7º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Ouro Preto – Minas Gerais 2016
AGROECOPEDAGOGIA: EXPERIÊNCIAS EM PEDAGOGIA DO PROJETO DE EXTENSÃO MUDA UFRJ Área temática: Meio Ambiente 2 Tomé de Almeida e Lima¹; Livia Santiago Michel da Motta ; Stéphanie Gomes 1 2 1 Montalvão ; Mayná Peixinho Moreno de Melo ; Lynna Toni Fuly ; Kellyana 1 1 3 Vasconcellos ; Wendell Esteves Andrade ; William John Hester ; Isaac Rezende 4 5 6 Mohamad ; Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro ; Bruno Victor Cunha Lima ; Heloisa 7 7 8 Teixeira Firmo ; Monica Pertel ; Paula Fernandes de Brito .
¹Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduando em Engenharia Ambiental; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 2
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduanda em Licenciatura em Ciências Sociais; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 3
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduando em Engenharia Civil; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 4
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduando em Engenharia Naval e Oceânica; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 5
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduanda em Pintura; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 6
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduando em Licenciatura em Geografia; Bolsista de Extensão PIBEX/UFRJ pelo Projeto de Extensão MUDA Mutirão de Agroecologia. 7
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Docente do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica. 8
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva.
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Resumo Inserido no contexto tradicional de ensino excludente e reprodutor de desigualdades sociais, o Grupo MUDA surgiu em 2009 com a intenção de desenvolver metodologias alternativas emancipatórias, cunhadas nos princípios da Permacultura e da Agroecologia. Por abordar temas que induzem a readequação de hábitos e por questionar modelos pedagógicos de reprodução social, o Grupo vem experimentando práticas pedagógicas diferenciadas, baseadas na participatividade, interdisciplinaridade, dialética, materialidade da ação, trabalho em equipe, artes e dinâmicas lúdicas. O presente artigo tem como objetivo expor os potenciais e desafios das atividades voltadas para pedagogia, realizadas no Projeto MUDA Mutirão de Agroecologia UFRJ. Baseandonos na premissa que ninguém sabe tanto que não aprenda e nem saiba tão pouco que não ensine, buscamos entender pedagogia como as formas de proporcionar ambientes de ensinoaprendizagem horizontal. O termo ecopedagogia faz referência às metodologias de ensino ditas planetárias, ou para a sustentabilidade. Agroecopedagogia é a linha metodológica cunhada no MUDA, que busca nos sistemas agroalimentares sua fonte de inspiração para proporcionar ambientes pedagógicos. O propósito geral das ações é sustentado pelo tema transversal saúde, o embasamento das atividades consiste na contextualização histórica: passado, presente, futuro. Um ensino voltado à saúde integral deve levar em consideração trabalhar as áreas temáticas, alimentação, corpo e mente, doenças e terapias, pessoas, ferramentas, ambiente.
As convergências
metodológicas perseguidas são a
participatividade, interdisciplinaridade, dialética e materialidade da ação. Através da atuação do Grupo oferecendo todo semestre à graduação a Disciplina Projeto de Extensão MUDA, do apoio práticopedagógico com turmas da Escola Municipal Tenente Antônio João (EMTAJ) e da promoção de vivências, cursos e oficinas, podemos apontar algumas convergências metodológicas da Agroecopedagogia e concluir que a agroecologia pautada na autogestão e protagonismo dos estudantes, proporciona ambientes pedagógicos produtivos e divertidos, com grande potencial transformador no paradigma da educação contemporânea.
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Palavras chave: Educação Ambiental, Ecopedagogia, Agroecologia. Introdução Inserido em um contexto de ensino expositivo, excludente e reprodutor de desigualdades sociais, surgiu o Grupo Muda, em 2009, motivado pela necessidade de atividades teóricopráticas críticas e emancipatórias, maior aproximação com a Terra e por uma reconstrução de valores educacionais, sistêmicos e motivadores. Segundo Freire (1982), o conhecimento é construído nas relações do indivíduo com o mundo ao seu redor, dessa forma, para ter um processo efetivo de aprendizagem, o protagonista deve ser o aprendiz, o estudante. Baseado nisto, iniciouse um grupo de estudos agroecológicos que mais tarde, em 2013, quando o projeto se consolidou como projeto de extensão através do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX UFRJ), culminou em uma disciplina de extensão. Também em 2009, o Grupo deu início à uma área experimental no Centro de Tecnologia da UFRJ que veio a ser chamada de LaVAPer Laboratório Vivo de Agroecologia e Permacultura, um laboratório de ensino, pesquisa e extensão aberto à visitação. Por reconhecer que o processo educativo não se restringe aos espaços institucionais formais e que todo o conjunto de vivências dos indivíduos são partes igualmente relevantes na educação e formação cidadã, foram incorporadas práticas pedagógicas inseridas dentro do contexto das realidades individuais e coletivas (CALDART, 2000). Capra (1999), enfoca o aprendizado a partir da visão sistêmica e entendimento das relações, enquanto hoje vivemos numa sociedade que foca nos objetos e nas especialidades. A agroecologia, por estudar as relações presentes nos agroecossistemas e buscar formas mais harmônicas de relação com a natureza, traz entranhada em seus campos de atuação o desenvolvimento da visão sistêmica e de novas formas de organização. Nesse contexto de mudança de paradigmas, a educação tem papel central no processo de tomada de consciência e formação de indivíduos críticos e criativos (LOUREIRO, 2002). O termo “ecopedagogia” surgiu em 1990, com Francisco Gutiérrez e se materializou através da Carta da Terra, elaborada na conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992, no Rio de Janeiro. Hoje é ainda um termo em construção e pode ser definido como um movimento de
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pedagogias para o desenvolvimento sustentável (GUTIÉRREZ, 1994). Os Grupos de Agroecologia, fundamentandose em diversas linhas da ecopedagogia, ou pedagogias planetárias, como a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (FREIRE, 2004), a Pedagogia Waldorf de Rudolf Steiner (LANZ, 1986), pedagogia de projetos de Lucia Legan (LEGAN, 2007) e a educação pelo trabalho (PISTRAK, 2011), têm realizado papel relevante no desenvolvimento de métodos mais emancipadores e harmônicos de aprendizagem. O Centro de Tecnologia da UFRJ, localizase no campus Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. Dentro da Ilha também localizase a Escola Municipal Tenente Antônio João EMTAJ, que integra a rede pública de ensino básico e onde há também parte do foco em educação ecopedagógica do projeto. Tal Ilha é separada do continente por um canal, e atravessando apenas uma ponte chegase no Complexo de Favelas da Maré, um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro. Local de baixos índices de escolaridade, saneamento e segurança, mas por outro lado muitas oportunidades de trabalhos de extensão de cunho transformador. Essas são as principais áreas de atuação do Grupo MUDA Mutirão de Agroecologia, que através do ensino, da pesquisa e da extensão universitários, fundamentados na Agroecologia e na Permacultura, desenvolve trabalhos voltados para a educação (VASCONCELOS, 2015). Os envolvidos nas linhas de ação e sujeitos da aprendizagem são discentes, docentes e pósgraduandos de diversos cursos, funcionários da UFRJ, moradores do Complexo da Maré, moradores da Vila Residencial da UFRJ, agricultores da região metropolitana do Rio de Janeiro, estudantes da rede pública e privada de ensino básico e curiosos interessados nas temáticas desenvolvidas. Este artigo tem o objetivo de relatar as experiências pedagógicas do Grupo MUDA, inspiradas na Agroecologia, que ao longo dos quase 6 anos de trabalho vieram permeando suas atividades e nesse artigo constituem as bases de uma proposta pedagógica apresentada com o nome de “Agroecopedagogia”. Estas experiências se direcionam na construção de práticas pedagógicas de caráter libertador e proativo, desenvolvendo processos de ensinoaprendizagem interdisciplinares de cocriação do conhecimento coletivo, promovendo maior aproximação com os ciclos naturais e o manejo da terra.
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Metodologia A atuação do Grupo Muda junto ao ensino de engenharia, e à graduação em geral, evoluiu no período de 2009 à 2015 , buscando contemplar às demandas dos estudantes de temas não abordados nas disciplinas, através da participação e promoção de eventos, realização de grupos de estudo, vídeodebates, minicursos, oficinas e também na participação em algumas disciplinas da graduação (OLIVEIRA, 2013). No ano de 2013, junto com a consolidação do projeto de extensão através do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX UFRJ), foi criada a disciplina eletiva Projeto de Extensão MUDA, que inicialmente foi uma forma de aferir créditos aos estudantes que já trabalhavam no projeto e desenvolviam suas próprias formas de educação baseadas no trabalho em equipe e proatividade dos membros. Nos anos seguintes, de 2014 à 2016, a disciplina vem evoluindo e sendo ofertada aos cursos de graduação de forma geral, sob a coordenação do Grupo MUDA, aplicando metodologias que visam fugir das falhas identificadas no modelo pedagógico tradicional. Dentro da lógica de repensar o modelo convencional pedagógico, a atuação na disciplina, tendo como alicerce um modelo horizontal e auto gestionário de atuação, buscou trazer o protagonismo do aprendiz como forma fundamental de conhecer, compreender e questionar o que estava sendo ensinado. Tomando o processo de ensinoaprendizagem como uma dualidade que não pode ser pensada separadamente, ou seja, o ensinar e aprender visto como uma troca onde ambos (professores e alunos) são tanto mestres quanto aprendizes, é quebrada a ideia hierárquica de que o professor seria o detentor de verdades irrefutáveis. O questionamento é fundamental para criação do senso crítico sobre o que está sendo ensinado, desta forma, os debates em sala de aula fazem parte da rotina da disciplina, buscando coletivamente compreender e aperfeiçoar as técnicas e saberes que são repassados. Tendo o aluno como ator da sua própria obtenção de conhecimento e coletivizando o aprender, de forma que todos os participantes da disciplina se sintam parte de um grupo e compreendam sua importância para o funcionamento do mesmo, o processo de aprendizagem deixa de ser encarado como algo enfadonho para se tornar algo prazeroso e construtivo. É importante ouvir e entender as expectativas e ideias dos alunos, de forma
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que a aula se torne um espaço onde estes possam de fato não só memorizar conceitos mas os entender e incorporálos de forma plena. Compreendendo o papel fundamental do aluno na construção da própria dinâmica da aula, toda semana dentro dos relatórios das aulas práticas os alunos possuem um espaço para críticas e sugestões. A importância de entender como está sendo o desenvolver da disciplina para os alunos é importante não só como forma de avaliar a mesma no final do curso, mas para que seja possível ao longo do mesmo a manutenção de problemas identificados, melhorando assim a experiência em sala de aula. Foram planejadas quatro linhas de ação para o projeto PIBEX 2013 (Programa Institucional de Bolsas de Extensão da UFRJ) uma relacionada à consolidação do espaço experimental do grupo, o LaVAPer, enquanto Centro de Tecnologias Sociais através das atividades de um laboratório de ensino, pesquisa e extensão; uma relacionada à realização de oficinas temáticas, tanto no LaVAPer como em instituições de ensino interessadas; e duas no Complexo da Maré, relacionadas à realização de um curso de formação de Multiplicadores Ambientais e à melhoria da gestão de resíduos através do incentivo à compostagem. No LaVAPer, além das atividades coletivas semanais de reunião e mutirão, foram promovidas visitas guiadas à Trilha Ecopedagógica (método interativo de apresentação dos conceitos e experimentos presentes no LaVAPer através da percepção sensitiva do ambiente). Oficinas temáticas foram realizadas tanto no LaVAPer como em outras instituições de ensino e cultura. Essa prática visou a disseminação de tecnologias sociais (técnicas de baixo custo, fácil aplicabilidade e positivo impacto social). Com a experiência da atividade no Complexo da Maré, constatamos que todas as linhas de ação permeavam a educação ambiental, construindo uma ponte entre o cuidado e conservação do meio ambiente e a qualidade do ensino. Segundo Capra (1996) “O desequilíbrio dos ecossistemas reflete um desequilíbrio anterior da mente, tornandoo uma questão fundamental nas instituições voltadas para o aperfeiçoamento da mente. Em outras palavras, a crise ecológica é, em todos os sentidos, uma crise de educação”. No ano de 2014, foram mantidos dois bolsistas na Maré, que trabalhavam juntos a compostagem e agricultura urbana através da educação ambiental. Foi planejada uma nova
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linha de ação para o estreitamento de laços junto aos produtores da Feira Agroecológica da UFRJ, através da presença na Feira e realização de vivências nos sítios dos agricultures. As linhas do manejo do LaVAPer enquanto laboratório de ensino, pesquisa e extensão e Oficinas Temáticas foram fundidas, reforçando a busca de parcerias com instituições de ensino afim de promover visitas à Trilha Ecopedagógica e Oficinas Temáticas. O primeiro contato realizado com a Escola Municipal Tenente Antônio João (EMTAJ), em 2014, teve o intuito de convidar a escola a realizar visitas de seus estudantes à Trilha Ecopedagógica, e a partir da primeira visita foi identificada uma grande oportunidade de cooperação. Havia interesse da instituição em reviver uma horta escolar em um terreno que estava inutilizado, e interesse do Grupo MUDA, por acreditar que a educação infantil é um fator estratégico para grandes mudanças, em se aproximar do trabalho com crianças e instituições de ensino. Em 2015, além de mantidas as linhas de ação precedentes, foi iniciada mais uma linha de ação especificamente com a EMTAJ, onde um bolsista é responsável por trabalhar atividades práticas semanais relacionadas à educação ambiental através da agroecologia, com a turma do 5º ano. A partir de março de 2014, um bolsista estava dedicado ao trabalho junto à Feira Agroecológica da UFRJ no CT. As atividades estavam relacionadas a montagem semanal de um estande do Projeto MUDA junto à feira, com função de fornecer informações ao público, divulgando a agroecologia, a feira e o projeto, ao mesmo tempo em que se planejavam mais ações. No projeto concebido para o edital PIBEX 2015, uma das linhas de ação está relacionada ao fortalecimento da Feira Agroecológica através da aproximação consumidorprodutor. Um bolsista é responsável por essa linha de ação, trabalhando a educação ambiental através das atividades: montagem de um mural divulgando a agroecologia, o projeto e a feira; distribuição de informativos; organização de vivências nos sítios dos agricultores; implementação do sistema de encomendas diretas dos produtores: Cesta Agroecológica do CT; e realização de Cafés Agroecológicos para eventos em analogia aos convencionais Coffeebreaks . Resultados e Discussões
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A forma não hierárquica de organização do grupo, traz desafios e também grandes aprendizados. A organização por autogestão e liderança circular, onde todos os membros são igualmente importantes, as decisões são tomadas nas reuniões deliberativas e a liderança de cada atividade é assumida por vocação e interesse de cada um. Esta dinâmica promove um grande sentimento de responsabilidade, pertencimento e motivação dos integrantes além de um processo dinâmico de aprendizado em que ninguém sabe tanto que não aprenda nem sabe tão pouco que não ensine. Progressivamente o projeto vem ganhando força e reconhecimento dentro da universidade. Atualmente o projeto conta com 4 professores coordenadores, cerca de 10 membros da graduação, um doutorando e um funcionário técnicoadministrativo que participam regularmente da equipe, além de muitos colaboradores. O LaVAPer tem sido cada vez mais frequentado por diversos coletivos que fazem uso da área. Por ser um laboratório vivo e uma área de convivência, as constantes interações geram aprendizado contínuo através da observação dos experimentos, mutirões e compartilhamento de informações.
A disciplina de extensão é uma grande oportunidade de aprendizado ao desenvolver
um modelo de ensino alternativo às metodologias falhas nas quais nos deparamos dentro da universidade, configurandose como um experimento pedagógico do MUDA. Nos anos de 2013, 2014 e 2015 foram realizados diversos grupos de estudos e produzidos cerca de 10 artigos científicos apresentados em congressos cientifico e encontros nacionais. A estrutura metodológica atual consiste em promover uma abordagem teórica de temas corriqueiros no diaadia das atividades do MUDA através de debates e palestras guiadas por convidados ou membros da equipe, seguindo de atividades práticas elaboradas pelos bolsistas, trabalhando atividades relacionadas aos conceitos teóricos por meio de mutirões temáticos no LaVAPer. Atualmente os inscritos na disciplina não tem obrigação de participar frequentemente das linhas de extensão do projeto e os bolsistas adotam um papel de facilitadores dos temas abordados. Todos são expostos à construção coletiva do conhecimento e incentivados a participar das diversas atividades, o que depois culminará em uma avaliação prática, por meio de um projeto de aplicação ou uma contribuição no planejamento estratégico e atuação de uma linha de extensão escolhida. No ano de 2013, foram realizadas algumas oficinas pontuais em instituições de ensino e cultura na Maré, sobre permacultura, hortas urbana e compostagem. No ano de
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2014, foi decidido focar ações na Vila Olímpica da Maré com intuito de desenvolver um primeiro ponto de referencia na gestão integrada dos orgânicos. O maior aprendizado dessa experiência é que o processo educativo e de engajamento é lento e adaptado de forma diferente para cada público e situação. Além de trabalhar junto à horta e compostagem dos resíduos orgânicos também foram planejadas atividades educativas com as crianças e elaboração de um planejamento para gestão integrada de todos os resíduos orgânicos e associação das atividades práticas às atividades educativas. Em 2013 foram realizadas oficinas temáticas sobre Plantio Agroflorestal, Saneamento Ecológico, Bioconstrução e Espiral de Ervas no LaVAPer. No ano de 2014, foram realizadas 6 oficinas temáticas no LaVAPer: Construção com Bambu, Horta Freática, Plantio Agroflorestal, Bioconstrução, Forno de barro, Forno solar e Tintas naturais. No mesmo ano, foram também organizadas quatro visitas da turma da escola municipal aos dois laboratórios vivos de agroecologia na UFRJ: LaVAPer e Ocupação Verde do Projeto de Extensão Capim Limão. A Trilha Ecopedagógica é também por si um experimento de pedagogia em que o laboratório, por ser vivo, interage com o visitante com ou sem a presença de um guia. O espaço cedido na EMTAJ, em 2014, foi revitalizado graças à iniciativa da educadora responsável pela turma do 6º ano do ensino fundamental, junto à atuação do MUDA, e passou a ser um espaço de aprendizado ao ar livre, que foi batizado pelos alunos de “Espaço Amora”; local com o objetivo de abrigar dinâmicas e experimentos práticos complementares aos conceitos trabalhados de forma teórica na sala de aula, no contexto da disciplina de Educação Ambiental que foi criada para absorver atividades propostas pelo Projeto MUDA. O Grupo MUDA passou a realizar atividades semanais relacionando o conteúdo do programa de ensino relativos a sua série aos princípios do cultivo agroecológico. Foram desenvolvidas também atividades práticas de compostagem, plantios e de abordagem das propriedades físicas e biológicas dos solos. A educação ambiental foi integrada pela professora como tema transversal às matérias do 5º ano, adotando o Espaço Amora, como fonte de coleta de dados para subsidiar a teoria e promover assim a interdisciplinaridade no ensino. Tanto o grupo quanto a professora vêm aplicando metodologias de educação participativa, nas quais os estudantes são incentivados a
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contribuir ativamente no desenvolvimento das aulas, perseguir e aplicar o conhecimento de forma a serem eles os sujeitos ativos do processo de aprendizado. Nos anos de 2014 e 2015, foram realizados 4 Cafés Agroecológicos para eventos acadêmicos e disciplinas da graduação, 8 Vivências Agroecológicas nos sítios de produtores agroecológicos da Feira Agroecológica da UFRJ e 2 Vivências Permaculturais no sítio de integrantes do MUDA, atingindo um público de cerca de 200 participantes. Tais vivências são as experiências mais ricas na integração dos saberes acadêmicos e populares. É quando os participantes confrontam a teoria com a prática através de debates, visitas e mutirões que buscam aproximar consumidor e produtor através do compartilhamento de experiências e apresentação das atividades e demandas dos sistemas agroecológicos dos produtores da Feira. Como o próprio nome sugere, as vivências buscam uma imersão pedagógica, com intuito de vivenciar uma experiência em agroecologia ou permacultura. Apesar das particularidades de cada um dos locais de atuação do projeto dentro da área pedagógica, podese ressaltar algumas convergências metodológicas. Dentre elas: ● A materialidade da ação, ‘ficando’ um produto do aprendizado no local. ● A participatividade, que torna o sujeito protagonista do processo de aprendizagem através de metodologia e dinâmicas participativas. ● Interdisciplinaridade, que busca analisar o objeto de estudo sobre diversos pontos de vistas, de forma a desocultar tudo que o objeto tem a oferecer no processo pedagógico. ● Dialética da ação. Uma metodologia na perspectiva dialética entende que o conhecimento não é "transferido" ou "depositado" pelo outro (conforme a concepção tradicional), nem é "inventado" pelo sujeito (concepção espontaneísta), mas sim que o conhecimento é construído pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo. No sentido de sistematizar essa nova conceituação metodológica, foi desenvolvido uma interpretação gráfica chamada “Flor da Agroecopedagogia”, que se baseia nessas convergências metodológicas apontadas acima com plano de fundo e busca nos sistemas agroalimentares sua fonte de inspiração para proporcionar ambientes pedagógicos. O
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propósito geral das ações é sustentado pelo tema transversal saúde (caule), o embasamento das atividades consiste na contextualização histórica, passado, presente e futuro, e nas perspectivas individuais e coletivas (raízes). A Agroecopedagogia cunhada no MUDA, por se fundamentar no tema saúde ambiental, busca levar em consideração as áreas temáticas: alimentação; corpo e mente; doenças e terapias; relações pessoais; tecnologias e ambiente (pétalas da flor). Considerações Finais O Grupo MUDA prevê continuar avaliando sua prática pedagógica mediante formulários adaptados aos diferentes públicos e atividades, o retorno oral das rodas de avaliação e os produtos materializados de cada linha de ação. A experiência com o LaVAPer através do desenvolvimento da Trilha Ecopedagógica, oficinas, cursos e mutirões tem se mostrado uma forma prática e divertida de desenvolver atividades pedagógicas que atendem aos preceitos da Agroecopedagogia. A disciplina de extensão é um experimento pedagógico com o público universitário, enquanto que a atuação na EMTAJ é um experimento pedagógico com o público do ensino fundamental, ambas em constante evolução e cada uma com suas especificidades. O envolvimento, frequência e avaliação das atividades indicam um resultado positivo das metodologias empregadas para ambos os públicos, ressaltando que cada um tem seus desafios e demandas específicas. A ação junto aos agricultores desafia os “extensionistas” a se apoiarem numa teoria interdisciplinar e à luz do pensamento complexo (MORIN, 2000), abarcando as ciências da vida e da natureza, como botânica, ecologia e hidrologia, mas também as ciências sociais, como é evidente no conteúdo do presente relato. A relação dialógica do Grupo MUDA com os agricultores de Guapimirim exemplifica o construir de um saber agroecológico, que confere ao conhecimento tradicional, imbuído na cultura dos agricultores, a sua devida importância. Sistematicamente, o grupo universitário tem contribuído com os seus trabalhos para a universidade, apontando um novo paradigma em nível de metodologia pedagógica e científica. As vivências tem atendido à uma demanda crescente por
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experiências agroecológicas, à procura de formas de aprendizado mais dinâmicas, consumo responsável e relações mais respeitosas com o meio ambiente. O Grupo MUDA, surgiu perseguindo novas fontes e formas de aprendizado e se viu envolvido em atividades educativas em todas as sua atuações, valorizando a diversidade de conhecimentos e a capacidade de ensinar e aprender, intrínseca a todo ser. Referências CALDART, R. S. Escola é mais do que escola na: Pedagogia do movimento Sem Terra. Petrópolis: Vozes, 2000. CAPRA, F. Alfabetização Ecológica: o desafio da educação no próximo século. Florianópolis: IPAB, 1999. _________. The Web of Life (Capra, 1996). FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. ____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. ___________. Educação como prática da liberdade. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. GUTIÉRREZ, Francisco. Pedagogia para el Desarrollo Sostenible. Heredia, Costa Rica, Editorialpec, 1994. LANZ, Rudolf. A Pedagogia Walfdorf. Editora Atroposófica, São Paulo, 1986. LEGAN, Lucia. A Escola Sustentável: Ecoalfabetizando pelo ambiente. 2a ed. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007. LOUREIRO, C.F.B. Educação Ambiental Crítica: Princípios Teóricos e Metodológicos. Rio de Janeiro, Hotbook, 2002. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília: Unesco, 2000. OLIVEIRA, Lara Angelo; CHIABI, Lucas; FIRMO, Heloisa Teixeira; LIMA, Tomé de Almeida; KAZAY, Daniel Firmo. Histórico e impacto do grupo MUDA na Engenharia
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Ambiental da UFRJ. Cadernos de Agroecologia – ISSN 22367934 – Vol 8, No. 2, Nov 2013. PISTRAK, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da Escola do Trabalho. Trad. Daniel Aarão Reis Filho. 3a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.192p. VASCONCELOS, Kellyanna da Silva; FIRMO, Heloisa Teixeira; LIMA, Tomé de Almeida; MELO, Mayná Peixinho Moreno; MENÉNDEZ, Inés Gómez; OLIVEIRA, Lara Angelo. Experiência em pedagogia agroecológica: a atuação do Projeto de Extensão MUDA/UFRJ. Cadernos de Agroecologia ISSN 22367934 Vol 10, No. 3, OUT 2015.