Cadernodoprofessor 2014 2017 vol2 baixa ch filosofia em 3s

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3 SÉRIE ENSINO MÉDIO Volume 2

FILOSOFIA Ciências Humanas

CADERNO DO PROFESSOR


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR

FILOSOFIA ENSINO MÉDIO 3a SÉRIE VOLUME 2

Nova edição 2014 - 2017

São Paulo


Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretária-Adjunta Cleide Bauab Eid Bochixio Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenadora de Gestão de Recursos Humanos Cleide Bauab Eid Bochixio Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Ione Cristina Ribeiro de Assunção Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Dione Whitehurst Di Pietro Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri


Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colaboradores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abordagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste programa, seus maiores esforços ao intensiàcar aç×es de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas aç×es de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, àrma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enàm, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orientaç×es didático-pedagÓgicas e traz como base o conteÙdo do Currículo 0àcial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à .atriz Curricular. 0bservem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. 0 Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteÙdos das disciplinas, além de permitir uma avaliação constante, por parte dos docentes, das práticas metodolÓgicas em sala de aula, objetivando a diversiàcação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagÓgico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua histÓria. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo


A NOVA EDIĂ‡ĂƒO 0s materiais de apoio Ă implementação do CurrĂ­culo do Estado de SĂŁo Paulo sĂŁo oferecidos a gestores, professores e alunos da rede estadual de ensino desde 2008, quando foram originalmente editados os Cadernos do Professor. Desde entĂŁo, novos materiais foram publicados, entre os quais os Cadernos do Aluno, elaborados pela primeira vez em 2009. Na nova edição 2014-2017, os Cadernos do Professor e do Aluno foram reestruturados para atender Ă s sugestĂ—es e demandas dos professores da rede estadual de ensino paulista, de modo a ampliar as conexĂ—es entre as orientaçĂ—es oferecidas aos docentes e o conjunto de atividades propostas aos estudantes. Agora organizados em dois volumes semestrais para cada sĂŠrie/ ano do Ensino Fundamental – Anos Finais e sĂŠrie do Ensino MĂŠdio, esses materiais foram revistos de modo a ampliar a autonomia docente no planejamento do trabalho com os conteĂ™dos e habilidades propostos no CurrĂ­culo 0Ă cial de SĂŁo Paulo e contribuir ainda mais com as açĂ—es em sala de aula, oferecendo novas orientaçĂ—es para o desenvolvimento das SituaçĂ—es de Aprendizagem. Para tanto, as diversas equipes curriculares da Coordenadoria de GestĂŁo da Educação BĂĄsica (CGEB) da Secretaria da Educação do Estado de SĂŁo Paulo reorganizaram os Cadernos do Professor, tendo em vista as seguintes Ă nalidades

f incorporar todas as atividades presentes nos Cadernos do Aluno, considerando tambĂŠm os textos e imagens, sempre que possĂ­vel na mesma ordem; f orientar possibilidades de extrapolação dos conteĂ™dos oferecidos nos Cadernos do Aluno, inclusive com sugestĂŁo de novas atividades; f apresentar as respostas ou expectativas de aprendizagem para cada atividade presente nos Cadernos do Aluno – gabarito que, nas demais ediçĂ—es, esteve disponĂ­vel somente na internet. Esse processo de compatibilização buscou respeitar as caracterĂ­sticas e especiĂ cidades de cada disciplina, a Ă m de preservar a identidade de cada ĂĄrea do saber e o movimento metodolĂ“gico proposto. Assim, alĂŠm de reproduzir as atividades conforme aparecem nos Cadernos do Aluno, algumas disciplinas optaram por descrever a atividade e apresentar orientaçĂ—es mais detalhadas para sua aplicação, como tambĂŠm incluir o Ă­cone ou o nome da seção no Caderno do Professor (uma estratĂŠgia editorial para facilitar a identiĂ cação da orientação de cada atividade). A incorporação das respostas tambĂŠm respeitou a natureza de cada disciplina. Por isso, elas podem tanto ser apresentadas diretamente apĂ“s as atividades reproduzidas nos Cadernos do Professor quanto ao Ă nal dos Cadernos, no Gabarito. Quando incluĂ­das junto das atividades, elas aparecem destacadas.


Além dessas alteraç×es, os Cadernos do Professor e do Aluno também foram analisados pelas equipes curriculares da CGEB com o objetivo de atualizar dados, exemplos, situaç×es e imagens em todas as disciplinas,

possibilitando que os conteÙdos do Currículo continuem a ser abordados de maneira prÓxima ao cotidiano dos alunos e às necessidades de aprendizagem colocadas pelo mundo contemporâneo.

Seções e ícones

Leitura e análise Para começo de conversa

Aprendendo a aprender Você aprendeu?

?

!

Lição de casa

Pesquisa individual O que penso sobre arte?

Situated learning

Pesquisa em grupo

Learn to learn Homework

Roteiro de experimentação

Ação expressiva

Pesquisa de campo Para saber mais

Apreciação


SUMà RIO Orientação sobre os conteúdos do volume Situaçþes de Aprendizagem

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Situação de Aprendizagem 1 – Filosofia e CiĂŞncia Situação de Aprendizagem 2 – 0 libertarismo Situação de Aprendizagem – 0 determinismo

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Situação de Aprendizagem 4 – A concepção dialĂŠtica da liberdade Situação de Aprendizagem – Filosofia e -iteratura

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Situação de Aprendizagem – A felicidade segundo o estoicismo e o epicurismo Situação de Aprendizagem 7 – Ser feliz ĂŠ preciso

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Situação de Aprendizagem 8 – Felicidade e compromisso consigo e com o outro

Quadro de conteĂşdos do Ensino MĂŠdio Gabarito

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

ORIENTAĂ‡ĂƒO SOBRE OS CONTEĂšDOS DO VOLUME Prezado Professor, 0 presente volume sofreu algumas alteraçĂ—es em relação Ă s ediçĂ—es anteriores. As mudanças foram modestas e tiveram o sentido de melhorar o diĂĄlogo entre o Caderno do Professor e o Caderno do Aluno. De maneira geral, procuramos preservar as SituaçĂ—es de Aprendizagem no seu formato original, pois nĂŁo se trata de uma nova publicação, mas de nova edição. Dessa forma, Ă zemos alguns acrĂŠscimos e algumas exclusĂ—es, sempre no sentido de melhor atender as orientaçĂ—es gerais para o ensino de FilosoĂ a. Enfatizamos que o encaminhamento proposto nas SituaçĂ—es de Aprendizagem disponĂ­veis no Caderno do Professor e no Caderno do Aluno tem o sentido de apresentar uma possibilidade para percorrer as diretrizes dadas pelo CurrĂ­culo 0ficial do Estado de SĂŁo Paulo. Contudo, entendemos que, para seguir o CurrĂ­culo, vocĂŞ nĂŁo precisa nem deve Ă car restrito apenas aos Cadernos, podendo complementar as SituaçĂ—es de Aprendizagem propostas com outros recursos. VocĂŞ pode, ainda, adotar como referĂŞncia um livro didĂĄtico de sua preferĂŞncia. Mas, mesmo que faça essa opção, lembre-se sempre que, ainda assim, deverĂĄ complementar a proposta do livro com outros recursos e planejamento a fim de atender o CurrĂ­culo. Advertimos que nenhum material ĂŠ perfeito e jamais poderĂĄ ser utilizado sem planejamento e sem as indispensĂĄveis contribuiçĂ—es teĂ“ricas e prĂĄticas do docente. Professor, vocĂŞ tem autonomia para planejar e preparar as suas aulas, selecionar os textos e os pensadores que melhor se adĂŠquam aos temas curriculares e ao desenvolvimento das competĂŞncias e habilidades referidas no CurrĂ­culo.

Entendemos que nunca ĂŠ demais lembrar que o atendimento ao CurrĂ­culo 0Ă cial ĂŠ indispensĂĄvel, pois trata-se de uma polĂ­tica de Estado que visa a melhoria da educação pĂ™blica e a uniĂ cação dos processos de ensino e aprendizagem. Essa uniĂ cação pretende garantir a igualdade na formação e, assim, oportunizar aos nossos alunos trajetos mais equânimes. Ainda, o CurrĂ­culo proporciona oportunidade para uma educação comprometida com a formação crĂ­tica, solidĂĄria e inclusiva na medida em que tambĂŠm tem o sentido de preparar os nossos alunos para a vida social e para adentrar e melhor se adaptar Ă s demandas da esfera do mundo do trabalho, com base no desenvolvimento de habilidades e competĂŞncias.

Conhecimentos priorizados Neste volume, propĂ—e-se o estudo de quatro temas as relaçĂ—es entre FilosoĂ a e CiĂŞncia, a liberdade, as relaçĂ—es entre FilosoĂ a e -iteratura e, por Ă m, a felicidade. Na abordagem das relaçþes entre 'ilosoĂ a e CiĂ‹ncia o discurso Ă losĂ“Ă co serĂĄ confrontado com o discurso cientĂ­Ă co, buscando-se delimitar aproximaçĂ—es e distanciamentos nĂŁo apenas pela informação histĂ“rica sobre essa relação, mas tambĂŠm por meio de comparação entre os dois discursos. Na abordagem do tema liberdade, serĂŁo apresentadas trĂŞs teorias que buscaram compreender a natureza do homem como um ser que enfrenta limites Ă sua liberdade e tambĂŠm como alguĂŠm capaz de ser livre. Dessa forma, libertarismo, determinismo e dialĂŠtica foram os recortes selecionados para discutir um dos problemas fundamentais da FilosoĂ a O ser humano ĂŠ livre? Sobre as relaçþes entre 'ilosoĂ a e Literatura, o discurso literĂĄrio serĂĄ confrontado ao discurso Ă losĂ“Ă co tambĂŠm buscando delimitar aproximaçĂ—es e distanciamentos. Em relação ao tema felicidade, serĂŁo apresentadas duas teorias epicurismo e estoicismo, alĂŠm de aspectos contemporâneos subjacentes ao assunto, como o prazer

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a qualquer preço, o imediatismo na busca da felicidade e a relação do ser humano com a morte. Para fechar este volume e as reĂĄexĂ—es Ă losĂ“Ă cas na 3ÂŞ sĂŠrie do Ensino MĂŠdio, o tema felicidade serĂĄ pensado tomando-se por base as condiçĂ—es individuais que levam uma pessoa a ser feliz ou nĂŁo e algumas condiçĂ—es sociais que podem propiciar a felicidade. Ser feliz com o outro essa ĂŠ a perspectiva valorizada pelos autores deste Caderno para o trabalho com os estudantes do Ensino MĂŠdio.

CompetĂ‹ncias e habilidades As competĂŞncias e habilidades priorizadas sĂŁo aquelas referentes Ă atividade Ă losĂ“Ă ca e Ă s suas relaçĂ—es com a linguagem e com a polĂ­tica visando estimular a reĂĄexĂŁo e a tomada de posição no tocante a questĂ—es prĂ“prias da vida democrĂĄtica. Destacamos que a reflexĂŁo e a manifestação exigem o exercĂ­cio da leitura, da escrita e da prĂĄtica dialĂ“gica. Essas trĂŞs prĂĄticas elementares sĂŁo indispensĂĄveis para a compreensĂŁo dos fenĂ”menos histĂ“ricos, sociais, culturais, polĂ­ticos, artĂ­sticos e cientĂ­ficos. A compreensĂŁo desses fenĂ´menos permite a organização, a interpretação e a reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca.

Metodologia e estratĂŠgias A FilosoĂ a no Ensino MĂŠdio tem o sentido de responder Ă necessidade de uma educação integral. Ela compĂ—e, junto com a arte e a ciĂŞncia, uma maneira de abordar o mundo. Dessa forma, entendemos que um ensino que ignore a perspectiva filosĂ“fica de abordar o mundo nĂŁo pode almejar ser integral. Se a presença da FilosoĂ a no Ensino MĂŠdio ĂŠ justiĂ cada por uma demanda instrumental que seria a de munir os jovens de certos conhecimentos considerados necessĂĄrios para o exercĂ­cio da cidadania, essa demanda nĂŁo lhe ĂŠ exclusiva e ĂŠ compartilhada por todas as disciplinas do CurrĂ­culo. A demanda exclusiva da Filosofia ĂŠ apresentar aos nossos jovens a reĂĄexĂŁo do tipo Ă losĂ“Ă ca e por ela ofertar aos nossos alunos uma formação mais abrangente, que vise a formação integral.

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0 CurrĂ­culo e, como nĂŁo poderia deixar de ser, os Cadernos de FilosoĂ a, procuram atender nĂŁo apenas a demanda instrumental dada pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) mas tambĂŠm promover e valorizar a reflexĂŁo do tipo filosĂ“fica. Dessa forma, a organização dos temas curriculares e das SituaçĂ—es de Aprendizagem procura, com base em temas e conceitos relevantes no contexto da histĂ“ria da FilosoĂ a, favorecer a reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca para os alunos do Ensino MĂŠdio. Assim, ao trazermos para a reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca a atividade filosĂ“fica e as suas relaçĂ—es com a linguagem, elemento fundamental para se fazer ciĂŞncia e literatura, e com a polĂ­tica, que trata nĂŁo apenas de governos instituĂ­dos, mas tambĂŠm das relaçĂ—es entre as pessoas, procuramos acentuar a necessidade de se atentar para as condutas cotidianas. Ao centrar as SituaçĂ—es de Aprendizagem nas questĂ—es que perpassam a recepção da atividade Ă losĂ“Ă ca, nos temas FilosoĂ a e CiĂŞncia, FilosoĂ a e Literatura, a liberdade e a felicidade, nĂŁo dispensamos a histĂ“ria da Filosofia, a retomada dos conceitos Ă losĂ“Ă cos e o exercĂ­cio de oralidade, leitura e escrita que permitem explorar o potencial Ă losĂ“Ă co de cada aluno e nĂŁo cair em um ensino enciclopĂŠdico. Consideramos, na abordagem do tema, que o aporte da tradição Ă losĂ“Ă ca sĂ“ terĂĄ sentido se incentivar a elaboração de uma reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca, se os alunos puderem experimentar o percurso do pensamento organizado por meio do encontro com diferentes possibilidades de vocabulĂĄrio, raciocĂ­nio, hipĂ“teses, escolhas de premissas e consequĂŞncias. Nesse sentido, incentivamos nas SituaçĂ—es de Aprendizagem a leitura e anĂĄlise para a compreensĂŁo do texto, com base em pesquisas que visam ampliar o vocabulĂĄrio e, em especial, permitir que os alunos tenham acesso aos termos Ă losĂ“Ă cos. )ĂĄ, ainda, a indicação de questĂ—es que orientam o aluno a se remeter ao texto preferencialmente ou Ă explicação do professor. E, em menor frequĂŞncia, mas nĂŁo em menor importância, destacamos o papel da redação, que nĂŁo especiĂ camos como dissertação, pois esta deve ser uma opção do professor, baseando-se na condição da turma de alunos que tem diante de si. Contudo,


Filosofia – 3a série – Volume 2

lembramos que a dissertação é ocasião privilegiada para o exercício da reáexão àlosÓàca. ­ por ela que o aluno experimenta, que assume as hipÓteses que deve levá-lo a certas conclus×es. Neste volume, você, professor, poderá desaàar os alunos a argumentar acerca da Filosoàa, da atividade àlosÓàca, sobre a relação da Filosoàa com a Ciência e a Literatura, a liberdade e a felicidade, e as consequências das concepç×es e escolhas.

Avaliação da aprendizagem Estamos acostumados com a perspectiva de avaliação como uma régua, uma medida que permite classiàcar os alunos. Para realizar essa medição, nÓs, professores, geralmente aplicamos provas cujos resultados nos permitem dar notas e, assim, classiàcar os nossos alunos. Muitas vezes a classiàcação, ao ànal de um ano, nos permite identiàcar os alunos que apresentam ou não as condiç×es para avançar no processo de escolarização. 0u seja, no processo ela nos permite decidir pela aprovação ou reprovação dos alunos. Entendemos que essa perspectiva é apenas parcialmente válida se considerarmos a atual função da escola. Dessa forma, procure estar sempre atento aos processos de aprendizagens dos alunos, às necessidades, aos avanços e às diàculdades e não apenas ao que o aluno apresenta na prova bimestral. Considerando que a avaliação deve fazer parte do cotidiano escolar e não pode se reduzir a uma prova, ela deve contemplar todas as tarefas propostas, não apenas para o professor classiàcar, mas também para que o aluno reconheça as suas diàculdades e suas potencialidades. Assim, entendendo a avaliação da aprendizagem como parte de um processo formativo, o professor deve considerar todas as atividades propostas (e isso inclui as pesquisas, a lição de casa e, sempre que possível, a redação). Não esqueça que cada atividade proposta e realizada deve receber da sua parte um retorno individualizado, preferencialmente, e/ ou geral (nesse caso, deve-se especiàcar o que foi considerado um acerto da turma e no que eles precisam melhorar). No contexto deste volume, considere se os alunos, com base no tema proposto, foram capazes de identiàcar palavras centrais e seus

signiàcados diante do tema apresentado; se foram capazes de identiàcar os problemas apresentados em cada Situação de Aprendizagem; se ao ler um texto àlosÓàco, conseguiram identiàcar os conceitos e a linha argumentativa do àlÓsofo; se foram capazes de, por meio desse contato, reconhecer a relevância do problema e da contribuição da tradição filosÓfica; se foram capazes de identificar o problema proposto como um problema atual, da sua realidade; e ànalmente, até que ponto eles conseguiram avançar para uma reáexão e argumentação do tipo àlosÓàca. Professor, optamos, nesta edição, por não trabalhar com a perspectiva de gabarito no sentido de stricto sensu, pois, no contexto do ensino de Filosoàa, devemos atentar, mais do que para a precisão das respostas, para o quanto o aluno reconhece os conteÙdos transmitidos e, com base neles, apresenta condiç×es de se aproximar da experiência àlosÓàca. Assim, reforçamos a perspectiva de que as sugest×es de quest×es, presentes nas Situaç×es de Aprendizagem, não conàguram um receituário de perguntas em que as respostas já foram deànidas. Com isso não queremos dizer que vale qualquer resposta. Lembramos que as Situaç×es de Aprendizagem apresentam como referência textos e questionamentos que abordam o pensamento de determinados àlÓsofos. Dessa forma, as respostas dos alunos devem se remeter ao que foi proposto e aos pensadores citados, sempre que assim for requerido. Por àm, sugerimos que você realize o exercício de responder às quest×es propostas em cada Situação de Aprendizagem antes de indicá-las para os alunos e veriàque se elas são pertinentes para a sua turma, se elas atendem à expectativa de aprendizagem e formação com base no tema trabalhado. Esse procedimento deve ser considerado sempre que utilizar quest×es que não foram elaboradas por você, tais como as que estão propostas em livros didáticos, e as que foram formuladas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), provas de vestibulares e outras. Afinal, ninguém conhece melhor as turmas do que você! Bom trabalho!

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SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM SI56AÂŹÂŤ0 DE APRENDI;AGEM 1 FIL0S0FIA E CIÂŽNCIA Nesta Situação de Aprendizagem, a proposta ĂŠ pensar a Filosofia em comparação com a CiĂŞncia. Nesse processo, mais importante que traçar fronteiras demasiadamente explĂ­citas ĂŠ pensar uma origem comum aos

dois campos na GrĂŠcia Antiga e as hipĂ“teses para o distanciamento ocorrido entre eles ao longo da histĂ“ria principalmente tomando-se por base a concepção de CiĂŞncia moderna.

ConteĂşdos e temas: FilosoĂ a e CiĂŞncia aproximaçĂ—es e distanciamentos. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es de fontes variadas com conhecimentos de situaçĂ—es diversas, para construir argumentação consistente; comparar discurso Ă losĂ“Ă co e discurso cientĂ­Ă co; aprofundar a compreensĂŁo sobre o que ĂŠ FilosoĂ a valendo-se de comparação com o conceito de CiĂŞncia; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es com base em leituras e debates realizados. SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das opiniĂ—es contidas no senso comum sobre a FilosoĂ a e os Ă lĂ“sofos mediante dinâmicas de grupo, pesquisa de campo e debates; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento. SugestĂŁo de recursos: textos para leitura; discussĂŁo em sala de aula. SugestĂŁo de avaliação: sugere-se que sejam avaliados o domĂ­nio do conteĂ™do (conceitos, ideias, raciocĂ­nios etc.) estudado, a capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando-se superar o senso comum) e o envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaçĂ—es individuais, provas dissertativas e reĂĄexivas, veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno, participação em sala, e outros trabalhos que julgue adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização No volume anterior, desaĂ amos os alunos a comentarem um fato a partir de dois pontos de vista, o de um Ă lĂ“sofo e o de um religioso. 0 objetivo era identiĂ car semelhanças e diferenças entre esses dois discursos. Neste momento, vamos pensar nas semelhanças e diferenças entre o discurso Ă losĂ“Ă co e o discurso cientĂ­Ă co.

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Para a sondagem inicial, vocĂŞ orientarĂĄ os estudantes a realizarem uma comparação entre esses dois tipos de discurso. Para isso, sugerimos a leitura dos prĂ“ximos dois textos um Ă losĂ“Ă co, de Michel de Montaigne, e outro tipicamente cientĂ­Ă co, retirado de um relatĂ“rio sobre violĂŞncia no Brasil. 0s textos estĂŁo no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

De como Ă losoGar ĂŠ aprender a morrer Para CĂ­cero, filosofar nĂŁo ĂŠ outra coisa que preparar-se para a morte. Talvez porque o estudo e a contemplação tiram a alma para fora de nĂ“s, separam nossa alma do corpo, o que, em suma, se assemelha Ă morte e constitui como que um aprendizado em vista dela. 0u entĂŁo ĂŠ porque de toda sabedoria e inteligĂŞncia resulta, finalmente, que aprendemos a nĂŁo ter receio da morte. Em verdade, ou nossa razĂŁo falha ou seu objetivo Ă™nico deve ser a nossa prĂ“pria satisfação, e seu trabalho tender para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada Escritura. [...] NĂŁo sabemos onde a morte nos aguarda, e por isto a esperamos em toda parte. Refletir sobre a morte ĂŠ refletir sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal atingirĂĄ quem na existĂŞncia compreendeu que a privação da vida nĂŁo ĂŠ um mal; saber morrer nos libera de toda sujeição e constrangimento. M0NTAIGNE, Michel de. Les Essais. Livre I. Chapitre 9I9. p. 33 e 3 . DisponĂ­vel em francĂŞs em http //XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm.do select@action co@obra 3384 . Acesso em 19 dez. 2013. Tradução Luiza Christov.

Dados da mortalidade juvenil no Brasil [...] a taxa total de mortalidade da população brasileira caiu de 31 por 100mil habitantes em 1980, para 08 em 2011, fato bem evidente na melhoria da esperança de vida da população. Esse ĂŠ um dos indicadores cuja progressiva melhora possibilitou significativos avanços no Ă?ndice de Desenvolvimento )umano dos Ă™ltimos anos. Apesar dos ganhos globais, a taxa de mortalidade juvenil manteve-se praticamente estagnada ao longo do perĂ­odo, ainda com um leve aumento, passando de 127 em 1980 para 13 por 100 mil jovens em 2011. Tal diferencial nos ritmos de evolução da mortalidade jĂĄ estĂĄ a indicar a existĂŞncia de processos diversos. As caracterĂ­sticas da mortalidade juvenil nĂŁo permaneceram congeladas ao longo do tempo, mudaram radicalmente sua configuração a partir do que poderĂ­amos denominar de “novos padrĂľes da mortalidade juvenilâ€?. Estudos histĂ“ricos realizados em SĂŁo Paulo e Rio de +aneiro (Vermelho e Mello +orge1) mostram que as epidemias e doenças infecciosas, que eram as principais causas de morte entre os jovens cinco ou seis dĂŠcadas atrĂĄs, foram sendo progressivamente substituĂ­das pelas denominadas causas externas, principalmente, acidentes de trânsito e homicĂ­dios. [...] Em 1980 as causas externas jĂĄ eram responsĂĄveis por pouco mais da metade – 52,9% – do total de mortes dos jovens do paĂ­s. +ĂĄ em 2011, dos 4 .920 Ă“bitos juvenis registrados pelo SIM [Subsistema de Informação sobre Mortalidade], 34.33 tiveram sua origem nas causas externas, fazendo esse percentual elevar-se de forma drĂĄstica em 2011 quase 3/4 de nossos jovens – 73,2% – morreram por causas externas. [...] o maior responsĂĄvel por essa mortalidade sĂŁo os homicĂ­dios a ceifar a vida de nossa juventude, apesar das quedas observadas entre os anos 2004 e 2007 resultantes do impacto das estratĂŠgias de desarmamento da ĂŠpoca e de polĂ­ticas pontuais de enfrentamento da violĂŞncia em algumas Unidades da Federação, notadamente SĂŁo Paulo e, em segundo lugar, Rio de +aneiro. 1 VERMEL)0, LetĂ­cia L.; MELL0 +0RGE, Maria ). P. Mortalidade de jovens anĂĄlise do perĂ­odo de 1930 a 1991 (a transição epidemiolĂ“gica para a violĂŞncia). Revista de SaĂşde PĂşblica. SĂŁo Paulo, vol. 30, n. 4, 199 . Apud MELL0 +0RGE, Maria ). P. Como morrem nossos jovens. In CNPD. Jovens acontecendo na trilha das polĂ­ticas pĂşblicas. BrasĂ­lia, 1998.

8AISELFIS;, +ulio +. Mapa da Violência 2013 – )omicídios e juventude no Brasil. Rio de +aneiro CEBELA, 2013. Disponível em http //XXX.cebela.org.br/site/common/pdf/Mapa@2013@+ovens.pdf . Acesso em 15 jan. 2014.

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0s alunos podem realizar a leitura e a comparação desses pequenos fragmentos em duplas ou grupos. ApĂ“s a leitura do texto, peça que respondam Ă s questĂ—es a seguir e registrem as respostas no espaço destinado Ă atividade, no Caderno do Aluno. 1. 0s dois textos trazem opiniĂŁo de seus autores 2. Como se apresentam as informaçĂ—es em cada um dos textos 3. Quais diferenças entre os dois textos chamam mais a atenção

Registradas as hipĂ“teses, vocĂŞ, professor, poderĂĄ fazer uma sĂ­ntese, destacando os aspectos comuns e as distinçĂ—es apresentadas pelos alunos. Feita a sondagem inicial, partimos para outra leitura importante, porque contextualiza e oferece elementos para a reĂĄexĂŁo sobre o tema desta Situação de Aprendizagem. Solicite aos alunos que leiam com atenção o texto a seguir, reproduzido no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.

'ilosoĂ a e CiĂ‹ncia: uma origem comum e um destino de separação No momento de origem da Filosofia, na Antiguidade Grega, nĂŁo havia distinçĂ—es entre Filosofia e CiĂŞncia. Filosofia era considerada o conjunto de todos os conhecimentos fĂ­sicos e metafĂ­sicos. A leitura dos textos de AristĂ“teles, por exemplo, revela que esse autor escreveu tanto sobre a alma como sobre a natureza, sem diferenciar os campos de conhecimento cientĂ­fico e filosĂ“fico, como fazemos atualmente. 0 saber filosĂ“fico contemplava uma enorme diversidade de conhecimentos, uma vez que os primeiros filĂ“sofos refletiam sobre questĂ—es relativas a campos que hoje sĂŁo identificados como MatemĂĄtica, Biologia, FĂ­sica, LĂ“gica, MĂ™sica, Teatro, Astronomia, PolĂ­tica e ­tica. 0 mundo a ser compreendido abarcava questĂ—es em torno de dois grandes temas a natureza e o homem. E, como nĂŁo havia acĂ™mulo de conhecimentos associados a nenhum dos dois temas, a Filosofia foi se constituindo como um campo amplo de perguntas e respostas sobre o mundo natural e o mundo humano. Essa abordagem ampla da Filosofia preservou-se atĂŠ o perĂ­odo medieval, quando a Teologia se constituiu como campo dos estudos sobre Deus e sobre a fĂŠ. A partir do Renascimento e durante a Idade Moderna, a FĂ­sica, a MatemĂĄtica, a QuĂ­mica e a Biologia foram conquistando autonomia em relação Ă Filosofia e delimitando campos especĂ­ficos de investigação de seus objetos, em um processo que se estendeu por sĂŠculos. Isaac NeXton e RenĂŠ Descartes sĂŁo autores cuja obra registra aspectos que sugerem uma transição na qual a Filosofia se separa da CiĂŞncia. 0 livro em que NeXton apresentou as leis da mecânica chama-se PrincĂ­pios matemĂĄticos de filosofia natural. 0 livro de Descartes, que se chama PrincĂ­pios de Filosofia, estĂĄ dividido em quatro partes, denominadas Dos princĂ­pios do conhecimento humano, Dos princĂ­pios das coisas materiais, Do mundo visĂ­vel e A Terra. A formulação do mĂŠtodo cientĂ­fico foi fundamental para a separação entre Filosofia e CiĂŞncia. Esse processo teve inĂ­cio no Renascimento, entre os sĂŠculos XIV e XVI, e se consolidou entre os sĂŠculos XVII e XIX. Tal formulação entende que os conhecimentos sobre a natureza devem ser passĂ­veis de observação e experimentação para que seja possĂ­vel verificar hipĂ“teses. 0 prĂ“prio conceito de CiĂŞncia ganha essa forte significação de conhecimentos que podem ser observados e experimentados para serem comprovados ou negados.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

0utra ideia formulada no interior da CiĂŞncia sobretudo a partir do sĂŠculo XIX, serve para especificĂĄ-la diante da Filosofia a neutralidade do cientista em relação ao objeto de conhecimento. Segundo esta concepção, de que ĂŠ preciso ser neutro diante do objeto investigado, o cientista nĂŁo deveria interpretar e decidir quais dados selecionar entre aqueles que vai encontrando no processo de pesquisa cientĂ­fica. Essa concepção contemplava a visĂŁo de que os dados deveriam falar por si prĂ“prios, sendo o papel do cientista evidenciĂĄ-los. Muitas vezes, diante dessa perspectiva, considera-se que de modo geral, os filĂ“sofos posicionam-se a partir da sua visĂŁo de mundo, a qual condiciona sua interpretação, o que contrastaria com a neutralidade da CiĂŞncia. Filosofia e CiĂŞncia deveriam, assim, construir caminhos separados para o conhecimento. Coube Ă Filosofia orientar sua finalidade para questionar mĂŠtodos sobre o processo de conhecimento como um todo e a reflexĂŁo sobre o sentido e o valor da vida e do mundo, com destaque especial para as questĂ—es que cercam a existĂŞncia humana. A Filosofia passou a se dedicar a temas relativos Ă produção do conhecimento, como a teoria do conhecimento; a temas relativos Ă linguagem, com destaque para a lĂ“gica; e a temas associados aos fundamentos da arte e da sensibilidade, prĂ“prios do campo da estĂŠtica; e a temas ligados aos valores humanos e Ă convivĂŞncia, como a ĂŠtica. Em sĂ­ntese, pode-se dizer que Filosofia e CiĂŞncia nasceram juntas como um conjunto de conhecimentos sobre a natureza e a sociedade humana e separaram-se gradualmente ao longo de pelo menos seis sĂŠculos. Contribuiu para essa separação e para delimitar os discursos filosĂ“ficos e cientĂ­ficos uma determinada visĂŁo de CiĂŞncia, baseada na observação, na experimentação, na comprovação de hipĂ“teses e em uma suposta neutralidade. AlĂŠm disso, os saberes foram se especializando, e foram sendo criadas as disciplinas tal como as conhecemos atualmente. PorĂŠm, nos sĂŠculos XIX e XX, uma nova visĂŁo de CiĂŞncia foi formulada, com base na ideia de que nem sempre sĂŁo possĂ­veis comprovaçĂ—es ou experimentaçĂ—es e de que ĂŠ impossĂ­vel a neutralidade do cientista, uma vez que ele necessariamente interpreta, seleciona e se posiciona de forma interessada diante dos dados que analisa. Pode-se destacar algumas aproximaçĂ—es entre discurso filosĂ“fico e discurso cientĂ­fico, como f ambas as modalidades de investigação sĂŁo inspiradas pela curiosidade e por um conjunto de perguntas sobre a realidade; f filĂ“sofos e cientistas fazem um esforço para esclarecer as suas ideias; f ambos constroem uma argumentação que permita a comunicação dos saberes formulados, investigados; f ambos usam metĂĄforas para oferecer imagens mais prĂ“ximas a saberes jĂĄ conhecidos, no esforço para comunicar novos conhecimentos. Como diferenças entre esses discursos, pode-se destacar f a Filosofia utiliza diversos gĂŞneros textuais para expressar suas ideias cartas, poemas, diĂĄlogos, ensaios etc. A CiĂŞncia nĂŁo faz uso de tantos gĂŞneros textuais, e seu gĂŞnero ĂŠ o relatĂ“rio de pesquisa e o artigo cientĂ­fico; f a Filosofia questiona mĂŠtodos e finalidades da CiĂŞncia. A CiĂŞncia utiliza instrumentos para construir dados, enquanto a Filosofia nĂŁo estĂĄ associada ao uso de instrumentos; f os termos usados pela CiĂŞncia costumam ser definidos de forma que o seu significado possa ser generalizado. Em Filosofia, um termo ou expressĂŁo pode ter diferentes significados, a depender

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do contexto e argumentação feita por cada autor. Exemplo a palavra â€œĂĄtomoâ€?, em QuĂ­mica, e a palavra “sujeitoâ€?, em Filosofia. ­ comum usarmos as expressĂ—es “Marx entende o sujeito como...â€?; “Para Foucault, o significado da palavra sujeito ĂŠ...â€?; “Em Deleuze, o sujeito ĂŠ...â€?; ou “Descartes afirmava que o sujeito constitui-se em...â€?. AlĂŠm dessa reflexĂŁo sobre a diferença entre os textos filosĂ“ficos e cientĂ­ficos, a experiĂŞncia de leitura desses dois tipos de discurso contribuirĂĄ para o reconhecimento nĂŁo apenas das marcas prĂ“prias de cada um, mas, sobretudo, de sua importância para a formação do cidadĂŁo. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura, as questĂ—es a seguir, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno, podem orientar a discussĂŁo do texto, começando por pequenos grupos e, depois, envolvendo toda a classe 1. Considerando a leitura dos textos De como Ă losofar ĂŠ aprender a morrer, Dados da mortalidade juvenil no Brasil e FilosoĂ a e CiĂŞncia: uma origem comum e um destino de separação, o que se pode aĂ rmar sobre a diferença entre FilosoĂ a e CiĂŞncia 2. 0s procedimentos para elaborar um texto Ă losĂ“Ă co e um texto cientĂ­Ă co sĂŁo os mesmos +ustiĂ que sua resposta. ApĂ“s a apresentação de cada um dos grupos, ĂŠ interessante que vocĂŞ, professor, faça uma sĂ­ntese que recupere as ideias centrais do texto FilosoĂ a e CiĂŞncia: uma origem comum e um destino de separação. Lembre-se de que o importante dessa comparação ĂŠ a oportunidade de aprofundar a compreensĂŁo sobre o que ĂŠ FilosoĂ a. Conforme proposto no Caderno do Aluno, na seção Lição de casa, peça aos estudantes que formem grupos para a realização de entrevistas. Essa entrevista deverĂĄ ser feita com um professor ou outro proĂ ssional da ĂĄrea de CiĂŞncias da Natureza (Biologia, QuĂ­mica e FĂ­sica), na qual os alunos perguntarĂŁo

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1. Quais sĂŁo as diferenças que vocĂŞ aponta entre a ciĂŞncia que leciona/desenvolve e a FilosoĂ a 2. Existe alguma colaboração entre essa ciĂŞncia e a FilosoĂ a 3. Existem mitos na CiĂŞncia Se a resposta for aĂ rmativa, indique exemplos. 4. VocĂŞ poderia citar exemplos de momentos em que a CiĂŞncia promove a humanização e momentos em que ela atua contra a humanização Com as informaçĂ—es obtidas na entrevista, o grupo deverĂĄ organizĂĄ-las e estudĂĄ-las para que a atividade seja Ă nalizada com um debate sobre os limites e as possibilidades da CiĂŞncia no processo de humanização.

Avaliação da Situação de Aprendizagem Para finalizar esta Situação de Aprendizagem, vocĂŞ poderĂĄ aplicar uma avaliação. Sugerimos as seguintes questĂ—es, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ aprendeu . 1. Comente o tratamento dispensado ao tema “morteâ€? no texto de Montaigne e no texto de +ulio +acobo 8aiselĂ sz, apresentados anteriormente.


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Montaigne pensava a morte valendo-se da prĂłpria experiĂŞncia, sem referĂŞncias a dados gerais sobre mortalidade em seu tempo e em seu paĂ­s. O texto de Julio Jacobo

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo do tema

Waiselfisz apresenta dados gerais sobre a mortalidade, a partir de estudos de grandes contingentes populacionais. A reflexĂŁo de Montaigne ĂŠ subjetiva e o relatĂłrio

Livro

cientĂ­fico procura apresentar dados baseados em infor-

no discurso cientĂ­fico, tambĂŠm hĂĄ hipĂłteses e coerĂŞncia

M0RIN, Edgar. A religação dos saberes o desaĂ o do sĂŠculo XXI. 9. ed. Tradução e notas FlĂĄvia Nascimento. Rio de +aneiro Bertrand Brasil, 2010. Livro importante para compreender as transformaçĂ—es em torno do conhecimento cientĂ­Ă co e Ă losĂ“Ă co, especialmente no que diz respeito Ă necessidade atual de um conhecimento comprometido com preservação ambiental e com a construção de uma sociedade solidĂĄria, capaz de superar a exclusĂŁo nĂŁo apenas de certos grupos sociais, mas de continentes inteiros, como ĂŠ o caso da Ă frica.

lĂłgica e, na Filosofia, tambĂŠm hĂĄ referĂŞncia Ă experiĂŞncia. Por isso, ĂŠ difĂ­cil encontrar palavras para distinguir

Site

maçþes objetivas.

2. Como se pode deĂ nir a FilosoĂ a, se comparada com o discurso cientĂ­Ă co Por esta comparação, a Filosofia ĂŠ um discurso que pensa a realidade a partir de hipĂłteses e da coerĂŞncia ou lĂłgica interna aos prĂłprios argumentos, sem necessariamente referir-se a informaçþes baseadas em levantamentos empĂ­ricos, ou seja, na experiĂŞncia de grande nĂşmero de pessoas. É preciso cuidado com esta comparação, pois,

com precisão os dois discursos. Os alunos poderão fazer essa distinção por hipóteses e aproximaçþes e, com a sua ajuda, tambÊm perceber fronteiras entre um discurso e o outro.

Proposta de situação de recuperação Caso alguns alunos nĂŁo apresentem desempenho satisfatĂ“rio durante os trabalhos desta Situação de Aprendizagem, vocĂŞ poderĂĄ propor que retomem a leitura do texto FilosoĂ a e CiĂŞncia: uma origem comum e um destino de separação. Solicite-lhes que, apĂ“s a leitura, respondam, em folha avulsa 1. Quais sĂŁo as indicaçĂ—es de que a FilosoĂ a e a CiĂŞncia tiveram uma origem comum 2. Quais sĂŁo as informaçĂ—es oferecidas no texto que justiĂ cam a separação entre FilosoĂ a e CiĂŞncia 3. Como se pode deĂ nir FilosoĂ a

M0LINA, +orge A. A leitura dos textos Ă losĂ“ficos. DisponĂ­vel em http //XXX.unisc.br/ portal/images/stories/mestrado/letras/colo quios/ii/leitura@textos@Ă losoĂ cos.pdf . Acesso em 19 dez. 2013. Trata-se de um texto em linguagem clara, que aborda com profundidade a comparação da FilosoĂ a com outros discursos, chamando a atenção do leitor para os desaĂ os da leitura de um texto Ă losĂ“Ă co. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

Slides F0NSECA, Andre A. Como estudar um texto cientĂ­Ă co ou Ă losĂ“Ă co. DisponĂ­vel em http // pt.slideshare.net/andreaugfonseca/comoestudar-um-texto-cientĂ co-ou-Ă losĂ co . Acesso em 15 jan. 2014. Trata-se de uma pequena apresentação de slides que orienta a leitura e o entendimento de textos cientĂ­ficos e filosĂ“ficos. Baseado no livro Metodologia do trabalho cientĂ­Ă co, de Antonio +oaquim Severino (SĂŁo Paulo Cortez, 2008). (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

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SITUA0 DE APRENDI;AGEM 2 0 LIBERTARISM0 Nesta Situação de Aprendizagem, serå abordado o tema da liberdade sob o enfoque do libertarismo. 0 libertarismo concebe a liberdade como autodeterminação ou autocausalidade.

Segundo essa corrente, ser livre ĂŠ agir voluntariamente, sendo a vontade determinada exclusivamente pelo prĂ“prio agente. Para analisar essa concepção, veremos, brevemente, a posição de AristĂ“teles e a tese do livre-arbĂ­trio tal como formulada por Santo Agostinho.

ConteĂşdos e temas: introdução ao conceito de liberdade; a liberdade segundo o libertarismo; o livre-arbĂ­trio. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es de fontes variadas com conhecimentos de situaçĂ—es diversas, para construir argumentação consistente; problematizar a questĂŁo da liberdade e sensibilizar-se quanto Ă relevância de reĂĄetir de forma sistemĂĄtica e rigorosa sobre ela; identiĂ car as contribuiçĂ—es e os limites das concepçĂ—es de liberdade abordadas e posicionar-se criticamente em relação a elas; conhecer e dominar aspectos das concepçĂ—es de liberdade; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es com base em leituras e debates realizados. SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das representaçĂ—es dos alunos sobre o problema da liberdade; discussĂŁo em grupo sobre as questĂ—es levantadas nas aulas; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento; pesquisa bibliogrĂĄĂ ca complementar. SugestĂŁo de recursos: discussĂŁo em sala de aula; bibliograĂ a complementar; Ă lmes. SugestĂŁo de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domĂ­nio pelos alunos do conteĂ™do (conceitos, ideias, raciocĂ­nios etc.) estudado, a capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum), e o envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaçĂ—es individuais, provas dissertativas e reĂĄexivas, veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno, participação em sala e outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Para esta sondagem, peça aos alunos que formem grupos. Isso favorecerå a discussão compartilhada desta atividade, pautada nas seguintes perguntas, que tambÊm se encontram no Caderno do Aluno 1. 0 que Ê liberdade para você Dê uma definição.

1

2. ­ possível ser livre na sociedade em que vivemos Por quê 3. Você se considera uma pessoa livre +ustifique. Um aspecto importante Ê fundamental que os alunos sintam-se à vontade para falar o que pensam. Isso Ê particularmente significativo neste momento em que a classe estarå discu-


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tindo o tema da liberdade, pois pode-se fazer das prÓprias experiências vivenciadas em sala de aula o objeto de sua reåexão. Evidentemente, você tem autonomia para substituir ou acrescentar quest×es conforme julgar conveniente.

Ainda como estratĂŠgia de sensibilização inicial em torno do tema, propomos um texto introdutĂ“rio, reproduzido a seguir e no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.

Liberdade – Introdução A liberdade ĂŠ, sem dĂ™vida, um dos valores mais defendidos no mundo atual. Ela ĂŠ considerada um direito inalienĂĄvel na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do CidadĂŁo e na Constituição da maioria das naçĂ—es. No caso do Brasil, esse direito ĂŠ garantido pelo artigo 5o da Constituição Federal. Mas serĂĄ que todos entendemos a liberdade da mesma forma Em nome desse valor moral tĂŁo decantado jĂĄ nĂŁo se cometeram horrĂ­veis atrocidades SerĂĄ que ela se aplica da mesma maneira a todas as pessoas e classes sociais Por exemplo, a Constituição brasileira diz, no artigo 5o, inciso XIII, que â€œĂŠ livre o exercĂ­cio de qualquer trabalho, ofĂ­cio ou profissĂŁo, atendidas as qualificaçĂ—es profissionais que a lei estabelecerâ€?. Na prĂĄtica, porĂŠm, todos podem escolher com liberdade a profissĂŁo que exercem ou vĂŁo exercer 0 inciso XV do mesmo artigo diz que â€œĂŠ livre a locomoção no territĂ“rio nacionalâ€?. Mas todos tĂŞm iguais condiçĂ—es para decidir por exemplo, quando, como e para onde desejam ir nas fĂŠrias ou nos feriados prolongados SerĂĄ que a liberdade proclamada no plano formal (na lei, por exemplo) estĂĄ sendo assegurada na prĂĄtica Do ponto de vista estritamente filosĂ“fico, podemos perguntar 0 homem ĂŠ livre para agir segundo sua vontade ou estĂĄ sujeito a alguma espĂŠcie de lei ou mecanismo que determina a forma como ele se comporta Em outras palavras, as coisas acontecem de determinada forma porque tĂŞm necessariamente que acontecer assim, ou somos nĂ“s quem as fazemos conforme bem entendemos 0u serĂĄ que, na verdade, tudo acontece por acaso Existe um destino previamente traçado e do qual nĂŁo conseguimos escapar, ou somos nĂ“s os autores e sujeitos do nosso destino, da nossa histĂ“ria Enfim, ĂŠ possĂ­vel ao homem exercer a liberdade Em que medida Vemos que o problema nĂŁo ĂŠ simples. Nas prĂ“ximas duas SituaçĂ—es de Aprendizagem, vamos tratar do tema da liberdade. Na realidade, jĂĄ o abordamos brevemente no volume anterior, quando estudamos a desigualdade vista por +ean-+acques Rousseau, no texto O contrato social e a igualdade formal, em que ele procurou conciliar obediĂŞncia Ă s leis com o exercĂ­cio da liberdade. Segundo Rousseau, pelo contrato social, cada membro da sociedade decide voluntariamente alienar-se de seus direitos particulares em favor da comunidade. Como essa alienação ĂŠ praticada por todos, e como as leis Ă s quais cada um deve obedecer sĂŁo fruto da vontade geral, na prĂĄtica, cada cidadĂŁo obedece Ă s leis que prescreveu para si mesmo, preservando, assim, sua liberdade. Desse modo, Rousseau estabeleceu uma distinção entre liberdade natural (fazer tudo o que se deseja e que seja possĂ­vel) e liberdade civil ou liberdade moral (limitada pela vontade geral). Esta, para ele, ĂŠ “a Ă™nica capaz de tornar o homem verdadeiramente senhor de si mesmo, pois o impulso do simples apetite ĂŠ escravidĂŁo e a obediĂŞncia Ă lei que nĂ“s mesmos nos impomos ĂŠ liberdadeâ€?1.

1

R0USSEAU, +ean-+acques. Do contrato social. Disponível em http //XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm. do select@action co@obra 12924 . Acesso em 19 dez. 2013. Tradução Rita de Luca.

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Nesta e nas prĂ“ximas SituaçĂ—es de Aprendizagem, vamos ampliar um pouco o estudo desse assunto, examinando brevemente trĂŞs posiçĂ—es filosĂ“ficas. SĂŁo elas o libertarismo ou a concepção da liberdade como autodeterminação ou autocausalidade; o determinismo; e a dialĂŠtica. As duas primeiras opĂ—em-se uma Ă outra, ao passo que a terceira procura superar o antagonismo entre elas. Evidentemente, hĂĄ muitas outras formas de se abordar o tema liberdade, que foi e ĂŠ objeto de estudo de inĂ™meros autores que refletiram sobre esse tema a partir das mais diversas perspectivas. 0ptamos, porĂŠm, pela abordagem apresentada, por entendermos que ela favorece uma visĂŁo panorâmica, sistemĂĄtica e crĂ­tica acerca da liberdade, sobretudo considerando a forma como ela se apresenta nos dias de hoje. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura, seria interessante abrir espaço para que os alunos possam se posicionar sobre os questionamentos levantados pelo texto, de acordo com proposta do Caderno do Aluno. Cabe, porĂŠm, a vocĂŞ avaliar a pertinĂŞncia dessa atividade. Para ampliar a reflexĂŁo e trazer o tema da liberdade para situaçĂ—es histĂ“ricas bastante concretas, sugerimos para a prĂ“xima etapa a proposta de Pesquisa individual do Caderno do Aluno. De acordo com essa proposta, os alunos deverĂŁo assistir ao Ă lme Milk – A voz da igualdade, (direção de Gus Van Sant, 2008), que mostra a histĂ“ria de um cidadĂŁo estadunidense que acabou se tornando uma importante liderança polĂ­tica na defesa da liberdade para os homossexuais. Em seguida, ĂŠ apresentada uma pergunta-guia para reflexĂŁo, tambĂŠm presente no Caderno do Aluno. f VocĂŞ concorda com a causa defendida por Milk – A voz da igualdade +ustiĂ que.

Se nĂŁo for possĂ­vel para os alunos assistir a esse filme, eles poderĂŁo descrever e discutir uma situação que envolva o tema liberdade em um outro filme que jĂĄ tenham assistido. A ideia ĂŠ que ocorra um breve debate sobre as impressĂ—es dos alunos em relação ao filme e sobre as respostas que deram Ă pergunta norteadora. Avalie, porĂŠm, a necessidade e a relevância de fazĂŞ-lo. Na aula seguinte, entĂŁo, vocĂŞ pode iniciar com a conversa sobre o filme. AlĂŠm disso, propomos a reflexĂŁo sobre o significado do Ato Institucional n o 5 e sua relação com a questĂŁo da liberdade. 0 texto proposto como subsĂ­dio para esta atividade ĂŠ transcrito a seguir e estĂĄ disponĂ­vel na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno. Apesar disso, certamente, vocĂŞ pode se valer de outras fontes, mais ricas e completas, se considerar necessĂĄrio ou pertinente.

Ato Institucional no 5, de 13 de dezembro de 1968 O Ato Institucional no 5, conhecido como AI-5, um dos instrumentos jurĂ­dicos usados pela Ditadura Militar instalada no Brasil em 19 4, tinha como uma de suas justificativas assegurar a “autĂ‹ntica ordem democrĂĄtica, baseada na liberdadeâ€? e “no respeito Ă dignidade da pessoa humanaâ€?. Apesar disso, instituĂ­a medidas de exceção, como a concessĂŁo de amplos poderes ao presidente da RepĂ™blica, que podia, entre outras medidas “decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadoresâ€?, “legislar em todas as matĂŠriasâ€?, “decretar a intervenção nos Estados e MunicĂ­pios, sem as limitaçĂ—es previstas na Constituiçãoâ€?, “suspender os direitos polĂ­ticos de quaisquer cidadĂŁos pelo prazo de dez anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipaisâ€?, suspender

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o “direito de votar e de ser votado nas eleiçĂ—es sindicaisâ€?, proibir “atividades ou manifestação sobre assunto de natureza polĂ­ticaâ€?; impor a “liberdade vigiadaâ€?, proibir de “frequentar determinados lugaresâ€?, “demitir, remover, aposentar ou pĂ´r em disponibilidadeâ€? empregados de “autarquias, empresas pĂ™blicas ou sociedades de economia mistaâ€?, alĂŠm de “demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polĂ­cias militaresâ€?, “decretar o estado de sĂ­tioâ€? e suspender “a garantia de habeas corpusâ€?. Assim, em nome da liberdade, da democracia e da dignidade humana, o AI-5 passava por cima da Constituição, lei maior que justamente deveria salvaguardar esses princĂ­pios. Fonte de dados BRASIL. Ato Institucional no 5, de 13 de dezembro de 1968. DisponĂ­vel em http //XXX.planalto.gov.br/ccivil@03/AIT/ait-05- 8.htm . Acesso em 19 dez. 2013.

A pergunta sugerida para nortear essa reĂĄexĂŁo, e que tambĂŠm estĂĄ no Caderno do Aluno, ĂŠ a seguinte f A liberdade e a democracia sĂŁo compatĂ­veis com medidas como as previstas no AI-5 +ustiĂ que a sua resposta. A atividade seguinte abre a discussĂŁo sobre a primeira concepção da liberdade que serĂĄ estudada o libertarismo. 0 autor de referĂŞncia ĂŠ AristĂ“teles, jĂĄ estudado pelos alunos. Mas ĂŠ sempre interessante motivĂĄ-los a conhecer o pensamento de AristĂ“teles, particularmente no que se refere ao tema da liberdade. Solicite que, apĂ“s a leitura do texto que segue, os alunos discutam em grupos e respondam, no Caderno do Aluno, a duas perguntas

1. Qual a diferença entre uma ação voluntĂĄria e uma ação involuntĂĄria ApĂ“s responder, escreva exemplos no quadro. (0s exemplos de açĂ—es voluntĂĄrias e involuntĂĄrias deverĂŁo ser anotados em um quadro existente no Caderno do Aluno.) 2. VocĂŞ ĂŠ capaz de imaginar um tipo de ação que seja uma espĂŠcie de mistura entre voluntĂĄria e involuntĂĄria Como ela seria DĂŞ exemplos. Pretendemos, aqui, levantar o senso comum dos alunos a respeito desses conceitos para que, posteriormente Ă leitura do texto, confrontem sua posição com a do autor estudado. A seguir, o texto proposto no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.

Liberdade segundo AristĂłteles A posição do libertarismo ĂŠ aquela que entende a liberdade como a possibilidade do indivĂ­duo de decidir e agir conforme sua prĂ“pria vontade. Ser livre ĂŠ, pois, o mesmo que agir voluntariamente, sendo esta vontade determinada exclusivamente pelo prĂ“prio agente. 0u seja, diante de uma situação qualquer, posso agir de uma maneira ou de outra, dependendo apenas da minha decisĂŁo. DaĂ­ essa concepção tambĂŠm ser denominada de perspectiva da autodeterminação, pois o prĂ“prio sujeito que age ĂŠ a causa de sua ação, sem que sofra qualquer constrangimento de fatores externos a ele. Esta ĂŠ, tambĂŠm, ao que parece, a posição que mais se aproxima da concepção de liberdade caracterĂ­stica do senso comum. Um dos primeiros a formular essa noção de liberdade foi AristĂ“teles (384-322 a.C.), em sua obra Ética a NicĂ´maco, mais precisamente no Livro III. Ele inicia distinguindo o voluntĂĄrio do involuntĂĄrio “Aquelas coisas que ocorrem sob compulsĂŁo ou por ignorância sĂŁo, pois, consideradas involuntĂĄrias; e ĂŠ compulsĂ“rio aquilo cujo princĂ­pio motor se encontra fora de nĂ“s e para o qual em nada

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contribui a pessoa que age e que sente a paixĂŁo – por exemplo, se essa pessoa fosse levada a alguma parte pelo vento ou por homens que a tivessem em seu poderâ€?1. Portanto, “o voluntĂĄrio parece ser aquilo cujo princĂ­pio motor se encontra no prĂ“prio agente, estando ele ciente das circunstâncias particulares do atoâ€?2. Mas hĂĄ, tambĂŠm, para AristĂ“teles, certas açĂ—es que parecem misturar o carĂĄter voluntĂĄrio e involuntĂĄrio. Por exemplo, “se um tirano ordenasse a alguĂŠm que cometesse um ato vil e esse alguĂŠm, tendo seus pais e filhos em poder daquele, praticasse o ato para salvĂĄ-los da morteâ€?; ou “quando se lançam cargas ao mar durante uma tempestadeâ€?3 em nome da segurança da embarcação. Embora seja discutĂ­vel o carĂĄter voluntĂĄrio ou involuntĂĄrio de atos desse tipo, eles se assemelham mais a atos voluntĂĄrios, visto que, em condiçĂ—es normais, nĂŁo teriam sido realizados. Resultam, portanto, de uma escolha que se dĂĄ em função das circunstâncias do momento. “AçĂ—es desse tipo sĂŁo, por conseguinte, voluntĂĄrias, mas em abstrato talvez involuntĂĄrias, pois ninguĂŠm as escolheria por si mesmasâ€?4, isto ĂŠ, pelo que elas prĂ“prias representam. Mas, como vimos, o involuntĂĄrio ĂŠ tambĂŠm aquilo que se faz por ignorância. E existe uma diferença entre agir por ignorância e agir na ignorância. No primeiro caso, age-se por causa da ignorância, isto ĂŠ, a ignorância ĂŠ a causa da ação. Se soubesse o que fazia, a pessoa nĂŁo agiria de tal maneira. Por exemplo, quando uma criança brincando com um revĂ“lver o dispara acidentalmente, ferindo uma pessoa, ou quando alguĂŠm tem uma reação alĂŠrgica a um medicamento cujos efeitos colaterais desconhecia. No segundo caso, a ignorância nĂŁo ĂŠ propriamente a causa da ação, mas, ao contrĂĄrio, consequĂŞncia de uma outra causa (a embriaguez, a fĂ™ria etc.), que leva a pessoa a ignorar momentaneamente o que faz. Por exemplo, quando um homem embriagado atravessa uma avenida movimentada pondo em risco sua vida e a de outras pessoas. ApĂ“s esclarecer o sentido de voluntĂĄrio e involuntĂĄrio, AristĂ“teles passa a discutir o conceito de escolha. Em primeiro lugar, “a escolha envolve um princĂ­pio racional e uma ideiaâ€?5. Por isso, ela ĂŠ prĂ“pria dos seres humanos. 0s animais nĂŁo sĂŁo capazes de escolher, como vimos no exemplo dado por Rousseau (no volume anterior, no texto O homem no estado de natureza) um gato faminto morre de fome diante de uma porção de frutas. NĂŁo lhe ĂŠ possĂ­vel decidir comĂŞ-las ou nĂŁo. Apenas obedece aos condicionamentos que a natureza lhe impĂ´s. 0 homem, ao contrĂĄrio, dotado da capacidade de escolha, pode se alimentar do que nĂŁo gosta e atĂŠ de alimentos que lhe sĂŁo prejudiciais Ă saĂ™de. Escolher envolve sempre deliberação, decisĂŁo. Deliberar, por sua vez, requer investigação e anĂĄlise. Mas nem tudo ĂŠ passĂ­vel de deliberação. Sobre certas coisas, nĂŁo temos nenhum poder de decidir. Por exemplo o fato de a diagonal e os lados de um quadrado terem medidas diferentes, os solstĂ­cios, o nascimento e a morte das estrelas, as secas e as chuvas, os acontecimentos fortuitos (como um tesouro que se encontra por acaso, ou um pneu que fura na estrada). Mesmo entre os atos humanos hĂĄ muitos sobre os quais nĂŁo podemos deliberar. Um brasileiro nĂŁo pode decidir sobre as leis da Argentina. Em suma, nenhuma dessas coisas pode ocorrer por nossa iniciativa. Sobre o que, entĂŁo, podemos escolher e deliberar Apenas “sobre coisas que estĂŁo ao nosso alcance e podem ser feitasâ€? . 0u seja, deliberamos sobre coisas possĂ­veis, as quais sĂŁo assim definidas por 1

ARISTĂ“TELES. Ética a NicĂ´maco. DisponĂ­vel em http //XXX.dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/mc000011.pdf . Acesso em 19 dez. 2013. Tradução do inglĂŞs Eloisa Pires.

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Ibidem.

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Ibidem.

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Ibidem.

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Ibidem.

Ibidem.


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

AristĂ“teles “Por coisas ApossĂ­veis entendo aquelas que se podem realizar pelos nossos prĂ“prios esforçosâ€?7. Por exemplo um mĂŠdico pode deliberar sobre os meios de conduzir o tratamento; um comerciante, sobre as formas de negociar seus produtos; um professor, sobre os procedimentos didĂĄticos mais adequados; e assim por diante. Assim, diz AristĂ“teles, “toda classe de homens delibera sobre coisas que podem ser feitas por seus prĂ“prios esforçosâ€?8. 0ra, se a escolha supĂ—e deliberação e sĂ“ podemos deliberar sobre coisas possĂ­veis (que estĂŁo a nosso alcance), entĂŁo sĂ“ podemos escolher coisas possĂ­veis. “A escolha nĂŁo pode visar a coisas impossĂ­veis, e se alguĂŠm declarasse que as escolheu passaria por toloâ€?9. Temos, entĂŁo, uma definição de escolha “Sendo o objeto de escolha algo que estĂĄ ao nosso alcance e que ĂŠ desejado apĂ“s deliberação, a escolha serĂĄ um desejo deliberado de coisas que estĂŁo ao nosso alcance; pois, quando decidimos como resultado de uma deliberação, desejamos de acordo com o que deliberamos.â€?10 Concluindo, podemos tentar agora definir a liberdade com base no que vimos do pensamento de AristĂ“teles. Liberdade seria, entĂŁo, agir voluntariamente (isto ĂŠ, tendo no prĂ“prio agente o princĂ­pio motor da ação e sem qualquer interferĂŞncia externa a ele), podendo escolher entre coisas possĂ­veis mediante um processo de deliberação. 0 problema dessa concepção de liberdade ĂŠ que ela exclui por completo qualquer determinação exterior ao sujeito, entendendo que, se nossas escolhas resultassem de causas externas a nĂ“s ou de leis necessĂĄrias, ou mesmo do acaso, nĂŁo dependeriam de nossa deliberação e, consequentemente, nĂŁo seriam livres. A liberdade seria, pois, impossĂ­vel. Mas serĂĄ que nossas escolhas podem ser isoladas das circunstâncias em que as fazemos e que, muitas vezes, independem de nossa vontade Por exemplo o mĂŠdico pode escolher o melhor tratamento para um paciente que nĂŁo pode pagar por esse tratamento, ou se o hospital de sua cidade nĂŁo possui os devidos recursos 0 pequeno comerciante tem liberdade para decidir o preço de suas mercadorias, tendo que enfrentar a concorrĂŞncia dos grandes 0 professor pode adotar os recursos didĂĄticos que deseja, se a escola nĂŁo dispĂ—e de bibliotecas, laboratĂ“rios, equipamentos, enfim, das condiçĂ—es objetivas adequadas Se a resposta for negativa, talvez tenhamos de admitir que o libertarismo nĂŁo responda de forma plenamente satisfatĂ“ria ao problema da liberdade. 7

Ibidem.

8

Ibidem. ­ importante lembrar que AristĂ“teles pensava a liberdade no contexto da polis, da polĂ­tica, portanto, de uma perspectiva coletiva, prĂ“pria da Filosofia do sĂŠculo IV a.C. 9

Ibidem.

10

Ibidem. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

­ importante salientar desse texto a deà nição de libertarismo, os conceitos aristotÊlicos de voluntårio, involuntårio, escolha, deliberação e possível, alÊm da distinção entre agir na ignorância e agir por ignorância. Espera-se, ao à nal, que o aluno se aproprie desses conceitos e seja capaz não apenas de compreender a deà nição de liberdade formulada a partir deles, mas

tambĂŠm de operar com essa deĂ nição. Este ĂŠ, aliĂĄs, um dos objetivos dos dois parĂĄgrafos Ă nais do texto, que procuram levantar os problemas e limitaçĂ—es dessa forma de conceber a liberdade. Se julgar pertinente, abra uma discussĂŁo sobre as questĂ—es levantadas pelo texto ou sobre outras trazidas por vocĂŞ ou mesmo pelos alunos.

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Considerando a necessidade de proporcionar aos alunos oportunidade de problematizar a concepção de liberdade pela vertente do libertarismo, propomos, na seção DesaĂ o! do Caderno do Aluno, uma atividade de criação a partir da releitura dos dois Ă™ltimos parĂĄgrafos do texto Liberdade

segundo AristĂ“teles e da leitura do trecho de Pai contra mĂŁe, reproduzido a seguir. Com base nesses elementos, os alunos poderĂŁo escrever uma pequena narrativa, poesia ou mĂ™sica que mostre que as circunstâncias podem limitar ou impedir o nosso poder de deliberação, de escolha.

Pai contra mĂŁe [...] Quer dizer que as dĂ­vidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difĂ­cil e dura. [...] Clara nĂŁo tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser para fora. Tia MĂ´nica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava Ă tarde, via-se-lhe pela cara que nĂŁo trazia vintĂŠm. +antava e saĂ­a outra vez, Ă cata de algum fugido. [...] [...] A natureza ia andando, o feto crescia, atĂŠ fazer-se pesado Ă mĂŁe, antes de nascer. Chegou o oitavo mĂŞs, mĂŞs de angĂ™stias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso tambĂŠm. Melhor ĂŠ dizer somente os seus efeitos. NĂŁo podiam ser mais amargos. [...] [...] Foi na Ă™ltima semana do derradeiro mĂŞs que a tia MĂ´nica deu ao casal o conselho de levar a criança que nascesse Ă Roda dos enjeitados. [...] Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro na mesa de jantar. [...] Clara interveio. – Titia nĂŁo fala por mal, Candinho. – Por mal replicou tia MĂ´nica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que ĂŠ o melhor que vocĂŞs podem fazer. VocĂŞs devem tudo; a carne e o feijĂŁo vĂŁo faltando. Se nĂŁo aparecer algum dinheiro, como ĂŠ que a famĂ­lia hĂĄ de aumentar E depois, hĂĄ tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serĂŁo recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior. [...] Pois entĂŁo a Roda ĂŠ alguma praia ou monturo LĂĄ nĂŁo se mata ninguĂŠm, ninguĂŠm morre Ă toa, enquanto que aqui ĂŠ certo morrer, se viver Ă mĂ­ngua. ASSIS, Machado de. Pai contra mĂŁe. DisponĂ­vel em http //machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/ macn007.pdf . Acesso em 19 dez. 2013.

Uma nova atividade, neste caso, indicada como Lição de casa no Caderno do Aluno, Ê sugerida como forma de preparação para a etapa seguinte. Trata-se da indicação de exibição do à lme O auto da compadecida (direção de Guel Arraes, 2000), que poderå ser usado como referência para o questionamento da tese central do livre-

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-arbítrio. Para tanto, recomendamos que, ao assisti-lo, os alunos sejam orientados a se atentarem às seguintes quest×es 1. Pode-se dizer que ChicÓ e +oão Grilo agiam com liberdade quando aplicavam pequenos golpes, aproveitando-se da ingenuidade das pessoas Por quê


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

2. ChicÓ e +oão Grilo podem ser moralmente responsabilizados por esses atos Por quê

mente levantadas. Avalie, porĂŠm, a necessidade, a pertinĂŞncia e a forma de fazĂŞ-lo.

3. Por que o cangaceiro Severino Ê o Ùnico absolvido de imediato no tribunal do +uízo Final, sendo logo enviado para o cÊu Você concorda com essa decisão

0utra atividade que sugerimos ĂŠ a discussĂŁo com toda a classe sobre o texto Tabaco e livre-arbĂ­trio, reproduzido a seguir e tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto, que resume algumas consideraçĂ—es do artigo O fumante e o livre-arbĂ­trio um polĂŞmico tema envolvendo a responsabilidade civil das indĂ™strias do tabaco, de LĂ™cio DelĂ no. 0 autor defende a tese de que a decisĂŁo de começar ou de parar de fumar, ao contrĂĄrio do que muitos pensam e do que aĂ rma a indĂ™stria tabagista, nĂŁo depende exclusivamente da vontade do indivĂ­duo, pois hĂĄ inĂ™meros fatores externos que o induzem a começar e o impedem de parar. 0 texto de LĂ™cio DelĂ no ĂŠ bem mais longo e rico do que o resumo apresentado a seguir e inserido no Caderno do Aluno e pode ser encontrado na Ă­ntegra no site indicado ao Ă nal do texto. Seria interessante vocĂŞ ler a versĂŁo integral, pois ela traz dados chocantes e outros subsĂ­dios para o debate sobre o tema em questĂŁo.

A ideia ĂŠ, tambĂŠm aqui, explicitar a forte inĂĄuĂŞncia das circunstâncias da vida nos comportamentos e nas decisĂ—es humanas. ­ uma atividade pensada para ser feita em casa, mas nada impede que vocĂŞ a planeje na prĂ“pria escola, da forma que julgar mais adequada. Na impossibilidade de os alunos assistirem ao Ă lme, eles poderĂŁo procurar pela Constituição brasileira e ler o artigo 5Â? (disponĂ­vel em http // XXX.planalto.gov.br/ccivil@03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em 19 dez. 2013), a Ă m de elaborar uma reflexĂŁo sobre as condiçĂ—es de atendimento Ă lei em uma sociedade com profundas desigualdades sociais. 0 texto produzido pelos alunos poderĂĄ abordar, por exemplo, a abrangĂŞncia da liberdade e responder se ela ĂŠ a mesma para todos os cidadĂŁos brasileiros em todos os sentidos, inclusive no acesso aos bens de atendimento jurĂ­dico. A Ă™ltima etapa tratarĂĄ da questĂŁo do livre-arbĂ­trio. Propomos que, inicialmente, seja aberto um breve debate sobre as questĂ—es norteadoras para o Ă lme, alĂŠm de outras eventual-

0 objetivo Ê colocar os alunos diante de uma situação concreta que envolve a questão do livre-arbítrio, mostrando que não se trata de um assunto de menor importância ou de mera especulação, mas de algo que diz respeito à sua vida cotidiana. Considerando-se que pode haver fumantes na classe, a discussão talvez venha a ser acalorada.

Tabaco e livre-arbĂ­trio Nos Ă™ltimos anos tĂŞm-se avolumado as açĂ—es judiciais contra a indĂ™stria tabagista, reclamando indenizaçĂ—es em consequĂŞncia dos males Ă saĂ™de provocados pelo cigarro. Um dos argumentos mais empregados por essa indĂ™stria em sua defesa fundamenta-se na tese do livre-arbĂ­trio do tabagista. Segundo essa perspectiva, o ato de fumar decorre Ă™nica e exclusivamente da vontade livre do indivĂ­duo, de modo que os eventuais malefĂ­cios que tal ato venha a lhe causar sĂŁo de sua inteira e exclusiva responsabilidade. Afinal, ninguĂŠm ĂŠ obrigado a começar a fumar. 0s que contestam esse argumento, por sua vez, entendem que, na verdade, o tabagista ĂŠ induzido ao vĂ­cio por inĂ™meros fatores externos, tais como a curiosidade, a necessidade de autoafirmação, o espelhamento nos adultos ou nos Ă­dolos, e, principalmente, a publicidade, que, em vez de adotar um perfil informativo, cria uma aura falsamente positiva em torno do tabaco e oculta intencionalmente os seus efeitos nocivos.

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Documentos revelados em 1994, nos Estados Unidos da AmĂŠrica, demonstraram que nos anos 19 0 a indĂ™stria do tabaco jĂĄ havia provado em pesquisas que o alcatrĂŁo presente no cigarro causava câncer em animais, que a nicotina provocava dependĂŞncia e que o nĂ­vel dessa substância era calculado para manter o tabagista viciado. Sabe-se, tambĂŠm, que “188 (cento e oitenta e oito) atores e diretores cinematogrĂĄficos receberam pagamento das empresas do fumo, entre os anos de 1978 a 1988, para que imagens de cigarro fossem divulgadas nas telas de cinemasâ€?. ­ evidente que toda essa estratĂŠgia de marketing induz a subestimar os perigos do cigarro, prejudicando o discernimento do indivĂ­duo. Assim, pode-se dizer que, na realidade, “nĂŁo hĂĄ – ao menos na maior parte dos casos – livre-arbĂ­trio ao se iniciar a prĂĄtica do tabagismoâ€?. AliĂĄs, como dizia Alberto Magno, o homem livre ĂŠ aquele que â€œĂŠ causa de si e que nĂŁo ĂŠ coagido pelo poder de outroâ€?. 0ra, em relação ao tabaco, nĂŁo ĂŠ o que ocorre. “Frente ao cigarro, o homem nĂŁo ĂŠ causa de si, coagido que foi e ĂŠ pelo influente poder econĂ´mico da indĂ™stria do tabaco, que, alĂŠm de seduzi-lo a experimentar um produto mortĂ­fero, acaba por transformĂĄ-lo num doente crĂ´nico, instalando em seu organismo uma dependĂŞncia que, no mais das vezes, o impede de abdicar do tabagismo pelo simples exercĂ­cio de sua vontadeâ€?. Adaptado de DELFIN0, LĂ™cio. O fumante e o livre-arbĂ­trio um polĂŞmico tema envolvendo a responsabilidade civil das indĂ™strias do tabaco. DisponĂ­vel em http //XXX.clubjus.com.br/ artigos ver 2.19138 . Acesso em 19 dez. 2013.

Para aprofundar o tema do livre-arbítrio, apresentamos o texto reproduzido a seguir e tambÊm no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anålise de texto.

Como a referência principal Ê Santo Agostinho, Ê interessante que você faça uma exposição inicial sobre esse autor, motivando os alunos para o estudo que farão.

O livre-arbĂ­trio Por definição, livre-arbĂ­trio ĂŠ a “possibilidade de decidir, escolher em função da prĂ“pria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinanteâ€?1. Um dos filĂ“sofos que se ocuparam de elaborar essa concepção de liberdade foi Santo Agostinho (354-430). Ele que viveu na cidade de )ipona, no norte da Ă frica, onde se tornou bispo catĂ“lico2. Para ele, o homem seria uma criatura privilegiada, porque foi feito Ă imagem e semelhança de Deus. Assim, em correspondĂŞncia com as trĂŞs pessoas da Trindade, a alma humana tambĂŠm seria dotada de trĂŞs faculdades a memĂ“ria, a inteligĂŞncia e a vontade. A memĂłria seria responsĂĄvel por preservar as imagens provenientes dos sentidos, equivaleria Ă essĂŞncia, isto ĂŠ, Ă quilo que nĂŁo muda (Deus Pai). A inteligĂ‹ncia corresponderia ao logos, isto ĂŠ, Ă razĂŁo, Ă verdade (Filho); e a vontade, que representaria o amor que cria o mundo (EspĂ­rito Santo). Entre essas faculdades, a mais importante ĂŠ a vontade, que, para Santo Agostinho, ĂŠ criadora e livre (livre-arbĂ­trio). Nem mesmo a presciĂŞncia de Deus ĂŠ incompatĂ­vel com a livre vontade do homem. PresciĂŞncia (prĂŠ antes; ciĂŞncia conhecimento) ĂŠ a capacidade que sĂ“ Deus possui de conhecer todas as coisas antes que elas aconteçam. De fato, para Santo Agostinho, Deus conhece a ordem das causas que dĂŁo origem a todas as coisas. Mas disso nĂŁo se pode concluir que nĂŁo hĂĄ nada que dependa da vontade humana, porque, segundo o filĂ“sofo, “tambĂŠm nossa prĂ“pria vontade se inclui na ordem das causas, certa para

1 2

DicionĂĄrio Houaiss da LĂ­ngua Portuguesa.

As consideraçĂ—es aqui apresentadas baseiam-se parcialmente em PESSAN)A, +osĂŠ A.M. Santo Agostinho vida e obra. In Santo Agostinho. SĂŁo Paulo Nova Cultural, 1984. p. V-XX.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

Deus e contida em sua presciĂŞnciaâ€?3. Santo Agostinho acrescenta “Por isso, de maneira alguma nos vemos constrangidos, admitida a presciĂŞncia de Deus, a suprimir o arbĂ­trio da vontade ou, admitido o arbĂ­trio da vontade, a negar em Deus a presciĂŞncia do futuro, o que ĂŠ verdadeira impiedadeâ€?4. Graças ao livre-arbĂ­trio, o homem pode inclusive afastar-se de Deus, afastamento este que consiste na essĂŞncia do pecado. 0 pecado, portanto, nĂŁo ĂŠ necessĂĄrio (no sentido de algo que tem obrigatoriamente que acontecer e que nĂŁo pode ser evitado), mas contingente, ou seja, resulta nĂŁo de Deus, mas da vontade do homem (isto ĂŠ, de seu livre-arbĂ­trio, ou, mais precisamente, do mau uso de sua liberdade). A queda de AdĂŁo e Eva foi de inteira responsabilidade deles. Mas o seu livre-arbĂ­trio nĂŁo era suficiente para que retornassem a Deus. Para tanto, era preciso, tambĂŠm, a graça divina. Esta graça seria a ajuda que Deus dĂĄ aos homens para que possam cumprir os desĂ­gnios divinos e alcançar a salvação. Sem essa ajuda, o homem nĂŁo conseguiria dirigir-se para o Bem e renunciar ao Mal. 0corre, porĂŠm, que, para Santo Agostinho, nem todas as pessoas recebem a graça de Deus, mas apenas alguns escolhidos, que estariam predestinados Ă salvação. ­ a doutrina de predestinação. Caberia, entĂŁo, a pergunta Afirmar a necessidade da graça divina e a existĂŞncia da predestinação nĂŁo implica entrar em contradição com a tese do livre-arbĂ­trio Para Santo Agostinho, nĂŁo. Isso porque, na visĂŁo do filĂ“sofo, mesmo com a ajuda da graça divina, o homem ĂŠ livre para escolher praticar o Bem ou o Mal. E isso vale tambĂŠm para os que estĂŁo predestinados Ă salvação. 0u seja, para o homem se salvar, nĂŁo basta estar predestinado a isso. ­ preciso, ainda, que ele escolha fazer o Bem. A predestinação, portanto, nĂŁo ĂŠ uma necessidade, ela depende tambĂŠm da vontade humana. Do contrĂĄrio, nĂŁo se poderia responsabilizar o homem pelo erro ou pelo pecado. Como Santo Agostinho afirmou “Assim, quando Deus castiga o pecador, o que te parece que ele diz senĂŁo estas palavras AEu te castigo porque nĂŁo usaste de tua vontade livre para aquilo a que eu a concedi a ti Isto ĂŠ, para agires com retidĂŁo. Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbĂ­trio da vontade, como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando as boas açĂ—es Visto que a conduta desse homem nĂŁo seria pecado nem boa ação, caso nĂŁo fosse voluntĂĄria. Igualmente o castigo, como a recompensa, seria injusto, se o homem nĂŁo fosse dotado de vontade livre. 0ra, era preciso que a justiça estivesse presente no castigo e na recompensa, porque aĂ­ estĂĄ um dos bens cuja fonte ĂŠ Deusâ€?5. Portanto, conclui o autor, “era necessĂĄrio que Deus desse ao homem vontade livreâ€? . 3

SANT0 AG0STIN)0. A cidade de Deus. Tradução 0scar Paes Leme. Bragança Paulista Editora Universitåria São Francisco, 2003. p. 202, v. 2. (Coleção Pensamento )umano).

4

Ibidem, p. 205.

5

SANT0 AG0STIN)0. O livre-arbĂ­trio. Tradução, organização, introdução e notas Nair de Assis 0liveira. RevisĂŁo )onĂ“rio Dalbosco. SĂŁo Paulo Paulus, 1995. p. 75.

Ibidem. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura, ĂŠ importante direcionar os alunos para que respondam Ă s questĂ—es a seguir, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno e, a nosso ver, traduzem alguns pontos que merecem destaque 1. Qual ĂŠ a deĂ nição de livre-arbĂ­trio apresentada

2. Por que, para Santo Agostinho, a presciência divina não Ê incompatível com o livre-arbítrio dos homens 3. Por que, para Santo Agostinho, aà rmar a necessidade da graça divina e a existência da predestinação não implica entrar em contradição com a tese do livre-arbítrio

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4. Por que a aĂ rmação do livre-arbĂ­trio ĂŠ necessĂĄria para que uma pessoa seja moralmente responsabilizada por seus atos Consideramos importante discutir sobre o livre-arbĂ­trio por ser um tema bastante difundido e que, muito provavelmente, povoa as mentes e as conversas dos adolescentes, embora, por vezes, ele seja abordado apenas no nĂ­vel do senso comum. 0 objetivo ĂŠ, portanto, superar esse nĂ­vel de entendimento, problematizando as concepçĂ—es correntes e avançando para uma compreensĂŁo mais elaborada da questĂŁo. A tarefa, porĂŠm, exige cautela, pois, em se tratando de questĂ—es religiosas, as suscetibilidades podem ser facilmente aguçadas.

primeira consiste em um questionĂĄrio, ao estilo de uma prova, que visa veriĂ car a apropriação pelos alunos do conteĂ™do estudado. A segunda ĂŠ uma dissertação que pretende proporcionar aos alunos oportunidade de empreender uma reĂĄexĂŁo mais pessoal sobre o conteĂ™do estudado, na qual eles possam empregar os conceitos trabalhados. As atividades estĂŁo presentes tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ Aprendeu . 1. Faça o que se pede a) Apresente uma deĂ nição de libertarismo. O aluno pode descrever situaçþes nas quais a autodeterminação esteja presente. Libertarismo ĂŠ o movimento que se caracteriza por açþes propostas e empreendidas com plena consciĂŞncia, determinação e autonomia dos sujeitos nelas envolvidos.

Finalizando esta etapa, propomos uma atividade, presente no Caderno do Aluno, na seção Lição de casa, em que o aluno ĂŠ solicitado a se posicionar sobre a lei que proĂ­be o tabaco em ambientes de uso coletivo, pĂ™blicos ou privados, incluindo bares, restaurantes, hotĂŠis, boates etc., no Estado de SĂŁo Paulo. Novamente, trata-se de tentar trazer a discussĂŁo para a realidade contemporânea. Esperamos, com isso, que o aluno seja capaz de se posicionar com clareza, articulando sua argumentação com o conceito de livre-arbĂ­trio.

Avaliação da Situação de Aprendizagem Inicialmente, convĂŠm deixar claro que ĂŠ vocĂŞ, professor, quem tem as melhores condiçĂ—es de saber quando e como avaliar seus alunos. 0 que apresentamos aqui sĂŁo sugestĂ—es. As prĂ“prias atividades indicadas ao longo desta Situação de Aprendizagem podem servir de instrumentos de avaliação para veriĂ car se as competĂŞncias e habilidades esperadas foram satisfatoriamente desenvolvidas. Avalie, portanto, a necessidade de acrescentar outras atividades. A

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b) Responda 0 que Ê livre-arbítrio para Santo Agostinho Como ele conseguiu conciliar a liberdade humana com a teoria da graça e da predestinação O livre-arbítrio, para Santo Agostinho, não estå associado a Deus e, sim, ao homem. Pelo livre-arbítrio, o homem pode decidir aproximar-se de Deus ou não. Santo Agostinho concilia teoria da predestinação e livre-arbítrio, afirmando que a predestinação depende da vontade humana. Para se salvar e ser agraciado por Deus, o homem precisa escolher fazer o bem.

2. Escolha uma das duas teses a seguir e elabore, em folha avulsa, uma dissertação (20 a 30 linhas) argumentando em favor da tese escolhida. Nessa argumentação, ĂŠ fundamental que sejam mencionados conceitos e teorias estudados nas aulas. Tese 1 0 fumante tem livre-arbĂ­trio para decidir se começa ou nĂŁo a fumar. Por isso, a indĂ™stria tabagista nĂŁo deve ser responsabilizada pelos malefĂ­cios provocados Ă saĂ™de pelo cigarro. Tese 2 0 fumante nĂŁo tem livre-arbĂ­trio para decidir se começa ou nĂŁo a fumar. Por isso, a indĂ™stria tabagista deve ser responsabilizada pelos malefĂ­cios provocados Ă saĂ™de pelo cigarro.


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

Para escolher uma das teses sugeridas, os alunos devem retomar as anålises e os textos estudados durante a Situação de Aprendizagem para, assim, construir seus argu-

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo do tema

mentos. Espera-se que eles revelem autonomia ao optar por uma das teses. NĂŁo hĂĄ uma resposta correta, apenas a

Livros

exigĂŞncia de que argumentem com base nas leituras. Se vocĂŞ preferir, essa atividade tambĂŠm pode se transformar em um debate em sala, no qual cada metade da classe defende e argumenta em favor de uma tese. Nesse caso, porĂŠm, deve-se estar atento para que, de fato, sejam feitas referĂŞncias ao conteĂşdo estudado, a ďŹ m de evitar que a

ABBAGNAN0, Nicola. Dicionårio de Filosoà a. . ed. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo 8MF Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda no entendimento dos conceitos aqui apresentados.

discussĂŁo se perca em discursos do senso comum.

Propostas de situaçþes de recuperação

ARISTĂ“TELES. Ethica Nicomachea I, 13 – III, 8 – Tratado da virtude moral. Tradução Marco ;ingano. SĂŁo Paulo 0dZsseus Editora, 2008. (Coleção 0bras Comentadas).

Caso os alunos nĂŁo obtenham o rendimento esperado, apresentamos a seguir duas alternativas de atividade de recuperação. Em casa, os alunos devem desenvolver uma reĂĄexĂŁo pessoal sobre uma das seguintes questĂ—es, demonstrando em sua argumentação o aproveitamento que tiveram do estudo realizado. Se preferir, indique outro tema que considere mais adequado ao interesse dos alunos.

)UISMAN, Denis. DicionĂĄrio dos Ă lĂ“sofos. Tradução Claudia Berliner. SĂŁo Paulo Martins Fontes, 2001. Traz informaçĂ—es sobre inĂ™meros filĂ“sofos, inclusive os estudados neste volume.

f Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o tema “0 tabagismo e o livre-arbĂ­trioâ€?. f Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o livre-arbĂ­trio em seu cotidiano.

R0USSEAU, +ean-+acques. Do contrato social. DisponĂ­vel em http //XXX.dominiopublico.gov. br/pesquisa/Detalhe0braForm.do select@ action co@obra 12924 . Acesso em 19 dez. 2013. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

Nas duas atividades, Ê importante deixar claro para os alunos que eles têm plena liberdade para expor seu pensamento, mas que isso não significa que possam argumentar apenas no nível do senso comum. ­ preciso que sua reåexão incorpore conceitos e argumentos desenvolvidos nas aulas, independentemente da opinião que tenham sobre as correntes estudadas. Em ambos os casos, seria interessante que você indicasse leituras complementares, visando ao aprofundamento do estudo.

PESSAN)A, +osÊ A.M. Santo Agostinho vida e obra. In Santo Agostinho. São Paulo Nova Cultural, 1984. (Coleção 0s Pensadores).

SANT0 AG0STIN)0. O livre-arbĂ­trio. Tradução, organização, introdução e notas Nair de Assis 0liveira. RevisĂŁo )onĂ“rio Dalbosco. SĂŁo Paulo Paulus, 1995. Foi usado, basicamente, o Livro II, CapĂ­tulo 1, cujo tĂ­tulo ĂŠ “0 livre-arbĂ­trio vem de Deusâ€?. SANT0 AG0STIN)0. A cidade de Deus. Tradução 0scar Paes Leme. Vol. 2. PetrĂ“polis Vozes de Bolso, 2012. Recomendamos, espe-

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cialmente, os capĂ­tulos IX, X e XI do livro 5, intitulados respectivamente “A presciĂŞncia de Deus e a livre vontade do homem, contra a deĂ nição de CĂ­ceroâ€?; “EstĂĄ sujeita a alguma necessidade a vontade humana â€? e “ProvidĂŞncia universal de Deus, cujas leis abrangem todas as coisasâ€?. VĂ ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de +aneiro Civilização Brasileira, 2008.

Filme Efeito borboleta (The ButterĂĄZ Effect). Direção Eric Bress; +. MacLZe Gruber. EUA, 2004. 113 min. 14 anos. Filme que, inspirado em um termo referente Ă dependĂŞncia sensĂ­vel Ă s condiçĂ—es iniciais dentro da teoria do caos, retrata as consequĂŞncias da liberdade e leva a reĂĄetir sobre atĂŠ que ponto o libertarismo ĂŠ possĂ­vel. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

SITUA0 DE APRENDI;AGEM 3 0 DETERMINISM0 Nesta Situação de Aprendizagem, vamos aprofundar a discussão sobre liberdade, abordando um tema de grande relevância para a Filosofia, que Ê o determinismo. Segundo a concepção determinista, o mundo, os acontecimentos e atÊ o comportamento humano são regidos por leis necessårias e imutåveis, que

escapam ao controle dos homens, de modo que a liberdade ĂŠ impossĂ­vel. Para estudar o determinismo faremos uma breve introdução ao tema e, em seguida, ampliaremos um pouco mais a discussĂŁo, analisando o fatalismo e a providĂŞncia, que sĂŁo entendidos como expressĂ—es particulares do determinismo.

ConteĂşdos e temas: introdução ao conceito de determinismo; o fatalismo como expressĂŁo do determinismo; liberdade e providĂŞncia divina. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es de fontes variadas com conhecimentos de situaçĂ—es diversas, para construir argumentação consistente; problematizar a questĂŁo da liberdade e sensibilizar-se quanto Ă relevância de reĂĄetir de forma sistemĂĄtica e rigorosa sobre ela; identiĂ car as contribuiçĂ—es e os limites das concepçĂ—es de liberdade, tendo em vista a concepção determinista de realidade; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es com base em leituras e debates realizados. SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das opiniĂ—es dos alunos sobre o problema da liberdade; discussĂŁo em grupo das questĂ—es levantadas nas aulas; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento; pesquisa bibliogrĂĄĂ ca complementar. SugestĂŁo de recursos: discussĂŁo em sala de aula; bibliograĂ a complementar; Ă lmes; mĂ™sicas. SugestĂŁo de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domĂ­nio pelos alunos do conteĂ™do (conceitos, ideias, raciocĂ­nios etc.) estudado, a capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum)

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

e o efetivo envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaçĂ—es individuais, provas dissertativas e reĂĄexivas, veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno, participação em sala e outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Para introduzir o tema do determinismo, propomos, inicialmente, que os alunos discutam em grupo a seguinte questĂŁo e anotem suas reĂĄexĂ—es a respeito 1. As coisas acontecem porque tĂŞm que acontecer ou somos nĂ“s que fazemos com que aconteçam +ustiĂ que. Posta dessa forma, a pergunta parece vaga. Contudo, a intenção ĂŠ trazer Ă tona uma ideia comum aos adolescentes e que, em geral, se exprime em outros termos “as coisas sĂ“ acontecem quando tĂŞm de acontecerâ€?, “nada acontece por acasoâ€?, “aconteceu porque tinha de acontecerâ€?, “aconteceu porque estava escrito que seria assimâ€? etc. Essa explicitação inicial do senso comum dos alunos acerca do determinismo tem por objetivo aquecer a discussĂŁo e motivĂĄ-los ao estudo que virĂĄ a seguir. Nessa mesma linha, ĂŠ proposta uma segunda atividade, que consiste em reĂĄetir sobre a natureza livre ou nĂŁo livre das inĂ™meras escolhas que fazemos no nosso dia a dia. 2. No dia a dia, fazemos inĂ™meras escolhas a todo momento da roupa, do calçado ou do corte de cabelo que usamos; do livro que pegamos para ler; da notĂ­cia de jornal que privilegiamos; dos valores, crenças e opiniĂ—es que adotamos; das mĂ™sicas que preferimos sintonizar no rĂĄdio ou baixar da internet; dos programas de TV a que assistimos; da proĂ ssĂŁo que almejamos no futuro; da pessoa com quem desejamos namorar ou casar etc. Enumere mais algumas escolhas do seu cotidiano e, em

seguida, responda ­ vocĂŞ mesmo quem escolhe com liberdade ou vocĂŞ ĂŠ induzido a preferir determinadas coisas e produtos no lugar de outros ­ possĂ­vel que os alunos se recordem da discussĂŁo sobre o tabagismo e se reportem a ela. Isso seria bastante salutar, pois revelaria capacidade de articulação de um conteĂ™do com o outro, demonstrando que tiveram bom aproveitamento do estudo realizado. De todo modo, esperamos que, a esta altura, eles estejam em condiçĂ—es de problematizar ou mesmo criticar a noção de que todas essas escolhas sĂŁo absolutamente livres, sem qualquer interferĂŞncia de fatores externos ao sujeito que escolhe. 0 texto proposto para leitura, reproduzido a seguir e tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção Desafio!, intitula-se Determinismo e liberdade. Com ele, introduzimos o estudo acerca da concepção determinista, segundo a qual as coisas, os acontecimentos e atĂŠ o comportamento humano sĂŁo determinados por causas externas ao indivĂ­duo, de modo que a liberdade, em Ă™ltima instância, ĂŠ impossĂ­vel. AliĂĄs, este ĂŠ justamente um dos aspectos que, a nosso ver, merecem ser destacados no texto. E uma possĂ­vel forma de fazer isso ĂŠ, talvez, desafiar os alunos a encontrar uma saĂ­da, mesmo que neste momento ainda em nĂ­vel de senso comum, para o dilema entre libertarismo e determinismo. AĂ nal, tanto um quanto outro apresentam aspectos positivos, mas tambĂŠm sĂŠrios problemas. Como entĂŁo resolver esse impasse )averia uma posição conciliatĂ“ria Essa questĂŁo, que tambĂŠm se encontra no Caderno do Aluno, serve para desencadear o processo de reĂĄexĂŁo sobre o problema.

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Determinismo e liberdade Se procurarmos no dicionĂĄrio, veremos que determinismo ĂŠ a concepção segundo a qual “tudo no universo, atĂŠ mesmo a vontade humana, estĂĄ submetido a leis necessĂĄrias e imutĂĄveis, de tal forma que o comportamento humano estĂĄ totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade nĂŁo passa de uma ilusĂŁo subjetivaâ€?1. Portanto, se o comportamento humano ĂŠ determinado, a liberdade torna-se impossĂ­vel. Se tudo ĂŠ determinado, nĂŁo hĂĄ ato voluntĂĄrio nem escolha. Como tudo ĂŠ movido por uma causa que se encontra fora de nĂ“s, nĂŁo podemos evitar agir como agimos. DaĂ­ tambĂŠm nĂŁo podermos ser moralmente responsabilizados pelo que fazemos, visto que nĂŁo poderĂ­amos tĂŞ-lo feito de outro modo. Este parece ser o caso, por exemplo, do cangaceiro Severino, personagem do filme O auto da compadecida. A certa altura da histĂ“ria, os protagonistas morrem, indo se encontrar no +uĂ­zo Final. Entre todos, porĂŠm, apenas Severino ĂŠ absolvido de imediato e enviado para o cĂŠu. A justificativa ĂŠ a de que, pela vida miserĂĄvel que levou, vĂ­tima de extrema violĂŞncia e pobreza, nĂŁo poderia ser culpado pelos crimes e pecados que cometeu. Seu destino tinha sido estabelecido pelas condiçĂ—es em que viveu, sem que tivesse qualquer possibilidade de escolha. 0 determinismo nĂŁo afirma que existe uma força coercitiva que nos obriga a agir de certa maneira. Na realidade, sĂŁo as circunstâncias em que nos encontramos que produzem esse agir. Assim, nĂŁo sou eu quem escolhe (nĂŁo hĂĄ escolha livre), mas as circunstâncias escolhem por mim, compelindo-me a agir. Como vemos, o determinismo ĂŠ o extremo oposto em relação ao libertarismo. Enquanto para este as circunstâncias externas sĂŁo totalmente desconsideradas, em nome da preservação da liberdade, no determinismo elas sĂŁo as Ă™nicas que contam, sacrificando-se a dimensĂŁo subjetiva e individual das escolhas humanas e, em Ă™ltima instância, a prĂ“pria liberdade. 0ra, abdicar da liberdade ĂŠ justamente o problema do determinismo. De fato, as circunstâncias externas determinam, em alguma medida, o comportamento humano, mas isso nĂŁo significa que o homem seja mera vĂ­tima dessas circunstâncias. NĂŁo se trata de negar a determinação do homem pelas circunstâncias externas, regressando ao libertarismo, mas de reconhecer essa determinação sem, contudo, considerĂĄ-la incompatĂ­vel com a liberdade. Aqui, porĂŠm, jĂĄ estamos falando de outra posição sobre o problema da liberdade a posição dialĂŠtica, que serĂĄ objeto de estudo mais adiante. 1

DicionĂĄrio Houaiss da LĂ­ngua Portuguesa. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

Como preparação da prĂ“xima etapa, que tratarĂĄ da questĂŁo do fatalismo e do destino ilustrada com o mito de ­dipo, propomos que os alunos façam, fora do horĂĄrio de aula, uma breve pesquisa, consultando a bibliograĂ a indicada por vocĂŞ, bem como outras fontes, sobre o que foi a TragĂŠdia Grega e que importância ela tinha para a sociedade da ĂŠpoca. Essa proposta tambĂŠm se encontra no Caderno do Aluno, na seção Pesquisa individual. Isso para

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que eles se sintam mais bem situados ao tomar contato com a referida histĂ“ria. Entramos, entĂŁo, no tema fatalismo, que ĂŠ entendido como uma forma de expressĂŁo do determinismo. Para esta etapa, inicialmente sugerimos motivar os alunos a discutirem em grupos as seguintes questĂ—es, propostas na seção DesaĂ o!


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

do Caderno do Aluno. Recomendamos, porĂŠm, que eles anotem suas respostas individualmente em seus Cadernos. 1. 0 que ĂŠ que vive na Terra e possui quatro pĂŠs pela manhĂŁ, dois ao meio-dia e trĂŞs Ă tarde +ustiĂ que sua resposta. 2. VocĂŞ acredita que existe um destino previamente traçado para cada pessoa e que nĂŁo pode ser mudado +ustiĂ que. A primeira das duas questĂ—es anteriores ĂŠ, na verdade, um enigma, aquele que a EsĂ nge propĂ—e a ­dipo e que faz com que ele, respon-

dendo acertadamente, livre da peste a cidade de Tebas. Posteriormente, ao ler o texto destinado a esta etapa, os alunos irĂŁo se deparar novamente com esse enigma, situado em seu devido contexto. A segunda ĂŠ uma questĂŁo aberta, com objetivo de, novamente, trazer Ă tona o senso comum dos alunos, o qual, esperamos, venham a problematizar mais adiante. 0utra atividade, tambĂŠm de carĂĄter introdutĂ“rio e motivacional, pede que os alunos se posicionem em relação a um fato real, que pode ser acompanhado pelo texto a seguir, tambĂŠm disponĂ­vel no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto

No Brasil, hĂĄ alguns anos, havia um programa de TV de perguntas e respostas, no qual o participante que acertasse todas as respostas ganharia 1 milhĂŁo de reais. Certa vez, um senhor aposentado chegou atĂŠ a pergunta final, que era a seguinte “Quantas letras hĂĄ no lema da bandeira brasileira â€?. Se desistisse de responder, ganharia R 500 mil. Se errasse, sairia quase sem nada. 0 senhor decidiu encarar o desafio, mas errou a resposta. Em vez de 15, contou 1 letras. Pensou em “0rdem ou progressoâ€? em vez de “0rdem e progressoâ€?. Saiu do programa com apenas 300 reais, valor que todos os participantes recebiam. Indagado sobre como se sentia apĂ“s o ocorrido o participante ponderou que aquela era a vontade de Deus e que sĂ“ lhe restava acatar o acontecido. Ele entendia que nĂŁo havia perdido, que apenas deixou de ganhar. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

Sugerimos que os alunos se pronunciem sobre a consideração do participante, conforme proposto no Caderno do Aluno, na sequĂŞncia ao texto. 1. VocĂŞ concorda com a explicação dada por esse senhor para o fato de nĂŁo ter acertado a resposta +ustiĂ que. 2. VocĂŞ conhece situaçĂ—es em que as pessoas respondem de forma semelhante Ă descrita no texto Relate-as brevemente e comente, manifestando a sua opiniĂŁo a respeito. 0 objetivo ĂŠ chamar a atenção para a presença do fatalismo em nosso cotidiano, mostrando a relevância de reĂĄetir sobre ele. 0 vĂ­deo do episĂ“dio pode ser encontrado na internet. Talvez seja interessante, na discussĂŁo, chamar

a atenção para o fato de que, por vezes, a perspectiva fatalista pode signiĂ car conformismo, acomodação, servindo como estratĂŠgia psĂ­quica para a aceitação de fatos indesejĂĄveis que, na verdade, poderiam ser evitados. Para abordar mais diretamente o tema do fatalismo, apresentamos o texto intitulado Sobre o destino, disponĂ­vel no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto, que traz um resumo do mito de ­dipo. Recomendamos que os alunos leiam o mito na Ă­ntegra a partir de pesquisa na internet, baixando o texto do Portal DomĂ­nio PĂ™blico (disponĂ­vel em XXX.dominiopublico.gov.br/ pesquisa/Detalhe0braFor m.do select@ action co@obra 2255 ) ou a partir de alguma versĂŁo disponĂ­vel na biblioteca da sua escola.

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Sobre o destino Uma das formas mais comuns de manifestação do determinismo ĂŠ o fatalismo, que consiste na concepção segundo a qual as coisas acontecem porque tĂŞm que acontecer, porque foram determinadas pelo destino, sem que se possa mudar o rumo dos acontecimentos. Mas serĂĄ que existe mesmo um destino previamente traçado e do qual nĂŁo podemos escapar Essa pergunta, que ainda intriga muita gente nos dias atuais, jĂĄ era feita pelos gregos na Antiguidade. E, a julgar pela sina de ­dipo, descrita na tragĂŠdia de SĂ“focles, a resposta, para eles, era afirmativa. Vejamos, entĂŁo, um breve resumo do mito Édipo Rei narrado por SĂ“focles (dramaturgo grego que viveu entre 49 a.C. e 40 a.C.) Laio era rei de Tebas e +ocasta, a rainha. Como nĂŁo conseguiam ter filhos, o rei decidiu ir a Delfos consultar o orĂĄculo e receber orientaçĂ—es para ter um sucessor ao seu trono. A resposta do orĂĄculo deixa Laio transtornado se tiver um filho, este matarĂĄ o pai e se casarĂĄ com a mĂŁe. Mortificado, Laio decide nĂŁo ter filhos. PorĂŠm, em um momento de embriaguez, ama +ocasta e a engravida. 0s reis tornam-se pais de um menino, confiado a um pastor, que deveria levĂĄ-lo para uma montanha e matĂĄ-lo, para evitar a realização da profecia. Ao chegar Ă montanha, porĂŠm, o pastor se comove com o olhar do menino e decide entregĂĄ-lo a outro pastor, que, por sua vez, entrega-o ao rei PĂ“libo e Ă rainha Peribeia, de Corinto, que nĂŁo tinham filhos e desejavam um. Adotam o filho de Laio e +ocasta com o nome de ­dipo. Embora ele prĂ“prio desconhecesse sua origem, as pessoas do lugar sabiam que nĂŁo era filho biolĂ“gico do rei. ­dipo ouvia comentĂĄrios sobre nĂŁo ser filho de PĂ“libo e, intrigado e insatisfeito, vai a Delfos consultar o orĂĄculo para saber sua origem. 0 orĂĄculo responde-lhe com a profecia que fizera a Laio ele matarĂĄ seu pai e se casarĂĄ com sua mĂŁe. )orrorizado, ­dipo decide se exilar para o mais longe possĂ­vel, a fim de proteger aqueles a quem tinha como pais. Assim, em vez de voltar para Corinto, dirige-se a Tebas, sem saber que estava regressando Ă sua terra natal. Tebas vivia uma terrĂ­vel epidemia de peste. Preocupado, o rei Laio (pai biolĂ“gico de ­dipo) decide ir a Delfos pedir conselhos ao orĂĄculo. No caminho, depara-se com ­dipo (sem saber que se tratava de seu filho), justamente em uma parte estreita da estrada em que sĂ“ era possĂ­vel passar uma carruagem de cada vez. Laio, na condição de soberano, julga ter prioridade na passagem e ordena a seu cocheiro que mande ­dipo se afastar. 0 cocheiro obedece, demonstrando certa violĂŞncia. ­dipo reage e, na luta, mata o cocheiro e tambĂŠm Laio. Um dos membros do sĂŠquito real, porĂŠm, consegue fugir e retorna para Tebas. ­dipo, considerando que agiu em legĂ­tima defesa, segue seu caminho. Tempos depois, ao chegar Ă cidade, descobre que ela estĂĄ sob a ameaça da Esfinge um monstro com cabeça e seios de mulher e patas de leoa que se alojara Ă s portas da cidade e se divertia propondo enigmas aos jovens tebanos. Quando nĂŁo conseguiam responder, devorava-os. Creonte, irmĂŁo da rainha +ocasta, governava Tebas apĂ“s a morte do rei. Ao se deparar com ­dipo, alimenta a esperança de que talvez este jovem fosse capaz de resolver um enigma apresentado pela Esfinge, libertando a cidade dos males que estava sofrendo. PropĂ—e-lhe, entĂŁo, que, se derrotar o monstro, poderĂĄ se casar com a rainha +ocasta. ­dipo aceita o desafio. A Esfinge pergunta “Quem, entre os que vivem na Terra, de manhĂŁ tem quatro pĂŠs, dois pĂŠs ao meio-dia e trĂŞs Ă tarde â€?. ­dipo responde que ĂŠ o homem. Quando criança, ele engatinha, na idade adulta, ĂŠ bĂ­pede e, na velhice, usa uma bengala. A Esfinge, derrotada, atira-se do alto do rochedo e morre. ­dipo ĂŠ recebido na cidade como herĂ“i e, como recompensa, casa-se com +ocasta, ignorando tratar-se de sua mĂŁe, e torna-se rei de Tebas. Durante anos, tudo corre muito bem e o casal tem quatro filhos. AtĂŠ que, de repente, uma outra peste se abate sobre a cidade. As crianças nascem deformadas ou mortas. Uma doença misteriosa ataca homens, mulheres, crianças e idosos.

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Creonte resolve mandar alguĂŠm a Delfos para saber do orĂĄculo a origem dessa epidemia. A resposta ĂŠ que a peste duraria enquanto o assassinato de Laio nĂŁo fosse vingado. ­dipo, entĂŁo, sem saber que o assassino era ele prĂ“prio, assume o compromisso de achar o culpado e inicia uma investigação. Nesse meio tempo, chega a Tebas um mensageiro, vindo de Corinto, trazendo uma triste notĂ­cia para o rei a de que seus pais, o rei e a rainha de Corinto, haviam morrido. Triste e com sentimento de culpa por estar longe dos pais, ­dipo justifica-se dizendo que saĂ­ra de Corinto por causa da previsĂŁo do orĂĄculo de que mataria seu pai e se casaria com sua mĂŁe. Ao ouvir isso, o mensageiro lhe revela que isso nĂŁo seria possĂ­vel, pois PĂ“libo e Peribeia nĂŁo eram seus pais biolĂ“gicos. ­dipo, estarrecido, pergunta ao mensageiro como ele poderia saber de tudo aquilo. Ao que ele responde “Eu sei porque fui eu quem entregou vocĂŞ a meus patrĂ—esâ€?. “E quem te deu esta criança â€?, pergunta ­dipo. 0 mensageiro aponta para um dos presentes, reconhecendo o pastor de Laio que lhe havia entregue o menino. ­dipo, entĂŁo, se dirige ao pastor perguntando quem lhe dera a criança. Ele responde “+ocastaâ€?. ­dipo percebe que a profecia do orĂĄculo se cumprira ele era filho da mulher com quem se deitara e cujo marido, seu pai, fora morto por suas mĂŁos. Feito um louco, corre para o palĂĄcio Ă procura de +ocasta e a encontra morta, enforcada com seu cinto. Inconformado e apavorado, fura os prĂ“prios olhos com as presilhas do vestido de sua mĂŁe e esposa. Fonte de dados SĂ“F0CLES. Édipo Rei. DisponĂ­vel em http //XXX.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe0braForm. do select@action co@obra 2255 . Acesso em 19 dez. 2013.

Dois aspectos, pelo menos, parecem-nos dignos de destaque. 0 primeiro ĂŠ a centralidade do tema do destino nessa tragĂŠdia de SĂ“focles. AĂ nal, existe realmente um destino predeterminado e do qual nĂŁo podemos escapar, mesmo se o conhecĂŞssemos antecipadamente, como aconteceu com ­dipo 0utro aspecto ĂŠ a sucessĂŁo de acasos que ocorrem ao longo da histĂ“ria, os quais acabam por conduzir Laio e ­dipo ao encontro do destino que lhes fora profetizado. Para ajudar os alunos na exploração do texto, propomos a eles duas questĂ—es que se referem justamente a esses dois aspectos mencionados. ApĂ“s a leitura do texto, sugerimos as seguintes questĂ—es 1. Qual era a mensagem dessa tragĂŠdia para a sociedade ateniense daquela ĂŠpoca em relação ao destino +ustiĂ que sua resposta. 2. Na histĂ“ria de ­dipo, ocorre uma sucessĂŁo de “acasosâ€? que o conduzem Ă realização da profecia do orĂĄculo a bebedeira do pai, a fertilidade da mĂŁe justamente naquele dia, a presença do outro pastor, o desejo dos reis

de Corinto de ter um Ă lho, o encontro com Laio na parte estreita da estrada, a fuga de um dos acompanhantes do rei, a EsĂ nge, a resposta ao enigma, a peste em Tebas, a chegada do mensageiro de Corinto etc. Esse determinismo presente nas narrativas trĂĄgicas mostra o encadeamento de eventos que condicionam um determinado Ă m, mas o determinismo estĂĄ presente tambĂŠm nas explicaçĂ—es cientĂ­Ă cas, o chamado determinismo cientĂ­Ă co. Converse com seus professores e colegas, consulte a internet e os livros disponĂ­veis na biblioteca e indique exemplos de determinismo nas ciĂŞncias. Uma Ă™ltima atividade, mais lĂ™dica, ĂŠ proposta como Lição de casa no Caderno do Aluno assistir ao filme Quem quer ser um milionĂĄrio? [Slumdog Millionaire] (direção de DannZ BoZle. Inglaterra, 2008. 120 min. 1 anos). Conta a histĂ“ria de um jovem indiano, chamado +amal, morador de uma favela e que trabalha servindo chĂĄ em um call center. Um dia, ele decide participar de um programa de perguntas e respostas na TV. Para a surpresa

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de todo o paĂ­s, o jovem, que quase nĂŁo tinha estudo, consegue chegar Ă Ă™ltima pergunta, Ă cando prestes a ganhar o prĂŞmio mĂĄximo, 20 milhĂ—es de rĂ™pias. Certamente, hĂĄ muita proximidade entre o enredo do Ă lme, o episĂ“dio real acontecido no programa de perguntas e respostas brasileiro apresentado anteriormente e a histĂ“ria de ­dipo, embora os desfechos sejam diferentes. Em todos esses casos, a explicação ĂŠ depositada no destino, ou em Deus, ou no fato de que “estava escritoâ€?. A Ă m de auxiliar no direcionamento da reĂĄexĂŁo sobre o Ă lme, propomos que os alunos respondam Ă seguinte questĂŁo VocĂŞ vĂŞ semelhanças entre as histĂ“rias do protagonista Jamal, do senhor que participou do programa brasileiro de perguntas e respostas e de Édipo? Quais? Caso o aluno nĂŁo consiga assistir ao Ă lme, indique outro ou mesmo um livro que ajude a enriquecer as questĂ—es estudadas. Pedimos ainda que os estudantes anotem suas conclusĂ—es no Caderno do Aluno e as levem para a aula seguinte, a Ă m de ser discutidas em grupo. Cabe, porĂŠm, a vocĂŞ, professor, avaliar se isso ĂŠ possĂ­vel e/ou adequado aos seus objetivos. A Ă™ltima etapa desta Situação de Aprendizagem, e que fecha o tema do determinismo, aborda a relação entre liberdade humana e providĂŞncia divina. Para envolver os alunos no assunto, propomos, logo no inĂ­cio, que reĂĄitam sobre algumas expressĂ—es do cotidiano que tomam como pressuposta a tese da providĂŞncia divina, embora a maior parte das pessoas talvez nĂŁo se dĂŞ conta disso. As expressĂ—es sĂŁo as seguintes f “Se Deus quiser, tudo vai dar certo.â€? f “Graças a Deus, passei no vestibular!â€? f “Foi por Deus que nĂŁo aconteceu um acidente.â€?

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Diante delas, os alunos serĂŁo instigados a responder como as interpretam e que papel tem Deus, para cada um deles, na condução dos acontecimentos. Se necessĂĄrio, vocĂŞ poderĂĄ ajudĂĄ-los na discussĂŁo, acrescentando questionamentos do tipo Quando digo “Se Deus quiser, tudo vai dar certoâ€?, estou aĂ rmando que, se nĂŁo der certo, serĂĄ porque Deus nĂŁo quis? Em outras palavras, quando algo dĂĄ certo ĂŠ porque Deus quer e quando nĂŁo dĂĄ ĂŠ porque ele nĂŁo quer? Logo, por esse raciocĂ­nio, seja qual for o resultado de uma ação, ele pode ser atribuĂ­do a Deus? Quando alguĂŠm diz “Graças a Deus, passei no vestibular!â€?, estĂĄ aĂ rmando que passou por causa da ação de Deus? Ora, mas hĂĄ inĂşmeras outras pessoas que nĂŁo passaram. Logo, Deus quer que algumas passem e outras nĂŁo? Como isso ĂŠ possĂ­vel, sendo ele bom, justo e sĂĄbio? Quando pensamos: “Foi por Deus que nĂŁo aconteceu um acidenteâ€?, indiretamente nĂŁo estamos tambĂŠm aĂ rmando que quando um acidente acontece ĂŠ porque Deus nĂŁo o impediu? Mas como Deus permite que acidentes aconteçam com alguns e nĂŁo com outros? Na verdade, a maioria das pessoas usa essas expressĂ—es sem reĂĄetir sobre elas e sem se dar conta de sua relação com a discussĂŁo sobre a providĂŞncia divina. 0 objetivo aqui ĂŠ justamente chamar a atenção para esse fato e motivar essa reĂĄexĂŁo. 0 texto proposto para estudo intitula-se Liberdade humana e providĂŞncia divina, e ĂŠ reproduzido a seguir e no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto. Neste momento, o autor utilizado como referĂŞncia serĂĄ Thomas )obbes, mais especificamente o capĂ­tulo XXI de sua obra LeviatĂŁ, intitulado “Da liberdade dos sĂ™ditosâ€?. Novamente, cabe usar de bastante cautela nesta atividade, visto se tratar de assunto controverso, de natureza religiosa.


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Liberdade humana e providĂ‹ncia divina 0utra forma de manifestação do determinismo ĂŠ a doutrina da providĂŞncia divina. ProvidĂŞncia vem do latim providentia e significa conhecer, ver ou descobrir antecipadamente. Nesse sentido, essa doutrina se assemelha bastante ao fatalismo, com a diferença de que ela possui um carĂĄter mais explicitamente religioso. Em linhas gerais, consiste em afirmar que Deus ĂŠ o criador da ordem do mundo e que ĂŠ o responsĂĄvel pela condução dos acontecimentos. Em outras palavras, o mundo possui uma ordem racional que vem de Deus e que compreende tanto os acontecimentos quanto as açĂ—es dos homens. De modo geral, a doutrina da providĂŞncia implica negar a possibilidade da liberdade humana, pois ao homem cabe apenas adequar-se aos desĂ­gnios divinos. 0 tema da providĂŞncia foi objeto da preocupação de vĂĄrios filĂ“sofos ao longo da histĂ“ria. Alguns deles, porĂŠm, procuraram conciliar a tese da ordenação divina com a liberdade do homem. Um desses foi o inglĂŞs Thomas )obbes, que viveu entre os sĂŠculos XVI e XVII. Em sua obra LeviatĂŁ, na qual expĂ´s suas teses polĂ­ticas, )obbes dedicou o capĂ­tulo XXI Ă questĂŁo da liberdade dos sĂ™ditos. Ele iniciou definindo a liberdade “Liberdade significa, em sentido prĂ“prio, a ausĂŞncia de oposição (entendendo por oposição os impedimentos externos do movimento)â€?1. Em seguida, apresentou alguns exemplos de situaçĂ—es em que nĂŁo hĂĄ liberdade quando alguĂŠm estĂĄ “amarrado ou envolvido de modo a nĂŁo poder mover-seâ€?; as “criaturas vivas, quando se encontram presas ou limitadas por paredes ou cadeiasâ€?; “as ĂĄguas, quando sĂŁo contidas por diques ou canaisâ€?2. No caso do conceito de “livre-arbĂ­trioâ€?, )obbes atribuiu a ele um significado um pouco diferente. Quando dizemos “o caminho estĂĄ livreâ€? nĂŁo pretendemos afirmar a liberdade do caminho propriamente dito, mas sim das pessoas que por ele passam. Assim, tambĂŠm quando falamos em livre-arbĂ­trio, nĂŁo podemos inferir dessa expressĂŁo a “liberdade da vontade, do desejo ou da inclinação, mas apenas a liberdade do homemâ€?3. Esta “consiste no fato de ele nĂŁo deparar com entraves ao fazer aquilo que tem vontade, desejo ou inclinaçãoâ€?4. Em outras palavras, o homem ĂŠ livre para fazer o que tem vontade, mas nĂŁo ĂŠ livre para escolher a vontade, o desejo e a inclinação que tem. A vontade, o desejo e a inclinação que hĂĄ no homem derivam de outras causas, alheias a ele. Mais precisamente, derivam de uma cadeia de causas, cuja origem estĂĄ em Deus, que ĂŠ a causa primeira de tudo. Assim, )obbes procurou conciliar liberdade e necessidade “A liberdade e a necessidade sĂŁo compatĂ­veis tal como as ĂĄguas nĂŁo tinham apenas a liberdade, mas tambĂŠm a necessidade de descer pelo canal, assim tambĂŠm as açĂ—es que os homens voluntariamente praticam, dado que derivam de sua vontade, derivam da liberdade; ao mesmo tempo que, dado que os atos da vontade de todo homem, assim como todo desejo e inclinação, derivam de alguma causa, e esta de uma outra causa, numa cadeia contĂ­nua (cujo primeiro elo estĂĄ na mĂŁo de Deus, a primeira de todas as causas), elas derivam tambĂŠm da necessidade. De modo tal que para quem pudesse ver a conexĂŁo dessas causas a necessidade de todas as açĂ—es voluntĂĄrias dos homens pareceria manifesta.â€?5 1 )0BBES, Thomas. LeviatĂŁ ou matĂŠria, forma e poder de uma RepĂşblica eclesiĂĄstica e civil. 0rganização Richard TucL. Tradução +oĂŁo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. SĂŁo Paulo Martins Fontes, 2008. p.179. (ClĂĄssicos Cambridge de Filosofia PolĂ­tica.) 2

Ibidem, p. 179.

3

Ibidem, p. 180.

4

Ibidem.

5

Ibidem.

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Se, em Ă™ltima instância, a origem da vontade humana encontra-se em Deus, entĂŁo a ideia de providĂŞncia divina fica preservada “Portanto Deus, que vĂŞ e dispĂ—e todas as coisas, vĂŞ tambĂŠm que a liberdade que o homem tem de fazer o que quer ĂŠ acompanhada pela necessidade de fazer aquilo que Deus quer, e nem mais nem menos do que isso. Porque, embora os homens possam fazer muitas coisas que Deus nĂŁo ordenou, e das quais portanto nĂŁo ĂŠ autor, nĂŁo lhes ĂŠ possĂ­vel ter paixĂŁo ou apetite por nada de cujo apetite a vontade de Deus nĂŁo seja a causa.â€? NĂŁo fosse assim, a liberdade do homem “seria uma contradição e um impedimento Ă onipotĂŞncia e liberdade de Deusâ€?7. ­, pois, por esse raciocĂ­nio que )obbes procurou conciliar a liberdade do homem com a providĂŞncia divina. Trata-se, porĂŠm, de uma liberdade limitada, porque a vontade humana, necessariamente, deriva da vontade de Deus. 0ra, entre os atributos de Deus estĂŁo a sapiĂŞncia, a bondade, o amor, a justiça. Portanto, atribuir a ele a causa da vontade humana, da ordem do mundo e dos acontecimentos nĂŁo seria uma forma de minimizar a responsabilidade do homem pelas circunstâncias em que vive NĂŁo seria uma estratĂŠgia eficaz para sacralizar e legitimar o mundo e a ordem social vigente Assim, nĂŁo haveria na tese da providĂŞncia divina, pelo menos na forma acrĂ­tica em que ela geralmente ĂŠ apresentada, um sentido politicamente conservador

Ibidem, p. 180-181.

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Ibidem, p. 181. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApÓs a leitura, sugerimos que os alunos respondam em seus Cadernos às duas quest×es a seguir, como forma de destacar os aspectos que consideramos mais relevantes do texto, a saber 1. Em que consiste a tese da providência divina

sente aos alunos trechos do poema de literatura de cordel “A chegada de LampiĂŁo no CĂŠuâ€?, reproduzidos a seguir e tambĂŠm na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno, para que façam uma anĂĄlise, a ser registrada em seus Cadernos, a partir do que foi visto nesta Situação de Aprendizagem e na anterior sobre as condiçĂ—es de liberdade.

2. 0 que )obbes pensava sobre a liberdade Para à nalizar esta etapa, sugerimos que você proponha aos alunos uma Ùltima atividade de caråter mais lÙdico. Apre-

0 objetivo ĂŠ, mais uma vez, permitir que o aluno faça uso por si mesmo dos conceitos apreendidos e que os articule com diferentes situaçĂ—es do nosso contexto cultural.

A chegada de Lampião no CÊu Foi numa Semana Santa Tava o cÊu em oração São Pedro estava na porta Refazendo anotação Daqueles santos faltosos

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Quando chegou Lampião. [...] Pedro disse a Lampião Eu lhe peço com licença


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

Saia jå da porta santa 0u haverå desavença.

Que sĂ“ me causam tropeço. [...]

LampiĂŁo lhe respondeu Mas que santo ĂŠ o senhor NĂŁo aprendeu com +esus Excluir Ă“dio e rancor ... Trago paz nesta missĂŁo NĂŁo precisa ter temor.

Por um cruel fazendeiro Foi meu pai assassinado Tomaram dele o dinheiro De duro serviço honrado

Disse Pedro isso ĂŠ blasfĂŞmia ­ bastante astucioso Pistoleiro e cangaceiro Esse povo ĂŠ impiedoso NĂŁo ganharĂŁo o perdĂŁo Do santo Pai Poderoso Inda mais tem sua mĂĄ fama Vez por outra comentada Quando hĂĄ um julgamento Duma alma tĂŁo penada Porque fora violenta Em sua vida ĂŠ baseada. – Sei que sou um pecador 0 meu erro reconheço Mas eu vivo injustiçado Um julgamento eu mereço Pra sanar as injustiças

Avaliação da Situação de Aprendizagem As atividades de avaliação sugeridas a seguir encontram-se tambÊm no Caderno do Aluno, na seção Você aprendeu .

Ao vingar a sua morte 0 destino em mĂĄ sorte Da “leiâ€? me fez um soldado. Mas o que devo a visita Pedro fez indagação LampiĂŁo sem bater vista VĂŞ padim Ciço RomĂŁo Pra antes do ano novo Mandar chuva pro meu povo VocĂŞ sĂ“ manda trovĂŁo Pedro disse ĂŠ malcriado Nem o diabo lhe aceitou Saia jĂĄ seu excomungado Sua hora jĂĄ esgotou Volte lĂĄ pro seu Nordeste Que sĂ“ o cabra da peste Com vocĂŞ se acostumou. VIEIRA, Guaipuan. A chegada de LampiĂŁo no CĂŠu. Š Guaipuan Vieira.

2. Como )obbes procurou eliminar a contradição entre providência divina e livre-arbítrio Você concorda com essa argumentação +ustià que. Hobbes procurou eliminar a contradição entre providência divina e livre-arbítrio associando liberdade e necessidade no entendimento de que Deus confere liberdade ao homem acompanhada da necessidade de realizar a vontade divina.

1. 0 que ĂŠ determinismo Uma possĂ­vel deďŹ nição pode compreender a ideia de ação que se impĂľe ao sujeito independentemente de sua vontade ou de ação provocada por fatores alheios Ă vontade do sujeito que age.

3. Em folha avulsa, elabore uma breve dissertação comparando libertarismo e determinismo, com base nos autores estudados. A dissertação deve registrar o esforço dos alunos em reler os

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autores estudados e em analisar, por meio da comparação, os conceitos-chave, como libertarismo e determinismo. Mostre a importância da referência aos autores como uma maneira de superar o senso comum e de auxiliar na argumentação elaborada no processo de comparação.

Propostas de situaçþes de recuperação Caso os alunos nĂŁo consigam obter o rendimento esperado, apresentamos a seguir duas alternativas de atividade de recuperação. 1. Dissertação sobre o tema “libertarismo versus determinismoâ€?. Peça aos alunos que elaborem uma dissertação (50 a 0 linhas) esclarecendo as diferenças entre essas duas posiçĂ—es relacionadas ao problema da liberdade e se posicionando a respeito. 2. Dissertação (20 a 30 linhas) sobre o tema “determinismo em seu cotidianoâ€?.

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo do tema

C0LEÂŹÂŤ0 Mito e mistĂŠrio. SĂŁo Paulo EdiçĂ—es SM, 200 (Édipo, o maldito; Ariadne contra o Minotauro; Uma armadilha para IĂ gĂŞnia). )istĂ“rias de suspense com herĂ“is das tragĂŠdias gregas e das epopeias homĂŠricas. Voltada para o pĂ™blico jovem, essa coleção ajuda a reĂĄetir sobre valores e referĂŞncias culturais de nossa civilização e sobre questĂ—es fundamentais nessa faixa etĂĄria, como a vida em sociedade, as relaçĂ—es familiares e as escolhas pessoais. No Ă nal de cada volume, hĂĄ um dossiĂŞ com informaçĂ—es sobre o mito e suas variantes na literatura e em outras ĂĄreas do conhecimento. No site da editora ( http //XXX. edicoessm.com.br , acesso em 19 dez. 2013), pode-se encontrar os guias de leitura, nos quais o professor terĂĄ sugestĂ—es de abordagem dos temas e de atividades didĂĄticas. VĂ ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de +aneiro Civilização Brasileira, 2008. 0 capĂ­tulo V, intitulado “Responsabilidade moral, determinismo e liberdadeâ€?, trata do assunto desenvolvido nesta Situação de Aprendizagem. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) VERNANT, +ean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Tradução Rosa Freire d Aguiar. SĂŁo Paulo Companhia das Letras, 2008. Indicamos particularmente o capĂ­tulo intitulado “­dipo, o inoportunoâ€?.

Livros Filme ABBAGNAN0, Nicola. DicionĂĄrio de FilosoĂ a. . ed. Tradução Alfredo Bosi. SĂŁo Paulo WMF Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda no entendimento dos conceitos aqui apresentados. C)AUI, Marilena. Introdução Æ HistĂ“ria da FilosoĂ a dos prĂŠ-socrĂĄticos a AristĂ“teles. 2. ed. SĂŁo Paulo Companhia das Letras, 2011. No capĂ­tulo 4, intitulado “0s soĂ stas e SĂ“crates o humano como tema e problemaâ€?, hĂĄ uma boa exposição sobre o sentido da tragĂŠdia na sociedade ateniense e que pode ajudar no trabalho sobre o mito de ­dipo.

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Blade Runner, o caçador de androides (Blade Runner). Direção RidleZ Scott. EUA, 1982. 117 min. 1 anos. Este Ă lme ĂŠ um clĂĄssico entre aqueles que tĂŞm se dedicado a representar sociedades distĂ“picas (ou seja, o contrĂĄrio da utopia), em que se vive nas piores condiçĂ—es imaginĂĄveis de opressĂŁo e de desespero. Nessa sociedade, os seres humanos fabricam robĂ´s orgânicos, chamados “replicantesâ€?, que sĂŁo destinados a servir aos seus criadores e tĂŞm um destino prĂŠ-programado. PorĂŠm, um grupo desses replicantes, insatisfeito com a sua condição, entra em conflito com os humanos. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no caderno do Aluno.)


Filosofia – 3a série – Volume 2

SITUA¬«0 DE APRENDI;AGEM 4 A C0NCEP¬«0 DIAL­TICA DA LIBERDADE Nesta Situação de Aprendizagem, será abordada a concepção dialética da liberdade, procurando apresentá-la como uma síntese superadora da contradição entre o libertarismo e o determinismo. Para tanto, iniciaremos com uma breve exposição sobre o sentido geral do termo “dialética”, esclarecendo alguns dos inÙmeros signiàcados que ele adquiriu ao longo da histÓria da Filoso-

àa, passando por àlÓsofos como )eráclito, SÓcrates, Platão, )egel, Marx e Engels. Posteriormente, enfatizaremos a perspectiva do materialismo histÓrico dialético, particularmente no que diz respeito à sua concepção de homem. Entendemos que, dessa forma, é possível superar tanto a onipotência ingênua do libertarismo como a impotência imobilista do determinismo.

Conteúdos e temas: introdução ao conceito de dialética; concepção dialética da liberdade. CompetËncias e habilidades: relacionar informaç×es de fontes variadas com conhecimentos de situaç×es diversas, para construir argumentação consistente; apreender o conceito de dialética, em suas diferentes acepç×es, articulando-o com a questão da liberdade; identiàcar as contribuiç×es e os limites das concepç×es de liberdade abordadas e posicionar-se criticamente em relação a elas; trabalhar com os conceitos e as teorias dos autores estudados; ler, compreender e interpretar textos teÓricos e àlosÓàcos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipÓteses e quest×es com base nas leituras e debates realizados. Sugestão de estratégias: levantamento das opini×es dos alunos sobre o problema da liberdade; discussão em grupo das quest×es apresentadas nas aulas; leitura sistemática e problematizadora de textos e elaboração escrita do prÓprio pensamento; pesquisa bibliográàca complementar; utilização de mÙsicas e àlmes. Sugestão de recursos: discussão em sala de aula; bibliograàa complementar; mÙsicas. Sugestão de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domínio do conteÙdo (conceitos, ideias, raciocínios etc.) estudado, a capacidade de expressão clara, áuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum) e o envolvimento do aluno nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaç×es individuais, provas dissertativas e reáexivas, veriàcação das atividades do Caderno do Aluno, participação em sala e outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização A partir de uma conversa com os alunos, divididos em grupos, oriente-os a citar exemplos de situaç×es do cotidiano que não se pode aàrmar que são marcadas pelo libertarismo, tampouco pelo determinismo.

Ao apresentar seus exemplos, cada grupo deve ser estimulado a argumentar de acordo com as características de cada uma das teorias estudadas. No fechamento da sondagem, você, professor, poderá anunciar que, nesta Situação de

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Aprendizagem, serĂŁo estudadas as contribuiçĂ—es teĂ“ricas que nos ajudam a pensar justamente a respeito da possibilidade de superação do dilema entre libertarismo e determinismo.

Š :uriZ BrZLaZlo/iStocLphoto/ThinLstocL/GettZ Images

Para a primeira etapa, propomos uma atividade com base na observação da imagem das ondas do mar. 0 objetivo dessa observação e posterior anålise Ê tentar aproximar o aluno de uma perspectiva da dialÊtica. Evidentemente, o mar em movimento não preenche todos os requisitos necessårios

para a deĂ nição e a compreensĂŁo do conceito de dialĂŠtica. Nem poderia preencher, visto nĂŁo ser esse o propĂ“sito ao observar essa imagem. Sua utilização, no entanto, pode ajudar o aluno a perceber a perspectiva de movimento, de transformação, uma das caracterĂ­sticas da dialĂŠtica. A atividade consiste em pedir a eles que analisem a imagem e respondam em seus Cadernos Ă seguinte questĂŁo Que relação a imagem do mar e do movimento de ondas pode ter com a noção de dialĂŠtica? JustiĂ que.

Figura 1.

Em seguida, ĂŠ proposta a leitura do texto A dialĂŠtica, no qual apresentamos alguns dos significados que o termo adquiriu ao longo da histĂ“ria da Filosofia. Assim, partindo da definição geral extraĂ­da de um dicionĂĄrio da lĂ­ngua portuguesa, passamos muito rapidamente por )erĂĄclito, SĂ“crates, PlatĂŁo e )egel, chegando a Marx e Engels, autores que forneceram os

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fundamentos teĂ“ricos da perspectiva de liberdade que serĂĄ enfatizada na etapa seguinte. Trata-se, claro, de uma explanação sumĂĄria, apenas para ilustrar de forma parcial o percurso histĂ“rico do conceito e os diferentes signiĂ cados que ele adquiriu de um autor para outro. 0 texto mencionado encontra-se reproduzido a seguir e no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

A dialĂŠtica Vimos que tanto o libertarismo como o determinismo levantam questĂ—es importantes sobre o problema da liberdade, mas nĂŁo oferecem respostas suficientes para ele. Enquanto o libertarismo desconsidera a influĂŞncia das circunstâncias em nossas decisĂ—es, o determinismo enfatiza de tal maneira essa influĂŞncia que chega a negar a liberdade. Mas existiria uma posição capaz de aproveitar a contribuição positiva dessas duas concepçĂ—es de liberdade e, ao mesmo tempo, superar suas limitaçĂ—es Uma posição que admita os condicionamentos externos sem abrir mĂŁo da liberdade Uma possĂ­vel resposta parece ser a concepção dialĂŠtica da liberdade. Mas o que vem a ser dialĂŠtica De acordo com o dicionĂĄrio, “em sentido bastante genĂŠricoâ€?, a palavra estĂĄ associada Ă ideia de “oposição, conflito originado pela contradição entre princĂ­pios teĂ“ricos ou fenĂ´menos empĂ­ricosâ€?1. Um dos primeiros a desenvolver essa forma de pensar foi )erĂĄclito, filĂ“sofo grego do perĂ­odo prĂŠ-socrĂĄtico que viveu na cidade de ­feso, nos sĂŠculos VI e V a.C. Para ele, nada ĂŠ imĂ“vel, imutĂĄvel, isto ĂŠ, nada permanece aquilo que ĂŠ; ao contrĂĄrio, tudo estĂĄ em movimento, tudo muda, tudo flui, tudo se transforma, tudo ĂŠ devir. Por isso, ele teria dito “NĂŁo se pode entrar duas vezes no mesmo rioâ€?, porque tanto as ĂĄguas como a pessoa que entra nelas novamente jĂĄ nĂŁo sĂŁo as mesmas. 0 motor dessa transformação ĂŠ a contradição que estĂĄ contida em todas as coisas. Isso quer dizer que, no interior de cada coisa, hĂĄ forças opostas em luta entre si e que fazem com que essa coisa deixe de ser o que ĂŠ e se torne outra coisa. Em outras palavras, cada coisa ĂŠ uma “unidade de contrĂĄriosâ€?. Dia e noite, vida e morte, luz e escuridĂŁo, tristeza e alegria, quente e frio, amor e Ă“dio, acaso e necessidade, beleza e feiura, enfim, qualquer que seja a dupla de contrĂĄrios que se imagine, cada elemento da contradição traz dentro de si a sua negação (o seu contrĂĄrio) e nele se transforma, em um movimento infinito. No tempo de SĂ“crates e PlatĂŁo, a palavra “dialĂŠticaâ€? designava certo modo de discutir ou dialogar que tinha por objetivo explicitar as contradiçĂ—es presentes no raciocĂ­nio dos interlocutores, a fim de superar as divergĂŞncias das opiniĂ—es particulares e atingir o conhecimento verdadeiro2. Portanto, tambĂŠm aĂ­ o conceito de dialĂŠtica estava associado Ă ideia de contradição, de conflito, de antagonismo e de busca de sua superação. No caso da dialĂŠtica socrĂĄtica e platĂ´nica, tratava-se da contradição presente no pensamento e no discurso, responsĂĄvel por produzir um conhecimento falso ou, pelo menos, impreciso (opiniĂŁo – doxa) e que precisava ser substituĂ­do por outro, considerado verdadeiro (ciĂŞncia – episteme). De lĂĄ para cĂĄ, ao longo da histĂ“ria da Filosofia, inĂ™meros filĂ“sofos fizeram uso do conceito de dialĂŠtica, atribuindo a ele diferentes conotaçĂ—es, mas sempre enfatizando o aspecto da contradição. A contradição, portanto, ĂŠ um elemento fundamental na perspectiva dialĂŠtica. Mas quem de fato sistematizou a dialĂŠtica como mĂŠtodo de interpretação da realidade foi um filĂ“sofo alemĂŁo idealista, dos sĂŠculos XVIII e XIX, chamado Georg Wilhelm Friedrich )egel. De modo muito simplificado, podemos dizer que )egel retoma a tese de )erĂĄclito da luta dos contrĂĄrios e, por meio dela, afirma que a histĂ“ria ĂŠ um processo que resulta das contradiçĂ—es presentes no pensamento. Analisando a evolução do pensamento humano, )egel percebeu que ela ocorre por um processo que envolve trĂŞs momentos o da tese (afirmação de uma ideia ou posição), o da antĂ­tese (afirmação da ideia contrĂĄria Ă primeira) e o da sĂ­ntese (conclusĂŁo derivada da superação da contradição entre as duas primeiras). Esta conclusĂŁo, uma vez estabelecida, serĂĄ transformada em uma nova sĂ­ntese, recomeçando o processo. ­ o que ocorre, 1

DicionĂĄrio Houaiss da LĂ­ngua Portuguesa. Esse sentido ĂŠ mais prĂ“ximo do etimolĂ“gico, pois dialĂŠtica vem do termo grego dialektkĂŞ que significa “arte de discutir e usar argumentos lĂ“gicosâ€?. Ibidem.

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por exemplo, segundo ele, com os sistemas filosĂ“ficos ao longo da histĂ“ria, tais sistemas sucederam-se uns aos outros por um processo de tese, antĂ­tese e sĂ­ntese. Como )egel considerava que o motor da histĂ“ria ĂŠ o pensamento (as ideias, a consciĂŞncia, o espĂ­rito), dizemos que a sua filosofia tem carĂĄter idealista. ,arl Marx absorveu o nĂ™cleo dialĂŠtico do pensamento hegeliano, mas conferiu a ele um carĂĄter materialista. Para Marx, a realidade, o mundo e a sociedade tambĂŠm tĂŞm contradiçĂ—es, mas essas contradiçĂ—es nĂŁo sĂŁo resultado do pensamento, e sim do modo como os homens produzem a sua existĂŞncia material e do tipo de relaçĂ—es sociais que estabelecem entre si nesse processo produtivo. Por exemplo, no modo de produção capitalista, as relaçĂ—es sociais dominantes ocorrem entre capitalistas (proprietĂĄrios dos meios de produção) e proletĂĄrios (proprietĂĄrios da força de trabalho). Entre essas duas classes sociais, hĂĄ uma relação de contradição, de antagonismo, pois a realização dos interesses de uma (exploração do trabalho e obtenção da mais-valia) implica a negação dos interesses da outra (libertação da exploração). Assim, uma das principais contradiçĂ—es da sociedade ĂŠ justamente a luta de classes, que, na visĂŁo de Marx e Friedrich Engels – seu colaborador em boa parte de suas obras – nĂŁo ĂŠ exclusiva da sociedade capitalista, mas algo que se verifica em toda a histĂ“ria da humanidade e que, para eles, ĂŠ o motor das transformaçĂ—es que se sucederam ao longo dessa histĂ“ria. Nas palavras dos autores “A histĂ“ria de toda sociedade existente atĂŠ hoje tem sido a histĂ“ria das lutas de classes. )omem livre e escravo, patrĂ­cio e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, em uma palavra, opressor e oprimido, em constante oposição, tĂŞm vivido uma guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre pela reconstituição revolucionĂĄria de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. Desde as ĂŠpocas mais remotas da histĂ“ria, encontramos, em praticamente toda parte, uma complexa divisĂŁo da sociedade em classes diferentes, uma gradação mĂ™ltipla das condiçĂ—es sociais. Na Roma Antiga, havia patrĂ­cios, guerreiros, plebeus, escravos. Na Idade MĂŠdia, senhores, vassalos, mestres, companheiros, aprendizes, servos; e, em quase todas essas classes, ainda outras camadas subordinadas. A sociedade moderna burguesa, surgida das ruĂ­nas da sociedade feudal, nĂŁo aboliu os antagonismos de classe. Apenas estabeleceu novas classes, novas condiçĂ—es de opressĂŁo, novas formas de luta, em lugar das velhas.â€?3 Assim, para Marx e Engels, nĂŁo ĂŠ o pensamento que, organizando-se de forma contraditĂ“ria (tese, antĂ­tese e sĂ­ntese), produz a realidade material, mas sim, a realidade material que, por força das contradiçĂ—es que existem nela (como a luta de classes, por exemplo), gera as diferentes formas de pensamento. Dizendo de outra maneira “NĂŁo ĂŠ a consciĂŞncia que determina a vida, mas a vida que determina a consciĂŞnciaâ€?4. Eis, portanto, o materialismo de Marx e Engels. PorĂŠm, como se trata de um materialismo dialĂŠtico, isto ĂŠ, que afirma a existĂŞncia da contradição, da luta dos contrĂĄrios, essa relação de determinação tambĂŠm ĂŠ contraditĂ“ria, de modo que, se, de um lado, a consciĂŞncia ĂŠ determinada pela vida, de outro lado, a vida tambĂŠm ĂŠ determinada pela consciĂŞncia. )ĂĄ, na realidade, uma ação recĂ­proca de mĂ™tua determinação entre os elementos opostos. DaĂ­ a conclusĂŁo dos autores para todo esse raciocĂ­nio de que “[...] as circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstânciasâ€?5. Essa Ă™ltima afirmação jĂĄ nos sugere um caminho alternativo para superar a contradição entre determinismo e libertarismo, como veremos na prĂ“xima etapa. 3

MARX, ,arl; ENGELS, Friedrich. 0 Manifesto Comunista. In B0:LE, David. O Manifesto Comunista de Marx e Engels. Rio de +aneiro +orge ;ahar, 200 . p. 33-34. 4 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução Rubens Enderle, NÊlio Schneider, Luciano Cavini Martorano. Texto final Rubens Enderle. São Paulo Boitempo, 2007. p. 94. 5 Ibidem. p. 43 Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

Para auxiliar no entendimento e na Ă xação de alguns conceitos trabalhados no texto, propomos aos alunos as seguintes questĂ—es, cujas respostas poderĂŁo ser registradas no Caderno do Aluno 1. Como se pode deĂ nir a dialĂŠtica em um sentido mais geral 2. Qual ĂŠ o signiĂ cado da frase atribuĂ­da a )erĂĄclito “NĂŁo se pode entrar duas vezes no mesmo rioâ€? VocĂŞ concorda com ele 3. Que sentido tinha o termo “dialĂŠticaâ€? para SĂ“crates e PlatĂŁo 4. Qual ĂŠ a principal diferença entre a dialĂŠtica de )egel e a de Marx e Engels 5. Analise e comente o signiĂ cado da frase de Marx e Engels “A histĂ“ria de toda sociedade existente atĂŠ hoje tem sido a histĂ“ria das lutas de classesâ€?. A etapa seguinte ĂŠ dedicada Ă concepção dialĂŠtica da liberdade. Como motivação inicial, os alunos poderĂŁo comentar e tomar posição sobre a seguinte aĂ rmação, presente no texto lido f “As circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstâncias.â€?

Ela serĂĄ mais trabalhada ao longo desta etapa, mas seria interessante observar a forma como eles a interpretam apenas Ă luz do estudo feito atĂŠ aqui. Em seguida, indique a leitura do texto intitulado DialĂŠtica e liberdade, no qual ĂŠ articulada a perspectiva de Marx e Engels sobre a dialĂŠtica com a questĂŁo da liberdade. 0 objetivo ĂŠ mostrar que, desse ponto de vista, ĂŠ possĂ­vel superar tanto o reducionismo do libertarismo como o do determinismo. Para isso, partimos da concepção de homem como “conjunto das relaçĂ—es sociaisâ€?, explicitando, assim, seu carĂĄter socialmente determinado. Tal determinação, porĂŠm, nĂŁo se dĂĄ de modo absoluto, mecânico, unilateral, pois nĂŁo elimina a condição do homem de sujeito de sua histĂ“ria. Como, porĂŠm, os homens nĂŁo fazem a histĂ“ria a seu bel-prazer, visto que estĂŁo limitados pelas circunstâncias materiais em que se encontram, sua liberdade nĂŁo ĂŠ total, pois sofre a interferĂŞncia de causas externas a ele. EnĂ m, as circunstâncias fazem os homens, mas os homens tambĂŠm fazem as circunstâncias. Para a compreensĂŁo dessa perspectiva, sĂŁo fundamentais os conceitos de “contradiçãoâ€? e de “ação recĂ­procaâ€?, sobretudo para evitarmos o risco de incorrer no determinismo. 0 texto sugerido para esta etapa encontra-se reproduzido a seguir e tambĂŠm na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno.

DialĂŠtica e liberdade 0 problema da liberdade diz respeito Ă ideia que se tem do homem e do papel (ativo ou passivo) que ele desempenha na histĂ“ria. Na perspectiva do materialismo histĂ“rico dialĂŠtico, o homem ĂŠ o conjunto das relaçĂ—es sociais, uma vez que ele (homem) nĂŁo pode ser concebido como um ser abstrato, isolado, destacado do mundo concreto em que vive (como pode nos fazer pensar a perspectiva do libertarismo). Ao entender que ĂŠ o homem que se faz pelas relaçĂ—es sociais, reconhecemos que ele (homem) nĂŁo estĂĄ imune Ă s circunstâncias em que vive e Ă s relaçĂ—es sociais que estabelece com seus semelhantes. Pelo contrĂĄrio, ele ĂŠ, em grande medida, produto dessas relaçĂ—es e transforma-se continuamente com as transformaçĂ—es dessas relaçĂ—es. 0 homem da sociedade capitalista nĂŁo ĂŠ o mesmo do feudalismo, que, por sua vez, nĂŁo ĂŠ o mesmo do escravismo, que nĂŁo ĂŠ o mesmo das comunidades primitivas. Podemos dizer, portanto, que o homem ĂŠ determinado pelas relaçĂ—es sociais ou que ele ĂŠ socialmente determinado.

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Mas, como vimos, a dialĂŠtica supĂ—e a contradição e a ação recĂ­proca entre os elementos de uma dupla de contrĂĄrios. Portanto, conceber o homem dialeticamente implica entender que a relação dele com a histĂ“ria, com a sociedade, com a natureza, com os outros homens, enfim, com a realidade que o cerca ĂŠ tambĂŠm contraditĂ“ria e de mĂ™tua determinação. Desse modo, se as relaçĂ—es sociais produzem os homens, tambĂŠm os homens produzem as relaçĂ—es sociais que vivenciam. 0u, nas palavras de Marx e Engels “[...] as circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstânciasâ€?1. Assim, do ponto de vista da dialĂŠtica, o homem tem um papel ativo na determinação das circunstâncias em que vive. PorĂŠm, como ele ĂŠ tambĂŠm socialmente determinado, cabe perguntar Em que medida ele ĂŠ realmente capaz de alterar as relaçĂ—es sociais de que participa AtĂŠ onde vai o seu poder de fazer a histĂ“ria Com que grau de liberdade ele pode fazer isso De acordo com Marx “0s homens fazem a sua prĂ“pria histĂ“ria; contudo, nĂŁo a fazem de livre e espontânea vontade, pois nĂŁo sĂŁo eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela ĂŠ feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontramâ€?2. NĂŁo se trata, portanto, de um poder ilimitado, absoluto, tampouco de um poder irrisĂ“rio, insignificante, nulo. Concluindo, podemos dizer que a perspectiva dialĂŠtica permite superar tanto a onipotĂŞncia do libertarismo quanto a impotĂŞncia do determinismo. Assim, ela coloca sobre nossos ombros a exata medida de responsabilidade que nos cabe na construção de nosso destino. De fato, nĂŁo podemos tudo. Mas hĂĄ algo que podemos, a partir das condiçĂ—es objetivas em que nos encontramos. E ĂŠ nessa margem relativa de possibilidades limitadas que podemos fazer valer a nossa liberdade. 1

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução Rubens Enderle, NÊlio Schneider, Luciano Cavini Martorano. Texto final Rubens Enderle. São Paulo Boitempo, 2007. p. 43.

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MARX, Karl. O 18 de Brumårio de Luís Bonaparte. Tradução NÊlio Schneider. São Paulo Boitempo, 2011. p. 25. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura, sugerimos duas questĂ—es, cujo objetivo ĂŠ auxiliar na compreensĂŁo e na Ă xação de alguns dos conceitos trabalhados

mentos com os conteĂ™dos que foram trabalhados ao longo desta e de outras SituaçĂ—es de Aprendizagem.

1. 0 que signiĂ ca dizer que o homem ĂŠ um “conjunto de relaçĂ—es sociaisâ€?

Para concluir o estudo sobre liberdade, nesta mesma etapa, os alunos poderão analisar as imagens reproduzidas a seguir, procurando explicitar e discutir a concepção de liberdade nelas subjacente, de acordo com a proposta de Lição de casa do Caderno do Aluno.

2. Como a concepção dialĂŠtica procura superar a contradição entre libertarismo e determinismo Posicione-se. As questĂ—es podem ser debatidas entre os alunos, inicialmente em pequenos grupos, para depois haver uma discussĂŁo com a sala toda, mediada por vocĂŞ, professor. ­ importante que os alunos construam seus argu-

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0 objetivo dessa breve anĂĄlise ĂŠ que os alunos identifiquem diferentes concepçĂ—es de liberdade e demonstrem que sĂŁo capazes de empregar os conceitos estudados.


© Studio-AnniLa/iStocLphoto/ThinLstocL/ GettZ Images

Filosofia – 3a série – Volume 2

Avaliação da Situação de Aprendizagem Novamente, convém registrar que, para nÓs, é você, professor, quem deve decidir quando e como avaliar seus alunos. De todo modo, apresentamos a seguir algumas quest×es, a título de contribuição. As quest×es também se encontram no Caderno do Aluno, na seção Você aprendeu .

© Edson Grandisoli/Pulsar Imagens

Figura 2 – As coisas acontecem porque estão marcadas ou porque disseram que acontecerão e, por isso, se fazem acontecer

1. De que forma o conceito de ação recíproca pode questionar o determinismo O conceito de ação recíproca questiona o determinismo porque permite o entendimento de que é possível criar ou recriar situações a partir de condições dadas, de que é possível mudar situações originadas por fatores externos à vontade do homem.

2. Apresente a diferença entre a concepção de dialética dos autores analisados. Houaiss: oposição, conflito originado por contradição entre teorias. Heráclito: movimento provocado pela contradição que está presente em todas as coisas. Platão e Sócrates: diálogo, contradição, antagonismo e busca de superação. Figura 3 – Ainda que o homem tenha criado a agricultura, o resultado final da safra está sujeito aos caprichos da natureza.

Hegel: contradição entre pensamentos – afirmação de uma ideia, oposição a esta ideia e produção de nova ideia como superação da afirmação e da negação.

© +uca Martins/Pulsar Imagens

Marx: contradição no campo da produção das condições materiais de sobrevivência. Admite afirmação, negação e síntese que resulta dessa confrontação entre tese (afirmação) e antítese (negação).

3. Elabore, em folha avulsa, uma dissertação sobre o tema “a concepção dialética de liberdade como forma de superação do libertarismo e do determinismo”, resgatando esses conceitos já trabalhados na dissertação solicitada anteriormente. Os alunos devem retomar as concepções de libertarismo e Figura 4 – 0 povo quis votar para presidente, porém seus representantes não permitiram.

determinismo e apresentar as possibilidades de superação dos dois conceitos com base nos textos sobre dialética e liberdade.

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Propostas de situaçþes de recuperação Caso alguns alunos não tenham o desempenho esperado nesta Situação de Aprendizagem, propomos como atividades de recuperação 1. Retomar a leitura dos textos desta Situação de Aprendizagem, destacando o signià cado da palavra dialÊtica para os diferentes autores. 2. Destacar dos textos os argumentos que evidenciam a superação do libertarismo e do determinismo.

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensão do tema Livros MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução Rubens Enderle, NÊlio Schneider, Luciano Cavini Martorano; texto

Ă nal Rubens Enderle. SĂŁo Paulo Boitempo, 2007. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. 0 Manifesto Comunista. In B0:LE, David. O Manifesto Comunista de Marx e Engels. Rio de +aneiro +orge ;ahar, 200 . (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) VĂ ;QUE;, Adolfo S. ­tica. 30 ed. Rio de +aneiro Civilização Brasileira, 2005. Como jĂĄ foi dito, o capĂ­tulo V, intitulado “Responsabilidade moral, determinismo e liberdadeâ€?, foi referĂŞncia para a elaboração dessas duas Ă™ltimas SituaçĂ—es de Aprendizagem.

Site DIAL­TICA. Brasil Escola. Pequeno artigo que, de forma breve, traça o caminho da dialÊtica na Filosoà a. Disponível em http //XXX. brasilescola.com/filosofia/dialetica.htm . Acesso em 15 jan. 2014. (Sugetão tambÊm presente no Caderno do Aluno.)

SITUAÂŹÂŤ0 DE APRENDI;AGEM 5 FIL0S0FIA E LITERATURA Nesta Situação de Aprendizagem, vamos pensar a FilosoĂ a em comparação com a Literatura, para completarmos o ciclo de aproximaçĂ—es e distanciamentos que nos conduzem a um aprofundamento sobre a especiĂ cidade

da FilosoĂ a como discurso capaz de narrar o pensamento reflexivo, nĂŁo apenas sobre os temas mais relevantes da existĂŞncia humana, mas, principalmente, sobre os demais discursos Literatura, CiĂŞncia, ReligiĂŁo.

ConteĂşdos e temas: FilosoĂ a e Literatura; aproximaçĂ—es e distanciamentos. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponĂ­veis em diferentes situaçĂ—es, para construir argumentação consistente; comparar discurso Ă losĂ“Ă co e discurso literĂĄrio; aprofundar compreensĂŁo sobre o que ĂŠ FilosoĂ a em comparação com a Literatura; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de modo sistemĂĄtico; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es sobre leituras e debates realizados.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento de hipĂ“tese sobre aproximaçĂ—es e distanciamentos entre FilosoĂ a e Literatura; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento. SugestĂŁo de recursos: texto poĂŠtico; texto Ă losĂ“Ă co a respeito da leitura do discurso da FilosoĂ a. SugestĂŁo de avaliação: sugere-se que seja avaliada a capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente e consistente, buscando superar o senso comum e o enfrentamento reĂĄexivo dos alunos com as atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se registros individuais; veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno; outros trabalhos que o professor julgar adequados e pertinentes.

Sondagem e sensibilização Nas SituaçĂ—es de Aprendizagem anteriores, desaĂ amos os estudantes a pensar em aproximaçĂ—es e distanciamentos entre o discurso cientĂ­Ă co e o discurso Ă losĂ“Ă co. Neste momento, vamos pensar a distinção e a aproximação entre o discurso Ă losĂ“Ă co e a Literatura. Como sondagem inicial, solicite a leitura do poema “Começo a conhecer-me. NĂŁo existoâ€?, de Fernando Pessoa (Ă lvaro de Campos), que tambĂŠm consta no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.

Começo a conhecer-me. NĂŁo existo Começo a conhecer-me. NĂŁo existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os [outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque tambĂŠm [hĂĄ vida... Sou isso, enfim... Apague a luz, feche a porta e deixe de ter [barulhos de chinelos no corredor. Fique eu no quarto sĂ“ com o grande sossego [de mim mesmo. ­ um universo barato. PESS0A, Fernando (Ă lvaro de Campos). Poemas de Ă lvaro de Campos. DisponĂ­vel em http //XXX. dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/ jp000004.pdf . Acesso em 19 dez. 2013.

Provoque os alunos com as duas questĂ—es a seguir, propostas no Caderno do Aluno, e observe se sĂŁo capazes de respondĂŞ-las. Se apresentarem diĂ culdades, vocĂŞ pode auxiliĂĄ-los a partir do questionamento sobre a ideia principal da poesia e como o autor procura justiĂ car a sua primeira aĂ rmação. 1. Como o poeta descreve a sua condição humana 2. Por que ĂŠ possĂ­vel aĂ rmar que ele ĂŠ um intervalo 3. Como vocĂŞ imagina essa reĂĄexĂŁo a partir do texto Ă losĂ“Ă co argumentativo Em folha avulsa, construa um breve texto Ă losĂ“Ă co a partir das ideias contidas no poema. ApĂ“s o exercĂ­cio com o poema, peça aos alunos que realizem dois movimentos de comparação em grupo o primeiro movimento comparando seus textos, trocando ideias sobre a forma que encontraram para transformar o poema em um breve discurso Ă losĂ“Ă co. No segundo movimento, eles devem comparar o poema propriamente dito com seus textos Qual ĂŠ a diferença VocĂŞ, professor, poderĂĄ acompanhar a reĂĄexĂŁo comparativa de cada grupo e, ainda, se houver tempo, solicitar a cada equipe que apresente uma sĂ­ntese sobre o processo de discussĂŁo. Na etapa seguinte, leia com os alunos o texto a seguir, que tambĂŠm se encon-

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tra no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anålise de texto, e peça que realizem a atividade proposta Destaque uma diferença entre Literatura

e FilosoĂ a apontada no texto e explique por que, de acordo com os argumentos do texto, ĂŠ difĂ­cil distinguir essas duas ĂĄreas.

A leitura dos textos à losóà cos +orge Alberto Molina1

Queremos aqui caracterizar aquelas produçĂ—es textuais que classificamos como textos de Filosofia. Num romance, como Madame BovarZ, os personagens sĂŁo seres humanos, reais ou fictĂ­cios, como Ema BovarZ, Monsieur )omais, o Doctor BovarZ etc. No texto filosĂ“fico, os personagens sĂŁo as teses defendidas. Essas teses estĂŁo apoiadas sobre argumentos. 0 texto filosĂ“fico ĂŠ um texto de tipo argumentativo. Mas essa ĂŠ ainda uma caracterização muito geral, pois um ensaio sociolĂ“gico, um editorial de jornal, um sermĂŁo, sĂŁo tambĂŠm textos argumentativos. De maneira que essa descrição ĂŠ insuficiente, a menos que precisemos, com mais exatidĂŁo, quais sĂŁo os traços especĂ­ficos da argumentação filosĂ“fica. 0 que dificulta ir alĂŠm daquela caracterização muito geral ĂŠ o fato de o discurso filosĂ“fico manifestar-se atravĂŠs de uma grande variedade de gĂŞneros textuais diferentes2. Antes de SĂ“crates, a Filosofia usou como forma de expressĂŁo a poesia, e ainda no perĂ­odo romano-helenĂ­stico encontramos De rerum natura, de LucrĂŠcio, como exemplo de poema filosĂ“fico. PlatĂŁo e tambĂŠm AristĂ“teles usaram o diĂĄlogo como veĂ­culo para expressar suas ideias. 0 diĂĄlogo filosĂ“fico estĂĄ presente atĂŠ na Idade Moderna, lembremos por exemplo o DiĂĄlogo sobre a conexĂŁo entre as ideias e as palavras, de Leibniz, e os TrĂŞs diĂĄlogos entre Hilas e Filonius, de BerLeleZ. As cartas tĂŞm servido como instrumento de expressĂŁo de ideias filosĂ“ficas. Podemos citar exemplos cĂŠlebres como a correspondĂŞncia entre Leibniz e ClarL sobre a natureza do espaço e do tempo, a correspondĂŞncia entre Leibniz e Arnauld sobre a noção de substância, as cartas a LucĂ­lio de SĂŞneca etc. A autobiografia tem sido usada para expressar concepçĂ—es filosĂ“ficas, assim As ConfissĂľes de Santo Agostinho e as de Rousseau. 0s filĂ“sofos tambĂŠm se apropriaram do gĂŞnero apologĂŠtico e, como mostra disso, encontramos a Apologia de SĂ“crates, de PlatĂŁo, A Cidade de Deus, de Santo Agostinho, e Os pensamentos, de Pascal. 0 tratado cientĂ­fico foi introduzido por AristĂ“teles como gĂŞnero textual para a expressĂŁo de filosofemas. Existem tambĂŠm textos filosĂ“ficos formados a partir de aforismos, como o Tractatus, de Wittgenstein. Face a essa grande variedade de gĂŞneros textuais usados pelos filĂ“sofos, nos perguntamos sobre a justificativa para colocar produçĂ—es pertencentes a gĂŞneros tĂŁo diferentes sob o rĂ“tulo comum de texto filosĂ“fico. [...] Podemos, entĂŁo, afirmar o seguinte parece difĂ­cil apontar a priori um conjunto de marcas necessĂĄrias e suficientes que outorguem uma especificidade ao texto filosĂ“fico. NĂŁo podemos definir o texto filosĂ“fico por meio de uma clĂĄusula do tipo “texto filosĂ“fico ĂŠ ABC, e somente aquilo que seja ABC... poderĂĄ ser chamado de texto filosĂ“ficoâ€?. No entanto, pensamos que, malgrado a impossibilidade de definir diretamente o que ĂŠ um texto filosĂ“fico, podemos obter luz sobre o nosso tema, comparando o discurso filosĂ“fico com outros tipos de discursos o cientĂ­fico, o jurĂ­dico, o teolĂ“gico e o literĂĄrio. [...] Diferenciar a Filosofia da Literatura ĂŠ mais difĂ­cil, e tememos que qualquer critĂŠrio de demarcação que seja dado entre as duas disciplinas possa ser sempre impugnado. PlatĂŁo considerava que a Poesia busca comover e que a Filosofia procura a verdade3. 0 bom poeta, segundo ele, ĂŠ aquele que sabe 1

Doutor em LĂ“gica e Filosofia da CiĂŞncia pela Unicamp, professor do Departamento de CiĂŞncias )umanas e docente do Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. 2 Estou usando a distinção entre gĂŞneros e tipos textuais apresentada em Marcuschi (2002). 3 RepĂşblica X, 05d- 07d.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

provocar em nĂ“s as emoçĂ—es apropriadas. AristĂ“teles considerava o discurso poĂŠtico como aquele que representa coisas fictĂ­cias como possĂ­veis, enquanto a Filosofia ĂŠ um discurso que expressa o que ĂŠ, da forma que ele ĂŠ. 0u, dito de outra forma, o discurso filosĂ“fico descreve como ĂŠ o que existe4. )egel considerava que a arte representa o universal sob a forma da sensibilidade, ao passo que a Filosofia representa o universal sob a forma de conceito5. AgamĂŞmnon representa a hZbris ou desmesura comum a vĂĄrios governantes; AntĂ­gona e Creonte, o conflito entre a razĂŁo de estado e a piedade familiar; Dom Quixote, o espĂ­rito sonhador e aventureiro. Personagens da literatura representam conceitos ou situaçĂ—es universais. EntĂŁo, baseados naqueles trĂŞs filĂ“sofos, podemos dizer que o discurso literĂĄrio se diferencia do filosĂ“fico pelo fato que i) ele busca suscitar em nĂ“s emoçĂ—es; ii) ele tem um carĂĄter fictĂ­cio; iii) ele representa situaçĂ—es universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representaçĂ—es individuais. 4

“Pelo exposto se torna Ă“bvio que a função do poeta nĂŁo ĂŠ contar o que aconteceu mas aquilo que poderia acontecer, o que ĂŠ possĂ­vel, de acordo com o princĂ­pio de verossimilhança e da necessidadeâ€? (PoĂŠtica, 51a 3 -51b 11). “Deve preferir-se o impossĂ­vel verossĂ­mil ao possĂ­vel inverossĂ­milâ€? (PoĂŠtica, 0a 27). 5 “[...] a função da arte consiste em tornar a ideia acessĂ­vel Ă nossa contemplação, mediante uma forma sensĂ­vel e nĂŁo na figura do pensamento e da espiritualidade em geral [...]â€?. )egel (1993), p. 47.

M0LINA, +orge Alberto. A leitura de textos filosÓficos. Revista Signo, vol. 31, p. 37-47, 200 . Disponível em http //online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/vieXFile/438/291 . Acesso em 19 dez. 2013.

Baseando-se na leitura e com a escolha de uma das diferenças apontadas, ĂŠ importante que vocĂŞ faça uma sĂ­ntese com as ideias centrais do texto. Solicite a alguns alunos que leiam suas respostas ou dĂ™vidas ao exercĂ­cio proposto, pois este ĂŠ um momento de discussĂŁo sobre as principais caracterĂ­sticas do discurso Ă losĂ“Ă co. A Literatura talvez seja o discurso que menos se distanciou do discurso Ă losĂ“Ă co, uma vez que poetas, romancistas e cronistas tratam de questĂ—es filosĂ“ficas como a finalidade da existĂŞncia humana e de dramas ĂŠticos. Essa aproximação ĂŠ notada tambĂŠm no caso dos Ă lĂ“sofos que escolheram a Literatura para abordar sua Ă losoĂ a. +ean-Paul Sartre (1905-1980) ĂŠ um deles. Escreveu romances como A nĂĄusea (1938), ou sua trilogia de romances A idade da razĂŁo (1945), Sursis (1947) e Com a morte na alma (1949). 0utro filĂ“sofo que escolheu a Literatura para expor seu pensamento educacional foi +ean-+acques Rousseau (1712-1778), em sua obra Ă ccional EmĂ­lio ou da Educação (17 2).

Peça aos alunos que façam uma pesquisa de outros Ă lĂ“sofos que se expressaram por meio da Literatura e registrem em folha Ă parte seus nomes e suas principais obras. Essa proposta encontra-se no Caderno do Aluno, na seção Pesquisa individual. A distinção de limites entre a FilosoĂ a e a Literatura torna-se, assim, uma tarefa complexa e delicada que nĂŁo se esgota nesta Situação de Aprendizagem, cujo objetivo ĂŠ oferecer mais uma oportunidade de confronto entre diferentes modos de pensar e dizer os temas centrais da existĂŞncia humana.

Avaliação da Situação de Aprendizagem 0riente os alunos a preencher um quadro-sĂ­ntese, conforme consta no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ aprendeu . Esse quadro servirĂĄ para avaliar a compreensĂŁo dos traços que marcam o discurso Ă losĂ“Ă co.

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Aproximaçþes Filosoà a, Mitologia e Religião

Filosoà a e CiËncia

DiGerenças

A FilosoďŹ a nĂŁo surge em contraposição ou dissonância dos mitos e discursos religiosos. Ao contrĂĄrio, ĂŠ baseada em temas e preocupaçþes predominantes no discurso religioso e nos mitos registrados em poemas como a IlĂ­ada e a Odisseia, de Homero, e nos poemas de HesĂ­odo.

O discurso nos mitos apresenta-se como uma narrativa marcada por analogias, metĂĄforas e parĂĄbolas, ao passo que o discurso na FilosoďŹ a se manifesta por questionamentos sucessivos a cada aďŹ rmação, por fundamentação e crĂ­tica sobre o saber aďŹ rmado.

Aspectos que sĂŁo comuns a ambos os discursos: preocupação dos poetas de apresentar causas e motivos das açþes; esforço para descrever os fatos em uma abrangĂŞncia que abarca deuses, homens, terra, cĂŠu, guerra, paz, bem e mal; preocupação dos poetas em construir narrativas para ensinar justiça como virtude fundamental. O mito e alguns discursos religiosos, assim, jĂĄ contemplariam a estrutura de apresentação dos fatos e os temas valorizados pela FilosoďŹ a.

As religiĂľes, especialmente se tomarmos as religiĂľes monoteĂ­stas, professam verdades cuja base ĂŠ a fĂŠ no divino. A FilosoďŹ a busca signiďŹ cados na ordem do humano a partir de uma reexĂŁo que deve ser radical, rigorosa e de conjunto (conforme Dermeval Saviani1) e, dessa forma, questionar certezas e verdades.

A curiosidade e o conjunto de perguntas sobre a realidade que inspiram ambas as investigaçþes;

A FilosoďŹ a utiliza diversos gĂŞneros textuais para expressar suas ideias: cartas, poemas, diĂĄlogos, ensaios. A CiĂŞncia utiliza ensaios, mas nĂŁo poesias, diĂĄlogos ou cartas sem que passem por explicitação analĂ­tica.

O esforço de explicitação de ideias que ďŹ lĂłsofos e cientistas empreendem; A construção de argumentação que permita a comunicação dos saberes formulados, investigados; A utilização de metĂĄforas para oferecer imagens mais prĂłximas a saberes jĂĄ conhecidos, no esforço de comunicação dos novos conhecimentos.

FilosoĂ a e Literatura

FilosoďŹ a e Literatura abordam temas em comum; a Literatura problematiza situaçþes do cotidiano e provoca reexĂŁo, assim como a FilosoďŹ a.

As deďŹ niçþes dos termos em CiĂŞncia sĂŁo especiďŹ cadas de forma que se generalize seu signiďŹ cado. Em FilosoďŹ a, um termo ou expressĂŁo pode ter diferentes signiďŹ cados a depender do contexto e da formulação argumentativa do autor. Exemplo: a palavra â€œĂĄtomoâ€?, em QuĂ­mica, e a palavra “sujeitoâ€?, em FilosoďŹ a. É comum usarmos expressĂľes como “o entendimento da palavra sujeitoâ€? em Marx, em Foucault, em Deleuze ou em Descartes.

Literatura: busca suscitar em nĂłs emoçþes; tem um carĂĄter ďŹ ctĂ­cio; representa situaçþes universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representaçþes individuais.

1 SAVIANI, Dermeval. A Filosofia na formação do educador. In @@@@@. Educação: do senso comum Ă consciĂŞncia filosĂ“fica. Campinas Autores Associados, 2007. p. 24. http //XXX.autoresassociados.com.br . Lembramos que o tema citado jĂĄ foi abordado nas SituaçĂ—es de Aprendizagem anteriores.

Proposta de situação de recuperação Caso ainda exista dià culdade por parte de alguns alunos para diferenciar o discurso literå-

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rio do Ă losĂ“Ă co, sugerimos, como situação de recuperação, que escrevam um texto poĂŠtico e um texto Ă losĂ“Ă co com o tema “morteâ€?, atendo Ă s deĂ niçĂ—es de ambos dadas por PlatĂŁo e Aris-


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

tĂ“teles, no texto A leitura dos textos Ă losĂ“Ă cos. PlatĂŁo considerava que a poesia busca comover e que a Filosofia procura a verdade. 0 bom poeta, segundo ele, ĂŠ aquele que sabe provocar em nĂ“s as emoçĂ—es apropriadas. AristĂ“teles considerava o discurso poĂŠtico como aquele que representa coisas fictĂ­cias como possĂ­veis, enquanto a FilosoĂ a ĂŠ um discurso que expressa o que ĂŠ, da forma que ĂŠ.

cientĂ­Ă co e Ă losĂ“Ă co ao longo do tempo e o valor do conhecimento na sociedade contemporânea. Aborda a necessidade de um conhecimento comprometido com a preservação ambiental e com a construção de uma sociedade solidĂĄria e capaz de superar a exclusĂŁo nĂŁo apenas de certos grupos sociais, mas de continentes inteiros, como ĂŠ o caso da Ă frica. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo dos temas

Artigo

Livro M0RIN, Edgar. A religação dos saberes o desaĂ o do sĂŠculo XXI. Tradução FlĂĄvia Nascimento. 9. ed. Rio de +aneiro Bertrand Brasil, 2011. 0bra importante para compreender as transformaçĂ—es do conhecimento

M0LINA, +orge A. A leitura dos textos filosĂ“ficos. Revista Signo, vol. 31, 200 . DisponĂ­vel em http //online.unisc.br/seer/ index.php/signo/article/vieXFile/438/291 . Acesso em 19 dez. 2013. Com linguagem clara, este texto faz uma comparação dos discursos da FilosoĂ a com outros discursos. Sugerido para os alunos aprofundarem seus conhecimentos sobre as caracterĂ­sticas dos textos Ă losĂ“Ă cos.

SITUAÂŹÂŤ0 DE APRENDI;AGEM A FELICIDADE SEGUND0 0 EST0ICISM0 E 0 EPICURISM0 Nesta Situação de Aprendizagem, serĂĄ abordado o tema felicidade, tomando-se por base as concepçĂ—es de duas correntes Ă losĂ“Ă cas do perĂ­odo helenĂ­stico (323 a.C.-147 a.C.) o estoicismo e o epicurismo. Para o estoicismo, a felicidade consiste em adequar nossa vontade ao destino, desejar apenas as coisas que dependem de nĂ“s e eliminar todas as paixĂ—es, a Ă m de alcançar o estado de imperturbabilidade da alma – a ataraxia. Para o epicurismo, a felicidade reside em afastar os medos que nos trazem infelicidade (como o medo dos deuses e da morte), descrer no destino, habituar-se a uma vida simples e buscar o prazer

com prudĂŞncia, submetendo-o ao exame e Ă reĂĄexĂŁo. DaĂ­ a importância da FilosoĂ a para a conquista da felicidade. Antes, porĂŠm, de entrarmos na exposição sistemĂĄtica dessas duas doutrinas, faremos uma introdução ao tema felicidade, procurando problematizar brevemente sua deĂ nição e evidenciar a sua importância como objeto da reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca, uma vez que dele se ocuparam inĂ™meros Ă lĂ“sofos. Nesta introdução, tentaremos, tambĂŠm, caracterizar o contexto histĂ“rico do helenismo, a fim de propiciar uma compreensĂŁo mais adequada do estoicismo e do epicurismo.

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ConteĂşdos e temas: a felicidade como tema da FilosoĂ a; o estoicismo e a felicidade como resignação; a felicidade segundo o epicurismo; felicidade para alĂŠm do estoicismo e do epicurismo. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponĂ­veis em diferentes situaçĂ—es, para construir argumentação consistente; problematizar a questĂŁo da felicidade, reconhecendo a relevância de reĂĄetir de forma sistemĂĄtica e rigorosa sobre ela; identiĂ car as contribuiçĂ—es e os limites das concepçĂ—es de felicidade abordadas (estoicismo e epicurismo), posicionando-se criticamente em relação a elas; apropriar-se das ideias principais dessas concepçĂ—es e trabalhar com os princĂ­pios estudados; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es sobre leituras e debates realizados. SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das opiniĂ—es dos alunos sobre o problema da felicidade; discussĂŁo em grupo das questĂ—es levantadas nas aulas; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento; pesquisa bibliogrĂĄĂ ca complementar. SugestĂŁo de recursos: internet, caso a escola conte com esse recurso; bibliograĂ a complementar. SugestĂŁo de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domĂ­nio do conteĂ™do estudado (conceitos, ideias, raciocĂ­nios etc.) pelos alunos; a capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum); e o efetivo envolvimento nas atividades propostas. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se dissertaçĂ—es individuais; provas dissertativas e reĂĄexivas; veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno; participação em sala e outros que o professor julgar pertinentes.

Sondagem e sensibilização Esta sondagem serĂĄ feita com as questĂ—es a seguir a ser trabalhadas em grupo e cujo objetivo ĂŠ trazer Ă tona as concepçĂ—es de felicidade que eventualmente possuam e que, neste momento, ainda se encontram no nĂ­vel do senso comum. As perguntas encontram-se tambĂŠm no Caderno do Aluno 1. 0 que ĂŠ felicidade para vocĂŞ Apresente uma deĂ nição. 2. 0 que ĂŠ preciso para ser feliz no mundo de hoje 3. VocĂŞ se considera feliz Por quĂŞ 4. As frases a seguir traduzem pensamentos do senso comum a respeito da felicidade. Comente-as, posicionando-se em relação a elas e justiĂ cando seus argumentos.

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a) Felicidade nĂŁo existe. SĂ“ existem momentos felizes. b) 0 dinheiro nĂŁo traz felicidade. c) A felicidade estĂĄ dentro de cada um de nĂ“s. Pretende-se, com isso, iniciar o processo de questionamento do senso comum sobre a questĂŁo da felicidade, “destruindoâ€? algumas certezas e preparando o caminho para o estudo ulterior. Para tanto, vamos ler um texto introdutĂ“rio, reproduzido a seguir e na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno, com o objetivo principal de contextualizar as doutrinas do estoicismo e do epicurismo. Tal contextualização ĂŠ fundamental para que o aluno compreenda as razĂ—es pelas quais temas como esse se tornaram tĂŁo relevantes e centrais naquele momento histĂ“rico.


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A Gelicidade como tema da FilosoĂ a Se hĂĄ algo nesta vida que todos, sem exceção, desejamos, ĂŠ ser feliz. Quem nunca se perguntou 0 que ĂŠ a felicidade 0 que ĂŠ preciso para alcançå-la Ela existe realmente, ou podemos ter apenas momentos felizes Se procurarmos no dicionĂĄrio, veremos que a felicidade ĂŠ identificada com o “estado de uma consciĂŞncia plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estarâ€?1. Mas, serĂĄ que para ser feliz basta satisfazer a consciĂŞncia 0 “bem-estarâ€? a que se refere a definição anterior nĂŁo implica, tambĂŠm, outros nĂ­veis de satisfação, como a das condiçĂ—es materiais bĂĄsicas, necessĂĄrias a uma vida digna e confortĂĄvel 0 DicionĂĄrio bĂĄsico de Filosofia2 parece ampliar um pouco a noção de felicidade, concebendo-a como “Estado de satisfação plena e global de todas as tendĂŞncias humanasâ€?. Como, porĂŠm, atingir tal grau de satisfação Isso ĂŠ possĂ­vel Desse modo, a questĂŁo da felicidade nĂŁo ĂŠ tĂŁo simples como Ă primeira vista pode parecer. EnfrentĂĄ-la exige reflexĂŁo cuidadosa, sistemĂĄtica, profunda e crĂ­tica, ou seja, precisa da ajuda da Filosofia. De fato, ao longo da histĂ“ria da Filosofia, ela foi objeto da preocupação de inĂ™meros pensadores, que, instigados por questĂ—es como as mencionadas no inĂ­cio deste texto, aventuraram-se a apontar alguns caminhos que, na visĂŁo deles, poderiam levar Ă felicidade. Com base nisso, vamos estudar duas correntes filosĂ“ficas que se ocuparam desse tema – o estoicismo e o epicurismo – e que surgiram em um mesmo momento histĂ“rico o perĂ­odo romano-helenĂ­stico. Elas foram escolhidas em virtude de estarem entre as que exerceram e continuam a exercer grande influĂŞncia sobre nossa cultura, contribuindo significativamente para a formação das ideias que temos acerca da felicidade. Para compreendĂŞ-las melhor, porĂŠm, ĂŠ importante recordar brevemente o que foi esse perĂ­odo histĂ“rico. Tradicionalmente, o helenismo foi o processo de fusĂŁo da cultura grega com a dos povos orientais, com predomĂ­nio da primeira sobre a Ă™ltima, fusĂŁo esta propiciada pelas conquistas de Alexandre Magno. Esse processo teve inĂ­cio com a tomada da GrĂŠcia pela MacedĂ´nia, no sĂŠculo IV a.C., marcando o fim da ĂŠpoca clĂĄssica. Do ponto de vista polĂ­tico, a principal consequĂŞncia da invasĂŁo macedĂ´nica foi a dissolução da polis, isto ĂŠ, da cidade-Estado grega, que, pouco a pouco, foi perdendo sua autonomia. Antigas instituiçĂ—es, como a assembleia dos cidadĂŁos e a democracia ateniense, deixaram de existir. NĂŁo havia mais espaço para a participação ativa dos cidadĂŁos nas decisĂ—es mais importantes da vida da população. A rigor, nĂŁo havia mais cidadĂŁos, no sentido pleno da palavra, mas apenas “sĂ™ditosâ€? de um monarca estrangeiro. As cidades outrora soberanas eram, agora, subjugadas por uma potĂŞncia invasora. No sĂŠculo II a.C., foi a vez de Roma conquistar a GrĂŠcia, transformando-a em provĂ­ncia do ImpĂŠrio Romano e subtraindo-lhe definitivamente a liberdade. Nesse contexto tumultuado, de decadĂŞncia da polis e dos valores polĂ­ticos e morais tradicionais, de perda da liberdade, de sincretismo e de conflitos culturais causados pelo contato com outros povos de tradiçĂ—es e crenças diferentes, de insegurança constante provocada pela dominação estrangeira, de medo da morte iminente, enfim, nesse ambiente de crise generalizada, era natural que a Filosofia tambĂŠm sofresse significativas transformaçĂ—es, mudando o foco de suas preocupaçĂ—es. De fato, no perĂ­odo clĂĄssico, a polĂ­tica era um dos temas centrais da reflexĂŁo filosĂ“fica. Basta lembrar a importância fundamental que ela teve para SĂ“crates, PlatĂŁo e AristĂ“teles, que se ocuparam de questĂ—es 1

DicionĂĄrio Houaiss da LĂ­ngua Portuguesa..

2

+APIASSÂź, )ilton; MARC0NDES, Danilo. DicionĂĄrio bĂĄsico de Filosofia. 5. ed. Rio de +aneiro +orge ;ahar, 2008. p. 104.

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de natureza essencialmente polĂ­tica, tais como Qual ĂŠ a melhor forma de governo ; 0 que ĂŠ uma cidade justa ; Quais sĂŁo as virtudes que devem prevalecer na polis ; Como deve ser a educação dos cidadĂŁos ; Que papel cumprem as leis . No helenismo, por outro lado, os assuntos polĂ­ticos sĂŁo postos de lado, cedendo lugar Ă s questĂ—es da vida privada e interior de cada indivĂ­duo, especialmente aos problemas morais. Mas agora, o que se espera da Filosofia ĂŠ que ela aponte caminhos (por exemplo, por meio da indicação de regras morais prĂĄticas) para a eliminação do sofrimento humano e para a conquista da felicidade – ambos, sofrimento e felicidade, entendidos como problemas meramente individuais, subjetivos. Assim, a felicidade passou a ser um tema central da Filosofia, como resultado das condiçĂ—es impostas pela nova realidade social, polĂ­tica e cultural vivida pelos gregos naquele momento histĂ“rico. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura do texto, peça aos alunos que se reĂ™nam em grupos para explicar as questĂ—es a seguir, conforme proposta do Caderno do Aluno 1. Em que medida o helenismo inĂĄuenciou as temĂĄticas Ă losĂ“Ă cas na GrĂŠcia e por quĂŞ 2. VocĂŞ considera que a FilosoĂ a pode contribuir para o enfrentamento do problema da felicidade Como No primeiro caso, o objetivo ĂŠ que eles percebam a vinculação entre essa mudança e as transformaçĂ—es ocorridas na sociedade grega, em virtude da ocupação macedĂ´nica. No segundo, que se posicionem livremente sobre a pergunta apresentada, a Ă m de veriĂ car, ao tĂŠrmino da Situação de Aprendizagem, se essa opiniĂŁo sofre alteração signiĂ cativa. Ao concluir esta primeira etapa, espera-se que os alunos tenham percebido que a questĂŁo da felicidade nĂŁo ĂŠ tĂŁo simples, como, Ă primeira vista, pode parecer, e que eles necessitam de estudos mais aprofundados para se posicionar com mais consistĂŞncia em relação a ela. Na segunda etapa, vamos nos dedicar ao estudo do estoicismo. Inicialmente, com o intuito de abordar elementos familiares aos alunos (do senso comum), propomos que se discuta em grupos uma frase de um texto bastante divulgado e conhecido, a Oração da serenidade, repro-

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duzido a seguir e no Caderno do Aluno na seção ExercĂ­cios. ApĂ“s a anĂĄlise cuidadosa, peça que respondam Ă s questĂ—es que seguem ao texto. Concede-me, Senhor, a serenidade necessĂĄria para aceitar as coisas que nĂŁo posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras. Frase atribuĂ­da a Reinhold Niebuhr.

1. )ĂĄ coisas que nĂŁo podemos modiĂ car e hĂĄ coisas que podemos Quais sĂŁo elas 2. Como podemos distinguir umas das outras 3. 0 que signiĂ ca aceitar com serenidade as coisas que nĂŁo podemos modiĂ car Realizada a atividade, vamos iniciar um estudo mais sistemĂĄtico do estoicismo por meio do texto intitulado O estoicismo e a felicidade como resignação, disponĂ­vel no Caderno do Aluno e reproduzido a seguir. Trata-se de um texto sintĂŠtico, que procura destacar algumas das ideias mais importantes sustentadas por essa corrente Ă losĂ“Ă ca acerca da felicidade, a Ă m de permitir aos alunos um primeiro contato com tais ideias. ­ desejĂĄvel que vocĂŞ, professor, acrescente outros elementos que levem a um aprofundamento, bem como indique aos alunos outras fontes de consulta e de estudo.


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O estoicismo e a Gelicidade como resignação 0 nome estoicismo vem do termo grego stoa, que significa “pĂ“rticoâ€?. Isso porque ;enĂŁo de CĂ­cio, fundador dessa escola filosĂ“fica, costumava ensinar nas proximidades do PĂ“rtico de PoikilĂŠ (o qual fora ornamentado pelo pintor Polignoto), em Atenas. Trata-se de uma corrente de pensamento que se entendeu do sĂŠculo IV a.C. ao sĂŠculo II d.C., e que repercute atĂŠ os dias atuais. Deixando de lado algumas diferenças entre os pensadores do estoicismo (tambĂŠm chamados “estoicosâ€?), podemos dizer que, de modo geral, para eles, existe uma RazĂŁo Divina (o Logos, ou Deus) que rege todo o universo, imprimindo-lhe uma ordem necessĂĄria (isto ĂŠ, que nĂŁo pode ser de outro jeito) e perfeita. Este Logos, ou Deus, entretanto, nĂŁo ĂŠ um ser pessoal e transcendente que existiria em algum lugar fora do mundo e de onde exerceria seu governo sobre a natureza e os seres humanos. Antes, trata-se de um deus imanente, ou seja, inseparavelmente integrado ao mundo fĂ­sico e material. DaĂ­ a ideia de que Deus estĂĄ em tudo, Deus ĂŠ tudo. ­ a doutrina do panteĂ­smo, segundo a qual Deus e o universo sĂŁo concebidos como realidades intrinsecamente entrelaçadas ou mesmo como “uma Ă™nica realidade integradaâ€?1. 0ra, se a ordem do universo ĂŠ regida por um Deus imanente, e se esse Deus ĂŠ identificado com o Logos, isto ĂŠ, com a RazĂŁo, pode-se concluir que hĂĄ no universo (repleto do Deus-Logos) uma ordem racional necessĂĄria e perfeita. Em outras palavras, as coisas sĂŁo (e nĂŁo poderiam deixar de ser) como a RazĂŁo Divina quer que elas sejam. Por isso, elas sĂŁo precisamente como devem ser e como ĂŠ bom que sejam. Se um determinado acontecimento – por exemplo, uma doença – , visto isoladamente, parecer sinal de imperfeição ou irracionalidade, tomado em sua articulação com o todo, veremos que, na realidade, contribui para a realização da perfeição desse todo. )ĂĄ, portanto, no estoicismo certa noção de ProvidĂŞncia Divina, embora nĂŁo no sentido de uma providĂŞncia transcendente, praticada por um Deus pessoal, como no Cristianismo. A providĂŞncia dos estoicos assemelha-se mais Ă ideia de Destino, no sentido de que, se tudo deriva do Logos Divino, entĂŁo tudo ĂŠ necessĂĄrio, ou seja, tudo ĂŠ como deve ser, sem nenhuma possibilidade de que seja de outro jeito. ­ bom que seja assim, visto que a origem, em Ă™ltima instância, estĂĄ em Deus, na RazĂŁo Divina. Mas, se tudo ĂŠ necessĂĄrio, como fica a liberdade humana Para os estoicos a verdadeira liberdade, aquela praticada pelos sĂĄbios, consiste em adequar a vontade ao Destino, desejando aquilo que ele prepara para cada um. Afinal, se o Destino ĂŠ obra da ProvidĂŞncia Divina e se Deus ĂŠ o Logos, entĂŁo desejar o que o Destino traz ĂŠ o mesmo que se deixar guiar pela RazĂŁo Divina. Isso ĂŠ sabedoria. Essa ĂŠ a chave para a felicidade, segundo o estoicismo. Se desejarmos algo contrĂĄrio ao nosso Destino e que, portanto, nĂŁo poderemos alcançar, certamente ficaremos frustrados e infelizes. Por outro lado, se conformarmos nossa vontade a ele, desejando apenas o que efetivamente estĂĄ ao nosso alcance, nossas chances de felicidade serĂŁo muito maiores. A felicidade, para o estoicismo, consiste tambĂŠm em buscar o bem, isto ĂŠ, a virtude, e evitar o mal, ou seja, o vĂ­cio. Bem e mal, portanto, sĂŁo entendidos em um sentido puramente moral. As coisas relativas ao corpo, independentemente de serem nocivas ou saudĂĄveis, nĂŁo sĂŁo em si boas nem mĂĄs, mas indiferentes. Como explica ;enĂŁo “0s entes dividem-se em bons, maus e indiferentes. Bons (os bens) sĂŁo os seguintes inteligĂŞncia, temperança, justiça, fortaleza e tudo aquilo que ĂŠ virtude ou participa da virtude. Maus (ou males) sĂŁo os seguintes idiotice, dissolução, injustiça, vileza e tudo aquilo que ĂŠ vĂ­cio ou participa do vĂ­cio. 1

DicionĂĄrio Houaiss da LĂ­ngua Portuguesa.

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Indiferentes sĂŁo a vida e a morte, a celebridade e a obscuridade, a dor e o prazer, a riqueza e a pobreza, a doença e a boa saĂ™de, e coisas semelhantes a estas.â€?2 AlĂŠm disso, como diz Epicteto, a felicidade tambĂŠm estĂĄ ligada Ă nossa capacidade de discernir entre as coisas que dependem de nĂ“s e as que nĂŁo dependem, buscando apenas as primeiras e permanecendo indiferentes em relação Ă s segundas. Caso contrĂĄrio, seremos infelizes, pois nĂŁo temos poder algum sobre as coisas que nĂŁo dependem de nĂ“s. Nas palavras do filĂ“sofo “Sob nosso controle estĂŁo as nossas opiniĂ—es, aspiraçĂ—es, desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas ĂĄreas sĂŁo justificadamente da nossa conta, porque estĂŁo sujeitas Ă nossa influĂŞncia direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteĂ™do e da natureza de nossa vida interior. Fora do nosso controle, entretanto, estĂŁo coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual ĂŠ a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que essas coisas sĂŁo externas e, portanto, nĂŁo dependem de nĂ“s. Tentar controlar ou mudar o que nĂŁo podemos sĂ“ resulta em aflição e angĂ™stia. Lembre-se as coisas sob nosso poder estĂŁo naturalmente Ă nossa disposição, livres de qualquer restrição ou impedimento. As que nĂŁo estĂŁo, porĂŠm, sĂŁo frĂĄgeis, sujeitas a dependĂŞncia ou determinadas pelos caprichos ou açĂ—es dos outros. Lembre-se tambĂŠm do seguinte se vocĂŞ achar que tem domĂ­nio total sobre coisas que estĂŁo naturalmente fora do seu controle, ou se tentar assumir as questĂ—es de outros como se fossem suas, sua busca serĂĄ distorcida e vocĂŞ se tornarĂĄ uma pessoa frustrada, ansiosa e com tendĂŞncia para criticar os outros.â€?3 A felicidade, segundo os estoicos, exige tambĂŠm que adotemos uma atitude de apatia em relação Ă s paixĂ—es, pois essas, em geral, sĂŁo causa de perturbação e infelicidade para nossa alma. Sentimentos como medo, dor, piedade, inveja, ciĂ™me, aflição, ansiedade, cobiça, raiva, amor (especialmente quando nĂŁo correspondido), Ă“dio, volĂ™pia, entre outros, nos aprisionam, nos atribulam e nos impedem de ter paz de espĂ­rito. Suprimi-los, portanto, ĂŠ a atitude do sĂĄbio e o caminho para a ataraxia, isto ĂŠ, o estado de imperturbabilidade da alma necessĂĄrio Ă conquista da felicidade. Em suma, a felicidade estoica consiste em nĂŁo desejar mais do que se pode ter, conformar-se com o Destino, discernir entre as coisas que dependem e as que nĂŁo dependem de nĂ“s, tornando-nos indiferentes a essas Ă™ltimas, e renunciar Ă s paixĂ—es que sĂŁo causa de dor e sofrimento. ­, pois, uma disposição da vontade individual. Sou eu quem decide ser feliz, disciplinando meus desejos atravĂŠs de minha razĂŁo. Trata-se, portanto, de uma concepção idealista da felicidade, que desconsidera a influĂŞncia de fatores externos que a determinam e que, por isso mesmo, conduz ao conformismo, Ă resignação, Ă apatia. Em um contexto de tantas turbulĂŞncias, como foi o do helenismo, compreende-se por que os preceitos do estoicismo lograram tamanha aceitação, sobrevivendo com vigor atĂŠ os nossos dias. 2

;enão, fragmento 38-39. In REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. HistÓria da Filosofia Filosofia pagã antiga. São Paulo Paulus, 2003. p. 29 , v. 1.

3 EPICTET0. A arte de viver uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução Maria Luiza NeXlands da Silveira. Rio de +aneiro Sextante, 200 . p. 14.

Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

Consideramos importante destacar desse texto os seguintes aspectos a origem do nome estoicismo; os períodos em que a histÓria da escola se dividiu; a ideia de que

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existe uma RazĂŁo Divina (o Logos, ou Deus) que rege todo o universo, imprimindo-lhe uma ordem necessĂĄria (isto ĂŠ, que nĂŁo pode ser de outro jeito), racional e perfeita; a


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noção estoica de providĂŞncia imanente, que difere da que temos nos dias atuais; a noção de liberdade como adequação da vontade ao Destino; a relação entre a felicidade e a capacidade de discernir entre as coisas que dependem de nĂ“s e as que nĂŁo dependem, ao optar pelas primeiras e permanecer indiferentes em relação Ă s segundas; a importância e o papel da apatia na busca da felicidade; o carĂĄter idealista e conformista da felicidade estoica, bem como o significado polĂ­tico de suas teses. ConcluĂ­do o trabalho com o texto, propomos algumas questĂ—es para serem debatidas em grupo e respondidas no espaço destinado Ă atividade no Caderno do Aluno. Essas questĂ—es tĂŞm o intuito de ajudar na Ă xação do conteĂ™do estudado e na ampliação da reĂĄexĂŁo. 1. Quais sĂŁo as recomendaçĂ—es do estoicismo para a conquista da felicidade VocĂŞ concorda com elas +ustiĂ que. 2. VocĂŞ considera que a morte, a saĂ™de, a doença, a beleza, a feiura, a riqueza, a pobreza, a escravidĂŁo e a liberdade nĂŁo dependem de nĂ“s +ustiĂ que. 3. VocĂŞ reconhece traços do estoicismo na Oração da serenidade, apresentada anteriormente Explicite-os. 4. Indique pelo menos uma situação do cotidiano que possa ser interpretada Ă luz do estoicismo.

A terceira etapa desta Situação de Aprendizagem terĂĄ como tema o epicurismo. Mais uma vez, iniciamos com uma atividade que pretende problematizar o senso comum dos alunos a respeito de alguns temas caros ao epicurismo e que serĂŁo trabalhados de forma sistemĂĄtica no texto a seguir. Trata-se de uma dinâmica de grupos na qual os alunos devem debater as seguintes questĂ—es da seção ExercĂ­cios do Caderno do Aluno e anotar suas consideraçĂ—es em relação a elas 1. VocĂŞ tem medo da morte E de Deus Discuta com seus colegas e justiĂ que, individualmente, anotando suas ideias a seguir. 2. Caso tenha esses medos, acredita que eles sejam obstĂĄculos Ă sua felicidade Por quĂŞ 0 que pensam os colegas sobre esses medos 3. Para vocĂŞ, que papel tem o prazer na conquista da felicidade Terminada a discussĂŁo, sugerimos a leitura do texto A felicidade segundo o epicurismo, reproduzido a seguir e tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto. 0 objetivo dessa leitura ĂŠ a introdução ao estudo da concepção de felicidade dessa doutrina. Nesse caso, a principal fonte consultada foi a Carta a Meneceu, ou Carta sobre a felicidade, de Epicuro. Novamente, vale lembrar que sempre ĂŠ desejĂĄvel que vocĂŞ, professor, acrescente outros elementos e proponha outras fontes bibliogrĂĄĂ cas, com a Ă nalidade de oferecer ao aluno oportunidade de aprofundamento do estudo.

A Gelicidade segundo o epicurismo Epicuro (341-270 a.C.) nasceu na ilha grega de Samos, mas passou boa parte de sua vida em Atenas, onde fundou uma escola filosĂ“fica, mais tarde denominada epicurismo. A escola funcionava no jardim de sua casa e, por isso, ficou conhecida como “+ardim de Epicuroâ€?. Uma de suas principais preocupaçĂ—es era com a questĂŁo da felicidade. Em sua famosa Carta a Meneceu, mais conhecida como Carta sobre a felicidade, ele nos revela alguns ensinamentos para que alcancemos a felicidade e a conservemos ao longo de nossas vidas.

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Logo de início, ele enaltece a utilidade da Filosofia para a obtenção da “saÙde do espírito”, isto é, da felicidade. Isso porque é filosofando que aprendemos a distinguir entre as coisas que nos aproximam da felicidade e as que dela nos distanciam, optando pelas primeiras e evitando as segundas. Em seguida, Epicuro faz algumas recomendaç×es para quem deseja ter uma vida feliz. Em primeiro lugar, é preciso afastar as falsas opini×es que, em geral, temos sobre os deuses e que nos levam a temê-los, pois esse temor também é causa de infelicidade. Para o autor, os deuses existem realmente, são imortais e bem-aventurados, mas vivem em um mundo supra-humano e em nada interferem em nossa vida, nem para nos socorrer nem para nos castigar. Por isso, não há motivos para temê-los. Pela mesma razão, preces, sacrifícios e louvores são inÙteis e desnecessários. Em segundo lugar, temos de nos libertar do medo da morte, outro obstáculo à nossa felicidade. De acordo com Epicuro, não há por que temê-la, pois não temos como saber se ela é um bem ou um mal. 0ra, sabemos se uma coisa é boa ou ruim pelas sensaç×es que ela nos provoca. A morte, porém, nada mais é do que a ausência de toda e qualquer sensação. Portanto, a morte não é nada para nÓs. Na realidade, nunca a encontraremos, pois enquanto estamos vivos ela está ausente e, quando ela chegar, nÓs é que não estaremos presentes, já que não teremos mais nenhuma sensação. ­ tolice, portanto, nos angustiarmos pela espera da morte. Essa consciência de que a morte nada significa para nÓs é importante para que aproveitemos melhor a vida enquanto a temos e sejamos felizes no momento presente. Essa é a atitude do sábio, que nem desdenha a vida (como se ela fosse um fardo insuportável) nem se apega a ela em demasia (a ponto de desejar a imortalidade), mas que sabe vivê-la bem. Em terceiro lugar, Epicuro recomenda que não acreditemos no destino e na sorte, como se deles dependesse nossa felicidade, pois essa crença também pode ser motivo de perturbação de nossa alma, porque o que vai acontecer no futuro é uma construção de cada um e não sorte ou destino. Entretanto, essa construção sofre influência alheia e nem sempre o que se planeja se concretiza. Logo, é algo que nos pertence e ao mesmo tempo não. Em quarto lugar, para sermos felizes, também precisamos conhecer bem os nossos desejos e direcionar nossas escolhas àquilo que contribui para a manutenção da boa forma física e o cultivo de um espírito plácido, porque, segundo Epicuro, esse é o propÓsito da vida feliz. 0 critério dessa escolha é, em Ùltima instância, a distinção entre prazer e dor. De fato, para Epicuro, a principal finalidade da vida humana é o prazer. Mas não se trata de qualquer prazer. Somente dos que passam pelo crivo da avaliação dos benefícios ou danos que podem ser advindos deles, para o homem que os usufrui. Além disso, como nem tudo o que desejamos está ao nosso alcance, devemos aprender a extrair prazer daquilo que temos, ou das coisas simples da vida, em vez de sofrer pela falta daquilo que não podemos ter. ­ o que Epicuro chama de autossuficiência. 0 prazer, para Epicuro, não se confunde com a busca irrefletida e desenfreada do prazer cego; trata-se, antes, do prazer entendido como estado de conforto e tranquilidade, Ùnico capaz de nos proporcionar a verdadeira felicidade. Portanto, o prazer, para ser de fato fonte de felicidade, precisa ser temperado pela prudência, que, para Epicuro, é o bem máximo, a primeira de todas as virtudes. 0ra, nada melhor do que a Filosofia para nos ajudar a empreender essa reflexão que nos permite distinguir entre as coisas que verdadeiramente nos trazem prazer e as que nos provocam dor e viver segundo a prudência. Eis a importância fundamental da Filosofia para a conquista da felicidade, segundo Epicuro. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

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Para complementar o estudo do texto, peça aos alunos que realizem as atividades, conforme proposta do Caderno do Aluno.

çar um prazer ainda maior. ApĂ“s descrevĂŞ-la, os alunos deverĂŁo posicionar-se em relação a ela e justiĂ car a posição assumida.

1. Considere as situaçĂ—es descritas a seguir.

A outra atividade, sugerida como Lição de casa no Caderno do Aluno, ĂŠ composta de duas questĂ—es e uma pequena pesquisa. As questĂ—es sĂŁo as seguintes

a) Uma pessoa ĂŠ diabĂŠtica e, por isso, abstĂŠm-se de comer doces. b) 0s encarcerados decidem fazer greve de fome para chamar a atenção da população e das autoridades para o problema da superlotação da penitenciĂĄria. c) 0 jovem deixa de viajar com os amigos no feriado prolongado para estudar para o vestibular. d) 0 pai desempregado corta gastos supĂŠrĂĄuos para garantir o que ĂŠ bĂĄsico para a sobrevivĂŞncia da famĂ­lia. e) A jovem diz “nĂŁoâ€? ao namorado por ele insistir em nĂŁo usar preservativo. Agora, responda Como cada uma delas se relaciona com a doutrina de Epicuro VocĂŞ concorda com as atitudes tomadas +ustiĂ que sua posição. 2. Descreva uma situação vivida ou presenciada por vocĂŞ na qual tenha ocorrido a privação deliberada de um prazer a Ă m de evitar um sofrimento, ou alcançar um prazer ainda maior. VocĂŞ concorda com essa atitude +ustiĂ que. 0bviamente, professor, vocĂŞ pode e deve propor outras atividades que julgar mais adequadas Ă realidade dos alunos. 0 importante ĂŠ que eles demonstrem compreensĂŁo do conteĂ™do estudado por meio da anĂĄlise dessas situaçĂ—es. Depois de comentarem essas aĂ rmaçĂ—es, eles deverĂŁo descrever outra situação, extraĂ­da de sua prĂ“pria experiĂŞncia de vida, retratando a privação deliberada de um prazer, a Ă m de evitar um sofrimento ou de alcan-

1. Resuma os conselhos de Epicuro para se alcançar a felicidade. 2. Que papel Epicuro atribuiu Ă FilosoĂ a na busca da felicidade VocĂŞ concorda com ele +ustiĂ que. No caso da segunda questĂŁo, ela serve para que os alunos reflitam sobre a resposta que deram Ă pergunta realizada anteriormente VocĂŞ considera que a FilosoĂ a pode contribuir para o enfrentamento do problema da felicidade? Como? 0 principal objetivo dessas questĂ—es ĂŠ reforçar o entendimento do texto e procurar favorecer a apropriação do conteĂ™do estudado e a reĂĄexĂŁo sobre o tema felicidade. Como proposta de Pesquisa individual, de acordo com o Caderno do Aluno, solicite aos alunos que escolham uma mĂ™sica que melhor represente a sua concepção de felicidade. Eles devem transcrever a letra em folha Ă parte e levĂĄ-la para a aula seguinte para discutir com seus colegas.

Avaliação da Situação de Aprendizagem Sabemos que ĂŠ vocĂŞ, professor, quem tem as melhores condiçĂ—es de saber quando e como avaliar seus alunos. De todo modo, vamos apresentar a seguir algumas sugestĂ—es como contribuição, tambĂŠm disponĂ­veis no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ aprendeu .

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Se julgar conveniente, as atividades desenvolvidas ao longo das aulas podem servir de instrumentos de avaliação para veriĂ car se as competĂŞncias e habilidades esperadas foram satisfatoriamente desenvolvidas. Caso considere necessĂĄrio acrescentar outras, uma possibilidade seria elaborar um questionĂĄrio voltado para a veriĂ cação da compreensĂŁo e da apropriação das ideias centrais das duas correntes Ă losĂ“Ă cas estudadas. Nesse caso, as perguntas poderiam ser as seguintes 1. Em que sentido a concepção estoica da felicidade conduz Ă resignação, ao conformismo Como vocĂŞ se posiciona em relação a isso A concepção estoica pode conduzir ao conformismo uma vez que defende a aceitação da natureza e da vida tal como se apresentam e se oferecem ao ser humano. Defende tambĂŠm o cultivo da indiferença perante o sofrimento.

2. Cite e explique pelo menos trĂŞs recomendaçĂ—es de Epicuro que mostram como chegar Ă felicidade. VocĂŞ concorda com elas Por quĂŞ A retomada do texto permite encontrar as trĂŞs recomendaçþes de Epicuro para se chegar Ă felicidade: nĂŁo esperar que os deuses interďŹ ram na vida humana; nĂŁo temer a morte e compreender que o futuro nĂŁo depende de cada um de nĂłs e que nĂŁo somos totalmente donos de nosso destino.

3. VocĂŞ concorda com as concepçĂ—es de felicidade do estoicismo e do epicurismo +ustiĂ que. Espera-se que o aluno explicite seu posicionamento diante das duas correntes estudadas, justiďŹ cando-o com argumentos que podem ser embasados em sua experiĂŞncia de vida ou em argumentos lĂłgicos fundamentados nas leituras realizadas.

Proposta de situação de recuperação Se o aluno ainda nĂŁo conseguiu o rendimento esperado, uma possĂ­vel atividade de recuperação poderia ser uma dissertação com o tĂ­tulo “A felicidade na perspectiva do estoicismo e do epicurismo abordagem crĂ­-

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ticaâ€?. Nesse trabalho o aluno apresentaria uma sĂ­ntese das principais teses das duas doutrinas e o seu posicionamento pessoal em relação a elas. Na argumentação seria interessante que fossem feitas citaçĂ—es dos textos Ă losĂ“Ă cos, acompanhadas das devidas referĂŞncias bibliogrĂĄĂ cas.

Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo dos temas CrĂ´nica LISPECT0R, Clarice. Felicidade clandestina. Felicidade clandestina. Rio de In +aneiro Rocco, 2013. CrĂ´nica em que a autora questiona o que ĂŠ felicidade e como agir para obtĂŞ-la e conservĂĄ-la. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.)

Livros ABBAGNAN0, Nicola. DicionĂĄrio de FilosoĂ a. . ed. Tradução Alfredo Bosi. SĂŁo Paulo WMF Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda no entendimento dos conceitos de felicidade e de beatitude. EPICUR0. Carta sobre a felicidade – a Meneceu. SĂŁo Paulo Editora da Unesp, 2002. Foi a principal referĂŞncia para o estudo do epicurismo. Trata-se de um livro bem pequeno, em edição bilĂ­ngue e de baixo custo, que pode, atĂŠ mesmo, ser usado na Ă­ntegra com os alunos se o professor assim desejar. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) EPICTET0. A arte de viver uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução Maria Luiza NeXlands da Silveira. Rio de +aneiro Sextante, 200 . Trata-se de uma adaptação simpliĂ cada de partes de obras de Epicteto, na qual, porĂŠm, o intĂŠrprete aĂ rma procurar


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conservar a autenticidade da mensagem do autor, embora nĂŁo necessariamente por meio do texto literal. Tal simpliĂ cação, embora traga o risco de alguma distorção, pode facilitar o entendimento por parte do aluno, razĂŁo pela qual as citaçĂ—es de Epicteto foram colhidas dessa obra. 0 referido risco, por sua vez, pode ser minimizado mediante a utilização, pelo professor, do Manual de Epicteto, indicado a seguir, como obra de referĂŞncia. @@@@@. Manual de Epicteto. Tradução Pedro Alvim, s/l, Vega, 1992. ReĂ™ne mĂĄximas e aforismos de Epicteto, cuja leitura ĂŠ importante para a compreensĂŁo das ideias do autor e para o preparo das aulas. GIANNETTI, Eduardo. Felicidade diĂĄlogos sobre o bem-estar na civilização. SĂŁo Paulo Companhia das Letras, 2010. Trata-se de uma interessante discussĂŁo sobre o tema da felicidade, escrita na forma de um diĂĄlogo entre quatro amigos, na qual o autor faz referĂŞncia a uma vasta quantidade de autores, oferecendo muitos subsĂ­dios para a preparação das aulas. L0REN;0N, Alino. A ĂŠtica do prazer. ReĂĄexĂŁo. Campinas PUC, ano V, n.18, p. 57- 5, set.-dez. 1980. 0 autor faz uma interessante discussĂŁo sobre algumas doutrinas que asso-

ciam a felicidade ao prazer, sob diferentes perspectivas, inclusive do epicurismo. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. HistĂ“ria da Filosofia Filosofia pagĂŁ antiga. 4. ed. SĂŁo Paulo Paulus, 2009.(Coleção )istĂ“ria da Filosofia). Trata-se de um manual de histĂ“ria da Filosofia que pode ajudar na preparação das aulas sobre estoicismo e epicurismo. 0 livro traz trechos dos prĂ“prios filĂ“sofos que podem ser acrescentados ao material didĂĄtico, com a finalidade de aprofundar e ampliar o conhecimento dos alunos. VĂ ;QUE;, Adolfo S. Ética. 30. ed. Rio de +aneiro Civilização Brasileira, 2008. 0 capĂ­tulo XI, intitulado “Doutrinas ĂŠticas fundamentaisâ€?, trata muito brevemente das correntes Ă losĂ“Ă cas aqui estudadas. Por sua vez, o capĂ­tulo VII, intitulado “A avaliação moralâ€?, traz uma interessante reĂĄexĂŁo sobre o tema felicidade, particularmente no tĂ“pico 3 “0 bom como felicidadeâ€? (eudemonismo). VERGE;, AndrĂŠ; )UISMAN, Denis. HistĂ“ria dos Ă lĂ“sofos ilustrada pelos textos. Rio de +aneiro Freitas Bastos, 1982. Trata-se, tambĂŠm, de um manual de )istĂ“ria da FilosoĂ a, mais resumido, que tambĂŠm aborda o estoicismo e o epicurismo e traz excertos de textos dos Ă lĂ“sofos.

SITUAÂŹÂŤ0 DE APRENDI;AGEM 7 SER FELI; ­ PRECIS0 Nesta Situação de Aprendizagem, vamos trabalhar a Filosofia em relação a algumas questĂ—es prĂ“prias do cotidiano atual dos jovens brasileiros e que cercam o tema felicidade. Tais questĂ—es referem-se Ă s representaçĂ—es que associamos Ă ideia de felicidade, como o prazer imediato, o consumo, como levar vantagens em diferentes situaçĂ—es

competitivas, como ter sucesso e reconhecimento social, e, ainda, como viver a vida densa de glamour que ĂŠ propagandeada em anĂ™ncios nos meios de comunicação de forma geral. Diante de tudo isso, uma pergunta fundamental ĂŠ Quais sĂŁo os fetiches associados Ă ideia de felicidade em nosso cotidiano cultural

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ConteĂşdos e temas: valores associados Ă felicidade; entraves Ă felicidade; aspectos biolĂ“gicos, psicolĂ“gicos e sociais da felicidade. CompetĂ‹ncias e habilidades: relacionar informaçĂ—es, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponĂ­veis em diferentes situaçĂ—es, para construir argumentação consistente (Enem); problematizar o tema felicidade, tendo em vista questĂ—es da sociedade brasileira contemporânea, e sensibilizar-se quanto Ă relevância de reĂĄetir de forma sistemĂĄtica e rigorosa sobre tais questĂ—es; ler, compreender e interpretar textos teĂ“ricos e Ă losĂ“Ă cos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses e questĂ—es sobre leituras e debates realizados. SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das opiniĂ—es dos alunos sobre o problema da liberdade; discussĂŁo em grupo das questĂ—es levantadas nas aulas; leitura sistemĂĄtica e problematizadora de textos e elaboração escrita do prĂ“prio pensamento; pesquisa bibliogrĂĄĂ ca complementar. SugestĂŁo de recursos: internet para bibliograĂ a complementar; Caderno do Aluno. SugestĂŁo de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o domĂ­nio pelos alunos do conteĂ™do estudado (conceitos, ideias, raciocĂ­nios etc.); a sua capacidade de expressĂŁo clara, ĂĄuente, coerente, coesa, bem articulada e consistente (bem fundamentada, buscando superar o senso comum); e o seu efetivo envolvimento nas atividades propostas.

Sondagem e sensibilização Nesta sondagem e sensibilização, abordaremos a relação entre o tema felicidade e as questĂ—es destacadas nesta Situação de Aprendizagem. EntĂŁo, propomos que os alunos leiam, em sala de aula, com atenção, a poesia bastante conhecida de Manuel Bandeira Vou-me embora pra PasĂĄrgada. 0riente-os para que a procurem na biblioteca da escola ou na internet e peça que tragam para a aula. ApĂ“s a leitura, eles devem responder Ă s seguintes questĂ—es, conforme proposto no Caderno do Aluno 1. Quais imagens associadas Ă palavra felicidade sĂŁo apresentadas na poesia 2. Retome sua resposta sobre o signiĂ cado de felicidade, da Situação de Aprendizagem anterior, e substitua esses fatos por outros que correspondam ao seu ideal de felicidade. Em seguida, peça aos alunos que conversem

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sobre suas respostas e apresentem uma sĂ­ntese que contemple, de forma objetiva e sintĂŠtica, as caracterĂ­sticas da PasĂĄrgada de cada um. Trata-se de uma atividade que nĂŁo abarca critĂŠrios de certo e errado, porĂŠm, ĂŠ necessĂĄrio ajudĂĄ-los a classiĂ car suas condiçĂ—es para a felicidade nestas categorias possuir bens materiais, ser bem-sucedido financeiramente, ser bem-sucedido afetivamente, ter saĂ™de, apresentar bom desempenho nos esportes ou na escola. Com essa classificação, chegaremos a um mapeamento de valores associados Ă felicidade. Na etapa seguinte, ĂŠ preciso fazer uma reĂĄexĂŁo a respeito da fantasia que temos sobre um lugar como PasĂĄrgada, no qual possamos realizar todos os nossos desejos. Para tanto, sugerimos aos alunos que leiam o breve texto a seguir, presente tambĂŠm na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno, e, depois, que respondam Ă s questĂ—es que o acompanham.


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Entraves Ă Gelicidade A humanidade pode contar com diversos lugares imaginĂĄrios como PasĂĄrgada, nos quais a felicidade plena e eterna existe. AlĂŠm de Manuel Bandeira, LuĂ­s de CamĂ—es, no poema ĂŠpico Os lusĂ­adas, descreve a Ilha dos Amores, lugar da satisfação do desejo e da utopia. A ideia de um paraĂ­so ou de um lugar especial, no qual realizamos todos os nossos desejos, faz parte do imaginĂĄrio humano, justamente porque em nosso cotidiano, em nossa experiĂŞncia de vida, encontramos diversos entraves para a realização dos nossos desejos. Integram nossa cultura, tambĂŠm, as fantasias em torno do que farĂ­amos se ganhĂĄssemos na loteria, por exemplo. Imaginar um lugar de felicidade eterna ou uma condição material capaz de comprar tudo o que necessitamos e desejamos sĂŁo fantasias diretamente relacionadas ao fato de que nossos desejos sofrem limitaçĂ—es ou entraves que geram frustraçĂ—es. Faz parte de um bom processo de maturidade aprender a lidar com essas frustraçĂ—es. A reflexĂŁo filosĂ“fica pode ajudar na identificação dos limites ou entraves aos nossos desejos e na compreensĂŁo sobre o modo como lidamos com eles. A felicidade depende mais da maneira como nos relacionamos com esses limites e entraves do que, propriamente, da satisfação dos nossos desejos. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que a histĂ“ria da Filosofia ĂŠ marcada pela preocupação dos filĂ“sofos a respeito das condiçĂ—es dos seres humanos para o enfrentamento de seus sofrimentos, de suas frustraçĂ—es, de suas inquietaçĂ—es e para a compreensĂŁo dos prĂ“prios limites. Grande parte da produção em Filosofia e em Psicologia ajuda os seres humanos a compreender que nem sempre desejo e necessidade andam juntos. No mundo contemporâneo, sob o efeito da publicidade e de todo o apelo da sociedade de consumo, somos cada vez mais influenciados a desejar o que nĂŁo necessitamos ou a acreditar que necessitamos o que nos ensinam a desejar. FilĂ“sofos contemporâneos como +ean Baudrillard (1929-2007), Walter Benjamin (1892-1940), Friedrich Nietzsche (1844-1900), +ean-Paul Sartre (1905-1980) produziram reflexĂ—es sobre temas como consumo, prazer, convĂ­vio social e limites Ă felicidade humana. SĂŁo autores que problematizam o tema felicidade no âmbito da Filosofia. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

ApĂ“s a leitura do texto Entraves Ă felicidade, os alunos poderĂŁo, a seu critĂŠrio, responder Ă s seguintes questĂ—es, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno 1. Como se apresenta, no texto, uma possĂ­vel justiĂ cativa para o fato de imaginarmos lugares nos quais nossa felicidade poderia ser completa e eterna 2. Por que nosso processo de maturidade emocional deve contemplar a ideia de que estamos sujeitos a frustraçĂ—es em nossos desejos

De posse das respostas dadas Ă s questĂ—es apresentadas, convide alguns alunos a apresentar suas hipĂ“teses. VocĂŞ poderĂĄ fazer uma sĂ­ntese do exercĂ­cio chamando a atenção para a importância da compreensĂŁo de que muitos de nossos desejos sĂŁo primordiais, relativos Ă nossa condição biolĂ“gica ou psicolĂ“gica, mas muitos deles sĂŁo associados aos valores de cada momento histĂ“rico e, se em um passado nĂŁo muito distante ĂŠramos capazes de viver sem telefones celulares, atualmente esse objeto ĂŠ tido pela maioria das pessoas como de extrema necessidade, alĂŠm de se constituir em um sonho de consumo de muita gente. De

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maneira geral, na nossa sociedade, associamos a felicidade à prosperidade econômica como crescimento constante de consumo de bens ou como adoção de um padrão de vida e um comportamento que nos conduziria para a felicidade. Mas serå que a nossa felicidade pode ser resumida a um consumo sempre

crescente, à adoção de uma imagem ou a um padrão de comportamento idealizado Para reåetir sobre o assunto, sugerimos a leitura do trecho que segue, reproduzido tambÊm na seção Leitura e anålise de texto do Caderno do Aluno.

O hedonismo moderno: uma arma trĂĄgica de dois gumes Indubitavelmente, vivemos em uma ĂŠpoca na qual a promessa de felicidade [...] estaria no final da trilha de um comportamento que chamarĂ­amos de hedonista. 0 hedonismo nĂŁo ĂŠ invenção moderna. E pode ter tido, ao longo da histĂ“ria, vĂĄrias versĂ—es. [...] Em termos genĂŠricos, poderĂ­amos dizer que o hedonismo que se nos apresenta hoje em dia propĂ—e extrair da liberdade individual o mĂĄximo de prazer disponĂ­vel, o que seria o equivalente a ser feliz. Emprego o termo disponĂ­vel para sinalizar a possibilidade de consumo de todas as benesses que o progresso tecnolĂ“gico nos pĂ—e Ă disposição. Quanto mais pudermos consumir, mais seremos felizes. Essa ĂŠ a promessa embutida na crença propagada pelos meios de produção. [...] Essa proposta hedonista se insere dentro de uma arquitetura de “razĂ—esâ€?, algumas explĂ­citas, outras implĂ­citas. ­ importante nĂŁo sĂ“ assinalĂĄ-las, como discutir suas consequĂŞncias. A primeira delas aponta nĂŁo apenas que podemos ser felizes, mas que devemos ser felizes. [...] A segunda “razĂŁoâ€? formula, generosamente, em termos explĂ­citos, as trilhas e as atitudes que todas as pessoas devem adotar para chegarem “lĂĄâ€?. 0 que fica implĂ­cito (ou oculto) na proposta ĂŠ a contradição nela embutida que a decantada liberdade individual na escolha dos prazeres fica tolhida, quando nĂŁo negada, pelo fato de se imporem Ă s pessoas padrĂ—es de consecução de prazer. Exemplos a mulher feliz ĂŠ a que‌; o homem de sucesso ĂŠ aquele que‌; [...] A obrigação de ser feliz ĂŠ tambĂŠm condicionada Ă posse de um corpo cujas caracterĂ­sticas estĂŠticas estĂŁo determinadas, a priori, por padrĂ—es preestabelecidos. Quem nĂŁo se enquadrar nesse padrĂŁo, trate de alcançå-lo, senĂŁo‌ [...] Estamos aqui em plena vigĂŞncia de outra contradição os mesmos modelos ofertados para se alcançar uma felicidade padronizada, idealizada, acabam arrastando a pessoa para frustração, culpa e sensação de exclusĂŁo do paraĂ­so. [...] FRANC0 FIL)0, 0dilon de M. A civilização do mal-estar pela nĂŁo felicidade. Rev. Bras. PsicanĂĄl. [online], vol. 43, n. 2. p. 183-192, 2009. DisponĂ­vel em http //pepsic.bvsalud.org/pdf/rbp/v43n2/v43n2a1 .pdf . Acesso em 19 dez. 2013.

Sugerimos que a reĂĄexĂŁo seja realizada em pequenos grupos a partir das seguintes questĂ—es, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno 1. ­ possĂ­vel a felicidade sem a aquisição de determinados padrĂ—es de consumo e de comportamento

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2. De que forma somos levados a idealizar e a adotar padrĂ—es de consumo, de vida e comportamento 0s alunos poderĂŁo, a seu critĂŠrio, apresentar as reĂĄexĂ—es dos grupos, oralmente, por meio de uma exposição dialogada com a turma ou a partir e uma encenação.


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Na Ă™ltima etapa desta Situação de Aprendizagem, veremos tambĂŠm outro tema fundamental que se desdobra da reflexĂŁo sobre felicidade a morte. Como nos relacionamos com essa que ĂŠ a Ă™nica certeza da existĂŞncia de todos os seres vivos

Para tanto, inicialmente sugerimos que os alunos leiam o texto Morte, de Aguinaldo Pavão, que Ê professor de Filosoà a da Universidade Estadual de Londrina, reproduzido a seguir e na seção Leitura e anålise de texto do Caderno do Aluno.

Morte Parece-me que o dia 2 de novembro reforça a necessidade em mim de pensar sobre a morte. Eu fico muito triste quando penso na minha morte. Por outro lado, ĂŠ desconfortĂĄvel a ideia de que poderia nĂŁo morrer, de que poderia ser eterno. Que graça teria a vida se nĂ“s nĂŁo morrĂŞssemos A ânsia de viver, de gozar a vida, parece sĂ“ ter sentido porque sabemos que vamos morrer. Sei que esta ĂŠ uma filosofia meio barata (contudo, nĂŁo esqueçamos que, no fundo, a filosofia ĂŠ apenas uma sofisticação do senso comum). De fato, nĂŁo precisamos de profundidade para fazer essa reflexĂŁo desconcertante. A morte ĂŠ desesperadora. A morte ĂŠ o fim das leituras, o fim das viagens, o fim do amor, o fim do sexo, o fim da mĂ™sica, o fim de tudo. Todavia, ĂŠ Ă“timo que haja morte. NĂ“s temos de assumir nossa mortalidade. Quanto mais assumirmos isso, mais poderemos degustar a vida. Precisamos lembrar de Aquiles, o herĂ“i grego os deuses ĂŠ que devem invejar os mortais, pois ĂŠ a nossa condição de mortais que permite sentir a importância de cada momento. Mas talvez haja vida apĂ“s a morte. Contudo, se me fosse dada a oportunidade, na hipĂ“tese de haver vida apĂ“s a morte, eu gostaria de dizer que renuncio Ă eternidade. Eu devolveria o bilhete. A eternidade me cansa. Seria um tĂŠdio insuportĂĄvel viver para sempre. SĂ“ a ideia jĂĄ me cansa. E eu quero ter um corpo, e parece difĂ­cil a ideia de que meu corpo tambĂŠm sobreviverĂĄ. Ele ficarĂĄ imperecĂ­vel, insuscetĂ­vel Ă ação do tempo Se eu nĂŁo quero aqui a eternidade, lĂĄ eu tambĂŠm nĂŁo quero. Porque se eu nĂŁo a desejo aqui, nĂŁo vejo razĂ—es para mudar de ideia lĂĄ. Se eu fosse um outro eu, talvez a quisesse, mas aĂ­ jĂĄ nĂŁo seria mais eu, e nĂŁo sendo mais eu, nĂŁo saberia como esse outro eu agiria, como ele sentiria as coisas. Se houvesse vida apĂ“s a morte, eu seria condenado Ă eternidade Ao que parece, sim, embora isso nĂŁo seja necessĂĄrio. Mas se fosse eterno, isto ĂŠ, se minha vida pĂ“s-morte implicasse uma duração infinita no tempo, eu mais perderia do que ganharia. 0ra, eu nĂŁo escolho nascer, mas posso escolher me matar. Se fosse eterno nĂŁo teria essa liberdade. PAVÂŤ0, Aguinaldo. Morte. DisponĂ­vel em http //agguinaldopavao.blogspot.com/200 /11/morte.html . Acesso em 19 dez. 2013.

As questĂ—es a seguir, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno, podem ajudar na reĂĄexĂŁo, que pode ser individual ou por meio de conversas em grupos. VocĂŞ pode avaliar a melhor forma de organizar a turma para essa discussĂŁo. 1. 0 autor fala de tristeza diante da morte. 0 que caracteriza essa tristeza Perguntando de outro modo Quais sĂŁo os fatos que tornam a morte uma experiĂŞncia triste

2. Releia o trecho do texto “Todavia, ĂŠ Ă“timo que haja morte. NĂ“s temos de assumir nossa mortalidade. Quanto mais assumirmos isso, mais poderemos degustar a vidaâ€?. Agora, responda Por que assumir a nossa mortalidade permite degustar a vida VocĂŞ concorda com essa aĂ rmação Quais sĂŁo os argumentos do autor para defender essa ideia 3. De que forma a morte nos torna livres em vida, segundo a argumentação do autor

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Se as respostas dos alunos forem individuais, organize um momento coletivo para a socialização e a troca dos argumentos. Se responderem em grupos, eles poderĂŁo organizar um painel oral ou um mural com ilustraçĂ—es sobre o tema. Este ĂŠ um momento importante para chamar a atenção sobre o imperativo de felicidade que marca a nossa cultura e ĂŠ veiculado pelos meios de comunicação. A nossa natureza biolĂ“gica, psicolĂ“gica e social, no entanto, impede que se entenda a felicidade como ter prazer sempre, rir sempre, nĂŁo viver padecimentos. Somos seres sujeitos a padecimentos fĂ­sicos e psicolĂ“gicos. A morte ĂŠ um deles. Se somos seres que sentem padecimentos, a felicidade pode ser entendida nĂŁo como esse prazer imediato e que deve ser permanente, mas como uma boa relação com cada situação de padecimento inevitĂĄvel, prĂ“prio de nossa natureza, como ĂŠ o caso da morte. Uma boa relação com o padecimento pode vir da transformação dele em aprendizado. Para tanto, a reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca pode ser uma aliada.

Avaliação da Situação de Aprendizagem As questĂ—es apresentadas a seguir encontram-se tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ aprendeu . 1. “Ser feliz ĂŠ precisoâ€? ĂŠ o tĂ­tulo desta Situação de Aprendizagem. Comente esse valor presente em nossa cultura. Espera-se que o aluno traga exemplos de situaçþes que valorizam a felicidade a qualquer preço. Espera-se que ele apresente uma reexĂŁo crĂ­tica sobre a exigĂŞncia de felicidade imediatista e associada a valores materiais.

2. Morte e padecimentos constituem a nossa natureza. Se, por um lado, nos trazem infelicidade, por outro, algumas culturas entendem que a felicidade estĂĄ justamente na sabedoria de nĂŁo negĂĄ-los, mas de assumi-los como parte integrante da vida. Registre sua reĂĄexĂŁo a respeito. Da mesma forma que na resposta anterior, espera-se que o aluno reita sobre a importância de nos prepararmos para as perdas inevitĂĄveis e para nĂŁo negarmos este aspecto fundamental de nossa natureza: a morte.

Agora, vocĂŞ pode solicitar aos alunos uma atividade, de acordo com a proposta de Lição de casa do Caderno do Aluno. Peça que pesquisem sobre as relaçĂ—es que as diferentes culturas tĂŞm com a morte. Como os muçulmanos entendem a morte E os budistas do Tibete E o povo Xavante 0u, ainda, como as diferentes pessoas do seu cotidiano explicam a morte 0riente-os sobre o fato de que essas informaçĂ—es podem ser pesquisadas na internet, mas tambĂŠm entre as pessoas da comunidade que conheçam essas culturas. Peça que façam as anotaçĂ—es em folha Ă parte para ser apresentadas em sala de aula.

3. Comente a relação entre consumo e felicidade. Aqui, espera-se que o aluno apresente crítica ao vínculo entre consumo e felicidade estabelecido pelo mundo da publicidade e por valores jå enraizados em nossa cultura.

Proposta de situação de recuperação Caso alguns alunos apresentem diĂ culdades para expressar as reĂĄexĂ—es desta Situação de Aprendizagem, peça a eles que retomem as leituras e questĂ—es com o seu acompanhamento e façam um trabalho que poderĂĄ ser individual ou em grupos, se mais de um aluno tiver a necessidade de recuperação.


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Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo dos temas Livros BAUDRILLARD, +ean. A troca simbĂ“lica e a morte. SĂŁo Paulo LoZola, 1999. Nesta obra, o autor analisa temas centrais da sociedade atual o trabalho, a moda, o corpo, a morte, a linguagem poĂŠtica, em perspectiva crĂ­tica para a compreensĂŁo das necessidades criadas que se transformam em desejos. @@@@@. A sociedade de consumo. 2. ed. Tradução Artur MorĂŁo. Lisboa EdiçĂ—es 70, 2011. (Coleção Arte e Comunicação). Neste livro, o autor analisa a sociedade industrial da segunda metade do sĂŠculo XX, destacando a criação de valores e necessidades. Com ele, podemos repensar nossos conceitos sobre a felicidade.

M0RUS, Thomas. Utopia. DisponĂ­vel em h t t p / / X X X. d o m i n i o p u b l i c o. g ov. b r / pesquisa/Detalhe0braFor m.do select@ action co@obra 2301 . Acesso em 15 jan. 2014. Livro que descreve uma sociedade absolutamente feliz e serve de exemplo para tanto. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) PLATÂŤ0. FĂŠdon ou da alma. In DiĂĄlogos. SĂŁo Paulo Nova Cultural, 2004.

Filme Ilha das Flores. Direção +orge Furtado. Brasil, 1989. 13 min. Livre. Filme que descreve o ser humano com sua capacidade de construir cultura e, ao mesmo tempo, destruir o ambiente. Pode colaborar para aprofundar a crítica ao imediatismo. (Sugestão tambÊm presente no Caderno do Aluno.)

SITUAÂŹÂŤ0 DE APRENDI;AGEM 8 FELICIDADE E C0MPR0MISS0 C0NSIG0 E C0M 0 0UTR0 Nesta Situação de Aprendizagem, que Ă naliza o estudo de Filosofia no Ensino MĂŠdio, serĂŁo analisadas as condiçĂ—es pessoais e sociais para a construção de uma abordagem da felicidade. Ser feliz com o outro, ser feliz na cidade, no interior da vida social e imersos na cultura que herdamos ao nascer sĂŁo questĂ—es que sempre marcaram a FilosoĂ a.

Dois objetivos, neste momento, sĂŁo centrais favorecer a reĂĄexĂŁo sobre a responsabilidade de cada cidadĂŁo para com a prĂ“pria felicidade e para com a felicidade do outro; e pensar limites entre lidar bem com frustraçĂ—es e nĂŁo se deixar conduzir pelo conformismo. Duas das etapas destinam-se ao tratamento das questĂ—es mais pessoais e as outras duas, Ă s sociais.

ConteĂşdos e temas condiçĂ—es pessoais e sociais para a felicidade; ser feliz com o outro; felicidade como responsabilidade pessoal e social. CompetĂ‹ncias e habilidades relacionar informaçĂ—es, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponĂ­veis em diferentes situaçĂ—es, para construir argumentação consistente (Enem); discutir as condiçĂ—es pessoais e sociais para a felicidade; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemĂĄtica; elaborar hipĂ“teses tomando-se por base as questĂ—es desta Situação de Aprendizagem.

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SugestĂŁo de estratĂŠgias: levantamento das representaçĂ—es dos alunos sobre as condiçĂ—es pessoais e sociais para a felicidade; discussĂŁo em grupo das questĂ—es levantadas nas aulas; elaboração escrita do prĂ“prio pensamento. SugestĂŁo de recursos: registros a partir de memĂ“ria pessoal; bibliograĂ a complementar. SugestĂŁo de avaliação: sugerimos que sejam avaliados o enfrentamento das questĂ—es propostas e os registros solicitados. Como instrumentos de avaliação, recomendam-se a veriĂ cação das atividades do Caderno do Aluno; a participação em sala; e outros que o professor julgar pertinentes.

Sondagem e sensibilização Ao iniciar esta reflexão, oriente os alunos a conversar em grupo e responder Existem algumas características pessoais que o impedem de ser feliz? Se existem, quais são elas? Pode-se apresentar o resultado por escrito ou por associação a uma imagem de revista, a uma foto ou mesmo a um desenho

que simbolize as caracterĂ­sticas levantadas em cada grupo. ApĂ“s a apresentação de todos os grupos, recomenda-se a leitura do texto a seguir, tambĂŠm presente na seção Leitura e anĂĄlise de texto do Caderno do Aluno, com o propĂ“sito de preparar a discussĂŁo para as prĂ“ximas etapas.

O bem e o mal dependem sobretudo da ideia Rue Gazemos deles 0s homens, diz uma antiga sentença grega, sĂŁo atormentados pelas opiniĂ—es que tĂŞm sobre as coisas, nĂŁo pelas prĂ“prias coisas. Seria de fato um importante passo para o alĂ­vio de nossa miserĂĄvel condição humana se pudĂŠssemos estabelecer a verdade desta opiniĂŁo em todas as situaçĂ—es. Pois se ĂŠ apenas o nosso julgamento que permite que os males nos adentrem, parece que poderĂ­amos desprezĂĄ-los ou transformĂĄ-los em bem. Se as coisas se rendem Ă nossa vontade, por que nĂŁo tratĂĄ-las como dono ou acomodĂĄ-las em nosso favor Se o que chamamos de “malâ€? ou de “tormentoâ€? nĂŁo ĂŠ nem mal nem tormento em si, mas ĂŠ a nossa imaginação que lhe atribui este carĂĄter, temos o poder de mudĂĄ-lo. E jĂĄ que temos a escolha, ĂŠ completamente tolo atermo-nos Ă opção que nos ĂŠ mais incĂ´moda e darmos Ă s doenças, Ă indigĂŞncia e ao desprezo um gosto amargo e mau, quando podemos lhes dar um gosto bom e, o destino nos fornecendo simplesmente a matĂŠria, nos cabe lhe dar forma. M0NTAIGNE, Michel de. Les Essais, Livre I. Chapitre XL. DisponĂ­vel em francĂŞs em http //XXX.dominiopublico.gov.br/ pesquisa/Detalhe0braForm.do select@action co@obra 3384 . Acesso em 19 dez. 2013. Tradução RenĂŠe Barata ;icman.

Feito isso, peça aos alunos que destaquem, no quadro destinado a essa finalidade no Caderno do Aluno, as frases com as quais concordam e as outras das quais discordam, acompanhadas das justiĂ cativas para essas escolhas. 0 objetivo dessa atividade ĂŠ permitir que eles lancem mĂŁo do que jĂĄ aprenderam nas SituaçĂ—es de Aprendizagem anteriores e, ao mesmo tempo, motivĂĄ-los a continuar a

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reflexĂŁo sobre o tema em questĂŁo, preparando-os para a discussĂŁo sobre a dimensĂŁo social e a dimensĂŁo polĂ­tica da felicidade. Na etapa seguinte Ă sondagem, mostre ao aluno a importância da reĂĄexĂŁo sobre a dimensĂŁo pessoal, individual ou psicolĂ“gica para a felicidade. A reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca tambĂŠm pode ajudar, na medida em que favorece o questio-


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namento, o qual leva ao autoconhecimento, e contempla em sua histĂ“ria um conjunto de obras, sob cujos pontos de vista a nossa relação com a felicidade ĂŠ pensada, tal como vimos na Situação de Aprendizagem deste volume.

2. Qual Ê a diferença entre não ser escravo do desejo e lutar pelo que se quer

No exercĂ­cio proposto para a sondagem, apresentamos a perspectiva de questionar a nossa responsabilidade em relação Ă prĂ“pria felicidade. EntĂŁo, nesta etapa, vamos caminhar um pouco mais nessa linha, ao abordar algumas condiçĂ—es emocionais e alguns valores pessoais que costumam propiciar a infelicidade.

4. Qual ĂŠ a diferença entre respeitar as prĂ“prias emoçĂ—es e deixar-se levar por elas

SĂŁo campos fĂŠrteis para infelicidade nĂŁo saber lidar com frustraçĂ—es; ser escravo do prĂ“prio desejo; desejar o impossĂ­vel; ver-se como centro do mundo; nĂŁo realizar o esforço de conhecer a si prĂ“prio; deixar-se levar pelas emoçĂ—es; nĂŁo respeitar as prĂ“prias emoçĂ—es; nĂŁo cuidar da saĂ™de; nĂŁo cuidar do prĂ“prio espaço; nĂŁo cuidar da saĂ™de emocional, mental, psicolĂ“gica; nĂŁo parar para pensar, para planejar e nĂŁo reĂĄetir sobre as consequĂŞncias dos prĂ“prios atos; nĂŁo aceitar a ideia de que nĂŁo existem opçĂ—es sem perdas. As afirmaçĂ—es apresentadas remetem Ă s questĂ—es propostas no Caderno Aluno, na seção ExercĂ­cios, que nos ajudam a distinguir diferentes representaçĂ—es cotidianas de nossa relação com a felicidade. Vamos a elas, com a recomendação de que os alunos as respondam baseando-se em uma discussĂŁo em grupo. 1. Qual ĂŠ a diferença entre aceitar uma frustração, uma perda, sem se deixar derrotar psicologicamente por ela, e o conformismo, ou seja, a desistĂŞncia de lutar pelo que se quer A frustração produzida pela morte de uma pessoa querida nĂŁo pode ser incluĂ­da nesse questionamento. Trata-se de uma situação na qual a sabedoria de aceitação de nossa natureza mortal pode ajudar no enfrentamento desse tipo de perda em especial.

3. Qual Ê a diferença entre não se ver como centro do mundo e a baixa autoestima

ApĂ“s as apresentaçĂ—es, uma sĂ­ntese serĂĄ bem-vinda, com ideias centrais de cada grupo e comentĂĄrios do professor sobre cada uma das quatro questĂ—es. ­ fundamental lembrar aos alunos que, com respeito Ă s questĂ—es debatidas, pode-se prever a organização de pelo menos quatro grupos de pessoas. No primeiro grupo, situam-se aquelas pessoas que contemplam todas as condiçĂ—es psicolĂ“gicas e intelectuais para enfrentarem as questĂ—es anteriormente descritas, e que, de fato, o fazem, distinguindo as tais fronteiras entre a aceitação diante do inevitĂĄvel e o conformismo que impede a solução de problemas. No segundo grupo, encontramos as pessoas que nĂŁo conseguem lidar com perdas e entraves aos desejos, apesar de elas apresentarem condiçĂ—es intelectuais para essa reĂĄexĂŁo, sobre o que poderiam mudar e rever em sua prĂ“pria postura e em seu conjunto de valores, para, sem resvalar no conformismo, aceitar sem traumas as frustraçĂ—es impostas pela vida. Em geral, sĂŁo pessoas que participam de tratamentos psicoterapĂŞuticos e sabem questionar sua relação com a felicidade, mas ainda assim nĂŁo conseguem ser felizes por conta de entraves de natureza emocional, produzidos, em sua grande parte, justamente em situaçĂ—es de frustraçĂ—es aos desejos. No terceiro grupo, temos pessoas para as quais essas questĂ—es nĂŁo se colocam e seguem a vida sem questionamentos sobre a possibilidade de serem felizes ou de lidarem melhor com os motivos para a infelicidade que a experiĂŞncia vivencial oferece. Um quarto grupo que ainda pode ser caracterizado ĂŠ o das pessoas capazes de boas relaçĂ—es com as frustraçĂ—es e de construir ideias de felicidade que se assentam na

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aceitação do que ĂŠ inevitĂĄvel, para o bem e para o mal, sem que realizem reĂĄexĂŁo alguma a respeito, e que cultivam postura feliz diante da vida. ­ importante lembrar que uma mesma pessoa pode transitar em diferentes grupos a depender de diferentes momentos da vida. Neste momento, cabe a pergunta aos alunos Em que grupo nos situamos? Se a reĂĄexĂŁo Ă losĂ“Ă ca deve ser uma constante em nossa vida para anĂĄlise dos contextos que nos cercam, ela pode auxiliar tambĂŠm o autoconhecimento, principalmente para a distribuição entre processos que devem ser aceitos por serem inevitĂĄveis, como a morte, e processos que exigem lutas para transformaçĂ—es e nĂŁo aceitaçĂ—es. A reĂĄexĂŁo deve ajudar a compreender que a felicidade e o prazer a qualquer preço nĂŁo condizem com a construção de uma vida solidĂĄria, na qual a lĂ“gica da vantagem de uns sobre os outros merece ser banida, e, portanto, a felicidade de todos tambĂŠm ĂŠ um critĂŠrio e um limite para a capacidade de lutar pelo que se quer ou lutar pela prĂ“pria felicidade.

Iniciamos, entĂŁo, a discussĂŁo sobre a dimensĂŁo social da felicidade. Essa introdução ocorrerĂĄ por meio das atividades a seguir, que os alunos poderĂŁo discutir em sala, mas as reĂĄexĂ—es individuais podem ser registradas fora do horĂĄrio de aula, de acordo com a proposta de Lição de casa do Caderno do Aluno.Na primeira atividade, deve-se provocar os alunos a reĂĄetir sobre ideias do seu cotidiano, expressas em frases como a) Na vida, como na selva, vale a lei do mais forte. 0s fracos nĂŁo sobrevivem. b) 0 mundo ĂŠ dos espertos. c) 0 importante ĂŠ levar vantagem em tudo. 0 objetivo ĂŠ introduzir, de forma mais espontânea, o tema do egoĂ­smo e do individualismo, que serĂĄ desenvolvido na segunda atividade, na qual apresentamos o trecho a seguir, da obra A Igreja do Diabo, de Machado de Assis. A anĂĄlise e o comentĂĄrio do excerto da obra devem ser feitos pelos alunos, considerando a perspectiva de vida e felicidade que o excerto apresenta.

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a ideia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contĂ­nuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde sĂŠculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obsĂŠquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que nĂŁo teria ele a sua igreja Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiĂ—es, e destruĂ­-las de uma vez. [...] E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. EstĂĄ claro que combateu o perdĂŁo das injĂ™rias e outras mĂĄximas de brandura e cordialidade. NĂŁo proibiu formalmente a calĂ™nia gratuita, mas induziu a exercĂŞ-la mediante retribuição, ou pecuniĂĄria, ou de outra espĂŠcie; nos casos, porĂŠm, em que ela fosse uma expansĂŁo imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salĂĄrio, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possĂ­veis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a Ă™nica exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e nĂŁo aquele. Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do prĂ“ximo era um obstĂĄculo grave Ă nova instituição. Ele mostrou que essa regra

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era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolvĂĄveis; nĂŁo se devia dar ao prĂ“ximo senĂŁo indiferença; em alguns casos, Ă“dio ou desprezo. Chegou mesmo Ă demonstração de que a noção de prĂ“ximo era errada, e citava esta frase de um padre de NĂĄpoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regime “Leve a breca o prĂ“ximo! NĂŁo hĂĄ prĂ“ximo!â€?. A Ă™nica hipĂ“tese em que ele permitia amar ao prĂ“ximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espĂŠcie de amor tinha a particularidade de nĂŁo ser outra coisa mais do que o amor do indivĂ­duo a si mesmo. [...] ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de +aneiro Garnier, 1884. DisponĂ­vel em http //XXX.dominiopublico.gov.br/doXnload/texto/bv000195.pdf . Acesso em 19 dez. 2013.

Em seguida, realize com os alunos uma nova leitura, agora do texto A dimensĂŁo

social da felicidade, disponível tambÊm no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anålise de texto.

A dimensĂŁo social da Gelicidade Ao contrĂĄrio do que muitos pensam, a realização da felicidade nĂŁo depende apenas da vontade e da atitude de cada pessoa, por mais esforçada e determinada que ela seja. Isso porque ninguĂŠm ĂŠ autossuficiente para satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas. 0 homem ĂŠ um animal polĂ­tico, isto ĂŠ, um ser que, pela sua prĂ“pria natureza, sĂ“ existe em sociedade, na convivĂŞncia com seus semelhantes, havendo entre todos uma relação de dependĂŞncia recĂ­proca no atendimento a essas necessidades. Do ponto de vista objetivo, precisamos de uma infinidade de coisas que sĂŁo fruto do trabalho de outras pessoas alimentos, roupas, calçados, diversos utensĂ­lios do nosso dia a dia, livros, cadernos, lĂĄpis, canetas, transporte, atendimento mĂŠdico, odontolĂ“gico e psicolĂ“gico, segurança, espaços para lazer e prĂĄtica esportiva, e muitos outros. A lista nĂŁo teria fim. Sabemos, pela nossa experiĂŞncia cotidiana, que, na vida em sociedade, cada pessoa depende do trabalho das demais. 0ra, se todas essas coisas sĂŁo necessĂĄrias Ă felicidade, entĂŁo ela depende da ação coletiva de um nĂ™mero imensurĂĄvel de pessoas que produzem esses bens e prestam esses serviços. 0 mesmo vale para as necessidades subjetivas. Todos precisamos de amor, carinho, respeito, afeição, consideração, atenção, ternura, cordialidade, hospitalidade, cuidado, prazer, conhecimento, liberdade, espaço para pensar, criar, sentir, crer, enfim, de uma infinidade de elementos relacionados Ă nossa vida interior, os quais somos incapazes de obter sozinhos. TambĂŠm aqui precisamos da colaboração das pessoas Ă nossa volta. A felicidade, por conseguinte, tanto no seu aspecto objetivo quanto no subjetivo, ĂŠ sempre produto de uma ação coletiva dos membros de uma dada sociedade. Em outras palavras, podemos dizer que a felicidade ĂŠ socialmente produzida e, portanto, tem um carĂĄter social. Afinal, como diz a letra da canção Wave, de Tom +obim, â€œĂŠ impossĂ­vel ser feliz sozinhoâ€?. Por essa razĂŁo, nĂŁo faz sentido buscĂĄ-la no individualismo ou no egoĂ­smo, isto ĂŠ, agindo de acordo com nossos interesses particulares, procurando tirar vantagem das diversas situaçĂ—es, sem nos preocuparmos com as consequĂŞncias de nossos atos. 0corre, porĂŠm, que o egoĂ­smo e o individualismo sĂŁo justamente os valores mais estimulados por nossa sociedade quando o assunto ĂŠ a busca da felicidade. Aprendemos desde muito cedo que o sucesso ou o fracasso na escola, na profissĂŁo e na vida de forma geral dependem de nosso esforço individual; que, no mundo, prevalecem as leis do “cada um por siâ€? ou do “salve-se quem puderâ€?; que precisamos nos preparar para enfrentar a grande competitividade do vestibular e, depois dele, do

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mercado de trabalho; que, uma vez empregados, devemos disputar com nossos colegas pela ascensĂŁo na carreira, por status e poder; que, ao nosso lado, hĂĄ nĂŁo um amigo ou um companheiro, mas um adversĂĄrio, um concorrente, alguĂŠm que, para nĂ“s, representa uma ameaça. Se ele desistir, tanto melhor, pois nossas chances de sucesso serĂŁo maiores. Aqui, aliĂĄs, encontramos outro sentido que nos possibilita dizer que a felicidade tem um carĂĄter social em grande parte, ĂŠ a sociedade que produz a imagem de felicidade que assimilamos e que transformamos em objeto de nossos maiores anseios, muitas vezes sem questionar. Em uma sociedade em que as pessoas sĂŁo mais valorizadas e reconhecidas pelo que possuem do que pelo que sĂŁo, a felicidade tende a ser identificada com a posse de bens materiais e de dinheiro, que ĂŠ o meio pelo qual se adquirem esses bens. Por esse raciocĂ­nio, quanto mais posses tiver uma pessoa, mais feliz ela serĂĄ. Quanto menos posses, mais infeliz. Assim, esse passa a ser o ideal dominante de felicidade que vai mobilizar o desejo e os sonhos da maioria das pessoas. 0corre que, em se tratando de uma sociedade com profundas desigualdades de classe e na qual o ter mais de alguns se viabiliza Ă custa do ter menos ou do nĂŁo ter dos demais, esse ideal de felicidade se revela, na prĂĄtica, inatingĂ­vel para a grande maioria das pessoas (os pobres) e privilĂŠgio de poucos (os ricos). Por outro lado, em uma sociedade organizada de maneira diferente, na qual as pessoas fossem mais valorizadas pelo que sĂŁo do que pelo que possuem, certamente prevaleceria outro ideal de felicidade. A construção de um novo modelo de sociedade, que proporcione condiçĂ—es mais igualitĂĄrias de acesso Ă felicidade, ĂŠ, sem dĂ™vida, responsabilidade de todos nĂ“s. Mas, enquanto isso nĂŁo se viabiliza plenamente, talvez possamos nos empenhar em mudar desde jĂĄ alguns valores, rejeitando a imposição do individualismo e do egoĂ­smo e procurando construir relaçĂ—es mais ancoradas na amizade, na solidariedade e na cooperação, antecipando aqui e agora, na medida do possĂ­vel, a utopia de uma sociedade feliz. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

Consideramos importante destacar desse texto os seguintes aspectos a impossibilidade de autossuĂ ciĂŞncia para a satisfação das necessidades subjetivas e objetivas do ser humano; a sua natureza essencialmente polĂ­tica; o fato de que dependemos do trabalho uns dos outros na vida em sociedade, conĂ gurando-se, assim, uma relação de interdependĂŞncia entre os membros dessa sociedade; o carĂĄter socialmente produzido da felicidade; a associação feita pela sociedade entre felicidade e as tendĂŞncias egoĂ­stas ou do “espĂ­rito de posseâ€? do indivĂ­duo, que faz que o ter de uns ocorra Ă custa do nĂŁo ter dos demais; a responsabilidade coletiva pela construção de relaçĂ—es sociais mais felizes. Evidentemente, vocĂŞ pode destacar outros aspectos, ou mesmo acrescentar novos elementos que nĂŁo tenham sido abordados no texto.

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Ao concluir esta etapa e com o objetivo de assegurar a compreensĂŁo do conteĂ™do estudado, propomos algumas perguntas que remetem diretamente a ele. As questĂ—es nĂŁo precisam ser respondidas no Caderno do Aluno, mas recomenda-se que sejam debatidas entre os alunos em sala. 1. 0 que signiĂ ca dizer que ninguĂŠm ĂŠ capaz de satisfazer sozinho suas necessidades subjetivas e objetivas 2. Em que sentido se pode aĂ rmar que a felicidade tem um carĂĄter social 3. Em que se baseia a aĂ rmação de que nĂŁo tem lĂ“gica buscar a felicidade no individualismo e no egoĂ­smo


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

4. Na sociedade em que vivemos, ĂŠ possĂ­vel superar a inĂĄuĂŞncia do egoĂ­smo e do individualismo Como De acordo com a proposta de Pesquisa em grupo do Caderno do Aluno, solicite que encontrem a mĂ™sica “Comidaâ€?, do grupo TitĂŁs, transcrevam a letra em seus Cadernos, reĂĄitam sobre ela, procurando relacionĂĄ-la com o que foi estudado sobre o tema felicidade. Peça que anotem suas conclusĂ—es logo abaixo da letra para utilizĂĄ-las na aula seguinte, em discussĂ—es em grupos. 0 objetivo ĂŠ, atravĂŠs da mĂ™sica, chamar a atenção para o fato de que a felicidade tem mĂ™ltiplas dimensĂ—es e que todas precisam ser satisfeitas para que ela, a felicidade, realmente ocorra. AlĂŠm disso, esta atividade pode inserir um componente lĂ™dico que ajude na motivação para o estudo. Como preparação para o prĂ“ximo tema, que tratarĂĄ a dimensĂŁo polĂ­tica da felicidade, que, a rigor, estĂĄ intrinsecamente ligada Ă sua dimensĂŁo social, seria interessante desenvolver uma discussĂŁo em grupo com a mĂ™sica “Comidaâ€?, subsidiada com as anotaçĂ—es que jĂĄ Ă zeram previamente em casa, para proporcionar aos alunos a oportuni-

dade de reĂĄexĂŁo sobre a concepção de felicidade a ela subjacente e tambĂŠm sobre as suas prĂ“prias. Se possĂ­vel, toque a mĂ™sica em sala, o que acrescentaria um carĂĄter lĂ™dico ao trabalho e motivação para realizĂĄ-lo. Depois, ainda organizados em grupos, os alunos vĂŁo debater e responder a algumas perguntas, cujo objetivo ĂŠ instruĂ­-los para a reĂĄexĂŁo mais sistemĂĄtica que farĂŁo a partir da leitura do prĂ“ximo texto. As perguntas, disponĂ­veis tambĂŠm no Caderno do Aluno, sĂŁo as seguintes 1. 0 que vocĂŞ entende por polĂ­tica 2. VocĂŞ tem algum tipo de participação polĂ­tica Por quĂŞ Em caso aĂ rmativo, descreva-a. 3. 0 que vocĂŞ pensa do ditado “PolĂ­tica, futebol e religiĂŁo nĂŁo se discutemâ€? +ustiĂ que sua resposta. 0 texto a seguir encontra-se tambĂŠm no Caderno do Aluno, na seção Leitura e anĂĄlise de texto.

A dimensĂŁo polĂ­tica da Gelicidade Vimos que, pela prĂ“pria natureza polĂ­tica do ser humano, a felicidade possui um carĂĄter social, no sentido de que as condiçĂ—es objetivas e subjetivas necessĂĄrias Ă sua realização sĂŁo coletivamente produzidas. Por sua vez, a existĂŞncia ou nĂŁo dessas condiçĂ—es, bem como o nĂ™mero de pessoas que terĂŁo acesso a elas, depende, em grande parte, das polĂ­ticas governamentais implementadas nas diversas ĂĄreas da administração pĂ™blica. Temos, por exemplo, polĂ­ticas para a saĂ™de, a educação, a habitação, o transporte, a segurança, o emprego, os direitos humanos, as mulheres, os negros, os povos indĂ­genas, os portadores de necessidades especiais, o meio ambiente, o emprego, e muitas outras. 0ra, se a presença de certas condiçĂ—es necessĂĄrias Ă felicidade resulta de polĂ­ticas governamentais, entĂŁo podemos concluir que a felicidade ou a infelicidade da população depende, ao menos em parte, da ação dos governantes. 0corre que, em uma democracia, os que governam nas diversas instâncias (municipal, estadual e federal) sĂŁo eleitos pelo voto direto dos cidadĂŁos. Isso significa que, em alguma medida, todos os que votam (ou deixam de votar) sĂŁo corresponsĂĄveis por essas polĂ­ticas e, por conseguinte, tambĂŠm pela realização ou nĂŁo realização da felicidade da população. Eis a dimensĂŁo polĂ­tica, em sentido mais estrito, da felicidade.

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DaĂ­ a importância da participação polĂ­tica consciente, sobretudo em relação ao voto. Mais do que um direito, essa participação ĂŠ tambĂŠm um dever de cada cidadĂŁo, pois dela derivam consequĂŞncias que afetam a vida de toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas ainda se recusam a participar politicamente, dizendo que nĂŁo gostam ou nĂŁo entendem de polĂ­tica e que preferem cuidar da prĂ“pria vida, dos assuntos particulares. Muitos se negam a discutir questĂ—es polĂ­ticas, temerosos das possĂ­veis consequĂŞncias do confronto de ideias. +ustificam sua indiferença com o famoso ditado “PolĂ­tica, religiĂŁo e futebol nĂŁo se discutemâ€?. 0utros, ainda, alegam que polĂ­tica ĂŠ coisa suja, que todo polĂ­tico ĂŠ corrupto e que, por isso, preferem permanecer distantes para nĂŁo se contaminarem. Quem adota essa atitude estĂĄ, na verdade, expressando uma consciĂŞncia ingĂŞnua e alienada em relação Ă polĂ­tica. Isso porque, na prĂĄtica, a abstenção polĂ­tica ĂŠ impossĂ­vel. Pelo simples fato de fazer parte de uma sociedade, sofremos as influĂŞncias do contexto em que vivemos, como tambĂŠm exercemos influĂŞncia sobre ele, mesmo sem perceber. Posso, por exemplo, desistir de votar em uma determinada eleição, por motivos particulares, mas essa minha atitude, somada Ă s dos demais eleitores, nĂŁo deixarĂĄ de repercutir proporcionalmente no resultado eleitoral, assim como este nĂŁo deixarĂĄ de repercutir em minha vida privada. AlĂŠm disso, abdicar da polĂ­tica ĂŠ uma forma de apoiar as açĂ—es governamentais, o que tambĂŠm constitui uma atitude polĂ­tica que nada tem de neutralidade. Na verdade, o desinteresse do povo pela polĂ­tica sĂ“ interessa a certos governantes, que o querem distante das decisĂ—es, para que possam favorecer os prĂ“prios interesses. Engana-se redondamente, portanto, quem acredita que pode permanecer alheio Ă polĂ­tica. A rigor, a participação polĂ­tica nĂŁo ĂŠ necessariamente algo que se faça por prazer (embora isso seja perfeitamente possĂ­vel), mas por necessidade, pois a nossa participação ĂŠ inevitĂĄvel. AliĂĄs, ĂŠ bastante provĂĄvel que, para muitos, ela nĂŁo seja mesmo prazerosa. Mas aqui talvez valha o ensinamento de Epicuro de que, Ă s vezes, ĂŠ preferĂ­vel aceitar certos sofrimentos (como o fazer algo de que nĂŁo se gosta) se esse for o caminho para se obter um prazer maior (por exemplo, condiçĂ—es sociais mais favorĂĄveis Ă felicidade de todos). Do contrĂĄrio, nossa omissĂŁo pode resultar em grande infelicidade, inclusive para nĂ“s mesmos. )ĂĄ vĂĄrias formas de participação polĂ­tica. Votar conscientemente ĂŠ apenas uma delas. Na verdade, ĂŠ o mĂ­nimo que se pode exigir de um cidadĂŁo em uma democracia. E, para que o voto seja de fato consciente, ĂŠ preciso que o eleitor esteja bem informado sobre as atribuiçĂ—es dos cargos em disputa, as caracterĂ­sticas dos candidatos e partidos, os principais problemas que deverĂŁo ser enfrentados pelos eleitos e as possĂ­veis soluçĂ—es para eles. AlĂŠm disso, o eleitor consciente deve agir com liberdade e responsabilidade social, nĂŁo aceitando jamais vender ou trocar o seu voto nem oferecĂŞ-lo em retribuição a algum favor ou para agradar alguĂŠm. Mas alĂŠm do voto, hĂĄ outras formas de participação polĂ­tica a individual e a coletiva. Do ponto de vista individual, hĂĄ uma enorme gama de açĂ—es que cada um pode praticar dialogar em casa, na escola, no trabalho, ou em qualquer outro lugar sobre os problemas da cidade, do Estado ou do paĂ­s, buscando adquirir e tambĂŠm despertar nos outros uma consciĂŞncia mais crĂ­tica sobre tais problemas; escrever em jornais, revistas e outros meios de comunicação, denunciando situaçĂ—es de injustiça; enviar e-mails para as autoridades cobrando providĂŞncias e seus compromissos de campanha; manter-se informado sobre a realidade do paĂ­s, atravĂŠs da leitura de jornais e revistas; defender e pĂ´r em prĂĄtica no dia a dia valores como a solidariedade, o respeito e a cordialidade, como forma de combater o individualismo e o egoĂ­smo que hoje vemos com frequĂŞncia.

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FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

Por outro lado, a participação coletiva do indivĂ­duo ocorre por meio do envolvimento em partidos polĂ­ticos, associaçĂ—es, organizaçĂ—es nĂŁo governamentais, sindicatos, grĂŞmios estudantis, movimentos, enfim, em qualquer agrupamento que tenha objetivos bem definidos. Vale lembrar que o grupo, sobretudo quando bem organizado, ĂŠ sempre mais forte que o indivĂ­duo. Muitas coisas exteriores a nĂ“s, e que influem em nossa felicidade ou infelicidade, dependem direta ou indiretamente de nĂ“s e da forma como participamos politicamente. Nesse sentido, podemos dizer que a felicidade tem tambĂŠm uma natureza polĂ­tica que nĂŁo pode ser desconsiderada. ­ evidente que as diversas formas de participação sĂŁo muito facilitadas em um regime democrĂĄtico. DaĂ­ tambĂŠm a importância da democracia para a construção da felicidade. Elaborado especialmente para o SĂŁo Paulo faz escola.

Nesse texto, sugerimos que sejam destacados os seguintes aspectos a relação entre a felicidade e as polĂ­ticas governamentais, evidenciando a dimensĂŁo polĂ­tica da primeira; a importância da participação polĂ­tica para a realização da felicidade; as diferentes formas dessa participação; a impossibilidade prĂĄtica de abster-se da polĂ­tica e as consequĂŞncias do desinteresse do povo por ela; o fato de que a participação polĂ­tica nĂŁo ĂŠ necessariamente prazerosa, mas necessĂĄria; a impossibilidade de separar radicalmente interesses privados dos interesses pĂ™blicos; a importância da democracia para a participação polĂ­tica e, consequentemente, para a busca da felicidade. 0 texto faz ainda referĂŞncia a Epicuro e ao estoicismo, oferecendo oportunidade para uma breve retomada desses conteĂ™dos. Em seguida, propomos algumas perguntas relacionadas ao conteĂ™do do texto, a Ă m de ajudar na sua compreensĂŁo e na ampliação da reĂĄexĂŁo sobre o tema. As questĂ—es se encontram no Caderno do Aluno. 1. Em que sentido se pode dizer que o desejo de abstenção polĂ­tica reĂĄete uma consciĂŞncia ingĂŞnua e alienada VocĂŞ concorda com isso +ustiĂ que. 2. 0 que signiĂ ca a aĂ rmação de que a felicidade tem uma dimensĂŁo polĂ­tica VocĂŞ concorda com isso +ustiĂ que.

3. VocĂŞ concorda que a participação polĂ­tica ĂŠ um importante instrumento para a construção de uma sociedade justa e feliz Por quĂŞ 4. 0lhando para sua realidade (cidade, bairro, escola, trabalho etc.), que tipo de participação polĂ­tica vocĂŞ estĂĄ disposto a ter para ajudar na construção de algumas condiçĂ—es bĂĄsicas para a felicidade de sua comunidade Essa Ă™ltima questĂŁo, que fecha a presente Situação de Aprendizagem, visa desafiar os alunos a assumir uma atitude polĂ­tica mais ativa e participativa em sua prĂ“pria comunidade, de acordo com as condiçĂ—es objetivas e subjetivas de que eles dispĂ—em. VocĂŞ certamente pode ajudĂĄ-los a pensar sobre as possĂ­veis alternativas, a começar por seu envolvimento mais efetivo na vida da escola.

Avaliação da Situação de Aprendizagem Professor, gostarĂ­amos de frisar que cabe a vocĂŞ decidir sobre quando e de que forma avaliar seus alunos. Como forma de contribuição, porĂŠm, apresentamos as seguintes sugestĂ—es de atividades, que tambĂŠm se encontram no Caderno do Aluno, na seção VocĂŞ aprendeu .

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Em relação Ă questĂŁo 1, o trabalho pode ser feito tanto em sala de aula como em casa, para posterior entrega a vocĂŞ. Avalie, entĂŁo, a alternativa mais adequada. 0 importante ĂŠ que, em seu texto, os alunos demonstrem a apropriação do conteĂ™do trabalhado. Se preferir, substitua a mĂ™sica sugerida por outra de sua escolha, ou de escolha dos alunos, ou atĂŠ mesmo por outro tipo de texto que julgar mais pertinente. 1. Em folha Ă parte, faça uma breve dissertação (30 a 40 linhas) analisando, Ă luz do estudo realizado, a noção de felicidade contida na mĂ™sica “Comidaâ€?, do grupo TitĂŁs. Espera-se que o aluno apresente uma breve caracterização dos valores associados Ă felicidade em nossa sociedade: ter casa prĂłpria, emprego, relacionamento amoroso, amor, sucesso, reconhecimento e notoriedade, ser uma celebridade, e que critique tais valores.

2. Elabore uma reĂĄexĂŁo que contemple as dimensĂ—es pessoais, sociais e polĂ­ticas da felicidade. Espera-se que o aluno identiďŹ que desejos construĂ­dos e cultivados em nossa sociedade e identiďŹ que valores e desejos associados Ă natureza humana independentemente de uma determinada cultura.

3. Comente esta questão Se não vivemos em uma ilha da fantasia, na qual a felicidade Ê entendida como processo de permanente satisfação de nossos desejos e de nossas necessidades, como podemos pensar a felicidade em nossa realidade social atual Espera-se que o aluno discuta a relação entre felicidade e desejo.

Proposta de situação de recuperação As mesmas atividades sugeridas como instrumentos de avaliação podem servir de trabalho de recuperação para os alunos que eventualmente não tenham demonstrado o rendimento esperado.

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Recursos para ampliar a perspectiva do proGessor e do aluno para a compreensĂŁo dos temas Livros ABBAGNAN0, Nicola. DicionĂĄrio de Filosofia. . ed. Tradução Alfredo Bosi. SĂŁo Paulo WMF Martins Fontes, 2012. Pode ser de grande ajuda no entendimento dos conceitos trabalhados. DALLARI, Dalmo de A. O que ĂŠ participação polĂ­tica. SĂŁo Paulo Brasiliense, 2004. (Primeiros Passos). 0 livro foi uma das referĂŞncias para os textos das duas Ă™ltimas etapas desta Situação de Aprendizagem. Em etapas propriedade a questĂŁo da participação polĂ­tica, oferecendo muitos subsĂ­dios para a reĂĄexĂŁo crĂ­tica sobre esse tema. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) GAD0TTI, Moacir. Pedagogia da Terra. 4. ed. SĂŁo Paulo PeirĂ“polis, 2005. Este livro traz informaçĂ—es importantes sobre a possibilidade de sermos felizes respeitando o Planeta Terra. (SugestĂŁo tambĂŠm presente no Caderno do Aluno.) VĂ ;QUE;, Adolfo S. Ética. Rio de +aneiro Civilização Brasileira, 2005. No capĂ­tulo VII hĂĄ um tĂ“pico intitulado “0 bom como felicidadeâ€? (eudemonismo), que traz importantes contribuiçĂ—es para o tema desenvolvido nas duas Ă™ltimas etapas desta Situação de Aprendizagem. VERGE;, AndrĂŠ; )UISMAN, Denis. HistĂ“ria dos Ă lĂ“sofos ilustrada pelos textos. Rio de +aneiro Freitas Bastos, 1982. Trata-se, tambĂŠm, de um manual de )istĂ“ria da FilosoĂ a, mais resumido, que tambĂŠm aborda o estoicismo e o epicurismo e traz excertos de textos dos Ă lĂ“sofos.


FilosoďŹ a – 3a sĂŠrie – Volume 2

QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO MÉDIO

Volume 1

1ÂŞ sĂŠrie

2ÂŞ sĂŠrie

3ÂŞ sĂŠrie

Descobrindo a FilosoĂ a

Ética e o utilitarismo Êtico

Para Rue FilosoĂ a

– Por que estudar Filosoà a

– Introdução Ă ĂŠtica.

– 0 que Ê Filosoà a

– As åreas da Filosoà a.

– 0 eu racional.

– A Filosoà a e outras formas de conhecimento Mito, Religião, Arte, Ciência.

– Autonomia e liberdade.

– Superação de preconceitos em relação Ă FilosoĂ a e deĂ nição e importância para a cidadania.

– Introdução Ă Teoria do IndivĂ­duo +ohn LocLe, +eremZ Bentham e Stuart Mill. – Tornar-se indivĂ­duo Paul Ricoeur e Michel Foucault. – Condutas massiĂ cadas. – Alienação moral.

– 0 homem como ser de natureza e de linguagem. – CaracterĂ­sticas do discurso Ă losĂ“Ă co. – Comparação com o discurso religioso. – 0 homem como ser polĂ­tico. – A desigualdade entre os homens como desaĂ o da polĂ­tica.

FilosoĂ a PolĂ­tica

Filosoà a Política e Ética

O discurso à losóà co

– Introdução Ă FilosoĂ a PolĂ­tica.

– FilosoĂ a PolĂ­tica e ­tica humilhação, velhice e racismo.

– Características do discurso à losÓà co.

Volume 2

– Teoria do Estado Socialismo, Anarquismo e Liberalismo. – Democracia e cidadania origens, conceitos e dilemas.

– )omens e mulheres. – FilosoĂ a e educação.

– Desigualdade social e ideologia.

– DesaĂ os ĂŠticos contemporâneos a CiĂŞncia e a condição humana.

– Democracia e justiça social.

– Introdução Ă BioĂŠtica.

– 0s Direitos )umanos. – Participação polĂ­tica.

– Comparação com o discurso cientĂ­Ă co. – TrĂŞs concepçĂ—es de liberdade Liberalismo, Determinismo e DialĂŠtica. – Comparação com o discurso da literatura. – Valores contemporâneos que cercam o tema da felicidade e das dimensĂ—es pessoais da felicidade.

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GABARITO

É importante que os alunos leiam as respostas dos professores e debatam, destacando críticas às situações nas quais a Ciência é utilizada para humilhar pessoas. Um exemplo desse tipo

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 Filosoàa e CiËncia

de humilhação pode ser observado quando alguns médicos

Leitura e análise de texto (CA, p. 5-6)

uma linguagem médica, sem fazer o esforço de traduzi-lo

1. Pode-se dizer que nenhum dos textos apresenta a opinião

para o senso comum e facilitar o entendimento do assunto

dos autores, pois, no texto filosófico, a conclusão surge de

apresentam diagnósticos de doenças a seus pacientes em

pelos pacientes.

um processo reflexivo. No texto científico, por sua vez, a conclusão surge depois de análises e comparações de dados. 2. No texto filosófico, as informações têm sua fonte não no ambiente externo, mas em um processo reflexivo e introspectivo; elas não são confirmadas por dados nem números, mas apenas pelo conhecimento, pela sabedoria de quem as trouxe à luz. As informações presentes no texto científico são dados de pesquisas baseadas em registros, índices etc., e pautam-se em números, porcentagens e datas, entre outros. 3. Uma grande diferença está na forma como são relatadas as informações e na construção do argumento. No texto

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 O libertarismo Exercícios (CA, p. 12) 1. Resposta aberta. Os alunos podem redigir uma definição baseando-se na própria experiência ou em leituras que porventura tenham como referência. 2. Resposta aberta, mas espera-se que os alunos assumam uma posição diante da pergunta e apresentem uma justificativa. 3. Resposta aberta. Oriente os alunos para que reflitam sobre a própria necessidade de ser livre: O que motiva essa necessidade? Quais os entraves à sua liberdade?

filosófico, o autor mescla informação histórica com sua reflexão sobre a morte. No texto científico, o autor ou os autores descrevem dados estatísticos.

Leitura e análise de texto (CA, p. 12-14) Resposta aberta, a depender do comentário dos alunos. No entanto, é preciso que os argumentos deles dialoguem de fato

Leitura e análise de texto (CA, p. 7-9)

com o texto analisado, que eles discordem ou não do texto e

1. A Filosofia utiliza diversos gêneros textuais para expressar

justifiquem seu posicionamento. O texto problematiza o tema

suas ideias: cartas, poemas, diálogos, ensaios. A Ciência não

liberdade, por isso, é importante que o comentário registre

faz uso de tantos gêneros textuais; seu modo de expressão é

essa problematização.

basicamente o relatório de pesquisa e o artigo científico. A Filosofia questiona métodos e finalidades da Ciência. A Ciência utiliza instrumentos para construir dados (telescópios,

Pesquisa individual (CA, p. 14)

microscópios entre outros), e a Filosofia não está associada

alunos diante das questões apresentadas pelo filme. O objetivo

ao uso de instrumentos.

é motivar a reflexão com base em uma situação concreta que

Resposta aberta, que depende do posicionamento dos

2. Os procedimentos de pesquisa para a elaboração de cada

envolve o direito à liberdade e a luta contra o preconceito. Há

tipo de texto podem ser os mesmos ou podem ser diferentes. A reflexão em um texto filosófico pode basear-se em

muitos outros exemplos, de filmes e atividades, que podem ser

dados qualitativos ou quantitativos; e a análise em um texto

conveniente.

utilizados em substituição ao proposto, se o professor assim julgar

científico também pode tomar como ponto de partida a leitura de dados qualitativos ou quantitativos. No caso dos

Leitura e análise de texto (CA, p. 14-15)

textos analisados neste exercício, a reflexão filosófica não

Espera-se que os alunos respondam negativamente, demons-

se apoia em dados estatísticos, ao passo que o relatório

trando perceber a contradição entre medidas totalitárias, como

científico, sim.

o golpe de Estado de 1964, do qual resultou a decretação do AI-5, e princípios como liberdade e democracia. Esta pode ser

Lição de casa (CA, p. 10) As perguntas orientam a entrevista que os alunos devem realizar com os professores da área de Ciências da Natureza.

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uma boa ocasião para discutir brevemente sobre esse período da história brasileira, talvez até com a proposição de um trabalho interdisciplinar.


Filosofia – 3a série – Volume 2

Leitura e análise de texto (CA, p. 15-18)

do acesso de grande parte da população aos benefícios

1. Ação voluntária: aquela em que o sujeito que age é a única

previstos legalmente e aos recursos materiais.

causa da ação (autodeterminação), isto é, o princípio que move a ação reside no próprio agente. Ação involuntária: é quando ocorre o contrário, ou seja, o princípio que move a ação é exterior ao sujeito que age (ignorância ou força).

Leitura e análise de texto (CA, p. 22-23) Resposta aberta, mas é importante orientar os alunos para que, ao argumentar e justificar sua posição, eles dialoguem com o texto. De toda maneira, durante as discussões, não se pode perder de vista que o livre-arbítrio é a possibilidade de

Ações voluntárias

Ações involuntárias

Alguém decide por si mesmo

Alguém é levado à força ou

fazer ou não algo, como

por necessidade a ir a algum

ingerir bebidas, fumar,

lugar ou a praticar alguma

Leitura e análise de texto (CA, p. 23-25)

praticar o bem ou o mal etc.

ação.

1. Segundo o texto e a referência citada, o livre-arbítrio é a

decidir em função da própria vontade, sem nenhuma causa determinante alheia a essa vontade.

possibilidade de decidir em função da própria vontade, 2. Ação voluntária e involuntária: aquela que se dá por escolha

sem nenhuma causa determinante alheia a essa vontade.

do agente, que, no entanto, age por força das circunstâncias.

2. Porque do fato de Deus conhecer a ordem das causas

Exemplo: os tripulantes de um navio que decidem livrar-se

que dão origem a todas as coisas não se pode concluir

da carga para evitar o naufrágio.

que não há nada que dependa da vontade humana. Nossa

Desafio! (CA, p. 19-20)

vontade também faz parte da ordem das causas conhecidas por Deus.

Resposta aberta. Contudo, os alunos devem expressar nas

3. Porque, mesmo com a ajuda da graça divina, o homem é

produções escritas que as situações podem limitar o nosso

livre para escolher se vai praticar o Bem ou o Mal. E isso

poder de deliberação e escolha e atentar para as situações

vale também para os que estão predestinados à salvação.

“limitadoras” nas suas diferentes dimensões: sociais, econômicas, tecnológicas e históricas.

Ou seja, para o homem se salvar, não basta estar predestinado a isso. É preciso, ainda, que ele escolha fazer o Bem. A predestinação, portanto, não é uma necessidade. Ela

Lição de casa (CA, p. 21-22)

depende também da vontade humana. Não fosse assim,

1. Resposta aberta. Porém, os alunos devem compreender que

não se poderia responsabilizar o homem pelo erro ou

os personagens eram movidos, principalmente, pelas circunstâncias em que viviam (de extrema pobreza). 2. Resposta também aberta, mas deve haver questionamento sobre as consequências de Chicó e João Grilo responderem por esses atos e sobre as causas que as suas atitudes provocavam. É preciso mostrar a importância da reflexão sobre a necessidade de termos sempre de responder por nossos atos. 3. Resposta aberta. O argumento apresentado no filme é o de que o cangaceiro não tivera escolha, dadas as circunstâncias em que vivera desde a infância. Daí ele não poder ser responsabilizado por seus crimes, sendo, portanto, absolvido.

pelo pecado. 4. Porque, se não há liberdade de escolha, a ação não pode ser julgada como sendo boa nem má, e, portanto, não cabe punição nem recompensa. Lição de casa (CA, p. 25) Resposta aberta, que exige dos alunos reflexão e posicionamento, com explicitação de argumentos sobre o livre-arbítrio nas relações sociais e situações de convivência.

Os alunos que não puderam assistir ao filme e desenvolve-

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 O determinismo

ram uma reflexão com base no artigo 5º da Constituição

Exercícios (CA, p. 28)

devem contemplar a problematização sobre a viabilidade

1. Resposta aberta. O objetivo da questão, ao introduzir o

prática dos direitos previstos em lei: Quais são os entraves

estudo sobre o determinismo, é orientar os alunos para

que impedem essa viabilidade?

que, ao responder, levem em consideração a sua própria

Um entrave que pode ser apontado como exemplo é o da

experiência de vida, o que resultará em uma melhor compreensão do tema.

má distribuição de renda e o consequente impedimento

79


2. Resposta aberta. A intenção é provocar nos alunos o questionamento sobre como elaboram os critérios com base nos quais eles fazem suas escolhas.

Lição de casa (CA, p. 34-35) Espera-se que os alunos apontem como semelhança nas três histórias o determinismo, pois os três protagonistas acreditam que possuem uma trajetória de vida que concatena os

Desafio! (CA, p. 29) Nesta resposta, espera-se ao menos um exemplo no qual

fatos de forma que o resultado não poderia se dar de outra maneira, ainda que tenham tomado decisões para atingi-lo.

alguém não se apresente unicamente como vítima de determinada situação e também não se apresente com liberdade abso-

Leitura e análise de texto (CA, p. 35-37)

luta para fazer o que quiser. Este exercício deve revelar o esforço

1. Consiste em considerar Deus o criador da ordem do mundo

da busca de uma solução que demonstre que se deve evitar

e o responsável pela condução dos acontecimentos. Em

tanto a radicalidade da visão determinista quanto a radicalidade

outras palavras, o mundo possui uma ordem racional que

da visão de que o homem é livre para fazer tudo o que deseja

vem de Deus e que compreende tanto os acontecimentos

ou imagina.

como as ações dos homens. De modo geral, portanto, a doutrina da providência implica negar a possibilidade da liber-

Pesquisa individual (CA, p. 30)

dade humana, pois ao homem cabe apenas adequar-se aos

As informações sobre a tragédia grega podem ser encontra-

desígnios divinos.

das com facilidade, mas o fundamental para esta pesquisa são

2. O homem é livre para fazer o que tem vontade, mas não é livre

alguns dados sobre a Antiguidade Grega, sobretudo referente ao

para escolher a vontade, o desejo e a inclinação que tem. A

século V a.C. A tragédia apresentava os conflitos sociais próprios

vontade, o desejo e a inclinação do homem derivam de outras

da época, quer seja em termos das relações familiares, quer seja

causas, alheias a ele. Precisamente, derivam de uma cadeia de

no âmbito de poder mais amplo, da polis. Por meio da tragédia,

causas, cuja origem está em Deus, que é a causa primeira de

os gregos falavam, reconheciam e refletiam sobre seus conflitos.

tudo. Assim, as ações praticadas pelos homens derivam em parte de sua vontade (liberdade) e em parte da providência

Desafio! (CA, p. 30)

divina (necessidade). Liberdade e necessidade, portanto, não

1. O homem. Esta foi a resposta dada por Édipo à Esfinge.

são, para Hobbes, incompatíveis.

2. Resposta aberta, porém, o objetivo aqui é levar os alunos ao entendimento das questões próprias do tema “determinismo”, que será abordado nesta aula.

Leitura e análise de texto (CA, p. 38-39) Resposta aberta. Esta atividade permite muitas análises. Contudo, os alunos deverão demonstrar entendimento da

Leitura e análise de texto (CA, p. 30-31)

leitura proposta apontando para o que o poema revela acerca

1. Resposta aberta, mas os alunos devem associar o determi-

das circunstâncias da vida de Lampião e o que origina o estranhamento da sua chegada ao Céu. Os alunos devem atentar

nismo a situações do cotidiano. 2. Peça aos alunos que tentem recuperar na memória esse tipo

para a atitude de Lampião de vingar a morte do pai e que

de situação. Solicite que descrevam, apresentando um posi-

tal atitude foi justificada como resposta à violência do fazen-

cionamento e justificando, o que é sempre interessante para

deiro. Nesse contexto, os alunos devem demonstrar capaci-

o exercício da argumentação.

dade de refletir sobre a atitude de Lampião e se ela decorre de uma espécie de determinismo (a partir de uma cultura de

Leitura e análise de texto (CA, p. 31-34)

vingança) que motivou a sua condição de pistoleiro ou se

1

A mensagem é a de que existe um destino, previamente tra-

a sua atitude está fundamentada no livre-arbítrio. Os alunos

çado, que não pode ser evitado. Édipo, ao tentar escapar do

deverão apresentar suas análises e questionamentos sobre

seu destino, acaba indo diretamente ao encontro dele.

a justificativa de Lampião para a sua vida (causas e conse-

2. Neste exercício, o objetivo é levar os alunos a estabelecer

quências) com base nas concepções de liberdade observadas

um paralelo entre os exemplos de determinismo na tragédia

anteriormente (Situações de Aprendizagem 2 e 3). Eles poderão, ainda, analisar se o pedido de Lampião para o santo fazer

grega e os que ocorrem no chamado “determinismo científico”, motivando-os a estudar e pesquisar exemplos sobre o determinismo nas ciências.

80

chover no Sertão nordestino é determinante para a pobreza da região.


Filosofia – 3a série – Volume 2

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 A concepção dialética da liberdade Exercício (CA, p. 41)

Leitura e análise de texto (CA, p. 45-47) 1. Dizer que o homem é um “conjunto de relações sociais” significa que, na concepção do materialismo histórico dia-

O objetivo desta questão é introduzir as discussões desta

lético, o homem não pode ser concebido como um ser

Situação de Aprendizagem. A referência à imagem do mar no

abstrato, isolado, destacado do mundo concreto em que

seu constante movimento tem o sentido de aproximar os alunos

vive (como faz o libertarismo), pois ele é, em grande parte,

do tema proposto (dialética). A relação entre o tema e a imagem

determinado pelas circunstâncias em que vive (mas não de

está na ideia de que tudo flui, tudo muda, tudo é movimento.

modo absoluto, como quer o determinismo). 2. Ao afirmar que o homem tem papel ativo na determinação

Leitura e análise de texto (CA, p. 42-45)

das circunstâncias em que vive (liberdade), ainda que ele

1. Em um sentido geral, a palavra está associada à ideia de um todo formado por partes que se opõem, e que estão em cons-

seja determinado, em grande medida, por estas circunstâncias. Não se trata, porém, de uma determinação absoluta

tante conflito. Por meio da contradição, há uma transformação

(determinismo), assim como a sua liberdade para interferir

nas partes, dando origem a um novo todo. Assim, uma aula

nas circunstâncias também não é absoluta.

expositiva com base nos textos do Caderno do Professor pode ajudar os alunos a se apropriar desse conceito de forma rigorosa, tendo em vista a contribuição dos autores destacados.

Lição de casa (CA, p. 47-48) Para esta discussão, peça aos alunos que retomem as reflexões

2. Para Heráclito, nada é imóvel, imutável, permanente; ao con-

sobre a liberdade e destaquem, em cada imagem, as referências

trário, tudo está em movimento, tudo muda, tudo flui, tudo

que sugerem concepções de liberdade. Este exercício exige que

se transforma, tudo é devir. Por isso: “Não se pode entrar duas

os alunos revelem seus entendimentos sobre o tema.

vezes no mesmo rio”, porque tanto as águas como a pessoa alunos que se manifestem e se posicionem a respeito da visão

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 Filosoàa e Literatura

do filósofo.

Leitura e análise de texto (CA, p. 50)

que nelas entra novamente já não são as mesmas. Peça aos

3. Em linhas gerais, para Sócrates e Platão, a palavra “dialética”

1. Resposta aberta, que depende da capacidade de argumen-

designava certo modo de discutir ou dialogar, cujo objetivo

tação do aluno, mas é preciso destacar que o ser humano é

era explicitar as contradições presentes no raciocínio dos

formado por uma série de fatores internos e externos, o que

interlocutores. Sua finalidade era superar as divergências das

não permite uma posição definitiva sobre o que somos.

opiniões de cada um e atingir um conhecimento comum

2. A resposta exige que o aluno reflita sobre o significado da

verdadeiro. 4. A dialética de Hegel é identificada pela palavra “idealista”, ou

palavra “intervalo” quando esta se refere à constituição da identidade.

“idealismo”. Segundo esse ponto de vista, a trajetória humana

3. Resposta aberta que depende da abordagem do texto,

e sua transformação têm como desígnio o aperfeiçoamento do espírito. A palavra “dialética”, na obra de Marx e Engels,

mas é preciso que os alunos se refiram ao poema e reconheçam que ele traz uma importante reflexão sobre o

é associada à palavra “materialista”, ou “materialismo”, por

autoconhecimento.

entender que a trajetória humana e sua transformação resultam no aperfeiçoamento das relações humanas na existência material, na transformação da natureza e da sociedade para construção de igualdade.

Leitura e análise de texto (CA, p. 51-52) Das diferenças apontadas no texto, uma é o caráter fictício da Literatura (lembrando que filósofos podem fazer uso

5. A frase denota a concepção materialista e dialética dos autores, para os quais as transformações na sociedade humana,

de situações fictícias para construir a argumentação). Outra

verificadas ao longo da história, ocorrem por força das con-

emoções, e o da Filosofia suscita reflexões. A dificuldade em

tradições a ela inerentes, como a contradição entre as classes

distinguir essas duas áreas reside justamente no fato de que a

sociais. Dessa forma, as duas classes sociais fundamentais do capitalismo (a burguesia e os trabalhadores) estão sempre em

Literatura também provoca reflexões e o texto filosófico muitas vezes faz uso de narrativas fictícias como pano de fundo

contradição, em luta.

para seus argumentos.

das diferenças é que o discurso da Literatura procura provocar

81


Pesquisa individual (CA, p. 53)

política para a vida privada, também consequência do contato

Oriente os alunos para que a pesquisa seja feita em diferentes

com outros povos, que trouxe a necessidade de refletir sobre

fontes e peça a eles que registrem pelo menos um filósofo que

moral e sobre diferenças pessoais no processo de convívio

também escreva usando a Literatura.. Jean-Jacques Rousseau é um

social.

exemplo. Com essa pesquisa, os alunos entrarão em contato com,

2. Resposta aberta, que depende das hipóteses dos alunos. É

pelo menos, dois ou três filósofos que expressaram suas concepções e questionamentos por meio da Literatura.

importante lembrar que a Filosofia pode ajudar no processo de autoconhecimento e na reflexão sobre uma forma melhor de convívio entre os homens.

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6 A Gelicidade segundo o estoicismo e o epicurismo

Exercícios (CA, p. 57)

Exercícios (CA, p. 55)

1. Mostre aos alunos a importância de que eles investiguem,

1. Resposta aberta, que depende da ideia que os alunos têm

em suas experiências de vida, o que podem mudar e o que

sobre felicidade em geral, mas a definição pode ser expressa

não podem mudar. Por exemplo, não podemos mudar certas

com ajuda de uma metáfora, de uma situação real. Espera-se

situações, como a morte de pessoas queridas.

que, com esta atividade, os alunos possam desenvolver sua

2. Podemos distinguir umas das outras por meio da observação,

própria visão sobre felicidade, a fim de ampliar seu modo de

segundo nossa experiência vivencial, e por meio de reflexão

expressão ao utilizar uma metáfora.

filosófica. Muitas vezes precisamos parar para identificar o que

2. Resposta aberta, que depende das representações e hipóteses formuladas pelos alunos. No entanto, oriente-os no sentido de que a resposta revele a leitura do mundo atual, com seus problemas mais cruciais, como miséria, degradação ambiental, doenças etc.

está em nossas mãos e para poder evitar ou mudar o que não depende de nós, mas que pode ser transformado por meio de ações coletivas. 3. Aceitar com serenidade não é se conformar sem fazer nada,

3. Resposta aberta, que depende das representações dos alunos

mas significa identificar que não está em nossas mãos o

sobre a própria felicidade. Porém, são imprescindíveis argumentos que justifiquem a resposta e espera-se que sejam coe-

poder de mudar tudo e todos. Também não será uma ação

rentes com as representações da felicidade. Exemplo: se os alu-

situações que devemos aceitar.

apenas de passividade se refletirmos e aprendermos com as

nos afirmarem que ser feliz é ter uma casa, é importante que eles justifiquem por que e de que forma a felicidade se associa

Leitura e análise de texto (CA, p. 58-61)

ao fato de ter uma casa.

1. É preciso retomar a leitura do texto, pois essa resposta com-

4. A seguir, indicamos algumas respostas possíveis.

preende um dos argumentos centrais, porque, fundamental-

a) De fato, não existe o permanente estado de felicidade. Cada

mente, segundo o estoicismo, não podemos desejar o que

um de nós tem momentos felizes e momentos de profunda

é contrário ao nosso destino. Mas o texto traz ainda outros

infelicidade. b) A boa condição financeira não é suficiente para solucionar todos os problemas emocionais e afetivos do ser humano.

aspectos que podem ser destacados pelos alunos. 2. Resposta aberta, que depende das representações dos alunos sobre essas questões cotidianas. No entanto, chame a atenção

c) A felicidade está dentro de nós, mas dependemos também

deles para o fato de que algumas situações de saúde, beleza,

de algumas condições objetivas externas, como boa condição

riqueza e de liberdade podem depender de nós. Neste exercício, mostre a importância da reflexão sobre a diversidade de

de moradia, acesso à saúde e à educação. Além disso, mesmo que façamos de tudo para nos relacionarmos bem com todas as pessoas, algumas delas apresentam problemas que impedem a exteriorização de nossa felicidade. Entretanto, a Filosofia nos ajuda a pensar na relação entre o eu individual e o mundo.

fatores que cercam cada uma das situações apontadas. 3. Na Oração da serenidade, um traço do estoicismo está na proposta de aceitar o que não se pode mudar. 4. Resposta aberta, que depende da situação citada pelos alunos. Um exemplo é o falecimento de um familiar por doença ou

Leitura e análise de texto (CA, p. 55-57)

em razão de um acidente.

1. Neste exercício, os alunos devem reler o texto A felicidade

82

como tema da Filosofia, para identificar os argumentos asso-

Exercícios (CA, p. 61)

ciados à mudança de objeto da reflexão filosófica da esfera

1. O resultado deste exercício está na representação dos alunos


Filosofia – 3a série – Volume 2

sobre a morte. É importante que eles analisem sua relação com a morte e com a ideia de Deus e que deem razões para

Com esse levantamento sobre o ideal de felicidade dos alunos, você pode identificar representações associadas a valo-

ter ou não ter medo.

res que mereçam questionamentos, como a ideia de prazer

2. Oriente os alunos para que se estabeleçam relações entre o

imediatista ou de individualismo, por exemplo.

medo e os entraves para a felicidade. 3. Nesta questão, a reflexão é fundamental para levantar as

Leitura e análise de texto (CA, p. 68-69)

representações sobre o prazer. Deve-se ainda lembrar que

1. Uma possível justificativa está no fato de que sofremos entra-

a felicidade pode também advir de processos nada prazerosos, de sacrifícios para ajudar alguém doente, para

ves à nossa felicidade cotidianamente, por sermos seres rela-

conquistar um título em campeonato. Esforço e trabalho

seres humanos.

também podem estar associados à felicidade.

cionais que vivem em dependência da natureza e dos demais 2. Porque, se não admitirmos que somos seres limitados e que nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos, teremos

Leitura e análise de texto (CA, p. 62-64)

frustrações permanentes. O texto traz argumentos para essa

1. Solicite aos alunos que retomem atentamente a leitura para

reflexão de forma aprofundada.

dar uma resposta a cada situação. Depois disso, eles poderão também constatar que uma ideia presente em todas as

Leitura e análise de texto (CA, p. 70-71)

afirmações refere-se a um princípio de Epicuro: abrir mão

1. Resposta pessoal que depende da representação que os

de prazer imediato em nome da felicidade, de um prazer

alunos têm da felicidade. Porém, são necessários argumen-

mais duradouro.

tos reflexivos sobre a relação entre felicidade e aquisição

2. Neste exercício, o aluno deve relatar, e, ao final, justificar uma situação na qual de fato ele tenha sido capaz de superar o imediatismo e pôde deixar de lado um prazer momentâneo para conquistar a felicidade entendida como um processo mais duradouro de bem-estar físico ou espiritual.

de bens e adoção de normas de comportamento. Nesse sentido, espera-se que os alunos relacionem a felicidade e a concepção de liberdade e autonomia. 2. Resposta pessoal. Porém, são necessários argumentos reflexivos que demonstrem uma leitura coerente do mundo atual e do poder dos meios de comunicação.

Lição de casa (CA, p. 64)

Leitura e análise de texto (CA, p. 71-72)

1. Para fazer este resumo, os alunos devem retomar a leitura

1. A perda da convivência, a ausência de quem admiramos e

do texto A felicidade segundo o epicurismo, recuperando as

amamos e o medo de não viver os sonhos, no caso da ideia da

ideias de Epicuro sobre a felicidade.

própria morte.

2. Para Epicuro, a Filosofia pode ajudar no exame cuidadoso para

2. Ao retomar os argumentos do autor, pode-se perceber que

a distinção entre as coisas que verdadeiramente nos trazem

uma ideia central refere-se ao fato de termos consciência de

prazer e as que provocam dor.

que não somos eternos e, por isso, podemos degustar a vida no presente com mais intensidade.

Pesquisa individual (CA, p. 65) Com a realização desta pesquisa, os alunos poderão exercitar

3. A morte nos torna livres em vida porque podemos optar por morrer ou viver. Podemos escolher a vida.

a capacidade de identificar concepções sobre a felicidade em uma poesia ou em uma letra de música.

Lição de casa (CA, p. 72)

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7 Ser Geliz é preciso

contato com diferentes concepções sobre a morte. Em cada

Exercícios (CA, p. 67)

diferentes religiões de quem obter uma entrevista. Com esta

1. A felicidade de ter a mulher amada, de ser amigo do rei (e,

atividade, os alunos poderão conhecer abordagens distintas

Incentive e oriente os alunos de forma que eles entrem em

com isso, ter benefícios) e de poder escolher. 2. É fundamental que os alunos sejam incentivados a pensar em seu ideal de felicidade para compor seu projeto de vida.

cidade, eles poderão encontrar pelo menos duas pessoas de

sobre o tema morte e relativizar e ampliar sua concepção. Seria interessante que, em sala de aula, fossem socializadas as informações adquiridas por meio das entrevistas.

83


SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8 Felicidade e compromisso: consigo e com o outro Exercício (CA, p. 75) Resposta aberta, para a qual é importante que os alunos

2. Os alunos deverão demonstrar o entendimento de que o texto apresenta uma versão de bem-estar e felicidade individual e egoísta. Uma perspectiva em que a felicidade deve ser conquistada individualmente e de forma a excluir os outros.

façam um esforço de auto-observação para perceber quais de suas características podem dificultar ou impedir sua felicidade.

Leitura e análise de texto (CA, p. 79-80)

Por exemplo: dificuldade de comunicação, timidez etc.

1. Significa que somos seres que vivemos em relação uns com os

Leitura e análise de texto (CA, p. 75-76)

2. No sentido de que somos incompletos e precisamos de outros

outros. Resposta aberta. Depois que os alunos destacarem no texto as

seres humanos, da natureza e da sociedade como um todo

frases com as quais concordam e as frases com as quais discor-

para satisfazer as nossas necessidades materiais e espirituais.

dam, eles devem justificar as suas escolhas. Com isso, desenvol-

3. Baseia-se no fato de que somos seres para os quais é importante

verão a capacidade de leitura reflexiva e a capacidade de justificar

ter relações uns com os outros e de que a solidariedade e a cooperação podem levar a boas condições de vida para todos.

seu posicionamento.

4. É possível superar o egoísmo e o individualismo por meio de Exercícios (CA, p. 77) 1. A diferença está na capacidade de aprender com as situa-

políticas públicas voltadas para a justiça e a equidade econômica e social; da ampliação dos direitos na perspectiva de cons-

ções de perda e com as situações em relação às quais não

trução da ética da solidariedade; e também da autoavaliação

podemos fazer nada. Por outro lado, o conformismo passivo

sobre suas próprias atitudes e sua relação com os outros.

é aquele segundo o qual concordamos com situações, até mesmo com aquelas que poderíamos mudar.

Pesquisa em grupo (CA, p. 80) Resposta aberta. Entretanto, ao pesquisar a letra da música

2. Ser escravo do desejo é viver apenas pela satisfação a qualquer preço, ao dominar pessoas, por exemplo. Lutar pelo que

na internet, os alunos podem deparar com interpretações já

se quer implica ética para identificar se o que se quer não pre-

formuladas que relacionam a música com “crítica social”, e

judica ninguém e se pode ser motivo de união de esforços

de que “para ser feliz é preciso ir além das necessidades básicas” etc. Essas interpretações estão corretas, mas neste caso

para satisfazer mais as pessoas do que a si mesmo. 3. Baixa autoestima implica desvalorizar-se perante o outro. A

é importante que se exija do aluno que ele relacione a letra

compreensão de que não sou o centro do mundo não significa que eu me desvalorize, e, sim, que reconheço meus limi-

da música com outros textos e com as considerações de aula

tes e que preciso do outro.

os alunos formulem uma visão crítica da felicidade com o

feitas pelo professor. Dessa forma, essa pesquisa requer que

4. Deixar-se levar pelas emoções sugere ausência de reflexão e

auxílio de diferentes tipos de textos e de informações (letra

falta de cuidado nas relações. Respeitar as próprias emoções

da música, textos no Caderno, explicação do professor de

sugere respeito a si e ao próximo.

Filosofia e outros comentários sobre o tema e que o aluno já teve acesso). Nesse sentido, os alunos devem associar o

Lição de casa (CA, p. 77-78) 1.

imperativo de que para ser feliz é preciso ir além das necessidades básicas com a necessidade de se incluir os outros, que

a) A frase indica que alguns nascem fracos e destinados a ser infeli-

todos devem, por exemplo, ter direito à diversão e às pro-

zes. E merece questionamento sob a ótica de uma ética solidária.

duções culturais e que para ser feliz é preciso refletir (“Você

b) Somente os espertos podem ser felizes. Merece questiona-

tem fome de quê?”) e não apenas aderir a uma imagem, um

mento: O que torna uma pessoa esperta? Quais são as carac-

produto ou um comportamento.

terísticas de uma pessoa esperta? O que leva uma pessoa a não ser esperta?

84

Exercícios (CA, p. 81)

c) Felicidade é vantagem sobre tudo e sobre todos. Cabe ques-

1. Reflexão de suma importância para levantar as representações

tionar se não é o caso de todos construírem um mundo em

dos alunos sobre a palavra “política”, cuja justificativa deve

que haja vantagens para todos.

ser incentivada.


Filosofia – 3a série – Volume 2

2. Resposta aberta, mas oriente os alunos na descrição do tipo de participação.

Leitura e análise de texto (CA, p. 82-84) 1. No sentido de que se abster politicamente implica perder a

3. Esses são temas sobre os quais as pessoas discutem, e

oportunidade de tomar decisões importantes para a vida social.

muito. A frase parte do pressuposto de que cada um deve

2. Uma resposta possível é que a felicidade tem, sim, dimensão

seguir sua orientação e, para evitar conflitos, não a colocar em discussão. A reflexão filosófica exige exatamente o

política, porque é parte importante de nosso bem-estar material

contrário: tudo é motivo para discussão, entendida como

3. A participação política é uma das condições para a construção da felicidade especificamente no que se refere à construção

troca de ideias para construir novas formas de pensar e de agir. Discutir política é fundamental para a construção

e espiritual e depende do tipo de sociedade no qual vivemos.

de uma sociedade justa, solidária e que beneficie todos.

de uma sociedade mais justa. Futebol e religião também

4. Resposta aberta, para a qual se deve incentivar os alunos a

são práticas humanas que merecem ser debatidas para o

ler sua realidade e indicar, ainda que teoricamente e hipoteticamente, uma forma de participação para auxiliá-los a

aperfeiçoamento do ser humano.

melhorar as condições básicas da sua comunidade.

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CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL NOVA EDIÇÃO 2014-2017 COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Coordenadora Maria Elizabete da Costa Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF Valéria Tarantello de Georgel Coordenadora Geral do Programa São Paulo faz escola Valéria Tarantello de Georgel Coordenação Técnica Roberto Canossa Roberto Liberato Suely Cristina de Albuquerque Bomfim EQUIPES CURRICULARES Área de Linguagens Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli Ventrella. Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Silveira. Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Beatriz Pereira Franco, Ana Paula de Oliveira Lopes, Marina Tsunokawa Shimabukuro e Neide Ferreira Gaspar. Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves. Área de Matemática Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Yamanaka, Rosana Jorge Monteiro, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Rodrigo Ponce. Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Maria da Graça de Jesus Mendes. Física: Anderson Jacomini Brandão, Carolina dos Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte.

Química: Ana Joaquina Simões S. de Mattos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior, Natalina de Fátima Mateus e Roseli Gomes de Araujo da Silva. Área de Ciências Humanas Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira. Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati. História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria Margarete dos Santos Benedicto e Walter Nicolas Otheguy Fernandez. Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida e Tony Shigueki Nakatani. PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Budiski de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz. Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos e Silmara Santade Masiero. Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres. Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro,

Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara Santana da Silva Alves. Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati. Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi. Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal. Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano. História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas. Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e Tânia Fetchir. Apoio: Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE CTP, Impressão e acabamento Log & Print Gráfica e Logística S.A.


GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL 2014-2017 FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI Presidente da Diretoria Executiva Mauro de Mesquita Spínola GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Editorial: Amarilis L. Maciel, Ana Paula S. Bezerra, Angélica dos Santos Angelo, Bóris Fatigati da Silva, Bruno Reis, Carina Carvalho, Carolina H. Mestriner, Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão, Eloiza Lopes, Érika Domingues do Nascimento, Flávia Medeiros, Giovanna Petrólio Marcondes, Gisele Manoel, Jean Xavier, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Leslie Sandes, Mainã Greeb Vicente, Maíra de Freitas Bechtold, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Paula Felix Palma, Pietro Ferrari, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Renata Regina Buset, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Tiago Jonas de Almeida.

CONCEPÇÃO DO PROGRAMA E ELABORAÇÃO DOS CONTEÚDOS ORIGINAIS

Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira.

COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira

Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e Sérgio Adas.

CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo, Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini (coordenadora) e Ruy Berger (em memória). AUTORES Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira. Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira. LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo. LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González.

História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers. Ciências da Natureza Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes. Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo. Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume.

Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos.

Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e Yassuko Hosoume.

Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Micsik, Dayse de Castro Novaes Bueno, Érica Marques, José Carlos Augusto, Juliana Prado da Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Acunzo Forli, Maria Magalhães de Alencastro, Vanessa Bianco e Vanessa Leite Rios.

Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli.

Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião.

Edição e Produção editorial: Adesign, Jairo Souza Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico).

Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli.

Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie.

Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas * Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. * Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). * Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no Caderno do Professor para apoiar na identificação das atividades.

São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. S239m

Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; filosofia, ensino médio, 3a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Luiza Chirstov, Paulo Miceli, Renê José Trentin Silveira. - São Paulo: SE, 2014. v. 2, 88 p. Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica CGEB. ISBN 978-85-7849-637-1 1. Ensino médio 2. Filosofia 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Chirstov, Luiza. III. Miceli, Paulo. IV. Silveira, Renê José Trentin. V. Título. CDU: 371.3:806.90


Validade: 2014 – 2017


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