Revista Mundo dos Animais nº 30

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“Os olhos de um animal têm o poder de falar uma grande linguagem.” Martin Buber



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MUNDO DOS ANIMAIS

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OS GATOS DE

As ruínas de de Roma, são para os aman

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Como é que o connosco e co mos as respo

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O REINO AME

Estão entre o neta, mas ser Conheça melh

Fotografia de capa: Liv Unni Sødem / via Flickr

Todas as ediçõe www.mundodos


E ROMA

Torre Argentina, no centro histórico o um verdadeiro paraíso de gatos ntes dos pequenos felinos.

CANINA

os cães se conseguem sintonizar ompreender-nos tão bem? Exploraostas neste artigo.

EAÇADO DOS GRANDES FELINOS

os animais mais carismáticos do plariamente ameaçados de extinção. hor os grandes felinos.

es disponíveis gratuitamente em: sanimais.pt/revista

BEM-VINDO(A) Nesta edição falamos de felinos de todos os tamanhos. Começamos por uma comunidade muito especial de pequenos felinos, os gatos de Roma, que dão vida às ruínas onde Júlio César foi assassinado no ano 44 antes de Cristo (a.C.) e são hoje o grande atrativo turístico do centro histórico da cidade - mais do que os monumentos (pág. 20). Também bastante atrativos, mas infelizmente ameaçados, estão os grandes felinos. Fazem parte dos animais mais carismáticos do planeta e dificilmente conseguimos imaginar um mundo sem eles, um mundo sem tigres, leões, leopardos, jaguares ou chitas, mas essa pode vir a ser uma realidade. Conheça melhor cada um deles e saiba o que pode fazer para os ajudar (pág. 42). Felinos à parte, leia também um artigo que procura explicar como os cães parecem ter a capacidade de nos ler a mente, saber o que sentimos e como estamos, melhor que qualquer outro animal (pág. 30). Carlos Gandra


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EDIÇÃO Nº 30

Um gatinho abandonado dá uma deliciosa turrinha no imã Mustafa Efe, que abriu as portas da mesquita Aziz Mahmud Hüdayi em Istambul, na Turquia, para abrigar os gatos de rua — cujo número está descontrolado na cidade. O gesto e o exemplo de solidariedade têm corrido o mundo. Uma mãe gata sentiu-se tão confortável na mesquita que levou os seus bebés, um a um, para o seu interior. Fotografia: Mustafa Efe / via Facebook

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Uma pequena preguiça perdida enquanto tentava atravessar uma estrada no Equador, que decidiu segurar-se a um poste até chegar ajuda. As autoridades socorreram a pequena preguiça, que foi observada por um veterinário antes de ser devolvida ao seu habitat natural. Não apresentava qualquer problema ou ferimento. Fotografias: Comisión de Tránsito del Ecuador / via Facebook


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A fantástica albatroz Wisdom, a ave mais velha do mundo de que há registo, volta a deixar a sua marca com a sua mais recente cria. Com 65 anos, a Wisdom viu nascer o seu mais novo rebento no início deste mês (Fevereiro) no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Atol de Midway, no Hawai, onde milhares de albatrozes regressam todos os anos para nidificar. Fotografia: Kiah Walker / Voluntária do USFWS


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Um abraço profundamente humano entre o chimpanzé Ponso e a conservacionista Estelle Raballand, numa ilha da Costa do Marfim. A vida tem sido dura com o chimpanzé Ponso, que passou anos como cobaia de um laboratório até ser abandonado, juntamente com outros chimpanzés cobaias, em ilhas que não têm recursos naturais para sequer se alimentarem — ficando dependentes da boa vontade das pessoas. Em 2013 a família do Ponso morreu com poucos dias de intervalo, o que o deixou sozinho e isolado nos últimos três anos. Os outros chimpanzés cobaias também já tinham morrido. Por tudo isto, não deixa de ser emocionante que receba um ser humano de forma tão… humana. Fotografia: Estelle Raballand / via Facebook

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Uma família de refugiados oriunda de Mossul, no Iraque, encontra finalmente o seu gato Kunkush, que tinha desaparecido quando o barco que os transportava aportou na ilha grega de Lesvos. Foi encontrado dias depois por voluntários que tinham participado na busca logo no primeiro dia, mas o paradeiro da família era entretanto incerto e por isso foi enviado para uma família de acolhimento temporário em Berlim, na Alemanha (para onde muitos refugiados foram realojados), que ficou com ele por alguns meses. Os voluntários não desistiram de procurar os donos e criaram um site com fotos do gato, que chegou aos media. A família entretanto já estava na Noruega, quando viu a notícia do gato num jornal local. O reencontro foi organizado e a imagem descreve tudo o que se pudesse escrever mais sobre o momento. Fotografia: via reddit



Uma corajosa cachorrinha chamada Chi Chi brinca na sua nova casa, no Arizona, depois de ver as suas quatro patas serem amputadas. A história da Chi Chi não é fácil de contar. Nasceu numa fazenda de carne de cão, na Coreia do Sul. A dada altura, amarraram-lhe as quatro patas e penduraram-na de cabeça para baixo, dia e noite. A tortura provocou-lhe feridas, que rapidamente infetaram e literalmente apodreceu carne e osso. Como a carne já não prestava, foi atirada para o lixo dentro de um saco preto, onde foi encontrada. As patas não tinham salvação, mas felizmente a menina teve, e agora também tem uma casa, mas ainda são precisos muitos cuidados. A Chi Chi tem uma página no Facebook onde pode acompanhar as novidades e oferecer algum apoio: https://www.facebook.com/ chichigreat/ Fotografia: Chi Chi The Great / via Facebook




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Um texuguinho bebé encontrado sozinho e a morrer de frio no jardim de uma família em Inglaterra. A família ainda aguardou algum tempo por um sinal da progenitora, até acabar por decidir acolhe-lo antes que fosse tarde demais para lhe salvar a vida. Levaram então o pequeno texugo para o centro de recuperação de vida selvagem Secret World Wildlife Rescue (SWWR), onde foi tratado e alimentado. Fotografia: Secret World Wildlife Rescue

Veja mais fotos no Mundo dos Animais: - www.mundodosanimais.pt/fotos


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Os Gatos de Roma

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s ruínas de Torre Argentina, no centro histórico de Roma, onde Júlio César foi assassinado no ano 44 antes de Cristo (a.C.), são um verdadeiro paraíso de gatos para os amantes dos pequenos felinos. Trata-se de um santuário milenar onde muitos gatos encontram abrigo e comida. Os voluntários da associação Torre Argentina Roman Cat Sanctuary cuidam diariamente da alimentação, higiene e cuidados de saúde dos mais de 250 gatos que habitam nas ruínas. Também esterilizam os animais e promovem a sua adoção. A relação histórica entre nós e os gatos está marcada por altos e baixos e com os gatos de Roma não tem sido diferente. A admiração dos romanos pelos gatos terá começado com o contributo dos felinos para a exterminação da peste, ao consumirem os ratos portadores da doença. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escassez de comida levou os romanos a consumir gatos para sobreviverem e quando a guerra terminou, os romanos ter-se-ão dedicado a


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Fotografia: Heather F / via Flickr

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Fotografia: spezz / via Flickr



Fotografia: Alan Sheffield / via Flickr



Fotografia: Brett Davis / via Flickr


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MUNDO DOS ANIMAIS

Fotografia: Wknight94 / via Wikimedia Commons

Fotografia: Andou / via Wikimedia Commons


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“As pessoas interessam-se mais por gatos do que por monumentos (…) os dois em conjunto formam uma combinação fantástica, porque os monumentos parecem ganhar vida se você vir um gato deitado neles ou a saltar de um lado para o outro.” - Lia Dequel, co-fundadora da Torre Argentina Cat Shelter Association, via npr

Apesar da colónia de Torre Argentina ser a mais famosa entre os turistas e os amantes dos felinos, estima-se que em Roma existam no total cerca de 250 mil gatos nas ruas, distribuídos por cerca de 2 mil colónias. A associação conseguiu, na última década, vacinar e esterilizar 27 mil gatos, bem como concretizar a adoção de uma média de 125 gatos por ano.

alimentar os gatos como forma de compensar o que lhes tinham feito. Mais recentemente, em 2001, os gatos foram considerados “património biocultural” da cidade, mas a associação que cuida dos gatos de Torre Argentina enfrenta a forte oposição dos arqueólogos italianos, referindo que a ocupação do espaço é incompatível com a preservação dos monumentos.

Visite a página da Torre Argentina Roman Cat Sanctuary (http://www.romancats.com/index_eng.php) para conhecer melhor o trabalho dos seus voluntários e, se achar por bem, oferecer-lhes um donativo.

A presença dos gatos, contudo, nunca foi posta em causa e Umberto Broccoli, superintendente cultural de Roma, afirmou em 2012 que “os gatos de Roma são, por definição, tão antigos quanto os monumentos de mármore da cidade (…) portanto a colónia não será movida”.

Descubra mais sobre gatos em: - www.mundodosanimais.pt/gatos

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A TELEPATIA CANINA

A Telepatia Canina

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ualquer pessoa que já tinha convivido com um cão sabe que os cães, entre todos os animais, parecem ter uma sintonia especial connosco. Quantas e quantas histórias lemos sobre o cão que deu uma atenção muito especial ao dono quando este estava a passar por um momento menos bom (mais triste, mais desiludido ou stressado), ou até quando se encontrava doente ou com alguma dor ou mal-estar. Quando o cão parecia saber coisas sobre o nosso estado de espírito que em princípio não teria como saber — e nós não teríamos como lhe contar. Neste artigo, vamos olhar para alguns estudos científicos que visam entender aquilo a que, não oficialmente, chamamos de telepatia canina. Os mecanismos que levam um cão a compreender-nos melhor que qualquer outro animal. Qual o alcance das suas capacidades, e qual o limite das mesmas.

Fotografia: Tal Atlas / via Flickr

No fundo, descobrir o melhor amigo do Homem.

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Podem os cães ler a nossa mente?

estamos felizes e/ou de ótima saúde.

s cães estão tão sintonizados connosco que podem ler as nossas mentes, de acordo com um estudo publicado na Learning & Behavior. O mesmo estudo indica que os cães, provavelmente, já nascem com essa habilidade.

Monique Udell e a sua equipa, da Universidade da Florida, refletiram sobre o porquê de os cães serem tão perspicazes a ler a nossa mente, e como o conseguem fazer. A questão é, os cães nascem com essa habilidade, ou vão aprendendo com a experiência do contacto humano?

O

À medida que os cães se encontram junto dos seres humanos, mais habilidosos se tornam em telepatia canina, que resulta da hipersensibilidade dos sentidos. Todos aqueles que têm ou já tiveram cães em casa durante algum tempo, com certeza repararam na forma como os cães nos entendem de uma forma particularmente bem, detetando sinais do nosso cansaço, stress, dores de cabeça ou outros problemas antes de nós, conscientemente, os exibirmos. Os cães são também conhecidos por conseguirem detetar se uma pessoa tem cancro. Parecem igualmente sentir quando

Para explorar estas e outras questões, Udell e a sua equipa planearam duas experiências, envolvendo tanto lobos como cães domésticos. Nas experiências, foi dada a oportunidade aos dois animais de pedirem comida, a uma pessoa atenciosa e a uma pessoa indiferente. Os investigadores observaram pela primeira vez que os lobos, tal como os cães domésticos, são capazes de ir pedir comida à pessoa atenciosa, aproximando-se dela. Isto demonstra que ambas as espécies, domesticadas ou não domesticadas, têm a capacidade de produzir um comportamento mediante a atenção que uma


Fotografia: @dihpardal Diogo Fernando / via Flickr

pessoa demonstra, consciente ou inconscientemente, por eles. Uma vez que os lobos não têm experiência no contacto com seres humanos, é assim muito provável que esta habilidade já nasça com eles. Os cães, além de nascerem com a habilidade, podem aperfeiçoar à medida que mantém o contacto com seres humanos, pelo que um cão que viva com pessoas desde bebé, terá em adulto uma capacidade superior de ler a mente dos seus donos, do que um cão que, por algum motivo, como o abandono

ou o nascimento na rua, não conviva de perto com pessoas durante bastante tempo. Segundo a investigação, “os resultados sugerem que a capacidade dos cães para seguir as ações humanas deriva de uma vontade de aceitar as pessoas como companheiros sociais, combinada com o condicionamento de seguir os gestos e as ações dos seres humanos e adquirir reforço. Os tipos de sinais, o contexto em que são apresentados e a experiência prévia, são todos importantes”.


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Fotografia: Peer / via Flickr

Ler a nossa mente? Não exatamente O segredo dos cães parece estar nos nossos próprios olhos: os cães seguem os movimentos dos nossos olhos, que lhes dão sinais das nossas intenções. Os bebés humanos também possuem esta habilidade, descrita na publicação Current Biology. Esta revelação talvez explique porque motivo os donos costumam tratar os seus animais de estimação como se fossem crianças.

comunicação humana de uma forma que, anteriormente, estava atribuída apenas a bebés humanos de 6 meses de idade” explicou o co-autor de um novo estudo, Jozsef Topal, à Discovery News. “Eles leem as nossas intenções de comunicação de uma forma pré-verbal, uma forma semelhante aos bebés” acrescentou Topal. A comunicação pré-verbal é a forma que os bebés nos interpretam e se exprimem sem usar as palavras, pois não aprendemos logo a falar.

“Os cães estão recetivos à

Os investigadores afirmam que


A TELEPATIA CANINA

Fotografia: Ricardo Mangual / via Flickr

os atributos sociais dos cães atingem o nível de uma criança com dois anos de idade, uma vez que o único talento que lhes falta é a linguagem. “Estes atributos dos cães ajudam a fortalecer a ligação cão-humano, que é atualmente única tendo em consideração as diferenças biológicas entre as duas espécies”. Os cães foram os primeiros animais a ser domesticados e aparentemente sem benefícios diretos, como alimento ou pastoreio. A cognição social dos cães evoluiu durante milhares

de anos, nos quais muitos dos atributos selvagens (como os lobos) foram transformados e adaptados pelos desafios de uma vida em conjunto com os seres humanos. Topal e a sua equipa suspeitam que os cavalos e os gatos domésticos também sejam capazes de ler as nossas intenções, uma vez que vivem de forma próxima a nós há também muitos anos. Num estudo à parte, publicado na Animal Behavior, os investigadores descobriram que os

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Fotografia: brando.n / via Flickr


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cães comunicam com as pessoas para pedir, mas não para informar. Seja como for, fazem-no de forma bastante concentrada e intensa. Juliane Kaminski, líder deste segundo estudo, indicou que “fica demonstrado como os cães estão sintonizados de forma intencional com a comunicação humana e quão importante determinados sinais são para eles, de forma a perceber quando é que a comunicação é relevante e direcionada para eles”. Topal pensa ser possível que os cães, por vezes, sejam até superiores aos seres humanos adultos no que diz respeito a interpretar intenções, uma vez que estão atentos a todos os sinais como odores, sons e outras pistas que possam indicar algo. “Os cães aprendem facilmente a associar até os comportamentos inconscientes dos seus donos com as respetivas intenções. Desta forma, um cão adquire a habilidade de antecipar o comportamento seguinte do seu dono, e isto em determinados casos dá a sensação de que o cão acabou de ler a nossa mente” concluiu Topal.

Os cães compreendem-nos melhor que qualquer outro animal Apesar dos chimpanzés serem os nossos parentes mais próximos, nenhum animal nos compreende tão bem como os cães. É isto que sugere um novo estudo, publicado na revista cientifica PLOS One, ao concluir que os chimpanzés podem não ligar muito quando uma pessoa aponta para um objeto, mas os cães prestam atenção e sabem exatamente o que essa pessoa quer. “Penso que estamos a olhar para uma adaptação muito especial dos cães, para serem sensíveis ás várias formas de comunicação dos seres humanos” disse a co-autora do estudo, Juliane Kaminski, psicóloga da Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, citado pela Discovery News. “Existem múltiplas evidências a sugerir que as pressões seletivas durante a domesticação alteraram os cães de tal modo, que eles ficaram perfeitamente adaptados ao seu novo nicho, que é a companhia humana”.


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É mesmo possível que esta habilidade já nasça com os cães, uma vez que cachorros de apenas seis semanas e sem qualquer treino específico, já a possuem. Para realizar este estudo, Kaminski e os seus colegas compararam quão bem os chimpanzés e os cães conseguem compreender o apontamento humano. Uma pessoa apontou para um objeto visível que se encontrava fora do seu alcance, mas dentro do alcance do animal. Se um chimpanzé ou um cão pegassem no objeto, seriam recompensados com um petisco adequado (fruta para o chimpanzé e ração seca para o cão). Os chimpanzés mostraram-se entusiasmados pela recompensa, mas ignoraram os gestos humanos. Os cães passaram o teste. Os chimpanzés não compreenderam a intenção da pessoa, ou seja, não viram o apontamento como algo importante e por isso, decidiram ignorar esse gesto. “Sabemos que os chimpanzés têm uma compreensão muito

flexível dos outros; sabem quando os outros podem ou não podem ver, quando os outros podem ou não vê-los a eles, etc” explicou Kaminski. Não são, por isso, de alguma forma ignorantes, apenas não evoluíram a tendência de prestar atenção aos seres humanos, pois não necessitam disso no seu habitat natural. Os próprios lobos não possuem esta habilidade: “Os lobos, mesmo quando criados no seio de um ambiente humano, não são flexíveis com a comunicação das pessoas como são os cães” disse. E os gatos? Investigações anteriores demonstraram que os gatos domésticos também prestam atenção ás pessoas e compreendem os gestos humanos. Kaminski, no entanto, mencionou que “os investigadores precisaram de os selecionar de entre mais de uma centena de gatos” sugerindo assim que apenas alguns gatos se colocam a par dos cães no que diz respeito a compreender as pessoas.

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Os cães sentem mesmo os nossos problemas Confortar pessoas angustiadas, por exemplo, pode estar mesmo implementado no cérebro canino. Um recente estudo, publicado na Animal Cognition, concluiu que os cães podem ser realmente os melhores amigos do Homem, sobretudo se a pessoa estiver de alguma forma angustiada. Essa pessoa angustiada nem precisa de ser alguém que o cão conheça previamente. “Eu penso que existem bons motivos para suspeitar que os cães são mais sensíveis ás emoções humanas que qualquer outra espécie” disse a co-autora Deborah Custance à Discovery News. “Nós domesticamos os cães por um longo período de tempo e fizemos uma criação seletiva para eles se comportarem como nossos companheiros. Assim, os cães que responderam de forma sensível ás nossas pistas emocionais tiveram maiores chances de serem os escolhidos como animais de estimação e de criação” concluiu.

Custance e a colega Jennifer Mayer, ambas do departamento de psicologia da University of London Goldsmiths College, expuseram 18 cães a quatro encontros separados de 20 segundos cada com humanos, entre os quais se encontravam tanto os donos como estranhos. Numa das experiências, as pessoas emitiram sons a simular aflição e fizeram de conta que estavam a chorar. A maioria dos cães tentou confortar a pessoa, independentemente de ser o próprio dono ou um estranho. Os cães atuaram de forma submissa, aninhando-se e lambendo as pessoas. As investigadoras afirmam que este comportamento é consistente com empatia, preocupação e tentativa de dar conforto. Sobre o que irá dentro da cabeça de um cão, existe outro estudo recente, publicado na PLOS One, que demonstra que o cérebro dos cães reage assim que eles observam pessoas. Neste caso, os investigadores treinaram os cães para responder a sinais gestuais que indicavam se iriam receber comida ou não.


Fotografia: Jelly Dude / via Flickr

O núcleo caudado do cérebro dos cães, uma área associada à recompensa nos humanos, mostrou ativação quando os cães sabiam que iam receber comida. “Estes resultados indicam que os cães prestam muita atenção aos gestos humanos” disse o líder da investigação Gregory Berns, diretor do Emory Center for Neuropolicy. Apesar de este último estudo ter tido como amostra de recompensa a comida, Custance e Mayer pensam que os cães, ao longo de milhares de anos de domesticação

foram tantas vezes recompensados pela sua aproximação a pessoas angustiadas que isso pode ter ficado implementado nos seus cérebros. O fenómeno pode ter um elemento do subconsciente. “Os cães bocejam contagiados pelo bocejo humano” disse Matthew Campbell, professor assistente do departamento de psicologia da universidade da Geórgia. “Nós selecionamos os cães para estar sintonizados connosco emocionalmente”. Descubra mais sobre cães em: - www.mundodosanimais.pt/caes



O Reino Ameaรงado dos Grandes Felinos Estรฃo entre os animais mais carismรกticos do planeta e damos a sua presenรงa como adquirida, mas correm risco elevado de desaparecer.

Fotografia: Alias 0591 / via Flickr


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A

s populações dos maiores felinos, como leões, tigres, chitas, leopardos e jaguares, estão em declínio acentuado e algumas em perigo critico de extinção. Carismáticos, predadores de topo, de semblante imperturbável, damos por adquirida a sua presença, sem desconfiar que um mundo sem nenhum destes animais pode ser uma realidade no futuro próximo. As razões para o crescente risco de extinção dos grandes felinos são evidentes e bem conhecidas – mas este conhecimento não tem impedido que as más práticas continuem a ser praticadas. A desflorestação e consequente perda de habitat é um factor crítico para qualquer animal, mas facilmente pode imaginar o que isso significa quando estamos a falar de animais destas dimensões, que necessitam de muito espaço e de clima, tanto para eles próprios como também para as presas das quais se alimentam.

Basta referir que um dos motivos que levou ao acentuado declínio do lince ibérico foi o desaparecimento da maior parte das populações de coelhos bravos. Todos os animais dependem uns dos outros para a sua sobrevivência. Os conflitos com populações humanas, a


Fotografia: Arno Meintjes / via Flickr

caça furtiva e o tráfico também contribuem grandemente para que existam cada vez menos grandes felinos na natureza. A sua extraordinária beleza também tem funcionado contra eles, pois as suas peles exóticas e vistosas são muito procuradas no mercado negro.

A população selvagem de leões sofreu um decréscimo de 43% em apenas 21 anos, entre 1993 e 2014.



Leão Panthera leo

Estado de conservação: Vulnerável Desde crianças que estamos habituados a ouvir falar dos leões como os Reis da Selva – e confesse, emocionou-se ao ver o Simba perder o pai no «Rei Leão». O facto de os leões serem possantes, terem uma majestosa juba e um estilo de vida “de Rei” certamente contribuiu para que fossem assim chamados, embora seja interessante notar que nem sequer vivem na selva, pois não gostam de ambientes húmidos e com vegetação alta, preferindo savanas, quentes e com a vegetação mais rasteira. Os leões são os segundos maiores felinos do mundo, ficando apenas atrás dos tigres. São também os felinos mais sociais que existem e os únicos que se organizam em grupos para caçar.

Fotografia: Terence T.S. Tam / via Flickr



Tigre Panthera tigris

Estado de conservação: Em perigo O tigre é o maior felino do mundo. São animais de hábitos solitários e reconhecidos pelas suas espantosas listas negras. As listas dos tigres são tão únicas para cada um deles como as impressões digitais são para nós. Estas listas não desaparecem se o pêlo, por alguma razão, cair ou for cortado. Os tigres, bem como os leopardos, têm o hábito de limpar primeiro as presas antes de começarem a alimentar-se. Desta forma não ingerem pêlos que lhes possam afectar a digestão. São também um dos felinos que não tem qualquer problema em entrar dentro de água para perseguir uma presa, chegando a ficar totalmente submerso. Já foram observados tigres a perseguir crocodilos na reserva de Ranthambore, no Noroeste da Índia. Fotografia: Doug Brown / via Flickr



Leopardo Panthera pardus

Estado de conservação: Quase ameaçado Os leopardos são os mais versáteis e os trepadores de excelência entre os grandes felinos. Como são mais pequenos que os leões, protegem as suas caçadas levando-as para o topo de árvores bem altas, onde outros predadores não se atrevem a tentar roubá-los. É fascinante como conseguem carregar grandes presas para cima das árvores, o que demonstra grande força, robustez e agilidade. A grande versatilidade dos leopardos permite-lhes ocupar habitats diversos e alimentarem-se de um variado número de presas, incluindo dentro de água onde são excelentes nadadores. Por consequência, são a espécie de grande felino mais dispersa em todo o mundo.

Fotografia: Arno Meintjes / via Flickr



Leopardo das Neves Panthera uncia

Estado de conservação: Em perigo Os leopardos das neves, também chamados de irbis, estão excecionalmente adaptados ao frio. Pêlo espesso cobre todo o corpo, incluindo as patas, com uma coloração cinzenta esbranquiçada que os camufla em plena neve. Com patas musculadas, os leopardos das neves têm uma capacidade incrível de salto, conseguindo saltar com segurança uma distância de 15 metros de comprimento. A longa cauda dá-lhes o balanço necessário para se equilibrarem entre as montanhas do continente asiático. Chegam a habitar montanhas a 6.700 metros de altitude.

Fotografia: Mark Dumont / via Flickr



Jaguar Panthera onca

Estado de conservação: Quase ameaçado O terceiro maior felino do mundo (apenas atrás de tigres e de leões) e o maior felino do continente americano, é também chamado de pantera ou onça pintada. Habita nos três continentes americanos e prefere viver perto de água, em pântanos, florestas ou regiões que sejam frequentemente inundadas, onde caçam veados, tapires e também tartarugas, peixes ou rãs. Apesar de ser muito parecido com o leopardo, é maior e com comportamento mais parecido com os tigres. O jaguar tem a mordida mais forte entre todos os felinos, capaz de perfurar carapaças de tartaruga e até couraças de crocodilos, que ocasionalmente caçam.

Fotografia: Eddy Van 3000 / via Flickr



Chita Acinonyx jubatus

Estado de conservação: Vulnerável Também conhecida como guepardo, a chita é a grande velocista entre os felinos e o animal terrestre mais veloz do mundo. São felinos com características únicas e especializadas e os que mais divergem em relação às outras espécies de felinos selvagens. As chitas têm uma fisionomia aerodinâmica e um organismo totalmente adaptado à velocidade. Conseguem acelerar dos 0 aos 100 quilómetros por hora em apenas 3 segundos e chegar à velocidade máxima de 120 quilómetros por hora pouco depois. No entanto, a quantidade de energia que gasta nessas corridas é enorme e a temperatura corporal sobe rapidamente, pelo que necessita de descansar largos minutos depois de um sprint. Fotografia: Arno Meintjes / via Flickr



Puma Puma concolor

Estado de conservação: Pouco preocupante O puma é um grande felino americano, conhecido por uma panóplia de nomes tais como leão da montanha, cougar, onça parda, suçuarana e outros. Acredita-se que existam mais de 40 nomes para este mesmo animal. As patas traseiras dos pumas são maiores que as dianteiras, especialmente adaptadas a grandes saltos. Caçam as suas presas através de emboscadas e escondem-nas, para se irem alimentando delas durante vários dias. São animais tímidos e solitários, no entanto não se dão bem em habitats pequenos. Apesar dos pumas adultos terem uma coloração uniforme, os bebés têm uma pelagem malhada e, tal como os nossos gatos, olhinhos azuis. Fotografia: Julian Wellbrock / via Flickr



Pantera Nebulosa Neofelis nebulosa

Estado de conservação: Em perigo Também conhecido como leopardos nebulosos, tem, proporcionalmente, os maiores dentes caninos entre todos os carnívoros terrestres e são a nossa visão atual mais aproximada (embora ainda muito diferente) com os já extintos tigres-dentes-de-sabre. Apesar de não estarem relacionados com os restantes leopardos, partilham com estes a excelente habilidade de subir às árvores, conseguindo até pendurar-se nos ramos presos apenas pelas patas. A maior parte da informação que temos sobre as panteras nebulosas advém da observação em cativeiro. A vida destes felinos em ambiente selvagem é algo misteriosa e pouco se sabe sobre eles. Fotografia: Gary Brigden / via Flickr



O mundo sem estes animais não seria a mesma coisa. Não poderia. A boa notícia é que não é tarde demais para ajudar. Um dos principais movimentos globais focados na conservação dos grandes felinos é a Big Cats Initiative. Fundada pela National Geographic em conjunto com os conservacionistas Dereck e Beverly Joubert, trabalha em conjunto com as populações locais para minimizar conflitos humano-animal e proporcionar uma co-habitação pacífica com os animais. Pode conhecer mais sobre o trabalho deles e apoiar em http://animals.nationalgeographic.com/ animals/big-cats/ Conheça e considere apoiar também a Big Cat Rescue, um dos maiores santuários de grandes felinos do mundo (http://bigcatrescue.org/) e o programa Big Cats da WCS (http://www. wcs.org/our-work/wildlife/big-cats).

Fotografia: Ali Arsh / via Flickr

Juntos podemos contribuir para que estes fantásticos animais continuem a rugir livremente pelo mundo dos animais.

Descubra mais sobre grandes felinos em: - www.mundodosanimais.pt/mamiferos/felinos


Inspirar pessoas a melhor dos ani

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a cuidar imais

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Produção e Conteúdos: Carlos Gandra Data da Edição: Fevereiro de 2016 Contacto geral geral@mundodosanimais.pt Colaboração editor@mundodosanimais.pt A Revista Mundo dos Animais é uma publicação gratuita. Sinta-se livre para a distribuir por email, twitter, blog ou qualquer outro meio, desde que nenhum dos conteúdos seja de alguma forma alterado. Todas as edições podem ser acedidas gratuitamente em: www.mundodosanimais.pt/revista Visite-nos em: www.mundodosanimais.pt /mundodosanimais @mundodosanimais +MundodosanimaisPt © 2016 Mundo dos Animais



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