Cadernos da Oficina Social : 10

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cadernos da oficina social

10 Construindo alternativas de geração de trabalho e renda: PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares

Rio de Janeiro 2002


C 758

Construindo alternativas de geração de trabalho e renda : PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares.— Rio de Janeiro : Oficina Social, Centro de Tecnologia, Trabalho e Cidadania, 2002. 116 p. ; 19 cm. — (Cadernos da Oficina Social ; 10. ISSN 15184242). Inclui bibliografias. 1. Cooperativas. I. Série. CDU 338.6

Edição Oficina Social Coordenação André Spitz, Gleyse Peiter Equipe técnica Amélia Medeiros, Sarita Berson Adaptação do projeto gráfico para edição e capa Ednéa Pinheiro da Silva Autoria Sandra Mara Rommel de Almeida Pesquisa inicial Irineu Righi Foto capa Oficina Social Apoio COEP O PRONINC é um projeto desenvolvido no âmbito do COEP através da parceria Finep, Fundação Banco do Brasil, COPPE/UFRJ e Banco do Brasil, com o apoio da Oficina Social. A reprodução dos artigos é permitida desde que citada a fonte. Centro de Tecnologia, Trabalho e Cidadania – Oficina Social Centro de Tecnologia, Bloco I - 2000 MT-05 COPPE/UFRJ Ilha do Fundão – 21945-970 Rio de Janeiro-RJ Telefax: (21) 2562-8074 www.coepbrasil.org.br oficinasocial@coppetec.coppe.ufrj.br

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Mensagem da Direção Mobilizando para a cidadania A vivência com todas as parcerias já estabelecidas no COEP nos ensinou que mesmo quando há um forte apoio institucional, a importância de termos as pessoas certas nos lugares certos é inegável. A Fiocruz, na implantação da COOTRAM - Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos do Complexo de Manguinhos - tinha, além da vontade política, um grande envolvimento de uma verdadeira rede de pessoas dispostas a fazer acontecer. A população estava mobilizada e ainda existia a própria instituição apoiando a contratação da cooperativa. A proposta ousava caminhos novos, esbarrando, no entanto, em problemas que iam desde a contratação, passando pelas resistências ao cooperativismo, permanentemente identificado com a terceirização, até o fato da comunidade não estar capacitada para o trabalho. Os desafios eram grandes. É nesse momento que o COEP entra no processo. De um encontro organizado pela Secretaria Executiva do COEP, no Rio de Janeiro, com a presença de Luiz Pinguelli Rosa (COPPE), Roberto Bartholo (COPPE) e Lécio Lima da Costa (Banco do Brasil), surgiu a idéia de se criar uma incubadora de cooperativas na UFRJ, utilizando o conhecimento e a tecnologia disponíveis na Universidade. A COPPE já possuía uma “Incubadora de Empresas” e o desafio era utilizar esse know-how em um projeto inovador, de apoio a iniciativas populares, voltado para a geração de conhecimento e de oportunidades de trabalho e renda. Da idéia à ação para a consolidação da metodologia da Incubadora, foram realizadas diversas reuniões, participando de sua implementação, além de especialistas da COPPE/ UFRJ, técnicos da Gerência de Cooperativismo do Banco do Brasil, da Fiocruz e da Fundação Banco do Brasil. O resultado dessa grande mobilização foi a implantação, na COPPE/UFRJ, da primeira Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares. A partir da experiência adquirida com essa Incubadora e em sintonia com os objetivos do COEP de incentivar o compromisso social de suas associadas, abrimos a porta de várias instituições que compõem a nossa rede para ampliar o escopo do projeto original e criar o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas – PRONINC. O Programa, viabilizado através de parcerias articuladas pelo COEP, contou, além da COPPE, do Banco do Brasil e da Fundação Banco do Brasil, com a participação ativa da Finep e do Comunidade Solidária. Utilizando esse potencial, o PRONINC foi se transformando em uma referência para replicação, com a implantação de incubadoras em mais 5 universidades brasileiras: da Bahia, Ceará, Juiz de Fora, Pernambuco e São Paulo. Contribuiu, ainda, para o avanço dessa iniciativa as articulações realizadas pelo Fórum de Cooperativismo, sob a coordenação do COEP e do Comunidade Solidária, tendo como objetivo principal, a consolidação dessa proposta, como forma de inclusão social de comunidades de baixa renda.

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É com muita satisfação que nós do COEP constatamos, hoje, os resultados positivos dessa importante iniciativa que, a partir da construção de parcerias e da reunião de esforços, foi crescendo e ganhando vida própria, com a metodologia sendo absorvida por dezenas de outras universidades de todo o país, inclusive pela rede nacional de 84 universidades e instituições de ensino superior que integram a Fundação Unitrabalho. Ampliando os resultados do projeto, cabe ressaltar a participação das Incubadoras das Universidades do Ceará e de Pernambuco na implementação do Projeto do Algodão: uma iniciativa de referência da Oficina Social /COEP, no campo de geração de trabalho e renda, para localidades do semi-árido do nordeste do Brasil. A trajetória de sucesso do PRONINC revela o alcance de um trabalho em rede que caracteriza o COEP, onde parceria e cooperação possibilitam a implementação e multiplicação de experiências bem-sucedidas, gerando elos cada vez mais fortes entre diferentes organizações e sociedade. Nesse caminho, destacamos a participação do professor Luiz Pinguelli Rosa, que através de sua força de vontade e poder de mobilização possibilitou o total envolvimento da COPPE/ UFRJ no Projeto, evidenciando a importância do comprometimento político dos dirigentes e dos técnicos no desenvolvimento de iniciativas inovadoras e na transformação da cultura das organizações. Importância também revelada pela engajadas participações de Lécio Lima da Costa, do Banco do Brasil, e Maria Lúcia Horta de Almeida, da Finep. Através desses nomes, gostaríamos de homenagear todas as pessoas e entidades parceiras do projeto que possibilitaram a transformação de uma idéia em uma alternativa concreta de geração de trabalho e renda e de construção de cidadania para milhares de brasileiros.

André Spitz


SUMÁRIO

Página Livre, 7 Apresentação, 9 Construindo alternativas de geração de trabalho e renda PRONINC – Progama Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares, 11 1

Introdução, 11

2 2.1 2.2 2.2.1 2.2.2

O cooperativismo, 15 O cooperativismo como um movimento mundial, 15 O cooperativismo no Brasil, 18 Principais dificuldades, 18 A importância da educação permanente, 20

A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, 25

3 3.1 3.1.1 3.1.2 3.2 3.2.1

O caso da COOTRAM, 26 O início do processo, 26 O processo de organização, 27 A incubadora de cooperativas, 30 A criação da incubadora, 30

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O Fórum de Cooperativismo, 33

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O Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares - PRONINC, 37

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5

Incubadora do Rio de Janeiro, 39 Incubadora do Ceará, 40 Incubadora de Pernambuco, 42 Incubadora da Bahia, 44 Incubadora de São Paulo, 46


5.6 5.7

Incubadora de Minas Gerais, 47 O acompanhamento do Programa Incubadora, 50

6 6.1 6.1.1 6.1.2 6.1.3 6.1.4 6.1.5 6.1.6 6.1.7 6.2 6.2.1 6.2.2 6.2.2.1 6.2.2.2 6.2.3 6.2.4 6.2.5 6.2.6

Metodologia da incubação, 51

7 7.1 7.2 7.3 7.3.1 7.3.2 8 8.1 8.2

Fases do processo de incubação, 54 Formação da equipe da incubadora, 54 Prospecção de mercado, 59 Interação com a comunidade, 60 Delimitação da atuação do empreendimento, 65 Disseminação do conhecimento, 68 Organização formal da cooperativa, 71 Acompanhamento do empreendimento, 75 As relações da incubadora, 79 Com as cooperativas incubadas, 79 Com a Universidade, 80 O apoio efetivo ao Programa, 80 A relação comercial Universidade x cooperativas, 82 Com outras organizações – as parcerias, 83 Com a comunidade, 86 Com as outras incubadoras, 87 Com as organizações cooperativistas, 87

Os grandes desafios, 89 O caráter inovador da proposta, 89 A inclusão no mercado, 91 Algumas mudanças necessárias para o êxito de empreendimentos cooperativistas, 93 A mudança da cultura de “emprego” para a de “trabalho”, 93 O fim da “cultura da submissão”, 94

O sonho e as questões concretas, 95 A evolução do Programa Incubadora de Cooperativas, 95 Como sair do sonho e transformar a realidade: o desafio de conciliar a realidade e os sonhos, 96

Depoimentos, 97 Referências, 115

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Página Livre

Sandra Mara Rommel de Almeida*

Este relato quer homenagear os heróis e heroínas do dia-a-dia, que fazem acontecer os projetos de melhoria de vida de milhares (quem sabe, milhões) de brasileiros. Não são heróis e heroínas de capa/ espada, com aviões transparentes voando céu afora ou reluzentes capas vermelhas esvoaçantes. Não. São heróis e heroínas anônimos, que não vêem seus nomes citados quando se elogia uma ação social da qual participaram como loucos, que não são apontados como autores de idéias que deram certo e passaram a ser de “domínio público” (quer algo mais democrático que isso: “domínio público”? Esses heróis e heroínas vibram com essa democracia, sem qualquer sombra de orgulho próprio ferido). Não são super-heróis; são heróis do dia-a-dia, o que é muito, mas muito mesmo, mais difícil. Porque é viver sem os reconhecimentos tão gratificantes e tão comuns nas estórias em quadrinhos: não existe quem lhes confira títulos de cidadão honorário a cada gesto heróico e nenhuma autoridade coloca seus símbolos pessoais nos céus para chamá-los em caso de necessidade (símbolos, aliás, que eles sequer têm). Eles não fazem discursos inflamados acerca dos problemas do mundo para cadeias de televisão, nem são filmados inaugurando grandes obras. Eles agem, isto sim, na solução dos problemas que lhes são próximos, na realidade que os rodeia, usando as capacidades de que dispõem – suas próprias habilidades e competências. Às vezes agem sozinhos, noutras descobrem seus pares – outros solitários atuantes – e aí constróem redes invisíveis, solidárias e conseqüentes. São os verdadeiros heróis e heroínas de uma sociedade envolvida em um sem número de problemas sociais. São eles que mantém histórias como as contadas neste livro, onde a solidariedade supera o individualismo e os resultados permitem enfrentar as dificuldades. São centenas de pessoas envolvidas, muitas delas abrigadas sob siglas impessoais e, para muitos, áridas, como COEP, FINEP, FBB, GCOOP, BB, UFRJ, USP, UFPE, UFCE... Outras sequer essas siglas têm; são anônimos participantes de uma cruzada “contra a miséria e pela vida”, nas sábias palavras do Betinho, aquele que, graças a Deus, não ficou anônimo e lançou os pilares dessa caminhada que é a ação cidadã, o “maior movimento autônomo e descentralizado da história da sociedade brasileira”1. É a esses heróis e heroínas que este livro é dedicado. * Socióloga, com mestrado em Política Social pela UNB, e professora universitária 1 André Spitz, Secretário-Executivo do Coep (1998, p. 13).

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Apresentação Maria Lúcia Horta de Almeida* Lécio Lima da Costa**

Ao viajar pelas páginas deste livro, é possível encontrar muitos dados, informações, métodos e sugestões de como organizar grupos de pessoas (especialmente as com menos recursos) para algum processo produtivo, por meio do modelo cooperativista e do apoio das diversas entidades envolvidas no Projeto Incubadoras de Cooperativas. O que talvez não seja fácil de perceber no decorrer da leitura é o que este processo pode alterar na vida das pessoas, dos grupos, das comunidades e um dia, quem sabe, no nosso País. Há de se experimentar todo o processo para observar-se uma mudança cultural, de esperanças, de posição perante as regras e conceitos pré-estabelecidos e de valorização do próprio trabalho. Ao unirem-se, com base nos princípios cooperativistas, mas sem perder de vista o enfoque empresarial da qualidade, do cliente e do preço, as pessoas começam, elas mesmas, a ofertar ao todo poderoso mercado, sua mão-deobra e sua produção. Descobrem quanto vale o seu trabalho pois negociam a troca diretamente. Constatam que, quando muitos se unem, cada um passa a valer muito mais.

* Finep / Coordenadora pela Oficina Social do Projeto Proninc ** Banco do Brasil / Coordenador do Núcleo de Trabalho da Oficina Social

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Surpresa. É um modelo difícil de administrar. Exige abnegação, educação, conscientização, muita honestidade, muita participação de todos, respeito às decisões das maiorias, requer que cada participante saiba exercer sua função de empresário, de também dono da empresa em que trabalha, e exige ainda dos dirigentes saber que não são donos e que tem o dever de respeitar o capital e o bem coletivo. É realmente complexo. Um motivo para as parcerias com as Universidades. Surpresa. Quando são alcançados os objetivos do projeto nada é mais valioso do que ver pessoas, antes com pouca informação, pouco conhecimento e com poucas condições, agora, com apenas um pouco mais de informação, um pouquinho mais de conhecimento mas com uma grande diferença: uniram-se e agora tem condições de transformar sua realidade, tem condições de buscar o conhecimento antes distante, têm agora condições de, em última análise, serem competitivos quando antes apenas eram empregados facilmente descartáveis, já que seu trabalho, na forma anteriormente praticada, era pouco valorizado. Surpresa. Aparecerão muitas forças contrárias a movimentos dessa natureza. Nesses momentos é que os projetos serão definitivamente testados. A força da união será posta a prova no momento em que a coletividade trabalhadora tiver que extirpar do seu próprio organismo aqueles que, muitas vezes lideres, não sobreviveram às tentações, tiver ainda que superar os interesses do capital e do indivíduo e valorizar o trabalho e ...... bom, muito mais aparecerá. Boa viagem.

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Construindo alternativas de geração de trabalho e renda* PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares Sandra Mara Rommel de Almeida**

1 Introdução As mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX foram profundas e amplas, provocando alterações em todas as esferas da vida humana. A tecnologia foi parte fundamental dessas mudanças – e mesmo a causadora de muitas delas. Foram os avanços tecnológicos que facilitaram nossa vida: compramos pela Internet, pagamos nossas contas na casa lotérica da esquina, pegamos dinheiro em um dos inúmeros terminais eletrônicos que estão a cada ponto do caminho, conversamos por e-mail. Enfim, quase tudo pode ser feito sem depender das antigas relações com pessoas fornecedoras/prestadoras do serviço. Isso aconteceu com todo mundo? É claro que não. Esses avanços tecnológicos servem para uma pequena minoria, que tem acesso a eles. No entanto, esses avanços atingem a todos, porque as suas conseqüências atingem a sociedade como um todo. Um bom exemplo disso são as conseqüências ambientais, que afligem tanto os que recebem os benefícios tecnológicos quanto os que jamais os viram mas sofrem junto, e até mais intensamente, os seus efeitos danosos, como a poluição e a mudança do clima. Outra conseqüência facilmente visível é a social, com a ocorrência, por exemplo, do desemprego advindo da redução de postos de trabalho em

* Os dados iniciais utilizados nesse trabalho foram levantados por Irineu Righi. O estudo foi feito com base em dados coletados até o ano 2000. ** Socióloga, com mestrado em Política Social pela UNB, e professora universitária

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virtude da automação dos serviços e do aumento de exigibilidade das competências mínimas para o exercício das funções que sobraram. Não só a formação acadêmica exigida é cada vez maior como, também, a constante especialização é uma necessidade permanente. No entanto, não só essa formação e essas competências não estão disponíveis para todos, como para uma grande camada não há acesso sequer ao mais básico, como ler e escrever.

O grande problema a ser enfrentado pela sociedade brasileira, portanto, não se restringe apenas a continuar esse desenvolvimento de tecnologias, mas sim como torná-las inclusivas em relação às camadas mais pobres, fazendo com que as

É bem verdade que mesmo as populações mais pobres recebem um mínimo das vantagens oriundas dessas mudanças. Os novos medicamentos, as melhores condições de higiene, o tratamento da água e a facilidade de acesso aos recursos médicos, por exemplo, fizeram reduzir o índice de mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida da população em geral. A população brasileira aumentou em ritmo acelerado nos últimos anos, passando de 90 para 170 milhões de habitantes em pouco mais de 3 décadas, porém o grande problema é que a infraestrutura necessária para o atendimento dessa população não teve o mesmo ritmo de crescimento e assim, para muitos, as conseqüências negativas se sobrepuseram às vantagens.

vantagens de um mundo no terceiro milênio cheguem a um número maior de pessoas.

Com isso, temos um conjunto de variáveis que, combinadas entre si, dão uma pequena mostra dos graves problemas sociais que se avolumam: menor volume de empregos X maior quantidade de pessoas, maior pobreza X maior necessidade de escolaridade, aumento da expectativa de vida X redução da idade desejada pelo mercado de trabalho, exigência de conhecimentos de informática e línguas estrangeiras X uma população onde a grande maioria sequer concluiu as séries básicas de educação. O grande problema a ser enfrentado pela sociedade brasileira, portanto, não se restringe apenas a continuar esse desenvolvimento de tecnologias, mas sim como torná-las inclusivas em relação às camadas mais pobres, fazendo com que as vantagens de um mundo no terceiro milênio cheguem a um número maior de pessoas. Em 1993, em meio à gravidade da situação de extrema pobreza de camadas significativas da população, especialmente nas grandes cidades brasileiras,

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o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, conclamou a sociedade civil a agir “contra a miséria e pela vida”. Em resposta a seu chamado, surgiram, por todo país, centenas de comitês de ação da cidadania, organizados pela população em prol daqueles mais necessitados (ALMEIDA, 1999). Segundo Betinho (apud ALMEIDA, 1999) a Ação da Cidadania colocou a fome como questão a ser resolvida por toda a sociedade” e não apenas por setores específicos de Governo. A Ação “tem sido uma experiência política rica pela sua diversidade, intensa pela sua responsabilidade, estimulante pelo seu caráter inovador. [...] É um movimento social e político que trata a exclusão como um problema ético de toda a sociedade e não como uma conseqüência inevitável do desenvolvimento econômico[...]. Esta nova política está baseada em 3 conceitos: parceria, iniciativa, descentralização. Parceria porque propõe juntar quem quer dar com quem precisa receber. Iniciativa porque não apresenta respostas, mas coloca questões e cobra soluções. Descentralização porque não estabelece um modelo hierárquico, mas sim estimula ações sem impor uma coordenação, ações que respeitem as diversidades locais. O resultado [...] é, acima de tudo, despertar a indignação desta sociedade com a indigência, em vez de considerá-la simplesmente parte indesejável do processo de desenvolvimento econômico. [...] No combate à fome, há o germe de uma mudança radical de atitude que pode mudar o rumo da própria sociedade.

Inserindo-se nessa proposta, as entidades públicas se organizaram e, em agosto de 1993, no Rio de Janeiro, foi criado o Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e pela Vida – COEP. A proposta do Comitê, desde sua fundação, foi a de articular e incentivar as ações das entidades associadas, promovendo o combate à fome e a geração de trabalho e renda para as populações marginalizadas e imersas na violência e na miséria. Ao longo desses anos, com a criação de Comitês Estaduais e a incorporação de empresas privadas, o COEP consolidou-se como uma grande rede nacional de mobilização social. Com estrutura descentralizada, sem hierarquia, onde os participantes ingressam por vontade própria, o COEP tem como um dos seus objetivos articular parcerias e promover a troca de experiências, viabilizando ações concretas para o desenvolvimento humano e social.

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Em 1994, por entender que a economia solidária pode ser uma possibilidade de superação da crise e de crescimento econômico aliado à melhoria da qualidade de vida, essa rede de entidades cidadãs elegeu o cooperativismo como diretriz estratégica e metodológica de organização social de populações carentes, visando o desenvolvimento de projetos de geração de trabalho e renda. E aí surge a história contada neste Caderno, que inicia com a formação de uma cooperativa e se transforma em um Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares, o PRONINC, cuja memória se busca aqui registrar. Mas, antes, é importante falar um pouco sobre o próprio cooperativismo, para que se possa entender melhor as razões da escolha dessa forma de organização.

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O cooperativismo1 O saber e a união são uma força; a força, dirigida pelo saber, é felicidade; a felicidade é o fim da criação (KING, 1828 apud LUZ FILHO, 1953, p. 23).

2.1 O cooperativismo como um movimento mundial Não é possível deixar de falar no núcleo central da discussão que envolve as ações de geração de trabalho e renda através do cooperativismo, que é o próprio cooperativismo. Não é objetivo deste trabalho entrar nas discussões acadêmicas ou legais relativas a esse tema, mas tão somente explicitar melhor o porquê da opção pelo cooperativismo quando do início dos trabalhos junto às comunidades. Afinal, já existiam incubadoras de empresas ligadas a Universidades; porque não simplesmente usá-las? Ou usar as ações já em andamento pelo Sebrae? Ou unir-se às diversas frentes abertas pelas Secretarias de Trabalho de várias cidades?

... era importante agregar

novas possibilidades de inserção das populações que, a despeito das inúmeras ações já em andamento, continuavam alijadas do mercado, vivendo em condições muitas vezes desumanas e sem perspectiva de obter

A resposta é muito simples: porque era importante agregar novas possibilidades de inserção das populações que, a despeito das inúmeras ações já em andamento, continuavam alijadas do mercado, vivendo em condições muitas vezes desumanas e sem perspectiva de obter trabalho e renda no mercado formal de empregos. É a essas pessoas que as incubadoras de cooperativas buscam atender em primeira instância. Outras, um pouco menos desfavorecidas, vão se agregando na busca de recuperar o trabalho que a terceirização ou a automação lhes retirou. São, principalmente, profissionais competentes que perderam o emprego e não conseguiram realocar-se, seja porque sua experiência é em áreas já saturadas e, por isso, não têm mais seu lugar, seja aqueles que foram substituídos por mão-de-obra mais jovem, ou – ao contrário – aqueles que não conseguem ter sua primeira chance porque não têm experiência. 1

trabalho e renda no mercado formal de empregos. É a essas pessoas que as incubadoras de cooperativas buscam atender em primeira instância.

Os dados aqui referidos estão baseados em Almeida, Sandra (1999, cap. 2).

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De certa forma, é uma retomada das origens do próprio movimento cooperativista, que surgiu em decorrência de condições muito semelhantes – guardadas as devidas proporções de época. Premidos pelas forças econômicas, os homens têm buscado maneiras de reagir a essa situação, utilizando a mais antiga forma de autodefesa: a reunião.

Independentemente das argumentações que se possa ter sobre a validade ou não do cooperativismo como forma de transformação social, é inegável que ele se reveste, atualmente, de importância fundamental quando analisamos as formas de organização mundiais.

É da reunião que brotaram as organizações de cooperação que existiram através dos séculos. A idéia de associativismo está presente em antigos autores, de todas as épocas, mas é a partir do século XIX que as idéias propriamente precursoras do cooperativismo começam a se consolidar. Em 1912 são definidos os princípios essenciais que até hoje são aceitos e que o Congresso comemorativo do centenário da Aliança Cooperativa Internacional - ACI, em 1995, ratificou, nomeando-os da seguinte forma: • • • • • • •

Independentemente das argumentações que se possa ter sobre a validade ou não do cooperativismo como forma de transformação social, é inegável que ele se reveste, atualmente, de importância fundamental quando analisamos as formas de organização mundiais. São mais de 750 milhões de cooperados nas mais diversas áreas, rurais (ou de produção) e urbanas, caracterizando-se como “o mais importante movimento sócio-econômico do mundo” (ACI, 1996, p. 18). No Brasil, existem mais de 6.000 cooperativas ligadas à OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), reunindo 5 milhões de associados, gerando 169 mil empregos diretos e participando com 6% do PIB. Caso incluídos os usuários dos sistemas cooperativistas, esses números aumentam significativamente: só as cooperativas médicas têm mais de 11 milhões de usuários e as cooperativas odontológicas mais de 3 milhões2. 2

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adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação econômica igualitária dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação, interesse pela comunidade.

Dados disponibilizados pela OCB, na homepage (ocb.org.br), tendo como fonte o Núcleo de Banco de Dados da OCB – GETEC (2001).


Organização das Cooperativas Brasileiras: -Nacional (OCB) –

01

-Estaduais (OCE)-

27

-Confederações-

10

-Centrais e Federações-

129

-Singulares-

6.094

Fonte: Disponível em: <www.ocb.org.br

Reconhecido como uma forma de organização que propicia maior competitividade, representando a viabilidade econômica para os pequenos produtores rurais ou trabalhadores autônomos, o cooperativismo inclui as mais diversas áreas de atuação, como produção e distribuição de bens agrícolas, crédito, transporte, seguros, habitação, pesca e prestação de serviços de todos os tipos. COOPERATIVAS NO BRASIL Ramo

Cooperativas

Cooperados

Empregados

AGROPECUÁRIO

1.461

822.380

107.158

CONSUMO

187

1.466.513

7.857

CRÉDITO

975

1.041.613

15.009

EDUCACIONAL

246

79.418

2.510

ESPECIAL

3

1.984

6

HABITACIONAL

212

49.270

1.445

INFRAESTRUTURA

182

560.519

5.422

MINERAL

26

12.686

26

PRODUÇÃO

118

6.092

330

SAÚDE

765

300.855

21.056

TRABALHO

1916

297.865

6.993

TURISMO E LAZER

3

60

0

Total

6.094

4.639.255

167.812

Fonte: Núcleo de Banco de Dados da OCB – GETEC (2001).

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Essa presença mundial, ao tempo em que demonstra a força da cooperação como

“As cooperativas estão presentes em todos os países e em todos os sistemas econômicos e culturais [...] em todas as regiões habitadas do planeta.” (LAIDLAW, 1980, p. 10) Na prática, tem sido notável o crescimento demográfico das cooperativas em todos os regimes econômicos, apesar de suas diferenças sociais, políticas e culturais. Essa presença mundial, ao tempo em que demonstra a força da cooperação como forma de organização viável em qualquer sistema, abre caminho para problemas semelhantes em todos os locais onde se amplia o movimento, especialmente aqueles referentes à baixa participação dos cooperados e à formação de cúpulas decisórias, que desvirtuam as características mais fundamentais desse tipo de organização.

forma de organização viável em qualquer sistema, abre caminho para problemas

2.2 O cooperativismo no Brasil

semelhantes em todos os locais onde se amplia o

2.2.1 Principais dificuldades

movimento, especialmente aqueles referentes à baixa participação dos cooperados e à formação de cúpulas decisórias, que desvirtuam as características mais fundamentais desse tipo de organização.

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No Brasil, as cooperativas proliferaram após a década de 30 e muitas foram as experiências exitosas como também foram muitos os fracassos (repetindo, aliás, a experiência do resto do mundo). As causas apontadas para os fracassos estiveram sempre ligadas ao desconhecimento das bases do cooperativismo, ao despreparo dos dirigentes e a falhas na legislação que regulamentava as iniciativas. É interessante, para os fins de análise a que nos propomos, comparar as conclusões da Farm Credit Administration (EUA), em 1939 (LUZ FILHO, 1953, p. 389), sobre as razões dos fracassos de cooperativas norte-americanas, com as dificuldades apontadas pelas cooperativas dos diversos segmentos durante o I Encontro dos Segmentos do Cooperativismo Brasileiro, em 1995 (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 1995). As coincidências entre as duas análises são significativas e apontam para problemas que constituem o grande desafio do cooperativismo. Como exemplo, citamos alguns itens:


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... dois problemas são comuns: o da educação cooperativista – que faz com que o associado não participe ativamente e não se “envolva” com a cooperativa – e o diretivo – onde há a necessidade de que os responsáveis eleitos sejam também – ou estejam ao lado de – técnicos responsáveis pela gestão.

- como evitar a formação de cúpulas decisórias e centralizadoras de poder? - como discernir entre “cooperativas” e intenção fraudulenta de empresários que querem evitar vínculos trabalhistas e as conseqüentes contribuições sociais? - como o Estado pode estimular as cooperativas, dando-lhes condições de crescimento e fortalecimento, sem redundar em intervencionismo? - qual o papel da educação no seio do movimento e qual a relação entre esta e o comprometimento com o cooperativismo? Essas não são preocupações somente nacionais; são uma constante nos relatórios de seminários, conferências e reuniões das lideranças mundiais que abordam as dificuldades enfrentadas pelo movimento. São muitos os

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Na verdade, as pessoas não estão habituadas – ou não

fatores que podem influenciar no surgimento de problemas de participação e um citado com freqüência é o tamanho da cooperativa. Percebe-se que há mais facilidade de manter uma gestão “cooperativista” em empreendimentos menores, pois grandes organizações tendem à burocratização da gestão e concentração de poder. Entretanto, é igualmente verdade que cooperativas com poucos cooperados podem enfrentar o mesmo tipo de problema, mantendo-se o cooperado completamente alienado dos processos do empreendimento, sem esquecer que estas, além disso, normalmente possuem pequeno capital, enfrentando problemas financeiros semelhantes aos das pequenas empresas, especialmente no que se refere à concorrência de mercado.

foram preparadas – para o exercício da cidadania. Participar do processo significa sair da

Os dados de presença em assembléias também apontam para uma participação irrisória. Normalmente é utilizada a prerrogativa de “decisão em segunda chamada”, com exigência de apenas poucos membros.

passividade, significa disponibilizar-se, arriscarse, opinar, decidir. Para que se faça isso, é necessário preparar para a participação, não só dentro dos movimentos sociais como, também, no processo de educação formal.

Sem dúvida, a questão a ser discutida é bem mais ampla: porque as pessoas abrem mão de sua possibilidade de interferir nos destinos do grupo? A resposta à essa questão envolve bem mais que a análise do sistema cooperativista em si. Na verdade, as pessoas não estão habituadas – ou não foram preparadas – para o exercício da cidadania. Participar do processo significa sair da passividade, significa disponibilizar-se, arriscar-se, opinar, decidir. Para que se faça isso, é necessário preparar para a participação, não só dentro dos movimentos sociais como, também, no processo de educação formal.

2.2.2 A importância da educação permanente As cooperativas de pequeno, médio ou grande porte estão priorizando o processo educativo para a reversão desse quadro. Ocorre que cursos especializados acabam restringindo a população-alvo atingida e, embora trazendo benefícios, normalmente limitam a participação a apenas uma parcela dos cooperados (normalmente as diretorias). Há necessidade de um processo mais abrangente e localizado nas bases, fazendo com que ser “cooperado” seja sinônimo de ser “participante”. A

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educação de base, disponibilizada pelas redes oficial e particular de ensino, deveria incluir análises específicas sobre cooperação e participação, preparando os jovens para esses processos e tornando-os lugar comum na vida de todos. Mas essa é uma outra discussão, que não cabe nos limites deste trabalho. Enquanto isso não acontece, é imprescindível que as cooperativas disponibilizem formas de propiciar que todos seus integrantes sejam preparados e participativos. Essa preocupação com a permanente formação dos cooperados e suas lideranças está presente na direção do próprio movimento. Especialmente nos últimos vinte anos, tem sido grande a atenção dada à formação dos futuros dirigentes e inúmeras publicações e eventos da ACI, da OCB e das Centrais Estaduais demonstram-no claramente.

É inevitável falar da importância da educação para o cooperativismo, único caminho viável para aumentar a participação. O

Buscando resolver tais dificuldades, muitos administradores cooperativistas acabam tentando fazer dela uma empresa moderna, eficaz, produzindo benefícios para seus associados, mas sem preocupação com os princípios que norteiam o próprio sentido do cooperativismo: ao invés do caráter de transformação da realidade sócio-econômica que perpassa os ideais clássicos do movimento, passam a valer interesses individuais distanciados – quando não opostos – aos interesses grupais. É dentro desse contexto que se afirma que

indivíduo que conhece suas capacidades, e as desenvolve, é mais apto a fazer valer suas idéias, defende seus pontos de vista, não se acomoda sob diretorias com as quais não concorda.

se do ponto de vista da racionalidade econômica e administrativa, a empresa cooperativa cresce e prospera, tem sido freqüente a afirmação de que, em termos doutrinários, ela se desvirtua. (PINHO, 1982, p. 65)

Outros administradores insistem na participação ampla, na co-gestão e acabam frustrados e desmotivados pelo que chamam de “esforço em vão”. É inevitável falar da importância da educação para o cooperativismo, único caminho viável para aumentar a participação. O indivíduo que conhece suas capacidades, e as desenvolve, é mais apto a fazer valer suas idéias, defende seus pontos de vista, não se acomoda sob diretorias com as quais não concorda. Foram considerações como essas que levaram ao surgimento da idéia das Incubadoras. Esse espaço dentro da Universidade, ligando o conhecimen-

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A união com as Universidades propunha trazer, para as cooperativas nascentes nas Incubadoras, essa preocupação com a educação permanente dos membros e, mais que isso, as condições concretas para que isso ocorresse sem maiores dificuldades, como parte inerente ao próprio processo de formação e estruturação do empreendimento.

Talvez essa seja a principal

to teórico à prática social, com apoio financeiro das instituições envolvidas e com toda a infraestrutura que a Incubadora oferece, foi proposto como uma das respostas aos problemas enfrentados pelo cooperativismo e, talvez, um possível espaço de discussão e reflexão para os rumos do próprio movimento. A união com as Universidades propunha trazer, para as cooperativas nascentes nas Incubadoras, essa preocupação com a educação permanente dos membros e, mais que isso, as condições concretas para que isso ocorresse sem maiores dificuldades, como parte inerente ao próprio processo de formação e estruturação do empreendimento. Outro objetivo presente era o de propiciar o exercício da cidadania, na convicção de que ensinar e aprender acerca do cooperativismo pode ser uma forma importante de exercitar a cidadania, na medida em que as pessoas são preparadas para a constante participação nos processos decisórios e nos destinos dos grupos a que pertencem. Habituar-se ao exercício do direito da gestão democrática, pela livre e voluntária adesão, é um bom caminho para perceber-se como membro igualitário de uma sociedade onde todos têm direitos e deveres iguais, onde cada um vale um voto (independentemente do que possuir) e onde todos são co-partícipes dos destinos do grupo.

característica de um movimento cooperativista: a coletividade como depositária do poder social, a qual, mesmo delegando a

Talvez essa seja a principal característica de um movimento cooperativista: a coletividade como depositária do poder social, a qual, mesmo delegando a alguns membros a responsabilidade de executar as decisões tomadas em conjunto, não abre mão do poder de controlá-las.

alguns membros a responsabilidade de executar as decisões tomadas em conjunto, não abre mão do poder de controlá-las.

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Essa idéia de utilizar o modelo cooperativista como espaço de valorização cidadã não é novidade. A Recomendação 127 da Conferência Geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho), de 21 de junho de 1966, “sobre o papel das cooperativas no processo econômico e social dos países em vias de desenvolvimento”, já colocava que “o estabelecimento e a expansão das cooperativas deveria ser considerado como um dos fatores importantes do desenvolvimento econômico, social e cultural, bem como da promoção humana”, afirmando que as cooperativas deveriam ser criadas como um meio para “melhorar a situação econômica, social e cultural


das pessoas com recursos e possibilidades limitadas, assim como fomentar seu espírito de iniciativa”. A mesma recomendação, em seu item 25, afirma ser essencial que “a gerência e a administração estejam desde o primeiro momento a cargo dos associados e das pessoas por eles eleitas” mas ressalta a necessidade de que “só durante um período inicial ”elas tenham à disposição “pessoas competentes que as orientem e aconselhem”. Como se pode ver, as ações de incentivo à formação desses empreendimentos vão além da mera recomposição das forças produtivas. Elas buscam o que Oliveira (1997) chama de “recomposição de uma nova cidadania fundada em valores locais”. Diferenciam-se, portanto, de projetos paternalistas, assistencialistas e buscam “produzir “zonas de conforto” na convivência entre a necessidade de preservação da qualidade da vida humana e a necessidade expansionista do capital na era da globalização”. Esse novo cooperativismo urbano, no Brasil especialmente, tem se direcionado às populações mais empobrecidas e de menor qualificação profissional, ou ainda àqueles expulsos do mercado formal de trabalho em virtude dos processos tecnológicos redutores de mão-de-obra, da privatização de empresas estatais ou de terceirização de serviços, buscando possibilitar a criação de novas oportunidades, de forma a reintegrar essas populações ao mercado e propiciar-lhes trabalho e renda através de empreendimentos coletivos e solidários.

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A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares

A incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares tem sua origem em uma ação desenvolvida pelos membros do COEP, em 1993, na favela da Manguinhos, no Rio de Janeiro. Esse processo, que resultou na constituição da cooperativa de trabalho COOTRAM (Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos do Complexo de Manguinhos), já foi tratado em outras publicações, tanto dos parceiros envolvidos quanto da própria Oficina Social (BUSS; CYNAMON, 1999, p. 26). Tornar-se-ia desnecessário, portanto, repeti-lo. No entanto, para os fins da análise aqui proposta – entre os quais o de analisar as vitórias e dificuldades dos projetos em andamento – cabe retomar alguns pontos importantes do processo de constituição daquela cooperativa para melhor entender o que ocorre em empreendimentos posteriores. Por essa razão, intercalaremos a história da COOTRAM e da primeira Incubadora, com algumas reflexões sobre o processo que se desenvolveu a partir dali e que resultou nas ações das várias universidades do país, hoje participantes do PRONINC. A COOTRAM surgiu em decorrência de uma ação integrada de vários membros do COEP, em atendimento a uma demanda da FIOCRUZ que, naquele início da década de 90, vinha enfrentando sérios problemas de segurança na sua sede, situada em meio a uma região muito violenta, em um dos maiores conglomerados de favelas do Rio de Janeiro, o Complexo de Manguinhos. O problema foi levado ao COEP, que passou a articular as outras entidades do Comitê que pudessem agir nesse enfrentamento. Assim, iniciou a participação da Gerência de Cooperativismo do Banco do Brasil (GCOOP) e da Fundação Banco do Brasil (FBB), que partiram para um projeto solidário, associativo e comunitário, com fundamentos cooperativistas.

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3.1 O caso da COOTRAM 3.1.1 O início do processo

É o conhecimento formal, acadêmico, saindo dos bancos universitários e sendo aplicado e difundido na realidade circundante. É a comunidade entrando na universidade não como cobaia de um experimento, mas como agente participante de um processo criativo e dinâmico com vistas a sua própria organização e atuação social e econômica.

A GCOOP, a FBB e a FIOCRUZ iniciaram o desenvolvimento de um projeto piloto que incluiu uma série de reuniões com a comunidade para verificar se havia real interesse em dar partida a um trabalho de bases cooperativistas. Esse passo foi fundamental, pois mudou a ótica de muitas ações então em andamento: ao invés de “intervir” com uma ação préestabelecida, era a comunidade que seria ouvida e que, depois, decidiria sobre qual a melhor alternativa para seu caso específico. Mostrou, ainda, ser um dos aspectos importantes para o sucesso dos empreendimentos que passariam a fazer parte das incubadoras: assegurar-se de que o cooperativismo é uma alternativa atrativa para aquela comunidade e verificar se há real interesse em uma ação com bases cooperativistas. A experiência tem demonstrado, como veremos adiante, que se este passo não se der de maneira consistente e abrangente, as bases serão frágeis e a possibilidade do projeto ruir será grande – independentemente do esforço que se aplique nele. A ação acabou por aproximar instituições de diferentes regiões do país, entre elas as Federações das Cooperativas de Trabalho do Rio Grande do Sul e de São Paulo e o Instituto Superior de Cooperativismo de Santa Maria/RS, o qual já tinha uma experiência importante junto à Cooperativa dos Trabalhadores de Santa Maria Ltda – COOTRASMA, incorporandose esses novos integrantes ao processo. Isso nos leva a outra reflexão importante: o papel daqueles que detêm o conhecimento. De pouco teria adiantado essa ação integrada se não se tivesse cercado de pessoas com competência na disseminação e implementação das idéias. É esse o papel imprescindível que assumirão, posteriormente, as universidades gestoras de incubadoras de cooperativas. É o conhecimento formal, acadêmico, saindo dos bancos universitários e sendo aplicado e difundido na realidade circundante. É a comunidade entrando na universidade não como cobaia de um experimento, mas como agente participante de um processo criativo e dinâmico com vistas a sua própria organização e atuação social e econômica.

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3.1.2 O processo de organização Importa falar um pouco dos primeiros contatos com a comunidade. De início, tentou-se trabalhar com um grupo maior, a fim de ampliar as discussões e envolver o maior número possível de pessoas das comunidades. No entanto, os problemas começaram a surgir em decorrência da heterogeneidade dos grupos e pela dificuldade de uma presença constante das pessoas no processo de discussão. Os motivos para a não-permanência eram vários, como, por exemplo, falta de dinheiro para se deslocarem para o local da reunião, a reação de alguns segmentos da comunidade, comprometidos com a violência e a marginalidade ou, simplesmente, por buscarem uma atividade imediata de sobrevivência (e viam o processo de cooperativa como algo muito demorado para se ter os resultados). As discussões relativas ao associativismo também tiveram sérios entraves, pois a cultura das pessoas estava mais voltada para a solidariedade dos problemas do dia a dia e não para a relação de trabalho, ou seja, percebiamse como participantes de um mesmo processo de exclusão – onde quase nada tinham de seu – mas tinham dificuldade em propor-se a dividir aquilo que mais queriam para si, que era o trabalho e seu resultado. Foi necessário as pessoas se disporem a um processo lento e paciente, conscientizando-se de que uma mudança cultural desse porte só acontece no médio e longo prazos, sendo imprescindível dedicar um tempo maior às discussões e à própria convivência dos interessados. O elemento facilitador foi a longa convivência estabelecida com a comunidade pelo programa Universidade Aberta mantido pela FIOCRUZ que, através de seus trabalhos de extensão e das ações de saneamento e habitação criadas na Escola Nacional de Saúde Pública, obteve um grau de empatia e confiança da comunidade, que foi de vital importância no desenvolvimento das atividades. Todos esses fatores são, na verdade, decisivos quando do início de um trabalho da universidade junto à comunidade (e, sem dúvida, se aplicarão ao caso do Programa Incubadora): a existência de ações em andamento, criando a confiança da comunidade em relação à atuação da universidade, facilita, sem dúvida, a disposição em participar positivamente das discussões relativas à proposta de cooperativas. Caso contrário, os técnicos en-

... os problemas começaram a surgir em decorrência da heterogeneidade dos grupos e pela dificuldade de uma presença constante das pessoas no processo de discussão.

... a cultura das pessoas estava mais voltada para a solidariedade dos problemas do dia a dia e não para a relação de trabalho, ou seja, percebiam-se como participantes de um mesmo processo de exclusão – onde quase nada tinham de seu – mas tinham dificuldade em propor-se a dividir aquilo que mais queriam para si, que era o trabalho e seu resultado.

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volvidos terão que dispor de um tempo bem maior para a sensibilização da comunidade, sem o quê não haverão resultados positivos.

A escolha da organização sob forma cooperativista incluía, além das dificuldades comuns a qualquer ação em comunidade, ainda outras, como o pouco conhecimento que tanto o mercado quanto os próprios cooperados detinham sobre esse tipo de empresa, seja sobre seu lado empresarial, seja sobre suas relações de trabalho.

Acrescia-se, ainda, a especificidade do grupo, composto por pessoas que não faziam parte de uma única categoria ou classe de trabalhadores, mas sim de várias categorias –

A escolha da organização sob forma cooperativista incluía, além das dificuldades comuns a qualquer ação em comunidade, ainda outras, como o pouco conhecimento que tanto o mercado quanto os próprios cooperados detinham sobre esse tipo de empresa, seja sobre seu lado empresarial, seja sobre suas relações de trabalho. Acrescia-se, ainda, a especificidade do grupo, composto por pessoas que não faziam parte de uma única categoria ou classe de trabalhadores, mas sim de várias categorias – retratando, aliás, a realidade da própria comunidade, onde convivem pessoas qualificadas, com nível universitário, e outras sem qualquer instrução ou qualificação técnica. Estas últimas, desenvolviam suas atividades em um mercado totalmente informal, diversificado e instável no tempo e no espaço, como os ambulantes, por exemplo. As discussões concentraram-se em um tipo de estrutura que pudesse ser guarda-chuva para as várias atividades que a cooperativa desenvolvesse, em função da heterogeneidade de seus associados. Além disso, haviam várias comunidades envolvidas, integrantes do Complexo de Manguinhos. A fim de garantir a participação de todas elas na administração da cooperativa, optou-se por uma estrutura de poder parlamentarista, onde a Assembléia elege o Conselho de Administração e seus membros elegem a direção. O Conselho de Administração é composto por um representante eleito de cada comunidade do Complexo de Manguinhos, num total de 09, mais 03 representantes da FIOCRUZ. Os associados organizam-se em setores ou departamentos, de acordo com suas especialidades, formação ou contrato que estejam executando, e é nesta instância da estrutura que se dá a discussão de todos os assuntos relacionados ao associado e à cooperativa.

retratando, aliás, a realidade da própria comunidade ...

A GCOOP/BB e a FBB deram apoio à montagem da estrutura operacional através da doação de móveis, utensílios e equipamentos. O COEP continuou apoiando a ação empreendida no Rio de Janeiro, buscando articular parceiros para a ampliação da idéia. Um dos mais importantes apoios recebidos – e que passou a elemento fundamental para a

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continuidade do processo – foi a adesão do Programa Comunidade Solidária, através da sua Secretaria Executiva, ocupada então pela Dra Anna Peliano. Como se pode ver, todos os registros desse início apontam a existência de muitas dificuldades, em especial aquelas originadas pela pouca cultura cooperativista, problemas esses que foram sendo superados graças à participação e interesse de todos. Mas mostrou a importância vital de se ensinar cooperativismo, de maneira organizada e permanente, a todos os interessados em participar da cooperativa. Para isso havia necessidade de condições mais adequadas, que propiciassem espaço e estrutura acadêmica para os treinamentos.

A principal lição a tirar do processo de organização de Manguinhos é a

Foi, então, convidada a Universidade Federal do Rio de Janeiro, através da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia – COPPE/ UFRJ, que passou a prestar importante colaboração através de seus professores e técnicos. Outro parceiro fundamental que aderiu ao grupo foi a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), com o imprescindível apoio financeiro ao projeto ao lado da Fundação Banco do Brasil. A história de Manguinhos é uma história de sucessos, “viabilizando o sustento de mais de 5000 famílias e atingindo em torno de 20% da força ativa de trabalho local” (BUSS; CYNAMON, 1999, p. 29). A principal lição a tirar do processo de organização de Manguinhos é a “adaptabilidade”. Não existem fórmulas mágicas ou pré-estabelecidas: é a realidade do grupo trabalhado que irá definir a forma de atuação. Isso não significa a ausência de parâmetros mas, sim, a necessidade de que a teoria se adapte à prática e não o contrário. É nesse contexto que a ação da universidade se faz imprescindível, fazendo as necessárias ilações entre teoria e prática e trazendo as reflexões sobre o processo em andamento, de forma a mantê-lo coerente e adequado às necessidades do grupo.

“adaptabilidade”. Não existem fórmulas mágicas ou pré-estabelecidas: é a realidade do grupo trabalhado que irá definir a forma de atuação. Isso não significa a ausência de parâmetros mas, sim, a necessidade de que a teoria se adapte à prática e não o contrário.

Quais foram, então, os grandes diferenciais que fizeram com que esse empreendimento desse certo? Sem dúvida, estarão entre eles os seguintes:

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1 o apoio de agentes externos, através das entidades já mencionadas; 2 a opção por uma administração técnica com representatividade junto aos participantes; 3 a capacitação dos trabalhadores para o associativismo e a qualificação profissional; 4 a criação de um ambiente solidário e democrático, onde todos “efetivamente” têm direito à voz, e 5 um processo permanente de educação e mudança cultural. Os resultados positivos obtidos com a COOTRAM deram origem à idéia da criação de um espaço onde

Cada um desses itens – e vários outros, com certeza – deverá ser analisado cuidadosamente para se buscar entender melhor o processo de organização social cooperativista em áreas de baixa renda, pois influirão decisivamente para que uma ação seja vitoriosa ou fadada ao insucesso.

outras comunidades pudessem organizar-se e entrar no mercado de

3.2 A Incubadora de cooperativas

trabalho em situações similares, usando o modelo cooperativista.

3.2.1 A criação da incubadora Os resultados positivos obtidos com a COOTRAM deram origem à idéia da criação de um espaço onde outras comunidades pudessem organizar-se e entrar no mercado de trabalho em situações similares, usando o modelo cooperativista. Esse espaço deveria, ainda, permitir um apoio permanente durante toda a fase inicial do empreendimento, de forma a envolver o ciclo completo de criação da cooperativa e sua inserção no mercado. O públicoalvo inicial eram os desempregados, os jovens recém-formados e os autônomos. A COPPE/UFRJ, que já trabalhava com incubadora de empresas, ficou responsável pela montagem da incubadora e, para isso, recebeu a metodologia e todos os processos utilizados pelo Instituto Superior de Cooperativismo – INSCOOP, de Santa Maria/RS. Assim, montou a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, abrigando nove cooperativas nascentes. A COPPE recebeu da FINEP e da FBB os recursos imprescindíveis para instalação e custeio da Incubadora, o que viabilizou seu fun-

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cionamento, cabendo, ainda, a esses parceiros a assessoria e o acompanhamento da implementação do projeto. Esse foi o embrião do atual Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares – PRONINC, que procurou manter os aspectos considerados essenciais para o sucesso da COOTRAM: o apoio técnico, teórico e prático, a educação permanente dos membros, o espaço de trabalho e discussão, o apoio financeiro e o acompanhamento. Todos esses aspectos se mesclam e complementam e só estão aqui separados por questão metodológica: na verdade, é difícil, se não impossível, estabelecer onde acaba e inicia cada um deles. Da mesma forma é difícil estabelecer o grau de importância de cada um dos parceiros das Incubadoras: todos se envolvem na maioria das fases de constituição do empreendimento e é exatamente essa complementaridade que fez frutificar o projeto. Como se verá adiante, o fato das Incubadoras não se fecharem aos contatos com outras entidades e mesmo com outras áreas da própria Universidade onde estão inseridas é considerado por todos os empreendimentos em curso como vital para sua sobrevivência, pois a conquista desses espaços gera apoio e reconhecimento. Sob a articulação do COEP e do Programa Comunidade Solidária, foi assinado, em 09 de maio de 1995, o Protocolo de Intenções que propiciou a efetiva instalação do projeto e onde ficou consolidada a ação conjunta dos parceiros visando a disseminação da experiência em outras regiões do país. (FINEP, 1999) Sem essa articulação teria sido quase inviável reunir, em um único projeto, o conjunto de entidades que o firmaram: • FINEP - coordenação do Programa; apoio financeiro • Fundação Banco do Brasil/FBB- apoio financeiro • Secretaria Executiva do Programa Comunidade Solidária- articulação • Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida/COEP- articulação • Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia/ COPPE/UFRJ- experiência piloto

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• Gerência de Negócios do Sistema Cooperativista do Banco do Brasil/ GCOOP-BB - assessoria técnica; articulação • Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura/Dpto. Nacional de Cooperativismo – assessoria técnica O objetivo principal foi, sem dúvida, a geração de trabalho e renda, mas outros objetivos também estiveram – e se mantêm – presentes, como a geração de conhecimentos nas áreas de cooperativismo e o incentivo à aproximação universidade-

Objetivando contemplar todas as regiões do país, priorizando as áreas metropolitanas e baseando-se na experiência desenvolvida no Projeto Piloto – como ficou sendo chamada a criação da Incubadora da UFRJ – firmou-se a convicção de implantar os núcleos vinculados às Universidades. O objetivo principal foi, sem dúvida, a geração de trabalho e renda, mas outros objetivos também estiveram – e se mantêm – presentes, como a geração de conhecimentos nas áreas de cooperativismo e o incentivo à aproximação universidade-comunidade que, como centro gerador de conhecimento, se responsabiliza pelo repasse necessário à formação, implantação e operação das cooperativas.

comunidade que, como centro gerador de conhecimento, se responsabiliza pelo repasse necessário à formação, implantação e operação das cooperativas.

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O espaço de troca de informações e planejamento de novas ações foi sendo ampliado com a agregação de novos parceiros, como a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), e formou o Fórum de Cooperativismo, que foi fundamental para a manutenção e expansão do Programa de Incubadoras de Cooperativas Populares.


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O Fórum de Cooperativismo

Coordenado pelo Programa Comunidade Solidária e pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – COEP e tendo a Gerência de Negócios do Sistema Cooperativista do Banco do Brasil – GCOOP como Secretaria-Executiva, foi criado o Fórum de Cooperativismo, produto da preocupação com a situação enfrentada pelas populações de baixa renda e no entendimento de que estas poderiam ter no cooperativismo uma alternativa de obtenção de trabalho e renda. Os principais objetivos do Fórum (BANCO DO BRASIL, 1997), de caráter consultivo e de articulação, eram de servir como mecanismo de apoio ao desenvolvimento sustentável, ao crescimento econômico e à integração da economia informal, com capacidade competitiva e grande absorção de mão-de-obra, além de ser mais uma forma de minimizar o êxodo territorial. As metas definidas então eram as seguintes: • diagnosticar situações sociais que possam ter resposta no modelo cooperativista; • propor sugestões e soluções para os problemas detectados; • propor ações de governo; • criar mecanismos que viabilizem e agilizem o apoio creditício, em especial às populações de baixa renda, como alternativa às limitações impostas pelos modelos tradicionais; • viabilizar a implementação das propostas em articulação com os diversos órgãos envolvidos; • incentivar o cooperativismo de trabalho; • viabilizar a interlocução entre Governo e sociedade com objetivo de fortalecer o cooperativismo de trabalho. O funcionamento do Fórum de Cooperativismo envolvia reuniões periódicas entre os representantes das mais diversas áreas governamentais e institucionais a fim de estabelecer propostas de atuação. A primeira reu-

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nião ocorreu em julho de 1996, sob a coordenação da Dra. Anna Peliano, então Secretária-Executiva do Programa Comunidade Solidária, e do Dr. André Spitz, Secretário-Executivo do COEP. Participavam do Fórum de Cooperativismo, além dos já citados, diversas entidades governamentais e não governamentais interessadas no tema do cooperativismo, como o Departamento de Cooperativismo e Associativismo Rural da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, o Ministério do Trabalho, a Organização Internacional do Trabalho – OIT, a Secretaria de Trabalho do Distrito Federal, a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, a Fundação Banco do Brasil – FBB, a Organização das Cooperativas Brasileiras, a Confederação Brasileira das Cooperativas de Trabalho, entre outras. Várias ações foram desenvolvidas a partir das atuações de seus membros, entre as quais se salientaram o Encontro Nacional de Cooperativas de Trabalho, em 1996, e o Seminário Nacional Tripartite sobre Cooperativas de Trabalho, em 1997. O Ministério da Agricultura, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural, criou uma Central de Atendimento sobre Cooperativismo para esclarecer dúvidas; constituíram-se Grupos Temáticos para tratar de assuntos específicos, como cooperativas de ensino, cooperativas de trabalho, incubadoras de cooperativas e acompanhamento de projetos de lei. Fruto dessas articulações é o Projeto de Lei no 1670/96, que propõe um incentivo à criação, consolidação e capacitação de cooperativas de trabalho como forma de geração de trabalho e, conseqüentemente, de combate à miséria. Prevê o apoio do Poder Público na viabilização de tais empreendimentos e o acréscimo de um inciso ao artigo 24 da Lei no 8.666, alterada pela Lei no 8.883, de forma a possibilitar a dispensa de licitação na contratação de cooperativa ou associação que seja constituída por integrantes de comunidades carentes ou de associações voltadas para a formação profissional e a geração de emprego em zonas de baixa renda, estabelecendo alguns limites a essa concessão, como o fato de ter menos de 01 ano de funcionamento e só poder usar o benefício uma vez. Mas, até hoje, não logrou aprovação, embora a urgência do assunto. No Encontro Nacional de Cooperativas de Trabalho (ENCONTRO NACIONAL DE CO-

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OPERATIVAS DE TRABALHO, 1996) a Dra. Anna Peliano salientava que “quem se ocupa do combate à exclusão social tem que estar atento às alternativas para a geração de emprego e renda.” E era esse o sentimento comum aos integrantes do Fórum de Cooperativismo: propiciar condições de auto-sustentação às populações mais pobres do país, sem paternalismo ou assistencialismo, incentivando e promovendo ações de cidadania. Na verdade, o cooperativismo, e em especial o cooperativismo de trabalho, enfrentou e enfrenta dificultadores relacionados à legislação trabalhista existente. Infelizmente são freqüentes as ações trabalhistas questionando o vínculo entre contratantes e fornecedores de serviço cooperado.

Na verdade, o cooperativismo, e em especial o

O Dr. Antonio Augusto Anastasia, na condição de Ministro Interino do Trabalho quando do encerramento do Encontro Nacional de Cooperativas de Trabalho acima referido, reconheceu como

cooperativismo de trabalho, enfrentou e enfrenta dificultadores relacionados à legislação

inegável, inafastável, que o cooperativismo de trabalho é uma alternativa moderna, interessantíssima para as relações clássicas de trabalho [...] no que se refere à ocupação e geração de renda para os trabalhadores de vários países. Entretanto, no caso brasileiro todo nosso arcabouço institucional, toda nossa herança legislativa, toda nossa cultura de aplicação de normas [...], é no sentido de prestigiar o modelo tradicional da relação capital/trabalho, através da relação contratual trabalhista. O modelo do cooperativismo de trabalho, enquanto alternativa mais jovem, mais recente, encontra dificuldades iniciais para se firmar nesse ordenamento fundamental. [...] Entretanto, esse é um quadro perfeitamente reversível.

trabalhista existente. Infelizmente são freqüentes as ações trabalhistas questionando o vínculo entre contratantes e fornecedores de serviço cooperado.

Essas dificuldades voltaram a ser discutidas no Seminário Nacional Tripartite sobre Cooperativas de Trabalho (1997) onde, sob a coordenação da OIT, discutiu-se a organização e funcionamento dessas cooperativas e suas implicações nas relações de trabalho. Reuniram-se membros das cooperativas e de suas representações, do Ministério do Trabalho e do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, além de membros da própria OIT (como o Coordenador do Programa COOPNET, de Genebra, Dr. Mark Levin). Mais uma vez, ficou patente a necessidade de um processo educativo nas bases do movimento, a fim de coibir práticas fraudulentas e propiciar o desenvolvimento das ações de fomento à ocupação e à obtenção de renda.

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Como se pode ver, o Fórum de Cooperativismo foi um espaço fundamental não só para a viabilização do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares mas, principalmente, pela criação de um espaço de troca de experiências e de consolidação de ações em parceria pelos diversos membros, além, é claro, do imprescindível espaço de discussão sobre os temas afetos ao cooperativismo de trabalho. As articulações dos Secretários do Programa Comunidade Solidária e do COEP foram decisivas na elaboração e firmatura dos Protocolos de Intenções de 1995 e 1997, consolidando o compromisso das diversas instituições com o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares.

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O Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares – PRONINC

Como observado até aqui, o sucesso com a experiência de Manguinhos levou à idéia da criação de um espaço nas universidades onde a iniciativa pudesse não só ser repetida, mas que viesse a tornar-se um espaço de discussão, de estudos e de implementação de um processo de inserção social com bases cooperativistas. Isso deu origem à primeira Incubadora de Cooperativas, cujo sucesso, da mesma forma, foi a origem da idéia de um programa nacional voltado à replicação da experiência em outras regiões, com a participação das universidades locais. Em 1997, atendendo à demanda de várias universidades, cria-se o PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares. Desenvolveram-se, então, vários projetos, sempre vinculados às Universidades e apoiados por instituições públicas e privadas, entre as quais a FINEP, presente não só com o apoio técnico e especializado mas, também, com o suporte financeiro, sem o qual esses empreendimentos estariam completamente inviabilizados. Para a experiência piloto da COPPE/UFRJ, a FINEP concedeu, em 1995, financiamento visando a instalação da Incubadora e o desenvolvimento da metodologia para o seu funcionamento. Em 1997, com os resultados extremamente positivos da Incubadora, novo aporte financeiro proporcionou consolidar a experiência, já então com 15 cooperativas incubadas e gerando mais de 1000 postos de trabalho em diversos setores de atividade. Os resultados apontaram, também, o crescente aumento de comunidades interessadas em constituir novas cooperativas e a procura de consultoria técnica e gerencial por empreendimentos já existentes.

... o sucesso com a experiência de Manguinhos levou à idéia da criação de um espaço nas universidades onde a iniciativa pudesse não só ser repetida, mas que viesse a tornar-se um espaço de discussão, de estudos e de implementação de um processo de inserção social com bases cooperativistas.

Esse respaldo dos próprios grupos interessados, demonstrando crescente confiança no programa, justificaram o Protocolo de Intenções de 1997, que disseminou a experiência da Incubadora de Cooperativas por outras regiões do país. Nessa nova etapa, a FINEP mais uma vez participou com

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o apoio financeiro, comprometendo-se a co-financiar a realização de eventos voltados para a divulgação do Programa e da metodologia de funcionamento das Incubadoras de Cooperativas, bem como apoiar a implantação de novas incubadoras em outras universidades. Em decorrência desse Protocolo foram firmados Convênios com algumas Universidades Federais para a implementação de Incubadoras de Cooperativas em seus campi, projetos esses que contaram com o co-financiamento da Fundação Banco do Brasil. A seleção dos projetos contemplados obedeceu aos seguintes aspectos: (FINEP, 1999) • o provável alcance da Incubadora em relação às comunidades carentes; • a distribuição regional das entidades que se candidataram; • a qualidade da proposta e • a experiência prévia no assunto. Desses convênios foram extraídas as informações e experiências que estão a seguir descritas1, sem esquecer que são ações, nem sempre fáceis de transpor para o papel. Falaremos adiante sobre o que foi desenvolvido até aqui por essas Incubadoras, suas dificuldades e vitórias, mesmo sabendo de antemão que será apenas um vislumbre do realizado, apenas algumas características das Incubadoras de Cooperativas que fazem parte dessa caminhada de construção de conhecimentos e sem pretender, pois, esgotar o assunto ou abordar todas as suas realizações. Atualmente são 6 as Universidades ligadas ao Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas – PRONINC: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Ceará (UFCE), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Estado da Bahia (UNEB) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

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As informações referem-se à situações dos empreendimentos no 1. sem. 2001, data dos relatórios citados.


5.1 Incubadora do Rio de Janeiro – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ A Incubadora da UFRJ foi a primeira a ser constituída, em maio de 1995, com a assinatura do convênio, e atualmente está com 17 grupos formados que incluem aproximadamente mil postos de trabalho. Quando foi convidada a participar do projeto, a Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ mobilizou o seu potencial técnico-científico para criar uma linha de trabalho nas bases propostas pelo então Projeto Incubadora de Cooperativas. Alunos, técnicos, líderes comunitários, professores, cooperados, dirigentes de cooperativas, todos se envolveram nas discussões, de forma que as populações viessem a ter não só um trabalho que garantisse o sustento mas também um espaço que desenvolvesse uma consciência social que as levasse a discutir e enfrentar os problemas com uma visão de futuro que antes não lhes era possível ter. Hoje, a Incubadora conseguiu não só criar esse espaço de discussão como, também, viabilizar trabalhos acadêmicos baseados na experiência e na conscientização dos estudantes de que é preciso unir teoria e prática, de que é preciso aceitar a responsabilidade social da Universidade, levando os conhecimentos acadêmicos para a realidade circundante e dali trazer a experiência, a reflexão e o próprio saber.

Hoje, a Incubadora conseguiu não só criar esse espaço de discussão como, também, viabilizar trabalhos acadêmicos baseados na experiência e na conscientização dos estudantes de que é preciso unir teoria e prática, de que é preciso aceitar a responsabilidade social da Universidade, levando os conhecimentos acadêmicos para a realidade circundante e dali trazer a experiência, a reflexão e o próprio saber.

A primeira equipe foi formada por quatro estudantes da Engenharia de Produção, um administrador de empresas com prática em cooperativismo e um funcionário da Universidade. A partir de 1996, foram contratados novos técnicos e o quadro foi se formando, com ampliação para outras áreas acadêmicas. Hoje, a inserção na equipe se dá por necessidade específica de trabalho e a seleção é feita por entrevista. A formação específica que o trabalho requer é feita na própria atividade, com acompanhamento dos veteranos e através do material bibliográfico produzido ou indicado pela Incubadora.

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A Incubadora direciona seu trabalho para as necessidades que o próprio acompanhamento permanente possibilita perceber: ora é a assessoria que é privilegiada, ora a formação ou o administrativo. A palavrachave é “responsabilidade”,

“Se a cada 3 meses perguntássemos como está estruturada a Incubadora teríamos, a cada 3 meses, uma resposta diferente”, afirmam. Essa variação justifica-se pela necessidade permanente de adaptação a variados fatores: disponibilidade de profissionais com perfil adequado, identidade com o projeto, adaptação à realidade do trabalho com comunidades. Percebe-se maior facilidade de adaptação para os oriundos das áreas humanas, mas isso não é regra fixa. “A única maneira de permanecer é reciclando a tecnologia que aprenderam na escola, porque os valores absorvidos anteriormente se confrontam com os valores reais da comunidade. Ou ele encara essa auto-reciclagem ou vai embora, como muitos foram” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2000). A Incubadora direciona seu trabalho para as necessidades que o próprio acompanhamento permanente possibilita perceber: ora é a assessoria que é privilegiada, ora a formação ou o administrativo. A palavra-chave é “responsabilidade”, para cada membro da equipe da incubadora. Outra ação desenvolvida consiste na divulgação do próprio programa. Membros da Incubadora realizam palestras em outras universidades, esclarecendo dúvidas e propiciando a reprodução do modelo de incubadoras em outros campi.

para cada membro da equipe da incubadora.

Um fator essencial para a Incubadora do Rio de Janeiro é “não fazer rodízio da miséria” significando, com isso, a importância de fazer com que as pessoas que ingressam no mercado via cooperativa o façam em melhores condições e que o façam abrindo novos mercados e novos postos de trabalho e não expulsando a outros. É claro que essa discussão extrapola o Programa Incubadora, mas a equipe entende, como importante, que se abram as discussões a respeito.

5.2 Incubadora do Ceará – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Ceará – UFC Em 1997, foi constituída a Incubadora em Fortaleza, por meio de convênio assinado entre a UFC e a UFRJ e a partir de uma discussão com a

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Faculdade Latina Americana de Ciências Sociais – FLACSO, onde foi elaborado um projeto de implementação do modelo cooperativista de trabalho como forma de geração de trabalho e renda, reproduzindo a experiência da Incubadora do Rio de Janeiro. Foi então apresentado à FINEP, pelo Parque de Desenvolvimento Tecnológico – CETREDE, o projeto de financiamento para um período de dois anos, tendo como meta básica a incubação de 10 cooperativas por ano. O Projeto Incubadora de Cooperativas desenvolve-se, simultaneamente, em dois espaços: na Universidade Federal do Ceará e nas comunidades onde estão sendo formadas as cooperativas. Na Universidade são realizados os procedimentos de planejamento, estruturação de metodologias, gestão e legalização das cooperativas, além da produção de material de apoio didático. Nas comunidades acontecem as reuniões de sensibilização, onde são ministrados os cursos, e efetivado todo o trabalho de campo.

Na Universidade são realizados os procedimentos de planejamento, estruturação de metodologias, gestão e legalização das cooperativas, além da

A Incubadora salienta que o ingresso das cooperativas no mercado é um trabalho complexo e delicado, pois a partir de sua instalação já começam a surgir as pressões dos cooperados, no sentido de tornar concreta a atuação da Cooperativa e, com isso, aliviar suas necessidades mais emergenciais. A equipe da Incubadora tem sido procurada constantemente por pessoas, grupos e instituições, que desejam conhecer melhor o cooperativismo e que, por falta de informações mais consistentes, têm se deparado com problemas das mais variadas ordens, especialmente os administrativos e gerenciais. Para suprir essa demanda, a Incubadora tem realizado diversas exposições de sua metodologia, nas Universidades, em programas de rádio e televisão e junto a grupos diversos, todos eles objetivando transformar efetivamente o cooperativismo em uma opção de trabalho.

produção de material de apoio didático. Nas comunidades acontecem as reuniões de sensibilização, onde são ministrados os cursos, e efetivado todo o trabalho de campo.

Também para o meio acadêmico, a Incubadora vem se constituindo em um espaço diferenciado, seja como campo de pesquisa para os estudantes que cumprem estágios, contribuindo para exercitar os conhecimentos oferecidos pela academia, seja para as comunidades, na melhoria da qualidade da intervenção. Pesquisas em andamento buscam analisar a viabilidade econômica e social de iniciativas empreendedoras como as cooperativas populares, as quais, sob a forma de autogestão, buscam a manutenção do

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trabalho, da produção e da renda. Junto às cooperativas incubadas pesquisa-se a importância e viabilidade desse modelo alternativo de produção quanto à competitividade, produtividade e à própria capacidade de sobrevivência da empresa, diante dos novos paradigmas da reestruturação produtiva que atinge o mundo atual do trabalho.

... a Incubadora do Ceará, mais do que um projeto bem sucedido, é um exemplo de

A multidisciplinaridade da equipe técnica que coordena e desenvolve o projeto promove a soma dos conhecimentos e multiplica resultados através do trabalho e da troca de experiências. Contando com número expressivo de acompanhamentos e trabalhos externos, a Incubadora do Ceará, mais do que um projeto bem sucedido, é um exemplo de trabalho de equipe, onde se evidencia o papel fundamental de cada um dos componentes, seja dos que estão à frente do projeto articulando e negociando os trabalhos, sejam os que executam as atividades.

trabalho de equipe, onde se evidencia o papel fundamental de cada um dos componentes, seja dos que estão à frente do projeto articulando e negociando os trabalhos, sejam os que executam as atividades.

5.3 Incubadora de Pernambuco – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE A estrutura administrativa da Incubadora está subordinada diretamente à direção do Departamento de Educação da UFRPE, que por ela responde administrativamente, representando-a perante os financiadores e intervenientes do convênio, e ainda coordena os trabalhos da equipe e articula parcerias externas para a consecução dos objetivos propostos. Conta com pessoal da própria Universidade – professores e alunos de graduação e pós-graduação – e pessoas de fora de seu quadro funcional, necessárias ao funcionamento da Incubadora. A equipe é bem diversificada e multidisciplinar, composta por profissionais de formações diversas, tanto em ciências humanas quanto exatas. A Incubadora optou por criar um período de Pré-Incubação, onde são disponibilizados subsídios suficientes para as pessoas visualizarem os fatores favoráveis e os limitantes ao desencadeamento de uma iniciativa coletiva de produção ou serviços. Essa tem se mostrado uma ferramenta impor-

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tante para a discussão da temática associativa no contexto econômico, social e político vivenciado pelo grupo. Temas como cidadania, mercado, relações de trabalho, definição de negócios, estatutos e requisitos para a formalização e legalização do empreendimento são tratados em 3 oficinas, com um total de cerca de 100 horas. Os principais obstáculos que surgem nessa fase são a limitação dos recursos disponíveis, a insegurança do grupo em abrir um negócio próprio e um certo isolamento em relação a outros movimentos sociais. No entanto, tem demonstrado que os grupos que seguem adiante, o fazem com muito mais convicção e melhor preparados para o enfrentamento das dificuldades inerentes a um negócio novo, mesmo dentro de uma incubadora. Ainda não existe cooperativa estruturada totalmente, apenas grupos incubados em diferentes fases. Atualmente, existem 3 cooperativas incubadas, uma em turismo, outra de costura e a terceira de serviços de manutenção, todas procurando fixar-se no mercado e manter uma remuneração média para os cooperados. As dificuldades de manter um vínculo mais duradouro com os clientes ou uma certa regularidade na oferta de serviços devemse, principalmente, a problemas na divulgação e promoção, causando uma sazonalidade prejudicial à manutenção de uma renda mensal permanente. Há ainda um grupo pré-incubado de área rural, que ainda está realizando treinamentos. A Incubadora está organizada em núcleos de trabalho: um Núcleo de Formação e Inserção Comunitária, que trabalha com as oficinas pedagógicas, a elaboração de textos, a produção de documentos e a recepção dos grupos novos; o Núcleo de Assessorias e Projetos, que se envolve, principalmente, com a constituição e legalização das cooperativas, o desenvolvimento do Planejamento do Negócio e a estrutura contábil e jurídica; e o Núcleo de Gestão e Autogestão, que elabora apostilas e realiza oficinas sobre temas dessas áreas.

Temas como cidadania, mercado, relações de trabalho, definição de negócios, estatutos e requisitos para a formalização e legalização do empreendimento são tratados em 3 oficinas, com um total de cerca de 100 horas. Os principais obstáculos que surgem nessa fase são a limitação dos recursos disponíveis, a insegurança do grupo em abrir um negócio próprio e um certo isolamento em relação a outros movimentos sociais.

A equipe também está investindo na própria capacitação e para isso participou de uma série de treinamentos que tiveram por objetivo prepará-la para

A equipe também está investindo na própria capacitação e para isso participou de uma série de treinamentos que tiveram por objetivo prepará-la para desenvolver as ações com maior qualificação.

desenvolver as ações com maior qualificação.

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5.4 Incubadora da Bahia – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Estado da Bahia – UNEB

A equipe técnica está estruturada seguindo as

As comunidades das periferias urbanas, autônomos, sindicatos e pequenos produtores rurais constituem o público-alvo desse projeto. A Universidade do Estado da Bahia vem desenvolvendo ações extensionistas para melhoria de vida de parcelas das populações de periferias que convivem com o analfabetismo e a pobreza, nas várias unidades distribuídas no território baiano. São três Unidades Universitárias em Salvador e dezessete no interior do estado, desenvolvendo cursos nas mais variadas áreas do conhecimento.

mesmas características dos demais projetos quanto à multidisciplinaridade, sendo composta por profissionais de diversas áreas, das ciências humanas e exatas, ligados não só à universidade, mas também à

A instalação da Incubadora foi feita em janeiro de 1999, com recursos da Fundação Banco do Brasil e os primeiros meses de atividades caracterizaram-se pela estruturação do espaço físico e da equipe da Incubadora, pela definição da metodologia de aproximação com os grupos e pelo planejamento e realização dos cursos de cooperativismo. Após a chegada dos recursos do convênio com a FINEP, em junho/99, os trabalhos aceleraram seu ritmo.

comunidade.

A equipe técnica está estruturada seguindo as mesmas características dos demais projetos quanto à multidisciplinaridade, sendo composta por profissionais de diversas áreas, das ciências humanas e exatas, ligados não só à universidade, mas também à comunidade. A situação de Salvador não é muito diferente das outras grandes cidades. Segundo a Incubadora (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DA BAHIA, 2001), há contração das ofertas de emprego e, hoje, menos de 45% da população economicamente ativa têm emprego assalariado regular. O mercado informal abrange quase 1/3 dos que têm ocupação. A opção foi a de atuar principalmente em 2 áreas localizadas no centro de Salvador, onde estão as comunidades de Tancredo Neves e Engomadeira, com índices de desemprego elevados, alta incidência de atuação no mercado informal e altos índices de violência. A primeira delas conta com cerca de 100 mil habitantes e teve sua origem num quilombo, sendo sua população

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predominantemente negra. Já Engomadeira é mais recente, com cerca de 40 anos e 23 mil habitantes. A renda média familiar nessas duas comunidades é inferior a 3 salários-mínimos. Outro foco de atuação da Incubadora é a região sisaleira da Bahia, que é ainda mais pobre, com mais de 80% da população da maioria dos municípios tendo renda média até 1 salário-mínimo e sendo quase 70% da população rural analfabeta. Atualmente, 6 grupos estão em processo de incubação, sendo 5 em Salvador e 1 no interior do estado. As atividades são as mais variadas: produção de pães, higienização, jardinagem, doces e salgados, reciclagem de papel, novas tecnologias de uso do sisal. Também profissionais expulsos do mercado formal pelo processo de privatização ou pelos planos de demissão voluntária fazem parte do processo, através de uma cooperativa de eletricitários que passou a ser acompanhada pela Incubadora desde 1999. Outros grupos estão sendo acompanhados, alguns sob forma de associação – onde o número de participantes não é suficiente ou a convicção de formar uma cooperativa ainda não está solidificada, outros ainda em estudos de viabilidade ou delimitação do empreendimento – como o Grupo Pró-cooperativa da Associação Baiana de Cegos. Ainda não há cooperativa desincubada pelo programa. A Incubadora salienta a necessidade da reflexão sistemática que leve a reformulações significativas de objetivos, estratégias, resultados e atividades, garantindo o aprofundamento permanente que todo projeto de área social deve ter. O fato de cada Incubadora ter uma forma de intervenção e uma metodologia próprias torna esse intercâmbio essencial.

A Incubadora salienta a necessidade da reflexão sistemática que leve a reformulações significativas de objetivos, estratégias, resultados e atividades, garantindo o aprofundamento permanente que todo projeto de área social deve ter. O fato de cada Incubadora ter uma forma de intervenção e uma metodologia próprias torna esse intercâmbio essencial.

A questão do mercado para as cooperativas é fator ressaltado como o maior desafio. Um dos dificultadores é a legislação referente às licitações, que propicia verdadeiros monopólios de algumas grandes empresas, inviabilizando a participação de cooperativas de pequeno capital. Outro problema refere-se ao crédito, especialmente para as cooperativas mais pobres.

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5.5 Incubadora de São Paulo – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo – USP A Incubadora iniciou em meados de 1998, com a constituição de um Conselho Orientador composto por docentes de várias unidades da Universidade e um corpo multidisciplinar de estudantes de graduação e pós-graduação. As atividades de formação e de incubação propriamente ditas tiveram início a partir de novembro de 1998. O trabalho organiza-se em dois momentos ou fases integrados, que visam a formação e o fortalecimento

O trabalho organiza-se em dois momentos ou fases integrados, que visam a formação e o fortalecimento de cooperativas: o primeiro inclui a formação/fortalecimento do grupo e o curso de cooperativismo e o segundo inclui as atividades de incubação propriamente ditas.

de cooperativas: o primeiro inclui a formação/ fortalecimento do grupo e o curso de cooperativismo e o segundo inclui as atividades de incubação propriamente ditas.

A base de funcionamento da Incubadora da USP são os Grupos de Ensino, Pesquisa e Extensão Multidisciplinares em Cooperativismo (GEPEMs -COOP) e o Conselho Multidisciplinar, composto por alunos, técnicos e professores, que se reúne mensalmente e é representado, para as ações cotidianas, por dois Coordenadores e por uma Comissão Executiva. Conta, ainda, com as condições para a realização de “Projetos de Trabalho” específicos, organizados a partir das necessidades e com base em uma bolsa de horas de assessoria e de um “Programa de Trabalho” fixo, voltado à Contabilidade. Na USP, o Programa está abrigado na CECAE, Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais, que desde 1996 articula um projeto da Universidade voltado para a problemática do desemprego. É, também, da CECAE o Projeto Avizinhar que está desenvolvendo alternativas para buscar resolver os problemas sociais das comunidades carentes do entorno da Universidade. O encontro dessas iniciativas e experiências propiciaram o ambiente favorável para a implantação do Programa. Cada experiência é única e, à luz dos ensinamentos do Prof. Paulo Freire de que “as experiências não podem ser transplantadas, mas reinventadas”, são observados o conteúdo das falas e as diferentes posturas dos alunos em cada aula. São estas falas e posturas a referência fundamental no traba-

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lho de formação. O curso contribui para o processo de sistematização do que já foi experimentado e é de conhecimento do grupo a ser incubado. Sabendo que uma família urbana não vive sem dinheiro e que resgatar a “roda” da sobrevivência das pessoas é a matéria bruta a ser trabalhada dentro de uma postura cooperativista, cabe ao processo de formação “destacar, analisar e valorizar” estas experiências como a força motriz da cooperativa a ser formada. A experiência de São Paulo está caminhando a passos largos quanto a seu trabalho metodológico, criando instrumentos próprios e adequando seu trabalho à realidade das comunidades e do estado. A equipe técnica que coordena e desenvolve o projeto é diversificada e conta com profissionais de diversas áreas, no âmbito das ciências humanas e exatas, favorecendo com isso a troca de experiências e o desenvolvimento de um trabalho de qualidade e exitoso.

Sabendo que uma família urbana não vive sem dinheiro e que resgatar a “roda” da sobrevivência das pessoas é a matéria bruta a ser trabalhada dentro de uma postura cooperativista,

5.6 INCUBADORA DE JUIZ DE FORA – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

cabe ao processo de formação “destacar, analisar e valorizar” estas experiências como a força motriz da cooperativa a ser

Vinculada à Universidade Federal de Juiz de Fora (2000), a Incubadora iniciou seus trabalhos em janeiro de 1999, ao firmar a parceria com a FINEP e ter disponibilizada a primeira parcela de recursos. No entanto, algumas ações já estavam em andamento, objetivando sensibilizar o município para o cooperativismo e formar uma equipe de docentes da Universidade para esse trabalho. Além disso, a Universidade também já desenvolvia, desde 1994, projetos em parceria com o Movimento Sindical, através de convênios com sindicatos de trabalhadores e uma central sindical e havia instalado, em 1997, o Núcleo local da Rede Unitrabalho. Estas iniciativas, entre outras, demonstram a ênfase em ações de extensão universitária em parceria com a sociedade organizada. A Instituição tem definido por ampliar e consolidar relações de parceria na região, priorizando-a como objeto de reflexão e estudo.

formada.

A elaboração da proposta da INTECOOP foi articulada pela Pró-Reitoria de Extensão e de Pesquisa, com a participação, inicialmente, de quatro

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Unidades de Ensino: Faculdade de Engenharia, Faculdade de Direito, Faculdade de Economia e Administração e Faculdade de Serviço Social. Estiveram ainda envolvidos, naquele momento, coordenadores e participantes de projetos de geração de trabalho e renda. Hoje, participam da proposta além das áreas acima mencionadas, docentes e discentes da Faculdade da Educação, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (cursos de História e Psicologia) e da Faculdade de Comunicação Social, o que permite o enfoque e a execução do trabalho a partir de diferentes perspectivas. A meta original era incubar 10 cooperativas populares em 2 anos e, para isso, foi formada uma equipe composta por um coordenador geral, 2 coordenadores de planejamento, gestão e mercado e uma secretaria de apoio administrativo, além dos docentes, discentes e técnicos oriundos de várias áreas de conhecimento. As ações diretamente dirigidas ao público-alvo do trabalho iniciaram em outubro de 1998, com a realização de vinte cursos na área do cooperativismo abrangendo três municípios e capacitando quatrocentos e trinta pessoas, em parceria com a SETASCAD – MG. Dois grandes núcleos foram estruturados, sendo essencial a articulação entre eles no desenvolvimento das ações, de forma a atender às diversas áreas que envolvem a formação e a gestão das cooperativas. O primeiro é de mobilização e capacitação, composto preferencialmente por alunos e professores dos cursos de Serviço Social, Direito, Educação, Psicologia, Enfermagem, Ciências Sociais, Filosofia e História. O outro núcleo, de planejamento, gestão e mercado, incorpora as áreas de economia, administração, estatística, comunicação e contabilidade. A Incubadora atende grupos ligados à confecção e costura por facção, à extração de areia e à coleta e reciclagem de material, além de profissionais mecânicos, motoristas de caminhão e garçons. Todos vêem no cooperativismo uma maneira de melhorar sua condição de trabalho e de romper com a relação de exploração que muitos enfrentam. A Incubadora chegou a prestar atendimento inicial a quarenta grupos. Destes, foi feita a mobilização e seleção de onze grupos, resultando em nove cooperativas formadas, instaladas e legalizadas, mas ainda sem condi-

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ção de desincubar (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, 2001). Atuou, ainda, na difusão do cooperativismo na Universidade e no Município através da realização de cursos, estágios, pesquisas, além de participação em eventos (mostras, seminários, palestras) e divulgação através de reportagens (jornal, rádio e TV). Prestou também assessorias pontuais e/ou continuadas às equipes técnicas de outras universidades mineiras interessadas na instalação de incubadoras e a prefeituras municipais, como as de João Monlevade e Coronel Fabriciano. Além da capacitação dos grupos incubados, a equipe ministrou treinamentos para cooperados da região interessados no processo de qualificação, além de aulas sobre cooperativismo para desempregados participantes do programa Integrar, em 1998/1999.

A capacitação e a aprendizagem são constantes ao longo do processo, priorizando-se uma formação cultural em vivências coletivas e o preparo técnico. É presente a necessidade de se substituir a cultura do emprego pela do trabalho. Investe-se, a todo momento,

As cooperativas incubadas encontram-se em fase final de registro e começam a ser preparadas para o mercado, sendo que algumas já viabilizam pequenos contratos de trabalho. A capacitação e a aprendizagem são constantes ao longo do processo, priorizando-se uma formação cultural em vivências coletivas e o preparo técnico. É presente a necessidade de se substituir a cultura do emprego pela do trabalho. Investe-se, a todo momento, na interdisciplinaridade, perseguindo-se uma metodologia participativa, que procure o desenvolvimento de processos de aprendizagem de forma interacionista e interdisciplinar. Contudo, romper com metodologias tradicionais de trabalho e afinar o discurso e as ações da equipe tem-se constituído em um desafio. Além do desenvolvimento de uma metodologia de incubação das cooperativas compreendendo as áreas e procedimentos descritos acima, outros projetos fundamentam e/ ou completam essas ações, como o Programa Minas Cooperativa, a Capacitação Continuada da equipe da incubadora e a formação de um grupo de pesquisadores.

na interdisciplinaridade, perseguindo-se uma metodologia participativa, que procure o desenvolvimento de processos de aprendizagem de forma interacionista e interdisciplinar.

A formação de multiplicadores, compreendendo assessorias pontuais ou continuadas às equipes técnicas de instituições interessadas na

A formação de multiplicadores, compreendendo assessorias pontuais ou continuadas às equipes técnicas de instituições interessadas na instalação de Incubadoras de Cooperativas, assim como a formação de recursos humanos na área, são também preocupações constantes. No âmbito da UFJF, a Incubadora tem sido espaço para o treinamento profissional regular de alunos dos cursos de Economia, Administração, Direito, Engenharia, Serviço Social, para aulas práticas de disciplinas do curso de Comunicação

instalação de Incubadoras de Cooperativas, assim como a formação de recursos humanos na área, são também preocupações constantes.

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Social, para estágio curricular do curso de Serviço Social e ainda para treinamento eventual de alunos interessados, de qualquer área do conhecimento. A formação de multiplicadores, no âmbito externo, tem compreendido, principalmente, a promoção de cursos destinados a formação de agentes de Desenvolvimento Cooperativista.

Além das informações

5.7 O acompanhamento do Programa Incubadora

quantitativas também existem aquelas de ordem qualitativa, para verificar se os empreendimentos efetivamente são geradores de trabalho e renda e se ocorre real transferência do conhecimento disponível nas Universidades para a sociedade.

Considerando a necessidade de controle de aplicação dos recursos disponibilizados, a FINEP elaborou um sistema de acompanhamento dos projetos que possibilitou, inclusive, resgatar considerável parte dos dados constantes neste trabalho. Esse acompanhamento tornou-se indispensável, também, em função das várias solicitações de inclusão recebidas de outras Universidades de todo país, além de fornecer informações importantes, tais como o número de postos de trabalho gerados, o número de cooperativas incubadas, os tipos de cooperativas (de trabalho, de produção etc), as principais atividades desenvolvidas por elas, o faturamento anual, o número de pessoas treinadas e o número de cursos oferecidos. Além das informações quantitativas também existem aquelas de ordem qualitativa, para verificar se os empreendimentos efetivamente são geradores de trabalho e renda e se ocorre real transferência do conhecimento disponível nas Universidades para a sociedade. Questões como “evolução da remuneração dos cooperados”, ”ações visando a futura auto-sustentação da incubadora” e “potencial de sustentação futura dessas cooperativas” também são contempladas, além do acompanhamento de mercado das cooperativas, a avaliação do tratamento conferido à questão dos benefícios sociais e a relação da cooperativa com a comunidade na qual se insere (FINEP, 2000). Com base nesse acompanhamento foram compilados os dados a seguir tratados sob o título “metodologia da incubação”, a qual nada mais é do que uma tentativa de estruturar a reflexão sobre o processo de desenvolvimento de cooperativas dentro do sistema incubadoras, clarificando a forma de trabalho, as dificuldades e as conquistas dessa caminhada.

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Metodologia da incubação

A necessidade de criar uma estrutura de apoio aos empreendimentos nascentes, oriundos de ações das Universidades junto às populações de baixa renda, fez surgir o Programa Incubadoras de Cooperativas: Conforme rareiam as possibilidades de absorção de mão-de-obra no mercado formal de trabalho, as estratégias de sobrevivência dos indivíduos voltam-se para atividades inseridas no setor informal da economia, caracterizadas pela descontinuidade, inexigência de qualificação e baixa remuneração. O mercado informal invariavelmente, também, cerceia a melhoria da condição econômica de seus participantes, que são impelidos a oferecer serviços e produtos de baixa qualidade. Sob a mesma condicionante, igualmente não possuem acesso ao crédito ou a programas governamentais de apoio a pequenos empreendimentos. A alternativa de organização da população economicamente ativa desse setor garantiria melhores condições de obtenção de produtividade e qualidade, além da disponibilização de um instrumento jurídico que pudesse reintegrálas à formalidade (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2000).

Essas considerações da Incubadora da USP apontam para algumas das razões que levaram à utilização das incubadoras para as cooperativas nascentes. Mas importa, inicialmente, entender melhor o que é a própria incubação. Nas palavras da Incubadora da UFRPE, no seu Relatório/2000, ela pressupõe apoiar a partir de uma idéia, de uma vontade cujas linhas básicas estejam definidas [...] dar os contornos mínimos para o início do empreendimento, como apoio logístico, capacitações específicas e outras necessárias à implantação do negócio [...] que ainda apresenta fragilidades de nascimento e põe em risco sua sobrevivência. Nessa ocasião, toma sentido o apoio da Incubadora como abrigo e amparo à vida do empreendimento.

A Incubadora da USP aponta esse processo “como um dos principais mecanismos de apoio às empresas de pequeno porte”. Da mesma forma, as incubadoras de cooperativas vêm para prestar apoio aqueles empreendi-

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mentos com maiores dificuldades de organização e ingresso no mercado, porque formados por integrantes da parcela da população mais pobre e sem condições de competitividade. Seus objetivos específicos são, fundamentalmente, os mesmos das incubadoras de empresas já existentes em várias universidades: • Oferecer infra-estrutura física; • Apoiar técnica e gerencialmente as empresas; • Acelerar a consolidação das empresas; • Fortalecer a capacitação empreendedora; • Desenvolver ações associativas e compartilhadas; ... é a construção dessa forma de trabalho coletivo,

• Reduzir os custos para as empresas e para os parceiros;

solidário, que se apresenta

• Buscar novos apoios e parcerias para as empresas;

como o grande desafio. Não

• Divulgar as empresas.

é somente “criar trabalho”; é muito mais: é aprender junto com essas populações, pois a própria metodologia da incubação é um dado em construção, que exige reflexão constante.

Mas a incubadora de cooperativas vai encontrar desafios muito diferentes dos enfrentados pela incubadora de empresas. Uma cooperativa tem características próprias, como já vimos, e não se pode esquecer que as experiências usuais de incubadoras são com empresas e com projetos de empreendimentos com tecnologia de ponta. O desafio das Incubadoras de Cooperativas consiste, também, em aplicar a lógica da incubação a grupos de no mínimo 20 pessoas advindas das camadas mais pobres da população. Ou seja, não é somente “um” empreendedor, mas um “grupo” de empreendedores que, além de compor a empresa, têm que agir de forma solidária. São desafios grandes, mas ainda maior tem que ser a vontade de superá-los. A orientação metodológica das incubadoras, no entanto, é semelhante entre si. A da UFJF, por exemplo, segue os mesmos eixos das demais: construir um espaço de fortalecimento das populações excluídas do mercado de trabalho e otimizar sua organização em novas formas de associação, cooperação e trabalho. E, como nas demais experiências em curso, é a construção dessa forma de trabalho coletivo, solidário, que se apresenta como o grande desafio. Não é somente “criar trabalho”; é muito mais: é

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aprender junto com essas populações, pois a própria metodologia da incubação é um dado em construção, que exige reflexão constante. A metodologia utilizada pelas Incubadoras pode apresentar pequenas variações, o que é inclusive necessário, já que deve haver profunda adequação à realidade local. Esta, talvez, seja a grande virtude deste modelo: usando de todo referencial teórico necessário – o que afasta ações indevidas, espúrias ou sem planejamento – não abre mão da flexibilidade e da adaptabilidade, com a convicção de que o teórico deve corresponder à realidade e não o contrário. Esta, talvez, seja a grande

Nas palavras da Incubadora da UFRJ (2000) não é a primeira ação de uma Universidade na comunidade. Não é a primeira ação na Universidade que reúne excluídos e que investe na capacitação. A conjuntura é favorável porque o grau de violência e de exclusão provoca novas leituras do quadro social. Há alocação efetiva de recursos e de pessoas.

É exatamente sobre como se dão essas ações que importa falar.

virtude deste modelo: usando de todo referencial teórico necessário – o que afasta ações indevidas, espúrias ou sem planejamento – não abre mão da flexibilidade e da adaptabilidade, com a

Para facilitar a análise, e com finalidade meramente didática, as ações serão agrupadas em diversas fases, dentro das quais vários passos poderiam ser definidos, mas, aqui, optou-se por caracterizar as finalidades de cada uma delas, que é o fundamental. É importante ressaltar que não é pretensão deste trabalho criar “roteiros” ou dar “fórmulas” de organização e desenvolvimento de uma Incubadora de Cooperativas. Os passos e fases a seguir descritos têm a finalidade de dar uma melhor compreensão do processo, de forma a traçar um panorama geral das ações até aqui desenvolvidas pelas Universidades que mantêm Incubadoras de Cooperativas, sendo mais um instrumento de visibilidade de suas ações e auxiliando na reflexão acerca desse processo tão importante, que é o núcleo de todas as ações e não pode ser colocado em segundo plano: “como se dá o processo de geração de trabalho e renda junto às populações de baixa renda, tendo como foco a criação de um espaço de exercício da cidadania”.

convicção de que o teórico deve corresponder à realidade e não o contrário.

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6.1 Fases do processo de incubação 6.1.1 Formação da equipe da incubadora 1o – Formação da equipe interdisciplinar da incubadora, composta por professores, alunos e técnicos das diversas áreas do conhecimento:

A dificuldade na formação da equipe no que diz respeito à inclusão de pessoas que se identifiquem com o trabalho e sua metodologia é freqüente, como bem atestam os relatórios das Incubadoras ...

A equipe que irá constituir a Incubadora de Cooperativas será responsável pelas atividades administrativas e de apoio a todo processo de incubação dos empreendimentos, conduzindo as atividades a serem desenvolvidas, desde o mapeamento de demandas até o acompanhamento final das cooperativas no mercado. Essa equipe terá que contar com alguns profissionais especializados, como um contador, por exemplo, que será responsável pela escrituração contábil dos empreendimentos, mas a principal característica será o comprometimento com a ação a desenvolver. Economistas, pedagogos, assistentes sociais, sociólogos, administradores de empresas, advogados, professores e alunos da universidade nessas áreas, todos são bem-vindos a um empreendimento que busca gerar, mais do que trabalho e renda, cidadania. Essa identificação de pessoal não é fácil, como pode parecer a princípio. A dificuldade na formação da equipe no que diz respeito à inclusão de pessoas que se identifiquem com o trabalho e sua metodologia é freqüente, como bem atestam os relatórios das Incubadoras, mas, como ressalta a Incubadora da UFRPE, são problemas inerentes à inovação do próprio processo. A Incubadora formou sua equipe a partir do grupo que compunha o Programa de Associativismo para Pesquisa, Ensino e Extensão, escolhendo seus membros através de entrevistas e referências pessoais e profissionais e tendo como requisito básico quanto ao perfil “a coerência entre o discurso e a prática técnico-pedagógica independentemente da área de formação profissional”. Já a Incubadora da UNEB-BA ressalta a valorização da extensão como prática acadêmica que interliga a Universidade, nas suas atividades de ensino e pesquisa, com as demandas da maioria da população, possibilitando a

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formação do Profissional Cidadão e se credenciando cada vez mais junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades. Também salienta a necessidade de que a Incubadora seja conhecida pela comunidade universitária, o que foi obtido através de um processo de criação da logomarca da Incubadora, mobilizando alunos não só da UNEB mas também de outras universidades, que participaram do concurso para a escolha. Embora a Incubadora deva ser um espaço de desenvolvimento do conhecimento – e por isso prioriza a participação dos alunos e professores da universidade – pode incluir nas suas equipes técnicos especializados contratados para exercer atividades específicas, como o contador, ou mesmo técnicos já engajados em movimentos populares dos locais onde as ações se desenvolvem. O número de pessoas também varia: na UFRPE tem um grupo permanente de coordenação, composto por 6 pessoas e mais um grupo de contratados e estagiários, dos quais 5 são técnicos que atuam diretamente junto aos grupos incubados e 2 estão no apoio administrativo. Já a UNEB, inserida na Pró-Reitoria de Extensão e integrando o Programa de Tecnologias de Habitação (THABA), teve uma equipe inicial de 21 pessoas, sendo que a equipe permanente tinha 10 integrantes (a UNEB disponibilizou 5 funcionários para a Incubadora e outros 5 foram contratados com recursos do FNDCT). Foram ainda contratados 3 consultores específicos e escolhidos, entre os alunos interessados, 8 auxiliares de pesquisa. A Incubadora da UFRJ possui uma estrutura variável, que se adapta às necessidades que os projetos impõem e “tem 70% de sua equipe formada por estudantes”. Conta com professores e alunos da Filosofia, Sociologia, Teologia, Teatro, Engenharia, Administração etc, caracterizando ampla variedade de interesses acadêmicos e propiciando produção científica em diversas áreas do conhecimento. Além da equipe de coordenação, existem gestores de projetos, estando o restante do grupo dividido em equipes de formação, capacitação, administração, planejamento/controle e acompanhamento de campo. Segundo o Relatório 2000

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a adaptação é mais simples para os que vêm das áreas humanas, enquanto que os de área mais técnica encontram mais dificuldades. Isso só aflora no decorrer do tempo.Algumas pessoas são chamadas, outras indicadas por membros da equipe e outras chegam querendo trabalhar na Incubadora. Umas saem rápido, outras permanecem. Ficam aquelas que tem mais inquietude. [...] Hoje, podemos afirmar que o grau de profissionalização é integral (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2000).

A Incubadora da UFJF (2001) chama a atenção para um fato: os projetos e bolsas têm um período delimitado, o que provoca constante mudança no pessoal alocado:

... não existem fórmulas, só a exigência da reflexão crítica constante, da análise permanente das ações levadas a efeito, da adoção de medidas efetivas de redirecionamento sempre que necessário.

Ao mesmo tempo em que inova e cria oportunidades de participação para um maior e mais diversificado número de discentes, exige um grande investimento em ações de capacitação e treinamento, a fim de se garantir a continuidade do trabalho e a experiência acumulada.

Também os professores variam: na UFJF, em dois anos de funcionamento, já ocorreu a participação de cinqüenta e cinco docentes em atividades ligadas aos temas da economia solidária, auto-gestão, cooperativismo, processos de trabalho, mobilização de grupos, planejamento estratégico, educação popular etc. Essa ampla participação pode provocar um problema freqüente, e por isso importante de ressaltar, que é o cuidado no preparo da equipe para a atuação, afinando o discurso e tendo as metas bem definidas, a fim de que as mudanças de pessoal não provoquem mudanças nas linhas básicas de atuação da própria equipe. Também é comum que a empolgação inicial tenda a ceder espaço para a frustração quando as dificuldades aparecem ou o planejado não sai exatamente como previsto. Ou, ainda, que o entusiasmo provoque uma ação mais ampla do que as condições da Incubadora permitem atender com eficácia. Mais uma vez, não existem fórmulas, só a exigência da reflexão crítica constante, da análise permanente das ações levadas a efeito, da adoção de medidas efetivas de redirecionamento sempre que necessário.

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2o– Estruturação da incubadora, com delimitação de funções e estabelecimento das linhas de atuação: A Incubadora deve ter bem clara sua própria estrutura antes de partir para o trabalho de campo. Delimitar funções, estabelecer um planejamento das ações, entrosar a equipe não é burocracia nem perda de tempo: é o que traz a identidade do grupo, cria a coerência interna do discurso, faz com que a Incubadora comece a agir como um corpo único, com propósitos claros e definidos. Não existem respostas prontas aos problemas que vão surgir no processo, pois cada Incubadora tem uma realidade diferente. Por exemplo, a ação com ONGs da região que já estejam trabalhando com o público-alvo da Incubadora mostrou-se boa ferramenta de trabalho em Juiz de Fora, porém não apresentou iguais resultados em Recife. Essa flexibilidade, essa reflexão constante, é indispensável para os bons resultados e é por isso que a equipe da Incubadora precisa estar bem afinada para poder redirecionar ações ou métodos de abordagem sempre que necessário. Por isso mesmo, um fator imprescindível é o desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo da própria equipe da Incubadora, não só através do aprendizado formal – cursos, seminários etc – mas também pela contínua reflexão e pela troca constante de experiências entre as Incubadoras. Só como exemplo, vamos detalhar a equipe da Incubadora de Recife, que é constituída por 13 pessoas, divididas em 3 equipes:

Delimitar funções, estabelecer um planejamento das ações, entrosar a equipe não é burocracia nem perda de tempo: é o que traz a identidade do grupo, cria a coerência interna do discurso, faz com que a Incubadora comece a agir como um corpo único, com propósitos claros e definidos.

Não existem respostas prontas aos problemas

Equipe de assessorias e projetos: capacita, acompanha as atividades e avalia as demandas no âmbito jurídico, contábil, econômico e outros, com vistas à consecução dos objetivos das cooperativas incubadas. Também levanta dados e informações para viabilizar a elaboração de projetos técnicos e orientar quanto ao seu encaminhamento junto aos agentes econômicos.

que vão surgir no processo, pois cada Incubadora tem uma realidade diferente.

As atividades desenvolvidas são: • Orientar quanto à elaboração de Estatuto Social; • Orientar quanto à elaboração de Regimento Interno;

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• Viabilizar a formação e legalização das Cooperativas incubadas orientando nos encaminhamentos necessários a efetivação do processo; • Assessorar a elaboração de projetos; • Assessorar a realização de estudos de viabilidade; • Orientar os cooperados para elaboração de planos de negócios; • Produzir relatório e pareceres nos âmbitos jurídico e contábil; • Apontar necessidades de capacitação; • Produzir conteúdos pedagógicos nas áreas de conhecimento afins. Equipe de gestão/autogestão: acompanha as atividades das cooperativas quanto aos aspectos de gestão financeira, administrativa, produção, marketing etc, procurando identificar suas necessidades. Orienta os cooperados a praticarem efetivamente a gestão participativa com vistas a alcançar a autogestão. As atividades desenvolvidas são: • Identificar metodologias para elaboração de planejamento estratégico; • Identificar, elaborar e criar modelos de autogestão; • Produzir conteúdos pedagógicos voltados para gestão; • Acompanhar o processo de gestão das cooperativas incubadas. Equipe de formação e inserção comunitária: articula contatos com as comunidades com vistas a identificar grupos com potencial para incubação, bem como organizar todo processo pedagógico previsto na metodologia da Incubadora. As atividades desenvolvidas são: • Conceber estratégias de articulação para identificar grupos que desejam ser incubados; • Produzir e revisar textos para as oficinas de capacitação; • Providenciar os recursos materiais para as oficinas;

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• Preparar as dinâmicas de jogos cooperativos; • Produzir todo o instrumental didático necessário às oficinas. Naturalmente, este não é “o modelo”: como já foi afirmado várias vezes, cada realidade vai definir os traços da Incubadora, que deve estar afinada com a mesma e com os objetivos a que se propôs.

6.1.2 PROSPECÇÃO DE MERCADO 3o – Pesquisa de ambiente externo, buscando identificar comunidades onde o processo cooperativista possa ser uma boa alternativa de intervenção: É importante montar um banco de dados da região a trabalhar, com o maior número possível de informações sobre a população, como idade, sexo, escolaridade, profissão e experiências no trabalho informal. Nesse banco de dados procura-se agregar informações sobre a atividade econômica da região, como tipos de indústrias e de comércio e principais atividades desenvolvidas. É importante aproveitar este momento para abrir um canal de comunicação com essas empresas com a finalidade de explicar o trabalho desenvolvido pela Incubadora, pois pode significar oportunidades futuras de trabalho para as cooperativas em atividades de prestação de serviços ou pela reciclagem de determinados tipos de resíduos, gerando renda e trabalho para os cooperados.

É importante montar um banco de dados da região a trabalhar, com o maior número possível de informações sobre a população, como idade, sexo, escolaridade, profissão e experiências no trabalho informal. Nesse banco de dados procura-se agregar informações sobre a atividade econômica da região, como tipos de indústrias e de comércio e principais atividades desenvolvidas.

Esse banco de dados vai auxiliar, ainda, na delimitação mais precisa da área geográfica de intervenção. As Incubadoras podem optar por uma intervenção mais localizada, como em Juiz de Fora, que deu preferência às comunidades que circundam o campus, ou pelo atendimento de grupos interessados mais amplos, como na UFRPE, que atende cooperativas de uma região bem maior. O que definirá essa abrangência é, além da disponibilidade de recursos humanos e financeiros para as ações necessárias, a experiência anterior dos membros da equipe em ações semelhantes, especialmente as conjuntas. Caso a equipe seja recente (formada especificamente para a composição da Incubadora) e sem nenhuma atuação conjunta anterior, o melhor é começar com uma projeção menor de número de coope-

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rativas e fixar o aumento de incubadas para depois de pelo menos um ano de funcionamento da Incubadora. Nem sempre isso é fácil de cumprir, por isso é importante avaliar a maturidade da equipe e do projeto em contraponto à demanda existente e à capacidade de manter o atendimento a médio e longo prazo, seja estruturando a equipe para dar suporte a essas ações, seja buscando novas parcerias que viabilizem tal atendimento. Caso contrário, a frustração dos grupos interessados pode levar ao esvaziamento da própria Incubadora. ... “como viabilizar uma postura ética e consensual

6.1.3 Interação com a comunidade

que não levasse a um saber pronto vindo das universidades e permitisse o “diálogo dos saberes”: o saber acadêmico e o conhecimento da realidade pelos grupos, do seu contexto, das suas vivências e anseios?”. Essa

A ITCP/UNEB aponta uma preocupação inicial que se mostra presente em outros relatos das demais Incubadoras: “como viabilizar uma postura ética e consensual que não levasse a um saber pronto vindo das universidades e permitisse o “diálogo dos saberes”: o saber acadêmico e o conhecimento da realidade pelos grupos, do seu contexto, das suas vivências e anseios?”. Essa preocupação é extremamente positiva e deve manter-se em cada momento do trabalho das equipes, por ser fundamental para um bom resultado das ações.

preocupação é extremamente positiva e deve manter-se em cada momento do trabalho das equipes, por ser fundamental para um bom resultado das ações.

Outro aspecto importante, salientado pela Incubadora da UFJF, é a importância de dar “visibilidade” ao Programa, o que pode ser conseguido através de notícias veiculadas através dos meios de comunicação da região. Isso favorece, também, o aparecimento da demanda de grupos para a formação de cooperativas e a possibilidade de inclusão dessa forma de ação no planejamento do município, aumentando as possibilidades de atuação da Incubadora. 4o – Identificação dos grupos interessados no processo de incubação: As Incubadoras, em princípio, estão voltadas para aqueles grupos populacionais que foram alijados do mercado de trabalho e estão sem condições de obter trabalho e renda e que, portanto, possam vir a ter na Incubadora uma chance de organização produtiva.

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As Incubadoras apontam a ocorrência de três tipos de interesse: 1o – de pessoas da comunidade, já previstas no projeto inicial e cujas características já haviam sido levantadas, querendo formar uma cooperativa; 2o – de grupos já organizados em cooperativas que não estão funcionando a contento e 3o – de grupos que solicitam apenas assessoria técnica sem incubação. Essas diferentes demandas apontam os diferentes níveis de organização dos grupos, como salienta o Relatório da Incubadora da UNEB (2000): As Incubadoras apontam a

A experiência tem demonstrado a necessidade de maior atuação nos primeiros grupos, de forma a mobilizá-los e verdadeiramente trabalhar um processo contínuo de aprendizado recíproco, onde a participação efetiva possibilite o fortalecimento, a autonomia. Estes foram formados a partir da intervenção da Incubadora (em função do levantamento de dados e reuniões de mobilização), mas os demais já estavam organizados ou se organizando por conta própria,

o que exigirá ações diferenciadas por parte da equipe.

ocorrência de três tipos de interesse: 1o – de pessoas da comunidade, já previstas no projeto inicial e cujas características já haviam sido levantadas, querendo formar uma cooperativa; 2o – de grupos já organizados em cooperativas que não

Quando ocorrem situações em que grupos de cooperados buscam a Incubadora pedindo auxílio para colocar um empreendimento já existente em funcionamento mais adequado, não existe receita pronta (como em todos os outros aspectos) – é preciso analisar a situação específica. Uma coisa, porém, é certa: a Incubadora não é, jamais, um local de regularização de documentos. Para isso existem escritórios contábeis ou técnicos especializados. O propósito da Incubadora vai muito além: ele pressupõe uma filosofia cooperativista, um modo de agir em cooperação, uma finalidade de crescimento conjunto. Por isso, se a Incubadora optar por receber algum grupo já formado, além da análise criteriosa de todos os documentos de constituição, por técnico especializado, deve haver reunião com todos os cooperados a fim de conhecer melhor a realidade do empreendimento. A partir daí, a cooperativa terá que aceitar o cumprimento de todas as exigências de treinamento, conhecimento de cooperativismo, capacitação profissional etc, que são comuns às demais incubadas.

estão funcionando a contento e 3o – de grupos que solicitam apenas assessoria técnica sem incubação.

Mas não são somente essas as formas de apresentação. Algumas vezes pode ocorrer que os grupos interessados já sejam ligados a outros projetos

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da Universidade, como ocorreu com os jovens da região do Sisal (semiárido baiano): com os primeiros contatos, em dezembro/99, com jovens de 12 municípios daquela região foi retomada a pesquisa sobre a fibra vegetal pelos professores e alunos do curso de Química da UNEB, em continuidade ao THABA (Programa de Tecnologia de Habitação). Mostrava ser um projeto audacioso e ancorado em parcerias importantes. Foi formado um grupo de 49 jovens que iniciou o Curso de Cooperativismo, pretendendo trabalhar com artesanato e reciclagem. A Incubadora da UNEB optou, para minimizar as dificuldades dos primeiros contatos com as comunidades, pela utilização das instituições populares como meios de aproximação, como associações de moradores, agremiações, igrejas etc. Após mapeá-las, buscou identificar pessoas interessadas em participar do projeto. Ressalte-se que as ações subseqüentes não são mais vinculadas àquelas organizações, adquirindo o caráter de autonomia e independência necessário a um empreendimento de cunho cooperativista. Isso aconteceu, também, com os moradores do bairro de Cajazeiras de Salvador: o grupo de cerca de 30 pessoas que concluiu o curso de cooperativismo foi identificado a partir dos seminários realizados pela Comissão de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Câmara de Vereadores de Salvador. A primeira assembléia realizou-se em dezembro/99 e foi formada a Cooperativa Múltipla dos Trabalhadores de Cajazeiras – COOPCAJ – com 32 membros desenvolvendo atividades de corte e costura, serviços gerais, serviços manuais e de transporte. A Incubadora da UFRPE também alerta para um risco a ser evitado, que é a tentativa de utilizar a cooperativa para burlar a legislação trabalhista. Isso ocorre, principalmente, quando donos de empresas tentam transformar seus empregados em “cooperados” como uma forma de reduzir encargos trabalhistas. A solução é uma só: conhecer bem o grupo que procura a Incubadora, verificar se existe efetiva participação de todos, analisar se a solução cooperativista é realmente a melhor para o grupo, verificando as vantagens e desvantagens da sua adoção, identificar “lideranças” e assegurar-se de que não existem “chefias”.

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Já a UFRJ aponta alguns fatores que facilitam a formação de cooperativas1: • quando a comunidade é organizada; • quando o grau de participação comunitária é significativo; • onde os problemas de violência são menos intensos; • quando a comunicação entre as pessoas é mais aberta; • quando não há, desde o início do processo de formação, vestígios de tentativa de aproveitamento político-partidário;

É nessa etapa que se inicia a

• quando a perspectiva de mercado é concreta ou pouco remota.

efetiva aproximação dos grupos de interesse, de

5o – Realização das primeiras reuniões: É nessa etapa que se inicia a efetiva aproximação dos grupos de interesse, de forma a conhecer as reais necessidades, potencialidades e expectativas daqueles que estão compondo ou pretendendo vir a compor o empreendimento. É o momento de sensibilizar o grupo para o cooperativismo de trabalho, clarificando conceitos e confirmando que a organização em cooperativas é realmente a melhor solução para aquele grupo. É hora, também, de verificar se as pessoas sabem realmente quais as características dessa forma de organização, especialmente em relação às diferenças de um emprego formal no sistema de CLT. Embora seja uma etapa muitas vezes cansativa e desgastante, é importantíssimo não abreviá-la: deve-se, isso sim, buscar esclarecer todas as dúvidas, clarificar bem as propostas, assegurar-se de que a proposta da Incubadora é a solução mais viável para aquele grupo.

forma a conhecer as reais necessidades, potencialidades e expectativas daqueles que estão compondo ou pretendendo vir a compor o empreendimento. É o momento de sensibilizar o grupo para o cooperativismo de trabalho, clarificando conceitos e confirmando que a organização em cooperativas é realmente a melhor solução para aquele grupo.

É importante, também, não deixar que a ação dos técnicos adquira conotações assistencialistas, o que se obtém com a definição clara do papel de todos os envolvidos. Cada Incubadora optou por uma forma de ação nessa etapa, em vista das peculiaridades dos grupos envolvidos e em função do interesse demons-

1

Texto da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da COPPE/UFRJ (1999).

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trado. A Incubadora da UFRPE, por exemplo, optou por uma fase de “Pré-Incubação”, que “visa favorecer a discussão do associativismo no contexto social, econômico e político vivenciado pelos grupos selecionados, mediante a abordagem de conteúdos que esclareçam e orientem a tomada de decisão dos mesmos”. Diversos temas são abordados em 3 oficinas, buscando dar aos interessados um conhecimento mínimo que possa servir de subsídio para a tomada de decisão sobre a abertura ou não de uma cooperativa. Já a Incubadora da UFJF percebeu o interesse de algumas pessoas, a partir dos primeiros trabalhos da mesma junto à comunidade. Decidiu aglutinar essas pessoas segundo critérios de ocupação profissional, com a assessoria da equipe da Incubadora. Disso resultou a instalação de duas cooperativas – COOPERVIDA (Cooperativa de Atendimento Qualificado e Serviços de Saúde) e COOPDEF (Cooperativa dos Portadores de Deficiência Física), que presta serviços de apoio administrativo a instituições públicas. Outros grupos desistiram durante o processo, por dificuldades do próprio grupo e/ ou do mercado. Não obstante, este não é o único modelo de trabalho para organização do grupo, havendo pelo menos dois outros procedimentos também adotados: a COOPSERV (Cooperativa de Serviços Gerais), por exemplo, partiu de um trabalho de identificação, sensibilização e organização de grupos de desempregados em diversos bairros periféricos, com posterior aglutinação dos mesmos em uma cooperativa; outras cooperativas também podem resultar do atendimento a grupos de desempregados ou empregados em situação de precarização do trabalho, que se candidatam a serem incubados. Na última situação, os grupos são diagnosticados e participam de um trabalho inicial que antecede a seleção dos mesmos ao ingresso no processo de incubação. Neste momento, cerca de dez grupos populares estão sendo trabalhados na perspectiva da instalação de futuras cooperativas. “Esta diversidade de origem das cooperativas acontece porque atuamos em um projeto que propõe respeitar as diversas formas de organização das pessoas”, afirma a equipe. Prosseguem as formalidades para sua legalização. A experiência de registro das três primeiras cooperativas apontou inúmeras dificuldades. A principal delas é a falta de documentação dos cooperados, além das exigências administrativas diferenciadas.

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6.1.4 Delimitação da atuação do empreendimento 6o– Prospecção de atividades econômicas passíveis de serem desenvolvidas pelas cooperativas incubadas: É feito o levantamento dos interesses demonstrados pelos participantes das reuniões, comparando-os com os resultados da análise de mercado realizada pela Incubadora (identificando as necessidades e potencialidades da região) para, então, passar para a definição dos trabalhos que a cooperativa poderá desenvolver. Segundo a Incubadora da USP, a definição da atividade econômica é feita com foco no potencial dos cooperados e no mercado. No caso da COOPERBRILHA, que surgiu do primeiro curso de Formação em Cooperativismo, a atividade definida foi Manutenção de Áreas Verdes e Jardinagem e a capacitação foi realizada pela prefeitura da USP, no próprio campus, com o apoio da ITCP na elaboração de material didático. O primeiro contrato foi assinado com a Escola Politécnica-USP e está demonstrando, através do resultado, as vantagens da responsabilidade compartilhada do trabalho dos cooperados. A Incubadora e a COOPERBRILHA sabem que os desafios estão postos mas que, de acordo com a fala de uma cooperada, “o cooperativismo é um meio para nos ajudarmos e progredirmos juntos”. Por isso, serão capazes de realizar um trabalho sério e competente e gerar uma nova relação em que todos os sócios são também trabalhadores, em que a prosperidade da empresa significa a sua própria prosperidade.

É feito o levantamento dos interesses demonstrados pelos participantes das reuniões, comparando-os com os resultados da análise de mercado realizada pela Incubadora (identificando as necessidades e potencialidades da região) para, então, passar para a definição dos trabalhos que a cooperativa poderá desenvolver.

A Incubadora da UFC optou pela elaboração do diagnóstico sócio-econômico dos cooperados, que é transformado através de instrumentos estatísticos no perfil sócio-econômico da cooperativa, e passa a subsidiar todos os projetos de economia, engenharia, qualificação da mão-de-obra e o plano estratégico de cada cooperativa. Estes projetos são desenvolvidos ao longo do curso básico de cooperativismo e têm por objetivo subsidiar a cooperativa e seus associados na inserção no mercado de trabalho, com desenvolvimento de rotinas de trabalho, composição de planilhas de custos e remuneração do trabalho, além de dispor de um quadro de capacitação

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É muito importante que

permanente da mão-de-obra, como forma de manter índices elevados de produtividade e competitividade das cooperativas dentro do mercado, a médio e longo prazos. Ao mesmo tempo, esses projetos contribuem para o conhecimento mais amiúde das flutuações do mercado de cada cooperativa, comportamento dos agentes econômicos e demandas dos futuros clientes das cooperativas.

sejam consideradas as perspectivas futuras dos possíveis trabalhos a desenvolver, evitando áreas já esgotadas e sem muitas possibilidades de crescimento.

É muito importante que sejam consideradas as perspectivas futuras dos possíveis trabalhos a desenvolver, evitando áreas já esgotadas e sem muitas possibilidades de crescimento. A análise incluirá, também, verificar se as competências das pessoas são aquelas que têm espaço no mercado ou se, ao contrário, será necessário identificar espaços de mercado e preparar o grupo para o trabalho, desenvolvendo novas competências e promovendo o redirecionamento profissional dos próprios interessados na formação da cooperativa. 7o – Análise da viabilidade econômica e social dos empreendimentos pré-selecionados:

De início, é muito comum os grupos quererem pôr logo em andamento a decisão tomada acerca do tipo de empreendimento. Caberá aos técnicos da Incubadora conduzirem o processo de maneira a permitir uma análise efetiva da viabilidade

De início, é muito comum os grupos quererem pôr logo em andamento a decisão tomada acerca do tipo de empreendimento. Caberá aos técnicos da Incubadora conduzirem o processo de maneira a permitir uma análise efetiva da viabilidade do empreendimento pretendido, analisando o mercado e fazendo prognósticos de viabilidade econômica. Como visto acima, isso evitará, por exemplo, formar uma cooperativa voltada a nichos já saturados, com pouca ou nenhuma possibilidade de absorção de novos empreendimentos.

do empreendimento pretendido, analisando o mercado e fazendo prognósticos de viabilidade econômica.

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Num primeiro momento, a maioria das cooperativas é de serviços, que tem retorno mais imediato e não exige grandes investimentos ou instalações, mas já existem alguns empreendimentos voltados para a produção, mesmo que em pequena escala. As dificuldades são, principalmente, de obtenção de crédito, onde as exigências de garantias e mesmo de endereço (não esqueçamos que a maioria é favelada) são empecilhos muitas vezes intransponíveis. A Incubadora pode auxiliar servindo de “endereço formal” para as cooperativas incubadas, mas pouco pode fazer com relação às exigências de garantias, por exemplo.


A Incubadora da UFRJ (2000) coloca outra questão importante, que é o tempo previsto para o retorno do investimento: Nos diversos grupos sociais há uma grande diferença no que se refere à perspectiva de tempo entre investimento e retorno. Poderíamos colocar, por exemplo, como um caso extremo, a população de rua, que tem quase que um tempo biológico: dormir, acordar e a caça ao alimento ou à bebida. A referência ali é o dia. Quando são profissionais que trabalham com biscates ou como diaristas, eles tem a perspectiva da semana. Eles buscam se planejar para um curto espaço de tempo [...] tem que ter uma resposta financeira de realização a curto prazo. Quando se trabalha com pessoas que já estão na economia formal, ou de uma forma ou de outra em algum emprego, já existe a perspectiva do mês. As férias começam a surgir para quem está no contexto formal, pois é uma perspectiva anual de vida e de realização. [...] Trabalhamos com um grupo social que historicamente tem um pensar a curto prazo e temos que vender um projeto de vida que depende de uma perspectiva de médio prazo. Enquanto não se transpõe esse processo, ou seja, enquanto eles não comecem a investir em algo que não seja imediato, o caminhar é muito lento.

Isso pode ser referendado por várias outras experiências, como a dos moradores do Caji e albergados de Salvador, consideradas pela Incubadora da Bahia como as experiências que apresentaram maiores dificuldades em termos de continuidade, embora as expectativas iniciais tivessem sido bastante otimistas. A pressa em ter resultados, a resistência em participar de cursos e reuniões (especialmente porque ocorriam em seus horários de lazer) e a descontinuidade na participação eram os grandes obstáculos naqueles grupos. Os encontros tornaram-se instáveis e o público nas reuniões muito rotativo. Em meados de 2000, as reuniões foram suspensas. O fato de serem comunidades recém formadas – o Caji uma ocupação urbana recente e os albergados por conta da rotatividade do estabelecimento – onde as pessoas não se conheciam suficientemente para formar vínculos mais sólidos. Sem dúvida se faz necessário pensar em alternativas metodológicas para lidar com essa especificidade [...] (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DA BAHIA, 2000, p. 15).

Esses dados têm que estar presentes nas discussões com os grupos na hora de definir o empreendimento evitando, por exemplo, projetos que

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... o desânimo com

envidariam esforços muito grandes em ações que só terão retorno a longo prazo. Essa tem sido apontada como uma das principais causas de desistência dos interessados, que abandonam a cooperativa e saem em busca de trabalho com renda imediata, que supra suas necessidades de curto prazo. A própria equipe da Incubadora deve ter essa discussão permanentemente, pois o desânimo com resultados mais lentos não ocorre somente entre os cooperados: os membros da equipe também se frustram com as dificuldades enfrentadas e, se não houver o cuidado necessário, pode levar à desarticulação entre eles, especialmente em vista dos diferentes objetivos que os levam a participar do projeto.

resultados mais lentos não ocorre somente entre os

6.1.5 Disseminação do conhecimento

cooperados: os membros da equipe também se frustram com as dificuldades enfrentadas e, se não houver o cuidado necessário, pode levar à desarticulação entre eles, especialmente em vista dos diferentes objetivos que os levam a participar do

Cada Incubadora estruturou sua forma de organização dos cursos para os grupos de cooperativas. De modo geral, todas seguem uma divisão semelhante à da Incubadora da UFJF, que aponta a importância da interdisciplinaridade, salientando 3 aspectos dessa formação: a formação política (situar a profissionalização dentro de um contexto histórico), a formação cultural (capacitação em organização, cultura da cooperação e da solidariedade) e a formação técnico-profissional (conhecimentos científicos, técnicos, habilidades etc). Em todos os casos, o início é com um curso sobre cooperativismo.

projeto.

8o – Realização do curso básico sobre cooperativismo para os interessados: O curso só terá início se o grupo interessado for de 20 pessoas ou mais, por ser este o número mínimo previsto, por lei, para se criar uma cooperativa. Nesse curso, o grupo irá aprofundar as noções básicas acerca da filosofia, doutrina e educação cooperativista, que já haviam sido abordadas nas reuniões iniciais, como também estudará as características de uma cooperativa como empresa facilitadora de negócios. São enfocados, ainda, os princípios do cooperativismo, as diferenças entre as cooperativas e as outras empresas, os tipos de cooperativas existentes, o sistema cooperativista brasileiro, a relação do cooperado com a cooperativa, o tipo de administração e as assembléias e como se formam o estatuto social, o regimento

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interno e os fundos. Essas noções serão fundamentais para que o processo participativo – base do sistema cooperativista – se dê em sua plenitude. A Incubadora da UFJF ( 2000) salienta a necessidade de que a “relação não seja apenas uma aquisição individual de conhecimentos, mas a construção coletiva e solidária de uma nova relação de vida e de trabalho”. Por isso, aprofundaram a discussão sobre democracia, cidadania, cooperativismo e foram trabalhadas as relações interpessoais, dentro de um curso organizado e desenvolvido pela equipe de professores da Incubadora (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, 2000).

Aqui há outro ponto importante a considerar: no decorrer do tempo, já com a cooperativa constituída, é inevitável ocorrerem desistências e novas adesões. Se o grupo não estiver atento a este item, é bastante provável o enfraquecimento do conhecimento cooperativista, caso os novos membros não sejam devidamente treinados no assunto. Por isso mesmo, é imprescindível que esse processo de capacitação seja constante e difuso ao longo do processo. Isso pode parecer fácil mas, na verdade, é um problema bastante sério. No início, os interessados passam por todas as fases porque ainda não há “empresa” e , por isso, é relativamente simples entender o porquê das reuniões e dos cursos. Mas depois que ela se constitui e, principalmente, depois que os trabalhos aparecem, a tendência dos grupos é de achar que não é mais necessário aprender sobre “o que é cooperar” ou “o que é cooperativismo”, por exemplo. Como estão habituados a um “tempo de curto prazo”, como a UFRJ bem abordou (v.item 7o, acima), o surgimento de um “trabalho” faz o grupo direcionar seus esforços para a execução do mesmo e achar que o mais é “perda de tempo”. Por isso, a equipe tem que estar atenta para que essas idéias imediatistas não proliferem e isso só será conseguido se o grupo tiver, como rotina, a discussão e reflexão constantes através de assembléias e cursos.

... é imprescindível que esse processo de capacitação seja constante e difuso ao longo do processo.

No início, os interessados passam por todas as fases porque ainda não há “empresa” e , por isso, é relativamente simples entender o porquê das reuniões e dos cursos. Mas depois que ela se constitui e, principalmente, depois que os trabalhos aparecem, a tendência dos grupos é de achar que não é mais necessário aprender sobre “o que é cooperar” ou “o que é cooperativismo”, por exemplo.

Outro problema que surge freqüentemente é o custo de transporte entre o local de moradia dos cooperados e a Incubadora, além do limite físico do espaço da própria Incubadora. Para reduzir esse problema, na UFRJ optou-se por mudar a forma de trabalho da equipe: em vez de a cooperativa

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vir à Incubadora, a equipe vai até o local da cooperativa. Isso otimiza os recursos porque os cursos e as atividades ficam próximos das casas dos cooperados, evitando deslocamentos até o campus. Mas essa é uma decisão que a equipe tem que tomar em vista da própria disponibilidade de tempo e de pessoal. 9o – Desenvolvimento do projeto de empresa cooperativa visando ao mercado:

Caberá à Incubadora auxiliar na elaboração do projeto, identificando os nichos de mercado, as áreas de atuação, as viabilidades e possíveis dificuldades do futuro empreendimento. Este “projeto” consolida todas as informações obtidas e resume as propostas e objetivos do grupo.

Caberá à Incubadora auxiliar na elaboração do projeto, identificando os nichos de mercado, as áreas de atuação, as viabilidades e possíveis dificuldades do futuro empreendimento. Este “projeto” consolida todas as informações obtidas e resume as propostas e objetivos do grupo. Servirá não só como documento de apresentação da cooperativa para o mercado, mas será, também, a referência do grupo para corrigir desvios ou reavaliar objetivos. É importante ter em mente o diferencial que uma empresa cooperativa formada em uma Incubadora tem: a Incubadora não forma profissionais, forma empresas. Empresas que têm no seu escopo, na sua estrutura, o know how de vir a se gerir como empresa. Estamos formando trabalhadores autogestores e estamos atuando na formação de empresas autogeridas. [...] Não formamos faxineiros, formamos empresas autogeridas de limpeza e manutenção. O curso não é só de limpeza, é também de gerência e gestão. O nosso público-alvo é de baixa renda, a empresa não (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2000).

Essas considerações da Incubadora da UFRJ, em seu Relatório 2000 lembram o preconceito que as empresas cooperativas sofrerão ao buscarem o mercado e devem ser preocupações constantes entre os membros da equipe, no sentido de ter consciência do tipo de ação desenvolvida e de transmitir ao grupo esse sentimento de valorização, de autoestima, que é um grande diferencial da Incubadora: o desenvolvimento da cidadania.

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10o – Identificação das competências profissionais e das necessidades de treinamento, em função do empreendimento: Aqui identificam-se as qualidades e as barreiras que a cooperativa poderá ter, dependendo de como atuará no sentido de explorar competências e sanar dificuldades.

Um ponto importante a frisar com os cooperados é que,

É importante preparar algum tipo de grade de qualidade, onde sejam descritas, com relativa minúcia, todas as exigências relativas ao serviço a ser prestado ou ao produto a ser disponibilizado. A partir daí, estabelecem-se as necessidades de capacitação envolvidas. Cabe ressaltar que essa análise deve ser feita pelos interessados, com o auxílio dos técnicos, constituindose num excelente espaço de reflexão crítica e construtiva. O treinamento técnico dos cooperados nas atividades da cooperativa passará então a ser realizado. Um ponto importante a frisar com os cooperados é que, agora, eles estão gerindo o próprio negócio, o que lhes dá uma responsabilidade muito maior com a qualidade do produto ou serviço oferecido. A Incubadora da UFRJ, por exemplo, está apostando na qualificação dos próprios cooperados em multiplicadores, buscando com isso ter agilidade no atendimento das demandas e não superdimensionando a estrutura da Incubadora. Essa é uma alternativa interessante, principalmente porque caminha no sentido da auto-sustentação da cooperativa inclusive na área de capacitação.

agora, eles estão gerindo o próprio negócio, o que lhes dá uma responsabilidade muito maior com a qualidade do produto ou serviço oferecido.

Esse tipo de trabalho é de fundamental importância para o grupo, uma vez que são documentos com a sua “cara” e não documentos impostos, pois são

6.1.6 Organização formal da Cooperativa

estudados, trabalhados e debatidos até não ficar

11o – formulação dos estatutos e do regimento interno da cooperativa e definição dos fundos de reserva:

dúvida alguma sobre os mesmos. É nessa fase que o grupo adquire coesão e

Paralelamente às etapas de identificação de objetivos da empresa e das competências exigidas para um bom desempenho, o empreendimento deve ir sendo organizado também no seu aspecto formal. O grupo começa a desenhar a matriz principal do estatuto social, dos fundos e do regimento interno desejado. Esse tipo de trabalho é de fundamental importância para o grupo, uma vez que são documentos com a sua “cara” e não documentos impostos, pois são estudados, trabalhados e debatidos até não ficar

maior uniformidade nas discussões e debates.

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dúvida alguma sobre os mesmos. É nessa fase que o grupo adquire coesão e maior uniformidade nas discussões e debates. A Incubadora realiza ações de intervenção, sempre que solicitada, normalmente para auxiliar na resolução de algum tipo de conflito ou dúvida em relação aos temas em debate, e principalmente para alimentar as discussões com as informações necessárias. No dizer da Incubadora da UFJF, “a dinâmica é ação/reflexão/ ação”. Devem ser discutidos e definidos os elementos que serão os reais diferenciadores do empreendimento, no sentido de que se constituirão em valores partilhados por todos os membros. O estatuto da cooperativa é o documento fundamental, que estabelece os direitos e deveres dos associados, as atribuições dos órgãos de Administração, bem como os mecanismos de funcionamento da cooperativa. Os fundos são formas de garantia da seguridade social para os associados e permitem o crescimento social e financeiro do grupo. Já o regimento interno da cooperativa é o documento que rege as relações entre os cooperados e entre a cooperativa e o mercado, dispondo ainda sobre as normas de conduta no trabalho e as sanções para o descumprimento das bases do acordo que originou a cooperativa. Também aspectos práticos, como valor de cota-parte, por exemplo, devem ser definidos. A UFRJ cita os seguintes pontos2 : a) constituição do capital – a cota-parte estabelecida é igual para todos os membros e a data de seu recolhimento é definida em função da disponibilidade financeira dos cooperados – normalmente, é recolhida só depois da primeira remuneração recebida e é proporcional ao nível econômico do grupo; b) gestão democrática – devem ficar claros os elementos de gestão: a periodicidade de eleição da Diretoria e a renovação garantida de pelo menos 2/3 dos membros, a necessidade de decisões tomadas em assembléias com registro em ata e a atuação efetiva do Conselho Fiscal e da Comissão de Ética; 2

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Texto da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da COPPE/UFRJ (1999)


c) distribuição de renda – a remuneração se dará pelo trabalho, sendo estabelecida uma tabela de remuneração de todos os cooperativados, inclusive direitos aprovados em assembléia geral. As sobras serão distribuídas eqüitativamente e não é permitida a concentração de cota parte; d) divisão de tarefas – todo trabalho é desenvolvido pelo cooperado, não havendo tercerização das atividades afins; e) quanto aos instrumentos de princípios gestionários – além da elaboração, deve ser fiscalizada a aplicação dos instrumentos da cooperativa: estatuto, regimento, fundos, atas; f) quanto ao quadro de cooperados – deve ser viabilizado, a todos os cooperados, o conhecimento dos instrumentos acima referidos. Além disso, deve ser incentivada a participação plena nas assembléias, bem como a realização de cursos de capacitação profissional; g) quanto às garantias de continuidade da cooperativa – devem ser encontradas formas de permitir a existência de um fundo de investimento, o que permitirá seu crescimento como empresa. Além disso, deve possuir um fundo social que propicie a seguridade, o descanso remunerado, uma gratificação natalina e outros benefícios que os cooperados entendam importantes;

Juntamente com esses elementos formais, é importante incentivar o grupo a elaborar um Código de Ética e Disciplina para vigorar entre os cooperados.

h) responsabilidade social – a cooperativa deve contribuir nas ações de melhoria de sua comunidade. Juntamente com esses elementos formais, é importante incentivar o grupo a elaborar um Código de Ética e Disciplina para vigorar entre os cooperados. Este código incluirá suas convicções acerca de moral, ética e disciplina no trabalho. A Incubadora fornecerá alguns subsídios e parâmetros para os debates e discussões, além de cuidar para que a redação final atenda a certos requisitos legais, porém o código deve refletir o interesse e a necessidade do grupo. 12o – Organização administrativa, contábil e jurídica das cooperativas incubadas: Esta etapa do processo consiste na elaboração de diversos documentos para registro da cooperativa nas repartições públicas – Municipal, Estadual

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e Federal. A Incubadora ficará responsável pelos encaminhamentos, auxiliando as cooperativas no que couber.

É bastante comum ocorrerem entraves nesta etapa porque a cooperativa ainda não existe de fato e, no entanto, precisa dispor de dinheiro para o pagamento das diversas taxas. Ficará a cargo da criatividade do grupo encontrar formas de

É bastante comum ocorrerem entraves nesta etapa porque a cooperativa ainda não existe de fato e, no entanto, precisa dispor de dinheiro para o pagamento das diversas taxas. Ficará a cargo da criatividade do grupo encontrar formas de resolver esse problema e à Incubadora auxiliar no sentido de evitar que o grupo desanime na busca de soluções. As cooperativas que fazem parte da ITCP/UNEB também encontraram dificuldades para pagar as custas de legalização e, para resolver esse problema, inventaram formas de angariar recursos, organizando bingos, shows etc. Já a Incubacoop-UFRPE também registra essa dificuldade, mas salienta que, de certa forma, a mobilização para conseguir os recursos tem uma contribuição pedagógica na medida em que requer maior engajamento das pessoas no processo.

resolver esse problema e à Incubadora auxiliar no sentido de evitar que o grupo desanime na busca de soluções.

Outro entrave comum é a falta de documentação dos cooperados e algumas exigências administrativas de órgãos públicos difíceis de cumprir.

Outro entrave comum é a falta de documentação dos cooperados e algumas exigências administrativas de órgãos públicos difíceis de cumprir. Não podemos esquecer que estamos lidando com populações que residem, muitas vezes, em locais formalmente “invisíveis”, já que se constituem em invasões urbanas, não legalizadas, o que torna impossível dispor de um dado elementar que é o “endereço”. Esta, aliás, é uma vantagem acessória da Incubadora, que pode ser esse “endereço formal” inicial. Como em qualquer outra ação com grupos comunitários, outras dificuldades podem surgir: a compatibilização dos horários da comunidade com os horários da equipe; as carências financeiras dos grupos para empreender ações fora da comunidade (como levantamento de informações para estudo de mercado, por exemplo) ou, quando se trata de mulheres, a questão das tarefas domésticas que dificultam a presença nas oficinas – sem falar nos problemas que muitas delas enfrentam com os maridos, que resistem à idéia de que elas possam vir a ganhar mais que eles ou simplesmente vir a ter renda própria. Pode-se aproveitar essa etapa, também, para elaborar o Banco de Dados dos Cooperados, cuidando para que haja a entrega, por parte de todos os integrantes do grupo, dos documentos necessários, os quais servirão também para a elaboração da ata de fundação da cooperativa.

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13o– Elaboração e implantação do Planejamento Estratégico: A Incubadora da UFJF (2000) utiliza o Planejamento Estratégico como “um instrumento de auto-gestão, onde os cooperados são os “atores” principais de sua elaboração e implantação, tornando-se sujeitos pró-ativos na definição e realização das ações estratégicas definidas pela organização cooperativa”. A elaboração desse instrumento é feita em seminário com a participação de técnicos da Incubadora e, além de definir a missão da cooperativa, “analisa o ambiente interno e externo do empreendimento, traça as questões estratégicas, define responsabilidades e torna a participação de cada um uma condicionante do sucesso da missão do grupo.” É implantado em consonância com o Plano de Negócios e tem o acompanhamento da equipe da Incubadora.

A Incubadora pode desenvolver um folder empresarial da cooperativa, destacando os trabalhos que são oferecidos, os parceiros envolvidos na cooperativa e outras informações relevantes. É importante que a Incubadora faça um acompanhamento de mercado, especialmente

6.1.7 Acompanhamento do empreendimento 14o – Acompanhamento e assistência técnico-administrativa dos trabalhos das cooperativas incubadas: A Incubadora pode desenvolver um folder empresarial da cooperativa, destacando os trabalhos que são oferecidos, os parceiros envolvidos na cooperativa e outras informações relevantes. É importante que a Incubadora faça um acompanhamento de mercado, especialmente da área de licitações públicas (pode, por exemplo, ter uma assinatura de revista especializada em licitações, que será uma ferramenta de trabalho importante, uma vez que é por ela que muitas ofertas de trabalho são conseguidas). Quando a cooperativa de trabalho ganha um contrato, a Incubadora faz o acompanhamento, orientando sobre possíveis falhas e promovendo a constante adequação aos princípios cooperativistas. Esse acompanhamento envolve ações de diversos tipos, que podem ser agrupadas em 3 grandes grupos ou áreas de capacitação, com orientação técnica específica para as novas cooperativas:

da área de licitações públicas

Quando a cooperativa de trabalho ganha um contrato, a Incubadora faz o acompanhamento, orientando sobre possíveis falhas e promovendo a constante adequação aos princípios cooperativistas.

a) Administrativa e Financeira – Os cooperados são motivados a participar da administração do empreendimento e do controle financeiro. Para isso, foram capacitados tecnicamente, através de cursos ou mesmo de

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acompanhamento informal por técnicos da incubadora. Somente essa capacitação, no entanto, parece não ser suficiente para a participação dos cooperados em geral. A cultura introjetada de subordinação e baixa auto-estima aparece de forma muito clara em frases do tipo “Fulano entende melhor disso”, “Confio no Sicrano; prefiro deixar com ele” ou “Sou muito burro pra entender essas coisas; deixa que do trabalho eu entendo”. Caberá aos técnicos estarem atentos a essas condições, facilitando e incentivando o acesso às informações sobre os procedimentos e rotinas administrativas e financeiras. É no “acompanhamento” que os temas abordados nos cursos iniciais saem do papel e são colocados na prática: direitos e deveres dos cooperados, obrigações coletivas em relação aos compromissos assumidos pela cooperativa, ética etc. Mas os temas mais práticos também podem ser abordados: como lidar com arquivos, com correspondências, com os clientes externos e internos, com bancos, com o caixa da cooperativa, com a organização do trabalho, com a formação de preços, com a compra de materiais e a manutenção dos itens de propriedade comum (como máquinas e equipamentos). b) Contábil – Também o contador deve ensinar aos membros da diretoria da cooperativa e a quem mais se interessar sobre como proceder as rotinas de classificação e contabilização dos documentos, os procedimentos de escrituração dos livros fiscais, a apuração dos tributos a recolher emitindo as guias correspondentes, a elaboração da conciliação bancária etc. A parte mais técnica da contabilidade cabe ao técnico realizar, e em épocas próprias, são convocadas reuniões para a apresentação destes documentos para a análise e debates. Mas é importante que os cooperados tenham condição de fazer essa avaliação – e isso se dará na medida em que entenderem os pontos básicos de uma “prestação de contas”. c) Organização do Trabalho – Os cooperados devem aprender a organizar-se, o que nem sempre é fácil, já que a grande maioria vêm de uma cultura de submissão e obediência às ordens. Caberá à Incubadora propiciar condições aos cooperados de refletirem sobre a participação – que, na verdade, só ocorre quando eles têm consciência de seu papel e da sua condição de co-proprietários.

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Cada Incubadora encontrou formas próprias de efetuar esse acompanhamento. A da UFJF, por exemplo, criou um ”grupo de referência” que se mostrou muito importante na manutenção das ações da Incubadora junto às cooperativas. Esse grupo é composto por auxiliares de pesquisa (bolsistas FINEP) que ficam responsáveis por acompanhar, no cotidiano, a caminhada de cada cooperativa, e são o principal elo de ligação entre a cooperativa e a Incubadora, pois os demais membros da equipe fazem o atendimento geral, sem limitar-se a um ou outro grupo. Mesmo depois que a cooperativa estiver fora da Incubadora, ela poderá continuar a ter assessoramento, mas é durante a incubação que esse processo se dá de forma constante, planejada e com a participação de toda a equipe. Portanto, é imprescindível dirigir todos os esforços para a qualificação dos cooperados, preparando-os para caminharem sozinhos. Os técnicos que acompanham a cooperativa devem observar e orientar alguns aspectos como: • Relacionamento com o cliente: como ocorrem as reuniões com os clientes? Os cooperados demonstram desembaraço? Sabem negociar? Conseguem colocar suas qualificações de forma clara e convincente? Sabem ouvir o cliente? Escutam possíveis reclamações com profissionalismo e atenção? Demonstram uma postura adequada à situação?

Mesmo depois que a cooperativa estiver fora da Incubadora, ela poderá continuar a ter assessoramento, mas é durante a incubação que esse processo se dá de forma constante, planejada e com a participação de toda a equipe. Portanto, é imprescindível dirigir todos os esforços para a qualificação dos

• Relacionamento com o mercado: o cooperado conhece seu nicho de mercado – seus concorrentes, a remuneração praticada por este mercado, pontos fracos e pontos fortes de seus concorrentes? Demonstra estar preparado para resolver determinados entraves comerciais?

cooperados, preparando-os para caminharem sozinhos.

• Atuação dos cooperados: os cooperados participam ativamente da cooperativa? As assembléias têm adesão de todos? Como agem as lideranças naturais surgidas entre os cooperados? Como os cooperados se portam em frente ao cliente: agem como donos do negócio, como de fato são? • Desempenho da Diretoria: como é o relacionamento entre os diretores? As informações são partilhadas? A documentação é de livre acesso a toda Diretoria? Há efetiva participação de todos? As reuniões regula-

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res estão ocorrendo? Está ocorrendo o necessário cuidado com os itens burocráticos (como a transcrição das atas em livro próprio, a organização da documentação, o controle de papéis,...)? Não existem fórmulas mágicas para evitar que qualquer empreendimento resulte em fracasso ou desvio de finalidade: só o trabalho árduo e a constante capacitação podem ser as bases de um empreendimento sólido, participativo e de sucesso.

A experiência tem mostrado que as cooperativas devem, realmente, ir assumindo responsabilidades na

• Desempenho do Conselho Fiscal: a fiscalização está sendo feita de forma criteriosa? Os conselheiros demonstram estar preparados para o exercício dessa função? Suas recomendações estão sendo cumpridas pela Diretoria? Estes e outros aspectos podem e devem ser observados constantemente, não somente para apontar possíveis falhas e necessidades de redirecionamento de ações mas, principalmente, para subsidiar a identificação das necessidades de aperfeiçoamento e capacitação. Não podemos esquecer que a maioria dos integrantes de cooperativas de baixa renda não possui experiência anterior de gerir o próprio negócio e, por isso mesmo, enfrentará dificuldades em fazê-lo. Além disso, relações de mando podem surgir caso o cooperado não se sinta capacitado a exercer sua condição de proprietário da cooperativa, optando facilmente por uma relação de submissão às ordens.

medida em que tenham condições para essa autosustentação, mas devem manter os contatos com a Incubadora, tanto para continuar a participar dos treinamentos e cursos que visem melhorar sua qualidade, quanto para servir como exemplo aos novos empreendimentos, mostrando que é possível superar as dificuldades e ter sucesso.

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É essa mais uma ação primordial da Incubadora: zelar para que todos tenham condições de exercer suas competências, municiando cada um com o maior número possível de habilidades e conhecimentos. É aí que reside, também, o grande diferencial de uma cooperativa “nascida em Incubadora” e, em especial, em Incubadora inserida em uma Universidade. Não existem fórmulas mágicas para evitar que qualquer empreendimento resulte em fracasso ou desvio de finalidade: só o trabalho árduo e a constante capacitação podem ser as bases de um empreendimento sólido, participativo e de sucesso. 16a – Saída da Incubadora: Essa fase, que alguns chamam de “desincubação”, é igualmente importante. O projeto inicial previa que, após 2 anos, a cooperativa deveria estar caminhando sozinha e, portanto, deveria ceder lugar para outro grupo. A experiência tem mostrado que as cooperativas devem, realmente, ir assumindo responsabilidades na medida em que tenham condições para essa auto-sustentação, mas devem manter os contatos com a Incubadora, tanto


para continuar a participar dos treinamentos e cursos que visem melhorar sua qualidade, quanto para servir como exemplo aos novos empreendimentos, mostrando que é possível superar as dificuldades e ter sucesso.

6.2 As relações da Incubadora 6.2.1 Com as cooperativas incubadas

A Incubadora da USP sistematizou as atividades básicas com os grupos incubados em sete eixos que, resumidamente, compõem-se do seguinte:

Cada Incubadora encontrou formas de fazer com que

• Procedimento cooperativo – que envolve as ações internas da cooperativa, como assembléias, registro de atas, comunicação interna (avisos, panfletos, relatórios), relações entre os cooperados e as relações de poder;

essas relações com as

• Cidadania – as relações entre a cooperativa e a comunidade e a discussão dos direitos e deveres dos cidadãos;

formas de ação podem

• Direito – onde são discutidas as relações de trabalho e os direitos e deveres dentro do modo de organização cooperativista. Inclui, também, a elaboração e aplicação do Regimento Interno; • Realização de Negócios – inclui todo o acompanhamento relativo aos negócios da cooperativa, incluindo formação de preços, cálculo de custos, negociação etc; • Organização e Divisão do Trabalho – envolve a distribuição das responsabilidades e a própria capacitação dos cooperados;

cooperativas sejam o mais produtivas possível. As variar um pouco, e dependem de se ter uma maior ou menor estrutura disponível para esse trabalho, mas em todas elas os técnicos têm muito claro que só estão ali em função das cooperativas incubadas, que são a razão de ser do trabalho desenvolvido.

• Gestão do Negócio Cooperativo – inclui o planejamento, o marketing e os registros e controles necessários; • Atividades de Integração – onde se procura lidar com o cooperado além da cooperativa, nos seus relacionamentos com a família e a comunidade, com o lazer e a cultura e com o incentivo ao estudo e à constante capacitação formal. Cada Incubadora encontrou formas de fazer com que essas relações com as cooperativas sejam o mais produtivas possível. As formas de ação podem variar um pouco, e dependem de se ter uma maior ou menor estrutura

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disponível para esse trabalho, mas em todas elas os técnicos têm muito claro que só estão ali em função das cooperativas incubadas, que são a razão de ser do trabalho desenvolvido. Na UFJF, por exemplo, em 2000, teve início um conjunto de ações voltadas para o fortalecimento e a integração das cooperativas, promovendo-se eventos que reuniram as incubadas e onde se discutiram temas relevantes, como ética, negócios e crise. Projetos acadêmicos também dão suporte à Incubadora, seja como campo de estágio e pesquisa, seja com a inclusão de novas áreas do conhecimento. Os objetivos perseguidos no cotidiano são “afinar o discurso e promover a interdisciplinaridade”. Todas as Incubadoras contam com o apoio das Universidades em que estão instaladas, sendo este um requisito essencial para seu próprio sucesso. Elas representam campos férteis para trabalhos acadêmicos ...

6.2.2 Com a Universidade 6.2.2.1 O apoio efetivo ao Programa Todas as Incubadoras contam com o apoio das Universidades em que estão instaladas, sendo este um requisito essencial para seu próprio sucesso. Elas representam campos férteis para trabalhos acadêmicos e, por isso mesmo, todas têm presenciado o aumento de artigos, publicações, monografias e teses ligados ao tema do cooperativismo. Além disso, desde a elaboração da proposta de criação de uma incubadora de cooperativas na universidade muitas delas já incluíram a contribuição dos professores, das mais diversas áreas, garantindo um processo participativo e inclusivo desde o início. A Incubadora da USP, por exemplo, entende que tem a “posição consolidada dentro da Universidade enquanto um projeto universitário que alia de maneira plena o ensino, a pesquisa e a extensão”, não só pelo apoio formal ao projeto mas também pelas parcerias específicas com algumas unidades da Universidade, como o Instituto de Matemática e Estatística e o Laboratório de Geografia Agrária. São também diversas as pesquisas e as publicações referentes ao tema, desenvolvidas por alunos e professores da instituição, o que demonstra o interesse da comunidade acadêmica, confirmado pela criação do curso “Economia Solidária” no Programa de Pós-Graduação em Economia Strictu Senso. A Incubadora também procurou di-

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fundir o cooperativismo no interior da Universidade, realizando o Curso de Formação de Formadores em Cooperativismo. Ainda segundo a Incubadora da USP, a Universidade, quando responsável pela proposição e execução de um projeto de intervenção econômica e geração de trabalho e renda, como a Incubadora, acaba desenvolvendo de forma mais plena seus preceitos de extensão universitária. Há a necessidade do desenvolvimento de um ambiente acadêmico que dê conta das atividades práticas de incubação da cooperativa, desde a efetiva interação com a população interessada em se inserir nessa forma de organização para o trabalho até as atividades concernentes ao desenvolvimento e à contínua revisão e estudo da metodologia de incubação, a qual abarcará as progressivas etapas necessárias para a garantia de sucesso do empreendimento. Ainda se torna necessário o desenvolvimento de uma estrutura de pesquisa de apoio às atividades das cooperativas incubadas, sendo que um ponto importante é o desenvolvimento de atividades de pesquisa acadêmica voltada à temática do Cooperativismo e ao desenvolvimento de Incubadoras de Cooperativas. Mas é importante salientar que existem dificuldades também. A Incubadora da UNEB (2000) afirma que A baixa remuneração, a sobrecarga de horas dedicadas às salas de aula e a pouca disponibilização de bolsas de extensão, pesquisa e ensino, podem ser apontados como fatores determinantes na dificuldade para o maior envolvimento do corpo docente,

o que acaba reduzindo também a produção de conhecimentos pelos alunos. Mas ressalta que “mesmo com a escassez de recursos para o pagamento de bolsas, a adesão voluntária de alguns ajudou de forma decisiva a viabilizar a implantação do projeto”. Essa Incubadora salienta ainda em seu Relatório, que No âmbito da extensão universitária o PRONINC surge, oportunamente, como uma etapa importante no processo de disponibilização dos conhecimentos acumulados nas universidades no intercâmbio com as comunidades para a geração de trabalho e renda, levando-se em conta os recursos materiais e humanos assim como as culturas locais. [...] A extensão, entendida como prática

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acadêmica que interliga a Universidade, nas suas atividades de ensino e pesquisa, com as demandas da maioria da população, possibilita a formação do Profissional Cidadão e se credencia cada vez mais junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades.

E complementa:

Uma cooperativa terá mais chances de sucesso se oferecer produtos diferenciados, o que pode ser possível se contar com a cooperação de áreas de geração de tecnologia da própria universidade.

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade. [...] É uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da praxis de um conceito acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido aquele conhecimento. Este fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados acadêmico e popular, terá como conseqüência a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade. [...] Além de instrumentalizadora desse processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DA BAHIA, 1998).

Um dos apoios que a Universidade pode dar ao Programa é permitir a absorção, pela própria Universidade, da mão-deobra das cooperativas incubadas.

Há, ainda, mais um fator importantíssimo a ressaltar: o uso de tecnologias desenvolvidas pela universidade nas áreas de atuação da cooperativa. Uma cooperativa terá mais chances de sucesso se oferecer produtos diferenciados, o que pode ser possível se contar com a cooperação de áreas de geração de tecnologia da própria universidade. Exemplos comuns são ligados às cooperativas rurais, com uso de técnicas de produção e manuseio de produtos agrícolas gerando maior produtividade e melhor qualidade. Mas também as áreas urbanas têm contado com pesquisas que podem ser aplicadas pelos empreendimentos cooperativistas.

6.2.2.2 A relação comercial Universidade X cooperativas Um dos apoios que a Universidade pode dar ao Programa é permitir a absorção, pela própria Universidade, da mão-de-obra das cooperativas in-

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cubadas. Isso ocorre, por exemplo, na Incubacoop-PE, onde uma das cooperativas incubadas presta serviços de manutenção em equipamentos elétricos, telefônicos e dos prédios. Em outras Universidades, as cooperativas prestam serviços de manutenção de jardins e de limpeza. São, sem dúvida, espaços importantes nessa fase de consolidação do empreendimento e podem representar excelente espaço de aprendizagem e aumento de experiência, além de se constituírem como referência nas futuras abordagens de mercado.

6.2.3 Com outras organizações – as parcerias As Incubadoras de todo país

As Incubadoras de todo país têm procurado estabelecer parcerias com outras instituições que trabalham junto às populações de baixa renda, buscando troca de experiências e atuações em conjunto, bem como têm buscado formas de auto-sustentação do próprio programa. A UFRJ aponta, em seu Relatório/2000, 3 tipos de relações institucionais: as que se estabelecem a partir de articulações e apoios ( como o COEP, a FIOCRUZ, a Secretaria Executiva do Comunidade Solidária etc), as de financiamento (como a FINEP e a Fundação Banco do Brasil) e aquelas de prestação de serviços (contratantes ou conveniados que demandam determinados serviços que podem ser oferecidos pela Incubadora).

têm procurado estabelecer parcerias com outras instituições que trabalham junto às populações de baixa renda, buscando troca de experiências e atuações em conjunto, bem como têm buscado formas de autosustentação do próprio programa.

O relato da Incubadora da UFRJ de 19993 aponta o desenvolvimento de outras parcerias da Incubadora, como previsto nas definições dos parceiros iniciais de que esses empreendimentos deveriam caminhar para a autosustentação. Assim, estabeleceu parcerias com a Prefeitura do Rio de Janeiro, no Programa Favela Bairro, onde, com recursos do BID, a Prefeitura contratou a equipe “para organizar cooperativas nas favelas cariocas, ficando a execução e a direção técnica e política do projeto sob a total responsabilidade da equipe da Incubadora”, e com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar com os catadores dos lixões nos municípios de Niterói e São Gonçalo, objetivando sua inserção no mercado formal de trabalho. Buscou, ainda, ampliar sua atuação em programas de organi3

Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da COPPE/UFRJ (1999).

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zações de trabalhadores, em especial aqueles que buscavam reintegrar trabalhadores expulsos do mercado formal pelo desemprego. As Incubadoras que surgiram depois também procuram estabelecer parcerias, na certeza de que este é fator imprescindível não só para obter novas fontes de recursos, mas também para promover a idéia central do Programa, qual seja a de gerar trabalho e renda para as populações em situação de pobreza. Assim, a Incubadora de Recife tem realizado trabalho conjunto com o PRORENDA (Programa de geração de emprego e renda do Governo Estadual), que já desenvolve trabalho de organização social junto a grupos associativos e poderia promover troca de experiência metodológica, e com o CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica – para promover ações de capacitação nas áreas tecnológicas, como eletricidade, eletrônica etc, além de dar suporte técnico ao grupo de egressos daquele Centro e que estarão formando cooperativa na área de turismo. A Incubadora de Juiz de Fora também firmou parcerias com outras instituições, todas ligadas a ações que buscam propiciar o desenvolvimento de áreas menos favorecidas economicamente. O cooperativismo é sempre o foco de ação, seja através de cursos, seja através do trabalho de mobilização dos grupos interessados. As parcerias ocorrem com Secretarias de Trabalho e Assistência Social, com Associações, Sindicatos, ONGs da região. Com as Secretarias das Prefeituras, o trabalho envolve muitas vezes engajamento em projetos já em execução, como o GERACOOP, onde a Incubadora participou na elaboração do planejamento das ações para a realização de cursos de iniciação ao cooperativismo. O Programa Minas Cooperativa/GERACOOP foi desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho, da Assistência Social, da Criança e do Adolescente promovendo a difusão do cooperativismo, a qualificação profissional destinada ao fomento e implantação de cooperativas e a reciclagem das organizações cooperativas. Trata-se de promoção de cursos, seminários, oficinas etc. cujo conteúdo compreende habilidades básicas (cidadania/ trabalho/cultura), habilidades de gestão (formação básica sobre cooperativismo, associativismo e atividades empreendedoras) e habilidades específicas (conhecimentos técnicos e competências específicas exigidas pelas diversas ocupações).

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A divulgação das atividades, na Universidade e no Município, através dos meios de comunicação, tem dado visibilidade ao trabalho das Incubadoras. Essas ações visam não somente dar conhecimento do que é feito mas também criar novos espaços de oportunidades. A Incubadora da USP também buscou parcerias e, dessa forma, abriu espaços para a venda de produtos das cooperativas incubadas; em parceria com a Superintendência de Trabalho Artesanal nas Comunidades, iniciou cursos de capacitação com o SENAC e aprofundou contatos com o sistema cooperativista oficial e com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, realizando um seminário onde participaram cooperativas ligadas ao sistema OCESP (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo). Tem ainda parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), que desenvolve tecnologia na área de reciclagem. Outros grupos ou instituições também procuraram a Incubadora para trabalhos em conjunto, como a União do Movimentos de Moradia do Estado de SP, o Projeto Bertioga – Município Saudável, a UNICAMP e prefeituras da região. Todas essas parcerias demonstram a conquista de espaço que a Incubadora da USP e o cooperativismo vem adquirindo tanto no interior da Universidade como externamente, afirma o Relatório 2001 daquela Incubadora, que complementa: É importante chamar a atenção para a demanda que vem surgindo em vários desses projetos, que é o de incubar Incubadoras. Grande parte das entidades que procuram a Incubadora é com a demanda de formar técnicos em cooperativismo e criar incubadoras, tanto Universitárias, como a UNICAMP, quanto fora delas, como na prefeitura de Bertioga e no Movimento de Moradia.

A Incubadora da UNEB também buscou parcerias com outras organizações de forma a divulgar suas propostas, como as aulas sobre cooperativismo de trabalho ministradas em um curso de Empreendedorismo organizado pela Pró-Reitoria da UNEB em parceria com a SETRADS – Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social de Salvador. Esses são apenas alguns exemplos das parcerias que as Incubadoras têm estabelecido e que ajudam a dar visibilidade ao trabalho desenvolvido, ao

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tempo em que abrem campos de atuação, espaço para troca de experiências e ajudam na auto-sustentação das próprias incubadoras. Importa, por fim, tratar de um assunto delicado e que foi colocado pela Incubadora da UFRJ no Relatório 2000: Como trabalhar com entidades, instituições e governos de diferentes perspectivas políticas e conseguir, nesse plano de objetivos distintos, manter a mesma linha? Qual o grau de exigência dessas entidades? Qual o nosso grau de autonomia?

A própria equipe aponta o rumo: ”O primeiro caminho é deixar alguns pontos claros, estabelecendo convênios a partir de objetivos muito bem definidos. Em todos eles a inserção social é o objeto, não se colocando em discussão nem a metodologia nem o campo de ação”. Ressalta ainda que muitos convênios colocam em dúvida a capacidade de “executar” da academia, isto é, se a academia responderia com prontidão aos desafios estabelecidos, sob a alegação de que “a academia discute muito e produz pouco”. E conclui: “Em todos os casos um ponto é muito importante: a confiabilidade. Os convênios foram progressivos. A adesão de outros grupos se dá a partir de trabalhos já realizados. Com exceção do Banco do Brasil, da Fundação Banco do Brasil, da FINEP e da articulação do COEP, que investiram em algo que não existia, todos os outros convênios são assinados mediante resultados, e o que eles deixam claro é a necessidade de realização do projeto”. Essa confiabilidade só é adquirida através do trabalho sério e conseqüente, o que as incubadoras sabem fazer muito bem.

6.2.4 Com a comunidade Como já visto acima, o trabalho desenvolvido tem uma pretensão de interferência na realidade social. No entanto, essas ações ainda não estão suficientemente avaliadas, constituindo-se em mais um dos vários campos de estudo possíveis para os estudantes e professores envolvidos, a exemplo das várias teses e monografias que têm sido feitas a partir das ações da Incubadora.

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A Incubadora da UFRPE também confirma que ainda não há trabalho para avaliar esse tipo de impacto, mas entende que já se pode perceber que o desenvolvimento cooperativo está fortemente dependente da relação que as cooperativas estabelecem com movimentos sociais e movimentos populares. O cooperativismo mostra possibilidades de organização popular formadoras de cidadania, onde cada um entra com o que tem de possibilidade e potencialidade e, na riqueza do grupo, desenvolve-se e desenvolve o próprio grupo, criando, portanto, condições de transformação social. É esse fator de desenvolvimento comunitário da cooperativa que deve ser – e é – explorado pelas equipes das incubadoras.

O cooperativismo mostra possibilidades de organização popular formadoras de cidadania, onde cada um entra com o que tem de possibilidade e potencialidade e, na riqueza

6.2.5 Com as outras incubadoras

do grupo, desenvolve-se e desenvolve o próprio grupo,

Os trabalhos de integração entre as Incubadoras se dá de forma permanente, seja através de seminários e encontros, seja no permanente intercâmbio de experiências. O próprio início de cada Incubadora já favorece essa relação, na medida em que há a qualificação inicial da equipe através de um curso de transferência tecnológica ministrado por integrantes da ITCP/COPPE/UFRJ.

criando, portanto, condições de transformação social.

Todas as considerações feitas acerca das potencialidades do

6.2.6 Com as organizações cooperativistas

cooperativismo, especialmente em regiões

Todas as considerações feitas acerca das potencialidades do cooperativismo, especialmente em regiões de baixa renda, evidenciam a importância de promover a confluência com as organizações cooperativistas, como OCEs – Organizações Cooperativistas Estaduais – e OCB – a Organização das Cooperativas Brasileiras. São entidades que representam e defendem o movimento no país, buscando dar-lhe as condições de competitividade e organização imprescindíveis para o sucesso. Enquanto a cooperativa está na Incubadora ela terá todo um apoio técnico, mas após sua desincubação, mesmo tendo um acompanhamento pelos técnicos, necessitará engajar-se no movimento maior das cooperativas nacionais e internacionais.

de baixa renda, evidenciam a importância de promover a confluência com as organizações cooperativistas ...

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As incubadoras devem iniciar essa aproximação, incentivando as cooperativas no contato com as Organizações e no entendimento de que esse relacionamento é fundamental para todas as cooperativas, inclusive as formadas nas incubadoras. Afinal, elas são formadas para agir no mercado, junto com as demais, e, portanto, deverão se integrar ao movimento como um todo, o que implica também em participar das ações mais amplas. Esse relacionamento, inclusive, ocorre desde o início do Programa, pois a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) também participa do Fórum de Cooperativismo, como já visto, o que foi fundamental para a solução de algumas dúvidas que haviam no início sobre a pertinência de se trazer cooperativas para dentro das universidades. Por um lado, perguntavam os integrantes do movimento cooperativista tradicional se cooperativas criadas dentro de universidades não poderia significar uma tentativa de ruptura no movimento. De outro lado, os membros das incubadoras questionavam se manter os elos com o sistema existente não traria para dentro das incubadoras os problemas existentes nas cooperativas já formadas, ou se não significaria redução da autonomia da incubadora na formação das cooperativas. Essas e outras questões foram sendo resolvidas nos inúmeros encontros em que houve participação conjunta e fizeram ver a todos que a parceria – a cooperação – é a melhor solução também aí. As Incubadoras têm oferecido cursos para diversas cooperativas de fora do programa e têm participado ativamente dos congressos, seminários e demais eventos promovidos pelas organizações (OCB e OCEs). Afinal, a luta é a mesma.

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Os grandes desafios

7.1 O caráter inovador da proposta Os grandes desafios enfrentados pelas Incubadoras estão, em primeiro lugar, relacionadas ao caráter inovador do projeto. As questões levantadas são novas, sem referencial anterior. Uma das soluções encontradas foi o constante intercâmbio entre as Universidades que desenvolvem incubadoras, na busca de trocar experiências e desenvolver uma reflexão conjunta.

Os grandes desafios enfrentados pelas Incubadoras estão, em

A Incubadora da UFJF definiu como estratégia a “Capacitação continuada da equipe”. Para isso conta com iniciativas da própria equipe, em reuniões de estudo e na promoção de eventos (palestras, seminários etc.) em parceria com outros núcleos e departamentos da UFJF e/ou com agentes externos. Inclui, ainda, e tem sido fundamental, a participação da Incubadora na Rede Universitária de Incubadoras de Cooperativas Populares (UNITRABALHO) que tem propiciado a troca de experiências e estudos dirigidos para a metodologia implementada, assim como o intercâmbio e participação em Seminários de Transferência de Tecnologia promovidos pelo PRONINC. Mais recentemente, as relações foram ampliadas em debates com associações da região: do PACs – Projetos Alternativos Comunitários, da RELACC -Rede Latinoamericana de Comércio Comunitário, e da CTM -Cooperazione Tezo Mondo. Trata-se, na verdade, da participação da Incubadora numa proposta que estabelece novos parâmetros nos debates sobre relações de trabalho, no âmbito da economia solidária.

primeiro lugar, relacionadas ao caráter inovador do projeto. As questões levantadas são novas, sem referencial anterior. Uma das soluções encontradas foi o constante intercâmbio entre as Universidades que desenvolvem incubadoras, na busca de trocar experiências e desenvolver uma reflexão conjunta.

Outra forma de enfrentamento dos desafios na UFJF é com a formação de um grupo de pesquisadores. Um dos projetos em andamento objetiva, com a participação de um consultor, aprofundar os conhecimentos metodológicos do grupo da incubadora na identificação de demandas para qualificação de mão-de- obra e de oportunidades de negócios voltados para pequenos empreendimentos. Importa referir, ainda, um ponto essencial a tratar quando se fala em trabalhos em comunidades, que é a questão da linguagem: há uma necessidade

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de adequação à linguagem popular (o que a Incubadora de Juiz de Fora chama de “transplante de linguagem da academia para o setor popular”). Esse é o primeiro obstáculo a superar, pois dele dependerá a própria aceitação da equipe pelos grupos com possibilidade de formarem cooperativas e fazerem parte da Incubadora. E vai além da mera comunicação inicial: provoca a construção de toda uma estratégia específica de “formação desses cooperados, de criação de metodologias de ensino/aprendizagem que envolvam elementos de cidadania e cooperação”(UFJF), de adequação a todo um conjunto de símbolos culturais que não fazem parte do cotidiano da Universidade. Outro item vital, que já foi aqui referido, é a questão do “tempo”. A idéia de tempo é diferente para aquele que está desempregado e em busca de solução imediata para seu problema, e para o que tem um “programa” a desenvolver. O que para os membros da equipe pode parecer “curto prazo” pode significar o oposto para os interessados no empreendimento. Este é, talvez, um dos maiores desafios enfrentados pelas equipes das incubadoras: como evitar e/ou como reagir ao esvaziamento do interesse, à instabilidade dos quadros de cooperados, à necessidade de reorganização de alguns grupos? Podemos apontar, também, a própria desigualdade explícita, a exclusão sofrida, as pequenas condições de disputa de mercado que essas populações carregam. São estigmas consolidados em exigências que não podem cumprir, como um simples endereço residencial, por exemplo. A formação do trabalhador e o enfoque cooperativista são também desafios para as equipes das incubadoras. “Há toda uma cultura de subordinação, de baixa auto-estima, de falta de motivação, de ausência de práticas gerenciais, exigindo não só a incorporação de novos conhecimentos mas também de novas atitudes, valores etc que são processos mais lentos e exigem investimentos no cotidiano das ações”. A competição interna é outra dificuldade. Habituados a defenderem seus próprios interesses, na luta pela sobrevivência, é comum deixarem de lado os interesses do grupo ou a busca do sucesso do empreendimento cooperativo. Em casos de ex-autônomos, por exemplo, é ainda presente a reserva dos “clientes pessoais” que não são transferidos para a cooperativa.

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A falta de financiamento às cooperativas constituídas por integrantes de áreas muito pobres é outro fator relevante. É urgente buscar soluções para esse problema, na medida em que, muitas vezes, inviabiliza projetos das cooperativas.

7.2 A inclusão no mercado A conquista do mercado é fator crucial para o início de qualquer empresa nascente e normalmente apresenta desafios, mesmo para trabalhadores e empresários com um determinado nível de qualificação. Essas dificuldades assumem proporções muito maiores quando os trabalhadores são desprovidos da qualificação necessária, optam pela forma associativa de organização e, ainda, enfrentam os problemas impostos pelas condições de vida das comunidades carentes a que pertencem. Foram exatamente essas dificuldades que fizeram agregar ao projeto as universidades, como fontes de disseminação de conhecimentos e reflexão teórica, visando dotar esses grupos de um diferencial positivo.

A conquista do mercado é fator crucial para o início de qualquer empresa nascente e normalmente apresenta desafios, mesmo para trabalhadores e empresários com um determinado nível de qualificação. Essas dificuldades assumem proporções muito maiores

Mas além desse diferencial é necessário, muitas vezes, um apoio mais concreto. A própria COOTRAM (a cooperativa cuja história contamos no início deste trabalho) teve esse apoio inicial para ingresso no mercado quando a FIOCRUZ, em decorrência de um projeto de pesquisa das relações de trabalho coordenado pela Universidade Aberta, passou para a cooperativa todas as atividades de limpeza interna e externa da Fundação. Isso não se deu sem traumas, pois a empresa que executava essas atividades questionou a forma de contratação e tentou impedir a entrada da cooperativa.

quando os trabalhadores são desprovidos da qualificação necessária, optam pela forma associativa de organização e, ainda, enfrentam os problemas impostos pelas condições de vida das comunidades carentes a que pertencem.

Sem alongar nesse assunto, cabe ressaltar esse dificultador: as cooperativas populares ingressam em área de trabalho disputada. É no mercado que elas têm que sobreviver e o mercado jamais será “piedoso”: as disputas econômicas são ferozes e, em se tratando de atividades sem maior qualificação – como serviços de limpeza ou serviços gerais – a luta envolverá algumas empresas antigas nesse mercado e tradicionalmente exploradoras de mão-de-obra pouco qualificada, que cobram caro do contratante e repassam o mínimo para os empregados. Entrar com uma proposta de

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auto-gestão desses trabalhadores, com custos menores para as empresas contratantes e uma divisão de resultados para os trabalhadores maior que o salário que receberiam de empregadores tradicionais, é, sem dúvida, mexer em área muito delicada. Na fase referente à “delimitação da atuação do empreendimento”, já se abordou a importância de mapear bem o espaço em que se atuará, delimitando as áreas mais propícias à obtenção de trabalho, mas é importante ressaltar esta questão, até porque não se esgota naquela etapa. Ali, como visto, é feita uma primeira avaliação sobre as potencialidades da região e as habilidades existentes no grupo, de forma a delimitar o que a cooperativa fará. Mas todas as Incubadoras alertam para as dificuldades que os empreendimentos têm de ingressar no mercado para buscar espaço. A Incubadora da UFRJ aponta as atividades de limpeza e manutenção nas unidades hospitalares públicas como uma das áreas mais procuradas, sendo que as cooperativas formadas na Incubadora estão trabalhando, por exemplo, nos hospitais universitários da UFRJ e da UERJ. A Incubadora da UFRPE considera a inserção no mercado como uma das etapas mais difíceis de superar, em vista de vários fatores. As exigências impostas pelos contratantes (experiência, por exemplo), muitas vezes acabam inviabilizando a contratação da cooperativa. Além disso, os tomadores de serviço desconhecem as cooperativas e o próprio mercado desconhece o Programa Incubadora, o que cria desconfiança em relação ao empreendimento (isso, aliás, reforça a necessidade de investir no contato com a comunidade e na propaganda). A concorrência acirrada também é um dificultador e as empresas do mesmo segmento tentam dificultar a entrada das cooperativas no mercado. Esses fatos reforçam a importância da Incubadora nesse processo: ela age como articuladora, promovendo encontros, participando de eventos e fóruns de discussão, divulgando o sistema. “Não são apenas as cooperativas e os trabalhadores que precisam se preparar melhor para o tipo de trabalho que desenvolvem: os próprios tomadores de serviços, os empresários, os dirigentes das instituições públicas, também não estão preparados para lidar com esses trabalhadores cooperativados” (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO, 2000).

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7.3 Algumas mudanças necessárias para o êxito de empreendimentos cooperativistas Existem alguns dificultadores inerentes às relações de trabalho em uma cooperativa, na medida em que os componentes não estejam acostumados a uma participação ativa nos destinos do empreendimento. Essas dificuldades ocorrem por vários motivos, mas cabe apontar 2 necessidades fundamentais de mudança:

7.3.1 A mudança da cultura de “emprego” para a de “trabalho”

É justamente aí que entram os benefícios criados pelas

Vários relatos das incubadoras apontam essa necessidade. É, sem dúvida, um tema delicado, cuja análise mais detalhada foge do escopo deste trabalho. Na afirmação da UFRJ, em seu Relatório/2000, “não conhecemos um cooperado que tenha abandonado uma carteira assinada para entrar numa cooperativa e temos a certeza de que, se tivesse oportunidade de escolher, não abriria mão da carteira”, mas todos têm claro que o problema é justamente a falta de emprego. Por isso, a incubadora optou pelo grupamento alijado do mercado de trabalho, isto é, aqueles que já estão fora desse mercado e buscam na cooperativa uma forma de obter renda através de um trabalho digno e amparado por uma forma organizacional diferente da carteira de trabalho tradicional. Um dos grandes desafios das cooperativas, e das Incubadoras em especial, é justamente mostrar que, como afirma a UFRJ, “Não é porque está na CLT que se tem direito, nem porque não é mais regido pela CLT que perde o direito. O estatuto é um acordo entre eles para gerir a empresa. É a legislação trabalhista deles e vai ter que se transformar também no acúmulo das conquistas históricas desses trabalhadores”.

cooperativas e que se justificam pela necessidade de uma maior segurança social, como Fundos Sociais que propiciem o descanso remunerado, a gratificação natalina e outros benefícios que os cooperados entendam necessários ou importantes.

É justamente aí que entram os benefícios criados pelas cooperativas e que se justificam pela necessidade de uma maior segurança social, como Fundos Sociais que propiciem o descanso remunerado, a gratificação natalina e outros benefícios que os cooperados entendam necessários ou importantes.

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7.3.2 O fim da “cultura da submissão” Intimamente relacionado ao item acima, na verdade o que se precisa para um empreendimento cooperativista funcionar em bases efetivamente cooperativistas é o fim da cultura de submissão. Para isso, é preciso conhecer seus direitos, para poder cobrá-los e exercê-los em plenitude. O cooperado participante de um empreendimento bem estruturado que busca a Justiça de Trabalho alegando vínculo empregatício ou o faz por má fé ou não foi suficientemente esclarecido. O que as Incubadoras fazem é tentar assegurar esse esclarecimento.

Quem se entende “dono” de um negócio e age como tal não alega vínculo com ninguém, porque sabe que o sucesso ou insucesso depende dele mesmo.

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Quem se entende “dono” de um negócio e age como tal não alega vínculo com ninguém, porque sabe que o sucesso ou insucesso depende dele mesmo. Os problemas aparecem, muitas vezes, ainda na Incubadora, o que é bom, pois possibilita um desafio para a equipe no sentido de interargir com o grupo e propor mecanismos democráticos de superação. A Incubadora de Recife (UFRPE), por exemplo, aponta que houve o surgimento da tendência à centralização de poder, ocasionando conflitos internos, em uma das suas cooperativas incubadas, mas ressalta que, auxiliados pelos técnicos da incubadora, os membros do grupo enfrentaram e superaram o problema, que acabou servindo como mais uma experiência de aprendizagem e amadurecimento.


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O sonho e as questões concretas

8.1 A evolução do Programa Incubadora de Cooperativas Os grandes desafios que surgem para as Incubadoras iniciam com sua própria sustentação. Uma das alternativas já utilizadas são as parcerias que, como vimos acima, podem trazer recursos financeiros, seja em projetos de curto, médio ou longo prazos com prefeituras e organizações locais, seja disponibilizando capacitações pontuais para cooperativas não participantes da Incubadora, seja obtendo financiamentos junto a órgãos interessados no desenvolvimento da temática do cooperativismo através do processo de incubação. No entanto, as opções ainda não são as ideais, pois o processo de incubação requer, sobretudo, tempo – tempo para que as cooperativas comecem a se firmar, tempo para que obtenham espaço no mercado, tempo para que tenham retorno financeiro. E as incubadoras, em si, também precisam desse tempo – para investir em levantamentos sociais, para as abordagens de campo (como vimos, nem sempre fáceis), para as pesquisas, para os trabalhos científicos. E tempo significa recursos – para pagar os técnicos, as despesas de material e equipamentos etc. “A questão da sustentabilidade financeira das incubadoras não deve pôr em risco a continuidade desse processo”, alerta a incubadora da UFRPE. Todas as outras incubadoras afirmam o mesmo: o processo tem demonstrado sua validade, sua significância social; não pode, pois, sofrer descontinuidade.

Os grandes desafios que surgem para as Incubadoras iniciam com sua própria sustentação. Uma das alternativas já utilizadas são as parcerias que, como vimos acima, podem trazer recursos financeiros, seja em projetos de curto, médio ou longo prazos com prefeituras e organizações locais, seja disponibilizando capacitações pontuais para cooperativas não participantes da Incubadora, seja obtendo financiamentos junto a órgãos interessados no desenvolvimento da temática do cooperativismo através do processo de

A ITCP/UNEB, no seu Relatório/2001, defende a ampliação da atuação da Incubadora, voltando-se para o desenvolvimento local, integrado e solidário, com ações como projetos de elevação de escolaridade, pesquisas tecnológicas específicas que contemplem os recursos e potencialidades locais, programas governamentais envolvendo as diversas cadeias produtivas e de comercialização de bens ou serviços. Embora não descartando a prestação de serviços como atividade emergencial, entende que deve privilegiar a capacitação dos grupos incubados na perspectiva de estruturar unidades de produção, por entender que essa alternativa assegura autono-

incubação.

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O sonho e as questões concretas

8.1 A evolução do Programa Incubadora de Cooperativas Os grandes desafios que surgem para as Incubadoras iniciam com sua própria sustentação. Uma das alternativas já utilizadas são as parcerias que, como vimos acima, podem trazer recursos financeiros, seja em projetos de curto, médio ou longo prazos com prefeituras e organizações locais, seja disponibilizando capacitações pontuais para cooperativas não participantes da Incubadora, seja obtendo financiamentos junto a órgãos interessados no desenvolvimento da temática do cooperativismo através do processo de incubação. No entanto, as opções ainda não são as ideais, pois o processo de incubação requer, sobretudo, tempo – tempo para que as cooperativas comecem a se firmar, tempo para que obtenham espaço no mercado, tempo para que tenham retorno financeiro. E as incubadoras, em si, também precisam desse tempo – para investir em levantamentos sociais, para as abordagens de campo (como vimos, nem sempre fáceis), para as pesquisas, para os trabalhos científicos. E tempo significa recursos – para pagar os técnicos, as despesas de material e equipamentos etc. “A questão da sustentabilidade financeira das incubadoras não deve pôr em risco a continuidade desse processo”, alerta a incubadora da UFRPE. Todas as outras incubadoras afirmam o mesmo: o processo tem demonstrado sua validade, sua significância social; não pode, pois, sofrer descontinuidade.

Os grandes desafios que surgem para as Incubadoras iniciam com sua própria sustentação. Uma das alternativas já utilizadas são as parcerias que, como vimos acima, podem trazer recursos financeiros, seja em projetos de curto, médio ou longo prazos com prefeituras e organizações locais, seja disponibilizando capacitações pontuais para cooperativas não participantes da Incubadora, seja obtendo financiamentos junto a órgãos interessados no desenvolvimento da temática do cooperativismo através do processo de

A ITCP/UNEB, no seu Relatório/2001, defende a ampliação da atuação da Incubadora, voltando-se para o desenvolvimento local, integrado e solidário, com ações como projetos de elevação de escolaridade, pesquisas tecnológicas específicas que contemplem os recursos e potencialidades locais, programas governamentais envolvendo as diversas cadeias produtivas e de comercialização de bens ou serviços. Embora não descartando a prestação de serviços como atividade emergencial, entende que deve privilegiar a capacitação dos grupos incubados na perspectiva de estruturar unidades de produção, por entender que essa alternativa assegura autono-

incubação.

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mia e independência dos grupos enquanto empreendimentos coletivos autogestionários.

8.2 Como sair do sonho e transformar a realidade: o desafio de conciliar a realidade e os sonhos Como se pode depreender dessa pequena viagem pelos caminhos de construção das Incubadoras de Cooperativas, são muitas as dificuldades mas, também, são inúmeros os aspectos positivos desse caminhar. A partir dos relatos das próprias incubadoras e dos parceiros envolvidos, vimos, dentre outras, as seguintes oportunidades concretas: 1 Para a Universidade: permite maior aproximação dos alunos com a realidade, ao tempo em que abre novos campos de pesquisa e uma forma nova de intervenção social dissociada de paternalismo ou assistencialismo. Sob o aspecto pedagógico, traz uma nova metodologia de formação profissional e permite o desenvolvimento da metodologia da autogestão; 2 Para os trabalhadores: promove a inserção no mercado e na economia formal, despertando para uma nova perspectiva do mundo do trabalho. Promove, ainda, o surgimento/desenvolvimento de uma consciência crítica acerca da realidade vivenciada; 3 Para o Poder Público: fornece subsídios para a formulação de políticas públicas capazes de inserir setores excluídos, dando respostas concretas à crise do emprego formal; 4 Para o cooperativismo: fornece uma visão diferenciada de cooperação, porque envolve o despertar do interesse pelo movimento através da ação de agentes preparados para tal, ao invés de aguardar a organização espontânea dos grupos. Mas é claro que as Incubadoras não se restringem a tais aspectos. A realidade concreta é sempre mais rica. O importante é acreditar que é possível e agir para isso, como naquela fábula que o Betinho gostava tanto de contar, onde o beija-flor querendo apagar o incêndio da floresta, afirmava que o que importa é que cada um faça a sua parte.

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Depoimentos

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O Banco do Brasil e o Projeto Incubadoras de Cooperativas Populares Novos caminhos para o cooperativismo Já com tradição consolidada no atendimento às cooperativas rurais, a partir da década de 90, o Banco do Brasil, com a criação de uma Gerência específica para o Sistema Cooperativista, passou a apoiar de maneira mais efetiva, segmentos diversos do cooperativismo, com enfoque especial para as áreas de ensino e trabalho. Rurais ou Urbanas, as cooperativas têm recebido atenção personalizada. Uma das principais características dessa nova política foi o direcionamento de esforços para apoiar o desenvolvimento do cooperativismo na área urbana, visando à manutenção e criação de postos de trabalho e geração e democratização da renda e, em particular, a integração ao mercado de trabalhadores das camadas de baixa renda em condições que propiciem melhores condições de vida. Um dos projetos desenvolvidos nessa área foi a organização da comunidade na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro, em parceria com a FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz e com o COEP – Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida. O Banco apoiou a criação de uma cooperativa de prestação de serviços que além de gerar, imediatamente, mais de 200 postos de trabalho, possibilitou quase que duplicar a renda dos trabalhadores e consequentemente, reduzir o custo da FIOCRUZ com serviços. A Cooperativa passou a atuar como indutora da organização da comunidade para o desenvolvimento de outras atividades e gerou mudanças significativas no clima social da comunidade contribuindo para melhorar o relacionamento da mesma com a própria FIOCRUZ. A partir dessa experiência e com os bons resultados obtidos, começou a ser discutida a possibilidade e a importância de se realizar um trabalho com maior amplitude, surgindo, assim, a idéia de incubadoras de cooperativas, com metodologias específicas, em face das peculiaridades desses empreendimentos. Para que isso fosse possível era preciso identificar e envolver outras instituições com perfil para participarem do Projeto. Assim, juntamente com a FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos, a FBB - Fundação Banco do Brasil, a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Ministério do Trabalho foi criado o PRONINC – Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas Populares.

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O Programa tem como objetivo a formação e capacitação de cooperativas populares inserindo-as nos processos produtivos e no mercado formal com o apoio e acompanhamento de uma Universidade Federal. Por meio dessas ações, o Banco do Brasil deixa claro o seu apoio e confiança no cooperativismo. O Banco acredita que o movimento, em suas várias formas, é alavanca propulsora do desenvolvimento sócio-econômico do País. José Branisso Gerente Executivo da GENAG/BB – Gerência de Estruturação de Negócios Agroindustriais do Banco do Brasil

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A COPPE e a Incubadora de Cooperativas Populares

Vivemos numa sociedade desigual, com pessoas muito pobres, sem meios de subsistência, em um modelo de desenvolvimento que concentra a renda e aumenta a exclusão social, onde o combate à miséria, mais do que uma questão de conhecimento, é uma questão política. Com o Projeto Incubadora de Cooperativas Populares, a COPPE desempenha uma de suas funções – a de instituição pública – não restrita apenas à Academia ou ao desenvolvimento de tecnologias de ponta, que acabam, quase sempre, privilegiando uma parcela mais favorecida da sociedade, com melhores condições de se beneficiar dessas inovações. A proposta teve origem nas conversas que tínhamos o Betinho, André Spitz e eu, no início dos anos 90, e que puderam ser concretizadas nessa iniciativa. A COPPE já tinha uma história de atuação em questões de interesse social e com esse Projeto ela conseguiu levar isso muito mais a frente. Nessa trajetória, não posso deixar de registrar o importante papel que teve na COPPE o professor Miguel de Simoni, da Engenharia de Produção, falecido há pouco tempo, um dos que contribuíram para a implementação da Incubadora de Cooperativas Populares. A idéia de que a Universidade deve atender à sociedade de um modo mais amplo foi contemplada com a Incubadora, que teve por objetivo principal a transferência do conhecimento existente na COPPE para faixas da população de baixa renda, em busca de meios de trabalho e de sobrevivência. Não há muita dificuldade em mobilizar técnicas para enfrentar esse desafio. As tecnologias úteis para a população existem, estão na prateleira, necessitando apenas para colocá-las em prática de alguma adaptação, de alguma nova idéia. O que falta, sim, é uma política não só da Universidade mas, também, do governo, das organizações da sociedade, que têm que se mobilizar para que as populações mais pobres possam ter acesso a essas tecnologias. O COEP é um exemplo de que isto é possível. Nesse processo, é importante criar uma consciência de luta, de conquista e de organização para mudar uma situação totalmente injusta, eliminando quaisquer resquícios de paternalismo. Geramos, assim, brechas para começar a reverter o quadro social e de conscientizar as pessoas. O PRONINC é uma dessas brechas, desde que o cooperativismo seja politizado. Ou as pessoas tomam consciência de que elas fazem parte de um todo ou cria-se a ilusão de que soluções pequenas possam proliferar sem

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outras mudanças políticas sociais e econômicas. Poderão apenas continuar pequenas. Para proliferarem elas têm que contemplar o caráter político do enfrentamento da ordem desigual. Nesse sentido, o COEP, articulando organizações para a implementação de projetos como o PRONINC, é um belo exemplo de que é possível atuar no combate à fome e às desigualdades sociais. Luíz Pinguelli Rosa Diretor da COPPE

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Inovação para o Desenvolvimento Social

Viabilizar o surgimento e a implementação de inovações que contribuam para o desenvolvimento da sociedade se constitui no foco de ação da FINEP. E é nesse contexto que se insere o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares/PRONINC, através do qual se procurou introduzir e aperfeiçoar uma experiência inovadora de organização de comunidades carentes, demonstrando sua viabilidade. Acreditar em ações ainda não experimentadas no contexto brasileiro, assumindo o risco de um eventual fracasso, se constitui em prática diária da ação da FINEP. Mas os casos de sucesso, como o alcançado com a implementação do PRONINC, são a comprovação de que soluções inovadoras nos permitem andar mais rápido e atingir com maior eficiência os objetivos pretendidos. A transferência do conhecimento dos seus produtores para os usuários, unindo a academia (as universidades), o governo (os diversos organismos envolvidos) e a sociedade (comunidades participantes) se constitui em poderoso instrumento para a aceleração do processo de desenvolvimento econômico e social. De fato, a geração de novos postos de trabalho tem se constituído em motivo de grande atenção no âmbito das políticas públicas nos anos recentes, ocupando espaço central nas preocupações dos formuladores e implementadores dessas políticas. O PRONINC veio se constituir em mais um instrumento dessas políticas, permitindo que pessoas à margem do mercado formal de trabalho, com escassas possibilidades de nele se integrarem, recuperem sua auto estima e sua dignidade, se qualifiquem e encontrem um caminho para garantir seu próprio sustento e de sua família. O sucesso da experiência pode ser medido pelo interesse despertado nos mais variados meios e pela difusão expontânea do modelo que se seguiu à implantação das primeiras incubadoras. A difusão do tema economia solidária nos meios acadêmicos e a forte demanda exercida sobre a FINEP e demais parceiros do Programa no sentido de apoiar, financeira e tecnicamente, iniciativas similares junto a outras universidades, escolas técnicas, prefeituras, programas de governo, dentre outros, são indicadores dos bons resultados obtidos. Nesse processo, o COEP tem se constituído em importante instrumento para a formação das parcerias necessárias à conjugação de esforços de diferentes atores, demonstrando, mais uma vez, que a realidade pode ser efetivamente transformada se e quando pessoas/entidades são capazes de se unir em torno de um objetivo comum. Maria Lúcia Horta de Almeida Superintendente da Área de Instituições de Pesquisa da FINEP

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Tecnologia Social a Serviço do Cooperativismo

Disseminar experiências e conhecimentos capazes de gerar efetiva transformação social. É assim que a Fundação Banco do Brasil hoje busca as soluções possíveis na mesma escala em que acontecem os problemas sociais do país. São as tecnologias sociais: idéias simples, testadas e aprovadas, capazes de resolver questões sociais das mais diversas áreas. Esse é o foco do investimento da Fundação, que acredita ser esta a melhor forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades. A participação em iniciativas como o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares revelou-se fundamental para a consolidação do posicionamento atual da Instituição. Isso porque, além de melhorar as condições de vida do trabalhador e proporcionar geração de trabalho e renda, esse projeto ofereceu a oportunidade para a Fundação transferir a tecnologia de incubagem de cooperativas populares. Outro aspecto relevante foi a mobilização de diversas instituições para viabilizar o projeto: Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE/UFRJ, Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, Banco do Brasil, Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida - COEP e Programa Comunidade Solidária. Em uma segunda etapa, priorizou-se a disseminação da metodologia. As universidades federais do Ceará, de Juiz de Fora e Rural de Pernambuco e as estaduais da Bahia e de São Paulo implantaram suas próprias incubadoras de cooperativas populares, com o objetivo de multiplicar essa tecnologia. Além dos resultados já alcançados, fica o exemplo do que a união de esforços em torno de uma causa social é capaz de produzir. A parceria demonstra que o caminho na busca de alternativas para o país passa pela mobilização de vários atores sociais - aí incluídos o governo e a sociedade civil. Afinal, se os problemas são de todos nós, precisamos também ser o sujeito da ação de transformar a realidade social do Brasil. É nisso que acreditamos. José Fernando Romano Furné Diretor Executivo de Gestão da Fundação Banco do Brasil

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP/UNEB Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

A INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES – ITCP, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB está vinculada à Pró-Reitoria de Extensão através do Programa de Tecnologias da Habitação – THABA, como um projeto de pesquisa e extensão. Constitui-se num espaço de geração e disponibilização de conhecimentos, na interação direta com grupos formados por trabalhadores desempregados ou que sofram precarização em suas formas de ocupação no mercado para, num processo educativo, criar oportunidades de trabalho e renda através da estruturação de formas solidárias de produção. A ITCP surge de um processo iniciado pelo THABA em 1975, no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento do Estado da Bahia – CEPED. Enquanto programa do CEPED o THABA caracterizava-se pelo desenvolvimento de pesquisas tecnológicas, priorizando a utilização de insumos locais dando ênfase aos materiais renováveis e aos resíduos agro-industriais e os novos usos para os materiais endógenos. na identificação de alternativas apropriadas para a habitação popular. A transferência do THABA para a UNEB possibilitou a sua atuação em projetos de extensão voltados para as comunidades de baixos recursos, ainda na área de habitação. Durante essa experiência tornou-se claro para a equipe que, embora a conquista da morada digna proporcionasse às pessoas sentimentos de pertinência social, dignidade humana, era necessária a busca pelo trabalho e renda que possibilitasse a essas pessoas o acesso a outros benefícios que lhes proporcionasse a satisfação de outras necessidades, além da moradia. Assim, o lançamento do PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares - em maio/98, propiciou ao THABA, a oportunidade de desenvolver um projeto, cuja proposta de trabalho e renda através da incubação de cooperativas populares harmonizava-se com os princípios que nortearam as pesquisas do THABA no CEPED. A Incubadora se apresentava como um grande desafio onde tudo era novo e precisava ser construído: os princípios e premissas, a metodologia, a nova equipe multidisciplinar, a experimentação da multidisciplinaridade, as parcerias. Havia uma preocupação constante, durante o processo de mobilização dos grupos, em não se criar expectativas para ações que não tivessem garantia de continuidade. O caráter inovador dessa proposta de incubação exigia uma abrangência de parcerias e, neste sentido, a contribuição dos professores das diversas áreas do conhecimento, tanto da UNEB quanto de outras universidades, de trabalhadores que atuam na área da educação popular, além da equipe multidisciplinar do projeto foi de fundamental importância para a construção da metodologia da ITCP.

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Como parceiros do projeto, a CUT - Central Única dos Trabalhadores, a ADS - Agência de Desenvolvimento Solidário - ADS, o Núcleo de Estudos sobre o Poder Local – NEPOL, da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia têm contribuído para a execução da proposta de incubação no que se refere à viabilização de recursos necessários à concretização dos empreendimentos econômicos solidários, à capacitação dos grupos para a autogestão de seus empreendimentos e para o desenvolvimento da atividade econômica planejada propiciando, também, a troca de experiências, avaliação processual, reorientação da metodologia e ampliação das ações. A integração da ITCP/UNEB à Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, permite o intercâmbio de experiências entre equipes de ITCP’S e destas com todas as universidades participantes, orientando e organizando o processo de incubação, como princípio básico de um modelo inovador de economia popular solidária. O fortalecimento da Rede de Incubadoras é também um meio que garante a inserção econômica dos grupos incubados, através da criação de mecanismos independentes de comercialização, financiamento e formação. Este processo desenha, portanto, no cenário nacional, um modelo alternativo de Economia cujo princípio é a relação solidária. A experiência da ITCP-UNEB tem se voltado para as cooperativas de produção. Tentou-se, inicialmente, viabilizar mercado para as cooperativas incubadas, na própria UNEB, na área de serviços gerais, a exemplo do que ocorreu na UFRJ e em outras Universidades. Entretanto esta tentativa não logrou êxito em razão das limitações impostas por normas estaduais de licitação referentes à contratação de serviços. Posteriormente, buscaram-se outras opções de contrato nessa área, dificultadas mais uma vez pelo monopólio dessa atividade pelas empreiteiras do ramo, levando a equipe da ITCP a refletir sobre qual o mercado mais apropriado para a sustentabilidade desses empreendimentos coletivos. As discussões nos grupos se encaminhavam, por sua vez, para as cooperativas de produção, nas áreas de alimentos e reciclagem. Estas apareciam com maiores possibilidades de propiciar a criação de novos postos de trabalho e a autonomia dos empreendimentos, com o controle sobre o seu processo produtivo e, por isso, condições mais favoráveis para assegurar e conservar a coesão grupal, característica fundamental para a ação da cooperativa. Outro fator que favorece a opção por cooperativas de produção é a possibilidade da inovação tecnológica com o desenvolvimento de projetos de pesquisa. Na busca de mercado, uma cooperativa que oferece um produto diferenciado terá mais chances de sucesso e a dimensão tecnológica assume, aí, um papel fundamental. Vale ressaltar, aqui, o papel da universidade pública na interação com as comunidades para o desenvolvimento de projetos específicos em atendimento às suas demandas. Com esse propósito a UNEB, através do THABA, está desenvolvendo, junto com um dos grupos incubados, a COOPERJOVENS – Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal, um projeto de pesquisa com

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apoio da FINEP, Programa HABITARE e do Banco do Nordeste – ETENE/FUNDECI, para a produção de componentes de edificações de argamassa reforçada com fibras de sisal, retomando, assim, pelo THABA essa linha de pesquisa. A ITCP/UNEB acompanha, atualmente: a COOFE – Cooperativa Múltipla Fontes de Engomadeira que produz pães e derivados, comercializando no próprio bairro, implementando ações para ampliação das vendas dos seus produtos; a COOPERTANE – Cooperativa Múltipla União Popular dos Trabalhadores de Tancredo Neves que está estruturando uma unidade de produção artesanal de papel reciclado e artefatos; o Grupo PróCooperativa de Cajazeiras que está em processo de formação para a produção de artefatos de couro; A COOPTEEBA – Cooperativa dos Trabalhadores do Setor Energético do Estado da Bahia, constituída por trabalhadores egressos do setor elétrico, atualmente com contratos de prestação de serviço; a AATC – Associação Alternativa dos Trabalhadores Cegos que definiu, como atividade, a produção de brinquedos e jogos educativos em EVA (emborrachado) estando, em desenvolvimento, projeto de uma prensa simplificada específica para o uso por pessoas cegas e uma pesquisa de demandas nas escolas; a COOPERJOVENS – Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal integrada, na sua grande maioria, por filhos de agricultores de 13 municípios da região que desenvolve, atualmente, a produção artesanal de papel reciclado e artefatos como atividade a curto prazo – a longo prazo vão produzir componentes de edificações de argamassa reforçada com fibras de sisal. Ao longo de três anos a ITCP/UNEB construiu sua metodologia de trabalho com enfoque no ser humano, como o verdadeiro centro de atenção do crescimento, do desenvolvimento e da sustentabilidade humana. Sua concepção pedagógica, voltada para o desenvolvimento local, se estrutura sobre a prática, sobre o fazer, sobre uma aprendizagem ativa, na qual as informações e os conteúdos conceituais e metodológicos têm origem na realidade social, econômica e cultural das comunidades e dos grupos apoiados. Fundamentalmente, esse projeto justifica-se no esgotamento dos modelos de desenvolvimento que dissociaram o trabalho da vida e que possuem, como premissa, o individualismo, em oposição a possibilidades de produção e apropriação coletiva dos resultados do trabalho. Equipe da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UNEB

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Universidade do Estado do Ceará (UFC) Cooperativas populares e empreendimentos sociais produtivos: a autogestão que gera cidadania A história da Incubadora de Cooperativas Populares e de Empreendimentos Sociais de Autogestão do Ceará remonta à criação de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares articulada pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (COEP) e consolidada pelo Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas Populares - PRONINC. As referidas iniciativas foram implementadas com o objetivo de propor ações concretas para enfrentar o desemprego, a precarização do trabalho, decorrentes de um cenário de exclusão social agravado pelo recente processo de reestruturação produtiva por que passa o setor industrial brasileiro. Em agosto de 1997, a UFC estimulada pelo COEP-Ceará, consubistanciou parceria com a FINEP e a Fundação Banco do Brasil pela qual tornou possível o processo de implementação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares do Ceará, Inspirada na Cooperativas dos trabalhadores de Manguinhos - FIOCRUZ e na ITCP da COPPE-UFRJ. A metodologia de Incubação de cooperativas, associações produtivas e grupos de produção, organizados na lógica da autogestão, em desenvolvimento na Incubadora de Cooperativas Populares e de Empreendimentos Sociais de Autogestão do Ceará - UFC, parte da premissa da necessária mudança da cultura que permeia o atual mundo do trabalho e o cooperativismo tradicional. Ambos fundam-se, cada uma a sua forma, no trabalho subordinado e não na pluralidade da realidade atual da divisão do trabalho, que cada vez mais, exige uma postura pró-ativa diante das adversidades do mercado e ao mesmo tempo que realça a importância da participação, da gestão democrática da riqueza construída socialmente, como diferencial sócio-econômico de um empreendimento de autogestão, constituído na confiança mútua, competência técnica e distribuição de renda. Sendo assim, a exigência de tornar sólida as bases de um “ novo cooperativismo” ético socialmente, e economicamente viável, exige um processo de habilitação/qualificação permanente da força de trabalho, sedimentando uma cultura empreendedora e autogestionária, superando as inúmeras barreiras à entrada e permanência no mercado; sendo, portanto, um processo contínuo cujo resultado efetivar-se-á a médio e longo prazos. O cooperativismo promovido pela Incubadora-UFC se assenta em uma premissa básica: o desenvolvimento de um modelo autogestionário, construído na perspectiva do Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável, destinado a beneficiar grupos profissionais e comunitários através da sua integração ao mercado de trabalho. Entre outros beneficiários destacam-se – desempregados e excluídos do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza e demais municípios do Ceará; os “novos excluídos” demitidos de empresas públicas recentemente privatizadas, trabalha-

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dores precarizados que prestam serviços já terceirizados, membros de associações com potencial para o trabalho coletivo em cooperativas de produção e trabalho. A experiência vivida pela Incubadora-UFC tem indicado que, não existe um modelo definitivo de cooperativismo autogestionário e de empreendimento social produtivo a ser reproduzido indiferente às características do grupo de trabalhadores e do tipo de empreendimento. Ao contrário, a autogestão é resultado de uma ação reflexiva de sujeitos ativos, que se propõem pensar e agir diante de um determinado contexto da organização do trabalho. Sendo assim, a ação da Incubadora-UFC orienta-se por algumas premissas:

Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável: Esta perspectiva de desenvolvimento se apresenta como uma das mais adequadas para quem deseja adotar um modelo de desenvolvimento integral, baseado na autogestão para a autonomia, no empreendedorismo cooperativo e na economia solidária.

• Cooperativismo Empreendedor e Autogestionário: Nesta ótica, os cooperados assumem simultaneamente os papéis de trabalhador/proprietário/empreendedor, constituindo uma combinação da iniciativa empresarial com a força de trabalho, num processo autogestionário de cooperação, solidariedade e eficácia. A construção do princípio da autogestão para a autonomia, pressupõe o desenvolvimento da capacidade de empreender, tanto para criar um espaço propício para o desenvolvimento das habilidades, vocações e potencialidades individuais como para buscar soluções que melhorem o desempenho da cooperativa. A necessidade da transformação dos cooperados em empresários de seu próprio trabalho requer uma revolução cultural , que substitua o trabalho subordinado pela sócio-autonomia criadora. A incorporação do princípio da cooperação e o desenvolvimento de mecanismos para sua operacionalização como estímulo ao espírito empreendedor autogestionário, devem assegurar um horizonte econômico, que inclua outras variáveis orientadoras da vida em sociedade: a realização pessoal, o lazer, a felicidade e o potencial de inovação e criatividade.

Geração de Trabalho e Distribuição de Renda como Promoção da Cidadania: Este princípio move os empreendimentos sociais pautados na Economia Solidária para uma nova visão da dimensão “pública” da economia e da vida em sociedade; permite a construção de um enfoque que vá além do tradicional dualismo público x privado; inaugura uma ética de fundo comunitário que transcende as atuais relações passivas ou meramente “reivindicatórias” das organizações junto ao Estado; torna o grupo empreendedor capaz de vincular-se às iniciativas “espontâneas” da Sociedade, dinamizando-as e solidificando-as.

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Ao longo dos 5 (cinco) anos de existência da Incubadora, foram constituídos 35 grupos, dos quais 20 estão plenamente organizados e legalizados na forma de cooperativas, entre estas, 4 (quatro) já foram graduados, concluíram todo o ciclo do processo de incubação. As 20 (vinte) Cooperativas legalizadas somam um total de 1.298 cooperados aptos ao mercado; o número total de associados das 04 ( quatro) cooperativas Graduadas somam 818 cooperados, o que corresponde a 59,93 % da totalidade dos cooperados, que compõem as cooperativas incubadas, exercendo suas atividades profissionais. Do universo geral das cooperativas que fazem parte do Programa de Incubação de Cooperativas Populares somente 2 foram desincubadas, por não seguir os compromissos previamente assumidos, correspondendo a 65 cooperados que deixaram de receber a assessoria da Incubadora, o que equivale a 5,42 % dentro do período de dois anos de trabalho intensivo. Atualmente, a Incubadora-UFC passa por um processo de ampliação de suas finalidades e brevemente passará a aceitar para o processo de incubação, associações produtivas, grupos de produção familiar e empreendimentos sociais informais. Osmar de Sá Ponte Júnior Coordenador da Incubadora de Cooperativas Populares da UFC

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - INTECOOP Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Juiz de Fora é um programa de extensão que apóia a formação de cooperativas populares, como uma das formas de geração de trabalho e renda. A INTECOOP/ UFJF significa para nós mais do que um projeto, o compromisso de garantir, aos grupos populares excluídos do mercado, o acesso à renda, através do trabalho em cooperativas . Atualmente são dez cooperativas incubadas acompanhadas no cotidiano e participantes de um processo formativo continuado, além de vários outros grupos assessorados em situações pontuais pela equipe da INTECOOP. Participam deste programa docentes, discentes e técnicos oriundos de várias áreas do conhecimento, tais como: Direito, Serviço Social, Economia, Administração, Comunicação Social, Psicologia, Educação, Arquitetura, Engenharia da Produção, Ciências Sociais entre outras. O programa é desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora recebendo financiamentos da Secretaria de Estado do Trabalho, da Assistência Social, da Criança e do Adolescente do Estado de Minas Gerais e da Financiadora de Estudos e Projetos. A mudança no paradigma das relações de trabalho é o grande desafio que a Incubadora vem enfrentando junto aos grupos incubados – abandonar a cultura da subordinação, da submissão e adotar uma nova concepção da organização do trabalho sob a forma de cooperativas autogestionárias. Também para a Universidade esta é uma experiência desafiadora: rompendo barreiras, ampliando o universo de estudo e de pesquisa, formulando propostas que venham fortalecer a reorganização do trabalho a partir dos setores populares e na perspectiva da economia solidária. Acompanha-nos a esperança de melhoria das condições de trabalho e vida dos cooperados apesar de nossas limitações e das dificuldades. Falta-nos muito, mas podemos ser fortalecidos, pois participamos de uma Rede de Incubadoras Universitárias que cresce a cada ano, possibilitando disseminar as conquistas e buscar em conjunto respostas às barreiras e dificuldades. Mary Sartori Gomes Ferreira Coordenadora de Mobilização e Capacitação

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - INCUBACOOP Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Departamento de Educação Programa de Associativismo para Pesquisa, Ensino e Extensão – PAPE

A universidade em sua essência tem o compromisso social com a formação de recursos humanos e geração de conhecimentos. Para tanto, suas ações assentam-se sobre os pilares do ensino, pesquisa e extensão. O projeto de incubadora de cooperativas populares se insere nesse contexto acadêmico, numa perspectiva de ampliar a interação entre a universidade e a sociedade em geral, objetivando estender àqueles que não participam diretamente do universo acadêmico, os ganhos da formação e do conhecimento. Neste particular, o movimento de incubadoras de cooperativas é um exemplo, dando mostra de sua força inovadora e capacidade de contribuir para uma inserção cidadã dos trabalhadores. Sob essa inspiração, a Universidade Federal Rural de Pernambuco, através do Departamento de Educação, concebeu e implantou o seu projeto de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – INCUBACOOP. Sua origem está estreitamente relacionada as ações do Programa de Associativismo para Pesquisa, Ensino e Extensão – PAPE. O Projeto foi concebido em 1997 e aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE, resolução 350 de 18.11 de novembro de 1997, tendo sido inaugurado em 1999. Essa legitimidade ante as instâncias da UFRPE lhe atribui identidade e credibilidade, pois é fator importante para fortalecer o estabelecimento de outros vínculos institucionais. Aliás, esse vínculo foi sempre relevante nas ações da incubadora desde a sua criação, sobretudo na perspectiva de efetivação de parcerias. E foi sob a parceria da UFRPE com a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e Fundação Banco do Brasil que a INCUBACOOP se viabilizou, através da cooperação técnica e financeira. Desta parceria deve-se ressaltar o entendimento mútuo da importância desse trabalho, de um lado, na geração de processos metodológicos de incubação de cooperativas, além de conhecimentos importantes nas áreas da administração, sociologia, direito, economia, comunicação, educação, dentre outras, tendo até o momento, também sido objeto de dissertações de mestrado e tese de doutorado. De outro lado, relativo ao alcance social, na medida que não se trata apenas de um laboratório, mas de ações efetivas na direção de viabilizar iniciativas de trabalhadores que buscam oportunidades para sua inserção enquanto cidadãos, com participação ativa nos processos de produção de riqueza econômica, na cultura, no lazer e na política.

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Decorre daí uma visão diferenciada de tecnologia, como sendo algo mais do que o desenvolvimento de produtos e/ou processos de produção inovadores, mas também algo que diz respeito a concepções de novas formas de inserção no contexto econômico-produtivo, mediante práticas inovadoras nas relações sociais de produção. Assim, a filosofia da INCUBACOOP é ampliar as leituras acerca das relações econômicas e tecnológicas na perspectiva de contribuir na concepção de novos indicadores de resultados, e com isso acredita-se que a conjugação dessas leituras, num dado contexto, favoreça detectar, enquanto resultados, ganhos tangíveis e intangíveis. Então, a aproximação e o envolvimento crescente do PAPE, primeiro através do curso de especialização, com os movimentos da sociedade civil, representado por ONG’s e organizações populares, particularmente as cooperativas, favoreceram a concepção e criação do Projeto de Incubadora de Cooperativas Populares da UFRPE. A incubadora se apresenta, assim, inserida no eixo de extensão universitária para contribuir com as iniciativas populares de conceber, implantar e desenvolver atividades produtivas através de formas coletivas de produção, particularmente as cooperativas. O diferencial desse trabalho está em oferecer um acompanhamento sistemático aos grupos em processo de formação, que envolve informação, orientação, capacitação e assessorias especificas, visando a consolidação do empreendimento cooperativo. A equipe é constituída por professores, funcionários, alunos, ex-alunos da UFRPE e instituições parceiras que entendem o cooperativismo e outros meios associativos, enquanto instrumentos capazes de contribuir à geração de trabalho e renda, mas sobretudo à formação de cidadãos. O objetivo da incubadora, portanto, é melhorar o nível de organização de trabalhadores excluídos do processo produtivo e/ou em situação de trabalho precarizado, mediante um processo consciente de ação política que propicia sua inserção ou reinserção no contexto sócioeconômico identificando oportunidades de negócio e trabalho, mediante iniciativas próprias para implantação de empreendimentos autogestionários. A INCUBACOOP tem sob sua responsabilidade grupos que atuam em diversos setores econômicos produtivos, tanto no meio urbano, quanto no meio rural. Entre estes empreendimentos têm-se cinco cooperativas, formadas e legalizadas: COOPECAL, cooperativa de costureiras do município de Abreu e Lima; COOMUTE, cooperativa de de Mulheres de Tejucupapo de serviços de limpeza e higienização; COOTRAMS cooperativa de trabalhadores de Manutenção e Serviços; COOPENTUR , cooperativa de turismo e a Cooperativa de Pequenos Agricultores de Barra de Farias, na cidade de Brejo da Madre de Deus, interior do estado. Entre os grupos que estão formando e legalizando a cooperativa, tem-se: a COOREPLAST, cooperativa de reciclagem de plástico de Abreu e Lima, formada por mulheres e o grupo de trabalhadores em refrigeração. Outros grupos passaram pela incubadora, receberam capacitação e orientação, mas não formaram a cooperativa por ainda não estarem em condições, principalmente de ordem financeira, de levar adiante o negócio.

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As cooperativas populares constituídas e apoiadas pela INCUBACOOP apresentam algumas particularidades que chamam a atenção. Por exemplo, a diversidade de setores econômicos onde estes empreendimentos cooperativos atuam, desde turismo, produção de alimentos até reciclagem de plásticos e prestação de serviços de limpeza, inseridos tanto no meio urbano, quanto no meio rural. Outro aspecto, refere-se ao número respeitável de empreendimentos com participação significativa de mulheres, qualificando a questão de gênero como um dos viesses relevantes nos processos de incubação de empreendimentos dessa natureza. Outro dado, diz respeito a atuação da incubadora no interior do estado, apoiando grupos de agricultores em municípios distantes da região metropolitana de Recife, tais como Sirinhaém e Brejo da Madre de Deus ( 60km e 250 km, respectivamente). Além disso, o número também significativo de pessoas, alunos, trabalhadores desempregados, profissionais liberais, que passaram pelos processos de capacitação e orientação para a prática cooperativista, se constitui em um resultado quantitativo importante, tendo em vista, de um lado, a universidade ter oportunizado essas pessoas o acesso as informações e capacitações, de outro lado, contribuiu para ampliar o número de pessoas qualificadas, sobretudo, trabalhadores que passaram a ser referências no tratamento da temática associativista/ cooperativista em seus meios comunitários. Desse modo, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFRPE, juntamente com seus parceiros institucionais, FINEP e Fundação Banco do Brasil, após três anos de sua implantação, julga ter alcançado os objetivos previstos inicialmente em seu projeto, o de primeiramente conceber e desenvolver um processo metodológico de incubação de cooperativas populares, e, também, o de contribuir para a formação de trabalhadores com interesse em empreender atividades produtivas através de formas coletivas de organização do trabalho, bem como, apoiar os processos de preparação e desenvolvimento de empreendimentos cooperativos. Guilherme Vasconcelos Soares Coordenador da Incubadora de Cooperativas Populares – INCUBACOOP

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Referências ACI. Novos princípios para um novo tempo. [S.l.], 1996. Folder. ALMEIDA, Sandra. Cooperando na geração de trabalho e renda. 1999. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais)–Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1999. BANCO DO BRASIL. Gerência de Negócios do Sistema Cooperativista. Projeto de lei no 1670/96. Brasília, DF, 1997. BUSS, Paulo M.; CYNAMON, Szachna Eliasz. COOTRAM: Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos do Complexo de Manguinhos. Cadernos da Oficina Social, Rio de Janeiro, n. 2, p. 25-32, dez. 1999. ENCONTRO NACIONAL DE COOPERATIVAS DE TRABALHO, 1996, Brasília, DF. Anais... Brasília, DF: Banco do Brasil, 1996. FINEP. Relatório de acompanhamento do Projeto PRONINC. Brasília, DF, 2000. _____ . Relatório de acompanhamento do Projeto PRONINC - FINEP. Brasília, DF, 1999. LAIDLAW, A. F. As cooperativas no ano 2000. Belo Horizonte: OCE, 1980. LUZ FILHO, Fábio. Teoria e prática das sociedades cooperativas. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1953. OLIVEIRA, Fernando. Cooperativa popular: a destruição criativa da globalização. 1997. Mimeografado. ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Proposta de modernização do Sistema Cooperativista Brasileiro–OCB (apoio MAARA/SDR/ DENACCOP). Brasília, DF, 1995. PINHO, Diva Benevides. O pensamento cooperativo e o cooperativismo brasileiro. Brasília, DF: CNPq, 1982. SEMINÁRIO NACIONAL TRIPARTITE SOBRE COOPERATIVAS DE TRABALHO, 1997, Brasília, DF. Relatório... Brasília, DF: OIT, 1997. SPITZ, André. Caminhos para mudar o Brasil. Rio de Janeiro: Oficina Social, 1998. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Relatório de acompanhamento da Incubadora, para a FINEP, 2000. São Paulo, 2000.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. Relatório final de acompanhamento da Incubadora da UFJF, para a FINEP, 2001. Juiz de Fora, 2001. ______. Relatório parcial de acompanhamento da Incubadora da UFJF, para a FINEP. Juiz de Fora, 2000. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DA BAHIA. Auto-avaliação do Projeto Incubadora. Salvador, 2000. ______. Relatório de ações da Incubadora da UNEB, para a FINEP, 2000. Salvador, 2000. ______. Relatório de acompanhamento da Incubadora da UNEB, para a FINEP. Salvador, 2001. ______. Coordenação de Programas e Projetos. Seminário: Implementação do Plano Nacional de Extensão. Salvador, 1998. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Formação e desenvolvimento de Cooperativas Populares como instrumento de geração de trabalho e renda. Rio de Janeiro, 1999. ______. Relatório de acompanhamento da Incubadora da UFRJ, para a FINEP. Rio de Janeiro, 2000. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO. Relatório/ 2000. Recife, 2000.

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Númer os anterior es dos Cadernos da O ficina SSocial ocial Números anteriores Oficina Caderno 1 Compromisso Social: um novo desafio para as organizações Caderno 2 Projetos Inovadores da Oficina Social Caderno 3 Desenvolvimento Local Caderno 4 Prêmio Mobilização - Edição especial Caderno 5 Desenvolvimento Local: práticas inovadoras Caderno 6 Construindo Cidadania em Comunidades de Baixa Renda: da idéia à ação Caderno 7 Agricultura Familiar e o Desafio da Sustentabilidade Caderno 8 Multiplicadores Comunitários de Cidadania Caderno 9 O Planejamento de Projetos Sociais: dicas, técnicas e metodologias Estes volumes estão disponíveis em www.coepbrasil.org.br em formato pdf.

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Mantenedores do Centro de Tecnologia, Trabalho e Cidadania - Oficina Social

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