BIA FIGUEIREDO
Duas histórias de dedicação e conquistas no automobilismo
por Venício Zambeli Diretor de Redação
Bia Figueiredo e Roberval Andrade comemoram suas carreiras de muitos desafios, mas também de grandes feitos em todos esses anos nas pistas. Com trajetórias distintas em busca do mesmo objetivo maior que todo piloto almeja, de conquistas e títulos, muitas vezes foram as atitudes de ambos que os fizeram verdadeiros vencedores.
Bia uniu seu talento com uma garra extraordinária para transpor limites além das corridas, superando um ambiente muitas vezes inóspito, até então, para as mulheres pilotos. E talvez tenha feito tudo com tanto gosto e com alegria, que não percebeu o tamanho do feito gigante que construiu para um novo automobilismo no Brasil e fora dele. Bia, que disputou as 500 Milhas de Indianapolis, abriu oportunidades e esperança para uma nova geração de pilotos mulheres. E até hoje, com suas vitórias em corridas de caminhões e sua participação como presidente na Comissão Feminina de Automobilismo, inspira qualquer um que vive no meio do motorsport.
Roberval é uma demonstração de que a paixão por corridas e a dedicação a uma categoria de competição de caminhões pode transformar atitudes profissionais em benefícios para todos do universo do automobilismo. Com muito profissionalismo, ele mostra que é possível ter sucesso na carreira de piloto e também de proprietário de equipe. Com destreza, une ações de empresário com negócios, gerando um ecossistema sustentável que contribui para atitudes que vão além dos pódios, das vitórias e dos títulos nas pistas que ele conhece tanto, com busca por soluções e serviços complementares e de mobilidade, que facilitam a vida de empresas e pessoas. Seja no cockpit, seja no paddock, seja fora dos autódromos, Roberval sempre buscará um desafio maior!
Aproveite esta Edição Especial da RACING e comemore junto este momento especial do nosso automobilismo!
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Isabel Reis - MTB 17311 Revista Racing ISSN 1413-8913. Publicação mensal da Motor Mídia © Direitos reservados.
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A Bia da Indy, da Truck e do Brasil
Atualmente na Copa Truck, Bia Figueiredo tem uma trajetória de pioneirismo no esporte a motor com vitórias nas categorias de base da Indy
texto: Leonardo Marson | fotos: Divulgação
CARREIRA
Em um momento em que se fala tanto de mulheres no esporte a motor e que há categorias de formação destinada para as pilotas tanto no automobilismo, com a F1 Academy, quanto no motociclismo, com o novato Mundial Feminino, um nome brasileiro se destaca: Bia Figueiredo. A pilota nascida em São Paulo (SP) teve uma passagem importante na Indy, e tem atuado na Copa Truck, onde lidera o campeonato da classe Super em seu segundo ano na categoria.
Mas enganase quem pensa que Bia teve vida fácil até chegar na principal categoria de monopostos dos Estados Unidos e correr nos dois mais importantes campeonatos do automobilismo brasileiro, a Stock Car e a Copa Truck. A paulistana iniciou sua trajetória nas pistas na temporada de 1994 em uma época em que mulheres no esporte a motor eram algo raro não apenas no País, mas em todo o mundo.
“Eu falo com as meninas do kart que elas estão em uma era em que ser pilota é lindo e todo mundo quer. Quando eu comecei, diziam que eu era a ‘menina macho’, a menina que estava no lugar errado. Tive uma barreira muito forte para ser quebrada. Conquistei o que conquistei com apoio familiar, mas porque eu amava o esporte. Isso, de alguma forma, valoriza minha história, pois não era legal ser pilota, ninguém queria perder para mim. Isso melhorou para as meninas”, disse Bia Figueiredo.
De fato, a trajetória de Bia no esporte a motor foi marcada por bons resultados desde cedo. Em 2000, a pilota foi vicecampeã paulista e terceira colocada brasileira. Mais do que isso, sempre se manteve no pódio tanto na competição estadual como no principal campeonato do kartismo nacional nos anos de 2001 e 2002. Tal desempenho a fez trocar os karts pelos monopostos em 2003, quando disputou e foi a melhor novata da Fórmula Renault Brasileira.
A pilota ainda permaneceu na Fórmula Renault por mais duas temporadas. Em 2004, finalizou o campeonato com a quinta colocação, enquanto foi a terceira colocada em 2005, conquistando
CARREIRA
três vitórias e mais três poles positions. Em 2006, houve uma troca de categoria, e Bia partiu para a disputa da Fórmula 3 SulAmericana, campeonato do qual obteve a quinta colocação ao final da temporada.
A vida da paulistana no esporte a motor mudou mesmo na temporada de 2008. Naquele ano, Bia se mudou para os Estados Unidos para a disputa da Indy Lights, atual Indy NXT. Defendendo a equipe Sam Schmidt, “Ana Beatriz”, como era chamada naquele país, não demorou a se adaptar. O primeiro pódio veio logo na segunda corrida na categoria, com um terceiro lugar na primeira corrida da rodada dupla de São Petersburgo.
Após outros dois pódios, obtidos no oval de Iowa e em Watkins Glen, Bia colocou seu nome na história ao vencer em Nashville, se tornando a primeira mulher a triunfar em uma prova da categoria. 2008 ainda reservaria a piloto mais dois pódios, obtidos em Sonoma e em Chicago, terminando aquela temporada com a terceira colocação. Em 2009, mais uma vitória, em Iowa, e um terceiro lugar no Kentucky a ajudaram a terminar o ano em oitavo, também pela Sam Schmidt.
A estreia na Indy veio em 2010, pela Dreyer & Reinbold Racing, com um calendário parcial. E a primeira corrida ocorreu justamente em sua cidade natal, São Paulo, no circuito de rua do Anhembi, terminando com a 13ª colocação. Naquele ano, Bia disputou ainda as 500 Milhas de Indianápolis, terminando com a 21ª posição, e as etapas de Chicago e de Homestead. No ano seguinte, novamen
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te pela DRR, a brasileira esteve no grid, mas agora por todo o ano, terminando a temporada com a 21ª colocação.
Bia Figueiredo deixou a RLL e migrou para a poderosa Andretti em 2012 para a disputa de duas corridas, as etapas de São Paulo e a Indy 500. O último ano da brasileira na principal categoria de monopostos dos Estados Unidos ocorreu em 2013, desta vez defendendo as cores da Dale Coyne em sete corridas. Foi neste ano que a pilota obteve seu melhor desempenho na Indy 500, finalizando a prova com a 15ª colocação, depois de escalar 14 posições. Foi nos Estados Unidos que Bia também atentou para algo importante: a necessidade de se incentivar mais mulheres a estarem no esporte a motor, evitando o que chamam de “rivalidade feminina”. Na Indy, a brasileira chegou a dividir pista com nada menos que outras quatro pilotas: Danica Patrick, Simona de Silvestro, Sarah Fischer e Milka Duno.
“Tem uma coisa que tentei ser diferente. Nunca fui ajudada por muitas mulheres. Quando eu chegava em uma categoria que tinha mulher, era um ódio mortal, pois aquela mulher era a única. Fui começar a ter ajuda quando conheci a Lynn St. James, que já tinha parado de correr, a Sarah Fischer no final de carreira. Nos Estados Unidos que me toquei de parar de fazer isso, pois senão nunca teríamos mulheres”, explicou a Bia.
Um novo capítulo na carreira de Bia Figueiredo começou na temporada de 2014: a Stock Car. Defendendo a ProGP, a pilota teve como melhor resultado a 11ª posição em Goiânia. Em 2015, pela Bassani, veio o primeiro top10, com a décima colocação obtida em Curitiba. Já no ano seguinte, um sexto lugar no autódromo de Tarumã foi seu melhor resultado, novamente pela Bassani. Pela Full
Time, em um ano difícil e com muitos abandonos, a pilota teve um sexto lugar como melhor resultado.
Em 2018, Bia troca de equipe mais uma vez, partindo para a AMattheis, de Andreas Mattheis. Com esta equipe que a pilota garante finalmente seu primeiro top5 na categoria, em Campo Grande (MS). Já em 2019, a pilota bateu na trave da conquista de um pódio ao terminar a segunda corrida da etapa de Londrina com a quarta posição. No mesmo ano, Bia volta aos Estados Unidos e disputa parte da temporada da IMSA pela Meyer Shank, com um Acura da categoria GTD.
Bia Figueiredo se afasta das pistas em 2020 para se tornar mãe, e faz um breve retorno às pistas nas 12 Horas de Sebring de 2021, terminando com uma quinta posição na classe GTD. Depois, a pilota volta a se afastar do automobilismo para ter o segundo filho. A volta às corridas ocorre em 2022, pelo TCR South America, e desde 2023, a pilota é um dos nomes do grid da Copa Truck, correndo pela classe Super através da ASG, equipe oficial da MercedesBenz, da qual é líder do campeonato com pódios em todas as etapas de 2024.
Além da atuação nas pistas, Bia Figueiredo também se dedica a outras atividades, como a presidência da Comissão Feminina de Automobilismo da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), cargo que lhe rendeu um cargo como representante da FIA. A pilota ainda é sócia na agência Forte, que atua no esporte a motor, possui um canal no YouTube e é comentarista das corridas da Indy na TV Cultura.
Bia celebra vitória na Copa Truck
Bia Figueiredo acumula vitórias e lidera campeonato da Super Truck na Copa Truck
Bia tenta ser a primeira campeã da Truck
Pilota tem temporada de sucesso
Bia conta com equipe com mulheres na ASG
2003: F-Renault 2.0 Brasil estreante do ano
2004: F-Renault 2.0 Brasil 5ª colocada, 5 pódios
2004: F3 Sul-Americana vice-campeã Light
2005: F-Renault 2.0 Brasil 3ª colocada, 3 vitórias, 5 pódios, 4 poles positions
2006: F3 Sul-Americana 5º colocada, 5 pódios, 1 pole position
2006/2007: A1GP (Time Brasil) estreante
2008: Indy Lights 3ª colocada, 1 vitória, 6 pódios
2008/2009: A1GP (Time Brasil)
2009: Indy Lights 8ª colocada, 1 vitória, 2 pódios
2010: Indy quatro provas, melhor estreante mulher
2011: Indy temporada completa
2012: Indy duas corridas com a Andretti
2013: Indy temporada parcial
2014: Stock Car AmPm Pro GP Team
2015: Stock Car AmPm União Química Racing (Bassani)
2016: Stock Car AmPm União Química Racing (Bassani)
2017: Stock Car AmPm Full Time Academy
2018: Stock Car
A.Mattheis/ Ipiranga Racing
2019: Stock Car A.Mattheis/ Ipiranga Racing
2021: IMSA (Endurance) estreante
2022: TCR South América 6 etapas
2023: Copa Truck
estreante
IMAGENS • BIA
São seis vitórias de Bia em 2024
Bia é a número 1 na classificação da Super
Bia comanda campeonato da Super
Com um pé no futuro, vivendo o presente
Bia Figueiredo revisita a carreira, se mostra feliz na Copa Truck com a ASG Motorsport, e se vê no automobilismo por muito tempo
texto: Rodrigo França e Leonardo Marson | fotos: Divulgação
Mais importante pilota da história do automobilismo brasileiro, Bia Figueiredo vive uma fase das mais felizes da carreira. Atualmente, a paulistana de 39 anos compete na Copa Truck, defendendo a ASG Motorsport, equipe oficial da MercedesBenz no campeonato dos caminhões, onde lidera o campeonato da categoria Super, mas se dedica também a Comissão Feminina de Kart da CBA, que lhe rendeu um cargo na FIA pelos projetos apresentados no País, e a vida de mãe.
Em conversa com RACING, Bia relembra os passos que deu na carreira, o que inclui quatro temporadas na Indy, e feitos como a primeira mulher a vencer corrida na Indy Lights, atual Indy NXT. A pilota também fala do fato de ser mulher em um esporte ainda muito masculino, e do trabalho para incentivar mais pilotas e profissionais mulheres no esporte a motor.
RACING: Por que a Copa Truck, Bia?
BIA FIGUEIREDO: Eu voltei a correr em 2022 pela TCR, fiz algumas etapas no ano e, por volta de setembro, vendo as questões para correr no TCR no ano seguinte, por ser um campeonato que estava crescendo. Então o Roberval (Andrade) me ligou perguntando se eu tinha pensado em correr na Copa Truck em algum momento. E disse que nunca pensei. Eu já tinha conversado muito com o Beto Monteiro e com o Felipe Giaffone, que me diziam que eu não imaginava como a categoria era grande e legal. Para a gente que correu de carro, parece outro mundo, não se conecta muito. E mesmo correndo de TCR no evento da Truck, eu não conseguia enxergar muito isso.
Daí o Roberval começou a me passar o que ele pensava com a Mercedes. Eles já vinham começando o movimento “A Voz Delas”, eu já era presidente da Comissão Feminina de Automobilismo. Então, além de ter a parte de ser pilota Mercedes em equipe oficial, em um time que venceu o campeonato em 2022, competitiva, tinha a questão de liderar um movimento que tinha a minha cara, com as minhas
causas de incentivar mulheres no automobilismo. O movimento “A Voz Delas”, que incentiva mulheres no transporte. Isso me conquistou. O Roberval com aquele jeito visionário, empolgadíssimo e ótimo vendedor, fez várias reuniões comigo e com o Rodrigo Machado, líderes da ASG na parte comercial e de marketing, e tudo começou a se encaminhar. Visualizamos uma oportunidade. Questionei o Felipe Giaffone e o Beto Monteiro e eles deram uma super força para que eu fosse para a categoria.
Pedi dois anos de contrato no sentido de me adaptar ao caminhão, que é algo super diferente. E, para minha surpresa, me encaixei super bem. Com o caminhão, com a Truck, de alguma forma, até com a minha experiência fora, acabei ajudando a equipe em algumas questões. Ano passado a gente disputou o título, e terminei em terceiro lugar, empatada com o vicecampeão. A gente tem um histórico de ter podido ser campeã no primeiro ano. A categoria colocou no regulamento que só os dois primeiros poderiam subir de categoria, então estou mais um ano na Super. E tem sido fantástico. São cinco vitórias em seis etapas, três poles. Estou me fortalecendo para o ano que vem, quando devo subir para a classe principal, e tentar garantir esse campeonato para a equipe.
R: Como foi sair da Indy, para corridas em oval a quase 400km/h e muro próximo, e migrar para a Copa Truck, com um caminhão de quatro toneladas?
BF: A mudança foi progressiva. Não saí direto da Indy para a Truck. Teve Stock Car no meio, teve GT nos Estados Unidos... Depois da Indy, eu nunca mais andei de fórmula. Fiz Stock Car, IMSA em 2019 com a Meyer Shank. Foi mais progressivo. Acho que seria mais drástico da Indy para a Truck. Não senti tanto essa questão, mesmo a Truck sendo diferente de tudo.
A coisa da velocidade. O Indy é o maior nível de profissionalismo que eu cheguei. É um carro rápido, com força aerodinâmica, frenagem. Só perde para o F1 e talvez, o F2. O Truck é totalmente diferente. É bruto, mas é a coi
Bia estreou na Copa Truck em 2023 com a ASG Motorsport
sa mais sensível que pilotei na minha vida. Tem câmbio H, que eu não usava desde a F3 SulAmericana, que andei em 2003. Pelo menos eu tinha base para ajudar.
R: Qual teria sido o maior desafio para você: sair da Indy Lights para a Indy, ou da Indy para a Stock Car em termos de pilotagem?
BF: Não que foi difícil, mas da Indy Lights para a Indy o salto foi um pouco maior. A Indy é uma das categorias mais importantes do mundo, então só tem fera lá. E fui para uma equipe pequena. Eu acho que tive bons momentos na Indy, mas, nessa nossa vida no automobilismo, precisamos de resultados, o que de alguma forma não ocorreu.
Na Stock Car, eu acho que foi mais difícil, pois tinha uma mudança muito grande de carro, e ela é uma das categorias mais competitivas do mundo. Eu brinco que meu problema na Stock Car foram dois décimos na classificação. Se eu tivesse isso, era a diferença de largar em 18º, que era minha média, para largar entre os dez. Era muito próximo. E largar entre os dez nos colocaria em outra jogada, podendo entrar na inversão da segunda corrida pelo regulamento da época. Dois décimos é quase nada.
R: Você viveu o automobilismo americano e brasileiro no topo. Como você compara os dois como pilota profissional?
BF: Sou privilegiada por chegar em tantos altos níveis. No mundo, a gente tem coisa de 80 vagas em categorias principais de Fórmula. Na minha época a Fórmula E nem tinha começado, então estamos falando de 45 vagas. Estar nesse grupo seleto é algo espetacular. Podem questionar que eu estive por ser mulher, mas eu tive resultados. Te
ve muito mais gente que esteve lá e não teve os resultados que eu tive. Competi na Indy por quatro anos, com as dificuldades, claro, mas vejo de forma positivas algumas coisas que eu tive lá, e que infelizmente não se concretizaram. A fratura de mão na primeira etapa em 2011, quando eu competiria a temporada completa. Estar lá é muito difícil. Eu cuido da carreira da Antonella (Bassani) hoje, e ficou muito mais difícil. Até pela questão econômica. Hoje um dólar custa 5 reais, e na minha época eram 2 reais. Isso dificulta demais para os pilotos que estão indo para fora para começar. A gente acaba tendo apoio de empresas brasileiras no começo.
E a Stock Car, que é uma das principais categorias de turismo do mundo e que tem pilotos que estão há 15, 20 anos lá. O carro de Stock não é difícil de guiar, mas é muito manhoso. E a sensibilidade de dois décimos que, muitas vezes, me deixou ali para ficar numa posição de pódio e vencer corrida. O pódio bateu na trave algumas vezes, e eu tive top5, top10. Tem supercategorias muito difíceis de se encaixar tudo. Não me adaptei tão bem ao Stock Car quanto eu acho, mas tem grandes pilotos que não se adaptaram a Stock Car nunca. É um carro sensível e você tem que estar muito bem com ele para ter bons resultados. A categoria é muito, muito competitiva.
R: Você pegou um momento da Copa Truck muito bom, com o grid mais cheio das categorias. Parece ter um público, outro mercado. Fala para a gente um pouco da paixão do brasileiro por caminhão e pela Copa Truck.
BF: Sempre acompanhei a Copa Truck e a antecessora, a Fórmula Truck. Era um mundo distante, mas eu sabia
que era muito forte. Estando lá, o público ama caminhão, muito focado no transporte. E é impressionante como é um público apaixonado e unido. As empresas de transporte querem estar na Copa Truck, investem muito. Eu nunca tive tantos patrocinadores na minha carreira como agora. Em São Paulo, na Copa Truck, contratei duas pessoas para cuidar da minha agenda. Na Indy, eu só fazia isso em Indianápolis e na corrida de São Paulo. Era muita coisa. Isso é legal, é trabalhoso, mas você vê o nível de profissionalismo que a categoria chegou, com tantas marcas envolvidas, estar muito organizada com o tempo, e performar.
A etapa da Truck aqui era meio que uma Indy 500, pois é uma categoria em que todos os patrocinadores vão. A ASG tem uma estrutura de camarote muito única, que acho que não tem no Brasil como equipe. Tinham 700 convidados nos camarotes dos caminhões da equipe. É impressionante e estou muito feliz. Isso também se deve aos resultados, por estar vencendo corrida, e por ser aquela questão de ser a primeira mulher a vencer corrida e estar liderando o campeonato. Se eu estivesse nessa situação na Stock Car ou na Indy, certamente seria a pilota de mais destaque, o que é comum. A categoria em si, por ter essa força de marcas, e eu por estar performando e disputando o título, faz com que a gente esteja em um momento muito legal de marcas e parceiros com a categoria.
R: Falando sobre a ASG e o Roberval, como está essa sinergia? É um casamento que tem que dar certo dentro e fora da pista, não é?
BF: Sim, o Roberval é uma pessoa muito única e você tem que saber lidar com ele. É um cara extremamente visionário e essa emoção que ele tem a gente vê até na pista. Eu brinco que ele é o Nigel Mansell da Copa Truck, pois ele é pura emoção. Muito rápido e tem hora que ele precisa ser apenas, por exemplo, o quinto, e ele é win or wall. Ele não consegue não ser assim. E é o jeito dele. Para a categoria é
incrível, pois é um cara que movimenta as corridas, vai para cima, vai errar, vai largar em último e ganhar. É um personagem importante para a categoria, e às vezes isso não é bom para ele, mas para a Copa Truck, é um cara importante. Mas casou tudo muito bem. Eu consigo falar de uma forma que ele entenda, e a minha entrada na equipe, com a experiência de outras categorias, e ele estar aberto a ouvir. E o Rodrigo Machado, uma pessoa muito especial também, ajudando, liderando a equipe, organizando questões comerciais da equipe. Tem o meu empresário, o Waltinho Savaglia, que está comigo há bons anos. Todo mundo está feliz em Interlagos, pois nos preparamos tanto. Foi tão in
tenso que eu fiquei uma semana doente, pois me dediquei muito. Tivemos eventos todas as noites, e você tem que performar, tem a tensão da corrida, e eu cheguei numa hora que estafei. Ano que vem a gente tem que pegar mais leve nos eventos da noite, mas entendo que é o momento de tentar aproveitar ao máximo. E eu ganhei na Elite, o Roberval ganhou na Pró. Foi um final de semana espetacular para nós. E o quanto está sendo legal trabalhar com eles. Eu ajudo a equipe e eles me ajudam. A maioria dos patrocinadores a equipe levou para o meu caminhão, até pelo conhecimento da área de transporte do Roberval e do Rodrigo. Eles conhecem todo mundo e é algo que não sei. Eu me tenho muito como pilota, pessoa conhecida do automobilismo, mas esse relacionamento eu não tenho. E acho que essa composição boa e uma fase muito legal.
R: Hoje você tem, além do trabalho na pista, o trabalho como embaixadora da FIA. Como está hoje o patamar das
mulheres de quando você começou para agora, e seu papel de responsabilidade?
BF: Como presidente da comissão feminina, falo com as meninas do kart que elas estão em uma era em que ser pilota é lindo e todo mundo quer. Quando eu comecei, diziam que eu era a “menina macho”, a menina que estava no lugar errado. Tive uma barreira muito forte para ser quebrada. Conquistei o que conquistei com apoio familiar, mas porque eu amava o esporte.
Mesmo a Letícia Buffoni, que anda com a Antonella (Bassani) hoje, no skate, o pai dela odiava que ela andasse de skate, pois “era coisa de moleque”, “coisa de vagabundo”. Como dizem que é o surfe. Ela manteve a paixão dela, foi multicampeã e hoje é uma referência mundial no skate. Isso, de alguma forma, valoriza minha história, pois não era legal ser pilota, ninguém queria perder para mim. Isso melhorou para as meninas. Não 100%, pois o Brasil é muito grande e existe preconceito. Ainda tem a questão de a mulher dirigir mal, que ainda é falada por aí. Você perder para a mulher na pista é vergonhoso, pois pensam que mulher é um ser menor.
Na Truck tem sido muito tranquilo, e por ser um caminhão de quatro toneladas, respeitam muito os pilotos. Dar uma paulada com um caminhão, a chance de se machucar é grande. Como na Indy, bater é perigoso. Existe um respeito legal. Mas falo para as meninas que esse é um momento muito especial, pois querem mulheres. Então digo para elas aproveitarem, trabalharem muito, se dedicarem, pois tem mais espaço do que quando comecei em 1994.
Nunca fui ajudada por muitas mulheres. Quando eu chegava em uma categoria que tinha mulher, era um ódio mortal, pois aquela mulher era a única. Nos Estados Unidos que me toquei de parar de fazer isso, pois senão nunca teríamos mulheres. Quando cheguei ao Brasil, conheci a Raquel (Loh) na Stock Car, comecei a trocar ideia so
bre como ter mulheres no automobilismo, nas categorias, e as coisas começaram a acontecer. Passei a participar de grupos de empreendedoras no Brasil e nos Estados Unidos, que tem essa força de se ajudar e parar de querer ser a única rainha da colmeia de abelhas.
O Giovanni (Guerra, presidente da CBA) me chamou para ser representante do conselho de mulheres da FIA. Tinha acabado de ter meu segundo filho. E isso foi acontecendo. Vi trabalhos fantásticos ao redor do mundo e dizia para o Giovanni que precisávamos fazer. E até por pressão da Fabiana Ecclestone, que é vicepresidente da FIA na América do Sul, criouse a Comissão Feminina de Automobilismo, que foi uma necessidade, pois começaram a acontecer as coisas e eu precisava de ajuda. Sou pilota, não sei fazer evento. Preciso de pessoas e estrutura para isso. E tive mulheres muito alinhadas comigo, como a Raquel e a Bruna (Frazão). Raquel como engenharia para implementar projetos muito necessários com engenharia e mecânica. E a Bruna como promotora de eventos, trabalhando na Stock Car, em várias categorias com montadoras, e que tem essa base com eventos. Tem sido ótimo, somos muito alinhadas nos projetos, e hoje o Brasil é referência no FIA Girls on Track, único prêmio mundial da CBA foi esse nosso projeto do FIA Girls on Track no Brasil. Para mim, é um orgulho. Se perguntassem para meus pais quando eu tinha 15 anos que eu seria presidente de algo e teria sucesso, eles ririam. Tem a parte piloto, mas tem a parte da comissão, relacionado com automobilismo, mas diferente. Tem uma coisa mais corporativa. Tenho orgulho e aprendi a ver vitórias nas meninas, como a Patrícia, que começou com a gente e é mecânica de Stock Car, é uma vitória. A Antonella ganhando campeonato. A gente começa a ser feliz com os resultados e vitórias delas. É só coisa legal e que começou para ajudar mulheres, mas traz um prazer imenso para mim.
R: E como você se vê no futuro?
BF: Eu acho que já estou um pouco no futuro. Diferen
Bia esteve na Stock Car após deixar a Indy
te de um atleta de natação, de vôlei, que de repente para e não sabe o que fazer, eu tenho tantas funções na minha vida, como pilota, palestrante, eventos, canal de YouTube, agência de eventos como a Forte, com a Karina Simões, a Milene Rios e a Bruna, pessoas que tem a mesma forma de pensar, a Comissão Feminina de Automobilismo, eu sou mãe, tenho projetos familiares. Se eu parar de correr, vou sentir falta, pois amo correr, mas sei que isso vai se preencher. Mas me vejo 100% no automobilismo de alguma forma, envolvida com as corridas até meus últimos dias.
Nascida para ser campeã
ASG Motorsport está apenas em seu terceiro ano de história, mas já acumula vitórias e títulos na Copa Truck
texto: Leonardo Marson | fotos: Divulgação
Considerada a categoria mais popular do automobilismo brasileiro, a Copa Truck tem como diferencial o grande envolvimento das montadoras nas corridas. Por regulamento, os caminhões precisam ter a mesma aparência dos veículos que circulam nas estradas Brasil afora. E a ASG Motorsport é o time oficial da MercedesBenz no campeonato desde 2022, sempre capitaneada por Roberval Andrade, um dos principais pilotos do grid.
O time surgiu na temporada de 2022, após Roberval, campeão de 2018 e vicecampeão na temporada anterior, adquirir a estrutura da equipe então chefiada por outro piloto do grid, André Marques. A partir deste momento, com a parceria da marca da estrela de três pontas, Andrade tornou o time um dos mais fortes do principal campeonato de caminhões do País.
Já na primeira temporada na categoria, a ASG mostrou nas pistas de todo o País a que veio, vencendo logo em sua primeira corrida com Wellington Cirino, piloto que defendeu o time naquele campeonato ao lado de Roberval Andrade, Jaidson Zini e Fabiano Car
RAPHAEL ABBATE
BIA FIGUEIREDO
A ASG Motorsport tem um time de estrelas representando a Mercedes-Benz nas pistas da Copa Truck
doso. A vitória abriu a campanha que renderia o título ao paranaense em uma decisão agônica em Goiânia, no final daquele ano.
Cirino chegou com chances de título ao Autódromo Internacional Ayrton Senna, e viu Roberval vencer a primeira corrida enquanto terminou apenas em décimo. Na segunda prova, o paranaense largou dos boxes, mas viu um acidente na largada o recolocar na disputa. No final, Cirino terminou em quinto, posição suficiente para lhe garantir o primeiro título da equipe. A Mercedes ficou com o vicecampeonato das marcas.
Em 2023, a operação do time foi ampliada, e contou com a chegada de Bia Figueiredo, uma das principais representantes brasileiras no automobilismo internacional nas últimas décadas. Caio Castro, ator que se tornou piloto, também teve sua primeira experiência na Copa Truck através da ASG Motorsport, que tinha em Roberval sua principal estrela na categoria Pro, após a saída de Cirino do time.
Roberval novamente fez grande temporada, e chegou novamente à decisão do campeonato. Em uma decisão das mais agitadas em Interlagos, o piloto do caminhão
MercedesBenz número 15 conquistou o vicecampeonato brasileiro. Na classe Super, coube a Bia Figueiredo lutar pelo título até o final, e terminar com a terceira posição, empatada com o vicecampeão.
Na atual temporada, a ASG Motorsport segue com um time de estrelas representando a MercedesBenz nas pistas de todo o Brasil na Copa Truck. Roberval e Bia seguem na equipe, que ainda conta com Jaidson Zini, Raphael Abbate, Luiz Lopes, Pedro Perdoncini e Marcio Giordano.
Roberval Andrade é um dos destaques do ano. O piloto possui duas vitórias na atual temporada, que já contou com seis etapas. Na categoria Super, é Bia Figueiredo quem tem brilhado. São quatro vitórias na atual edição da Copa Truck, resultados que a alçam para a liderança do campeonato, com 25 pontos de vantagem em relação ao segundo colocado.
Com tudo isso, a ASG Motorsport mostra o protagonismo dela e da MercedesBenz na Copa Truck. Algo que a equipe sempre demonstrou desde 2022, e que foi desejado por Roberval Andrade desde quando optou por criar a equipe, no final de 2021.
SÃO PERMITIDOS O USO DE 22 PNEUS POR TEMPORADA
EMISSÃO DE FUMAÇA É MEDIDA POR SENSOR NO CAMINHÃO
RODAS PRECISAM SER DE FERRO, SENDO DUAS NO
EIXO DIANTEIRO E QUATRO NO TRASEIRO
Uma estrela na estrada e nas pistas
Mercedes-Benz Actros acelera na Copa Truck pela ASG Motorsport e pode ser visto nas estradas de todo o País
CABINE É IDÊNTICA
A DO CAMINHÃO QUE
ESTÁ NA ESTRADA
APARÊNCIA DO CAMINHÃO
TEM QUE SER IGUAL AOS VEÍCULOS DE RUA
Roberval Andrade pilota caminhões Mercedes desde 2022
ACopa Truck é um dos campeonatos mais importantes do automobilismo brasileiro graças a sua competitividade nas pistas, a grande conexão do público com a categoria, que na última etapa em São Paulo (SP) levou mais de 40 mil pessoas ao Autódromo de Interlagos, mas também a tecnologia dos caminhões, que podem ser vistas nos veículos que circulam pelas estradas de todo o País.
Um dos destaques do grid são os MercedesBenz Actros, caminhões preparados pela equipe ASG Motorsport. O time foi criado na temporada de 2022 e conta com pilotos como Roberval Andrade, campeão da Copa Truck em 2018 e dono de três títulos brasileiros de caminhões, e Bia Figueiredo, mais importante pilota da história do automobilismo brasileiro, e que tem passagens por categorias como a Indy e a Stock Car.
O diferencial da Copa Truck em relação às outras categorias é o apoio das montadoras. Os caminhões preparados pelas equipes contam com os mesmos componentes que os modelos vistos em nossas ruas e estradas. Isso permite ao público que está nas arquibancadas ou acompanha as corridas pela TV veja o “seu caminhão” nas pistas.
Por regulamento, a cabine do caminhão de competição precisa ser idêntica aos caminhões comerciais, seja no caso dos MercedesBenz, seja no de outras marcas. O motor conta com preparação específica e possui, na configuração de corrida, impressionan
Bia ponteia o pelotão: pilota tem três vitórias na Super
tes 1.250 cv de potência, três vezes mais que os caminhões das ruas, e torque máximo de 5.500 Nm. As velocidades alcançadas são superiores aos 200 km/h.
Além de toda a velocidade que os caminhões da Mercedes preparados pela ASG Motorsport possuem, destacase ainda o uso do sistema de telemetria Fleetboard, também presente nos veículos que circulam pelas ruas e estradas de todo o Brasil. Nas etapas da Copa Truck, a equipe consegue ver os dados dos MercedesBenz Actros nos treinos, classificações e corridas, o que é vital para a melhora do desempenho dos pilotos.
Para que tudo possa correr bem nas pistas de corrida de todo o Brasil, a MercedesBenz e a ASG Motorsport mantêm uma parceria que rendeu o título da temporada de 2022. Nela, a fabricante provém o fornecimento de peças ao longo da temporada da Copa Truck, além do apoio da Engenharia da Empresa para a parametrização dos motores de acordo com cada circuito visitado pela categoria.
Tudo isso faz da ASG Motorsport e da MercedesBenz uma das parcerias mais fortes da Copa Truck nos últimos anos. Em 2024, o time vem na disputa do título da categoria Super com Bia Figueiredo, e tem Roberval Andrade como atual vicecampeão da categoria Pro, a principal do campeonato. Além dos dois, formam o time Raphael Abbate, Jaidson Zini, Luiz Lopes, Pedro Perdoncini e Márcio Giordano.
Os caminhões da Copa Truck não possuem diferenças técnicas entre os que atuam na categoria Pro e na categoria Super. As divisões se dão por nível de experiência dos pilotos competindo com este tipo de veículo
Motor
Potência
Torque
Câmbio
Turbocompressor
Mercedes-Benz OM 460
13 litros (seis cilindros em linha)
1.000 cv
500 kgfm
Caixa manual GP-210, de ônibus urbano
3 bar de pressão (até 3.000 rpm)