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CNPq e a divulgação científica

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O que é ciência?

O que é ciência?

Luisa Massarani Coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT). Orientadora da pós-graduação na Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz). Membro da Rede Internacional para Public Communication for Science and Technology (PCST Network) e coordenadora da SciDev.Net para América Latina e Caribe. Bolsista de produtividade 1B do CNPq Apandemia da covid-19 virou de cabeça para baixo o mundo e causou uma indescritível perda em todos os sentidos, a começar pelas mortes – muitas delas evitáveis. Mas mostrou que a ciência e a divulgação científica podem e devem estar no cerne do enfrentamento desse vírus, da doença e de outros descaminhos associados, como a infodemia, as fake news e o negacionismo científico.

Em março de 2020, portanto assim que a pandemia chegou ao Brasil, recebi uma ligação do CNPq propondo que fizéssemos uma parceria entre nosso Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia e o CNPq, para delinear uma iniciativa de divulgação científica sobre a covid-19.

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Desafio aceito, montamos em tempo recorde a proposta e a pequena equipe de divulgadores científicos. Em 14 de abril de 2020, lançamos covid-19 DivulgAÇÃO Científica, cuja ação principal é atuar nas redes sociais. A decisão de dar este foco se deu com base em um estudo de 2019, apoiado pelo CNPq (e Faperj), no escopo do nosso INCT, sobre o que os jovens brasileiros pensam da ciência e tecnologia1. Segundo o estudo, as redes sociais têm um papel de grande relevância para os jovens como fonte de informações científicas – mas também disseminam grande quantidade de fake news. Estudos anteriores mostram resultados similares para a população brasileira de outras faixas etárias (ver por exemplo o estudo liderado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) em 2019, em que também fizemos parte)2 .

1 https://www.inct-cpct.ufpa.br/wp-content/ uploads/2021/02/LIVRO_final_web_2pag.pdf 2 https://www.cgee.org.br/web/percepcao

Decidimos, assim, usar essa iniciativa para veicular informações científicas confiáveis sobre a doença e o vírus pelas redes sociais. Tem sido nosso foco dar visibilidade para a ciência, em particular a ciência brasileira no enfrentamento da pandemia. Desde então, só no YouTube, por exemplo, tivemos cerca de 2,2 milhões de impressões; no Twitter, mais de 1,7 milhão. O alcance do Facebook foi de mais de 770.000.

Mas a trajetória do CNPq em divulgação científica vai muito além dessa iniciativa e é histórica. Marco simbólico disso é o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica3, o mais importante em nível nacional para a área. Criado em 1978 pelo CNPq, é concedido anualmente à instituição, empresa de comunicação (jornal, revista, emissora de televisão, etc.) ou ao indivíduo (pesquisador ou jornalista) que se destaquem. O nome do prêmio é uma homenagem ao jornalista, médico e cientista brasileiro José Reis, considerado ícone da divulgação científica e do jornalismo científico no Brasil.

Um outro marco importante na história do CNPq foi a criação de um Comitê Assessor em Divulgação Científica, que tem fortalecido a área acadêmica e prática da Divulgação Científica no país. Isto tem permitido apoiar iniciativas no campo – e mais do que isso: que tais iniciativas sejam avaliadas por pares especialistas em Divulgação Científica.

Por fim, mas não menos importante, deve-se destacar que entre os anos de 2003 e 2015 o CNPq, em alguns casos com parcerias, teve 26 editais na área da Divulgação Científica. Infelizmente, esforços nesse sentido minguaram e os poucos editais relacionados que permanecem (por exemplo a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia) têm menor fôlego (sem reduzir sua importância).

Divulgação científica não é luxo. Faz parte do processo científico. É uma prestação de contas à sociedade pelos recursos públicos investidos em ciência e tecnologia. É uma forma de mostrar à sociedade por que e como são importantes a ciência brasileira, o trabalho dos e das cientistas, o trabalho do CNPq e a atuação das diversas instituições de pesquisa e universidades de todo o país.

Nessas comemorações dos 70 anos do CNPq deixo meus sinceros votos de vida longa à instituição. Em particular, desejo que a Divulgação Científica ganhe cada vez mais força no CNPq e que se difunda amplamente por todo o país nas mais diversas instituições de fomento e de pesquisa, para que, juntos, possamos fortalecer a ciência brasileira e o diálogo com a sociedade.

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