ISSN 1982-5897
O BIÓLOGO II
8 Out Nov Dez
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O Biólogo e as Unidades de Conservação por Leopoldo Magno Coutinho e Lilian Beatriz Penteado Zaidan
Leia também:
A comemoração do Dia Nacional do Biólogo Projeto Rondon: exercício de cidadania
CRBio-01
ÍNDICE
ÍNDICE
O BIÓLOGO Revista do Conselho Regional de Biologia 1ª Região (SP, MT, MS) Ano II - Nº 08 Out/Nov/Dez 2008 ISSN 1982-5897
CRBio-01
Conselho Regional de Biologia 1ª Região-São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CRBio-01) Rua Manoel da Nóbrega, 595 - Conjuntos 121 e 122 CEP 04001-083 - São Paulo - SP Tel: (0xx11) 3884-1489 - Fax: (0xx11) 3887-0163 E-mail: conselho@crbio1.org.br Home page: www.crbio01.org.br
Delegacia Regional de Mato Grosso - CRBio-01 Av. Fernando Correa da Costa, s/nº - Instituto de Biociências Campus da UFMT - Coxipó, Cuiabá, MT - CEP 78060-900 Tel.: (65) 615 8804
Diretoria: Wlademir João Tadei Presidente
Luiz Eloy Pereira Vice-Presidente
Eliézer José Marques Secretário
Edison Kubo Tesoureiro
Conselheiros Mandato (2007-2011) Efetivos: Wlademir João Tadei; Edison Kubo; Eliézer José Marques; Murilo Damato; Mário Borges da Rocha; Maria Teresa de Paiva Azevedo; Luiz Eloy Pereira; Maria Saleti Ferraz Dias Ferreira; Rosana Filomena Vazoller; Giuseppe Puorto. Suplentes: Adauto Ivo Milanez; Sandra Farto Botelho Trufem; Ângela Maria Zanon; Eliana Maria Beluzzo Dessen; Marlene Boccatto; Sarah Arana; Edison de Souza; Normandes Matos da Silva; Regina Célia Mingroni Netto; Osmar Malaspina.
Revista do Conselho Regional de Biologia (CRBio-01) Responsável: Comissão de Comunicação e Imprensa do CRBio-01 Editora: Maria Eugenia Ferro Rivera (MTb 25.439) Periodicidade: trimestral Tiragem: 16.000 exemplares Editoração Eletrônica: Mauro Teles
Ano II - Nº 08 - Out/Nov/Dez 2008 Ema em aceiro rebrotado Foto: Alexandre Camargo Coutinho
Fotolito, impressão e acabamento: Rettec Artes Gráficas Fone: (11) 2063-7000 www.rettec.com.br rettec@rettec.com.br
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores e podem não refletir a opinião desta entidade. O CRBio-01 não responde pela qualidade dos cursos divulgados. A publicação destes visa apenas dar conhecimento aos profissionais das opções disponíveis no mercado.
Jan-Fev-Mar/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO 22 Out-Nov-Dez/2008
Editorial.......................................................................... Os serviços do portal do CRBio-01, o convênio de Saúde e comemoração do Dia Nacional do Biólogo são alguns dos assuntos abordados
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Ecos da Plenária ........................................................... O que aconteceu nas 128ª e 129ª Sessões Plenárias do CRBio-01
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Tome nota ...................................................................... Lembretes importantes para os Biólogos
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Acontece........................................................................ Notícias em destaque relacionadas ao CRBio-01 e aos Biólogos
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EXPOPRAG 2008 ......................................................... A participação do CRBio-01 no maior evento da América Latina do setor de controle de vetores e pragas urbanas
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Três de Setembro ......................................................... Homenagens ao Dia do Biólogo e a campanha publicitária promovida pelo Sistema CFBio/ CRBios
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Publicações ................................................................... Lançamentos de livros de interesse aos Biólogos
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Agenda .......................................................................... Divulgação dos eventos científicos no Brasil e no exterior
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Do Arquivo do Biólogo ................................................... Seção que publica fotos curiosas e interessantes clicadas por Biólogos
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Especial ......................................................................... O Biólogo e as Unidades de Conservação, artigo assinado pelos Biólogos Dr. Leopoldo Magno Coutinho e Dra. Lilian Beatriz Penteado Zaidan
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Museu ............................................................................ Conheça o Museu de História Natural de Taubaté, entrevista com o Dr. Herculano Alvarenga
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Na Mídia ........................................................................ Sancionada Lei Arouca, Estado de São Paulo divulga sua lista de fauna ameaçada
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Em Foco ........................................................................ Projeto Rondon: Exercício de Cidadania, entrevista com a Bióloga Viviane Aparecida Rachid Garcia
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EDITORIAL Caros Biólogos: Iniciamos este Editorial com um convite. Visitem o portal do CRBio-01! Além da legislação pertinente e informações de interesse dos Biólogos, vários serviços foram colocados online, destacando-se dentre eles o registro de ART via eletrônica, cuja procura aumentou porque, acreditamos, está atendendo às necessidades dos profissionais Biólogos. Para acessar a Área Privativa, ou obter informações específicas, é necessário utilizar a senha enviada via correios a todos os registrados ativos. Gostaríamos de conhecer a opinião de cada um a respeito do novo portal. Utilizem o Fale conosco ou preencham o campo da Enquete. Chamamos a atenção dos Biólogos para o convênio assinado com a operadora Medial Saúde visando a prestação de serviços na área da saúde e destinado aos Biólogos inscritos e suas famílias, com direito a vários benefícios exclusivos, incluindo econômicos. Verifiquem! Comparem! Entre as várias atividades desenvolvidas por este Regional destacamos a sua atuação na comemoração do Dia Nacional do Biólogo, participando de campanha publicitária nacional organizada pelo sistema CFBio/CRBios. Não poderíamos deixar de mencionar a nossa já tradicional participação na EXPOPRAG, este ano na sua sétima edição. Também, dentro dos parâmetros estabelecidos e já citados aqui, está sendo montado o programa do 19º Congresso de Biólogos do CRBio-01. Acrescentamos que o Prêmio Painel outorgado na cerimônia de encerramento do evento receberá o nome da Bióloga Dra. Bertha Lange de Morretes, doadora dos recursos para a premiação dos trabalhos. Ao encerrar este editorial não poderíamos deixar de mencionar os nossos votos de um Feliz Natal aos Biólogos e suas famílias e que o ano de 2009 seja portador de boas novas, muita saúde, paz e sucesso no campo profissional. Até a próxima oportunidade! A Diretoria do CRBio-01
Antes de Emitir a 1ª ART Consulte o CRBio-01! 2008 2 2008 2008 008 20 2008 08 200 2008 82 2008 008 20 2008 08 200 2008 82 2008 008 20 2008 08 200 2008 82 2008 008 20 2008 08 200 2008 8 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008
LEMBRE-SE QUE O TRT DEVE SER RENOVADO ANUALMENTE!
Toda a Legislação do Mudou de Endereço? Mantenha o seu endereço atualizado. Informe a Secretaria do CRBio-01 quando mudar de endereço, ou quando houver alteração de telefone, CEP ou e-mail.
Biólogo está disponível no Portal do CRBio-01: www.crbio01.org.br O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 3
ECOS DA PLENÁRIA A 128ª Sessão Plenária realizada em 08/08/08 tratou de assuntos entre os quais destacam-se sugestões para elaboração de Resolução reformulando as áreas de atuação dos Biólogos. Foi comunicado o início da parceria com a DIVICOM Administradora de Saúde: 1º de setembro, em comemoração ao Dia Nacional do Biólogo, 03/09/08. Por meio deste convênio o Biólogo, em dia com suas obrigações perante o CRBio-01 (ativo/ regular), poderá adquirir plano de Saúde da operadora Medial, com vários benefícios inclusive abatimento de cerca de 30% na mensalidade. A Plenária homologou 227 novos registros, sendo 154 definitivos e 73 provisórios, 29 reativações de registro, 39 cancelamentos; seis Biólogos solicitaram transferência para o CRBio-01 e idêntico número foi transferido para outros CRBios. Foram concedidos três títulos de especialista, três solicitações foram negadas e uma colocada em instrução; nove solicitações de Termos de Responsabilidade Técnica foram aprovadas, bem como o registro e/ou cadastro
de pessoa jurídica correspondente. A Comissão de Ética propôs, e a plenária aprovou, a conversão da pena de suspensão para pena de cancelamento do registro de 104 Biólogos. A plenária referendou a aprovação do Balancete do 2º trimestre de 2008 e a 1ª reformulação do Orçamento de 2008 do CRBio-01. A 129ª Plenária ocorreu no dia 3 de outubro de 2008 e tratou, inicialmente, da participação do Conselho na sétima edição da EXPROPAG, realizada de 20 a 22 de agosto em São Paulo. A presidência detalhou as providências tomadas visando a modificação de legislação que restringe a atuação de Biólogos na poda de árvores e concessão de responsabilidade técnica em análises clínicas. Foram mobilizadas autoridades municipais, estaduais e federais, dos três poderes. Na Ordem do Dia foram homologadas 257 inscrições de pessoa física, sendo 193 definitivas e 64 provisórias, e reativados 30 registros. Além disso, o CRBio-01 recebeu cinco registros transferidos de outros CRBios. Por outro lado, foram cancelados 42 registros e 15 Biólogos foram transfe-
ridos para outros Regionais. Três solicitações de títulos de especialista foram aprovadas, duas negadas e uma encontra-se em instrução. Sete pedidos de termos de responsabilidade técnica foram concedidos e um foi negado. A plenária aprovou a substituição, a pedido, do Delegado Regional do Mato Grosso, Dr. Normandes Matos pela Profa Márcia Nassarden de Abreu, em virtude da transferência do primeiro para outro CRBio a fim de assumir cargo público. Foram aprovadas a denominação do Prêmio Painel: “Prêmio Dra. Bertha Lange de Morretes” e a alteração dos valores para R$ 1.000,00 (1º colocado), R$ 600,00 (2º colocado) e R$ 400,00 (3º colocado). A plenária discutiu alguns parâmetros para o 19º Congresso de Biólogos do CRBio-01 - 19º ConBio - a ser realizado no período de 18 a 21 de julho de 2009, no Estado de São Paulo; as inscrições serão feitas antecipadamente e somente via internet; realização de um “Fórum de coordenadores de cursos de Ciências Biológicas”, além de atividades específicas para profissionais e graduandos.
TOME NOTA O Novo Portal do CRBio-01 Já Está no Ar! Acesse:
www.crbio01.org.br
ATENÇÃO! Biólogos que prestam serviços como autônomos para o DEPRN É obrigatório o registro de Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, junto ao CRBio-01, referente aos Laudos Técnicos de Vistorias elaborados no bojo dos processos de Licenciamento e de Autos de Infração Ambiental.
ATENÇÃO BIÓLOGOS! De acordo com a Resolução n.º 11 de 05 de julho de 2003 o registro de ART deve ser solicitado em até 30 dias do início das atividades. Desde 19 de novembro de 2007 é permitido, a partir da edição da Resolução n.° 126 da mesma data, o registro de ARTs atrasadas e retroativas mediante o pagamento de multa e da taxa de registro. 44 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
CRBio-01 e Revista Terra da Gente A Terra da Gente é a revista brasileira de conservação ambiental e tem como base a agenda positiva. Sua proposta é mostrar a biodiversidade brasileira, a fauna, a flora e o uso sustentável do meio ambiente. Com altíssimo padrão gráfico e editorial, Terra da Gente é mensal e possui tiragem de 25.000 exemplares, distribuídos em todo o país. O CRBio-01 firmou uma parceria com a Revista Terra da Gente, e a partir de agora, todos os Biólogos inscritos têm condições especiais na assinatura da revista. Confira as opções de assinatura no site do CRBio-01: www.crbio01.org.br
ACONTECE
USP homenageia os 80 anos do Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo
O Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo
O Centro de Interunidade de História da Ciência da Universidade de São Paulo (CHC/USP) prestou homenagem ao Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo pelos seus 80 anos de idade. A cerimônia aconteceu no dia 27 de agosto na Sala do Conselho Universitário da Reitoria da USP. As diversas vertentes da carreira
do Dr. Fidalgo foram destacadas nos pronunciamentos dos convidados: Dr. Ruy Alberto Corrêa Altafim (Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária/ USP), Dra. Lilian Zaidan (Instituto de Botânica), Dr. Júlio Roberto Katinsky (FAU/USP), Dr. Horácio Santana Teles (Presidente da APqC), Maria Cecília Tomasi (Instituto de Botânica), Dra. Olga Yano (Instituto de Botânica) e Dra. Elisabete Aparecida Lopes (representando o CRBio-01). No seu discurso, Dr. Fidalgo recordou e compartilhou com os presentes os momentos marcantes da sua trajetória profissional e citou aqueles que o inspiraram na construção da sua história pessoal. Formado em História Natural pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (RJ); Doutor pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), Dr. Oswaldo Fidalgo foi um grande incentivador do estudo da Micologia no Brasil e contribuiu para a formação de inúmeros
pesquisadores nessa área. Ex-Diretor do Instituto de Botânica de São Paulo (1969-1972), atuou no desenvolvimento da instituição e auxiliou na organização de múltiplas seções e no aperfeiçoamento do corpo técnico. Participou da luta pela regulamentação da profissão de Biólogo e da implantação da carreira de pesquisador científico. Exerceu a vice-presidência da Associação de Pesquisadores Científicos – APqC (1978-1979) e foi Conselheiro e Vice-Presidente do CRBio-01 (1995-1997). No Centro de Interunidade de História da Ciência da USP fez parte da equipe multidisciplinar de entrevistadores dos expoentes da Ciência no Brasil. É casado com a artista plástica Carmen Zocchio Fidalgo, que durante 30 anos foi ilustradora do Instituto de Botânica. Atualmente, o casal dedica-se ao Espaço Oficina, local onde são oferecidos cursos de aquarela botânica e onde mantêm um belo orquidário.
Biólogos participam de reportagem da TV Câmara sobre poda de árvores
O IPESSP,
Foto: M. E. Rivera
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saúde humana, agora colaborando
com a saúde
do planeta.
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Em 19 de setembro, os Biólogos Dra. Sandra Farto Botelho Trufem (Conselheira do CRBio-01), Eduardo Martins (Ecos Brasil), Sandra Rossino (Instituto de Botânica), a paisagista Carla Ferreira Martins (Ecos Brasil) e o vereador Adilson Amadeu gravaram entrevista para o “Jornal da Câmara” da TV Câmara do Município de São Paulo (TV a Cabo canal 12 – Net canal 13 e TVA canal 9) sobre o corte e a poda de árvores na cidade. Na reportagem, os Biólogos percorreram ruas do Ipiranga mostrando e explicando as graves conseqüências ocasionadas por podas mal executadas e pelo plantio de espécies de árvores inapropriadas para as calçadas. A legislação municipal sobre o assunto também foi discutida.
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O Biólogo Eduardo Martins sendo entrevistado
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Imunologia • Toxicologia r Tempo po Hematologia e Hemoterapia 40% Biotecnologia • Imunogenética Matutino Manejo de Fauna Silvestre 25% com Ênfase em Conservação a tNoturno 8 é2 • Citologia Clínica • Gestão Ambiental 0. 1 2 . 0 • Análises Clínicas Humana e Veterinária • Biologia Molecular • Microbiologia Clínica • • • •
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ACONTECE Vereador Adilson Amadeu propõe alteração na lei que disciplina o corte e a poda de árvores Foto: M. E. Rivera
O vereador Adilson Amadeu (PTBSP) enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei 624/07 que altera a redação da Lei 10.365, de 22 de setembro de 1987, que disciplina o corte e a poda de vegetação de porte arbóreo existente no Município de São Paulo. Essa alteração da lei vai proporcionar aos profissionais Biólogos o direito legal de atuar em atividades perfeitamente identificadas com sua formação, qual seja o corte, a poda e a remoção de vegetação de porte arbóreo, atividades regulamentadas pela Lei 10.365/87. Segundo o vereador Amadeu “O Biólogo por sua formação científica é um profissional notoriamente competente para atender as exigências previstas na Lei 10.365/87 que
envolve vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico sobre a supressão, o corte e a poda de vegetação de porte arbóreo. Uma vez aprovado o PL 624/07, a população terá uma nova opção de profissionais realizando essas atividades, o que ampliará os serviços de poda na cidade de São Paulo, contribuirá para a prevenção de acidentes e diminuirá o tempo de espera para realização desses serviços, que hoje ultrapassa até dois meses de espera para atendimento”. O Projeto de Lei 624/07 está tramitando pelas Comissões e o vereador espera que após aprovação pelo plenário da Câmara Municipal, seja sancionado pelo prefeito.
Àrvore inadequada para calçada
Deputado Capez discursa na Tribuna da Assembléia Legislativa sobre a importância da emissão de laudos pelos Biólogos para poda de árvores Durante sessão da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, realizada em 05 de setembro, o deputado Fernando Capez (PSDB), atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, fez um discurso incisivo em favor da inclusão dos Biólogos na Lei Municipal n.º 10.365/87 como profissionais autorizados a trabalharem com o corte e poda de vegetação de porte arbóreo no Município de São Paulo: “Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, gostaria de falar sobre uma lei que não é estadual: a Lei Municipal n. 10.365/1987. Ela é injusta. Estamos ocupando esta tribuna para sensibilizá-los. Estamos fazendo um trabalho com os nossos colegas vereadores para que essa lei injusta e corporativista seja revogada. É uma lei que excluiu a categoria dos Biólogos do direito de exercer uma parte muito importante de suas funções, e que teria imensa utilidade para a população. Temos hoje em São Paulo quase 3.000 árvores doentes, mortas, prestes a cair, esperando apenas a próxima chuva, para provocar uma tragédia. Estão com seus galhos crescendo em direção à fiação elétrica, aos postes de
iluminação, podendo também causar um acidente. O grande número de Biólogos que existe em São Paulo e que estaria capacitado, até pela sua própria formação profissional, para emitir e assinar o laudo que autoriza a poda de uma árvore doente não pode fazê-lo. Foi alijado do exercício de suas funções. O argumento é que Biólogo não entende de árvore. Vai entender, então, do quê? Siderurgia? De ferro? Chega a ser intrigante. Por que uma determinada categoria profissional é beneficiada exclusivamente com uma função que nem é típica de seu conhecimento profissional? E os Biólogos, com sua formação, com seu preparo, podendo emitir o laudo e assiná-lo, são alijados. Esperamos realmente que haja uma mudança. Procuramos o Vice-Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o Vereador Adilson Amadeu, que já tem um trabalho iniciado com os Biólogos, para que essa situação tenha um fim. Foi apresentado um projeto que me parece óbvio, permitindo que os Biólogos desempenhem sua função profissional atinente ao seu campo de conhecimento específico e possam emitir os laudos autorizando a
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poda dessas milhares de árvores doentes que ameaçam crianças, pessoas, veículos, imóveis e animais por toda a cidade. Temos absoluta confiança. O Presidente do Conselho Regional de Biologia da 1ª Região, Dr. Wlademir João Tadei, pode ficar tranqüilo, pois o trabalho está sendo feito, e feito com responsabilidade. O interesse específico de uma categoria profissional não pode suplantar o interesse público. É importante que as pessoas defendam suas corporações, seus sindicatos, mas isso jamais pode ser colocado como prioridade. Alguém entende por que um Biólogo não pode emitir um laudo autorizando a poda de uma árvore doente? No Brasil inteiro pode, só na cidade de São Paulo que não. Isso causa uma justa revolta nos profissionais, que se vêem impedidos, de maneira injustificável, de exercer sua função, e há prejuízos para a população. Que seja, portanto, revogada essa lei municipal que proíbe os Biólogos de emitirem laudos autorizando a poda das árvores e que eles possam voltar a fazê-lo como sempre o fizeram. Sr. Presidente, quero cumprimentar a categoria dos Biólogos, parabenizando-os por todo o serviço que têm prestado a nossa sociedade.”
EXPOPRAG 2008 O CRBio-01 marca presença na EXPOPRAG 2008 Fotos: M. E. Rivera
No estande do CRBio-01, o Conselheiro Giuseppe Puorto, o Vice-Presidente Executivo da APRAG Sérgio Bocalini, o Presidente do CRBio-01 Dr. Wlademir Tadei, Conselheira Sandra F. B. Trufem e os auxiliares administrativos William dos Santos e Elza Koyama Araujo
Entre os dias 20 e 22 de agosto, foi realizado no Pavilhão do ITM Expo em São Paulo, a sétima edição da EXPOPRAG, o maior evento da América Latina voltado ao controle integrado de pragas urbanas. Pela quarta vez consecutiva, o CRBio-01 esteve presente como expositor e teve a oportunidade de divulgar o seu papel como órgão fiscalizador e regulamentador e promover a classe profissional dos Biólogos. O evento que congregou a Feira Internacional de Produtos e Serviços para Controle de Vetores e Pragas Urbanas, e o Congresso Internacional de Controle de Vetores e Pragas registrou números recordes. Realizada pela APRAG – Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas, a feira atraiu cerca de 3.000 visitantes, que puderam conferir de perto as novidades em serviços e produtos apresentadas pelos mais de 30 expositores. Além dos visitantes da feira, mais de 900 pessoas participaram do congresso e dos cursos técnicos, ministrados paralelamente à exposição. Esta edição teve como tema o “Controle Integrado de Pragas Urbanas – O Profissional na Era do Desenvolvimento Sustentável” e exibiu durante a feira o que há de mais moderno em produtos e serviços no setor, e no congresso debateu tópicos atuais e importantes sobre
reciclagem, formação e atualização do profissional. Carlos Watanabe, presidente da APRAG, avaliou o evento de forma bastante positiva. “Foi extremamente positivo. Pelo resultado alcançado, pelo número de participantes no evento e pela mensagem de reforçar o momento associativo”, enumera. Além disso, Watanabe reforçou como resultado desta edição o anúncio feito durante o encerramento do evento que irá concretizar os planos do setor de criar a Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Vetores e Pragas Sinantrópicas – a FEPRAG. O Presidente do CRBio-01, Dr. Wlademir João Tadei, participou da sessão solene de abertura do evento, sentando-se à mesa das autoridades, representando o Conselho e todos os Biólogos que atuam na área. Ele comentou sobre a inserção do Biólogo no campo do controle de vetores e pragas urbanas: “O próprio tema da 7ª EXPOPRAG vem de encontro ao trabalho do Biólogo que é de responsabilidade para com a saúde da população e de preservação do meio ambiente, na medida em que este profissional conhece bem a biologia e o ciclo de vida dos organismos envolvidos. O monitoramento das pragas possibilita delinear a ação e permite a seleção dos métodos apropriados de manejo”.
No estande do CRBio-01, os visitantes receberam pasta com material de divulgação especialmente preparada para o evento, e foram recepcionados por Conselheiros e funcionários que prestaram esclarecimentos sobre como fazer o registro de pessoa física e jurídica, como obter o termo de responsabilidade técnica (TRT) e a importância da atuação do Biólogo nesse setor. A novidade do estande do CRBio-01 foi a exposição de terrário com filhote de jibóia, cedido pelo Instituto Butantan e devidamente autorizado pelo IBAMA, e que atraiu muitos curiosos. O controle de vetores de pragas urbanas é um mercado em ascensão, em constante aprimoramento e cada vez mais exigente. O Biólogo é o profissional com o aporte científico necessário e a habilitação legal para atuar com segurança e competência nessa área.
Carlos Watanabe, Dr. Tadei e Sérgio Bocalini
Entrada do evento
Atendimento no estande do CRBio-01
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3 DE SETEMBRO
Deputado Estadual Edmir Chedid faz requerimento em homenagem ao Dia Nacional do Biólogo Durante sessão na Assembléia Legislativa de São Paulo, em 10 de setembro, o deputado estadual Edmir Chedid (DEM) lembrou o Dia do Biólogo, em um requerimento especial de congratulação pela passagem da data: “A profissão de Biólogo foi regulamentada pela Lei n.º 6.684, de 3 de setembro de 1979, razão pela qual esta data passou a ser dedicada às homenagens que se presta a este profissional e às quais eu tenho muita honra em me juntar. No campo das Ciências Naturais, as diversas áreas das Ciências Biológicas são cada vez mais requerida pelas sociedades humanas. No campo das Ciências Humanas o Biólogo
tem lugar cativo nos grupo multi e interdisciplinares sendo imprescindível sua presença como educador em vários contextos da atuação profissional. Sendo o Biólogo um profissional “da vida”, sua atuação é fundamental especialmente na produção agrícola e industrial, no controle de pragas, na preservação ambiental, no manejo da biodiversidade, da bioprospecção, da biossegurança, da engenharia genética, da parasitologia e muitos outros campos de interesse para a formulação de políticas públicas em busca da melhoria da qualidade de vida. No Brasil os problemas ambientais emergentes do sistema econômico em vigor são muitos e em escala
Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul congratula Biólogos A Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul aprovou a Moção de Congratulação aos Biólogos do Estado, pela passagem do Dia Nacional do Biólogo, apresentada pelo deputado Amarildo Cruz (PT), que ressaltou: “O Biólogo, estudioso dos fenômenos da vida e dos seres vivos, cumpre importante papel em nossa sociedade, sendo indispensável à saúde pública e contribuindo para o bem estar da população e o desenvolvimento econômico de nossa região.” ANUNCIE NA REVISTA
“O BIÓLOGO” Consulte tabela de preços no Portal do CRBio-01: www.crbio01.org.br 8 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
cada vez maiores. As enchentes, o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio, os desequilíbrios ecológicos decorrentes de várias causas, a extinção de numerosas espécies de seres vivos, são apenas um pequeno sinal de que a intervenção dos Biólogos é cada vez mais exigida na busca incessante de soluções. Cabelhes satisfazer a demanda por novos produtos e enfrentar os desafios da prestação de serviços cada vez mais avançados. Hoje, mais do que nunca, o exercício da profissão de Biólogo se constitui em exercício constante de cidadania e por isso eu parabenizo toda a imensa categoria desses profissionais.” Sala das Sessões, em 10/09/2008 Edmir Chedid
3 DE SETEMBRO
Sistema CFBio/CRBios lança campanha publicitária para comemorar o Dia Nacional do Biólogo Para comemorar o Dia Nacional do Biólogo – 3 de setembro, o Sistema CFBio/CRBios promoveu uma ampla campanha publicitária. O CRBio-01 participou nas capitais dos Estados sob sua jurisdição, utilizando duas artes elaboradas para esta campanha por uma agência de publicidade, em dois tipos de mídia: painel de estação de Metrô e busdoor (adesivo de vinil aplicado na parte superior traseira de ônibus circular). Na capital paulista, durante um mês foram expostos 10 painéis em cinco estações do Metrô. As estações: Liberdade, Clínicas, Barra Funda, República e São Judas foram estrategicamente escolhidas por terem grande circulação de pessoas. Em Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT) foram utilizados 15 busdoor em cada cidade, que circularam pelas principais ruas e avenidas. Com a campanha, que teve duração de 30 dias, o CRBio-01 objetivou homenagear o Biólogo e, também, divulgar junto à sociedade este profissional essencial para o desenvolvimento do país.
Foto: Monica Viana
Estação República do Metrô
Foto: M. E. Rivera
Busdoor em Campo Grande (MS)
Estação São Judas do Metrô
Busdoor em Cuiabá (MT)
CONVOCAÇÃO AOS BIÓLOGOS INSCRITOS NO CRBIO-01: A Questão das Análises Clínicas no Estado de São Paulo O Conselho Regional de Biologia – 1ª Região obteve duas importantíssimas vitórias em ações judiciais, que consagraram o reconhecimento da competência do Biólogo para exercer as atividades ligadas às análises clínicas e a assunção de responsabilidades técnicas pelos Laboratórios Clínicos Autônomos e Unidades de Laboratórios Clínicos. As ações judiciais em questão devolvem ao mundo jurídico a Portaria
CVS-01, de 18 de janeiro de 2000, que em seu item IV.2.3 dispõe que os Biólogos estão habilitados a assumir as responsabilidades técnicas pelos Laboratórios Clínicos Autônomos e Unidades de Laboratórios Clínicos determinando a invalidação da Portaria CVS-13/2005, que retirava dos Biólogos esta possibilidade, e, ainda, que a CVS proceda à renovação de todos os pedidos de licença feitos por Biólogos desde 04 de novembro de 2005, agora com base na Portaria CVS-01/2000.
Portanto, CONVOCAMOS todos os Biólogos que tiveram seus pedidos de licença para assunção de responsabilidade técnica por laboratório de análises clínicas negados ou indeferidos pelos Centros de Vigilância Sanitária a renovar esta requisição, de forma a fazer valer seu direito agora reconhecido judicialmente, entrando em contato com o CRBio-01 para efeitos de cadastramento para acompanhamento do cumprimento da decisão judicial em questão por parte do Centro de Vigilância Sanitária.
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PUBLICAÇÕES MANUAL DESCOMPLICADO DOMÉSTICO DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS Lucia Schüller Editora All Print 199 p. O objetivo deste livro é oferecer ferramentas e informações que permitam que o leitor possa analisar melhor uma situação de infestação de alguma praga e tomar medidas de forma mais cautelosa e mais permanente sem a utilização exagerada de produtos químicos. Conhecer melhor esses animais que de forma extraordinária têm acompanhado o homem em seu processo evolutivo é premissa básica para se obter um controle eficaz e seguro. Preço: R$ 30,00
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CADERNOS DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA – INSTITUTO BUTANTAN Vol.3 – Número 1 – Janeiro / Junho 2007 Década de 80: O Programa de Autosuficiência em Imunológicos e o SUS Laboratório Especial de História da Ciência 223 p. “O tema central deste número foi escolhido em função da retomada atual da discussão pelo Ministério da Saúde das questões pertinentes à política de ciência e tecnologia e inovação, numa óptica de desenvolvimento nacional. Neste sentido, a década de 80 tem significados importantes para o tema pelas mudanças políticas, econômicas e sociais ocorridas e a definição de alguns marcos importantes para a saúde, e, em especial, para instituições de pesquisa e produção de imunobiológicos.” Comissão Editorial E-mail: lhciencia@butantan.gov.br
ÁRVORES FRUTÍFERAS EXÓTICAS Gil Felippe Editora Sarandi 64 p. Neste livro, o autor, o Biólogo Gil Felippe apresenta 20 árvores exóticas, mostrando seus frutos, cores, formas, texturas, aromas e sabores. Em linguagem acessível são introduzidos conceitos de metodologia científica, taxonomia, morfologia e anatomia vegetal, além de fatos históricos, origens dos nomes populares, curiosidades e receitas envolvendo os frutos abordados. Preço de capa: R$ 48,00 www.livrariaconceito.com.br
SIMPSONNICHTYS E NEMATOLEBIAS Dalton Tavares Bressane Nielsen Cabral Editora e Livraria Universitária 235 p. Os Simpsonnichthys e as Nematolebias são considerados os mais belos peixes de água doce, chegando a concorrer com os peixes marinhos de corais. Este livro aborda a morfologia, alimentação, comportamento reprodutivo, reprodução no cativeiro, doenças, sistemática, distribuição geográfica, ecologia e classificação dessas duas espécies de peixes. Preço de capa: R$ 60,00 www.livrariaconceito.com.br
10 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
AGENDA XVIII ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA Data: 25 a 30 de janeiro de 2009 Realização: Sociedade Brasileira de Ictiologia e Universidade Federal de Mato Grosso Local: Campus de Cuiabá da UFMT, Cuiabá, MT Informações: www.xviiiebi.com.br/
XLV CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL Data: 08 a 12 de março de 2009 Realização: Sociedade Brasileira de Medicina Tropical Local: Centro de Convenções, Olinda, PE Informações: www.medtrop2009.com.br
I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE ANIMAIS Data: 11 a 13 de março de 2009 Realização: SBERA e EMBRAPA Local: Florianópolis, SC Informações: www.cnpsa.embrapa.br/sigera/
39ª JORNADA PAULISTA DE RADIOLOGIA CONGRESSO FRANÇA-AMÉRICA LATINA DE RADIOLOGIA Data: 30 de abril a 03 de maio de 2008 Realização: Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Local: Transamerica Expo Center, São Paulo, SP Informações: www.spr.org.br
AVISTAR 2009 Data: 21 a 24 de maio de 2009 Realização: Avistar Brasil Local: Parque Villa Lobos, São Paulo, SP Informações: www.avistarbrasil.com.br
61ª REUNIÃO DA SBPC Data: 12 a 17 de julho de 2009 Realização: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência Local: Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, AM Informações: eventos@sbpcnet.org.br
ARQUIVO DO BIÓLOGO A fotografia faz parte da rotina de trabalho de muitos Biólogos. Esta seção da Revista publica fotos curiosas, interessantes, significativas e inusitadas da fauna, da flora, e de paisagens, captadas por Biólogos.
Maritaca iniciando construção de ninho às margens da BR 419, no trecho Rio Negro (MS) - Pantanal.
Foto da Bióloga Elizangela Maria dos Santos Arruda, moradora de Rio Negro (MS) e que trabalha em projetos de proteção ao meio ambiente através da APREMARINE (Associação de Preservação do Meio Ambiente de Rio Negro - MS). O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 11
ESPECIAL
O Biólogo e as Unidades de Conservação Leopoldo Magno Coutinho e Lilian Beatriz Penteado Zaidan
Casal de veado-campeiro. Foto: Alexandre C. Coutinho
Segundo dados divulgados pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), num site com data de julho de 2008, o Brasil possui 299 Unidades de Conservação (UC), incluindo-se entre elas 56 Reservas Extrativistas, com uma área de 11,92 milhões de ha, 65 Florestas Nacionais, com 19,59 milhões de ha e 63 Parques Nacionais, com 24,40 milhões de ha. Se considerarmos todas as categorias de UC chega-se a uma área total de 77,23 milhões de ha, ou seja, cerca de 9% do território nacional. Sendo esses dados confirmados, é uma área significativa, equivalente a aproximadamente metade do estado do Amazonas. Segundo outras fontes, as UC têm dimensões variadas, desde 3.882.121ha, como a das Montanhas de Tumucumaque, no PA/AP, a do Jaú, no AM, com 2.272.000ha, a do Pico da Neblina, no AM, com 2.200.000ha, até unidades pequenas, como a de Jericoacoara, no CE, com 6.295ha. Considerando-se a distribuição latitudinal de nosso país, sua diversidade climática, geológica e pedológica, bem como a sua biodiversidade, em termos específicos e de formações ou biomas, enfim, sua diversidade de “ambientes”
naturais que devem ser conservados, acreditamos que há muita UC para ainda ser criada. A porcentagem de área conservada como UC não deve nos impressionar em demasia. O que realmente importa é a porcentagem da diversidade protegida nessas UC. Além disso, as UC existentes estão mal protegidas ou conservadas, com falta de pessoal, gerenciamento, material, instalações adequadas a seus funcionários, sem dizer aos seus visitantes. É até mesmo difícil fazer um contato com tais unidades, para se conseguir autorização para visitação. Não se trata de uma “política” conservacionista, mas de falta de gerenciamento adequado. Segundo a mesma fonte do ICMBio, de julho de 2008, 82 (29%) UC não possuem um gestor, 173 (57%) não têm fiscais lotados, 226 (76%) não possuem planos de manejo e, diga-se de passagem, quando os possuem nem sempre seus chefes ou diretores os obedecem. Dividindo-se a área total das UC pelo número total de servidores, conclui-se que caberia a cada servidor cuidar da conservação de 47.235 ha. O próprio Ministro Carlos Minc reconhece que “É um quadro triste, inaceitável e insustentável.”. Segundo ele, grandes modificações serão realizadas pelo atual
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governo nesse quadro. Tomara! Vamos aguardar. Mas iremos fiscalizar e cobrar também. Como o ICMBio tem uma Ouvidoria, mas esta não tem uma forma institucionalizada para receber reclamações, sugestões, descobrimos alguns endereços eletrônicos que poderemos eventualmente utilizar (veja ao final do texto e anote para quando precisar). Talvez por estas razões, em parte, as atuais UC estão literalmente isoladas do público, com exceção de Iguaçu, no Paraná, e Tijuca, no Rio de Janeiro. Em muitas faltam estradas, luz, telefone, internet, veículos, combustível etc., etc. Isto pode ser positivo por um lado, pois assegura de certa forma sua conservação como um ambiente natural. Por outro, Foto: Marcos E. L. Lima
Dr. Leopoldo Magno Coutinho e Dra. Lilian Zaidan
ESPECIAL isto é negativo, pois inviabilizando sua visitação, estas unidades não cumprem integralmente seu papel, não conseguem ter nenhum rendimento financeiro próprio, ficando totalmente dependentes de verbas públicas. E estas, como se depreende, são bem curtas. Não sendo visitadas, ficam desconhecidas e fora da crítica do contribuinte. Ninguém está a par do que se passa por lá, quanto às suas condições físicas e biológicas. Convenhamos, entretanto, que nos falta, a nós Biólogos, um pouco de coragem e mesmo de espírito aventureiro para enfrentar as enormes distâncias e as más condições de estradas, de instalações, de gerenciamento, etc. Se relevarmos um pouco isso tudo, encontraremos nesses parques um verdadeiro paraíso para aquele que escolheu a profissão de Biólogo, ao se decidir no momento do vestibular. Por outro lado, poderemos fiscalizar essas entidades públicas, o descaso existente por parte de governantes, a falta de manejo de tais áreas, ou seu manejo inadequado por aqueles que as gerenciam e propor soluções. É extremamente importante que os Biólogos visitem essas UC, seja como professores ou estudantes dos cursos de Biologia, seja como profissionais de Bio-
logia. Universidades, Institutos de Ensino e de Pesquisa, ONGs devem incentivar essa visitação, criando facilidades para que isso aconteça. Os Biólogos não devem ser apenas os “intérpretes da vida e da biodiversidade”, mas sim os seus “defensores” e os “fiscais” daqueles que detêm o poder para assegurá-las. Contemplar a natureza, deleitar-se, exultar-se com ela, exaltá-la, sem dúvida são ações por vezes apaixonantes. Mas isto não basta. Em primeiro lugar é preciso conhecê-la “in loco”, não apenas nos livros e vídeos, é preciso marcar presença, monitorar, apontar erros e deficiências em sua conservação, reclamar, fazer movimentos objetivos e diretos para sua conservação, propor soluções, cobrar sua implementação. Afinal, a diversidade, no seu sentido mais amplo, é o encanto da vida. Ela é a antítese da mesmice, da monotonia, do tédio. O Parque Nacional das Emas (PNE): análise de um caso Na Semana da Pátria passada tivemos a oportunidade de visitar o Parque Nacional das Emas, a maior reserva de cerrado do país, com pouco mais de 132.000 ha.
Este Parque fica no sudoeste de Goiás, a 1.000km de São Paulo. Éramos um grupo de 15 pessoas, sendo 10 alunos de pós-graduação. Para ali chegar, pega-se a Rodovia Bandeirantes, depois a Washington Luiz, passando por Rio Claro, São Carlos, São José do Rio Preto, Votuporanga, Fernandópolis, Jales, até a ponte que atravessa o rio Paraná e chegar a Aparecida do Taboado, já no Mato Grosso do Sul. Ao longo deste trecho de pouco mais que 600 km é interessante observar como o uso da terra vai mudando, à medida que nos dirigimos rumo ao interior. Depois de passar por extensas áreas de canaviais e laranjais, chama-nos a atenção a cultura da seringueira (Hevea brasiliensis), ou árvore da borracha, de origem amazônica, mas bem adaptada à região do noroeste paulista. Uma paradinha e podemos ver como se extrai o látex dessa árvore. Embora o clima aqui seja tropical, com chuva de verão e seca de inverno, não tão úmido e chuvoso quanto o clima equatorial da Amazônia, esta espécie consegue crescer e ter alta produção de látex. Já do lado de MS, seguimos para Parnaíba, Cassilândia, Chapadão do Sul e Chapadão do Céu, até aqui em estradas
“Inviabilizando sua visitação, as UCs não cumprem integralmente seu papel”
Rio Formoso Foto: Leonardo R. S. Guimarães
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ESPECIAL Foto: Alexandre C. Coutinho
Fêmea de veado-campeiro
asfaltadas. De Chapadão do Céu até o PNE, já no Estado de Goiás, são 30 km de estrada de terra. Foram aproximadamente 12horas de viagem, numa Van, com tempo para almoçar, à altura de São José do Rio Preto. Chegando ao Parque, fomos recebidos cordialmente pelo chefe do PNE, Engenheiro Eletricista Marcos Cunha (pnemas@gmail. com), e pela sua auxiliar Bióloga Flávia Batista, com quem havíamos mantido contatos por e-mail para obter a autorização para visita e alojamento. O Parque possui condições básicas para alojar visitantes, pesquisadores e estudantes, além de sala de aulas, cozinha e sanitários. Os mantimentos para alimentação, materiais de higiene, limpeza e roupas de cama e banho devem ser levados pelo visitante. Eventualmente é possível contratar-se uma pessoa local para os serviços de cozinha. Há energia elétrica (220V), chuveiro quente, beliches, colchões e condições para instalar equipamentos como computadores, data-show etc. Uma vez alojados, permanecemos no PNE por cinco dias, percorrendo cerca de 500 km por suas estradas de terra, com o fim de conhecê-lo. É sempre bom lembrar que no verão chove muito e as estradas de terra ficam, por vezes, intransitáveis. Julho, agosto e setembro são os meses ideais, pois não são muito quentes e quase não chove. Além disto é inverno, avizinhando-se a primavera, que é um período de maior atividade dos animais. Também é uma época em que o Parque realiza queimadas para confecção de aceiros, o que nos permite observar essa importante atividade de manejo. Dependendo de há quantos dias eles tenham sido feitos, podemos ver como as plantas rebrotam com grande vigor após o fogo, muitas delas já florescendo. O verde forte dessas faixas de aceiro contrasta com o amarelo-palha das áreas vizinhas,
Foto: Alexandre C. Coutinho
que não foram queimadas. Muitos animais herbívoros concentram-se nas áreas queimadas mais recentemente, atraindo também seus predadores. Ao longo de nossa permanência, pudemos fazer diferentes percursos, como o da ”Lagoa da Capivara”, “Nascentes do Jacuba”, “Cabeceira-Alta” etc. São distâncias longas a percorrer, que tomam todo um período do dia, mas que nos permitem apreciar diferentes fisionomias do cerrado, como o campo limpo, o campo sujo, o campo cerrado e o cerrado sensu stricto, dominados em boa parte por uma gramínea alta, o capim-flecha (Tristachia leyostachia). Árvores e arvoretas tortuosas, com cortiças espessas e enegrecidas por incêndios anteriores, como o pequi (Caryocar brasiliensis), o pau-terra (Qualea sp.), a perobinha-docampo (Aspidosperma tomentosum) e tantas outras, ajudam a caracterizar esta savana. Nas bordas da chapada, topo de vertentes do rio Jacuba, num local conhecido como “Avoador”, pode-se apreciar a imensidão do parque, ali coberto por um bambuzinho amarelo (Filgueirasia arenicola), de grande efeito ornamental. Áreas representantes de outros biomas, como a floresta tropical estacional semidecídua, com gigantescos jatobás-da-mata (Hymenaea stilbocarpa), óleos (Copaifera langsdorfii) e jequitibás (Cariniana legalis), também podem ser visitadas. Uma trilha construída com tábuas largas percorre um trecho da mata ripícola, ciliar ou de galeria, com seus solos muito úmidos, vegetação e flora completamente distintas. Talauma ovata, Tococa sp., Drymis winteri , lianas, orquídeas, aráceas e samambaias diversas são frequentemente encontradas ao longo dessa caminhada. Foto: Alexandre C. Coutinho
Cupinzeiro com as larvas luminescentes de um vaga-lume
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Fêmea de tamanduá-bandeira com filhote
Nas cabeceiras dos ribeirões predominam os buritizais (Mauritia vinifera), margeados pelo bioma dos campos paludosos, encharcados, com seu solo negro, humoso, vegetação e flora característicos, onde encontramos Lycopodium sp., Drosera sp., gramíneas e ciperáceas várias, enfim, um ambiente bastante diverso daquele do cerrado predominante. Co-habitando esses espaços naturais é possível visualizar animais de maior porte, como ema (Rhea americana), veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), anta (Tapirus terrestris), tatú-canastra (Priodontes maximus), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), gavião-casaca-de-couro (Heterospizias meridionalis), urubú-rei (Sarcoranphus papa) e tantos outros mais. Até a onça-parda (Felis concolor) ou a onça-pintada (Panthera onca) podem aparecer, embora muito raramente. É esta fauna de vertebrados de maior porte a grande atração turística do PNE. Se por alguma razão ela se tornar de difícil visualização, a visitação a este parque se reduzirá drasticamente. Entre os invertebrados, chamam-nos a atenção os cupins, pertencentes a diversos gêneros, como Cornitermes, Nasutitermes, Velocitermes e outros, cujos cupinzeiros são estimados em 25 milhões no interior do parque. Ao realizar tais percursos, sempre fomos acompanhados por um guia, funcionário do próprio Parque. Além disso, é muito bom reservar um tempo livre para caminhar pelo entorno da sede, num raio de alguns quilômetros, tomando o cuidado de nunca sair sozinho, mas em grupos de no mínimo três pessoas. Por ser mais silencioso, quando estamos a pé, é possível cruzar com os animais, ouvir
ESPECIAL suas vocalizações, além de encontrar suas pegadas ou outros sinais, como fezes, carcaças, pêlos ou penas, que denunciam sua presença. De dia, ao redor dos alojamentos, podem ser observados bandos de pássaro-preto (Gnorimopsar chopi), mutum-de-penacho (Crax fascicolata fascicolata), papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), quero-quero (Vanellus chilensis), arara-canindé (Ara ararauna), curicaca (Theristicus caudatus) e tantos outros. À noite sempre aparecem alguns animais notívagos, como jaratataca ou cangambá (Conepatus semistriatus), lobinho-docampo (Dusicyon vetulus) e até mesmo bandos de queixadas (Tayassu pecari), que se aproximam à procura de restos de alimentos. Caso alguma chuva já tenha caído, nos meses de outubro e novembro, e mesmo em setembro, é possível ver nos cupinzeiros as famosas “luzinhas” da cor de lâmpadas de neônio, produzidas pelas larvas luminescentes de um vaga-lume (Pyrearinus termitilluminans) que habita pequenos orifícios à sua superfície. Este é realmente um espetáculo que não deve ser perdido. São verdadeiros “edifícios” iluminados à noite. Apesar de todos os seus atrativos, o PNE não é o melhor exemplo de um parque com vocação para o turismo. O PN do Iguaçu, com suas famosas cataratas, tem uma vocação turística muitas vezes maior. É preciso aceitar que cada parque tem suas vocações próprias. O PNE deve ser encarado muito mais como uma reserva de biodiversidade, tanto em nível específico quanto em nível de Bioma. O rio Formoso, que o corta, e o Jacuba, que o contorna
ao norte e a leste, são pequenos rios bem típicos do Brasil Central, com suas águas cristalinas, frias e plantas aquáticas submersas. Neles, pequenas corredeiras e remansos se alternam, possibilitando o banho e a canoagem. Salto de parapentium e balonismo seriam outras atividades esportivas eventualmente possíveis, desde que tomadas as precauções necessárias contra incêndios acidentais. Foto: Paola M. A. Garcia
Rebrotamento de um aceiro queimado há 60 dias
O PNE e alguns de seus problemas de manejo e conservação Quando criado pelo governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, através do decreto 49.874, de 11/01/1961, este Parque tinha como vizinhos antigos criadores de gado que usavam o próprio cerrado como pastagem nativa. Hoje a situação é bastante diversa. Em seu entorno encontramos imensas áreas cultivadas com soja, algodão e outros produtos exportáveis. O PNE é atualmente uma verdadeira ilha de natureza, encravada em meio a áreas destinadas à produção de “commodities” agrícolas, isto é, “dólares”. Como os solos da região de cerrados são ácidos e
Foto: Lilian B. P. Zaidan
pobres nutricionalmente, os produtores utilizam enormes quantidades de calcário para corrigir o pH e enormes quantidades de adubos químicos para elevar sua fertilidade. “Em se adubando...tudo dá”. Só que esse calcário e esse adubo, aplicados ao redor do Parque, acabam por penetrar em suas áreas marginais, carregados pelo vento, podendo alterar aí as condições naturais de distrofismo dos solos. Não bastasse isso, os agricultores muitas vezes fazem a aplicação de inseticidas em suas plantações por meio de aviões agrícolas. Como estas plantações se confrontam diretamente com o Parque, os pilotos manobram seus aparelhos por cima dele, lançando aí restos do produto. O certo seria que tais produtores mantivessem uma faixa de “vegetação tampão”, natural ou cultivada, ao redor do Parque, onde não usassem inseticidas ou qualquer outro produto químico. Todavia, nosso MMA não os obriga a isso, embora esteja previsto na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O confronto direto dos limites traz ainda outro problema: os córregos e riachos que percorrem propriedades particulares podem carregar adubos e inseticidas para dentro do parque, contaminando a água do rio Formoso que atravessa seu interior. Cabe a nós, Biólogos, protestar contra essa situação, exigir de nossos governantes medidas realmente efetivas para conservar nossos parques, mantendoos livres de contaminantes químicos. Isto deveria e teria que ser feito através de moções formalizadas por nossas sociedades científicas, após resoluções tomadas em reuniões plenárias, realizadas ao final de seus congressos científicos. Os limites norte e leste do PNE são parcialmente determinados pelo rio Jacuba. No entanto, a maior parte dos demais limites era estabelecida por uma cerca Foto: Alexandre C. Coutinho
Queimada contra o vento, para alargamento de um aceiro
Pfaffia jubata em flor, trinta dias após uma queimada
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 15
ESPECIAL Foto: Alexandre C. Coutinho
Ema atropelada e morta, à beira da estrada
de arame farpado, de oito fios, doada pela WWF. O objetivo era impedir que os animais atravessassem as rodovias existentes ao redor do Parque, um outro absurdo autorizado pelo nosso Ministério dos Transportes e Ministério do Meio Ambiente. Todavia, a construção dessa cerca trouxe um outro problema. Certos animais, como a ema, ao tentarem sair do parque para se alimentar nas plantações de soja, cheias de lagartas contaminadas por inseticidas tóxicos, se enroscam nos fios de arame e acabam morrendo. O que fazer, então??? Determinou-se aleatoriamente a retirada dos quatro fios de arame inferiores, dos oito existentes. Com isto os animais poderiam passar sem se enroscar. Mas, então, para que a cerca da WWF???? A solução teria que vir após um trabalho de pesquisa que demonstrasse qual o mal menor: mortandade por atropelamento, por contaminação por inseticidas, ou
por enroscamento nos fios de arame? Isso nunca foi avaliado. Coisas assim, no mínimo curiosas, acontecem não apenas no PNE, mas em outras Unidades de Conservação. E nós Biólogos o que fazemos??? Nada!!! Sequer protestamos, porque não visitamos esses parques. Não tomamos conhecimento dos problemas que os afligem. Conseqüentemente não tomamos qualquer atitude contra decisões eventualmente tomadas pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Precisamos visitar esses parques, nos deleitarmos, sim, com sua beleza, sua flora, sua fauna, sem esquecer o que representam para a conservação da biodiversidade que encerram. É por isso que devemos fiscalizá-los, apontar suas falhas, exigir que consultem especialistas no assunto, antes de tomar medidas incoerentes e cobrar dos governantes uma efetiva conservação dessa biodiversidade, principal motivo que levou à sua criação. Isto é nossa obrigação e responsabilidade. Mas...a coisa não pára por aí. Os incêndios catastróficos são outro problema no PNE. Mas...por que seriam catastróficos???? Porque de uma só vez eles podem queimar até100% do Parque, destruindo boa parte das populações de certos animais, como o tamanduá-bandeira, por exemplo. Isto aconteceu em 1994, quando cerca de 800 tamanduás-bandeira foram mortos, segundo levantamento de um
Foto: Alexandre C. Coutinho
Vale do Córrego Avoador
16 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
Biólogo, que faz pesquisas naquela UC. Mas...como isto pode ter acontecido, justo numa UC??? Em boa parte porque não se faz o manejo adequado do fogo naquela reserva de biodiversidade. Já se sabe que o fogo é um fator natural nas savanas, no cerrado, portanto. Na natureza ele é provocado por raios, principalmente no início e final do período de seca (abril/ maio e setembro/outubro). Isto se deve ao fato de que o capim está seco e ocorrem tempestades eletromagnéticas, ateando fogo à vegetação. Durante muito tempo o IBAMA duvidava que isto acontecesse. Hoje o ICMBio parece que não duvida mais, felizmente. Também ocorrem incêndios antropogênicos, acidentais ou criminosos. O aspecto catastrófico de um Foto: Marcos E. L. Lima
Vereda de buritis
incêndio de vegetação depende, em boa parte, da fitomassa combustível existente. A melhor maneira de se prevenir isto é evitar que a massa de capim se acumule, ano após ano. Para isso é necessário que se promovam queimadas periódicas, programadas, prescritas, controladas, a cada dois ou três anos, em áreas pequenas, distribuídas pelo parque. Tais queimadas deveriam ser efetuadas anualmente, porém em áreas em rodízio, de forma que uma mesma área só fosse queimada em intervalos de dois a três anos. É o que se faz em outros parques nacionais de savanas, na África do Sul, na Austrália. Mas, no Brasil não se faz. Deixa-se acumular a fitomassa combustível por anos a fio, podendo chegar a 12 – 15 toneladas por hectare, até que acontece um incêndio e queima tudo, ou quase tudo. Sem dúvida, dá menos trabalho. Mas a biodiversidade vai desaparecendo. Mas...por que não fazem essas queimadas programadas??? Alega-se que há falta de pessoal para controlar o fogo, faltam caminhões-pipa para apagar o fogo, quando este escapa da
ESPECIAL área prevista etc. etc. Mas...e o ICMBio, responsável pela nossa biodiversidade, o que faz??? Tem ainda mais. Nossas UC de vegetação aberta, como o PNE, estão sendo invadidas por gramíneas exóticas, africanas, como o capim-gordura (Melinis minutiflora), a braquiária (Bracchiaria spp.) e tantas outras. Isto acontece desde o Amapá até o Rio Grande do Sul. Elas penetram em quaisquer espaços deixados pela destruição da vegetação nativa, como margens de estradas, drenos de águas pluviais, ou trilhas provocadas pelo caminhão-pipa, quando é impropriamente manobrado à margem da estrada, por cima da vegetação. Elas são espécies oportunistas que vão tomando conta de toda a área, competindo e “abafando” as plantas de espécies nativas do estrato herbáceo, eliminando finalmente todas elas. Uma área que tinha centenas de espécies acaba por se transformar em um pasto de gramíneas africanas, com uma, duas ou três espécies delas. O que o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade tem feito para combater essas invasoras??? Praticamente nada. Adeus, biodiversidade!!! Por que estes problemas estão por décadas e décadas sem uma solução??? Ainda hoje sem qualquer perspectiva dela??? Em boa parte porque nós, biólo-
gos, sequer sabemos desses problemas. E a razão primordial disto é que não procuramos visitar nossas UC, para conhecê-las, apontar seus problemas, fiscalizar as instituições governamentais, verificar se estão atuando no seu manejo e conservação, cobrar, exigir. Nossos parques de biodiversidade estão à míngua, sem pessoal em número e qualidade adequados, sem instalações dignas, sem condições de trabalho também dignas. A biodiversidade é um bem público e como tal merece ser financiada pelos nossos governos. Por que não se fazem projetos científicos, técnicos, didáticos que visem ao monitoramento de tais UC, apoiados pelos órgãos de fomento???? Vamos lá, caro colega Biólogo. Vamos visitar nossos parques nacionais de biodiversidade, conhecer suas belezas, mas também suas mazelas. Não sejamos apenas “passivos contempladores e intérpretes” da Natureza, mas sim ativos “fiscais e defensores” da conservação da Biodiversidade deste país. Visite, pesquise, fiscalize. Através de nossas sociedades científicas, aponte, denuncie, proponha soluções, cobre, exija. Caso contrário, esta fantástica biodiversidade irá sucumbir diante de tanta insensibilidade e incompetência. Amigo!!!! Vamos nos mexer!!!! Já está mais do que na hora!!!!
Alguns endereços eletrônicos que podem ser úteis: jose.pereira@icmbio.gov.br (ouvidor do ICMBio) tel. (61) 3316 1680 ascomchicomendes@icmbio.gov.br http://www.icmbio.gov.br/ http://www.icmbio.gov.br/images/mapagrande.gif http://www.ibama.gov.br/institucional/ ibama-nos-estados/ pnemas@gmail.com http://www.eco.ib.usp.br/cerrado
Leopoldo Magno Coutinho Departamento de Ecologia Instituto de Biociências Universidade de São Paulo leopoldo.magno@terra.com.br Lilian Beatriz Penteado Zaidan Seção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas Instituto de Botânica Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo lilianzaidan@uol.com.br
Foto: Marcos E. L. Lima
“A biodiversidade é um bem público e como tal merece ser financiada pelos nossos governos.”
Macho de ema com treze filhotes;ao fundo, área particular, com terra preparada para o plantio. Note o contraste da biodiversidade
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MUSEU
Museu de História Natural de Taubaté incentiva o estudo da Paleontologia Inaugurado em julho de 2004, o Museu de História Natural da cidade de Taubaté, interior do Estado de São Paulo, é uma importante contribuição à pesquisa sobre a Paleontologia do país. Atualmente, a exposição ocupa área de 600 m², e conta com auditório para palestras e exibição de filmes. Quem visita o Museu percorre um trajeto onde são mostrados fósseis e representações dos principais fatos evolutivos de cada Era e Período geológicos e dessa forma é contada a história da vida no planeta. Também estão expostos dois grandes dioramas: o Vale do Paraíba e da Mata Atlântica na Serra do Mar, que mostram detalhes da fauna e da flora desses ecossistemas. A iniciativa de criar o Museu partiu do médico ortopedista e paleontólogo Dr. Herculano Marcos Ferraz Alvarenga, que sempre nutriu interesse pela Zoologia, em especial pelas aves. Foi ele quem descobriu, em 1982, o fóssil do Paraphysornis brasiliensis uma ave carnívora encontrada na Bacia de Taubaté. Esse fato curioso plantou a semente do atual Museu. Entrevistamos o Dr. Herculano que fala sobre essa descoberta e sobre como organizou o Museu. A descoberta do Paraphysornis brasiliensis Dr. Herculano conta que o seu interesse pela Paleontologia surgiu muito cedo: “Os fósseis sempre foram a paixão de toda criança e eu não fui diferente. Tinha conhecimento através da literatura de que no Vale do Paraíba havia uma Bacia fossilífera e existiam afloramentos não longe da minha casa. Investi na busca por um longo período e fui recompensado com a descoberta desta ave gigante, a qual batizei de Paraphysornis brasiliensis. Os restos fossilizados dessa ave apareceram durante mais de três anos e eu dependia das escavações de uma mina de argila para coletar os fragmentos. Recuperei cerca de 70% do esqueleto de um exemplar (o único). Também coletei muitos fósseis de mamíferos e outras aves, muitos dos quais já estão descritos.” Ele diz que todos esses achados foram e são de extrema importância na reconstituição do
Dr. Herculano Alvarenga e o fóssil do Paraphysornis brasiliensis
18 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
MUSEU paleoambiente e também na datação da Formação Tremembé e Bacia de Taubaté. “Após estudar o Paraphysornis, estudei quase todos os restos de Phorusrhacidae de diversos museus da Europa, América do Norte e América do Sul”. Em 1999, com os dados coletados até então, concluiu a sua tese de doutorado “Anatomia e sistemática das aves Phorusrhacidae” na área de Zoologia no Instituto de Biociências da USP, sob a orientação da Dra. Elizabeth Höfling. O Museu A sua descoberta chamou a atenção de instituições de pesquisa nacionais e estrangeiras. Assim, Dr. Herculano teve a idéia de fazer réplicas da ave e trocá-las com museus e pesquisadores de outros países. “Após recuperar e restaurar cerca de 70% do esqueleto do Paraphysornis, a porção faltante (cerca de 30%) foi restaurada em sua maioria com base no lado oposto. Trouxe dois técnicos da Argentina para Taubaté, que em cerca de trinta dias fizeram as réplicas do esqueleto. Outras partes, sobretudo a pelve, a caixa craniana e o esterno, foram restaurados com base em outros exemplares da mesma família (exemplares da Argentina). Desta
forma, eu tive cerca de 12 esqueletos replicados em resina, verdadeiros “clones” do Paraphysornis brasiliensis, disponíveis para troca. Fiz permutas com vários museus do mundo e consegui peças espetaculares que se acumularam em minha casa. O acervo criou volume; somado às taxidermias que fazia e também à grande coleção de esqueletos de aves que fiz para estudar os esqueletos fósseis que coletava.” Em 2000, com esse acervo formado, Dr. Herculano criou a Fundação de Apoio à Ciência e Natureza (FUNAT) para a criação de um Museu de História Natural em Taubaté (MNHT). “O apoio da Prefeitura local desencadeou o processo e em 2004 inauguramos o Museu.”
Taxonomia, Anatomia e Paleontologia de Aves, Paleontologia da Bacia de Taubaté e Mamíferos do Pleistoceno. “Estamos oferecendo 12 vagas de estágio por semestre. Também mantemos um programa para Aprimorandos (recém-formados), com intenções de fazer mestrado ou doutorado na área de Paleontologia e Zoologia de Vertebrados”, complementa. Fotos: Herculano Alvarenga
O acervo científico, a pesquisa e estágios Sobre o acervo científico, Dr. Herculano comenta: “Ele é rico em aves atuais, mais de seis mil peles e mais de mil espécies em esqueleto. A coleção de mamíferos (peles e esqueletos) é bem mais modesta, porém está em franco crescimento. Outra coleção importante é a de fósseis do Pleistoceno (mamíferos) e da Bacia de Taubaté (Oligo-Mioceno)”. As linhas de pesquisa que estão sendo iniciadas no Museu são: Próximos projetos e o público Os próximos projetos para o Museu prevêem uma ampliação das suas instalações: “Já temos uma reserva técnica considerável que não cabe na exposição. Precisamos de um prédio maior. Nosso projeto é de uma ampliação para cerca de quatro ou cinco mil m².” Também estão previstas a publicação de uma revista e a organização da Associação Amigos do Museu. Sobre a reação do público, Dr. Herculano comenta: “O número de visitantes tem sido crescente desde a inauguração. Acho que o público tem respondido ao trabalho de toda nossa equipe e eu me sinto muito feliz pelo empreendimento feito. É extremamente gratificante ver crianças e adultos ‘saboreando´ ciência e cultura dentro do Museu.” Mais informações: www.museuhistorianatural.com O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 19
NA MÍDIA Sancionada lei que regulamenta uso de animais em pesquisas científicas O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou no dia 08 de outubro passado, a Lei Arouca, lei que regulamenta o uso de cobaias em pesquisas científicas no país. O texto foi publicado no dia 09 de outubro no “Diário Oficial da União”. O estabelecimento dessa legislação era uma reivindicação de grande parte dos cientistas, já que até então, não havia uma norma nacional que indicasse claramente os limites da prática. O projeto de lei sobre o assunto tramitou no Congresso por cerca de 13 anos, até ser aprovado pela Câmara em maio e pelo Senado em setembro deste ano. Com a sanção de Lula, a lei promete acabar com disputas locais sobre o assunto, como aconteceu recentemente em Florianópolis e no Rio de Janeiro. Controle O texto prevê a criação do CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que vai regulamentar o uso de animais para pesquisa e estabelecer as normas e critérios éticos. O órgão será presidido pelo Ministro de Ciência e Tecnologia e integrado por representantes de outros ministérios e de órgãos como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e o COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Até hoje, a função de estabelecer os parâmetros para a experimentação animal ficava a cargo das comissões de ética de universidades e instituições de pesquisa. Caso esses órgãos não tivessem sido instituídos, as decisões cabiam a cada cientista individualmente. A lei também obriga as instituições de pesquisa que quiserem utilizar cobaias a instituir um CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais), que vai regular a prática em cada local. Além de especialistas como médicos e Biólogos, representantes de entidades protetoras dos animais também devem fazer parte desses órgãos. Dor Entre as normas estabelecidas também está a aplicação de analgésicos ou anestesias que aliviem o desconforto das
cobaias durante os procedimentos. Caso os animais sofram “intenso sofrimento” durante a pesquisa, eles devem ser sacrificados. A matéria estabelece que, caso as instituições de pesquisa e ensino descumpram as regras, estarão sujeitas a advertência, multa de R$ 5.000 a R$ 20 mil, interdição definitiva ou outras penalidades. No caso de profissionais infringirem as regras, a multa vai de R$ 1.000 a R$ 5.000. O projeto enfrentou muita resistência de entidades de defesa dos animais, que chegaram a fazer um abaixo-assinado contra o texto, entregue a parlamentares em Brasília. Para ler o texto completo da Lei Arouca acesse: http://www.mct.gov.br/index. php/content/view/75669.html Fonte: Folha Online
Estado de São Paulo divulga sua lista de fauna ameaçada No dia 1º de outubro, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente divulgou, após dez anos, sem ser atualizada, a lista das espécies ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo. O mico-leão preto, assim como outras 435 espécies de vertebrados (17% das existentes no Estado), está lá. Isto significa que estes animais correm o risco de desaparecer em um curto espaço de tempo se nada for feito. Dentro das categorias de ameaça, as espécies que correm risco maior de extinção são classificadas como “Criticamente em Perigo” (CR), seguidas pelas categorias “Em Perigo” (EN) e “Vulnerável” (VU) – na qual, apesar da espécie ainda sofrer sério risco de extinção, não está em situação tão crítica. Em 1998, quando da publicação da última lista de fauna, o mico-leão-preto aparecia entre as espécies “Criticamente em Perigo”. Dez anos depois, graças aos esforços de conservação, sua avaliação melhorou e agora ele foi classificado como “Em Perigo”. Isto não garante que a espécie esteja salva. A meta é retirar a mesma da lista da fauna ameaçada. “Precisamos nos apoiar em dois pilares: fiscalização e pesquisa”, disse o secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, em cerimônia no Zoológico de São Paulo, para divulgação da lista. Para o secretário, o primeiro pilar deve proteger a fauna silvestre dos criminosos, “muita gente
não sabe que comprar um papagaio, por exemplo, é um crime”, o segundo pilar auxiliaria na indicação do que deve ser feito para salvar estas espécies. Uma novidade na nova lista é a classificação das espécies com dados insuficientes para classificação. São 161 espécies tão pouco estudadas e conhecidas impossibilitando a definição da condição delas na fauna paulista. Essa lista serve para mostrar a necessidade de mais investimentos em pesquisas de espécies pouco conhecidas. “Esta lista mostra como devemos melhorar nossas pesquisas e o graus de informações contidas nelas”, explicou o secretário. Resolução Além da divulgação da lista de fauna, o secretário Xico Graziano assinou uma resolução que transfere novas atribuições ao Estado de São Paulo na gestão dos recursos faunísticos. O licenciamento ambiental de atividades de manejo da fauna, que antes era atribuição do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, agora passa a ser responsabilidade do Estado. Criação em cativeiro e pesquisas científicas, por exemplo, são algumas das atividades que passam a ser autorizadas pelo Estado. É a primeira vez que um Estado brasileiro assume esse compromisso sobre sua fauna silvestre. “Nós temos potencial para isso, não sei por que já não era assim antes”, questionou o secretário do Meio Ambiente. Agora, equipes da Polícia Militar Ambiental, do Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais - DEPRN e pesquisadores terão que redobrar o seu trabalho para garantir que a fauna do Estado de São Paulo esteja protegida. Conheça a lista acessando: www.ambiente. sp.gov.br/listas_fauna.zip Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Foto: Alexandre C. Coutinho
Lobo-Guará
20 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
EM FOCO
PROJETO RONDON: EXERCÍCIO DE CIDADANIA A participação de estudantes de Biologia da PUC-SP na Operação Xingu 2008 Desde a sua criação em 1967, o Projeto Rondon possibilita a oportunidade única aos estudantes universitários de entrarem em contato com a realidade do país longe dos grandes centros e colocarem em prática o seu conhecimento acadêmico em prol do desenvolvimento de comunidades carentes. Coordenado pelo Ministério da Defesa com apoio da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, o Projeto Rondon privilegia o desenvolvimento de ações transformadoras e duradouras que influenciem as populações e as administrações dos municípios atingidos. Para falar sobre a importância de participar de um projeto voltado a integração social e seus efeitos na formação do estudante, entrevistamos a Bióloga Viviane Aparecida Rachid Garcia, que vivenciou essa experiência junto com seus alunos, em julho deste ano, em Altamira, Pará. Viviane é professora da disciplina de Instrumentação para o Ensino de Ciências e Biologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Campus Sorocaba, educadora ambiental no Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, chefe de Departamento de Educação da Sociedade de Zoológicos do Brasil, e fez mestrado na Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo. Ela diz que a idéia de participar do Projeto Rondon surgiu em 1998, quando ainda era estudante de Biologia: “Naquela época eu já trabalhava no Zoológico e não tinha possibilidade de me ausentar na época da operação. A vontade de participar de um projeto dessa natureza ficou então, ‘guardada’. Participar do Projeto Rondon foi um sonho de universitária realizado como professora.” As etapas para participação As instituições de ensino superior (IES) interessadas em participar do Projeto Rondon devem atender o convite que a coordenação-geral do projeto divulga no seu site: (www.defesa.gov.br/projetorondon , o convite referente ao próximo ano já está disponível). Nesse convite, estão especificados os municípios, os tipos de ações que devem ser desenvolvidas, o cronograma das atividades e demais informações que devem se seguidas pelos rondonistas (como são chamados os universitários e professores participantes). As IES podem escolher entre dois conjuntos de ações: A) Cidadania e BemEstar ou B) Gestão Pública e Desenvolvimento Local Sustentável. A partir daí, as
A equipe na Abertura Oficial do Projeto Rondon em Brasília. Na frente, as estudantes Gimena Simon, Fabrícia Madia, a Bióloga Profa. Viviane Garcia e a estudante Bárbara Magalhães. Atrás, os estudantes Diego da Silva, Bianca de Góes e Rafael Lloret.
IES devem formular e enviar proposta de trabalho que envolva as ações do conjunto escolhido. A seleção das propostas apresentadas é feita pela Comissão de Avaliação de Propostas do Projeto Rondon (CAPPR), que conta com representantes de diversos ministérios, e baseia-se na pertinência e exeqüibilidade da proposta e na qualidade acadêmica da IES. Feita a seleção, são designadas duas equipes para cada município contemplado pelo Projeto. Cada equipe desenvolverá um conjunto de ações (A ou B). Antes do início da operação, o coordenador de equipe realiza a viagem percussora, visitando o município que lhe foi designado com o objetivo de ajustar as ações a serem realizadas, adequandoas às reais necessidades da comunidade, com as lideranças comunitárias e com a prefeitura. O passo seguinte é a seleção da equipe e construção das ações pelos alunos. O diretor da Faculdade de Biologia, Prof. Dr. Heitor Zochio Fischer fala sobre a seleção dos estudantes e sobre os meios empregados no desenvolvimento das ações: “Procuramos selecionar rondonistas que tenham como característica principal a humildade; que reconheçam os limites de seu conhecimento e que saibam que o ganho da sua interação com a comunidade é substantivo. As ações de nossas equipes estão sempre baseadas em metodologias ativas e uma das estratégias de ensino-aprendizagem mais utilizada é a problematização, que tem o objetivo de alcançar e motivar o habitante, pois diante do problema, ele se detém, examina, reflete, relaciona a sua história e passa para novas descobertas. Esta metodologia de trabalho coloca o indivíduo em contato com informações, produz conhecimento com finalidade de solucionar impasses e promove o desenvolvimento da pessoa, direcionando para o exercício da liberdade e da autonomia.” A equipe deve ser multidisciplinar e composta por alunos cursando os últimos semestres. Após a realização da operação, que dura duas semanas, cada IES é respon-
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EM FOCO sável por enviar à Coordenação Geral do Projeto Rondon o relatório sobre as atividades desenvolvidas no município. O relatório permite a avaliação dos resultados alcançados e fornece dados importantes para o aprimoramento das futuras operações.
O Projeto Rondon prioriza os municípios com maiores índices de pobreza e exclusão social, aqueles mais distantes e isolados do território nacional e que precisam de uma maior estrutura
A equipe no Hércules, avião da Força Área, a caminho de Altamira
de serviços e bens.
Operação Xingu A PUC-SP Campus Sorocaba participa do Projeto Rondon desde 2007. No total já foram enviadas cinco equipes, sendo que a participação dos Biólogos foi de quatro professores e dez alunos. As operações anteriores foram em Calçoene (AP), Tarauacá (AC), Melgaço (PA) e Piratini (RS). Vale destacar que as áreas de atuação que o Projeto Rondon prioriza são os municípios com maiores índices de pobreza e exclusão social, aqueles mais distantes e isolados do território nacional e que precisam de uma maior estrutura de serviços e bens. Essas áreas são identificadas nos planejamentos setoriais e regionais do Ministério da Integração Social. Neste ano, a equipe da PUC-SP Campus Sorocaba participou da Operação Xingu, realizada entre 11 a 27 de julho, em região próxima à cidade de Altamira, no Pará. Participaram da operação 128 rondonistas, que atuaram em oito municípios da região: Altamira, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajás, Placas, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu. A Bióloga Viviane coordenou a equipe composta por dois alunos de Medicina, um de Enfermagem e três de Biologia, ao lado do professor Adilson Souza de Araújo da Faculdade de Educação. A operação executada pela equipe foi em comunidades de Altamira, Pará, cidade de aproximadamente 100.000 habitantes, que fica às margens do Rio Xingu.
A aluna Fabrícia (de avental) na parte prática da Oficina Dieta Saudável, com a aluna Bárbara, preparando um pão caseiro e suco com reaproveitamento de alimentos na cozinha da escola. Grande parte das atividades foram realizadas em uma escola estadual no centro de Altamira.
A Bióloga conta que hospedados em escola de Educação Infantil em bairro afastado da cidade, vivenciaram fato inusitado ao receber a visita inesperada de uma iguana adulta, que permaneceu durante dois dias no refeitório. “Todos queriam se aproximar e tirar fotos. Ter a iguana ali conosco era estar muito perto da Natureza.” As ações propostas e desenvolvidas As ações propostas pela equipe da PUC-SP Campus Sorocaba faziam parte do conjunto A: “Cidadania e Bem Estar”. “As atividades realizadas foram ações de capacitação por meio de estratégias de ensino e aprendizagem que envolveram motivação e relacionamento interpessoal”, explica Viviane.
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As ações desenvolvidas foram: - Oficina de incentivo a leitura realizada com professores e membros da comunidade. Durante a atividade foram trabalhados o conceito de leitura e as suas diversas formas. - Capacitação sobre Educação Sexual e reprodutiva para professores, líderes familiares e comunitários. - Capacitações específicas para agentes de Saúde da zona rural e zona urbana, abordando questões relacionadas às famílias e, de forma específica, na atenção ao adolescente, ao idoso e à mulher no climatério. - Saídas (zona rural e palafitas) acompanhando as agentes de Saúde após a capacitação nas visitas domiciliares, com o objetivo de avaliar o trabalho realizado e tomar contato com a realidade local. - Capacitações de Saúde e Meio Ambiente, para agentes de Saúde, professores da Educação Básica, estudantes universitários e líderes comunitários. - Capacitações com o tema Esporte e Saúde para professores de Educação Física e Educação Básica. - Olimpíadas do Rondon: atividades esportivas (no final de semana) com partidas de futebol para participantes acima de 12 anos, recreação para menores e caminhada com a comunidade. - Oficinas de Dieta Saudável, reaproveitamento de alimentos, horta e compostagem, para professores da Educação Básica, líderes comunitários e familiares, cozinheiras dos quiosques e estudantes universitários. - Capacitações sobre Educação e Meio Ambiente para professores de Educação Básica, estudantes universitários, líderes de ONGs, funcionários da prefeitura e para todo o efetivo da guarda municipal. Durante a realização da operação, a pedido dos líderes municipais e comunitários foram também estruturadas e desenvolvidas as ações abaixo: - Capacitação para orientar a implantação do programa da prefeitura de inclusão do jovem em condições de risco, o ProJovem. Os envolvidos foram orientadores sociais e professores de Educação Física e foram abordados diversos temas, desde estratégias para trabalhar com esse público até conteúdos importantes (Educação Sexual e Reprodutiva, Saúde, Esporte, entre outros).
EM FOCO
A aluna Gimena desenvolvendo uma atividade de recreação na “Olimpíadas do Rondon “ .
- Reunião com a equipe da Secretaria de Saúde (secretária e coordenadores das Unidades da Saúde da Família) sobre a avaliação do trabalho dos agentes de Saúde. - “Bate- Papo” com os coletores de lixo da rede pública, enfocando a importância do seu trabalho e questões relacionadas a disposição adequada do lixo, vetores, reutilização e reciclagem. - “Bate- Papo” com os estudantes universitários da Universidade Federal do Pará sobre possibilidades e desafios da vida universitária, dando enfoque ao Projeto Rondon. - Reunião com os secretários da prefeitura (Educação, Meio Ambiente, Saúde, Agricultura) sobre os conselhos municipais e um Plano de Gestão Integrada do Município, elegendo dois temas prioritários: “Gerenciamento de resíduos” e “Manutenção e recuperação dos recursos hídricos”. O envolvimento com as comunidades Viviane ressalta que ela e sua equipe foram muito bem recebidos pelas comunidades: “Quando falávamos que éramos do Projeto Rondon, as portas se abriam e a responsabilidade aumentava, pois a cidade de Altamira recebeu o Projeto na década de 70, quando se beneficiou e se desenvolveu
depois da passagem dos estudantes. A calorosa acolhida não se restringiu apenas às pessoas mais politizadas, mas veio de toda comunidade. Quando fomos visitar as palafitas dispostas ao longo do Rio Xingu, entrávamos nas casas, e logo éramos convidados para sentar, conversar e ouvir as estórias dos moradores, que visivelmente eram pessoas sofridas, mas tinham alegria, vontade de viver e sobretudo eram solidárias. Isso chamou muita atenção.” A Bióloga recorda outro fato que marcou durante a visita domiciliar às palafitas acompanhando as agentes de Saúde: “Encontramos uma criança com necessidades especiais, que não recebia nenhum acompanhamento e com uma situação familiar totalmente desestruturada. Essa situação chocou. Uma das alunas, muito incomodada e abalada com a situação foi atrás da APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) da cidade para ver de que forma essa criança poderia ser ajudada e até conseguiu uma `madrinha` da comunidade local para ajudar com as despesas do tratamento.” A contribuição dos estudantes ao Projeto Rondon e a interface com a Biologia Sobre a contribuição dos estudantes ao Projeto Rondon, Viviane analisa sob o prisma das relações pessoais e do conhecimento acadêmico: “A motivação, a energia que eles transmitem nas ações e na fala, contagiam as pessoas. Como são idealistas, ‘provocam´ as pessoas no pensar e no agir. São jovens que acreditam e estão em busca de um Brasil melhor, assim oferecem o que têm de melhor. Além disso, usam sua bagagem universitária com o objetivo de contribuir para a melhoria de determinado aspecto.” Ela acredita que a Biologia possui elementos para estabelecer relações com o meio ambiente e o social: “Pois, ao falar de conservação do meio ambiente, elencando seus elementos bióticos e abióticos, não podemos deixar as questões humanas de lado. Dessa forma, a Biologia consegue envolver todos esses elementos.”
prática, eles também podem se relacionar com outras pessoas, realidades, necessidades, culturas, diferentes, o que na opinião da Bióloga contribui para a formação de um profissional com uma visão integrada do meio. “Por se tratar da Amazônia, a operação possibilitou um novo olhar sobre a profissão de Biólogo e também sobre a região, não só por oferecer possibilidades de trabalho, mas principalmente por ser uma área de grande riqueza natural, que abriga inúmeras pessoas que dependem diretamente daquela região, do seu desenvolvimento paralelo à sua conservação. Como educadora vejo incentivo no desenvolvimento do protagonismo, pois os estudantes são responsáveis por suas ações, e o bom desenvolvimento do Projeto depende só deles. Assim, a responsabilidade se faz presente, as habilidades e competências entram em cena, se manifestam, diria que é um grande exercício. Do ponto de vista das relações, eles aprenderam a viver em grupo, a se conhecer melhor, a identificar seus limites e potencialidades, a respeitar as opiniões e as decisões e a se adaptar num meio diferente. Eles voltaram com ‘bagagens´ bem maiores daquelas com as quais partiram.” (leia quadro na página 24 com depoimentos dos estudantes de Biologia que participaram do Projeto Rondon) Para a Bióloga e educadora Viviane participar dessa operação foi uma experiência única e finaliza a entrevista dizendo: “Como o próprio slogan do Projeto Rondon diz: é um curso intensivo de Brasil, uma lição de vida e cidadania.”
A Biologia possui elementos para estabelecer relações com o meio ambiente e o social.
Um novo olhar sobre a profissão de Biólogo O aluno Diego desenvolvendo a atividade “Bate- Papo” com os coletores de lixo da rede pública. O senhor que aparece na foto, está sentado num “puff” feito de garrafas Pet.
Além do Projeto Rondon oferecer a oportunidade aos universitários de aplicarem os seus conhecimentos teóricos na
Estabelecendo contato com a comunidade local em visita domiciliar a zona rural com os agentes de Saúde.
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EM FOCO Os estudantes falam “A característica do nosso curso de Biologia é ter um amplo olhar sobre área. No Projeto Rondon pude vivenciar essa diversidade da área de trabalho do Biólogo. Fui da teoria para prática. Desenvolvemos capacidades, habilidades, tivemos que por a mão na massa. Na área de licenciatura me transformou num profissional melhor. Aprendi a ser cidadão e como um ser humano pode exercer atividades com amor e carinho.” Diego Ribeiro da Silva (aluno do 4° ano de Biologia) O aluno Diego nas palafitas conversando com a agente de Saúde.
“O slogan do Biólogo é ‘investigando a vida`, participar do Projeto Rondon foi além. Foi descobrir maneiras de se relacionar com a comunidade, investigando não só a vida, mas as relações humanas, avançar fronteiras, sair do científico e ir para o humano. O Projeto permitiu que eu compreendesse ainda mais a importância de valorizar e respeitar os outros.” Fabrícia Andreia Rosa Madia (aluna do 4° ano de Biologia) “O Projeto Rondon foi importante, pois ajudou-me a questionar valores acadêmicos e pessoais, instigou a investigação, ver outros caminhos, possibilidades de trabalho, realidades diferentes, ainda mais quando se trata da Amazônia.” Gimena Andressa Venturini Simon (aluno do 3° ano de Biologia)
A equipe da PUC-SP Campus Sorocaba no Posto de Saúde com os agentes que os receberam e os acompanharam nas visitas domiciliares na zona rural