MAOgazine - 00 - Novembro 2018

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Dia Mundial do

EMPREENDEDORISMO

5 PASSOS PARA CRIAR a sua diferenciação e não ter que baixar os preços

feminino COACHING

Os desafiosde uma profissão emergente

ASSISTENTE VIRTUAL Uma profissão para o futuro

DORES DE CRESCIMENTO

no Empreendedorismo Feminino


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Edi t ial dit ia Em 2014, a ONU criou o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado a 19 de novembro

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A Equipa da Maogazine Em 2014, a ONU criou o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado a 19 de novembro. Esta data comemora o empoderamento profissional das mulheres e apresenta o empreendedorismo como a via a seguir para a realização profissional, o aumento da competitividade e o crescimento económico. O perfil do empreendedor tem sido sobejamente divulgado: saber arriscar, aproveitar as oportunidades, ter visão de negócio, foco no objetivo e uma resiliência sobrenatural são algumas das características que as líderes do presente e do futuro devem possuir. No entanto, quando o empreendedorismo se transforma numa moda deixa de estar «fora da caixa» para ser «a caixa». Por isso, não podemos deixar de questionar, problematizar e equacionar as fórmulas para o sucesso que lhe estão subjacentes, para já não falar da própria noção de sucesso, também ela socialmente construída. Queremos enriquecer ou conquistar a nossa independência financeira? Queremos trabalhar muito/pouco ou trabalhar melhor, com mais autonomia e uma melhor articulação trabalho/família? Preocupa-nos a sustentabilidade social e ecológica dos nossos projetos de empreendedorismo, ou queremos simplesmente escalar os nossos negócios o mais rapidamente possível? Pensar seriamente sobre todas estas questões ajuda-nos a sair dos lugares comuns e a ver a inovação, a criatividade e o potencial em setores que não se incluem no mainstream das startups tecnológicas e das grandes empresas de topo. O artesanato, a assistência virtual, o

cuidado a pessoas dependentes, o aproveitamento de produtos alimentares valiosos mas pouco valorizados numa sociedade ainda pouco consciente do impacto que o seu consumismo produz, são vias a explorar por um empreendedorismo que se quer crítico e verdadeiramente capacitado para questionar tabus sociais e encontrar novas vias para um mundo melhor. Por isso, apresentamo-los neste número comemorativo da nossa revista, juntamente com diversos exemplos e opiniões que nos transportam para além dos limites restritos de um conceito que se popularizou. Se o empreendedorismo feminino e a liderança no feminino estão na moda, vamos agarrá-los e aproveitar esta oportunidade para exercer a nossa voz, enquanto mulheres empreendedoras interessadas em construir os seus negócios com respeito e dignidade, independentemente da sua dimensão. Afinal, numa sociedade equitativa e justa, a liderança de topo é substituída por uma liderança menos hierarquizada e mais horizontal, que deve ser exercida por todos os cidadãos e não apenas por uma pequena elite com cargos de direção em empresas de grandes dimensões. É este o verdadeiro empoderamento que celebramos na nossa revista. A Maogazine dá voz à mulher real que empreende por opção ou necessidade, que cria negócios em diversas áreas, de diversas dimensões e com diferentes graus e noções de sucesso, e que o faz olhando sempre à sua volta, para questionar os comos e os porquês do seu percurso. Juntem-se a nós nesta caminhada que se inicia nesta data tão especial. Esperamos que seja longa e cheia de realizações e desafios!


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editorial

A Maogazine apresenta artigos de autoras portuguesas e brasileiras e mantém sempre a grafia original.

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crónica

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reportagem

Dores de crescimento no Empreendedorismo Florbela Barão Uma profissão para o futuro: Assistente Virtual Sílvia Valente e Gisela Santos A importância da crítica e do autoconhecimento no empreendedorismo Cristina Rodrigues Capa de uma revista - Making off

entrevista

Artesanato: Retrato de uma atividade ArtelusaM

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negócios

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negócios negócios

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negócios negócios

5 passos para criar a sua diferenciação e não ter que baixar os preços Teresa Botelho Coaching: os desafios de uma profissão emergente Paula Trigo 5 passos para uma mudança bem sucedida Renata Netto Como implementar SEO em Marketing de conteúdos Filipa Cardoso 5 segredos para ser um bom comunicador Raquel Pacheco Pense, antes de agir! Breves conceitos a conhecer antes de decidir ser empresária Cristina Gomes Cinco dicas para licenciar o seu negócio Inês Santos 7 coisas que aprendi a escrever o livro dos Fazedores Mariana Barbosa Empreendedora, eu? Claro que sim! Juliana Prata Setor Cooperativo: um vestígio do passado ou uma alternativa para o futuro? Camila Rodrigues

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autor convidado crónica

As criptomoedas não escolhem sexo António Vilaça Pacheco

entrevista

Cuidar de quem Cuida - Estatuto do Cuidador Informal Camila Rodrigues

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entrevista entrevista crónica

Blog para que te quero

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moda

Tendências de Moda 2018/2019 Rute Doellinger

moda culinária

Coleção Mulheres à Obra by Pampa Mia

culinária

Receitas brasileiras de fusão: Filé de frango ao molho Roquefort + Panna Cotta Rosana Guedes

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olhares olhares

Ilustração: Isa Silva

olhares instas

Artesanato: Carla Raimundo, Isa Silva

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entrevista crónica

negócios negócios negócios

crónica entrevista

o momento ideal somos nós Rita Siborro

Empreendedorismo brasileiro em Portugal: Bossa Market Camila Rodrigues Tolerante mas não tanto Fátima Mariano

Alimentação saudável Fernanda Martins

Fotografia: Cátia Alpedrinha Caetano, Isa Silva

Vanessa Barragão + Kate Weilz Isa Silva

Directoras Camila Rodrigues e Carla Lopes | Apoio Editorial: Manuela Pereira (Inurban) | Colaboraram nesta edição: Florbela Silva, Cristina Rodrigues, Teresa Botelho, Paula Trigo, Renata Netto, Filipa Cardoso, Raquel Pacheco, Cristina Gomes, Inês Santos, Mariana Barbosa, Joana Prata, António Vilaça Pacheco, Rita Siborro, Fátima Mariano, Rute Doellinger, Fernanda Martins, Rosana Guedes, Alexandra Simões de Carvalho (styling), Marta Matias (make up), Cátia Alpedrinha (fotografia) | Design, paginação e ilustrações: Isa Silva | Bancos de Imagens: Burst © 2018 MAOgazine | Todos os direitos reservados. As imagens e textos têm direitos reservados e são propriedade dos seus respectivos donos. Todos os direitos reservados.



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Fl bela Barão

CRÓNICA

Dores de crescimento no

EMPREENDEDORISMO A vontade de mudança é algo que ocorre de forma entusiasta. Da ideia à ação, pode ser tudo muito rápido. É bom aproveitar esse ímpeto e avançar se tudo apontar para esse ser o caminho certo naquele momento.

Mas o que pode esmorecer é o entusiasmo dos tempos iniciais e é importante ter um foco constante no nosso plano de ação, negócio, e na gestão do nosso tempo. E dar-nos tempo e compreensão para os resultados que podem tardar em chegar pois, muitas vezes, é uma questão de ter paciência para termos as respostas que aguardamos e vermos a melhor solução para aquele problema. Pedir feedback às propostas enviadas, fazer o customer journey e retomar o contacto em momentos oportunos. Como mulher, não podia deixar de passar uma nota importante sobre o papel da Mulher no Empreendedorismo. As nossas capacidades são, por vezes, colocadas em causa. O facto de se querer constituir família, ter filhos é, por vezes, ou mesmo muitas vezes, um fator impeditivo de evolução na carreira. Não é colocar as mulheres num lugar de vitimização, mas num lugar de repensarmos o nosso papel e como queremos gerir a nossa vida profissional que é indissociável da nossa vida pessoal. Sei que há muitas mulheres que não deixam de cumprir ou se exceder no seu papel profissional, mas só elas sabem a que preço.

Há, porém, muitas questões e variáveis que se colocam e apresentam no primeiro ano seja de natureza jurídica, financeira, negócio, fiscal e até contributiva. Trabalhar em casa ou fora de casa? Num espaço partilhado, sala, loja ou escritório? Empresário em nome individual ou sociedade unipessoal ou por quotas? Passar um recibo, ato único ou fatura? Faço parcerias e em que moldes, contrato colaboradores?

foto: osretratistas.com

Um dos aspetos que me inquietam é, entre outros, a questão contributiva para a Segurança Social. Quando trabalhamos por conta de outrem, sabemos que 11% do nosso vencimento são para a SS. Mas e se, numa fase de arranque, como empresários em nome individual pensarmos em contribuir com o mínimo, isso não irá comprometer no futuro o valor da prestação a recebermos? Não é para desmotivar, mas é parte do processo.

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A segunda metade da nossa minha vida profissional, que é o momento em que me encontro atualmente, pode ser o momento certo para colocar em perspetiva o rumo que queremos dar à nossa carreira e a nossa relação com o rendimento – trabalhador por conta de outrem, CEO, investidor ou trabalhador por conta própria/empreendedor. É preciso refletir no exemplo que queremos dar aos mais jovens que estão a iniciar a sua carreira e vida profissional. Aquilo que tenho para oferecer como profissional independente é o meu tempo e conhecimento, e o importante é saber valorizá-lo.


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Sílvia Valente e Gisela Santos

ENTREVISTA

Uma profissão para o futuro

ASSISTENTE VIRTUAL

O nível de autonomia que possuímos sobre a gestão do nosso próprio trabalho contribui grandemente para o nosso grau de satisfação laboral.

Sílvia Valente

O poder de decidir pormenores aparentemente simples, como a ordem de execução das tarefas, o horário destinado ao cumprimento das responsabilidades profissionais ou até o local onde se executam as funções requeridas é algo que não tem preço.

À medida que o progresso tecnológico nos proporciona cada vez mais ferramentas que facilitam o trabalho à distância, surgem novas formas laborais distintas das tradicionais. Estas formas inovadoras de estar no trabalho podem ainda causar alguma estranheza nas mentes mais conservadoras, mas exercem um considerável poder de atração sobre as personalidades mais arrojadas. A mulher que procura a sua independência e que quer ser dona do

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ENTREVISTA

seu tempo encontra na assistência virtual uma opção muito interessante. Se a secretária tradicional vivia condicionada por um local de trabalho determinado e por horários e funções rígidos, a assistente virtual tem margem de manobra para decidir como, quando e onde quer trabalhar. Para conhecer melhor esta realidade, conversámos com a Sílvia Valente (SNV – Secretariado Virtual) e a Gisela Santos (2Gather), duas assistentes virtuais que partilharam connosco os segredos desta profissão que atrai cada vez mais mulheres.

crescer em Portugal e no Brasil. Pouco tempo depois, fiquei a conhecer um programa de formação específico para assistentes virtuais aqui em Portugal, promovido pela Catarina Louçada e pela Ana Santos. Com elas, aprofundei alguns conhecimentos que, de forma quase autodidata, tinha vindo a adquirir. Como te lançaste nesta atividade? Quando comecei a investigar sobre esta atividade, comecei também a procurar anúncios e foi assim que consegui a minha primeira cliente. Depois de frequentar a formação, e com mais conhecimentos, comecei a apresentar-me junto de potenciais clientes, dando-lhes a conhecer os meus serviços e mostrando-lhes como os poderia ajudar.

Sílvia Valente

Quais os teus principais desafios enquanto assistente virtual?

O que é o secretariado virtual?

Creio que o principal desafio é o mesmo de todas as pessoas que começam a trabalhar por conta própria: mantermo-nos focadas naquilo que é importante para nós e para o nosso projeto. No caso do secretariado virtual, uma vez que se trabalha a partir de casa, essa capacidade de manter o foco é essencial. Trabalhar a partir de casa é muito bom, pela liberdade que nos dá, mas é necessário sermos muito organizadas e termos um grande sentido de compromisso - connosco próprias e com os nossos clientes. Se não tivermos estas características, é muito fácil ceder às inúmeras distrações.

O secretariado virtual é um serviço de secretariado prestado remotamente, ou seja, à distância. A secretária ou assistente virtual presta estes serviços, que podem incluir diferentes tipos de tarefas, sem estar fisicamente no mesmo local que a(s) pessoa(s) para quem trabalha. Hoje em dia, com as facilidades tecnológicas que existem, já não há necessidade de contratar uma secretária a tempo inteiro logo no arranque do negócio. O/a empreendedor/a pode ter alguém a apoiá-lo/a nas questões administrativas apenas durante o número de horas que efetivamente necessita, sem se preocupar com gastos extra como seguros ou segurança social. Como descobriste esta atividade?

Quais as tuas maiores conquistas enquanto assistente virtual?

Eu trabalhei muitos anos na área de recursos humanos, estando ligada à gestão e coordenação da formação. Nesta área, o trabalho que se faz é bastante administrativo, já que envolve muita burocracia. Quando esse projeto terminou, comecei a procurar alternativas que me permitissem ser eu a gerir o meu tempo e, em simultâneo, fazer o que gosto. Foi aí que comecei a encontrar informação sobre as assistentes/secretárias virtuais. É uma profissão que noutros mercados, como o dos Estados Unidos, já tem muitos adeptos e que está agora a começar a

A principal conquista é poder fazer aquilo de que gosto e ser dona do meu tempo. Como assistente virtual, ajudo as minhas clientes a gerirem o seu tempo mais eficazmente para que tenham mais liberdade para as diferentes áreas da sua vida. Ao mesmo tempo, trabalhando por conta própria, consigo essa flexibilidade também para mim. Depois, poder contribuir para projetos diferentes, de áreas muito distintas, também me dá um gozo enorme, pois permite-me uma aprendizagem contínua e torna o meu trabalho muito dinâmico. Não há dias iguais e isso é muito aliciante.

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Sílvia Valente e Gisela Santos Quem pode beneficiar da colaboração de uma assistente virtual – quem são os clientes? Na verdade, qualquer pessoa que necessite de trabalhos administrativos pode beneficiar dos serviços de uma AV. Não há nenhum empreendedor ou freelancer que não precise de executar tarefas como responder a emails, atualizar a sua base de dados, fazer pesquisas, estruturar documentos, manter as suas redes sociais atualizadas... As tarefas que uma AV pode desempenhar são infindáveis. Todas as tarefas consumidoras de tempo que possam ser realizadas à distância podem ser delegadas a uma assistente virtual. Que conselhos dás a quem quer iniciar esta atividade? Na minha opinião, quem quiser começar deve, antes de mais, procurar reunir o máximo de informação possível, sobretudo no que diz respeito à forma como pode criar a sua marca e o que precisa de ter e saber para prestar um bom serviço. Reunindo esse know how e as características base que também já referi, deve analisar se está realmente disposto/a a dedicar-se aos projetos de outras pessoas. Na minha opinião, o sentido de contribuição nesta atividade é extremamente importante, porque estamos a colaborar com pessoas que investem

muito tempo nos seus negócios e que, por isso, esperam que quem colabora com elas dê sempre o seu melhor, como se o negócio fosse também um pouco seu.

Gisela Santos O que é o secretariado virtual? O Secretariado Virtual ou Assistência Virtual, como é mais conhecido no mercado, é uma forma de prestar serviços remotamente a trabalhadores independentes, pequenas e médias empresas. Eu prefiro chamar Assistência Virtual, pois alguns dos serviços que ofereço ao


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ENTREVISTA

Gisela Santos

meu cliente, para além do Secretariado, são serviços especializados na área de Recursos Humanos, na área do Marketing Digital e na Área Comercial. São mais abrangentes do que apenas o secretariado. Como descobriste esta atividade? Descobri através da internet em sites, principalmente norte-americanos, mas também muitos brasileiros. É uma atividade bastante exercida no estrangeiro, e que começou a entrar mais recentemente no mercado português. Como te lançaste nesta atividade? Tirei um curso americano de Assistência Virtual, estudei várias formas de pôr em prática a minha atividade e falei com algumas assistentes virtuais, que me ajudaram a perceber melhor esta atividade. Depois peguei em toda a minha experiência profissional,

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de forma a perceber que tipo de serviços poderia oferecer aos meus clientes. Foquei-me apenas naquilo que sei fazer realmente bem, porque para mim é importante prestar um serviço de qualidade. Neste momento, estou a criar uma equipa de pessoas especializadas noutras áreas para poder ter uma maior e mais eficaz capacidade de resposta. Quais os teus principais desafios enquanto secretária virtual? Os principais desafios passam muito por ganhar a confiança dos meus potenciais clientes. Os empresários portugueses têm


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Sílvia Valente e Gisela Santos dificuldade em confiar no trabalho de uma pessoa que não está perto deles. Para eles, torna-se mais difícil de perceber e controlar se o trabalho está a ser bem feito, e no timing definido. Mas se pensarmos em termos de produtividade, é muito mais vantajoso contratar o número de horas de serviço necessário, pois a Assistente Virtual vai-se dedicar a cumprir o que foi delineado durante aquele período de tempo específico. Quais as tuas maiores conquistas enquanto secretária virtual? As principais conquistas têm sido perceber que os meus clientes confiam no meu trabalho e que o recomendam. Estas recomendações fizeram com que tivesse de começar a criar uma equipa para trabalhar comigo e expandir o meu negócio. A Assistência Virtual é o futuro para grande parte das empresas, e quanto mais cedo começarem a contratar este tipo de serviços, mais rentabilidade começam a ter. Um funcionário a tempo inteiro tem uma carga de custos associados bastante elevada (subsídios de férias, de Natal, Segurança Social, seguros, material de trabalho e necessidade de espaço físico). A contratação de Assistência Virtual apenas tem o custo do valor hora contratualizado, ou seja, o cliente paga apenas pelo número de horas trabalhadas. Quem pode beneficiar da colaboração de uma secretária virtual – quem são os clientes? Os clientes são principalmente freelancers e pequenas e médias empresas. São todos aqueles que necessitam dos serviços que a

assistência virtual fornece e que não têm possibilidade ou disponibilidade para contratar um funcionário fixo. Desde médicos que necessitam de quem gira e marque consultas a imobiliárias que precisam de quem agende reuniões e marque visitas, a espaços de belezas e estética que necessitam de ajuda com marcações e contabilidade, a empresas de eventos que precisam de incluir parceiros nos seus serviços. No fundo, qualquer atividade e qualquer empresário necessita de apoio no seu negócio. Que conselhos dás a quem quer iniciar esta atividade? Acima de tudo perseverança, empenho e paixão pelo que faz. Não é fácil entrar neste mercado, e nem toda a gente tem aptidão para este tipo de trabalho. A tendência é achar que é algo fácil e que toda a gente faz. Mas não é bem assim. Só se consegue fidelizar um cliente se o trabalho for realmente bom. É necessário que percebam que o empenho e a qualidade do trabalho são essenciais porque o cliente que compra este tipo de serviços já está a comprar algo diferente, está a confiar numa pessoa cujo trabalho não conhece. O facto de não estar cara a cara com a assistente virtual é um handicap. A Assistência Virtual está a crescer em Portugal, e daqui a uns tempos vai ser muito fácil encontrar este tipo de serviços. O mais difícil vai ser encontrar quem o faça realmente bem e com dedicação ao cliente.

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CRÓNICA

A importância da

e do

crítica autoconhecimento no empreendedorismo Quando lançamos, ou estamos no processo de lançar, um projeto novo, existem muitas expetativas e sentimentos relacionados com o mesmo. Um novo projeto é uma extensão de quem somos, dos nossos ideais e dos nossos valores. Um novo projeto é, como tantas vezes se ouve, “como se fosse um filho”. Somos, por isso, muitas vezes, aconselhadas a procurar os amigos, quem nos quer bem, e afastar-nos de quem nos puxa para baixo ou de quem nos diz palavras mais duras ou nos dirige observações mais rudes.


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Cristina Ro igues Se é verdade que estarmos rodeadas de “boas energias” nos permite um outro tipo de ânimo, é também importante olhar com atenção para as críticas que nos fazem, mesmo quando sabemos que, muitas vezes, a crítica surge por despeito, por inveja, por má intenção. Mas se retirarmos o peso emocional da crítica, será que o conteúdo da crítica é verdadeiro? Será que levanta uma questão para a qual ainda não olhámos com atenção? Será que nos aponta uma fraqueza real que temos e que precisa de ser trabalhada, resolvida, fortalecida? Muitas vezes, diz-se e se acredita-se que o empreendedorismo se baseia apenas no olhar para as nossas forças, para as nossas competências, para as nossas capacidades. Creio que esta é só meia verdade. O empreendedorismo deve-se basear no autoconhecimento, profundo e honesto, de quem somos como um todo, enquanto pessoa e enquanto profissional. Somos o que fazemos bem e o que fazemos mal, e o momento da aceitação deste conjunto é fundamental. Nada nos tira valor, e o autoconhecimento pode lançar a escada que nos ajuda a atingir o nosso total potencial.

imagem: Catarina Araújo Ribeiro

Aceitarmos quem somos nem sempre é fácil. Especialmente quando temos um objetivo firmado que queremos atingir e que tem como obstáculo alguma das nossas próprias dificuldades ou fraquezas. A frase “sou eu própria que me estou a limitar e ao meu sonho” é difícil de verbalizar, é difícil de aceitar e até pode ser difícil de entender. Passámos tanto tempo da nossa vida a fazer as coisas de uma determinada maneira, que nem

sempre conseguimos ver como poderíamos ser (em melhor) sem nos comportarmos assim. Aceitarmos quem somos nem sempre é fácil. Mas quando o fazemos, passamos a ser totalmente responsáveis por nós e o controlo passa a ser interno e não externo. Passamos a depender totalmente de nós, sem esperar que as soluções de que precisamos venham de fora. Aceitar onde falhamos ou o que fazemos mal não é sinónimo de baixar os braços. Pelo contrário. É a nossa oportunidade para nos questionarmos, para nos conhecermos, para aprofundarmos o conhecimento que temos sobre nós próprias e criar de novo. Reconstruir, reatribuir significado, adquirir novas competências e novas alianças – comigo e, quando necessário, com os que me rodeiam. O mundo incita-nos constantemente a ver o que é bom, o que funciona, o que resulta, mas como se criam soluções para problemas sobre os quais não nos debruçamos? Como se fortalece uma estrutura sem sabermos onde está fraca? As nossas falhas existem, não somos perfeitas. A maior parte das nossas falhas pode ser corrigida e ainda melhor corrigida se formos nós a encontrá-las e a construir as estratégias que as vão resolver. Ter claro o que faço bem é tão importante como ter claro o que faço mal (e não apenas menos bem). Que medo teremos de nos ver tal como somos? “Eu não sou capaz”, “eu não sei”, “eu não quero”... são tudo frases verdadeiras no agora, no momento presente. Nada nos impede, depois de as dizer, de ir tentar, de ir aprender, de conseguir ultrapassar aquele obstáculo. A verdade individual é preciosa, libertadora e orientadora. Se sei quem sou, posso saber o que posso fazer, tenho segurança total nisso, e as minhas hipóteses de atingir o sucesso aumentam exponencialmente. A aceitação é um momento de clareza mental, de visão total interna. Por isso, frases como “mas achas mesmo que tens jeito para isso?”; “não percebes nada disso, para que é que te vais meter nesse buraco?”; “depois não digas que eu não te avisei” podem ser encaradas como avisos para parar. A atitude mais positiva pode ser “agora vou parar e refletir a sério sobre o que me disseram”. Será que há verdade nesta afirmação? Será que tenho de me preparar melhor, de outra forma, criar outro plano ou até outro objetivo? O sucesso não se atinge com a persistência nos mesmos erros, o sucesso atinge-se aprendendo com os erros, passados e presentes. O sucesso atinge-se com mais facilidade quando nos mudamos a nós, do que quando tentamos mudar o que nos rodeia (ou quem nos rodeia). A crítica ajuda ao autoconhecimento. Aceitar a crítica e procurar em nós onde ela pode ser verdadeira é possível, pertinente, mesmo quando essa crítica foi feita com maus sentimentos, com o objetivo de nos deitar abaixo. No fim, podemos dirigir-nos a quem nos tentou derrubar e dizer: “Obrigada. Sem ti, nada disto teria sido possível”.

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REPORTAGEM

Geralmente, as capas de revista apresentam celebridades, pois já se sabe que os famosos fazem vendas. É uma aposta segura e com retorno garantido. Felizmente, já se assiste a um movimento considerável que se opõe a esta tendência e procura captar a atenção pela qualidade e diferenciação da sua imagem, o que permite preservar a sua identidade e nos liberta do uniformismo cansativo de publicações idênticas que não acrescentam nada de novo.

C

apa Making Off

de

uma

Revista Na Maogazine, as celebridades têm um papel secundário e só aparecem quando, de facto, assumem um papel relevante para os temas que estamos a tratar.

Esta opção levantou-nos, desde o início, diversos desafios e um deles prendeu-se precisamente com a capa: como criar uma capa apelativa sem ter uma celebridade? A resposta foi simples: a própria capa tem que ser a protagonista. Tem que captar a imagem e o espírito das Mulheres à Obra

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e tem que celebrar o espírito empreendedor da própria Maogazine. Restava saber como criar esta imagem emblemática.

Ao longo de um ano e meio de Mulheres à Obra, temos tido o privilégio de conhecer o melhor que o empreendedorismo feminino em Portugal tem para oferecer. Temos entre nós mulheres extremamente criativas e talentosas que apresentam produtos e serviços de enorme qualidade. Em alguns casos raros, o seu trabalho tem uma qualidade artística única que só pode resultar de


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Camila Ro igues

Assim, quando começámos a idealizar a capa da nossa revista, rapidamente chegámos à mesma conclusão: quem melhor do que a Cátia Alpedrinha para lhe dar vida? Conhecemos a Cátia há alguns meses quando visitámos o seu estúdio na Ericeira e acompanhámos o making off de uma das suas sessões de valorização pessoal. Assistimos não à transformação de uma mulher pelo excesso de maquilhagem e produção, mas à revelação do melhor de si mesma mediante uma abordagem muito personalizada e intimista, que permitiu realçar as suas melhores características e captar o seu verdadeiro Eu. Foi uma experiência que nos marcou e nos levou a pesquisar imediatamente o seu site e a sua presença nas redes sociais.

imagens: Offing

uma combinação rara de experiência, competência, dedicação e, claro, aquele «dom» especial que algumas pessoas extraordinárias possuem.


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REPORTAGEM

Descobrimos, então, que a Cátia não é uma fotógrafa, mas é antes uma artista que usa a fotografia para se expressar. É extremamente eclética e navega à vontade em diversos tipos de fotografia: moda, retrato, corporate, valorização pessoal e, sobretudo, retratos de família. Foi esta sua vertente que mais nos apaixonou, pois estes retratos são do outro mundo! Entre todas as suas competências, a Cátia tem formação em cenografia e consegue criar ambientes incríveis com um toque irresistível de Kusturika. Era precisamente isto que procurávamos para a capa da Maogazine: uma sessão de valorização pessoal, essencial para quem passa os dias a trabalhar em casa de pijama e veste roupa “apijamada” para ir buscar os filhos à escola, com uma componente de retrato de família, pois as Mulheres à Obra já são para nós isso mesmo: uma família. Lançámos o desafio à Cátia que rapidamente o aceitou! Restava agora encontrar os restantes elementos desta aventura: cenário, styling e maquilhagem. Encontrámos o casamento perfeito no profissionalismo e dedicação da Alexandra Simões de Carvalho (Stylling) e da Marta Matias (Make Up Artist), que realçaram o melhor destas duas não muito jovens mães habituadas à rotina do home work. O cenário escolhido foi o ideal: a Quinta das Murtas, um lindíssimo solar rústico do século XIX que capta na perfeição o ambiente romântico e bucólico de Sintra.

Cátia Alpe inha Caetano Valorização Pessoal Formada em fotografia no IADE (1994/97), cenografia e direcção artistica pela ETIC (2001/02) e maquilhagem no Antónia Rosa Atelier /2003), resolvi apostar essencialmente no empoderamento da mulher através da união de duas das minhas formações. As Sessões fotográficas de valorização pessoal, são sessões em que maquilho e fotografo mulheres maioritariamente em estúdio, mas podendo também ser feitas em exterior se a cliente preferir. Além do empoderamento, promovem o aumento de auto estima e amor próprio. Sempre fiz este tipo de sessões, mas em 2017 com o aumento de trabalho, resolvi dar-lhes um nome. Neste momento “Valorização Pessoal” é uma marca registada com um conceito bem definido. A par destas sessões, também faço Retrato, Corporate e Moda. www.catiaalpedrinha.com cat.photo.makeup@gmail.com Facebook: Catia Alpedrinha Caetano https://www.facebook.com/retratosemfamilia Valorização Pessoal / Retratos em Família Instagram: @catia_alpedrinha_caetano https://www.instagram.com/catia_alpedrinha_caetano/

Com base na Ericeira, mas com estúdio amovível para me deslocar a qualquer parte do país e mundo.

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Alexan a Simões de Carvalho Fundadora da Style Your Life Gestora de Imagem e Formadora certificada há mais de 10 anos, nas áreas de imagem pessoal, profissional e corporativa. Fundadora da Style your life, foi www.styleyourlife.pt uma das precursoras do mercado de consultoria de imagem em Portugal, projeto através do qual orienta particulares e empresas a gerir e projetar todo o seu potencial ao nível da Imagem e Identidade Visual. O seu principal objetivo é permitir ao cliente posicionar-se e alcançar uma imagem consistente, clara, credível e autêntica junto do seu mercado e público-alvo.

sessão com Rita Completo

Licenciada em Psicologia Aplicada (pré-Bolonha), área social e das organizações, pelo ISPA, formou-se em Personal Styling (Tita Aguiar, S. Paulo, Brasil) e em Consultoria de Imagem Pessoal e Empresarial, pela Academia Looking (Lisboa). Complementou a sua formação com o Master em Consultoria de Imagem Corporativa, pela Ilana Berenholc www.catiaalpedrinha.com Consultoria de Imagem (S. Paulo Brasil). Especializou-se ainda em https://www.facebook.com/retratosemfamilia Análise de Cores (Método Sazonal Expandido), Estilo Universal e Análise de Tipo Físico e Proporções, https://www.instagram.com/catia_alpedrinha_caetano/ pela mesma entidade formadora. Foi docente na última pós-graduação de Consultoria de Moda e Imagem no IPAM.__


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REPORTAGEM

Dinamizou durante vários anos rubricas de moda como Fashion Adviser, nos programas “Boa Tarde” e “Sextas Mágicas” na SIC e no programa “Você na TV” na TVI. Atualmente, é responsável pela rubrica de moda do programa “Agora Nós” na RTP1. Participa, como oradora especialista na área de imagem pessoal e corporativa, em ações e palestras promovidas pelas mais variadas instituições, tanto públicas como privadas. Desempenha ainda funções de Image Consultant, Personal Shopper e Stylist nas Clínicas We Care e em várias lojas de segmento alto. Da sua carteira de clientes corporativos constam empresas e instituições das mais variadas áreas e setores, como Albifor, Amazing Ideas, Baldacci Portugal, Clínicas Pedro Choy, Grupo MVG, Odisseias, Polícia de Segurança Pública, Santander e Selplus, entre outras. Style Your Life www.styleyourlife.pt Proporcionamos aos nossos clientes a oportunidade de alcançarem resultados únicos e diferenciados ao nível da imagem pessoal, profissional e corporativa, disponibilizando os instrumentos e o know-How que permitam a cada indivíduo/empresa a possibilidade de gerir e projetar a sua imagem, de acordo com os seus valores e metas pessoais/corporativas. A linha de intervenção seguida é simples, individual e personalizada. Melhorar, compreender e direcionar positivamente a impressão transmitida, tendo em conta a autenticidade e a credibilidade da imagem projetada, constitui a base da nossa abordagem.

Quinta Das Murtas Este solar rústico do século XIX está situado nos tranquilos jardins do Parque Natural Sintra-Cascais. A Quinta Das Murtas apresenta uma piscina exterior, uma banheira de hidromassagem e acesso Wi-Fi gratuito nas áreas públicas.

incluindo o percurso de 2 km até ao Palácio da Pena, o palácio mais antigo inspirado pelo Romantismo europeu.

A Quinta Das Murtas está localizada a www.catiaalpedrinha.com 35 km do Aeroporto de Lisboa, e há estacionamento disponível no https://www.facebook.com/retratosemfamilia Os espaçosos quartos estão local. Estamos a 200 metros dos decorados num estilo autêntico de trilhos para o Castelo dos Mouros e uma villa portuguesa, com para o Palácio da Pena; o Palácio https://www.instagram.com/catia_alpedrinha_caetano/ decoração em tons neutros. Todos os Nacional e a Quinta da Regaleira quartos têm uma casa de banho encontram-se a cerca de 10 min. e privada e alguns têm vista para a 15 min. a pé, respetivamente. cidade de Sintra, classificada Património Mundial pela UNESCO. Ideal para fins-de-semanas românticos nos quartos O pequeno-almoço da Quinta Das aconchegados, ou estadias longas Murtas apresenta uma seleção de em família nos apartamentos carnes, pães, queijos e frutas, e é equipados de kitchenette, ajusta-se servido na sala de refeições do hotel. para que a sua experiência de Há também muitos cafés e Sintra seja inesquecível. restaurantes em Sintra, a uma caminhada de 5 minutos do hotel. Numa mescla de histórias de outrora e conforto contemporâneo, Os jardins da Quinta são um refúgio alimente-se de vida nestas serras tranquilo repleto de aves e plantas verdejantes. tropicais, assim como a piscina Rua Eduardo van Zeller, 4 , Sintra, exterior e o terraço para banhos de 2710-593 sol, equilibrando a proximidade à Telefone: +351 219 240 246 vila com a calma e paz info@quintadasmurtas.com proporcionada pelo campo. Há www.quintadasmurtas.com excelentes percursos para Facebook: Quinta das Murtas, caminhadas nas proximidades, Bed&Breakfast

www.facebook.com/quintadasmurtas


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ArtelusaM

ENTREVISTA

ARTESANATO

Retrato de uma Atividade

Num mundo globalizado que mede o sucesso pela acumulação de riqueza, como a que é gerada pelas unidades industriais de grande dimensão que produzem em série, é difícil fugir a produtos uniformizados que não oferecem qualquer diferenciação. Esta tendência iniciada com a revolução industrial e que, desde então, nunca cessou de se intensificar é refletida na afirmação emblemática de Henry Ford (1863 – 1947), fundador da Ford Motor Company: “Podem ter um carro de qualquer cor, desde que seja preto”.


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ENTREVISTA

ingredientes e aditivos possuem os alimentos que consomem. São aquelas pessoas que não valorizam apenas o produto final, mas igualmente o processo que lhe deu origem. Em «A minha vida e a minha obra», Henry Ford explica o porquê desta afirmação. Os seus vendedores pediam uma maior variedade de modelos de carros como forma de incrementar as vendas. Nas suas palavras, é estranho que, sempre que um produto se torna um sucesso, as pessoas comecem a pensar que teria mais sucesso se fosse diferente, o que leva à tendência de o estragar com modificações e personalizações. Na sua perspetiva, os vendedores estavam a cometer o erro de dar ouvidos aos caprichos dos 5% de clientes que faziam questão de manifestar as suas preferências e de apresentar sugestões quanto ao produto, esquecendo os 95% que simplesmente compravam os carros sem fazer qualquer comentário. Começar um artigo sobre o artesanato com uma apresentação do seu oposto ajuda-nos a realçar o que tem para oferecer. O artesanato é orientado para os 5% de clientes que procuram a diferença, a originalidade, o produto criado de forma manual, sustentável, familiar. São os clientes que se preocupam em ler as etiquetas para saber onde e como as suas roupas foram feitas e que

Fadas D’Coração

Naturalmente, o artesão orientado para este tipo de cliente nunca irá construir um império à medida de Henry Ford, mas também não é isso que o motiva. Isto apesar de os 5% serem provavelmente, hoje em dia, uma percentagem mais significativa, fruto da crescente consciencialização dos consumidores face ao impacto dos seus hábitos de consumo e ao seu cansaço relativamente ao uniformismo industrial. Note-se que não estamos a falar necessariamente do mercado exclusivista de luxo que quer tudo feito à medida das suas extravagâncias, mas do cidadão comum que, cada vez mais, seleciona cuidadosamente os produtos que adquire.

Assim, os modos de produção artesanais que foram destruídos pela revolução industrial teimam em reaparecer numa sociedade massificada, tal como as flores silvestres insistem em brotar por entre as pedras da calçada.

História de uma artesã Carla Raimundo é um bom exemplo deste movimento.

Esta professora de Ansião, Leiria, decidiu lançar um negócio próprio que tem uma particularidade interessante e que remete para os modos de produção familiares do passado: toda a família colabora! Mãe de uma família alargada, tem os seus 5 filhos, entre os 6 e os 19 anos, envolvidos no processo de criação das Fadas D’Coração, https:/ www.facebook. com/fadasdecoracao/ sem deixar de fora o marido, que também participa. É ele quem marca e corta os tecidos, sempre com grande atenção a todos os pormenores, enquanto os filhos enchem as fadas, estando os acabamentos e a componente criativa a cargo de Carla. O projeto começou há dois anos como uma forma de ocupar as crianças durante as férias de verão. Curiosamente, a ideia inicial foi criar uma fada dos dentes, que até hoje ainda não surgiu pois Carla ainda não encontrou aquele tecido especial para a sua criação. Assume-se como uma artesã extremamente exigente, tanto com o processo de confeção como com a seleção dos materiais que utiliza nas suas criações, e apenas inicia a produção quando encontra o tecido ideal para cada fada.


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ArtelusaM Apesar de este objetivo inicial estar por cumprir, muitas outras fadas nasceram já das mãos da família de Carla; a partir da primeira encomenda surgiram muitas outras, pelo que trabalho não tem faltado e, neste momento, é um hobby que ocupa muito tempo. As encomendas têm fluido naturalmente desde o início, sem dificuldades na apresentação, divulgação e comercialização do produto, que se vende a si próprio. Não têm ocorrido quebras no negócio porque surgem constantemente aniversários ou outras datas especiais e “há sempre alguém que procura algo diferente”.

Quando as artesãs se unem Odete Alves é fundadora, mentora e dinamizadora do projeto ArtelusaM, https://artelusam.pt/ uma plataforma web que permite à Artesã Lusa o acesso a um expositor virtual onde pode divulgar o seu trabalho. Ao mesmo tempo, a ArtelusaM quer oferecer à Mulher Artesã Lusa oportunidades de parcerias e trabalho em rede, com a finalidade de expandir a sua criatividade e divulgar a sua obra. “A ArtelusaM tornou-se visível na web com a contribuição simbólica (mesmo muito simbólica) de apenas 14 artesãs. Foi graças a estas 14 MULHERES (com estatuto de Pioneiras), criativas e audazes, que tiveram a capacidade de ver mais longe e acreditar que era possível esbater os céus que limitam as asas da expansão, que a plataforma veio à luz e, assim, permitiu que também outras artesãs se agregassem (e possam agregar-se) ao projeto”.

Carla considera um privilégio poder estar presente nos momentos especiais das suas clientes através destes produtos tão personalizados. Geralmente, as fadas assinalam comemorações, respondem ao desejo de marcar a diferença e constituem ofertas especiais, únicas e certamente memoráveis. É um produto original que se distingue pela possibilidade de personalizar cada artigo de acordo com as preferências do cliente. Carla tem uma variedade de fadas de exposição, que apresenta nas feiras, mas trabalha essencialmente por encomenda. O cliente é alguém com um perfil muito específico. Nas palavras de Carla:

A ArtelusaM é uma novidade muito promissora para o mundo do artesanato. Nasceu como site de divulgação do artesanato feminino português apenas em junho deste ano, tendo começado como um grupo de trabalho 3 meses antes. O objetivo remoto que presidiu à criação da ArtelusaM consistiu em libertar a divulgação do artesanato de muitas mulheres lusas do circuito fechado e restrito dos grupos nas redes sociais, onde repetitivamente lançavam os seus artigos para vender mas também para encontrar estima, apoio e alguma segurança.

“Não é um produto que seja vendável para massas, é para quem dá valor ao trabalho manual, que aprecia a diferença e a qualidade”. As fadas têm um design completamente original, fruto da criatividade da filha mais velha de Carla. A cabeça de cada fada tem a forma de um coração invertido que culmina num coração na ponta. Ao apertar a fada, esta simula o bater do coração. Esta originalidade é um fator de atração para muitos clientes. De momento, Carla está a desenvolver uma nova coleção de fadas do mundo, que vestem trajes típicos de diversas regiões emblemáticas do nosso planeta. Naturalmente, o nível de exigência de Carla é enorme, pelo que os tecidos têm que ser originais e provenientes destas regiões. A qualidade e o requinte são a imagem de marca deste projeto de artesanato que cativa os clientes mais exigentes.

A ArtelusaM veio responder à necessidade de suporte, segurança e confiança para a abertura, exposição e projeção na montra global que é o mundo web. Odete Alves explica que o projeto não nasceu com as características de negócio nem é assim que se mantém enquanto plataforma. Anuncia e divulga o artesanato e proporciona o contacto entre a artesã e o potencial cliente, mas não tira qualquer vantagem sobre as vendas realizadas. Segundo Odete Alves, é tudo por uma boa causa: a valorização da Mulher Artesã Lusa.

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ENTREVISTA

Quem são as artesãs na ArtelusaM

Os desafios das artesãs por ArtelusaM

- Dispersão geográfica com prevalência no centro do país - Idade ativa - Maioritariamente casadas mas poucas com filhos menores - 40% possui licenciatura - 40% fez formação na área - As redes sociais desempenham um papel importante na comercialização dos artigos - Mais de 70% procura o artesanato por gosto pela arte e pela inovação - Para quase 75%, o artesanato é uma atividade secundária - 93% não beneficiou de qualquer apoio público para a atividade - Perto de 80% acredita que o mercado ainda oferece oportunidades - Apenas 5% vive do artesanato

- Dificuldade de gestão de tempo (vida familiar – vida profissional – criação de peças) e gestão equilibrada de todas estas áreas. - A superação do receio de abrir um negócio próprio e financeiramente sustentável. Existe o medo de não conseguir “pagar as contas fixas” - A “concorrência desleal” e os produtos importados de outros países, que produzem o mesmo efeito e são muito mais baratos - Incapacidade de se impor pelo que é nacional e por uma mentalidade mais criteriosa em termos ecológicos, relativamente às matérias-primas. - A desvalorização do artesanato e a não valorização das matérias-primas. - A necessidade de inovação e a dificuldade na obtenção de matérias-primas e formação (a pouca que existe) a preço acessível. - A necessidade de expansão e a falta de apoios locais. - A necessidade de expansão e a limitação de espaços físicos (lojas) e em eventos pelo valor das rendas. - A falta de legislação específica para a área do artesanato.

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ArtelusaM E o projeto não vai ficar por aqui. Em setembro, será lançado o blogue ArtelusaM e está prevista a expansão da plataforma para aplicações móveis e mais redes sociais.

Entre os desafios e as potencialidades Apesar do potencial do artesanato enquanto área de negócio em expansão, que permite responder de forma satisfatória a dois dos maiores desafios da atualidade, a flexibilização do mercado de trabalho e o impacto social e ambiental do consumo, os apoios públicos a esta atividade são escassos e, quando existem, correm o sério risco de passar despercebidos a quem deles poderia usufruir. Os projetos de artesanato, geralmente, não encaixam na moda das startups e, em regra, não são motivados pela vontade de gerar grandes fortunas, pelo que ficam à margem dos negócios do momento, apesar de serem tão ou mais inovadores e abertos a novas técnicas e estratégias. Odete Alves salienta que várias artesãs referem não ter conhecimento de apoios públicos para o artesanato e especificamente para o artesanato feminino. Algumas artesãs, conhecendo um ou outro incentivo, não sabem como o operacionalizar. A falta de tempo, o envolvimento na atividade profissional principal e a gestão da vida familiar são barreiras que comprometem a capacidade para ativar os apoios existentes. Seria interessante deixar de pensar/agir por clichés e abrir os horizontes para apoiar seriamente esta atividade tão promissora. Entre outras coisas, é preciso adaptar os apoios às contingências de quem deles necessita e, acima de tudo, urge mudar mentalidades, não apenas ao nível público, mas igualmente ao nível privado. Por exemplo, as grandes superfícies comerciais permanecem agarradas a uma fórmula recorrente que, de tão repetida, empobrece a sua oferta. O foco quase exclusivo em lojas-âncora, as grandes marcas que estão em todo o lado, tão diversas e criativas como o carro preto de Henry Ford, contrasta com a ausência de oportunidades para novos conceitos colaborativos, espaços comerciais diversos e

participados onde seja possível, não apenas vender, mas igualmente observar o processo de produção e, porque não, aprender as artes do artesão. Que tal levar o conceito tão badalado dos coworks a estes espaços comerciais, neste caso coworks focados no artesanato, abertos ao público que compra, mas também observa e aprende com quem faz? Por parte das artesãs, urge conhecer as dinâmicas e os apoios locais e regionais, bem como consultar o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e aderir à Federação Portuguesa de Artes e Ofícios (FPAO). Acima de tudo, Odete Alves salienta a necessidade da passagem de um modo de fazer ‘amador’ para um fazer ‘profissional’, através da (auto)formação, da atualização relativamente às novas formas de presença e de mercado, com aposta na transversalidade, uma presença virtual afirmada e consistente, a capacidade de inovação (um fazer único e singular) e a aposta num espírito mais colaborativo. Afinal, num mundo de oportunidades escassas, é preciso fazer o melhor com cada oportunidade que se apresenta: “Seja grande ou pequena a oportunidade, as artesãs não a perdem e a ela associam grande espírito criativo, dedicação, persistência e até algum sacrifício. O conceito de artesanato para o mercado de luxo e como oferta diferencial e genuinamente portuguesa para o turismo é, sem dúvida, um mundo a explorar. Outra grande aposta poderá ser o conceito de high-quality craft assente na sustentabilidade e no respeito pelo meio ambiente”. O futuro surge-nos não apenas das novas tecnologias, mas igualmente da recuperação dos modos de produção tradicionais (naturalmente, considerando as devidas inovações), mais sustentáveis e criativos do que a produção em massa, descaracterizadora, uniformizada e frequentemente apoiada em processos produtivos que implicam pesados custos ambientais e sociais. A consciencialização dos principais agentes em jogo, desde as artesãs aos consumidores, passando pelas entidades públicas e privadas que detêm parte considerável dos recursos passíveis de gerar oportunidades nesta área, é um passo fundamental no sentido de uma mudança de paradigma.


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NEGÓCIOS

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PASSOS

PARA

CRIAR

A SUA

DIFERENCIAÇÃO

r a x i Ba e não ter que

os preços Novem o 2018


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Teresa Botelho É fundamental entendermos que a diferenciação dos seus produtos e da sua empresa é a base para uma estratégia de Vendas de sucesso.

Se não conseguirmos ter essa diferenciação, essa proposta de valor acrescentado, a única opção que temos para competirmos no Mercado é termos preços mais baixos, o que não nos permite ter um negócio rentável e mantê-lo de forma sustentável a médio/longo prazo. A melhor forma de identificarmos e definirmos a nossa diferenciação é através da criação de uma Proposta Única de Venda (PUV). A PUV é o que torna o seu negócio único e com valor para o seu público-alvo... a PUV deve clarificar quais são os benefícios que os seus produtos e serviços dão ao cliente... que nenhum dos seus concorrentes consegue dar… Se a sua PUV for bem conseguida, serve como base para a estruturação de todo o modelo de negócios, responde às principais perguntas que os Clientes fazem sobre os produtos e sobre o seu negócio: o que é que o seu negócio oferece, quais os objetivos da sua empresa, em que medida é que compensa comprar-lhe a si e não à concorrência, tudo isto de forma integrada e cheia de sentido! Para criar uma PUV com sucesso, deixo-lhe 4 passos fundamentais.

Como criar uma

Proposta Única de Venda em 5 passos

1. Defina quem é o seu Cliente ideal… Este é o primeiro passo para a conceção de qualquer estratégia de vendas. Tem de saber a quem quer vender, para saber com quem quer comunicar! Não ser capaz de definir o perfil do Cliente Ideal que queremos atrair para a nossa empresa é um problema comum entre os empresários, principalmente no caso de pequenas empresas. Sem definirmos, o mais especificamente possível, as características dos Clientes que queremos ter, qualquer estratégia de marketing e vendas será genérica e muito pouco eficaz. Deve definir o seu Cliente Ideal e construir uma persona com dados demográficos (género, idade,


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profissão, ...); com o estilo de preferências que essa pessoa tem, com os hábitos (interesses, hobbies, paixões, etc.); também é importante considerar que hábitos de consumo na Internet tem (que redes sociais usa, que jornais online lê, ...); entre outros. Tenha em consideração que, dependendo do seu produto e serviço, as características podem ser muito específicas e nem todas as que estão aqui podem ser aplicáveis. E outras de que não falamos podem fazer muito mais sentido! 2. Defina claramente o problema que resolve com os seus produtos e serviços… Coloque-se na perspetiva do seu Cliente e identifique qual é a frustração ou o problema que ele enfrenta no seu dia-a-dia e que vai querer ver resolvido através dos serviços ou produtos prestados pela sua empresa. Pense na PUV como uma promessa que faz aos seus clientes. Uma promessa de lhes dá a melhor solução e o melhor serviço possível! 3. Faça uma lista dos benefícios que o Cliente tem se lhe comprar a si… Faça uma lista dos benefícios que o Cliente tem ao aceitar trabalhar consigo por oposição aos seus concorrentes. A lista deve ser específica e coesa, deve, no mínimo, poder listar 3 a 5 aspetos perfeitamente claros. Neste ponto, como no anterior, deve adotar a perspetiva do seu Cliente e conseguir explicar por que é que a sua empresa é a melhor escolha, quando comparada com as outras opções disponíveis no mercado. 4. Treine-se para passar esta informação em todas as situações… Tão importante como conseguir criar uma PUV é conseguir transmiti-la transversalmente em todos os esforços de marketing e vendas da sua empresa. A diferenciação da sua empresa deve estar clara para todos os que estão envolvidos no negócio. Primeiro, foque-se nos seus Colaboradores, não só na Equipa de Vendas. Todos devem ter a PUV memorizada e serem capaz de falar sobre ela e a

expressar sempre que necessário. Lembre-se que a retenção de clientes é tão ou mais importante que a aquisição! Não descure a mensagem da PUV em todo o material promocional da sua empresa (website, redes sociais, panfletos, catálogos, ...), tudo deve refletir a sua diferenciação face à concorrência. 5. Transforme o que pensa num pequeno diálogo… Simule reuniões com Cliente, simule apresentações ou palestras em eventos ou feiras, simule conversas com amigos. Treine o mais possível o seu discurso para que a sua PUV seja clara para os seus interlocutores. Teste o seu diálogo em contexto real. Primeiro com familiares, amigos e colaboradores. Depois com os seus Clientes mais próximos. Aperfeiçoe ao máximo o seu discurso até que sinta que ele é verdadeiramente eficaz! Na definição da sua PUV, seja exigente. Não sinta que está a perder tempo, pois é um trabalho que o vai ajudar em todo o processo de vendas tanto internamente, como junto dos seus Clientes e potenciais Clientes. Depois, combine todas a informação recolhida ao longo dos 5 passos iniciais. Sistematize até conseguir que seja apenas um slogan! Não tente chegar à sua PUV final apenas numa sessão de trabalho. Procure refazer as respostas às principais perguntas ao longo de vários dias e peça a ajuda e opiniões. Só assim vai chegar à melhor versão possível. E, claro, depois de testar a sua PUV junto do seu público-alvo durante algum tempo, faça uma revisão da mesma e ajuste à sua realidade e aos desafios que enfrentou. Eu acredito que ter uma PUV que consiga apresentar diferenciação face à concorrência e não ter de baixar os preços porque os Clientes valorizam o que faz e estão disponíveis para pagar um pouco mais é a chave que torna realmente o seu Negócio num Negócio de Excelência!


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Paula Trigo

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COACHING

OS DESAFIOS DE UMA PROFISSÃO EMERGENTE O coaching está definitivamente na moda. Para onde quer que nos viremos, encontramos um coach e, com ele, os sorrisos amarelos de quem já não consegue esconder o descrédito: ”Outro? Mas crescem como cogumelos?”

O que é o coaching?

Sim – crescem como cogumelos! Ser coach está na moda e, afinal, não é preciso nada de especial para se ser coach. Qualquer workshop ou formação de curta duração, promete o impossível formar coaches aptos a entrar no mercado e a desempenhar a “profissão”.

Existem inúmeras definições, como é natural. Na minha perspetiva, o coaching é uma abordagem potenciadora do desenvolvimento humano, cujo objetivo é apoiar pessoas e profissionais, em qualquer área de atuação, a maximizar os seus resultados com base na otimização dos seus próprios recursos técnicos e emocionais.

Do outro lado da barricada, clientes cada vez mais cépticos com os (poucos) resultados que obtêm das supostas sessões de coaching - promovidas até à exaustão na Internet ao preço da uva mijona (e, muitas vezes, até oferecidas gratuitamente) - começam a desacreditar a “profissão” e a alimentar folhetins radiofónicos que em nada contribuem para a dignidade e a elevação que esta área de trabalho merece.

Não querendo esgotar a lista de motivações que leva o cliente a recorrer a um coach, aqui ficam algumas: 1. Para trazer clareza a objetivos O coaching conduz a um aumento do auto e hetero conhecimento, permitindo a definição clara daquilo que o cliente pretende alcançar ou de situações que pretenda resolver, proporcionando um maior alinhamento pessoal;

A jocosidade das linhas anteriores esconde uma preocupação profunda com o futuro de uma “profissão” ainda não regulamentada. Com este artigo, pretendo partilhar a minha visão sobre o que é o coaching, quem são os seus “profissionais” e qual o seu perfil desejável.

2. Para ultrapassar um “jogo interno” não potenciador Mais do que as barreiras externas, são muitas vezes as barreiras internas que nos impedem de ter uma

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performance ao mais alto nível (Thimothy Gallwey: “The Inner Game of Tennis”). Estas barreiras criam um “jogo interior” dentro da mente, levando a que pessoas, que querem operar a um nível excecional num determinado contexto, acabem, muitas vezes, a operar com lapsos de concentração, nervosismo, insegurança, falta de confiança, em suma, com dúvidas sobre si próprias e sobre as suas competências, o que pode ser ultrapassado com trabalho de coaching. 3. Para se (re)descobrir e encontrar sentido e propósito na vida Mais recentemente, muitas pessoas procuram também um coach para as ajudar nos seus processos de evolução espiritual ou de consciência. A abundância material que caracteriza as sociedades ocidentais não trouxe consigo o bem-estar espiritual a que todos anseiam. Assim, a busca por sentido, por propósito, pela descoberta de quem somos verdadeiramente por baixo de todos os papéis que representamos, a busca por conexão a algo muito maior que nós, está também na ordem do dia. O que é importante salientar, é que o desejável num processo de coaching é que os resultados correspondam mais do que a uma mudança exterior, a uma efetiva mudança interior, e que a mesma promova nos clientes novas tomadas de consciência sobre si próprios, que lhes permitam viver de forma mais plena, mais feliz e mais alinhada com os seus propósitos e a sua missão de vida.

Que coach escolher? Um coach é um facilitador de processos de desenvolvimento humano. Ora, a aparente simplicidade da definição não tem correspondência na enorme complexidade da tarefa. A tarefa de um coach é de tremenda responsabilidade pois a sua matéria-prima são pessoas. Escolha um coach com sólida formação académica e certificação profissional reconhecida. Investigue experiência e referências. Dê preferência a coachs congruentes – profissionais que sejam exemplares do ponto de vista dos seus valores pessoais e das suas capacidades e competências específicas. Tenha presente que o desenvolvimento profissional de um coach é contínuo e não pode ser feito em meta posição. Quer isto dizer que não há desenvolvimento profissional sem desenvolvimento pessoal agregado, sem o coach se dar a ele próprio a possibilidade e, por que não dizê-lo, a exigência de vivenciar os seus próprios processos de autodescoberta e de desenvolvimento pessoal na primeira pessoa. “Dar o corpo ao manifesto” é um ato de retidão e de respeito para consigo próprio e para com o cliente, muitas vezes, incompatível com processos formativos iniciais e demasiado rápidos. Há preços para todos os gostos, dos 20 aos 2000€ ou mais. Sem querer defender que o preço deva ser o critério mais importante na sua escolha, lembre-se que o valor que o coach pede pelas suas sessões é, muitas vezes, proporcional ao que acha que merece. A si compete-lhe escolher entre o estereótipo do plástico da loja do chinês ou da griffe da Avenida da Liberdade. Defenda-se dos extremos. Afinal, a escolha é sua e o que está em causa é APENAS a sua vida.


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Renata Netto

NEGÓCIOS

5 passos

para MUDANÇA Ç

BEM SUCEDIDA uma

Lidar com mudanças costuma ser muito desafiador e, se for uma mudança inesperada ou drástica, então, pode ser causa de verdadeiro sofrimento. Há quem prefira se acomodar com uma pedra no sapato só para não ter de mudar toda uma caminhada. Ainda que saibamos que uma mudança é para melhor, quando somos chamadas a este tipo de decisão fazemos uma ponderação sobre as perdas e os ganhos de abandonar algo conhecido para embarcar numa nova jornada. E essa ponderação nunca é clara o suficiente, pois não temos a certeza do futuro. Isso parece ser um impasse. Sabemos que esses incômodos da trajetória, quando bem vividos, são fonte de grandes aprendizados e nos tornam mais fortes, maduras e confiantes em nossa vida. Mas até estarmos totalmente dispostas a encarar os riscos da transformação, pode decorrer um longo tempo e a oportunidade pode passar... Porém, nem tudo é aflição quando se trata de mudança. É importante lembrar que nossa mente se acomoda a estilos de vida, profissões, relacionamentos, trabalhos e ambientes para garantir a maior previsibilidade possível do dia-a-dia e, assim, economizar “carga mental” para dedicar às atividades complexas que processamos

a todo momento. Mesmo que esses fatores sejam profundamente desagradáveis. Por isso, por mais assustadora que uma mudança possa parecer, por mais pontos duvidosos que possa ter, uma vez que se mostre inevitável ou mesmo imprescindível, podemos sim ficar tranquilas porque sempre, repito, sempre, criaremos meios e acessaremos recursos internos para lidar com ela e tornar nossa rotina novamente estável para seguirmos adiante. Podemos fazer isso num processo completamente inconsciente, sem clareza desses recursos, ou podemos buscar formas de trazer à luz quais são os elementos importantes para um processo de mudança mais ecológico – do ponto de vista da integridade do indivíduo – e sustentável. A seguir, 5 passos para explorarmos todos os aspectos– ambientes, comportamentos, habilidades, crenças, valores, identidades e coletividades – de cada cenário da transição e verificar o que fazer com eles. pub


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Razão+Emoção (+ Corpo)

Transformar

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Comparando os cenários envolvidos na mudança, responda honestamente: o que você deseja / deve / precisa manter? Se você pudesse preservar 3 ou 4 coisas, quais seriam elas? Talvez a resposta seja algo que você provavelmente já gosta e faz normalmente.

Em seguida, o que você faria com prazer para tornar essa mudança a mais prazerosa, ecológica, sustentável e próspera possível? O que você gostaria que existisse no novo cenário e que hoje não acontece? É possível que você tenha uma lista de coisas que te potencializam os talentos mas que não estão sendo realizadas atualmente.

Agora que você sabe os pontos que são fortes para você, reflita consigo mesma: se tivesse certeza que daria certo, o que transformaria agora? Quais são os 3 ou 4 elementos que precisam ser alterados para que haja 100% de aproveitamento? Certamente, existe algo de que você não gosta mas que acaba fazendo sem perceber.

Eliminar

Realçar

Manter

1 2 3 4 5 Por fim, quais são as 3 ou 4 coisas que te travam por completo, que te bloqueiam? Qual é a pedra no seu sapato hoje? O que te impede de lançá-la fora? Se você soubesse o que te prende e tivesse a chance de se livrar disso sem dor, do que você se livraria?

Você vai perceber que, durante essas quatro reflexões, o clássico embate razão-emoção vai acontecer. E é muito bom que assim seja pois ele é a combinação perfeita para tomar a decisão mais acertada, apesar do que diz o senso comum.

É muito importante que todas nós nos permitamos sentir, dando atenção ao que as EMOÇÕES dizem a cada passo da avaliação. Além disso, a cada pergunta que nos fazemos e resposta que nos damos, que é preciso estar atentas às SENSAÇÕES que nosso corpo apresenta – conforto ou desconforto, alterações de respiração, batimentos cardíacos, suor, enfim. A cada avaliação crítica e racional das situações, as emoções surgem em nosso íntimo como sinalizadores profundos daquilo que nossa mente superior já sabe e que precisa vir à tona. Questionar à luz da RAZÃO as nossas emoções é uma forma de valorizá-las e de compreender os nossos bloqueios e pontos fortes, chegando à síntese necessária para uma decisão madura, confiante e realmente aberta à mudança e a todas as coisas boas que essa experiência pode nos trazer. A ferramenta que acabei de apresentar é a Matriz da Gestão da Mudança, uma técnica muito utilizada em processos de coaching com o objetivo de promover transformações bem-sucedidas. Esses 5 passos são simples mas muito profundos em termos de exploração dos cenários que uma mudança apresenta. Se pudermos colocá-los num papel, fazendo anotações e criando um mapa mental, essa matriz pode se tornar um documento central do projeto em desenvolvimento, auxiliando-nos a manter o foco, a clareza e a energia para seguir firme na direção de nossos objetivos.


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Filipa Cardoso

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SEO em MARKETING de CONTEÚDOS Qualquer pessoa julga que sabe escrever. Mas será isso verdade? Existe uma diferença abismal entre escrever para uma revista e criar marketing de conteúdos para o blog de uma empresa. Quando escreve para uma revista, o intuito é simplesmente informar. Quando se trabalha marketing de conteúdos, o intuito é informar o consumidor, conseguir que ele tome uma ação e simultaneamente conseguir obter o 1.º lugar no Google. Assim, é normal que hajam diferenças significativas entre ambas as formas de escrita. Se está a começar a sua jornada com marketing de conteúdos, não é preciso desesperar. Deixo-lhe algumas dicas de como escrever para o leitor e para o Google.

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Dicas de SEO para marketing de conteúdos SEO significa Search Engine Optimization, ou seja, otimização para os motores de pesquisa. Resumidamente: otimização de um conteúdo para o Google. E por que é que digo que é para o Google? Porque mais de 80% das pesquisas a nível mundial são realizadas através deste motor de busca. Assim sendo, se quer que o seu conteúdo chegue aos primeiros lugares, siga as dicas que lhe dou de seguida.

imagem: Catarina Araújo Ribeiro

como implementar


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NEGÓCIOS

1 A importância da abrangência em detrimento da palavra-chave Longe vai o tempo em que o ranking do Google se obtinha pela análise exclusiva da palavra-chave. Hoje em dia, a keyword deve ser vista como o ponto de partida para a escrita de determinado conteúdo. Quando um leitor procura no Google por determinada informação, o que ele quer na verdade é esclarecer uma dúvida e satisfazer uma necessidade. Assim sendo, quando começar a escrever um texto, procure o máximo de informação sobre esse tema. Escreva mais e melhor do que a sua concorrência. Quanto mais qualidade tiver um conteúdo, mais facilmente irá chegar ao topo dos resultados. Além disso, quando trabalhar um texto, tenha sempre 2 a 4 palavras-chaves para trabalhar. A principal e as secundárias. As mesmas vão ajudar a aumentar a qualidade e autoridade do conteúdo semântico do seu texto.

2 Usar a palavra-chave nos Headings Para quem não sabe, headings ou heading tags são os vários subtítulos de um texto. Quando escreve um texto no Wordpress, o heading principal será o H1, que é o título do artigo. Além desse, os mais comuns são os H2, H3 e H4. Qualquer um destes headings tem como intuito ajudar a estruturar o texto. Mas, não é só isso. Os headings servem para permitir ao leitor ter uma ideia geral do seu conteúdo sem precisar de ler tudo. Quando falamos de SEO, é importante que a palavra-chave se encontre obrigatoriamente no título (H1) e preferencialmente no primeiro subtítulo (H2). Se conseguir inserir a mesma de forma orgânica em mais do que um subtítulo, perfeito. Contudo, se parecer forçado, opte por não colocar.

3 Meta Title - A importância de um título adicional Para quem não sabe, o meta title é um dos pontos essenciais no que concerne o SEO em marketing de conteúdos. Resumidamente, o meta title é a forma como o título do artigo aparece no Google. Deve ser curto, descritivo e interessante. Além disso, deve conter logo no início a palavra-chave. Um bom exemplo para a palavra-chave marketing de conteúdos poderia ser “Marketing de conteúdos: 10 dicas para criar um artigo perfeito”.

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Filipa Cardoso Como escrever um texto através das melhores práticas de SEO Agora que já sabe 4 dicas simples de como utilizar o SEO no marketing de conteúdos, deixamos-lhe algumas dicas rápidas para escrever um excelente conteúdo para web. -

4 Meta Description Outro ponto a ter em mente Conjuntamente com o meta title, o meta description é essencial para uma correta implementação SEO. Contudo, é importante frisar desde já que o mesmo não é considerado um fator de ranking por parte do Google. Então por que é que é tão importante? Porque ajuda a criar uma ligação com o leitor e fazer com que carregue no link para ler o artigo na íntegra. Uma boa descrição tem no máximo 156 caracteres e deve ter um CTA (call to action) que incentive o leitor a carregar nesse texto em detrimento de outros.

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Escreva frases curtas (preferencialmente menos de 20 palavras) Tente que cada parágrafo tenha no máximo 2 ou 3 frases Coloque a palavra-chave nos seguintes pontos: - Título e meta título - 1.º parágrafo do texto - 1.º H2 de forma integral Se a keyword for curta, tente inseri-la em, pelo menos, um H3 Deve usar a palavra-chave de forma integral e parcial (palavras-chave secundárias) Se a utilização da keyword parecer forçada, apague-a Escreva títulos que resolvam problemas Crie sempre conteúdo relevante, único, original, informativo e melhor que o da concorrência Sempre que possível, escreva conteúdos com, pelo menos, 1000 palavras, já que têm mais conteúdo relevante para o leitor Não tenha medo de criar links internos (para dentro do seu site) e externos (para sites de referência - como é o caso do Portal Mulheres à Obra)

Como vê, o SEO no marketing de conteúdos não precisa ser um bicho de sete cabeças. Pense que mais importante que palavras-chave, headings ou tags, é a qualidade do texto. Um texto com boa qualidade vai claramente obter um bom posicionamento.


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Raquel Pacheco

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5 segredos para ser um

bom comunicador

Comunicar-se bem, quer no ambiente profissional, quer no pessoal, é essencial para se poder estabelecer uma boa relação com as pessoas. Somos aquilo que comunicamos, por isso, é necessário saber utilizar a arte da comunicação. Todos os grandes líderes foram ou são grandes comunicadores. Mais do que simplesmente falar, saber comunicar-se é, sobretudo, saber ouvir. Ter consciência das pessoas com quem nos relacionamos, do público a quem nos dirigimos e das situações à nossa volta, são um dos grandes segredos para construir uma comunicação assertiva e positiva. Partilhamos, consigo, mais alguns segredos. Confira se já é um bom comunicador e um líder! #1 – Seja confiável

não, não é verdade. Aliás, é nesta questão que os grandes comunicadores se destacam: têm a capacidade de falar em poucas e simples palavras o que os outros falariam em horas. Seja claro, concreto e conciso.

Quando as pessoas identificam no líder uma pessoa com integridade e de confiança, elas acolhem com interesse qualquer comunicação. Ter confiança no comunicador faz com que a mensagem seja ouvida e retida e, no caso de liderar uma equipa, esta sentir-se-á segura e motivada para tomar boas decisões e iniciativas.

#4 – Foque-se nos outros

Saiba interagir com as outras pessoas de forma aberta, humilde e disposto a colaborar. Quando estiver realmente focado em contribuir mais do que receber, então realmente estará a atingir o seu objetivo.

#2 – Desenvolva relacionamentos

A maioria das pessoas tem dificuldades neste campo, já que o relacionamento é uma das coisas mais delicadas e complexas entre os seres humanos. Grandes líderes, por outro lado, são pessoas altruístas que souberam superar essas dificuldades e crescer com elas. Deve apostar na construção de um relacionamento pessoal positivo com as pessoas ao seu redor. Pode até inspirar-se na estratégia do nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ser afetuoso para se aproximar das pessoas. Resulta, toda a gente gosta de afetos.

#5 – Tenha uma mente aberta

Se mantém a mente fechada, “inside a box” pode estar a bloquear grandes oportunidades de sucesso. Ter a mente e ouvidos abertos para estar recetivo a escutar opiniões, pontos de vista e posicionamentos diferentes, é uma das grandes características de um bom comunicador. Muitas pessoas têm receio das visões opostas, quando, na realidade, deveriam estar curiosas por ouvi-las. Os grandes líderes sabem aproveitar opiniões diferentes para desenvolver aquela que melhor se encaixa num contexto ou situação, conquistando empatia e gerando um bom canal de recetividade e comunicação.

#3 – Seja conciso e objetivo

Aprenda a valorizar a clareza e objetividade. O simples e conciso é sempre melhor do que o complicado e confuso. Pode parecer um conceito cliché, mas há muita gente que pensa que falar muito é sinónimo de falar melhor e,

Não se esqueçam, somos aquilo que comunicamos!

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Cristima Gomes

NEGÓCIOS

Pense, antes de ag ! Breves conceitos a conhecer antes de decidir ser empresária

Para ser empresária, não basta apenas ter vontade, é necessário ter em mente uma “ideia”, desenvolver e estudar de forma que consigamos operacionalizar a mesma. Ser empresária é sinónimo de muita dedicação, empenho, tempo e dispêndio de algum dinheiro, logo, não deve ser uma atitude impensada ou irrefletida. Há momentos de desânimo, de conquista e de alguns riscos. É possível abrir negócios e ganhar muito dinheiro com muito empenho, trabalho, visão, otimismo, ou mesmo, com um pouco de sorte à mistura. Para iniciar qualquer projeto, este deve ser esboçado, desenhado ou mesmo planificado. A utilização de um plano de negócios é uma ferramenta fundamental para identificação, validação e desenvolvimento da ideia, é um instrumento que visa a diminuição do risco e abertura dos novos caminhos a seguir e, sempre que necessário, este deve ser objeto de revisão e reajustamento às exigências do negócio, público-alvo ou mercado. Posto isto, e concluindo a viabilidade do negócio com possibilidades de retorno e sucesso, é a altura de passar da teoria à prática. Há que avançar, focar e, antes de tomar qualquer decisão, consultar profissionais especializados de forma a canalizar e rentabilizar todos os recursos disponíveis. Numa fase de arranque de uma atividade empresarial, a escolha da forma jurídica que vai desenvolver o seu negócio é fundamental e deve ser feita de uma forma ponderada, sustentada, com um custo e risco controlado de forma a solidificar a sua presença num mercado cada vez mais competitivo. Assim sendo, a escolha de Empresária em Nome individual (ENI), pode ser a melhor opção na hora de arriscar um negócio próprio. É a forma mais simples de iniciar ou mesmo encerrar um negócio, longe das burocracias associadas à constituição de uma sociedade comercial. Para iniciar atividade,

não há obrigatoriedade de um capital mínimo dado que o empresário responde sempre pelas dívidas ou pelos prejuízos da empresa, tem um controlo total sobre a atividade e confunde-se, muitas vezes, o património individual com o empresarial. Os seus rendimentos são tributados em sede de IRS, categoria B – rendimentos empresariais e profissionais e em função do volume das vendas ou prestações de serviços, tem a opção de escolher entre o regime


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NEGÓCIOS

simplificado ou com contabilidade organizada. Os ENI estão sujeitos a pagamentos por conta de IRS, sendo que o seu cálculo é feito automaticamente pelo Fisco que calcula os mesmos com referência aos rendimentos do contribuinte recebidos no penúltimo ano, pode usufruir de isenção de IVA e retenção na fonte de IRS, se estiver enquadrado no regime simplificado de tributação e não ultrapassar os 10 000€ de volume anual de negócios. Outras das formas de vincular os vossos negócios é a possibilidade de criar uma empresa, uma sociedade comercial com personalidade jurídica. As mais usuais são: Sociedade Unipessoal por Quotas (1 único sócio e valor mínimo do Capital Social, 1€), Sociedade por Quotas (dois ou mais sócios e valor mínimo do capital social é de 1€ por cada sócio) ou Sociedade Anónima (não pode ser constituída por um numero inferior a 5 acionistas e cujo capital social de uma S.A., não pode ser inferior a 50 000€). Em ambas as sociedades, cuja natureza jurídica é diferenciada, mas em termos de responsabilidade, esta é limitada ao valor da sua participação no capital e o património empresarial é distinto do património pessoal. Surge uma nova pessoa jurídica imputada a estas sociedades, o Gerente, Administrador ou Representante Legal. Este vai ser o responsável pela dinâmica, progressão, desenvolvimento da empresa e interação entre a empresa e as entidades oficiais. As responsabilidades dos Gerentes ou Administradores são mais que muitas, para além do seu papel de autoridade, gestor, líder, coordenador, controlador, assume todas as responsabilidades da empresa para com terceiros, sejam estes clientes, fornecedores, bancos, entidades oficiais, etc., ou mesmo, assumindo todas as responsabilidades por más opções ou práticas, dívidas ou “infelicidades” de gestão. Os custos imputados a cada uma das empresas são diferenciados em função da atividade ou mesmo por exigências legais. Para começar, para além dos custos de

registo e notariado, temos o custo com a avença do Contabilista Certificado, seguros, publicidade, juros bancários, arrendamento, eletricidade, água, comunicações, ordenados, encargos patronais, impostos (IRC, IRS, IVA, PEC (pagamento especial por conta – só tem efeitos a partir do 3.º ano de atividade), PPC (pagamento por conta, será cobrado no 2.º ano de atividade, se a empresa apresentar lucro e apurado no IRC no 1.º ano de atividade), IS, etc.). Há obrigações diferentes caso se opte por regime simplificado ou pela contabilidade organizada. A partir do momento que tomou a opção de ser empresária, há um “rol” de atividades inerentes e paralelas à atividade empresarial que têm de ser cuidadas desde o início, desde o momento em que deu o passo para a sua constituição, sendo estas inerentes à própria existência como entidade organizacional e são da responsabilidade de cada entidade. São estas: • • • •

• •

• •

Inscrição na Segurança Social Inscrição na ViaCTT Ata de nomeação do gerente e definição da remuneração ou não da gerência Inscrição dos funcionários na Segurança Social e no Fundo de Compensação do Trabalho Inscrição no IAPMEI Desde que haja faturação, esta tem que ser comunicada mensalmente, através do envio do ficheiro saft da faturação Organização da documentação de suporte para ser entregue ao Contabilista Certificado atempadamente Controlo de gestão, análise dos mapas de gestão e constante acompanhamento da evolução da empresa Proteção de dados Etc.

Por mais simples e difícil que seja, por pouco tempo que tenham, a organização, o planeamento e a metodologia são fundamentais para a progressão empresarial.


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Inês Santos

NEGÓCIOS

CINCO DICAS PARA LICENCIAR O SEU NEGÓCIO aço r p s m e irado u r p fica e ins 1. i t n o Ide quad ade

Encontrar uma localização interessante e inspiradora, que cumpra os requisitos e que, em simultâneo, não exija um esforço superior ao efetivamente sustentável para o seu negócio, é o primeiro desafio. Prepare-se para uma pesquisa intensa. Utilize todos os meios disponíveis, desde o footing “cabeça no ar” até ao contacto com imobiliárias e amigos, informando claramente qual o seu objetivo. Sempre que possível, tente reunir referências válidas sobre as características e história do imóvel.

Criar um negócio implica assumir um conjunto de responsabilidades e riscos, entre eles, e muito frequentemente, abrir um espaço ao público. Verificar as questões de licenciamento camarário é um passo importante para arrendar ou adquirir um imóvel sem preocupações nem surpresas futuras. Assegure-se de que o seu espaço tem as condições necessárias para obter licenciamento, seguindo estes passos:

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i as a . ç 2 he seu s de n o o C al d ante eter g e l aço prom p s E com e s

Informe-se detalhadamente sobre o historial do espaço pretendido. Consulte os arquivos do município, no que se refere ao licenciamento das obras de construção ou remodelação do espaço. Multiplicam-se os relatos de más experiências de espaços com obras ilegais e impossíveis de regularizar, ampliações, demolições, alterações às áreas comuns, entre muitas outras. É importante verificar se o espaço está de acordo com o último projeto aprovado antes de assumir um compromisso que pode ser oneroso.

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/a 3. sulte uiteto Con /a Arq um Verifique junto de um/a arquiteto/a com experiência se o espaço escolhido reúne as condições necessárias à atividade. Quantas instalações sanitárias são necessárias? Sou obrigada a cumprir as condições de acessibilidade para pessoas com mobilidade condicionada? Qual é o pé-direito mínimo admitido? A fração já tem licença de utilização para espaço comercial?


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NEGÓCIOS

s ção a a z r i l a 4. nci a Uti e c Li as e r Ob

Mesmo que as condições necessárias estejam asseguradas e o espaço corretamente licenciado, seguramente pretende imprimir a sua visão, a sua marca no seu novo espaço, promover melhorias ou recuperá-lo. É aqui que o/a seu/sua arquiteto/a tem um papel fundamental, colocando a criatividade ao serviço da tradução da sua visão, num projeto, a apresentar às entidades licenciadoras. Atualmente, qualquer projeto de arquitetura a submeter aos municípios exige uma série de documentação que apenas um arquiteto inscrito na Ordem dos Arquitetos poderá reunir e assinar, entre eles Termos de Responsabilidade, Memória Descritiva e peças desenhadas assinadas. Entre os licenciamentos mais complexos, encontram-se os que têm implicações na saúde e higiene pública, como os estabelecimentos de restauração e bebidas, as clínicas, hospitais e todos os estabelecimentos que comercializam alimentos. Sempre que houver lugar a confeção de alimentos, deverá existir um bom sistema de exaustão de fumos, caso contrário, as queixas serão muitas, o que conduzirá provavelmente a ações de fiscalização. Queremos que o seu negócio esteja rodeado de um bom ambiente e que a vizinhança se torne sua cliente, abraçando o novo projeto! Outra solução pode passar pela construção de um espaço de raiz. Neste caso, os cuidados deverão ser redobrados. Procure sempre agendar um atendimento técnico no Município para compreender todo o procedimento e prazos de apreciação. Normalmente, o processo tem início com a indicação de um gestor de processo, seguido da consulta às entidades externas e da apreciação por um/a arquiteto/a camarário/a. Esta análise trata não só os aspetos funcionais e estéticos, mas também a conformidade com legislação em vigor. Esta legislação é vasta e difícil de conhecer na totalidade, devido às constantes atualizações. Se tem a sorte de ser proprietário de um terreno ou existe algum disponível para o efeito na sua família, verifique a possibilidade de destacar uma parte desse terreno ou mesmo fazer um loteamento, para construir o seu negócio. Neste caso, terá de verificar as questões urbanísticas, nomeadamente se se trata de um terreno rústico ou urbano e qual a classificação do solo. Certifique-se igualmente de que o espaço tem a licença de utilização necessária e adequada à atividade que pretende desenvolver, pode ser comercial, de serviços, industrial… Alterar o uso que foi atribuído pode ser uma dor de cabeça ou mesmo uma impossibilidade.

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A maratona começou há muito e já imaginámos a meta à nossa frente, a ser cruzada com todo o sucesso… entretanto, o cansaço começa a instalar-se e o desânimo a ganhar terreno. Este é o momento em que devemos reunir a energia restante para a última etapa. As entidades licenciadoras têm por natureza alguma inércia, difícil de tolerar para quem tem capital e tempo investido. A sobrecarga de trabalho que infelizmente continua a existir nos municípios, apesar da boa vontade de alguns dos seus técnicos, leva a que, muitas vezes, os processos ganhem pó nas prateleira. Não desista nem desanime. Insista e peça a ajuda e intervenção do seu arquiteto, que pode ajudá-la a contactar o município com a frequência necessária para desbloquear o licenciamento de um bom projeto.

Concluindo, abrir as portas de um novo negócio não é simples e requer paciência e boa disposição. Foque-se no seu objetivo, na visão de negócio que sonhou, respire fundo e não desista. Bons negócios!


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Mariana Barbosa

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7 C O I S A S QUE APRENDI A ESCREVER O LIVRO DOS F A Z E D O R E S Dois meses de

Tudo começa pelo princípio: criar um negócio tem muito que se lhe diga e os fazedores sabem disso. O princípio costuma ser uma necessidade detetada. Daí à ideia, é um instante. E se, para a concretização da ideia, podem passar poucos meses, para ela se reinventar menos ainda. Para quem começa.

escrita, 14 histórias e mais de 20 horas de entrevistas. Falar com fazedores é perceber que o tempo corre, que as dificuldades surgem quando menos se espera e que a história se repete, mesmo que não seja com as mesmas pessoas. E entender que Portugal mudou graças, também, a eles. Lista de sete coisas que imagem: Paula Nunes

aprendi a falar e a escrever sobre empreendedores.

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Planos, há muitos: por mais que se planeie, passo a passo, há sempre imprevistos. É assim em tudo na vida e, também nas startups. Por isso, é importante saber o destino, olhar o caminho e, claro, estar aberto ao que aparece. Há oportunidades para aproveitar, obstáculos para ultrapassar e surpresas de que nunca estamos às espera. Mas, na carteira de “características”, os fazedores têm essa flexibilidade essencial para não desesperar sempre que há pedras no caminho.


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Crescer dói: criar uma startup começa com uma pequena ideia, num espaço pequeno, e com uma equipa reduzida. Com o tempo e o crescimento, os fazedores sentem necessidade de alargar a equipa e começar a delegar. E isso dói. Uma das dicas mais repetidas no livro é tratar da cultura da empresa com carinho: uma cultura forte é meio caminho para garantir um crescimento à imagem dos fundadores. A sorte dá trabalho: pode até parecer apenas um enorme clichê, mas a verdade é que, asseguram os fazedores, a sorte dá muito trabalho. Antes de criarem a Talkdesk, Cristina Fonseca e Tiago Paiva fundaram outros quatro projetos. Antes de escolherem os investidores para financiarem o crescimento da Chic by Choice, Lara Vidreiro e Filipa Neto leram, perguntaram e contactaram dezenas deles. Todos os passos contam para um dia as startups anunciarem investimentos, crescimento, novos mercados. E esses passos dão-se, muitas vezes, a solo, fora de horas e noutros fusos horários. Rodeia-te bem: ter pessoas ao lado que estejam a passar pelos mesmos dilemas ou se revejam nas dores e já tenham ultrapassado alguns dos obstáculos por que estamos a passar. Os fazedores rodeiam-se dos melhores por onde quer que passem: primeiro, em incubadoras e aceleradoras de empresas, depois, na criação de processos de recrutamento que ajudem a

pub

manter o ADN da empresa mesmo que a estrutura escale. Prepara-te melhor ainda: se o teu objetivo é criar um projeto que tenha impacto no mundo, prepara-te para responder a perguntas, ser confrontado com dúvidas e ter de inspirar a confiança dos que te rodeiam (e até de desconhecidos). O segredo para que a missão seja possível é preparação: lê, conta a ideia ao maior número de pessoas possível, valida o conceito. E que não se atrase a ida para o mercado. Só tentando - e, se necessário, falhando rápido - se aumentam as possibilidades de sucesso. Que o medo não paralise: o medo é um fator que ajuda a medir o risco, mas não deve paralisar. No início, todos os fazedores têm pudores em avançar para o mercado: ou porque o produto não está pronto, ou porque ainda podem melhorar, ou por um sem fim de razões que não importa especificar. Atrasar a validação é uma maneira de adiar a verdade. Por isso, se houver medo, arrisque mesmo com medo. *Mariana de Araújo Barbosa , jornalista desde 2007, é autora d’O Livro dos fazedores, um manual de todas as aprendizagens dos primeiros fundadores de startups nacionais, lançado em Outubro de 2018.


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Juliana Prata

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Empreendedora, eu? Claro que sim! Até pouco tempo não me via como empreendedora. Imaginava que para ser considerada uma deveria ter uma empresa física, funcionários e planilhas. Bem, as planilhas eu tinha, mas não sabia que elas poderiam ser a porta de entrada de organização e foco para começar um negócio digital.

escreva mais e melhor, sobre ferramentas e dicas de estudos e escrita. Já lancei o livro em três cidades e tem sido um empreendimento de sucesso. Mãe empreendedora? Mãe de uma criança com necessidades especiais empreendendo? Sim e sim! Cada um tem seu caminho e o meu tem sido desenvolver um novo negócio a partir do meu propósito: promover boas relações com o conhecimento.

Me realizar dá a força e organização necessárias para apoiar meu filho em todo o seu processo de desenvolvimento, em sua educação e nas suas terapias. Escrever para mim é um direito e acessá-lo e me expressar assim me empodera. Fazer meu negócio crescer exige bastante de mim, mas é recompensador, por que todo desenvolvimento de negócio não é só sobre o negócio, é sobre você também.

Eu sou uma professora, muito feliz em sua escolha profissional, mas não sabia que poderia mais. Sempre fui funcionária pública, e nos anos mais recentes, trabalhando em uma universidade importante no Brasil, imaginava que meus alunos estariam sempre em minhas aulas presenciais e que assim se resumiria minha carreira. Mas não.

Descubra seu propósito, movimente-se, desenvolva-se, expresse-se, empreenda.

Em 2015 minha vida mudou quando recebemos o diagnóstico de autismo no meu filho. Nesse momento ficou claro que minha prioridade seria ele e apenas ele e que meus sonhos profissionais e pessoais estariam em último plano. Mas não foi assim que aconteceu. A força que eu ganhei transbordava e então decidi escrever. Estranhamente não sobre autismo ou transtornos na infância, mas sobre escrita acadêmica, um sonho desde a faculdade.

Todas podem. Todas.

Percebi que escrever era uma maneira de me cuidar e tocar um sonho de um negócio digital era me fortalecer para nutrir meu filho Davi.

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imagem: Catarina Araújo Ribeiro

Comecei um blog, oficinas de técnicas de produtividade e escrita acadêmica, consultorias, palestras e, mais recentemente, publiquei um livro: Sua Vida Acadêmica:


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ENTREVISTA

,

um vesti g i o do p a s s a d o

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alternati v a para o

futuro ?


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Camila Ro igues A revolução de abril gerou a oportunidade para que forças sociais reprimidas durante décadas se expressarem, inicialmente de um modo informal e espontâneo, e mais tarde, assumindo já um estatuto jurídico definido, nomeadamente no setor cooperativo. Em 1975, foi criada uma comissão com o objetivo de coordenar os serviços públicos responsáveis pelo estudo e gestão do setor cooperativo. O Instituto António Sérgio do Setor Cooperativo (INSCOOP) foi constituído um ano mais tarde enquanto instituto público de apoio ao cooperativismo. O sector cooperativo foi assumido como um elemento fundamental na transição democrática, na medida em que se apresentava como uma via para fomentar e intensificar a capacidade produtiva e criar emprego (Decreto-Lei n.º 249/75, de 4 de julho). A Constituição da República Portuguesa, aprovada em abril de 1976, entendia o setor cooperativo como uma pedra basilar no desenvolvimento da propriedade social e determinava o direito à livre constituição das cooperativas. Era assumida a responsabilidade do Estado na concessão de benefícios fiscais e financeiros a estas entidades, assim como condições favoráveis de crédito e suporte técnico. Em 1980, o Código Cooperativo foi publicado para, finalmente, alinhar a legislação com a constituição. Determinou um alto grau de autonomia para o setor cooperativo em relação a todo o direito civil e comercial que regulamentava outras formas organizacionais. Foram tempos que reuniram diferentes perspetivas sobre o papel que as cooperativas desempenhavam na democracia portuguesa, perspetivas que podiam ser encontradas tanto nos agentes políticos como nos próprios órgãos dirigentes destas organizações. O entendimento sobre a relevância do

movimento cooperativo diferia substancialmente da direita à esquerda do espectro político: enquanto os partidos da direita moderada entendiam o setor cooperativo como uma solução residual para problemas específicos, e nunca como um modelo alternativo possível para a economia, os partidos mais à esquerda previam uma transição para o socialismo através do setor cooperativo. A adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) comprometeu o desenvolvimento do setor cooperativo desde o final dos anos setenta, uma situação que se intensificou na década seguinte. A revisão constitucional de 1989, que emergiu no contexto de uma reforma económica liberalizante, ditou a inclusão de cooperativas no terceiro setor, juntamente com as associações, mutualidades e fundações - as iniciativas privadas de utilidade pública, que atualmente constituem o setor cooperativo e social. Esta opção refletia uma mudança do papel atribuído às cooperativas, pois se na formulação inicial da Constituição, eram entendidas como um elemento fundamental para o desenvolvimento da propriedade social inerente ao socialismo, em 1989, sob governo PSD, foram relegadas para um papel bastante secundário, vindo a constituir apenas mais um elemento numa economia mista e estável. Os responsáveis políticos portugueses durante os anos 80 contaram com a adesão à CEE para apoiar a consolidação das recentes e ainda instáveis instituições democráticas, o que implicou a modernização das estruturas económicas e a normalização das relações com os restantes Estados-membros. O processo de integração implicou a promoção da concorrência económica, a privatização de empresas públicas, a reestruturação do setor industrial e um processo de desregulamentação económica, medidas que afastaram definitivamente Portugal da via socialista (1). (1) Sebastián Royo, Paul Christopher Manuel, ‘Reconsidering Economic Relations and Political Citizenship in the New Iberia of the New Europe: Some Lessons from the Fifteenth Anniversary of the Accession of Portugal and Spain to the European Union’, Centre for European Studies Working Paper, 94 (2003).

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ENTREVISTA

As cooperativas sofreram com esta evolução. A Conta Satélite da Economia Social apresenta a análise, por tipo de atividade, de todas as entidades relevantes. Em 2010, o Valor Agregado Bruto da Economia Social (VAB) representou 2,8% do VAB nacional total e 5,5% do emprego remunerado em tempo integral. Das 55 383 organizações consideradas, as associações e outras organizações semelhantes da economia social semelhantes, como as organizações de bombeiros voluntários, representavam quase a totalidade do setor, 94%, respondendo por 54,1% do VAB. As cooperativas ocupavam, a uma distância considerável, o segundo grupo com maior peso relativo em termos de número de unidades (4%) e VAB (17%) (2). A crise económica que se abateu nos últimos anos sobre as sociedades capitalistas ocidentais originou um (modesto) questionamento dos seus pressupostos. Se as cooperativas se afirmarão novamente como uma alternativa ou irão manter o seu papel residual num modelo económico que as secundariza é algo que está ainda por averiguar. As cooperativas são empresas, mas também são associações, pelo que o seu funcionamento interno obedece a regras democráticas, o que reforça a democratização de estruturas de autoridade para além do Estado, nomeadamente ao nível dos agentes do mercado. Para além disso, o seu princípio base de funcionamento é a cooperação e não a competição, o que pode contribuir para a construção de uma sociedade mais sustentável, tanto do ponto de vista social como ambiental. Fomos conhecer uma das mais interessantes iniciativas que o setor cooperativo produziu recentemente em Portugal para levantar algumas pistas sobre as virtudes das cooperativas e sobre o papel que poderão vir a desempenhar na nossa sociedade.

Gente bonita come Fruta Feia Como surgiu e em que consiste a Fruta Feia? Antes de existir um projeto, a ideia surgiu à Isabel Soares (fundadora) ao aperceber-se do problema

do desperdício através de documentários e outros formatos onde é divulgada esta questão. Um dia, perguntou diretamente sobre o assunto ao seu tio, produtor de pera e maçã no Norte, e ele disse-lhe que só naquele ano cerca de 30% da sua produção iria ser deitada fora unicamente por razões estéticas, ainda que fossem extremamente doces. Ao se aperceber que este problema não era exclusivo do seu tio, mas sim de toda a sociedade que continuamente desperdiça produtos em boas condições de consumo, a Isabel começou pensar neste problema e aí teve a inspiração para o início do projeto. Elaborou um plano e visualizou o projeto para poder concorrer ao concurso da FAZ Ideias de Origem Portuguesa promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian em conjunto com a COTEC Portugal (Edição 2103) tendo ganho o 2.º lugar. A verba ganha neste concurso não foi, contudo, suficiente para o arranque do projeto, tendo sido necessário fazer uma campanha de crowdfunding onde se obteve o restante para a compra da carrinha e outros custos iniciais do arranque. Formou então a Fruta Feia, uma cooperativa de consumo sem fins lucrativos que combate o desperdício alimentar devido à aparência, canalizando desde os agricultores até aos consumidores aqueles produtos que seriam descartados devido à sua cor, formato e calibre, mas cuja qualidade é boa. Como funciona, na prática, a Fruta Feia? Um dia normal de entrega de cabazes começa na parte da manhã com a ida ao campo, recolhendo nos agricultores as frutas e hortícolas que eles não conseguem escoar devido à aparência. No fim da manhã, trazemos esses produtos do campo até à cidade (até ao ponto de entrega), e entre as 14h30 e as 17h montamos os cabazes com a ajuda de uma equipa de voluntários. Das 17h às 21h, estamos a vender os cabazes aos associados. Sendo uma Cooperativa de consumo, não fazemos uma venda aberta ao público. Para comprar o cabaz, as pessoas têm que se inscrever www.frutafeia.pt no site como consumidor (www.frutafeia.pt). Após o registo, e em função da sua residência ou trabalho, os consumidores levantam o seu cabaz uma vez por semana num dos nossos pontos de

(2) INE (2013) Conta Satélite da Economia Social, (Lisboa: INE, 2013),5-6.

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Camila Ro igues

entrega que lhe for mais conveniente. A Fruta Feia tem vários pontos de entrega, entre a região de Lisboa e Porto. Temos vindo a abrir novos pontos de entrega em função do número de pessoas interessadas em consumir fruta feia. Por isso, pedimos que as pessoas se registem no site mesmo não havendo um ponto de entrega próximo, pois aí conseguimos perceber onde há mais interesse e estudar a possibilidade de abrir um ponto de entrega nessa determinada zona. Quem pode aderir à Fruta Feia? Quem são os vossos membros? Quem são os vossos fornecedores/distribuidores/consumidores? Qualquer pessoa pode aderir à Fruta Feia. Temos um conjunto de associados bastante diversificado, há portugueses e estrangeiros, novos e velhos, ricos e pobres, etc., e todas estas pessoas têm um traço transversal: não julgam a qualidade pela aparência. Quanto aos produtores, são sempre produtores da região, pois regemo-nos pelo princípio do consumo de proximidade e, uma vez que somos nós a ir levantar os produtos às explorações, não ultrapassamos uma distância máxima do produtor até ao ponto de entrega. Temos

produtores de pequena e média dimensão e apenas temos dois requisitos: que tenham desperdício devido à aparência e que não tenham um modo de produção agressivo para o meio-ambiente. Porquê constituir uma cooperativa? Por que não uma empresa? Historicamente, as cooperativas de consumo apareceram, a partir dos anos 60 do século XX, como a primeira forma de defesa dos consumidores face aos preços especulativos e à qualidade e quantidade dos bens vendidos. A pertença a uma cooperativa de consumo significava não apenas um interesse económico, mas também uma afirmação de consciência cívica. Era uma forma concreta e atuante de mostrar não só a oposição a uma ordem económica com que não se concordava, como uma forma eficaz de mostrar que podia haver um caminho diferente (3).

(3) Granado, C.: Cooperativas de consumo em Portugal, págs. 10 a 11 (prefácio de Manuel Canaveira de Campo). Lisboa, Julho de 1998.


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ENTREVISTA

Paralelamente à História, ao reconhecer que a atual preferência dos canais de distribuição por frutas e legumes esteticamente perfeitos foi, em grande parte, imposta pelo consumidor que, no supermercado, optava sempre pelas frutas perfeitas, considerámos que era altura de devolver ao consumidor a responsabilidade de inverter tal tendência e o desperdício alimentar que daí advém. Adicionalmente, queríamos que os consumidores não olhassem para a Fruta Feia apenas como uma loja mais barata mas que se sentissem parte integrante do projeto e do seu compromisso de reduzir o desperdício alimentar devido à aparência. O modelo de Cooperativa de consumo correspondia, assim, exatamente ao que se pretendia. Como é gerir uma cooperativa num contexto capitalista? Que desafios internos (ao nível da organização dos membros) e externos (na relação com outras entidades) enfrentam? Apesar de a Fruta Feia estar inserida num sistema capitalista (na medida em que, por exemplo, pedimos e passamos faturas), o seu objetivo não é de todo o lucro. Por isso, optámos pelo modelo de cooperativa sem fins lucrativos, em que todo o possível lucro gerado serve para investir no crescimento do próprio projeto. Quanto aos desafios internos, mais do que sermos não capitalistas, prendem-se com o facto de sermos uma estrutura horizontal, na qual as decisões são tomadas por todos em assembleia. Isto leva a que os processos de decisão sejam mais demorados e exige uma maior coresponsabilização da parte de cada um. O que já conquistaram e quais os vossos planos para o futuro? A Fruta Feia arrancou em novembro de 2013 com 100 consumidores e 10 agricultores. Atualmente, passados 5 anos, contamos com

mais de 4800 associados, cerca de 170 produtores, estamos presentes em 8 cidades, e evitamos por semana que cerca de 15 toneladas de frutas e hortícolas vão parar ao lixo. Parte desta replicação foi feita no âmbito de um projeto chamado FLAW4LIFE (www.flaw4life.com), cofinanciado pela União Europeia, iniciado em setembro de 2015 e terminado em setembro de 2018. No futuro, queremos continuar a abrir novos pontos de entrega, em função das zonas onde houver maior número de pessoas inscritas para consumir fruta feia. Queremos também aumentar a sensibilização para o problema do desperdício devido à aparência e disseminar a abordagem da Fruta Feia como uma possível solução, através, por exemplo, da participação em conferências. Vamos lançar mais uma web-série, desta vez dedicada aos consumidores (“Gente bonita come Fruta Feia”) onde se mostra o que é isto de pertencer a uma cooperativa e como é que os nossos consumidores percecionam o desperdício devido à aparência. Vamos também envolver a comunidade escolar através de um conjunto de atividades e workshops que foi desenvolvido com o objetivo de apresentar o trabalho da cooperativa e sensibilizar a comunidade escolar para o problema do desperdício. Por outro lado, estamos a desenvolver um “Guia de boas práticas” para ajudar outras pessoas, a nível internacional, que estejam interessadas em desenvolver um projeto semelhante à Fruta Feia noutros países. Queremos também mais próximo do Ministério da Agricultura e da Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, e continuar a contribuir para várias políticas, estratégias e diretrizes a nível Regional, Nacional e Europeu, nomeadamente a “Estratégia Nacional e Plano de Acão de Combate ao Desperdício Alimentar”.


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António Vilaça Pacheco

AUTOR CONVIDADO

AS CRIPTOMOEDA$ NÃO ESCOLHEM SEXO Quando me cruzei pela primeira vez com a palavra Bitcoin, estávamos no ano de 2012. Era uma palavra desconhecida e misteriosa. Passados 6 anos, é um tema quente. Infelizmente, a informação que circula tem sido tão superficial que é mais “desinformação” do que “informação”. Como consequência, muita gente torce o nariz quando ouve a palavra Bitcoin ou Criptomoeda. Quando decidi escrever o livro “Bitcoin - Tudo o que precisa de saber sobre criptomoedas”, foi precisamente pela enorme carência de informação nesta área.

O livro “Bitcoin” foi o primeiro livro em Portugal sobre criptomoedas. Esteve 6 semanas no top 10 de vendas e continua no top 10 dos livros de economia.

Mais de 99% dos traders do mundo, faz trading com ações e produtos financeiros emitidos pelos bancos.

Felizmente, já há muita gente a querer aprender. Já não estamos numa sociedade onde nos podemos dar ao luxo de negar uma nova tecnologia sem primeiro tentar entendê-la. E sim: A Bitcoin e as criptomoedas são uma tecnologia (entre outras coisas). Provavelmente são a invenção tecnológica mais importante desde os anos 90, e seguramente a tecnologia que mais vai mudar a nossa vida desde o aparecimento da Internet. Mas vamos por partes. Vamos ser claros: aquilo que é comentado nos media diz respeito à compra e venda de criptomoedas. Essa atividade tem o nome de trading. Mas o trading, é algo que já existia muito antes das criptomoedas nascerem.

O objetivo de um trader é comprar baixo e vender alto, ganhando dinheiro com essa diferença. Dada a elevada volatilidade no valor das criptomoedas, o trading de criptomoedas tornou-se atrativo para eles. Mas o trading é uma atividade especulativa e as criptomoedas não nasceram para satisfazer os traders. Pelo contrário. Há cerca de 30 anos, com a massificação progressiva da Internet, nasceu aquilo que chamámos de “Aldeia Global”. De um dia para o outro, o mundo ficou ao alcance de um teclado. As comunicações, a economia, os negócios, as amizades, as notícias, foram globalizadas, mas a moeda não. Passámos a poder comprar coisas em todos os países do mundo (Ebay, Amazon, Ali Baba, etc.), mas cada um tem a sua moeda. Em 2008, no meio da enorme crise financeira mundial, Satoshi Nakamoto publicava a sua tese num fórum de Internet, revelando ter descoberto uma forma de resolver todos os obstáculos à criação de uma moeda eletrónica: trocável diretamente entre pessoas, sem precisar de intermediários. Baseada em criptografia e gerida de forma descentralizada. Mas isto é só a moeda. Há mais… muito mais. Blockchain: essa palavra, que anda na boca do mundo e que serve de bandeira a todas as

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AUTOR CONVIDADO

grandes empresas mundiais para mostrar que estão a entrar na modernidade. ICO: A Blockchain e as criptomoedas permitiram a criação de muitos outros sistemas baseados na mesma ideia. Nasceram mais de 1600 criptomoedas diferentes. E não estamos a falar de empresas de vão de escada. As ICO são uma forma de empreendedorismo que levanta capital usando criptomoedas como forma de financiamento. As ICO são um sistema semelhante ao crowdfunding, onde os investidores podem financiar qualquer empresa com base no projeto que a empresa se propõe a realizar. Isto permite transformar cada pessoa num Venture Capitalist, retirando o intermediário e retirando as suas enormes comissões de intermediação. Bem como dando igual oportunidade a todos (o que antes apenas estava disponível para os grandes investidores ou bancos). Só no ano de 2017, mais de 5,3 mil milhões de dólares foram levantados por Startups através de ICO. Seria de pensar que, com a queda de valor das criptomoedas, o valor fosse menor este ano. Mas até 31 de março de 2018, foram 6,8 mil milhões de dólares. Isto significa um crescimento de mais de 500% previsto para este ano. Centenas de empresas nascem todos os meses usando valências e tirando proveito daquilo que as criptomoedas e a blockchain oferecem. Diversos países já estão a tirar partido e a estudar esta nova economia. Cursos estão a ser criados nas melhores universidades do mundo. Mas não é só no volume de empresas e valores investidos que as criptomoedas revolucionam. É também no pensamento. Confesso que é um mundo fascinante, onde existe uma oportunidade de acreditarmos que podemos reconstruir muita coisa neste mundo. Corrigir muita coisa que está errada. Tornar muita coisa mais justa e equilibrada. Distribuir o poder e a riqueza pelas pessoas. Existem ONG como a UNICEF, que recebem enormes donativos em criptomoedas, cujo objetivo é conseguir-se controlar de forma clara, exatamente a aplicação desses fundos no terreno. Infelizmente, tal como na grande maioria das profissões tecnológicas, existem significativamente

menos mulheres do que homens neste ecossistema. Nos estudos que li até hoje, as mulheres tendem a ser mais avessas a áreas tecnológicas (onde ocupam cerca de 17% do total). O que resulta num número ainda menor quando falamos de cripto e blockchain, onde são estimadas 6% de mulheres. Ao contrário da maioria dos setores económicos e sociais, o ecossistema das criptomoedas tem um pensamento moderno na sua origem, e uma oportunidade para reconhecer a valia que as mulheres podem representar. E por esse motivo, embora esteja ainda na sua infância, já foram criados fundos e forças de trabalho com o objetivo de motivar, difundir e criar dinâmica junto das mulheres para trazer um equilíbrio que é visto por todos como algo mais rico e saudável. Há vários casos de sucesso de mulheres fundadoras de criptomoedas e promotoras de criptomoedas. Ser mulher não é obstáculo para nada. E num mundo cheio de gente despretensiosa, ambiciosa e sonhadora, não há lugar para sexismo ou pensamentos antiquados. Ser melhor é ser mais plural. As criptomoedas não escolhem sexo. Só escolhem talento. Katie Elizabeth (fundadora da Stella): Estou fascinada por este mundo, onde podemos trabalhar no campo mais moderno da economia mundial. E o mais fascinante é que esta indústria oferece às mulheres uma nova forma de disputar a liderança sem barreiras. O número de mulheres com criptomoedas passou de 6% em janeiro para 13% em junho. A criptomoeda TEZOS levantou 232 milhões de dólares na sua ICO. De 3 fundadores, 2 são mulheres. Maria Prusakova é um valor reconhecido nas criptomoedas. É cofundadora da Cypto PR Lab, uma “boutique” de aconselhamento legal a blockchain e projetos em criptomoedas. O seu networking é altamente valorizado e faz equipa com Karpova, uma business developer de grande experiência. Organizações como Mogul’s Woman in Crypto Events e Woman in Blockchain Foundation têm feito esforços para envolver mais mulheres no espaço “crypto”. “Mulheres, estejam atentas às criptomoedas. Caso contrário, os homens vão ficar com toda a riqueza outra vez…” – Alexia Bonatsos, Venture Capitalist.

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Rita Sib ro

CRÓNICA

O

MOMENTO

IDEAL SOMOS NÓS

Para mim, o primeiro passo de um projeto era o mais difícil. Porque, na realidade, estava sempre à espera do momento ideal de onde surgiria a epifania que me ditaria o caminho a seguir. Na verdade, apaixonei-me pela narrativa que inclui um momento “Eureka!” a partir do qual tudo se clarifica. E assim, tendia a ficar à espera que esse instante se exibisse e marcasse o início da minha caminhada. Contudo, é certo que o momento ideal não existe. Essa ocasião tem de ser fabricada por nós numa espécie de linha de montagem de pequenas ações e de investimentos. O primeiro passo precisa de ser dado para que os outros aconteçam de forma encadeada e fluida. Ainda assim, muitas das vezes, dava por mim a ter dificuldade em iniciar a marcha apenas porque achava que as condições necessárias não estavam reunidas. Ora faltava concretizar a ideia, ora faltava acertar o público-alvo, ora faltava aprofundar alguma competência. Desculpas que contava a mim mesma. Portanto, a minha epifania foi deixar de esperar e começar a concretizar. - Ação! - É o grito que faço ecoar na minha cabeça e que contraria a espera demorada pelo momento perfeito. Com o meu mais recente projeto dedicado à cidade onde vivo - Setúbal -, já pus à prova a minha chamada interior para a ação. De um ímpeto, deitei mãos à obra, construí o site, desbravei o conceito, fotografei, andei pela cidade em busca de inspiração, deixei-me levar pela minha intuição e comecei a andar. Todos os dias, ando qualquer coisa. Passos pequenos, outros maiores. Às vezes, sinto que paro, mas aceito as pausas como fases essenciais de crescimento. Depois de se começar, tudo se agiliza e tende a progredir mais naturalmente. No fundo, ser empreendedora passa por fazer acontecer, ser diligente, ativa, persistente e não deixar que o primeiro passo dependa de condições ideais que nunca irão existir.


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ENTREVISTA

Estatuto do Cuidador Informal ar Cuqid uem de

C uid a

Em Portugal, os desafios sociais derivados do envelhecimento populacional são agravados pela fragilidade de um Estado Social que nasceu tarde e num contexto desfavorável, o qual tem permanecido pouco consistente até aos dias de hoje. Esta realidade coloca nas redes informais de solidariedade a responsabilidade pela gestão de problemáticas sociais severas e urgentes, às quais o Estado continua a não chegar. É um tipo de empreendedorismo que frequentemente fica esquecido e que queremos destacar, pois empreender não é apenas criar negócio próprio, é tomar a iniciativa, ser proativo e assumir responsabilidades prementes quando mais ninguém o faz.

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Quem por idade, acidente ou doença, se vê limitado na sua autonomia e necessita de apoio para a realização das suas tarefas diárias, depende frequentemente de terceiros que dedicam considerável parte do seu tempo, recursos e energia à garantia do seu bem-estar. Estes cuidadores, em regra, familiares diretos, cumprem uma função social extremamente valiosa e que tem tardado em ser devidamente reconhecida. Urge, portanto, definir formalmente o seu papel e contabilizar o valor dos cuidados que prestam não


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Camila Ro igues apenas à pessoa de quem cuidam, mas à sociedade no seu todo. Num momento em que o Estatuto do Cuidador está finalmente em vias de se tornar uma realidade, fomos conhecer a opinião de Bruno Alves e Ana Ribas Teixeira, da Cuidadores Portugal www.cuidadoresportugal.pt uma rede (www.cuidadoresportugal.pt), independente e multidisciplinar que representa os cuidadores no nosso país. É quem conhece esta realidade a fundo que nos pode explicar porque é que a função do cuidador informal, ao contribuir de forma inequívoca para a justiça social, exige reconhecimento social e jurídico.

Quem são os cuidadores informais em Portugal? Os Cuidadores Informais (CI) são pessoas que cuidam de outra, numa situação de doença crónica, deficiência e/ou dependência, parcial ou total, de forma transitória ou definitiva, ou noutra condição de fragilidade e necessidade de cuidados, realizando-se estes fora do âmbito profissional, ou formal. O CI principal é, assim, a pessoa, da rede social do próprio, não remunerada, com relação significativa (familiar, parceiro(a), amigo(a) e/ou vizinho(a)) que se assume como o principal responsável pela organização, assistência e/ou prestação de cuidados. Estimamos que, em Portugal, existam 827 mil CI, dos quais 207 mil pessoas a tempo inteiro e as restantes em tempo parcial, e o seu trabalho represente 4 mil milhões de euros por ano. São, na sua maioria, mulheres entre os 45 e os 75 anos, com baixas habilitações académicas e, apesar de a maioria se encontrar em idade ativa, pouco mais de metade se encontra empregada, revelando a dificuldade em conciliar a função de cuidador com a atividade profissional. Com a participação das mulheres cada vez maior no mercado de trabalho e o facto de termos cada vez mais pessoas idosas a cuidar de outras, tem contribuído para a mudança do perfil típico do cuidador informal que hoje conhecemos. Por outro lado, surge uma maior consciência coletiva internacional para a realidade dos jovens cuidadores – que existem, mas para os quais a

nossa sociedade ainda não se encontra desperta. Países como os EUA, o Reino Unido e a Suécia desenvolvem, há muito, medidas de apoio a estes jovens. Neste momento, a Cuidadores Portugal, no projeto EDY-Care, realizado em parceria com organizações académicas e não-governamentais da Suécia, Itália, Bélgica e Eslovénia, pretende construir um instrumento para melhor identificar e apoiar os jovens cuidadores. Para terem uma ideia da sua magnitude, só no Reino Unido, os números oficiais dizem-nos que existem 700 mil jovens cuidadores. Mas quantos existem em Portugal? Ninguém sabe.

Quais os desafios que enfrentam? Cuidar é dos atos mais nobres, mas também dos mais exigentes. Se o cuidador não tiver apoios e não cuidar de si, tudo fica comprometido, a sua saúde, a sua felicidade, a sua vida, bem como a da outra pessoa. Cuidar de uma pessoa com algum nível de fragilidade, doença ou dependência exige lidar com uma diversidade de esforços, tensões e tarefas que podem superar as reais possibilidades do cuidador, podendo conduzi-lo à exaustão e ter um impacto a nível físico, psicológico, social e económico quer na sua vida, quer na vida da pessoa foco dos seus cuidados. Envolto num turbilhão de emoções, muitas vezes, o cuidador vê-se sem opções numa situação que não pediu, nem teve escolha. Por outro lado, quem teve a opção de o fazer pode ver-se abraçado com uma realidade divergente da que desejaria. A perceção de qualidade de vida dos cuidadores é frequentemente descrita como menor comparativamente com a população em geral, sendo associada a um maior risco de pobreza, isolamento, problemas de saúde físicos e mentais e dificuldades significativas em permanecer no mercado de trabalho. Estes fatores podem comprometer a continuidade da prestação dos cuidados e o papel de cuidador, bem como a qualidade de vida da pessoa que recebe os seus cuidados. Em última instância, a ausência de recursos e/ou a sobrecarga do cuidador podem conduzir a uma institucionalização mais precoce.


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ENTREVISTA

Não ter tempo para sair com os amigos, não ter disposição para estar com eles ou mesmo cuidar de si é muito comum. A negligência do seu eu e das suas necessidades, passando muitas delas para segundo plano ou mesmo deixando que sejam completamente esquecidas, é algo bastante comum nos cuidadores informais. Não existirem apoios formais e informais (da rede de amigos e de outros familiares) pode-se traduzir em maior isolamento, maior angústia e uma maior incidência de perturbações mentais, com maior tendência para a depressão. A ausência de respostas efetivas proporcionais às necessidades reais dos cuidadores tem um impacto profundo na saúde mental. Inúmeros são os desafios identificados, faltam mais respostas. A sua ausência põe em risco a vida destas pessoas e das pessoas de quem cuidam.

De que apoios usufrui um cuidador informal em Portugal? A nível nacional, nos últimos anos, verificou-se um reforço da rede de cuidados continuados e da rede de cuidados paliativos, apoiando estes os cuidadores informais. Contudo, neste âmbito, torna-se fundamental a continuidade no investimento na rede de cuidados continuados e na capacitação e apoios aos cuidadores informais. O descanso do cuidador foi criado no âmbito da rede nacional dos cuidados continuados com o intuito de possibilitar o internamento, em situações temporárias, decorrentes de dificuldades de apoio familiar ou necessidade de descanso do cuidador principal (por períodos máximos de 30 dias de internamento, podendo ir até 90 dias por ano). As respostas de apoio domiciliário e de cuidados de saúde têm apoiado as pessoas mais vulneráveis e dependentes, mas ainda com muito potencial de investimento. Os desafios sociodemográficos como o envelhecimento da população, o maior rácio de dependência e de comorbilidade, criam inúmeros desafios para a rede de cuidados continuados e o serviço nacional de saúde, os quais se encontram bem descritos no último relatório Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.

Existem apoios financeiros que podem ser requeridos junto da Segurança Social, dependendo da situação de dependência, mas são claramente insuficientes e não são acessíveis a todos; em muitos casos, verificam-se situações de pobreza ou dificuldades financeiras sérias. Em termos de faltas a nível laboral, se o cuidador for trabalhador do Estado tem direito a faltar, por exemplo, para acompanhar o seu familiar a uma consulta ou tratamento, mas se for trabalhador de uma empresa, dificilmente lhe serão concedidos os dias, ficando sempre à consideração do conselho de administração ou da direção de recursos humanos dessa empresa. A flexibilidade laboral, licenças para faltas, redução de horário, seguros de saúde para os seus colaboradores extensível aos seus familiares, trabalho em casa, entre outras, são algumas das formas de reter talentos nas empresas e aumentar a satisfação e, claro, a sua motivação e o seu desempenho. É impossível pensar hoje em empresas competitivas sem uma estratégia organizacional positiva que pense nas pessoas. Em termos de estratégia nacional, existem Planos de intervenção orientados para a Demência, onde se incluem os cuidadores, sendo de muito valorizar estes e Programas como o Programa Nacional para a Saúde Mental. Preocupa-nos igualmente, em termos práticos e efetivos, a ausência de uma estratégia nacional que também promova a saúde e qualidade de vida dos cuidadores de pessoas com doença mental; dos cuidadores de pessoas com cancro; dos cuidadores de pessoas com doenças raras; dos cuidadores de pessoas com deficiência física ou mental; dos cuidadores de pessoas com doenças neurodegenerativas; dos cuidadores de pessoas com doenças infectocontagiosas; dos cuidadores de pessoas com problemas aditivos; dos cuidadores de pessoas com outra condição de fragilidade, doença ou dependência e dos jovens cuidadores. É importante, por isto, um estatuto do cuidador informal para todos os cuidadores informais, mas que majore os benefícios para quem está em maior risco de pobreza, pior saúde física e/ou mental, e em risco de exclusão social.

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Camila Ro igues

Qual a situação dos cuidadores em Portugal face aos cuidadores dos restantes países da União Europeia, em termos de apoios públicos? Portugal está a construir o seu caminho. É de valorizar o nosso Serviço Nacional de Saúde e os excelentes profissionais de saúde que nele trabalham – os parceiros e principais aliados dos cuidadores informais. Verificamos existir uma relação de confiança e de preocupação crescente com a questão dos cuidadores informais na sua prática clínica. Existe um reforço da rede de cuidados continuados e iniciativas estratégicas focadas nos cuidadores; no descanso do cuidador; na capacitação e no apoio psicossocial; nos cuidados de apoio domiciliários; nas equipas de intervenção na comunidade, entre outras iniciativas. Um dos desafios que se coloca é todas as regiões do país disporem destes recursos e todos os cuidadores disporem dessas opções. A Lei de Bases da Saúde inclui o Estatuto dos Cuidadores Informais, prevendo a necessidade de medidas de apoio por parte do Estado, cuidados integrados e formação. Contudo, falta a sua operacionalização, tratando-se apenas de uma “orientação genérica”. Noutros países, a questão dos cuidadores já se trabalha há mais de 30 anos e, por isso, o nível de apoios públicos baseia-se num conjunto de medidas baseadas

maioritariamente nos estatutos presentes nesses países. Questões como a acessibilidade, integração dos cuidados e disponibilidade de apoios públicos têm sido também desenvolvidas ao longo deste período de tempo. Os apoios públicos em países como o Reino Unido e nos países e escandinavos, por exemplo, passam por mais apoios financeiros para a aquisição de bens e


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ENTREVISTA

serviços; apoios financeiros aos cuidadores desempregados; subsídio do cuidador; apoios e medidas de intervenção para os jovens cuidadores; licenças de urgência; licenças de curta e média duração; descanso ao cuidador em 24 horas; descanso do cuidador ao fim de semana e no seu domicílio com equipa de profissionais a realizar todos os cuidados prestados pelos cuidadores nesse período de tempo; apoios na capacitação e em serviços de formação, aconselhamento, informação e apoio psicossocial; e reforço das respostas domiciliárias. É bastante relevante que muito do apoio aos cuidadores informais em Portugal tem sido igualmente realizado por associações de doentes e de cuidadores, bem como através de projetos liderados pelas Santas Casas de Misericórdia de todo o país, com especial relevância para a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, com um trabalho excecional de apoio à capacitação, ao aconselhamento e à informação dos cuidadores e das equipas no terreno que diariamente apoiam a pessoa que estes cuidam, bem como o desenvolvimento de programas de rádio para, assim, chegar aos cuidadores que não dominam as ferramentas digitais.

O que é o estatuto do cuidador informal e qual a sua importância? Desde 2015, a Cuidadores Portugal tem trabalhado no sentido de sensibilizar os principais parceiros sociais para esta questão. Em termos europeus, tem realizado reuniões com eurodeputados e, a nível nacional, discutido a importância da criação do estatuto, que, em termos práticos, pretende fazer com que todos os cuidadores sejam reconhecidos à luz da lei. Envolveu-se igualmente o Presidente da República na criação do Dia Nacional do Cuidador Informal. Por outro lado, a sociedade civil, através de inúmeros movimentos de cuidadores e associações, tem facilitado recentemente a criação de iniciativas e favorecido a crescente pressão política. No início da presente legislatura, anuncia-se a criação do estatuto do cuidador informal. Todos

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os partidos se mobilizam para a criação do estatuto e apresentam iniciativas legislativas, com relevância para as intervenções e as propostas dos diversos grupos políticos, em particular para as do Bloco de Esquerda e a defesa dos cuidadores a nível europeu, pelo papel ativo da eurodeputada Marisa Matias. É um assunto de interesse nacional. Realizam-se grupos de trabalho, mas nada ainda definitivo. Pedem-se consensos. Todas as ordens profissionais: médicos, psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas demonstram publicamente o apoio aos cuidadores informais. Todos os partidos consideram ser um assunto que não é deste ou do outro partido. Todos valorizam e reconhecem a importância dos cuidadores informais. “Não se pode fazer a melhor lei do mundo de repente” como disse em tempos uma deputada, mas o Estado tem o dever de promover o bem-estar da sua população e criar condições que menorizem o sofrimento de todos os que estão especialmente em risco. Existem cuidadores, neste momento, em risco, no limite. É “preciso ponderação”, pois não somos de facto um país rico, mas a ausência de respostas essenciais não é tolerável. Uma equipa de trabalho em reunião clínica discutia recentemente o caso de um cuidador com 85 anos que se auto agrediu com arma branca no peito e tentou o suicídio. O alegado motivo da sua tentativa foi não ter condições psicológicas e físicas para continuar a cuidar do seu filho com deficiência física – fazendo-o há mais de 10 anos de forma ininterrupta, sem apoio de ninguém. O cuidador é internado. O filho é institucionalizado e, três meses depois, o cuidador retoma o seu papel na sua casa. Que respostas existem e que sensibilidade existe para esta e muitas outras situações? A nível europeu, existe um movimento que nem sequer quer ouvir falar do estatuto. Cuidar deve ser função do Estado e a magnitude da participação e do envolvimento nos cuidados depende apenas do cuidador. Em muitas condições, o cuidador assume o papel pela ausência de recursos do Estado e vê-se obrigado a gerir esta condição no sentido de melhor poder proporcionar saúde e bem-estar à outra pessoa.


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RenataNetto

NEGÓCIOS

Camila Ro igues Na vertente mais economicista e oportunista, os cuidadores são vistos como um instrumento para garantir a sustentabilidade dos serviços sociais e de saúde. Pena quando pensam no estatuto e se discute os direitos dos cuidadores, existam personalidades públicas que percecionem mais a questão dos direitos dos cuidadores na perspetiva da despesa e não enquanto investimento. Mais que formação, aconselhamento e informação prestados por associações, defendemos a continuidade na promoção de mais respostas domiciliárias; o reforço da rede dos cuidados continuados; a promoção de mais cuidados integrados e de projetos inovadores, bem como a valorização da relação e contacto mais próximo com os profissionais de saúde. Defendemos a importância de o Serviço Nacional de Saúde ser o responsável pela capacitação do cuidador e pela sua formação, pelo aconselhamento, pelo apoio psicossocial e pela informação aos cuidadores. Importa reforçar a continuidade do papel da rede dos cuidados continuados integrados. Estamos convictos de que há medidas que podem ser levadas a cabo no terreno, que podem ser implementadas com reduzido impacto financeiro, mas que podem ter um forte impacto na qualidade de vida dos cuidadores. Estamos disponíveis para trabalhar, com base na nossa experiência internacional. Os cuidadores precisam de mais respostas no terreno e de um melhor planeamento na sua operacionalização. Aguardamos pelo reconhecimento merecido legislativo final.

Porquê criar uma rede Cuidadores Portugal? A rede Cuidadores Portugal surgiu desde 2007, enquanto rede multidisciplinar e independente de profissionais que representa os cuidadores de Portugal. O nosso principal objetivo consiste em dar-lhes visibilidade e influenciar as políticas a nível nacional e na União Europeia. Fomos os primeiros a fazê-lo e contamos, neste momento, com um grupo de eurodeputados com interesse nos cuidadores informais.


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ENTREVISTA

Pretendemos aumentar a consciencialização sobre o contributo significativo dos cuidadores informais para a sociedade e, em particular, no contexto do sistema de saúde, serviço social e economia do país. Promover a inclusão, a inovação social, o desenvolvimento de novas tecnologias e de instrumentos financeiros para que os cuidadores disponham de soluções e alternativas para o seu dia-a-dia, afirmam-se também como nossos desafios.

No segundo semestre de 2018, daremos continuidade a uma iniciativa conjunta com a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, relativa aos programas de rádio para os cuidadores. Iremos, no futuro, lançar uma campanha orientada para o maior reconhecimento dos cuidadores em toda a Europa e realizaremos um evento em Bruxelas em 2020 orientado para os Jovens Cuidadores.

A Informcare é uma plataforma de informação sobre leis e aconselhamento geral para os cuidadores, que pode ser facilmente acedida pelo nosso site.

Que iniciativas desenvolvem/pretendem desenvolver? A Cuidadores Portugal vai manter a sua visão de continuar a contribuir para melhorar o reconhecimento dos cuidadores e promover a qualidade de vida dos cuidadores informais a nível nacional e europeu. A nível nacional, investiremos no apoio aos cuidadores informais, na consultoria de projetos locais, regionais, nacionais e internacionais. Procuramos reforçar a nossa rede de eurodeputados e desenvolver sinergias com as Ordens Profissionais para a promoção do reconhecimento dos cuidadores junto dos seus membros; com as universidades, desejamos estabelecer parcerias para desenvolver nos futuros profissionais competências para melhor apoiar os cuidadores. Atualmente, participamos em grupos de trabalho e discussão de propostas de iniciativas legislativas para a questão do estatuto do cuidador informal, bem como no projeto EDY-Care, para um melhor apoio aos jovens cuidadores.

Mais iniciativas serão conhecidas brevemente, no sentido de promover a qualidade de vida dos cuidadores informais.

Conhecer uma cuidad a

A Cuidadores Portugal formalizou o estatuto de associação e a marca registada Cuidadores Portugal desde que lançou a primeira plataforma plurilinguística da Europa para cuidadores informais, em 27 países, sendo igualmente a primeira plataforma digital para cuidadores a nível nacional.

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Carla Catarina Neves

E de nós quem cuida www.facebook.com/edenosquemcuida Como entraste em contacto com a realidade dos cuidadores informais? Costumo dizer que uns herdam dinheiro, outros herdam casas e eu herdei a veia de cuidadora da minha mãe e da minha avó. A minha casa foi sempre “porto de abrigo” de familiares e amigos (de forma temporária ou, em alguns casos, de uma forma mais prolongada).

Há uns anos, acolhemos uma tia (já idosa) e a filha (de 48 anos) portadora de deficiência. Após a morte da minha prima, a minha tia teve um AVC e acamou. Esteve 3 anos e meio acamada, até morrer. Pouco tempo depois (há cerca de 8 anos), diagnosticaram Alzheimer à minha avó. A progressão da doença foi galopante e, após um ano, acamou. Os meus pais, apesar de independentes, têm doenças crónicas e a minha decisão foi deixar de trabalhar fora para os ajudar em casa (caso contrário, em vez de um dependente, brevemente teria 3). No ano passado, acolhemos uma tia que ficou viúva e que não poderia continuar sozinha. Apesar de ainda ter alguma autonomia, requer cuidados que só podem ser realizados em proximidade. Sou


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Camila Ro igues Cuidadora a tempo inteiro há mais de 10 anos (desde os 33 anos). Como é o dia-a-dia de um cuidador informal? O Cuidador deixa de ter vida própria. Não pode pensar em ir beber café com os amigos, ir à praia, ao cinema, etc. Muitas vezes, nem sequer pode pensar em ver um programa de TV sem ser interrompido. Cada Cuidador decide como articula os seus horários. Por aqui – e falando dos dias em que tudo corre bem, acordamos às 9h/9h30. Tratamos de nós e, por volta das 10h, começamos a tratar “das meninas” (banho, levante para cadeira de WC, medicação, pequeno-almoço). Tudo isto demora cerca de 1 hora (mãe com a tia e eu com a avó). Depois, até às 23h30, vou ao quarto da avó, de meia em meia hora (para mudar fralda, dar água, dar medicação, reposicionar, dar refeições, fazer levantes, etc.). Em dias bons, subo/desço 920 degraus. A tia não exige tantos cuidados, uma vez que ainda anda e se mantém sentada connosco, na sala. Durante o dia, a equipa de 3 (pai, mãe e eu) divide-se pelas tarefas de casa, pelas compras, etc. Às 23h/23h30, preparamos “as meninas” para dormir. Para quem possa considerar que a hora é tardia, é bom perceber que, cá em casa, não queremos ninguém “dopado” e prostrado. A medicação é controlada, segundo indicação médica. A minha avó, por exemplo, estava habituadíssima a deitar-se tarde e a levantar-se cedo. É normal que o ritmo dela se mantenha idêntico. Desde que esteja serena, não aumentamos as doses de medicação. De que apoios usufrui um cuidador informal? O Cuidador que possa pagar para ter ajudas, consegue tê-las (apoio domiciliário, empregada para lides domésticas, alguém que fique com o doente, quando precisam/querem sair). Os outros não têm. O subsídio atribuído por assistência a terceira pessoa é de cerca 108€ (subsídio que vai diretamente para a conta da pessoa dependente). A recém-criada Associação Nacional de Cuidadores Informais está a tentar criar gabinetes de apoio em todo o País. Para já, apenas o da Amora (Seixal) presta apoio gratuito e disponibiliza consultas (também gratuitas), com uma psicóloga clínica.

Mesmo sendo pago, um dos apoios que mais recomendo aos Cuidadores são os Cuidados Continuados para Descanso do Cuidador. Anualmente, os Cuidadores podem requerer junto do Assistente Social da Área de residência o internamento do seu dependente até um máximo de 90 dias (que eu sugiro sempre que sejam seguidos). O valor a pagar é calculado em função do rendimento do agregado familiar. Ninguém perde nada por, por exemplo, pedir uma simulação (nestes internamentos, não se paga medicação, nem fraldas). Em que consiste a página «E de nós quem cuida»? A página tem pouco mais de um ano e surge da insistência de amigos, enfermeiros e médicos, para que disponibilizasse conhecimento prático, com vocabulário acessível a todos. O discurso pretende ser informal e, sempre que possível, com boa disposição. Não consigo atualizar a página como gostaria, mas a ideia é partilhar conhecimento adquirido, sugestões, alertas, etc. Não pretendo ter mais uma página em que o vocabulário é formatado, em que se fala da Lei X e da Lei Y ou recheada de links externos. Algumas pessoas estranham o facto de eu não partilhar todas as notícias que surgem sobre Cuidadores Informais. A resposta é simples: há dezenas de páginas que o fazem. Não vale a pena estar a massacrar com informação que, ao ser excessiva, pode ter efeito contrário em quem lê. Há dias em que quem segue páginas de Cuidadores, passa 24 horas – ou mais – a ver os mesmos links, as mesmas notícias. Como podemos ajudar os cuidadores informais? É mais fácil do que parece. Levar uma panela de sopa, oferecer-se para passar roupa a ferro, fazer algumas limpezas, ir às compras ou à farmácia, são algumas das GRANDES AJUDAS que podem disponibilizar aos Cuidadores. Também se podem oferecer para ficar com o doente 2/3 horas, numa tarde, para que o Cuidador possa ir “respirar” um bocadinho. Caso esteja fisicamente longe, mostrar empatia e disponibilizar algum tempo para falar com um Cuidador também pode ser uma ajuda preciosa. A quem interessar, fica o htp:/a.rlmenotwbuis/dclink o texto da Petição .pf?ath=61485230f7c692d5304e76 ac318456da7345697138246c7a325649f35a46cd9574e8d305a46c793f84e6acd35749&fich=68ef-214acom 9d8cb f4.p&Inlie=tru que deu entrada no Parlamento.


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BL O G ENTREVISTA

par a

q u e e t ro e qu

O mundo dos Blogs exerce um fascínio considerável sobre o público adepto das redes sociais, que tanto segue bloggers inspiradores, como sonha em vir a ter o seu próprio blog. Se frequentemente se «sonha» com a possibilidade de se transformar um blog num negócio de sucesso, há algo que não devemos esquecer: um blog verdadeiramente interessante não é apenas um negócio e tem sempre algo de genuíno e original. Tem aquele toque pessoal de quem o criou, transmite parte da sua essência, reflete a sua sensibilidade. Não pode ser copiado, repetido ou imitado. Não há uma fórmula para o sucesso de um blog, o sucesso deriva de fatores muito pessoais, únicos e irrepetíveis. Há pessoas interessantes, com muito para partilhar, que conseguiram transformar os seus blogs em referências incontornáveis da blogosfera. Fomos conhecer duas bloggers que se enquadram neste perfil e que dispensam apresentações: Ana Garcia Martins (A Pipoca Mais Doce) e Sofia Castro Fernandes (Às nove no meu blog).

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Sofia Cas o Fernandes Às nove no meu Blog Como nasceu o «Às 9 no meu blogue»? Nasceu da sequência natural do meu hábito de escrita. Escrever sempre funcionou como uma forma de terapia. Primeiro, nos meus diários, depois nos cadernos, daí para a escrita online e, agora, de volta ao papel em dois livros. A escrita online acontece numa fase da minha vida profissional que me exigiu muitas viagens entre a Europa e o Brasil, acrescia que o núcleo duro da minha família também estava fora de Portugal. Esta tornou-se, então, numa forma simples de comunicar com eles, de poderem acompanhar o meu dia-a-dia e, ao mesmo tempo, de eu poder continuar a escrever, como sempre fiz e continuo a fazer. Quem era a Sofia antes do blogue e quem é ela agora? O blog nasceu em 2005. Tem 13 anos e muitas coisas mudaram desde essa data. Eu mudei muito do ponto de vista pessoal. Hoje, sou mãe e mulher apaixonada, sou mais tranquila e confiante e o “Às nove” acompanhou estas mudanças todas. Do ponto de vista profissional, arrisquei, empreendi, criei a minha própria empresa de formação com escritório em Lisboa.

O que nos revelas sobre ti no teu blogue? O “Às nove” sempre foi um reflexo de uma parte de mim. É muito importante para quem gere uma marca como o “Às nove” saber filtrar o tipo de informação mais ou menos pessoal que os leitores vão gostar de ler. Por isso, há muito de mim, sem dúvida: o que gosto, o que penso, o que sinto, o que agradeço. E um cuidado especial naquilo que é uma das imagens de marca do blog, de não falar do que não gosto, do que me irrita, do que me chateia, do que me aborrece. Tudo isto faz parte da minha pessoa, como de qualquer outra pessoa. Mas é um facto que não transparece no blog. De resto, o “Às nove” tem várias redes sociais interligadas e,


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ENTREVISTA

O sucesso é relativo. Para mim, sucesso é ter alguém que me dá um abraço e me diz baixinho que gostou de alguma coisa escrita por mim, que ajudei, que, naquele dia, fiz a diferença. Eu entendo o conceito de sucesso como uma coisa muito pessoal. Mas entendo a questão, quando tenho 13 anos de escrita diária e ininterrupta, um alcance de um milhão de visualizações semanais e mais de 360 mil seguidores. Pelo que, no meu caso, posso dizer que o único ingrediente absolutamente indispensável é o de fazer aquilo de que gosto e de ter prazer naquilo que faço.

após o lançamento dos livros, tem havido um pouco mais de curiosidade acerca da pessoa por detrás do blog. Nesse sentido, tem também havido uma maior exposição, com entrevistas na rádio, televisão e imprensa escrita, bem como mais fotos minhas e da minha família, em alguns (poucos) eventos em que participo. Quem são os teus seguidores? Como te relacionas com eles? A minha base de seguidores globalizou-se. Um estudo mais antigo apontava para um target maioritariamente feminino, sobretudo de Lisboa, com nível de formação superior e níveis funcionais mais elevados. Hoje, este público é muito mais abrangente, sobretudo pela influência do Facebook e do Instagram, que vieram trazer novos públicos. O primeiro generalizou o acesso e o segundo trouxe sobretudo mais jovens.

O processo de crescimento do blogue tem tido avanços e recuos, ou tem tido sempre uma trajetória ascendente? Se existem momentos mais desafiantes, como os ultrapassas? Felizmente, teve sempre um crescimento sustentado. A página do Facebook e o perfil do Instagram contribuíram significativamente para esse crescimento e, mais recentemente, o lançamento dos livros e as entrevistas na TV também trouxeram novos públicos.

Quais as tuas expectativas quando o criaste? Zero expectativas. O blog era um diário (quase) pessoal.

Tem sido um crescimento espontâneo e não planeado ou tens uma estratégia de negócio bem delineada?

Sentes-te realizada neste percurso profissional? Tenho vindo a dar muitos passos, de forma mais ou menos planeada, mais ou menos estratégica, no sentido de consolidar a marca “Às nove”, que hoje é muito mais do que um blog.

Cada vez mais, sinto que a vida deve ser vivida intensamente e no momento. Portanto, diria que tem sido uma estratégia delineada de forma espontânea (risos). Eu acredito na importância de saber gerir e planear o desenvolvimento das marcas, naturalmente, mas apenas se houver espaço para a sensibilidade do nosso dia-a-dia, para intervir e fazer as alterações necessárias em cada momento.

Como compatibilizas a vida familiar com a vida profissional? O Pedro, meu marido, trabalha comigo e logo 50% fica resolvido. Os outros 50% procuro gerir de forma equilibrada, reservando tempo de qualidade para todos e, claro, para mim. Mas falho, falho muito. Como todos falhamos. O truque é saber gerir o peso e a importância que damos a um dos piores sentimentos do mundo: a culpa.

És apoiada por uma equipa profissional ou és uma «one woman show»? No Blog, Facebook e Instagram, sou apenas eu. Na Academia, e em tudo o que é operacionalização do espaço, parcerias, expansão, estratégia, tenho o apoio (fundamental) do Pedro, meu marido e amor da vida inteira.

Quais os ingredientes para o teu sucesso que podes partilhar connosco?

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A qualidade dos conteúdos é suficiente para garantir o sucesso de um blogue ou o marketing digital desempenha um papel importante?

função do target que se pretende alcançar.

A qualidade do trabalho de cada um de nós, independentemente do que façamos, é sempre uma condição sine qua non. De resto, eu faço poucos trabalhos de comunicação. Foi uma estratégia que defini e com a qual estou satisfeita. É natural ter muitas solicitações porque as marcas procuram sobretudo ter visibilidades rápidas. Mas eu prefiro relações duradouras, prefiro trabalhar poucos projetos, que tenham princípios e valores que eu partilho de forma espontânea, porque acredito e confio.

Sim, tenho algumas amigas e amigos que nasceram desta aventura da escrita em blogs.

Como garantir a sustentabilidade financeira de um blogue sem comprometer a sua qualidade?

O blogue para além do blogue: Que outras iniciativas desenvolves e quais os teus projetos para o futuro?

É preciso saber reconhecer o valor de cada coisa. Dos projetos, dos produtos, de quem está por detrás deles, de quem os comunica e dos objetivos que se propõe alcançar. Mas, a qualidade não pode, em momento algum, ser comprometida.

Neste momento, estou focada na vertente Corporate da Academia, mas a Academia Às Nove é um espaço com vida própria, onde estão constantemente a acontecer coisas novas. No mês de Setembro, por exemplo, teremos formação com duas empresas e sessões de Coaching individuais. Teremos dois Workshops, um sobre pequenos-almoços saudáveis e outro sob o tema do livro Descomplica. Talks sobre voluntariado e alimentação saudável. Uma sessão de Showcooking de cozinha asiática, uma aula de Yoga e um Brunch a quatro mãos. No próximo ano, vamos expandir para o Porto e Aveiro. E num futuro próximo, o Brasil será (de novo) uma constante na minha vida.

Utilizas diversas redes sociais. Que avaliação fazes do seu potencial e que desafios te colocam? Complementam-se. As várias plataformas chegam a pessoas completamente diferentes, em momentos diferentes, inseridas em realidades distintas. Mas tem de existir coerência na utilização das diversas plataformas da marca. E é esse o desafio: não se repetir e dizer a mesma coisa de forma diferente, em

pub

Existe espírito de entreajuda entre bloguers em Portugal?

Que dicas dás a quem está a dar os primeiros passos como bloguer? Gostar muito do que vai fazer, ser resiliente e persistente e fazer o seu próprio caminho sem se comparar com o caminho dos outros.


imagem: After Click

Ana Garcia Martins

Como nasceu «A Pipoca mais Doce»? O blog nasceu em 2004, numa altura em que os blogs estavam a dar os primeiros passos em Portugal. Eu tinha acabado de sair da faculdade, estava a estagiar como jornalista e percebi, rapidamente, que o meu tipo de escrita e os temas que gostava de abordar não tinham espaço no jornal, por óbvias contingências editoriais. Resolvi experimentar criar um blog, parecia-me uma espécie de prolongamento dos diários que sempre tinha tido em miúda, mas com uma vertente mais egóica, porque estava aberto para toda a gente ler. Começou por ser uma brincadeira, um espaço para escrever sobre tudo o que me vinha à cabeça e, aos poucos, foi ganhando outra dimensão. Quem era a Ana antes do blogue e quem é ela agora? Quando comecei o blog tinha 23 anos, estava

A Pipoca mais Doce a entrar no mercado de trabalho, era solteira, vivia com os meus pais e não tinha nenhuma espécie de filtro do que escrevia. Era muito corrosiva, muito sarcástica, com um humor um bocadinho negro, e acho que isso se foi perdendo com o tempo. Não só porque fui ficando mais velha mas, sobretudo, porque a atitude de quem está nas redes sociais mudou. As pessoas procuram polémicas em tudo, indignam-se com qualquer coisa, por mais inócua que seja, e isso é muito cansativo para quem tenta ter um espaço mais criativo. Quinze anos depois de ter começado o blog, sou muitíssimo mais ponderada, dou por mim a medir cada palavra que escrevo e, muitas vezes, até opto por não escrever sobre determinados assuntos. Não é por não me apetecer, é só porque já sei que as reações são tão extremadas, agressivas e violenta que, muitas vezes, perco a vontade. Tenho pena, mas é o preço a pagar pela minha paz de espírito.


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ENTREVISTA

O que nos revelas sobre ti no teu blog?

comerciais só começaram a aparecer ao fim de uns cinco ou seis anos de blog. Eu escrevia apenas por prazer, sem nenhuma contrapartida. Hoje em dia é o meu trabalho, mas continua a ser uma coisa que me dá muito gozo.

Muita gente tende a achar que um blogger expõe tudo sobre a sua vida, mas não é verdade, pelo menos no meu caso. Na verdade, acho que me exponho cada vez menos, porque as pessoas são pródigas em tecer juízos de valor só com base naquilo que leem e que é só uma parte ínfima da minha vida. Ainda assim, não tenho qualquer problema em partilhar algumas histórias mais pessoais, porque acho que também foi isso que criou empatia com muitas das pessoas que me seguem. E há quem esteja ali desde o início, quem tenha acompanhado as minha aventuras desde que tinha vinte e poucos anos e que depois me viu crescer, casar, ter filhos, o processo normal. Há um certo sentimento de identificação, quem me segue sabe que sou uma pessoa absolutamente normal, com os mesmos problemas, alegrias, angústias ou dilemas de qualquer outra pessoa.

Sentes-te realizada neste percurso profissional? Sim. Há uns quatro ou cinco anos, deixei o jornalismo para me dedicar exclusivamente ao blog e, até agora, ainda não me arrependi. Senti que precisava de ver até onde é que este projeto podia ir e isso não era possível se continuasse a trabalhar noutro sítio, porque o blog implica muito investimento a nível de tempo. Como compatibilizas a vida familiar com a vida profissional? O melhor e o pior destas novas profissões ligadas às redes sociais é que não temos um horário de trabalho certinho, aquela coisa das nove às cinco. Isto permite-me gerir o meu tempo como me dá mais jeito mas, por outro lado, também não há férias nem fins-de-semana. Mesmo agora, que tive um bebé há pouco tempo, não posso simplesmente desligar-me do blog durante cinco meses para gozar a licença de maternidade. Tento fazer uma gestão ponderada, de forma a que nem o trabalho nem a família saiam a perder, mas nem sempre é possível.

Quem são os teus seguidores? Como te relacionas com eles? Os meus seguidores são essencialmente mulheres entre os 20 e os 50 anos, espalhadas um pouco por todo o país. Há quem me acompanhe desde sempre e há sempre quem vá chegando pela primeira vez. Infelizmente, não consigo dar resposta a toda a gente que me envia mails ou deixa comentários, mas gosto muito quando as pessoas me abordam para dizer que gostam do blog. Fico sempre feliz quando alguém me diz que estava a ter um dia horrível, passou no blog e largou a rir à gargalhada com qualquer coisa que leu por lá. Porque esse sempre foi o principal objetivo do blog e é bom saber que continua a cumpri-lo ao fim de tanto tempo.

Quais os ingredientes para o teu sucesso que podes partilhar connosco? Não sei, acho que não há propriamente uma receita. O blog tem muitos anos, foi crescendo de forma muito orgânica. No início, nem sequer havia Facebook ou Instagram, por isso, foi muito na base do passa-palavra. Acho que as pessoas sempre se foram identificando com os temas abordados e acham piada ao tipo de escrita. Penso que é isso que me diferencia verdadeiramente, há um registo muito específico.

Quais as tuas expectativas quando o criaste?

O processo de crescimento do blogue tem tido avanços e recuos, ou tem tido sempre uma trajetória ascendente? Se existem momentos mais desafiantes, como os ultrapassas?

Nenhumas. Só queria uma plataforma onde pudesse escrever sobre tudo, num registo mais humorístico. Há 15 anos, era impensável que alguém pudesse fazer de um blog profissão. Aliás, as minhas primeiras parcerias

Felizmente, a trajetória tem sido ascendente, mas claro que também vou tentando acompanhar as

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ENTREVISTA

constantes alterações que este meio vai sofrendo. Por exemplo, comecei a fazer vídeos porque percebi que era um registo que os seguidores e as marcas gostavam. Não percebia nada do assunto, por isso, fiz um curso de edição para saber, pelo menos, o básico. Neste momento, sinto que muita gente está a migrar dos blogs para o Instagram, as pessoas querem conteúdos que sejam mais rápidos de consumir, privilegiam a imagem ao texto. E, talvez por isso, tenho passado lá mais tempo. Tem sido um crescimento espontâneo e não planeado ou tens uma estratégia de negócio bem delineada? Vou tendo alguns planos para o blog, mas nada muito rígido. Basicamente, as oportunidades vão surgindo e eu vou fazendo uma triagem do que me parece mais válido. Não há uma estratégia concertada. És apoiada por uma equipa profissional ou és uma «one woman show»? Os textos são todos escritos por mim, mas depois tenho uma pessoa que me ajuda no desenvolvimento das parcerias comerciais, e uma fotógrafa e um videógrafo com quem trabalho sempre que necessário. Adorava ter uma equipa editorial, mas tenho medo que isso se pudesse refletir no registo dos textos. A qualidade dos conteúdos é suficiente para garantir o sucesso de um blogue ou o marketing digital desempenha um papel importante? A qualidade dos conteúdos é o mais importante, é isso que capta os leitores e os mantém fiéis. Como garantir a sustentabilidade financeira de um blog sem comprometer a sua qualidade? No meu caso, todos os dias faço uma seleção apurada daquilo que acho que tem ou não espaço no blog. Rejeito diversas parcerias por não me identificar com as mesmas ou por achar que não aportam nada de relevante para os meus seguidores. Além disso, também não

quero que o blog se transforme num catálogo interminável de produtos, por isso, vou tentando fazer uma gestão ponderada dos conteúdos comerciais. Utilizas diversas redes sociais. Que avaliação fazes do seu potencial e que desafios te colocam? Estou apenas no Facebook e no Instagram. No Facebook, limito-me praticamente a reproduzir conteúdos das minhas outras plataformas. Com as limitações que o Facebook impõe através do algoritmo, se não forem conteúdos patrocinados chegam apenas a meia dúzia de pessoas, e isso irrita-me um bocadinho. É por isso que me tenho dedicado mais ao Instagram. Apesar de também ter algumas limitações, os conteúdos chegam a mais gente e é possível fazer coisas mais criativas. Existe espírito de entreajuda entre bloguers em Portugal? Acho que é um meio um bocadinho competitivo, porque o mercado é pequeno e, consequentemente, não pode haver sempre trabalho para toda a gente. Isso fomenta algumas invejinhas e conversas paralelas. Tento abstrair-me disso, é contraproducente. Acho que cada um tem de se preocupar em produzir os melhores conteúdos possíveis, o resto virá por acréscimo. Que dicas dás a quem está a dar os primeiros passos como bloguer? Que procurem ter uma voz que os distinga. Hoje em dia, muitos blogs são meros clones uns dos outros, tenta-se reproduzir fórmulas de sucesso em vez de se criar algo novo e que marque a diferença. O blog para além do blog: Que outras iniciativas desenvolves e quais os teus projetos para o futuro? Neste momento, estou focada no blog e no seu crescimento. Há sempre alguns projetos paralelos a surgir, mas quero fazer mudanças de fundo no blog. E em 2019, gostava de voltar aos livros.


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Camila Ro igues

ENTREVISTA

Bossa Market

empreendedorismo Brasileiro em Portugal

Fabiana Barcellos

imagens: Giovani Riccardi

Enquanto a imigração brasileira qualificada ganha cada vez mais relevância em Portugal, surgem iniciativas que visam divulgar o empreendedorismo brasileiro no nosso país. Fabiana Barcellos, organizadora do Bossa Market, partilhou connosco a sua experiência.

Quem é a Fabiana Barcellos, organizadora do Bossa Market? Sou brasileira e também cidadã portuguesa, estou em Portugal há quase 10 anos e tenho uma empresa de Relocation e Eventos, a We Host You (WHY!) junto com a minha sócia Tatiana Sabatie. A Tatiana é responsável pela área do Relocation (cuida de toda parte do ‘In Coming’ para receber os estrangeiros que vêm morar em Portugal). Eu sou a responsável pelos eventos sociais, de integração e eventos corporativos. Fazemos eventos de socialização para os estrangeiros se integrarem em Portugal. São eventos como cocktails, jantares, sunsets, festa de Réveillon 2017/18 e, esse ano, vimos uma grande oportunidade de reunir mais vertentes para essa integração. Foi assim que reunimos tudo em um só evento e criámos um evento intercultural, o Bossa Market.

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ENTREVISTA

O que é o Bossa Market? O Bossa Market é um evento cultural que reúne moda, gastronomia, música e cultura em harmonia com o lifestyle brasileiro para conectar as duas culturas, Brasil e Portugal, em um só espaço. Porquê organizar um evento como este? Pela nova vaga de fluxo migratório do Brasil que temos notado ao longo de 2 anos, a WE HOST YOU sentiu a necessidade de criar um evento que reunisse não só a cultura mas sobretudo marcas e empresas que pretendem encontrar lugar em Portugal. O objetivo do Bossa é apoiar e desenvolver o empreendedorismo e partilhar mais a cultura brasileira em Portugal. Essa ligação intercultural fortalece muito a integração entre Brasil e Portugal. Quais os principais desafios que enfrentou na organização deste evento?

menos consumista do que o Brasil, os desafios de desenvolver alguns tipos de negócios aqui são grandes. Em contrapartida, os serviços brasileiros são muito bem vistos. Então, podemos dizer que Portugal tem grandes oportunidades para certos tipos de negócio e pode ser visto como uma vitrine para o mercado europeu. Quais as principais conquistas da sua primeira edição? Tivemos um público maravilhoso, recebemos muito feedback positivo por termos feito um evento diferente… com um ‘gostinho’ brasileiro. A adesão foi fantástica, superou nossas expectativas. Todos aproveitaram cada detalhe como se tivessem matando saudades do Brasil de alguma forma. Mas o melhor é ainda receber emails semanalmente com pedidos de uma próxima edição. Esse é o melhor retorno que podemos ter! Para quando uma próxima edição? Quem pode participar e o que deverá fazer para se inscrever?

Os desafios para organizar um grande evento são sempre muitos. Conseguir angariar empresas e expositores sem mostrar algum modelo de evento passado, sem saber como seria o primeiro evento foi um dos maiores desafios. Mas com tantas pessoas positivas, que ajudaram e acreditaram de alguma forma no projeto, como os músicos, expositores, parceiros e Câmara de Cascais… foi possível e conseguimos mostrar que toda essa energia positiva e apoio fez toda a diferença.

Em breve, divulgaremos mais detalhes da segunda edição do Bossa Market no site www.bossamarket.com

Que desafios e oportunidades encontram os empreendedores brasileiros que desejam lançar os seus negócios em Portugal?

O Bossa Market já não é apenas um evento, é um projeto que estamos trabalhando com muita dedicação, planejamento e muito carinho para que seja um evento itinerante por toda Europa.

Por Portugal ser um país bem menor e muito pub

As inscrições e os pedidos de informação também são feitas por lá. As marcas interessadas podem já se cadastrar para receber mais informações. O que podemos esperar do Bossa Market no futuro?


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mas não tanto

TOLERANTE

Fátima Mariano

CRÓNICA

Quando trabalhamos por nossa conta e risco, sem recurso a créditos bancários, subsídios ou a qualquer outro apoio financeiro, a urgência em arranjar clientes que permitam a entrada de receitas na empresa torna-se maior. A pressão das despesas fixas e a necessidade de que o negócio seja financeiramente saudável para que não tenhamos de injetar mais capital próprio obriga-nos, muitas vezes, a ter um grau de tolerância maior do que noutras circunstâncias. Mas quanto maior? Há pouco tempo, uma potencial cliente marcou uma reunião comigo no seu escritório. À hora combinada, eu estava lá. Ela não. A secretária explicou-me que a minha potencial cliente tinha ido de manhã a um determinado local tratar de um assunto e que deveria ter-se atrasado. Uma hora depois, ela ainda não tinha aparecido. A secretária veio dizer-me que não ela atendia sequer o telefone. Uma hora de espera, para mim, já era o cúmulo da tolerância, mas pensei para comigo: ter-lhe-á acontecido alguma coisa? A potencial cliente chegou duas horas e meia depois da hora marcada… por ela. Chegou como se nada fosse e contou-nos, a mim e à secretária, com a maior das descontrações, que tinha encontrado um amigo que não via há muito tempo e tinham ido tomar café para pôr a conversa em dia. E que o telemóvel tinha ficado esquecido no carro. Assumo: na altura fiquei sem reação. Esbocei o meu melhor sorriso amarelo e começámos, finalmente, a reunião. Saí daquele encontro furiosa comigo. Por ter tolerado tamanha falta de respeito e de profissionalismo. Por ter reunido com aquela pessoa depois da explicação dada para o atraso de duas horas e meia. É verdade que preciso de clientes que permitam a entrada de receita na empresa. Mas a que custo? Fátima Mariano, Diretora de Os Bichos – O seu jornal sobre vida animal www.osbichos.news www.osbichos.news

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MODA

Tendências DE MODA

2018/2019 Eu sei... Eu sei... As estações estão cada vez mais baralhadas, mas precisamos de falar sobre tendências para Outono/Inverno 2018/2019 e ainda tendências Primavera/Verão 2018/2019, pois não nos podemos esquecer das MAO do outro lado do globo.

Vamos começar por falar de cores. Nesta época de tempo frio que se avizinha a cor mais poderosa é o Ultra Violeta, com todo o seu brilho eletrizante, místico e futurista. Numa perfeita conjugação com este tom, estão o dourado, os tons de verde azeitona e verde azulado, assim como os clássicos preto e branco. As diversas tonalidades de azul durante o crepúsculo são, também, tendência de cores neste Inverno. Os tons terra, desde o amarelo ao castanho torrado passando pelo laranja ferrugem, que evocam as folhas no chão da floresta e o brilho que reluz das árvores e da terra depois da chuva dão uma sensação acolhedora aos dias outonais. Numa imagem mais leve e romântica, ficam os tons de rosa pink e pastel, o soft violeta e o amarelo lima.

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Para conjugar todas estas cores maravilhosas, estão os padrões de xadrez, pied-de-poule, pied-de-coq e principe de gales. Continua o padrão floral romântico mas em imagens de flores maiores, assim como o padrão animal. Uma das maiores tendências desta estação são padrões inspirados em pinturas de obras de arte. Para o Brasil, os padrões que marcam esta Primavera/Verão são as riscas, os desenhos geométricos, as flores e, igualmente, as imagens de obras de arte.


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Rute Doellinger combinam com as altas temperaturas da primavera verão. O clássico e calmo all white. As peças brancas combinam com a leveza da Primavera e com o calor intenso do Verão. Para o frio, vão voltar os agasalhos estruturados e volumosos, como os blusões “Duffy” que se usaram no inicio dos anos 90, o clássico e feminino trench coat e as capas. Vai continuar em voga o estilo Sporty Chic, com peças de look desportivo mas versáteis de forma que, conjugando com outros acessórios, sejam transformadas em peças mais formais. As cinturas vão voltar a subir e as calças são usadas mais confortáveis e largas. A verdadeira peça “must have” desta estação são as saias corte lápis, sino, godet, com pregas em tamanho midi para o dia e longo para celebrar a noite.

A cor principal deste Verão é o tom vibrante, alegre e chamativo Rosa Pink. Para as amantes de tons de rosa, esta Primavera/Verão será divinal! Outra cor que promete ser um grande destaque na época mais quente do ano é o azul jeans, um tom versátil e fácil de combinar em diferentes estilos. Também os tons terra vão fazer furor do entre as MAO brasileiras, bege, marrom, cobre e vermelho telha

Para o calor do Verão, nada melhor que os vestidos fluidos, esvoaçantes e assimétricos. As calças pantalonas sobem a cintura e a bainha, para ficar com o tornozelo à mostra. Os formais blazers são transformados em casacos para o dia a dia conjugando cores e padrões. A versatilidade do sporty chic continua a criar estilos novos e originais. Mas o look mais forte desta estação é o estilo romântico com folhos, rendas, transparências e assimetrias, tudo vale para criar, sentir e viver o romantismo. Seja com frio ou com calor, uma mulher confiante da sua imagem é sempre uma mulher bonita.


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Coleção

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by

Pampa Mia

Em 2002, Maria Arrachado Vidal veio de férias a Portugal e por cá ficou. Numa viagem que fez em 2006 ao seu país de origem, a Argentina, surgiu-lhe a ideia de lançar a marca de bijutaria Pampa Mia que, para além de ser um projeto rentável e de grande sucesso, lhe permite dar vida ao seu lado criativo e a tem obrigado a desenvolver competências ao nível da gestão de negócio. Maria partilhou connosco o seu espírito aventureiro, o qual é equilibrado com a dose certa de prudência, para que os riscos assumidos sejam calculados num processo de crescimento gradual e sustentável: Nunca é a altura certa para absolutamente nada, por isso temos de arriscar. Equilibrar e avançar, não sendo tão conservadores. Desde onde estamos, com o que temos, para onde queremos ir. É importante (pela minha


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experiência) construir aos poucos, sem empréstimos ou compromissos que não sabemos no início se iremos conseguir levar adiante. Maria considera que é fundamental acreditar no projeto que estamos a desenvolver, sem deixar de arriscar, investigar, pesquisar, estudar a concorrência, ver o que se está a fazer lá fora, ir a feiras do setor, ler muito, aprender com os que mais sabem. Entende que o crescimento pode ser faseado e gradual, com um investimento calculado efetuado à medida do crescimento do negócio e do seu retorno. Num momento inicial, a empreendedora que tem pouca capacidade de investimento deve estar consciente da enorme exigência inerente à gestão de um negócio próprio, pois terá que ser a própria a gerir diretamente todas as suas áreas, o que não lhe permitirá «desligar». Recentemente lançou um desafio aliciante às Mulheres à Obra: criar uma linha de bijutaria inspirada nesta marca, que celebre o espírito do empreendedorismo feminino. A Coleção Mulheres à Obra by Pampa Mia, que está disponível na página de Facebook da Pampa Mia, apresenta as suas célebres e intemporais peças adornadas com frases motivadoras para todas as mulheres batalhadoras. Afinal, sozinhas vamos mais rápido, mas juntas vamos mais longe!

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CULINÁRIA

Alimentação SAUDÁVEL

A balança dos alimentos que consumimos hoje em dia está altamente desequilibrada para o lado dos alimentos inflamatórios, o que, para além dos maus hábitos de dormir pouco, de fumar, de ingerir muitas bebidas alcoólicas e da falta de exercício físico, potenciam o processo inflamatório causador de várias doenças, desde doenças cardíacas, demência, obesidade e doenças autoimunes, até ao cancro.

inflamatório. Assim, devemos ingerir com parcimónia alimentos ricos em Ómega-6, tais como Óleo e sementes de girassol, óleo de milho, óleo de soja, óleo de sésamo e carnes e ovos (de animais alimentados a ração). Outro aspeto importante a ter em consideração numa alimentação saudável é o consumo de água (somos 70% água). A água alcalina pode contribuir para reduzir a acidez e melhorar o equilíbrio ácido-alcalino. Assim, sugiro que se consuma, sempre que possível, água alcalina com pH superior a 7. Contudo, se se consumir água mineral engarrafada, deveremos estar atentos à rotulagem sobretudo ao teor de sódio, para além do pH.

Então, quais são os alimentos inflamatórios, ou seja, quais aqueles que devemos evitar? Na minha opinião, as gorduras saturadas (de origem animal) e hidrogenadas (presentes em produtos de padaria e pastelaria, em alimentos congelados pré-cozinhados, em temperos prontos, nas margarinas e nas batatas fritas) são de evitar na alimentação diária.

Em resumo, a nossa alimentação diária deve privilegiar o consumo de frutas e vegetais, frutos secos, sementes, peixe capturado em alto mar e reduzir ao mínimo o consumo de carnes vermelhas, optando pelas carnes brancas e de preferência biológicas.

Da mesma forma, os hidratos de carbono simples como os açúcares (branco, amarelo ou mascavado) e as farinhas refinadas estão associados a um aumento dos marcadores de inflamação, pelo que são igualmente de evitar, podendo ser consumidos apenas em ocasiões especiais como festas e aniversários. Já no campo oposto, ou seja, dos alimentos anti-inflamatórios, devemos consumir produtos alimentares ricos em Ómega-3, tais como sementes e óleo de linhaça, sementes de cânhamo, sementes de chia, nozes e beldroegas. A alimentação atual privilegia o consumo de alimentos ricos em Ómega-6 (pro-inflamatório) em detrimento dos ricos em Ómega-3, o que potencia o processo

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Fernanda Martins

Abób a Hokkaido assada no f no recheada com quinoa Ingredientes: • ½ Abóbora Hokkaido • 4/5 colheres de quinoa cozida • 100 g de tofu com azeitonas • Azeite de 1.ª pressão a frio • Molho de soja sem glúten • 1 colher de sopa de sumo de limão • 1 colher de chá de açafrão das índias • ½ colher de café de Pimenta preta • Rúcula • Tomates baby • Funcho • Sementes de cânhamo Preparação: Lavar e cozer previamente a quinoa com uma pitada de sal. Reservar. Lavar a abóbora com uma escova própria para vegetais. Seguidamente, coloca-se a abóbora no tabuleiro de ir ao forno e tempera-se com azeite e molho de soja. No tacho onde está a quinoa, junta-se um pouco de azeite, o tofu cortado aos cubos, e um pouco de funcho cortado em pedaços pequenos. Tempera-se tudo com o sumo de limão o açafrão e a pimenta preta. De seguida, deita-se este preparado dentro da abóbora e polvilha-se com as sementes de cânhamo. Vai ao forno, previamente aquecido a uma temperatura que não exceda os 180 ºC e deixa-se cerca de 30 minutos até a abóbora ficar bem assada. Finalmente, coloca-se no prato e acompanha-se com uma salada de rúcula e tomates baby. Enfeita-se com um raminho de funcho.

Bolachas de Flocos de Aveia sem glúten Ingredientes: ½ pacote de flocos de aveia sem glúten 2 bananas maduras esmagadas + 1 colher de sopa de pasta de tâmara 1 colher de sobremesa de cacau cru canela a gosto raspas de limão, laranja ou de gengibre coco ralado ou frutos secos a gosto bebida vegetal q.b. 1 colher de copa de xarope de ácer / tâmaras (opcional) Preparação: Aquecer o forno a uma temperatura de 180 ºC. Agregar todos os ingredientes até formar uma bola homogénea. Retirar uma porção com 1 colher de sobremesa, fazer uma bolinha com a mãos húmidas e colocar num tabuleiro, previamente forrado com papel vegetal, e achatar até fazer o formato de bolacha. Deixar cozer durante 10 minutos. As bolachas devem sair ainda moles pois cá fora vão endurecendo. Guardar (se der tempo) numa daquelas latas antigas de bolachas. Estas quantidades dão para um tabuleiro de forno. Pode misturar vários tipos de flocos, aveia, quinoa, arroz, millet...


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Rosana Guedes

CULINÁRIA

Receitas brasileiras de fusão by Salsa Rosa Bistro

Filé de ango ao molho Roquef t Ingredientes: 1 k de filé de frango 200 g de queijo roquefort 200 g de queijo parmesão, 100 ml de vinho branco seco 100 g de manteiga, noz-moscada a gosto 200 ml de creme de leite, sal e pimenta-do-reino Preparação: Tempere os filés. Leve ao fogo e doure com a manteiga. Reserve. Coloque, na panela que dourou os filés, o vinho e deixe evaporar. Acrescente o restante do creme de leite e deixe reduzir até metade. Junte o queijo roquefort , acerte o sal. Acomode o filé no prato e acrescente o molho. Sirva quente acompanhado com batatas salteadas e espargos cozidos.

Panna Cotta Ingredientes: 125ml de Leite 125 ml de Natas espessas 50g de Açúcar 4 Folhas de gelatina Preparação: Leve o leite, as natas e o açúcar a ferver numa caçarola. Amoleça as folhas de gelatina em água fria, depois esprema-as. Junte a gelatina ao creme de natas, mexendo bem para evitar que se forme espuma. Deite o creme em taças individuais e refrigere durante três horas. Desenforme as panna cotta e sirva-as com molho de chocolate ou de caramelo, ou então com molho de fruta feito com frutos silvestres, quivis ou peras.

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Se pertence ao grupo Mulheres à Obra e tem trabalhos em ilustração, desenho, fotografia e artesanato, mande-nos as melhores imagens para maogazine@mulheresaobra.pt e poderá fazer parte da nossa selecção

www.isasilva.com

OLHARES

Novem o 2018


ILUSTRAÇÃO

www.isasilva.com

gazine

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Isa Silva


Se pertence ao grupo Mulheres à Obra e tem trabalhos em ilustração, desenho, fotografia e artesanato, mande-nos as melhores imagens para maogazine@mulheresaobra.pt e poderá fazer parte da nossa selecção gazine

78

OLHARES

Cátia Alpe inha Caetano - Isa Silva

www.isasilva.com

Novem o

2018

FOTOGRAFIA

www.catiaalpedrinha.com www.catiaalpedrinha.com


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ARTESANATO

Carla Raimundo - Isa Silva

OLHARES

www.facebook.com/fadasdecoracao www.facebook.com/fadasdecoracao/

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gazine

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Isa Silva

INSTAS

Vanessa Barragão é portuguesa, vive em Albufeira, e as suas criações em tapeçaria vão muito para além do conceito de um simples tapete. Inspira-se na natureza, especialmente nos oceanos e corais, e deslumbra-nos com trabalhos artesanais de uma beleza única. www.instagram.com/vanessabarragao_work Descubram @vanessabarragao_work

Esta família não é uma família como as outras. Kate, o marido e os três filhos, são cinco Canadianos que se divertem nas mais singulares poses encarnando personagens, criando cenários que resultam em fotos impossíveis de não se gostar. Descubram @kweilz www.instagram.com/kweilz

Novem o 2018


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VVouchers o h rs


gazine novem o 2018


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