Revista do PecSite - Edição 02

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Dezembro/2021 - No 2 - ano I www.pecsite.com.br/revista

A força da pecuária de corte brasileira 2021 chega ao fim como um ano de desafios. Para 2022, especialistas projetam um cenário otimista

ENTREVISTA

ABATE E PROCESSAMENTO

Luis Armando Zago Machado, da Embrapa, explica como a ILP é importante para diversificar a produção

Será que o paquiderme vai se mover? A cadeia bovina precisa se adaptar a novos valores e tendências de mercado

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Sumário

Editorial

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Caro leitor, Os altos preços da arroba do boi registrados ao longo do ano - e até agora no início de dezembro - irão garantir o lucro dos pecuaristas em 2021, mesmo com o aumento nos custos dos insumos usados na ração, como milho e farelo de soja. Outra notícia positiva veio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que indicou que as exportações brasileiras de carne bovina in natura podem bater a marca de 1,84 milhão de toneladas.

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Luís Machado, da Embrapa, explica como a Integração Lavoura Pecuária é importante para a diversificação da produção; Manejo de pastagens em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária; Desafios, oportunidades e cenário da bovinocultura no pós-pandemia; Gelson Feijó, da Embrapa Gado de Corte, escreve nesta edição um artigo inédito sobre as cadeias de abate e processamento. E muito mais.

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Fique bem informado. Leia e compartilhe a Revista do PecSite, ela foi feita para você.

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Boa leitura.

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EXPEDIENTE

Glaucia Bezerra

Os informes técnico-empresariais publicados nas páginas da Revista do SuiSite são de responsabilidade das empresas e dos autores que os assinam. Este conteúdo não reflete a opinião da Mundo Agro Editora.

Produção, Mercado e Exportação

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Nas páginas a seguir preparamos para você, leitor, uma gama de conteúdos técnicos e informativos que fogem do óbvio e agregam informação para ser colocada em prática dentro da propriedade.

Publicação Trimestral nº 2 | Ano I | Dezembro/2021

Matérias primas

Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

O cenário da bovinocultura de corte para o encerramento de 2021 e as expectativas para 2022 podem ser conferidas nas páginas da Revista do PecSite, que conversou com algumas das principais entidades do setor, para saber em primeira mão o que o pecuarista brasileiro pode esperar para o futuro. Entre elas: Abag, Acrioeste, Assocon, Sindan e Sindirações.

Mundo Agro Editora Ltda. Rua Erasmo Braga, 1153 13070-147 - Campinas, SP

Eventos e As mais lidas do PecSite

Ceva Saúde Animal mostra a importância do agronegócio para a economia do país

Evonik: resultados de 2021 devem atingir o limite superior da previsão

JBS registra lucro líquido de R$ 7,586 bilhões no 3TRI21

Publisher Paulo Godoy paulo.godoy@mundoagro.com.br

Diagramação e arte Mundo Agro e Gabriel Fiorini gabrielfiorini@me.com

Redação Érica Barros (MTB 49.030) Glaucia Bezerra (MTB 80373/SP) imprensa@mundoagro.com.br

Internet Gustavo Cotrim webmaster@avisite.com.br

Comercial Natasha Garcia, Paulo Godoy e André Di Fonzo (19) 3241 9292 | (19) 98963-6343 comercial@mundoagro.com.br

Administrativo e circulação financeiro@avisite.com.br


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Destaques PecSite: Produção

Entrevista

Rebanho protegido: Rio Grande do Sul cria seguro pecuário inédito no mundo Glaucia Bezerra, da redação

Luís Armando Zago Machado, da Embrapa, explica como a Integração Lavoura Pecuária é importante para a diversificação da produção

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Nutrição Animal

Saúde Animal

Manejo de pastagens em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária

BVD: muito mais que uma doença reprodutiva, uma doença silenciosa que afeta a produtividade do rebanho

Flávia Simili / Instituto de Zootecnia (IZ-APTA)

Roulber Carvalho Gomes da Silva; Eduardo Pires; e Kamila Bravo

Especial Projeções e Expectativas Pecuária de corte deve encerrar 2021 com lucro garantido

Glaucia Bezerra, da redação

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Sustentabilidade

Sustentabilidade

Inovação

O futuro da produção de alimento é sustentável

Produção e conservação: a importância dos incentivos econômicos para manter florestas em propriedades privadas

Condomínios de agroenergia promovem economia para pequenas propriedades rurais

Glaucia Bezerra, da redação

Glaucia Bezerra, da redação

Ponto Final

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Processamento e Abate

Desafios, oportunidades e cenário da bovinocultura no pós-pandemia

Cobertura

Carne bovina: Será que o paquiderme vai se mover?

Saulo da Luz e Alessandra Rosa

6º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio debate tecnologias, gestão sustentável e diversidade na liderança

Gelson Luís Dias Feijó / Embrapa Gado de Corte A Revista do PecSite

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Eventos

2022 Fevereiro Show Rural Coopavel 2022 07/02 a 11/02 Cascavel/PR www.showrural.com.br/ Gratuito Pecuária 360° Summit 2022 07/02 a 08/02 www.pecuaria360.com.br/ Março Expodireto Cotrijal 2022 07/03 a 11/03 Não-Me-Toque/RS www.expodireto.cotrijal.com.br/inicial Gratuito EXPOMEAT 2022 15/03 a 17/03 São Paulo/SP www.expomeat.com.br/ Gratuito Abril Tecnoshow Comigo 2022 04/04 a 08/04 Rio Verde/GO www.tecnoshowcomigo.com.br/ Gratuito Agrishow 2022 25/04 a 29/04 Ribeirão Preto/SP www.feirasecongressos.com.br/ agrishow-2020/ Gratuito

As + lidas do PecSite

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Custo de produção mantém bovinocultura de corte em alerta Os altos custos de produção e as dinâmicas de mercado devem continuar, ao longo dos próximos meses, a pressionar as margens dos produtores dedicados à bovinocultura de corte. Em função disso, especialistas do setor ressaltam a necessidade de o pecuarista implantar mecanismos eficientes de gestão, contemplando a propriedade como um todo. Leia na íntegra: www.pecsite.com.br/index.php?page=noticias&id=40888

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Pecuária tem papel fundamental na agenda climática mundial, afirma Tereza Cristina A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse, no último dia 30 de novembro, durante a abertura do Fórum Planeta Campo, que os debates da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, em Glasgow, na Escócia, foram importantes para mostrar que a nossa pecuária tem papel fundamental na agenda climática nacional e mundial. Segundo ela, a agropecuária é parte da solução do problema e deve ser encarada dessa forma por quem desejar reduzir os impactos do aquecimento global. Leia na íntegra: www.pecsite.com.br/index.php?page=noticias&id=40897

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Embrapa: confinamento pode diminuir emissão de metano na pecuária O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Sudeste (Embrapa), Sérgio Raposo conta como o Brasil já possui alternativas viáveis para a redução de emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, através de confinamento animal. “O metano é uma ineficiência do sistema de digestão e tem uma relação de quanto melhor a dieta menor é a proporção produzida desse gás. Então no confinamento, o gado possui uma dieta controlada, com digestão maior por quilo de matéria seca, consequentemente uma menor emissão de gás”, explica Raposo. Leia na íntegra: www.pecsite.com.br/index.php?page=noticias&id=40875

+ em: www.pecsite.com.br e em nossas redes sociais

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Matérias-primas Milho registra crescimento anual de 59,2%

Farelo de soja aumenta 36,4% em onze meses

Faltando apenas um mês para o encerramento do ano, o preço do milho continua registrando forte incremento anual. No acumulado do ano o preço médio do insumo, saca de 60 kg, interior de SP, alcançou cotação de R$95,61, equivalendo a aumento de 59,2% sobre a média alcançada pelo produto no mesmo período do ano passado, quando a cotação média atingida foi de R$60,06. Em relação ao mesmo período de 2019, o aumento supera os 131,3%.

O farelo de soja (FOB, interior de SP) atingiu incremento expressivo no decorrer dos primeiros onze meses de 2021. O preço médio do período alcançou valor de R$2.518/t, representando índice positivo de 36,4% sobre o apontado para o mesmo período de 2020, quando a cotação média atingiu R$1.846/t. Na comparação com o mesmo período de 2019, o aumento supera os 107,5%.

Bovinocultor enfrenta queda de 14,3%

Bovinocultor enfrenta queda de 8,7%

*na comparação anual

*na comparação anual

em sua capacidade de compra de milho

Valores de troca – Milho/Boi Vivo

Valores de troca – Farelo/Boi Vivo

O preço da arroba do boi gordo, (interior paulista), obteve valorização bem inferior a alcançada pelo milho no decorrer dos onze primeiros meses de 2021, atingindo valor médio de R$306,00, equivalendo a aumento de 36,4% sobre o recebido no mesmo período do ano passado, negociado por R$224,42. Assim, com a valorização no preço médio do boi vivo bem inferior a alcançada pelo milho, os pecuaristas apresentam perdas quando os produtos são relacionados. No período foram necessárias 5,2 arrobas do boi vivo para adquirir uma tonelada do cereal, enquanto no mesmo período de 2020 foram necessárias apenas 4,5 arrobas/t, significando piora de 14,3% em seu poder aquisitivo.

De acordo com os preços médios do boi vivo e farelo de soja, foram necessárias, aproximadamente, 8,2 arrobas de boi gordo (rastreado, interior paulista) para adquirir uma tonelada de farelo de soja no acumulado do ano, significando a manutenção do mesmo poder de compra em relação ao ano passado. Considerando o mesmo período de dois anos atrás, a perda dos pecuaristas atinge 8,7%, já que de janeiro a novembro de 2019 houve a necessidade de 7,5 caixas para adquirir o produto.

Preço médio Milho

Preço médio Farelo de Soja

R$/saca de 60 kg, interior de SP

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em sua capacidade de compra de soja

R$/tonelada FOB, interior de SP

Mínimo

Média Jan-Ago

Máximo

Mínimo

Média Jan-Ago

Máximo

81,00

95,61

110,00

2.250,00

2.518,00

2.940,00

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Fonte das informações: www.jox.com.br


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Produção, Mercado e Exportação

União Eurasiática abre novas cotas para importação de carne com tarifa zero A União Econômica Eurasiática (UEA) aprovou a ampliação de cotas para importação, com tarifa zero, de carne bovina e suína destinadas ao processamento. Fazem parte do bloco a Rússia, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão. A cota russa para carne bovina será válida para todo o ano de 2022, com volume de 200 mil toneladas. Para carne suína, a cota russa será

de 100 mil toneladas, com validade entre 1º de janeiro e 30 de junho do próximo ano. Além da Rússia, a medida prevê cotas que totalizam 38,5 mil toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada, das quais 5 mil para a Armênia, 21 mil para o Cazaquistão, 5 mil para o Quirguistão e 7,5 mil para Bielorrússia.

O Brasil passa a ter habilitados para o mercado russo 19 estabelecimentos de carne bovina

Exportações de carne bovina caem 51% em novembro De acordo com informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Governo Federal, as exportações de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada somaram 81,17 mil toneladas, uma queda de 51,6% em comparação a novembro do ano passado. Em receita, a diferença foi de 45,9%, para US$ 399,6 milhões. O preço médio da tonelada subiu 11,8%, a US$ 4.922,40. O desempenho foi muito fraco, mas já era esperado devido ao imbróglio com a China, após a detecção de dois casos de doença da vaca louca

atípica no início de setembro. A proibição das exportações das carnes de animais abatidos após 4 de setembro seguem.

Exportação de carne bovina 81,17 mil toneladas - 51,6 %* *comparação com novembro/20

Boi gordo: indicador volta a operar na máxima nominal O Indicador do boi gordo CEPEA/B3 subiu com força ao longo de novembro – o avanço no acumulado do mês foi de 25,26% (ou de 65,2 Reais por arroba), fechando a R$ 322,40 no dia 30. Com isso, o Indicador não só recuperou as perdas verificadas nos meses anteriores co-

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mo também atingiu um novo patamar máximo nominal da série histórica do Cepea. Segundo pesquisadores do Cepea, mesmo com os envios da carne à China ainda suspensos, os valores da arroba foram impulsionados pela retração na oferta de boi para aba-

te. Do lado da demanda, parte dos frigoríficos elevou, ainda que pontualmente, as compras de novos lotes, no intuito de formar estoques para as vendas de final de ano – quando a procura por carne no atacado geralmente se aquece.


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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

Agroceres Multimix: presente no sucesso do agronegócio e do Brasil

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o completar 45 anos, a Agroceres Multimix celebra seu importante papel na evolução do agronegócio nacional, gerando soluções em nutrição animal e disseminando conhecimento técnico para os produtores brasileiros em diversas áreas, além da nutrição. Uma história que transcende gerações e atualmente é liderada por Ricardo Araujo Ribeiral, diretor da Agroceres Multimix. “É incrível pensar em toda nossa força de atuação. Nascemos de uma necessidade pontual e hoje somos reconhecidos pelo mercado onde atuamos como uma empresa que fornece produtos inovadores e de alta qualidade e com um corpo técnico de atendimento aos clientes, extremamente capacitado e com muita experiência”.

Ricardo Araujo Ribeiral é diretor da Agroceres Multimix.

Uniquímica celebra 47 anos de fundação

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Uniquímica completou 47 anos de existência em outubro de 2021. Uma data que foi celebrada junto aos colaboradores, clientes, parceiros comerciais e fornecedores. Em toda sua existência a Uniquímica construiu uma trajetória como empresa referência para nutrição animal no mercado de postura. Sendo amplamente reconhecida por seus clientes como empresa modelo de qualidade, resultado e respeito a parcerias fechadas. Segundo Robson Rebechi, diretor da Uni-

Boehringer Ingelheim promove dias de campo para combate à BVD

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Unidade de Negócios de Saúde Animal da Boehringer Ingelheim promoveu o evento “Porteira Aberta com Bovela®”, voltado para conscientização, treinamento e disseminação de conteúdo informativo sobre a Diarreia Viral Bovina (BVD) a pecuaristas do Brasil. Os treinamentos foram liderados pelos coordenadores de território da Boehringer Ingelheim e distribuidores locais, além de

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médicos-veterinários parceiros. De acordo com o diretor da área de Grandes Animais da empresa, Nivaldo Grando, o objetivo do “Porteira Aberta com Bovela®” foi parar o Brasil durante um dia para falar com os pecuaristas sobre os impactos da BVD na produção e no bem-estar dos animais, auxiliando-os com conteúdo e troca de informações de qualidade para melhorar ainda mais a produtividade.

química: “Nesta data que a Uniquímica completa mais um ciclo de vida, com muita alegria celebramos as conquistas que foram frutos de grandes desafios, envoltos a essa pandemia, que certamente dificultou ainda mais nosso percurso até aqui. Hoje, como parte da celebração, queremos lembrar o quão nossas vidas são valiosas e que diante de todas as dificuldades e limitações vivenciadas neste ciclo, temos hoje uma Uniquímica intacta com seu time de colaboradores preservado e saudável”.


Ceva Saúde Animal mostra a importância do agronegócio para a economia do país

MCassab Ingredients fecha acordo para venda on-line de produtos para saúde e nutrição animal

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o filme “Supermercado Sem Agro”, assinado pela agência CDR+, a Ceva Saúde Animal simula um experimento social e convida pessoas comuns para fazerem suas compras em um supermercado, onde não poderão encontrar carnes, ovos, leite, frutas, legumes e outros produtos que tenham origem no agronegócio. Na assinatura, a mensagem reforça o papel de atividades, como a pecuária, avicultura e suinocultura nacional, que foram fundamentais para esse momento do país.

O filme pode ser conferido no canal da Ceva no YouTube, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=MCkqLYpRq_Y

Luiz Carlos assume a ABAG em 2022 Luiz Carlos Corrêa Carvalho

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partir de janeiro de 2022, a ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio contará com uma nova diretoria e passará a ser presidida por Luiz Carlos (Caio) Corrêa Carvalho, que já havia comandado a associação entre 2012 e 2018, em substituição ao atual presidente, Marcello Brito.

Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/USP), Carvalho possui cursos de pós-graduação em Agronomia e em Administração pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/ USP), e Vanderbilt University (EUA).

Guilherme Palumbo, gerente Nacional de MCassab Ingredients

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MCassab Ingredients, braço do grupo MCassab dedicado ao mercado de saúde e nutrição animal, amplia as modalidades de comercialização dos seus produtos com o fechamento de acordo com o Marketplace Agro2Business.com para venda on-line. “Por meio da capilaridade proporcionada pela internet, conseguiremos ampliar a exposição de nossas soluções, chegando a um número cada vez maior de fabricantes e também de pecuaristas que investem na produção própria de alimentação animal”, diz Guilherme Palumbo, Gerente Nacional de MCassab Ingredients (MCI).

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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

Evonik: resultados de 2021 devem atingir o limite superior da previsão

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vonik estima lucro ajustado de 2,4 bilhões de euros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA ajustado). Este é o limite superior da faixa anterior de 2,3 a 2,4 bilhões de euros que a empresa estimava no meio do ano. As vendas também atingirão o limite superior do intervalo de previsão – 14,5 bilhões de euros. “Continuamos registrando um forte crescimento no terceiro trimestre”, disse Christian Kullmann, presidente da Diretoria Executiva. “Todas as quatro divisões químicas se beneficiaram do incremento da demanda. Conseguimos compensar totalmente a alta no custo de matérias-primas, energia e logística com preços de venda mais altos”.

Christian Kullmann, presidente da Diretoria Executiva

Fabiano Galli Gil é o novo membro da Unidade de Negócios Bovinos Polinutri

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ootecnista (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS) com especialização em Nutrição de Ruminantes (Faculdades Associadas de Uberaba/ FAZU), Fabiano Galli Gil é o novo integrante da Unidade de Negócios Bovinos da Polinutri, e assume a função de gestor Técnico Fabiano é o novo gestor técnico Comercial para São Paulo

De Heus anuncia investimentos de R$ 75 mi no Brasil

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e Heus anunciou investimentos de R$ 75 milhões em dois anos para a modernização do seu parque fabril no país. A medida contempla as unidades de Rio Claro, no interior de São Paulo, além de Toledo, no Paraná, e Itaberaí, em Goiás. Deste valor, R$ 35 milhões foram anunciados no ano passado e incluem a inauguração da nova linha de produção para premixes na unidade de Rio Claro, que teve aporte de R$ 24 mi.

Ainda para este ano, quando a empresa celebra nove anos de presença no mercado brasileiro, o presidente da De Heus no Brasil, Rinus Donkers, divulga mais R$ 40 milhões para melhorias nas unidades de Toledo e Itaberaí, que serão concluídas em 2022. “Este aporte vai aumentar a nossa capacidade de produção e armazenagem para suportar o crescimento robusto dos últimos anos”, afirmou o executivo. Rinus Donkers, presidente da De Heus.

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Comercial para o Estado de São Paulo. Planejamento estratégico de vendas, negócios, gestão de pessoas/equipes, relacionamento com clientes/parceiros e posicionamento da marca no mercado de ruminantes estão entre as suas principais atribuições.


Vaccinar inaugura fábrica em Tocantins

Castrolanda atinge marca histórica de R$ 5 bilhões em faturamento

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Cooperativa Castrolanda chegou, pela primeira vez na história, à marca de R$ 5 bilhões em faturamento. O valor foi alcançado no início de novembro, o recorde veio justamente no mês em que a cooperativa completou 70 anos de fundação. Durante o ano de 2020 a Castrolanda acumulou um faturamento de R$ 4,3 bilhões – valor que figurava até então como o recorde histórico da companhia. O faturamento líquido acumulado até o início de novembro de 2021 ultrapassou o total do ano passado em 16,2%. Diretor Executivo da cooperativa, Seung Lee considera positivo os resultados parciais de 2021 e aponta a diversificação das atividades de trabalho como ação primordial para que o recorde fosse alcançado. Seung Lee é diretor executivo da Castrolanda

66 anos: Languiru investe na bovinocultura de corte Nelson Lopes, CEO da Vaccinar.

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Vaccinar inaugurou, em novembro, uma unidade fabril no município de Araguaína (TO). Construída em um terreno de 40.000 m², a fábrica irá produzir produtos para atender o segmento de bovinos de corte. A planta tem capacidade produtiva instalada de 100.000 toneladas/ano (considerando dois turnos), gerando inicialmente 36 postos de trabalho, mas esse número tende a crescer com a expansão comercial prevista para a região. “Araguaína é uma cidade polo para o segmento de bovinos, em especial para a linha de gado de corte. A expansão nas regiões Centro-Oeste e Norte acompanha o movimento do boi”, ressalta o CEO da Vaccinar, Nelson Lopes.

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ooperativa Languiru chega aos seus 66 anos de história, celebrados no dia 13 de novembro, anunciando oficialmente o seu ingresso no mercado da bovinocultura de corte. A atividade já integrou os negócios da Languiru, em meados dos anos 80, com abatedouro instalado em Canoas. O resgate desse segmento abre mais uma possibilidade de produção aos associados da Cooperativa. O Frigorífico de Bovinos deve gerar 35 empregos diretos, podendo chegar a 65 empregados. A planta industrial, com cerca de 3.500m², possui capacidade para o abate de 28 animais/hora para produção de carcaça.

Planta industrial possui cerca de 3.500m²

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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

JBS registra lucro líquido de R$ 7,586 bilhões no 3tri21

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JBS encerrou o terceiro trimestre de 2021 com lucro líquido de R$ 7,586 bilhões, ou R$ 3,01 por ação, um avanço de 142,1% ante o lucro líquido de 3,133 bilhões verificado em igual período de 2020, informou a empresa. A receita líquida cresceu 32,2%, para R$ 92,625 bilhões, ante R$ 70,081 bilhões do terceiro trimestre do ano passado. Da mesma forma, o Ebtida ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) passou de R$ 7,996 bilhões para R$ 13,929 bilhões, aumento de 74,2%. A margem Ebitda ficou em 15% no terceiro trimestre deste ano ante 11,4% reportada em igual período do ano passado. O fluxo de caixa operacional foi de R$ 10,8 bilhões, 40% a mais do que no mesmo trimestre do ano passado. Com isso, a empresa gerou R$ 7,3 bilhões em caixa livre, 40,2% superior ao gerado em igual trimestre do ano passado. O resultado financeiro líquido da empresa ficou negativo em R$ 1,108 bilhão, contra um resultado negativo de R$ 1,070 bilhão no terceiro trimestre de 2020. O CEO global da empresa, Gilberto Tomazoni, disse em comunicado divulgado para a imprensa e investidores que os resultados comprovam a “excelência operacional da empresa”. “Fechamos o terceiro trimestre de 2021 com a certeza de que estamos no caminho certo”, afirmou. O executivo disse ainda que a companhia encerrou o trimestre no “melhor” e mais “robusto” momento de sua história.

Gilberto Tomazoni é CEO global da JBS

JBS

Receita Líquida de R$ 92,625 bilhões + 32,2%

Lucro Líquido de R$ 7,586 bilhões + 142,1% *na comparação a anual

JBS Brasil Receita Liquida de R$ 15,46 bilhões + 35,3% 49% do volume para o mercado doméstico 50,1% do volume para o mercado externo

Frentes de negócio Por unidade de negócio, o maior crescimento no Ebitda ajustado foi da JBS USA Beef, com alta de 203,9% (para R$ 8,4 bilhões), seguido pela Pilgrim’s Pride, com avanço de 12,7% (para R$ 2,4 bilhões). Na sequência, consta a JBS Brasil, com incremento de 10,4% no Ebitda ajustado (para R$ 946,1 milhões), e a JBS USA Pork, com crescimento de 2,2% (para R$ 1,2 bilhão). O Ebitda ajustado da Seara, por sua vez,

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recuou 10,2% (para R$ 984,2 milhões) ante o terceiro trimestre de 2020. A JBS Brasil registrou receita líquida de R$ 15,46 bilhões no terceiro trimestre deste ano, aumento de 35,3% ante igual período do ano passado, apesar da redução de 11% no processamento de bovinos no período. O mercado doméstico representou 49% da receita líquida de vendas da unidade, com crescimento de 22,6% na recei-

ta, decorrentes de aumento de 44,3% no preço médio de carne bovina in natura da categoria, que compensou queda de 17% nos volumes. Já a receita líquida de vendas da unidade para o mercado externo cresceu 50,1% na mesma base comparativa, para R$ 7,9 bilhões, em virtude principalmente do avanço de 25% no volume e de 26,7% no preço médio de venda de carne bovina in natura.


UNIDADE DE BOM DESPACHO - MG

UNIDADE DE TOLEDO - PR

UNIDADE DE MARTINHO CAMPOS - MG

UNIDADE DE NOVA PONTE - MG

UNIDADE DE PINHAIS - PR

CONCENTRADOS | NÚCLEOS | PREMIXES | RAÇÕES | ADITIVOS | INGREDIENTES

ORGULHO EM SER UMA EMPRESA 100% BRASILEIRA Com 40 anos de experiência no mercado, a Vaccinar fornece soluções de nutrição animal que visam garantir, com segurança e qualidade, os melhores resultados zootécnicos e econômicos na produção de seus clientes.

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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

Marfrig tem crescimento de 148,7% em lucro líquido

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Marfrig Global Foods encerrou o terceiro trimestre de 2021 com lucro líquido de R$ 1,675 bilhão, alta de 148,7% ante o registro de R$ 674 milhões em igual período do ano passado, informou a companhia. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi de R$ 4,658 bilhões, avanço de 117,1% ante o 3TRI20. O Ebtida ajustado avançou 115,6%, de R$ 2,196 bilhões no mesmo trimestre do ano passado para R$ 4,734 bilhões este ano. Além disso, a margem do Ebitda ficou em 20%, ante 13% um ano antes. Já a receita líquida foi recorde e aumentou 40,4% no período de julho a setembro, de R$ 16,83 bilhões em 2020 para R$ 23,63 bilhões em 2021. O volume de vendas cresceu 5,4%, de 370 mil toneladas para 390 mil toneladas. Do total, 241 mil toneladas ficaram no mercado doméstico, enquanto as outras 149 mil toneladas foram exportadas. No período, as exportações cresceram 8,3%. “As exportações representaram 62% da receita da operação.

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RESULTADOS 3TRI21

370 mil toneladas produzidas

Lucro líquido de R$ 1,675 bilhão

+ 148,7%

241 mil toneladas para o mercado interno 149 mil toneladas para o mercado externo

8,3% + exportações Aproximadamente 64% do total das receitas de exportação foram destinadas à China e a Hong Kong”, afirmou a Marfrig. O lucro bruto da operação so-

mou R$ 571 milhões, 21,4% a menos do que os R$ 727 milhões reportados no terceiro trimestre do ano passado.


Receita líquida da Minerva Foods atinge patamar recorde de R$ 7,4 bilhões no 3T21

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receita líquida da Minerva Foods atingiu um patamar recorde de R$ 7,4 bilhões no 3T21, um crescimento de 43% na comparação anual e de 17% quando comparado ao 2T21. O indicador foi de R$ 25,2 bilhões, crescimento de 36% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a receita bruta consolidada atingiu R$ 26,6 bilhões no LTM3T21, um aumento de 36% na comparação com o mesmo período de 2020. O EBITDA do terceiro trimestre deste ano também foi recorde, atingindo R$ 648,1 milhões, um aumento de 17% na comparação anual e 19% comparado ao segundo trimestre do ano. No LTM3T21, o EBITDA totalizou R$ 2,3 bilhões, um crescimento de 8% na base anual e alcançando o maior patamar para o período de 12 meses, com uma margem EBITDA de 9,1%. No período, o lucro líquido alcançou R$ 72,4 milhões, enquanto o acumulado no 9M21 totalizou R$ 449 milhões. A geração de caixa livre também é um dos destaques deste trimestre: positiva pela 15ª vez consecutiva na série trimestral histórica. No 3T21, após Despesas Financeiras, Capex e Capital de Giro, o indicador alcançou R$ 53 milhões na métrica recorrente e R$ 83 milhões após o efeito caixa do hedge cambial. Já no LTM3T21, o valor totalizou R$ 849 milhões. No terceiro trimestre deste ano, as exportações atingiram 69% da receita bruta da Minerva Foods. A Companhia ainda anuncia a distribuição de dividendos intercalares no montante global de R$ 200,0 milhões, ou cerca de R$ 0,35/ ação, o que representa 45% do lucro acumulado nos 9M21. Considerando os proventos-caixa pagos no ano corrente, um total de R$ 603,6 milhões, ou R$ 1,12/ação, a Minerva Foods alcança um Dividend yield de aproximadamente 12%.

RESULTADOS 3TRI21

Receita Líquida

R$ 7,4 bilhões Receita Bruta

R$ 26,6 bilhões Lucro Líquido

R$ 72,4 milhões

Lucro acumulado (jan-set)

R$ 449 milhões Indicador

R$ 25,2 bilhões EBITDA R

R$ 2,3 bilhões

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Destaques PecSite: Produção

Rebanho protegido: Rio Grande do Sul cria seguro pecuário inédito no mundo Com o seguro, lançado pelo Fundesa-RS e pela seguradora Fairfax, o produtor gaúcho estará segurado para o caso de ocorrência de Febre Aftosa com a necessidade de indenização por abate sanitário Glaucia Bezerra, da redação

P

ara ter mais segurança no combate à Febre Aftosa, entidades ligadas à pecuária de corte no estado do Rio Grande do Sul formalizaram a criação de um seguro destinado ao rebanho bovino para o caso de ocorrência da doença. Este é o primeiro seguro de pecuária contra a Febre Aftosa em todo o mundo.

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A iniciativa é o resultado do debate das instituições que compõem o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul – FundesaRS, e culminou com a contratação de um seguro para dar cobertura complementar aos recursos existentes para a atividade da pecuária de corte dentro do Fundo.

O presidente do Fundesa, Rogério Kerber, explica que o seguro surgiu para ampliar a segurança do pecuarista, em razão da disponibilidade limitada de recursos que atualmente são insuficientes para fazer frente a um eventual surgimento de Febre Aftosa no estado. “O seguro complementa o pagamento de indenização em caso de


Ricardo Sassi, representante da seguradora Fairfax, disse que o cálculo para o valor do seguro gaúcho leva em conta diversos fatores como o georreferenciamento de propriedades, e a qualidade do trabalho de defesa agropecuária realizado no estado. O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, destacou a importância do olhar do produtor para comunicar qualquer suspeita de doença. “O seguro vai contribuir para que o produtor, que é o primeiro fiscal, tenha o conforto necessário de agir com rapidez para chamar a autoridade sanitária a fazer o diagnóstico”. Com a assinatura do seguro, o produtor gaúcho está protegido para o caso de ocorrência de Febre Aftosa, com a necessidade de indenização por abate sanitário. O valor do prêmio (que o Fundesa pagará anualmente à seguradora) é de R$ 3,98 milhões. Já a franquia é de R$ 15 milhões e o valor segurado, além da franquia é de R$ 300 milhões de reais.

Rio Grande do Sul: zona livre de Aftosa sem vacinação A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) oficializou, em maio de 2021, a concessão do certificado de área livre de Febre Aftosa sem vacinação ao Rio Grande do Sul.

eventos que ultrapassem o valor de R$ 15 milhões de reais, valor atual que o Fundesa coloca à disposição dos pecuaristas em casos sanitários de Febre Aftosa”. O pecuarista não terá ônus. Se as perdas forem inferiores a R$ 15 milhões, o Fundesa, que recebe contribuições de

A pecuária gaúcha também poderá fortalecer sua presença em países que já compram a carne brasileira. A expectativa é que este novo patamar sanitário gere resultados positivos para toda a agropecuária, uma vez que o setor de grãos também precisará atender a demanda da cadeia de proteína animal. O último foco da doença no estado foi registrado em 2001, época em que o Fundesa ainda não havia sido fundado. Rogério Kerber destaca as mudanças de cenário vividas pelo setor nestes últimos 20 anos. “É uma condição totalmente diferente que temos hoje, com um serviço veterinário oficial preparado e estrutura para um rápido diagnóstico e ação para a contenção de eventuais focos”. Para Kerber o setor tem o desafio, de conscientizar o produtor sobre a importância de notificação de suspeitas e de controle de ingresso de pessoas e animais nas propriedades.

O seguro na prática Para ter acesso ao seguro o produtor gaúcho precisa ser contribuinte do Fundesa. O Fundo recolherá uma contribuição extra pela existência de bovídeos (bovinos e bubalinos) nas propriedades, que deverá ser efetivada a partir de 2022. “Com a nova contribuição o produtor não terá mais a despesa de compras de vacina e aplicação, mas sim, irá contribuir com um valor pré-determinado para cada animal existente na sua propriedade”, explica Rogério Kerber.

Crédito: Divulgação

produtores e indústrias, banca o prejuízo. Acima desse valor, a seguradora Fairfax assume. Nas contas da Farsul, o montante é suficiente para atender 273 mil propriedades de criação de bovinos.

A conquista histórica repercutiu em todo o estado, especialmente pelas fronteiras que serão abertas para as carnes gaúchas a partir deste novo status sanitário, agora chancelado pela maior autoridade de sanidade animal no mundo. Projeta-se que a proteína animal produzida no Rio Grande do Sul consiga alcançar 70% dos mercados até então fechados. Rogério Kerber é presidente do Fundesa

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Entrevista

Luís Armando Zago Machado, da Embrapa, explica como a Integração Lavoura Pecuária é importante para a diversificação da produção

O sistema Integração Lavoura Pecuária (ILP) é uma alternativa viável que contribui para a recuperação de áreas degradadas e para a adoção de boas práticas agropecuárias

A

ILP – Integração Lavoura Pecuária é um sistema que consiste na exploração de atividades agrícolas e pecuárias, de forma integrada, em rotação ou sucessão, na mesma área e em épocas diferentes, aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com menor impacto sobre o meio-ambiente, uma vez que os processos de degradação são controlados por meio de práticas conservacionistas. De acordo com a Embrapa, o sistema ILP consiste na diversificação da produção, possibilitando o aumento da eficiência na utilização dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, a estabilidade de produção e a renda do produtor.

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Diante dos problemas decorrentes de décadas de práticas agrícolas de monocultivo e de elevada pressão sobre o ambiente, o grande desafio é aumentar a produtividade com a conservação de recursos naturais no processo de intensificação de uso das áreas já desmatadas no Brasil.

Abastecimento (MAPA).

O sistema ILP é uma alternativa viável que contribui para a recuperação de áreas degradadas, na adoção de boas práticas agropecuárias (BPA) e no aumento da eficiência com o uso de máquinas, equipamentos e mão de obra. O ILP faz parte do Plano ABC* do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Qual é o histórico, em breve resumo, da Integração Lavoura Pecuária?

A Embrapa realiza diversas pesquisas com integração, seja com o componente floresta ou sem, como explica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Luís Armando Zago Machado.

A ILP é uma prática utilizada há muitos séculos. Provavelmente, a integração


advento do plantio direto, que permitiu a semeadura de culturas anuais como a soja sobre a pastagem dessecada. Essa modalidade é relativamente recente e vem sendo aperfeiçoada nas últimas três décadas.

Quais as vantagens do sistema de ILP?

tenha surgido junto com a agricultura, porque os resíduos da agricultura sempre foram bem-vindos na alimentação animal. No Brasil, no século XIX, XX ela já era utilizada, apesar de não ser empregada essa terminologia. Fazia-se a rotação lavoura e pastagem sem ter um sistema organizado. No final do século XX é que começamos a ter sistemas integrados com rotação programada. Isso tem sido muito importante, porque em regiões tropicais, a sucessão ou rotação de culturas anuais leva a perdas consideráveis de matéria orgânica do solo. Quando há rotação com forrageiras é possível estabilizar ou até recuperar a matéria orgânica do solo aos níveis originais, já que existem forrageiras tropicais com alta capacidade de acumulação de massa seca, principalmente, de raízes. O grande salto dos sistemas integrados foi o

O Sistema Integração Lavoura Pecuária proporciona ao produtor diversos benefícios. Eu poderia destacar alguns, principalmente técnicos, porque o produtor vê isso no campo com facilidade. As pastagens tropicais têm uma enorme capacidade de acumular forragem, então, além de alimentar um grande número de animais, elas deixam muitos resíduos para a melhoria física do solo, condições que, em área de lavoura exclusiva, há tendência à degradação física do solo. Por outro lado, nas culturas anuais, principalmente a soja, utilizamos corretivos e fertilizantes, para atender a necessidades delas, mas como nem todo fertilizante é utilizado por essas plantas, há um acúmulo desses nutrientes no solo, principalmente de fósforo e potássio, que são utilizados pelas forrageiras. Nos sistemas integrados as pastagens recuperam a física do solo e as culturas anuais recuperam quimicamente o solo. Do ponto de vista econômico, a integração também é interessante pela diversificação da produção e renda. Com isso, o produtor tem mais produtos sendo vendidos ao longo do ano e tem o menor risco com a produção diversificada. Há, também, o benefício ambiental, porque temos os solos preservados e a conservação da água no solo.

Quais os desafios da ILP para o produtor rural (agricultor e pecuarista)? A integração tem um desafio para o produtor rural. Primeiro, ele precisa quebrar a questão cultural. Conhecimento é outro desafio que será

necessário buscar. Se o produtor é pecuarista, ele vai ter que buscar conhecimento sobre práticas complexas que envolvem a agricultura. Da mesma forma, o agricultor precisa buscar informações sobre pecuária, que também existe um mundo de conhecimento. Ele tem que aumentar a base de conhecimento ou contratar técnicos que o assessorem. Outra limitação são os investimentos. Para o pecuarista iniciar a prática de cultivo de culturas anuais é necessário investir em máquinas, tratores, colheitadeiras, dependendo da região até silo para armazenamento. Por outro lado, quem trabalha com agricultura e pretende trabalhar também com pecuária tem investimento em cercas, aguadas, distribuição de rede de água e o investimento na aquisição de animais. Se trabalhar com 2 a 4 cabeças por hectare terá que investir, no mínimo, R$5 mil a R$10 mil por hectare. É um investimento razoável, mas também é uma poupança. Se o produtor precisar de dinheiro rápido, esses animais podem ser vendidos, tem liquidez e o produtor pode ter uma boa fonte de recurso para investimento ou custeio.

Quais são as culturas que podem ser utilizadas na ILP? Quanto ao sistema ILP existe uma diversidade de combinações de culturas, do tempo de permanência da pastagem e da lavoura. Cada produtor define o melhor sistema para sua propriedade. As instituições de pesquisa têm buscado resolver problemas pontuais, seja de sucessão da cultura, consórcios, rotações ou espécies utilizadas para sistemas integrados. Existem muitas possibilidades, o produtor precisa obter lucro com sua atividade, por isso ele vai elencar aquelas práticas que melhor se ajustem à sua realidade. Existem diversos sistemas de produção, como a soja é a principal cultura anual, é natural que ela faça rotação com pastagem e com outras culturas como cana-de-açúcar, mandioca, algodão e feijão. A Revista do PecSite

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Entrevista

2021 foi um ano com geadas excessivas. A ILP permite que se aumente a disponibilidade de forragem durante o inverno, ampliando áreas de pastagens. Ou seja, mantém-se uma pequena área de pastagem com pecuária no verão e uma grande área de culturas anuais. Nas áreas onde se têm as culturas anuais – em março entra-se com as forrageiras. Durante a estação seca, a época mais crítica para a pecuária, amplia-se a área de pastagem. Em regiões sujeitas à geada, quando há uma ou duas, elas não chegam a comprometer muito a produção de pasto, porque se tem plantas novas, nutridas, com uma capacidade maior de suportar esses estresses ambientais, seja seca ou geada. Por outro lado, quem trabalha com ILP tem mais facilidade de produção de forragem conservada, seja feno ou silagem. Isso facilita também que o produtor armazene alimento para utilização em épocas críticas.

Crédito: Gabriel Faria

Como as culturas se comportaram na ILP neste ano em que houve geadas?

Modelo de Integração Lavoura Pecuária (ILP)

Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono O Plano ABC tem por finalidade a organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis. Ele é composto por sete programas, seis deles referentes às tecnologias de mitigação, e ainda um último programa com ações de adaptação às mudanças climáticas: • Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas; • Programa 2: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); • Programa 3: Sistema Plantio Direto (SPD); • Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); • Programa 5: Florestas Plantadas; • Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais; • Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas.

Crédito: Luís Armando Zago Machado

Fonte: MAPA

Luís Armando Zago Machado é pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Integração Lavoura Pecuária

*Sílvia Zoche Borges (DRT-MG 08223) - Embrapa Agropecuária Oeste

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Especial - Projeções e Expectativas

Pecuária de corte deve encerrar 2021 com lucro garantido

Para 2022 o cenário é otimista, com projeções indicando queda nos custos de produção e aumento das exportações Glaucia Bezerra, da redação

O

s altos preços da arroba do boi, que estão cerca de 50% maiores que as cotações de 2020, irão garantir o lucro dos pecuaristas em 2021, mesmo com o aumento nos custos dos insumos usados na ração, como milho e farelo de soja. Assim como as exportações de carne bovina in natura, que neste ano, podem bater a marca de 1,84 milhões de toneladas exportadas, como indica o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

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De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), nos últimos cinco anos, em volume, a exportação de carne bovina cresceu 60,3%, saltando de 1,08 milhão de toneladas em 2016, para 1,72 milhão de toneladas em 2020, o maior volume já exportado pelo Brasil. Na comparação com 2019, o crescimento foi de 9,9%. Líder nas exportações de carne suína, a China vem ganhando destaque nos últimos anos também na exportação

de carne bovina, sendo a maior compradora da proteína brasileira, resultado do surto de Peste Suína Africana (PSA) em 2018, que assolou o rebanho suíno chinês. Em 2020, o gigante asiático respondeu por 50,4% do volume de carne bovina in natura embarcado pelo Brasil. Já no primeiro semestre de 2021, o Brasil exportou 735,8 mil toneladas, com faturamento de US$3,51 bilhões. Apesar da queda de 5,2% no volume


exportado na comparação com o mesmo período de 2020, o faturamento foi 1,9% maior. Nesse período, China e Hong Kong foram os principais destinos. Todavia, ser dependente de apenas dois compradores é altamente arriscado. “O ideal é diversificar mercados, não ficar nas mãos de comprador, para evitar que problemas como o embargo às exportações da China desestabilize tanto o mercado como tem ocorrido”, lembra a responsável pelo Departamento Técnico da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Juliane da Silva Gomes. Para o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, é fundamental o aprimoramento das

relações de comércio exterior, baseado no fomento de novos mercados e na expansão do relacionamento com os atuais países compradores de alimentos e produtos agropecuários. Desse modo, a política internacional deve ser pautada pelo profissionalismo no tratamento dos interesses brasileiros com os diversos mercados, pois se, por um lado, nosso maior parceiro comercial é a China, por outro, os financiamentos e as tendências globais vêm da Europa e dos Estados Unidos. Esse cenário favorece e incentiva o pecuarista a colocar o gado em confinamento, aumentando diretamente o consumo de alimentação industrializada. Até outubro, a demanda de ração para bovinos de corte apresentava um crescimento na ordem de 6,5%. De acordo com o vicepresidente executivo do Sindirações,

Ariovaldo Zani, durante o primeiro semestre a produção de rações e concentrados para bovinos de corte alcançou 2,44 milhões de toneladas. “Para 2022 estamos percebendo um alívio no preço do milho, mesmo ainda estando em altos patamares”, analisa Zani. Para ele, existem perspectivas de que no próximo ano haverá uma recuperação nos setores produtivos e econômicos, um otimismo que se dá por conta da previsão de efeitos climáticos amenos, bem como a regularidade das estações chuvosas e da quantidade de precipitação. A Revista do PecSite conversou com algumas das principais associações do setor, que trouxeram uma análise de 2021 e o que podemos esperar para 2022. Acompanhe.

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Especial - Projeções e Expectativas - ABAG

A força do agro brasileiro A união entre todos os elos produtivos é a chave para a conquista de novos patamares de desenvolvimento sustentável, que contribuirão para ter um Brasil socialmente, ambientalmente e economicamente equilibrado Marcello Brito / Associação Brasileira do Agronegócio – ABAG*

O

agronegócio brasileiro mostrou toda sua força em 2021 ao manter seu crescimento sustentável, mesmo diante dos impactos da pandemia da Covid-19, do cenário econômico e fiscal bastante desafiador, e dos desencontros causados pela instabilidade política. O setor foi resiliente, quando necessário, e guerreiro, quando chamado à luta para manutenção da oferta de alimentos seguros e nutritivos e de produtos indispensáveis para o cotidiano das pessoas.

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Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) apontam que a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto brasileiro deve ficar próximo dos 30% neste ano, um percentual maior do que em 2020, quando alcançou 26,6% de participação. Isso significa que há o potencial de gerar receitas de mais de R$ 2,5 trilhões, o que seria um recorde para o segmento. Ademais, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) também poderá

atingir o maior valor nos últimos trinta e dois anos, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com base nos dados de setembro, o VBP está estimado em R$ 1,1 trilhão, o que representa uma alta de 10% em relação ao R$ 1 trilhão alcançado em 2020. Embora os dados reforcem a pujança do agronegócio brasileiro, é preciso reforçar que o setor continua a vivenciar desafios externos a sua atividade, que se tornam entraves para um crescimento


hectares, o que representa 33,2% do território nacional. Esse volume de hectares é maior do que o território da maioria dos países do mundo. Além disso, o agronegócio brasileiro tem vocação ambiental, ou seja, pode se transformar em uma potência agroambiental, por meio do desenvolvimento de mercados estruturados nas áreas de bioeconomia circular e do carbono verde, o que estimulará a formação de novos polos regionais econômicos, resultando em geração de emprego, de renda e melhores condições de vida local e nacional.

ainda mais acelerado tanto no campo como na indústria e no varejo. São eles: a imagem brasileira perante à proteção ambiental, a política de comércio exterior, a governança pública, e a pouca interação entre os três entes de uma nação – união, iniciativa privada e sociedade civil organizada. Esses pontos contrastam com as ações do agronegócio brasileiro, que tem trabalhado para unificar tecnologia e ciência às melhores práticas de produção e à conservação ambiental, resultando em elevada produtividade e eficiência em todas as atividades do antes, durante e depois da porteira. Aliás, o setor é o maior protetor dos biomas brasileiros. Um estudo da Embrapa Territorial mostrou que as áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural brasileiro somam 282,8 milhões de

Mas, sem dúvida, um ponto crucial dessa agenda é o combate às ilegalidades que ocorrem nos biomas, especialmente, na Amazônia, com a aplicação rigorosa da lei vigente. Para isso, é preciso governança pública, isto é, ter medidas que organizem e atribuam responsabilidades, a fim de ter ações concretas para otimizar processos para a proteção ambiental e promover melhores práticas sustentáveis. Com isso, se cria o compliance na gestão pública, que nada mais é do que o cumprimento da lei. E, nesse sentido, o arcabouço legal brasileiro é fantástico. O agro brasileiro tem outra característica singular: a missão de alimentar o mundo. De janeiro a setembro deste ano, o MAPA apurou que as exportações do setor alcançaram US$ 93,6 bilhões. Em 2020, o valor acumulado foi de US$ 100,7 bilhões. Nesse cenário, com o câmbio favorável às vendas externas e a alta das exportações do complexo soja e da carne, é bem provável que alcancemos um novo recorde. Por isso, é fundamental o aprimoramento das relações de comércio exterior, baseado no fomento de novos mercados e na expansão do relacionamento com os atuais países compradores de alimentos e produtos agropecuários. Desse modo, a política internacional deve ser pautada pelo profissionalismo no tratamento dos

interesses brasileiros com os diversos mercados, pois se, por um lado, nosso maior parceiro comercial é a China e, até 2030, 60% do consumo da classe média estará na Ásia, por outro, os financiamentos e as tendências globais vêm da Europa e do Estados Unidos. O terceiro ponto desafiador é um maior diálogo entre a sociedade civil organizada, iniciativa privada e a união, para encontrar um consenso nos assuntos que norteiam o futuro do país. Essa interação possibilita encontrar soluções para ajudar os milhões de brasileiros em condições de insegurança alimentar e para diminuir a disparidade social vivenciada em nosso país. Não é possível ainda termos cerca de 27,2 milhões de brasileiros, em fevereiro deste ano, em situação de pobreza, de acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O agronegócio está à serviço e à disposição da sociedade brasileira para cooperar com o desenvolvimento social, por meio da geração de capital a ser reinvestido em áreas essenciais para a vida, como a saúde, educação, transporte urbano e moradia. A união entre todos os elos produtivos é a chave para a conquista de novos patamares de desenvolvimento sustentável, que contribuirão para ter um Brasil socialmente, ambientalmente e economicamente equilibrado.

Marcello Brito é presidente do conselho diretor da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) A Revista do PecSite

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Especial - Projeções e Expectativas - Acrioeste

Oscilações marcam o ano da pecuária do Oeste da Bahia Altos preços das matérias-primas colocam em cheque o desenvolvimento da atividade na região Glaucia Bezerra, da redação – com informações da Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste)*

N

os últimos meses a pecuária do Oeste da Bahia viveu momentos como se estivesse em uma montanha russa. Entre o segundo semestre de 2020 e os primeiros sete meses de 2021, os criadores, tanto na cria como recria e engorda, conseguiram aumentar suas margens de lucro, porém, em função da suspensão das importações de carne bovina pela China, os preços despencaram em mais de 15% na região, além disso, o alto custo dos insumos colaborou para achatar a lucratividade do setor nos meses finais de 2021. No auge dos preços, ocorrido entre março e maio deste ano, o pecuarista chegou a receber R$305,00 por arroba. No final de outubro, a arroba do boi gordo estava girando entre R$260,00 e R$285,00, dependendo do frigorífico e forma de pagamento. Já no caso de bezerros, alguns pecuaristas que trabalham com cria conseguiram comercializar seus animais por R$450,00 a arroba, mas a média de preço estava em R$430,00. Esses valores oscilavam conforme a qualidade dos bezerros e da genética desenvolvida nas fazendas. Apesar dos bons preços, o que mais desafiou os criadores, principalmente

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na área de engorda e acabamento de carcaça, foi conciliar a compra de animais mais valorizados com a aquisição de insumos que compõem a ração. Na esteira do aumento da arroba, o pecuarista viu os preços dos insumos subirem no mesmo patamar e, em alguns casos, apresentarem um aumento bem maior do que a porcentagem de valorização da arroba, condição que comprometeu as margens de lucro. O período de queimadas e a divulgação de notícias negativas e falsas contra o agronegócio também dificultaram os negócios. Muitas dessas notícias acusam irresponsavelmente a pecuária como uma grande poluidora do meio ambiente, quando na verdade, a quase totalidade dos criadores do Oeste da Bahia são conscientes quanto à necessidade de aliar produção com preservação, visando, principalmente, o bem-estar animal. Diversos agricultores do cerrado estão investindo na pecuária através da integração lavoura/pecuária. Devido o Oeste da Bahia ser o principal produtor de grãos e fibras do Nordeste, a oferta de ingredientes que compõem a

base da alimentação animal, a procura por áreas, principalmente no vale, aumentou bastante, muito em função dos preços mais acessíveis que em outras regiões tradicionais na pecuária. Grandes grupos como a Agropecuária Jacarezinho, as Fazendas Reunidas Japaranduba e a Agro Antonio Balbino, têm investido na oferta de animais com genética superior e colaborado com a melhoria do rebanho regional. Estados como Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Pará, Minas Gerais, Alagoas, São Paulo e Mato Grosso do Sul, têm adquirido na região touros e novilhas melhoradoras de rebanho. Para os criadores do Oeste da Bahia, o final de 2021 ainda é uma incógnita. Eles acreditam que no quesito novilhas prenhes e bezerros a demanda permanecerá alta, ao contrário do boi gordo. Essa demanda por novilhas deve-se muito à reposição de rebanho e ao baixo custo para produzir, pois o criador não almeja ganhar peso, mas manutenção do animal para gerar um bom bezerro. E para isso, uma boa pastagem e uma pequena complementação alimentar é o suficiente.


Em relação aos confinadores, a realidade é bem menos otimista. Alguns confinadores existentes na região estão tirando os animais dos confinamentos e soltando no pasto, o que acarretará em perda de peso e produção. Eles estão sendo obrigados a fazer isso, pois cada dia do animal recebendo alimento nos cochos de confinamento aumenta o prejuízo no momento da comercialização.

Para 2022 o cenário será de valorização da fêmea e do bezerro. Reflexo do descarte de fêmeas na seca ocorrida em todo o Nordeste, em 2016 e 2017. Essa seca severa obrigou alguns criadores a reduzirem seus plantéis. Quanto a recria e engorda a perspectiva é bastante sombria, reflexo da instabilidade política em que vivemos e também em decorrência da matéria-prima que compõe os insumos. Como o Brasil é um importador de matéria-prima e o

preço do dólar está descontrolado, pequenos e médios confinadores da região estão repensando este ramo da pecuária.

A Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste), fundada em setembro de 1994, sem fins lucrativos, sediada em Barreiras, tem atuação em todo o Oeste da Bahia, com atividades no segmento da pecuária.

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Especial - Projeções e Expectativas - Assocon

Pecuária de corte: desafios de 2021 e expectativas para 2022

O ano começou com as exportações de carne bovina aquecidas, a desvalorização do real aumentou a competitividade da carne brasileira e o aumento da demanda dos países asiáticos, principalmente China e Hong Kong, serviram de alavanca para esse crescimento Juliane da Silva Gomes/ Associação Nacional da Pecuária Intensiva - Assocon*

Fazendo uma retrospectiva de 2020 para entendermos 2021: viemos de um cenário marcado por alta no preço da arroba, chegando à casa dos R$300,00, falta de animais para abastecer o mercado doméstico (grande formador de preço) que, por sua vez, estava enfraquecido pela crise econômica provocada pela

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pandemia. A falta de animais se deu em razão do ciclo pecuário e foi agravada por questões climáticas, como a escassez de chuvas. Já as exportações foram muito bem, com um aumento significativo para o mercado asiático. O ano de 2021 se apresentou com boas expectativas para a pecuária de corte. Esperava-se uma recuperação do mercado interno, continuidade das

exportações em ritmo aquecido - como em 2020 - e valorização contínua da arroba do boi gordo. Aos poucos essas expectativas foram se quebrando. A primeira delas foi com o mercado interno que, enfraquecido por conta da crise econômica gerada pela pandemia, impactou parte da indústria frigorífica que abastecia principalmente esse mercado. O frigorífico começou a comprar um


boi para abate muito caro e vender carcaça a um preço mais baixo, quando comparado ao valor pago ao pecuarista. Sua margem, medida pelo indicador do equivalente/carcaça, apresentava índices ruins desde janeiro/21. Aos produtores, ainda que os preços recebidos parecessem interessantes, os custos de produção subiram no mesmo patamar e, após setembro, com a saída da China do mercado, os preços de venda do boi gordo despencaram. A indústria exportadora que estava em uma situação interessante se viu prejudicada com a suspensão, com estoques encarecidos e cargas paradas nos portos chineses.

Estamos no ano do criador e a valorização do bezerro favorece a atividade Em um cenário em que o preço do bezerro sobe (para que a conta feche), esse bezerro caro precisa obrigatoriamente ir de encontro a um boi gordo valorizado, caso contrário, não há matemática que dê jeito e deixe a conta positiva. Vivemos em 2021 uma realidade parecida com a de 2015, em que um grande comprador de carne internacional chega e altera todo o tabuleiro e, somado a uma baixa oferta de animais para o abate, fez com que inflacionasse os preços ao longo da cadeia produtiva. Essa retenção de vacas adultas, já sentida em 2020, se mostrou a maior nos últimos 20 anos, retratando uma busca pelo incremento na produção de bezerros, embora a expectativa de uma maior oferta desses animais já se apresente para 2022.

Soja: o Brasil é o maior produtor mundial do grão, como consequência o mercado nacional sofreu com valores em alta movidos, principalmente, pelas oscilações positivas dos preços internacionais e do dólar. A combinação de alta dos grãos, flutuação da arroba e desvalorização do real contribuíram para a instabilidade de 2021 e tem deixado quem trabalha com engorda de cabelo em pé.

consumo é positiva, aumento de renda e mudanças de hábitos de consumo pós-pandemia devem contribuir para esse crescimento da demanda. Mais da metade da carne bovina que o Brasil exporta vai para a China, por isso, o fim do embargo e a retomada da exportação vão interferir bastante nos preços da pecuária brasileira em 2022, quando o segmento entra em um ciclo de aumento da oferta.

As exportações de carne bovina estavam aquecidas, a desvalorização do real aumentou a competitividade da carne brasileira e o aumento da demanda dos países asiáticos, principalmente China e Hong Kong, serviram de alavanca para esse acréscimo. Todavia, ser altamente dependente de apenas dois compradores é altamente arriscado. O ideal é diversificar mercados, não ficar nas mãos de compradores, para evitar que problemas como o embargo das exportações para a China desestabilizem tanto o mercado como tem ocorrido.

Milho: a sustentação dos preços elevados em 2022 é justificada pela maior procura mundial pelo cereal, fato que aliado aos preços elevados deverá estimular o plantio. Já o aumento da área plantada com soja permitirá um incremento mais vigoroso na área do milho safrinha.

O que inicialmente foi tratado como embargo protocolar sanitário se mostrou em outubro, uma estratégia comercial, manobra para diminuir preço de compra. A China passou por uma grave peste suína que levou ao abate de aproximadamente 30% de seu rebanho de suínos, mas hoje, investiram em tecnificação, o que levou a um aumento no abate e maior oferta de carne no mercado deles. Isso fez com que não tenham mais a mesma necessidade anterior de nossa carne bovina. A realidade é que a carne bovina não é mais uma prioridade na mesa dos chineses.

O impacto do preço dos grãos no mercado interno:

O que esperar para 2022?

Milho: se deu em virtude da Safra 2020/2021 ter apresentado problemas climáticos que reduziram significativamente a produtividade das lavouras, levando consumidores a recorrerem a países vizinhos como Argentina e Paraguai para encontrar o grão.

Como consequência da retenção de fêmeas iniciada anos atrás, teremos em 2022 uma maior disponibilidade de animais prontos para engorda e terminação, o que pode contribuir com o aumento do número de animais abatidos em relação aos anos anteriores. A expectativa para 2022 em relação ao

Soja: com a expectativa de aumento do consumo mundial de soja em grãos para 2022 e com a oferta e demanda bastante ajustadas, os preços internacionais deverão permanecer elevados, incentivando um aumento de área plantada para a safra 2021/22. (CONAB 2021/2022). Isso significa que a dieta em 2022 terá ainda um alto custo e se manterá como uma pedra no sapato do pecuarista.

Juliane da Silva Gomes é zootecnista formada pela Unesp Botucatu, especialista em Produção de Ruminantes pela Esalq/USP e responsável pelo Departamento Técnico da Assocon - Associação Nacional da Pecuária Intensiva. A Revista do PecSite

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Especial - Projeções e Expectativas - Sindirações

Produção de ração animal pode crescer 4,5% em 2021 Para 2022 o cenário tende a ser promissor, com expectativa de boas safras e números positivos Glaucia Bezerra, da redação

A

s projeções do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) apontam que a produção de ração animal deve encerrar 2021 com um crescimento em torno de 4,5% em relação a 2020, quando foram produzidas 81,5 milhões de toneladas de ração. Esse crescimento se justifica pelo efeito das exportações, principalmente da China, que impactaram a demanda por carnes brasileiras. No primeiro semestre deste ano, o setor de rações animais registrou um crescimento de 5,2% se comparado ao mesmo período de 2020, somando uma produção de aproximadamente 39 milhões de toneladas. A indústria brasileira de alimentação animal manteve o desempenho, apesar dos desafios impostos pelo efeito dos fatores climáticos extremos (estiagem e geadas), pela alta do dólar no ambiente doméstico e o alto preço do milho e da soja.

Pecuária de corte: De

32

acordo

com

A Revista do PecSite

o

vice-presidente

executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, durante o primeiro semestre a produção de rações e concentrados para bovinos de corte alcançou 2,44 milhões de toneladas. Apesar do alto custo da reposição e dos preços estratosféricos dos grãos, o incremento verificado resultou da maior mobilização da alimentação industrializada para recria e terminação, por conta das péssimas condições das pastagens castigadas pelas adversidades climáticas. “Este ano o custo de alimentação se manteve em margens muito altas, eu diria até proibitivas para o desempenho da atividade. A cadeia não parou de produzir, apenas porque precisava atender aos compromissos firmados com os importadores”, pontua Zani. Para ele, o setor se manteve, principalmente, pelos bons preços pagos no mercado internacional, com recordes na exportação. Esse cenário favorece e incentiva o pecuarista a colocar o gado em confinamento, aumentando diretamente o consumo de alimentação industrializada. Até outubro, a demanda de ração para bovinos de corte apresentava

um crescimento na ordem de 6,5%. Em 2021, o setor de produção também contou com a continuidade do Auxílio Emergencial dado em parte do ano. Que contribuiu para aliviar o peso do consumidor brasileiro e permitiu um ambiente de números estáveis para a indústria de alimentação animal. Com a escassez registrada em 2021 - um resultado dos efeitos climáticos adversos, seca, geadas, quebra de safra - o estoque de passagem ficou muito pequeno, e as exportações de grãos foram muito inferiores ao programado. “No fim das contas a expectativa do mercado levou a um efeito especulativo, com o milho chegando em algumas praças a custar R$ 120 a saca, algo que alguns anos atrás se pagava R$ 35. Diferente da soja, que está tendo um excelente ano de exportação”, explica Zani.

O que esperar em 2022? “Para 2022 estamos percebendo um alívio no preço do milho, mesmo ainda estando em altos patamares”, analisa o vice-presidente. Para ele,


Em 2022: o mundo continuará demandando por alimentos produzidos no Brasil Expectativa de Produção de Ração (milhões de toneladas)

Segmento

2020*

2021**

%

Aves

41,4

42,8

3,5

Frangos de Corte

34,2

35,6

4,0

Poedeiras

7,15

7,26

1,5

Suínos

18,8

19,9

6,0

Bovinos

11,9

12,3

3,0

Leite

6,4

6,4

0,0

Corte

5,48

5,84

6,5

*Estimativa / **Previsão Fonte: Sindirações / Adaptado: Revista do PecSite

“Os modelos científicos indicam que o clima será mais amigável em 2022, seja no Hemisfério Sul ou Norte. E essa regularidade devolverá a produtividade que é necessária para o desempenho da produção de milho e uma continuidade no crescimento da produção de soja”, afirma Zani. Do ponto de vista de custo, a tendência é que haja um esfriamento nos preços dos grãos. Existem também as questões de câmbio, que influenciam diretamente os insumos que são importados (como as vitaminas, aminoácidos e aditivos) e pagos em dólar. Há também um direcionamento de que o câmbio seja mais valorizado ano que vem, com o real valendo um pouco mais. A certeza é que o mundo continuará

demandando por alimentos produzidos no Brasil, como resultado da recuperação, mesmo em menor intensidade, que está ocorrendo na economia mundial. Esses efeitos positivos podem levar a indústria de ração animal para um crescimento esperado, em 2022, entre 4% e 4,5%, números que refletem as análises das associações produtoras. “E nós, do setor de alimentação animal, somos moldados pelo desempenho da produção animal”, completa o vicepresidente executivo. “Por outro lado, caminhamos para um ano eleitoral, que, historicamente, no Brasil sugestiona diretamente a economia. Essa próxima eleição tem indícios de que influenciará bastante os negócios e a economia, ambos relacionados com a continuidade do Auxílio Emergencial. No entanto, aumenta a preocupação com as questões fiscais, como o teto de gastos, o aumento da taxa de juros e a inflação, que retroalimenta outra vez esse ciclo de dominância fiscal”, pontua Ariovaldo.

Para Zani, existe um conjunto de inputs que vão favorecer e trazer otimismo em 2022 para a cadeia de produção de proteína animal brasileira. “O preço do grão caindo, atrelado à queda do câmbio, melhores condições climáticas, maiores safras, mais oferta e menor preço, melhora na relação de oferta e demanda, valorização do real ou queda do dólar, são todas projeções que trazem um cenário mais amistoso para o próximo ano”, finaliza.

Crédito: Sindirações

existem perspectivas de que no próximo ano haverá uma recuperação nos setores produtivos e econômicos, um otimismo que se dá por conta da previsão de efeitos climáticos amenos, bem como a regularidade das estações chuvosas e da quantidade de precipitação.

Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações

A Revista do PecSite

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Especial - Projeções e Expectativas - Sindan

Setor de saúde animal espera crescimento de dois dígitos em 2021 O setor deve manter no fechamento de 2021 o ritmo de crescimento acelerado observado nos últimos anos Glaucia Bezerra, da redação

A

pesar das dificuldades inerentes à pandemia e a instabilidade econômica do Brasil, o segmento de saúde animal espera encerrar 2021 com um crescimento na casa de dois dígitos, de aproximadamente 12%, conforme perspectiva do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), os dados oficiais do ano serão divulgados em maio/22. Com o resultado obtido em 2020, com um crescimento de 16,5% nas vendas e R$ 7,5 bilhões de faturamento, um recorde histórico para o segmento, o setor irá manter o ritmo de crescimento acelerado observado nos últimos anos, com uma alta média de 8,4% ao ano desde 2003, quando o faturamento era um pouco abaixo dos R$ 4 bilhões. Para o vice-presidente Executivo do Sindan, Emilio Carlos Salani, o crescimento expressivo é explicado principalmente por dois fatores: o aumento da demanda global por proteínas, que fez com que os produtores reforçassem os cuidados com a sanidade dos animais de produção, e a maior proximidade entre os tutores e seus animais de companhia durante a pandemia, o que estimulou um maior cuidado com a saúde dos pets.

Escassez de insumos e problemas logísticos A alta dos preços e escassez no fornecimento de insumos, atrelada às questões de logística, impactaram a

34 A Revista do PecSite

capacidade e a dinâmica da produção dos produtos para saúde animal em 2021. O setor ainda precisou lidar com a volatilidade das indústrias que compõem a sua cadeia produtiva, como os negócios com petróleo, isopor, plásticos, papelão, e as matérias-primas oriundas do continente asiático e da Índia. Além disso, atualmente o Brasil tem um serviço oficial muito robusto, com uma regulamentação atualizada, mas que carece de alguns ajustes. “Sabemos que, no dia a dia, as grandes empresas nacionais vão investir pesado no Brasil. Afinal temos tudo: rebanho, um órgão regulador competente, o envolvimento de todos os elos da cadeia, e uma conscientização crescente da importância da sanidade para o crescimento da indústria”, frisa Salani. Para o executivo, a sanidade é fundamental e deve fazer parte do negócio. “Hoje nosso pecuarista está consciente de que nossas autoridades, a nível federal, têm poder para praticamente tudo. Todos têm que estar conscientes que a globalização, a melhoria genética, o adensamento de animais, a verticalização de produção e o combate ao desmatamento, tudo isso que nos cerca, vai nos obrigar a ter animais mais produtivos e que precisam ser cuidados de maneira adequada”.

observou um crescimento no percentual de faturamento baseado na produção de vacinas para ruminantes, aves e suínos. “Diferente de outras indústrias não fomos tão afetados em termos econômicos devido a nossa produção de produtos biológicos. Para quantificar essa realidade, apenas em vacinas obrigatórias estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para bovinos estamos comercializando em 2021 – lembrando que o ano ainda não foi encerrado – ao redor de 700 a 800 milhões de doses de vacina”. “Hoje o Brasil é um case de sucesso, um exemplo na produção de itens biológicos fundamentais para manter a produção de aves, suínos e bovinos. E não temos concorrentes na América Latina ou outro lugar do mundo”, finaliza o vicepresidente.

Soluções para animais de produção Salani pontua que em 2021 o setor

Emilio Carlos Salani é vice-presidente Executivo do Sindan


A Revista do PecSite

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Nutrição Animal

Manejo de pastagens em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária A semeadura consorciada entre espécies produtoras de grãos agrega vantagens no fornecimento de pastagens de alta qualidade para a entressafra Flávia Simili / Instituto de Zootecnia (IZ-APTA)*

Semeadura consorciada – SIPA-4: semeadura simultânea, milho com capimmarandu (capim na linha e na entrelinha) + aplicação de herbicida (subdose nicosulfuron).

U

mas das diferenças entre o manejo das pastagens nos Sistemas Integrados de produção agropecuária (SIPA) em comparação aos sistemas convencionais se dá com a implantação das pastagens. Para os SIPA’s, a semeadura do pasto geralmente acontece de forma consorciada com a cultura do grão,

36

A Revista do PecSite

Colheita milho grão realizada em maio/2016

enquanto que nos sistemas convencionais, o pasto é exclusivo e a semeadura é a lanço. Nos SIPA’s a preocupação que devemos ter é em relação a época de semeadura (safra, safrinha), método e densidade de semeadura (a lanço, linha, entrelinha, semeadura direta), e objetivo da

utilização destas forrageiras como fornecedoras de alimentação animal (silagem, feno, pastagem de entressafra ou recuperação de pastagem). Em se tratando das semeaduras consorciadas, tanto período da safra ou safrinha, é preciso dar preferencia às forrageiras que irão competir menos


com as culturas de grão. Sendo assim, as Brachiaria brizantha (cv. Marandu, cv. BRS Piatã, cv. BRS Paiaguás), Brachiaria decumbens, Brachiaria ruziziensis e Panicum maximum (cv. Massai, cv. Tanzânia, cv. Mombaça, e mais recentemente cv. BRS Zuri e BRS Tamani) têm sido as espécies mais utilizadas no consórcio com milho, sorgo e soja, com destaque para as Brachiarias, por serem mais tolerantes aos efeitos da estacionalidade e serem menos exigentes em fertilidade do solo, quando comparada ao gênero Panicum. Se o pasto for utilizado apenas no período de entressafra é preciso dar preferência às gramíneas de dessecação mais fácil, que irão produzir palhada e pouca touceira, facilitando o trabalho das semeadoras, desta forma, a B. ruziziensis atende a essas exigências. Já os cultivares de Panicum apresentam maior competição com culturas de grão quando a semeadura é realizada simultaneamente, sendo necessária a aplicação de herbicidas que reduzam o seu crescimento na fase inicial da

Agricultura

cultura. A semeadura em geral é realizada em plantio direto, simultaneamente a semeadura do milho ou sorgo, em que a semente do capim é misturada ao adubo de plantio, ou adubo de cobertura, porém, deve-se ter o cuidado nesta mistura, principalmente com adubo de cobertura, em que as doses de Nitrogênio são mais altas, podendo queimar a semente do capim, prejudicando assim a formação da pastagem. A técnica mais utilizada é a semeadura do capim na linha, entrelinha, ou em ambas, ao mesmo tempo, uma vez que a semeadura na linha e na entrelinha melhora a formação da pastagem e mantém o solo mais coberto. Os resultados abaixo mostram diferentes tipos de semeadura entre milho, para produção de grãos, e Brachiaria brizantha cv. Marandu, para produção de pasto. O experimento aconteceu no Instituto de Zootecnia (IZ), ligado à Agência Paulista de

Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, sob a coordenação da Dra. Flávia Fernanda Simili, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Foi possível observar que não houve prejuízos para a produção de grãos, podendo ser escolhida qualquer uma das semeaduras utilizadas no projeto. Porém, na semeadura defasada (SIPA-3), em que a semente do capim-marandu foi misturada ao adubo de cobertura, houve prejuízos na formação do pasto, com baixa produção de massa de forragem e maior quantidade de invasoras. Enquanto isso, as SIPA-1 e SIPA-4 apresentaram maior produção de massa de forragem e maior controle das invasoras, mantendo alta produtividade do milho grão. Portanto, ambas as técnicas de semeadura consorciada (SIPA-1 e SIPA-4) são mais adequadas, quando pensamos em produzir melhor a pastagem sem prejudicar a produção de grãos.

Capim-marandu (tonelada/ha)

Invasoras (tonelada/ha)

Milho Grão (tonelada/ha)

-

1,10a

10,76a

SIPA-1

1,29a

0,32b

10,98a

SIPA-2

0,67ab

0,70ab

12,07a

SIPA-3

0,33b

0,79ab

11,41a

SIPA-4

1,17a

0,28b

11,87a

Agricultura (milho exclusivo); SIPA-1 – semeadura simultânea, milho com capim-marandu; SIPA-2 – semeadura simultânea, milho com capim-marandu + aplicação de herbicida (subdose nicosulfuron); SIPA-3 – semeadura defasada do capim-marandu (semente do capim misturado no adubo de cobertura do milho); SIPA-4 – semeadura simultânea, milho com capim-marandu (capim na linha e na entrelinha) + aplicação de herbicida (subdose nicosulfuron). Resultado Projeto Fapesp (2014/24.514-6) – coordenadora Dra. Flávia Fernanda Simili

Capim-marandu: 1º ciclo de pastejo realizado de julho a outubro/2016

A Revista do PecSite

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Nutrição Animal

Capim-marandu: 2º ciclo de pastejo realizado de novembro/2016 a novembro/2017 (A, B, C, D)

A) Verão

B) Outono

C) Inverno

D) Primavera Fotos arquivo pessoal – Flávia Simili

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A Revista do PecSite

Em se tratando do consórcio com a soja, a semeadura não é simultânea, pois a soja tem um porte muito pequeno e seu crescimento é prejudicado pelo capim, sendo assim, a forma mais utilizada é a sobressemeadura do capim a lanço, quando a soja se encontra nos estádios fenológicos R5 a R7, quando as folhas estão senescentes, se depositam no solo, cobrindo as sementes do capim. Após a colheita dos grãos provenientes das semeaduras consorciadas, inicia-se o manejo da pastagem, e o primeiro ponto importante é a espera do acúmulo de massa de forragem do capim, para que os animais possam entrar nos piquetes e pastejarem. O acúmulo desta massa é dependente das condições climáticas e da época em que foi realizada a colheita dos grãos. Por exemplo, se tivermos apenas uma safra, em que a colheita é finalizada em fevereiro/março, as condições climáticas irão proporcionar rápido crescimento e acúmulo de forragem, e o pastejo deve iniciar em torno de 45 a 60 dias, porém, se tivermos duas safras de grãos (safra e safrinha), o crescimento do capim é mais lento e pode demorar até 90 dias para a entrada dos animais. Em geral, as pastagens provenientes dos sistemas integrados apresentam alto valor nutritivo e menor exigência de adubação, uma vez que o consórcio com a lavoura de grãos deixa resíduo de fertilizantes e da própria colheita (palhada e perda de grãos) fornecendo nutrientes para a pastagem. Porém os cuidados de manejo devem ser mantidos, assim como nos sistemas convencionais, tais como altura de entrada e saída, período de descanso, adubações de manutenção e taxa de lotação. O primeiro pastejo dos animais que se inicia após a colheita do grão deve manter uma taxa de lotação baixa, de 2 a 3 UA/ha, pois a pastagem ainda não está completamente estabelecida e esse primeiro pastejo irá favorecer o perfilhamento e enraizamento dessas gramíneas. A adubação da pastagem vai depender do tempo de sua utilização dentro dos

sistemas integrados. Por exemplo, se a pastagem será semeada anualmente em consórcio com objetivo de apenas pastejo de entressafra, não há necessidade de adubação. Se o pasto for utilizado por dois ou três anos consecutivos, em esquema de rotação de culturas, será necessária a adubação de manutenção para garantir uma produção de qualidade das gramíneas e consequentemente alta produção animal. Porém, se o objetivo for recuperação de áreas degradadas, em que a semeadura consorciada é utilizada para diminuir custos da implantação das pastagens, a adubação segue os princípios básicos da adubação do manejo convencional. Para tanto, o monitoramento da fertilidade do solo e a definição da produtividade animal almejada são imprescindíveis para recomendações mais precisas acerca das adubações de manutenção. Importante destacar que quando utilizamos SIPA’s, a semeadura consorciada entre espécies produtoras de grãos (milho, soja, sorgo) e forrageiras (Brachiaria e Panicum), temos a vantagem de fornecer pastagem de alta qualidade no período de entressafra, que é exatamente esse período em que nossas gramíneas tropicais apresentam crescimento e produção reduzida em função da estacionalidade. Sendo assim, a implantação correta dos SIPA’s é o passo mais importante para termos sucesso na formação e manejo das pastagens e na produção de grãos.

*Flávia Simili é pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo


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Saúde Animal

BVD: muito mais que uma doença reprodutiva, uma doença silenciosa que afeta a produtividade do rebanho A BVD é atualmente uma das doenças mais devastadoras na pecuária de corte e leite, visto que além dos problemas causados pelo próprio vírus, possui potencial imunossupressor provocando o nascimento de bezerros fracos e doentes Roulber Carvalho Gomes da Silva; Eduardo Pires; e Kamila Bravo*

Introdução A Diarreia Viral Bovina, mais conhecida como BVD é uma doença com alta prevalência e que causa grandes prejuízos econômicos no Brasil e em rebanhos de todo o mundo, o vírus da BVD está distribuído mundialmente provocando infecções endêmicas na

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maioria dos países com atividade pecuária, causando significativos prejuízos econômicos para a cadeia da carne e do leite (Flores et al., 2005). Inicialmente, a BVD era vista apenas como uma doença que causava prejuízos devido ao seu efeito na reprodução dos animais, porém não é

apenas uma doença reprodutiva. Os prejuízos econômicos ocorrem principalmente devido à imunossupressão, morbidade e até mortalidade de animais, além de abortos, natimortos, nascimento de bezerros com mal formações congênitas e presença de animais persistentemente infectados, acarretando um impacto de


aproximadamente US$210 por animal/ ano segundo Richter et al. (2017), que realizou um estudo de análise econômica dos trabalhos mundialmente relacionados com a doença.

O vírus da BVD O BVD é um vírus pertencente à família Flaviviridae e ao gênero Pestivírus que, dentre suas características, costuma apresentar elevado grau de variabilidade antigênica. Tem formato esférico entre 40 e 60 nm de diâmetro, envelopado e com capsídeo icosaédrico, seu genoma é composto por RNA linear, fita simples, com polaridade positiva. Baseado em propriedades antigênicas e genéticas, dois grupos do vírus causador da BVD podem ser diferenciadas: BVD tipo 1 e BVD tipo 2. (Fino et al, 2012). Os vírus do genótipo BVDV-1 abrangem a maior parte das cepas vacinais e de referência, enquanto os BVDV-2 foram identificados há mais de duas décadas em surtos de BVD aguda severa e doença hemorrágica na América do Norte (Pellerin et al. 1994, Ridpath et al. 1994). Existem diferenças entre os genótipos 1 e 2 que impactam diretamente os protocolos de diagnóstico e controle da BVD, biologicamente a principal diferença é em relação à glicoproteína que faz parte da indução de anticorpos contra o vírus, chamada de E2 (Fino et al, 2012). No Brasil os dois genótipos são quase

igualmente distribuídos com frequências de 40-57% para BVDV Tipo 1 e 42 45% para BVDV tipo 2 (Weber et al, 2014). Alguns anos atrás foi identificado um terceiro tipo de pestivírus, inicialmente chamado de BVD tipo 3, foi descoberto na Europa em soro fetal bovino importado do Brasil (Bauermann F. et al., 2013). Atualmente é classificado como outra espécie de pestívirus e chamado como Hobi-like vírus e tem sido reportado na América Latina, Europa, Tailândia e China (Decaro, 2020). O BVDv também é classificado em dois biotipos em relação à sua capacidade citopatólogica em cultivos celulares: citopático (CP) e não-citopático (CP). O primeiro é encontrado em isolados de animais que apresentam forma grave da Doença das Mucosas e o segundo é o biotipo mais predominante no campo, maior causador das infecções agudas (Flores, et al., 2005).

O que causa a BVD? Entre as décadas de 60 e 70, Correa et al. fez a primeira publicação no Brasil relatando casos de doença com sinais clínicos semelhantes à BVD, identificada como Doença das Mucosas por Olafson em 1946, no Canadá. Foi em 1974 que Vidor realizou o primeiro isolamento do vírus no Brasil, a partir do sangue de

um feto coletado em matadouro localizado no Rio Grande do Sul e a partir de então dados de sorologia e isolamento do BVDV no território brasileiro vêm sendo expostos em publicações (Botton, 1998). Em relação ao hospedeiro, a patogenia do vírus da BVD é dependente da sua imunocompetência e imunotolerância, além de outros fatores como a idade do animal e presença de condições estressantes (Radostits et al., 2002). A transmissão ocorre de forma horizontal através da ingestão ou inalação de partículas virais e por via sexual, e de forma vertical transplacentária. A porta de entrada são as vias nasal e oral, sendo que o vírus utiliza como sítio inicial de multiplicação as células epiteliais e tecido linfoide da boca e faringe, mais tardiamente concentram-se nas vias respiratórias, glândulas salivares e linfonodos. A eliminação do vírus é realizada pelos animais contaminados por descargas nasais, urina e saliva (Silva, 2011). Na figura abaixo de Flores e Ridpath (2017), podemos perceber o impacto da BVD nos casos de transmissão vertical. Quando a infecção ocorre entre 40 a 120 dias de gestação, teremos a formação de animais persistentemente infectados (PI’s), que nascerão imunotolerantes e eliminarão o vírus em grandes quantidades durante toda a vida.

Atrofia da retina cegueira Embrião muito susceptível

Lesões no SNC

Bezerros saudáveis soropositivos

Imunotolerência (PI) Efeitos na fertilização implantação

0

Abortos

40

80

120

160

200

240

280

DIAS DE GESTAÇÃO Adaptado de Ridpath e Flores, 2007

A Revista do PecSite

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Saúde Animal Em relação aos sinais clínicos, os principais são lesões no trato respiratório superior, como úlceras e erosões na mucosa oral, pirexia, sialorreia, descarga nasal, tosse e diarreia sanguinolenta. Nas infecções agudas, devido a um período de imunossupressão transitória, frequentemente haverá a presença de infecções secundárias, levando ao agravamento da doença, esta é a maneira pela qual esse vírus participa no aparecimento de outras síndromes, incluindo casos de doenças entéricas e respiratórias. O vírus da BVD também interfere extensivamente nas funções reprodutivas, nas quais, dependendo do momento da infecção, poderá ocorrer redução significativa nas taxas de concepção e aumento na incidência de abortos, malformações, natimortos ou o nascimento de animais persistentemente infectados. Devido à constante eliminação do vírus pelos animais PI, eles representam a principal fonte de disseminação do vírus no rebanho, dessa forma, sua identificação torna-se ponto fundamental em programas de controle ou erradicação

Richter et al. (2017)

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A Revista do PecSite

da BVD (Fino et al, 2012).

Prevalência A BVD é atualmente uma das doenças mais devastadoras na pecuária de corte e leite, visto que além dos problemas causados pelo próprio vírus, possui potencial imunossupressor provocando o nascimento de bezerros fracos ou doentes, aumento dos problemas respiratórios e baixo desempenho reprodutivo no rebanho. Os dados a seguir mostram a soroprevalência (exposição ao vírus) para BVD em países importantes: Reino Unido: 90% a 95%; Irlanda: 98%; Alemanha: 60%; França: 60%; Itália: 62%; Espanha: 80%. No Brasil os valores chegam a 73% em algumas áreas (Brito et al., 2014). Um dos fatores de extrema importância para a perpetuação e a alta prevalência global é a formação dos animais PI’s. Dados de vigilância sugerem que os níveis de animais PI’s nos rebanhos em toda a Europa são: Reino Unido: 0,40,8%; Irlanda: 0,6%; Alemanha: 0,3%; França: 1%; Itália: 1%; Espanha: 1%; Brasil: 1,5% (Instituto Biológico, 2017). Um aspecto interessante descrito em

uma pesquisa realizada na Europa, avaliando os dados da década de 1970 até o momento, é que a BVD é endêmica em todos os países onde nenhum controle sistemático foi iniciado. Sob tais condições, aproximadamente 50% de todos os rebanhos têm animais PI’s e 90% de todos os animais sofrem exposição ao vírus durante sua vida. Um fator importante a ser considerado é que os países nórdicos começaram a erradicar a BVD há mais de 10 anos, usando uma combinação de triagem, identificação de PI’s e subsequente abate, além de medidas de biossegurança. Os países nórdicos agora são classificados como livres de BVD. A partir do final dos anos 60, relatos de BVD foram feitos no Brasil, descrevendo quadro clínico e achados patológicos que condizem com as características da doença (Flores et al, 2005). Em estudos sorológicos realizados em diferentes estados brasileiros, de 1971 a 2004 em 4.065 animais foi encontrado uma prevalência de 47,7% e na figura a seguir é possível analisar os demonstrativos de alguns estados:


(Adaptado de Flores et al., 2005)

Como diagnosticar a BVD? O diagnóstico laboratorial da BVD pode ser realizado através da pesquisa do vírus (antígeno) ou pesquisa de anticorpos. O isolamento viral, a partir de fragmentos de fígado, baço, mucosa do intestino delgado, sangue total, soro ou sêmen é considerado o teste de excelência para diagnóstico de BVD, mas por ter realização que demanda maior tempo, a imuno-histoquímica e

ELISA estão tomando importância como métodos mais baratos e ainda assim com boa sensibilidade, permitindo a identificação de animais PI (Fino et al, 2012). Na pesquisa de anticorpos, a soroneutralização viral é rotineiramente utilizada, com esse método é possível identificar se o animal já foi exposto ao vírus em algum momento da vida, sendo esse contato com o vírus vacinal ou não. No gado leiteiro, a PCR é considerada de grande valia devido a sua alta

sensibilidade, através da análise de amostras de leite coletadas em tanques (Fino et al., 2012).

É possível controlar a BVD? A implementação de um programa de controle e erradicação da Diarreia Viral Bovina vem se mostrado cada vez mais importante, sendo seus pontos essenciais, além da eliminação e monitoramento de animais PI, a

¹recomendado uma combinação de métodos de identificação de agente aplicados na mesma amostra. Legenda: +++ = método recomendado; ++ = método adequado; + = pode ser usado em algumas situações, mas o custo, a confiabilidade ou outros fatores limitam severamente sua aplicação; - = não apropriado para este propósito. (OIE. Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals, 2018.)

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Saúde Animal vacinação e os protocolos de biosseguridade. Alguns relatórios sugerem que o vírus pode circular por longos períodos (10 meses ou mais), até mesmo na ausência de animais PI identificados (Moerman et al., 1993). Em dois estudos, o vírus circulou por dois a dois anos e meio, apesar da ausência de animais PI’s ou contato direto com bovino PI (Dias, 2010). A vacinação contra BVD vem sendo indicada na proteção para o quadro clínico, redução da circulação do vírus e nascimento de animais PI’s, porém no Brasil a sua implementação ainda está lenta. Segundo Flores et al (2005), a maior utilização é em rebanhos de leite e fazendas de criação intensiva e semiintensiva no sudeste e sul brasileiro, em comparação com a vacinação contra aftosa (aproximadamente 2,5 milhões de doses em 2003) a vacinação contra BVD foi considerada incipiente. O monitoramento sorológico de animais PI’s é um dos pontos cruciais no controle da BVD, a partir da PCR em amostras de soro e sangue é possível fazer a identificação dos animais, separação e eliminação do rebanho o mais breve possível. Outro ponto crítico é o trânsito de animais entre propriedades, sendo importante manter protocolo de quarentena para animais recém inseridos no rebanho, principalmente fêmeas prenhes, até que sejam testados e apresentem soronegatividade. Lembrando também da importância da desinfecção das instalações em que esses animais ficarão em quarentena, além da higiene de fômites que podem transmitir horizontalmente o vírus (Fino et al., 2012). Em regiões onde a BVD é endêmica, a vacinação de rebanhos livres é recomendada, principalmente indicada para rebanhos com alta rotatividade de animais, rebanhos com sorologia positiva, com histórico de doença clínica ou reprodutiva compatível e com confirmação virológica de BVDV (Flores et al., 2000). A vacina contra Diarreia Viral Bovina pode ser inativada (vírus morto) ou modificada (vírus vivo atenuado). As vacinas inativadas

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possuem partículas virais mortas, incapazes de se replicar nas células do animal, possuem maior massa antigênica diluída em adjuvantes para alcançar eficiência imunológica contra a doença. (Baccili et al., 2019). A vacina com vírus morto apresenta desvantagens como resposta imune fraca e de curta duração, proteção fetal ineficiente e revacinação periódica (Fino et al., 2012). As vacinas vivas atenuadas induzem resposta imune satisfatória e duradoura e não requer reforço após 30 dias para animais primovacinados (animais que estão recebendo a primeira dose). No cenário atual no Brasil, está disponível no mercado uma vacina viva atenuada com tecnologia patenteada de dupla deleção (Live Double Deleted – L2D), em que o vírus tem dupla deleção no genoma, levando à redução de virulência, porém, mantendo as características do genoma para melhor resposta imune. Recentemente, uma pesquisa publicada por Schmitt–van de Leemput (2020) utilizou uma vacina viva duplamente deletada contra BVD (Bovela – Boehringer Ingelheim) e comparou a produção de leite e a performance reprodutiva de animais vacinados e não vacinados em rebanhos endemicamente infectados pela BVD, ou seja, rebanhos que não apresentavam efeitos perceptíveis da infecção, mas existia a circulação viral entre os animais. O estudo foi realizado em quatro fazendas em três países diferentes (Inglaterra, Itália e França) totalizando mais de 1450 vacas. Durante o período de 365 dias de estudo, foram coletados dados da produção diária de leite por animal, de desempenho reprodutivo e incidência de doenças. A partir das análises estatísticas, foi identificado aumento significativo na produção de leite no grupo vacinado em três das cinco fazendas. Observou-se que a produção de leite nos animais vacinados no início e meio de lactação foi de 0,61L a 1,8L a mais quando comparado às vacas não vacinadas. Essa diferença de produção foi associada principalmente ao déficit energético observado em animais infectados, devido à estimulação de

produção de anticorpos e células de defesa durante a infecção. Estes resultados foram observados mesmo em rebanhos endêmicos, em que se presumia que os animais já tivessem imunidade devido à exposição prévia ao vírus. A produção de leite foi observada em dois momentos distintos da lactação, sendo que no início de lactação (8 a 102 dias em lactação) o aumento foi de 57 L de leite por vaca e no meio da lactação (103 a 204 dias em lactação) o ganho foi de 182 L por vaca. Desta forma, se considerarmos o preço médio de R$2,33 do litro de leite no Brasil (Cepea Outubro 2021), o ganho financeiro poderia ser de R$ 132–424 vaca/lactação. Esse artigo tem como objetivo apresentar uma pequena revisão sobre a importância de conhecermos a BVD e demonstrar os desafios e benefícios do seu controle, mesmo em rebanhos que aparentam não ter impactos negativos devido essa enfermidade silenciosa e que causa grandes prejuízos produtivos e econômicos para os rebanhos bovinos no Brasil e no mundo. *Roulber Carvalho Gomes da Silva – Médico veterinário, Mestre e Doutor em Qualidade e Produtividade Animal e Gerente de Marketing e Técnico de Grandes Animais da Boehringer Ingelheim **Eduardo Pires – Médico Veterinário, Mestre em Produção Animal Sustentável e Coordenador Técnico Especialista de Grandes Animais da Boehringer Ingelheim ***Kamila Bravo – Graduanda de Medicina Veterinária e estagiária da área técnica de Grandes Animais da Boehringer Ingelheim

As referências estão disponíveis pelo QR Code.


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Sustentabilidade

O futuro da produção de alimento é sustentável Cresce a preocupação com a sustentabilidade da produção da carne bovina. Para atender um novo mercado consumidor a cadeia precisa se atualizar e manter a mente abertas às mudanças Glaucia Bezerra, da redação

O

mundo enfrenta desafios cada vez maiores para produzir alimentos sem impactar o meio ambiente. Surge um movimento cada dia mais forte por uma pecuária sustentável, que atenda o manejo e a conservação dos recursos naturais, bem como por mudanças tecnológicas e institucionais que atendam as necessidades humanas de hoje e no futuro.

A população mundial chegará a 10 bilhões de pessoas até 2050, por isso, é necessário ampliar a produção de alimentos. O futuro da comida é cada vez mais saudável e sustentável, atendendo às mais diversas demandas da população. Portanto, é importante dialogar com a comunidade científica, investir em pesquisa e desenvolvimento para buscar soluções para a produção agropecuária, assim como para o desenvolvimento de novos produtos.

a JBS trabalha com uma Plataforma Pecuária Transparente, com tecnologia blockchain para estender aos fornecedores dos seus fornecedores de gado o mesmo monitoramento socioambiental que realiza com seus fornecedores diretos há mais de dez anos. A Companhia conta ainda, em todo o país, com os Escritórios Verdes, que prestam assessoria técnica gratuita aos produtores que precisam regularizar sua situação.

“Hoje, já existem soluções para aumentar a produção sem impactar o meio ambiente. Pastagens bem manejadas propiciam um sistema capaz de sequestrar carbono. Soluções baseadas na natureza também favorecem o aumento da produtividade. A JBS tem incentivado seus fornecedores a adotar o conceito integração lavourapecuária-floresta. Com isso, já temos exemplos de fazendas que eram emissoras de carbono e passaram a ser carbono negativas”, pontua a diretora de Sustentabilidade da Friboi, Liège Vergili Correia.

Para Liège, é possível trabalhar também em pesquisas com o objetivo de redução da emissão de metano na cadeia produtiva do gado. “Recentemente firmamos parceria com o Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para esses estudos. Também temos o programa Fazenda Nota 10, da Friboi, em parceria com o Instituto Inttegra, que promove a avaliação de indicadores de produtividade das fazendas, gestão de informações estratégicas, auxílio na tomada de decisões e capacitação das equipes que atuam nas propriedades, visando o fortalecimento do negócio de forma sustentável”.

Como exemplo de atuação sustentável,

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Soluções baseadas na natureza também favorecem o aumento da produtividade

Andrea Azevedo é diretora de Programas e Projetos do Fundo JBS pela Amazônia

Fundo JBS pela Amazônia A criação do Fundo JBS pela Amazônia está em linha com a política de sustentabilidade da JBS, com o desenvolvimento sustentável no setor de alimentos, a conservação e recuperação de florestas e apoio às comunidades em que a JBS está presente. A Companhia entende que a melhor maneira de preservar a floresta em pé é desenvolver o potencial da bioeconomia na região. “O Fundo JBS pela Amazônia é uma associação sem fins lucrativos, criada pela JBS em setembro do ano passado e dedicada a financiar e apoiar iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável do bioma. De maneira mais específica, o fundo tem apoiado projetos ligados à estruturação de

Liège Vergili Correia é diretora de Sustentabilidade da Friboi.

cadeias de valor que possam apoiar a manutenção da floresta”, explica a diretora de Programas e Projetos do Fundo JBS pela Amazônia, Andrea Azevedo.

Embrapa para P&D das cadeias da floresta.

O Fundo se baseia em três frentes: conservação e restauração da floresta; desenvolvimento socioeconômico das comunidades que vivem na região amazônica e melhoria da sua qualidade de vida; e desenvolvimento científico e tecnológico, por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

“O Fundo está aberto para receber projetos e iniciativas estruturantes, além de estar em busca contínua por novos projetos que sejam conectados a sua estratégia. A iniciativa é aberta a outras empresas, parcerias do terceiro setor e grupos multistakeholders que queiram contribuir para o cofinanciamento dos projetos que o Fundo apoia”, diz a diretora do programa.

A ação da JBS conta com seis projetos apoiados. São três ligados à cadeia de produtos amazônicos: cacau, açaí e pirarucu, e três projetos transversais: um para destravar e ampliar o acesso ao crédito rural para o pequeno produtor, outro para desenvolver um ambiente de empreendedorismo na Amazônia, e o último, uma parceria técnica com a

Como forma de ampliar o alcance do Fundo, a JBS se comprometeu a dobrar as doações de terceiros e a garantir que o Fundo receba o mínimo de R$ 50 milhões ao ano em recursos, durante os cinco primeiros anos. “Até 2030, a meta é chegar a R$ 1 bilhão para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, finaliza Andrea. A Revista do PecSite

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Sustentabilidade

Produção e conservação: a importância dos incentivos econômicos para manter florestas em propriedades privadas Projeto CONSERV, do IPAM, comemora um ano de seu lançamento, no qual foram realizados 25 pagamentos e preservados mais de 8 mil hectares de floresta nativa Glaucia Bezerra, da redação

O

Brasil é o maior produtor e exportador de carne bovina e soja do mundo, e para continuar a produzir, garantindo a segurança alimentar global, o agronegócio precisa de chuvas e de um clima estável. Mas sem a floresta em pé, não há como garantir a constância desses elementos-chave. O caminho é propor soluções que posicionem a conservação e a produção

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em um mesmo patamar, valorizando aqueles que buscam compreender essa nova dinâmica. Iniciativas que pretendem conter o desmatamento legal podem ser um dos grandes pilares para alcançar uma transformação efetiva e moderna, nas regras que hoje moldam o uso da terra no país.

Fund) e ao Woodwell Climate Research Center, com apoio dos governos da Noruega e dos Países Baixos, colocou em operação o CONSERV. Um projeto único no mundo, capaz de remunerar produtores rurais da Amazônia Legal para manter em pé suas áreas passíveis de conversão legal.

Há um ano, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), junto ao EDF (Environmental Defense

Nesses doze meses, foram realizados 25 pagamentos a produtores do município de Sapezal (MT), enquanto foram


conservados oito mil e quinhentos hectares de floresta - número que corresponde a mais de onze mil e quinhentos campos de futebol. O CONSERV é um mecanismo privado, de adesão voluntária, que compensa médios e grandes produtores dos biomas amazônico e do Cerrado por manterem em pé uma área de vegetação nativa dentro de sua propriedade que poderia ser suprimida legalmente. Para o diretor executivo do IPAM, André Guimarães, o paradigma de que

Woodwell Climate Research Center, e o apoio do NICFI – Norway’s International Climate and Forest Intetive e o Reino dos Países Baixos, que idealizaram esse projeto que promove uma fonte de recursos para os produtores rurais brasileiros, em especial da Amazônia e do Cerrado, que preservam além do código florestal”, acrescenta Guimarães. Para o executivo, o Brasil tem um desafio enorme de acabar com o desmatamento ilegal como parte do compromisso internacional com a

André Guimarães - diretor executivo do IPAM

“Preservar as florestas é um bom negócio para a agricultura, a pecuária e para o Brasil”, André Guimarães

é preciso expandir a fronteira para crescer está comprovadamente equivocado e não é mais atual. É preciso olhar para um novo modelo: o da intensificação e o da conservação em terras privadas, que é o que o CONSERV se propõe a fazer. “É importante dizer que este projeto vem sendo trabalhado há quase cinco anos pelo IPAM em parceria com a EDF – Environmental Defense Fund e o

agenda climática, devendo ser essa a prioridade do governo e do país, de combater a ilegalidade e o crime que acontece na Amazônia e no Cerrado. Mas, para além deste combate à ilegalidade, é preciso criar instrumentos financeiros para estimular os produtores a irem além do que o código florestal exige. “Muitos produtores têm ativos que podem ser preservados, mas hoje, no

arcabouço jurídico brasileiro, temos poucos incentivos para os produtores que desejam ir além da lei. É para eles que o CONSERV nasceu: para provar a hipótese de que é possível sim, com alguma remuneração, ampliar a base de florestas preservadas dentro de propriedades rurais e, fazendo isso, conseguir uma maior harmonização no campo, com parte desse recurso podendo ser reinvestido na produção”, frisa o diretor do IPAM.

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Sustentabilidade O CONSERV demonstra para a sociedade brasileira, a liderança do agronegócio, o setor financeiro e a cooperação internacional, que existe uma maneira de produzir alimento, produzir commodities agrícolas e promover a conservação de floresta simultaneamente, em uma mesma área. Sempre de uma maneira harmoniosa que se retroalimenta para gerar oportunidades futuras de negócio, para as pessoas, para a geração de emprego e para a conservação de floresta. A Lei 12.651 do Código Florestal Brasileiro, aprovada em 2012, que dá permissão ao produtor rural de fazer a supressão das áreas de floresta para fins de produção, indica o tamanho da área de supressão permitida ao produtor que é definida de acordo com os biomas, sendo 20% para a Amazônia e 30% para o Cerrado, explica a diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM, Lucimar Souza. Mas ela faz um alerta: ter uma área enorme não é garantia de uma grande produção. É preciso que o produtor, em sua área já aberta, faça todos os investimentos necessários em tecnologia, para ter o rendimento e o retorno econômico que aquela área permite. “É necessário explorar o máximo possível da capacidade de produção daquele espaço para então abrir novas áreas, dentro do limite da lei, e essas decisões fazem com que os produtores tenham o que chamamos de ativo florestal”.

É possível produzir, preservar e lucrar O produtor rural de Sapezal, Mato Grosso, participante do CONSERV, Redi Biesuz, salienta que o projeto veio para consolidar anos de promessas que nunca chegavam ao campo. “Desde o começo exploramos a propriedade de modo responsável buscando produzir o máximo possível dentro da área que já estava ocupada, e ainda tínhamos uma grande porcentagem de terra, passível de abertura pela lei, mas sempre morou dentro da gente o desejo de preservar mais e, quem sabe, podemos passar essa vontade para as próximas gerações e mostrar para o mundo que é possível produzir e preservar além do que a lei permite”.

Lucimar Souza - diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM

Para Biesuz, “não deixa de ser uma realização pessoal participar de um projeto de tamanha magnitude, tão bonito e tão benéfico para todos. Essa certamente é uma nova caminhada e precisamos aprender muito, melhorar a atividade e a forma de preservar”. Segundo o IPAM, atualmente a região de Sapezal faz uma das explorações mais intensivas possíveis em sua produção de grãos e pecuária. Ao mesmo tempo tem conseguido preservar e respeitar as áreas de reserva legal e as margens de rios, fazendo com que a comunidade possa presenciar durante o ano todo águas limpas e sem a influência de assoreamento.

Redi Biesuz - produtor rural de Sapezal

“Temos aqui um exemplo de troca, o ambiental aprendendo com o produtivo e o produtivo aprendendo com o ambiental, não existe regra pronta para a sustentabilidade”, salienta André Guimarães.

“Precisamos ter a responsabilidade de preservar para que possamos viver em um planeta muito melhor” Redi Biesuz 50

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O pagamento por serviços ambientais como solução “É preciso ser compatível trabalhar com produção e sustentabilidade”, acredita a diretora de Programas Ambientais e Projetos do Fundo JBS pela Amazônia, Andrea Azevedo, que define o artigo 41 do código florestal, de remuneração para serviços ambientais, como o maior aliado da preservação. “Mesmo com as restrições do código, o Brasil ainda tem um potencial de desmatamento legal de mais de 80 milhões de hectares, quando olhamos para a Amazônia são quase 9 milhões de hectares passíveis de serem desmatados legalmente. Nesse cenário, o CONSERV ocupa uma lacuna muito importante, de proporcionar a produção e a sustentabilidade, tendo um potencial enorme de expansão e ao mesmo tempo mostrar, não apenas para o Brasil mas para o mundo, que conseguimos preservar quando temos recursos em escala”, pontua Andrea. Para a diretora da JBS o instrumento do CONSERV atende vários setores, como o mercado privado, principalmente os frigoríficos, os próprios consumidores de fora do Brasil, setores ligados ao financiamento, o governo e os próprios produtores. Com a entrada das ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU), surgiu a preocupação do setor privado

em criar valor em uma economia real, assim, nos últimos 10 anos, os investidores passaram a buscar um impacto real e positivo na economia. “Esses investidores entendem que sem uma conservação, atrelada ao desenvolvimento, não será possível alimentar a população, sendo essa também uma questão de segurança alimentar. Vale ressaltar que o consumo de alimento e a produção agrícola aumentaram em 48% entre 2001 e 2018, foi mais que o dobro da taxa de crescimento da população humana e, em 2030, esperamos que 1.8 bilhões de pessoas entrem para a classe média mundial, o que irá impulsionar ainda mais a demanda por alimentos e commodities agrícolas”, explica a Head of Finance Sector Engagement, Tropical Forest Alliance/World Economic, Danielle Carreira. O setor privado assume um novo papel, que lhe dá mais do que a obrigação com o lucro, ele precisa ajudar a população e a comunidade, integrando um projeto muito maior. E essa mudança de mentalidade vai permitir que se atinja grandes objetivos como a expansão do CONSERV, além de ações de sustentabilidade na produção que resultarão em iniciativas efetivas de conservação das florestas tropicais.

Danielle Carreira - Tropical Forest Alliance

Andrea Azevedo - diretora de Programas Ambientais e Projetos do Fundo JBS pela Amazônia

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Inovação

Condomínios de agroenergia promovem economia para pequenas propriedades rurais Pequenas propriedades geram biogás que é transportado por gasodutos formando um condomínio gerador de energia partilhada por todos

A

geração de gás natural em pequenas propriedades rurais, por meio de um sistema integrado, pode ser um bom negócio para o ambiente e para os produtores. Isso foi concluído a partir do estudo de um condomínio de agroenergia implantado em Marechal Cândido Rondon (PR). Pesquisadores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Embrapa, da Universidade de Brasília (UnB) e do Centro Internacional de Energia Renovável (CI Biogás) apontam as possibilidades de vários modelos de negócio para a implementação de projetos coletivos de aproveitamento energético da biomassa residual (como o esterco) que podem beneficiar produtores familiares.

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No Condomínio Ajuricaba, um projeto-piloto de pesquisa de produção de biogás em pequena escala, próximo à Usina Hidrelétrica de Itaipu, os biodigestores das propriedades rurais são interligados por uma rede de gasodutos que transporta o excedente de biogás para uma central de armazenamento. À época do estudo, em 2018, o biogás era comercializado para uma unidade de abate de aves da Cooperativa Agroindustrial Copagril, vizinha do condomínio. No momento, o biogás é utilizado somente pelas propriedades. O condomínio de agroenergia foi implantado em 2009, com a instalação de biodigestores visando ao

aproveitamento energético de dejetos da bovinocultura de leite e suinocultura, em 33 estabelecimentos familiares rurais localizados na microbacia do Córrego Ajuricaba. Os biodigestores foram conectados a um gasoduto de 25,5 km para o transporte do excedente de biogás (não utilizado nas propriedades) para uma central de armazenamento, na qual inicialmente era feita a alimentação de um secador de grãos comunitário e a geração de energia elétrica em uma microcentral termelétrica. Em 2018, de acordo com dados do estudo, as 14 propriedades analisadas (de um total de 25 do condomínio, à época) já produziam juntas uma média


mensal de 1.433 m³/mês de dejetos de bovinos e suínos, que geram uma produção média de 3.947 m³/mês de biogás. Em quase todas as propriedades, o consumo de gás de cozinha e lenha havia sido totalmente substituído pelo biogás. Segundo os autores, outros estudos indicam que essa substituição pode reduzir em até 80% as despesas para aquisição de GLP e fertilizantes minerais. Foi o que registraram análises de projetos de digestão anaeróbia de pequeno porte implementados em áreas rurais na Colômbia. “É importante ressaltar que em nossa condição tropical, a diversidade de substratos de resíduos que podemos usar para a geração do biogás, nos proporciona vantagens em comparação a outros países que não têm uma diversidade tão grande para o processo de biodigestão. É uma vantagem competitiva muito grande que o Brasil possui”, explica o pesquisador Airton

Kunz da Embrapa Suínos e Aves (SC), que participou da implantação do Condomínio Ajuricaba.

Parceria sem ônus aos agricultores O condomínio de agroenergia foi implementado pela Itaipu Binacional em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), a Embrapa Suínos e Aves, a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a Prefeitura Municipal de Marechal Cândido Rondon, o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI) e o Movimento Nacional dos Pequenos Agricultores (MPA), sem ônus financeiro aos agricultores familiares. Além de iniciativas voltadas à redução do potencial de eutrofização (processo que gera aumento excessivo de algas) do reservatório pela disposição inadequada de dejetos animais, a

Itaipu Binacional realizou ações visando ao desenvolvimento socioeconômico e a recuperação ambiental da Bacia Hidrográfica do Paraná III, onde está localizado o condomínio. O pesquisador Bruno Porto, do Mapa, um dos autores do estudo, lembra que antes da implementação do condomínio de agroenergia não havia o aproveitamento energético dos dejetos animais. “Os dejetos eram armazenados em lagoas de estabilização abertas, que são caracterizadas pela emissão de gases de efeito estufa, e depois aplicados como fertilizante nas lavouras”, lembra Porto. “A pesquisa indicou que a substituição do consumo de gás de cozinha em todas as propriedades pode melhorar a percepção dos agricultores em relação à implementação do projeto, sobretudo pela melhora nos indicadores de renda e de autonomia energética, como consumo de energia, geração própria,

“Além de proporcionar economia pela substituição do gás de cozinha e da lenha, a implementação do condomínio de agroenergia contribui para mitigar impactos ao meio ambiente e agregar valor à produção animal intensiva em pequena escala”

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Inovação

aproveitamento, reuso e autonomia na área agrícola, segurança energética e geração de renda. São questões estratégicas para a redução de custos das unidades familiares”, explica o pesquisador João Paulo Guimarães Soares, da Embrapa Cerrados (DF).

Mitigação de impactos ambientais Além de proporcionar economia pela substituição do gás de cozinha e da lenha, a implementação do condomínio de agroenergia contribui para mitigar impactos ao meio ambiente e agregar valor à produção animal intensiva em pequena escala. Esses conceitos e iniciativas relacionados à sustentabilidade, segundo os autores do estudo, devem ser tratados estrategicamente, para promover ganhos de competitividade para a agricultura brasileira. Os pesquisadores analisaram os impactos da produção de biogás pelos agricultores familiares em Marechal Cândido Rondon com o uso do sistema Ambitec-Bioenergia, que contempla impactos ecológicos (eficiência tecnológica e qualidade ambiental) e socioambientais (processo produtivo, emprego, renda, saúde e gestão e administração). Segundo o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP) Geraldo Stachetti

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Rodrigues, que colaborou no desenvolvimento do sistema de indicadores, as evidências de mudanças no desempenho ecológico e socioambiental são obtidas em observações de campo e consultas aos agricultores. “Trata-se de um exercício de análise multicritério, no qual evidências de mudanças trazidas nas práticas de manejo, no uso de insumos e recursos, nas condições de trabalho, e suas consequências na viabilidade do empreendimento rural são pontuadas, em diálogo com o produtor. Os indicadores são ponderados segundo a escala em que se observam estas mudanças (desde os campos cultivados até o entorno das fazendas), se elas resultam em efeitos positivos ou negativos para a sustentabilidade, e conforme a importância relativa entre os 23 critérios e 123 indicadores. Com base nos levantamentos de campo o sistema expressa os índices de impacto da adoção tecnológica (ou seja, da geração e uso do biogás), empregados como um guia para a gestão ambiental do empreendimento rural”, explica Rodrigues. Os índices de impacto mostraram desempenhos positivos na maioria dos critérios. “Resultados positivos, estatisticamente significativos, foram obtidos para sete dos dez critérios de impacto ecológico, como uso de insumos e recursos agrícolas; consumo de energia; autogeração, utilização,

reaproveitamento e autonomia na área agrícola; segurança energética; emissões para a atmosfera; qualidade do solo e qualidade da água”, destaca Rodrigues. Na dimensão de impactos socioambientais, foram registrados bons resultados em produtividade; integração produtiva no conceito de biorrefinaria; treinamento; qualificação e disponibilidade de trabalho; geração de renda; destinação de resíduos e relacionamento institucional. Contudo, explica Rodrigues, algumas recomendações de melhorias gerenciais são necessárias para a replicação do projeto piloto. Além dos resultados positivos da substituição do gás de cozinha, o biogás também deve ser utilizado para a geração de energia elétrica pelo sistema de compensação ou comercialização por meio do Sistema Interligado Nacional. De acordo com o pesquisador, os condomínios de agroenergia apresentam potencial para melhorar a destinação de resíduos agrícolas e contribuir para o aumento da oferta de energia elétrica no País. No entanto, ele defende que esses modelos de cooperação sejam objeto de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação concatenadas com políticas de crédito e assistência técnica e extensão rural. “Isso porque os condomínios de


agroenergia e biogás são altamente dependentes de treinamento e conhecimento técnico especializado”, frisa.

Estudos indicam que essa substituição pode reduzir em até 80% as despesas para aquisição de GLP e fertilizantes minerais

Os cientistas destacam, por fim, que além do modelo de negócio estudado com pequenos biodigestores interligados por gasodutos, há uma diversidade de tecnologias para ser considerada, como o transporte de biomassa de pequenas propriedades para plantas centralizadas. Por isso, eles defendem que estudos comparativos sobre impactos ecológicos e socioambientais podem direcionar políticas públicas voltadas para o aproveitamento energético de resíduos agrícolas.

Desafios Nove anos após a implementação, o Condomínio Ajuricaba ainda apresentava alguns desafios. Alguns produtores informaram, no momento da pesquisa, que os biodigestores ficavam distantes das residências e que não havia sido construída a tubulação necessária ao transporte e uso do biogás nas propriedades. Outra questão apontada pelo estudo é a dificuldade de aproveitamento do

digestato (material que passou por processo de digestão anaeróbia e que tem características fertilizantes muito semelhantes às do dejeto maturado), normalmente usado como fertilizante orgânico nas propriedades. “A quantidade insuficiente de implementos agrícolas [equipamentos] para uso do digestato em substituição a fertilizantes químicos pode ter reduzido a economicidade e impactado negativamente a geração de renda no condomínio”, diz Porto. Ele acredita que a disponibilização de um número adequado de implementos para o uso do digestato poderá melhorar a percepção dos agricultores em relação a pelo menos quatro critérios: uso de insumos agrícolas e recursos; geração própria, aproveitamento, reuso e autonomia na área agrícola; qualidade do solo e geração de renda. “No mesmo sentido, a construção de tubulação necessária ao transporte e uso do biogás em todas as propriedades poderia melhorar os indicadores de renda e de autonomia energética, como consumo de energia, geração própria, aproveitamento, reuso e autonomia na área agrícola, segurança energética e geração de renda”, completa Soares.

Autores do estudo Bruno Porto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; João Paulo Guimarães Soares, Geraldo Stachetti Rodrigues e Airton Kunz, da Embrapa; Ana Maria Junqueira e Armando Caldeira-Pires, da Universidade de Brasília; e Daiana Martinez, do Centro Internacional de Energia Renovável (CI Biogás). A Revista do PecSite

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Processamento e Abate

Carne bovina: Será que o paquiderme vai se mover? A necessidade de movimento está sendo demandada em duas linhas distintas: a de valores intangíveis e a do atendimento às tendências de estilo de vida e desejo do consumidor Gelson Luís Dias Feijó / Embrapa Gado de Corte*

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or décadas, ninguém precisou vender carne bovina, o mercado é tão ávido pelo produto que basta tê-la em estoque que aparece um consumidor querendo comprá-la. Isso é tão verdade no mercado interno quanto no mercado externo, onde o Brasil é um dos maiores fornecedores do produto, tendo no volume, na constância, na

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uniformidade e no preço os grandes atrativos. Registre-se que o termo paquiderme é uma simples analogia zoológica para definir o tamanho, a importância e o impacto da cadeia brasileira de produção da carne bovina sobre a economia do País. Por que questionar movimento se a

pecuária brasileira evoluiu tanto nas últimas décadas, principalmente dentro da porteira? Simplesmente, porque a necessidade de movimento está sendo demandada de fora da porteira e são duas linhas distintas na teoria, mas entrecruzadas na prática, a dos valores intangíveis (coisas que não se medem diretamente no produto, como aspectos


A pesquisa no campo das ciências rurais tem gerado tecnologias em todas as áreas do conhecimento impactantes na bovinocultura

de garantia de bem-estar animal e preservação ambiental) e a do atendimento às tendências de estilo de vida ou desejo do consumidor. A pesquisa no campo das ciências rurais tem gerado tecnologias em todas as áreas do conhecimento impactantes na bovinocultura: nutrição, genética, sanidade, manejo, forrageiras e gestão, para citar algumas das tradicionalmente definidas pela academia, que os pecuaristas as transformam em inovações promovendo aumento da produção e da produtividade, com geração de renda e emprego nas propriedades rurais. Se está indo bem dentro da porteira,

então para onde a pecuária deve se movimentar? Simples, para atender aos desejos dos consumidores e para competir com novos desafios que se avizinham. É importante pontuar que essas mudanças não serão, necessariamente, feitas dentro da porteira, mas, majoritariamente, em termos de mudança na imagem da pecuária brasileira e no desenvolvimento de novos produtos à base de carne bovina. É preciso mostrar que os sistemas produtivos são bem conduzidos e que atendem àquilo que o mercado consumidor deseja. É óbvio que será preciso adequar ou

implementar alguma coisa nos diferentes sistemas produtivos encontrados no país, mas caberá à indústria o papel de orientação sobre as qualidades tangíveis do produto (aquilo que se mede, quantifica e avalia diretamente no produto, e o caracteriza como tal, por exemplo, peso e acabamento das carcaças e marmorização da carne) e o desenvolvimento de alternativas para aumentar o consumo de carne bovina em resposta às abundantes iniciativas de lançamentos de “carnes falsas”, sejam feitas de vegetais, de multiplicação celular em laboratório, impressas a partir de pastas proteicas ou mesmo de insetos.

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Processamento e Abate

O processo de abate também evoluiu bastante, a começar pela adoção de protocolos de boas práticas para transporte de bovinos, com melhora nas gaiolas boiadeiras e treinamento dos motoristas A evolução do abate no Brasil O processo de abate também evoluiu bastante, a começar pela adoção de protocolos de boas práticas para transporte de bovinos, com melhora nas gaiolas boiadeiras e treinamento dos motoristas, que propiciou uma considerável redução nos casos de contusões observados nas carcaças. A indústria modernizou o processo de abate, investiu em sistemas de identificação e rastreamento, ampliou e melhorou a capacidade frigorífica, implantou protocolos de boas práticas, abate humanitário, controles de riscos, pontos higiênico-sanitários críticos e efetuou treinamento de colaboradores. Além disso, embora ainda tímidas, adotou medidas de valorização para os produtos (carcaças) desejáveis, incentivando e sinalizando aos produtores o que o mercado está desejando. Essas iniciativas de valorização culminam em uma relação ganhaganha, pois o produtor tem sua produção reconhecida e valorizada, a indústria recebe o que precisa e o consumidor passa a comprar, reconhecer e pagar pelo que deseja. Cabe registrar que grande parte dessa evolução no parque industrial brasileiro se deve à busca pela aprovação e manutenção dessa aprovação para exportação aos diferentes mercados internacionais.

Indústria de processamento da carne bovina

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Em síntese, a produção de carne brasileira alcançou avanços expressivos e apresenta números formidáveis, mas não pode estagnar, precisa se mover e esse movimento depende em menor ou maior grau de todos os elos da cadeia. Em primeiro lugar, a pecuária brasileira precisa mostrar à sociedade brasileira e ao mundo que é sustentável e para isso há iniciativas como as Boas Práticas Agropecuárias - Bovinos de Corte (BPA). Essas práticas referem-se a um conjunto de normas e de procedimentos a serem observados pelos produtores rurais, que além de tornar os sistemas de produção mais rentáveis e competitivos, asseguram também a oferta de alimentos seguros, oriundos de sistemas de produção sustentáveis. Ao adotar as Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (BPA), o produtor rural poderá identificar e controlar os diversos fatores, que influenciam a produção, contribuindo para o aumento do desfrute do rebanho e na redução das perdas. Isso resulta em sistemas de produção mais competitivos, mediante a consolidação do mercado interno e a ampliação das possibilidades de conquista de novos mercados que valorizam a carne e o couro de alta qualidade. Outra iniciativa é o Marca-Conceito Carne Carbono Neutro, parametrizável e auditável, que visa atestar a carne bovina produzida em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta), por meio do uso de protocolos específicos que possibilitam o processo de certificação. Seu principal objetivo é garantir que os animais que deram origem ao produto

tiveram as emissões de metano entérico compensadas durante o processo de produção pelo crescimento de árvores no sistema. Além das Diretrizes Técnicas para Produção de Carne com Baixa Emissão de Carbono Certificada em Pastagens Tropicais: Carne Baixo Carbono (CBC). Que foram produzidas a partir do levantamento, análise, discussão e compilação de dados científicos disponíveis na literatura, e inclui procedimentos fundamentais para a contabilização de carbono no solo, recuperação e manejo sustentável das pastagens, sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e emissão de metano pelos animais, bem como, disposições gerais sobre aspectos relacionados à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) na área produtiva. Em segundo lugar, a indústria brasileira precisa investir em opções de processamento para a carne bovina, tirando-a do pedestal de rainha do churrasco, especialmente reconhecida sob a forma de picanha e costela, e valorizar cortes alternativos, aproveitando a melhora da qualidade do bovino que está sendo entregue pelos produtores e aproveitando a onda de cortes “gourmet” que, embora abusando do estrangeirismo para enfeitar cortes populares com nomes como “flat iron” ou “ancho”, vem se espalhando pelos açougues país a fora. Em terceiro lugar, a indústria também precisa desenvolver formas de apresentação da carne bovina que vão ao encontro do estilo de vida dos consumidores, em que o porcionamento, congelamento e micro-


ondas são palavras que fazem parte do cotidiano. Feliz e timidamente, já é possível encontrar algumas iniciativas, que vão além dos exitosos hambúrgueres nas gôndolas do mercado brasileiro. Por fim, o ponto determinante para a universalização e aumento do consumo da carne bovina brasileira, e que deve ser considerado pela indústria, é a exploração do conceito carneingrediente. A indústria deve ponderar a possibilidade de aumentar a participação da carne bovina no mercado de proteína animal via desenvolvimento de pratos prontos ou semiprontos contendo carne bovina, ampliando o já estabelecido sucesso das lasanhas bolonhesas e similares congelados.

Até pode-se dizer que essa demanda é perfeitamente factível com os atuais recursos e competências instalados nas grandes indústrias do setor, afinal, foi exatamente dessa maneira que as indústrias suinícola e avícola foram impulsionadas na tomada de uma boa parcela da proteína de origem animal, que hoje é consumida diariamente pela população brasileira e mundial. É interessante mencionar que o desenvolvimento ou atendimento dessa demanda será também uma opção para mitigação dos efeitos competitivos das chamadas “carnes falsas” que estão por vir, embutidas em receitas contendo os apelos do vegetarianismo e das tecnologias alternativas à criação de animais para abate.

Em síntese, a produção de carne brasileira alcançou avanços expressivos e apresenta números formidáveis, mas não pode estagnar, precisa se mover, e esse movimento depende em menor ou maior grau de todos os elos da cadeia

*Gelson Luís Dias Feijó é pesquisador da Embrapa Gado de Corte na área de Ciência da Carne, e desenvolve experimentos com ênfase em Genética e Melhoramento dos Animais Domésticos, atuando nos temas: avaliação de carcaças e qualidade da carne bovina, ultrassonografia zootécnica, marcadores moleculares, confinamento, cruzamento e castração. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade da Região da Campanha (1988), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (1993) e doutorado em Animal Breeding and Genetics pela University of Wisconsin-Madison (2007).

Referência https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/1627/boas-praticas-agropecuarias--bovinos-de-corte-bpa) https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/3488/marca-conceito-carne-carbono-neutro https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1120985/ diretrizes-tecnicas-para-producao-de-carne-com-baixa-emissao-de-carbono-certificada-em-pastagens-tropicais-carne-baixo-carbono-cbc A Revista do PecSite

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Cobertura

6º Congresso Nacional das debate tecnologias, gestão suste Em edição 100% digital, o evento reuniu 2.500 participantes entre os dias 25 e 27 de outubro

A

importância das tecnologias digitais, cada vez mais fundamentais para a comunicação e evolução do agro, norteou os debates da 6ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – CNMA, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de outubro, em formato 100% digital. Neste ano, as discussões buscaram evidenciar o processo de digitalização como um fator fundamental para a inovação do novo agro, não apenas para gestão dentro da porteira das fazendas, mas para o sucesso de toda a cadeia produtiva.

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A Show Manager do evento, Carolina Gama, salienta que os debates amadureceram ao longo dos seis anos de história do CNMA, assim como as congressistas têm agregado, a cada dia, mais valor aos seus negócios e atividades. “Com essa edição registramos um marco em que a digitalização não aparece apenas como mais um elemento do cenário de tecnologias para o agronegócio, mas, sim, como algo fundamental para o futuro”. Durante o 6º CNMA, 2.500 congressistas acompanharam debates que destacaram a contribuição e a

importância do papel das mulheres no crescimento do setor. Foram cinco mesas-redondas, cinco painéis, além do anúncio das vencedoras do 4º Prêmio Mulheres do Agro Bayer/ ABAG, do lançamento do documentário “Quando ouvi a voz da terra” e a homenagem à embaixadora da edição, a agropecuarista Sônia Bonato. Os temas principais ficaram em torno de tecnologias – entre elas a digitalização do campo –, gestão, inovação, sustentabilidade e a COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima).


Fotos: Valmir Franzoi

Mulheres do Agronegócio entável e diversidade na liderança O compromisso do Brasil em alimentar o mundo Citando a produção nacional direcionada para o mercado externo, o presidente do Conselho da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Marcello Brito, lembrou que as exportações do Brasil para a China, até o primeiro semestre de 2021, foram de US$ 47,2 bilhões de dólares, uma alta de 39% na comparação com o primeiro semestre de 2020. Em seguida veio a União Europeia, com US$ 17,8 bilhões (+26%); seguida por Estados Unidos, com US$ 13,3 bilhões (+10%); Mercosul, com US$ 7,9 bilhões (+46%); e Japão, com US$ 2,2 bilhões (+22%). “Isso

mostra

como

temos

uma

dependência intrínseca da China. Inclusive, até 2030, 60% do consumo da classe média mundial estará na Ásia. Mas precisamos salientar que, apesar disso, as tendências de mercado e a base de todo o financiamento ainda saem dos EUA e da Europa. Isso significa que vivemos num mundo globalizado, no qual em algum momento os braços se encontram em um ponto da cadeia produtiva”. Para a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teka Vendramini, é importante ressaltar que o agronegócio do Brasil ainda é formado por 80% de pequenos produtores e que há muito a ser feito para que o nível de tecnificação desse percentual chegue ao mesmo patamar daqueles 20% que participam das exportações.

A digitalização não aparece apenas como mais um elemento do cenário de tecnologias para o agronegócio, mas, sim, como algo fundamental para o futuro

Para ela, a pandemia foi uma crise

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Cobertura

transformadora e, após o baque inicial, o agronegócio brasileiro produziu muito e mostrou que tem protocolos firmes que permitiram ao Brasil exportar para o mundo inteiro. “Mas o momento atual está sendo de grandes desafios para o produtor rural, que está produzindo com 30, 40% de aumento de custo e não sabe como vai receber isso lá na frente. Além disso, e citando a colocação do Marcello [Brito], temos essa dependência da China e estamos tendo problemas com a chegada de fertilizantes e outros insumos”. Mesmo assim, Teka cita que o agronegócio brasileiro “subiu de prateleira” porque a exigência é tão grande em cima dos produtores, que eles precisam fazer uma gestão muito eficiente e sustentável, mostrando para

o mundo o trabalho que vem realizando dentro da sua propriedade.

União entre economia e biodiversidade A mesa-redonda Bioeconomia analisou os principais pontos de como o mercado financeiro pode se integrar e interagir com as práticas e ações pautadas em sustentabilidade que são cada vez mais exigidas pela sociedade. Para o diretor de Sustentabilidade Corporativa do Bradesco, Marcelo Pasquini, a bioeconomia representa uma grande oportunidade para o Brasil. “Devemos fomentar mais a conversa e as ações sobre bioeconomia no país, pois esse é um nicho que ainda tem bastante espaço para crescer”.

A Chief Commercial Officer do CME Group, Julie Winkler, lembra dos riscos financeiros associados a negócios sustentáveis. “Essa é uma das razões pelas quais é importante conscientizar os produtores acerca da necessidade de se adaptar às boas práticas. Dessa forma, é possível canalizar os recursos para que seja efetivada uma gestão das mudanças nesse tipo de negócio”.

As 7 Virtudes Capitais das Mulheres do Agro O painel “As 7 Virtudes Capitais das Mulheres do Agro - CNMA”, em que as representantes femininas do setor foram reconhecidas por suas múltiplas habilidades, teve como ponto alto a responsabilidade e resiliência das mulheres.

A mulher cresce cada vez mais no comando das companhias devido a sua capacidade de comunicação 62

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Fotos: Valmir Franzoi

Moderada por José Luiz Tejon, sóciodiretor da empresa Biomarketing e coordenador de conteúdo do evento, a mesa-redonda reuniu nomes como a pecuarista e presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), Carla de Freitas; a fundadora e CEO da Agrosmart, Mariana Vasconcelos, a pesquisadora da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, Petúla Ponciano Nascimento; e o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli. Para a presidente do NFA, “o evento é uma oportunidade de troca de ideias e sua criação depositou confiança nas mulheres. Dentro deste universo conseguimos afirmar nossa força e mostrar nossa paixão pela terra, pelo agro”, argumenta Carla de Freitas. Mariana Vasconcelos lembra que quando começou sua carreira quase não encontrava mulheres nos cargos de liderança. “Eu visitava o campo, as empresas e não me via representada. Hoje vemos outra realidade e por meio

desse grupo encontramos sororidade. Aqui temos a oportunidade de errar e de empoderar outras mulheres”, afirma. Para a pesquisadora Petúla Ponciano Nascimento, a mulher cresce cada vez mais no comando das companhias devido a sua capacidade de comunicação. “Durante a pandemia pudemos vivenciar o papel de comunicadora da mulher. É ela quem desmistifica e traduz os acontecimentos para a sociedade, fazendo isso do micro para o macro, ou seja, de dentro de casa para a sociedade. Precisamos continuar atuantes para que possamos trazer uma realidade cada vez mais segura e responsável para nosso setor”. Convidado para homenagear as líderes deste mercado, Alysson Paolinelli deixou clara sua grande admiração e confiança no feminino. “Mulheres têm capacidade de tomar iniciativas com efetividade, sem perder o carisma e a paciência, virtude que tanto falta aos homens. Tenho que confessar que,

ao longo dos meus 60 anos de carreira, fui surpreendido por esta força, que me ensina coisas novas a cada dia”.

Save the date A 7ª edição do CNMA está confirmada para os dias 26 e 27 de outubro de 2022, presencialmente, no Transamerica Expo Center, em São Paulo (SP).

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Ponto Final

Desafios, oportunidades e cenário da bovinocultura no pós-pandemia Saulo da Luz e Alessandra Rosa*

A

pecuária de corte é uma atividade de grande relevância socioeconômica para o país, pois além de produzir um alimento de grande valor nutricional, também gera emprego e renda para milhões de pessoas de norte a sul do Brasil. Além disso, as exportações de carne e seus derivados contribuem significativamente para a geração de divisas para o país. Ao longo das últimas décadas, a cadeia produtiva da bovinocultura de corte tem crescido consistentemente, fruto dos investimentos em tecnologias, como o melhoramento genético dos animais, o aprimoramento das técnicas de reprodução, sanidade, nutrição e manejo, além dos avanços na área de gestão, que levaram o país a ser o segundo maior produtor e o maior exportador de carne bovina. Além dos avanços no segmento produtivo (da porteira para dentro) e da qualificação das indústrias, que possibilitaram o acesso a mercados mais exigentes (em relação a processos e produtos) e contribuíram para aumentar a lucratividade da cadeia como um todo. Por outro lado, os mercados consumidores estão cada vez mais exigentes, não somente em relação às propriedades sensoriais da carne (maciez, sabor, suculência, etc.), mas, especialmente, nas práticas produtivas, onde a questão ambiental tem sido o tema central. A atividade pecuária tem sido constantemente apontada como uma das principais responsáveis pelo aumento do efeito estufa e o aquecimento global, em função da produção de metano proveniente da fermentação entérica dos ruminantes. Nesse cenário, o Brasil é apontado como um dos principais responsáveis por esse fenômeno, pois possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, que, em sua maioria, são criados em condições extensivas de produção e com baixa tecnificação, levando ao abate tardio e, consequentemente, maior produção de metano. Essa questão adquiriu ainda maior relevância na recente reunião da COP26, onde o aquecimento global e as mudanças climáticas foram os temas centrais dos debates, sendo que vários países, inclusive o Brasil, comprometeram-se a reduzir em 30% as emissões de metano até 2030. Em declaração, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que “a pecuária brasileira precisará se adaptar” para que o Brasil possa cumprir essa meta, embora tenha reconhecido que muitos produtores já adotam práticas para reduzir esse impacto.

Aliada a essa questão, outro ponto que também tem ocupado um espaço importante nos debates é a necessidade de preservação das áreas verdes, especialmente as florestas, como forma de amenizar as mudanças climáticas. Também nessa área a pecuária de corte tem sido apontada como vilã, uma vez que o aumento das áreas de desmatamento, especialmente na Amazônia, tem sido associado à criação de bovinos. Embora vários dados utilizados para embasar essas afirmações sejam contestáveis e as conclusões distorcidas (por viés ideológico ou interesses espúrios), para a grande massa de consumidores com pouco ou nenhum acesso a informações técnicas corretas, a pecuária de corte é uma atividade que polui, destrói o planeta e maltrata os animais. Essa imagem negativa e enganosa tem fortalecido o surgimento de alternativas “salvadoras” como as chamadas “carnes de laboratório”, “carne vegetais”, entre outras, como alternativas definitivas e únicas para alimentar os atuais 8 bilhões de pessoas que vivem em nosso planeta, sem deixar resíduos ou causar qualquer impacto ao meio ambiente. De todo modo, a cadeia produtiva da bovinocultura de corte brasileira tem demonstrado sua capacidade de se modernizar e se adequar às demandas dos diferentes mercados consumidores, produzindo produtos com qualidade e a preços competitivos, em comparação aos nossos principais competidores internacionais, tornando-se um dos principais fornecedores de proteína animal de alta qualidade para alimentar milhões de pessoas ao redor do mundo. Porém, é preciso avançar mais firmemente nas questões de sustentabilidade, especialmente em relação à redução do impacto ambiental, pois esse é um fator que deverá se sobrepor em termos de relevância para os consumidores e ser decisivo para conquistar ou manter mercados mais exigentes. Além disso, é preciso melhorar a comunicação do setor com os consumidores, pois como já comprovado, informar adequadamente é a melhor arma para enfrentar a desinformação. Porém, nada disso inibe ou assusta os produtores rurais, que estão acostumados a enfrentar e vencer desafios constantemente. O caminho a ser seguido é uma continuação do que já tem sido trilhado nas últimas décadas, que é a constante busca pelo aumento da eficiência produtiva, através da aplicação do conhecimento.

Saulo da Luz e Silva é professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA/USP. Alessandra Fernandes Rosa é Pesquisadora Colaboradora da FZEA/USP e proprietária da empresa Smart Meat Consultoria E Projetos Ltda.

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