Eduardo Gran ja Couti nho
A COMUNICAÇÃO DO OPRIMIDO E OU T ROS E NSA IOS
A COMUNICAÇÃO DO OPRIMIDO E OU T ROS E NSA IOS
Eduardo Gran ja Couti nho
A COMUNICAÇÃO DO OPRIMIDO E OU T ROS E NSA IOS
Copyright © Eduardo Granja Coutinho. Todos os direitos desta edição reservados à MV Serviços e Editora Ltda. revisão
Rogério Amorim Suzana Corrêa
cip-brasil. catalogação na publicação sindicato nacional dos editores de livros, rj C895c
Coutinho, Eduardo Granja, 1967A comunicação do oprimido e outros ensaios / Eduardo Granja Coutinho. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Mórula, 2014. 180 p. ; 21 cm.
Inclui bibliografia ISBN 978-85-65679-25-1 1. Ciência política. 2. Filosofia. 3. Marxismo. I. Título. 14-13822
R. Teotonio Regadas 26, 904 – Lapa – Rio de Janeiro www.morula.com.br | contato@morula.com.br
CDD: 320 CDU: 32
À memória de Carlos Nelson Coutinho.
Sei que há um trabalho fundamental a ser feito em relação à hegemonia cultural. Acredito que o sistema de significados e valores que a sociedade capitalista gera tem de ser derrotado no geral e no detalhe por meio de um trabalho intelectual e educacional. [ Raymond Williams ]
Porque os jornais noticiam tudo, tudo menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida... [ Rubem Braga ]
SU M ÁR IO
prefácio
11
Gramsci: a comunicação como política
13
A comunicação do oprimido: malandragem, marginalidade e contra-hegemonia
27
Hegemonia e linguagem: clichês midiáticos e filosofia das massas
41
Muniz Sodré: alegria, hegemonia e Arkhé
55
Carlos Nelson Coutinho e a “questão cultural” no Brasil
69
Contrarrevolução impressa: jornalismo, reificação e hegemonia
85
“Cambalache”: o colapso da civilização burguesa
101
Ecos do Golpe no mundo da cultura
119
A ideologia da imparcialidade: considerações sobre o governo Chávez e a liberdade de expressão 133 Processos contra-hegemônicos na imprensa carioca (1889-1930)
137
Imprensa e hegemonia na Primeira República: o contraponto dissonante de José Oiticica 159
P r e f á c io
Tendo como referência a problemática gramsciana das relações entre comunicação, hegemonia e contra-hegemonia, os ensaios que compõem esta coletânea são atravessados por uma questão teórica que possui, a meu ver, enorme relevância político-prática: “O que se pode contrapor, por parte de uma classe inovadora a esse complexo formidável de trincheiras e fortificações [que garantem a hegemonia político-cultural] da classe dominante?” É o próprio Gramsci quem responde: “O espírito de cisão, a conquista progressiva da consciência da própria personalidade histórica” (1999, v. 2, p. 79). É preciso que as grandes massas se destaquem das ideologias tradicionais, deixem de acreditar no que antes acreditavam, superem o sistema de significados e valores gerados pela sociedade capitalista, organizem uma nova cultura. Daí a importância de se analisar dialeticamente a hegemonia burguesa – a poderosa resistência daquelas trincheiras ideológicas que asseguram a dominação do capital – sem perder de vista os processos culturais e comunicacionais de contestação e resistência: as formas de comunicação dos grupos sociais oprimidos. A despeito de sua diversidade temática, os artigos aqui reunidos possuem, assim, uma clara unidade teórico-metodológica. Em todos eles está presente a questão da cultura/comunicação como uma instância da luta política ou, para utilizarmos a conhecida expressão de Bakhtin, um “terreno da luta de classes”. Destes onze ensaios, escritos entre 2008 e 2014, três são originais e os demais estão sendo publicados aqui com ligeiras modificações1. O artigo introdutório, no qual procuro abordar a importância de Antonio Gramsci para o campo da comunicação, fornece o enquadramento conceitual para os demais textos, que foram reunidos segundo quatro eixos temáticos principais: 1) a comunicação popular – música, linguagem oral, mídia comunitária etc. – em sua relação com a cultura hegemônica; 2) a questão cultural na obra de dois pensadores brasileiros, os baianos Muniz Sodré e Carlos Nelson Coutinho; 3) a questão lukacsiana da reificação da cultura, relacionada à problemática da hegemonia; 4) processos hegemônicos e contra-hegemônicos na imprensa brasileira e latino-americana.
Ver nota bibliográfica.
1
11
Parafraseando Gramsci, diríamos que, no fundo, para quem observar bem, entre esses quatro temas existe homogeneidade: “o espírito popular criador, em suas diversas fases e graus de desenvolvimento, está na base deles em igual medida” (Gramsci, 2005, p. 128). A música popular, a expressão oral, as conversas de botequim, os gritos dos manifestantes nas praças públicas, a imprensa partidária e sindical, a mídia pública, a crônica, a alta literatura, os ensaios de teoria crítica, todas essas formas de comunicação são aqui analisadas como falas históricas alternativas que expressam diferentes momentos desse “espírito popular criador”. E eis que, para Gramsci, o espírito criador não é outro senão o “espírito de cisão”. A contra-hegemonia aparece, assim, como um processo cultural que envolve cisão (negação), mas também criação, renovação das formas culturais do passado; processo no qual a comunicação popular rompe com o sistema simbólico dominante, ao mesmo tempo em que recria e reelabora os signos da tradição em um sentido contrário ao das classes dirigentes. Por fim, gostaria de ressaltar que, ao dedicar essa coletânea à memória de Carlos Nelson Coutinho, não estou apenas prestando uma homenagem ao meu mestre e amigo, mas reconhecendo que todos esses ensaios, inspirados fundamentalmente em Antonio Gramsci, mas também em György Lukács, são um diálogo tácito com Carlos Nelson, pensador que, na contracorrente do pós-modernismo, do produtivismo acadêmico, da miséria da razão, contribuiu decisivamente para manter viva a chama do pensamento dialético entre nós.
eduardo granja coutinho Rio de Janeiro, maio de 2014.
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1ª e di ção ju lho 2014
impressão co lorse t pape l capa
car tã o supre mo 300g/ m 2
pape l mio lo póle n sof t 80g /m 2 tipografia
typestar e dant e
Talvez por excesso de “culturalismo”, a maior parte da crítica atual de cultura ressente-se da ausência de política no sentido pleno da palavra. Sem o embasamento da luta histórica pela representação, assemelha-se a uma moeda sem lastro, de curso forçado pela reprodução acadêmica pautada por moldes neoliberais. Os textos de Eduardo Granja Coutinho neste volume trafegam ao contrário da maré, buscando por trás das enganosas transparências elementos ideológicos para um acerto de contas com o sentido e com a História. E isto se cumpre em português claro, sem cambalacho, numa relação de alegre respeito para com a língua. M U N IZ SO D R É
9 78 8 5 6 5 6 7 9 2 51
ISBN 978856567925-1
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