Amok é um cara estranho cheio de ideias negativas. Amok é um cara que chupa corações humanos e planeja explodir todas as pessoas felizes. Amok faz bolhinhas de sabão em forma de caveira. No entanto, Amok parece um cara legal. Como isso é possível? Como um cara que quer comer sua família com pesto pode ainda parecer simpático? Bem, a verdade é que é difícil levar a sério um ser das trevas que usa moletom de gorrinho. O traço gentil e o texto elegante de Benett transformam qualquer psicopata em algo suave. Mesmo seus assassinatos parecem quase singelos. Sim, esse é o segredo de Amok. O segredo de Amok é que Amok não convence ninguém. Fernando Gonsales
Sempre perguntam se o Amok é autobiográfico e eu digo que não, obviamente. Mas vá saber. Algumas características dele são, sim, autobiográficas e outras nem tanto. Por exemplo, assim como o Amok, eu adoro molho pesto. Mas ao contrário dele, nunca tive vontade de comer cérebros, apesar de também achar que qualquer coisa com pesto fica bom. As primeiras tiras do Amok surgiram em 2007. Elas estão neste livro e vocês poderão reconhecê-las pelo estilo mais tosco. A maioria das tiras, no entanto, foi desenhada especialmente para este livro durante surtos de ansiedade, angústia e um desejo louco de ter uma serra elétrica. Boa parte da inspiração do Amok vem das influências que outros autores exerceram sobre mim. Holden Caulfield, o personagem de O apanhador no campo de centeio, famoso livro de J. D. Salinger, foi uma das possíveis inspirações para o Amok. Outra foi Edward Gorey e seus desenhos sinistros e escuros. E a capa deste livro é inspirada em um desenho de Charles Addams, o criador da Família Addams. Este livro é dedicado a uma pessoa muito importante que se foi, Victor E. Folquening. E para outra, que acabou de chegar, Gabriel Santin de Macedo.
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1a edi巽達o agosto 2013 impress達o rotaplan papel miolo offset 90g/m2 papel capa cart達o supremo 300g/m2
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O traço de Benett é desses milagres de síntese que em poucas linhas desdobram camadas de humor e sentido, com um texto que, também sempre exato, bate direto na alma e na intimidade de quem vê e lê. Benett é um artista raro que não tem medo de seus temas, como se comprova nas tiras exemplares de Amok. Abrem-se grandes e densas perguntas – Deus, a morte, a solidão, o terror – que ele, desconcertante, põe a nu em três linhas e duas palavras. É um adulto que reaprende a infância sem o manto da censura; e o paradoxo da inocência assim revelada, a sua graça a um tempo cruel e leve, revela-se uma chave secreta e saborosa para reler o mundo. CRISTOVÃO TEZZA