Abandono de Animais

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COMO AS FÉRIAS E A FALTA DE PLANEAMENTO DESPOLETAM O

ABANDONO DE ANIMAIS por Carlos Gandra


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O

s animais não são mobília. Não são brinquedos, objetos descartáveis ou decoração velha. Os animais não se podem deitar fora quando já não precisamos deles, quando nos estão a incomodar ou quando se tornam um peso que não previmos. Todo o ambiente que rodeia um animal o afeta emocionalmente (e fisicamente), pelo que é preciso ter um grande cuidado, respeito e consideração por eles. Pela vida deles. No entanto acabam abandonados, todos os dias aparecem novos casos. Em Portugal, foram abandonados 30 mil animais só em 2013, um número que duplicou em cinco anos (fonte). O Brasil tem mais de 30 milhões de animais abandonados (fonte), com um aumento de abandonos que chega aos 70% durante as férias (fonte). Os números são explícitos e falam por si próprios, mas a pergunta que fica é… como é possível abandonar assim os animais?

No Mundo dos Animais procuramos sempre abordar de uma forma moderada o conceito de amigo dos animais. Não fazemos comparações, por exemplo, o valor de uma vida humana ao valor da vida de um animal (e muito menos entramos pela misantropia). Mas a ciência tem comprovado o que o bom senso há muitos nos dizia através das palavras de Jeremy Bentham – “Não importa se os animais são incapazes ou não de pensar. O que importa é que são capazes de sofrer”. Neste artigo vamos abordar várias questões relacionadas com o abandono, em especial durante as férias que é o período em que os números disparam por completo, bem como as formas de o prevenir. Já ouviu certamente dizer que a prevenção é o melhor remédio e neste caso, não é diferente. O abandono combate-se não abandonando. Demasiado óbvio e mais fácil escrever do que concretizar, seguramente.


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Contudo, o planeamento (antes) e a mentalidade correta na relação com os animais (durante) podem ser a chave que tanto desejamos encontrar para resolver este flagelo da nossa sociedade (depois). Um flagelo que nos deveria deixar envergonhados enquanto animais racionais e espécie civilizada. Temos as armas para o fazer.

Embora nem só as férias sirvam de pretexto para abandonar um animal, uma larga percentagem dos abandonos poderia ser evitada com um pouco de consciencialização e planeamento.

NÃO DESCUIDE O PLANEAMENTO

Antes de decidir adotar ou comprar um animal, deve colocar em cima da mesa, com a sua família (ou quem mais viva na mesma casa), todos os cenários possíveis.

O

s animais sentem e sofrem em medidas muito iguais a nós próprios: o que lhe dói a si, também dói a eles e isso aplica-se tanto a um pontapé (físico), como ao sentimento da solidão (emocional), como à agonia da não ter o que comer (sobrevivência).

Os animais são todos os anos vistos como um problema quando as famílias planeiam as suas férias. Os canis ficam sobrelotados e a grande maioria dos animais que neles são recolhidos acabam eutanasiados em poucos dias. Morrem.

Antes de adotar ou comprar um animal, pense duas vezes. Ou três.

Para começar, as questões financeiras. Sobretudo nos dias que correm, com a crises económica a preencher as primeiras páginas dos jornais, esta tem de ser uma questão da máxima prioridade na hora de decidir avançar para a adoção de um animal. Cães e gatos necessitam de alimentação diária e cuidados veterinários imprescindíveis como a vacinação e desparasitação, já para não falar de problemas de saúde e acidentes, que


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surjem sem avisar e cujos tratamentos são dispendiosos. É importante avaliar a estabilidade financeira e o impacto no orçamento que um animal pode causar. Aquele pensamento comum de onde comem três também comem quatro pode revelar-se perigoso. As férias, como já se viu, devem merecer uma atenção muito especial. Não deve deixar esse assunto para um depois vê-se, pois é meio caminho andado para não se ver nada de bom. Se o seu animal vai ser um fardo quando quiser fazer as férias, a atitude mais sensata é não o comprar nem o adotar. Se quer mesmo ter um animal, então pense antecipadamente num plano para deixar o animal em boas mãos, ou então escolher destinos de férias que aceitem animais e assim levá-lo junto. Não menos importante, o espaço. Se está a adotar ou comprar um cachorrinho bebé, tenha a noção de que ele vai crescer. Em alguns casos, vai crescer muito e tornar-se num animal grande e imponente, incompatível com a vida um apartamento por exemplo.

Se adquirir um cão de raça pura, pode precaver-se escolhendo um cão de raça pequena. Se estiver a adotar um cão sem raça definida e que ainda não seja adulto, pode crescer mais do que está à espera. A verdade é que muitas vezes os animais são abandonados por terem ficado grandes demais. Contacte um responsável ou voluntário em qualquer associação e protetora de animais e certamente terão casos destes para lhe contar. Ter um animal não é um direito, mas sim um luxo, que exige disponibilidade financeira, tempo livre, trabalho, preocupações e muita, muita responsabilidade. É um ser vivo que tem direitos constituídos, que tem sentimentos, que se afeiçoa aos seus donos. Mas é também um ser irracional, que não compreende o porquê de ser feliz durante alguns meses e depois ser despejado na rua, sem condições, sozinhos e praticamente condenado. Ninguém deve comprar ou adotar um animal sem condições para ficar com ele e dar-lhe os cuidados básicos, até ao fim da sua longevidade natural.


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E se gosta mesmo de animais ou pretende ajudar os animais abandonados, mas não tem condições para ficar com eles definitivamente, torne-se voluntário numa associação ou ofereça-se como FAT (Família de Acolhimento Temporário). A responsabilidade e a noção do que se pode ter ou não ter, é muito importante em toda a nossa vida.

NÃO ABANDONE OS SEUS ANIMAIS NAS FÉRIAS

E

não abandone nunca, evidentemente. O seu animal não merece ficar sozinho à mercê da (pouca) sorte. Tendo em conta as diversas opções disponíveis, a nível de serviços ou mesmo alguma criatividade pessoal, não existe qualquer justificação para abandonar os animais durante as férias, seja qual for a situação. Se prefere deixar o seu animal ao cuidado de outrem enquanto vai de férias, existem hotéis e

serviços de pet-sitting que tomam conta do seu animal e lhe proporcionam todos os cuidados necessários. Vamos abordar agora sucintamente estas soluções. Pet-sitting: Os pet-sitters são profissionais que se deslocam a sua casa para prestar todos os cuidados que o seu animal necessitar. Alimentam os animais, tratam da higiene, acompanham-nos


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ao veterinário em caso de necessidade e, em particular os cães, podem levá-los aos seus passeios diários, não quebrando assim a rotina que já têm. Hotéis para animais: Uma solução alternativa aos pet-sitters. A diferença aqui é que o animal, em vez de ficar em casa, fica no hotel, recebendo igualmente todos os cuidados necessários. Visite os hotéis dedicados a animais próximos da sua área

de residência e informe-se sobre os serviços e condições dos mesmos: se incluem equipa veterinária, se o espaço tem boas condições para o animal, entre outros pormenores que certamente quererá ver assegurados ao seu amigo peludinho. Familiares, vizinhos e amigos: Esta pode ser a solução mais económica e não menos eficaz (dependendo, claro, das pessoas em causa).


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Imagine uma situação em que tanto você como o seu vizinho têm animais de estimação, e fazem férias em diferentes datas. O seu vizinho poderia tomar conta dos seus animais enquanto você e a sua família vão de férias, retribuindo depois ao cuidar dos animais dos seu vizinho quando for ele de férias.

Caso o seu vizinho não tenha animais, pode sempre combinar outro tipo de retribuição. As vantagens neste caso, para além de poupança económica, passam por já conhecer a pessoa a quem vai confiar a vida dos seus animais.

NÃO SE ESQUEÇA QUE ELES PODEM IR CONSIGO

J

á existem diversos parques de campismo e hotéis que permitem aos donos levar consigo os seus animais de estimação durante as férias. Isto abre mais um leque de opções e, as suas férias, não têm de significar uma separação do seu melhor amigo, nem sequer temporária. No entanto e como sempre, recomenda-se que a situação seja bem analisada, de preferência junto do veterinário dos

seus animais, que saberá melhor que ninguém que ambientes e que condições são as mais adequadas para cada caso. A viagem: Se for de viagem sem sair do país, o médico veterinário irá informá-lo acerca do melhor acondicionamento e recomendações para que o animal não sofra na deslocação. É importante que se informe pois diferentes animais têm diferentes necessidades e diferentes meios de transporte exigem diferentes cuidados.


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Caso viaje para outro país, deve ter sempre em atenção as leis desse mesmo país, que em alguns casos podem ser drasticamente diferentes no que diz respeito à documentação exigida, vacinação obrigatória e outros documentos. Ambiente estranho: É perfeitamente natural que o seu animal, de início, estranhe o novo ambiente, pois não conhece o local. Faça alguns passeios com ele (no caso de ser um cão), isso vai ajudar o animal a ambientar-se e ganhar confiança, pois está junto do dono, a pessoa neste mundo em quem mais confia. Evite deixar o seu animal sozinho num quarto ou numa tenda, em especial se ele ainda não se sentir seguro nesse novo ambiente. Cristopher Soto López / Flickr


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NÃO FECHE OS OLHOS AO PROBLEMA

É

falsa a ideia de que um animal, se for abandonado, consegue desenrascar-se. Também é falsa a ideia de que alguém vai pegar no animal e levá-lo para sua casa. Não conte com isso. Não se pode socorrer da ideia do instinto selvagem pois se temos cães e gatos em casa, é precisamente porque estes foram domesticados. Serem fisicamente parecidos com os seus parentes selvagens não faz deles animais selvagens. Ulf Bodin / Flickr


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A escassez de alimento, de água, de abrigo e de segurança, deixa os animais com poucas hipóteses de sucesso. Já para não falar das doenças que podem contrair nas ruas e da reprodução, que leva ao nascimento de inúmeros animais sem teto. No caso do alimento, é necessário compreender que os instintos de caça praticamente não existem nos animais de estimação, sobretudo nos cães, pois foram habituados a receber a sua ração pronta e a horas sem necessidade de a procurar e lutar por ela. Os inúmeros animais recolhidos nas ruas em estado grave de subnutrição comprovam esta ideia. Alguns chegam a impressionar pelo seu aspeto físico debilitado, agonizados de fome, ficando difícil até salvar a vida do animal. A vida do animal. O cruzamento entre os animais abandonados nas ruas leva também ao nascimento de muitos bebés sem condições mínimas,

que são mais animais sem dono e sem qualquer tipo de cuidados básicos. Contribuem para o aumento descontrolado do número de animais errantes e o problema só se agrava. A própria saúde pública fica em risco, uma vez que os animais abandonados não estão (normalmente) vacinados nem desparasitados, além de se cruzarem e transmitirem doenças entre si. E necessário deixar de criar soluções pontuais para este ou aquele caso, uma vez que o problema deve ser resolvido de raiz: na casa de cada um de nós. A partir do momento em que as pessoas deixam de abandonar, tudo o que se segue é diferente. É melhor. Não compre, não adote e não tenha animais em casa, se não tiver as condições para cuidar deles até ao fim da sua longevidade natural. Você é a vida dos seus animais.

Leia mais no Mundo dos Animais: - Guia de Ajuda Animal - A Dimensão do Abandono de Animais


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Produção: Carlos Gandra Conteúdos: Carlos Gandra Contacto geral geral@mundodosanimais.pt Colaboração editor@mundodosanimais.pt A Revista Mundo dos Animais é uma publicação gratuita. Sinta-se livre para a distribuir por email, twitter, blog ou qualquer outro meio, desde que nenhum dos conteúdos seja de alguma forma alterado. Todas as edições podem ser acedidas gratuitamente em: www.mundodosanimais.pt/revista Visite-nos em: www.mundodosanimais.pt /mundodosanimais @mundodosanimais +MundodosanimaisPt © 2016 Mundo dos Animais



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