economia mundial. Os homens que circularam no espaço atlântico foram portadores de uma cultura tecnológica que divulgaram nos quatro cantos e adaptaram às condições dos espaços de povoamento agrícola. Aos madeirenses, foi atribuída uma missão especial nos primórdios do processo. Na Madeira, um dos aspetos mais evidentes da revolução tecnológica iniciada no século XV prende-se com a capacidade do europeu em adaptar as técnicas de transformação conhecidas a circunstâncias e às exigências de culturas e produtos tão exigentes como a cana e o açúcar. O tributo foi evidente. Ao vinho, foi-se buscar a prensa, ao azeite e aos cereais, a mó de pedra. Por outro lado, estamos perante uma permuta constante de processos tecnológicos e formas de aproveitamento das diversas fontes de energia. A tração animal, a força motriz do vento e da água foram usadas em simultâneo com os cereais e cana sacarina. Em muitos momentos da História, é claro o compromisso da Ciência, da Técnica, das expedições científicas com a missão dominadora não só dos espaços, mas também do mundo. Os impérios constroem-se com a força das armas e os conhecimentos tecnológicos bem guardados. Há, com a História da Técnica, opções de afirmação da economia colonial, principalmente na sua ligação aos produtos dominantes e mais valorizados no sistema de trocas, como sucedeu com o açúcar. A tecnologia, tanto naval, como a dos engenhos, é considerada segredo de Estado, sendo todos os conhecimentos resguardados da curiosidade dos concorrentes. Sucedeu assim na Madeira, quando a coroa proibiu que os carpinteiros de engenho fossem para Marrocos, como no século XVIII, com a retirada de circulação do livro de André João Antonil [1649-1716], publicado em 171185. Aqui o jesuíta atua como o Prometeu ou o Fausto brasileiro na revelação dos segredos da tecnologia açucareira definida pelos portugueses, certamente com elevado aporte de insulares e acima de tudo madeirenses. A História revela, ainda, inúmeras situações em que a técnica se coloca numa posição preferencial, ao serviço do enfrentamento entre as diversas potências económicas. As mudanças ocorridas a partir de finais do século XVIII, com a plena afirmação da máquina a vapor, conduziram a uma transformação radical do complexo açucareiro que assume a dimensão espacial de uma fábrica, onde todas as operações se executam em série, apenas um piso. A revolução industrial legou-nos a fábrica, fez aparecer o laboratório, uma peça chave no fabrico do açúcar, e obrigou a uma especialização dos técnicos envolvidos. O mestre de engenho dá lugar ao engenheiro químico. Paulatinamente, o processo de transformação da cana sacarina em açúcar retirou espaço à presença de mão-de-obra escrava, fazendo-a substituir por emigrantes europeus, indianos e chineses. Até ao advento do açúcar de beterraba em princípios do século XIX, a tecnologia de moenda e fabrico do açúcar não sofreu muitas modificações. Ao nível da moagem da cana, houve necessidade de compatibilizar as estruturas com a expansão da área e o volume de cana moída, avançando-se assim dos ancestrais sistemas para a adaptação dos cilindros. Entre os séculos XV e XVII, as inovações mais significativas ocorrem aqui. Os cilindros passam a dominar todos os sistemas, de tração animal, humana, vento e água, destronando o pilão, o almofariz e a mó. Do simples mecanismo de cilindros duplos horizontais, evolui-se para os verticais que, no século XVII, passam a ser de três, o que permite uma maior capacidade de moenda e aproveitamento do suco da cana. Com os dois cilindros poder-se-á aproveitar apenas 20% do suco da cana, enquanto com três até 35%. As técnicas experimentadas na moagem 85 ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982; Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e notas de Andrée Mansuy Diniz Silva. São Paulo: USP, 2007.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? vão no sentido de um maior aproveitamento do suco disponível no bagaço da cana. A situação de Cuba, na década de setenta do século XIX, pode ser elucidativa da realidade86. A Madeira foi o ponto de partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as possibilidades de rentabilização da cultura, através de uma exploração intensiva e de abertura de novo mercado para o açúcar. É a partir da Madeira que se produz açúcar em larga escala, condicionando os preços de venda, de forma evidente, nos finais do século XV. O madeirense foi também capaz de agarrar esta opção, tornando-se no obreiro da difusão no mundo atlântico. A tradição anota que foi a partir da Madeira que o açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e que os seus técnicos foram responsáveis pela implantação. O primeiro exemplo está documentado com Rui Gonçalves da Câmara, quando, em 1472, comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na expedição de tomada de posse da capitania fez-se acompanhar de socas de cana da Lombada, que, entretanto, vendera a João Esmeraldo, e dos operários para a tornar produtiva. Seguiram-se, depois, outros que corporizaram diversas tentativas frustradas para fazer vingar a cana-de-açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e Terceira. Em sentido contrário, avançou o açúcar em 1483, quando o Governador D. Pedro de Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas Canárias. A Madeira surge, uma vez mais, a disponibilizar as socas de cana para que aí surgissem os canaviais e o primeiro engenho em 1484. Todavia, o mais significativo é a forte presença portuguesa no processo de conquista e na adequação do novo espaço à economia de mercado. Os portugueses, em especial o madeirense, surgem com frequência nas ilhas, ligando-se ao processo de arroteamento das terras, como colonos que recebem dadas de terras na condição de trabalhadores especializados à soldada, ou de operários especializados que constroem os engenhos e os colocam em movimento. No caso de La Palma, refere-se um Leonel Rodrigues, mestre de engenho que ganhou o estatuto em 12 anos de trabalho na Madeira. É de referir também idêntico papel para as ilhas Canárias, na projeção da cultura às colónias castelhanas do novo mundo. Assim, em 1519, Carlos V recomendou ao Governador Lope de Sousa que facilitasse a ida de mestres e oficiais de engenho para as Índias. O avanço do açúcar para sul, ao encontro do habitat que veio gerar o boom da produção, deu-se nos anos imediatos ao descobrimento das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé. Todavia, só na última, pela disponibilidade de água e madeiras, os canaviais encontraram condições para a sua expansão. Deste modo, em 1485, a coroa recomendava a João de Paiva que procedesse à plantação de cana do açúcar. Para o fabrico do açúcar refere-se a presença de “muitos mestres da ilha da Madeira”87. É, aliás, aqui que se pode definir o prelúdio da estrutura açucareira que terá expressão do outro lado do Atlântico. Colombo abriu as portas ao Novo Mundo e traçou o rumo da expansão da cana-de-açúcar. A cultura não lhe era alheia, pois o navegador tem, no seu curriculum, algumas atividades ligadas ao comércio do açúcar na Madeira. O navegador, antes da sua relação afetiva ao arquipélago, foi, a exemplo de muitos genoveses, mercador do açúcar madeirense. Em 1478, encontrava-se no Funchal ao serviço de Paolo di Negro para conduzir a Génova 2400 arrobas, a Ludovico Centurione. Com esta viagem e, depois da larga estância do navegador na ilha, Colombo ficou conhecedor da dinâmica e importância do açúcar da Madeira88. Em janeiro de 149489, aquando da preparação da segunda viagem, o navegador sugere aos Reis Católicos o embarque de 50 pipas de mel e 10 caixas de açúcar da Madeira para uso das tripulações, apontando o período que decorre até abril como o melhor momento para o adquirir. A isto podemos somar a passagem do navegador pelo Funchal no decurso da terceira viagem, em junho de 1498, e podemos apontar como muito provável a presença de 86 João José Carneiro da Silva, Estudos Agrícolas, Rio de Janeiro, 1872, p. 94. 87 Isabel Castro Henriques, “O Ciclo do açúcar em S. Tomé nos séculos XV e XVI”, in Albuquerque, Luís de (dir.), Portugal no Mundo, Lisboa, sd, vol. I, pp. 264-280. 88 Alberto Vieira, “Colombo e a Madeira”, in Actas III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, CEHA, 1993; Idem, “Colombo e a Madeira: tradição e história”, in Islenha, 1989, N.º 5, pp. 35-47. 89 Consuelo Varela, Cristóbal Colón. Textos y Documentos Completos, Madrid, 1984, p. 160. concorrência desenfreada ganha por aquele que estivesse em condições de ser oferecido ao melhor preço. Francisc Pyrard de Laval testemunha a situação “Não se fale em França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S. Tomé, mas este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha da Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na de S. Tomé”.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? socas de canas da Madeira na bagagem dos agricultores que o acompanhavam. Neste momento, a cultura dos canaviais havia adquirido o apogeu na ilha, mantendo-se uma importante franja de canaviais ao longo da vertente sul90. A tradição anota que as primeiras socas de cana saíram de La Gomera. Todavia, a cultura encontrava-se aí nesse momento em expansão, enquanto na Madeira estava já consolidada. Estão por descobrir as razões que conduziram Colombo, no decurso da terceira viagem, a fazer um desvio para escalar o Funchal. Na verdade, a Madeira foi a primeira área do Atlântico onde se cultivou a cana-de-açúcar que, depois, partiu à conquista das ilhas (Açores, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Antilhas) e continente americano. Por isso, o conhecimento do caso madeirense assume primordial importância no contexto da História e Geografia açucareira dos séculos XV a XVII. O açúcar da Madeira ganhou fama no mercado europeu. A qualidade diferenciava-o dos demais e fê-lo manter-se como o preferido de muitos consumidores europeus. A partir do século XVI, a concorrência do açúcar das Canárias e S. Tomé apertou o cerco ao açúcar madeirense, o que provocou a natural reação dos agricultores insulares. Sucederam-se queixas junto da coroa, de que ficou testemunho em 152791. Em vereação, reuniram-se os lavradores de cana para reclamar junto da coroa contra o prejuízo que lhes causava o progressivo desenvolvimento da cultura em S. Tomé. A resposta do rei, no ano imediato, remete para uma análise dos interesses em jogo e só depois, no prazo de um ano, seria tomada uma decisão, que parece nunca ter vindo92. A exploração fazia-se diretamente pela coroa e só a partir de 1529 surgem os particulares interessados nisso. Enquanto isto se passava nas ilhas, do outro lado do Atlântico, davam-se os primeiros passos no arroteamento das terras brasileiras. E, mais uma vez, é notada a presença dos canaviais e dos madeirenses como os seus obreiros. A coroa insistiu junto dos madeirenses, no sentido de criarem as infraestruturas necessárias ao incremento da cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa, contou com a participação dos madeirenses. Em 1515, a coroa solicitava os bons ofícios de alguém que pudesse erguer, no Brasil, o primeiro engenho, tendo sido construído, em 1555, por João Velosa, apontado por muitos como madeirense, um engenho a expensas da fazenda real93. Tenha-se em conta que, já em 1516, um outro Gonzalo de Vellosa, construiu em La Española um engenho que se revelou uma revolução na moenda da cana. Entretanto, em 1520, Hernando Gorjón estabelece um novo sistema na parte hidráulica, em que a água incide sobre os cubos de debaixo e não nos de cima, o que se revelava como uma grande economia para a utilização da força hidráulica, pelo que rapidamente se generalizou. A aposta da coroa na rentabilização do solo brasileiro através dos canaviais levou-a a condicionar a saída de mão-de-obra especializada, da Madeira. Assim, em 1537, os carpinteiros de engenho da ilha estão proibidos de ir à terra dos mouros94. O movimento de migração de mão-de-obra especializada do engenho acentuou-se na segunda metade do século XVI, por força das dificuldades da cultura em solo madeirense. O Brasil, nomeadamente Pernambuco, continuará a ser a terra prometida para muitos. Em 1579,95 refere-se que Manuel Luís, mestre de açúcar, que exercera o ofício na ilha da Madeira, estava agora em Pernambuco. Muitos mantêm contactos com a ilha, nomeadamente quanto ao comércio de açúcar, é o caso de Francisco Álvares e João Roiz96. Acontece que este 90 Cristóbal Colón, Textos y Documentos Completos, Madrid, Alianza Editorial, 1984, p. 160; Fray Bartolomé de las Casas, Historia de las Indias, Vol. I, México, Fundo de Cultura Económica, 1986, p. 497. 91 ARM, CMF, Vereações 1527, fl. 23v.º, 26 de Março. 92 ARM, D. A., n.º 66: 8 de Fevereiro 1528. 93 Cf. Basílio de Magalhães, O Açúcar nos Primórdios do Brasil Colonial, Rio de Janeiro, 1953; David Ferreira de Gouveia, “A Manufactura Açucareira Madeirense (1420-1550). Influência Madeirense na Expansão e Transmissão da Tecnologia Açucareira”, in Atlântico, Funchal, 1987, n.º 10; Maria Licínia Fernandes dos Santos, Os Madeirenses na Colonização do Brasil, Funchal, 1999, pp. 46-60. 94 Alberto Lamego, “onde foi iniciado no Brasil a lavoura canavieira, onde foi levantado o primeiro engenho de açúcar”, in B. Açúcar, n.º 32, 1948, pp. 165-168; Arquivo Geral da Alfândega de Lisboa, livro 54, fl. 41; Documentos para a História do Açúcar, ed. I, A. A. Vol. I, Rio de Janeiro, 1954, pp. 121-123, 5 de Outubro 1555; ARM, RGCMF, T. I, fl. 372v.º. 95 ARM, Misericórdia do Funchal, n.º 711, fls. 114-115: 7 de Março. 96 ARM, JRC, fls. 391-396: 11 de Setembro de 1599.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? movimento de operários especializados era controlado pelas autoridades, no sentido de evitar a concorrência de outras áreas com o Brasil. Sucede que, em 1647,97 Richarte Piqueforte vendera um escravo, “oficial de asucares”, a um mercador francês que o pretendia conduzir a S. Cristóvão. A coroa entendia que a saída não deveria ser autorizada e que o escravo deveria ser adquirido e embarcado para o Rio de Janeiro às ordens do Provedor da Fazenda, para aí ser vendido. Com tais condicionantes e colocados perante o paulatino decréscimo da produção açucareira na ilha, muitos madeirenses foram forçados a seguir ao encontro dos canaviais brasileiros. Em Pernambuco e na Baía, entre os oficiais e proprietários de engenho, pressente-se a forte presença madeirense. Alguns destes madeirenses tornaram-se importantes proprietários de engenho, como foi o caso de Mem de Sá e João Fernandes Vieira, o libertador de Pernambuco. É a partir daqui que se estabelece um vínculo com a Madeira, continuado através do trato ilegal de açúcar para o Funchal ou então ao mercado europeu com a designação da Madeira. Este movimento seguia as ancestrais ligações entre os que, do outro lado do Atlântico, viam florescer a cultura e aqueles que, na ilha, ficavam sem os seus benefícios. Veja-se, por exemplo, o caso de Cristóvão Roiz de Câmara de Lobos que, em 1599, declara ter crédito, em três mestres de açúcar de Pernambuco, em cerca de cem mil réis de uma companhia que teve com Francisco Roiz e Francisco Gonçalves98. Sabemos da presença dos madeirenses em todas as capitanias aonde chegou o açúcar. São eles purgadores, carpinteiros, mestres, mas também senhores de engenhos. Muitos arrastaram consigo a família, de modo que algumas se notabilizaram. É o caso dos LEME, flamengos que fizeram da Madeira trampolim para a afirmação no Brasil99. Os valores de produção dos engenhos insulares são muito distintos dos americanos. Para a Madeira, em finais do século XV, são referenciados apenas 12 engenhos, para um total de 233 proprietários de canaviais. Estes situam-se todos nas partes do fundo, não havendo qualquer referência para os que funcionavam na área entre o do Caniço e Câmara de Lobos. Tomando em conta apenas as Partes do Fundo, nota-se que a cada engenho estariam atribuídas mais de cinco mil arrobas, valor elevado, se tivermos em conta o estado da tecnologia usada. Também é de referir que estes proprietários de engenho não se situam entre os mais importantes detentores de canaviais. Apenas Fernão Lopes surge com 1600 arrobas, havendo caso de lavradores com valores superiores que não são proprietários de engenho. Fernão Lopes apresentava mais 2000 arrobas, em conjunto com João Esmeraldo. Na primeira metade do século XVI, estes valores desceram a mais de um terço, pois a média é de 1478 arrobas. Por outro lado, é de salientar que os grandes proprietários de canaviais não são sinónimo de engenho. No século dezasseis, alguns situam-se entre os principais produtores, mas a maioria surge com valores de produção muito inferiores, como é o caso de João de Ornelas que, em 1530, declarou apenas 70 arrobas de açúcar no Funchal. Deste modo, podemos afirmar que estamos perante duas realidades distintas que geram uma dinâmica particular na estrutura produtiva da cana-de-açúcar: os proprietários de canaviais e os de engenho. Nas Canárias, nomeadamente nas Ilhas de Gran Canaria e Tenerife, parece-nos que a situação é diferente. Aqui, a grande propriedade é sinónimo da presença de um engenho, surgindo como resultado da forma como se procedeu às dadas de terras; por outro lado, os valores médios para a produção por engenho parecem ser mais elevados. Gaspar Frutuoso refere que os dois engenhos da família Ponte em Adeje (Tenerife) laboravam de 8 a 9 mil arrobas de açúcar, enquanto o de João de Ponteverde, em La Palma, ficava-se pelas 7 a 8 mil arrobas. Para Gran Canaria, o mesmo indica que os vinte e quatro engenhos cuja safra podia situar-se entre as seis e sete mil arrobas. A partir dos contratos de arrendamento dos engenhos, sabe-se que o de D. 97 AN [Arquivos Nacionais], PJRFF [Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal], n.º 980, fls. 182-183: 3 de Setembro. 98 Em 1579 (ARM, Misericórdia do Funchal, n.º 711, fls. 114-115) Gonçalo Ribeiro refere ser devedor a Manuel Luís, mestre de açúcar, “que agora está em Pernambuco”. José António Gonsalves de Mello, João Fernandes Vieira. Mestre de Campo do terço da infantaria de Pernambuco, Vol. II, Recife, 1956, pp. 201-267. ARM, JRC, fls. 391-396: Testamento de 11 de Setembro de 1599. 99 Cf. John G. Everaert, “Les Lem, Alias Leme Une Dynastie Marchande d’origine Flamande au Service de l’Éxpansion Portugaise”, in Actas do III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1993, pp. 817-838.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
Levada, Ribeira da Janela. Foto: GM
Pedro Lugo em El Realejo laborava em 1537-38 uma média de 4500 arrobas e que, com outro em La Orotava, ficava-se por 1122 arrobas. No século XVII, temos os valores do diezmo pagos pelos sete engenhos em atividade nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife e La Palma, o que nos permite, para este período desde 1634, estabelecer a média de produção anual.
6:- AS LEVADAS DA ILHA PARA O MUNDO. A tradição de traçar levadas fez com que os madeirenses se tivessem transformado em exímios construtores, levando a tecnologia para todo o lado onde se fixaram. Primeiro, foi as Canárias100 e, depois, a América. A perícia e engenho do madeirense estão evidenciados na reclamação de Afonso de Albuquerque para que o rei lhe mandasse madeirenses “que cortavam as serras pera fazerem levadas, com que se regam as cannas de açúcar”, para desviar o curso do rio Nilo101. Por outro lado, desde muito cedo, estes canais despertaram a atenção dos visitantes, que não se cansam em louvar o trabalho hercúleo do madeirense na sua construção102. As levadas são ainda hoje uma constante na paisagem madeirense, transformando-se em locais aprazíveis para os passeios a pé.103 100 Filipe FERNANDES-ARMESTO, 1982, The Canary Islands after the conquest, Oxford; Leoncio ALFONSO PEREZ, 1984, Miscelanea de temas canarios, Santa Cruz de Tenerife, pp. 223-268. 101 1973, Comentários de Afonso de Albuquerque, vol. II, Lisboa, parte IV, cap. VII, p. 39. 102 Tenha-se em atenção os seguintes testemunhos: Isabella de FRANÇA, 1970, Jornal de uma visita à Madeira e a Portugal 1853-1854, Funchal, pp. 107-108; José Maria Ferreira de CASTRO, Eternidade, Lisboa, s.d., cap. XI. 103 Confronte-se Raimundo QUINTAL, “Veredas e Levadas”, in Diário de Notícias, Funchal, 5, 19 de Março, 14 e 28 de Maio, 23de Julho, 1 e 29 de
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? Ao longo da História da Madeira, as levadas assumiram um papel fundamental na vida das populações. Foi em torno do seu percurso por entre as montanhas e áreas de cultura que a ilha assentou o seu quotidiano. Para além de vias de condução da água, são também caminhos de acesso a espaços agrícolas e de habitação e, por consequência, vias privilegiadas de circulação dos produtos da terra. Tendo em conta a importância que a água assume para a cultura do açúcar, é necessário não esquecer a forma da distribuição e posse. Para regular, de forma eficaz, a distribuição da água, surgiram os relógios, propriedade dos heréus, de que existe apenas um, em pleno funcionamento, na levada do Poiso nos Canhas.104 Ao longo dos séculos, foram traçadas milhares de levadas por toda a ilha, na sua maioria, de iniciativa privada.105 Ao contrário do que é habitualmente referido, o sistema de regadio madeirense não tem origem nos árabes, meros divulgadores do sistema por elevação. O que ficou definido na Madeira foi o sistema de condução da água por força da gravidade que já existia no Norte de Portugal, região que não mereceu a influência moura. Note-se que, ainda hoje, na Serra da Estrela, o sistema de distribuição de água faz-se por levadas, sendo as atividades e nomenclatura em tudo semelhante à madeirense. Desta forma, poderemos afirmar que a aportação das técnicas de regadio na Madeira surge por duas vias: pelos colonos do norte de Portugal que trouxeram parte significativa dessas técnicas e do Mediterrâneo, Sicília e Valência, donde vieram, conjuntamente com o açúcar, os sistemas de regadio dos canaviais e de utilização da força motriz da água. O contributo madeirense situa-se no seu esforço hercúleo para tornar acessível o uso da água e a sua disponibilidade para o regadio dos canaviais. A água assumiu, assim, um papel fundamental na economia e sociedade de então. Todas as terras de canaviais estavam servidas de levadas, dispondo de horas de água suficientes para o seu regadio. Nos contratos de arrendamento e de meias, a água está presente, sendo também propriedade inalienável do proprietário da terra. Em finais do século XVI, as terras dos Lomelino, em Santa Cruz, incluíam canaviais com 10 covados, com 30 horas de água.106 Ainda podemos afirmar que a água apresentava um valor elevado, na vertente sul.107 Ao homem, estava atribuída a dura tarefa de desviar a água do curso das ribeiras, de modo a mover engenhos, moinhos e a irrigar os canaviais e demais culturas. Uma das tarefas que ocuparam os primeiros colonos foi a tiragem das levadas. Por isso, elas são os imemoriais testemunhos do labor do homem insular, que ficam na ilha, a exemplo dos imponentes aquedutos peninsulares. Para isso, traçaram km de canais para a condução, que ficaram conhecidos, na ilha, como levadas108 . O sistema permitiu um maior aproveitamento dos socalcos e o alívio ao homem de algumas tarefas, como sejam, o moer do grão e da cana ou o serrar das madeiras. Moinhos, engenhos e serras convivem pacificamente, usufruindo da água que corre na mesma levada. A orografia da ilha, ao mesmo tempo que dificultava a condução da água, favorecia o seu aproveitamento, pela força motriz atribuída pelos acentuados declives. Foi um trabalho hercúleo, referido muitas vezes pelos visitantes e recordado, com apreço, pelos especialistas, como o Eng.º Amaro da Costa: “... a levada, de limitadas proporções no início; mas já a denotar arrojo para mais largos voos indo sempre mais longe e mais acima até aos recônditos das serranias; furou as montanhas; riscou as muralhas rochosas talhadas a pique em centenas de metros de altura; debruçou-se nos abismos; venceu as cristas; saltou nos despenhadeiros; dobrou-se nos refegos das ravinas; amansou-se nas Outubro, 12 de Novembro, 24 de Dezembro de 1989, 4 de Fevereiro, 18 de Março e 10 de Junho de 1990. FERNANDES, Filipa, 2010, «A cultura da água: da patrimonialização das levadas da Madeira à oferta turística», PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8 (4):529-538. 104 PITA, Gabriel de Jesus, 2003, A Freguesia dos Canhas. Um contributo para a sua História, Canhas, p. 179. 105 Lista das levadas veja-se: LEME, D. João da Câmara, 1879, Apontamentos para o estudo da crise agrícola do distrito do Funchal, Funchal,78-88; 106 GUERRA, Jorge Valdemar, 1997, O Convento de Nossa Senhora da Piedade de Santa Cruz. Subsídios para a sua História, Islenha ,20, Funchal, p. 135. 107 Em 7 de maio de 1537 (ANTT, Corpo Cronológico, M.211, doc. 46) refere-se a execução de uma dívida de arrendamento das miunças do Caniço num dia de água no valor de 75$000. 108 Há quem aponte serem uma adaptação das técnicas valencianas. Cf. Felipe FERNÁNDEZ-ARMESTO ,1982, The Canary islands after the conquest, Oxford, nota 27, p. 99.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? chãs; e, por fim, exausta, entregou-se a todos, através de uma rede vascular tão densa, que torna maravilhosa a chegada ao termo. Mas a mingua no fim da caminhada é por vezes tamanha, que dolorosamente contrasta com tanta luta.”109 As cartas régias de 7/8 de maio de 1493,110 que serviram de base a toda a fundamentação jurídica do regime da água até 1867, determinam, de forma evidente, a importância assumida pelas levadas, no sistema de distribuição de águas. As levadas podem ser públicas ou privadas, necessitando as últimas de autorização. Em 1495, foi dada licença a Pero Fernando para tirar água da Ribeira de Água d’Alto (Ponta Sol)111, ficando obrigado a fazê-lo no prazo de cinco anos. A contrapartida era a possibilidade de vender, arrematar ou trocar a mesma água. Esta era uma garantia assegurada a todos os que tinham condições para fazer este investimento112. Em 1496113 parece que, ao menos no Funchal, estava delineado o sistema de regadio, pelo que, na Ribeira de Santa Luzia, não se permitiu mais a abertura de novas levadas ou a tiragem da água, acima das já existentes. Isto foi resultado da pretensão de alguns heréus em quererem tirar outras mais acima das já existentes, no sentido de aproveitar as terras acabadas de arrotear. A coroa insiste na proibição de abrir nova levada em cota superior, punindo os infratores com pesadas penas114 . Na verdade, segundo nos conta Gaspar Frutuoso115, a Ribeira de Santa Luzia servia várias levadas, sendo uma delas para os cinco moinhos do capitão e para um engenho. O Funchal ficou servido, ainda, por outras como a dos Piornais, do Pico do Cardo e Castelejo. Outro problema, não menos importante, foi o da partição da água. O senhorio e a coroa não intervinham na abertura de levadas, mas estavam presentes para sanear litígios derivados da distribuição da água116. Desde o início que a coroa recomendara todo o cuidado nisso, ficando com tal encargo o almoxarife, auxiliado por dois homens eleitos para este fim. A distribuição da água era feita para toda a semana, exceto o domingo que ficava comum a todos pois, tal como refere a coroa, em 1493, era “comtra comçiencia”. Atente-se a que o Provedor da Fazenda era o juiz das águas e levadas, competindo-lhe a função de confirmar os levadeiros escolhidos pelos heréus das levadas, e não o ouvidor do capitão, como pretendia fazê-lo para a levada do Estreito de Câmara de Lobos.117 Múltiplas questões chegaram até ao reino sobre a distribuição das águas das levadas e o abuso de alguns regantes. Em 1502,118 denuncia-se o abuso de escravos e homens de soldada que, em vez de regarem os canaviais dos seus senhores, as entregam a outros. A questão da divisão da água gerou, ao longo dos tempos, diversas disputas, obrigando, desde o início da ocupação da ilha, a que as autoridades tivessem de intervir como intermediários nesses conflitos ou de regular a forma da sua distribuição entre os heréus. São as autoridades que definem o uso a dar, de forma preferencial, às águas119, como quem intervém a determinar a forma da sua distribuição entre os heréus. Sabemos, que no início, a repartição era feita no mês de maio, sob a supervisão das autoridades, estando 109 1951, “O aproveitamento da água na Madeira”, in Das Artes e Da História da Madeira, nº.5, p. 14. 110 Publicada por MARQUES, J.M., Os Descobrimentos Portugueses, III, nº.260, pp. 392-394. Vem reproduzida em certidão de 12 de março de 1812, como noutros documentos. Cf. AHU, Madeira e Porto Santo, nº.441-42, 3045, 3281. 111 ANTT [Arquivos Nacionais/Torre do Tombo], Livro das Ilhas, fls. 51-51vº. 112 Cf. AHU, Madeira e Porto Santo, nº.444. 19 de outubro de 1562 113 29 de Setembro de 1496, AHM, XVII, pp. 348-349. O mesmo já havia sido estatuído a 22 de Março de 1485, AHM, XV, 151-154. 114 Alvará de 22 de Fevereiro de 1515, AHM, Vol. XVIII, 560-561. 115 1979, Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, p. 110. 116 Esta jurisdição em 1562 pertencia aos governadores. Cf. AHU, Madeira e Porto Santo, nº.3281, 5 de novembro de 1813. 117 ANTT, PJRFF, 969, fls.342-343vº, 2 de agosto de 1684. 118 ARM, CMF, registo geral, t. I, fls. 98-98vº, in Arquivo Histórico da Madeira, XVII, 1973, nº.258, pp. 429-431. 119 Em 1485 (MARQUES, J. M., Os Descobrimentos Portugueses, III, nº190, pp. 284-285) a água da ribeira de Santa Luzia deveria ser usada de forma preferencial nos engenhos e moinhos, preservando-se um direito e usufruto dos capitães do Funchal. Em 1562 (AHU, Madeira e Porto Santo, nº446) determinava-se a preferência nos arrendamentos da água às terras de canaviais.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? presentes os oficiais da câmara, o locotenente do capitão e o almoxarife.120 Cabia, ainda, à câmara fiscalizar a ação dos levadeiros na repartição das águas.121 Entretanto, os juízes da levada ou levadeiros eram colocados pelos governadores mas, depois de 1869, passam a ser eleitos entre os heréus da levada e apenas confirmados pelo governador.122 A partir desta segunda metade do século XIX, processa-se esta mudança na administração das levadas, ficando o delegado do Tesouro com a administração das do Estado, que são, nesta época, as do Rabaçal (Calheta), Fajã dos Vinháticos (Santana), Juncal e furado (Santa Cruz e Machico). Nestas levadas, existia um diretor, dois levadeiros para cada uma, além dos olheiros. A manutenção das levadas foi outra preocupação do capitão, conforme ordem de D. Catarina de 1562123. Mais se recomendava que aqueles que não tivessem necessidade das águas de que dispunham não as podiam arrendar a ninguém, a não ser para se regar os canaviais. Apenas os que haviam tirado levadas próprias podiam dar ou vender as águas124. A coroa apoiou a reparação das levadas da Ribeira dos Socorridos, dos Piornais e Castelejo, com o intuito de incrementar, de novo, a cultura dos canaviais, que tinham preferência na nova redistribuição das águas.125 Fora do Funchal, Gaspar Frutuoso126 refere a levada mandada construir por Rafael Catanho que servia Machico e Caniçal, na qual gastou cem mil cruzados. Também na Ribeira dos Socorridos, temos outras levadas de iniciativa particular: a do engenho de Luís de Noronha, que lhe custou 20.000 cruzados127 e a de António Correia, para as terras da Torrinha128. Nos diversos contratos de meias, arrendamento e de colonia, em que os canaviais desempenham um papel fundamental, a água está sempre presente. Nas referentes ao Convento de Santa Clara, a instituição assume o compromisso de atribuir água necessária129. É, ainda, Gaspar Frutuoso quem nos descreve uma das levadas: “Perto da Fonte, onde nasce a agoa desta ribeira dos Acorridos, se tirou a levada della para moer o engenho de Luiz de Noronha; e dizem que do logar donde a começaram a tirar até donde se começão a regar os canaviaes ha bem quatro legoas por se tirar de tão grande fundura da ribeira em voltas que para chegar acima à superfície da terra e começar a caminhar atravessando lombos, fazendas e grandes rochedos por cima pela serra por onde vai esta levada, tem de alto mais de seicentas braças; da qual altura, que he muito íngreme,se tira a agoa em calle de páo em voltas até se pôr na terra feita, e sem falta custou chegar pola em tal logar passante de vinte mil cruzados, fora o muito mais que fez de custo levala dali quatro legoas, alem de muitas mortes de homens que trabalhavam nella em 120 Cf. registos da repartição da água; ANTT, PJRFF, 968, fls. 65vº-66vº, 18 de Maio de 1623; AHU, Madeira e Porto Santo, 6964-6994, 10 de agosto de 1823, relatório do inspector geral de Agricultura. 121 Para os séculos XVIII e XIX temos listas da repartição da água feitas em Santa Cruz, Ponta de Sol e Porto Santo. Cf. ARM, C.M. Santa Cruz, nº.135, livro de registo de águas, 1789-1821; ARM, C. M. Ponta Sol, nº.181, registo de águas, 1856; ARM, C. M. do Porto Santo, nº.46, caderno das escalas de água de rega, 1838-842. 122 LEME, D. João da Câmara, 1879, Apontamentos para o estudo da crise agrícola do distrito do Funchal, Funchal, p. 75. 123 Cf. docs. em AHU, Madeira e Porto Santo, nº.444. 124 Em 1674 (ARM, C.M. Machico, nº. 85, 28 de abril, fls.312vº-326) o escrivão da câmara de Machico autorizado a tirar a levada, ficando proprietário de toda a a água, que poderia vender. 125 Veja-se lista de heréus feitas em 28 de abril de 1674 (C.M. Machico nº 85, fl. 312vº-316), e 11 de julho 1677 (Ibidem, fls. 337vº-341);13 de janeiro de 1493, AHM, XVI, nº 266, p. 277; 19 de outubro, ARM, RGCMF, T. II, fls. 76-77vº.180. Está testemunhada a existência de alguns poços no recinto da cidade. Veja-se Gaspar FRUTUOSO, ob. cit., pp. 112, 117, 396. A casa de João Esmeraldo tinha também o seu poço; veja-se Escavações nas Casas de João Esmeraldo - Cristóvão Colombo. Catálogo, Funchal, 1989. Também são de referir as Fontes de João Dinis, junto da Fortaleza de S. Lourenço (Alberto Artur SARMENTO, Fasquias e Ripas da Madeira, Funchal, 1951, pp. 107-123). 126 Ibidem, p. 78. 127 Em 12 de junho de 1515, é referenciada a levada de Manuel de Noronha na Ribeira dos Socorridos, ARM, RGCMF, t. I, fl.348-349, in AHM, vol. XIX, p. 20. 128 13 de Janeiro de 1493, AHM, XVI, n1 266, p. 277. ANTT, Livro das Ilhas, fls. 51-51vº;29 de Setembro de 1496, AHM, XVII, pp. 348-349. O mesmo já havia sido estatuído a 22 de Março de 1485, AHM, XV, 151-154; Alvará de 22 de Fevereiro de 1515, AHM, Vol. XVIII, 560-561; Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979, p. 110, 78. Em 12 de Junho de 1515 é referenciada a levada de Manuel de Noronha na Ribeira dos Socorridos, ARM, RGCMF, t. I, fl.348-349, in AHM, vol. XIX, p. 20. Vide 13 de Janeiro de 1493, AHM, XVI, nº 266, p. 277. 129 Cf. João José Abreu de SOUSA,1991, O Convento de Santa Clara do Funchal, Funchal, pp. 101-112; IDEM, 1994, História rural da Madeira. A colonia, Funchal.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? cestos amarrados com cordas penduradas pela rocha, como quem apanha urzela; porque he tão alcantilada e íngreme a rocha em muitas partes que não se faziam nem se podiam fazer d’outra maneira estancias para assentar as calles sem passar por estes perigos. Tem duzentos e oitenta lanços por onde vai esta agoa que postos enfiados hum diante do outro terão hum quarto de legoa de comprido; são de taboado de til, pella mayor parte tem cada taboa vinte palmos de comprido e dous de largo; e depois de assentadas estas calles na rocha, fazem o caminho por dentro dellas os levadeiros que continuamente tem cuidado de as remendar e concertar, alimpadas também da sugidade e pedras que acontece cahir nellas, e fazer outras cousas necessarias a levada, pelo que tem grossos soldos, por terem officio de tão grandetrabalho e tanto perigo. Nesta rocha está huma furna grande que serve de casa para os levadeiros, e para guardar nela munições necessárias de enchadas, alviões, barras, picões, marrões e outras ferramentas; e nella se metem cada anno dez e doze pipas de vinho para os que trabalhão na levada e outras pessoas que a vão ajudar a reformar, quando quebrão alguns lanços de calles; e he cousa monstruosa a quem vê isto com seus olhos a estranha e aventureira invenção que se teve para se tirar dali esta agua”130 . A dimensão económica ou a importância social de algumas destas famílias, devedoras da riqueza gerada na Ilha, é expressa, desta forma, através da exibição junto do papa, de oferecimentos para serviços de defesa e proteção, de investimentos em infraestruturas tão importantes ao processo produtivo, como as levadas, por exemplo. As verbas em causa, nesta última situação, representam investimentos avultados, pois a receita da Ilha, entre 1588 a 1618, situava-se, maioritariamente, em metade deste valor investido por particulares em infraestruturas necessárias para gerar a riqueza que, depois, ficaria à mercê da Coroa. A pressão cada vez mais presente dos mercados mediterrânicos e da Europa do Norte fez com que se apostasse numa produção em larga escala. Isto acarretou múltiplas transformações no sistema produtivo que estão na origem das inovações ou adaptações da tecnologia a estas novas necessidades e que tem uma matriz de origem bastante diferenciada na Madeira. A grande e primeira revolução na economia açucareira aconteceu a partir da segunda metade do século XV, na Madeira, e tem origem no engenho e arte dos madeirenses que depois a transmitiram a novos espaços, a aperfeiçoaram nas Canárias e a adaptaram ao Novo Mundo, desde La Hispaniola, Cuba e Brasil. Uma etapa fundamental da História do Açúcar no mundo europeu aconteceu a partir do século XV, na Madeira, gerando múltiplas transformações com marca dos madeirenses. O processo de afirmação do açúcar na economia consolida-se e provoca o maior fenómeno migratório que foi a escravatura de milhões de africanos, com repercussões evidentes na literatura, música e atividades lúdicas; a transformação tecnológica permanente pela pressão e concorrência dos mercados, foram conduzindo inexoravelmente a uma mudança da estrutura mercantil e dos hábitos de consumo que fazem com que o açúcar vá saindo das prateleiras da farmácia para as do supermercado. O selo e o motor de tudo isto é, sem dúvida, madeirense.
130 Ob. cit., pp. 120-121.
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7:- A ILHA E OS MUNDOS DOS NEGÓCIOS ATLÂNTICOS E GLOBAIS. Constroem-se em definitivo, a partir da Madeira, as linhas e redes de comércio atlânticos atraindo de modo decisivo as áreas e mercados europeus mais nevrálgicos e mais importazntes e criando nas áreas ribeirinhas metropolitanas, insulares (Canárias, Açores, Cabo Verde) e continentais (Costa de Marfim-Magreb-Arguim-Fez) fortes relações de dependência e de solidariedade. Aurélio de Oliveira, A Madeira nas linhas de comércio do Atlântico. Séculos XV- XVII, III CIHM, Funchal, 1993, 923. A definição dos espaços económicos não resultou apenas dos interesses políticos e económicos derivados da conjuntura expansionista europeia mas também das condições internas, oferecidas pelo meio. Elas tornam-se por demais evidentes quando estamos perante um conjunto de ilhas dispersas no oceano. São ilhas com a mesma origem geológica, sem quaisquer vestígios de ocupação humana, mas com diferenças marcantes, ao nível climático. Os Açores apresentavam-se como uma zona temperada, a Madeira como uma réplica mediterrânica, enquanto nos dois arquipélagos meridionais eram manifestas as influências da posição geográfica, que estabelecia um clima tropical seco ou equatorial. Daqui resultou a diversidade de formas de valorização económica e social. As condições morfológicas estabelecem as especificidades de cada ilha e CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? tornam possível a delimitação do espaço e a forma de aproveitamento económico. Aqui, o recorte e relevo costeiro foram importantes. A possibilidade de acesso ao exterior através de bons ancoradouros era um fator importante. É a partir daqui que se torna compreensível a situação da Madeira, definida pela excessiva importância da vertente Sul, em detrimento da do Norte. De acordo com as condições geoclimáticas, é possível definir a mancha de ocupação humana e agrícola das ilhas. Isto conduziu a uma variedade de funções económicas, por vezes complementares. Deste modo, nos arquipélagos constituídos por maior número de ilhas, a articulação dos vetores da subsistência com os da economia de mercado foi mais harmoniosa e não causou grandes dificuldades. Os Açores apresentam-se como a expressão mais perfeita da realidade, enquanto a Madeira é o reverso da medalha. O processo de povoamento das ilhas definiu-lhes uma vocação de áreas económicas sucedâneas do mercado e espaço mediterrânicos. Assim, o que sucedeu nos séculos XV e XVI foi a lenta afirmação do novo espaço, tendo como ponto de referência as ilhas. A mudança de centros de influência foi responsável, para que os arquipélagos atlânticos assumissem uma função importante. A tudo isso poderá juntar-se a constante presença de gentes ribeirinhas do Mediterrâneo, interessadas em estabelecer os produtos e o necessário suporte financeiro. A constante premência do Mediterrâneo nos primórdios da expansão atlântica poderá ser responsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de arroteamento aqui lançadas. Certamente que os povos peninsulares e mediterrânicos, ao comprometerem-se com o processo atlântico, não puseram de parte a tradição agrícola e os incentivos comerciais dos mercados de origem. Por isso, na bagagem dos primeiros cabouqueiros insulares, foram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, alguns grãos do precioso cereal, de mistura com artefactos e ferramentas. A afirmação das áreas atlânticas resultou deste transplante material e humano de que os peninsulares foram os principais obreiros. Foi a primeira experiência de ajustamento das arroteias às diretrizes da nova economia de mercado. A sociedade e economia insulares surgem na confluência dos vetores externos, com as condições internas do multifacetado mundo insular. A concretização não foi simultânea nem obedeceu aos mesmos princípios organizativos pelo facto de a mesma resultar da partilha pelas coroas peninsulares e senhorios ilhéus. Por outro lado, a economia insular é resultado da presença de vários fatores que intervêm diretamente na produção e comércio. Ao nível do sector produtivo, deverá ter-se em conta a importância assumida, por um lado, pelas condições geofísicas e, por outro, pela política distributiva das culturas. É da conjugação de ambas que se estabelece a necessária hierarquia. Os solos mais ricos eram reservados para a cultura de maior rentabilidade económica (o trigo, a cana de açúcar, o pastel), enquanto os medianos ficavam para os produtos hortícolas e frutícolas, ficando os mais pobres, como pasto e área de apoio, aos dois primeiros. A Madeira, que se encontrava a pouco mais de meio século de existência como sociedade insular, tinha em condições de oferecer os contingentes de colonos habilitados para a abertura de novas arroteias e ao lançamento de novas culturas nas ilhas e terras vizinhas. Assim terá sucedido com o transplante da cana-de-açúcar para Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Gran Canária, Tenerife, Santiago, S. Tomé e Brasil. A tendência uniformizadora da economia agrícola do espaço insular esbarrou com vários obstáculos que, depois, conduziram a um reajustamento da política económica e à definição da complementaridade entre os mesmos arquipélagos ou ilhas. As ilhas conseguiram criar no seu seio os meios necessários para so lucionar os problemas quotidianos – assentes quase sempre no assegurar os componentes da dieta alimentar –, à afirmação nos mercados europeu e atlântico. Assim sucedeu com os cereais que foram suficientes, em condições normais, para satisfazer as necessidades da dieta insular, sobrando um grande excedente para suprir as carências do reino. Um dos iniciais objetivos que norteou o povoamento da Madeira foi a possibilidade de acesso a uma nova área produtora de cereais, capaz de suprir as carências do reino e depois as praças africanas e feitorias
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? da costa da Guiné. A última situação era definida por aquilo que ficou conhecido como o saco de Guiné. Entretanto, os interesses em torno da cultura açucareira recrudesceram e a aposta na cultura era óbvia. A mudança só se tornou possível quando se encontrou um mercado substitutivo. Sucedeu assim nos Açores que, a partir da segunda metade do século dezasseis, passaram a assumir o lugar da Madeira. O cereal foi o produto que conduziu a uma ligação harmoniosa dos espaços insulares, o mesmo não sucedendo com o açúcar, o pastel e o vinho, que foram responsáveis pelo afrontamento e a crítica desarticulação dos mecanismos económicos, exercendo uma ação devastadora no equilíbrio latente na economia das ilhas. A incessante procura e rendoso negócio destes produtos conduziu à sua afirmação quase exclusiva, gerando dependência do mercado externo. Para além de consumidor exclusivo das culturas, é ele o principal fornecedor dos produtos ou artefactos de que os insulares carecem. Perante isto, qualquer eventualidade que pusesse em causa o sector produtivo era o prelúdio da estagnação do comércio é o prenúncio de dificuldades, que desembocavam quase sempre na fome. A estrutura do sector produtivo de cada ilha moldou-se de acordo com esta situação, podendo definir-se em componentes da dieta alimentar (cereais, vinha, hortas, fruteiras, gado) e troca comercial (pastel, açúcar). Em consonância com a atividade agrícola, verificou-se a valorização dos recursos disponibilizados por cada ilha, que integravam a dieta alimentar (pesca e silvicultura) ou as trocas comerciais (urzela, sumagre, madeiras). A ilha da Madeira... que Deus pôs no mar ocidental para escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes, que de Portugal e de outros regnos vão, e de outros portos e navegações vêm para diversas partes, além dos que para ela somente navegam, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muito dinheiro para se aproveitar do retorno que dela levam para suas terras....(Gaspar Frutuoso, Livro Segundo das Saudades da Terra, P. Delgada, 1979, pp. 99-100 ) O MUNDO ATLÂNTICO. A valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado liame de rotas de navegação e de comércio que ligavam o Velho Continente ao litoral atlântico. A multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e de formas de exploração adotadas. Se é certo que estes vetores geraram as referidas rotas, não é menos certo que as condições mesológicas do oceano, dominadas pelas correntes, ventos e tempestades, delinearam o rumo. As mais importantes e duradouras de todas as traçadas neste mar foram, sem dúvida, a da Índia e a das Índias, que galvanizaram as atenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. No traçado de ambas, situava-se o Mediterrâneo Atlântico com atuação primordial na manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e das Canárias surgem, nos séculos XV e XVI, como entreposto para o comércio no litoral africano, americano e asiático. Os portos principais da ilha da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro, Tenerife e Lanzarote animam-se de forma diversa com o apoio à navegação e comércio nas rotas da ida, enquanto nos Açores, as ilhas de Flores, Corvo, Terceira, e S. Miguel, surgem como a escala da rota de retorno. Segundo Pierre Chaunu, a rota das Índias de Castela assentou em quatro vértices fundamentais: Sevilha, Canárias, Antilhas, Açores131. A Madeira mantinha-se numa posição excêntrica, pois apenas servia as rotas portuguesas do Brasil e da costa africana. A participação madeirense na carreira das Índias foi esporádica, justificando-se a ausência pela posição marginal em relação à rota. A Madeira representa um porto de escala muito importante para as navegações portuguesas para o Brasil, Golfo da Guiné e Índia. A posição da escala madeirense para as explorações geográficas e comerciais dos portugueses na costa ocidental africana, ficou definida no século XV. A opção madeirense adveio dos conflitos latentes com Castela pela posse das Canárias. A expansão comercial de finais do século XV, com a abertura da rota do Cabo, veio valorizar, mais uma vez, a escala aquém equador, surgindo 131 Sevilla y América. Siglos XVI y XVII, 43-48.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? inúmeras referências, em roteiros e relatos de viagens, à escala madeirense. Os mesmos ingleses que utilizaram as Canárias tocavam com assiduidade a Madeira, onde se proviam de vinho para a viagem. A Madeira, tal como as Canárias, muito raramente foi escolhida como escala de retorno - uma vez que a missão estava, por condicionalismos geográficos, reservada aos Açores. Ocasionalmente, a escala das embarcações vindas da Mina Índias e Índias na Madeira. A posição do Mediterrâneo Atlântico no comércio e na navegação atlântica fez com que as coroas peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa e controlo do trato comercial. A definição dos espaços políticos fez-se, primeiro de acordo com os paralelos e, depois, com o avanço dos descobrimentos para Ocidente, no sentido dos meridianos. A expressão disso resultava apenas da conjuntura favorável e do acatamento da situação pelos demais estados europeus. Mas o oceano e terras circundantes podiam ainda subdividir-se em novos espaços, de acordo com o protagonismo económico. Assim, podemos situar dum lado, as ilhas orientais e ocidentais e, do outro, o litoral dos continentes americano e africano. A partilha não foi resultado de um pacto negocial, mas sim da confluência das potencialidades económicas de cada uma das áreas em causa. Neste contexto, assumiram particular importância as condições internas e externas de cada área. As primeiras foram resultado dos aspetos geoclimáticos, enquanto as últimas derivam dos vetores definidos pela economia europeia. A partir da maior ou menor intervenção de ambas as situações, estaremos perante espaços agrícolas, vocacionados para a produção de excedentes capazes de assegurar a subsistência dos que haviam saído e dos que ficaram na Europa, de produtos adequados a um ativo sistema de trocas intercontinentais, que mantinha uma forte vinculação do velho ao novo mundo. O açúcar e o pastel foram os produtos que deram corpo à conjuntura. De acordo com isso, podemos definir múltiplos e variados espaços agro-mercantis: áreas agrícolas orientadas para as trocas com o exterior e para assegurar a subsistência dos residentes; áreas de intensa atividade comercial, vocacionada para a prestação de serviços de apoio, como escalas ou mercados de troca. No primeiro caso, incluem-se as ilhas orientais e ocidentais e a franja costeira da América do Sul, conhecida como Brasil. No segundo merece referência as ilhas que, mercê da posição ribeirinha da costa (Santiago e S. Tomé), ou do posicionamento estratégico no traçado das rotas oceânicas (como sucede com as Canárias, Santa Helena e Açores), fizeram depender o processo económico disso. A estratégia de domínio e valorização económica do Atlântico passava necessariamente pelos pequenos espaços que polvilham o oceano. Foi nos arquipélagos (Canárias e Madeira) que se iniciou a expansão atlântica e foi aí que a Europa assentou toda a estratégia de desenvolvimento económico nos séculos XV e XVI. Ninguém melhor que os portugueses entendeu esta realidade, definindo para o empório lusíada um caráter anfíbio. Ilhas desertas ou ocupadas, bem ou mal posicionadas para a navegação, foram os verdadeiros pilares do mundo português no Atlântico. Para os europeus, a Madeira e os Açores ofereciam melhores requisitos, pelas semelhanças do clima com o de Portugal, do que Cabo Verde ou S. Tomé. Nos dois últimos arquipélagos foram inúmeras as dificuldades de adaptação do homem e das culturas euro-mediterrânicas. Aí deu-se lugar ao africano e as culturas mediterrânicas de subsistência foram substituídas pelas trocas na vizinha costa africana. A preocupação pelo aproveitamento dos recursos locais surge num segundo momento. Por fim, é necessário ter em conta que as condições morfológicas estabeleceram as especificidades de cada ilha e tornaram possível a delimitação do espaço e forma de aproveitamento económico. O relevo costeiro foi importante pois as possibilidades de acesso ao exterior através de bons ancoradouros era um fator importante. A partir daqui se torna compreensível a situação da Madeira, definida pela excessiva importância da vertente sul em detrimento do norte, como ao facto de Fernando Pó ser preterida, em favor de S. Tomé. Estávamos perante a plena dominância do litoral como área privilegiada de fixação ainda que, por vezes, o não fosse em termos económicos. Nas ilhas em que as condições orográficas propiciavam uma fácil penetração no interior, como sucedeu em S. Miguel, Terceira, Graciosa, Porto Santo, Santiago e S. Tomé, a presença humana alastrou até aí e gerou os espaços
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? arroteados. Para as demais, a omnipresença do litoral é evidente e domina a vida dos insulares, sendo o mar a via privilegiada. Os exemplos da Madeira e S. Jorge são paradigmáticos. As condições geoclimáticas definiram a mancha de ocupação humana e agrícola das ilhas, conduzindo a uma variedade de funções económicas, por vezes, complementares. Nos arquipélagos constituídos por maior número de ilhas, a articulação dos vetores da subsistência com os da economia de mercado foi mais harmoniosa não causando grandes desequilíbrios. Os Açores apresentam-se como a expressão perfeita da realidade, enquanto a Madeira pode ser considerada o reverso da medalha. A mudança de centros de influência levou a que os arquipélagos atlânticos assumissem uma função importante. Poderá juntar-se a presença de gentes ribeirinhas do Mediterrâneo, interessadas em estabelecer os produtos de troca e o necessário suporte financeiro. A constante premência do Mediterrâneo nos primórdios da expansão atlântica poderá ser responsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de arroteamento. Certamente que os povos peninsulares e mediterrânicos, ao comprometerem-se com o processo atlântica, não puseram de parte a tradição agrícola e os incentivos comerciais dos mercados de origem. Apostou-se, então, numa agricultura capaz de suprir as faltas do velho continente, quer os cereais, quer o pastel e açúcar, do que o usufruto das novidades propiciadas pelo meio. Assim, aconteceu em Cabo Verde e São Tomé onde as dificuldades de implantação das culturas de subsistência europeia não foram facilmente compensadas com a oferta dos produtos africanos como o milho zaburro e inhames. Em Cabo Verde, cedo se reconheceu a impossibilidade da rendosa cultura dos canaviais, mas tardou em valorizar-se o algodão como produto substitutivo, tal era a obsessão pelo açúcar e trocas na costa da Guiné. A sociedade e economia insulares surgem na confluência dos vetores externos com as condições internas do multifacetado mundo insular. A concretização não foi simultânea nem obedeceu aos mesmos princípios organizativos pelo facto de resultar da partilha pelas coroas peninsulares e senhorios ilhéus. A economia insular resultou, ainda, da presença de vários fatores que intervêm diretamente na produção e comércio. Não basta dispor de solo fértil ou de produtos de permanente procura, pois a isso deverão associar-se os meios propiciadores do escoamento e a existência de técnicas e meios de troca, adequados ao nível mercantil atingido pelos circuitos comerciais. O arquipélago açoriano e as demais ilhas na área da Guiné surgem numa época tardia, sendo o processo de valorização económica atrasado, mercê de vários fatores de ordem interna a que não são alheias as condições mesológicas. O clima e solo áridos, num lado, sismos e vulcões, no outro, eram um cartaz pouco aliciante para os primeiros povoadores. Em ambos os casos, o lançamento da cultura da cana sacarina esteve ligado aos madeirenses. A Madeira, que se encontrava a pouco mais de meio século de existência como sociedade insular estava em condições de oferecer os contingentes de colonos habilitados para a abertura de novas arroteias e ao lançamento de novas culturas nas ilhas e terras vizinhas. Assim terá sucedido com o transplante da cana-de-açúcar para Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Gran Canária, Tenerife, Santiago, S. Tomé e Brasil. A dependência dos espaços continentais, com especial destaque para o europeu, não foi apenas apanágio dos primórdios da ocupação das ilhas. A situação persistiu por mais de quatro séculos, mantendo-se as ilhas na periferia da economia europeia e do mercado colonial, atuando de acordo com os ditames da política colonial. As culturas dominantes quase sempre em sistema de monocultura obedeceram a estes requisitos. Sucedeu assim com os panos e a cana sacarina, em Cabo Verde, com o cacau, em S. Tomé e Príncipe, com a laranja, nos Açores e o vinho, na Madeira. A segunda metade do século XIX pode ser considerada como uma das fases mais conturbadas da economia insular. Aqui é evidente a capacidade da ilha de S. Miguel no reajustamento da economia. A crise da laranja é prontamente suplantada com a aposta numa variedade de culturas (batata doce, chá tabaco, e ananás) e indústrias (tabaco, álcool). O reajustamento do processo de exploração agrícola é parceiro de uma discussão política sobre a forma de acabar com os entraves ao desenvolvimento económico. As orientações CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? vão desde a discussão do sistema tradicional de propriedade ao novo regime de portos francos. As ilhas assumiram um papel evidente no traçado das rotas comerciais atlânticas, sendo os principais pilares. A posição estratégica no meio do Atlântico valorizou-se nas transações oceânicas. Ao mesmo tempo, a riqueza reforçou a vinculação ao velho continente através da exploração desenfreada dos recursos ou da imposição de culturas destinadas ao mercado europeu, como foi o caso da cana sacarina e pastel. Mais a Sul, as feitorias de Santiago, Príncipe e S. Tomé, para além de centralizarem o tráfico comercial em cada arquipélago, firmaram-se como os principais entrepostos de comércio com o litoral africano. Santiago manteve, até meados do século dezasseis, o controlo do trato da costa da Guiné e das ilhas do arquipélago com o exterior. E foi também o centro de redistribuição dos artefactos e mantimentos europeus e de escoamento do sal, chacinas, courama, panos e algodão. Enquanto a primeira situação, com o evoluir da conjuntura económica, foi perdendo importância, a segunda manteve-se por muito tempo, definindo uma trama complicada de rotas. O relacionamento entre as ilhas dos três arquipélagos atlânticos resultava não só da complementaridade económica, definida pelas assimetrias propiciadas pela orografia e clima, mas também da proximidade e assiduidade dos contactos. O intercâmbio de homens, produtos e técnicas, dominaram o sistema de contactos entre os arquipélagos. A Madeira, mercê da posição privilegiada entre os Açores e as Canárias e do parcial alheamento das rotas índica e americana, apresentava melhores possibilidades para o estabelecimento e manutenção de intercâmbios. Os contactos com os Açores resultaram da forte presença madeirense na ocupação e da necessidade de abastecimento em cereais, que o arquipélago dos Açores era um dos principais produtores. Com as Canárias, as imediatas ligações foram resultado da presença de madeirenses, ao serviço do infante D. Henrique, na disputa pela posse do arquipélago e da atração que elas exerceram sobre os madeirenses. Tudo isto contrastava com as hostilidades açorianas à rota de abastecimento de cereais à Madeira. Acresce, ainda, que o Funchal foi, durante muito tempo um porto de apoio aos contactos entre as Canárias e o velho continente. A assiduidade de contactos entre os arquipélagos, evidenciada pela permanente corrente emigratória, define-se como uma constante do processo histórico dos arquipélagos, até ao momento que o afrontamento político ou económico os veio separar. A última situação emerge na segunda metade do século dezassete, como resultado da concorrência do vinho produzido, em simultâneo, nos três arquipélagos. O trigo foi, sem dúvida, o principal móbil das conexões interinsulares. O comércio entre a Madeira e as Canárias era anterior ao estabelecimento dos primeiros contactos com os Açores. O relacionamento iniciara-se em meados do século quinze, ativado pela disponibilidade no arquipélago de escravos, carne, queijo e sebo. Mas a insistência dos madeirenses nos contactos com as Canárias não terá sido do agrado do infante D. Fernando, senhor da ilha, interessado em promover os contactos com os Açores. Apesar disso, continuaram e a rota adquiriu um lugar relevante nas relações externas da ilha, valendo-lhe a disponibilidade de cereal e carne, que eram trocados por artefactos, sumagre e escravos negros. A última situação surge, na primeira metade do século dezassete, com evidência nos contactos entre a Madeira, Lanzarote e Fuerteventura. Algo diferente sucedeu nos contactos comerciais entre os Açores e as Canárias, que nunca assumiram a mesma importância das madeirenses. A pouca facilidade nas comunicações, a distância entre os dois arquipélagos e a dificuldade em encontrar os produtos justificativos de intercâmbio fizeram com que as trocas fossem sazonais. Só as crises cerealíferas do arquipélago de Canárias fizeram com que o trigo açoriano aí chegasse em 1563 e 1582. Por vezes, a permuta fazia-se a partir da Madeira, como sucedeu em 1521 e 1573. A contrapartida de Canárias baseava-se no vinho, tecidos europeus e o breu. As relações interinsulares com os arquipélagos além do Bojador situavam-se num plano distinto. Primeiro, as dificuldades na ocupação só conduziram ao imediato e pleno povoamento de uma ilha em cada área – Santiago e S. Tomé –, que passou a atuar como o principal eixo do trato interno e externo. Depois, o aproveitamento económico não foi uniforme e de acordo com as solicitações do mercado insular aquém do Bojador, assumindo, por vezes, como sucede com S. Tomé uma posição concorrencial. Por fim, registe-se que os espaços existiam mais para satisfazer as necessidades do vizinho litoral africano do que pela importância CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? económica interna. Do relacionamento com os do Mediterrâneo Atlântico, é evidente o empenho dos últimos no tráfico negreiro, nomeadamente para os madeirenses e canarianos132. Os madeirenses que aí aparecem foram favorecidos pelo comprometimento com as viagens de exploração e comércio ao longo da costa africana e da presença, ainda que temporária, do porto do Funchal no traçado das rotas. Ao invés, os Açores mantiveram-se, por muito tempo, como portos recetores das caravelas que faziam a rota de retorno ao velho continente. Os contactos com as ilhas do golfo da Guiné eram exíguos, uma vez que estiveram por muito tempo aquém dos interesses das gentes do Mediterrâneo Atlântico. Na verdade, se retiramos a eventual presença de madeirenses para transmitir os segredos da cultura açucareira, o aparecimento é tardio e rege-se pela necessidade de capturar escravos nas costas vizinhas, situação comum também com as Canárias. A malagueta, pimenta e marfim não eram produtos capazes de despertarem o interesse das gentes insulares e, além disso, tinha como destino obrigatório a Casa da Mina em Lisboa. O posicionamento periférico do insular condicionou a subjugação do comércio aos interesses hegemónicos do velho continente. Os europeus foram os cabouqueiros, responsáveis pela transmigração agrícola, mas também os primeiros a usufruir a qualidade dos produtos lançados à terra e a desfrutar dos elevados réditos que o comércio propiciou. Daí resultou a total dependência dos espaços insulares ao velho continente, sendo a vivência económica moldada de acordo com as necessidades, que, por vezes, se apresentavam estranhas. Por isso, é evidente a preferência pelo velho continente nos contactos com o exterior dos arquipélagos. Só depois surgiram as ilhas vizinhas e os continentes africano e americano. Do velho rincão de origem, vieram os produtos e instrumentos necessários para a abertura das arroteias, mas também as diretrizes institucionais e comerciais que os materializaram. O usufruto das possibilidades de um relacionamento com outras áreas continentais, no caso do Mediterrâneo Atlântico, foi consequência de um aproveitamento vantajoso da posição geográfica e em alguns casos, uma tentativa de fuga à omnipresente rota europeia. O arquipélago canário, mercê da posição e condições específicas criadas após a conquista, foi dos três o que tirou maior partido do comércio com o Novo Mundo. A proximidade ao continente africano, bem como o posicionamento correto nas rotas atlânticas, permitiram-lhe a intervir no trato intercontinental. Para os Açores, o facto de as ilhas estarem situadas na reta final das grandes rotas oceânicas possibilitou-lhes algum proveito com a prestação de inúmeros serviços de apoio e eventual contrabando. Fora disso encontrava-se a Madeira, a partir de finais do século XV. Por muito tempo o comércio foi apenas uma miragem e só se tornou realidade quando o vinho começou a ser o preferido dos que embarcaram na aventura americana ou índica. Perante esta situação, o vinho madeirense afirmou-se em pleno a partir da segunda metade do século dezassete. Rumos diferentes tiveram os arquipélagos de S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde: a proximidade da costa africana e a permanente atividade comercial definiram a vinculação ao continente africano. Por muito tempo, os dois arquipélagos pouco mais foram que portos de ligação da América ou a Europa e as feitorias da costa africana. O comércio das ilhas com o litoral africano, excetuando o caso de Cabo Verde e S. Tomé, fazia-se com maior assiduidade a partir das Canárias do que da Madeira ou dos Açores. Mesmo assim, a Madeira, mercê da posição charneira no traçado das rotas quatrocentistas, teve um papel relevante. Os madeirenses participaram ativamente nas viagens de exploração geográfica e comércio no litoral africano, surgindo o Funchal, nas últimas décadas do século XV, como um importante entreposto para o comércio de dentes de elefante. Além disso, a iniciativa madeirense bifurcou-se. Dum lado, as praças marroquinas, a quem a ilha forneceu os homens para a defesa, os materiais para a construção das fortalezas e cereais para sustento dos homens aí 132 Manuel Lobo Cabrera,” Relaciones entre Gran Canaria Africa y América a través de la trata de negros”, in II Colóquio de Historia Canario Americana, Las Palmas, 1977, 77-91; idem, La esclavitud en las Canarias orientales en el siglo XVI. negros, moros y moriscos, Las Palmas, 1979, 104-110; Elisa TORRES SANTANA, “El comércio de Gran Canaria con Cabo Verde a principios del siglo XVII”, in II Coloquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1990, 761-778.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? aquartelados. Do outro, a área dos Rios e Golfo da Guiné abastecia-se de escravos, necessários para assegurar a força de trabalho na safra do açúcar. Ao invés do que sucedia com as Canárias, Cabo Verde e S. Tomé, as ilhas dos arquipélagos da Madeira e Açores estiveram até ao século dezassete afastadas do comércio com o continente americano. Restava-lhes aguardar pela chegada das embarcações daí oriundas e aspirar pelo contrabando ou trocas ocasionais. Ao porto do Funchal, chegaram algumas embarcações desgarradas. O desvio era considerado pela coroa como intencional, para aí se fazer o contrabando, pelo que foram determinadas medidas proibitivas, de pouca aplicação prática. As ilhas de Santiago e S. Tomé, mercê da proximidade da costa africana, afirmaram-se como importantes entrepostos do trato negreiro africano no século XVI, tendo como principal destino, a partir do século dezasseis, o novo continente americano. A primeira feitoria dominava a vasta área, conhecida como os Rios de Guiné, enquanto a segunda estendia-se desde S. Jorge da Mina até Angola, passando por Axem e Benim, onde o povoamento só foi possível à custa de facilidades concedidas aos moradores para o comércio na cobiçada costa. S. Tomé assumiu lugar relevante no comércio do Golfo da Guiné até o último quartel do século dezasseis, sendo a crise, a partir de 1578, resultado do desvio das rotas para o litoral africano. Em Santiago, principal ilha do arquipélago de Cabo Verde e feitoria do comércio dos escravos dos Rios de Guiné, o comércio foi definido por outros rumos. No começo, resultou da oferta das produções locais mas depois, com a abertura de novos mercados de escravos, foram solicitações externas que o motivaram. Eles passaram a ser conduzidos, primeiro à Europa e ilhas atlânticas e depois ao Brasil e Antilhas133. Para o último destino, o comércio fazia-se sob a forma de contratos entre a coroa e os mercadores. A importância dos mercados no comércio de escravos para o continente americano ficou demonstrada em finais do século dezasseis, altura em que os povos estrangeiros se lançaram ao ataque dos principais entrepostos do tráfico negreiro, com particular relevo para os castelhanos. Os séculos seguintes não foram pautados por mudanças significativas na trama de rotas e mercados. A vinculação aos mercados tradicionais manteve-se e apenas mudaram os produtos propiciadores da troca. Nos Açores, o mais significativo será a valorização dos portos de Horta e Ponta Delgada como eixos fundamentais do mercado externo. Enquanto a primeira evidencia a vinculação à América do Norte, o segundo vê reforçada a posição com os mercados nórdicos. As mudanças mais significativas ocorreram nos arquipélagos de S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. A abolição do trato negreiro a partir de 1811 acabou com a tradição dependência dos arquipélagos ao mercado africano e a rota de ligação ao outro lado do Atlântico e conduziu a um reforço da presença e vinculação à metrópole. Toda a exploração económica foi orientada no sentido do fornecimento de produtos e matérias-primas indispensáveis ao desenvolvimento industrial da metrópole que, por sua vez, os abastecia de produtos manufaturados134.
8:- A NOVA CIÊNCIA E CONHECIMENTO DO MUNDO GLOBAL E OS MADEIRENSES. A expansão atlântica revelou ao europeu um novo mundo, onde a flora e a fauna dominaram. A descoberta da nova realidade fez-se não só pelo valor alimentar e económico, mas também científico. O processo de povoamento implicava obrigatoriamente a migração de plantas, animais e técnicas de recoleção, cultivo e transformação. O retorno foi igualmente rico e conduziu, paulatinamente, à revolução do quotidiano europeu. Algumas das novas plantas entraram rapidamente nos hábitos das populações e cedo se perdeu o rastro 133 E. VILA VILAR, Hispano-America y el Comercio de Esclavos. Los Asientos Portugueses, Sevilha, 1977; T. B. DUNCAN, Ob. cit., 198/238. 134 Elisa Silva ANDRADE, As Ilhas de Cabo Verde da *Descoberta+ à Independência Nacional (1460-1975), Lisboa, Paris, 1996: Armando de CASTRO, O Sistema Colonial Português em África (meados do século XX), Lisboa, 1980.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? da origem. Portugueses e espanhóis foram importantes na troca de plantas entre o Novo e o Velho Mundo. No Oriente, foram as especiarias que dinamizaram as rotas comerciais e cobiça dos europeus. A América revelou-se pela variedade e exotismo das plantas e frutos, com valor alimentar, que contribuíram em África para colmatar a deficiência alimentar. O processo não foi pacífico, resultando, em muitos casos, provocou alterações catastróficas no quadro natural. Isto aconteceu em regiões sujeitas à violência de uma monocultura solicitada pelos mercados internacionais. Estão neste caso a cana sacarina, o cacau, o café e o algodão. As ilhas voltaram a assumir um papel fundamenta, o de viveiros de aclimatação das plantas e culturas em movimento. A Madeira funcionou nos dois sentidos. Da Europa propiciou a transmigração da fauna e flora identificada com a cultura ocidental. No retorno, foram as plantas do Novo Mundo que tiveram, de novo, passagem obrigatória pela ilha. A riqueza botânica do Funchal resulta disso. O processo de imposição da chamada biota europeia, no dizer de Alfred Crosby135, foi responsável por alguns dos primeiros e mais importantes problemas ecológicos. Nos séculos XV e XVI, foram as viagens de descobrimento, enquanto no século XVIII, sucederam as de exploração e descoberta da natureza, comandadas por ingleses e franceses. Finalmente, desvendou-se uma nova vocação, sendo as ilhas campo de observação direta da natureza. A afirmação da Ciência na Europa fez delas escala para as expedições científicas que se organizaram desde o século XVII. O enciclopedismo e as classificações de Linneo (1735) tiveram, nas ilhas, um campo ideal de experimentação. Tenha-se em conta as campanhas da Linnean Society e o facto de o próprio presidente da sociedade, Charles Lyall, ter-se deslocado, em 1838, de propósito, às Canárias. O Atlântico surge, a partir do século XV, como o principal espaço de circulação de veleiros, pelo que se definiu um intricado liame de rotas de navegação e comércio que ligavam o velho continente às costas africana e americana e as ilhas. Esta multiplicidade de rotas, que resultou da complementaridade económica das áreas insulares e continentais, surge como consequência das formas de aproveitamento económico aí adotadas. Tudo isto se completa com as condições geofísicas do oceano, definidas pelas correntes e ventos que delinearam o traçado das rotas e os rumos das viagens. A mais importante e duradoura de todas as rotas foi, sem dúvida, aquela que ligava as Índias (ocidentais e orientais) ao velho continente. Foi ela que galvanizou o empenho dos monarcas, populações ribeirinhas e acima de tudo os piratas e corsários, sendo expressa por múltiplas escalas apoiadas nas ilhas que polvilhavam as costas ocidentais e orientais do mar: primeiro as Canárias e raramente a Madeira, depois Cabo Verde, Santa Helena e os Açores. Nos três arquipélagos, definidos como Mediterrâneo Atlântico, a intervenção nas grandes rotas faz-se a partir de algumas ilhas, sendo de referir a Madeira, Gran Canaria, La Palma, La Gomera, Tenerife, Lanzarote e Hierro, Santiago, Flores e Corvo, Terceira e S. Miguel. Para cada arquipélago, afirmou-se uma ilha, servida por um bom porto de mar como o principal eixo de atividade. No mundo insular português, por exemplo, evidenciaram-se, de forma diversa, as ilhas da Madeira, Santiago e Terceira como os principais eixos. As rotas portuguesas e castelhanas apresentavam um traçado diferente. Enquanto as primeiras divergiam de Lisboa, as castelhanas partiam de Sevilha com destino às Antilhas, tendo como pontos importantes do seu raio de ação, os arquipélagos das Canárias e Açores. Ambos os centros de apoio estavam sob soberania distinta: o primeiro era castelhano desde o século XV, o segundo português, o que não facilitou muito o imprescindível apoio. Mas por um lapso de tempo (1585-1642), o território entrou na esfera de domínio castelhano, sem que isso tivesse significado maior segurança para as armadas. Apenas se intensificaram as operações de represália de franceses, ingleses e holandeses. As expedições organizadas pela coroa espanho135 Cf. Crosby, Alfred W. The Columbian exchange: biological and cultural consequences of 1492. Vol. 2. Greenwood Publishing Group, 2003; Crosby, Alfred W. Ecological imperialism. Cambridge University Press, 2015.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? la, na década de oitenta, com destino à Terceira, tinham uma dupla missão: defender e comboiar as armadas das Índias até porto seguro, em Lisboa ou Sevilha, e ocupar a ilha, para aí instalar uma base de apoio e de defesa das rotas oceânicas. A escala açoriana justificava-se mais por necessidade de proteção das armadas do que por necessidade de reabastecimento ou reparo das embarcações. Era à entrada dos mares açorianos, junto da ilha das Flores, que se reuniam os navios das armadas e se procedia ao comboiamento até o porto seguro na península, furtando-os à cobiça dos corsários, que infestavam os mares. Desde o início que a segurança das frotas foi uma das mais evidentes preocupações para a navegação atlântica, pelo que as coroas peninsulares delinearam, em separado, um plano de defesa e apoio. Em Portugal, tivemos o regimento para as naus da Índia nos Açores, promulgado em 1520, em que foram estabelecidas normas para impedir que as mercadorias caíssem nas mãos da cobiça por meio do contrabando e corso. A necessidade de garantir a eficácia de tal apoio e a defesa das armadas levou a coroa portuguesa a criar, em data anterior a 1527, a Provedoria das Armadas, com sede na cidade de Angra. A nomeação, em 1527, de Pero Anes do Canto para provedor das armadas da Índia, Brasil e Guiné, marca o início da viragem. Ao provedor competia a superintendência de toda a defesa, abastecimento e apoio às embarcações em escala ou de passagem pelos mares açorianos. Além disso, estava sob as suas ordens a armada das ilhas, criada expressamente para comboiar, desde as Flores até Lisboa, todas as embarcações provenientes do Brasil, Índia e Mina. Esta estrutura de apoio fazia falta aos castelhanos na área considerada crucial para a navegação atlântica e, por isso, por diversas vezes, solicitaram o apoio das autoridades açorianas. Mas a ineficácia ou a necessidade de uma guarda e defesa mais atuante obrigou-os a reorganizar a carreira, criando o sistema de frotas. A partir de 1521, as frotas passaram a usufruir de uma nova estrutura organizativa e defensiva. No começo, foi o sistema de frotas anuais artilhadas ou escoltadas por uma armada. Depois, a partir de 1555, o estabelecimento de duas frotas para o tráfico americano: Nueva Espana e Tierra Firme. O ativo protagonismo do arquipélago açoriano e, em especial, da ilha Terceira é referenciado com frequência por roteiristas e marinheiros que nos deram conta das viagens ou os literatos açorianos que presenciaram a realidade. Todos falam da importância do porto de Angra que, no dizer de Gaspar Frutuoso, era “universal escala do mar do poente”136. A participação do arquipélago madeirense nas grandes rotas oceânicas foi esporádica, justificando-se a ausência pelo posicionamento marginal em relação ao traçado ideal. A proximidade da Madeira em relação aos portos do litoral peninsular e as condições dos ventos e correntes marítimas foram o principal obstáculo à valorização da ilha, no contexto das navegações atlânticas. As Canárias, porque mais bem posicionadas e distribuídas por sete ilhas em latitudes diferentes, estavam em condições de oferecer o adequado serviço de apoio. Todavia, a situação conturbada que aí se viveu, resultado da disputa pela posse entre as coroas peninsulares e a demorada pacificação da população indígena, fizeram com que a Madeira surgisse, no século XV, como um dos principais eixos do domínio e navegação portuguesa no Atlântico. Já a partir de princípios do século XVI, a Madeira surgirá apenas como um ponto de referência para a navegação atlântica, uma escala ocasional para reparo e aprovisionamento de vinho. Apenas o surto económico da ilha conseguirá atrair as atenções das armadas, navegantes e aventureiros. As ilhas foram as portas de entrada e saída, tendo, por esse motivo, assumido um papel importante nas rotas atlânticas. Mas para sulcar longas distâncias rumo ao Brasil, à costa africana ou ao Indico, era necessário dispor de mais portos de escala, pois a viagem era longa e difícil. As áreas comerciais da costa da Guiné e, depois, com a ultrapassagem do cabo da Boa Esperança, as índicas, tornaram indispensável a existência de escalas intermédias. Primeiro, Arguim que serviu de feitoria e escala para a zona da Costa da Guiné, depois, com a revelação de Cabo Verde, foi a ilha de Santiago que se afirmou como a principal escala da rota de ida para os portugueses e podia muito bem substituir as Canárias 136 M. J. Báguerra Cervellera, La Tuberculosis y su História, Barcelona, 1992.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? ou a Madeira, o que realmente aconteceu. Outras ilhas assumiram um lugar proeminente no traçado das rotas. É o caso de S. Tomé, para a área de navegação do golfo da Guiné e de Santa Helena, para as caravelas da rota do Cabo. Também a projeção dos arquipélagos de S. Tomé e Cabo Verde sobre os espaços vizinhos da costa africana levou a coroa a criar duas feitorias (Santiago e S. Tomé) com o objetivo de controlar todas as transações comerciais da costa africana. No Atlântico sul, as principais escalas das rotas do Índico assentavam nos portos das ilhas de Santiago, Santa Helena e Ascensão onde as armadas se reabasteciam de água, lenha, mantimentos ou procediam a ligeiras reparações. A par disso releva-se, ainda, a de Santa Helena como escala de reagrupamento das frotas vindas da Índia depois de ultrapassado o cabo, isto é, missão idêntica à dos Açores, no final da travessia oceânica. A função da ilha de Santiago como escala do mar oceano foi efémera. A partir da década de trinta do século XVI, as escalas são menos frequentes. O mar era já conhecido e as embarcações de maior calado permitiam viagens mais prolongadas. Apenas os náufragos dos temporais aí aparecem à procura de refúgio. O século dezanove foi marcado por uma mudança total no sistema de rotas do Atlântico. Os progressos no desenvolvimento da máquina a vapor fizeram com que se elaborasse um novo plano de portos de escala, capazes de servirem de apoio à navegação como fornecedores dos produtos, em troca e do carvão para a laboração das máquinas. Nos Açores, o porto de Angra cedeu o lugar aos da Horta e Ponta Delgada, enquanto, em Cabo Verde, a ilha de Santiago foi substituída pela de S. Vicente, lugar que disputava com as Canárias. Entretanto, o Funchal viu reforçada a posição pela dupla oferta como porto carvoeiro e do vinho, atraindo inúmeras embarcações inglesas e americanas. A par disso, a posição privilegiada de que os ingleses gozavam levou a que se servissem do porto como base para as atividades de corso contra os franceses e castelhanos. Esta nova aposta no sector de serviços de apoio à navegação comercial e de passageiros vai depender de uma outra política, a dos portos francos, que apenas o arquipélago das Canárias conseguiu levar por diante. As ilhas foram, no século XVIII, um centro chave das transformações sociopolíticas então operadas, de ambos os lados do oceano, fruto da forte presença da comunidade inglesa. Esta vinculação ao império britânico é bastante evidente no quotidiano e devir histórico, nos séculos XVIII e XIX137. A Madeira, no decurso do século XVIII, firmou a sua vocação atlântica, contribuindo para isso o facto de os ingleses não dispensarem o porto do Funchal e o vinho na sua estratégia colonial. As atas de navegação (1660, 1665), corroboradas pelos tratados de amizade, nomeadamente o de Methuen (1703)138, foram os meios que abriram o caminho para que a Madeira entrasse na área de influência do mundo inglês139. Aos poucos, esta comunidade ganhou uma posição de respeito que, por vezes, se tornava incomodativa140. A presença e importância da feitoria inglesa, no decurso do século XVIII, é uma realidade insofismável. A presença de armadas inglesas no Funchal era constante e o relacionamento com as autoridades locais amistoso, sendo recebidas pelo Governador com toda a hospitalidade. Destas relevam-se as de 1799 e 1805, compostas, respetivamente de 108 e 112 embarcações141. Para além disto, era assídua a presença de uma esquadra inglesa a patrulhar o mar madeirense, sendo a de 1780 comandada por Jonhstone142. A ilha de Santa Catarina do litoral sul do Brasil funcionou para os portugueses, a partir de finais do século XVII, como uma fortaleza de apoio e defesa à navegação rumo ao Rio da Prata. Ao mesmo tempo, revestiu-se 137 António Ribeiro Marques da Silva. Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900), Lisboa, 1994, N. González Lemus, Viajeros Victorianos en Canarias, Las Palmas, 1998. 138 Journal of a visit to Madeira and Portugal (1853-1954), Funchal, 1970. Todavia, a primeira viajante na ilha foi Maria Riddel que em 1788 visitou a ilha durante 11 dias: A Voyage to The Madeira..., Edinburgh, 1792. 139 Teneriffe and its Six Satellites (1887). 140 Para a Madeira, um dos mais antigos guias que se conhece é anónimo[6], seguindo-se os de Robert White[Madeira its Climate and Scenery containing Medical and General Information for Invalids and Visitors; a Tour of the Island, Londres, 1825], E. V. Harcourt[A Sketch of Madeira Containing Information for the Traveller or Invalid Visitor, Londres, 1851.], J. Y. Johnson[Madeira its Climate and Scenery. A Handbook for Invalids and other Visitors, Edinburg, 2ed., 1857, 3ªed., 1860] e E. M. Taylor[Madeira its Scenery and How to See it with Letters of a Year’s Residence and Lists of the Trees, Flowers, Ferns, and Seaweeds, Londres, 1ed., 1882, 2 ed., 1889.]. 141 Madeira and the Canary Islands. 142 Madeira Its Climate and Scenery. A Handbook for Invalid and Other Visitors, Edimburgo, 1851.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? de um papel fundamental na penetração e afirmação da soberania portuguesa no Sul. Esta posição favoreceu frequentes contactos com outros portos do litoral brasileiro, como Santos, Baía e Recife143. A partir de meados do século XIX, a Madeira e as Canárias especializam-se como portos de escala de navios de passageiros, com especial destaque para os ingleses. Para isso contribuiu a tradicional presença britânica e a afirmação da ilha com estância turística. Nos Açores, assiste-se, no decurso do século XVII, a uma clara mudança dos espaços portuários de dimensão intercontinental. A Horta, pela posição charneira no grupo central e pelo destaque que assumiu no apoio à baleação dos americanos, acabou por ser o porto oceânico de apoio às pescarias, ao comércio americano e fornecimento de carvão, retirando importância ao de Angra. A posição foi reforçada, na segunda metade do século XIX, com a amarração dos cabos submarinos. Por outro lado, o centro económico do arquipélago situava-se na ilha de S. Miguel, o que implicava a valorização do porto de mar. Em Cabo Verde, ocorreram idênticas mudanças que levaram à desvalorização de Santiago, em favor de S. Vicente. O porto oceânico transformou-se num oásis oceânico das embarcações conduzidas a vapor que aí demandavam à procura do necessário abastecimento de carvão e um eixo de amarração de cabos submarinos. O processo foi evidente a partir 1838, com a criação da vila, nas proximidades do Porto Grande, e a instalação do primeiro depósito de carvão pelo cônsul inglês John Rendall. A situação muda a partir de 1883, pois a agressividade espanhola através dos portos francos de Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife associada à modernização do porto francês de Dakar conduziram à desvalorização dos portos portugueses nas ilhas. Já a presente centúria atribui uma dimensão distinta às ilhas. Assim, o jogo de interesses entre o continente europeu e americano transformou algumas em peças chave da hegemonia económica. Daqui resultou a disputa entre Alemanha e Inglaterra por conseguir trazê-las à sua esfera de influência. A política dos sanatórios foi o subterfúgio usado pelos alemães para iludir as pretensões expansionistas no Atlântico. Na base disto, está o conflito gerado pela questão dos sanatórios na Madeira, que teve, como instigador, a Inglaterra144. Aqui, mais uma vez, a Inglaterra usufruiu de uma posição favorável, ao reivindicar a tradição histórica da aliança145. A perceção da importância das ilhas na afirmação da hegemonia marítima britânica levou Thomas Ashe (1813)146 a reivindicar, para os Açores, a sua transformação num protetorado britânico. Nos anos vinte, os vapores começaram a ceder o lugar às “máquinas voadoras”. A aviação civil foi conquistando o mercado de transporte de passageiros. Mesmo assim, as ilhas continuaram a manter o papel de apoio às rotas transatlânticas. Nos Açores, tivemos a ilha de Santa Maria, enquanto em Cabo Verde idêntico papel foi atribuído à ilha do Sal, a partir de 1939147. Até ao aparecimento e vulgarização da telegrafia sem fios, a estratégia de circulação da informação assentava nas ilhas. As ilhas da Madeira, Faial e São Vicente foram de novo motivo de disputa e interesses por ingleses e alemães148. A cidade da Horta rapidamente se transformou num nó de amarração de cabos submarinos que ligavam a Europa, América, África do Sul e Brasil, assinalando-se, em 1926, a existência de quinze cabos149. O mesmo acontecia na ilha de S. Vicente onde foi amarrado o cabo submarino inglês em 1874. 143 Madeira and the Canary islands. A Handbook for Tourists, Liverpool, 1887. 144 Tourist´s Guide to the Island of Madeira, Londres, 1914. 145 Apenas a partir de 1891 temos o Registo de Licenças de Botequins, tabernas, Hoteis, Estalagens, Clubes e Lotaria (1891-1901). Cf. Fátima Freitas Gomes, Hotéis e Hospedarias (1891-1901), in Atlântico, n1.19, 1989, 170-177. 146 De acordo com as informações de J. Driver (Guide to Visitors, Londres, 1850) e C. A. Mourão Pita (Madère, Station Mèdicale Fixe, Paris, 1889). 147 Marquês de Jácome Correia, A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p. 232. 148 W. Cooper, The Invalid’s Guide to Madeira with a Description of Tenerife, Londres, 1840; M Douglas, Grand Canary as a Heatlth Resort for Consummptives and Others, London, 1887; John Whiteford, The Canary Islands as a Winter Resort, Londres, 1890; George Victor Pérez, Orotava as a Health Resort, Londres, 1893. 149 Em 1861 Richard F. Burton (Viajes a las Islas Canarias I. 1861, Puerto de La Cruz, 1999, p. 26) refere que na sua viagem todos os tuberculosos ficaram na Madeira.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? AS ILHAS ATLÂNTICAS E A MADEIRA COMO ESCALAS DA CIÊNCIA EUROPEIA. Desde o século dezoito que a literatura científica e de viagens definiu este conjunto de ilhas como uma unidade de análise. São as Western Islands que encabeçam os títulos das publicações150. Aqui entendia-se quase sempre os Açores, mas muitas vezes associava-se as Canárias, a Madeira e, raramente, Cabo Verde. As ilhas entraram rapidamente no universo da ciência europeia dos séculos XVIII e XIX. As duas centúrias foram momentos de assinaláveis descobertas do mundo com um estudo sistemático da fauna e flora151. As técnicas de classificação das espécies da fauna e flora têm aqui um espaço ideal de trabalho. Algumas coleções foram feitas para deleite dos apreciadores, que figuram em lista que antecede a publicação152. O homem do século XVIII perdeu o medo ao meio circundante e passou a olhá-lo com maior curiosidade e, como dono da criação, estava-lhe atribuída a missão de perscrutar os segredos ocultos. Este impulso justifica o afã científico. A ciência está baseada na observação direta e experimentação. A insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou toda a Europa, mas foram os ingleses que, entre nós, marcaram presença, sendo menor a de franceses e alemães153. Aqui são protagonistas as Canárias e a Madeira. Tudo isto foi resultado da função de escala à navegação e comércio no Atlântico. Se as embarcações de comércio e as expedições militares tinham escala obrigatória, mais razões assistiam às científicas. As ilhas, pelo endemismo que as caracteriza, história geobotânica, permitiram o primeiro ensaio das técnicas de pesquisa. Foram também um meio revelador da incessante busca do conhecimento da Geologia e Botânica. Instituições seculares, como o British Museum, Linean Society, e Kew Gardens, enviaram especialistas para a recolha de espécies botânicas. Os estudos no domínio da geologia, botânica são resultado da presença fortuita ou intencional dos cientistas europeus. Esta moda levou a que as instituições científicas europeias ficassem depositárias das mais importantes coleções de fauna e flora das ilhas: o Museu Britânico, Linnean Society, Kew Gardens, a Universidade de Kiel, Universidade de Cambridge, Museu de História Natural de Paris. E por cá passaram destacados especialistas da época, sendo de realçar John Byron, James Cook, Humbolt, John Forster. Darwin esteve nas Canárias e Açores (1836) e mandou um discípulo à Madeira. No arquipélago açoriano, o cientista mais ilustre terá sido o Príncipe Alberto I do Mónaco que aí aportou em 1885. James Cook escalou a Madeira por duas vezes, em 1768 e 1772, numa réplica da viagem de circum-navegação apenas com interesse científico. Os cientistas que o acompanharam aventuraram-se no interior da ilha à busca das raridades botânicas para a classificação e revelação à comunidade científica. Em 1775, o navegador estava no Faial e, no ano seguinte, em Tenerife. Os Arquipélagos da Madeira e Canárias, devido à posição estratégica na rota que ligava a Europa ao mundo colonial, foram ativos protagonistas nos rumos da Ciência dos séculos XVIII e XIX. Já aos Açores estava reservado o papel de ancoradouro seguro, antes de se avistar a Europa. Foi isto que os catapultou para uma posição privilegiada na história de navegação e comércio do Atlântico. Nas Canárias, a primeira e mais antiga à presença de naturalistas ingleses é de 1697, ano em que James Cuningham esteve em La Palma. O século XVIII anunciou-se com a forte presença dos franceses. O contacto do cientista com o arquipélago açoriano fazia-se quase sempre na rota de regresso de Africa ou América. Para os americanos, as ilhas eram a primeira escala de descoberta do velho mundo. Por outro lado, os Açores despertaram a curiosidade das instituições e cientistas europeus, sobretudo para estudar os aspetos geológicos, nomeadamente os fenómenos vulcânicos. Mesmo assim, o volume de estudos não atingiu a dimensão dos referentes à Madeira e Canárias, pelo que Maurício Senbert, em 1838, foi levado a afirmar que a “flora destas ilhas [fora]por tanto tempo despre150 Victor Morales Lezcano, Los Ingleses en Canarias. Libro de Viajes e Historias de Vida, Las Palmas de Gran Canaria, 1986, p. 124. 151 Mary L. Pratt, Imperial Eye.Travel Writing and Transculturation, N.Y., 1993; STAFFORD, B. M., Voyage into Substance - Science, Nature and the Illustrated Travel Account 1770-1840, Cambridge, Mass., 1984, pp. 565-634. 152 Ricardo Manuel Madruga da Costa, Açores, Western Islands. Um Contributo para o Estudo do Turismo nos Açores, Horta, 1989. 153 Cf. “Algumas das Figuras Ilustres Estrangeiras que Visitaram a Madeira”, in Revista Portuguesa, 72, 1953; A. Lopes de Oliveira, Arquipélago da Madeira. Epopeia Humana, Braga, 1969, pp. 132-134.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? sada”, o que levou a dedicar-se ao estudo154. As ilhas são o principal alvo de atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos. A situação é descrita por Alfredo Herrera Piqué como “a escala científica do Atlântico”155. Os ingleses foram os primeiros a descobrir as qualidades do clima e paisagem e a divulgá-los junto dos compatriotas. É esta a dimensão quase esquecida como motivo despertador da ciência e cultura europeia desde o século XVIII que importa realçar A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental adquiriu cada vez mais importância, sobretudo o seu interesse medicinal, no século XVII156. Em qualquer dos momentos assinalados, as ilhas cumpriram o papel de ponte e espaço de adaptação da flora colonial. Os jardins de aclimatação foram a moda que, na Madeira e Açores, tiveram por palco as amplas e paradisíacas quintas. A Inglaterra do século XIX popularizou os jardins e as flores157. A ambiência chegou à ilha através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. As ilhas exerceram um fascínio especial em todos os visitantes e nunca perderam a imortal característica de jardins à beira do oceano. As ilhas foram jardins e como tal continuam a ser o encanto dos que a procuram, sejam eles turistas ou cientistas.
9:- A MADEIRA, O TURISMO E O LAZER NO MUNDO GLOBAL. No século XVIII, as ilhas assumiram um novo papel no mundo europeu. Assim, de espaços económicos passaram a contribuir para alívio e cura de doenças. O mundo rural perdeu importância em favor da área em torno do Funchal, que se transforma num hospital para a cura da tísica pulmonar ou de quarentena, na passagem do calor tórrido das colónias, para os dias frios e nebulosos de Londres. A função catapultou as ilhas da Madeira e Canárias para uma afirmação evidente. O debate das potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou um grupo numeroso de estudos e gerou a escala frequente de estudiosos158. As estâncias de cura surgiram primeiro na bacia mediterrânica e depois expandiram-se, no século XVIII, até à Madeira e só na centúria seguinte chegaram às Canárias159. Daqui resultou uma prolixa literatura de viagens fonte fundamental para o conhecimento da sociedade oitocentista das ilhas. Ao historiador, está atribuída a tarefa de interpretar estas impressões160. Aqui são merecedoras de destaque duas mulheres: Isabella de França161 para a Madeira e Olívia Stone,162 para as Canárias. A presença de viajantes e “invalids” nas ilhas conduziu à necessidade de criação de infraestruturas de apoio. Se num primeiro momento, estes se socorriam da hospitalidade dos insulares, num segundo, a cada vez mais maior afluência de forasteiros obrigou à montagem de uma estrutura hoteleira de apoio. Aos primeiros, as portas eram franqueadas por carta de recomendação. A isto juntou-se a publicidade através da literatura de viagens e guias. Os guias forneciam as informações indispensáveis para a instalação no Funchal e viagem no interior da ilha, acompanhados de breves apontamentos sobre a História, costumes, fauna e 154 “Flora Azorica”, in Archivo dos Açores, XIV (1983), pp. 326-339. 155 Las Islas Canarias, Escala Científica en el Atlántico Viajeros y Naturalistas en el siglo XVIII, Madrid, 1987. 156 K. Thomas, Man and the Natural World. Changing Attitudes in England. 1500-1800, Oxford, 1983, p. 27, 65-67. 157 Cf. K. Thomas, ibidem, pp. 207-209, 210-260. 158 James Clark, The Sanative Influence of Climate, Londres, 1840; W. Huggard, A Handbook of Climatic Treatment, Londres, 1906; Nicolás González Lemus, Las Islas de la Ilusión. Británicos en Tenerife 1850-1900, Las Palmas, 1995; Zerolo, Tomás, Climatoterapia de la Tuberculosis Pulmonar en la Península Española, Islas Baleares Y Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1889. 159 M. J. Báguerra Cervellera, La Tuberculosis y su História, Barcelona, 1992. 160 António Ribeiro Marques da Silva. Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900), Lisboa, 1994, N. González Lemus, Viajeros Victorianos en Canarias, Las Palmas, 1998. 161 Journal of a visit to Madeira and Portugal (1853-1954), Funchal, 1970. Todavia, a primeira viajante na ilha foi Maria Riddel que em 1788 visitou a ilha durante 11 dias: A Voyage to The Madeira..., Edinburgh, 1792. 162 Teneriffe and its Six Satellites (1887).
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? flora. O primeiro guia de conjunto dos arquipélagos é de William W. Cooper163 e A Samler Brown164. O último tornou-se num best-seller, atingindo 14 edições. Tenha-se em conta os destinatários dos guias. Assim, em 1851, James Yate Johnson e Robert White165 fazem apelo aos “invalid and other visitors”, enquanto, em 1887, Harold Lee166 dirige-se aos “tourists” e, em 1914, temos o primeiro guia turístico de C. A. Power167. Este deverá marcar nas ilhas o fim do chamado turismo terapêutico e o início do atual. Não temos dados seguros quanto ao desenvolvimento da hotelaria nas ilhas, pois apenas dispomos de informação avulsa168. Os hotéis são referenciados em meados do século XIX mas, desde os inícios do século XV que as cidades portuárias de ativo movimento de forasteiro deveriam possuir estalagens. A documentação oficial faz eco disso, como se poderá provar pelas posturas e atas da vereação dos municípios servidos de portos. No caso da Madeira, assinala-se, em 1850, a existência de dois hotéis (the London Hotel e Yate’s Hotel Family) a que se juntaram outros dez em 1889169. Em princípios do século XX, a capacidade hoteleira havia aumentado, sendo doze os hotéis em funcionamento que poderiam hospedar cerca de oitocentos visitantes170. As Canárias, nomeadamente Tenerife e Furteventura, juntaram-se à Madeira no turismo terapêutico, desde meados do século XIX171. Note-se que, em 1865, Nicolás Benitez de Lugo construiu, em La Orotava (Tenerife) , “un estabelecimiento para extranjeros enfermos”. Deverá ter sido nesta época que Tenerife se estreou como health resort, concorrendo com a Madeira172. O Vale de La Orotava, através do seu porto (hoje Puerto de La Cruz), afirma-se como a principal estância. Isto provocou o desenvolvimento da indústria hoteleira que, depois, alastrou à cidade de Santa Cruz de Tenerife173. Vários fatores permitiram a rápida ascensão de Tenerife e Gran Canária na segunda metade do século XIX, que assumiram rapidamente a dianteira face à Madeira. A afirmação de Santa Cruz de Tenerife como porto abastecedor de carvão, a declaração dos portos francos, em 1852, fizeram atrair para aqui todas as linhas francesas e inglesas de navegação e comércio. A aposta no turismo e serviços portuários permitiu a saída da crise económica e uma posição privilegiada face à concorrência da Madeira ou Açores174. Nos Açores, o turismo é mais recente. Bullar (1841) refere a presença de doentes americanos na Horta, o que conduziu ao aparecimento do primeiro hotel conhecido no Faial, em 1842. Em 1860, chegou o primeiro grupo de visitantes norte-americanos, mas só em 1894 eram conhecidos como tourists175. Já na ilha de Santa Catarina, a vocação turística foi descoberta nas duas últimas décadas do século XX. 163 Estampas, Aguarelas e desenhos da Madeira Romântica, Funchal, 1988. 164 Madeira and the Canary Islands. 165 Madeira Its Climate and Scenery. A Handbook for Invalid and Other Visitors, Edimburgo, 1851. 166 Madeira and the Canary islands. A Handbook for Tourists, Liverpool, 1887. 167 Tourist´s Guide to the Island of Madeira, Londres, 1914. 168 Apenas a partir de 1891 temos o Registo de Licenças de Botequins, tabernas, Hoteis, Estalagens, Clubes e Lotaria (1891-1901). Cf. Fátima Freitas Gomes, Hotéis e Hospedarias (1891-1901), in Atlântico, n1.19, 1989, 170-177. 169 De acordo com as informações de J. Driver (Guide to Visitors, Londres, 1850) e C. A. Mourão Pita (Madère, Station Mèdicale Fixe, Paris, 1889). 170 Marquês de Jácome Correia, A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p. 232. 171 W. Cooper, The Invalid’s Guide to Madeira with a Description of Tenerife, Londres, 1840; M Douglas, Grand Canary as a Heatlth Resort for Consummptives and Others, London, 1887; John Whiteford, The Canary Islands as a Winter Resort, Londres, 1890; George Victor Pérez, Orotava as a Health Resort, Londres, 1893. 172 Em 1861 Richard F. Burton (Viajes a las Islas Canarias I. 1861, Puerto de La Cruz, 1999, p. 26) que na sua viagem todos os tuberculosos ficaram na Madeira. 173 A. Hernández Gutiérrez, De la Quinta Roja al Hotel Taoro, Puerto de La Cruz, 1983; IDEM, Cuando los Hoteles eran Palacios, Islas Canarias, 1990; A.Guimera Ravina, EL Hotel Marquesa, Puerto de la Cruz, 1988; IDEM, El Hotel Taoro, 1890-1990.Cien Años de Turismo en Tenerife, Santa Cruz de Tenerife, 1991. 174 Madeirenses e açorianos cedo se aperceberam desta realidade culpando as autoridades de Lisboa. Vide: João Augusto d’Ornellas, A Madeira e as Canárias, Funchal, 1884; João Sauvaire de Vasconcelos, Representação da Câmmara Municipal da Cidade do Funchal ao Governo de S. M. sobre Diversas Medidas Tendentes a Conservar e Arruinar a Navegação de passagem neste Porto dos Paquetes Transatlânticos, Funchal, 1884; Visconde Valle Paraizo, Propostas Apresentadas pela Commissão Nomeada em Assembleia da Associação Commercial do Funchal de 14 de Novembro de 1894 para Estudar as Causas do Desvio da Navegação do Nosso Porto e do Afastamento de Forasteiros, Funchal, 1895; Maria Isabel João, Os Açores no século XIX, Economia, Sociedade e Movimento Autonomista, Lisboa, 1991. 175 Ricardo Manuel Madruga da Costa, Açores, Western Islands. Um Contributo para o Estudo do Turismo nos Açores, Horta, 1989.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização?
7:-Lopo Homem, Planisfério de 1554. Instituto e Museo di Storia della Scienza, Florença.
A NONA ILHA COMO A EXPRESSÃO ATUAL DA MADEIRA GLOBAL.
O
s descobrimentos europeus, a partir do século XV, não podem ser vistos apenas na perspetiva do encontro de novas terras, novas gentes e culturas, devendo associar-se-lhe a migração de homens, plantas, utensílios, conhecimentos e doenças, em vários sentidos. O movimento do Homem arrastou consigo o universo envolvente da fauna, flora, tecnologia, usos e tradições que tiveram um impacto evidente nos novos e velhos espaços. Em termos atuais, foi o começo do processo de globalização. Neste quadro, o Atlântico define-se, a partir do século XV, como um novo espaço para a afirmação dos impérios europeus, onde as ilhas assumem a função de ponte no cruzamento de rotas, circulação de pessoas e produtos. A construção da sociedade atlântica, a partir do século XV, resultou do movimento de populações provocado pela expansão europeia. As ilhas que, num primeiro momento, haviam sido as principais recetoras, assumem, de imediato, a função de centros difusores de mão-de-obra especializada para a expansão da cultura e tecnologia dos novos produtos da economia agrícola atlântica. Elas foram espaços de permanente movimento de populações, situação que funcionou como válvula de escape para as limitadas possibilidades do espaço, face ao crescendo da população. A situação charneira do arquipélago madeirense no traçado das rotas oceânicas dos portugueses em direção à costa africana e o facto de ter sido o primeiro espaço de ocupação e valorização económica portuguesa condicionaram a primeira leva de europeus. Os madeirenses estiveram, então, presentes em todos os espaços onde os portugueses chegaram, por força da exploração agrícola, atividade comercial e das armas para defesa e manutenção dos espaços. Também no século quinze, a Madeira evidencia-se como um centro de divergência de gentes à procura do novo mundo. Os monarcas definiram políticas de restrição no movimento migratório, em favor da fixação do colono à terra, como forma de evitar o despovoamento das áreas já ocupadas. Para o homem do século XV, o apelo das riquezas de fácil resgate africano ou da agricultura americana eram mais convincentes, tendo CADERNOS DE DIVULGAÇÃO DO CEHA
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? a favor a disponibilidade dos veleiros que escalavam, frequentemente, os portos insulares. A emigração era inevitável. Perante a pressão dos presos e vadios, a sociedade atuava no sentido de encontrar fora do espaço da ilha uma válvula de escape, através das múltiplas levas de colonos e soldados para o Brasil ou Angola. A partir do século XVII, a coroa intervém, de forma clara, no sentido de orientar a mobilidade dos madeirenses, obrigando-os a servir como soldados na Flandres, no Brasil, ou em guerra de fronteiras do território português, Angola e Goa. Todo o movimento de migrações é resultado de um conjunto variado de fatores que, em diversos momentos, condicionaram a maior ou menor disponibilidade para as chegadas ou partidas. Nem sempre é o mesmo princípio que reúne todos aqueles que se aproximam do cais da partida. Há os que são obrigados a partir, por força da violência, expressa na intolerância política, religiosa e no desrespeito pela condição humana. São os que partem de forma forçada, na condição de escravo, ou de quase escravo, como foi o caso da emigração oitocentista conhecida como escravatura branca, porque foram obrigados a entregar o seu destino nas mãos de outros. A estes, juntam-se os perseguidos pelas suas opções religiosas e políticas. Por esse motivo, a diáspora judaica marcou, de forma clara, o processo dos descobrimentos portugueses, nos séculos XVI e XVII, e tivemos a situação particular, na década de quarenta do século XIX, de perseguição, na Madeira, aos seguidores do pastor protestante, Robert Kalley. Mas, depois, com o advento da Revolução Francesa, surgiram novos mecanismos de afrontamento marcados pela vida política. À força das convicções políticas, junta-se a violência da palavra e a intolerância do convívio entre adversários. Esta última manifesta-se através da prepotência dos regimes políticos que procura apagar toda e qualquer reação ou obstáculo, através da perseguição e deportação dos adversários políticos. Há os que partem de livre vontade, movidos pelo espírito de aventura, a possibilidade de encontrar novas e melhores condições de vida. O sonho que comanda a partida, muitas vezes se desfaz, mesmo aí, à saída do cais, com um naufrágio, um ataque de piratas ou qualquer outro acidente e nem todos chegam ao destino e conseguem lograr todas assuas expetativas. Todos eles partiram cheios de esperanças, mas nem todos chegaram a bom porto e, para muitos, a terra de destino foi tão madrasta como aquela que os viu nascer. Outros entregaram a sua vida pela possibilidade de títulos e honras, partindo ao encontro do inimigo na frente de batalha, no Norte de África ou no Índico. Não podemos esquecer as propostas aliciadoras dos locais de destino ou resultantes da política régia de ocupação e povoamento dos novos espaços. A própria coroa promoveu este movimento. Primeiro, foram os técnicos experimentados na cultura dos canaviais e fabrico do açúcar que partiram da Madeira ao encontro de novos canaviais e engenhos nas ilhas e no litoral brasileiro. Depois, a necessidade de firmar de facto a soberania, através de uma ocupação do território incentivou a saída de casais, que viriam a ser a nossa garantia de posse das terras brasileiras ou angolanas. Por força da intervenção da coroa, houve também o movimento de funcionários régios, governadores, religiosos e militares. Tudo isto gerava um rodopio permanente de homens ou de famílias. A todos estes aventureiros, perseguidos, deportados e deslocados, junta-se um grupo em permanente mudança, agentes e fatores do próprio movimento entre os locais de partida e de destino: são marinheiros que têm o mar por casa e que, por isso, se encontram onde haja o um porto; são mercadores e seus agentes que sustentam este movimento, através da circulação de mercadorias e fazem disso a sua principal motivação, para aguardar nos locais ou para partir em busca de destinos mais prósperos. Um cais ou um porto insular é sempre um local de partidas e chegadas. Este movimento é de todos os tempos. Os que partem poderão cruzar-se com os que chegam, cruzando-se, também os motivos que os levam ou que os trazem. Quase sempre, porém, os dois movimentos acontecem em momentos distintos pois, quando há partidas significa que as perspetivas são pouco animadoras para propiciar as chegadas. A conjuntura que alimenta as chegadas é distinta, alenta o ânimo e as esperanças para todos. Por vezes, estes imigrantes cruzam-se no mesmo cais de chegada com os que retornam, de forma definitiva ou temporária. Aqui, as posturas são,
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? muitas vezes, semelhantes, uma vez que nem todos os que regressam assumem uma posição de afirmação social manifesta do sucesso. Poderão, uma vez mais, ser confundidos com imigrantes sofrendo as mesmas humilhações e dificuldades de integração num meio que continua a rejeitá-los. São estas vivências complexas que dominam o movimento das migrações e que, na sociedade do século XXI, que se quer intercultural nos devem levar a refletir sobre a postura de cada um de nós relativamente a estes protagonistas das chegadas e partidas. A ilha da Madeira, pelo simples facto de ter sido o primeiro território de ocupação portuguesa no espaço atlântico, acabou por estabelecer essa relação direta com os novos territórios insulares ou continentais, porque se estabeleceu um modelo de transplantação das estruturas e realidades no âmbito económico, social, cultural, religioso e institucional. Não devemos, ainda, esquecer que a ilha, como importante espaço portuário do mundo atlântico para as ligações entre os portos e mercados europeus e os novos fora da Europa, no sentido do sul, acabaram por abrir a porta de novos destinos e descobertas aos naturais da ilha, tolhidos pela ambição ou pela pobreza. As rotas oceânicas com escala no Funchal, os destinos da expansão e da navegação europeias resultam numa grande capacidade do ilhéu para a mobilidade, aqui entendida como um movimento que ultrapassa aquilo que tradicionalmente se chama “emigração”. Na ilha, há uma porta sempre aberta que, nem as regras, nem as leis repressivas ou limitativas conseguem atenuar ou fechar. O ilhéu tem isso muito claro e sabe que isto resulta do facto de o espaço ser limitado e incapaz de suprir as carências de todos. Desta forma, a mobilidade é um estigma e um prémio que acompanha a condição de ilhéu. São múltiplos os discursos em torno destes conceitos que materializam e justificam estas mobilidades . Não nos cumpre teorizar de novo, mas apenas afirmar como Clifford J. JANSEN177 que “A migração é um problema demográfico: influencia a dimensão das populações na origem e no destino; é um problema económico: muitas mudanças na população são devidas a desequilíbrios económicos entre diferentes áreas; pode ser um problema político: tal é particularmente verdade nas migrações internacionais, onde restrições e condicionantes são aplicadas àqueles que pretendem atravessar uma fronteira política; envolve a psicologia social, no sentido em que o migrante está envolvido num processo de tomada de decisão antes da partida, e porque a sua personalidade pode desempenhar um papel importante no sucesso com que se integra na sociedade de acolhimento; e é também um problema sociológico, uma vez que a estrutura social e o sistema cultural, tanto dos lugares de origem como de destino, são afectados pela migração e, em contrapartida, afectam o migrante.” 176
Para nós, a “NONA ILHA” traduz a história da mobilidade dos naturais e residentes no arquipélago, a partir do século XV. Consideramos, pois, sete ilhas físicas, com Madeira (1 ilha), Porto Santo (1 ilha), Desertas (3 ilhas: Deserta Grande, Ilhéu Chão e Bugio), Selvagens (2 ilhas: Selvagem Grande e Selvagem Pequena) e outras duas aquela ilha/poio que cada ilhéu transportou e ainda carrega consigo, aos ombros, e outra grande ilha que todos os ilhéus formaram no mundo por onde se expandiram. A “nona ilha” trata-se, deste modo, da expressão da diáspora madeirense no mundo. A “numerologia cabalística” expressa de forma plena o significado universal desta postura da mobilidade 176 PICHÉ, Victor (dir.). Les théories de la migration, París: INED, 2013; Barretto, M., 2009. Interfaces entre turismo e migrações: uma abordagem epistemológica. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7 (1), 1-11; PEIXOTO, João, As Migrações dos Quadros Altamente Qualificados em Portugal – Fluxos Migratórios Inter-Regionais e Internacionais e Mobilidade Intra-Organizacional, Dissertação de doutoramento, Lisboa, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade Técnica de Lisboa, 1993; SORRE, Max, 1955, Les migrations des peuples. Essai sur la mobilité géographique. Flammarion, Paris. 177 1969, “Some sociological aspects of migration”, in J.A. Jackson (Ed.), Migration, Cambridge, Cambridge University Press, p. 60, citado por Peixoto, J. (2004). As teorias explicativas das migrações: teorias micro e macro-sociológicas. SOCIUS–Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações, Instituto Superior de Economia e Gestão Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. Disponível em: http://pascal.iseg.ulisboa.pt/~socius/ publicacoes/wp/wp200411.pdf.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? humana dos madeirenses, uma vez que o número nove identifica a universalidade e a ideia de que o mundo é “um lugar melhor para se viver”178. E, se olharmos a mobilidade dos madeirenses, em quase mais de seiscentos anos, veremos que fazem jus a esta realidade, onde o ilhéu instala, de forma global uma ilha/poio em todos os recantos do mundo. Esta universalidade do madeirense, que abraça o mundo e o pretende reter no seu poio é aquilo que pretendemos afirmar com a “nona ilha”, que em propriedade é a busca e a afirmação da aldeia global com matriz madeirense.
A MADEIRA COMO UMA ALDEIA GLOBAL. O madeirense, aquele que mantém orgulho em sê-lo, nunca renega as suas origens e está sempre disponível para o retorno, quando as condições o permitem. A imagem da ilha e do seu quotidiano mantém-se presente e atuante em todos os destinos de acolhimento, sejam na Jamaica, Demerara, Hawaii ou Moçâmedes. As presenças do culto à Nossa Senhora do Monte, as tradições culinárias da carne de vinho e alhos, o milho frito e as maçarocas são uma evidência que marcam e denunciam a presença do madeirense no mundo. É claro que, ao orgulho, à exaltação dos valores que corporizam a nossa madeirensidade, deveremos contrapor o preconceito, a pequenez daqueles que fizeram do seu nascimento na ilha, um mero episódio, muitas vezes, negativo. São aqueles que renegam e escondem a sua origem debaixo de um pretenso universalismo, esquecendo-se que ser madeirense é ser universal, porque a ilha se abriu ao mundo a partir da Europa e a todos deu oportunidade de abertura de caminhos para novas realidades. O Madeirense é universal, quer pela sua abertura ao novo e ao avançado, quer pela sua disponibilidade e adaptação e outros mundos. É por isso que tem mundo inteiro para morrer. Há uma ideia e algumas evidências da tradição cultural mediterrânea cristã que aponta para a ilha uma relação com o mundo primordial, com o paraíso: A ilha da Madeira, (...) por ser tal e parecer nele um único horto terreal tão deleitoso, em tão bom clima situada ou criada, disse um estrangeiro que parecia que, quando Deus descera do Céu, a primeira terra em que pusera seus santos pés fora ela179. Esta foi uma ilha abençoada que espalhou sorte e fortuna a todos e que parece ter aberto as portas a outros tesouros terrenos ao mundo europeu. A nossa história e a dos outros insulares fala de momentos de glória, de plena afirmação e protagonismo em diversos momentos, uma página ainda não devidamente revelada e afirmada, mas fala, também, de situações de dificuldades, pautadas pela violência dos assaltos de corsários e da guerra, do abandono e esquecimento de senhores, monarcas e políticos, de miséria, fome e espoliação da riqueza. Em todos os casos, porém, temos sabido responder de forma pertinaz, encontrar forças e meios para nos levantarmos e seguir em frente na construção da ilha e do mundo madeirense, um pouco por todo o planeta. Ir ao encontro desta História e protagonismo é uma forma de homenagear aqueles que nos antecederam no usufruto desta ilha, mas também o ponto de partida para a descoberta de novas fontes de energia, para outros combates de afirmação e continuidade da madeirensidade. A luz da esperança num futuro próximo melhor, assim como a força para os atuais e futuros desafios está presente no discurso da História e tem que ser afirmada e extremada, através do nosso orgulho de ser madeirenses. Pegando no texto de Eduardo Nunes, Porque me orgulho de ser Madeirense180, partimos à pro178 Cf. Fatith Javane e Dusty Bunker, A numerologia e o triângulo divino, S. Paulo, editora Pensamento ltda, pp. 21, 91, 145. 179 1590 (?), Doutor Gaspar Frutuoso, Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979, pp. 99-100. 180 O volume foi publicado em 1951 com o intuito de ser, segundo o seu autor, “ uma mensagem de exaltação à Madeira, que eu desejaria levar aos quatro cantos do mundo, como se manda um postal num sentido de presença ou um abraço no simbolismo duma saudade.”. Tal como refere as suas musas inspiradoras são os volumes de conde Afonso Celso, Porque me ufano do meu país (1900), para o Brasil e de Albino Forjaz Sampaio, Porque me Orgulho de Ser Português (1926), para Portugal. Atente-se que esta forma de vanglória, ufanismo tem as suas origens no jingoism, que ganha
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? cura daquilo que nos ufana e afirma, no mundo de hoje e na História, continuando a prosseguir novos protagonismos e plena afirmação no presente e futuro. Porque queremos insistir e afirmar esta epopeia humana e insular181 e dar-lhe continuidade, aqui estamos a sinalizar e relevar o protagonismo da ilha e dos madeirenses, trazendo um pouco do nosso orgulho em ter nascido, em ser e continuar a ser madeirenses. Que isto seja apenas o alento para uma partida rumo a novos desafios, uma forma de nos voltamos a irmanar com os espaços envolventes dos madeirenses no mundo. Ter e sentir orgulho em ser madeirense é saber posicionar, no lugar correto em relação aos outros, uma adequada afirmação. Com os navegadores quatrocentistas e quinhentistas, partimos à descoberta deste mundo novo, que equaciona as ilhas e a Madeira de uma forma distinta, que olha e reflete sobre as ilhas de dentro e não de fora. Se insistirmos nesta postura, vamos constatar que o processo de mundialização182 que partiu da Europa, no século XV, tem um suporte relevante nas ilhas, primeiro as do Atlântico e, depois, as demais. E não devemos esquecer que o século atual é o das ilhas, aquele em que estas se vão afirmar cada vez mais, pela sua posição estratégica e pelo seu espaço de mar. O primeiro cais de ancoragem foi a Madeira. É certo que, desde o século XIV, são insistentes as expedições e disputas pela posse das Canárias, assim como as primeiras expedições de ocupação, nos alvores da centúria seguinte, mas tardou muito até que se conseguisse pacificar (?) a população aborígene e consolidar a ocupação efetiva do arquipélago. A Madeira estava próxima e tinha múltiplas vantagens: era a abundância de arvoredo e de água; era o facto de não estar, naquele momento, ocupada por qualquer população. As portas do paraíso abriram-se e permitiram que o arquipélago fosse o primeiro passo efetivo na concretização do plano europeu de conquista do mundo, o primeiro passo conducente aos desafios da globalização, afirmados na sua plenitude, séculos depois. Desta forma, a Madeira é tanto o primeiro exemplo de uma realização de sucesso como a referência e o modelo para posteriores iniciativas. Daí podermos afirmar, com alguma propriedade, que a Madeira foi o começo do processo dos descobrimentos europeus, quanto da mundialização que eles trouxeram. A condição da ilha da Madeira como espaço de sucesso dos europeus fora da Europa foi muito importante, em termos de afirmação, nos séculos XV e XVI, assim como da sua projeção aos novos espaços, entretanto revelados aos europeus e alvo de ocupação e exploração económica. Servimos de modelo de sociedade, das novas estruturas institucionais geradas com as capitanias, das formas de organização e aproveitamento do espaço produtivo e, ainda, das formas de sociabilidade, como a escravatura e formas da sua expressão institucional e espacial, que serviram de base a uma economia de exploração intensiva, assente em produtos de exportação de grande rentabilidade económica como o açúcar. A afirmação da economia açucareira no mundo começou na Madeira e foi o arquipélago, o princípio das mudanças necessárias para que esta cultura e produto assumissem a dimensão que tiveram, a partir expressão em 1878 na Inglaterra e em 1893 nos Estados Unidos da América; cf. The genesis of jingoism, The Advocate of Peace (1894-1920) , Vol. 59, No. 4 (APRIL 1897), pp. 88-91. Disponível na internet em: URL: http://www.jstor.org/stable/25751029. Consulta em 11-06-2013;Hobson, J. A. (John Atkinson), 1901, War; South African War, 1899-1902; Great Britain – Politics and government 1837-1901; Chauvinism and jingoism, London, G. Richards. Disponível na internet em: URL: http://ia600409.us.archive.org/21/items/psychologyofjing00hobsuoft/psychologyofjing00hobsuoft.pdf 181 A ideia de epopeia domina a nossa História nacional mas também regional. A ideia associa-se quase sempre ao poema Os Lusíadas (1572) de Luiz Vaz de Camões. Também tivemos outros poemas de exaltação da ilha que seguira a esteira de Camões: Manuel Thomas, 1635, Insulana; Francisco Paula de Medina e Vasconcelos, 1806, Zargueida. A propósito queremos ainda recordar apenas alguns títulos, escritos por não madeirenses, e por isso mesmo muito significativos a este respeito: Joaquim Vieira Natividade, 1953, MADEIRA. A Epopeia Rural [Conferência realizada a Associação Industrial Portuense, a convite do Centro Madeirenses do Porto, na noite de 22 de Junho de 1953), Funchal; Maria Lamas, 1956, Arquipélago da Madeira – Maravilha Atlântica; A. Lopes de Oliveira, 1969, Arquipélago da Madeira. Epopeia Humana, Braga. 182 Sobre esta ideia do processo de mundialização que parece ser uma invenção do Homem do século XX atente-se nas produções e reflexões dos ultimos anos. Cf. HOPKINS, A.G., 2002 Globalization in World History. New York: Norton; A Quick Guide to the World History of Globalization, University of Pennsylvania. Disponível na internet em: http://www.sas.upenn.edu/~dludden/global1.htm; BORDO, Michael D., Alan M. Taylor and Jeffrey G. Williamson, editors, 2003, Globalization in Historical Perspective. Conference held May 3-6, 2001. University of Chicago Press. Disponível na internet em: http://papers.nber.org/books/bord03-1; RODRIGUES, Jorge Nascimento, Devezas, Tessaleno, 2009, Portugal Pioneiro da Globalização. A Herança das Descobertas, Lisboa, Centro Atlãntico lda; 2013, The History of Globalization, Yale Global Online, Disponível na internet em: http://yaleglobal.yale.edu/about/history.jsp.
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? da segunda metade do século XV. Entre meados do século XV e princípios da centúria seguinte, apareceram inventos significativos, por mãos hábeis de madeirenses, que permitiram que a cultura da cana sacarina se afirmasse e o consumo do açúcar começasse a vulgarizar-se. Há uma revolução tecnológica e alimentar que dá os primeiros passos na Madeira e que vai permitir essa hegemonia do açúcar no espaço atlântico e no mercado europeu. Apenas sinalizamos o efeito multiplicador neste processo do aparecimento do engenho de cilindros para a moenda da cana e do sistema acoplado de caldeiras, conhecido como trem jamaicano, para o fabrico do açúcar, como os mais relevantes avanços que acontecem na Madeira, por mãos de madeirenses e que estão na origem desta revolução tecnológica. Criaram-se condições para uma agricultura em larga escala e de produção intensiva. Descobriu-se um outro ouro que animou as trocas europeias e que financiou as descobertas e encontros de novos tesouros e do verdadeiro ouro. Esta situação particular da Madeira, associada à sua posição destacada no processo de afirmação dos impérios europeus, nos séculos seguintes, transformou a Madeira numa placa giratória fundamental para outras aventuras. A variedade de plantas encontradas foi marcando presença no quotidiano, na economia e na alimentação e inserindo outras mudanças. Há uma alteração significativa na dieta alimentar que tem a Madeira como uma ponte de comunicação/adaptação aos novos espaços. O cardápio não só foi enriquecido com novos sabores como se universalizou. A Madeira parece ter sido, assim, um dos principais viveiros desta revolução ecológica mundial. Aqui, a História assinala os madeirenses como agentes de múltiplas funções, que se afirmam tanto como descobridores ou guerreiros, na senda da descoberta ou reconhecimento do Novo Mundo, como da defesa das possessões africanas ou das conquistas orientais. Também os encontramos como exímios agricultores, capazes de adaptar o solo a uma exploração agrícola, de adaptar e transformar técnicas e processos produtivos, dirigindo os seus conhecimentos e sabedoria à para a construção das levadas que trouxeram profundas transformações no processo de moenda da cana-de-açúcar e do processo de fabrico do açúcar. Será que este protagonismo, que ao longo dos últimos anos vimos afirmando, tem a merecida relevância na nossa memória e nos anais da História madeirense? Pretendemos, desta forma, redescobrir os madeirenses na ilha e fora dela como interventores presentes e ativos em diversos momentos e espaços da História. Propomo-nos, então, desenvolver os seguintes aspetos: Ilhas de descobridores, de escalas e rotas; da Madeira para o Mundo: homens, instituições e técnicas; o mundo do Madeirense. O sangue da ilha derramado pelo mundo; da ação e riqueza dos Madeirenses; do Mundo e o mar das ilhas a partir da Madeira. A partir da década de sessenta do século XX, foi manifestada maior atenção às ilhas no quadro da História e Cultura europeias. Primeiro, valorizou-se o papel das ilhas no contexto da expansão europeia, como espaços de apoio à navegação oceânica, campos de ensaio de novas culturas ou técnicas, usadas em pleno nas amplas terras que depois se descobriram. A partir daqui, estava dado o mote para o protagonismo do mundo insular na História do Ocidente, a partir do século XV. Aos aspetos históricos, juntaram-se os resultados das investigações da História das Técnicas e das Ciências, acabando por concluir-se por idêntico protagonismo. Os europeus lançaram as culturas de grande demanda, como a cana-de-açúcar, mas foram os insulares que buscaram do seu engenho e arte, para conseguir produzir, em condições apropriadas, os produtos demandados pelas praças europeias. Aqui se adaptaram as técnicas de arroteamento das terras à orografia dos novos espaços, através de algumas soluções engenhosas. Surgiu, então, a nova tecnologia que permitiu a produção do açúcar em maiores quantidades e com melhor qualidade. No âmbito da História da Ciência, é certo e evidente o papel das ilhas, o que levou alguém a chamá-las “escalas científicas” do Atlântico. Para o caso, porém, podemos definir com propriedade que as mesmas foram, sim, laboratórios da ciência, nomeadamente para os séculos XIX e XX. Laboratórios onde se ensaiaram as técnicas de recolha, análise e estudo do mundo animal e vegetal, que depois foram usadas nos locais de
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? destino. Mais uma vez as ilhas, nomeadamente a Madeira e as Canárias, serviram de ponte entre o Velho e o Novo Mundo, fazendo com que os laboratórios da ciência europeia se transferissem das instituições para o campo aberto das ilhas e depois das colónias. Descobrir como incorporar tamanho protagonismo, arrojo e determinação na nossa memória e escrita da História torna-se importante, sobretudo neste momento em que as esperanças começam a esfriar, quanto às possibilidades de um futuro melhor e das novas capacidades para continuar a mudar e vencer as circunstâncias adversas que sempre pautaram a História deste espaço. O passado junta os momentos de dor com os de glórias, de vitórias em batalhas e de afirmação por diversas vias, pelo que não nos podemos deixar vencer pelas dificuldades e situações do presente que nos querem arrastar para rumos distintos daqueles que têm sido aqueles que a nossa História sempre trilhou. Vencemos a batalha da indiferença dos poderes aos múltiplos problemas, por vezes, com o grito do silêncio da emigração, que projetou e ampliou a pequenez do nosso berço e habitação. Quisemos - e continuamos a querer - construir o nosso mundo sobre o abismo, alheios ao perigo, atentos aos inimigos, mas determinados a conseguir fazer da ilha, um Éden construído à medida da nossa felicidade, realização pessoal, profissional e espiritual. É por tudo isso que, herdeiros, ainda que virtuais, dos demais atlantes que nos precederam na construção deste paraíso atlântico, persistimos na nossa luta e reivindicação do que temos direito e nos foi reservado com a criação deste cantinho do Mundo. A partir daqui, abre-se um mundo que queremos descobrir e partilhar com os madeirenses e os demais. Vamos ao encontro de uma ilha que se revela e anexa ao mundo europeu, a partir do século XV e que nos apresenta, entre muitos colonos apegados à terra ou deserdados dela, inúmeros descobridores que partem em múltiplas direções ao serviço do rei, mas também à procura dos seus interesses. Revelamos, com o devir histórico, um espaço insular que ganha importância e se torna imprescindível nas estratégias de descobrimento/conhecimento do espaço atlântico, bem como da definição e construção dos impérios europeus. Daqui o apelo a portos e a permanentes escalas oceânicas. Ao mesmo tempo, descobrimos que, neste burburinho e movimento, os madeirenses não se revelam apenas como espetadores atentos, mas também como ativos intervenientes do processo. Daí a vida ribeirinha, as permanentes partidas e as raras chegadas, o levar ao mundo novo aquilo que inventamos e testamos pela primeira vez, em termos de formas de organização institucional, de métodos e técnicas tecnológicas capazes gerar uma nova riqueza e de uma realidade económica capaz de mudar o mundo. Foi assim que se construiu o universo dos madeirenses, que a ilha aumentou a sua superfície de afirmação, com esta fórmula mágica de presença e domínio de outras ilhas e mesmo continentes. A partir de meados do século XV, o mundo da ilha entrelaça-se com outros mundos onde se projeta e afirma. O sangue, o suor e o sémen do madeirense derrama-se, por todo o lado, em momentos de glória e tristeza, em vitórias e fracassos. Mas, afinal, tudo isto faz parte da nossa alma e da nossa força de viver e vencer os desafios, tanto de ontem como de hoje. Para quem soube construir a sua morada à beira do abismo, foi capaz de vencer a floresta e as ravinas tão adversas, traçar os poios para repouso e descanso das searas, vinhedos e canaviais, venceu os desafios do mar alteroso, para reconstruir a sua ilha paradisíaca, plena de riqueza e flores, restará mais algum desafio? Não terá, então, o madeirense direito à fruição do Éden dos deuses da Antiguidade ou do paraíso que todos os caminhos espirituais procuram oferecer a todos os seus adeptos e crentes? O próximo desafio mora, agora, no mar das ilhas, um segredo e uma riqueza ainda por revelar mas que, para o futuro que agora se constrói, será fundamental para encontrar aquilo que a terra, gasta por insisten-
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Será o arquipélago da Madeira no século XV a primeira etapa da globalização? tes e intensivas explorações, cansada do saque, é, neste momento, incapaz de assegurar. Afinal, o facto de sermos ilhéus, que tanto nos prejudicou no passado, começa agora a vislumbrar-se como o nosso potencial de riqueza e afirmação, face às grandes massas continentais que sempre quiseram vencer e devorar as ilhas. O próximo desafio mora, agora, no mar das ilhas, um segredo e riqueza ainda por revelar mas que, para o futuro que agora se constrói, será fundamental para encontrar aquilo que a terra, gasta por insistentes e intensivas explorações, cansada do saque, é, neste momento, incapaz de assegurar. Afinal, o facto de sermos ilhéu, que tanto nos prejudicou no passado, começa agora a vislumbrar-se como o nosso potencial de riqueza e afirmação, face às grandes massas continentais que sempre quiseram vencer e devorar o poder e a singularidade das ilhas. As ilhas são um espaço aberto, sem fronteiras, que captam tudo à sua volta e que servem de trampolim para outros rumos e paradeiros. As ilhas tanto são encruzilhadas como pontes. Há uma força telúrica insular que imprime este movimento de abertura, acionando essa força centrífuga. Queremos partir da dicotomia discursiva das epistemologias do norte e do sul e partir na busca de um território abissal, um território de fronteira183 que tenha as condições para esse encontro e partilha. É esse lugar de fortuna atlântica, de que as ilhas são os pilares fundamentais, que importa construir. Daí que ocorra perguntar se não haverá espaço para uma terceira via, a das epistemologias do centro, insular, de fronteira, capaz de suplantar a ambivalência e oposição de saberes? Perante a dominação das epistemologias do norte e o discurso de rutura e afrontamento das epistemologias do sul, é necessário abrir essa terceira via do discurso da multiculturalidade, de abertura múltiplas às frontes do conhecimento, sem dominação, que poderá ser o outro paradigma de que fala MIGNOLO (2010). As ilhas atlânticas são um espaço de fronteira184, de mediação e de interculturalidade, abraçando, sem conflito, os múltiplos caminhos da globalização. E isso não se pode esquecer, porque, na verdade, o Atlântico é um arco-íris de culturas e a atlanticidade a sua expressão185.
183 Para Ramón GROSFOGUEL (2008:138) “O pensamento crítico de fronteira é a resposta epistémica do subalterno ao projecto eurocêntrico da modernidade. (…) O pensamento de fronteira não é um fundamentalismo antimoderno. É uma resposta transmoderna descolonial do subalterno perante a modernidade eurocêntrica.” 184 Tenha-se em conta o que temos dito sobre a questão das ilhas como espaço de fronteira: 2015, As Ilhas Atlânticas (Canárias, Madeira, Açores) como Espaços de Fronteira, Funchal, CEHA, Cadernos CEHA, n.º 7. Disponível na Internet em https://app.box.com/s/cjp0le0mqjrb2myokmz5kwbre6px9zpd; 2012, O Contrabando na Madeira e o Espaço Atlântico, in Anuário CEHA, nº.4, pp. 9-65. l na Internet em https://app.box.com/s/jb3mg2l4ca7xrnm815fad0t7dw6dczs7. 185 Sobre A noção de um Atlântico de múltiplas culturas, ou seja “o Atlântico de Arco-Íris” cf. ARAPOGLOU, KALOGERAS, NYMAN (2016: 15); STAM, SHOHAT (2012: 3/4, 194).
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A
condição da ilha da Madeira como espaço de sucesso dos europeus fora da Europa foi muito importante, em termos de afirmação da Madeira, nos séculos XV e XVI, assim como da sua projeção nos novos espaços, entretanto revelados aos europeus e alvo de ocupação e exploração económica. Assim, servimos de modelo de sociedade, das novas estruturas institucionais geradas com as capitanias, das formas de organização e aproveitamento do espaço produtivo e da sua expressão institucional e espacial, que serviram de base a uma economia de exploração intensiva, assente em produtos de exportação de grande rentabilidade económica como o açúcar e, ainda, das formas de sociabilidade, como a escravatura.
Projeto "MEMÓRIA - Nona ilha"
Centro Estudos de História do Atlântico (CEHA) Rua das Mercês, nº 8, Funchal Tel: 291 214 970 • Fax: 291 223 002 email: geral.ceha@gov-madeira.pt página web: http://ceha.gov-madeira.pt/ blogues: http://memoriadasgentes.blogspot.com
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