Aproximaçao Consumidor-produtor e a construção do conhecimento na Feira Agroecologica da UFRJ

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Resumos do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia – Belém/PA – 28.09 a 01.10.2015

Aproximação consumidor-produtor e construção do conhecimento agroecológico na Feira Agroecológica da UFRJ através do Projeto de Extensão MUDA – Mutirão de Agroecologia. Approximation consumer-producer and agroecological knowledge construction in the Agroecological Fair of UFRJ by the Extension Project MUDA – Mutirão de Agroecologia. LIMA, Tomé de Almeida​ 1​; CHIABI, Lucas​2​; MENÉNDEZ, Inés Gómez​3​; FIRMO, Heloisa Teixeira​4​; VASCONCELOS, Kellyanna da Silva​5 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rede dos Grupos de Agroecologia do Brasil, taltome@poli.ufrj.br​; 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, ​lucaschiabi@poli.ufrj.br​; 3 Universidad Politécnica de Madrid, ​inesgomezmenedez@gmal.com​; 4 Universidade Federal do Rio de Janeiro, hfirmo@poli.ufrj.br​; 5 Universidade Federal do Rio de Janeiro, kellyana.vasconcelos@poli.ufrj.br

Resumo A Feira Agroecológica da UFRJ, desde 2010, oferece produtos agroecológicos à comunidade acadêmica, no entanto, até hoje enfrenta dificuldades na obtenção do devido reconhecimento. O Projeto MUDA, desde 2009, vem inserindo a discussão sobre a agroecologia no meio acadêmico e realizando atividades de ensino, pesquisa e extensão sobre o tema. O presente relato objetiva descrever como a ação do Projeto MUDA junto à Feira Agroecológica da UFRJ contribui para o fortalecimento da agroecologia e reconhecimento da Feira Agroecológica por intermédio da aproximação do consumidor e do produtor, ao mesmo tempo em que fomenta a construção do conhecimento agroecológico no território do estado do Rio de Janeiro. São divulgadas para a comunidade acadêmica informações sobre a agroecologia, a Feira em si e o Projeto MUDA, oferecendo a oportunidade dos consumidores vivenciarem a realidade dos agricultores e incentivando a compra direta dos produtores através de um sistema de encomendas. Palavras-Chave: ​Feira agroecológica, Consumo responsável, Extensão universitária. Abstract The Agroecological Fair of UFRJ, since 2010, offers agroecological products to the academic community, however, until now faces difficulties in obtaining the proper recognition. The MUDA Project, since 2009, is introducing the discussion on agroecology in academia and performing studies, research and extension on the subject. This report aims to describe how the action of Project MUDA with the Agroecological Fair of UFRJ contributes to the strengthening of agroecology and recognition of Agroecological Fair through consumer and producer approximation, at the same time promoting the construction of agroecological knowledge in territory of the state of Rio de Janeiro. Information are offered for the academic community on agroecology, the Fair itself and the MUDA Project, offering the opportunity for

Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 3, OUT 2015


consumers to experience the reality of farmers and encouraging them to buy direct from producers through a system of orders. Keywords: ​Agroecological fair, Responsible consumption, University Extension.

Contexto A Feira Agroecológica da UFRJ foi concebida, em 2009, por um grupo interessado em discutir vias para uma alimentação mais saudável no Restaurante Universitário da UFRJ. Esse grupo era composto por representantes do Restaurante Universitário, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Projeto de Extensão Capim Limão e a Agência UFRJ de Inovação.

Como primeira ação concreta do grupo foi promovido o I Encontro de Sabores e Saberes (dias 21 e 22 de outubro de 2009), com o intuito de comemorar o Dia Mundial da Alimentação e avaliar a receptividade da comunidade universitária à comercialização de alimentos orgânicos no campus. Após essa ação foi decidida a realização semanal da Feira Agroecológica da UFRJ, tendo como feirantes somente agricultores familiares de bases agroecológicas do estado do Rio de Janeiro. Alimentos agroecológicos se referem à alimentos orgânicos (aqueles sem utilização de insumos químicos) em que as relações de produção com o agroecossistema e com as pessoas sejam justas, buscando a melhoria ecossistêmica e a justiça social. A UFRJ além da disponibilização do espaço físico e das barracas para a instalação da Feira, garante as refeições (café da manhã e almoço) para os agricultores. Em contrapartida, os agricultores se responsabilizam pelo transporte dos produtos até a Cidade Universitária e sua venda. Hoje, a feira acontece distribuida em 3 pontos: Centro de Ciências da Saúde (CCS), Reitoria e Centro de Tecnologia (CT), toda quinta-feira de 8 às 15 horas. Devido a problemas logísticos e econômicos muitas associações deixaram de participar da Feira e hoje apenas a AFOJO (Associação dos Agricultores Rurais, Artesãos e Amigos da Micro Bacia do Fojo – Guapimirim) mantém as atividades semanalmente. Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 3, OUT 2015


O Grupo MUDA – Mutirão de Agroecologia surgiu em 2009 por iniciativa de estudantes do curso de Engenharia Ambiental interessados em estudar os impactos inerentes ao nosso modo de vida e propor soluções. Ainda no mesmo ano, o grupo conseguiu permissão para utilizar uma área para realização de experimentos em recuperação

de

áreas degradadas e produção de alimentos através da

compostagem de resíduos orgânicos e implementação de um sistema agroflorestal. Desde então o grupo vem manejando a área e realizando novos experimentos em Agroecologia, Saneamento Ecológico e Bioconstrução. No ano de 2013, o Projeto MUDA - Mutirão de Agroecologia foi contemplado com 4 bolsas de extensão pelo PIBEX – Programa Institucional de Bolsas de Extensão. A partir desse ano o grupo se consolidou enquanto projeto de extensão e nomeou a área experimental de LaVAPer - Laboratório Vivo de Agroecologia e Permacultura.

Descrição da experiência O grupo admira o trabalho dos agricultores da Feira Agroecológica da UFRJ e sempre buscou apoiá-los, mas uma linha de ação voltada para o fortalecimento da Feira só teve início no projeto PIBEX 2014. A partir de março de 2014, um bolsista estava dedicado ao trabalho junto à Feira Agroecológica da UFRJ no CT. As atividades estavam relacionadas a montagem semanal de um estande do Projeto MUDA junto à feira, com função de fornecer informações ao público, divulgando a agroecologia, a feira e o projeto, ao mesmo tempo em que se planejavam mais ações.

No projeto concebido para o edital PIBEX 2015, uma das linhas de ação está relacionada ao fortalecimento da Feira Agroecológica através da aproximação consumidor-produtor. Um bolsista é responsável por essa linha de ação, as atividades desenvolvidas são: montagem de um mural divulgando a agroecologia, o Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 3, OUT 2015


projeto e a feira; distribuição de informativos; organização de vivências nos sítios dos agricultores e implementação do sistema de encomendas diretas dos produtores: Cestas Agroecológicas do CT.

Resultados Em 2014, essa relação culminou na realização de visitas aos agricultores da AFOJO e realização da I e II Vivência Agroecológica (VA), que consistiram em levar consumidores para passarem o fim de semana imersos na realidade dos produtores. Outra atividade proveniente dessa interação foi a realização do Café Agroecológico organizado pelo grupo MUDA com produtos da Feira Agroecológica, em contraponto ao tradicional ​coffee-break​, na semana da Engenharia Ambiental. A partir de meados de março do ano de 2015, iniciou-se o sistema de encomendas Cestas Agroecológicas, que consiste no cadastro dos consumidores, atualização semanal da lista de produtos disponíveis em uma tabela e preenchimento dos pedidos pelos consumidores. As encomendas são repassadas aos agricultores que levam os produtos à feira no CT, onde os consumidores retiram suas encomendas e pagam o valor correspondente. Tal sistema permite aos agricultores levarem mais produtos com venda garantida, fidelização dos clientes e oferece aos consumidores a oportunidade de reservar qualquer produto oferecido.

Nos dias 10, 11 e 12 de abril de 2015, foi realizada a III Vivência Agroecológica. A metodologia da vivência foi concebida com base no ciclo produtivo: Cultivo, Colheita, Beneficiamento,

Comercialização,

Consumo,

Compostagem,

Cultivo.

Foram

realizadas atividades abordando cada etapa desse ciclo. Nessa vivência os agricultores já haviam se apropriado dos termos banheiro seco e agrofloresta que haviam sido introduzidos pelo MUDA na I VA. Foram oferecidas 20 vagas. Com uma semana de divulgação as vagas já haviam sido preenchidas e até o dia 10 de Abril Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 3, OUT 2015


foram registradas 58 mensagens com interesse em participar da vivência. A contribuição de R$60,00 por participante inscrito cobriu os gastos e gerou saldo positivo para os agricultores. Ao fim da vivência todos os resíduos orgânicos da cozinha e do banheiro seco foram pesados e uma leira de compostagem foi montada. A avaliação da vivência foi muito positiva tanto pelos inscritos como pelos anfitriões, ressaltando que o convívio e diversidade de formações enriqueceram a construção do conhecimento e o trabalho em mutirão foi proveitoso para os agricultores.

A IV Vivência Agroecológica foi marcada para os dias 1, 2 e 3 de maio e foi divulgada apenas para a lista de espera da III VA. Os próximos passos são o fortalecimento de outros produtores da Feira Agroecológica, que agora se mostram mais interessados em realizar vivências em seus sítios. As próximas vivências já estão sendo planejadas para junho e agosto em outros sítios.

A ação junto aos agricultores desafia os “extensionistas” a se apoiarem numa teoria interdisciplinar e à luz do pensamento complexo (Morin, 2000), abarcando as ciências da vida e da natureza, como botânica, ecologia e hidrologia, mas também as ciências sociais, como é evidente no conteúdo do presente relato. A relação dialógica do Grupo Muda com os agricultores de Guapimirim exemplifica o construir de um saber agroecológico, que confere ao conhecimento tradicional, imbuído na cultura dos agricultores, a sua devida importância. Sistematicamente, o grupo universitário tem contribuído com os seus trabalhos para a universidade, apontando um novo paradigma em nível de metodologia científica. As vivências têm atendido à uma demanda crescente por experiências agroecológicas, à procura de formas de consumo responsáveis e relações mais respeitosas com o meio ambiente.

Agradecimentos Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Vol 10, No. 3, OUT 2015


À Feira Agroecológica da UFRJ por promover um espaço de troca tão rico. À AFOJO pelo trabalho sério que tem sido feito. À ASPTA pelo apoio prestado aos agricultores familiares e feiras agroecológicas do estado do Rio de Janeiro. Gratidão inestimável aos agricultores Orenir Benevides e Domingos Benevides pela grande receptividade, consciência ambiental, confiança no Projeto MUDA e trabalho sério que nos alimenta para seguir na luta por um futuro mais justo. Por fim, gratidão aos envolvidos no Projeto MUDA pela dedicação e construção de um novo paradigma para um futuro viável.

Referências bibliográficas MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília: Unesco, 2000.

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