Jornal numero 12

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- Ano 2 - Número 12 - OUTUBRO 2013 Grupo de agroecologia Terra de Todos, ja trás frutos em Palmital

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Feira agroecológica em Rio Bonito, com alimentação saudável e de >PAG.2 qualidade

TERRA VERMELHA

BOLETIM DO MST REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU

Escola de Mulheres da Via Campesina Ex-presidente da UDR vai a júri por assassinato de sem terra >PAG.4

>PAG.3 Juventude Sem Terra no II Festival de Artes do Paraná >PAG.4


2 - TERRA VERMELHA

Editorial

instituída a comissão de Ética e o Conselho Técnico, inicialmente criado na condição de Pré-Núcleo, até a aprovação na Assembleia do Encontro Ampliado da Rede com plenas condições de atuação, podendo inclusive realizar a certificação participativa. O grande desafio inicial é qualificar as organizações existentes e organizar as demais e novas iniciativas, para atuar em conjunto e sustentar uma perspectiva transformadora, junto a agroecologia, com princípios que foram assumidos no núcleo que são eles: articulação na recuperação e conservação da vida no planeta terra; ter agroecologia como base para a sustentabilidade do desenvolvimento; articulação organizada em rede sem hierarquia nas condições, papeis e funções; entre outros princípios. Nesse momento os principais desafios estão na ampliação e qualificação da produção, na certificação e na comercialização. Hoje o Núcleo conta com 35 grupos envolvendo em torno de 450 famílias.

Informações dos acampamentos da região

Foto: Sebastião Salgado

Desde 2000, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra assume a agroecologia como uma bandeira de luta na organização a nível nacional. Em suas bases, acampamentos e assentamentos é reforçado o trabalho a partir dessa estratégia assumida como bandeira de luta pelo MST. Na região havia alguns grupos agroecológicos e diversas iniciativas individuais de famílias. Diante do desafio de ampliar, qualificar e organizar as iniciativas de agroecologia iniciou-se a criação do Núcleo Regional de Agroecologia, articulado na Rede Ecovida de Agroecologia, no território da Cantuquiriguaçu. Para tanto, organizou-se um grupo de trabalho envolvendo várias instituições e realizouse seminários micro regionais, para aprofundar o debate sobre os desafios e organização da agroecologia na região. No dia 28 de julho, de 2010, realizou-se em Laranjeiras do Sul, no auditório da UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul), a assembleia de criação do Núcleo Regional. Neste momento, foi eleita a primeira coordenação e

Lona Preta

Grupo de agroecologia Terra de Todos O grupo Terra de Todos é composto por 5 famílias localizada em Palmital e Santa Maria do Oeste (PR), tem ligação com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), produz agroecologicamente e tem esta visão desde 2008, tem suas dificuldades, pois, as famílias que compõem o grupo moram distantes umas das outras, para realizar as reuniões e momentos de estudos se tem vários impasses. Os camponeses que compõem o grupo são pessoas que estavam produzindo agroecológico individualmente, e através de conversas informais foram percebendo que haviam mais pessoas que tinham a mesma linha de pensamento e de pratica, então surge o grupo de agroecologia Terra de Todos, que é um dos grupos que

compõem o núcleo Luta Camponesa. O grupo Terra de Todos acessa PAA e PNAE, entregando nas escolas e entidades da região e vendem para o comercio local. Estão se articulando para organizar a feira agroecológica em Palmital, já produzem arroz, feijão, diversas frutas como, pêssego, ameixa, uva, morango, laranja citros, hortaliças de várias variedades e produzem também ervas medicinais. Apesar das dificuldades e das distâncias, o grupo é comprometido com a produção agroecológica, e tem interesse em atender outros mercados, que estão aparecendo, como o restaurante da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e o circuito da Rede Ecovida.

Feira Agroecológica de Rio Bonito do Iguaçu A Feira Agroecológica é sumidores de Rio Bonito, onde encontram uma alimentação saúdavel e de qualidade. Desde abril deste ano a feira agroecológica de Rio bonito do Iguaçu é desenvolvida, pelos agricultores dos Assentamentos Ireno Alves e Marcos Freire, ela acontece todas as quartas-feiras, das 13:00 ás 18:30 hrs, em frente a Igreja Matriz do município. Os agricultores contam com a assistência técnica da ATER, CEAGRO e Rede Ecovida. Porém, para chegar no pé que esta hoje, foram organizados cursos e reuniões de estudo, com objetivo de aprender práticas e manejos agroecológicos.

Uma das dificuldades encontradas é o transporte do assentamento para a feira. “Muitos não conseguem vir todas as quartas e ai vem de uma forma alternada, uma quarta- feira sim outra não, e isto é muito ruim pois, além dos consumidores sentirem falta, os vendedores tem muita perca de produtos que poderiam ser vendidos”, diz Anildo Welter, um dos coordenadores da feira. Para participar da feira é necessário estar participando de um grupo, que deve ser constituído por no mínimo por 5 famílias, onde este grupo deve

Foto: Geani Paula

um sucesso para os con-

Os agricultores se organizam por grupos de 5 á 6 famílias, onde reúnem as variedades de produtos como leite, mandioca, verduras, legumes, frutas diversas, compotas, doces e alguns panifícios para trazer na feira.

participar das reuniões e estudos sobre a agroecologia e receber acompanhamento da Rede Ecovida. Atualmente 5 grupos fazem parte da feira e em torno de 30 famílias estão sendo beneficiadas com as vendas, parte dessas famílias que hoje se beneficiam da venda anteriormente a essa ação

tinham perca desta produção que hoje é geração de renda semanal para as famílias envolvidas. Este espaço da feira agroecológica gera um integração entre o campo e a cidade, através de um alimento saudável e geração de renda da famílias camponesas.


BOLETIM DO MST REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU - 3

Escola de Mulheres da Via Campesina, um espaço de diálogo e formação para as companheiras

Escola de Mulheres Com o objetivo de articular a formação das mulheres à processos organizativos, a Escola de Mulheres da Via Campesina nasce para fortalecer as organizações, desenvolver e ampliar a produção agroecológica, cooperada e coordenada por mulheres. Organizada em três etapas com dois dias de formação, a primeira turma aconteceu em 2012, nas estruturas do Ceagro - Vila Velha, e contou com a participação de

45 mulheres do MPA, MST e da aldeia Indígena Rio das Cobras. A segunda turma iniciou neste ano, com a primeira etapa realizada entre 29 e 30 de agosto, no Ceagro - Vila Velha, com a participação de mulheres do Núcleo da rede Ecovida de Rio Bonito do Iguaçu, Laranjeiras do Sul, Quedas do Iguaçu, Goioxim, Cantagalo, Palmital, Pinhão e Porto Barreiro. Com objetivos mais consolidados, as mulheres se organizaram em núcleos de base, criaram palavras de ordem e assumiram as tarefas de organização interna do curso. Participaram de estudos, debates, oficinas de homeopatia, ervas medicinais, mulheres empreendedoras, e saíram com atividades para serem realizadas durante o Tempo Comunidade. Para o acompanhamento das companheiras, o Coletivo de Gênero da Região tem um plano de trabalho que vem sendo desenvolvido com os grupos produtivos de mulheres. A segunda etapa da Escola de Mulheres será entre 29 e 30 de novembro, no assentamento 8 de Junho, Laranjeiras do Sul. Essa dinâmica de cada etapa acontecer em um local é construída coletivamente, para conhecer

experiências organizadas que as mulheres assentadas e camponesas vêm consolidando, por exemplo, o trabalho da Coperjunho, que hoje possui cerca de 30 mulheres assentadas cooperando juntas. É importante também que a comunidade se envolva nas atividades, que participe da Escola de Mulheres, interaja e recepcione nas suas casas as mulheres de outras comunidades e de realidades diferentes. A escola vem trabalhando temas de grande relevância, como a violência, os agrotóxicos, a agroecologia, a participação igualitária, a história dos movimentos sociais e o papel das mulheres na história. São visíveis os avanços desde o início da escola, mulheres que participaram desse processo, hoje estão coordenando grupos e participando mais das atividades de formação no conjunto de suas comunidades. A escola é um espaço que assim como analisa as conquistas, as mulheres também problematizam o processo, e nele também se evidenciam os desafios que ainda existem para avançar na luta.

Foto: Arquivo MST

A experiência de luta das mulheres por seu reconhecimento social, econômico e político não é recente, nem suas vivências estão registradas na tradicional produção historiográfica da humanidade. Essa história contada e escrita do ponto de vista da classe opressora ignorou e reservou a existência das mulheres, aos lugares e papéis familiares e do lar, e a tratou a partir dos interesses da classe dominante. Cabe a nós, recontar, reescrever e transformar essa história. Fazer uma análise sistêmica da opressão das mulheres na atual fase do capitalismo é um grande desafio da atualidade para os Movimentos Sociais Camponeses e Feministas. Assumindo posição, questionando a realidade, enfrentando os problemas e rompendo barreiras, as mulheres camponesas, assentadas e acampadas, têm mostrado que a participação efetiva no processo político de luta, de mobilização, de formação e de decisão é a condição para elevar o nível de consciência das mulheres. Sem dúvida o MST é um dos Movimentos que mais mobiliza Mulheres para a luta no Brasil. É uma organização em que as mulheres estão presentes. Mas entre estar presente e participar existe muita diferença. É verdade que para muitas mulheres o MST foi e é a possibilidade de se libertar de várias formas de opressão, e se afirmar como mulher e como trabalhadora. Contudo, é fácil perceber que as mulheres têm menos oportunidade de participar de atividades de estudo e de instâncias que tomam decisões. Muitas mulheres militantes são mães e precisam conciliar o estudo com as dores e prazeres da maternidade, sem contar que, para as militantes que são casadas é preciso travar uma luta na família, com o companheiro, para conseguir participar de cursos mais prolongados. Ainda é muito presente a chamada dupla moral, que garante aos homens o direito de ser livre mesmo depois do casamento, e a mulher tem que ser sempre “protegida” pelo pai, irmão, ou marido. Depois

de ser assentada, esse limite se torna ainda maior, pois além de ser mãe, as responsabilidades aumentam no trabalho com a terra, na produção familiar, e quando alguém precisa sair, normalmente vai o companheiro. Nesse sentido, as mulheres da região da Cantu, organizadas no MST e no MPA, além de questionar tem feito ações concretas que nos mostram como a dimensão das mulheres estrutura a forma de organizar a sociedade nos dias atuais, e de que forma o capitalismo impõe o jeito de ser mulher de acordo com suas necessidades. As raízes dos problemas estão na raiz da sociedade capitalista que determina que mulheres são “coisa”, não são seres humanos completos. Essa forma aprofunda a divisão sexual do trabalho, “coisas de homem versus coisas de mulher”, naturaliza a mulher como sexo frágil e a coloca como responsável pela maternidade. Tira a autonomia econômica, produtiva e do corpo das mulheres. Gera um acesso desigual aos recursos naturais, aos bens e serviços. Consequentemente diversas formas de violência, visíveis e invisíveis, se instalam na vida das mulheres. As desigualdades de gênero começam nas famílias, são reforçadas nas escolas e nas religiões e para agravar a situação, cotidianamente os meios de comunicação alimentam o machismo. Questionando essas contradições, apartir de 2004 mulheres do MPA e do MST passam a se reunir para discutir o caráter das ações do Dia Internacional da Mulher, que até então era preparado pelas prefeituras e apenas paras as mulheres dos seus respectivos municípios, com caráter festivo, perdendo o verdadeiro significado da data. Diante disso, era preciso resgatar e transformar o 8 de março em um dia de formação e luta. Organizadas no Coletivo de Gênero, começaram planejar um 8 de março Regional, envolvendo todos os Movimentos e mulheres do campo.

Foto: Arquivo MST

Discutir relações de opressão implica fundamentalmente discutir os conflitos e as contradições.


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Lutadores do Povo O assassinato do trabalhador rural Sebastião Camargo Filho ocorreu durante uma das operações ilegais de despejo realizadas por uma milícia privada contratada por proprietários rurais da região, em áreas improdutivas ocupadas por agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Durante a madrugada de 7 de fevereiro de 1998, dezenas de pessoas, dentre elas políticos da região, proprietários rurais organizados pela União Democrática Ruralista – UDR e pistoleiros por eles contratados, desocuparam ilegalmente duas propriedades rurais declaradas como “de interesse

Grupo Cooperativo da Reforma Agrária MST Cantuquiriguaçu Editado com a colaboração da parceria do MST com a Fundação Mundukide - MONDRAGON EQUIPE TÉCNICA: Coordenação: Andrés Bedia Editora: Geani Souza Desenho gráfico: Xabier Duo CONSELHO EDITORIAL: Elemar Cesimbra Laureci Leal Pedro Ivan Christoffoli Ciliana Federici Toni Escobar CONTATO PARA INFORMAR OU ANUNCIAR: Resp. Comunicação: Geani Souza Escritório CEAGRO-DEPES Rua 7 de Setembro, 2885 CEP: 85301-070 Laranjeiras do Sul - PR Tel: (42) 3635-4329 Email: comunicamst.centro@gmail.com TIRAGEM: 3.000 exemplares CIRCULAÇÃO: Acampamentos e Assentamentos da Reforma Agrária da região de Cantuquiriguaçu Este trabalho foi licenciado com Licença Creative Commons 3.0. Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos

Marcos Prochet, acusado de assassinar o Trabalhador Sem Terra

social para fins de Reforma Agrária”: a Fazenda Santo Ângelo e a Fazenda Boa Sorte, de propriedade de Teissin Tina. O homicídio de Camargo Filho ocorreu durante a segunda desocupação daquela madrugada, depois que cerca de 30 homens armados, encapuzados e uniformizados invadiram a fazenda Santo Ângelo, enquanto as famílias acampadas naquele local ainda dormiam. Os jagunços destruíram

o acampamento, pertences das vítimas e, com violência, obrigaram os trabalhadores a desocupar o local, colocando-os em um caminhão. O grupo de encapuzados obrigou os agricultores e suas famílias a permanecerem próximos à porteira da fazenda, deitados de bruços e com os rostos voltados ao chão. Sebastião Camargo Filho estava deitado e forçado a encostar o queixo no chão, sob ordens violentas de um dos pistoleiros. O agricultor sofria

de um problema de coluna que o obrigava a andar constantemente curvado. Como não suportava a dor na coluna, tentou apoiar a cabeça nas mãos, no chão, sob mira de armas e chutes de coturno. O pistoleiro ordenou que Camargo baixasse a cabeça, como o idoso não obedeceu à ordem devido as dores, o homem que comandava a ação o assassinou com um tiro na cabeça. Assassinado aos 65 anos, Camargo Filho deixou seis filhos, dos quais três eram menores de idade à época dos fatos. A esposa do agricultor teve de sustentar a família sozinha com o trabalho na roça, sem qualquer sinalização de justiça para a morte do marido, até novembro de 2012, quando ocorreu o 1º júri. No dia 22 de novembro, Marcos Prochet, ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), deve ir a júri popular como um dos principais acusados de assassinar um trabalhador sem terra durante despejo forçado

Juventude do MST no II Festival de Artes O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou de 07 a 10 de outubro, em Curitiba, o segundo Festival de Artes das Escolas de Assentamentos do Paraná, que contou com a participação da juventude dos estados do sul. A juventude realizou apresentações artísticas durante as noites no teatro Guaira, e as manhãs ficaram recheadas de oficinas. Nos dias 7 e 8 contamos com a contribuição dos nossos camaradas João Pedro Stedile da direção nacional do MST, e da companheira Thaile Lopes da coordenação do coletivo estadual da juventude que discutiram o tema “A participação da juventude nos processos de transformação da sociedade”, da companheira Maria Izabel Grein, da coordenação do setor de educação, e o companheiro Raul Amorim da coordenação nacional do coletivo da juventude do MST, que trouxeram reflexões sobre

“A organização dos estudantes e as perspectivas de futuro no campo: inculcações, certezas e desafios”. No dia 9, a juventude Sem Terra teve um bate papo e almoço com a Trupe “O Teatro Mágico”, grupo artístico que mistura a linguagem musical com as artes performáticas circenses, e recentemente gravou um dos hinos dos Movimentos Sociais, composta por Pedro Munhoz, a música Canção da Terra. O encerramento do segundo Festival de Artes ocorreu na noite do dia 9, na Praça Nossa Senhora da Salete, com as bandas: Expresso Vermelho, Regional Matulão, Saci Arte, El Efecto e o grupo O Teatro Mágico. A noite contou com a participação da sociedade curitibana, cerca de 6 mil pessoas participaram desse grande ato musical organizado pelo MST. Na manhã do dia 10, a juventude do encontro ocupou a Secretaria

Todas as quartas-feiras na Rádio Rio Bonito FM 87,9 Das 11:15 hrs ás 12:15 hrs da manhã

Programa “ Vozes do Campo” O Programa feito para você camponês

Foto: Arquivo CEAGRO

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Foto: Arquivo MST

O fazendeiro Marcos Prochet é acusado de disparar o tiro que matou o trabalhador rural sem terra Sebastião Camargo Filho, em 1998, no Noroeste do Paraná.

de Estado da Educação do Paraná. Uma equipe de negociação representou a juventude Sem Terra e entregou a pauta de reivindicação ao diretor geral da secretaria de educação. Debatendo os direitos e as necessidades emergenciais para as escolas do campo.


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