- Ano 2 - Número 9 - ABRIL 2013 8° Encontro de Mulheres da Via Campesina >PAG.2
Acampamento Recanto da Natureza e os alimentos Orgânicos >PAG.2
TERRA VERMELHA
BOLETIM DO MST REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU
>PAG.3 17 Anos de ocupação do Latifúndio da Giacomete
O mês de Abril é marcado pela ocupação desse grande latifúndio, onde hoje, mais de 1500 famílias produzem seu auto-sustento.
17 anos do
Visite o COOPERA
Massacre em
supermercado
Eldorado dos
concorra a
Carajás
prêmios
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2 - TERRA VERMELHA
Editorial
Acampamento Recanto da Natureza na produção de alimentos orgânicos O acampamento Recanto da Natureza, localizado no municipio de Laranjeiras do Sul, com 19 familias que estão divididas em lotes de 5 há 7 alqueires desde 2006, todos com uma produção diversificada e agroecológica de alimentos, gerando auto-sustento para a familia. Em 13 anos de ocupação muitas coisas já foram feitas no Acampamento Recanto, algumas familias chegam a entregar 5 mil litros de leite por mês para a cooperativa de leite orgânico, Coopera. Além disso as mesmas tem uma produção coletiva de mel de abelha em um projeto com o Fundo Nacional de Solidariedade e Caritas brasileira. Além dessas atividades, agora toda a quinta-feira as familias participam da feira de produtos orgânicos na praça de
Laranjeiras do Sul. São 12 familias, que produzem hortaliças, frutas, feijão, milho entre outros produtos agroecológicos que saem do seu pedaço de terra e são comercializados. “A feira é uma vitrine do que a Reforma Agrária produz. Mostrar o que produzimos para a população urbana ver com bons olhos a Reforma Agrária”, diz Sérgio Scislovski, um dos moradores do acampamento e também entrega produtos para a feira. A feira acontece toda quinta-feira de 17:00hrs ás 19:00hrs, na praça central da cidade, e conta com produtores orgânicos também da Cooperativa do 8 de junho, Coperjunho.
8° Encontro Regional de Mulheres panha Contra os Agrotóxicos e a Favor da Vida. A campanha Fechar Escola é Crime foi outra pauta das mulheres. No município de Quedas do Iguaçu, por exemplo, onde tem um dos maiores assentamentos da América Latina com 1100 famílias assentadas, o prefeito já fechou duas escolas municipais do campo, e as crianças tem que pegar ônibus para ir a escolas mais longes, ou se deslocar para a cidade para estudar. Na parte da manhã, elas tiveram uma fala da companheira Izabel Grein, da coordenação do MST, ao trazer os desafios e o papel da mulher na sociedade na luta por melhores condições de vida no campo e na cidade. Em seguida foi servido um almoço de confraternização entre as mulheres, com produtos da agricultura familiar, que foi organizado
pelos companheiros do assentamento Celso Furtado de Quedas do Iguaçu. À tarde aconteceram atividades culturais, com apresentação de danças Indígena, de rua, capoeira, músicas, poesia e também uma apresentação de teatro fórum sobre
a violência cometida contra as mulheres. No término as mulheres de Quedas do Iguaçu entregaram a bandeira para as mulheres de Diamante do Sul que irão organizar o 9° encontro de Mulheres da Via Campesina no próximo ano. Foto: Geani Paula
Com o tema “Basta de violência contra a Mulher!” as mulheres da região centro realizaram o 8° Encontro Regional de Mulheres Camponesas do MST, MPA e sindicatos, envolvendo os grupos que atuam nos assentamentos, acampamentos e comunidades da região. O encontro que aconteceu em um sábado, 09 de março, na cidade de Quedas do Iguaçu, reunindo aproximadamente 800 mulheres de municípios vizinhos. As mesmas foram acolhidas no CTG da cidade com um café colonial, e logo após seguiram em marcha pelo centro com faixas e cartazes sobre o lema do encontro, e fortalecendo a Cam-
Informações dos acampamentos da região
Foto: Geani Paula
Cerca de 1200 mulheres da região se organizaram para reinvidicar seus direitos
os proprietários e os trabalhadores, que também é sentida entre os novos moradores e os residentes no município anteriormente à ocupação; o preconceito e a falta de apoio do poder público municipal marcam os primeiros anos de organização dos assentamentos. Nestes territórios, ações no plano do trabalho, da cultura, da participação social, da formação escolar e política, experiências agroecológicas e cooperadas, com gênero e juventude, têm forjado um novo olhar da sociedade para os Assentamentos. Como um espaço que produz alimentos e diversidade, homens e mulheres dedicados, estão construindo uma vida melhor, desenvolvendo a economia local, colocando em questão a sustentação da vida no campo, o trabalho, crédito, saúde, cultura, lazer, acesso à educação pública e de qualidade, na busca da transformação da visão de mundo e do modo de vida, que está subordinado à lógica da mercadoria no sistema capitalista. Esses 17 anos de conquistas, mostram que é preciso caminhar com os pés que querem mais que andar estradas.
Foto: Sebastião Salgado
O dia internacional de luta pela terra, marcado como 17 DE ABRIL relembra a atualidade da luta pela reforma agrária. Nossa memória registra a maior ocupação de terra feita pelo MST no Paraná, cerca de 12 mil trabalhadores romperam as cercas de um dos maiores latifúndios improdutivos do Sul do Brasil, a Giacomet, atualmente, Araupel. Um Movimento Social de milhares de trabalhadores camponeses, em busca de garantir a luta pela terra, Reforma Agrária e transformação social, coloca em choque duas classes contrárias: uma elite dominante, controladora de todos os meios de produção, econômicos e culturais; e a grande maioria de trabalhadores, camponeses, desempregados rurais e urbanos, que foram expulsos de suas terras e tem pouco mais que a própria força de trabalho. A ocupação e a conquista da terra em que as famílias têm o seu pedaço de chão, onde poderão se sustentar com dignidade, tem à ação de muitos sujeitos. Alguns mortos em conflitos com a polícia e pistoleiros como o massacre de El Dourado de Carajás, no Pará. Desde o campo, a tensa relação entre
Lona Preta
BOLETIM DO MST REGIÃO CANTUQUIRIGUAÇU - 3
Assentamento Marcos Freire e Ireno Alves completam 17 anos de luta
“Era impressionante a coluna dos Sem Terra formada por mais de 12 mil pessoas, em marcha na noite fria daquele início de inverno, no Paraná. O exército de camponeses avançava em silêncio quase completo. Escutava-se apenas a respiração regular de peitos acostumados a grandes esforços e o ruído dos pés que tocavam o asfalto. Anda rápido um camponês: vinte e dois quilômetros foram cobertos em menos de horas, quando chegaram lá, o dia começava a nascer. O rio de camponeses que correu pelo asfalto noite adentro, ao desembocar de fronte a porteira da fazenda, pára e se espalha como as água de uma barragem,
Tudo começou em uma madrugada gelada, quando se ouviu o bater das foices e o grito da Reforma Agrária. Eram vozes presas, sufocadas pela sociedade. Aproximadamente, 3.000 famílias equivalente a 12 mil pessoas, acamparam às margens da rodovia BR-158, no município de Rio Bonito do Iguaçu, onde ficaram à espera por dois anos até a liberação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para a desapropriação da terra. A ocupação dessa área que hoje é o Assentamento, foi na fazenda Giacomet-Marondim, também conhecida como Araupel, que se deu no dia 17 de abril de 1996 em Rio Bonito do Iguaçu. Dessa ocupação, surgiu o Assentamento Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire, com 1.512 famílias assentadas. “Era muito sofrimento, todos aqueles barracos, muita fumaça, chuva. O acampamento do Buraco foi de muito sofrimento,
Foto: Arquivo MST
O mês de Abril é marcado pela ocupação desse grande latifúndio, onde hoje, mais de 1500 famílias produzem seu auto-sustento.
Foto: Arquivo MST
preconceitos foram superados, pois com a chegada do assentamento o munícipio de Rio Bonito do Iguaçu cresceu, trazendo vários beneficios a sociedade e em torno. Após 17 anos, os assentamentos produzem alimentos para a mesa de muitos brasileiros, pois uma grande parte entrega alimentos para a merenda escolar, PAA e PNAE. Hoje, os assentamento Marcos Freire e Ireno Alves dos Santos, ambos na antiga fazenda Giacomet, contam com 6 escolas munícipais, 4 escolas estaduais, 1 brinquedoteca e 2 postos de saúde. Além disso, são 17 comunidades no Ireno Alves e 11 no Marcos Freire, onde todas contam centros comunitarios.
“Era muito sofrimento, todos aqueles barracos, muita fumaça, chuva.”
Dia 17 de abril, os Assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire, completam mais um ano de sua história. 17 anos, de conquista da terra, essa história prova para todos os setores da sociedade a viabilidade social e econômica da Reforma Agrária.
mas que compensou depois”, diz Marcelaine Reguelin, que chegou no acampamento com 13 anos de idade junto com os pais. A familia de Marcelaine trabalhava de agregado em uma fazenda, e com a pouca renda que ganhavam não dava para sustentar a familia de 5 filhos pequenos. Seu pai ficou sabendo do movimento em uma reunião no sindicato dos trabalhadores, e resolveu se organizar junto na ocupação da Giacomet. Outro fato que Reguelin conta é sobre o preconceito que sofriam na época do acampamento, “ quando chegamos tivemos que ir estudar na cidade, e a gente sofria muito preconceito pelo cheiro da fumaça e por ser acampado”. Hoje, muitos desses
Em comemoração aos 17 anos da luta pela terra, aconteceu uma festa no Assentamento Marcos Freite, na comunidade Camargo Filho. O evento contou com a participação dos assentados e vários amigos do MST, que vieram prestigiar esse momento com as famílias. Na parte da manhã aconteceu a copa 17 de abril, que contou com vários times do assentamento, e que este ano estreiou o futebol feminino. O almoço foi a base de churrasco e saladas, e a tarde contou com atividades culturais. O dia 17 de abril, é decretado feriado em Rio Bonito do Iguaçu, para a comemoração da luta pela terra. Ainda para lembra desse dia, os trabalhadores dos assentamentos trancaram a BR-158, como forma de justiça. Pois, em 17 de abril de 1996, 21 sem-ter ras foram mortos em um acampamento do MST em Eldorado dos Carajás, no Pará.
Foto: Arquivo MST
arrebentam o cadeado e a porteira se escancara; entram; atrás, o rio de camponeses que se põe novamente em movimento; foices, enxadas, e bandeiras se erguem na avalanche incontida das esperanças nesse reencontro com a vida – e o grito reprimido do povo Sem Terra ecoa uníssono na claridade do novo dia.” Relato do fotógrafo Sebastião Salgado, sobre a ocupação da Giacomet.
COMEMORAÇÃO
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Lutadores do Povo O massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, completa 17 anos. O episódio, que jamais será apagado da memória das vítimas e dos envolvidos, ainda não foi superado judicialmente. O massacre ocorrido em 17 de abril de 1996, por volta das 17h, quando cerca de 1.100 Trabalhadores Rurais Sem Terra interditavam a rodovia PA-150, na altura da curva do “S”, em Eldorado dos Carajás. Os manifestantes marchavam rumo à capital paraense para exigir a desapropriação da fazenda Macaxeira, em Curionópolis (PA). Do gabinete do governador Almir Gabriel (PSDB) partiu a ordem para desocupar a via; o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, reforçou a orientação e autorizou o uso da força policial para tirar os manifestantes da rodovia.
TV EER RM ERL HAA Grupo Cooperativo da Reforma Agrária MST Cantuquiriguaçu Editado com a colaboração da parceria do MST com a Fundação Mundukide - MONDRAGON EQUIPE TÉCNICA: Coordenação: Andrés Bedia Editora: Geani Souza Desenho gráfico: Xabier Duo CONSELHO EDITORIAL: Elemar Cesimbra Laureci Leal Pedro Ivan Christoffoli Ciliana Federici Toni Escobar CONTATO PARA INFORMAR OU ANUNCIAR: Resp. Comunicação: Geani Souza Escritório CEAGRO-DEPES Rua 7 de Setembro, 2885 CEP: 85301-070 Laranjeiras do Sul - PR Tel: (42) 3635-4329 Email: comunicamst.centro@gmail.com TIRAGEM: 5.000 exemplares CIRCULAÇÃO: Acampamentos e Assentamentos da Reforma Agrária da região de Cantuquiriguaçu Este trabalho foi licenciado com Licença Creative Commons 3.0. Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos
Foto: Arquivo MST
Massacre em Eldorado dos Carajás no Pará, completa 17 anos de impunidade
veira Junior, a transferência do Centro de Recuperação Anastácio das Neves para prisão domiciliar. Com as mesmas desculpas que o deixaram em liberdade por quase uma década após a sua condenação.
Lembro dele
Os peritos constataram que a maior parte dos crimes teve características de execução, algumas delas com requintes de crueldade. Além dos 21 mortos, cerca de 70 trabalhadores sofreram ferimentos graves e mutilações resultantes do uso de armas brancas pelos policiais. Em março de 2011, o Ministro Gilmar Mendes, decidiu pela negação de mais um, de umas centenas de pedidos de Habeas Corpus feitos pelos dos advogados do réu, Mario Colares Pantoja, condenado a
prisão de 280 anos pelo tribunal do júri em 16 de maio em Belém. Da condenação pelo tribunal do Júri, em maio de 2002 o réu só foi cumprir pena no Centro de Recuperação Anastácio das Neves – CRECRAN. Em 07 de maio de 2012, 10 anos após ter sido condenado. Passado apenas cinco meses no CRECRAN, os advogados de defesa sobre alegação, de que o preso “está muito doente e precisa envelhecer com dignidade” solicita ao MM Juiz de Direito João Augusto de Oli-
“O massacre de Eldorado do Carajás, onde 19 trabalhadores foram assassinados pela polícia militar, é um dos exemplos mais emblemáticos da impunidade que caracteriza a luta pela terra no estado do Pará. 17 anos se passaram do episódio e ainda vemos trabalhadores e trabalhadoras serem assassinados pelo latifúndio da região”. Antonio Carlos Dirigente do Setor de Comunicação no Pará.
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“O dia 17 de Abril, do nosso Abril Vermelho, Vermelho de Luta e de Sangue mostra o vergonhoso cenário de impunidade da justiça brasileira, que defende o latifúndio e o agronegócio.” Thaile Lopes Coordenadora do Coletivo de Juventude do Paraná
Nossa Luta Lutamos por terra, lutamos por comida, por nossos sonhos, pela vida! Para que não mais hajam barrigas vazias. Para que o explorado do Sul se levante pelo explorado do Norte.
Lutamos para que por nossas mãos o nosso sustento seja garantido, para que nossos filhos passeiem pelos campos de bonança.
Lutamos para que a Revolução ham lutado em vão. seja algo tão vivo quanto a terra à germinar uma semente, para que Para que esta bandeira seja de o cotidiano seja por natureza re- Revolução! volucionário. Para que a dor de nossas percas, Julio Moreti- MST/MS não sejam maiores que a alegria Lutamos para que nosso sangue de nossas conquistas! corra apenas em nossas veias, para que nossos mortos não ten-