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TRABALHO VERSUS FAMÍLIA uma equação (im)possível?
COMO GERIR A RELAÇÃO COM OS FILHOS quando se trabalha Março sem horários 2019
RESTAURAR A FERTILIDADE naturalmente
PRIMEIRO CONCURSO
de empreendedorismo Mulheres à Obra
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No Dia da Mulher, é importante que se reflita sobre esta realidade que compromete seriamente a igualdade de género e que empurra muitas mulheres para uma situação de enorme sobrecarga e discriminação laboral
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A Equipa da Mulheres à Obra Magazine
O grupo Mulheres à Obra nasceu de uma inquietação partilhada por diversas mulheres: a dificuldade de conciliar a vida familiar com as exigências profissionais. A dupla jornada é uma realidade para muitas mulheres que conquistaram o seu direito de participação no mercado de trabalho, mas mantêm as suas obrigações enquanto cuidadoras do lar. Este trabalho de cuidado é indispensável para o bem-estar dos indivíduos e o bom funcionamento das famílias e comunidades. Tem uma dimensão intergeracional, uma vez que a assistência infantil e a educação informal dada às crianças em casa são essenciais para a formação do capital humano e a sustentabilidade das comunidades e sociedades. No entanto, o cuidado familiar informal constitui um grande obstáculo à emancipação feminina e à igualdade de género, pois é realizado principalmente por mulheres, geralmente mães. Globalmente, dedicam em média duas vezes e meia mais tempo a esse trabalho do que os homens, e até dez vezes mais em países como a Índia ou Marrocos. Em Portugal, o tempo despendido em trabalho remunerado por homens não é muito superior ao tempo despendido pelas mulheres. Em média, o tempo total de trabalho remunerado dos homens é de 9 horas e 2 minutos por dia, enquanto o das mulheres é de 8 horas e 35 minutos por dia. A diferença de género, é de 27 minutos em relação ao trabalho remunerado. No entanto, o tempo médio gasto
em tarefas domésticas e trabalho de assistência expõe uma forte disparidade de género. As mulheres gastam, diariamente, 55 minutos mais do que os homens em cuidados. As mulheres gastam igualmente mais 1 hora e 12 minutos todos os dias em tarefas domésticas (como limpar, arrumar) ou arranjos em casa. As mulheres gastam um tempo médio total de 4 horas e 23 minutos diariamente no trabalho não remunerado, enquanto os homens despendem 2 horas e 38 minutos. Ou seja, 1 hora e 45 minutos a menos. No Dia da Mulher, é importante que se reflita sobre esta realidade que compromete seriamente a igualdade de género e que empurra muitas mulheres para uma situação de enorme sobrecarga e discriminação laboral. Esta necessidade é ainda mais premente agora, quando na União Europeia se discute uma nova diretiva relativa ao equilíbrio trabalho/vida privada. Neste número da revista Mulheres à Obra, iremos dar particular relevância a este tema, com duas entrevistas aprofundadas com organizações internacionais de referência na luta pela igualdade de género, a ONG Make Mothers Matter, à qual as Mulheres à Obra acabaram de aderir, e a COFACE Famílias Europa, uma rede de 58 organizações presente em 23 países que promove o bem-estar, a saúde e a segurança das famílias numa sociedade em mudança.
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responsabilidade social entrevista corpo entrevista negócios
A Mulheres à Obra Magazine apresenta artigos de autoras portuguesas e brasileiras e mantém sempre a grafia original.
Primeiro Concurso de Empreendedorismo Feminino Mulheres à Obra Camila Rodrigues EcoFemme - Das margens para o centro do negócio Camila Rodrigues Vanessa Afonso, uma mulher que nos inspira Fátima Teixeira Restaurar a fertilidade naturalmente Antonella Vignati Produtos Naturais - Uma área de negócio em expansão Camila Rodrigues Empreender com propósito - 0s 5 passos para transformar uma paixão num negócio Ana Rosa
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comportamento
8 dicas para reduzir o medo de falar em público Teresa Rosalino
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Como implementar SEO no seu website Raquel Comprido Coloque o Excel a trabalhar para si Célia Alves Vídeo Marketing - A tendência do marketing digital em que vai querer apostar Daniela Alfarrobinha
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entrevista
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negócios negócios
entrevista capa entrevista sociedade negócios família
empreendedorismo consultoria
crónica crónica vidas mulheres
De empreendedora para empreendedora - A importância dos seguros Olga Costa Urban Sketchers: mais do que desenhar Isa Silva Music a Lady - As mulheres na música Fátima Teixeira Making Of Camila Rodrigues Envelhecer ativamente – uma opção e uma necessidade Camila Rodrigues Josefinas contra a violência doméstica Camila Rodrigues Família e Trabalho – uma equação (im)possível? Camila Rodrigues Como gerir a relação com os filhos quando se trabalha sem horários Fátima Gouveia e Silva Trabalhar em casa pelo Feng Shui Sofia Batalha Ready2Start - Um projeto no feminino Sara Aguiar Consultoria de Imagem – uma profissão do presente e para o futuro Rita Completo, Ana Madureira, Sónia Cristina Paiva Bra Fitting - Saúde e imagem pessoal Ana Rita Batista Avó Maria - Empreender para quebrar o ciclo da pobreza Karina Carvalho Do Brasil para Portugal Renata Netto E se a minha história de vida desse um livro? Manuela Pereira Dona Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha do Douro Isa Silva
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Ilustração Sandra Abafa e Ana Rita Robalo
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fotografia Inês Carola e Cristina Menezes Alves
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artesanato Anabela Guilherme, Serafiniando, Juliana Tavares e Margarida Silva
instas Directora e Editora: Camila Rodrigues | Directora Adjunta: Carla Lopes | Nº de inscrição na ERC: 127236 | Propriedade: Mulheres à Obra® | Sede: Santo António dos Cavaleiros, Loures, Portugal | Sede da Redacção e da Editora: Santo António dos Cavaleiros, Loures, Portugal | Colaboraram nesta edição Ana Madureira, Ana Rita Batista, Ana Rosa, Antonella Vignati, Célia Alves, Daniela Alfarrobinha, Fátima Gouveia e Silva, Fátima Teixeira, Isa Silva, Karina Carvalho, Manuela Pereira, Olga Costa, Raquel Comprido, Renata Netto, Rita Completo, Sofia Batalha, Sónia Cristina Paiva, Teresa Rosalino, Alexandra Simões de Carvalho (styling), Marta Matias (make up), Cátia Alpedrinha (fotografia) | Design e paginação Isa Silva | Bancos de Imagens Burst, Unsplash 2019 © 2019 Mulheres à Obra Magazine | Todos os direitos reservados. As imagens e textos têm direitos reservados e são propriedade dos seus respectivos donos. Todos os direitos reservados.
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EMPREENDEDORISMO
Primeiro Concurso de Empreendedorismo
Feminino
Realizámos o nosso primeiro concurso de empreendedorismo feminino Mulheres à Obra. A participação superou todas as nossas expectativas, tanto em quantidade como em qualidade. Recebemos 353 candidatas com negócios nas mais diversas áreas e nos mais diversos estádios de desenvolvimento. Surpreendeu-nos pela positiva a criatividade, a originalidade e a paixão que muitos destes projetos transmitem. O projeto vencedor foi o Kula, um jogo terapêutico inovador que se encontra em fase de lançamento. Foi idealizado por uma equipa de duas empreendedoras, Sandra Fontan (Designer Gráfica, Professora de Yoga e Yogaterapeuta) e Marta de Freitas (Psicóloga Clínica). O Kula junta o melhor de dois mundos de uma forma muito feliz e criativa. Cruza os fundamentos científicos da psicologia, que estão subjacentes à sua conceção e metodologia de implementação/
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/avaliação, com práticas e conhecimentos muito diversos e que se têm vindo gradualmente a afirmar enquanto vias para uma vida mais consciente, saudável e responsável. Desta forma, está bem preparado para abordar aquilo que de mais fundamental existe na nossa sociedade, o ser humano. Mais concretamente, trabalha valores, relacionamentos, aprendizagens, tudo isto com vista ao desenvolvimento de uma sociedade mais consciente, responsável e plena. As crianças que hoje se confrontam com o stress e a pressão de uma sociedade extremamente competitiva, que constantemente as solicita e lhes oferece todo o tipo de estímulos, podem aqui encontrar a serenidade, a reflexão e a paz necessárias para crescerem de forma saudável e equilibrada.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL
Das margens
EcoFemme
para o centro do
Negócio
A responsabilidade social é algo que, hoje em dia, muitas empresas já integraram na sua rotina. Pode ser expressa em iniciativas pontuais de natureza caritativa ou em práticas continuadas que passam a fazer parte do ADN da empresa.
Pode responder à necessidade de passar uma boa imagem para a opinião pública, ou traduzir uma convicção profunda. No geral, é uma descoberta recente e ainda pouco interiorizada por quem cria e gere a sua empresa. É algo que normalmente surge à posteriori, quando as empresas atingem determinada dimensão e visibilidade, algo que se deve fazer porque passou a fazer parte das boas práticas empresariais e se insere no âmbito do politicamente correto.
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No entanto, não tem que ser assim. A responsabilidade social não necessita de estar à margem, pode ser o núcleo do próprio negócio. Se se generalizar, pode mesmo vir a traduzir uma nova forma de estar no mercado e, consequentemente, dar origem a um novo mercado, mais consciente das suas responsabilidades sociais e ambientais. Para que este processo ocorra, é preciso divulgar os bons exemplos, pelo que fomos conhecer um projeto pioneiro que muito tem para nos ensinar sobre este tema.
Camila Rodrigues Eco Femme A Eco Femme é uma empresa social criada e gerida por mulheres que visa constituir um projeto escalável passível de demonstrar como os negócios e a responsabilidade social podem ser compatíveis. Fundada na visionária comunidade de Auroville, na Índia, em 2010, tem por objetivo produzir mudanças ambientais e sociais através da revitalização de práticas menstruais saudáveis, ambientalmente sustentáveis, culturalmente responsáveis e verdadeiramente capacitadoras para as mulheres de todo o mundo. O projeto apresenta uma abordagem verdadeiramente holística à menstruação através da integração de práticas comerciais éticas, processos de produção que envolvam as mulheres de zonas rurais como produtoras de tecidos, e uma educação culturalmente sensível relativamente à experiência menstrual. Produz pensos higiénicos laváveis em tecido com uma duração aproximada de 75 lavagens. Os pensos higiénicos de tecido estão rapidamente a ganhar aceitação em todo o mundo pelos seus benefícios para a saúde e para o meio ambiente, bem como pela redução de custos. Uma mulher que passa a usar pensos higiénicos reutilizáveis pode evitar que uma média de 600 pensos sejam descartados, durante um período de 5 anos, sendo que um único penso higiénico descartável demora cerca de 500 a 800 anos a decompor-se. Num país como a Índia, com mecanismos de eliminação de resíduos pouco desenvolvidos e uma população muito vasta, o uso de pensos reutilizáveis
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Auroville pode ter um impacto dramático na redução de resíduos. Os pensos Eco Femme são feitos de flanela de algodão orgânico que não é apenas reutilizável, já que, com os cuidados adequados, pode reduzir o risco de infecções e a irritação. A produção dos pensos ocorre em cinco unidades produtivas que asseguram igualmente outros trabalhos de costura, não sendo as mulheres empregadas da Eco Femme. Todas as unidades garantem salários justos e ambientes de trabalho seguros para estas mulheres, que constituem uma chave para o empoderamento das comunidades carenciadas. No âmbito do programa Pad for Pad, por cada penso higiénico vendido no estrangeiro, é doado um penso a uma menina residente numa área rural da Índia. Quatro doações são agrupadas para formar um kit que consiste em 4 pensos, uma bolsa de viagem, um folheto educativo e instruções sobre os cuidados a ter. Os pensos são oferecidos enquanto uma escolha livre a meninas com idades entre os 10 e os 19 anos, oriundas de contextos economicamente desfavorecidos. As sessões do Pad for Pad são projetadas para as
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A «Cidade do Amanhecer», no sul da Índia, foi fundada em 1968 pela guru espiritual Mirra Alfasa como homenagem a Sri Aurobindo, iogue, poeta e filósofo nacionalista. Em Auroville, pessoas de todas as nacionalidades poderiam viver em paz e harmonia, com o propósito de concretizar a unidade humana. Atualmente, a comunidade reúne perto de 3000 habitantes de mais de 50 nacionalidades diferentes.
capacitar para gerir os seus períodos de forma higiénica e digna, entendendo a menstruação como uma experiência normal e saudável. Atualmente, a Eco Femme abrange uma média de 280 meninas por mês e realiza parcerias com organizações em toda a Índia para alargar o alcance do programa. Realiza igualmente workshops educacionais e formação para educadores de saúde menstrual.
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Fátima Teixeira
ENTREVISTA
VANESSA AFONSO
uma mulher que nos
inspira
Entrevista com Vanessa Afonso, mãe da Princesa Leonor, empreendedora e fundadora da APLAS (Associação Princesa Leonor - Aceita e Sorri)
Quem é a Vanessa? A Vanessa é mãe e uma boa amiga de quem precisa. Nem sempre fui assim. Sempre fui uma boa amiga e mãe, mas tentava ser muito mais do que aquilo para que Deus me
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formatou. Às vezes, temos esta tendência de, enquanto não nos encontramos connosco e com a nossa essência, tentamos vestir uma quantidade papéis que, à primeira vista, até nos podem servir e parecer confortáveis, mas depois, quando observamos os vazios
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ENTREVISTA
que vamos sentindo aqui e ali, percebemos os sinais de talvez não estarmos a viver de acordo com a nossa verdadeira essência e com aquilo que nós somos e que fomos talhados para vir a ser. Da forma menos positiva, eu encontrei-me comigo mesma através da dor que senti durante o processo de doença da minha filha. Eu consegui conectar-me e reencontrar-me com a minha essência. Consegui perceber que, no fundo, o meu verdadeiro propósito de vida, neste momento e neste plano, é o serviço ao próximo: o dar de mim. Foi a única coisa que eu sempre fiz verdadeiramente de forma natural, espontânea, intuitiva e que me sai naturalmente sem eu ter de me esforçar muito.
competências para agora estar a fazer o que faço e as poder aplicar”. Eu sempre trabalhei na área comercial em todas as empresas por onde passei e sempre tive uma top performance, sempre queria ser a melhor. Isto trouxe-me uma capacidade de empreendedorismo, de liderança e até de resiliência, que é a principal característica de um bom comercial (o cair e levantar). Todas essas competências eu adquiri lá atrás no passado e, hoje em dia, são aquelas que eu mais utilizo para continuar a fazer o trabalho que faço como, por exemplo, não desistir, manter-me focada num objetivo, etc. No fundo, a única coisa que mudou foram os objetivos e o propósito.
Podemos dizer que a sua intuição intensificou-se com todo este processo?
E a associação...
Eu acho que foi a reconexão de mim mesma com a minha essência. A vida traz-nos desafios aos quais nós temos de fazer face no dia-a-dia e acabamos por nos esquecer verdadeiramente de quem somos para estarmos à altura dos desafios. Com tudo o que aconteceu à minha filha, fui obrigada a parar e a reavaliar as minhas prioridades, a minha forma de estar no mundo e de estar perante os outros, a minha forma de reagir às coisas. Comecei a aperceber-me de que, quanto mais eu me reaproximava da minha verdadeira essência, mais em paz e confortável eu ia ficando, e com menos sentimentos negativos. Era como se as peças que antes eu tinha de me esforçar por encaixar, agora caíssem todas para os seus devidos lugares. Quando comecei a aperceber-me disso até pensei “parece que Deus todo o tempo tinha um propósito e todo aquele meu percurso de vida era para eu adquirir ferramentas e
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Mais do que meu bebé, a associação foi a minha tábua da salvação. A APLAS salvou a minha vida e, por essa razão, estarei eternamente grata a todas as pessoas que seguem, acompanham, apoiam ou fazem parte deste projeto. Sem isto, eu não sei se estaria aqui, muito menos com esta força que eu sinto que vem das vossas boas energias. Desde o primeiro dia, eu sempre disse que esta associação tem vida própria. Eu é que não tenho pernas para correr atrás dela. A associação já podia ser muito maior e ter uma estrutura muito melhor do que aquela que tem atualmente, mas eu é que humanamente não tenho conseguido acompanhar. Às vezes, castigo-me um bocadinho e penalizo-me, por um lado, mas depois, por outro, também me lembro que isso era a Vanessa de antes que não admitia perder e ficar para trás. Também aprendi a respeitar-me um bocadinho mais. Se eu não conseguir hoje, amanhã eu volto a tentar.
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Mas, lá está, isso faz com que a associação não ande ao ritmo que poderia andar. A APLAS é uma instituição que está em constante e permanente metamorfose de crescimento. Todos os dias, nós crescemos mais um bocadinho e temos novos desafios. O projeto em si está a crescer. Fizemos a nossa primeira internacionalização com um projeto que arrancou no dia 3 de setembro. Foi extraordinário porque marcaram-nos as passagens para Cabo Verde para esse dia, justamente quando fez quatro anos que a Leonor partiu. Então, é quase como se fosse Deus a dizer-me “vais recomeçar a tua vida e vamos dar um novo significado a este dia que te dói tanto. Não vai ser mais o dia em que perdeste a tua filha, mas o dia em que começaste um projeto de tanto valor”. E fomos para Cabo Verde intervencionar uma escola. Este é um projeto de três anos e tem uma particularidade interessante que é não estar relacionado com oncologia... mas mantém-se muito ligado ao trabalho com crianças.
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Porquê fora da oncologia? Porque nós precisamos. Estamos muito doridos e cansados de trabalhar em torno da dor e da perda. E estamos a precisar de algo que nos traga esperança e que não seja somente sobre meninos que sofrem ou morrem. Algo que nos permita perceber que o nosso trabalho de hoje vai ser impactante no futuro daquelas crianças. Elas hão-de tornar-se adultos saudáveis e empreendedores com as ferramentas que nós lhes vamos dar: a visão de outro mundo e outra realidade a que, neste momento, não têm acesso.
Qual achas que foi o teu maior desafio durante todos estes anos em relação à associação? A gestão dos recursos humanos é o grande desafio de uma instituição sem fins lucrativos! Porque toda a gente gosta de dizer que é voluntário de alguma coisa e que ajuda e contribui de alguma forma, mas, muitas vezes,
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não estão cientes do que isso implica: da entrega e do abdicar que, muitas vezes, tem de se fazer para abraçar um projeto como este, ainda que seja em regime de voluntariado. E manter as pessoas abraçadas à causa é um desafio na medida em que o único retorno que daqui tiram é a recompensa emocional, a gratificação da contribuição de nos sentirmos úteis para alguém, mas depois chega-se ao fim do dia e todos nós temos contas em casa para pagar e precisamos de meter um ordenado em casa. E só a solidariedade não nos permite pagar as contas.
Quantos voluntariados têm? A tempo inteiro, estou eu. Depois, temos quatro vezes por semana um núcleo de jovens do Colégio dos Maristas que são umas máquinas a trabalhar lá connosco e que têm pela associação um carinho incomensurável. Eles abraçaram este projeto depois de um dia em que eu fui fazer uma palestra lá ao colégio e, no final, eles vieram ter comigo e disseram “Vanessa, nós queremos ajudar”, e eu pensei “eles são miúdos, isto depois amanhã passalhes, estão só entusiasmados com a palestra e amanhã já esqueceram”. Mas não, eles vieram mesmo ter connosco e são os nossos voluntários residentes. Depois, temos as coordenadoras de distrito, uma por cada distrito a nível nacional. E as pessoas que cooperam e colaboram com as nossas coordenadoras de distrito.
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O que mais precisam neste momento? Neste momento, para a nossa missão em Cabo Verde, precisamos de roupa para menino e menina dos 7 aos 18 anos, calçado, livros quer sejam manuais escolares ou de literatura de cultura geral ou específica, materiais didáticos e lúdicos, consolas, videojogos e tudo aquilo que sejam brinquedos ligados às novas tecnologias que os meninos tanto gostam. Às vezes, temos lá para casa a consola número dois ou três e que eles já não ligam porque já usam a número quatro, então, podemos dispensar ou doar. Precisamos também de material escolar.
Onde pode ser entregue esse material? Pode ser na nossa sede em Cascais ou então ligando para nós 916 144 777 e nós procedemos à recolha.
E pode ser em qualquer altura? Este projeto é de três anos e inclui várias fases de implementação. A primeira foi em setembro de 2018, a segunda em dezembro e a terceira será agora em março. Portanto, a cada trimestre, vamos a Cabo Verde. Toda a ajuda é sempre bem-vinda! www.princesaleonor.pt
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foto: Susana Pereira
No mundo industrializado, cada vez mais casais encontram dificuldades em conceber naturalmente.
RESTAURAR A FERTILIDADE
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No mundo industrializado, cada vez mais casais encontram dificuldades em conceber naturalmente. Sem dúvida, diagnosticar a causa desta dificuldade é tarefa que compete à Medicina. No entanto, muitas vezes, encontramos casos de infertilidade “inexplicada” onde já foram excluídas causas médicas evidentes, o que deixa os casais muito frustrados e desorientados. Por vezes, estas investigações deixam de lado alguns fatores que estão inquestionavelmente ligados à infertilidade, como malnutrição e stress. A notável desconexão e desconhecimento do funcionamento do corpo feminino é também um obstáculo a não subestimar, mas é frequentemente ignorado.
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Trabalhar estas vertentes implica adotar uma ótica global e holística da saúde, e deixar de olhar para o corpo como se se tratasse de uma máquina que avariou. Quais são, então, os aspetos principais a examinar com um novo olhar?
Restaurar o ciclo menstrual O ciclo menstrual é frequentemente anulado, durante anos, pelo uso generalizado dos contracetivos orais. Uma mulher pode ter tido muito poucos períodos menstruais verdadeiros até ao momento de tentar engravidar. E, ao longo deste tempo todo, pode perfeitamente não ter tido oportunidade de saber que os sangramentos regulares que observou durante
Antonella Vignati a toma da “pílula” não eram em absoluto menstruações, mas apenas sangramentos induzidos artificialmente, sem função alguma a não ser “psicológica”. Segundo o paradigma convencional na sua vertente mais radicalmente mecanicista (“o corpo é uma máquina”), este quadro não tem algum tipo de consequência negativa sobre a fertilidade. No entanto, se já dentro do próprio paradigma existe a consciência da relação entre fatores emocionais e sistema endócrino, perguntamo-nos como se pode ignorar o peso da profunda desconexão psicológica com este aspeto tão fundamental e básico da sexualidade que é o normal funcionamento do corpo feminino. Para além disso, considerando que o eixo hormonal pode demorar alguns anos a estabelecer-se, e que muitas raparigas começam a contraceção hormonal antes que isto tenha acontecido, será assim tão inócuo anular o ciclo menstrual durante anos a fio? É essencial, então, aprender a fisiologia do ciclo menstrual (que, por incrível que pareça, poucas mulheres conhecem a fundo), e conhecer o Fertility Awareness Method, método que permite fazer um “mapa” preciso de cada ciclo, e que nos permite monitorar a nossa fertilidade para tomar as medidas adequadas, quer no caso de querermos engravidar, quer no caso contrário. Através destes aspetos mais cognitivos, acontece com frequência o encontro (ou o reencontro) fluido e psicologicamente saudável com a nossa feminilidade esquecida.
Fatores nutricionais A alimentação é um aspeto fundamental do estilo de vida e pode ter uma influência direta ou indireta na fertilidade, considerando que:
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- A exposição ambiental a toxinas de vária natureza (metais pesados, xenoestrogénios, e outros disruptores hormonais) está frequentemente ligada à dieta; - Deficiências nutricionais específicas podem afetar a fertilidade; - A sobrecarga constante dos órgãos digestivos e excretores tem uma série de consequências nefastas sobre qualquer aspeto da saúde, incluindo a saúde do aparelho reprodutor e do sistema endócrino. O maior estudo sobre a relação entre fertilidade e alimentação (o Harvard Nurses’ Health Study) tem, de facto, comprovado que existem seis vezes mais probabilidades em conceber nos casais que seguem uma determinada dieta. Uma dieta saudável pode e deve ser altamente prazerosa. É uma questão de educação nutricional isenta de modas e mitos. Desta forma, será natural assumir hábitos alimentares saudáveis para o resto da vida, com grandes benefícios em todas as fases da vida.
Ajuda aos mecanismos de desintoxicação A toxicidade ambiental tem sido associada a infertilidade, subfertilidade, perda gestacional, e outros problemas a nível fetal. Os tóxicos mais prejudiciais para a fertilidade incluem metais pesados (sobretudo chumbo, mercúrio
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e cadmio), pesticidas, estrogénios sintéticos, compostos orgânicos voláteis e radiação. Naturalmente, a contaminação ambiental é universal e, até certo ponto, inevitável. No entanto, muito pode ser feito para limitar ao máximo esta sobrecarga. Já falámos da alimentação, mas há também outros hábitos que podem ser modificados neste sentido. O tabaco e o álcool são exemplos óbvios, mas existem outros fatores menos falados, como por exemplo, o uso de determinados cosméticos ou produtos de limpeza, ou o contacto diário com materiais como o plástico, que é já ubíquo nos nossos alimentos. Muitas vezes, esta sobrecarga não é (ainda) mensurável por parâmetros laboratoriais. No entanto, as investigações sobre inflamação generalizada revelam um panorama de desequilíbrios muito amplo. Práticas seguras como uma correta higiene intestinal (que passa mais uma vez pela alimentação), o exercício físico, a terapia fitoterápica, entre outras, assim como conhecer os produtos que temos de evitar no dia-a-dia, podem fazer muito pela nossa capacidade de desintoxicação.
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É importante conhecer e praticar estratégias de gestão do stress que visem o bem-estar psicofísico, como Acupuntura, Ioga, Meditação, Massagem e Acupressão, Fitoterapia, etc.
Ir mais devagar
Práticas de gestão do stress Existe nitidamente uma relação direta entre a fertilidade e o stress. O stress é tanto uma vivência emocional como uma experiência endócrina. Níveis altos de cortisol afetam negativamente o ciclo menstrual e existem muitos outros mecanismos pelos quais o stress afeta negativamente a fertilidade. Os casais que encaram problemas de fertilidade estão ainda submetidos a elevados níveis de stress adicional, chegando a necessitar de apoio psicológico.
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Vivemos numa cultura que quer rapidamente encontrar “a” causa dos nossos problemas e atuar de fora para dentro para a resolver. Sem dúvida, intervir é, muitas vezes, o mais sensato a fazer, mas vamos tentar não esquecer que a fertilidade é uma expressão direta da nossa saúde. Se, na nossa casa, disparar o alarme do detetor de gás ou de fumo, não o vamos simplesmente desligar para que não incomode, certo? Então, por quê fazer algo parecido com o nosso corpo? Nesta área tão complexa e misteriosa que é a Fertilidade, de momento não há como ter todas as respostas, mas é preciso saber formular as perguntas certas e, sobretudo, estar dispostas a aceitar que as respostas não vão ser imediatas, nem simples. No entanto, refletir sobre elas vai dar-nos provavelmente pistas para novos caminhos muito positivos para todos os aspetos da nossa vida. www.saudeintegraldamulher.org
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ENTREVISTA
Produtos Naturais
Uma ÁREA de NEGÓCIO em
expansão
A procura por produtos naturais tem vindo a aumentar à medida que os consumidores adquirem uma maior consciência relativamente ao impacto dos seus hábitos de consumo no ambiente e na sua própria saúde. À medida que a procura aumenta, surgem oportunidades para negócios nesta área tão apetecível e motivadora para quem acredita nos benefícios deste tipo de produto. Fomos
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conhecer a Lara Prazeres, da Natural by L, uma pequena produtora que tem procurado impor-se na produção e comercialização de suplementos alimentares.
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ENTREVISTA
O que é a Natural by L? A Natural by L é um negócio de desenvolvimento, produção e comercialização de suplementos alimentares. A complementar, a Natural by L tem serviços de formação, workshops em diversas áreas, como também consultoria e acompanhamento na área da qualidade.
Porque te interessaste por esta área de atividade?
procuram produtos de qualidade para o seu bem-estar.
Cresci com a minha avó, que adorava plantas, mostrando que podemos resolver alguns problemas de saúde com o que vem da natureza. Mais tarde, segui a formação em Biotecnologia dos Produtos Naturais e o Mestrado em Bioquímica, sempre com especialização em plantas. Aconteceu de forma natural.
Qual o perfil do consumidor que procura este tipo de produtos? É um consumidor exigente, com algum poder de compra e informado sobre os produtos e os seus benefícios.
Estes produtos são acessíveis ao público em geral, ou o seu custo é elevado para o consumidor médio?
Que estratégias e meios utilizas para chegar aos consumidores? A Natural by L tem usado as redes sociais, incluindo site com loja, como também presenças em feiras e congressos nas áreas da saúde, bem-estar e técnicas complementares. Estamos igualmente em algumas ervanárias.
Como tem evoluído a procura por produtos naturais? Cada vez mais, as pessoas procuram produtos com menos químicos e conservantes, o que se traduz num mercado em expansão, havendo, neste momento, uma vasta oferta. É necessário apostar na sensibilização dos consumidores para este tipo de produtos? Na minha opinião, não. Os consumidores estão mais atentos à sustentabilidade e
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Os produtos naturais, em geral, são de elevado custo, posicionando o consumidor num setor com algum poder de compra. No entanto, como forma de diferenciação, os produtos da Natural by L são de baixo custo, acessíveis a todo o consumidor.
É um mercado de nicho, baseado essencialmente em pequenos produtores, ou há grandes marcas a apostarem neste tipo de produto? Os produtos naturais não são um nicho de mercado, existindo grandes marcas que se destacam. Para os pequenos produtores, como é o caso, da Natural by L, o posicionamento no mercado leva a grandes desafios.
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Empreender com propósito
PASSOS para
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Negócio
A palavra Propósito, nos últimos anos, passou a ter um lugar de destaque nas prateleiras dos livros de autoajuda, nos Workshops de desenvolvimento pessoal e na boca de todos aqueles que buscam o autoconhecimento. Assistimos a uma Nova Era em que o ser humano não se contenta “apenas” com a segurança da sobrevivência que, durante séculos, aparentou ser “suficiente”. A busca de um caminho, um sentido, uma missão, um propósito, são palavras diferentes para a mesma coisa: descobrir algo que preencha o vazio de uma vida sem direção em que cada dia é uma mera cópia do anterior. Há uma frase que diz “Tu não viveste 365 dias, tu viveste o mesmo dia 365 vezes”. Muitos acreditam ser isto a Vida e que pouco há a fazer quanto a isso, outros não se resignam e empreendem uma busca pelo
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verdadeiro propósito. Ao longo dos últimos anos, passei por este processo e descobri que o tal propósito que cheguei a pensar não passar de uma utopia é bem real. Há 7 anos, passei a orientar outros nesta busca e, por isso, hoje, afirmo com toda a propriedade que não só é possível descobrir o seu propósito (sim descobrir, porque ele já existe dentro de si) como também é possível criar o seu negócio de sucesso a partir de algo que lhe apaixona fazer. A isto se chama Empreender com Propósito e é sobre isso que vamos falar: os 5 passos para descobrir e colocar o seu Propósito em Ação.
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Descubra algo que a apaixone Acredito que um projeto sustentado por uma paixão tem muito mais probabilidade de ter sucesso. Li uma vez que apenas cerca de 10% da população mundial se sente totalmente realizada profissionalmente. Estas pessoas sentem que estão a concretizar o seu propósito de vida, pelo que o seu trabalho, ao invés de uma obrigação, é considerado um verdadeiro prazer. Existe um denominador comum quando olhamos para o percurso dos grandes empreendedores de sucesso - a paixão pela sua ideia. Quando se fala em empreender, pode-se pensar, erradamente, que o melhor é escolher uma área de negócio rentável. Mas, a verdade é que se a mesma não a apaixonar, rapidamente o tão desejado sonho do negócio próprio pode transformarse num pesadelo. O primeiro passo é descobrir exatamente o que mais a apaixona. Muitas vezes, estas ideias estão bloqueadas porque pode parecer, à partida, que não são rentáveis. Como por exemplo: será possível rentabilizar aquela paixão pela cozinha? Ou aquela paixão por pintar? A verdade é que o mundo está cheio de casos de empreendedores de sucesso nas mais variadas áreas. Se já tem uma ideia de negócio, questione-se o quanto esse projeto a apaixona. Se ainda não tem, pergunte-se quais das suas paixões, hobbies, interesses poderiam ser transformados num negócio e partilhados com o mundo.
Case as suas paixões com os seus talentos Depois de descobrir essa paixão ou essas paixões, é hora de “casá-las” com os seus talentos e habilidades. “Talentos?! Eu não tenho nenhuns.” Quantas vezes ouço isto numa primeira abordagem para depois constatar que não é, de todo, verdade. Todos, sem exceção, temos talentos, temos habilidades para fazer determinadas coisas. Algumas são habilidades naturais, outras são habilidades adquiridas. Aquelas coisas que fazemos de forma natural, que fazemos sem esforço, que os outros admiram e a nós parecenos algo tão simples são talentos. Por exemplo: pode ser bom a falar em público, a escrever, a organizar, a ensinar, a fazer contas, a tocar um instrumento musical, a vender produtos, a cozinhar, etc. Acredito que não nascemos com as nossas paixões e os nossos talentos por acaso. Podemos e devemos fazer algo com eles.
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Sugiro que escreva uma lista com tudo o que gosta de fazer, tudo o que lhe dá prazer, tudo o que a apaixona. Depois, escreva uma outra lista com todos os seus talentos, tudo aquilo que faz bem, sem esforço, tudo o que os outros por norma admiram em Si. Se sentir necessidade, pergunte ao marido, aos filhos, aos amigos, a quem a conhece bem. Observe as duas listas. Consegue encontrar alguns pontos em comum? Certamente! Agora que encontrou pontos em comum, pense no que poderia fazer com isso. Como partilhar esses talentos e paixões com o mundo?
Encontre o veículo para partilhar o seu propósito com o mundo Fez descobertas entusiasmantes sobre as suas paixões e os seus talentos, mas a verdade é que se os guardar só para si, poderá ser, sim, um hobbie, mas nunca um negócio. Para transformar o seu propósito num negócio, tem que identificar o seu veículo. O veículo é a maneira que vai usar para partilhar e propagar o seu propósito ao mundo. Exemplos de veículos podem ser educação/formação (palestras, workshops, cursos online, offline); atendimento/aconselhamento (consultas, acompanhamento individual, coaching, consultoria, mentoria); escrever (artigos, livros, poesia); criação (pintura, escultura, costura, fotografia, artesanato, cozinha); artes cénicas (música, teatro, dança); produtos educativos (jogos, brinquedos didáticos); produtos digitais (vídeos, ebooks). A lista é interminável. A chave para identificar o seu veículo é não só considerar o que faz mais sentido para o seu propósito, mas também o que mais a apaixona fazer. Por exemplo, se descobriu que tem uma paixão e talento para a cozinha, que veiculo vai escolher? Aulas de cozinha, comida ao domicílio, cursos online, blog de receitas. São tantas as possibilidades. Se considerar que vários veículos são apropriados para si, procure sinergias entre eles, para que os possa combinar num único veículo ou organizá-los de forma a que contribuam um para o outro.
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Para que o propósito vire negócio, é necessário alguém que lhe pague por isso. Quem vai ser o beneficiário do seu propósito? Quem são essas pessoas? Essas pessoas têm recursos para pagar? Quer trabalhar com um público específico, em idade, género, necessidades? Uma das tendências quando se inicia um negócio é querer oferecer um variado tipo de serviços/produtos para alcançar um maior número de pessoas. Mas a verdade é que o conceito especialização tem vindo a ganhar mais e mais força. O público procura, cada vez mais, profissionais especializados que ofereçam serviços e produtos específicos para determinado tema/problema. O reconhecimento pela autoridade cria-se com especialização, pois não é possível tornar-se um expert em todas as áreas. Quanto mais afunilado for o seu nicho de atuação, mais autoridade cria no mercado. Se quer criar um projeto na área da cozinha, vai especializar-se num determinado segmento, por exemplo: comida vegetariana, saudável, sem glúten; comida caseira. São tantas as opções. Perceba dentro do seu projeto/ideia de negócio qual o nicho que mais a apaixona e comece a testar.
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Defina o seu público
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Hora de avaliar e testar Depois de definir os passos anteriores, tem finalmente um propósito transformado em negócio. É, agora, hora de experimentar, perceber que necessidades existem nessa área. Não se deixe ficar apenas pela opinião de amigos e familiares que pode, muitas vezes, ser redutora. Pesquise projetos semelhantes em Portugal e noutros países, faça sondagens dentro de grupos e redes sociais, participe em eventos de Empreendedorismo e partilhe a sua ideia, peça opiniões. Não fique presa à ideia inicial, às vezes, depois de testar, percebe que afinal precisa ajustar o veículo ou o público-alvo, é importante ter essa flexibilidade. Existem muitos empreendedores que dedicam uma grande parte desta fase inicial a delinear estratégias de chegada ao mercado, mas fazem-no sozinhos, sem pedir a opinião e o feedback de quem realmente interessa, os seus CLIENTES. Partilhe o seu produto e/ou serviço com o público, coloque-o à prova, solicite feedback, conheça as dúvidas e opiniões em relação ao seu produto/serviço. Teste, ajuste, volte a testar.
Começar um negócio próprio significa, muitas vezes, ter de trabalhar mais horas do que num trabalho por conta de outrem. Principalmente na fase de arranque são muitas horas, muitos dias, muitas semanas e meses de trabalho. Crie um projeto que a apaixone. Naqueles dias em que o cansaço teima em persistir, é a paixão que nos faz continuar, é a paixão pelo nosso projeto que nos faz acreditar que é possível.
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para reduzir o medo de falar em público Sabia que existem estudos que referem que 62% da população tem medo de falar em público?
Identifica-se com alguns destes pontos, quando tem de fazer uma apresentação em público: - Pernas a tremer? - As mãos começam a transpirar? - A garganta começa a ficar seca? - Os nervos começam a tomar conta de si? Estes são alguns dos exemplos citados pela maioria das pessoas, quando se pergunta o que sentem quando têm de fazer uma apresentação em público. A boa notícia é que esta é uma skill que se treina e que pode melhorar. Tenha em conta que a comunicação é uma das palavras mais importantes no nosso dicionário, pois tudo quanto fazemos na nossa vida pessoal ou profissional a envolve. Assim sendo, deixo-lhe aqui 8 dicas para reduzir o medo de Falar em Público:
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Ter nervos é normal. Prepare-se e pratique muito!
Ao contrário do que possa pensar, estar nervosa(o) não tem de ser necessariamente algo negativo e é muito comum à grande maioria das pessoas. Demonstra também que sente uma grande responsabilidade pelo que vai apresentar e que quer dar o melhor de si. A adrenalina que sente faz com que esteja mais alerta e preparada(o) para dar o seu melhor. Pense que um maratonista, um ator ou qualquer outro profissional que queira dar o seu melhor, treina horas, dias e meses a fio. Se queremos ser comunicadores de alta performance, a preparação é fundamental. Esta será a melhor forma de reduzir a ansiedade/nervos de falar em público. Focar-se em fazer exercícios de respiração
foto: Matthias Wagner
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COMPORTAMENTO
diariamente ajuda bastante a reduzir os níveis de ansiedade. Tudo começa na preparação prévia. Preparese, prepare-se e treine muito. Grave com um telemóvel a sua apresentação, reveja e ajuste o que tem de melhorar e volte a gravar-se. Pode não ter meses para se preparar, mas garanto-lhe que se se dedicar devidamente a esta tarefa, os nervos não vão desaparecer por completo, mas vai sentir-se muito mais confiante. A coragem é o antídoto da ansiedade.
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Organize o seu material eficazmente
Tendo em conta que a maioria de nós só se lembra de metade do que escutou, considere ser o mais assertiva(o) e organizada(o) possível na sua apresentação e na forma como comunica. Primeiro, foque-se em definir o propósito do seu discurso ou da sua apresentação. Vai informar, persuadir, motivar, ensinar? Tenha sempre o fim em mente e responda a uma questão essencial: o que quero que a minha audiência leve da minha apresentação? Utilize o Storytelling para enquadrar os seus temas e lhes conferir mais realidade e consistência. As pessoas conectam-se mais quando transmitimos emoções e sentimentos.
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A abertura e o fecho devem ser impactantes
É fundamental que cative a sua audiência logo nos primeiros segundos. A maioria das pessoas começa por dizer bom dia, boa tarde, o seu nome e identificam o assunto sobre o qual vão falar. Muitas começam até por falar das suas competências para demonstrar o seu
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conhecimento sobre o tema. Uma abertura e um fecho impactantes podem fazer a diferença. Comece por apresentar uma estatística ou uma citação de acordo com o tema que está a tratar. Conclua com um resumo, uma mensagem forte e, se fizer sentido, inclua um “call-to-action” para incitar a sua audiência a fazer algo.
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Conheça a sua audiência
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Não tente ser perfeita(o)
A quem vai dirigir a sua mensagem? Tente saber o mais possível sobre o grupo/ audiência para quem vai fazer a sua apresentação. Responder a esta pergunta vai ajudá-la(o) a definir e preparar-se nas palavras-chave que vai utilizar, bem como no nível de detalhe da informação a apresentar. Tenha sempre em conta que o discurso não é para si, mas sim para os outros. Que problema os vai ajudar a resolver? Como os vai motivar a fazer diferente?
Somos seres humanos e não máquinas e tentar a perfeição pode criar um nível de ansiedade excessiva e até desnecessária. Podemos ter ídolos e achar que gostaríamos de fazer uma apresentação como um colega, um chefe, um líder que admiramos, mas o mais importante é ser você mesmo. Seja natural e não tente imitar os outros, pois vai soar a falso. Se se enganar, siga em frente. Não tente ser perfeita(o), mas sim profissional. Erros todos podemos cometer, a diferença está em como os encaramos. Esteja preparada(a) para ser o seu EU verdadeiro e deixe a sua personalidade brilhar.
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Preste atenção à sua linguagem não verbal
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A voz
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Não escreva o seu discurso palavra por palavra, nem o decore
A linguagem não verbal é fundamental quando estamos a tentar passar uma mensagem: Sorria Utilize os gestos como quando está a ter uma conversa, não ficando com os braços estáticos ou por trás das costas. Não cruze os braços, pois vai gerar uma barreira comunicacional. Mantenha o contacto visual com a sua audiência. Mantenha uma boa postura corporal.
depois, se tem o azar de se esquecer de uma palavra ou frase que decorou, vai criar um bloqueio e pode de repente ter uma branca sobre o que ia dizer a seguir. Tenha, sim, numa folha os tópicos das mensagens principais que quer transmitir. Isto pode ajudá-la(o) a que, em caso de necessidade, possa verificar se abordou todos os pontos relevantes. Em conclusão, seja você mesma(o), não tenha medo, arrisque e seguramente irá brilhar.
Projete a sua voz e mantenha o ritmo da mesma. Se for monocórdica, rapidamente a audiência perderá o interesse na sua apresentação, por mais cativante que seja o tema. Se for uma pessoa muito tímida, leia em voz alta textos com muita emoção, para poder treinar um registo diferente do seu. Grave-se e veja os resultados. Depois ajuste o seu estilo e coloque a emoção com o que praticou antes.
Este é um erro que algumas pessoas cometem. Como têm receio e se sentem inseguras, decoram o discurso. A grande questão é que não soa natural e
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Como Implementar SEO no seu Website O que é, então, o SEO para websites? O SEO para websites diz respeito ao conjunto de técnicas que podem ser aplicadas a um website, de forma a gerar tráfego orgânico (não pago) de utilizadores mais qualificados. Está igualmente relacionado com a forma como o seu website se posiciona nos motores de pesquisa. Obviamente, quanto mais o seu website aparecer nos motores de busca, maior a probabilidade de ser encontrado pelos seus potenciais clientes. E, dado que a maior parte dos cliques ocorre nos três primeiros resultados do Google, convém que tenha uma estratégia para ficar numa destas três posições. Há, porém, outras formas de aparecer no Google, através de campanhas pagas (links patrocinados do Google Adwords, por exemplo). No entanto, estas são estratégias de curto prazo, enquanto o SEO é um trabalho complexo e um investimento a longo prazo.
foto: Farnel Hasanovic
Se o objetivo do seu website é atrair o maior número possível de clientes para o seu negócio, então é importante certificar-se de que qualquer pessoa que visita o seu website – independentemente do dispositivo que escolheu para aceder ao mesmo – é capaz de encontrar a informação que precisa e tem a melhor experiência possível.
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Raquel Comprido Como funciona o SEO? O SEO, ou otimização para motores de busca, divide-se em duas vertentes: On-page e Offpage. No primeiro, falamos da otimização dentro do seu website, fatores relacionados com a estrutura e com os conteúdos e, no segundo caso, da otimização que acontece fora do seu website e que determina o seu ranking.
Dicas para otimizar o seu website On-page: 1. Título das páginas Cada página do seu website ou blog inclui um título principal. Esse título ajuda a determinar o assunto do conteúdo, e ajuda a chamar à atenção de quem realiza uma pesquisa num motor de busca. Dicas: Posicione a sua palavra-chave o mais à esquerda possível no título; não exceda os 55-70 caracteres; crie títulos relevantes e objetivos para o tema escolhido e utilize uma tag de título <H1> para o título principal de cada página.
Dicas: Utilize a palavra-chave no URL do artigo; utilize um URL curto e objetivo; utilize hífens para separar palavras; relacione o URL do seu artigo com o tema do mesmo; não utilize números no URL, nem maiúsculas ou outros carateres especiais. 4. Atributos Alt e títulos das imagens Informações como o alt text e o título são utilizadas para perceber cada imagem. Esses atributos são importantes, já que contribuem para uma boa usabilidade e permitem também que utilize a sua palavra-chave nesses textos. Além disso, o peso das imagens também não deverá ser esquecido. Utilize, preferencialmente, o formato JPG, otimizado para a web. Assim, o seu blog ou site apresentará os seus conteúdos de uma forma mais rápida e não irá sobrecarregar o seu servidor.
2. Meta descrição Ajuda a entender de forma resumida o assunto do seu conteúdo.
5. Tags de cabeçalho As tags permitem tornar a informação mais legível e organizada e ajudar o motor de busca a entender as secções de texto, cabeçalhos e, principalmente, a prioridade do conteúdo. Nem todos os conteúdos de uma determinada página têm o mesmo grau de relevância.
Dicas: Utilize a palavra-chave em qualquer posição da meta descrição, mas não a repita; não ultrapasse os 150 caracteres; torne-a atrativa, de forma a gerar interesse no utilizador e levá-lo a clicar; não a construa com base no primeiro parágrafo. Seja criativo e pense na sua estratégia!
Dicas: O título do seu artigo ou da sua página tem de usar uma tag H1. Os seus textos devem usar tags de cabeçalho H2 e H3 consoante a prioridade ou relevância dos conteúdos. Sempre que possível, utilize a sua palavra-chave com foco no título H1 da página e num dos subtítulos H2.
3. URL amigáveis O próprio URL também ajuda o utilizador a entender o tema do artigo.
6. Utilização das palavras-chave São as keywords que dão aos motores de busca informação relevante com vista à
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MARKETING
indexação das páginas de um website; também permitem que o mesmo seja encontrado pelos utilizadores quando estes pesquisam determinados termos que possam estar presentes no conteúdo das páginas desse mesmo website. 7. Qualidade do conteúdo Naturalmente, a qualidade do conteúdo é também um dos aspectos mais importantes para o Google numa análise de SEO. No que diz respeito à qualidade do conteúdo, o Google dá prioridade à relevância do conteúdo com relação à pesquisa realizada pelo utilizador no seu motor de busca. Ou seja, crie conteúdo relevante para o seu potencial cliente. Dicas: Otimize o seu conteúdo e tenha em atenção o design responsivo, de forma a facilitar a leitura, tanto em desktop como em mobile. 8. Tempo de carregamento das páginas Uma boa experiência para o usuário inclui um carregamento rápido do seu website e das suas páginas de conteúdo. Tudo o que seja inferior a três segundos de carregamento é um excelente resultado. Dicas: Pingdom Speed Test ou o PageSpeed Insights, para identificar problemas de carregamento e obter dicas para os corrigir. Caso não perceba, recorra a um programador.
Dicas para otimizar o seu website Off-page: 1. Autoridade e confiança A autoridade e confiança de um site ou das suas páginas são muito importantes para determinar a sua relevância em comparação aos demais resultados. A
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Raquel Comprido
autoridade de um site é determinada no seu domínio e na sua página. O Google analisa quão relevante é o domínio principal de um site, baseado em vários fatores como a quantidade de links que apontam para o domínio, o número de partilhas nas redes sociais, etc. O mesmo sucede com as páginas. Cada página é analisada com base nos mesmos fatores, determinando a sua importância. 2. Link building Falamos de links internos e de links externos para conteúdos do seu site ou blog. O algoritmo do Google continua a atribuir peso significativo a websites e páginas que obtenham muitos links de outros sites, tomando-os como conteúdo relevante para o utilizador. Dica: Escreva guest posts para outros websites. 3. Sinais sociais Estes incluem todo o tipo de interação nas redes sociais, desde likes, partilhas, etc. Aqui, é importante definir uma boa estratégia, de forma a aumentar a sua notoriedade nas redes sociais e gerar maior interação.
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Como colocar o
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A EXECUTAR TAREFAS POR SI
É vulgar pensar-se no Excel, programa da Microsoft, como uma ferramenta que “apenas” permite efetuar cálculos rápidos e automáticos com os valores introduzidos nas células do ficheiro. Porém, após mais de 30 anos de existência no mercado e constante introdução de novas funcionalidades, o Excel é, atualmente, uma ferramenta poderosíssima e uma das mais utilizadas nas empresas de todo o mundo, desde freelancers a grandes corporações.
As capacidades do Excel vão muito além do simples adicionar ou multiplicar colunas e da elaboração de gráficos. Destaco: - a sua capacidade e robustez para lidar com condições complexas e uma quantidade elevada de dados; - a possibilidade de ser programado para realizar tarefas de forma automática e para interagir com outros programas (Outlook, Word, PowerPoint, Gmail, etc…) - a variedade incrível de funcionalidades e ferramentas incluídas que permitem encontrar resposta para problemas do seu negócio, - a aptidão para se conectar de forma dinâmica com diversas fontes de dados (ficheiros no seu computador, páginas web, bases de dados, etc.).
Independentemente de a empresa utilizar ou não software específico para cada área do negócio, o Excel pode ser muito útil em variadíssimas áreas como as de gestão de: - produção - inventário - operações - projeto - vendas - clientes - recursos humanos - fraturação - finanças
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A automatização de tarefas rotineiras no Excel permite: - a economia de incontáveis horas de trabalho manual; - a simplificação de procedimentos; - a produção de um resultado total ou praticamente isento de erros humanos; - a inclusão de um design profissional e adaptado à imagem da marca; - o acesso fácil a indicadores-chave de desempenho da empresa.
As possibilidades do que pode fazer com o Excel são infinitas! Algumas vantagens de eleger uma solução construída em Excel para a gestão de uma ou várias áreas do seu negócio são: - poder construir a solução à imagem de como opera o seu negócio e de acordo com as suas preferências; - poder desenhar a solução de forma a que se adapte a outros sistemas que já utilize; - poder fazer adaptações ou acrescentar novas funcionalidades ao longo do tempo, consoante for necessário.
Vejamos alguns casos concretos de sistemas criados no Excel.
Caso A: Gestão de Comissões Empresa que vende cursos online, 1 – 5 funcionários Esta empresa oferece cursos através de duas plataformas onde publica os vídeos dos vários instrutores. Recebe mensalmente um relatório de cada plataforma com os dados relativos às vendas de cada um dos cursos. Com base nos relatórios recebidos, é necessário calcular o valor da comissão a pagar a cada instrutor. A empresa tem um ficheiro Excel onde regista todos os pagamentos feitos aos instrutores.
Problema: O cálculo de comissões, registo dos valores e produção dos extratos é um processo lento, fastidioso, complexo e propício a erros.
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Célia Alves Solução: Foi criado um sistema em Excel que automaticamente: - - - -
Calcula os montantes a pagar a cada instrutor com base nos relatórios recebidos; Regista esses montantes no ficheiro Excel de gestão de pagamentos; Cria os extratos individuais de conta para cada instrutor, em PDF. Gera um email no Outlook por cada instrutor com texto personalizado e o respetivo extrato anexado. O trabalho que antes durava dias agora demora menos de uma hora. Além disso, os extratos são produzidos de forma consistente, sem erros, e a informação está armazenada de forma organizada e de fácil acesso.
Caso B: Gestão de Operações Empresa que vende e aluga contentores marítimos, 6 – 10 funcionários Sempre que um contentor vai entrar ou sair de um dos terminais em que a empresa opera, é necessário registar essa operação e enviar os detalhes quer para o terminal, quer para o condutor que vai tratar do transporte. A empresa regista num ficheiro Excel as entradas e saídas de contentores.
Problema: Todo o processo tanto de entrada dos detalhes, como de transcrição dos mesmos
foto: fdcxcvxvc
para os dois emails que têm que ser enviados por cada operação é aborrecido, demorado e propício a erros. Além disso, de cada vez que a equipa de vendas traz um cliente novo, tem que haver troca de emails entre a equipa de vendas e a de logística para passar a informação de contacto do cliente.
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Solução: A folha de Excel foi optimizada para que não se tenha que escrever mais do que o
necessário. Por exemplo, se o utilizador indica o terminal, já não tem que escrever a cidade, porque a correspondência é automática. Foi também criada uma base de dados de clientes. Depois de toda a informação estar introduzida, basta ao utilizador clicar num botão para ter os dois emails gerados num segundo apenas.
Caso C: Gestão de Orçamentos Empresa multinacional da área da construção, 1600 colaboradores a nível mundial, 30 – 50 funcionários na sucursal portuguesa A empresa utiliza um ficheiro Excel para registar os detalhes de cada orçamento e acompanhar o estado de cada um. Vários funcionários da empresa têm acesso ao ficheiro para dar entrada de novos orçamentos ou fazer atualizações.
Problema: Os dados são introduzidos de forma inconsistente e, por vezes, a informação é alterada ou apagada inadvertidamente.
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Célia Alves Solução: O ficheiro foi adaptado para que todos
os utilizadores tenham acesso a introduzir dados a partir de um formulário que, não só facilita e entrada de dados, mas também impõe restrições para que a informação seja introduzida de forma consistente e completa. O acesso a alteração de informação está restringido a campos específicos. Só utilizadores conhecedores de determinada password poderão visualizar e alterar toda a informação. Com as melhorias implementadas, é agora fácil responder a questões tais como: Quantos projetos existem por cliente, por técnico ou por vendedor? Qual foi o vendedor que gerou maior volume de negócio? Qual é o valor dos orçamentos que se encontram a aguardar uma decisão por parte do cliente? São poucos os desafios de que o Excel não consegue dar conta. Se há uma forma de explicar a alguém como fazer, muito provavelmente também será possível programar o Excel para realizar essa tarefa, com a vantagem de o fazer mais rapidamente e com menos erros.
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Vídeo Marketing
A tendência do marketing digital em vai que querer
apostar em 2019 Já deve ter reparado que, diariamente, as redes sociais são inundadas por milhares de vídeos sobre os mais variados temas e que um vídeo consegue captar mais a sua atenção do que um simples texto. Diz-se que uma imagem vale mais do que 1000 palavras. Esta frase de Confúcio é amplamente utilizada na área da publicidade e pretende mostrar o poder que os recursos visuais têm na comunicação. Mas, se uma imagem tem este valor, quanto valerá 1 minuto de vídeo? 1,8 milhões de palavras! A resposta é dada por James McQuivey, da Forrest Research, que encontrou uma forma interessante de pensar sobre o valor do vídeo online. O mundo do vídeo marketing continua a
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crescer e dificilmente as empresas conseguem ficar de fora se quiserem continuar a progredir. Esta tem sido uma oportunidade valiosa para as empresas, que já encontraram no VÍDEO MARKETING uma forma eficaz de alcançar mais clientes.
Mas o que é o Vídeo Marketing? É a utilização de vídeos nos diversos meios digitais para promover uma marca, produto ou serviço. Qualquer empresa que se queira
Daniela Alfarrobinha destacar da concorrência deve apostar numa forte estratégia de marketing, incluindo conteúdos em vídeo para fortalecer a sua presença online nos canais digitais, como por exemplo, Site, YouTube, Facebook, Instagram e E-mail Marketing. A forma de comprar tem vindo a mudar ao longo dos anos e adquirir por impulso deixou de ser uma tendência. Os novos consumidores são cada vez mais preocupados e exigem mais informação sobre os produtos. Com o vídeo marketing, é possível apresentar características variadas de forma dinâmica, captando a atenção do consumidor para o que realmente interessa.
E por que é que os vídeos funcionam tão bem? Os conteúdos audiovisuais utilizam dois sentidos: a audição e a visão. Quando estes são ativados ao mesmo tempo, o nível da nossa atenção aumenta, e se lhes juntarmos o movimento, a nossa tendência para a empatia é ainda superior. Isto leva a que entendamos melhor o conteúdo e
memorizemos mais informação. Para além da fantástica aceitação por parte do público, há várias estatísticas que referem que os vídeos aumentam o tráfego, melhoram o ranking na pesquisa em motores de busca, disparam as interações nas redes sociais e multiplicam as vendas. Um vídeo conta uma história, o que leva o cliente a querer saber o final, sendo natural que o público queira consumir o produto até ao fim.
Porque deve investir já em vídeo? O vídeo é um investimento que tem retorno num curto espaço de tempo! É o formato de conteúdo preferido da maioria das pessoas, o mais eficiente na atração e no envolvimento com o público. Então, por que não utilizá-lo de forma estratégica para potenciar o seu negócio e gerar mais resultados? O cérebro humano processa mais rapidamente imagens do que textos, isso significa que o nível de retenção das mensagens é superior, por isso, é o veículo de excelência para se alcançarem mais clientes.
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NEGÓCIOS
Segundo um estudo publicado na Video Brewery, 100 milhões é o número de utilizadores de Internet que assistem a vídeos online diariamente. Apesar de nem todos estarem à procura de comprar um produto ou serviço, grande parte deles tem esse objetivo ou, mesmo que não tenha, acaba por fazêlo quando se depara com algo que lhe interessa. foto: Sandra Diogo
Tipos de vídeo Agora que já percebeu como o Vídeo Marketing pode ajudá-lo na divulgação da sua empresa ou do seu projeto, fique a conhecer que tipos de vídeo existem e descubra aqueles que fazem mais sentido para o seu negócio:
Estes são alguns exemplos de vídeos que pode utilizar no seu marketing de conteúdo e que farão toda a diferença para se destacar e alcançar mais clientes. Alguns destes exemplos são feitos com animação gráfica e outros com filmagens. De acordo com a experiência, pode ser o próprio a fazer ou pode recorrer a um profissional da área.
- Explicativos de ideias, conceitos, serviços, produtos ou processos - Anúncios de produtos ou serviços - Demonstrações de produtos - Apresentação de projeto, empresa ou equipa - Depoimentos de clientes - Recrutamento - Promoção e cobertura de eventos - Vídeos “How-To” - Tutoriais - Animação de logotipos - Institucional - Postais/posters/flyers animados - Webinar - Entrevistas
O vídeo é um investimento que pode e deve ser rentabilizado. Por exemplo, um vídeo explicativo sobre um produto pode ser utilizado para vários fins: disponibilizado no site, nas redes sociais, no YouTube, ser apresentado em reuniões ou ser enviado por email a um cliente. Os vídeos são uma forma eficaz de se conectar com o seu consumidor, porque em poucos minutos ou mesmo segundos, transmite todas as informações num formato simples e atrativo, tornando o serviço ou produto desejável. www.motion4u.pt
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Daniela Alfarrobinha
10 estatísticas que mostram a
importância do Video Marketing Conheça 10 das principais estatísticas que mostram o poder do video marketing:
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Em 2020, 82% de todo o tráfego da Internet será gerado por vídeos.
2
80% das pessoas dizem lembrar-se de ter assistido a um anúncio em vídeo nos últimos 30 dias.
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46% das pessoas que assistiram a um vídeo nos últimos 30 dias dizem ter agido após a visualização, como por exemplo, visitado o site, procurado mais informações ou comprado um produto.
4
59% dos grandes empresários preferem ver vídeos do que ler textos.
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Quando os profissionais de marketing passaram a incluir vídeos explicativos nos seus emails, a taxa de cliques aumentou entre 200% a 300%.
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O utilizador médio é exposto a uma média de 32,2 vídeos por mês.
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90% dos consumidores dizem que vídeos de produtos os ajudam a tomar decisões de compra.
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60% dos visitantes de uma página web com vídeo, clicam nele antes de ler qualquer palavra do conteúdo.
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A visualização de vídeos em telemóvel tem um crescimento de 100% ao ano.
10 43% das pessoas consideram que os anúncios online são mais relevantes do que os da televisão.
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De Empreendedora para Empreendedora
Segure
O SEU NEGÓCIO
foto: Artem Sapegin
A importância dos Seguros
Qual a importância de subscrever os seguros que precisa para proteger a sua vida e a do seu negócio?
Após o pensamento “quero ter o meu próprio negócio” ou da afirmação “tenho a certeza que o meu plano de negócio é muito bom, vou colocá-lo em prática”, os empreendedores confrontam-se com a realidade à medida que refletem sobre a incerteza do seu futuro. É uma decisão que requer altruísmo, confiança, dinâmica e consciência pois as
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responsabilidades são mais que muitas. O entusiasmo dá lugar à preocupação se tiver às costas todos os encargos e maior será a exigência de conseguir um rendimento mensal assegurado. São essas as razões para que o empreendedor precisa de estar preparado. Caso contrário, qualquer pequeno acidente pode refletir diretamente nos resultados e na gestão financeira, o que pode ser devastador para um negócio que esteja a iniciar a sua atividade.
Olga Costa Gostamos de Seguros?
ainda adicionar coberturas, por acidente extraprofissional, tudo no mesmo contrato.
A questão é capaz de ter uma resposta negativa. E tendemos a não gostar de seguros pois apenas os utilizamos em situações de acidente ou quando estamos mais fragilizados. E com isto, tendemos a desconsiderar a importância que um bom seguro tem nas nossas vidas e negar que possa ser determinante na continuação do nosso negócio. “O que acontecerá se…?” É o começo de todas as reflexões antes de tomar uma decisão. O que acontecerá se eu tiver um acidente e deixar de trabalhar por 6 meses? O que acontecerá se o meu computador for roubado com todo o trabalho lá gravado? O que acontecerá se eu não tiver dinheiro suficiente para repor o meu equipamento ou se, por lapso, no meu trabalho prejudiquei um cliente? Não é possível responder a todas as perguntas, já que quase todas elas não dependerão de nós, mas de fatores externos. Há, no entanto, uma série de seguros essenciais que ajudarão o empreendedor a ficar descansado.
Conheça os 4 seguros de proteção que o seu negócio inicialmente deverá ter: Seguro de Acidentes de Trabalho (obrigatório) É um dos seguros obrigatórios e indispensáveis para os empreendedores que, em caso de baixa (incapacidade temporária), permite receber 60% do valor do rendimento mensal que aufere, ter as despesas de tratamento e de convalescença asseguradas até se sentir apto para o trabalho. Em caso de incapacidade profissional permanente, terá acesso a uma renda vitalícia. O empreendedor pode escolher
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Seguro de poupança Este seguro também pode entrar na reflexão prévia na altura de apostar numa carreira como empreendedor. Em muitas ocasiões, o empresário deverá ter uma boa proteção financeira, já que as perdas durante os dois primeiros anos do negócio podem ser mais do que notórias. Da mesma forma, pode ser interessante para os casos em que a empresa goza de excedentes de tesouraria. Para isso, podemos contar com uma solução para constituir um capital destinado a projetos futuros. Seguro de Vida para o empreendedor Permite reforçar a salvaguarda de situações graves, em caso de doença ou acidente, com a duplicação ou triplicação do capital seguro. Através da cobertura de doenças graves, pode garantir a antecipação do capital contratado (em caso de diagnóstico de doença grave, incluindo neoplasias), minimizando, assim, também o impacto de enfrentar uma doença imprevista grave.
Seguro de saúde Em caso de doença, permite transferir para a seguradora as despesas com internamentos, tratamentos, exames, cirurgias, diagnósticos, consultas, etc., recorrendo a serviços privados de qualidade. Uma intervenção breve e resolução eficaz abrevia o tempo que está ausente da sua atividade profissional. As seguradoras estão aptas a oferecer assistência completa, que se torna num serviço pós-acidente.
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foto: Rawpixel
NEGÓCIOS
Enquanto o âmbito do seguro de Acidentes de Trabalho é o acidente, o seguro de saúde é a doença. O seguro de vida protege em caso de Morte e invalidez por motivo de acidente ou doença.
Tem vantagens fiscais para a empresa? Os custos com seguros de vida, poupança, saúde e acidentes de trabalho podem ser considerados como despesas, nos termos e com os limites previstos na lei: - Ao abrigo do artigo 23.º do CIRC, as entregas efetuadas pela empresa são considerados gastos do período de tributação, sem limites, desde que sejam considerados para os colaboradores rendimentos do trabalho dependente. - Ao abrigo do artigo 43.º do CIRC, as entregas efetuadas pela empresa podem ser considerados como gastos do período de tributação em sede de IRC, nos termos e com os limites previstos no artigo 43.º.
Como poupar nos custos dos seguros? Com intermediário (mediador de seguros), garante o custo mais baixo em média 25%,
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maior leque de coberturas, garante que subscreve personalizadamente para o seu ramo de atividade as proteções que precisa. Para além disso, recebe gratuitamente acompanhamento profissional, que o liberta para se dedicar ao seu negócio. - Diagnóstico – Onde serão identificadas as necessidades de cobertura e os receios do empreendedor, os contratos (apólices) que tem em vigor. Pode acontecer ter coberturas duplicadas ou estar a pagar por coberturas de que não necessita… - Apresentação de Simulações – Após consulta ao mercado o profissional, seleciona a melhor solução (produto e serviço) apropriada para as suas necessidades. Com grande probabilidade de conseguir cortar nas despesas com a rubrica seguros, ao mesmo tempo que apresenta coberturas mais abrangentes. • Acompanhamento e Revisão Periódica – Caso tenha dúvidas, caso tenha um acidente e precise de aconselhamento profissional, apoio no decorrer do processo, terá um profissional dedicado que o acompanha à distância de um telefonema, de um email ou via chat.
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ENTREVISTA
Mais do que desenhar
Urban
Sketchers
Quem são os Urban Sketchers? Os Urban Sketchers são um grupo de pessoas que desenha o que observa e regista em caderno: o diário gráfico. Em 2007, o ilustrador e jornalista Gabriel Campanario de Seattle, nos Estados Unidos, começou a registar em caderno o que via e a publicar no seu blog. Uns tempos depois, verificou que esta sua ‘mania’ tinha seguidores e decidiu criar um blog para todos partilharem os desenhos. Estávamos em Novembro de 2008 e assim nasciam os Urban Sketchers.
desenho de: Isa Silva
O nosso manifesto é:
um ão ar; s s g no ue ho o lu n u, , t e d sq i s a s e r e e d u o en in rio os emp s c os; s os exte e o q à s m no éis am o ot nt s fi encia Os sto d nh e n me o e s r i a ; m res De terio iret mos So reg p d a in do v r an obse ist g Apoiam re o-nos u Usamo ns aos s qualq d e outros s u e n e técnica r tipo d hamos e e em gru e valor izamos po; cada estilo in dividua l;
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Isa Silva
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desenho de: Abnose (Armando Baldaia)
desenho de: Ana Crispim desenho de: Celeste Vaz Ferreira
desenho de: André Duarte Baptista desenho de: Alexandra Baptista
desenho de: CésarCaldeira
desenho de: Eduardo Salavisa
os s n ine; o l os on am os lh nh i t e r tam Pa des on ia, c de or os nh os ro e s ep n e s d e o m os qu oss a do e vive s; n Os stóri ond jamo i a s a h gare de vi u n l o os s os
desenho de: Duarte Gomes Martins (11 anos)
Os USk (Urban Sketchers) estão presentes em muitos países e organizam o seu simpósio mundial desde 2010 que já teve uma edição em Lisboa, em 2011, e outra no Porto, em 2018, com um recorde de participantes: mais de 800 de todos os continentes.
Como e quando chegaram a Portugal? , um Mostramos o mundo z. desenho de cada ve
Portugal foi um dos primeiros países a aderir ao movimento em 2008 através do Eduardo Salavisa, João Catarino,
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desenho de: Filipe Almeida
ENTREVISTA
Pedro Cabral e José Louro. Juntamente com Mário Linhares, criaram um blog que, mais tarde, daria origem ao atual blog dos USkP. Estávamos em Março de 2009, e assim apareceram os Urban Sketchers Portugal (USkP). Vamos fazer, em 2019, 10 anos de existência. Temos vários grupos espalhados pelo país: Aveiro Sketchers, Foto Sketchers 2 Linhas, Leiria Sketchers, Porto Sketchers, Urban Sketchers Algarve, Urban Sketchers Barreiro, Urban Sketchers Évora, Urban Sketchers Oeste, Urban Sketchers Portugal-Açores, Urban Sketchers Portugal-Beiras, Urban Sketchers Portugal-Madeira, Urban Sketchers PortugalNorte, Urban Sketchers Terceira.
desenho de: Olga Lalanda
Quais os vossos propósitos e princípios de atuação? Para além dos desenhos livres, promovemos regularmente encontros em que, no final, partilhamos os trabalhos feitos e registamos os participantes numa foto de “família” e divulgamos e promovemos ações de formação e exposições.
desenho de: Mário Crispim
O que é que os Urban Sketchers trazem aos seus membros e à sociedade no geral? desenho de: Isabel Braga
Mostramos que qualquer pessoa pode desenhar. Aqueles instantes em que estamos a rabiscar são únicos. Temos como frase: “Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.” de John Ruskin, intelectual inglês do século XIX. Queremos que haja cada vez mais pessoas a fazer este tipo de desenho e temos as mais variadas origens profissionais e etárias. O importante é o prazer de desenhar sem o peso do “ter jeito” ou do “tem de ficar bem”. A
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desenho de: Manuel Meneses
desenho de: Paula Cabral
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desenho de: Helena Monteiro
desenho de: Manuela Rolão
desenho de: Mónia Abreu
desenho de: Isa Silva
desenho de: Luís Ançã
liberdade de estilos, materiais e formatos de caderno é totalmente individual mas o prazer é geral. O convívio entre participantes e transeuntes e curiosos é extraordinário. Somos contactados por várias instituições e empresas para colaborações a nível de criação de desenhos. Em muitos casos, o impacto dos desenhos é muito mais eficaz que o da fotografia. Acabamos por descobrir muitos locais, edifícios e eventos que, de outro modo, nos passariam despercebidos. Usamos também os cadernos para relatar momentos, eventos ou pequenas histórias ou diálogos. Colocamos no papel dos nossos diários gráficos tantos instantes e gentes que ficam para sempre guardadas na nossa memória. desenho de: Patricia Caldeira da Silva
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ENTREVISTA
Quem são as pessoas que aderem aos Urban Sketchers (perfil)? Quem pode aderir? Apesar de haver uma forte presença de pessoas ligadas ao desenho (arquitetos, ilustradores e professores de artes), temos sketchers de todas as profissões. Avós, filhos e netos são todos bem-vindos e acreditem que, quando começam a desenhar, o vício instala-se e lá andamos nós sempre com um caderno, canetas e aguarelas nas malas e mochilas. Temos a presença de algumas crianças em vários dos nossos encontros. A quem ficou curioso, convidamos a juntar-se a nós num dos futuros encontros. É só ir ao blog e descobrir as datas e locais por onde vamos andar de norte a sul, do continente às ilhas.
desenho de: Rosário Félix
desenho de: Pedro Cabral
Porquê a constituição enquanto associação? Existimos como associação sem fins lucrativos desde 2014 seguindo o modelo da Associação Internacional Urban Sketchers. Decidimos constituir a associação devido ao crescimento do número de participantes e ao aumento de pedidos para colaborações com Câmaras e outras instituições. Criar a Associação USkP foi uma forma de organizar uma estrutura em crescimento e facilitar as parcerias com instituições. As vantagens de ser associado(a): - pertencer a um grupo de pessoas unidas pelo mesmo gosto de desenhar - ter o direito a usar um crachá com o logo da Associação USkP - receber notificações via e-mails das atividades em agenda - ter descontos em atividades e workshops não gratuitos - poder ganhar bolsas para ajuda nas despesas quando os encontros são de maior duração ou em locais mais distantes - poder ganhar o apoio monetário para ser correspondente no simpósio anual
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desenho de: Silvia Santos
desenho de: Vicente Sardinha
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Isa Silva Contam com apoios públicos e/ou privados? Se sim, quem são os vossos principais apoiantes? O apoio fixo é a contribuição anual dos associados no valor de 12 euros anuais, 1 euro por mês. Pontualmente, recebemos contribuições de instituições públicas e privadas devido às colaborações que já referimos anteriormente. Recebemos também os direitos de autor da venda de vários livros com desenhos: “Lisboa por Urban Sketchers”, “Portugal por Urban Sketchers” e “Lojas Históricas em Lisboa” da Editora Zestbooks e “Porto por Urban Sketchers” da Editora Ponto M, todos disponíveis em várias livrarias, museus e lojas turísticas.
desenho de: Rodrigo Briote
desenho de: Susana Nobre
Quais têm sido as vossas principais iniciativas? A realização de encontros, exposições, colaborações em publicações, palestras, ações de formação e residências artísticas.
Quais os vossos projetos para o futuro?
desenho de: Isa Silva
desenho de: Sofia Gomes
Continuarmos o convívio, partilha de desenhos e experiências entre sketchers, organizar iniciativas a vários níveis - este ano, temos as comemorações dos 10 anos de existência em Portugal - e, é claro, receber de braços abertos novos participantes.
Venham conhecer-nos! Urban Sketchers Portugal: urbansketchers-portugal.blogspot.com Urban Sketchers Internacional: www.urbansketchers.org
desenho de: Vanda Dias
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desenho de: Paulo Mendes
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ENTREVISTA
Mulheres na música
Music à Lady MOVIMENTO
foto: Rui M Leal
O Movimento Music à Lady é um projeto musical por onde já passaram mais de 70 instrumentistas femininas e que conta com mais de 1000 espetáculos realizados.
Fundado e coordenado pela cantautora Christina Quest em Abril de 2005, o Movimento Music à Lady tem como missão a formação em estágio de instrumentistas que ainda não estão no ativo, com inserção na indústria musical através de ensinamentos práticos, bem como o agrupamento regional de intrumentistas já no ativo. “O Movimento Music à Lady, antes de o ser, era uma ideia de harmonia entre os instrumentistas do sexo feminino e masculino. Entre 2004 e 2005, poucas ou nenhumas mulheres eram instrumentistas profissionais
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no pop rock ou funk no nosso país” refere a fundadora, acrescentando que “no passado, eu fui convidada para entrar em vários ensembles de mulheres no estilo pop mas que nunca vingaram, isto porque havia sempre um patrocinador por trás que esquecia da parte psicológica e que é essencial! Esta parte familiar tem que existir entre as mulheres quando trabalham juntas, caso contrário, é sempre um ambiente caótico.” Apesar da primeira tentativa em 2004, com o tributo a Alanis Morrissette mas com baterista do sexo masculino, só em 2005,
Fátima Teixeira
foto: Rui M Leal
os seus gostos e disponibilidades. “Das coisas menos fortes nascem coisas que são fatores de diferenciamento. (...) Assim aparecem as Groove à Lady, as Ellas Não Fumam (com temas intemporais do Reggae nacional e internacional), as Xutos à Lady (primeiro tributo a Xutos e Pontapés no feminino), as Ellas2 Jazz (tributo a grandes canções Jazz Swing do American Songbook), entre tantos outros projetos”. Todos eles estão no ativo e podem ser contratados a qualquer altura. Para além das diversas bandas, estas artistas formadas pela prática, já acompanharam artistas de renome como Ágata, Os Anjos, Mico Da Câmara, Berg, Suzana, Patrícia Candoso, Christina Quest, e fizeram figurações em TV e Video Clipes. “Uma coisa muito importante
foto: Rui M Leal
com a entrada de Inês Lobo na bateria, é que se criou as Rock à Lady. Foi assim a primeira banda exclusivamente de mulheres, da qual faziam ainda parte Maiara no baixo, Christina Quest na guitarra e a sua aluna Susana Faísca na voz. Em Setembro desse mesmo ano, a baixista ingressou na faculdade do Rio de Janeiro e rapidamente entrou um novo elemento para a substituir. “Surgiume logo a ideia de que possivelmente seria mais interessante ser uma casa para instrumentistas do que propriamente uma banda. (...) Vários fatores fizeram-me pensar que seria mais interessante, abrangente e livre ser um movimento” refere Christina. Deste modo, não existe regime de exclusividade e as instrumentistas podem estar em vários projetos e ser alocadas a vários estilos musicais diferentes consoante
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ENTREVISTA
é elas sentirem que estão a trabalhar para tocar ao vivo e não para ficar dentro da sala de ensaio”, conclui Christina. A realidade musical do feminino O movimento Music à Lady teve uma forte influência no mercado musical português. Foram, pelo menos, mais de setenta mulheres a passar pelo movimento. Na opinião de Christina, “há realmente muitas mais mulheres instrumentistas hoje em dia no mercado, efetivamente a trabalhar e a tocar” porém, assemelha Portugal à Finlândia, país onde também tem carreira “a realidade lá é bastante parecida com a nossa, há muito poucas instrumentistas no mercado”. Acrescenta ainda que “aqui em Portugal, ainda há muito desequilíbrio e as mulheres têm de estar sempre a provar a sua qualidade. Normalmente, os comentários são “é uma carinha bonita que até toca” e pronto, vamos pôr aqui um condimento e não algo efetivo de “independentemente do sexo vamos chamar esta ou aquela”. Pesquisando pelos nomes que já passaram
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pelo movimento, verifica-se que “todas elas têm feito crescer os seus projetos e isso começa cada vez mais a notar-se no país” refere Christina, sublinhando que o movimento atua de norte a sul. “Há imensas mulheres que trabalharam comigo e disseminaram esta vontade e confiança de criarem os seus próprios projetos, avançarem com eles e tornarem-nos sustentáveis, tanto de originais mas sobretudo de entretenimento”. Christina Quest acredita que se consiga ainda mais progresso através do seu novo projeto “A Bússola das Emoções”, plataforma que integra o movimento Music à Lady mas com um sistema mais abrangente através de novas tecnologias, chegando a outras zonas do país. A par dos combos já em funcionamento, a Academia Movimento Music À Lady está em constante contratação para formar novos talentos e colocá-los On The Road. Mais informações podem ser encontradas no canal de Youtube QMMtv ou em www. facebook.com/movimentomusicalady
Qual o teu conselho para todas as mulheres que querem seguir carreira musical?
foto: Rui M Leal
Como qualquer pessoa, mulher ou homem, eu julgo que o mais importante é nós percebermos o que queremos e para onde vamos, o que nos dá vitalidade diária para seguirmos os nossos objetivos e nos sentirmos de bem com a vida e, por isso, qualquer instrumentista do sexo feminino, que tem tantas paredes e barreiras exteriores, deverá sentir que consegue, que não está sozinha, e que tem um movimento que pode aconselhar, direcionar e apoiar caso seja necessário na incursão dessa carreira. E a esperança é sempre diária. Qualquer coisa que é feita com coração e com dedicação é possível chegar a bom porto. Um outro conselho muito prático será estudarem a área musical em que pretendem vingar, estudarem pouco e bem. Isto é, estudar muito e sem direção normalmente não leva à profissionalização. Portanto, também aí, se precisarem de apoio, o movimento Music à Lady direciona com sistemas de estudo e formas de sistematizar o tempo para que a nível técnico consigam melhorar num curto espaço de tempo através de dicas. Isto são métodos antigos de grandes instrumentistas que eu fui colecionando ao longo do tempo e que tenho usado na minha vida, já que tenho 46 anos e todos os dias tento evoluir nos meus instrumentos de cordas e de voz obviamente.
O que esperar do movimento para o ano de 2019? Em 2019, o movimento terá um crescimento muito muito grande, já que com a ajuda da Fátima Teixeira como booker e manager, tenho um braço e uma força de trabalho extra. Além disso, a estreia da Associação A Bússola das Emoções através da plataforma digital A Bússola das Emoções que terá um espaço na web de disseminação e também um espaço físico de apoio a várias áreas que têm a ver também com o movimento Music à Lady e que as pessoas encontrarão na música e na forma de se fazer música, apoio. Passo a explicar, em áreas como o apoio de carreiras, vamos dar apoio a dirigir e a gerir carreiras, vamos dar cursos de marketing digital ligados à cultura e às artes, e aí é abrangente. Mas, no movimento Music à Lady também haverão benefícios desses cursos que serão feitos sempre sazonalmente. E também no que diz respeito a todas as áreas inerentes à indústria musical, em que eu sou a expertee, por trabalhar nela há bastantes anos e fazer parte da direcção da GDA e da
Booking Manager: Fátima Teixeira qfact.artistas@gmail.com +351 916 595 891 Geral: Cristina Andrade qmusik@gmail.com +351 922 297 768
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curadoria da Fundação da GDA. E, por isso, a partir da Bússola das Emoções também darei consultadoria a esse nível contratual com editoras, contratual com salas de espetáculo, sobre direitos de autor, licenciamentos para os CD, etc. Variadíssimas áreas que serão abraçadas na Bússola das Emoções e em específico no movimento Music à Lady, o qual crescerá nesse sentido também.
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Christina Quest, fundadora do Movimento Music à Lady, membro da direção da GDA (Gestão dos Direitos de Artistas) e curadora da Fundação GDA.
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CAPA
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Capa de uma Revista
Como numa equipa vencedora não se mexe, a capa da nossa revista continua nas mãos milagrosas da Cátia Alpedrinha (fotografia), da Marta Matias (maquilhagem) e da Alexandra Carvalho (stylling). Mais uma vez, colocámo-nos à mercê da maravilhosa sensibilidade artística da Cátia, que desta vez sugeriu o tema «kitch» e encontrou o cenário ideal para este ambiente, um restaurantezinho acolhedor e cheio de personalidade na Ericeira, chamado Funky. Juntámo-nos a duas colaboradoras imprescindíveis da nossa revista, a Isa Silva, que faz todo o design e paginação, e a Fátima Teixeira, que foi a nossa primeira editora e assina ainda alguns conteúdos. Este quarteto improvável juntou-se num mais ainda improvável cenário digno
de uma produção de moda, para encenar uma sessão de trabalho nos bastidores das Mulheres à obra. Sendo certo que o nosso contexto laboral real é bem menos glamoroso, e envolve frequentemente pijamas com ursinhos, chinelos felpudos e sacos de água quente, o espírito é que conta e esta capa captou na perfeição o nosso espírito: Umas pitadas de irreverência, com doses generosas de imaginação e experimentalismo, que não deixam ninguém indiferente! Afinal, como muito bem diz a Cátia, Love it or Hate it, but don’t pass it by!
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Camila Rodrigues
Cátia Alpedrinha Caetano Valorização Pessoal São sessões fotográficas com maquilhagem incluída, com o intuíto de aumentar a auto estima, e o empoderamento pessoal. Estas sessões realizam-se na Ericeira. Valorização Pessoal: Retratos pessoais e profissionais www.catiaalpedrinha.com cat.photo.makeup@gmail.com Facebook: Catia Alpedrinha Caetano Valorização Pessoal / Retratos em Família Instagram: @catia_alpedrinha_caetano
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Alexandra Simões de Carvalho Fundadora da Style Your Life Gestora de Imagem e Formadora certificada há mais de 11 anos, nas áreas de imagem pessoal, profissional e corporativa. Fundadora da Style your life, foi uma das precursoras do mercado de consultoria de imagem em Portugal, projeto através do qual orienta particulares e empresas a gerir e projetar todo o seu potencial ao nível da Imagem e Identidade Visual. O seu principal objetivo é permitir ao cliente posicionar-se e alcançar uma imagem consistente, clara, credível e autêntica junto do seu mercado e público-alvo. Licenciada em Psicologia Aplicada (préBolonha), área social e das organizações, pelo ISPA, formou-se em Personal Styling (Tita Aguiar, S. Paulo, Brasil) e em Consultoria de Imagem Pessoal e Empresarial, pela Academia Looking (Lisboa). Complementou a sua formação com o Master em Consultoria de Imagem
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Corporativa, pela Ilana Berenholc Consultoria de Imagem (S. Paulo Brasil). Especializou-se ainda em Análise de Cores (Método Sazonal Expandido), Estilo Universal e Análise de Tipo Físico e Proporções, pela mesma entidade formadora. Foi docente na última pós-graduação de Consultoria de Moda e Imagem no IPAM. Dinamizou durante vários anos rubricas de moda como Fashion Adviser, nos programas “Boa Tarde” e “Sextas Mágicas” na SIC. Atualmente, é responsável pela rubrica de moda do programa “Agora Nós” na RTP1. Participa, como oradora especialista na área de imagem pessoal e corporativa, em ações e palestras promovidas pelas mais variadas instituições, tanto públicas como privadas. Desempenha ainda funções de Image Consultant, Personal Shopper e Stylist nas Clínicas We Care e em várias lojas de segmento alto. Style Your Life - A nossa missão Proporcionamos aos nossos clientes a oportunidade de alcançarem resultados únicos e diferenciados ao nível da imagem pessoal, profissional e corporativa, disponibilizando os instrumentos e o knowHow que permitam a cada indivíduo/ empresa a possibilidade de gerir e projetar a sua imagem, de acordo com os seus valores e metas pessoais/corporativas. A linha de intervenção seguida é simples, individual e personalizada. Melhorar, compreender e direcionar positivamente a impressão transmitida, tendo em conta a autenticidade e a credibilidade da imagem projetada, constitui a base da nossa abordagem. www.styleyourlife.pt
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Restaurante Funky O restaurante Funky localiza-se na Ericeira, mais concretamente na Rua Dr. Miguel Bombarda 12A. Espaço cosy e acolhedor, apresenta uma decoração atenta aos detalhes, onde se salienta a criatividade e o bom gosto na mistura de variados objetos de mobiliário e decorativos. Com uma oferta gastronómica que contempla opções vegetarianas, europeias e mediterrânicas, no Funky poderá provar o linguini nero di sepia com mexilhão tomate manjericão e óleo de camarão picante, o risotto de cogumelos e óleo de trufa branca, o caril de camarão com arroz thai jasmin, o bacalhau assado com crosta verde de amêndoa batata doce e espinafres salteados , o polvo em tempura com espinafres salteados, batata com mel e mostarda antiga, o entrecôte de black angus com batata rústica salteada c/alecrim ou até a peito de pato fumado com arroz basmati e batata salteada com mel e mostarda antiga. www.funky.pt
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ENTREVISTA
ativamente Envelhecer
uma opção e uma necessidade
Num contexto social em que as reformas se tornam cada vez mais uma miragem distante e em que se impõe a necessidade de manter a atividade profissional até bastante tarde na vida, fomos conversar com a Sofia Alçada, mentora do Projeto Impulso +, uma iniciativa muito interessante na promoção do envelhecimento ativo.
O que é o Impulso +? O Impulso+ é um projeto em parceria com o Jornal Público, que resulta numa plataforma de comunicação focada na temática do ENVELHECIMENTO ATIVO E POSITIVO. É desenvolvido para as pessoas com mais de 50 anos, enquanto agentes indispensáveis à sociedade moderna, inclusiva, participativa e ativa. O Impulso+ constitui-se como ponto de encontro do target com empresas, marcas, organizações sem fins lucrativos e instituições públicas. Juntos e em sentido POSITIVO, promovemos uma melhor qualidade de vida das pessoas com mais de 50 anos e das suas famílias. Como? Fornecendo informação útil, inclusiva e inspiradora que cobre todos os aspetos da vida do público-alvo através de eventos, publicações e de plataformas digitais. No futuro próximo, o envelhecimento ativo será uma opção, uma necessidade ou ambos? Claramente ambos. Todos nós temos que
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saber o que queremos para as nossas vidas. E é certo que temos cada vez mais anos de vida. A esperança média de vida em Portugal é de 80,8 anos, com as mulheres a viverem mais anos do que os homens – cerca de 83,8 anos. O que é, sem dúvida, uma conquista civilizacional, que só nos pode alegrar. A questão que nós devemos colocar, então, é como queremos viver estes anos a mais que
Camila Rodrigues fomos conquistando. O Impulso+ tem, assim, um papel importante ao fornecer informação nas várias áreas de vida, como na área do rendimento, saúde, bem-estar, lazer e cultura, mobilidade, habitação e solidariedade, para podemos atuar e preparar dando vida a esses anos. E, assim, poder escolher como queremos viver a nossa vida.
Como podemos começar hoje a preparar o nosso envelhecimento ativo de amanhã? Quanto mais cedo melhor. Há áreas em que precisamos de tempo para o fazer, como é o caso do rendimento ou da saúde, por exemplo. Sabemos que o sistema de reformas tal qual está, e com a perspetiva do aumento da longevidade, não poderá ser sustentável mantendo os níveis de rendimento que conhecemos hoje. Assim, há que pensar com tempo, como devemos preparar essa fase de vida, poupando ou investindo para garantir um complemento da nossa reforma. No outro campo, temos a saúde, onde claramente temos que ganhar bons hábitos de vida para nos mantermos ativos e saudáveis. Portugal tem das menores taxas de pessoas saudáveis depois dos 65 anos. A esperança de vida com saúde depois dos 65 anos em Portugal é, em média, de apenas 7 anos. Questões como a alimentação, o exercício, a aprendizagem de novas atividades ao longo da vida, como dançar, pintar, a jardinagem, são importantes porque incluem estímulos motores e intelectuais, que permitem manter o cérebro ativo. Assim, há que ganhar consciência de que, em alguns campos, cabe a cada um de nós preparar o nosso envelhecimento, para que este seja ativo e sobretudo positivo.
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A criação do próprio negócio pode ser uma boa opção para quem quer envelhecer ativamente? Sem dúvida. É uma forma de nos mantermos ocupadas e ativas. Sobretudo se for alinhado com aquilo que gostamos de fazer e que valorizamos nas nossas vidas. Acredito que se estivermos realizadas e felizes no nosso dia-a-dia, mesmo que com as normais preocupações de quem abre ou gere um negócio, estaremos com certeza a contribuir para envelhecer ativamente. Há muitos casos de pessoas que abrem negócios em áreas onde antes ocupavam o tempo de lazer. Que boa maneira de poder envelhecer fazendo o que se gosta e adicionando rendimento.
Mente sã em corpo são. Até quando poderemos trabalhar? Em muitos casos, eu diria até querermos, ou podermos. Por vezes, depende muito do tipo de trabalho. Conheço uma professora de Ioga que deixou de dar aulas aos 94 anos. Na nossa rubrica inspiradora sobre Jovens para sempre, que sai nas primeiras quintas-feiras de cada mês no Jornal Público, temos entrevistado uma série de “jovens” com mais de 65 anos que continuam ativos e com grandes projetos de vida. Um dos exemplos é o arquiteto Gonçalo Byrne, hoje com 77 anos, que ganhou um grande projeto aos 76 anos – A Cidade de Música em Genebra, na Suíça, e que não pensa parar. Ao fazermos o que gostamos e que nos realiza, acredito que consigamos continuar ativos por muito mais tempo, sem obviamente descurar a importância de cuidar da nossa saúde e da nossa mobilidade, entre outras áreas das nossas vidas.
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SOCIEDADE
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a Violência Doméstica A violência doméstica no nosso país continua viva e de boa saúde, ao contrário das suas vítimas, nomeadamente aquelas que efetivamente perderam as suas vidas. O Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), no seu relatório relativo a 2018, identificou 28 mulheres assassinadas em Portugal no ano passado, mais 8 do que em 2017.
Estes dados traduzem um aumento de 40% dos femicídios, comparando com os dois anos anteriores (2016 e 2017). Até meados de fevereiro de 2019, era já uma dezena as vítimas mortais. O relatório afirma que o assassinato das mulheres ocorre em todo o seu ciclo de vida,
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com particular incidência em mulheres mais velhas. Ocorre essencialmente no espaço privado e é geralmente perpetrado por pessoas com quem mantêm ou mantiveram uma relação íntima. No entanto, não se conclui por uma tendência de aumento neste fenómeno trágico.
Camila Rodrigues
Tragicamente, o femicídio parece afirmar-se como uma constante na vida das mulheres, constituindo um ingrediente maldito presente em muitas relações de intimidade. Entre 2004 e 2018, registaram-se 503 femicídios. Verifica-se igualmente que a violência doméstica contra as mulheres precede muitas das situações de femicídio. Frequentemente, era do conhecimento de terceiros, sem que isso tenha contribuído para evitar os crimes praticados. Na génese desta triste realidade, o relatório aponta para a desigualdade de género, a qual persiste na nossa sociedade graças a causas estruturais que legitimam a discriminação, geradora de violência. O poder dos homens sobre as mulheres e a sua necessidade/ exigência de as controlar, estará na origem deste fenómeno. Para contrariar esta tendência que teima em persistir, é exigida uma ação de terreno diária que envolva as entidades públicas, as organizações não governamentais, a polícia, os tribunais e que seja apoiada de forma
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abrangente pela sociedade civil. Neste contexto, também as empresas podem contribuir ativamente para este esforço. Foi isso que a marca Josefinas fez, o que merece o nosso reconhecimento e apoio. Fundada pela empreendedora Filipa Júlio e batizada com o nome da sua avó, a marca tem como um dos seus propósitos inspirar mulheres na concretização dos seus sonhos. Ora, não há maior inspiração do que apoiar de forma efetiva um movimento tão urgente pela liberdade e segurança das mulheres na nossa sociedade. Afinal, sem segurança, sem saúde e, no limite, sem vida, não há sonho possível. A iniciativa “You Can Leave”, criada em parceria com a APAV, inclui uma linha de sapatilhas solidárias que tem apoiado, em média, 24 mulheres por mês desde julho 2018. Surge agora uma linha de t-shirts, a “Collections”. O montante angariado pela sua venda destina-se às Casas de Abrigo da APAV e permite suprir necessidades básicas, como abrigo e alimentação, bem como garantir o acesso a apoios jurídicos, sociais e psicológicos. Nas palavras da CEO da Josefinas, Maria Cunha: “ao usarmos esta t-shirt estamos a dizer que a violência doméstica não pode ser encoberta!”. UMAR: www.umarfeminismos.org Relatório: www.umarfeminismos.org Josefinas: https://josefinas.com/pt
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Família e Trabalho
foto: Catarina Araújo Ribeiro
uma equação (im)possível? Num momento quente na Europa, em que está em cima da mesa a discussão de uma nova directiva que promova a compatibilização entre a vida familiar e as obrigações laborais, questão que afeta particularmente as mulheres, fomos conhecer duas organizações internacionais de referência nesta área, uma que luta pelos direitos das famílias na Europa (COFACE) e outra que se bate pelos direitos das mães no mundo (Make Mothers Matter). COFACE Liz Gosme é mãe de duas meninas rebeldes (3 e 7 anos) e Diretora do COFACE Families Europe, uma rede de 58 organizações em 23 países que promovem o bem-estar, a saúde e a segurança das famílias e seus membros em um mudar a sociedade. É analista de política social da UE com quinze anos de experiência em assuntos da UE, representando os interesses de organizações da sociedade civil. Trabalhou extensivamente
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COFACE: www.coface-eu.org Make Mothers Matter: makemothersmatter.org Diretiva Europeia: Work-life balance
com várias instituições da UE, contribuindo para a construção de uma arquitetura de política social para a Europa e monitorizando estruturas-chave como o método de coordenação aberto social da EU. Trabalhou igualmente com governos nacionais e autoridades locais de toda a Europa, apoiando o desenvolvimento de políticas eficazes para combater e prevenir a falta de moradia. Hoje, Liz dirige a equipe da COFACE, sediada em Bruxelas, que defende legislação e políticas que permitam que as famílias e os seus
Camila Rodrigues membros beneficiem de recursos financeiros suficientes, serviços de qualidade disponíveis e horários adequados para viver e desfrutar da sua vida familiar com dignidade e harmonia.
Porque é que a COFACE assume a conciliação entre as políticas laborais e familiares como uma das suas principais preocupações? A COFACE trabalha em prol de um ambiente familiar saudável, permitindo que todas as famílias beneficiem de recursos financeiros suficientes, serviços de qualidade e horários adequados para desfrutar da sua vida familiar com dignidade e harmonia. O equilíbrio com a vida profissional é possivelmente o maior desafio para as famílias do século XXI e, portanto, em muitos países da UE está incluído como um dos objetivos da política nacional familiar, a qual visa garantir que as pessoas não tenham que escolher entre trabalho ou vida familiar, mas possam conciliar ambos através de uma mistura de acesso a recursos, serviços e tempo disponível. Acreditamos que é hora de começar a pensar em termos de uma “economia de conciliação”, onde os agentes económicos são medidos também em função do seu impacto social na comunidade.
Estas políticas são uma prioridade na UE? Recentemente a UE tornou o equilíbrio da vida profissional uma prioridade, no âmbito do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, proclamado em 2017 (que fornece uma bússola de 20 princípios para orientar as futuras ações sociais e de emprego). Um pacote de medidas de equilíbrio da vida profissional foi lançado pela Comissão Europeia em abril de 2017, que incluiu uma série de recomendações para
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reformas (impulsionando o emprego das mulheres, repensando os sistemas de apoio familiar e serviços como cuidados prolongados e creches), investimentos através do Fundo Estrutural Europeu e Fundos de Investimento, e uma proposta legislativa para normas europeias mínimas para pais que trabalham, incluindo licença de paternidade, licença parental, licença de cuidadores e acordos de trabalho flexíveis. A COFACE tem monitorizado as negociações em torno da proposta legislativa e um acordo deve ser alcançado em 2019 antes das eleições do Parlamento Europeu.
Que medidas específicas defendem em relação a estas políticas? Os nossos princípios fundamentais para o desenvolvimento de políticas familiares modernas são os seguintes: - Medidas de conciliação como rede de segurança para todas as famílias, independentemente da etnia, antecedentes de migração, deficiência ou status socioeconómico dos seus membros; - Envolvimento de homens e pais: a conciliação visa a igualdade de género, mas não é apenas uma questão feminina; - Perspectiva do curso de vida: a legislação e a política de conciliação devem responder às necessidades de todas as gerações. Acreditamos que a melhor maneira de operacionalizar esta visão, abrindo o caminho para alcançar uma economia de conciliação na sociedade, é através de uma combinação de políticas e de medidas legislativas e não legislativas, com base em três pilares principais: O primeiro pilar é a disponibilidade de recursos para as famílias. Este pilar é
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constituído por vários elementos que podem apoiar as famílias trabalhadoras a terem padrões de vida decentes que lhes permitam viver com dignidade e evitar o risco de pobreza. Outra área extremamente importante que possibilita às famílias conciliar o seu trabalho com a família consiste numa prestação adequada para serviços de assistência à família. O terceiro pilar refere-se à gestão do tempo na organização do trabalho, ou seja, os esquemas de licença e os acordos de trabalho flexível. Ter um acesso abrangente a licenças flexíveis e pagas, além de acordos para trabalho flexível, pode ser muito benéfico ao permitir que os trabalhadores conciliem melhor o seu trabalho com a sua família e vida pessoal.
A igualdade de género é uma realidade na Europa? O modelo tradicional do homem enquanto sustento do lar ainda é a norma em muitos países europeus. No entanto, com a crise económica desencadeada em 2008, estamos a assistir à emergência de um novo grupo de famílias: famílias onde a mulher garante o único rendimento do lar. Mas ainda há muito caminho a percorrer até que as políticas familiares reflitam essas novas tendências sociológicas e do mercado de trabalho. Uma mistura de acesso a recursos e serviços, bem como horários laborais adequados para homens e mulheres, é a melhor maneira de garantir que as famílias tenham opções completas e direitos para escolher como conciliar a sua vida profissional e familiar. A fim de alcançar a plena igualdade entre os sexos no mercado de trabalho e na sociedade precisamos de eliminar não só as disparidades
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Liz Gosme
salariais entre homens e mulheres, mas também o fosso entre os sexos. Isso significa permitir que os homens cuidem mais das suas famílias e permitir que as mulheres trabalhem mais para garantir a sua independência económica.
Quem se pode juntar à rede COFACE? Têm alguma estratégia ou projeto específico que abranja o nosso país? A rede COFACE é pluralista, refletindo a diversidade de famílias que existem no século XXI. O que significa que temos membros generalistas (plataformas que representam todos os tipos de famílias) e organizações que representam tipos específicos de famílias (famílias monoparentais, famílias de pessoas com deficiência, avós e muito mais). Todas as organizações portuguesas que apoiam e defendem as famílias, o equilíbrio da vida profissional, o reconhecimento dos cuidadores familiares e muito mais, são bem-vindas para se juntarem à rede. Portugal assumirá a presidência da UE de janeiro a julho de 2021. Por isso, é útil começar já a pensar em tópicos para colocar na agenda desta Presidência. Imagino que o apoio às famílias e a igualdade de género sejam prioridades-chave. Seria útil
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que qualquer empreendedorismo social ou movimento da sociedade civil portuguesa começasse a “Pensar em modo Europeu”, como preparação para este momento em que o seu país estará sob os holofotes, liderando a Europa.
Como podemos nós, mulheres empreendedoras em Portugal, contribuir para promover a conciliação das políticas de vida profissional e familiar? Mulheres empreendedoras são defensoras naturais do trabalho e da vida familiar, especialmente quando começam a ter filhos, mas não apenas. A nossa abordagem relativamente à família é intergeracional, abrangendo todo o ciclo vital, tendo em conta os pais que trabalham e cuidadores que trabalham. No nosso estudo “Who cares?” (Quem cuida?), a nossa amostra revelou que os cuidadores familiares são na sua maioria mulheres (85%), com idades compreendidas entre os 35 e os 64 anos, que frequentemente fazem parte da “geração sanduiche”, prestando apoio a
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diversas gerações de pessoas dependentes (27%). A fim de mudar isso, ou seja, incentivar mais homens a cuidar e permitir que mais mulheres prosperem profissionalmente, as políticas de reconciliação são essenciais e abrangem de forma holística o acesso a recursos, serviços e tempo. As mulheres empreendedoras estão indiscutivelmente melhor colocadas para advogar por locais de trabalho flexíveis e favoráveis à família, e aplicam os princípios de equilíbrio da vida profissional nos recursos humanos e nas políticas de gestão de suas empresas, não apenas para si mesmas, mas também para o seu pessoal. As políticas de equilíbrio da vida profissional não são apenas necessárias ao nível governamental, mas também são necessárias no local de trabalho. Os acordos de trabalho flexível podem assumir diferentes formas, como partilha de trabalho, trabalho remoto, trabalho inteligente, possibilidade de trocar turnos entre funcionários. São comprovadamente benéficos para os funcionários e também para as empresas, pois estimulam a fidelidade dos funcionários, aumentam a dedicação e
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reduzem a rotatividade. A legislação tem um papel primário e essencial para garantir que todos os trabalhadores possam beneficiar de medidas de reconciliação adequadas, mas um papel significativo e complementar pode ser desempenhado pelos acordos e iniciativas no local de trabalho. Finalmente, o trabalho flexível proporciona benefícios para todos e os acordos não devem servir apenas aos pais que trabalham ou aos trabalhadores com responsabilidades de cuidado, mas devem ser projetados e disponibilizados a todos os trabalhadores, independentemente do seu sexo ou situação familiar.
MAKE MOTHERS MATTER A MMM resultou da Organização Social e Cívica Feminina (UFCS), constituída em 1925 por uma empenhada feminista pioneira chamada Andrée Butillard (1881-1955). A UFCS teve como objetivo mobilizar mulheres de todas as origens sociais e analisar as suas dificuldades, a fim de encontrar formas de melhorar as suas condições de vida e provocar mudanças sociais positivas. Embora fosse solteira, Andrée pensava muito em valores familiares e em educação. Foi assim que a promoção do trabalho de cuidado familiar não remunerado das mães assumiu um papel essencial para o UFCS. Até 1940, esta organização exerceu um lobby intenso ao nível parlamentar para promover uma política familiar consistente. O seu principal objetivo consistia na obtenção de subsídios familiares significativos. Estes iriam permitir que as mães permanecessem em casa e cuidassem das suas famílias em condições dignas. A UFCS argumentava que
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era uma maneira de reconhecer que o seu trabalho beneficiava toda a sociedade. No entanto, lutava igualmente pelos direitos das mulheres que trabalhavam fora de casa. Foi após a Segunda Guerra Mundial que o auxílio social em França arrancou com generosas abonos e políticas familiares. Estas medidas serviram como exemplo para muitos países. A UFCS desempenhou um papel fundamental na construção das políticas familiares francesas. Tendo alcançado resultados tão favoráveis em França, a UFCS decidiu estender a sua ação ao nível internacional e atualmente está disseminada pelo mundo, incluindo em Portugal, onde as Mulheres à Obra são o seu primeiro membro.
O Trabalho Informal não remunerado constitui um obstáculo à emancipação feminina? Durante séculos, apenas os homens tinham um importante papel social, cívico e económico a desempenhar numa sociedade patriarcal. Os papéis eram estritamente definidos e as mulheres não eram
Camila Rodrigues consideradas “produtivas”, exceto enquanto geradoras de crianças. Neste contexto, não se consideravam as implicações sociais ou económicas do trabalho doméstico. Com o surgimento do feminismo e a sensibilização crescente relativamente aos direitos das mulheres, o trabalho de assistência não-remunerada tornou-se gradualmente objeto de pesquisa e estudos aprofundados. Mas apenas muito recentemente foi assumido como uma questão humana primordial ao nível das Nações Unidas. Compromissos e experiências práticas ainda são muito escassas, especialmente no nível da formulação de políticas. Este trabalho é indispensável para o bem-estar dos indivíduos e o bom funcionamento das famílias e comunidades. Tem uma dimensão intergeracional, uma vez que a assistência infantil e a educação informal dada às crianças em casa são essenciais para a formação do capital humano e a sustentabilidade das comunidades e sociedades. No entanto, constitui igualmente um grande obstáculo à emancipação feminina e à igualdade de género. Este trabalho é realizado principalmente por mulheres, geralmente mães. Globalmente, dedicam em média duas vezes e meia mais tempo a esse trabalho do que os homens, e até dez vezes mais em países como a Índia ou Marrocos. Essencial para o bom funcionamento da economia, este trabalho é, no entanto, estatisticamente invisível. O seu valor, estimado entre 10% e 39% do Produto Interno Bruto (PIB), dependendo do país, constitui um setor económico próprio. No entanto, não é reconhecido e permanece invisível para os formuladores de políticas. Por exemplo, limpar ou cozinhar em casa não faz parte do PIB. Ser pago para limpar ou cozinhar em outro local já faz. Como um economista francês ironicamente afirmou: “Case com a sua empregada doméstica e o PIB vai cair”.
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Nos países em vias de desenvolvimento, a questão do tempo gasto com o trabalho doméstico não remunerado é ainda mais relevante. As mulheres são confrontadas com a falta de infra-estruturas e serviços públicos (particularmente no acesso à energia, água e saneamento, mas também nos serviços de saúde, creches, transportes e telecomunicações). Nessas condições, muitas não têm disponibilidade para se dedicar a atividades lucrativas. Desta forma, as mães estão particularmente vulneráveis à pobreza. A falta de tempo constitui igualmente uma preocupação fundamental para as mães nos países desenvolvidos. Isso é claramente demonstrado no estudo “O que importa para as mães na Europa” conduzidas pelo MMM em 2011. Neste estudo, as mães referiram a falta de disponibilidade para a família, a necessidade de reconhecimento e o desejo de ter escolhas profissionais adequadas para conciliar com o seu papel de mães. A divisão desigual do trabalho não remunerado relativamente aos cuidados familiares constitui um obstáculo significativo à participação efetiva das mulheres na vida económica e política. Embora mais mães tenham uma vida profissional ativa, elas permanecem na obrigação de conciliar o trabalho com suas responsabilidades educacionais e domésticas. Este desequilíbrio torna-se assim uma questão de saúde pública. Para a mitigar, os pais devem ser encorajados a assumir as suas responsabilidades. Para além disso, por ser considerado economicamente não produtivo, o trabalho não remunerado da família permanece desvalorizado, mesmo quando é profissional. Os empregos nas áreas de cuidado e educação, essencialmente realizados por mulheres, tendencialmente são mal remunerados.
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Na falta de disponibilidade para participar plenamente da vida económica, as mães muitas vezes permanecem bloqueadas em situações inferiores ou dependentes. Em resultado disso, elas lutam para conquistar um mínimo de independência financeira e sofrem desproporcionalmente com a pobreza. Isto ocorre de forma mais significativa quando são as únicas cuidadoras dos filhos. Apesar de ter sido identificada há algum tempo por diversas organizações que lutam pelos direitos das mulheres, a questão do trabalho de assistência não remunerada à família permaneceu nas sombras até muito recentemente. Isto apesar da ligação entre a vulnerabilidade das mulheres à pobreza e a distribuição desigual do trabalho familiar não remunerado. Esta verifica-se não apenas entre homens e mulheres, mas também entre mulheres de diferentes classes sociais e económicas. Graças aos esforços conjuntos de diversas organizações de mulheres, a importância desta questão foi reconhecida pelos Estados Membros da ONU aquando da adoção em 2015 da agenda de desenvolvimento de 2030 e os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS 5 é dedicado aos direitos das mulheres e à igualdade de género, e inclui um objetivo relacionado com o trabalho de cuidados familiares não remunerados: “Reconhecer e valorizar o cuidado não remunerado e o trabalho doméstico por meio da prestação de serviços públicos, políticas de infra-estruturas e proteção social, assim como pela promoção da responsabilidade partilhada dentro do lar e da família, conforme o nacionalmente apropriado”.
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Que soluções propõem? Reconhecer: todas as mães trabalham - Tornar o trabalho de cuidados informais visível para os responsáveis políticos e para a opinião pública. Realizar estudos regulares sobre o uso do tempo e incluir esses dados nas estatísticas sobre mão-de-obra e sobre o PIB. - Conceder estatuto e direitos aos cuidadores informais: proteção social, formação; ter em conta os períodos de trabalho não remunerado no cálculo das pensões (“créditos de assistência”). - Sensibilizar para o valor deste trabalho essencial; contribuir para o desenvolvimento da primeira infância e para a educação: as crianças de hoje serão os cidadãos e a força de trabalho de amanhã. Reduzir: graças a infra-estruturas e serviços públicos específicos - Investir em infra-estruturas e serviços públicos acessíveis, tanto geograficamente como financeiramente (água e saneamento, electricidade e outros tipos de energia, transportes públicos, serviços de saúde, tecnologia e serviços de informação e comunicação, etc.). - Abranger regiões mais remotas com o objetivo claro de reduzir a pobreza das mulheres e a sua carga de trabalho doméstico não remunerado. Redistribuir: entre homens e mulheres / entre famílias e toda a sociedade - Apoiar o envolvimento dos pais e promover uma melhor partilha das responsabilidades domésticas e parentais: • Envolver os pais desde o início: colocar em prática licenças especiais para visitas
Camila Rodrigues pré-natais, licença de paternidade, licença parental compartilhada. • Combater estereótipos relativamente aos papéis dos homens e mulheres em casa através de campanhas de sensibilização, visando igualmente as mães. • Abordar a segregação ocupacional e a subvalorização dos empregos nos setores de cuidado e educação, encorajando os
homens a ingressar nessas profissões. - Cuidar é uma prioridade. Aplicar políticas coerentes em todos os setores, envolvendo trabalho, educação, saúde, assuntos sociais e familiares, tributação e estatuto das mulheres. Isto deverá contemplar políticas de conciliação entre a vida familiar e a vida profissional, tendo como alvo tanto os homens quanto as mulheres.
Nos últimos anos, os homens estão a começar a perceber que têm um papel a desempenhar no trabalho de cuidar. A MenCare é uma campanha global para promover a paternidade. Estão a ser realizados estudos com o objetivo de recolher dados sobre o papel do pai e como ele pode beneficiar crianças, mães e pais: menos violência, melhor saúde, mais igualdade de género. Para mais informações, ver o relatório de 2017 sobre o “Estado dos Pais do Mundo”. MenCare: https://men-care.org/
(Fonte: Portugal gender differences in time use) O tempo despendido em trabalho remunerado por homens não é muito superior ao tempo despendido pelas mulheres. Em média, o tempo total de trabalho remunerado dos homens é de 9 horas e 2 minutos por dia, enquanto o das mulheres é de 8 horas e 35 minutos por dia. A diferença de género, é de 27 minutos em relação ao trabalho remunerado. Considerando todos os entrevistados e usando o seu último dia de trabalho como referência – correspondendo ao último dia útil antes de a pesquisa ser aplicada à pessoa – o tempo médio gasto em tarefas domésticas e trabalho de assistência expõe uma forte disparidade de género, em particular no que diz respeito às tarefas domésticas. As mulheres gastam, diariamente, 55 minutos a mais do que os homens em cuidados. Isto abrange todas as atividades classificadas como trabalho de cuidado no estudo, como cuidados físicos prestados aos filhos, netos ou outra criança com menos de 15 anos de idade. Inclui igualmente o apoio a um membro adulto do agregado familiar que seja dependente ou tenha uma deficiência. As mulheres gastam igualmente mais 1 hora e 12 minutos todos os dias em tarefas domésticas (como limpar, arrumar ou tirar o lixo) ou arranjos em casa. As mulheres gastam um tempo médio total de 4 horas e 23 minutos diariamente no trabalho não remunerado, enquanto os homens dispendem 2 horas e 38 minutos. Ou seja, 1 hora e 45 minutos a menos.
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Como gerir a relação com os
filhos
quando se trabalha sem horários
Tal como muitas de vós, também sou mãe, mulher, esposa, filha, profissional, etc. Desempenho vários papéis e, tal como muitas de vós, também me debato com a eterna questão do equilíbrio entre os vários papéis e as várias áreas da vida.
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aos seus filhos com a atenção e o cuidado que precisam de dedicar aos seus empregos. Esta foi uma das razões que me levou a enveredar pelo caminho do empreendedorismo e de um negócio próprio: a necessidade de ter um maior controlo do meu tempo e uma maior disponibilidade para a família.
foto: fMarcelo Silva
Esta necessidade de equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional é muito maior em nós, mulheres, penso que tem que ver com o nosso nível de exigência no desempenho destes vários papéis. Para a maior parte das mães que trabalham com horários pouco flexíveis, é difícil equilibrar a atenção e o cuidado que querem dedicar
Fátima Gouveia e Silva No meu caso, a flexibilidade de horários permite-me uma gestão do meu tempo em função das minhas prioridades e daquilo que é mais importante para mim em determinada altura. Uma sensação de liberdade e, ao mesmo tempo, de controlo da minha vida. A possibilidade de estar disponível para as minhas filhas em variadas alturas, sejam eventos da escola, atividades extra, passeios, compras, lanches e outras ocasiões, permitiume também cultivar uma relação forte com elas, cheia de companheirismo e cumplicidade. Estar presente nos jogos, nas atividades e festas da escola, nas reuniões de pais, importa. Importa para os nossos filhos e importa para nós… A minha maior realização passa, principalmente, por ter acompanhado e continuar a acompanhar as minhas filhas em vários momentos importantes e menos importantes na vida delas. Às minhas filhas devo o meu maior crescimento enquanto pessoa e foi esta possibilidade de estar presente e em conexão com elas que me fez crescer enormemente (as crianças têm tanto para nos ensinar). Trabalhar sem horários ou com horários flexíveis não significa trabalhar menos, mas sim trabalhar de uma forma mais organizada, com disciplina e planeamento. Defino o meu horário em função do que é necessário, equilibro o meu tempo conforme preciso e estou mais presente para a família. As minhas filhas sabem que estou presente quando necessário ou na maior parte das situações em que necessitam, mas há que definir algumas regras e criar hábitos de modo a que se respeitem as necessidades de todos na família.
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Regras e hábitos - O horário é flexível, mas o trabalho tem que ser feito. Cabe-me a mim perceber e decidir sobre a prioridade e a importância de cada atividade. - Tarefas e compromissos são diferentes: há compromissos importantes que não deverão ser “adiáveis” ou com timings específicos, e que requerem a minha completa atenção, e há tarefas e atividades que desempenho ao longo do dia mas que posso decidir sobre o timing em que são feitas. Aqui tenho escolha. - Aprendi a comunicar as minhas necessidades e os meus limites: Nem sempre posso dar atenção. Se estou a trabalhar em casa não quer dizer que esteja disponível. Tive que aprender a dizer “agora não posso pois tenho que terminar o que estou a fazer” ou “dá-me 10 minutos e já te dou atenção” e as minhas filhas tiveram que aprender a respeitar o meu tempo. O facto de se habituarem a ver-me muitas vezes trabalhar em casa criou a sensação de disponibilidade permanente que foi preciso “educar”. • Um dos grandes inimigos da nossa conexão com os nossos filhos é o Multitasking – poder estar presente implica estar efetivamente presente. Se decido ter tempo para a família, tenho que saber desligar do trabalho, se tenho de trabalhar, tenho de o saber comunicar na certeza de que, mais tarde, haverá o tempo para a família. As duas coisas ao mesmo tempo não funcionam nem para nós nem para os nossos filhos. • Tal como gosto de definir tempo na minha agenda para mim, e não posso descurá-lo,
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também gosto de definir tempo específico para as minhas filhas em função dos seus horários escolares, e combinar, por exemplo, um almoço ou um lanche que nos permita conversar a sós.
familiar. Todos temos a ganhar, nós, os nossos filhos e as empresas. Para nós, mulheres, a flexibilidade de horários pode ser uma forma de sermos mais produtivas, mas mantendo o equilíbrio entre família e trabalho e sem sentimentos de culpa por não darmos a atenção que pretendíamos aos nossos filhos. As mulheres podem trabalhar tanto quanto os homens, mas como a maioria das responsabilidades domésticas e com os filhos ainda recai sobre as mulheres, precisamos de maior flexibilidade para fazer tudo funcionar.
“Cultivar a relação com as minhas filhas tem sido uma prioridade para mim, no entanto, não me posso esquecer das minhas necessidades pessoais e até profissionais para me sentir realizada e estar no meu melhor para mim e para elas.”
Planeamento e flexibilidade “É, na verdade, o planeamento que me permite ser mais flexível nos horários.”
Fátima Gouveia e Silva
Planear permite-me orientar o meu tempo em função do que é importante e não em resposta a urgências ou circunstâncias. Definir prioridades é um hábito essencial para a gestão do meu tempo. Quando planeio a minha semana tenho em conta os meus vários papéis e que tempo quero dedicar a cada um. Há alturas em que quero dedicar mais tempo à família, há alturas em que quero dedicar mais tempo ao trabalho, há altura em que é importante cultivar relações, há alturas em que é importante ter mais tempo para mim…
Mudança de Mindset Se mudarmos a cultura de trabalho existente e percebermos que o trabalho não é definido por horas gastas, mas pelas contribuições feitas, conseguimos um melhor equilíbrio entre trabalho e vida
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Trabalhar em casa pelo
Feng Shui
O que é o Feng Shui? Como se interliga com o trabalhar em casa? Como poderemos beneficiar do uso do Feng Shui na casa de forma a potenciar os projetos profissionais? Este artigo pretende fornecer algum contexto sobre a forma como podemos potenciar os nossos espaços para manter a produtividade e o foco no trabalho em casa.
foto: Maarten Deckers
Primeiro que tudo, é preciso esclarecer que o Feng Shui é uma antiga arte milenar chinesa que vem da observação direta da Terra. É muito experiencial e prática. Desde a antiguidade que todos os povos ao redor do globo criaram a sua própria versão de Feng Shui, ou seja, ferramentas de observação do seu contexto geográfico envolvente, que ajudam a encontrar o melhor local e a melhor altura para usufruir dele. Quer dizer que as regras do melhor local mudam consoante a geografia e a latitude de onde nos encontramos. Feng Shui tem tudo que ver com a procura da melhor zona para prosperar, o que, historicamente, quer dizer estar protegido do clima e numa área segura de perigos. Portanto, Feng Shui não tem nada de inatingível, é, na verdade, algo inato em cada um de nós. Todos vimos codificados com as ferramentas e sensibilidade necessárias para procurar o melhor lugar, onde nos sintamos seguros e completos.
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Claro que, ao longo do tempo, o Feng Shui, codificado pela primeira vez há cerca de cinco mil anos, tem vindo a usufruir de muitas camadas de informação que assentam na cosmologia, ou modo de ver o mundo, específico de uma cultura em particular, a chinesa. E essa distância cultural e geográfica pode dar-nos, de facto, a sensação de que o Feng Shui é algo distante, longínquo e que só alguns conseguem praticar. No entanto, o objetivo central do Feng Shui é tão simplesmente a avaliação e consequentes ajustes no nosso ambiente mais imediato. Hoje em dia, passamos muito do nosso tempo dentro de casa e esta abordagem adaptou-se também ao interior, dando-nos ferramentas de harmonização dentro das paredes da nossa casa. O Feng Shui traz consciência à forma como vivemos os nossos espaços, como os habitamos, como nos expressamos neles. Ao percebermos que realmente não somos, nunca, separados do nosso meio ambiente, começamos a perceber a realidade de uma forma mais interligada. O ambiente influencianos e nós influenciamos o que nos rodeia. Ao termos consciência desta profunda interligação, passamos a ser responsáveis pela forma como vivemos as nossas casas, pois elas espelham as nossas vidas. Ao usarmos o Feng Shui como ferramenta de interpretação da casa e da vida, a nossa casa torna-se um local ativo e dinâmico, onde podemos expressar, alinhar e concretizar as nossas intenções, ajudando a trazer essas materializações à vida também. Ajuda a percebermos as ansiedades e desafios expressados na casa e na vida, dando soluções de como os superar. Então, segundo estes pressupostos, o Feng Shui é uma ferramenta preciosa de vida.
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Sofia Batalha
Ainda mais quando aliamos o trabalho e projetos profissionais à casa, alojando lá a criação, o planeamento e o desenvolvimento de ideias e concretizações. Há, hoje, muitas formas de trabalhar em casa: usando portáteis que nos permitem fazer quase tudo, mas também na cozinha (fazendo comida para fora, por exemplo), ou criando artesanato. Todas estas formas de trabalhar têm especificidades diferentes e requerem adequações específicas no espaço da casa.
Seguem-se 9 sugestões para manter o foco e a produtividade ao trabalhar em casa: - Repense a posição do local de trabalho no espaço – Pode trabalhar numa mesa, num estirador, num fogão ou num tear. O importante é que encontre o melhor local para colocar o objeto do seu trabalho para que se mantenha focada e em fluxo. Para que a sua mente esteja ativa e dinâmica, mas sem distrações. Evite, por isso, colocarse em zona de passagem, de costas para portas, ou virada para a parede. Evite ter vigas ou móveis pendurados em cima da cabeça, pois pode criar preocupações ou ansiedade. - A mesa - Não tenha a sua mesa de frente
Sofia Batalha para uma janela, pois os olhos tendem a distrair-se com tudo o que entra no nosso campo visual. Não coloque a mesa debaixo de uma janela, mas permita que a luz reflita lateralmente. - Apoie-se - A cadeira no espaço de trabalho é muito importante, deve ser ergonómica e confortável. Não demasiado confortável para que mantenha a mente alerta. Deve ter costas altas e braços de apoio. Sente-se de costas para a parede de forma a ver a divisão onde trabalha. - Boa luz - Mantenha a sua área de trabalho iluminada, aproveitando a luz solar natural ou usando lâmpadas brancas. Para manter um trabalho focado na ausência de luz natural, é melhor usar focos de luz de espectro total. Abra as janelas sempre que puder, deixe o ar fluir! - Limpar a desordem e organizar as suas coisas - Organize os seus papéis, arquivos e fios. Mantenha a sua mesa organizada, assim como a área de trabalho, permitindo um fluxo livre de passagem. Diferencie a desordem do armazenamento. Os itens armazenados não precisam de ser catalogados e rotulados, mas devem ser guardados num armário ou em dossiers para não impedir o fluxo de energia. Ao impedir a passagem, impede o desenvolvimento e a evolução de projetos e propostas. - Use decorações apropriadas – Todos os objetos têm influência sobre nós. As decorações na área de trabalho devem simbolizar os seus objetivos, os seus desejos ou as suas ambições. Não inunde
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o espaço com decorações ou obras de arte, permita sempre o espaço livre. • As cores – Não use cores extremas, use cores que permitam estar no espaço sem se cansar visualmente dele. - As plantas – Pode ter plantas que purificam o ar no seu espaço de trabalho em casa, tais como: bambu, árvore-da-borracha ou lírio da paz. Se recebe clientes no seu espaço, pode também usar a Espada de São Jorge. - O acesso – Se possível, use uma entrada separada para o seu local de trabalho em casa, ou use um quarto perto da porta da frente ou de trás da casa ou apartamento. Crie um pequeno ritual de transição no início e fim do seu dia de trabalho de forma a separar a vivência pessoal e doméstica da profissional e comercial. - Inspiração – Quer cozinhe, crie, projete ou escreva, o seu local de trabalho deve ser inspirador, para que nos momentos mais desafiantes lhe sirva de base de motivação e perseverança! O que a inspira?
Sofia Batalha estuda Feng Shui desde 2004. Criadora, Professora e Consultora do Método de Feng Shui Simbólico®, Lunar e Feminino® Desde 2003. Coordenadora do Curso de Feng Shui do Instituto Macrobiótico de Portugal Autora da Coleção da Casa Simbólica Tendo aprendido várias abordagens desta arte, é, neste momento, coordenadora do curso de Feng Shui no Instituto Macrobiótico de Portugal sendo também a criadora do curso de Feng Shui Lunar.
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Livro “Uma Casa Feliz Diz-me onde moras, dir-te-ei quem és”, por Sofia Batalha Lançamento no dia 21 de Março de 2019
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Este livro começa na casa, esse local que acolhe a vivência do dia-a-dia. No entanto, vivemos em casa de ilusões, contradições, paradoxos e mitos. Tudo o que lá acontece e se manifesta tem o paralelismo direto com a vida. O que quer fazer na casa mas não consegue? E na vida? Permite-se usufruir da casa? Sem pressões, sem culpa, sem vergonha. Simplesmente desfrutar, sem limpar ou arrumar! Que locais inacessíveis tem na sua casa? Pode ser uma divisão, uma prateleira, uma gaveta. Pode estar inacessível por estar longe, mal posicionada ou demasiado cheio. Onde não acede na casa expressa onde não quer ou pode aceder na vida. Segundo esta visão, uma casa é mais que apenas um local. É uma estrutura física, psíquica e energética de conexões profundas. Ao viver a casa conscientemente e a vida deliberadamente, as pequenas rotinas diárias podem tornar-se rituais de conexão e transcendência. Numa leitura leve e prática, explorando as raízes do feng shui, trazendo significados a cada uma das divisões e vivências na casa, vamos resgatando esta sabedoria antiga e tão essencial para os dias de hoje. Quão feliz é a sua casa?
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Sara Aguiar
EMPREENDEDORISMO
Um projeto no feminino Ready2Start A Sara sentiu-se Ready2Start e avançou! E você?
Sara Aguiar conta uma história invulgar. Natural de Santa Maria da Feira, chegou a Lisboa com 18 anos. A sua ambição em Relações Internacionais levou-a a ingressar num curso do ensino superior, que veio a ser alterado por novas oportunidades que agarrou. Na descoberta do empreendedorismo, Sara é hoje, aos 21 anos, cofundadora de uma startup. Assume-se como sonhadora, empreendedora, decidida, mas, sobretudo, como uma pessoa com
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muita vontade para continuar a conquistar. Torna-se muito fácil imaginar a quantidade de estudantes de ensino superior que sentem a necessidade de deixar para trás tantos sonhos para caminharem à conquista de outros tantos. A Sara não foi diferente. Chegou a Lisboa decidida da sua entrada na licenciatura de Ciência Política e Relações Internacionais (CPRI) na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Adepta da
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política viu, aí, o caminho para aquilo que sempre quis, “deixar uma marca no mundo”, afirma. Contudo, não foi só de política que o seu sonho se traçou. Foi mais longe e a ambição de integrar os quadros de uma qualquer organização internacional nunca despareceram. Através da Enterpreneur in Residence, um programa da Fábrica de Startups com a The Navigator Company, teve o seu primeiro contacto com o mundo das startups e começou o seu percurso no empreendedorismo. Um percurso que se cruzava, ainda, com um mestrado em Gestão na Nova School of Business and Economics e que, inicialmente, foi alterado e colocado em espera pela sua entrada na Microsoft. Após um processo de recrutamento no qual o esforço e a dedicação trabalharam par a par, encontrou-se na possibilidade de agarrar uma oportunidade capaz de impulsionar a sua carreira. Contudo, o plano veio alterar-se quando, em setembro de 2018, recebeu o convite para ser cofundadora de uma startup a nascer. Uma decisão “difícil” e que “veio alterar absolutamente tudo”, explica a Sara. Por um lado, a oportunidade de entrar numa empresa com tanto significado para si, como a Microsoft e, por outro lado, a oportunidade de assumir um cargo com esse nível de responsabilidade aos 21 anos, ao lado de pessoas com muito mais experiência. Mas se se pergunta o que é a Ready2Start, é a própria Sara que explica, como já se habituou a fazer, a partir do momento em que a startup esteve presente na edição de 2018 da WebSummit e assumiu o seu lançamento oficialmente: “A Ready2Start é uma startup que vende negócios prontos a lançar”. Destaca-se pela venda de modelos de negócio prontos a funcionar, de forma a que todos tenham a oportunidade de experimentar o que é ser empreendedor. A
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partir de um catálogo, as pessoas podem escolher o negócio com que mais se identificam e, logo após a encomenda, receberem em casa um conjunto de materiais que permitem lançar esse negócio sem a necessidade de criar uma empresa. É só escolher e esperar que a caixa da Ready2Start chegue à caixa de correio com o negócio lá dentro. Quando avança com a entrada na Ready2Start, assume-se como sócia fundadora e Diretora de Marketing. Um cargo desafiante que significou, sobretudo, reconhecimento. “A partir do momento em que aceitasse, ia ser incrível, mas ia ser também muito difícil em alguns momentos e, portanto, eu ia ter de desenvolver responsabilidade, maturidade e humildade suficientes para conseguir lidar com questões complexas e conseguir ultrapassálas, de modo a contribuir para que a Ready2Start fosse um sucesso, porque essa era a confiança que estava a ser depositada em mim”, explica a Sara. A Ready2Start assume ser mais do que uma startup formadora de negócios. Assume-se como futuro e é isso que para si própria representa, também. Mais do que um ciclo de aprendizagem e de crescimento em si, representa o futuro para as pessoas que vão ter com este produto. “A Ready2Start é aquilo que vai materializar a vontade que sempre tive de criar um impacto positivo na vida das pessoas, porque tem, de facto, a capacidade de ajudar a concretizar sonhos e de ser a solução para os problemas de quem sempre quis ter o seu negócio próprio e nunca soube por onde começar”. Para além da experiência profissional em áreas de comunicação, design e inovação, Sara conta, ainda, com formação internacional em marketing e empreendedorismo pela Copenhagen Business School e a The Hague University of Applied Sciences.
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Rita Completo, Ana Madureira, Sónia Cristina Paiva
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CONSULTORIA
Consultoria de
imagem
uma profissão do presente e para o futuro
foto: Alexandra Gorn
A preocupação com a imagem pessoal é mais do que uma questão de estética, é uma questão de valorização profissional, de autoestima, de responsabilidade ambiental e mesmo de saúde.
Saber gerir o nosso guarda-roupa ajudanos a manter uma boa aparência que esteja adequada a qualquer contexto que tenhamos que enfrentar, mas também a evitar o excesso de roupas que não se usam, as quais, para além de nos ocuparem espaço em casa, têm custos ambientais e económicos. É todo um mundo de desafios que se
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esconde nesta área de atividade. É possível aprender a gastar menos e a usufruir mais e, para quem tem dificuldades em dominar esta arte, há profissionais dedicadas e experientes que podem ajudar nesta caminhada. Fomos conhecer três consultoras de imagem que nos deixam algumas dicas fundamentais.
foto: Cátia Alpedrinha Caetano
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Rita Completo – Consultora de Imagem www.ritacompleto.com “Nunca terá uma segunda oportunidade de causar uma boa primeira impressão.” Aaron Burns Nos dias de hoje, quer queiramos quer não, a nossa imagem é o nosso cartão de visita. É a primeira impressão que os outros têm de nós! Antes de sermos ouvidos, já estamos a ser vistos e a comunicar uma mensagem. O segredo é aceitar e saber usar este facto a nosso favor. Isso é fundamental num contexto profissional, principalmente para nós empreendedoras que somos embaixadoras da nossa marca. A imagem que temos irá transmitir uma certa mensagem aos nossos parceiros, fornecedores, investidores, clientes. Para conseguirmos ter sucesso é essencial que esta mensagem transmitida seja autêntica e adequada. E, atenção, não falo de vestir um fato todos os dias, não, não!! Falo de criar uma imagem fiel à nossa personalidade e que consiga reflectir o profissionalismo e credibilidade do negócio. Para isso, há que pensar num equilíbrio entre o gosto pessoal, rotinas e especificidade do negócio. Claro que todas nós queremos que o nosso profissionalismo seja o único factor em causa. No entanto, não nos podemos esquecer de dois aspectos muito importantes:
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1. O cliente pode não ter tempo para avaliar o nosso profissionalismo e ter de decidir com base na empatia que cria connosco. 2. A nossa auto-estima e auto-confiança afectam bastante o nosso desempenho. O objectivo da consultoria de imagem é partilhar as ferramentas necessárias para que consigamos criar um Estilo Pessoal autêntico, fiel a nós próprias e ao nosso negócio e que transmita aos outros segurança e profissionalismo. E, acima de tudo, que nos dê a confiança que nós merecemos.
10 Dicas para um Estilo Pessoal de sucesso em contexto profissional 1. Mesmo que o ambiente seja informal, não esquecer de manter sempre uma imagem profissional. 2. Evitar usar mais do que uma a duas peças casuais ao mesmo tempo. 3. Uma imagem equilibrada consegue-se pela mistura de peças casuais com peças mais formais (smart casual). 4. Evitar usar peças muito casuais em certos eventos. Por exemplo, não é aconselhável o uso de calças de ganga numa reunião com um cliente ou um evento de networking. 5. As cores neutras são sempre uma opção segura e elegante. 6. Usar apenas peças com bom aspecto, que não estejam estragadas ou muito gastas. 7. Evitar acessórios barulhentos, pois desvia a atenção de quem está a ouvir. 8. Usar a blusa por dentro das calças/saia dá um ar muito mais composto e ajuda a adelgaçar a cintura. 9. Evitar decotes exagerados, transparências e mini-saias demasiado curtas. 10. Escolher uma uma peça (roupa ou acessório) mais arrojada para dar toque de personalidade.
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foto: Daniela Santos Fotografia
são trabalhadas em simultâneo com técnicas de Desenvolvimento Pessoal. Assim, o cliente tem um serviço de coaching em Comunicação com um acompanhamento e capacitação comportamental ao longo do projeto, extensível às suas equipas.
10 Dicas para construir uma imagem de sucesso
Ana Madureira - Dona Imagem www.donaimagem.pt A Ana Madureira é a criadora do negócio e marca nacional Dona Imagem, com ateliêsede em Torres Novas, mesmo no centro de Portugal. Possui o Mestrado e Licenciatura em Ciências da Comunicação e iniciou a sua carreira na Comunicação Autárquica. Empreendedora desde cedo, abraçou sempre projetos por conta própria, a par da sua atividade pessoal. Foi a sua constante necessidade de aprender mais, de conhecer mais coisas e de aprofundar a sua especialização e experiência em Comunicação e Relações Públicas, que fez com que em 2018 pusesse um “basta” ao trabalho por conta de outrem. Porque apesar da certeza e do ordenado fixo que isso lhe dava, e apesar de adorar fazer o que fazia, faltava muito espaço e tempo para poder ler e trabalhar sobre mil e uma áreas diferentes. A ideia de ter o próprio negócio já tinha pelo menos 10 anos, mas foi em 2016 que finalmente desenhou a persona do seu negócio. E nasceu, assim, a Dona Imagem, quase uma espécie de alter-ego. Com a Dona Imagem, a Ana decidiu criar o seu próprio conceito de Comunicação: uma comunicação integrada e integradora, com uma abordagem holística em organizações e particulares, em que as técnicas de comunicação institucional e estratégias de Marketing e Relações Públicas
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1. Mantenha sempre uma imagem impecável, mesmo se trabalhar a partir de casa; 2. Essa imagem exterior deve ser sempre harmonizada com o interior. De nada vale um salto alto se as pernas tremem com medo de falar em público; 3. Trabalhe a sua inteligência emocional e a sua assertividade todos os dias; 4. Seja coerente. O pior que pode existir para uma marca é afirmar que é de uma forma e não agir em conformidade; 5. Monitorize as suas redes sociais com frequência; 6. Aposte no networking; 7. Elogie os outros e fique feliz com o seu sucesso. E dê-lhes os parabéns. Substitua a inveja por sentimentos e ações mais nobres; 8. Organize o seu CV e a sua biografia com frequência; 9. Aprenda a posicionar-se e a focar-se; 10. Organize o seu closet, no mínimo, uma vez por estação. Aprenda qual é a paleta de cores mais indicada para si, bem como os cortes, padrões e tecidos (contrate um serviço especializado para isso) e crie o seu próprio estilo pessoal.
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Sónia Cristina Paiva – Ponto Pessoal www.soniacristinapaiva.com Sónia Cristina Paiva é Consultora de Imagem e Especialista em Marketing Pessoal. Presta serviços de consultoria de Imagem, presencial e online, a homens e mulheres, em contexto de trabalho e ocasiões especiais. Sónia considera que, embora não seja um hábito comum da nossa sociedade, o recurso ao serviço de Consultoria de Imagem é quase que obrigatório. É um serviço que permite evidenciar o que cada um de nós tem de melhor através da imagem e estilo pessoal. O clientes que recorrem aos seus serviços de consultoria de imagem têm dúvidas sobre as peças de roupa que lhes são mais adequadas. Apresentam frequentemente falta de confiança e autoestima e mesmo de conhecimento sobre esta área. Por vezes têm uma festa que exige um determinado Dress Code e não sabem o que vestir, outras, estão numa fase da sua vida em que necessitam de uma mudança, de um “new look” . No decurso deste processo de aprendizagem, que dependerá do tipo de serviço que se pretenda contratar, cada cliente passa a ter consciência de tudo aquilo que mais a(o) valoriza, prescindindo com maior facilidade de tudo o que não a(o) favorece. Passa a estar apta(o) para
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coordenar todos os seus looks para as ocasiões triviais e especiais da sua vida, economizando tempo e dinheiro ao selecionar as suas compras em função das suas necessidades, sentindo-se melhor e mais pro-ativa(o). Quando gostamos da nossa imagem e do que vimos, a autoestima aumenta, logo, sentimo-nos melhor e atingimos com mais facilidade os nossos objetivos! A consultoria de imagem é uma profissão em que o desafio é predominante, pelo simples facto de ajudarmos a(o) cliente a clarificar as suas inúmeras qualidades, explorando-as da melhor forma possível, devendo ajustá-las ao ambiente em que se insere. Quando Sónia fala de aparência, não se refere apenas ao uso de um determinado tipo de roupa, implica igualmente estar atento aos detalhes, desde a forma de vestir aos acessórios. Tudo se pode traduzir em estilo e personalidade. Uma personalidade criativa muitas vezes gosta de chamar atenção através da originalidade das suas escolhas. A melhor forma de personalizar e diversificar o visual é “acessorizar”!
Seis Acessórios essenciais que dão personalidade a um visual básico e tornam o look fashion 1. As malas são as fiéis companheiras das mulheres e para além de serem um acessório muito útil, fazem parte do nosso look, e influência o visual, por isso a aposta numa boa carteira é fundamental! Para manter a versatilidade, aposte em cores neutras como o preto, castanho, camel ou marfim, bem como num tamanho médio que dá muito jeito em dias em
Rita Completo, Ana Madureira, Sónia Cristina Paiva que precisa de levar muitas coisas na mala. Quando for às compras ou se pedir que lhe ofereçam algo, pense em formatos elegantes e pegas únicas. 2. O Chapéu de feltro é um acessório que transmite glamour, feminilidade, ousadia e pode conduzir a um look sedutor. Existem pormenores que deve ter em conta na escolha do chapéu, como a sua estrutura física. É importante saber que quanto mais baixa for, menores devem ser as abas do chapéu e o cone mais alto, caso contrário corre o risco de parecer mais baixa. 3. Os óculos de sol são muito mais do que um acessório de moda, são fundamentais para a proteção ocular, por isso se investir neste acessório e optar por modelos que se adeqúem ao seu tipo de rosto, com certeza não irá passar despercebida. 4. As jóias e a bijutaria devem otimizar o estilo de quem as pretende usar e estar em sintonia com o seu look. Usar uma
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boa composição de brincos, colares, pulseiras e anéis marcantes faz com que a mulher tenha destaque, relevando a sua elegância e feminilidade. 5. Os cintos são acessórios muito versáteis que fazem toda a diferença no look; permitem definir a silhueta e podem ser usados de várias formas, com vestidos, sobretudos, blazers e camisas. Em looks monocromáticos, o cinto largo ou estreito funciona muito bem, um truque de styling que pode dar uma nova cara ao blazer e sobretudo e deixar o visual interessante e criativo. Com jeans podemos usar cintos finos ou grossos, os finos tornam o visual mais discreto. Para um look mais descontraído, prefira os de couro ou cintos com aplicações de tachas, pedras ou spikes. 6. Os lenços, além de serem acessórios de charme, são ótimos aliados para aqueles dias de “bad hair day”, que pode solucionar com diferentes penteados incrementados com este acessório.
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VESTUÁRIO
bra fitting saúde e
imagem pessoal
Foi há cerca de 6 anos que descobri o maravilhoso mundo do Bra Fitting e experienciei a forma como este melhorou a minha vida e autoestima. Decidi, por isso, mudar de rumo e especializar-me nesta área. Em 2016, criei a Bra4all – Lingerie e Bra Fiting, em Torres Novas, onde faço aconselhamento a todas as mulheres que procuram um sutiã confortável e adequado ao seu corpo. Para quem não conhece o conceito, uma profissional de Bra Fitting é alguém com profundo conhecimento na forma como os sutiãs vestem e na sua adequação às necessidades de cada mulher ao nível do tamanho e morfologia dos seios, necessidade de suporte, gosto pessoal, condição física e vestuário. Através de uma consulta de Bra Fitting, é possível avaliar e diagnosticar certos problemas decorrentes do uso constante de uma sutiã inadequado e recomendar os modelos mais apropriados a cada mulher. A melhor forma de o fazer é experimentar várias tipologias de sutiã para perceber como assentam no corpo, ao mesmo tempo que é explicado qual a função e importância de cada componente no trabalho de suporte do sutiã.
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Infelizmente, no nosso país, há um enorme desconhecimento do quão prejudicial à saúde pode ser um sutiã inadequado, assim como do impacto que este pode ter na forma como a roupa assenta no corpo e, consequentemente, na imagem e autoestima da mulher! Talvez porque não se vê, não se lhe dê o devido valor e se procure o mais “barato” ou mais “à mão”, mas que, infelizmente, pode resultar também no mais prejudicial. Alguns dos problemas mais comuns decorrentes do uso de um sutiã inadequado são a má postura e as dores na cervical, vergões e depressões nos ombros, flacidez dos seios, erupções cutâneas, má digestão, etc. Mas um dos mais preocupantes para mim é a influência que este pode ter na alteração da estrutura
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da própria mama. O sutiã é um elemento que envolve o tecido mamário, através das copas. Se estas forem demasiado pequenas, comprimem este tecido e pode propiciar o desenvolvimento de nódulos, situação deveras preocupante nos dias que correm, quando tanto se fala em “prevenção” e “cuidar dos seios”. Também a nossa autoestima sofre quando usamos o sutiã errado. Um sutiã que não esteja ajustado ao nosso corpo tende a deixar os seios descaídos e achatados, fazendo-os parecer maiores e a nossa cintura mais curta. Assim, dificilmente a roupa que vestimos irá assentar bem, não gostamos da imagem que vemos ao espelho e a nossa confiança e autoestima diminuem. Com alguma preocupação, verifico que a maioria das mulheres no nosso país não usa o sutiã certo, o que deriva, não só da desvalorização por parte destas, mas também de uma enorme lacuna ao nível da especialização de quem trabalha na área e da oferta de tamanhos disponível. O ideal ANTES
sempre que compram um sutiã é serem auxiliadas por uma profissional em Bra Fitting, mas também que essa profissional disponha de um leque alargado de tamanhos e modelos com que seja possível trabalhar. Se só dispõem, por exemplo, de copas B, C e D e de bandas 34 a 40, é impossível aconselhar, pois dificilmente a maioria das mulheres se “encaixa” num leque tão redutor de tamanhos. Onde me encaixaria eu, por exemplo, que oscilo entre um 30G e um 32FF? Tenham presente que a maioria das marcas com que as profissionais em Bra Fitting trabalham fabrica mais de 100 tamanhos para um só modelo de sutiã e efetuam inúmeros estudos morfológicos e fisiológicos ao corpo da mulher por forma a adequar cada vez mais o sutiã às suas necessidades e exigências de suporte e conforto, seja qual for a ocasião. Existem alguns sinais óbvios de que o sutiã que estão a usar não é o adequado e, se se reverem nesses sinais, é importante que procurem ajuda especializada. Por exemplo, se a banda sobe nas costas, as alças vincam os ombros, os aros não encostam ao corpo e as copas não envolvem os seios na totalidade, provocando a comummente chamada “dupla mama”, então o vosso sutiã é o vosso pior inimigo! Mas então o que é necessário para que um sutiã seja o perfeito para o vosso corpo? Em primeiro lugar, tenham atenção à banda. Este elemento é o principal responsável pelo trabalho de suporte do sutiã e, para isso, tem de estar bem justa ao redor do vosso torso. DEPOIS
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Se subir nas costas, é porque está larga e o peso dos vossos seios está a ser canalizado para os ombros e cervical, provocando alguns dos sintomas referidos anteriormente. Seguidamente, tenham em atenção que as copas têm de ter tamanho suficiente para envolver todo o volume dos vossos seios. Com alguma preocupação, verifico que a maioria das mulheres usa copas demasiado pequenas e não está preparada mentalmente para aceitar o seu “real” tamanho de copa. Isso acontece, sobretudo, quando confrontam a sua imagem de sutiã ao espelho e vêm mais tecido/volume. É por isso que é fundamental que vistam sempre uma camisola ou blusa para visualizarem o efeito daquele modelo na vossa silhueta. É quando percebem que, na realidade, o vosso busto parece mais pequeno, pois está bem “arrumado”; a vossa cintura mais longa e a vossa figura mais bonita. Outro aspeto fundamental, no caso específico de sutiãs com aros, é que estes envolvam os seios, desde o centro até às axilas e que fiquem posicionados diretamente abaixo destes, assentes sobre as costelas. Existe o grande mito de que os aros são prejudiciais, o que não é verdade, desde que as copas sejam as adequadas ao vosso corpo. No caso de seios maiores e mais pesados, os aros desempenham até um papel fundamental para o correto posicionamento do sutiã no corpo e consequente eficaz trabalho de suporte. De referir que, quando o sutiã é novo, a banda
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tem de ser apertada na posição mais larga, de modo a poder ser ajustada à medida que, com o tempo e uso, os elásticos e tecido vão perdendo alguma da sua força. Conseguem, assim, aumentar o tempo de vida do sutiã, que será sempre uma peça bastante duradoura, desde que haja o devido cuidado com as lavagens e o uso. Tenham ainda presente que o “tamanho certo” também é influenciado pelo fabricante, pela marca ou pelo modelo, podendo uma mulher vestir vários tamanhos diferentes ao mesmo tempo. Não se guiem, portanto, pelo que está escrito na etiqueta, mas sim pela forma como o sutiã se ajusta corretamente ao vosso corpo. Estejam também recetivas a experimentar modelos e tipologias que, à partida, não seriam a vossa escolha, pois podem-se surpreender com o resultado e verificar que é o mais adequado para vocês. Para finalizar, recomendo que, quer seja na compra de sutiãs para o dia-a-dia ou para uma ocasião especial, procurem o aconselhamento de alguém especializado. A escolha do modelo certo é muito difícil, especialmente quando o fazem sozinhas, pois é sempre influenciada pelo formato do vosso peito, da vossa estatura, da tipologia do sutiã, da composição dos materiais, etc. Partindo do princípio de que “menos é mais”, encarem a compra de um sutiã como um investimento para a vossa saúde, nem que tenham apenas dois ou três. Mais vale apenas esses dois ou três, do que uma gaveta cheia de sutiãs inimigos do vosso corpo e com os quais se sentem desconfortáveis! Ana Rita Batista
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Karina Carvalho
Avó Maria
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empreender para quebrar o ciclo da pobreza
Quando o tempo ainda se media na sucessão das colheitas de cana de açúcar, mandioca, batata doce e banana pão, e as meninas se faziam mulheres entre o Cacimbo e a Estação das Chuvas, passando da cubata do pai para a cubata do marido, tendo por dote uns quantos quilos de fuba, umas quantas galinhas, e única promessa de futuro trabalhar desde o nascer do dia até ao pôr-do-sol sem ser dona de nada, nem dos filhos. Nesse Dombe Grande da minha alma africana, parece que pouco mudou desde então. Mas mudou tudo. O tempo agora tem consigo a marca do antes e do depois da guerra, e, sobretudo, tem gravado no pó os passos das mulheres que, como a minha avó, quebraram o ciclo de pobreza. Ser capaz de fazê-lo enquanto mulher, negra, pobre, foi extraordinário. Ser capaz de fazê-lo sem trair a sua identidade, respeitando-se e fazendo-se respeitar, mais ainda. Dir-me-ão que falo da minha avó e que, portanto, o meu julgamento é imperfeito. Sem dúvida que o meu julgamento é imperfeito. Ela era rija, obstinada, intransigente, nariz levantado, dona da sua razão, e tantas vezes muito pouco tolerante ao erro e à frustração, seus e dos que lhe eram próximos. Como são a minha mãe e as minhas tias, filhas de sua mãe. E eu própria, mais vezes do que consigo admitir. Quanto à minha avó, é preciso perceber que, não obstante o colonial privilégio de ter nascido filha do Soba da aldeia, ela carregava o estigma da classe inferiorizada e subjugada. Na pele. Entre as pernas. Nas oportunidades. Naquela época, a mobilidade social era um
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A história da minha avó Maria tem início numa aldeia a Sul do Equador, poucos anos passavam do início do século XX. facto insofismável. Ter ou não ter, ser ou não Ser, eram matéria táctil. Quer dizer, eram tanto objeto, na propriedade, quanto sujeito em autodeterminação. E, por isso, não espanta que na estória da minha avó a pessoa mais relevante além de si própria tenha sido o meu avô. Esse rapaz branco que apareceu na aldeia e a levou com ela, começando a vida, claro está, sob a égide do pragmatismo. Partilharam a vontade de se libertarem de uma vida pobre, e isso bastou para uni-los até ao fim da vida. Ele vinha de longe e queria estabelecerse: um negócio próprio, uma casa que pudesse dizer que era sua, filhos, mulher. Por esta ordem. O meu avô Manuel José era algarvio, e fazia acompanhar este nome tão português dos modos de agir, de pensar e de sentir daquele tempo na Ria Formosa. Por exemplo, a sacralização dos papéis de género e um exercício tradicional da honra assente num único aforismo: “palavra dada é palavra honrada”. Conta-se que o pai do avô contraiu uma dívida que não conseguiu ressarcir em tempo. E que
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CRÓNICA o filho mais velho foi para África nos anos 30 apostado em fazer fortuna e recuperar a honra da família. A parte de recuperar a honra fez-se num tempo relativamente curto, tendo em conta a abundância de oportunidades no contexto de Angola na altura. A fortuna deve medir-se no presente de então dos seus conterrâneosem Portugal. Nesses anos, a Metrópole era um território estéril povoadode gente sem esperança, e subjugadapela miséria, pela fome e pelo analfabetismo. Nasceram filhos, entretanto – um, dois, três, quatro, cinco, seis. A quem repetiram os nomes da família na Ria Formosa, mas, como os de lá longe, sem plano real de futuro além de serem nascidos. Na cabeça do avô, os catraios já tinham bem mais do que ele por nunca terem conhecido a fome. Na cabeça da avó, os candengues só teriam mais do que ela quando soubessem ler, e escrever, e trabalhar num escritório, e serem empresários e administradores, e ganharem a lotaria, e aparecerem na televisão, e em vídeos no YouTube a dançar. A fazerem tudo aquilo que ela nem nunca sequer ousou sonhar quando dormia olhando as estrelas desde a cubata do pai no Dembe Grande. Ao longo dos anos, primeiro, a casa do Bairro do Benfica, e depois, a casa do Quioche, foram-se enchendo de familiares, amigos, conhecidos, à procura de partilhar a boa-sorte do Manuel Zéi, que a todos recebia com trabalho e mesa farta. Um dia disse-me: “Nini, eu percebi que tinha de fazer pelos meus filhos”. E foi o que fez. Primeiro anexou à casa do Quioche uma loja. Depois comprou chatas (barcos de pesca). E depois terrenos no Dombe. E transformou, multiplicando, o património da família. O avô era um homem bom, mas sem horizontes claros ou maiores que os da Tradição. E a concorrência da avó, ainda que “sui generis” pela ousadia, não lhe fazia grande mossa conquanto o homem-pai assim se mantivesse inexorável. A minha mãe conta que a casa onde cresceram era de muito trabalho, e mesmo que nenhum dos filhos o confesse abertamente, a verdade é que a vida imposta pela mãe era austera. Mais difícil de compreender até que a disciplina do
pai, mais assente num provincianismo bacoco do que numa gestão racional de expetativas. De parte a parte. A minha avó, pelo contrário, tinha um mapa desenhado a regra e esquadro, alicerçado num padrão de exigência inexcedível. Trabalhar o mais possível, sacrificar-se até à exaustão, demandar que a acompanhassem nesse caminho que foi trilhando para os afastar o mais possível da história dos pobres, escrita a pé, ou na carcaça do comboio do Caminho de Ferro de Benguela. Ou novaivém constante a caminho da praia e do mercado da Caponte onde há fuba, feijão e peixe seco. Foram tempos duros. Para as raparigas e para os rapazes. Mais para as raparigas, já se sabe. Mas estudaram todos até poderem usar mangas de alpaca, o que para a minha avó, que aprendeu a escrever o nome completo com cabelos brancos e num caderno de duas linhas, foi de uma felicidade imensa. Ela sabia – e disse – que se tivesse aprendido ler e escrever a sua vida teria sido completamente diferente. Afamília agradece. Eu agradeço. A educação formal que nos empoderou a todos. Mas também, e sobretudo, resiliência, a tenacidade, o empreendedorismo da minha avó. E a sua autoconfiança. Nós, mulheres, temos pouca confiança em nós próprias, e ela, no tempo em que viveu, tão avesso ao empoderamento das mulheres, sem poder ter nada que fosse seu, fez-se dona, sem freio, da única coisa que podia: dos filhos. Do destino dos filhos. Homenageámos a minha avó na igreja que o meu avô construiu. Depois fomos para a casa de ambos e celebrámos a sua vida. E ainda que tivéssemos ficado tod@s órfãos da sua vontade e da sua utopia, não nos quedámos. Nós, filhos, netos, bisnetos, somos dessa estirpe de gente que faz força da cor da pele, do género, das capacidades, conhecendo quem somos. E isso é, para mim, o maior legado que a minha avó nos deixou: o exercício magnífico da liberdade. Onde quer que ela esteja agora – excelsa- eu hoje sou Mulher porque ela, sendo mulher, se Libertou. Eu amo-te minha Avó Maria, e segue daqui o abraço saudoso desta tua neta Nini, 08-01-2019 Karina Carvalho (Socióloga- Membro Fundador da Plataforma de Reflexão Angola)
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Novos Horizontes
Brasil Portugal para
foto: Killian Pham
“Corpos em movimento Universo em expansão O apartamento que era tão pequeno Não acaba mais Vamos dar um tempo Não sei quem deu a sugestão Aquele sentimento que era passageiro Não acaba mais Novos horizontes Se não for isso, o que será? Quem constrói a ponte Não conhece o lado de lá Quero explodir as grades E voar Não tenho pra onde ir Mas não quero ficar Suspender a queda livre Libertar O que não tem fim sempre acaba assim”
Esta é a letra de uma música de autoria do cantor e compositor brasileiro Humberto Gessinger, do qual sou uma fã incondicional. Começo minha reflexão com ela porque os poetas dizem muito melhor do que os cientistas e filósofos sobre as dores e delícias de sermos humanos. E o espírito poético que
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paira cá sobre a terra de Camões e Pessoa me deixa bastante confortável para admitir isto... “Novos Horizontes” foi uma das músicas TOP10 em minha playlist às vésperas da mudança mais radical de minha vida: migrar para Portugal. Apesar da minha modesta
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CRÓNICA
habilidade lírica, sua letra e melodia me atravessam os muros da racionalidade e comunicam perfeitamente a inquietação que me habita há tanto tempo sobre o tamanho e a complexidade do mundo e o movimento que isso implica. A escolha por Portugal passou por requisitos objetivos, é claro, porque nem só de filosofia e emoção vive o ser humano. A bem da verdade, meu marido recebeu uma proposta de trabalho para Lisboa e então avaliamos custo de vida, idioma, cultura, educação, clima, segurança, saúde, etc. Mas tudo isto está no Google, em fontes oficiais e não oficiais, e, por mais que esta terra linda que nos acolheu tenha atendido perfeitamente ao check-list, não me apetece falar das razões objetivas que nos moveram até aqui. Podemos fazer mudanças em nossas vidas, basicamente, a partir de dois gatilhos: buscar algo que desejamos e/ou evitar algo que não desejamos. Geralmente, há uma combinação dos dois fatores, em maior ou menor grau, em cada uma de nossas ações, segundo o Tio Freud nos ensina na aula 1 de psicanálise... Na escola de inglês onde estudei durante a infância e a adolescência, havia nas paredes da sala de aula mapas dos Estados Unidos, do Canadá e da Inglaterra. Adorava o curso e sempre chegava mais cedo para as aulas para ficar diante daqueles mapas enormes a me sugerirem que o mundo era bem maior do que a realidade até então conhecida. Desde então eu já sabia que a pequenina cidade no interior do Rio de Janeiro não seria minha casa por muito mais tempo, embora tivesse certeza que seria a casa de toda a minha família para sempre (ou para quase sempre, ou de quase toda minha família), que ali continuaria com suas vidas num ritmo e estilo mais ou menos iguais ao longo do tempo. O desejo de explodir as grades e voar é acompanhado de um desconforto, de um não pertencimento, de uma inadequação
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não só ao apartamento, mas a todo o contexto que nos circunda. É a ambiguidade expressa no verso “não tenho pra onde ir, mas não quero ficar”. Quando um destino surge no horizonte, surge com ele a curiosidade, o entusiasmo, o sonho e todos as pequenas mudanças para que esta grande aconteça. Enquanto construímos a ponte só sabemos que do lado de lá existe algo novo a nos reservar surpresas agradáveis e também desafiadoras e, mais uma vez, a única certeza que temos é que esta ocasião especial é uma microexpressão de todo um universo em constante expansão, em constante movimento. A decisão de migrar é das mais difíceis. Para dar uma profundidade maior que a de um pires ao jargão “sair da zona de conforto”, podemos pensar que sair do meu país, da minha casa, de perto da minha família, dos meus amigos de toda uma vida, do meu trabalho construído com tanto esforço e dedicação, simboliza, ao mesmo tempo, um afastamento e uma aproximação de mim mesma. E tamanha ambiguidade é tudo menos confortável. Me afastei de tudo aquilo que me constituiu de fora para dentro, de todas as influências que recebi, para encontrar a alquimia interna que, de dentro para fora, foi responsável por ter transformado todos aqueles elementos esparsos no todo inteiro que sou hoje e, ao me aproximar desta alquimista, aprendo a lidar comigo mesma e dou passos cada vez mais seguros e significativos em minha caminhada. Este é o lugar psíquico de onde falo como imigrante. Geograficamente, falo de Campolide, freguesia onde vivo em Lisboa, olhando para o Aqueduto das Águas Livres, esta joia da arquitetura nacional que, desde a primeira vez que vi, me arrepia o corpo e mareja os olhos, a me mostrar que aqui é a minha nova casa. O resto, ainda estou descobrindo.
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Manuela Pereira
VIDAS
E se a minha
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livro? de vida desse um
fotos: Ana Neves e Nuno Vilhena
Falar sobre a vida e sobre o que fizemos com ela não é tarefa simples, sobretudo, porque, quando se trata da nossa história, ou biografia, se preferirem, tem de existir verdade e a verdade, a maior parte das vezes, dói. E dói, sabem porquê? Porque
nos obriga a pensar sobre cada momento vivido e ver todas as opções tomadas como as certas, aquelas que, mesmo tendo dado errado, serviram para nos tornar mais fortes, mais justos, melhores seres. Dizer que faríamos diferente é demagogia, porque
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fazer diferente, ter-nos-ia feito, também, outras pessoas e, consequentemente, com outra história de vida. E outra história de vida, talvez não fosse a nossa, afinal, o livre arbítrio existe para que possamos aproximar-nos, cada vez mais, a quem, na realidade, somos. Ora, quando chegamos a uma certa idade, a idade da maturidade - e pensamos no que já vivemos - conseguimos perceber, claramente, que já descobrimos tesouros, já travamos batalhas, perdemos guerras, conquistamos coisas, semeamos amor e, fatalmente, alguns ódios de estimação também. Percebemos que, mesmo não tendo um percurso longo, podemos já ter vivido tanto que a nossa experiência não serve só para ajudar outros a solidificar a deles, mas, sobretudo, é uma experiência que merece ser relatada, partilhada, dada a conhecer. Afinal, a vida é uma viagem sem mapa e, apesar de crescermos e aprendermos com os outros, a grande lição é feita pela descoberta pessoal. Temos uma vida inteira para nos prepararmos para o fim desse ciclo, mas quando ele chega, nunca estamos verdadeiramente prontos e, muito menos, o aceitamos de forma serena. Quase sempre porque reside em nós a consciência de existirem coisas por fazer, coisas por dizer, afetos e vivências por explicar. O grande dilema da vida reside no fim dela, na efemeridade com que passou, sem podermos reverter esse processo. A vida passa de forma fugaz, por isso, querer deixá-la impressa é só mais uma maneira de nos mantermos vivos e presentes num elo eterno. Os livros não morrem, os seus autores também não. Deixar a nossa história de vida escrita tem virado “moda”, mas sabem?… não é uma questão de ego ou vaidade, nem uma “moda” qualquer, é mesmo uma questão
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de imortalidade. Deixar algo cá, depois de não estarmos mais de forma física, e poder permanecer, não só na memória (que se vai apagando) de quem viveu connosco, mas na existência de quem chega como se nunca tivéssemos ido. As pessoas procuram, incansavelmente, reverter a morte e, pouco a pouco, encontram um caminho que supera essa barreira: deixar escrito por si, quem eram, o que sentiram, como fizeram; para que ninguém as recorde em prestações de momentos que ainda vivem nas memórias de alguns e que esses alguns não adulterem a mais elevada das condições – a sua essência. O livro que conta uma história de vida não dá espaço ao “Era uma vez…”, nem a retóricas ou a suposições. O livro que conta uma história de vida estampa uma verdade junto de quem nunca a conheceu e imprime a dignidade na morte de quem sempre a quis contar e, só por isso, a escrevem.
Manuela Pereira
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Isa Silva
MULHERES
Dona Antónia Adelaide Ferreira
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Ferreirinha
do Douro
Certamente já a viram numa garrafa de vinho do Porto mas possivelmente desconhecem a sua história. Em 1811, não se falava em empreendedorismo feminino. Naquela época, era impensável uma mulher ter a seu cargo um negócio tão grandioso mas D. Antónia não foi uma mulher comum. Dona Antónia Adelaide Ferreira nasceu em Peso da Régua, no Douro, em 4 de Julho de 1811 do seio de uma família abastada. Seu pai, José Bernardo Ferreira era dono de vastos campos de vinhas com exportações de vinho para Inglaterra. Casou a filha aos 23 anos com um primo direito, António Bernardo, que nunca se mostrou interessado no negócio familiar. Preferia a vida da cidade onde a sua fama de
Esta ilustração faz parte do projecto de pintura Square Faces. Para saber mais visite www.isasilva.com
playboy se espalhava pelo Porto, por Londres e por Paris, onde acabará por morrer em consequência da sífilis. Deixou a mulher viúva aos 33 anos e arruinoulhe parte da fortuna. Dona Antónia teve duas filhas
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Isa Silva
MULHERES
e um filho, uma das filhas acabaria por não sobreviver. Maria de Assunção (mais tarde Condessa de Azambuja) e António Bernardo Ferreira (posteriormente, deputado e presidente da Associação Industrial do Porto) seriam, ao longo da vida, responsáveis por perdas significativas do património da família Ferreira. Sempre agarrada à terra que amava, Dona Antónia acabou por tomar nas suas mãos a responsabilidade da gestão das quintas e da produção de vinho do Porto. A Casa Ferreira passou por uma crise, mas Dona Antónia estava determinada a não perder as terras de seu avô, Bernardo Ferreira, após a demarcação pombalina de 1756, onde foi criada a primeira região demarcada de vinho do mundo. Plantou novas vinhas, comprou quintas, contratou colaboradores e trabalhadores, construiu armazéns, apoiou a população mais carenciada, foi responsável pela construção de hospitais na Régua, Vila Real e Lamego e por muitas obras de cariz social. Nascia a Ferreirinha, como o povo tão carinhosamente começou a chamar-lhe. Passaria por duas pragas nas vinhas: a de oídio em 1850 e a de filoxera em 1870, que arrasou com a produção vinícola no Douro. A filoxera é um minúsculo insecto parecido com o pulgão que suga a seiva e seca as raízes das vinhas.
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Com a ajuda do seu administrador José da Silva Torres, com quem casou em 1856, enfrenta o governo (devido à falta de apoios para a agricultura e para o combate da praga) e viaja para Inglaterra para obter informações sobre os métodos mais eficazes para combater esta doença que devasta toda a região de produção do Vinho do Porto com muitas terras a serem abandonadas. Um dos métodos mais eficazes que usou foi o enxerto de vinhas americanas nas castas existentes. A par das vinhas, aumenta as plantações de oliveiras, amendoeiras e cereais. Em 1880, enviúva, mas com o apoio dos trabalhadores continua a sua obra tornandose na maior figura da região do Douro. Dona Antónia, a Ferreirinha, faleceu em 1896, com 85 anos. Atualmente, as terras e vinhas já não fazem parte da família, tendo sido vendidas em 1987 ao grupo Sogrape. Em conjunto com os descendentes da empresária, criaram em 1988 o “Prémio Dona Antónia” concedido a mulheres que se destacam no mundo empresarial português. É sempre atribuído no dia de nascimento da Ferreirinha. Em 2004, a RTP prestou-lhe uma homenagem com a série “A Ferreirinha”, da autoria de Francisco Moita Flores e com a atriz Filomena Gonçalves no papel de Dona Antónia.
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Sandra Abafa
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Se pertence ao grupo Mulheres à Obra e tem trabalhos em ilustração, desenho, fotografia e artesanato, mande-nos as melhores imagens para isasilvafotografia@gmail.com e poderá fazer parte da nossa selecção.
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Ana Rita Robalo
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Inês Carrola
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Cristina Menezes Alves
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Palácio Nacional de Sintra PSML
Castelo dos Mouros PSML
Serra de Sintra
Palácio da Pena Vs Castelo dos Mouros PSML
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Anabela Guilherme
Serafiniando
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Juliana Tavares
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Margarida Silva
www.mialabhandmade.com
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Isa Silva
A artista japonesa cujo cognome Ipnot, cria bordados muito originais e de grande criatividade demonstrando uma capacidade apenas limitada aos verdadeiros artistas. Os trabalhos de Ipnot saltam do dia a dia para o tecido intrincadamente desenhado nó a nó. O seu pincel é a agulha, a sua tinta os fios coloridos. Diz ela que tem mais de 500 cores... Ipnot afirma da sua apresentação, que cresceu rodeada de artesãos e artistas. Foram, certamente, a grande inspiração para chegar a este nível de arte. Líquidos, comida, animais, pessoas, personagens e mais um vasto leque de representações. Este é o mundo de Ipnot.
Descubram @ipnot
Ane é uma norueguesa de 17 anos que mostra no seu Instagram uma impressionante galeria de pintura de unhas. Para aprecia o que se pode pintar nas unhas ou para quem trabalha nesta área, tem aqui muita inspiração e tutoriais para futuros trabalhos. Desde padrões a sequências, há um pouco de tudo e de uma beleza difícil de ignorar.
Descubram @ane_li
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