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Detalhes do cultivo de acerola no Brasil
ACEROLA
DETALHES DO CULTIVO NO BRASIL
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Fotos Shutterstock
Gustavo Cesar Dias Silveira
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) gcsagro@gmail.com
Maíra Ferreira de Melo Rossi
Engenheira agrônoma e mestranda em Botânica Aplicada – UFLA rossimaira@hotmail.com
Pedro Maranha Peche
Engenheiro agrônomo, mestre e pósdoutorando em Fitotecnia – UFLA pedmpeche@gmail.com
Aacerola (Malpighia emarginata DC.) é nativa da América Cen tral e do Norte da América do Sul, produz frutos excepcionalmente ri cos em vitamina C e A, é fonte de ferro e cálcio, além de conter outras vitami nas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina). São poucos os países que cul tivam comercialmente a acerola e o Brasil se sobressai nesse contexto, sendo atualmente o maior produtor, exportador e consumidor.
Adaptada às diferentes condições cli máticas, hoje em dia os plantios se espalharam por quase todas as regiões do País, sendo a região nordeste a maior produtora, responsável por 64% da pro dução nacional.
Dados mais recentes mostraram que no ano de 2017 a área colhida de acero la foi de 5.753 hectares, valor referente a 6.646 propriedades rurais com mais de 50 pés plantados. Nesse ano foram pro duzidas quase 70 mil toneladas de frutas e o valor de produção atingido foi de R$ 91.642.000.
O Estado de Pernambuco é o maior produtor, com 21.351 toneladas produ zidas, seguido do Ceará, com 7.578 toneladas, e em terceiro lugar Sergipe, com 5.427 toneladas de frutas produzidas (IBGE, 2017).
Parte da produção brasileira é ex portada para Europa, Estados Unidos e Japão, na forma de frutos ou polpa congelada e suco integral. Entretanto, o consumo nacional é crescente, trazen do boas expectativas ao mercado interno dessa fruta. Esse crescimento se deve, ba sicamente, a seu elevado teor de ácido ascórbico (vitamina C), que chega a ser 100 vezes superior ao da laranja, ou dez vezes ao da goiaba.
A acerola pode ser consumida sob a forma de sucos, compotas, geleias, utili zada no enriquecimento de sucos e de alimentos dietéticos, na forma de alimentos nutracêuticos, como comprimidos ou cápsulas empregados como suplemen to alimentar, chás, bebidas para esportistas, barras nutritivas e iogurtes.
A acerola também tem mostrado po tencial de uso na indústria farmacêutica e cosmética.
Variedades
A produtividade da aceroleira por hectare é crescente como em qualquer outra frutífera, passando de 6,5 tonela das no segundo ano de cultivo para 40 ou mais toneladas do quinto até o dé cimo ano.
As variedades de acerola são clas sificadas em doces ou ácidas. As ácidas são mais ricas em vitamina C e são indi cadas para a industrialização, enquanto as variedades de frutos doces são mais indicadas para o consumo “in natura”.
Deste modo, os clones disponíveis
para plantio foram selecionados levando-se em consideração o teor vitamínico.
Nesta classificação, os frutos que pro duzem mais que 1.000 mg de ácido ascórbico (vitamina C) por 100 g de suco é que são considerados satisfatórios. As variedades mais cultivadas no Sudeste são ‘Olivier’ e ‘Waldy-Cati’, mas existem outras, como ‘Cabocla’, ‘Serta neja’, ‘Flor-Branca’, ‘Okinawa’ e outras selecionadas pela Embrapa e pela Uni versidade Estadual de Londrina (UEL).
Exemplos de variedades doces: ‘Ma noa Sweet’, ‘Tropical’ e ‘Hawaiian Queen’. Por outro lado, entre as variedades de acerolas do grupo ácido estão: ‘J. H. Beaumont’, ‘C. F. Rehnborg’, ‘F. Haley’, ‘Red Jumbo’ e ‘Maunawili’.
A desuniformidade das plantas acar reta em perdas de produtividade do pomar e de qualidade dos frutos. Por isso, é extremamente importante que os po mares sejam formados a partir de variedades bem definidas, portadoras de características agronômicas e tecnológicas adequadas à finalidade a que se desti nam.
É muito importante também o pro dutor se resguardar e procurar adquirir mudas de viveiristas idôneos e confi áveis.
Plantio
Antes do plantio, deve-se realizar amostragem do solo para analisar a ne cessidade de correção e para que se saiba o nível de nutrientes já presentes no solo.
O plantio das mudas deve ser rea lizado, preferencialmente, no início do período chuvoso.
Se houver disponibilidade de irriga ção no cultivo da fruteira, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, exce to no inverno. O espaçamento pode variar entre 4 x 4 metros, 5 x 5 metros, 6 x 4 metros e 5 x 4 metros, que é o mais utilizado nos plantios em propriedades instaladas no Sudeste, com 500 árvores por hectare.
Como a polinização da aceroleira também depende da ação de insetos, com destaque para as abelhas nativas do gê nero Centris spp., é preciso contar com elas nas proximidades do pomar culti vado.
No entanto, quando se planta mais de uma variedade de acerola no mesmo pomar, pode ocorrer a polinização cru zada, o que beneficia ainda mais o pegamento dos frutos.
Adubação, pragas e doenças
A adubação contribui para que os frutos fiquem maiores, com mais qualidade e a aceroleira mais produtiva. Para que o produtor de acerola possa fornecer os nu trientes necessários e fazer o uso racional de fertilizantes, terá necessariamente que adotar algumas técnicas básicas e essenciais: análise de solo, análise fo liar, observação dos sintomas de deficiência de nutrientes e conhecimento dos fatores que afetam a disponibilida de de nutrientes.
Em conjunto, devem-se realizar as práticas culturais usuais, como contro le de plantas daninhas, adubações de reposição a cada ciclo produtivo, podas de formação e de limpeza e irrigação (se necessário).
Nematoides, pulgões, formigas cor tadeiras, cigarrinhas e mosca-das-frutas são algumas das pragas que atacam a fruteira, enquanto entre as doenças se incluem antracnose, cercosporiose, seca descendente de ramos e podridão de fru tos.
Colheita e comercialização
Durante o processo de colheita, seleção e embalagem, é preciso evitar que os frutos sofram pancadas ou ferimen tos, o que acelera sua deteriorização.
Colha os frutos a cada dois ou três dias, retirando todos os maduros e os que estão mudando de coloração. Evi te deixar as acerolas expostas ao sol depois da colheita - de preferência, deixá-las em ambiente refrigerado e comercializá-las o mais rápido possível, no caso de venda de frutas frescas.
Dependendo das condições climá ticas locais e da condução do plantio, a partir de oito meses surgem os primeiros frutos da aceroleira. A planta pode regis trar anualmente três ou mais safras concentradas, principalmente na primavera e verão.
Após o terceiro ou quarto ano do plantio, as fruteiras adultas chegam a produzir de 40 a 50 quilos de acerolas por planta ao ano, o que corresponde a uma produtividade média de 20 a 25 to neladas por hectare.
Já está mais que provado que o consu mo de frutas e hortaliças é benéfico para a saúde e isso contribui para a difusão do consumo da acerola. Com isso, a acerola tornou-se um produto agrícola gerador de lucro para o agricultor brasileiro, em es pecial para donos de pequenas propriedades e empregadores de mão de obra familiar.
Atualmente, a cotação no atacado da acerola fresca está em torno de R$ 8,50/ kg (Ceagesp, 2020), o que garantiria, para um produtor que alcançasse uma produtividade média de 25 ton/ha, um faturamento de R$ 212,5 mil/ha/ano.
Lembrando que se o produtor qui ser vender sua produção para a indústria, esse preço será menor e deve-se pensar sempre em trabalhar com um maior vo lume da fruta.
UVAS
QUAL O PORTAENXERTO IDEAL?
Adilson Pimentel Junior
Engenheiro agrônomo, mestre e professor - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) adilson_pimentel@outlook.com
Aline Mendes de Sousa Gouveia
Engenheira agrônoma, doutora e professora - Unifio alinemendesgouveia@gmail.com
Matheus Giugni
Graduando em Agronomia - Unifio matheusgiugni@outlook.com
Os porta-enxertos da videira, conhecidos como cavalos, não produzem frutos, no entanto, são vigorosos e apresentam sistema radicular resistente às pragas e situações adversas do solo, transmitindo seu vigor e resistência para variedades-copa enxertadas. Na viti cultura nacional, os porta-enxertos são obrigatórios e representam uma tecno logia simples, com resultados significativos para o desenvolvimento e crescimento das parreiras.
Principais porta-enxertos para as uvas
ricanas de Vitis, destacam-se a Rupestris du Lot (Vitis rupestris, var. du lot), a Riparia Gloire (Vitis riparia, var. Gloi re de Montpellier), a Berlandieri Resseguier (Vitis berlandieri, var. Resseguier) e a Solonis (Vitis longii, var. Solonis).
Quanto aos híbridos, que são origi nários do cruzamento entre espécies distintas, temos: Ripária do Traviú (Vitis riparia x Vitis cordifolia – Vitis rupestris), 101-14 (Vitis riparia x Vitis rupestris), Kober 5 BB (Vitis berlandieri x Vitis ri paria), 420 A (Vitis berlandieri x Vitis riparia), Richter 99 (Vitis berlandieri x Vitis rupestris), SO4 (Vitis berlandieri x Vitis riparia) e Golia (Vitis rupestris x Vitis riparia – Vitis vinifera).
Visando a expansão no cultivo de vi deiras em regiões de clima tropical, o Instituto Agronômico (IAC) teve importante contribuição para a viticultura nacional, com o lançamento de porta-enxertos hí bridos denominados “tropicais”, sendo os mais utilizados o ‘IAC 766 Campi nas’ (Ripária do Traviú x Vitis caribaea), ‘IAC 572 Jales’ (Vitis caribaea x 101-14) e o ‘IAC 313 Tropical’ (Golia x Vitis ci nerea).
Estes materiais apresentam alto vigor, compatibilidade com diversas variedades -
Fotos Adilson Pimentel Junior
-copa e adaptabilidade a diversos tipos de solos, especialmente a solos ácidos.
A seleção
Os principais critérios a serem observados na seleção do porta-enxerto da videira são: resistência a filoxera; nematoides; adaptação aos solos ácidos, calcários ou salinos; à seca ou umidade excessiva do solo; resistência a doenças fúngi cas da folhagem; tolerância à deficiência nutricional; boa afinidade com a variedade produtora; compatibilidade na enxertia; facilidade de enraizamento e de pegamento na enxertia.
Cada variedade deve ser seleciona da atentamente para que o produtor seja atendido em suas exigências.
Manejo
A técnica de produção de mudas de videiras enxertadas é dividida em três eta pas. Inicialmente, o viveiro deve seguir rigorosamente o esquema de certificação de mudas, com o registro das cultivares e a absoluta pureza genética e sanitária do material.
A primeira etapa é a produção de es -
tacas de porta-enxertos, sendo que a coleta do material é realizada na ocasião da poda de inverno, quando as videiras estão em repouso vegetativo e com os sarmentos lignificados.
As estacas dos porta-enxertos de vem possuir de 07 a 12 mm de diâmetro e 28 a 30 cm de comprimento, contendo oito a 10 gemas por estaca. São formados feixes de 200 estacas, os quais são armazenados em câmara fria com temperatura entre 3,0 e 5°C e 95% de umidade relativa, o que possibilita a su peração da dormência e estratificação das estacas em tempos distintos que va riam de 15 a 20 dias.
A segunda etapa é o plantio das es tacas, sendo o porta-enxerto cortado no comprimento de 28 cm, removendo-se todas as gemas, deixando uma ou duas no topo para a brotação.
Enterra-se 2/3 do comprimento da estaca no solo, no local de plantio, respei tando os espaçamentos previstos, sendo que após um ano de crescimento é reali zada a terceira etapa, que consiste na enxertia da variedade-copa, que pode ser realizada por garfagem no topo em fen da cheia, com atenção aos diâmetros dos materiais que devem ser compatíveis. O enxerto deve apresentar de uma a duas gemas.
A muda pode ser obtida pela enxer tia de mesa ou chamada de muda de raiz nua. Por existirem várias etapas muito criteriosas, é produzida por viveiros re gistrados e por pessoas especializadas, caso contrário, as perdas são grandes.
Investimento x retorno
No campo, observam-se diversas interferências do porta-enxerto junto à variedade copa. O êxito da enxertia se dá pela compatibilidade ou afinidade en tre o porta-enxerto e a variedade enxertada, que imprime maior vigor e rusticidade às parreiras, melhorando sua produtividade.
As características agronômicas e fisio lógicas das cultivares-copa, tais como vigor, produção, tamanho de cachos e bagas, repartição de fotoassimilados, teor de açúcares e acidez dos frutos e outros com postos importantes para a qualidade das uvas podem ser influenciados pelo por ta-enxerto.
As inúmeras espécies e variedades de porta-enxertos permite o aproveitamen to de vários tipos de solos e climas, o que possibilitou a expansão da viticultura na região nordeste do País, devido ao uso dos porta-enxertos tropicais.
Alguns ainda são tolerantes aos ne matoides, e seu uso viabiliza uma produtividade rentável das plantas em regiões infestadas.
O custo-benefício é grande ao se uti lizar plantas enxertadas, possibilitando aumento na qualidade e produção de frutas, em especial das uvas, bem como a utilização de áreas antes não recomen dadas para o cultivo comercial de plantas.
Enxertia feita com sucesso na uva
Erros
Hoje, com as informações cada vez mais apuradas, são poucos os er ros na escolha de variedades de porta-enxertos, sendo que o sucesso na produção das plantas está mais relacio nado ao tipo de enxertia, também dependente do manejo aplicado pelo viticultor, como irrigação, adubação, controle fitossanitário e escolha da va riedade-copa.