SUBSÍDIOS
PARA
MATÉRIA MIMÉTICA MONSTRUOSA NUTRIDA NUM NÍVEL REDENTOR REGRESSOR REAGENTE (AO) GEOMÉTRICO
N.º01 Solstício de Verão
2010
gentebruta.pt.vu | gentebruta.blogspot.com | apartado 215 – 2751-903 Cascais - Portugal
fanzine semestral de arte à bruta da MMMNNNRRRG publicada em issuu.com/mmmnnnrrrg
ÉDITO Subsídios 2010
Texto: Marcos Farrajota Há muito que tenho um fascínio pela Art Brut, termo vinculado por Dubufett (1901-85) para a Arte dos crianças, marginais e deficientes mentais ou de visionários que não tenham amarras ao ensino e comércio da Arte. E se em 2000 comecei o projecto editorial “só para gente bruta”, a MMMNNNRRRG, sempre houve um travo amargo em cada livro editado por não ser o suficiente para A Vitória. Trazer o conceito da “art brut” para banda desenhada quase nunca foi convincente, só para começar... A bd como todos a conhecem vive do “bem feitinho”, do naturalismo bacoco e barroco com momentos hilariantes de desenho tão ridículos como o fenómeno Image dos anos 90 – alguém se lembrar da risota completa que eram os corpos desconjuntados de Todd MacFarlane ou de Rob Liefeld? Mesmo a caricatura, baseada no grotesco acaba por ser virtuosa como o espectacular Basil Wolvetron (1909-78).
Ainda assim podemos encontrar aqui e acolá exemplos de “brutismo” e de “automatismo” ao longo de toda a História da BD desde a sua origem – por exemplo os desenhos de crianças em Apontamentos Sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa (1872) de Raphael Bordallo Pinheiro (imagem pág. seguinte) – passando pelas supostas “épocas de ouro” com o Krazy Kat de George Herriman e as pornografias anónimas das Tijuana Bibles, ou o recentemente descoberto Fletcher Hanks com as suas bd’s psicadélicas “avant la lettre”. Só quando a bd começou a sair do poleiro infanto-juvenil, com Robert Crumb e Moebius drogaditos a fazerem bd’s sem argumento prévio – apesar de ambos serem desenhadores virtuosos – que começamos a sentir impactos de “arte degenerada” no meio. Os Hippies do movimento anti-autoritário do “comix underground” dos anos 60 abriram campos não-explorados como a bd feminista e pós-feminista, a autobiografia e este primitivismo gráfico que procuro – destaque para Rory Hayes (1949-83) também ele recentemente (re)descoberto e seminal para os brutos contemporâneos como Mike Diana ou o colectivo Fort Thunder.
O Punk com o seu modus operandi DIY e estética ruidosa, fruto do uso e abuso de tecnologias baratas de disseminação cultural e artística será a pedra basilar para artistas como Gary Panther, Pakito Bolino, André Lemos ou Fábio Zimbres, artistas que encontram uma aceitação maior no mundo das artes e do design do que no da bd. Esta “dama de ferro” chamada de formas tão parvas como “comic” ou “fumetti” não só vive a descriminação das outras artes, como descrimina as suas vanguardas. No fundo, merece o buraco fedorento onde se encontra, o que até é positivo porque permite uma liberdade artística que hoje não se encontra nas noutras áreas...
Mas não sejamos inocentes, a própria Art brut é actualmente explorada por galerias e negociantes - basta ver a publicidade na revista Raw Vision - e coloca-se num perigoso caminho de exploração comercial dada a maior visibilidade que vive. Prevê-se uma voragem capitalista nesse meio, em que os artistas, ainda mais desfavorecidos que o habitual – por doença ou questões sócio-económicas – não terão defesas.
Daí os Caretos de Podence serem a mascote desta publicação. Ainda há alguns anos eram desconhecidos, agora fazem paradas violentas na capital portuguesa, amanhã até poder entrar numa telenovela das dez. Receio que quando isto acontecer aparecerão limpinhos e prontos a consumir numa t-shirt ou cueca de adolescente... Aliás, a capa é mesmo isso, um boneco em barro bem-feitinho e nada tosco, um sinal destas previsões “apocapitalistas”? Talvez...
“O que querem é juntar bizarrias!” ERRADO! Meu granda estúpido! Se quiséssemos isso íamos fazer figuras d’urso para o Cabaret da Coxa ou algo assim! Não há aqui ganhos pessoais a gozar com quem for sob o falso pretexto de “divulgação”. O que temos aqui é inflexão – desviar as atenções para a pureza da cultura popular, seja das raízes mais tradicionais quer das mais urbanas.
E se fosse à procura de Art brut onde poderia encontrá-la em Portugal? Ao longo dos tempos tenho descoberto este ou aquele trabalho, uma caderneta de cromos muito fragmentada sem importância para coleccioná-la... E “como estávamos à beira do abismo, fizemos o acertado que foi dar um passo em frente” e surgem estes Subsídios para juntar as peças do puzzle. Gente com muito valor enviaram-nos textos, experiências e imagens para construir “isto”.
O que temos aqui é reflexão feita por pessoas perigosamente apaixonadas por este Paganismo Artístico que até pode ter “bytes”. Estamos longe das lógicas dos meios convencionais de comunicação onde impera uma velocidade fútil mesmo que este projecto comece por operar numa plataforma online.
Os teóricos e mariquinhas acharão as relações despropositadas e forçadas! Black Metal não rima com o quintal do vizinho que construiu uma cidade que inclui tanto um helicóptero da SIC como uma Nossa Senhora, os Caretos não soam parecidos com o louco que escreve panfletos de teorias da conspiração numa anacrónica máquina de escrever, desenhos de crianças destoam com as ordinarices dos moliceiros da Ria de Aveiro.
E já agora, um aviso por ser online não quer dizer que tudo será de graça. Nesta cultura as mãos realmente sujam-se e sujam as que tentam apertá-las. Subsídios para quem os merece! É Popular mas não é Pop. “Que pobreza de espírito!” dirão. Que seja...
ASCENÇÃO EM
QUEDA DOS DE
CARETOS
PODENCE
As fotos foram gentilmente cedidas pelo Grupo de Caretos de Podence caretosdepodence.no.sapo.pt Agradecimento oficial a António Carneiro.
A “mascote” dos Subsídios foi-nos dada a conhecer pelos Stealing Orchestra em 2003. Quem melhor para abrir esta secção se não convidar o mestre da “orquestra do gamanço”, João Mascarenhas? Há muito que nada sabemos da banda... só dos esforços em oferecerem boa música gratuita pela net-label You Are Not Stealing Records – youarenotstealingrecords.blogspot.com. Já agora, circulam rumores da envolvência de Mascarenhas na composição de bandas sonoras para os filmes de animação do “primeiro bruto da MMMNNNRRRG” Janus, autor dos livros O Macaco Tozé e Pénis Assassino.
REDACÇÃO: O que sei sobre os...
CARETOS DE
PODENCE
Não sei assim tanto sobre os Caretos de Podence quanto isso. E não vou procurar nada na “interneta” para que possa fazer um texto todo catita e cheio de factos. Digo-vos o que sei e já não é nada mau. Ninguém me paga para escrever esta merda. Os Caretos de Podence são figuras do nordeste transmontano da aldeia de Podence, concelho de Macedo de Cavaleiros - a minha terra. Saem à rua por tradição no carnaval ou entrudo. Usam mascaras feitas de madeira ou lata, fatos coloridos e um cinto com chocalhos / badalos das vacas. Correm a aldeia de Podence ou onde quer que vão a fazer traquinices e a atacar mulheres (supostamente apenas as solteiras) abanando as ancas de forma a dar-lhes com os chocalhos. Em 2003 quando a Stealing Orchestra lançou o The Incredible Shrinking Band onde incluiamos uma música chamada Caretos de Podence tivemos a sorte de ter um videoclip feito a partir de imagens deles captadas para um documentário americano feito por uns gajos que nunca mais tive contacto nem me lembro do nome. Tristeza.
Por causa do vídeo uns amigos do Porto ficaram com vontade de os conhecer e lá fui eu com o Sérgio e o Miguel para Trás-osMontes. Avisei-os logo “olhem que lá faz um frio do caralho!”. O Miguel percebeu a mensagem, o Sérgio nem por isso. Chegamos lá e combinamos andar sempre atrás deles, o que quer dizer: parar em todas as adegas da aldeia a beber vinho da pipa. O frio nesse dia era realmente fodido e a dada altura começou a nevar com muito vento o que é doloroso. O Sérgio, com o seu casaquinho de cabedal fininho e camisinha p’ro estilo começou a ficar azul. Eu pensava que ficar azul era apenas uma expressão, mas ele ficou mesmo azul. Levamo-lo para o café no meio da praça para beber um chá quente ou outra merda qualquer para lhe descongelar os tomates. E depois lá continuamos atrás deles e a ficar cada vez mais animados. Se há coisa que aquece um gajo é o vinho e os Caretos são mesmo malucos e bebem como uns animais.
Bla bla bla, muito animado e tal, decidimos ir embora e por qualquer motivo que não me lembro ficamos à conversa com um velhote que acabou por nos dar ainda mais vinhaça. Como já tínhamos deitado fora os copos de plástico tínhamos de beber da caneca pendurada por um baraço à torneira da pipa. Aqueles dois morcões tiveram nojo. Olha que caralho. Depois o velhote descobriu que tinha sido amigo do meu avô quando rapazolas e que o meu avô um dia lhe emprestou um cavalo para ir ter com a namorada que era de outra aldeia. Bonito. E pronto, os Caretos lá continuam na vida deles, aparecem na televisão, vão ao estrangeiro, ganham prémios não sei de quê, são capas de discos de bandas tradicionais, etc e tal. Ah.. ia-me esquecendo, há um Museu do Careto em Podence que foi desenhado pelo meu imão que é arquitecto.
KURENTS os Caretos da Eslovénia
Créditos de fotografias. Carmen Narobe / Egon Kase
Quando o designer da revista eslovena de bd Stripburger, David Kracan esteve Lisboa – a propósito da exposição Honey Talks – surgiu em conversa os Caretos de Podence. Mostrei-lhe umas imagens, e de forma muito blasée e com o tom eslavo, Kracan disse “ah! Kurents!”. De repente, entre Trás-os-montes e Eslovénia há gajos com máscaras maradas, que na altura do Carnaval andam de badalos no cinto a sacudir mulheres... Enquanto não acharmos o antropólogo que nos dê a chave par a este fenómeno cultural europeu – falam-se em origens Celtas - pedimos ao autor de bd e Historiador Jakob Klemencic um texto sobre os Kurents. Ele aproveitou para ilustrar o seu próprio texto...
Kurent is a typical carnaval mask from Eastern Slovenia, or more precisely, from the
They appear in that limbo time when the winter is over and
ancient town of Ptuj and its surroundings. By jumping and making noise, it is supposed
the springtime isn’t here yet (and when the national ice hockey
to keep away winter and evil while bringing in spring and good harvest. Its sheep fur
leagues are ending and world championships are just around
dress is decorated with horns, feathers, bells and a long red “tongue”.
the corner). It’s normally not very cold at that time, but it’s
And I can easily imagine these guys playing ice hockey. They wear heavy outfits (up
invariably quite damp. To warm up, one can do two things: drink
to 40 kg) that take a lot of time (and some extra hands, I guess) to put on, and they
alcohol (it’s a wine region when kurent comes from, but brandy
carry sticks.
is a close second, at least in the colder part of year), or jump around in 40 kg of fur, metal and leather. Or both – and then it gets wild. It’s still humid, but now it’s uncomfortably warm, so the guys sweat like pigs (that red thing hanging from the mouth is a tongue, not a tie), but, in fact, behave more like some hyena-wolf mongrels. Traditionally, they go from house to house, scare blushing girls and collect trophy handkerchiefs from them. Also, traditionally, it is now time (with alcohol in the bloodstream and batons that look like studded with nails, but are, disappointingly, only lined with hedgehog skin) to settle old accounts. So, if you let me paint a Slovenian carnaval aftermath scene, our own “Manhã de carnaval”: the sky is turning light gray, a drunken accordion player just hung himself on a “kozolec” (a structure originally meant for drying hay, but very hand for suicide purposes) and in front of it, two staggering bípede beasts are giving each other, with Harryhausen-like movements and matching precision, a hard time. The last cringed remainders of snow are sprinkled by blood, and the rest is mud. If it was somehow crossed with ice hockey, referees would definitely have to be kept out of the game.
Curiosamente os Kurents aparecem por várias mãos numa antologia da Stripburger - stripburger.org -: Greeting from Cartoonia : The Essential Guide of The land of Comics (2009). Tratase de uma divertida iniciativa turística pan-europeia em que cada autor teve de enviar e receber objectos (bizarros ou típicos ou nem por isso) do seu país para servirem de inspirações para as 12 bd’s a preto e branco publicadas em livro. Da Eslovénia participaram Kaja Avberšek, Jakob Klemencic, Marko Kociper, Matej Lavrencic, Gašper Rus e Matej Stupica; e de outros países, Bendik Kaltenborn (do grupo norueguês Dongery), Mateusz Skutnik (Polónia), Matei Branea (Roménia, do colectivo Hardcomics), o finlandês Jyrki Heikkinen, Andrea Bruno (do colectivo italiano Canicola) e de Portugal e da Chili Com Carne, o Filipe Abranches.
A exposição deste projecto esteve patente em Portugal ainda este ano, durante o 6º Festival Internacional de BD de Beja (entre 29 de Maio a 13 de Junho). Na capa desenhada por Jure Engelsberger, aparece um Kurent (primeira personagem à esquerda) lado a lado do italiano Harlequim e a norueguesa Pesta. Aparece nos separadores das bd’s desenhados por Andrej Stular e como já deu para perceber, foi um dos “objectos” escolhidos da Eslovénia para servir para uma bd, neste caso, para uma das melhores bd’s da antologia, feita por Bendik Kaltenborn - benkalt.no O livro tem distribuição em Portugal pela Associação Chili Com Carne – chilicomcarne. com
BEATICE
João Bragança editou o zine Succedâneo entre 1996 e 2006, publicação onde cohabitaram bd’s, ilustrações, fotografias, assemblagens, restos mortais de instalações e performances essencialmente do editor mas também de outros criadores como o Neno, Paulo Pinto, Janus (O Macaco Tozé, Pénis Assassino), Isabel Carvalho, Piggy, Pipa, Kromleqs…Em 10 anos o Succ (como era carinhosamente apelidado) metamorfoseouse em vários objectos, nomeadamente, em carteira do Digimon, no interior de exemplares da antiga revista Flama ou dentro de saco de dejectos caninos, ou ainda numa caixa de plástico para comida, para acabar a façanha editorial e fugindo ao tradicional papel fotocopiado em automóvel (!) na exposição retrospectiva na Bedeteca em Abril de 2006.
PIRI-PIRI
Nessa mesma exposição ainda se reconstituia a instalação “Vida de autor” (originalmente exibida no Zalão de Danda Besenhada, na Galeria ZDB, em 2000) e originais de ilustração e banda desenhada, fotografias, documentos, objectos diversos, enfim, tudo o que fez parte da história de um dos mais emblemáticos e duradouros zines editados em terras lusas. Lembramo-nos de recuperar fotografias sobre os Moliceiros da Ria de Aveiro, verdadeiro achado pictórico popular que inclusive ilustraram a capa do Succ nº -18 (Set’00), sim a numeração do Succ era negativa. Não podiamos editar as fotos sem um texto, sempre mordaz de Bragança. succedaneo.blogspot.com … fanzinex.blogspot.com
ARTE
ao sabor da MARÉ? Se Jacques II de Chabanes, mais conhecido por Jacques de la Palice não estivesse neste momento morto, e se ele foi como dizem, e se eu pudesse encarnar o espírito de outras pessoas, neste momento seria Jacques de la Palice. Mas a esta altura estará o leitor destas linhas a perguntar porquê este preâmbulo neste texto? Simples, porque me vou alongar a fazer algumas considerações sobre as obras de arte pintadas nos barcos moliceiros existentes na Ria de Aveiro. Estou certo de que neste momento também se estão a questionar sobre qual a relação entre as pinturas nos barcos moliceiros e Jacques de la Palice. Nenhuma, ou melhor, serve apenas para preparar o leitor para um discurso inconsequente semelhante a algumas
recensões que procuram legitimar e fundamentar a obra de artistas, escritas por alguém desocupado e sem nada para fazer (passe-se a redundância). Mas voltando à relação la Palice versus pinturas nos moliceiros, também podemos dizer que os dois estiveram à hora errada, no local errado e com as pessoas erradas, afinal as pessoas… Afinal isto de ser arte ou de ser gente também está muito dependente da localização do satélite natural do planeta Terra e da direcção para onde viramos os inchamentos carnais que entremeiam o ânus. A teoria anterior poderá parecer de algum familiar da pessoa acima nomeada ou parecer simples, mas na simplicidade é que reside a dificuldade, teoria corroborada pela ideia – “o mínimo é o máximo” (seguida à risca pelos doentes anorécticos). Mesmo para aqueles que acham esta tese descabida, posso dizer que uma afirmação sem sentido aparente terá toda a profundidade que conseguirmos ler nela, basta tentarmos ler nas entrelinhas.
Mas voltando à questão central deste texto - as pinturas nos barcos moliceiros - note-se que pretendemos equiparar as ditas à arte, e pretendemos tão somente igualá-las, não superiorizá-las, porque o tempo que dispomos para estar desocupados e sem nada para fazer é limitado, pelo que terá de ser aproveitado da melhor maneira possível. Só para que o nosso leitor fique esclarecido em relação a esta situação, compete-me informar que tenho uma leira de batatas doces para ir regar, bem como alhos franceses, abóboras e grãos de bico. Acreditem que regar plantas esconde uma profundidade inacessível para a maioria de vós e que transcende muitas teorias artísticas. Adiante, vejamos então porque é que as pinturas nos barcos moliceiros são obras de arte: Ponto n.º 1: São pintadas à mão; Ponto n.º 2: São trabalhos únicos; Ponto n.º 3: Servem para a fruição visual.
Há ainda outros factores que as elevam à categoria de arte: são obras eminentemente emocionais, ao invés de obras cerebrais, que demoram a ser interpretadas… Nada como ter uma pintura onde uma gaja em lingerie, de pernas abertas, a apanhar o cabelo, diz para um homem que vê um jogo de futebol na televisão: “Queres fazer um intervalo?”. Directo quanto baste para bom entendedor e suficientemente indirecto para os mais conservadores. Será que este tipo de pinturas é uma vingança póstuma de antigos habitantes da zona da Ria de Aveiro, especialmente os das gafanhas - local para onde eram enviados os leprosos, excluídos por natureza e remetidos para uma zona desabitada, que passaram por dificuldades à conta da imigração a que foram sujeitos?. Terra essa onde agora se passeiam turistas ávidos de paisagens e de emoções diferentes?… Será que as pinturas em questão só serão vistas como arte a partir do momento em que alguém durante a noite corte os painéis com uma motoserra, e os venda a coleccionadores de arte africana, de arte aborígene ou de outro tipo qualquer?
Ou será que a equiparação ainda não foi feita por não se ter caracterizado este tipo de pinturas? As características são várias e bem definidas, vejamos: são realizadas nas extremidades dos barcos; tratam de temas relacionados com a vida dos apanhadores de moliço (cenas do quotidiano, cenas religiosas, cenas culturais, cenas históricas e cenas de tranca); são rodeadas por elementos florais e/ou marinhos, muitas vezes com base geométrica, de carácter repetitivo, sob a forma de friso. Note-se que cenas políticas não são tratadas nas pinturas e que os barcos serviam para transportar moliço, usado para fertilizar os campos, em detrimento de estrume ou de excrementos. A relação entre a política e o estrume é óbvia, pelo que os seus mestres sabiam bem onde paravam as águas, independentemente da maré. Mas e que vantagens é que há na equiparação das pinturas nos barcos moliceiros a obras de arte? A resposta é: Muitas.
Vejamos: A Ria de Aveiro é elevada a galeria de arte ou a museu (se quiserem também pode ser a fundação…) ao ar livre, pois é naquele sítio onde estão expostas as pinturas; esta situação é igual às dos espaços culturais, cada qual com os seus artistas. Por outro lado, a oscilação dos barcos ancorados na ria, provocada pela água, pode assemelhar-se aos painéis rolantes existentes nas galerias e museus (e se quiserem fundações), para visualização de pinturas em depósito. Mas as vantagens não se ficam por aqui. Sendo a Ria de Aveiro um local de acesso público, contorna-se as questões de horário que condicionam fluxos e originam rituais visitantes agnósticos ou ateus que frequentam a capelinha X e Y no sábado à tarde ou no domingo de manhã. E ainda não é tudo, a arte dos barcos moliceiros não desencadeia a tentação de aspirantes a artistas irem para casa imitar maneirismos observados num museu ou galeria (ou se quiserem numa fundação…), sejam elas dripping, colagens ou instalações com panelas, tachos ou outro objecto do qual nunca conheceram a real utilidade. Ou acham que um gajo chega a casa, depois de passar
pela Ria de Aveiro, e vai construir uma proa e pintá-la, só para estar na moda?... Outra vantagem das pinturas dos moliceiros serem equiparadas a arte, é que um dos indivíduos que as fez, por exemplo o Sr. José Manuel Oliveira, permanece no anonimato, deste modo não temos de ser confrontados com a imagem omnipresente do artista, que tanto pode ser um homem vestido de preto, com barba de cinco dias e olheiras, como uma gorda de risco ao meio inebriada pelas luzes da ribalta. Na TV ou em revistas, tanto falam sobre a influência da floração da giesta no ciclo digestivo do coelho bravo, como das práticas altruístas de gregos e romanos após cataclismos naturais, apenas porque estão na moda e porque vendem obras por vários milhões de euros. O preço não é argumento, se não imaginem quanto é que custaria fazer uma pintura destas num dos maiores petroleiros do mundo… Só em tinta gastavam muito mais! Estando os barcos na água, e havendo um espaço entre margem e o barco,
evitam-se pessoas fardadas que nos impedem de ver as obras de arte com as mãos, na ria qualquer tentativa de aproximação resultará em molha certa. Mas não é tudo… Estas obras de arte vêem-se em passeio, depois de ser ter comido uma sandes de leitão na Bairrada e enquanto se degusta meio quilograma de ovos moles de Aveiro. Sendo vistas em passeio, também se evita aquela situação sempre embaraçosa quando saímos de uma galeria ou museu (e se quiserem fundação…) em que uma rapariga bonita, com indumentária e maquilhagem pouco convencional nos pergunta a nossa opinião, verbalizando simultaneamente que as obras são muito fortes, profundas e intimistas. Subentende-se a esperança de que a conversa acabe numa noite de tranca desabrida, até cheirar a ferodo e saírem faíscas dos repetidos contactos epidérmicos. Neste caso, depois de comidos os ovos e de vistas as pinturas, podíamos no regresso a casa compor uma cena “ao género”, mas em vez de pintar, vamos é viver, apanhar ar e chegados à Tocha, dizer à rapariga: “Segura-me aqui na tocha que até de ofusco o olho!…”
UM CLÁSSICO É UM CLÁSSICO
E VICE-VERSA É difícil, supomos nós, estabelecer uma História da Arte Bruta em Portugal – para dizer a verdade nem a procuramos mas assumimos isto como um dogma porque é a regra em Portugal que tudo que seja cultura popular seja ignorada... Porque seria a Arte Bruta a excepção? Seja como for esta revista não é académica nem jornalística, não se pode confiar nela... mas também querem confiar em quem? Bom, voltando atrás, não podendo criar uma História sobre o assunto, vamos montando algumas peças do Puzzle com uma vontade ingénua e entusiasmo assumido. Um dos primeiros artistas que encontrámos foi Franklin numa bela exposição, entre 1995 e 1996, no Museu Nacional de Etnologia – um dos mais fantásticos museus portugueses, abandonado e esquecido por quase todos e tudo. O respectivo catálogo Onde Mora o Franklin? Um escultor do Acaso (1995) está esgotado e só arranjamos um exemplar em 2006.
Nele percebemos que a descoberta deste artista foi graças a Ernesto de Sousa. Ora com o escritor Rafael Dionísio (procurem os seus livros editados pela Associação Chili Com Carne) anda a fazer os mestrados e doutoramentos em volta de Sousa, só ele poderia recriar com rigor académico e jornalístico o primeiro encontro entre estes dois monstros da cultura portuguesa. Confiem em nós!
FRANKLIN VILAS BOAS NETO ERNESTO DE SOUSA
Franklin Vilas Boas Neto (1919-1968) foi um artista vindo do povo, nascido no ambiente de uma família de canteiros, que se destacou pela bizarria da sua arte, e por fugir a tudo o que era suposto ter feito. Todos trabalhavam a pedra que ele detestava, dizia que tinha dores nas costas, que não conseguia a trabalhar. Todos o marginalizavam, o ostracizavam. Ele era casado e alcoólico, tinham aparecido filhos perante o seu espanto. E engraxava sapatos em Esposende, para fugir ao trabalho da pedra que os seus familiares ordeiramente trabalhavam. Sonhava muito, quase que tinha visões. Era religioso. De uma forma espontânea e bruta lá muito dele. Irrompendo-lhe em soluços poderosos as emoções míticas e ancestrais. Nessas alturas até tremia, era tomado pelo sonho, quase que delirava, falava sozinho, murmurava coisas estranhas “um anão comido pelas formigas” e outras que tais que põe a um canto qualquer poeteco contemporâneo. Outras vezes acocorava-se em redor de um tronco. Agarrava num formão e num martelo e, em arrebatamento estético e místico, continuava, desenvolvia, as formas que a Natureza já lhe tinha dado. Nas formas abstractas da Natureza ele via uma cabeça, um riso grotesco, um rei egípcio, numa cadença (cadência, ritmo) que só ele sabia e via, desenvolvia as formas numa automatia sonâmbula. Franklin deambulava, ás vezes ao pé do mar, outras vezes à beira dos cursos de água. E lá se encontrava com troncos contorcidos, raízes arrancadas por alguma chuvada, nós e excrescências de madeira.
Como o seu olhar humilde, de desprezado, com o bigodinho à Errol Flyn, punha-se de volta dos seus achados, tão náufragos como ele. E as formas dos troncos estilhaçados falavam com ele, começavam a dizer “eu sou uma cabeça”, “eu sou um esgar”. E o artista ajudava as formas a nascer, usava assim de uma maiêutica só escultura, uma obstetrícia de castanheiro, de laranjeira, raras vezes de pinho. Um dia Ernesto de Sousa (1921-1988), o incansável investigador de tudo e instigador das artes portuguesas do século XX, chegou a Esposende e, não encontrando o recém-amigo Franklin, deu em procurá-lo. Foi à taberna do Chico perguntar se tinham visto o Franklin. O taberneiro, com os cornos a latejar de vinho, num esgar visigótico, disse-lhe: “ É um bêbado, anda por aí por fora, pelos montes, como um bicho. Está sempre bêbado.” Ernesto saiu da taberna e encontrou um primo do entalhador. Vinha meio a cambalear na rua, com as botas cambetas e os olhos a entortarem-se no estupor do vinho, a tentar perceber o que era o chão, o que era a parede: “O Franklin? É um bêbado, um vadio, não faz nada, tem mulher e filhos, não faz nada por eles”.
Depois encontrou uma irmã do escultor, que vinha coradinha da pinga, com um bebé ao colo com uns olhos parados, cujas raízes tentavam ensopar-se num cérebro encortiçado em sopas de cavalo cansado. “O Franklin, doutor? Num sei debe andar prái aos tombos”. O bebé arrotou as sopas. Passou um cão a correr. Procurou, procurou, até que Ernesto de Sousa lá o encontrou. Perto de uns caniços, com uma raiz nas mãos, e com os dedos a percorrer cognitivamente os riscos da raiz. - Oh, doutor, como está? - Já lhe disse Franklin, para me tratar por Ernesto. Não me faça isso de me tratar por doutor. Até porque nem acabei o curso. O Franklin fez um grande sorriso, um sorriso franco e bom, de olhos magoados e sinceros. Era o mais desprezado na vila de Esposende. Mas agora o senhor da cidade vinha-o visitar. Dava-lhe dinheiro pelas tontices que ele fazia com os bocados de madeira aparados e debulhados por ele. Da carne da madeira nascia um extravagante bestiário. E agora que Ernesto lhe pagava, com dificuldade, um X por mês para ele continuar a fazer peças sem ter de se curvar perante os homens a lhes engraxar sapatos, agora toda a vila tinha uma certa inveja dele, uma inveja mesquinha e cheia de raivinha agora disfarçada de simpatia.
Como podia ser que esse pateta sonhador, que ninguém dava um chavo furado por ele, como podia ser possível que essa alma desgraçada fizesse atrair um senhor da cidade, de Lisboa, até aqui ao Norte, um doutor que andava de volta das tontices dele como se fossem os tesouros da sé? A vila não compreendia isso. Mas logo alguns canteiros da família dele começaram a macacear as esculturas de Franklin, para ver se o doutor também queria, para ver se dava alguns escudos valentes por elas.
Não sei porquê o Ernesto de Sousa nunca usou (que eu saiba) o conceito de Arte Bruta do Jean Dubuffet. Não calhou, se calhar. Ou se calhar não quis chamar bruto ao artista. O artista era o imaginário Franklin. Cujo génio era coincidente com a pobreza, o desprezo social, o alcoolismo, esculpindo sem justificações ou estudos, directamente sobre a matéria, esculpindo formas que nascem do fundo dos tempos míticos do inconsciente colectivo. O país era Portugal. Nos anos sessenta, numa região rural e piscatória. Os portugueses tinham descido das árvores à pouco tempo, caminhavam com dificuldade, e havia mesmo alguns que ainda andavam a quatro patas. O herói que timoneirava o país era o Sa-la-zar!
DIÁRIO
Isto passou-se nos anos 60. Depois Franklin morreu num acidente de carro e Ernesto continuou e fez muitas mais outras coisas. Mas quando fez o esquema para um livro de dispersos seu chamado Ser Moderno em Portugal colocou lado a lado Almada e Franklin. Um como um ingénuo voluntário e o outro como involuntário.
No primeiro ano do curso de Desenho da Sociedade Nacional de Belas Arte obrigaram-me (e ainda bem!) a criar um “diário gráfico”, ou seja um diário para os alunos desenharem “algo” todos os dias. Este diário serve não só como para treino e disciplina como poderá servir de uma bela peça de memória. E foi o que fiz com afinco entre 1994 e 1999 em vários livros inúteis como agendas e Bíblias de Jeovás em que quase consigo contar a minha vida (diariamente) nesse período de vida graças aos desenhos, textos, apontamentos, assemblagens e mini-bd’s feitos nesses “livros” Escrevi “quase” porque já há coisas que me vou esquecendo claro
está, como acontece com estas reproduções do primeiro volume (uma agenda do Indiana Jones? Porque raios tinha isto!?)... Encontramos na primeira página um maluquinho qualquer numa bicicleta com flores (de plástico?) no volante quando esperava por um autocarro – isto um dia antes de visitar a exposição de Franklin no dia 14 de Março de 1996 – sendo uma revista de “arte bruta” acho que se encaixa por aqui... O museu e a exposição surpreenderam-me a valer tanto que fiz duas páginas para o mesmo dia (uau!) – a regra de um diário deveria fazer um desenho por dia, pelo menos para os preguiçosos como eu. A segunda página é um mistério porque não é uma escultura de Franklin - não encontrei no catálogo. Parece antes uma máscara africana, se calhar era algo do Museu... A terceira página é que é! Desenhos de três esculturas do autor que mais me impressionaram – curiosamente numerei as peças tal como estavam na exposição e catálogo. A número 18 é das tais que lembra o imaginário e traço do Kirby, um monstro que poderia ter saído numa aventura cósmica do Quarteto Fantástico ou numa travessia qualquer do Thor num reino mágico... Marcos Farrajota
INFANTIL
EXPLORAÇÃO
A MMMNNNRRRG anda por aí a fazer workshops de bd com crianças. O último aconteceu na Biblioteca de Sesimbra, em Abril com o pomposo nome de “O meu Cadáver-Esquisito é mais bruto que o teu!”
Dividiu-se os putos em grupos de cinco para criarem bd’s sem argumento prévio dependendo da dinâmica de cada grupo. Escolheram como tema “Wrestling sem cuecas” sabe-se lá porquê e no final publicou-se os resultados num zine que os putos intitularam de “Oh não!” (foi a primeira coisa que o “jolie” da turminha disse). Não correu lá muito bem a nível narrativo porque como sempre pede-se a participação máxima de 15 pessoas e aparecem umas vinte e tal... Aturar os putos dos outros não dá para concentrar nem controlar os impulsos das pestinhas, daí que o que se segue são vinhetas separadas que graficamente são – como sempre – imbatíveis. Incluímos duas capas que não foram usadas. Aplicando a Democracia e a votação para a capa ficou o “mais virtuoso” e “consensual”... Vingamo-nos agora deles publicando só o que achamos fixe.
LATRINA DO É um perigoso grupo ritualista e pagão que organiza eventos hereges como o “Matanças” ou edita perigosas brochuras de cariz Satânico. “Querer é poder”, e o que começou por um simples pedido para analisar a estética dos fanzines de Metal como “artefactos urbanos da sociedade da hiper-informação”, transformou-se já numa secção própria dos Subsídios. Não nos podemos meter com esta gente... latrinadochifrudo.blogspot.com
CHIFRUDO
Poucos serão os universos estilísticos tão assumidamente masculinos como o do Metal. Não o digo por o relacionar literalmente com questões de género ou de teor sexual, mas sim porque é um universo que adopta e evidencia características intrínsecas ao que habitualmente chamamos de “masculinidade”. Falo naturalmente de conceitos como a força, agressividade, virilidade, entre outros. Porém, desengane-se quem julgue que o Metal é apenas uma demonstração de força bruta directa, com finalidade real. Não. O universo do Metal é intrinsecamente teatral, elaborado e barroco, por mais simplistas e minimais que muitos dos seus intervenientes tentem ser. A clara aproximação deste mundo às temáticas do ocultismo, satanismo e outros imaginários e correntes assumidamente obscuras e negras, afasta-o do domínio da luz, do claro, do puro, do racional, em suma de valores facilmente associados ao Iluminismo.
A obscuridade é lugar do indefinido, do excesso que remete para o informal, para o caos, para a ausência de estrutura e para a irracionalidade (*). * O termo irracionalidade é aqui empregue sem qualquer tipo de sentido pejorativo, mas antes para designar um estado de espírito ou conduta onde seja valorizada uma expressão mais instintiva ou directa. O chamado “feeling”, portanto. Podemos verificar facilmente o fascínio estético pelo Barroco e pelo Medieval patente nos produtos associados ao Metal. É interessante constatar que a iconografia apesar de semelhante, é subvertida. A besta continua a atormentar as almas. A peste continua a assolar os vivos. A morte continua sempre presente. Mas o que em períodos anteriores estava fortemente relacionado com o objectivo religioso, aqui é apropriado, explorado e apreciado. O bestiário fantástico, o caos e a omnipresença da Morte enquanto fio condutor de todos os elementos e como consciência de uma finalidade inevitável e trágica (aqui num sentido de aceitação de bom
grado da miséria da morte) estabelecem uma forte relação com o imaginário de Bosch e de qualquer obra barroca. Bosch é inclusivamente um dos autores mais referenciados ao nível visual especialmente no período compreendido entre meados da década de 80 até meados da de 90 no espectro do Death Metal de teor mais oculto e místico. Actualmente, com a corrente designada por “Orthodox Black Metal”, a iconografia religiosa volta a surgir com grande vitalidade, naturalmente com o pretendido grau de subversão conceptual. O Diabo tenta sempre imitar Cristo de forma a iludilo e tomar o seu rebanho. Esta sucinta análise leva-nos a considerar um outro factor para além da subversão: o temporal. Na brochura Sanabra Enxebre (Latrina do Chifrudo, Dezembro 2009), está presente um texto onde se analisa a relação entre o Black Metal e uma ideia de ancestralidade fantástica, através de elementos como a distorção e o reverb que actuam enquanto agentes de erosão e de invocação de espaços míticos em tempos incertos, mas nitidamente passados. Estes mesmos princípios surgem nos trabalhos de expressão visual confinados ao universo metaleiro. Logo numa análise mais superficial das imagens aqui dispostas, constatamos a importância que o desgaste e ruído na imagem têm para a sua validade. Antigo é sinónimo de verosímil e relevante. Os males antigos são sempre os piores. Os demónios ancestrais serão sempre os mais vis. As pestilências cujos nomes foram digeridos pelas areias do tempo serão sempre as mais temidas. O factor de antiguidade nos ícones e imagens estará sempre associada a um factor de respeito, de relíquia.
È importante estabelecer aqui uma divisão: o ruído e a erosão no Metal são diferentes das do Punk, por exemplo. O Punk utiliza uma linguagem plástica assente no detrito como símbolo do presente, como espelho de um caos urbano e real. O Universo do Metal usa uma linguagem de erosão e de ruído analógico como invocação de um tempo ancestral. Ambas invocam um caos (ainda que com diferentes características intrínsecas), mas com diferentes proveniências e objectivos. Ora, utilizando os dois factores explorados no magnifico texto presente em Sanabra Enxebre, a distorção estará visualmente remetida para o ruído da imagem, o erro, o amassado, os rasgos e as quebras, sinais óbvios da passagem do tempo e que actuam aqui como elementos enriquecedores da plasticidade do trabalho, mais que elementos de deterioração num sentido negativo; por outro lado, a reverberação, elemento que no Black Metal se associa à distancia temporal e espacial, à invocação de um espaço mítico e
irreal iminentemente passado e desde logo irreal e surreal está presente no nível plástico através das associações de imagens elaboradas, como por exemplo as fotografias fotocopiadas dos membros das bandas associadas a elementos decorativos ilustrados como colunas barrocamente decoradas com bestiários medievais ou elementos religiosos ou demoníacos não identificados, mas iminentemente ancestrais. Se referimos aqui a ancestralidade, certamente que os registos fotográficos jamais poderiam estar associados a tais elementos caso estivéssemos perante uma representação de uma dimensão espacial real, racional ou histórica. Casos exemplares desta dualidade temporal antagónica mas simultaneamente indutora de uma presença mística são os elementos gráficos presentes na edição Wrath of the Tyrant ou In the Nightside Eclipse dos noruegueses Emperor ou em alguns dos lançamentos das Les Legions Noires francesas, onde podemos observar fotografias dos membros das bandas ornamentadas com ilustrações ou padrões alusivos a tempos idos e ancestrais, aliando duas realidades distintas.
Associado a este grau de valorização do passado e das ruínas do tempo está o apreço pela gestualidade e pelos processos analógicos, tanto de elaboração das imagens como da sua reprodução. O mercado do Metal está porventura inundado de imagética produzida por meios digitais, as míticas “photoshopadas” e reles imitações da iconografia e processos plásticos ao estilo do Dave McKean. No entanto, é necessário aqui introduzir um esclarecimento: este texto não se destina ao Metal dito “comercial” ou ao vulgar Metal das massas. Estamos a referir-nos sim ao universo do Metal “underground”, aquele proveniente dos cafundais da década de 80 e que continua fora do circuito mais visível do mercado.
Esta valorização do gesto e do físico é bem representado pelas inúmeras digitalizações aqui apresentadas, onde constam flyers, desenhos, paginas de fanzines escritas à mão, brochuras elaboradas com técnicas de “corte e cola” e uma bem visível adopção da fotocópia enquanto meio de reprodução dos elementos. O Metal é um bicho que vive de glórias passadas. De uma época de ouro (devidamente negra) onde toda as coisas eram obscuras e diluídas na acção do tempo. O amadorismo, ou se virmos por um diferente prisma, as dificuldades e possibilidades técnicas de outros tempos serão sempre símbolo de uma certa inocência benéfica para a integridade do género. Talvez daí o eterno fascínio por suportes tais como a cassete ou o vinil; ou pelas ilustrações com algum carácter infantil, ainda que extremamente viscerais, tão presentes em edições dos anos 80 como é o caso de HellHammer ou Samael, por exemplo. O Metal, em toda a sua glória hermética representativa de tempos idos e míticos, sobrevive e sobreviverá. Sozinho.
Julgo que esta música de Mayhem se revela apropriada agora…
Buried by Time and Dust, in De Mysteriis Dom Sathanas Visions of that no mornings Light ever will come. I’m to old now. The dark is so near, will I ever reach the land beyond This is where we go when we have to die. I’ve been old since the birth of time.Time buried me in earth Centuries ago, I tasted blood. Buried by time and dust. Many years has pasted since the funeral. Missing the blood of human throats So many years, ages ago. I must await, feel my bodies stench. Wanderings out of space. Wandering out of time. A world out of light, death at the end. Only silence can be heard, silence of peoples tears. No one knows my grave. Buried by time and dust.
DE HORRORES
GALERIA
PARTE I
Pakito Bolino - Le Dernier Cri lederniercri.org Texto: Marcos Farrajota
Le Dernier Cri é um colectivo de Marselha criado por Pakito Bolino e Caroline Sury em 1993. Nascido das cinzas do movimento “undergráfico” francês dos anos 80, publicou mais de 200 títulos, maioritariamente em serigrafia, produziu mais de 100 exposições pelo mundo fora – tendo passado pelo Salão Lisboa 2005 -, alguns discos, cartazes e três filmes de animação – o último, Les Religions Sauvages com mais de 2 horas e sem qualquer subsídio para a sua produção! No seu catálogo encontram-se trabalhos, em livros individuais ou antologias, de nomes de artistas gráficos como Mathias Lehmann, Mike Diana, Fredox, Marcel Rujters, Ishiba Daisuke, Micha Good, Reijo Karkkainen, Laetitia, Didier Judex, Stumead, Marco Corona, Jean Pierre Nadeau, Raymond Reynaud, Henriette Valium, Moulinex, MS Bastian, Matti Hagelberg, Jonathon Rosen, Elina Meremnies, Nuvish, Charles Burns, André Lemos, Tommi Musturi, Miguel Carneiro, Guillaume Soutlages,... A obra deste colectivo é conhecida por fazer os “os olhos vomitarem” tal é a violência das propostas dos conteúdos mas também do tipo de impressão que são feitos os livros e cartazes – como referido é feito quase sempre em em serigrafia, o que permite sobreposições de imagens, cores berrantes, tacto e “calor humano” nos objectos impressos. O efeito de qualquer aproximação às suas edições ou exposições é de contaminação sócio-cultural… quer-se fazer parte desta “cena” de alguma forma, ao contrário, de quase toda o resto da “Arte séria” que tem uma tendência para afastar as pessoas das obras e dos artistas, pelo carácter críptico ou hermético que se revestem, ou pura e simplesmente pelo elitismo e pelo espírito competitivo que as caracterizam. Mais ou menos formados em Artes, os artistas do LDC fazem uma soma de estéticas de quase todos os movimentos contra-culturais, do Dada à Arte Bruta, do psicadélico ao Punk, da Folk ao Digital,… e à escala global, da França ao Japão, dos EUA à Finlândia. O LDC é um barómetro ácido de todos os horrores passados, presentes e futuros da Humanidade, sempre a esticar as barreiras do bom gosto normativo – um gosto hipócrita que se excita pelo grotesco sem o querer admitir, como é óbvio. Já tive o prazer de ter assistido pessoas das mais baixas às mais altas a comprarem serigrafias do LDC com o mesmo entusiasmo – talvez com razões intelectuais diferentes, como é óbvio – mas um fenómeno assim não se poderia nunca encontrar noutras obras de arte e artistas por mais gratuito que as entradas do CCB sejam ou que se empanturrem as galerias com Stree-Art! Isto acontece porque os trabalhos são acessíveis economicamente? É verdade… Mas sobretudo porque vivem o espírito do tempo? Ainda mais verdadeiro… ainda estávamos a fazer esta revista com pouco esperma-conteúdo para fecundar no ovário-InDesign, e sem termos pedido nada ao colectivo para participar na publicação, já o Pakito Bolino estava a enviar-nos imagens pesadíssimas, em alta definição, prontas para imprimir em qualquer suporte… Perguntámos porque enviava ele as imagens??? Resposta: “use it for whatever you want”… ??? Como é que ele sabia que isto ia fazer tudo sentido neste caos?
Não sabia, deve ter pressentido algo...
DE HORRORES
GALERIA
PARTE I
Manuel Correia Fernandes manuelcorreiafernandes-poesia.blogspot.com Texto: Joana Pires
Manuel começou por me falar de um livro, com um homem de cuecas coloridas e uma esplanada de cínicos, numa tarde em que contava como à quarenta anos tinha tramado um soldado do alfeite, convencendo-o, após uma ida ás putas, que o seu pénis ia apodrecer e cair, acabando por me lembrar que nessa altura as meninas iam à revista. Um dia mais tarde apareceu-me com uma pasta de desenhos electrónicos, feitos no paint, dizendo que se tornara um vício para ele e que os queria compilar num livro pois ilustravam as suas poesias. Sempre os mostrou a achar que eram ”mal feitos” . Nós não concordamos, e enquanto o livro não está pronto...
A VACA
DA VIZINHA
DÁ MAIS LEITE QUE A MINHA
Texto & Fotografias: Jucifer
Uma secção sobre espaços visionários... Em Portugal não há Nek Chand (Índia) nem as Torres Watt (EUA). Salazar e Cerejeira não permitiriam tal coisa por isso já ter cerâmicas de anões ou leões de mármore é um grande pau de liberdade pública por mais vomitante que seja. Claro que isto não é lá grande espingarda no mundo da Arte Bruta. No Portugal dos pequeninos ficamos por alguns jardins com alguma bizarria mundana como irão ver nesta reportagem de Jucifer, autora de bd e ilustradora de zines invejáveis. As fotos são da sua autoria e vão visitar o seu blogue crime-creme.blogspot.com se quiserem ser mesmo fixes!
Grande velocidade, carro,cassete fanhosa, uma estrada qualquer na Batalha, e lá estava ela...num quintal de uma casa à beira da estrada,a Aldeia Típica da M********! Grandes Infrastruturas!Junta de Freguesia, Capela, Hospital, Campo de Futebol, uma Mina onde jesus trabalha vigiado por um sapo verde gigante, uma olaria - posto de trabalho do Ken, um Castelo e ainda uma piscina vigiada por barbies ou sabrinas com pouco cabelo, o paraíso do kitsch em miniatura! Casinhas de betão para todos os habitantes, helicopteros construídos com peças de carros usados, camiões de plástico a transportar o minério brilhante, tudo em harmonia com a natureza e com a população constituida essencialmente por bibelots de porcelana, figuras secundárias de presépios semidestruídos, cabeças de bonecas de plástico e ícones religiosos misturados com anões proletários e uns animaizinhos de 2cms que são um misto de foca com cão, tudo protegido por uma rede, não vá alguém sequestrar Jesus ou ou helicoptero da TVI com um cameraman cabeçudo! Tocou-se à campaínha, não sei se antes ou depois de se tirar um monte de fotografias, mas não estava ninguém, ninguém da família F***. Queriamos saber quem tinha construído aquela maravilha, se foi o Manuel F***, ou a Maria F***, se a Liliana F*** ou a Isabel F*** que figuravam num painel de azulejos debaixo da caixa do correio da casa. Fomos embora.No caminho a ouvir a mesma cassete, ainda fanhosa, pensei na família F***. Quando chegassem a casa e vissem a caixa do correio e encontrassem o Macaco Tozé e depois sentarem no sofá da sala igualmente adornada de bibelots e abrirem o livro cheios de curiosidade e lerem a dedicatória que o Marcos escreveu que era mais ou menos assim:
“Olá! Estive aqui à porta da vossa casa, gostei muito da vossa aldeia. Deixo-vos este livro em troca das fotografias que tirámos. Espero que gostem! Gostaria de vos entrevistar, o meu contacto é o... Cumprimentos, Marcos Farrajota” E umas páginas mais à frente, as vinhetas do Janus, o Macaco Tozé a foder com uma gaja e chamar-lhe puta do caralho, e a família F*** completamente escandalizada... e é claro que nunca o contactaram! ahahahahaha
NUNCA
ACONTECE NADA... Fotografias: Joana Pires - Texto: Marcos Farrajota
Ir a mais um Festival de BD de Angoulême pode ser uma seca. E ainda bem que na última edição (a 37ª que aconteceu entre 28 e 31 de Janeiro de 2010), o colectivo Le Dernier Cri criou o evento “off”, “Angoumerde”, num tasco sebento, dando o contraponto ao comercialismo oficial do evento. O lado “off” há muito que estava perdido, e curiosamente surge num ano em que apesar de tudo, a programação incluía uma boa selecção de autores com trabalhos expostos (Fabrice Neaud) e houve uma renovação dos equipamentos (como a abertura do Museu de BD). Ainda assim para quem é batido nestas andanças poderá dizer que não havia nada de “novo”. Mas o espírito mais blasée iria abaixo quando se visitasse a exposição Match de catch à Vielsam, no Théâtre de Ville. Estranho conceito de ver os intelectuais Frémok’s a trabalharem com deficientes mentais do CEC La Hesse - o projecto idealizado pelo atelier italiano Blu Camello. A fusão de Art Brut com o virtuosismo plástico da Frémok era sem dúvida impressionante e refrescante, sobretudo os originais de Richard Bawin com Thierry Van Hasselt... fora os vídeos, esculturas e workshops ao vivo.
Depois da L’Association ter editado livros da Caroline Surry e do Pakito Bolino nos últimos anos, seguido da Fremok a meter-se na Art Brut – foi editado o livro homónimo que aconselhamos desde já -, acredito que o Pakito deve-se estar ainda a rir da cena “bedófila”. fremok.org ... cec-lahesse.be
OBJECTO Objecto: Flyer Local e data: Cascais, 2008 Encontrado por: A.C.P
encontrado
Quando encontrei este flyer no chão e nos pára-brisas de alguns carros no centro de Cascais apesar de ter achado piada nunca me dei ao trabalho de contactar o que julguei ser um jovem desesperado sem internet para colmatar falhas de sociabilidade. Dois anos depois, na sequência do convite para estas linhas, decidi então enviar umas mensagens ao respectivo para saber se já tinha encontrado a deusa loira e porquê o ano 2006 a seguir a Cradle of Filth. Estávamos em 2008 não fazia sentido estar ali 2006 até porque ele podia ter cortado essa referência. Após o silêncio de um dia obtive as seguintes respostas: “pk formam os cradle of filth que sauvaram a minha vida! Tive um divórcio difícil e pensei em dar 1 fim a tudo! mas kem é vc? Gostas de Metal? És inteligente?” 13.6.2010, 21:46:52 Abalado pelo facto de os Cradle of Filth terem salvo a vida a alguém não fui capaz de lhe responder. Ao longo da noite seguiram-se outras (horas entre parentesis): “alem do thornography, tenho o Midian, Dusk and her Embrace, V Empire, From Cradle to enslave, Cruelty and the beast, Nymphetamine, bitter suites to succubi, damnation and a day, e The principle of evil made flash.” (01:31:20) Horas mais tarde: “O amor é o medo. O amor é o tempo. O amor é o desejo, no suspiro do vento!” (03:08:08) No dia seguinte, numa tentativa de por fim à conversa ou de mergulhar mais profundamente na mente de um fã de Cradle of Filth, decidi anunciar que tinha 16 anos. Esperava obter resposta mas nada...Relativamente ao porquê do ano de 2006 incluído no recorte, como não fiquei elucidado, decidi investigar. O ano corresponde ao disco Thornography cujo o titulo “represents mankind’s obsession with sin and self. The thorn combines images of that which troubled Christ, the Crown of Thorns, thus intimating man’s seeming desire to hurt God and also, of the protecting thorn and the need to enclose a secret place or the soul from attack. An addiction to self-punishment or something equally poisonous. A mania. Twisted desires. Barbed dreams. A fetish. An obsession with cruelty. Savage nature.”...
ANDA
COMIGO Texto : Marcos Farrajota
ONDE MORA FRANKLIN “Um Artista do Acaso”
Parece que ainda foi ontem mas já foi à 10 anos - e só há um ano que pude comprar («a malta é jovem, a malta não tem dinheiro») o catálogo de uma exposição simplesmente reveladora. Não sei porque raio de motivo é que fui parar ao Museu de Etnologia e ainda menos à exposição de escultura de Franklin (1919-1968), artista que pertencia a uma tradicional família de canteiros, recusou trabalhar na pedra preferindo trabalhar noutras actividades (como engraxador de sapatos), Franklin sempre preferiu a madeira como material para o seu trabalho artístico. Era um “artista popular” - expressão cheio de significados redutores num mundo que tanto gosta de diferenciar a Arte feito por um artista parido nas instituições e os “outros”, onde cabe tanta gente e tipos mais interessantes. Ora justamente, vivendo num país (fascista) que tinha criado uma falsa identidade de ruralidade e de cultura popular (através do Secretariado Nacional da Informação), onde não havia espaço para a diferença, o que podemos considerar do trabalho de Franklim não é só “popular” como ainda será “marginal”. Apesar de tudo, antes do seu acidente fatal, viveu um tempo de sucesso comercial com algumas exposições - uma delas em Lisboa organizada por Ernesto de Sousa.
O catálogo é uma espécie de trabalho definitivo sobre este artista, não faltando textos biográficos e contextualizadores.
Marcos Farrajota in gentebruta.blogspot. com (Agosto 2006)
RAW VISION
As raízes de árvores e outras madeiras encontradas (ou oferecidas por clientes) serviam para fazer monstros bicéfalos, criaturas bizarras antropomórficas ou zoomórficas (Bacalhau com Cabeça de Tartaruga) mas também Deuses e santinhas. O aspecto “imperfeito” (mas finalizado) dos objectos é um resultado vivo e genuíno. Não é à toa que se sente a sua energia natural quando vemos esta cerca de uma centena de peças - até quando os vemos impressos no catálogo (suspeito que estarei a ser suspeito, passe a redundância). Seriam estas as reacções de que se espera de um trabalho ligado à natureza - pelo material usado - e à ruralidade - pela origem. Na altura, o que senti é que estava à presença de monstros sacados das bd’s fantásticas do norte-americano Jack Kirby (1917-1994; criador de maior parte dos super-heróis) dada à excentricidade das criaturas ou até à força dos seus traços.
A Raw Vision (RV), uma revista inglesa que é (segundos os próprios): «the world’s only international magazine of outside art, art brut, contemporary folk art». Premiada já duas vezes por importantes organizações, a primeira em 1997 pela UNESCO como “Melhor Revista de Arte” e a segunda em 2006 pela Utne Independent Press Awards, na categoria de “Melhor Reportagem sobre Arte”, a RV de número para número surpreende seja quem for e todas as vezes mesmo que já se conheça números antigos.
Algumas más-línguas dizem que a revista é dominada pelos interesses das galerias norte-americanas, no entanto essas más-línguas são francesas e a maioria da tiragem da revista é vendida para os EUA, o que justifica a enorme publicidade dessas galerias norteamericanas, certo? No entanto como aliás o número 60 prova, há uma “visão crua” sobre a criação artística internacional: uma reportagem sobre os bizarros cartazes de filmes nas salas de cinema no Gana, a “iconografia de Monera” - o país imaginário do holandês Van Lankveld - e uma reportagem sobre sítios de “arquitectura marginal” em Espanha , para além de trazer sempre notícias e contactos de galerias e museus pelo mundo fora que exibem e coleccionam Art Brut.
Existindo desde 1989, a RV já editou 69 números, sendo que os primeiros três se encontram esgotados. Mas não desesperem, caros amigos brutos, uma reedição desses números foi feita em 2005 e está disponível, trata-se da Raw Vision 123. Aqui encontraremos uma primeira grande abordagem aos artistas brutos clássicos, os sítios mais conhecidos e uma boa série de ensaios sobre Art Brut. No final desta (re)edição é feito um adenda que nos informa do paradeiro dos artistas, sítios e jornalistas após os mais de 15 anos da publicação original dos textos. Uma edição cheia de referências básicas. Por falar em referências, este é o que o único livro editado pela RV: Raw Vision Outsider Art Sourcebook. É um guia de museus, publicações, organizações, artistas (clássicos), sítios web, sítios (art in site), galerias que lidam com esta arte. É completado por textos sobre arte marginal, cronologia, bibliografia e um índice dos artigos da Raw Vision. Para quem se quer arriscar a conhecer “outro tipo de arte”, especialmente em Portugal que não tem muita oferta. É uma edição menos espectacular ao nível de imagem (das obras) mas bastante útil no que diz a informação. Este livro teve duas edições, a última (revista, actualizada e melhorada) é de 2009.
Em Portugal algumas destas edições são distribuídas pela Chili Com Carne: chilicomcarne.com
VENDA
DO PEIXE
Editado por Marcos Farrajota & Joana Pires
Colaboradores neste número: João Bragança | A.C | Manuel Correia | Jucifer | Jakob Klemencic | Latrina do Chifrudo | João Mascarenhas | Pakito Bolino | Rafael Dionísio
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