“Para os humanos, o Ártico é um lugar severo e inóspito, mas tem precisamente as condições que os ursos polares requerem para sobreviver - e prosperar.” Drª Sylvia Earle
Bióloga, exploradora e autora
Em cima: Sylvia Earle admira “Wisdom�, o mais velho albatroz conhecido no mundo, com 64 anos de idade, nas Ilhas Midway. Fotografia: Susan Middleton / USFWS
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MUNDO DOS ANIMAIS
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OS GATOS DE
Hemingway fo do séc. XX, m paixão muito tória.
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A MAIOR COL
Imagine 20 m sobre a sua c rão. Saiba ma mamíferos do
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ANIMAIS NO I
Saiba mais so tação dos ani como as princ sobreviver.
Fotografia de capa: Christopher Michel
Todas as ediçõe www.mundodos
E ERNEST HEMINGWAY
oi um dos escritores mais influentes mas nem todos sabem que tinha uma particular por gatos. Conheça a his-
LÓNIA DE MORCEGOS DO MUNDO
milhões de morcegos a cobrir os céus cabeça. Todas as noites. Todo o Veais sobre a maior concentração de o mundo.
INVERNO
obre hibernação, migração e adapimais aos climas mais gelados, bem cipais estratégias que utilizam para
es disponíveis gratuitamente em: sanimais.pt/revista
BEM-VINDO(A) O Inverno está a chegar, como reza o lema da Casa Stark em «A Guerra dos Tronos» e com ele trás os seus perigos. Não tão macabros como na famosa série, é verdade, mas ainda assim sérios quanto baste para obrigar os animais a adotar estratégias de sobrevivência. Nesta edição vamos mostrar-lhe como diferentes animais fazem frente ao clima gelado de diversas maneiras. Desde a dormência profunda na hibernação, passando pelas épicas viagens das migrações até ás fantásticas adaptações no próprio corpo para isolar do frio. Conheça-as e fascine-se, enquanto se enrola num cobertor quentinho a beber um belo chá Earl Gray (pág.42). Mas nem tudo é sobre o frio. Descubra a paixão secreta do escritor Ernest Hemingway (dica, mete muitos gatos! pág.18). E como estamos no Halloween, não podíamos deixar de falar de morcegos. A maior colónia do mundo aguarda por si (pág.30). Carlos Gandra
EDIÇÃO Nº 28
Um refugiado sírio cruzou o mar Mediterrâneo com o seu gato ao colo. O pequeno felino, chamado Zaytouna (“azeitona” em árabe) chegou são e salvo à Grécia, depois de uma viagem inteira ao colo do humano que não o deixou para trás.
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Um gatinho encontrado em mau estado por um motociclista que, de imediato, o adotou. Desde ent達o, o pequeno tem recuperado e vivido uma grande aventura pela estrada, aconchegado dentro da roupa do seu novo humano e os seus novos amigos. Fotografia: Spurgeon Dunbar
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Bretagne, a única cachorra ainda viva entre os mais de 100 cães que participaram nas operações de busca e salvamento do 11 de Setembro, após o ataque terrorista que derrubou as Torres Gémeas e matou 3 mil pessoas. Tem hoje 16 anos. Fotografia: Barkpost
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Um casal parou para abrigar um cão que estava à chuva, amarrado a um poste à espera da dona em Dover, Inglaterra. Inicialmente não tinham guarda-chuvas e puseram um casaco em cima do cão, o que chamou a atenção de uma vendedora que logo lhes ofereceu guarda-chuvas para que os três se pudessem abrigar. A dona voltaria 20 minutos depois, momento em que se apercebeu que tinha começado a chover. Fotografia: Swns.com
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Kiko, uma girafa órfã, ainda pequena, resgatada pela David Sheldrick Wildlife Trust no passado dia 19 de Setembro no Meru National Park, Quénia. O que aconteceu à mãe não é conhecido, mas a organização assume conflito humano-vida selvagem. Agora em boas mãos, o futuro apresenta-se mais risonho para esta pequena girafa. Fotografia: The David Sheldrick Wildlife Trust / via Facebook
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Uma nova espécie de lémure-anão descoberta no Madagáscar, observada pela primeira vez em 2005 e descrita agora em publicação na revista científica Primate Conservation. O pequeno lémure mede 16 a 18 centímetros de comprimento, com uma cauda entre os 26 a 27 centímetros. O nome científico, Cheirogaleus andysabini, homenageia o filantropo norte-americano Andy Sabin, que se dedica particularmente à conservação de primatas, anfíbios e tartarugas. Fotografia: Edward E. Louis, Jr.
Veja mais fotos no Mundo dos Animais: - www.mundodosanimais.pt/fotos
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Os Gatos de Ernest Hemingway Texto Carlos Gandra
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rnest Hemingway ficou eternizado pelas obras que escreveu e que lhe valeram o Prémio Nobel da Literatura em 1954, tornando-o num dos mais influentes autores norte americanos do século XX. Também ficou conhecido por diversas outras facetas, umas mais interessantes, outras menos. Entre as mais interessantes, e também mais desconhecidas, encontra-se a sua paixão por gatos.
Hemingway com o seu gato Cristobal. Fotografia: JFK Library
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Hemingway com o seu gato Boise. Fotografia: JFK Library
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Hemingway com o seu gato Cristobal. Fotografia: JFK Library
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“Um gato tem honestidade emocional absoluta: os seres humanos, por uma razão ou outra, podem esconder os seus sentimentos, mas um gato não o faz.” Ernest Hemingway
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uando se encontrava a viver em Key West, na Florida, o escritor recebeu como oferta de um capitão de um navio, Stanley Dexter, uma gatinha de seis dedos – uma mutação genética chamada polidactilia que consiste num número anormal de dedos em cada pata, que podem ir até sete.
português significa bola de neve). Em 1945, o escritor já tinha em sua casa 23 gatos, todos eles polidáctilos.
Os marinheiros apreciavam particularmente os gatos com polidactilia, pois dizia-se que traziam sorte aos navios, além de controlarem as pragas de roedores a bordo, uma tarefa que os gatos já desempenhavam há vários séculos.
A sobrinha do escritor, Hilary Hemingway, juntamente com a autora Carlene Fredericka Brennen, escreveram a biografia «Hemingway’s Cats: An Illustrated Biography» (em português «Os Gatos de Hemingway: Uma Biografia Ilustrada») que relata os detalhes desta especial relação entre Hemingway e os gatos.
Esta felina com 6 dedos, da raça Maine Coon, foi baptizada com o nome Snowball (em
Após o suicídio de Hemingway, em 1961, a sua casa na Florida foi transformada num museu para retratar a sua vida e obra – e entre aquilo que o museu preservou estavam os seus gatos.
A famosa gatinha Snowball, ainda pequena, ao colo dos filhos do escritor Patrick (esquerda) e Gregory (direita). Fotografia: JFK Library
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Ernest Hemingway (centro) com os filhos Patrick (esquerda) e Gregory (direita), a interagir com vรกrios dos seus gatos. Fotografia: JFK Library
OS GATOS DE ERNEST HEMINGWAY
“Os gatos foram colocados no mundo para refutar o dogma de que todas as coisas foram criadas para servir o homem.” Ernest Hemingway
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A Herança Felina
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árias décadas e gerações de felinos depois, o museu de Ernest Hemingway é casa para cerca de 50 gatos polidáctilos, alguns dos quais se diz serem descendentes diretos da gatinha Snowball. Todos estes gatos têm o gene da polidactilia, embora cerca de metade deles tenha o número de dedos normal. A casa museu tem um veterinário residente que trata das vacinas, desparasitações e check-ups regulares à saúde dos felinos. Todos os gatos têm nome, provenientes de pessoas famosas (como Simone de Beauvoir e Pablo Picasso), tradição a que o próprio Hemingway deu início. Pode saber mais sobre o museu e os seus felinos residentes em www.hemingwayhome.com/cats
Gato Hairy Truman na casa museu de Ernest Hemingway. Fotografia: Hemingway Home & Museum
Descubra mais sobre gatos em: - www.mundodosanimais.pt/gatos
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A Maior Colónia de Morcegos do Mundo Texto Carlos Gandra
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magine vinte milhões de morcegos a cobrir os céus sobre a sua cabeça. Todas as noites. Durante todo o Verão. A maior concentração de mamíferos do mundo. É o que acontece no Texas, nos arredores de San Antonio, onde se situa uma caverna chamada Bracken Cave.
Fotografia: USFWS Headquarters
Fotografia: Sandy Frost
Fotografia: Sandy Frost
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e Março a Outubro, um número estimado de vinte milhões de morcegos pertences à espécie Tadarida brasiliensis sai todas as noites para procurar insetos. O que para alguns é um espetáculo digno do melhor que a natureza nos oferece, para outros é uma situação mais parecida com um filme de terror, até porque os morcegos não são exatamente os animais mais populares entre os seres humanos. A contagem não é precisa pois não existe nenhum método infalível de contabilizar os animais que saem da caverna, contudo, dada a dimensão da “nuvem” que formam nos céus e as várias horas que chegam a demorar para sair da caverna, indica que podem ser inclusivamente mais de 20 milhões de morcegos a viver ali. A caverna é propriedade da Bat Conservation International, que trabalha no sentido de proteger todo o habitat circundante, pelo que o acesso à caverna é muito restrito.
Os morcegos começam a chegar no final de Fevereiro, vindos do México, continuando a chegar durante os meses de Março e Abril. Em Junho, já com a colónia completa, as mamãs morcego começam a dar à luz os seus bebés, um filhote cada. As mães ficam em poleiros separados dos filhos, mas conseguem encontrá-los diversas vezes por dia para cuidar deles, o que é incrível dado chegarem a existir centenas de bebés por metro quadrado. Os pequenotes aprendem a voar entre a quarta e a quinta semana e em meados de Julho, juntam-se às suas mães nas saídas noturnas, tornando o grupo muito maior e capaz de ser visto a vários quilómetros de distância. Os morcegos começam a sair da caverna cerca de uma hora antes do pôr do Sol, “anunciados” por umas centenas de morcegos que começam a guinchar (vocalização típica dos morcegos) perto da entrada. Eles saem em espiral de forma a
Fotografia: Sandy Frost
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ganhar altitude e evitar colisões com outros morcegos, dividindo-se depois em grupos mais pequenos. A observação da saída dos morcegos deve ser feita da forma mais silenciosa possível. Barulhos de qualquer espécie podem assustar os morcegos e alterar a sua rotina, bem como a rotina dos predadores ocasionais que também aguardam a saída da caverna, como falcões, corujas e serpentes. Os turistas que queiram observar a saída dos morcegos apenas podem conversar sussurrando, mesmo uma conversa em voz normal pode assustar os animais ao ponto de interromperem a sua saída. As mães morcego tem um apetite particularmente voraz. Um grupo destas dimensões poderá consumir 250 toneladas de insetos, todas as noites. Escusado será dizer que é difícil alguém se cruzar com um mosquito nas redondezas.
Fotografia: USFWS Headquarters
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Este dado reafirma a importância de manter este local imaculado: imagine como seria a vida das pessoas no Texas com todas estas toneladas de insetos à sua volta e dentro das suas casas – seguramente mais assustador que ver morcegos no céu, mesmo para quem não gosta deles. A caverna tem cerca de 185 metros de comprimento e 18 metros de diâmetro. O solo dentro da caverna estende-se por cerca de 30 metros subterrâneos, cobertos de numerosos escaravelhos, que se alimentam do que os morcegos, nas paredes e no tecto, deixam cair. Os gases produzidos por estes insetos tornam o ar irrespirável ao ser humano, que corre risco de vida se entrar sem máscara de oxigénio. Em Novembro, os morcegos deixam a caverna e regressam ás suas cavernas no México, onde passam todo o Inverno, em habitats que já existiam muito antes da descoberta da América.
Em Portugal temos a maior colónia de criação de morcegos conhecida na Europa, no Alto Alentejo (no Parque Natural da Serra de São Mamede, na antiga mina de chumbo da Cova da Moura, bem como outras grutas calcárias) que abriga entre 15 a 20 mil morcegos. A Bulgária
Fotografia: USFWS Headquarters
tem a maior colónia de hibernação da Europa, com cerca de 60 mil morcegos. Apesar destas numerosas colónias, muitas espécies de morcegos, incluindo os nossos morcegos cavernícolas, estão ameaçados.
Descubra mais sobre morcegos em: - www.mundodosanimais.pt/ mamiferos/morcegos
Animais no Inve
COMO SOBREVIVEM À ESTAÇÃO MAIS FR Texto Carlos Gandra
erno
RIA DO ANO
Leopardo-das-neves (Panthera uncia) Fotografia: Mark Dumont
Raposa-รกrtica (Vulpes lagopus) Fotografia: Mark Dumont
Lebre-de-cauda-branca (Lepus townsendii) Fotografia: Dave King
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o conforto das nossas casas, bem protegidas por quatro paredes e um teto, temos vários meios para fazer frente ao frio, à neve e à escuridão típicas do Inverno. Aquecedores, lareiras, luzes brilhantes, cobertores quentes ou pantufas enormes são uma preciosa ajuda. Mesmo quando temos de sair de casa dispomos de roupa apropriada, luvas, gorros – não que evitem um nariz a pingar, mas permitem-nos sobreviver. Em último caso podemos apanhar o avião e viajar para um país mais agradável (estou a pensar em vocês, Brasil).
Inverno é a carência de alimento. À medida que as temperaturas baixam, o alimento fica mais escasso essencialmente por dois motivos: 1) As plantas, base de quase todas as cadeias alimentares, são substancialmente reduzidas durante o Inverno; 2) Os insetos e os pequenos roedores, nos quais muitos animais baseiam a sua dieta, abrigam-se debaixo do solo para se proteger do frio, ficando assim fora do alcance dos seus predadores.
Contudo, os animais não têm ao seu dispor nenhum destes luxos do ser humano moderno. Como conseguem então sobreviver à estação mais perturbadora do ano?
Se os animais continuassem a sua atividade normal, iriam gastar mais energia a procurar o alimento do que a que iriam recuperar ao consumir esse alimento. Para além disso, quanto mais baixa estiver a temperatura, mais energia os animais necessitam para manter o corpo quente.
Um dos grandes obstáculos que os animais têm de enfrentar no
Sem essa fonte de energia (alimento) o Inverno torna-se fatal.
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Assim, a chave para a sobrevivência dos animais durante esta estação do ano está na conservação da energia (hibernação), em alterações físicas e no
comportamento para suportar o frio (adaptação) ou na mudança para locais mais quentes onde podem continuar a sua atividade normal (migração).
Fotografia: Stig Nygaard
CONCEITOS RÁPIDOS Animais de sangue quente ou animais endotérmicos, são os animais que conseguem manter e regular a temperatura do seu corpo, o que acontece com os mamíferos (p.ex: o hipopótamo na foto em cima) e as aves; Animais de sangue frio ou animais ectotérmicos, não conseguem regular a temperatura, pelo que necessitam de fontes de calor no ambiente para se aquecer. Neste grupo incluem-se os répteis (p.ex: o crocodilo na mesma foto), os anfíbios, os peixes e os invertebrados.
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HIBERNAÇÃO E TORPOR
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hibernação é uma espécie sono profundo que pode durar todo o Inverno. Geralmente tem início quando os dias começam a ficar mais frios ou mais curtos. Por definição, só animais de sangue quente podem hibernar uma vez que são os únicos capazes de regular a sua temperatura. Répteis, anfíbios e insetos têm estados de dormência semelhantes, mas com características próprias e de que falaremos mais à frente. Em hibernação, a temperatura do corpo do animal baixa, a respiração e os batimentos do coração tornam-se mais lentos e assim, o animal consegue sobreviver com pouca energia – a única fonte de energia que tem à disposição é o alimento que consumiu antes de começar o Inverno e que se encontra armazenado no seu corpo sob a forma de gordura.
Considera-se em hibernação os animais que adormecem tão profundamente que parecem estar em coma. É difícil acordar um animal em hibernação. Estes animais, como as marmotas (maior hibernante de todos), esquilos ou morcegos, só o fazem dentro de abrigos muito seguros, pois seriam incapazes de se defender em caso de ataque. O estado de torpor é semelhante à hibernação no sentido em que o animal também o utiliza para gastar pouca energia e abrandar o seu metabolismo. É diferente, no entanto, pela duração e pela intensidade. Entram em estado de torpor animais como ursos, guaxinins, alguns roedores e aves. O torpor deixa-os dormentes por períodos que podem ir de algumas horas a alguns dias. Neste estado, os animais conseguem despertar com rapidez,
Marmota-de-tatra ALIMENTOS PERIGOSOS PARA (Marmota CテウS Emarmota GATOSlatirostris) 51 Fotografia: Krzysztof Gテウrecki / Wikimedia Commons
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MUNDO DOS ANIMAIS
respirar profundamente para renovar o oxigénio, dar um pulinho ao WC ou mesmo dar uma dentada em algum petisco que tenham armazenado, antes de voltarem a adormecer. Caso a temperatura esteja amena, podem aventurar-se no exterior e até mesmo não continuar a hibernar. Um exemplo curioso de hibernação ou torpor é o urso. Consegue estar em dormência até seis meses consecutivos, o que encaixa na hibernação, no entanto, a respiração e os batimentos cardíacos baixam apenas ligeiramente e o animal consegue acordar rapidamente, o que indica estado de torpor. Mais ainda: as fêmeas conseguem dar à luz neste período. O despertar, que no caso da hibernação pode durar várias horas, acontece na Primavera, quando as temperaturas são mais agradáveis e o alimento já é mais abundante. Em
Invernos
relativamente
amenos, ou em condições artificiais de cativeiro, a dormência pode não ser necessária. É o que acontece, por exemplo, com tartarugas e outros répteis que tenhamos em casa, já que lhes fornecemos calor e alimento regularmente durante todo o ano.
ALIMENTOS PERIGOSOS PARA CÃES E GATOS
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Urso-negro (Ursus americanus) Fotografia: Eric Kilby
CURIOSIDADE Os animais que vivem em climas de calor extremo ou secas prolongadas, podem entrar num tipo de hibernação chamada estivação. Um exemplo clássico de estivação são os peixes pulmonados, que através da mesma conseguem viver sem água até três anos. Outros animais que praticam estivação incluem caracóis, joaninhas, crocodilos, tartarugas e salamandras, entre outros.
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MIGRAÇÃO
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migração é uma estratégia que permite aos animais deslocarem-se para regiões mais quentes e assim fugir das temperaturas mais baixas. É uma estratégia especialmente bem aproveitada pelas aves, devido à sua capacidade de voar. Através da migração, os animais podem continuar a alimentar-se normalmente e manter-se ativos, no entanto não é uma escolha de vida fácil. A migração gasta imensa energia (ao contrário da hibernação), sobretudo nas migrações mais longas. Os andorinhões-alpinos (Tachymarptis melba), por exemplo, voam seis meses sem parar. As baleias-cinzentas (Eschrichtius robustus) viajam noite e dia e chegam a percorrer entre 16 a 22 mil quilómetros por ano, a um ritmo de cerca de 120 quilómetros por dia. Detém o recorde da maior distância percorrida entre os animais mamíferos, mas que não ultrapassa a pardela-preta (Puffinus griseus) com uns, inserir adjetivo à escolha, 64 mil quilómetros por ano. Como termo comparativo, o planeta Terra tem apenas 40 mil quilómetros de circunferência.
Pardela-preta (Puffinus griseus) ALIMENTOS PERIGOSOS PARA CテウS E GATOS 51 Fotografia: Caleb Putnam
A Descoberta da Migração das Aves O desaparecimento das aves durante o Inverno foi durante vários séculos um mistério e deu origem a diversas teorias. Umas mais plausíveis, como acreditar-se que as aves se escondiam para hibernar, outras mirabolantes, como as aves transformarem-se em ratos ou voarem em direção à Lua. Ainda que alguns autores (como Aristóteles) já tivessem sugerido que as aves se deslocavam por grandes distâncias no Inverno, foi apenas no século XIX que as migrações foram verdadeiramente aceites. E tudo devido a um acidente. No dia 21 de Maio de 1822, esta cegonha (imagem à direita) foi encontrada na Alemanha, com uma seta originária da África central atravessada no pescoço. Esta seta iluminou os cientistas sobre um dos acontecimentos mais importantes da vida animal: a migração. É verdade que as cegonhas e outras aves não viajam 384 mil quilómetros até à Lua. Mas fazem-no entre continentes, pelo mundo inteiro, e isso é tão verdadeiro quanto extraordinário.
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ADAPTAÇÃO
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s estratégias de adaptação permitem aos animais ficar no mesmo local e continuar ativos, mesmo durante os dias mais frios. Estas estratégias passam por alterações no seu corpo, como o desenvolvimento de gordura e pelagem especializada em conservar calor, ou no seu comportamento, como armazenar alimento durante o Outono antes da escassez do Inverno. Cavernas, troncos de árvores mortas, buracos e o solo por baixo da neve (também chamado subnivium), são os equivalentes ás nossas casas para os animais. Permitem criar um microclima mais confortável do que o clima exterior e uma passagem mais agradável pelos dias mais frios. A utilização da neve como isolante térmico é mais eficaz do que à primeira vista aparenta – está na base da construção dos iglus pelos esquimós, por exemplo. Um cuidado especial que os mamíferos necessitam de ter, é com a chuva. O pêlo molhado não consegue conservar o calor e o animal perde uma das suas melhores proteções contra o frio. Quando chove, os mamíferos pequenos procuram abrigar-se no subsolo ou em esconderijos que encontrem, incluindo construções humanas.
Urso-polar (Ursus maritimus) ALIMENTOS PERIGOSOS PARA CテウS E GATOS 51 Fotografia: Anita Ritenour
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Algumas das adaptações físicas mais conhecidas incluem: 1) Tendência para um corpo maior entre mamíferos e aves do mesmo género que habitam regiões frias, conhecida como Regra de Bergmann, para facilitar a retenção do calor. Por exemplo, os ursos polares tendem a ser maiores que os outros ursos; 2) Apêndices mais curtos (orelhas, nariz, patas…) para reduzir perda de calor. As focas, as raposas-do-ártico e os pinguins são um exemplo; 3) Pelagem e gordura especializada para conservar o máximo de calor. A pelagem de Inverno, geralmente branca, também serve de camuflagem contra a neve. Estes mecanismos por vezes são tão eficazes que animais como ursos polares e raposas-do-ártico correm o risco de sobreaquecer (leu bem), sobretudo quando a temperatura está um pouco mais alta (dez graus negativos já pode ser alto). Rebolar na neve é uma forma de arrefecer; 4) Visão especializada na escuridão, como acontece nas renas no norte do circulo ártico que passam uma parte do ano sem luz natural do Sol; 5) Mecanismos internos (como no sistema circulatório) que procuram regular a temperatura onde é mais necessária, como
nas extremidades. Tal co connosco num dia frio, em arrefecem primeiro que o r também nos animais as ext as primeiras a sentir o frio.
Os animais também adapta portamento para fazer face lados, como armazenar co chegar o Inverno até juntar outros para partilhar o calor
omo acontece m que as mãos resto do corpo, tremidades são
am o seu come aos dias geomida antes de rem-se uns aos r do corpo.
Renas (Rangifer tarandus) Fotografia: Brian Gratwicke
Exemplo disso são os pinguins-imperadores. Juntam-se uns aos outros em grandes colónias para partilhar o calor e bloquear as correntes de ar – ao mesmo tempo que protegem um ovo equilibrado entre as patas. Os pinguins nas bordas das colónias, mais expostos ao vento, vão alternando com os do interior para que nenhum pinguim fique exposto por muito tempo.
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OUTRAS ESTRATÉGIAS
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lgumas aves, insetos ou anfíbios enfrentam esta época do ano de formas diferentes, constituem uma exceção entre os seus pares ou demonstram uma impressionante criatividade – algo que nunca se esgota na natureza. AS AVES QUE NÃO MIGRAM A maioria das aves adota a migração como principal estratégia para escapar dos climas mais frios, como vimos anteriormente. No entanto, algumas aves não migram: caso das corujas, gaviões, chapins ou perdizes. Os seus corpos adaptam-se através do desenvolvimento de uma camada de penas adicional, que os mantém quentes. Existe apenas uma espécie de ave conhecida capaz de hibernar: o noitibó-de-nuttall (Phalaenoptilus nuttallii). Esta ave esconde-se por baixo de rochas ou troncos ocos, onde permanece até cinco meses e chega
a hibernar por períodos de 100 dias consecutivos. Quando desperta, necessita de cerca de sete horas para se recompor. O COBERTOR DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS Animais como baleias e focas
ANIMAIS NO INVERNO
alimentam-se abundantemente de forma a criarem camadas de gordura adicional nos seus corpos, que os protegem do frio. Como termo de comparação, é o equivalente a embrulharmo-nos num cobertor, com a diferença de que nestes animais o cobertor está por dentro do corpo.
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Em alguns animais, esta estratégia está tão bem desenvolvida que conseguem controlar o fluxo de sangue que circula nestas camadas. Quanto mais longe estiver o sangue da superfície da pele, menos calor é perdido. Estas camadas de gordura também servem de
Rana arvalis Fotografia: Piet Spaans / Wikimedia Commons
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alimento nos meses seguintes, como acontece com os elefantes-marinhos. INSETOS, DIAPAUSA E UMA ÉPICA MIGRAÇÃO Alguns insetos adotam uma espécie de hibernação como estratégia de sobrevivência. A hibernação específica dos insetos é chamada diapausa. A diapausa tem início quando os dias começam a ficar mais curtos, mesmo que a temperatura ainda seja amena. Algumas traças / mariposas e borboletas passam o Inverno em casulo ou apenas crisálida e quando chega a Primavera, eclodem. Existem outras espécies que permanecem lagartas durante esta estação, cobrindo-se com terra e folhas mortas para se proteger do frio. Outros insetos, como as abelhas e as vespas (apenas as rainhas, machos e operárias morrem no final do Verão), procuram abrigar-se em lugares secos e protegidos das correntes de ar. Escavam no solo e protegem-se debaixo de terra e folhas mortas. Em alternativa,
abrigam-se dentro de troncos ocos. É famosa a épica migração da borboleta monarca no Inverno. Este fenómeno de rara beleza, que leva milhões de borboletas desde a América do Norte até ao México, atrai tanto cientistas como curiosos e permite estudar anualmente o estado de conservação da espécie. Geralmente ficam no México entre Outubro e Março, altura em que regressam ao local de origem. Algumas borboletas monarcas entram em diapausa nos dias mais frios. BRUMAÇÃO DOS RÉPTEIS E ANFÍBIOS O tipo de hibernação praticada pelos répteis e pelos anfíbios é chamada brumação. Estes animais de sangue frio procuram abrigar-se e hibernar assim que os dias começam a ficar mais curtos, para não serem apanhados desprevenidos num dia mais frio – o que poderia significar a morte. As temperaturas baixas são particularmente perigosas para
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estes animais, razão pela qual, por exemplo, não existe qualquer espécie de réptil ou anfíbio a viver na Antártida. Mesmo no Ártico, existem apenas cinco espécies de anfíbios e uma só espécie de réptil, nenhum dos quais dentro do círculo polar. As cobras do género Thamnophis, endémicas da América do Norte, hibernam em grupos enormes que podem conter centenas ou mesmo milhares de cobras, entrelaçadas umas nas outras para preservarem o calor. As rãs costumam abrigar-se na lama de charcos e lagos, obtendo oxigénio através da água. Algumas espécies, como as rãs-arborícolas, protegem-se por baixo de folhas e no subsolo das florestas. A rã-dos-bosques (Rana sylvatica), endémica da América do Norte, consegue produzir uma espécie de anticongelante natural através de altos níveis de açúcar, ureia e um terceiro composto ainda não identificado, que lhes permite resistir a impressionantes temperaturas de quase -30º C.
OS PEIXES QUE NÃO CONGELAM Alguns peixes também produzem uma proteína anticongelante que protege os fluídos corporais, como o sangue. Esta proteína é especialmente importante nas espécies que nadam pelas águas polares. Os peixes também conseguem entrar num estado de dormência parecido com a hibernação, onde o seu metabolismo é reduzido, gastam menos energia e alimentam-se menos. A atividade dos peixes no Inverno chega a ser reduzida 20 vezes em comparação com o Verão. Esta dormência é provocada pelas temperaturas baixas, mas também em casos de falta de oxigénio na água (hipóxia). Já os peixes que vivem em rios e lagos que estão congelados, estão num ambiente menos inóspito do que poderá parecer a um observador de fora. Quando um lago ou um rio congela, na verdade apenas a superfície fica no estado sólido. Por baixo da mesma, peixes, crustáceos e plantas continuam a usufruir de água líquida normal (ainda que bem fresquinha).
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Pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) Fotografia: Christopher Michel
Até à Primavera - Conclusão Milhões de anos de evolução resultaram em estratégias criativas e adaptações fascinantes para o Inverno, com um único propósito: sobreviver ás mais baixas temperaturas do planeta. As principais estratégias que os animais utilizam são a hibernação, onde entram numa espécie de dormência que pode durar meses; a migração, onde cruzam o globo em direção a regiões mais amenas e a adaptação, como o crescimento de pêlo e de gordura capaz de os isolar do frio e fazer frente à escassez de alimento. Desde os animais de sangue quente aos de sangue frio, todos os que se cruzam com a estação mais fria do ano sabem o que fazer - e é fascinante descobrir os seus melhores truques.
Descubra mais sobre animais selvagens em: - www.mundodosanimais.pt/animais-selvagens
Inspirar pessoas a melhor dos ani
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Produção / Edição / Design Carlos Gandra Data da Edição: Outubro de 2015 Contacto geral geral@mundodosanimais.pt Colaboração editor@mundodosanimais.pt A Revista Mundo dos Animais é uma publicação gratuita. Sinta-se livre para a distribuir por email, twitter, blog ou qualquer outro meio, desde que nenhum dos conteúdos seja de alguma forma alterado. Todas as edições podem ser acedidas gratuitamente em: www.mundodosanimais.pt/revista Visite-nos em: www.mundodosanimais.pt /mundodosanimais @mundodosanimais +MundodosanimaisPt © 2015 Mundo dos Animais