Punk Comix

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Este livro pretende fazer uma pesquisa sobre o que conta a Banda Desenhada portuguesa sobre o Punk em Portugal. Aviso à navegação: isto não é um ensaio científico, não há aqui jargão académico, gráficos, nem uma única referência a Durkheim (cóf, cóf) e nenhuma razão para fazer no final do livro uma bibliografia. Está tudo creditado ao longo do texto, é fácil! Reparem que até a bonecada serve de mnemónica para encontrar a informação que desejarem mais tarde. Isto é para ser lido tão rapidamente como se ouve um LP dos Ramones! Uma imbirrância com as bibliografias é que pouco valem quando algumas publicações são difíceis de encontrar como os fanzines, publicações amadoras que tratam dos temas preferidos dos seus editores e colaboradores. Conhecidas pela sua liberdade total de conteúdos em oposição às restrições económicas devida a uma distribuição limitada, não procuram lucro e criaram redes de contactos - uma Internet avant la lettre. Em Portugal são geralmente impressos em

fotocópias com pequenas tiragens e foi um fenómeno que teve mais importância até à massificação da Internet. Até lá os selos e o apartado dos correios eram essenciais para sua circulação embora alguns aparecessem em algumas lojas de discos e concertos (no caso dos fanzines de música) ou em festivais de BD (para os de BD) até haver eventos especializados como a Feira de Fanzines de Almada (19932008). Cito este por ser o primeiro que teve maior reconhecimento público, seguiram-se muitos outras iniciativas idênticas como a Feira Laica (2004-12) ou as recentes Feira Morta e ZineFest.Pt. Arranjar algumas destas peças pode ser uma dor de cabeça porque são edições marginais, sem depósito legal nem vontade de serem colocados em bibliotecas públicas. Fanzines Punk sendo “auto-destrutivos” por natureza são raros de encontrar a não ser nas mãos de privados. No caso dos fanzines de BD felizmente existe a Bedeteca de Lisboa, onde foi feita quase toda a investigação. Em caso de necessidade de consultar os materiais aqui descritos, é nesta instituição pública a que se devem dirigir. Lá é fácil encontrar toda a


BD portuguesa publicada em revista, livro e fanzine. É de referir que não só é a única instituição pública em Portugal com um acervo deste tipo de publicações como foi a única que editou livros decentes sobre a História da BD portuguesa como Das Conferências do Casino à Filosofia de Ponta (Bedeteca de Lisboa, 2000) de João Paulo Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro, por exemplo. Depois da Bedeteca, a pesquisa virou-se para a minha colecção privada e de alguns amigos, sobretudo a do Afonso Cortez com o qual divido o objecto que tem nas mãos. Ele assina o outro livro que faz uma análise histórica do Punk português através das capas de discos e, pelo caminho, explica tudo sobre a cena punk. Se tiverem dúvidas em alguns termos do Punk é só virar o livro ao avesso e começar por ele... A ideia de split (dois livros num só volume) é puro modus operandi punk que fortalece o espírito de comunidade e de entre-ajuda, opondo as ideias tontas de competição selvagem que dominam todos os aspectos das nossas vidas. Esta é a opção mais divertida de publicar os nossos trabalhos porque junta dois amigos de longa data a criarem um objecto gráfico com estaleca e servindo de desculpa para convidar mais malta companheira! O Rattus, músico de mil

bandas punk e editor da Zerowork foi desafiado a produzir um CD de música underground com a temática da BD. Juntos reunimos várias bandas que ofereceram temas todos eles inéditos sobre BD na forma mais abrangente possível, sobre personagens, séries, autores ou livros. Alguns temas são mais óbvios que outros. O que importa é que o resultado é uma rica mistura de sons que vai desde o recital musicado ao Crust barulhento. A ideia original deste livro foi fazer uma investigação que poderia ser ponto de partida para outras mais rigorosas no plano científico ou jornalístico. É uma prenda ao mundo se ele quiser... Serve como uma base de referência para quem quiser pegar na BD para relacioná-la com o Punk, subculturas urbanas, música, cultura DIY, artes gráficas e editoriais. A cultura da BD sofre de reconhecimento cultural, vista como uma arte freak pelo uso simultâneo de texto e de imagem, costuma irritar quem quer coisas bem comportadas e estanques que se possam colocar numa gaveta literária ou numa visual. É justamente este estatuto híbrido que a torna bastante interessante para quem precisa de imagens ou documentos textuais ou dos dois para alguma investigação. Deveria ser o melhor de dois mundos, não?


Ao ser activo no mundo da BD através de vários projectos – fanzine Mesinha de Cabeceira, Associação Chili Com Carne, editora MMMNNNRRRG e Bedeteca de Lisboa – é inevitável que houve uma colisão das minhas acções passadas e presentes com o tema de investigação. Pode parecer farsolas escrever isto mas é verdade que não me tinha dado conta de tanta interacção minha com o universo punk, até fazer este trabalho. Quando tomei consciência de tal, adoptei a escrita na primeira pessoa, trazendo à baila a subjectividade dos gostos e das opiniões pessoais. Como disse anteriormente, isto é uma acumulação de informações e ideias, agrupadas em assuntos que podem ser úteis a investigadores ou qualquer outra pessoa interessada. Não tendo conhecimento de nenhum estudo sobre a relação entre BD e punk, muito menos em Portugal, foi com alguma excitação e sensação de estar a desbravar algo inédito que ia escrevendo os textos. Mais tarde, descobri alguma (pouca) bibliografia relacionada e depois de responder às principais perguntas feitas para a investigação poderia ter reorganizado todo o texto para algo mais técnico ou frio. Preferi manter um discurso coloquial para que o leitor possa sentir o mesmo entusiasmo que

tive ao descobrir estas peças nunca antes juntas. O meu ímpeto em realizar este trabalho deve-se ao facto de como autor e editor de BD tenho muitas influências das lógicas políticas e estéticas do punk ou do underground. Não me considero punk porque o meu moicano durou poucas semanas e se dormi em alguma okupa foi sem querer, preferir o termo “underground” para certas práticas que admiro ou que produzo. Tem um sentido mais lato do que o “Punk”, uma cultura que se cristalizou em dogmatismos que não me interessam. Desprezo o punk enquanto “modelito de tribo urbana” mesmo que saiba cantarolar todas as músicas dos Dead Kennedys. De forma ingénua foram eles e os Big Black que me inspiraram para começar o Mesinha de Cabeceira com o Pedro Brito, fosse pelo sarcasmo das letras de Jello Biafra e de Steve Albini, cabeças das respectivas bandas, fosse pelas colagens de Winston Smith, o artista gráfico da Alternative Tentacles - editora de Biafra. Claro que descobri(mos) nos inícios dos anos 90... já as bandas tinham acabado. É de admirar que elas continuam a ser referência passadas estas décadas todas. Não foi só a radicalidade sonora ou dos seus humores que as fizeram perdurar tanto tempo.


Foi também, cada um a seu peso e medida, o ângulo ético do Do It Yourself (DIY) nos processos de produção, de comunicação e de organização. Eles e outros como os Crass são ainda exemplos a seguir e a copiar, não sendo de admirar terem procriado milhares de réplicas que foram evoluindo conforme a realidade de cada indivíduo, grupo, local, cena ou país. Assisti a essas adaptações através das actividades ligadas aos No Oppression, ao Hardcore e ao Metal. Foi neste “underground maior” que encontrava ideias excitantes que não existiam na BD, pelo menos na portuguesa. Muita coisa tem mudado na BD nacional e mundial nas últimas décadas. Há mais diversidade de oferta e produção. Vai-se perdendo a passo lento as suas conotações de nerd, pop, machista, hierarquizada e fantasiosa. A maior parte da produção ainda é assim ou pelo menos é essa que continua a ser mais acessível e divulgada.

Nos anos 90 talvez ainda fosse pior e como não me revia neste universo de coleccionismo passivo, achando que a BD pode ser muito mais do que se apresentava, vi no “Punk” a única via para actuar, para fazer BDs, fanzines e livros, para chegar às pessoas fora desse meio bafiento e infantilizado pela “bedófilia”, bem como para participar ou organizar formas colectivas de criação e para combater a ignorância do público, dos jornalistas e lojistas. Seriam os anos 90 piores que hoje? É discutível se perguntar-mos onde é que, em 2017, poderiam ser publicadas as BDs alucinadas de Relvas ou de Conefrey tal como estas saíram em jornais de circulação nacional? A resposta será negativa. Não é possível... Esta resposta simples complementa-se pelo facto de que nos dias que correm, um jornal como o Público preferir vender livros do facho do Batman como se fossem grandes obras, mantendo assim o status quo da BD abaixo da caca.


A BD tem uma História escondida que merecia ser toda recontada fora dos pilares impostos pela indústria e comércio, mesmo a História oficial é desconhecida ou ignorada pelo grande público devido ao fraco reconhecimento social e institucional da BD. Na sua génese foi uma arte para uma burguesia do século XIX que se divertia com imagens satíricas e caricaturais de situações políticas e sociais. No dealbar desse século, houve uma deslocação da sua indústria para se tornar num medium popular para classes iletradas e para crianças. Daí que a BD esteja sempre ligada à ideia de que é um produto para as massas, ou, de preferência, para camadas infanto-juvenis pelo século XX adiante. Cada vez que a Censura avançava mais um pouco, mais a BD se tornava tradicional e pouco dada a inovações. O apogeu dessa infantilização será atingido nos anos 50 porque cada Estado teve uma desculpa para controlar este medium tão popular. Nos EUA a “caça às bruxas” presenteou o “Comic Code”, uma pré-censura criada pela indústria da BD. Em alguns países comunistas era vista como produto do Imperialismo americano e era erradicada. Em França havia a “Loi de la Jeunesse” que proibia uma série de temas aos jovens, em BD ou não. Em Portugal e Espanha tinha-se de tratar de temas histórico-nacionalistas para elevar a moral dos nossos jovens e até cortavam as pistolas das imagens: “bang” disparavam os cauboís em seco! Outros exemplos análogos podem ser vistos em Portugal Século XX: Crónica em Imagens 1950-60 (Círculo de Leitores; 2000) de Joaquim Vieira. Neste contexto, a BD foi colocada na prateleira da infância para daí quase não conseguir sair, perdendo leitores adultos, visão artística e sobretudo a sua relevância com o aparecimento da sedutora alienação electro-magnética da TV.


Nos anos 60, entre drogas, vida comunitária e molotovs atirados à polícia recomeça a BD “adulta” na falta de melhor termo. Se essa década é conhecida pela tríade do “sexo, drogas e Rock’n’Roll” na BD podemos substituir o Rock pela “autobiografia”, género ignorado até então pela BD. É a partir daqui que regressam registos intimistas ou artísticos sobre a realidade que esteve quase ausente durante meio-século – com poucas excepções, curiosamente, uma delas até portuguesa, o Carlos Botelho. Nos anos 70, com o advento da máquina fotocopiadora e da cultura Punk/ DIY significando que qualquer pessoa pode expor o seu trabalho sem pedir licença a ninguém. Claro que já existia auto-edição antes mas foi nesta década que houve uma explosão de fanzines e editores independentes pelo mundo inteiro. Estes dois factos, a autobiografia e a auto-edição, trouxeram uma renovação estética e narrativa à BD, sendo que no livro Below Critical Radar: Fanzines and Alternative Comics from 1976 to now (Slab-O-Concrete; 2001), os seus coordenadores Roger Sabin e Teal Triggs estabelecem uma relação entre os fanzines e a “BD alternativa” em três pontos, a saber:

1) Ambos nascem com a libertação que o punk trouxe, em que os meios de produção são assimilados de forma pessoal para validar um produto final (um disco, um fanzine, um filme) sem aprovação da comunidade; 2) Ambos projectam a “autobiografia”, dando voz à experiência da mais infinitésima minoria possível; 3) Ambos tocam temas extremos que não são adequados em publicações oficiais.


Em teoria, o punk não trouxe movimentos para a BD. O crítico Domingos Isabelinho no catálogo Tinta nos Nervos: banda desenhada portuguesa (Museu Colecção Berardo, 2011) duvida que se possa falar em “ismos” na BD. Apesar de tudo, identifiquei duas situações que podem ser vistos como “dissidentes” do curso normal da BD. Longe de fazerem um “movimento” ou um “ismo” ainda assim deixaram uma marca invisível em vários elementos da cultura urbana, mesmo que o punk e a BD partilhem uma marginalidade nas artes. Será o caso da Punk Magazine, activa entre 1975 e 1979, dirigida por John Holmstrom, que era um autor de BD que frequentou aulas com Will Eisner e Harvey Kurtzman. Pelo que se lê no livro em que ele conta a história da revista, The Best of Punk Magazine (HarpersCollins; 2012), terá sido ele o principal ideólogo da publicação que promovia a cena rock underground nova-iorquina (Dictators, Patty Smith, Blondie, etc…) ligada sobretudo ao mítico bar CGBG. A revista terá um impacto nessa comunidade, solidificando o termo “punk” na cultura popular, especialmente quando um número foi enviado a acompanhar o material promocional do disco de estreia dos Ramones para a imprensa. A revista terá influinciado várias outras publicações, sendo o catalisador para inúmeros fanzines como o Sniffin’Glue de Londres. Se há publicação que faz ligação entre a BD e o punk é esta. Isso é nítido por causa das entrevistas em formato de BD a músicos como a Lou Reed (uma no primeiro e outra no penúltimo número), pelas fotonovelas em que participam Debbie Harry, Joey Ramone e Richard Hell, pela entrevista a Kurtzman ou ainda pelo “caso Crumb”. A Punk Magazine gozou com Robert Crumb, fazendo com que este importante autor desistisse de fazer BD para uma outra


revista, mais tarde o autor sentirá novo vigor com o movimento punk, renovará o seu trabalho e editará a revista Weirdo. Também estiveram na redacção da Punk Magazine o Mike Hunt (que irá publicar o polémico Mike Diana nos anos 90) e o Peter Bagge que irá parar à Weirdo e fará mais tarde a série Hate, verdadeira caricatura do Grunge e da Geração X. Quanto às BDs e “fumettis” (é assim de forma errónea que se chamam fotonovelas nos EUA) desta revista, eram histórias humorísticas de quem queria era divertir-se. É sabido que o punk nova-iorquino ambicionava originalmente a boémia e ”joie de vivre” e não a vertente política como acontecia na Inglaterra. O grafismo da revista era devedor às revistas de BD underground dos anos 60 mas é o “à vontade” do uso de texto manuscrito e colagens que irá contaminar muitos outros editores de zines, punk ou não, que irão produzir objectos editoriais idênticos chegando até ao grafismo punk que conhecemos hoje das extremas colagens fotocopiadas. Dá vontade de se afirmar que terá sido um autor da BD quem inventou o Punk, um exagero sem dúvida, mas parece-me que foi um dos grandes contribuidores para a sua história.


Mais séria é a revista, também nova-iorquina, World War 3 Illustrated, criada em 1980 e que ainda hoje existe. A Terceira Guerra Mundial começou nesse ano quando Seth Tobocman e Peter Kuper decidiram ilustrá-la. Poderá ser vista como uma “revista de Esquerda” num país que erradicou a Esquerda nos anos 50 ou então a única publicação de BD sobre luta política. É tão militante que tirando Tobocman, Kuper (que defendeu Mike Diana no tribunal quando este foi proibido de desenhar), Eric Drooker, Fly (também conhecida pela banda queercore God Is My Co-Pilot), Nicole Schulman e as colaborações esporádicas de Art Spiegelman e Kyle Baker, muitas vezes os autores são “desconhecidos”. Estes últimos são tecnicamente não muito aptos mas sobretudo são muito emotivos, relatores de desgraças, bravos combatentes contra injustiças sociais e lutas monstruosas contra a opressão nas suas mil faces. É com os temas de cada número que as características da 3a Guerra Mundial ganham forma: “unnatural disasters”, “neo-cons”, “life during wartime”, “taking liberties”... A revista não é tematicamente punk embora tenha autores que venham desse meio e faz sentido estar aqui referida se pensarmos que o punk tornou-se num movimento ligado à anti-Globalização / anti-Capitalismo, à defesa dos direitos animais, ao


veganismo, femininismo e anti-racismo como relata Craig O’Hara em The Philosophy of Punk: More than noise (AK Press; 1995). Estes dois exemplos são sem dúvida os mais interessantes, porque as outras hipóteses de “pegar” na BD e o punk inserem-se no campo da ficção e da fantasia, alinhadas à “História Oficial” da BD e à “cultura oficial”. Neste mundo de estereótipos o punk aparece como um pequeno criminoso de rua, marginal e/ ou toxicodependente, geralmente identificado com um moicano, como O’Hara também relata no livro citado. Nas BDs de Super-Heróis, o género mais consumido nos EUA na cultura mainstream, um punk serve para levar uns tabefes do super-herói por ter roubado, vandalizado ou violado algo ou alguém. A única excepção positiva do Punk será a personagem Storm (Tempestade, na versão portuguesa) do grupo de super-heróis X-Men que, nos meados dos anos 80, apropriou-se do “look” punk (cabedal preto, camisa rasgada, moicano) abandonando as suas vestimentas extravagantes de super-heroína. Deve ser a única representação oposta ao retrato marginal do punk, que até faz algum sentido porque os X-Men nesta fase, escrita por Chris Claremont, eram posicionados como super-heróis incompreendidos, marginais e odiados pela sociedade, em sintonia com o pensamento “teeny punk” do “eu contra o mundo”. Talvez por isso que “comics” dos X-Men aparecem na fotografia da contra-capa do disco Brain Drain (Sire; 1989) dos Ramones. No entanto, apesar dessa fase “street” dos X-Men nada há a relatar de interesse... Outra forma de representar o punk no mainstream são os “anti-heróis”, cujos três mais conhecidos são o Peter Pank do espanhol Max, uma paródia a Peter Pan e às tribos urbanas publicada na revista El Vibora nos anos 80, em que os punks apesar de serem os heróis da série continuam a ser criaturas grosseiras e toxicodependentes que se recusam a crescer – síndroma de “Peter Pan” como o nome da personagem indica - e que deve ser lido como uma crítica ao mito da eterna juventude do Rock. Tank Girl de Jamie Hewlett e Alan Martin foi um fenómeno britânico dos anos 90 que até chegou ao cinema. Apesar do caos narrativo e gráfico assumidamente punk, nada conta de real sobre o punk porque trata-se de uma série em ambiente pós-apocalíptico, com a anti-heroína a ser levada por situações “pastiche” do género de aventuras, sempre a rondar o “non-sense” e o humor escatológico. Por falar em escatológico, resta Bob Cuspe, a personagem punk na tira humorística Chiclete com Banana do brasileiro Angeli, publicada na Folha de S. Paulo nos anos 80, é o típico “punk besta” que cospe para tudo e todos.


Neste contexto exposto, gostaria de identificar alguns dos autores internacionais de BD mais reconhecidos ligados à cultura punk, para traçar mais tarde paralelos à produção portuguesa. Os nomes surgem por total responsabilidade minha, entre um conhecimento empírico e senso comum. Esta selecção “à queima-roupa” é justificável porque a cena da BD é infecta de infantilismo fetichista e a do punk de dogmatismo canino, quem vive num dos mundos não vive no outro, logo é fácil sinalizar os poucos exemplos que existem desta intersecção. Nem é preciso nenhum tratado académico para atribuir-lhes a importância que lhes vou dar. O nome do britânico Simon Gane (1972?) seria daqueles que, na BD, dirá pouco porque a sua obra não é particularmente inovadora mas é um autor famoso na cena punk, ou pelo menos era nos anos 90. Diz-se que não há fanzine punk que já não tenha publicado, com ou sem consentimento do autor, imagens da sua personagem Arnie, The Anarchist.


Essa série tem a lógica da tira humorística num micro-universo em volta das questões da Anarquia. No seu auge da cena punk ainda ilustrou centenas de capas de discos, cartazes e outra efémera. Hoje é mais um autor como muitos outros no grande mercado norte-americano, trabalhando para editoras conhecidas como a Top Shelf e a DC Comics. Se recebeu o título “King of Punk Comics” foi por reconhecimento na cena punk e não pela BD, claro está. A BD aliás tem esta tendência a ser um clube de rapazes bem-comportados devido à sua pesada história da BD comercial que parece devorar tudo e todos fora desse parâmetro. Talvez por isso seja raro haver reconhecimento para autores como o francês Mattt Konture (1965) que tem uma legião underground de leitores que não são propriamente os mesmo que lêem o Tintim. Konture vem da cultura punk – onde aliás, continua – como artista gráfico e como músico mas, ao contrário de Gane, a BD que realiza é sobre essa realidade na primeira pessoa, embora muitas vezes o seu trabalho passe pelo automatismo e psicadelismo como se verifica na sua única BD publicada em Portugal na revista Quadrado #2 (3a série, Bedeteca de Lisboa; Set’00). Em 1990, ele e outros cinco autores foram responsáveis pela criação da editora L’Association que modificou para sempre a BD europeia, em grande parte pela abordagem da autobiografia à BD. O seu estilo gráfico é misto do “brutismo” (Art Brut e estética lo-fi do punk) e uma tradição abonecada que ainda vem do underground dos anos 60, sendo Robert Crumb uma influência assumida de Konture. Nos EUA, é impossível não referir os três irmãos Hernandez que criaram a revista Love & Rockets (título que os ex-Bauhaus roubaram sem vergonha) em 1981 e que é um marco histórico para o subsequente movimento da “BD alternativa” que cresceu daí até ao fim do século passado. Um dos irmãos, Jaime (1959), realizou nesta publicação a série Locas que trata da vivência no meio Punk / Hardcore da Califórnia. Apesar de não realizar registos autobiográficos como Konture, as


histórias que conta são fruto dos seus encontros quotidianos com a comunidade latina em que se insere e são importantes como testemunho de uma minoria cultural norte-americana. Não só de uma minoria latina mas também o da feminina na cultura Hardcore, uma vez que a maior parte das personagens são miúdas que usam patches de Black Flag... Ou serão antes mulheres? É que em trinta anos os Hernandez mantiveram a revista e as suas séries, com algumas interrupções pelo meio, o que permite fazer uma análise do envelhecimento destas personagens fictícias que transpiram de realidade pelos poros. Resta dizer que o estilo gráfico destes irmãos é tradicional e realista, Pop estilizado a lembrar o grafismo dos anos 50. A preto e branco obrigatoriamente pela questão de custos de impressão da revista. A antítese dos Hernandez será o texano Gary Panter (1950) cujo desenho “deficiente” e “ratado” é largamente influenciado pela liberdade estética que o punk trouxe. Ele próprio foi ilustrador e autor de BD para um jornal punk, Slash, entre 1977 e 1980, desenhou material gráfico para várias bandas, sobressaindo como um importante artista gráfico. O problema será saber se as BDs de Panter contam algo realista sobre o punk e à partida a resposta será um grande “não”. No máximo poderá contar que houve punks com ácidos vindos da província como o seu Jimbo. O mundo de onde esta personagem se move é demasiado instável para o posicionarmos onde quer que seja. O único realismo é a cara de Jimbo ter sido inspirada pela do vocalista dos The Screamers. Panter é um exemplo como o primitivismo estético do punk foi rapidamente assimilado pelos artistas dos anos 80, fazendo dele uma figura de vanguarda nessa década quando publicava na seminal Raw, revista dirigida por Art Spiegelman.


Outro autor na mesma linha de Panter, mas do outro lado do Atlântico, será o inglês Savage Pencil que nos dias de hoje colabora na revista de música The Wire mas se destaco Panter tem haver com o facto de ter feito mais BD reconhecida publicamente que o Savage Pencil.

Este anúncio de autores serve para mostrar quatro eixos possíveis de intersecção entre o punk e a BD: 1 - BD de género dentro de um nicho (Ganes) 2 - BD autobiográfica na cena punk (Konture) 3 - BD que retrata uma cena punk (Hernandez) 4 - BD com um estilo gráfico surgido da acção punk (Panter)


Apesar da História da BD portuguesa remontar ao génio incontornável de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), o certo é chegar-se aos anos 70 do século XX com um mercado reduzido e uma fraca produção, justamente na altura em que Portugal ganha as liberdades do 25 de Abril de 1974. O nosso estado geográfico periférico acompanhado do historial de isolamento imposto pelo fascismo, entre as décadas de 30 a 70, faz com que Portugal seja mais “insular” que continental. É uma metáfora que complementa outra: os trabalhos da BD portuguesa são barcos perdidos num Atlântico que raramente estabelecem laços entre eles ou que encontram uma continuidade de trajecto. Será justo achar positivo o facto de não termos indústria nem mercado? Por um lado é aflitivo assistir o desnorteio de alguns “autores-capitães” face ao “vazio do oceano”, por outro, a BD portuguesa não deixa de ter uma riqueza artística justamente pela ausência de vícios da formatação - um mercado obriga sempre a uma formatação de estilos. A bem ou a mal, cada autor português tem encontrado o seu caminho individual, naquilo que poderíamos chamar de “BD de Autor”, uma designação paralela ao “Cinema de Autor”, justamente para distinguir das produções industriais de BD estabelecidas como a norte-americana, japonesa ou franco-belga. É fácil de comprovar esta riqueza abrindo o catálogo da exposição Tinta nos Nervos mesmo que seja uma visão “reduzida”, não por qualquer tipo de constrangimento mas por ser uma selecção do comissário Pedro Vieira de Moura de apenas 41 artistas. Estes atravessam géneros estabelecidos, como a ficção científica ou o humor, como experiências radicais ainda por designar, como as de Cátia Serrão ou de Carlos “Zíngaro”. No plano de “BD sobre a realidade”, ou seja, BDs que tratem de Portugal, as suas gentes ou paisagens, seja num contexto histórico e social através da reportagem, crónica ou jornalismo, seja pela representação pessoal, seja pela “verdade” da autobiografia ou ainda das máscaras da auto-ficção e/ ou ficção baseada em cenários possíveis, não há muita produção. Começou bem, é certo, com esse “pai da BD portuguesa”, R. B. Pinheiro, que já fazia autobiografia em 1881, no seu segundo álbum No Lazareto de Lisboa onde desenha a sua experiência de quarentena regressado do Brasil. Foi cronista


satírico da política de um tempo ainda dividido entre a Monarquia e os Republicanos como ainda descrevia aspectos culturais da capital, como o Teatro. Saltando para os modernistas temos Stuart Carvalhais (1887-1961) e Carlos Botelho (1899-1982). O primeiro inventou a série Quim e o Manecas que segue a tradição dos rapazes traquinas à “Max und Morritz” e liga as proezas da dupla aos acontecimentos do seu tempo como a 1a Guerra Mundial ou o escândalo do Futurismo – embora tudo de uma forma caricatural e superficial. Ao longo da sua obra gráfica (BDs, cartoons e ilustrações) encontram-se paisagens de Lisboa e alguns acontecimentos da cidade: o “batuque em Maxim’s”, o uso da cocaína, costumes sociais e alguma marginalidade. O segundo, entre 1928 e 1950, cria as crónicas Ecos da Semana, no jornal Sempre fixe, que testemunha os acontecimentos sociais e culturais em BD, fosse uma Volta a Portugal em Bicicleta fosse a situação política internacional – com Mussolini ou Hitler a aparecerem nem sempre de forma mais “digna”. Dedicou 22 anos num trabalho ímpar a nível mundial até ao seu desgaste graças à Censura do Estado Novo. Apesar destes bravos e originais “inícios”, a BD portuguesa ficou aprisionada a moldes estagnados, em grande parte culpa da Censura do Estado Novo, ainda que, graças a ele se conseguisse alguma produção nacional devido ao proteccionismo face aos produtos estrangeiros. Esta barreira económica permitiu a existência, em estatuto e maestria, de autores profissionais, que sobreviveram até meados dos anos 90 como quase os únicos autores publicados em livro depois da morte lenta das revistas infanto-juvenis. E sobrevivem até aos dias de hoje! Durante a redacção deste livro saíram mais um ou dois novos livros de José Ruy (1930). Cingida ao público infanto-juvenil desde os anos 20, a BD portuguesa perdeu a loucura dos anos 60 embora tenha recuperado algo na revista Visão, um periódico demasiado luxuoso para um país pobre e demasiado vanguardista para um país atrasado, sobrevivendo apenas 12 números num ano de vida, de Abril de 75 a Maio de 76 – ver Revisão: Bandas Desenhadas dos Anos 70 (Chili Com Carne; 2016). Nas suas páginas encontraremos algumas das poucas BDs sobre a Guerra Colonial por Victor Mesquita (1939) com argumento de Machado da Graça, e outra por Pedro Massano (1948) baseada em factos verídicos.


Os estilhaços da revista Visão não terão grandes sequelas, nos anos 80 sabe-se que houve novas abordagens estilísticas, os universos continuam a abrir-se para questões intimistas, urbanas e marginais embrulhadas com grafismos ousados e experimentais mas as obras encontram-se dispersas em periódicos e fanzines, sendo geralmente díficil construir um corpo do trabalho dessa década devido à reduzida edição de livros. Não foi uma geração totalmente perdida porque ninguém esquece o Fernando Relvas (1954) e as suas BDs L123 e Cevadilha Speed, publicadas entre 1981 e 1982 na revista Tintin, que tratam fenómenos urbanos como a delinquência juvenil, as drogas ou os engates de alemãs no Algarve. Relvas acabou por criar uma obra carismática e popular sobre a geração dos anos 80 sobretudo quando passa para o jornal Se7e e começa a saga urbana e caótica de Karlos Starkiller. Em livro destaca-se Arlindo Fagundes (1955) com o álbum La Chavalita (1985) e o seu personagem Pitanga, barbeiro a domicílio. Fagundes escreveu sobre o tráfico de mulheres portuguesas para bares de prostituição em Espanha, tema que na altura ninguém falava. Este trabalho é dos poucos publicados em livro na época, ou pelo menos de um autor novo, revelando uma enorme idade negra na edição portuguesa. Pior ainda, nesta década nem houve uma publicação emblemática como foi a Visão.

Foi preciso esperar aparecer a revista Lx Comics (4 números) em 1990, para acabar no ano seguinte. Neste cenário onde muito pouco se publica oficialmente ou profissionalmente, as abordagens mais pessoais de criação passaram pelos fanzines. Foram estas publicações amadoras que preencheram o vácuo criativo sentido entre as revistas Visão e Lx Comics, e desta publicação até ao boom trazido pela Bedeteca de Lisboa.


Esta instituição municipal, fundada em 1996, permitiu recuperar, por exemplo, em álbum O Eterno Passageiro de Luís Félix e Aliás, originalmente publicada em 1991 na revista Kapa, Zé Inocêncio, as aventuras extra ordinárias dum falo barato (série humorística de 1993-94) de Nuno Saraiva e várias BDs curtas dos anos 90 de Ana Cortesão compiladas em A minha vida é um esgoto. No primeiro caso é um “policial” com uso de fotografia, o segundo é uma série caricatural sobre as desaventuras de um jovem urbano boémio, e o terceiro são ficções urbano-depressivas, mas todos revelam a vida portuguesa da década de 80/90. A Aldeia Global trouxe mais influências nos anos 90, sobretudo a dos alternativos norte-americanos, sendo um dos casos mais notórios a série Loverboy, de Marte (1973) e João Fazenda (1979), que, em três livros, conta histórias da geração dos anos 90 na sua ressaca Grunge, tunas académicas, drogas e Raves. Estes livros foram lançados entre 1998 e 2001 pela Polvo, uma pequena estrutura editorial que tal como outras, caracterizam a forma de publicação do boom da BD portuguesa entre 1997 e 2002. Entre 2002 e 2004 o mercado implodiu, a Bedeteca de Lisboa perdeu protagonismo, as editoras de BD comercial abafaram o espaço das pequenas editoras ao depositarem material que nem sequer interessava ao grande público mas que ocupava bastante espaço físico nas livrarias. Situação grave esta porque a distribuição de BD em Portugal sempre foi feita em livrarias generalistas. As poucas lojas especializadas importam comic-books (revistas) norte-americanos, ignorando quase sempre a edição nacional. Nesta batalha travada no mercado livreiro praticou-se política de “terra queimada” pelas grandes editoras ao ponto de se terem vivido tempos moribundos mesmo para a BD comercial. Foi recente a recuperação desse mesmo mercado com a entrada de novos agentes económicos com novos catálogos importados e uma distribuição diferente através da venda dos livros acompanhados com os jornais nacionais. No meio destas crises sobreviveram ou apareceram as eternas resistências alternativas, ou seja, casas editoriais de pequenas tiragens como a Associação Chili Com Carne, El Pep, Imprensa Canalha, MMMNNNRRRG, Oficina Arara, Plana Press ou Turbina, e claro, muitas edições de autor e fanzines.


Apesar da produção portuguesa ter sido sempre residual por mais incrível que pareça ela nunca perdeu os zeitgeists à escala global, havendo paradoxalmente na sua pequena miséria estrutural muita riqueza estilística e de conteúdos, chegando até a ser pioneira ou original como nos casos de Bordalo ou Botelho. Por isso, é fácil, devido ao pouco número de livros publicados inventariar as obras que descrevam “a realidade” desde desse boom de 1996 até aos dias de hoje: os dois volumes de História de Lisboa (Assírio & Alvim; 1998-2000) de A.H. Oliveira Marques (1933-2007) e Filipe Abranches (1965) que deu uma reviravolta ao género BD histórica produzida em Portugal e no mundo; Para além dos Olivais (Bedeteca de Lisboa; 2000), um trabalho colectivo dedicado ao bairro lisboeta embora a maior parte do material se incline mais para a ficção usando como cenário esse bairro; O Macaco Tozé (MMMNNNRRRG; 2000) de Janus (1971) que faz uma polaróide cinzenta ao bas-fond portuense, mesmo que o disfarce com macacos teriomórficos; Nós somos os Mouros (Assírio & Alvim; 2003), um projecto ibérico sobre questões árabes com a participação de autores portugueses e espanhóis sobre argumentos de Felipe Hernández Cava (1963) e João Paulo Cotrim (1965); À Esquina (Campo das Letras; 2003) de Cotrim e Pedro Burgos (1968), uma colectânea que reúne as tiras-crónicas sobre o dia-a-dia lisboeta publicadas no jornal Público, entre 1998 e 1999, numa esquecida tradição vinda de Botelho; Cotrim com Miguel Rocha (1968) produziram Salazar: Agora, na hora da sua morte (Parceria A. M.Pereira; 2006), um best-seller dentro dos parâmetros do mercado da BD; a colecção BD Pop Rock Português (Tugaland, 2011) de livros com CD que contam meras biografias insípidas e oficiais das bandas, no entanto os de Xutos & Pontapés e Pop Dell’Arte por Alex Gozblau (1971) e Fernando Martins (1972) respectivamente, são os mais interessantes pelos registos autobiográficos que os autores imprimiram nas suas relações com as bandas e cultura urbana dos anos 80; To Whom Who Keeps a Record (Fundação Serralves; 2012) de Filipe Abranches e Teresa Câmara Pestana (1962) que partem de uma história alternativa do colonialismo escrita pelo artista francês Mathieu K. Abonnenc; e, recentemente, a Associação Chili Com Carne criou uma colecção de viagens, «para quem não gosta de apanhar transportes e gastar dinheiro»,


a LowCCCost, já com cinco volumes editados que tratam: de uma tournê punk-mas-com-livros pela Europa; sobre a Guiné-Bissau; uma viagem a um festival de BD em Malmö (Suécia); sobre emigração de criativos portugueses e a estadia de criativos estrangeiros em Lisboa. Em relação a autores contemporâneos que usam “a realidade” como tema principal do seu trabalho é como as bruxas - não acreditamos nelas mas que elas existem, existem. Esta piada justifica-se porque os seus trabalhos aparecem em pequenas estruturas editoriais, algumas deles em regime de auto-edição como o meu caso, Marcos Farrajota (1973) que, desde 1994, documento a minha “má-vida” no zine Mesinha de Cabeceira e algumas reportagens em BD de concertos Rock. Ou Teresa Câmara Pestana (1962) que desde 1995 nos tem presenteado em vários fanzines com alguns episódios autobiográficos, em que mostra que o seu estilo gráfico e de vida estão na linha de Konture e daquilo que se mais aproxima do punk. Ou Marco Mendes (1978) que é um autor portuense de slices-of-life, que desde 2004 através de zines com títulos escabrosos mostra bem o que significa ser trintão, solteiro, boémio, licenciado e trabalhador precário, é o século XXI a nu que pode ser lido em Diário Rasgado: 2007-12 ou no recente Zombie, ambos editados pela Turbina. Ou ainda David Campos (1979) que tratou sobre a sua experiência numa ONG na Guiné-Bissau no livro Kassumai (2012) e na antologia Zona de Desconforto (2014), ambos pela Chili Com Carne. Feito este pequeno cenário semi-decadente e semi-optimista sobre a BD portuguesa e sobre as suas obras que retratam o real, é altura de saber que questões foram pensadas para esta investigação: 1 - Existem obras que tratam sobre o punk em Portugal? 2 - Que documentação apresentam essas obras sobre a realidade do punk? 3 - De que forma o punk é tratado nas BDs? 4 - Existem autores que foram / são punks? 5 - Havendo autores punks, haverá um estilo gráfico punk português?


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