40 minute read

Manejo da água no cultivo de agrião hidropônico

Júlia Letícia Martins Galdino

julialeticia.galdino@gmail.com

Advertisement

Amanda Carolina de Moraes

amoraes445@gmail.com Graduandas em Engenharia Agronômica - IFSULDEMINAS, campus Muzambinho

Ahidroponia é empregada de modo a eliminar o impacto de pragas de solo e reduzir problemas como contaminações ambientais geradas pe los sistemas de cultivo tradicionais.

Embora os sistemas de cultivo hidro pônicos sejam mais caros e exigentes em manejo e manutenção, se feitos correta mente apresentam maiores e melhores resultados quando se trata de produtividade, qualidade e segurança alimentar, em comparação à forma usual de produção, tendo em vista que se tem total con trole sobre o que está atuando no meio em que as plantas estão inseridas (Silva; Melo, 2003).

Com a busca cada vez maior por ali mentos saudáveis, aumenta também a demanda pela produção de hortaliças, como o agrião (Nasturtium officinale L.).

Além de ser rico em vitaminas do complexo B, A, C, K e minerais como potássio, ferro, cálcio e fósforo, substân cias essenciais para o funcionamento do nosso corpo, o agrião também atua como antioxidante, aumentando a imu nidade, combatendo infecções e facilitando o processo digestivo (Salgado, 2012).

Vantagens para o agrião

Como toda hortaliça cultivada em sistema hidropônico, o cultivo do agrião nesse método requer atenção constante em diversos aspectos. Dentre eles, o equi líbrio e concentração da solução nutritiva e a necessidade de reposição de água no sistema ao longo do desenvolvimen to da cultura.

De acordo com Lira et al. (2018), o cálculo para reposição do volume de

Weber Velho

água evapotranspirada do sistema hidro pônico pode ser realizado pela seguinte fórmula:

Onde: VETC = Volume evapotranspirado em mL por cada planta no dia; Lf = leitura final do nível da água no depósito de abastecimento automá tico, em metros; Li = leitura inicial do nível da água no depósito de abastecimento automáti co, em metros; D = diâmetro interno do depósito de abastecimento automático, em me tros; ∆T = intervalo de tempo entre as leituras, em dias; π = 3,141592 (aproximadamente); n = número de plantas sendo cultivadas no intervalo de tempo ∆T entre as medições.

Logo, o volume de água a ser repos

to no sistema será igual ao volume evapotranspirado, não deixando de lado a verificação de pH e condutividade, assim como a concentração dos nutrientes da solução nutritiva, de modo que se repo nha corretamente a água faltante, mantendo a plenitude do sistema e das plantas por ele cultivadas.

Manejo

O manejo para reposição da água evapotranspirada no sistema hidropôni co consiste também na manutenção da solução nutritiva. Segundo Furlani et al. (2009), o volume de água no reserva tório deve ser completado quantas vezes forem necessárias durante o dia para evitar elevação muito grande na concen tração salina da solução nutritiva e também manter o volume do reservatório sempre no nível.

A manutenção da solução nutritiva pode ser realizada por meio da condu tividade, o método mais fácil e simples (Silva; Melo, 2003). Mas, vale lembrar também que, quando se adiciona água para repor o volume evapotranspira do, acrescenta-se também nutrientes que estão presentes na água.

Com o tempo, as adições para repor as perdas por evapotranspiração poderão causar um desequilíbrio na solução nutri tiva, afetando a absorção da mesma pelas plantas.

Para corrigir este desequilíbrio, re comenda-se análise química da solução e realização de correções necessárias dos níveis de nutrientes dissolvidos, ou até mesmo renovação da solução nu tritiva quando os níveis dos nutrientes forem superiores aos iniciais (Furlani et al., 2009; Silva; Melo, 2003).

A renovação da solução nutritiva tam bém é importante para evitar o acúmulo de matéria orgânica (restos de plantas, exsudados de raízes e crescimento de algas), que pode contribuir para o cresci mento de microrganismos indesejáveis (Furlan et al., 2009; Silva; Melo, 2003).

Na prática

O sistema de cultivo hidropônico, comparado ao cultivo convencional, pro porciona bom desenvolvimento às plantas, bom estado fitossanitário e altas produtividades (Silva; Melo, 2003).

A produtividade da hortaliça irá de

pender de diversos fatores, como manutenção da solução nutritiva, reposição de água evapotranspirada e eficiência do sis tema hidropônico empregado.

Segundo Santos et al. (2004) e Mo rais et al. (2006), o espaçamento e densidade de plantas no sistema também interferem na produtividade, já que esses influenciam na competição por água, luz e nutrientes.

O cultivo com espaçamento ideal, cor reta manutenção da solução nutritiva e reposição da água evapotranspirada pode apresentar grande produtividade no culti vo de agrião hidropônico.

Desafios

Dentre os erros mais frequentes, podemos citar a má e/ou incorreta utilização das técnicas de verificação da necessidade de reposição de água. Com isso, o produtor acredita estar adicionando a quantidade correta de água ao siste ma, sendo que, na verdade, pode estar prejudicando o desenvolvimento de suas plantas e as tornando menos produtivas e mais suscetíveis a pragas e doenças, de vido ao desequilíbrio gerado na solução nutritiva.

Para evitar que esse problema ocor ra, recomenda-se sempre conferir qualquer cálculo realizado, manter os equipamentos de medição calibrados, utilizar balança de precisão para pesar os fertili zantes que serão adicionados à solução e, ainda, procurar um engenheiro agrô nomo quando houver mais dúvidas, evitando, assim, maiores prejuízos à pro

Adriano Mendes

Custo-benefício

A implantação de um sistema cultivados neste sistema de cultivo. hidropônico demanda grande inves Sendo assim, Dal’Sotto (2013) ve timento inicial, porém, se manejado rificou que o cultivo de alface e rúcucorretamente, seu retorno é rápido e la em sistema hidropônico apresentou satisfatório. boa viabilidade econômica na agricul

Têm-se, na literatura, poucos estu tura familiar, com retorno de investidos acerca do custo-benefício da promento rápido e boa renda. dução de agrião em sistema hidroAinda assim, antes de optar pela pônico, devido talvez a seu não tão produção do agrião, recomenda-se expressivo consumo, quando com que o produtor observe a demanda parado a outras hortaliças, como alde mercado pela folhosa e as possi face e rúcula. bilidades de escoamento de sua pro

Como a rúcula e o agrião estão in dução, buscando também diversificar seridos na mesma família Brassicaceseus cultivos, evitando assim a perda ae, pode-se deduzir que seus comporde hortaliças e, consequentemente, de tamentos seriam semelhantes, quando investimento e lucro.

dução.

PEPINOS

Hidrogood

O QUE AS CALHAS PODEM FAZER POR ESSA CULTURA?

Glaucio da Cruz Genuncio

Doutor e professor - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) glauciogenuncio@gmail.com

Elisamara Caldeira do Nascimento Talita de Santana Matos

Doutoras em Agronomia - Ciência do Solo

Ao se cultivar pepinos em calhas com substrato (cultivo hidropônico em substrato ou semi-hidroponia) há algumas vantagens, tais como: redução significativa de ata que de patógenos, como nematoides, fungos, bactérias, além de um maior controle nutricional e de irrigação, aumentando significativamente a eficiência do ma nejo destas variáveis agronômicas.

Por outro lado, discute-se muito o re aproveitamento do substrato, por este gerar custo à produção, quando não for reutilizável. Preconiza-se o reuso em, no máximo, três vezes, dada a possibilida de de salinização do substrato. A maioria dos produtores utiliza a fibra de coco como substrato base, ou misturada com casca de arroz carbonizada e outros ma teriais disponíveis.

Ressalta-se, ainda, a importância de o produtor atentar-se quanto ao manejo nutricional e de irrigação para o culti vo de pepino em substrato, uma vez que ele é sensível à salinidade (EC altas) e ao excesso de água, com baixa drenagem e, consequentemente, baixa oxigenação do sistema.

Estas variáveis são fundamentais para se manejar de forma eficiente este sistema de calhas. Assim, os produtores devem ser extremamente criteriosos quando se trata do cultivo do pepino em sistema de ca lhas com substrato.

Por conseguinte, o sistema caracteri za-se por sua alta exigência de conhecimento técnico para a garantia de elevadas produções, produtividades e qualidade da cultura.

Classificação

para o cultivo do pepino podem ser classi ficadas como de sistema aberto, na qual a solução nutritiva não recircula, e admite - -se um volume drenado entre 20 a 30%, e a calha de circuito fechado, na qual a solu ção nutritiva é completamente reaproveitada, não havendo volume drenado.

O mercado vem avançando na pro dução e comercialização do sistema fechado de calhas, com possíveis novidades para 2020/21.

Ação e reação

A calha, fundamentalmente, é um sistema que serve de suporte para o subs trato (parte inerte/física do sistema, para plantas de pepino e para a fertirrigação. A junção entre calha, substrato e pepi no servirá, a priori, para o crescimento e desenvolvimento das plantas de forma eficiente do ponto de vista agronômico, por possibilitar um maior controle das condições de crescimento da rizosfera e de respostas fisiológicas e nutricionais do pepineiro.

A importância do controle nas aplicações de água e nutrientes no cultivo do pepino em calhas está em função dos estádios fisiológicos que a cultura de manda. Assim, no período vegetativo, as plantas de pepino necessitarão de maio res quantidades de N, P e micronutrientes.

Já no estádio reprodutivo de flora ção e frutificação, ocorre o aumento da necessidade fisiológica de certos nutrien tes, tais como o K, Mg e Ca , assim como de Mn e B.

Em função disto, o produtor deve buscar informações técnicas ou asses soria para um melhor manejo nutricional da cultura, pois, diferenciando a regulação das relações nutricionais con tidas na solução nutritiva a partir da avaliação dos estádios de desenvolvimento da cultura do pepino, a possibilidade de aumento de produção, produtividade e qualidade de frutos é significativamen te aumentada.

Outro fator que favorece a queda sig nificativa de produção do pepino conduzido em calhas hidropônicas é o manejo errôneo da aplicação de água (irrigação), em que tanto o excesso quanto a fal ta afetarão o crescimento e desenvolvimento dos frutos.

Assim, sistemas de controle por ten siometria ou pressão positiva são recomendados para o uso da calha. Além do mais, o sistema de aplicação, tanto de água como de nutrientes (fertirrigação), deve ser o de gotejamento, com especificidade em termos de espaçamento entre goteja dores e distância entre linhas de cultivo.

Planejamento

A necessidade de um projeto executivo é real e de fundamental importância, uma vez que erros de cálculo podem afetar diretamente o crescimento e de senvolvimento do cultivo.

Ressalta-se, ainda, um benefício do uso de calhas recirculantes comparati vamente às calhas abertas, devido à facilidade do manejo de irrigação, com uma menor possibilidade de erros quanto ao excesso.

Este excesso pode causar a morte do sistema radicular por falta de oxigena ção no substrato, assim como pela maior possibilidade do surgimento de doenças bacterianas.

Por outro lado, a falta ou a variação na aplicação de água é um dos princi pais fatores que levam à salinização do substrato, além da deficiência de Ca e B nas plantas, causando o comprometi mento da produção e produtividade do pepino.

Acompanhando de perto

Quanto ao processo de monitoração da fertirrigação, o controle do pH e da condutividade elétrica (EC) da so lução drenada são os mais recomendáveis. Pode-se, além disso, utilizar um extrator de solução, que é uma ferramenta inserida no substrato e responsável por amostrar a solução.

Nesta, o produtor avalia o pH e a EC. Isto é importante, pois gerará da

dos fundamentais para tomadas de decisões, tais como: lavagem do substrato, aumento da EC, controle efetivo do pH, uso de mulching para redução da evapotranspiração, dentre outros mane jos.

Uma informação importante ao pro dutor que deseja iniciar o plantio de pepino em estufa é a busca de plantas partenocárpicas (que produzem frutos sem fecundação), pois este fator reduz per das por deformação dos frutos, quando conduzidos em estufas.

Como agregar à técnica

Os principais tipos de pepino são: caipira, holandês e japonês. Ressalta - -se, ainda, que a enxertia com abóbora ou com híbridos de pepino específicos para porta-enxerto é importante, principalmente nas regiões norte e cen tro-oeste do Brasil, devido à iminente prevalecência de doenças radiculares no sistema.

Por ser tratar de uma planta toleran te a faixas amplas de temperaturas, de 20 a 35ºC, a condução se dá em várias regiões do Brasil. Por outro lado, a planta não to lera frio, e o produtor deverá ter atenção a regiões de umidade relativa baixa, devido à severidade do ataque de oídio no cultivo.

Para mais informações, recomenda mos a consulta à Circular Técnica 113 da Embrapa, que trata dos aspectos gerais da cultura do pepino.

Benefícios das calhas

As calhas hidropônicas destacam-se como ferramentas que auxiliam no me lhor controle nutricional e no uso eficiente de água (um bem precioso, atualmente), assim como garantem ao produtor uma reduzida probabilidade do ata que de pragas e doenças presentes no solo. Este manejo torna-se fundamen tal para a obtenção de qualidade de fru

Hidrogood tos e produtividades elevadas.

Neste tipo de sistema, alguns produ tores garantem produções superiores ao campo entre 20 a 50%, além da possibi lidade de cultivos sucessivos no decorrer do ano agrícola, sendo este um excelen te resultado obtido nas produções nestes sistemas.

Mão no bolso

O investimento em calhas recirculantes (com ou sem vasos) pode ser de 20 a 30% superior ao sistema NFT (sendo a base comparativa com o custo de R$ 70,00/m 2 ), sem considerar a estufa. Por outro lado, o sistema de calha aberta pode ser menor, porém, com as desvan tagens supracitadas.

Para análise de investimento na im plantação do sistema tipo calhas para o pepino, recomendamos ao produtor o le vantamento do custo do substrato (principalmente com o frete na avaliação) e sua reutilização em cultivos sucessivos em termos nutricionais e fitossanitários. Este custo é um dos fatores determinantes na escolha deste tipo de sistema hidropôni co para o cultivo do pepino.

Vale ressaltar que, para o sistema em substrato, o produtor tende a prolongar o ciclo de cultivo visando uma melhor depreciação do substrato. Porém, este tipo de reaproveitamento é algo mais difícil para o pepino, por possuir res posta fotoperiódica (com prevalecência de flores masculinas em fotoperíodos es pecíficos), por possibilitar uma maior incidência de doenças e da salinização do mesmo.

Custo-benefício

Dadas as vantagens agronômicas do uso da calha no cultivo de pepinei ro, o sistema apresenta um excelente custo-benefício, cabendo ao produ tor a busca de informações que gerem conhecimento prático quanto aos ma nejos nutricional e de irrigação.

Além disso, é importante a esco lha de híbridos, a condução via tutoramento, podas e enxertia, visando a minimização de erros e a garantia de maiores produções, produtividade e qualidade de frutos.

PULVERIZAÇÕES

FMC USO DE ADJUVANTES AUMENTA GANHO DE COBERTURA

Ana Carolina Lyra Brumat

Engenheira agrônoma, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal - Universidade Federal do Paraná (UPPR) anacarolinalb08@hotmail.com

Ana Elisa Lyra Brumat

Engenheira agrônoma, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências do Solo – UFPR anaelisalbrumat@gmail.com

Oadjuvante é uma substância química adicionada à calda de pulverização de defensivos agrícolas e herbicidas, com o objetivo de aumen tar a eficiência da aplicação do produto pulverizado ou modificar determinadas propriedades da solução, promovendo melhoria na aplicação e/ou redução de possíveis problemas decorrentes desta.

A eficiência da aplicação do produto ocorre em razão da diminuição do volu me da calda, redução da deriva, aumento da taxa de absorção e cobertura do produto no alvo.

Atuação

Existem inúmeras substâncias utilizadas como adjuvantes, que atuam de forma diversas:

Adjuvantes ativos: melhoram a eficácia biológica e química do produto aplicado, diminuem a tensão superficial de gotas, retardam a evaporação da água, aumentam a aderência do produto na su perfície do alvo, reduzem a força de coesão, evitando a aglomeração de partículas e removem a sujeira na superfície do alvo.

Adjuvantes úteis: modificam a qualidade física da calda, ajudam na adesão do produto no alvo, aumentam a absor ção e favorecem a entrada do produto, devido ao rompimento da cutícula.

Já o ganho de aumento de cobertu ra na aplicação de um defensivo agrícola proporcionado pelos adjuvantes é dado por diferentes tipos de uso:

Dispersantes: evitam a aglomeração das partículas por meio da redução das forças de coesão. Muito utilizados em conjunto com formulações de pó molhável, pois além de evitarem a aglo meração de partículas, evitam que ocorra precipitação dentro do tanque de armazenamento.

Emulsificantes: reduzem a tensão interfacial entre os líquidos imiscíveis, formando a emulsão de um líquido em outro, aumentando significativamente a cobertura do produto pulverizado.

Espalhantes: são os mais comuns, responsáveis por diminuir a tensão su perficial de gotículas da calda, reduzindo o ângulo de contato da gota na superfície do alvo.

Adjuvantes molhantes: responsáveis pela diminuição da evaporação da água na calda de aplicação, proporcionando assim que a gota permaneça por mais tempo na superfície do alvo, evitando a cristali zação de moléculas do ingrediente ativo do defensivo agrícola. É muito utiliza do quando as condições ambientais no momento de aplicação estão desfavo ráveis, com baixa umidade relativa do ar e alta temperatura.

Aderentes: aumentam a aderência e diminuem o escorrimento da calda na superfície da folha, evitando que o pro duto seja lavado pela chuva ou irrigação, após a sua aplicação.

Detergentes: ajudam na remoção da sujeira da superfície do alvo, aumentando a superfície de contato na folha.

Direto ao alvo

Para o uso de adjuvante em pulverizações, deve-se levar em consideração alguns aspectos importantes, para que tenha eficácia na sua utilização, desta cando o alvo de aplicação, sendo a espécie de planta e seu estágio fenológico; fatores ambientais no momento da apli cação; forma de aplicação; e alvo biológico, sendo a planta daninha, doença ou praga.

O principal erro cometido é a má es colha do tipo de adjuvante, não levando em consideração a forma de aplicação, a planta, condições ambientais e o alvo biológico.

Outro erro é a dosagem do adjuvan te, pois ela interfere nas propriedades físico-químicas da calda, e a escolha errada pode ocasionar mudanças negativas no pH, espectro de gotas, tensão super ficial e viscosidade da calda, diminuindo drasticamente a sua eficácia.

A leitura do rótulo dos adjuvantes e do defensivo agrícola, bem como a qua lidade dos produtos utilizados na aplicação são sempre necessários para o sucesso da aplicação.

Rafael Rosa Rocha

Mestrando em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) rafaelrochaagro@outlook.com

Mónica Paola Flores Ramírez

Doutoranda em Nutrição e Alimentos - Universidade do Chile (Santiago - Chile) monicalforesr@ug.uchile.cl

Daiane Andréia Trento

Mestre em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – Unemat daiatrento@gmail.com

Marla Silvia Diamante

Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP marlasdiamante@gmail.com

Santino Seabra Junior

Doutor em Agronomia/Horticultura e professor – Unemat santinoseabra@hotmail.com

Uma nova tendência na horticultura são os microverdes, vegetais ultrajovens, superatrativos e coloridos, ricos em sabor e nutrien tes, que estão em evidência na gastronomia e mercados no Brasil e no mundo. Além desses benefícios, os microgreens, como também são conhecidos, apresen tam vantagens por terem um ciclo de cultivo muito curto.

Podem ser cultivadas várias espé cies herbáceas (alface), cereais (giras- sol), condimentos (manjericão) e até flores (crisântemos), comercialmente ou até mesmo em casa, com luz natural ou artificial.

Esta é uma nova classe de culturas es pecializadas, com características peculiares que as tornam um novo ingrediente para o mercado gourmet, utilizadas es pecialmente em saladas, sopas e sanduíches. Apesar do tamanho reduzido, essas hortaliças possuem grandes benefícios, são superatrativos, coloridos e ricos em sabor e nutrientes.

Existem diferentes produtos de hor taliças jovens. Além dos microverdes, encontramos os brotos e as baby leafs. A diferença entre microverdes e os brotos é que este segundo são sementes germina das ou parcialmente germinadas, consumidas com as raízes intactas.

A densidade de sementes é alta em brotos e é cultivada em alta umida de, temperatura ideal e condições de pouca luz que aumentam as chances de crescimento microbiano.

No entanto, nos microverdes as raí zes não são consumidas, e diferentemente dos brotos, requerem luz solar para seu crescimento eficiente.

A baby leaf, por sua vez, é um culti vo de hortaliças em um estádio mais tardio que o microverde, e são consumidas as suas folhas verdadeiras ainda jovens, porém, iniciando sua expansão, enquan to os microverdes são mais suculentos e

Isla

as folhas cotiledonares são bem proemi nentes e seus caules suculentos tornam a iguaria muito palatável.

Mercado

Algumas empresas se especializaram em ofertar sementes para a produção de microverdes e oferecem sementes de muitas espécies de hortaliças conven cionais ou exóticas, cereais, condimentos e até flores, desde que suas plântulas se jam comestíveis.

As espécies mais exploradas são as pertencentes às famílias Brassicaceae, Aste raceae, Chenopodiaceae, Lamiaceae, Apiaceae e Amaranthaceae. Dentre os microverdes mais populares no Brasil, encontramos: al face, agrião, beterraba, cebola, cenoura, couve, ervilha, girassol, mostarda, raba netes, repolho, rúcula e salsa.

Entretanto, existem muitas espé cies potenciais, como acelga, aipo, alho- -poró, almeirão, amaranto, beldroega, brócolis, cebolinha, cerefólio, chia, caruru, coentro, couve-chinesa, couve - -rábano, crisântemos, endívia, endro, erva-doce, escarola, espinafre, funcho, hortelã, manjericão, melissa, mostarda, nabo e pak choi.

Há uma variabilidade de cultiva res que apresentam características de cores e tons de verde, vermelho e roxo, ou morfologias diferenciadas, como formato das folhas e texturas. Além dos sabores

e aromas marcantes das diferentes espécies pertencentes ao gênero Ocimum (alfavacas, manjericões, atroveran, tulsi, entre outros), ou do frescor das espécies do gênero Mentha (hortelãs e menthas) ou ainda do picante das Brássicas (agriões, rúculas e rabanetes), possibilitando ex periências gastronômicas únicas.

A comercialização em forma de mix de espécies é também uma tendência do setor, existindo já alguns mix de espé cies popularizados, como: salada básica: rúcula, brócolis, couve, couve-rábano, couve roxa, couve-flor; salada picante: rú cula, brócolis, couve, repolho roxo, mostarda; mistura asiática: repolho, pak choi, rabanete, rúcula; e mistura picante: raba nete, mostarda, rúcula.

Como produzir microverdes

Antes de dar início à produção desse segmento, é preciso entender que o culti vo de microverdes é uma inovação, e ainda não possui muitas indicações técnicas. Estudos e tentativas são conduzidos para ver o que melhor se adapta.

Mas, uma das questões principais é a escolha do local de produção, a limpe za e a manutenção do sistema de cultivo, sendo um processo constante. Isso é es sencial para produzir qualquer alimento, ainda mais quando se produz objetivando o consumo in natura. O manuseio ade quado durante cada etapa do processo de plantio, germinação e crescimento é essencial para a entrega do produto final.

Os principais fatores de pré-colhei ta dos microverdes, como seleção de espécies, densidade de semeadura, fertilização, biofortificação, iluminação e estágio de crescimento na colheita são aborda dos com relação à fisiologia e qualidade da colheita, bem como manuseio e aplicações pós-colheita, temperatura, composição atmosférica, tecnologia de iluminação e embalagem que podem influenciar o prazo de validade e a se gurança microbiana.

As sementes utilizadas para a produ ção de microverdes devem ser livres de contaminações químicas, biológicas e bai xa percentagem de matéria estranha, i.e., não devem ser tratadas com fungicidas ou outros produtos químicos e devem ser limpas, pois o tempo entre a germi nação e o consumo é muito pequeno, e não se tem informações entre o interva

Tabela 1. Quantidade de sementes, tempo de empilhamento das bandejas e número de dias para a colheita de diferentes espécies para produção de microverdes

Espécies

Acelga Alho-poró Amaranto Beterraba Brócolis Chia Coentro Couve Couve-rábano Ervilhas Folha de aipo Funcho Girassol Manjericão Mostarda Repolho Rúcula

Sementes (g)* Tempo de empilhamento (dias)

56,7 4 a 7 56,7 3 a 5 28,35 3 a 6 56,7 6 a 8 28,35 2 a 3 28,35 2 a 3 56,7 6 a 7 28,35 2 a 4 20,00 2 a 4 340,19 3 a 5 21,26 6 a 8 28,35 3 a 5 255 2 a 4 28,35 4 a 7 20,00 2 a 4 28,35 2 a 4 20,00 1 a 3

Colheita (DAS)

10 a 14 12 a 14 8 a 14 10 a 14 10 a 14 8 a 12 21 a 28 8 a 14 8 a 14 8 a 14 18 a 21 mais de 14 8 a 14 14 a 18 8 a 12 8 a 12 8 a 14

Fonte. CropKing Incorporated ® *quantidade de sementes (g) baseada em uma área de 0,13 m 2

lo de segurança do uso do agrotóxico e o consumo do produto.

As sementes orgânicas também são uma boa opção para uso na produção de microverdes, pois não recebem tra tamentos com agrotóxicos.

Sementes

Ter uma boa qualidade de sementes é fundamental, pois o custo mais alto para o produtor é referente às semen tes. O produto final é vendido por peso e muitas sementes são necessárias para produzir alguns gramas.

É por isso que é recomendável que elas tenham uma alta porcentagem de germinação (>85%), sejam armazena das em local fresco e seco para garantir sua qualidade, e uma prática importante é avaliar o tempo de germinação e colheita de cada espécie e cultivar para planejar os cultivos.

A recomendação da densidade de se meadura é dependente das características das espécies, porcentagem de germi

Microverde de beterraba

nação e tamanho das sementes.

Os produtores utilizam semeadura mais adensada possível para maximizar a produção, porém, este superadensamento estimula caules alongados e aumenta o risco de doenças.

Para bandejas de 25,4 cm de largura por 50,8 cm de comprimento (0,13 m 2 ) a quantidade de sementes pode variar de 20 a 340 g, para rúcula e ervilha, respec tivamente (Tabela 1) e o tempo para a colheita pode variar de oito a 28 dias após a semeadura (DAS).

Os microverdes hidropônicos têm uma vantagem distinta sobre aqueles cultivados em bandejas de substratos ou misturas de solo, pois nenhum meio de crescimento granular precisa ser usa do.

A alta taxa de semeadura e a densi dade dos microverdes significa que pequenas partículas de substrato podem acabar na folhagem e, como geralmen te não são lavados após a colheita, isso representa um risco de que impurezas acabem no prato final.

Por esse motivo, os microverdes hi dropônicos são produzidos sobre tapete fino de fibra de coco, placas de espuma fenólica que mantêm a semente no lu gar e retêm um pouco de umidade para germinação.

Toalhas de papel, lençóis, cubos ou lençóis de lã de rocha, panos de cozinha finos e almofadas hidropônicas de mi croverdes podem ser usados para uma colheita limpa e de alta qualidade, com pouco custo. Porém, existem outros sis temas que são utilizados para a produção de microverdes, como o cultivo sobre substratos. Há, também, a possibilida de de cultivo indoor com iluminação artificial.

Adubação

A maioria das culturas exige pouco ou nenhum fertilizante, pois as semen tes fornecem nutrição adequada para as culturas jovens. Algumas culturas micro verdes de crescimento mais longo, como microcenouras, endro e aipo, podem se beneficiar da fertilização, i.e., adubos di luídos na água de irrigação.

Espécies de crescimento rápido, como o agrião de mostarda e a acelga, também se beneficiam da fertilização, pois germi nam rapidamente e esgotam rapidamente seu suprimento autônomo de nutrientes.

A fertilização pode ser realizada tam bém, colocando a bandeja preenchida de substrato por 30 segundos em uma so lução nutritiva.

Sob controle

Para o preparo da solução, existem alguns fatores que devem ser controlados para o completo e perfeito desenvolvimen to das microverdes, aproveitando ao máximo a solução nutritiva.

A temperatura da solução não deve ultrapassar os 30ºC, sendo que o ide al é a faixa de 18 a 24ºC em períodos quentes (verão), e 10 a 16ºC em perí odos frios (inverno). Durante o processo de absorção de nutrientes as raízes das plantas vão alterando o pH da solu ção nutritiva, as plantas têm o seu desenvolvimento máximo entre pH 5,5 a 6,5, e à medida que elas crescem, elas al teram esse pH da solução nutritiva. Por essa razão, diariamente, após completar o volume da solução com água, o pH da solução deve ser verificado.

Já o cultivo indoor ou cultivo dentro de um ambiente fechado é um méto do, assim como o nome diz, de cultivo de plantas em ambientes fechados, com uso de iluminação artificial, usando lâmpa das, exigindo assim um investimento em equipamentos de iluminação, venti lação e exaustão, que lhe darão controle na hora de cultivar.

Deste modo, em um cultivo indoor é possível induzir a planta, pelo fato de es tar bastante controlado o tempo de exposição à luz.

Colheita e pós-colheita de microverdes

O tempo de plantio à colheita diversifica de acordo com a espécie, variando entre sete e 28 dias. Os microverdes estão prontos para a colheita quando atingi rem o verdadeiro status de primeira folha, geralmente quando tiverem 5,0 cm de altura.

A colheita dessa produção geralmente é feita cortando o microverde (caule e fo lhas, deixando a raiz) de forma manual, usando um material de corte higienizado, levando em consideração que o corte não seja tão baixo que arrisque a contami nação com o meio de cultivo. Fato importante na colheita é a altura do corte, pois microverdes de qualidade precisam de uma porção boa e limpa do caule abai xo das folhas.

Microverde de coentro

Microverde de girassol

MICROVERDES SAUDÁVEIS E RENTÁVEIS

Júlio César Ribeiro

Engenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) jcragronomo@gmail.com

Amanda Santana Chales

Engenheira agrônoma, mestranda em Ciência do Solo - Universidade Federal de Lavras (UFLA) amandaachales@gmail.com

Carlos Antônio dos Santos

Engenheiro agrônomo e doutorando em Produção Vegetal - UFRRJ carlosantoniods@ufrrj.br

Aprocura por uma alimentação saudável, considerando a preo cupação com a saúde e o meio ambiente, tem impulsionado os consu midores a buscar alimentos produzidos com menor impacto ambiental e livres de agrotóxicos, preconizando a susten tabilidade.

Nesse contexto, a produção de mi croverdes, também conhecidos como microgreens, vem ao encontro deste novo conceito de alimentação e saúde. Os mi croverdes são vegetais ultrajovens, entre a baby leaf, e caracterizam-se como alimentos totalmente naturais.

Por apresentarem tamanhos, textu ras e cores variadas, despertam o interesse tanto de adultos quanto das crianças, público mais resistente em consumir verduras e legumes. Além de possuírem um aspecto atraente para a composição de pratos e drinks mais sofisticados, os microgreens têm sabor mais acentuado do que os similares maduros, agradan do diversos paladares, principalmente os mais exigentes.

Os microverdes possuem diversas vi taminas, lipídios, carboidratos e proteínas, proporcionando uma alta qualidade nutricional para quem os consome, além de apresentar um baixo teor calórico, o que tem sido buscado nas mais variadas dietas da atualidade.

Estudos recentes têm apontado que algumas espécies de plantas, como por exemplo, a rúcula, aipo, manjericão e re polho roxo, cultivados e colhidos como microverdes, apresentam até 40 vezes mais valor nutricional que essas mesmas plantas em sua fase adulta. Essas carac terísticas se dão em função das maiores

A Fazenda Urbana comercializa microverdes vivos em supermercados

Thomas Oberlin

quantidades de bioativos como antioxi dantes, vitaminas e minerais presentes na fase jovem desses vegetais.

De modo geral, a produção dos mi crogreens é realizada de forma simples e sem muitas restrições, sendo o uso de defensivos agrícolas dispensados nesse tipo de cultivo, visto que as plantas são produzidas e consumidas em curto espa ço de tempo.

Os microgreens apresentam cresci mento muito rápido, com ciclo variando de sete a 21 dias, a depender da espécie cultivada, proporcionando uma produ ção de alimento fresco e saudável.

Oferta e demanda

A produção e consumo de microverdes é uma prática que vem sendo desenvolvida em algumas regiões do mundo, sendo os Países orientais China e Japão os pioneiros no cultivo e consumo. Na América do Norte, atualmente os Esta dos Unidos apresentam elevada produção e consumo desse alimento.

Na América do Sul, o Brasil vem ga nhando destaque na produção de mi

crogreens. Apesar de ser considerada uma atividade nova no País, vem cres cendo a cada ano, principalmente em decorrência do aumento no interesse do mercado consumidor por esse tipo de alimento nutritivo e saudável.

Produtores que não possuem es paço adequado para um cultivo convencional de culturas em grande escala têm se interessado pelo cultivo de microverdes, assim como aqueles que querem diversificar sua produção, ou ainda aqueles que buscam um mer cado crescente e com boas possibilidades de retorno rápido sobre o capital investido.

O pequeno espaço necessário à produção, aliado ao ciclo curto e ao alto valor agregado do produto, pos sibilitam maior rentabilidade por área. Segundo o Sebrae (Serviço Bra sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), existem ótimas oportu nidades a nível nacional para pequenos negócios que queiram investir na produção e oferta de alimentos sau dáveis e diferenciados, visto que apenas 6% dos micro e pequenos empreendimentos apostam nesse segmento, reforçando a oportunidade de investi mento nesse novo nicho de mercado.

A região sudeste é uma das prin cipais produtoras de microverdes do País, destacando-se os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Por se rem considerados alimentos gourmets, os microgreens são muito requeridos pelas principais redes de supermer cados e restaurantes desses Estados.

Os produtores, principalmente

Thomas Oberlin desta região, estão desenvolvendo tec nologias de agricultura adaptada para pequenos espaços, visando à produ ção desse alimento o mais próximo possível dos centros consumidores, que são as regiões metropolitanas. Reduz-se, assim, a perecibilidade do produto, custos com transporte, além de poder fornecer o produ to fresco ao consumidor. No entanto, os microgreens podem ser produzidos em qualquer região, desde que as condições ambientais favoreçam o seu desenvolvimento.

Lucratividade

Ambientes de cultivo mais tecnificados que possibilitem maior uniformidade e qualidade na produção, apesar de apresentarem maior custo de implanta ção, podem gerar um excelente retorno financeiro em curto prazo.

Como por exemplo, a aquisição e adaptação de um contêiner de 20 pés (seis metros) apresenta custo aproxi mado de R$ 80.000,00, tendo capacidade produtiva de 20.000 bandejas de microverdes por mês, com peso entre 40 e 60 g cada, e um preço médio de venda de R$ 12,00 a bandeja, gerando uma renda bruta de aproximadamen te R$ 240.000,00 por mês.

Gastos, como aquisição de semen tes, substratos, recipientes (bandejas) e energia elétrica, assim como mão de obra, encargos trabalhistas e demais im postos devem ser computados. No entanto, com um mercado consu midor bem estabelecido, que absorva toda a produção, a atividade é uma boa opção de investimento, com uma excelente relação custo-benefício.

De modo geral, a produção de microverdes deve ser sempre pauta da no planejamento da atividade, desde a análise de mercado, escolha das espécies, obtenção de sementes isentas de pesticidas e com elevada qualidade, as sim como o conhecimento técnico das exigências de cultivo, visando sempre um satisfatório e rápido retorno fi nanceiro ao produtor.

Vale ainda destacar que, por ser um tipo de cultivo totalmente diferente, exige que o produtor esteja receptivo a aprender, se atualizar e experimentar o novo, o que certamente proporcionará sucesso na atividade.

QUANDO A TEORIA ENTRA NA PRÁTICA

AFazenda Urbana foi fundada em 2016, a primeira empresa de agricultura em Ambiente Con trolado (CEA) operando comercialmente na América do Sul. Sob marca registrada MightyGreens, a empresa está localizada no Rio de Janeiro (RJ) e tem, atualmente, 16 m² (áreas de germinação e cultivo).

“Somos, provavelmente, a fazenda com maior eficiência em terra e água do Brasil. Com as tecnologias de cultivo de senvolvidas por nós, usamos até 99,7% menos água que uma fazenda tradicio nal (eliminamos, literalmente, 100% de nosso sistema hidráulico dentro da área de cultivo) e basicamente 100% menos água na unidade de produção de cogu melos (usamos exclusivamente água retirada da condensação do ar condicionado, que é depois filtrada e reutilizada na produção)”, relatam Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer, dois dos cofundado res da empresa.

Atualmente, são produzidas até 6.000 caixas/unidades de microverdes por mês nos 8,0 m² de produção. Com as novas tecnologias e processos desenvolvidos, a Fazenda Urbana espera chegar a cerca

de 1.300 unidades/m² por mês.

Rentabilidade

Usando seu sistema e processo, a empresa gera até R$ 500.000 mensais em um ambiente de produção de 30 m 2 , com outros 30 m 2 para preparo de substrato, semeadura e germinação.

“Não conhecemos nenhuma fazen da que tenha esse tipo de rentabilidade por metro quadrado”, pontuam os pro prietários.

A Fazenda Urbana vende microver des sob a marca registrada MightyGreens, produzidos em seu sistema de agricultura em ambiente controlado desde junho de 2017.

A empresa investiu cerca de R$ 2 milhões em pesquisa e desenvolvimento, testando e desenvolvendo vários substra tos, plantas, lâmpadas, automação, sistemas de cultivo e germinação.

A Fazenda Urbana vende microver des vivos em supermercados e até desenvolveu sua própria embalagem para manter uma vida útil prolongada.

Quanto ao retorno, Thomas Ober lin e Rodrigo Meyer dizem que depende muito do tamanho do mercado, sistemas e tecnologias escolhidas, além do nível de conhecimento em am bientes controlados.

Variedades plantadas indoor

Na Fazenda Urbana, foi testado o cultivo de mais de 30 tipos de plantas (e cerca de oito variedades de cogume los). “Começamos a vender para restaurantes, mas hoje nos concentramos em supermercados. Nosso portfólio de pro dutos para supermercados inclui: rúcula, rabanete, mostarda, alho-poró, couve-manteiga, coentro, brócolis e repolho roxo. Outras plantas estão disponíveis com compromisso para volumes míni mos”, contam os produtores.

O ciclo de produção normal é de sete dias, mas algumas plantas demo ram 10 dias, tudo graças ao sistema e metodologia adotado.

“Produzimos o ano inteiro, usan do um sistema de agricultura em ambiente controlado. Com cada unidade de produção (estante/sistema), temos cer ca de 104 colheitas por ano. Nunca temos sazonalidade. Desenvolvemos nossos próprios protocolos, equipamentos e ferramentas para plantio e germina ção, bem como um sistema de cultivo totalmente automático”, revelam Tho mas Oberlin e Rodrigo Meyer.

De onde vem o sucesso

Ao serem questionados sobre a receita de seu sucesso, os sócios são unânimes: “Usando nosso sistema e tecnologia, claro! Um grande problema com os microverdes é a vida útil. Depois de cortados, eles se tornam "suco verde" em cerca de 4-5 dias. Nossos MightyGre ens são cultivados usando apenas água filtrada, e disponibilizados ainda vivos, plantados em um substrato biodegradá vel (sem terra) e com prazo de validade de 10 a 14 dias na loja. Isso é um grande negócio, e uma grande diferença”, deta lham os empresários.

Além disso, mais uma das razões para comer microverdes é o seu alto valor nu tricional. Microverdes cortados começam a se deteriorar e a perder esse benefício rapidamente, e quando chegam à mesa do consumidor, boa parte do seu valor nutricional já foi perdido. As plantas da

Fazenda Urbana são vendidas in natura, vivas. Assim, o consumidor obtém todos os benefícios de seu valor nutricional. “Além disso, nunca usamos solo. Portan to, nossas plantas estão prontas para serem consumidas”, acrescentam.

Dicas importantes

Um dos fatores mais importantes:

limpeza do sistema e ambiente. Na produ ção de alimentos, hoje, mais do que nunca, a limpeza é fundamental para manter a segurança e a confiança do cliente. Na Fa zenda Urbana, sempre começa com uma limpeza completa do sistema e das fer ramentas.

Preparação de sementes: como os MightyGreens são vendidos vivos e pron tos para consumo, são usadas apenas sementes sem defensivos ou modifica ção genética, normalmente adquiridas da ISLA. Como as sementes não têm defen sivos, foram desenvolvidos vários métodos de limpeza de patógenos nas sementes, sem deixar resíduos nocivos. De fato, hoje a empresa adota métodos de tratamento úmido e seco. E esses méto dos não têm impacto negativo nas taxas de germinação.

Preparo do substrato: após muitos testes, decidimos usar mantas de fibra de coco como substrato de cultivo. A Fazenda Urbana trabalhou em cola boração com a Coquim para desenvolver uma manta com a densidade certa para produzir consistentemente em seu siste ma. Mas, essa manta, depois de recebida, precisa ser cortada e esterilizada antes da

Arquivo pessoal

Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer, cofundadores da Fazenda Urbana

semeadura. Ambos os processos podem ser trabalhosos e demorados. Foram de senvolvidos equipamentos para ajudar a acelerar os dois. O plantio também é um processo muito trabalhoso, e os empre sários testaram todos os tipos de abordagens. Em seguida, desenvolveram uma máquina de semeadura que reduz os cus tos de mão de obra em mais de 80%.

Germinação: a germinação é o ponto de maior risco no processo de cultivo. A Fazenda Urbana desenvolveu um sis tema de germinação que resultou em altas e consistentes taxas de germinação, mesmo com uma densidade de sementes muito alta. Nos últimos três anos, iden tificou o melhor tamanho de gotículas de água, a melhor frequência e intensidade de umidificação para cada cultivo (elas não são todas iguais), a melhor tempera tura e o melhor tempo. Ao criar um ambiente de germinação separado e ajustar para cada tipo de planta, otimizou seus resultados.

Transplante: como mencionado, a Fazenda Urbana tem um ambiente para germinação e outro para cultivo, este sob luz. Então, migrou as plantas de um para o outro em cada etapa do proces so. Depois da migração, baseado em muitos testes, Thomas e Rodrigo descobriram que um período de aclimatação antes de acender as luzes é importante para dar tempo para os microverdes recém-germi nados se adaptarem ao novo clima.

Cultivo em câmara totalmente automatizada e com controle climático,

sob luzes: é utilizada iluminação artifi cial durante os três dias finais de cultivo. Desde 2017, foi testada uma grande variedade de luzes, de fluorescente a vá rios LEDs, importadas e nacionais. Thomas e Rodrigo também construíram seus próprios LEDs em 2017, mas viram que construir LEDs seria um outro negó cio e acabaram abandonando o projeto. “Quando começamos, as luzes de LED para o cultivo de plantas custavam qua se R$ 4.000 por unidade. Hoje, os preços caíram ao ponto em que vale a pena considerá-las. Ao trabalhar com LEDs, a mistura de comprimentos de onda e diferentes espectros pode ter um grande impacto de altura, cor, sabor e até den sidade nutricional. O que funciona melhor para alface adulta não é necessariamente bom para os microverdes. Além disso, é necessário conhecer o PPFD das luzes que você está usando para garantir que esteja recebendo a quantidade ade quada de fótons nos espectros apropriados em toda a superfície crescente. Mas você tem que fazer seu próprio cálcu lo. As luzes fluorescentes são igualmente eficazes em microverdes em crescimento (três dias), e ainda têm um custo de ca pital substancialmente mais baixo, mas uma maior produção de calor. Portan to, você deve avaliar a diferença no total de energia gasta versus o investimento adicional para decidir qual é o melhor para o seu negócio (depende de volume do espaço, equipamento de refrigeração escolhido, proteção térmica das paredes, etc.)”, expõem Thomas e Rodrigo.

Depois de instalar suas luzes, você deve descobrir qual é o fotoperíodo ide al para suas plantas, a melhor temperatura e umidade. E se você estiver usando um sistema com automação de água, qual é a frequência e a duração ideais de cada ciclo da água. Qual é a temperatura adequada da água? O melhor PH e CE?

Depois que aprenderam essas coisas, Thomas e Rodrigo criaram seu próprio sistema de controle de automação para fornecer essas características a cada pe ríodo de cultivo. “Chamamos esse conjunto de configurações (água, temperatura, umidade, luz, qualidade do ar) de receitas de crescimento. Temos algumas receitas, baseadas em grupos de plantas com características parecidas (descobri mos após centenas de testes) e outras receitas que mudam características, como cor, sabor e textura das plantas, depen dendo da demanda local, usando única e exclusivamente a combinação destas

configurações”, lembram.

Finalmente, colhem, inspecionam e embalam os produtos para venda. “No nosso caso, isso é feito em uma sala lim pa, usando os protocolos adequados de EPI e limpeza. Além de vender in na tura e pronto para o consumo, inspecionamos o produto quanto à existência de doenças nas plantas e confirmamos que em cada unidade há a densidade e a al tura padrão da MightyGreens. Também inspecionamos para garantir que as raízes estejam saudáveis, pois essas plantas devem continuar a viver por 10 a 14 dias, no mínimo, antes do consu mo. Para garantir o máximo de tempo de prateleira, investimos mais de um ano trabalhando com a Plastilab para produzir nossas embalagens proprietá rias especificamente para os microverdes MightyGreens.

Pragas e doenças

A Fazenda Urbana trabalha em um ambiente controlado e fechado. Portan to, não tem problemas com pragas. Limpeza constante e completa, preparação adequada das sementes, água altamen te filtrada e ambientes de germinação e produção controlados ajudam a reduzir substancialmente o risco de doenças da planta.

Thomas Oberlin e Rodrigo recomen dam que, quem está começando agora, comece pequeno. “Jamais invista ou ini cie sua produção em um galpão, ou espaços muito grandes. Lembre sempre da sua sustentabilidade e dos gastos de energia, manutenção e limpeza do local, além da ergonomia. A não ser que você seja muito grande, evite ao máximo uti lizar equipamentos como plataformas elevadiças, que são caras de comprar, de manter e limpar, e geralmente são ele mentos propagadores de fungos e doenças, além de serem muito lentas e diminuírem sua produtividade”.

E se você é um grande produtor ou distribuidor, e está pensando em adi cionar microverdes (e cogumelos e outros produtos) de alto valor à sua linha de produtos, eles indicam trabalhar em parceria com a Fazenda Urbana. “Temos o know how, os sistemas e metodologias, e o conhecimento da marca que, em con junto, podem ajudá-lo a aumentar sua receita e lucratividade”, concluem os empresários.

Paulo Bressiani, proprietário da Fazenda Cubo

PRODUÇÃO SOB CONTROLE

Arquivo pessoal

Paulo Bressiani é proprietário da Fazenda Cubo, localizada em São Paulo (SP), com área pro duzida de 60 m 2 . “Vendemos o mix de microgreens a R$ 10,00/30 g. As opções são couve, beterraba, rabane te, mostarda, repolho roxo e coentro, uma produção que acontece o ano todo, devido ao ambiente ser contro lado, com irrigação automatizada por inundação, ventilação forçada e ilumi nação por LED”, relata.

Para o produtor, o sucesso neste empreendimento depende de usar se mente de qualidade, substrato limpo e ter um espaço protegido, com bastante ventilação.

Manejo

Paulo utiliza bandejas de 20 x 50 cm, com cerca de 5,0 cm de profun didade apenas e com furos no fundo. Para a semeadura, ele espalha uma fina camada de fibra de coco pela ban deja e, em seguida, coloca as sementes ali.

“Algumas sementes devem ficar de molho cerca de seis horas antes da semeadura, mas o ideal é verificar com o seu fornecedor. Após a semeadura, as bandejas ficam empilhadas por cer ca de dois dias, até a germinação, e em seguida são colocadas em prateleiras com iluminação LED para o cresci mento final, que varia de quatro a 10 dias, dependendo da espécie. O raba nete, por exemplo, é a cultura mais rápida que cultivamos e a beterraba a mais lenta. Fazemos a rega por inun dação para molhar o substrato sem molhar a parte aérea”, justifica.

Desafios

Os problemas mais comuns nesta produção são fungos do tipo mofo branco e dumping off. O segredo para prevenir a ocorrência deles é usar se mentes de qualidade, regular bem o manejo da irrigação, sem excesso, e ter uma boa ventilação, segundo o produ tor.

“Outro ponto importante é a ven tilação, um aspecto essencial para este tipo de cultivo, devido ao seu alto adensamento. Ainda, consideramos imprescindível o uso de sementes sem tratamento químico para produção de microgreens”, finaliza Paulo.

This article is from: