Revista Mundo dos Animais nº 26

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“Esses pequenos e ligeiros músicos do ar, que gorjeiam as suas curiosas cantigas, com as quais a natureza os dotou para vergonha da arte.” Izaak Walton



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Os Animais A

Fotografias em estão a receb timou milhare domésticos.

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Foto-Report

Vivemos rode mo-nos à sua de considerá nelas.

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Pulgas: Com

Fotografia de capa: Madis Veskimeister via Wikimedia Commons

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Após o Desastre no Nepal

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lhor as pulgas para as conseguir eliucesso, dos seus animais de estimaasa e ainda as medidas para prevenir ento.

BEM-VINDO(A) A vida urbana tende a afastar-nos de diversas formas do mundo natural. Parques e quintas são substituídos por blocos de cimento e estradas de alcatrão com muito pouco de natureza neles. Mas estaremos assim tão isolados? A nossa autora convidada Elisabete Rodrigues mostra-nos que não. Focando-se particularmente nas aves, mostra-nos através da arte da fotografia que muitos animais que pensamos viverem longe, estão na verdade à nossa volta: mas nós não os vemos. Porque uma coisa é olhar, outra é VER (pág. 42). E por falar em aves, a bióloga Marta Fonseca explica-nos o que deve fazer se encontrar uma cria de andorinhão caída do ninho, algo que acontece com alguma frequência entre Maio e Agosto. Dispenda uns minutos, pode vir a ter o papel de salvar uma vida em breve (pág. 60). Carlos Gandra


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Três rinocerontes-brancos fotografados no Ziwa Rhino Sanctuary, no Uganda. O rinoceronte-branco (Ceratotherium simum) é a maior espécie de rinoceronte e o segundo maior animal terrestre do planeta. A subespécie do norte (Ceratotherium simum cottoni) é um dos animais mais raros do planeta e a população está limitada a cinco animais: quatro fêmeas e um macho, todos em cativeiro. Stefane Berube, National Geographic Your Shot


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Um koala bebé agarrado à sua mãe enquanto esta era submetida a uma cirurgia no Australia Zoo Wildlife Hospital. A mãe koala, Lizzy, foi atropelada por um carro numa autoestrada australiana enquanto carregava o seu bebé, Phantom. Lizzy sofreu um traumatismo craniano e colapso pulmonar, pelo que teve de ser operada. A cirurgia, sempre acompanhada pelo bebé, correu bem e a mãe koala encontra-se em recuperação. Australia Zoo Wildlife Hospital


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O cordeirinho Friday (Sexta-feira, em português) com o seu amigo felino no santuário Edgar’s Mission. O pequeno Friday foi encontrado junto da sua mãe falecida, cheio de frio, desidratado e por sua conta com apenas poucos dias de vida. Encontra-se em recuperação e tudo está a correr bem com o pequeno. Bem merece. Edgar’s Mission


Um urso-pardo bebé a aprender técnicas de escalada com a sua mamã, no parque natural de Cabárceno em Cantábria, Espanha. Solent News / Rex Shutterstock


Um polvo tão fofinho e adorável que os cientistas equacionam batizálo oficialmente de “Adorabilis”. Para ser mais preciso, Opisthotheusis adorabilis. O pequeno polvo cor-de-rosa e olhar de cachorrinho, vive a cerca de 500 metros de profundidade e estende os seus oito tentáculos como se estivesse a abrir um paraquedas, uma vez que tem uma membrana extensa a ligar todos os membros. MBARI




Um corvo “apanha boleia” de uma águia em pleno voo nos céus de Seabeck, em Washington. Phoo Chan, Media Drum World


Uma raposinha sobe amigavelmente para as costas do seu protetor, o fotógrafo de vida selvagem Richard Bowler, no País de Gales. A imagem foi amplamente difundida através do Twitter com a hashtag #KeepTheBan, que marca a forte oposição de Richard à caça das raposas praticada no país. Richard Bowler tem a seu cargo três raposas que já não podem ser devolvidas à natureza: duas adultas, Rosie e Fen e ainda a pequena Hetty, na fotografia. Richard Bowler


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Veja mais imagens em destaque no Mundo dos Animais: - http://www.mundodosanimais.pt/fotos/imagens-dasemana/


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Os Animais Após o Desastre no Nepal Texto Carlos Gandra

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terrível sismo que ocorreu no Nepal em Abril – mais as réplicas – vitimou mais de 8 mil pessoas, 20 mil ficaram feridas e deixou cidades inteiras em ruínas. A tragédia foi coberta ao detalhe em incontáveis reportagens e diversos meios de ajuda humanitária foram prontamente acionados. A resposta, que nunca é suficiente nestas catástrofes, mostrou ainda assim que aprendemos com os erros cometidos no Haiti em 2010, quando o número de voluntários que se deslocaram para o país para ajudar foi tão grande que deixou de haver alimentação suficiente para todos. Mas o que nos leva a abordar o sismo do Nepal aqui são naturalmente os animais.


Jodi Hilton, AP Images for Humane Society International



World Animal Protection



Jodi Hilton, AP Images for Humane Society International


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T

al como aconteceu no desastre nuclear em Fukushima e em muitas outras catástrofes, os animais, em particular animais domésticos, são igualmente vítimas e precisam igualmente de ajuda. Nas zonas rurais do Nepal, os animais domésticos costumam ser alojados sob as habitações e como se pode imaginar, muitos morreram quando as habitações colapsaram. Os que sobreviveram, incluindo animais de estimação como gatos e cães, ficaram sozinhos sem ninguém para tomar conta deles. A falta de alimentação, higiene básica e o stress que os animais sentem nestas condições diminui o sistema imunitário, que por sua vez promove a disseminação de doenças infeciosas entre os animais, uma situação que se descontrola rapidamente. Ferimentos provocados pelos colapsos podem revelar-se fatais sem tratamento.

“As pessoas estão dispostas a colocar a sua vida em risco para ficar com os seus animais de companhia. São membros da família.”

– Joann Lindenmayer, Humane Society International

Algumas organizações, como a Humane Society International e a Animal Welfare Network of Nepal (mais à frente deixamos-lhe uma lista de organizações e como as pode ajudar), responderam com equipas de resgate e salvamento para tentar chegar aos animais sobreviventes e providenciar-lhes alimentação e cuidados veterinários. Para além dos animais, estas equipas também procuram dar apoio às pessoas que sobreviveram e que têm uma ligação forte com os seus animais, arriscando a sua vida para tentar salvar os amigos de quatro patas.


World Vets



Jodi Hilton, AP Images for Humane Society International



World Vets



Jodi Hilton, AP Images for Humane Society International


Humane Society International


Humane Society International


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A homenagem da «mãe dos cachorros» de Catmandu

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yani Deula, conhecida como a «mãe dos cachorros» de Catmandu, capital do Nepal, organizou um ritual hindu em memória de todos os animais vítimas do sismo. Conhecida por ser a protetora dos animais de rua, incluiu na cerimónia vários pratos para alimentar os animais abandonados – que, com a morte de muitos dos donos, não têm literalmente para onde ir. A cerimónia inclui também a distribuição de comida pelos animais noutros pontos da cidade. O staff da Humane Society International participou na iniciativa.


Jodi Hilton, Humane Society International



Jodi Hilton, Humane Society International



Jodi Hilton, Humane Society International


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Humane Society Internationa


al

OS ANIMAIS APÓS O DESASTRE NO NEPAL

Como Ajudar os Animais no Nepal É comum pensar-se que a ajuda apenas é necessária nas primeiras semanas após uma catástrofe. Pegando novamente no exemplo do Haiti, 5 anos depois ainda existe mais por fazer do que o que está realmente feito. Por esse motivo, mesmo que esteja a ler esta Revista vários meses ou mesmo anos depois de ter ocorrido o sismo do Nepal, não deixe de visitar as ligações que lhe deixamos em baixo para conhecer o ponto de situação e o tipo de ajuda que é mais necessária: Humane Society International’s International Disaster Relief Fund http://www.hsi.org/news/press_releases/2015/04/nepal-earthquake-disaster-response-042515.html Animal Welfare Network Nepal http://www.awnnepal.org/donate.php Society for Animal Welfare and Management http://www.sawmnepal.org.np/ Animal Nepal https://animalnepal.wordpress.com/donations/ World Vets Disaster Response Team http://worldvets.org/2015/04/world-vets-nepal-animal-rescue-updates-2/ World Animal Protection – Disaster Response Vets http://www.worldanimalprotection.org/our-work/animals-disasters

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F O T O - R E P O R TA G E M

AVES URBANAS Texto e Fotos Elisabete Rodrigues


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Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus) Almada – 02/03/2014

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Gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus) Almada – 02/03/2014

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F

otografia quer dizer, literalmente, escrever com a luz, captar o que se vê (e também o que se não vê) com um mero clique num botão. É como fazer magia… Num instante posso mostrar o mundo como o vejo e sinto e ver esse mesmo mundo através dos olhos de outros. Posso apreciar a beleza dos grandes planos ou deter-me demoradamente nos pequenos pormenores que a olho nu jamais poderiam ser vistos… e o melhor de tudo é poder eternizar um momento, quase sempre irrepetível, que de outra forma, a pouco e pouco, se desvaneceria da memória, como que perdido no tempo… É uma arte tão diversificada quanto os objectos a fotografar e se praticamente todos os seus campos me prendem a atenção, nenhum me cativa ou fascina tanto quanto a fotografia de natureza, e dentro desta, a fotografia das aves.

Desde pequena, pela mão do meu avô fui habituada ao convívio com as aves, cresci rodeada de mil e um pássaros e aprendi a conhecê-los, a cuidar deles e a apreciar a sua companhia, a admirar a sua beleza, o seu canto e a sua presença. Com quase vinte anos, veio parar à minha mão um livro cheio de simbolismo que contava a história de uma Gaivota, chamada Fernão Capelo, que achava que voar era muito mais do que ir de um ponto ao outro e, apesar de ser uma estória com uma carga espiritual e filosófica que usava as aves apenas para construir metáforas sobre liberdade, fez crescer o meu interesse pelas aves comuns. Vivemos rodeados destas aves comuns e habituámo-nos à sua presença e ao seu canto ao ponto de considerá-las banais e deixarmos de reparar nelas, numa eterna cegueira (e surdez) do dia-a-dia…


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Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros) Amora, Seixal – 15/03/2014

Melro-preto (Turdus merula) Amora, Seixal – 16/03/2014


Quase espezinhamos um pombo ao passar na rua e não damos conta do canto doce do melro pousado no telhado. Não vemos o ninho de andorinhas debaixo de uma varanda, nem a dança alegre dos pardais nas cordas de um estendal de roupa. Já não levantamos os olhos

para o céu para ver o vôo majestoso de uma gaivota… E nem mesmo a exuberância de uma poupa ou a elegância de um rabirruivo parecem despertar-nos deste adormecimento profundo. A coexistência dessas duas


AVES URBANAS

que até então me haviam passado despercebidas…

Rola-turca (Streptopelia decaocto) Almada – 22/02/2014

paixões, a fotografia e as aves, uma alimentando a outra, inesperadamente conduziram-me a redescobrir a cidade para onde vim morar há cerca de dez anos, e obrigaram-me a VER com um olhar renovado cada recanto e pormenor, revelando-me uma biodiversidade e uma beleza

A cada clique fui querendo saber mais e fazer melhor, “escrever com luz” o que via com o coração… por isso quis trazer aqui um pouquinho dessa magia que nos cerca e para a qual deveríamos despertar. Parar. Respirar. Contemplar o que nos rodeia… A natureza e as aves, sobretudo as comuns, podem-nos surpreender todos os dias e está tudo aqui ao lado, é só olhar com olhos de VER, porque no fundo, tinha razão o poeta Afonso Lopes Vieira, quando dizia: “De aquele que não admira Já nada de bom se tira Pois quem não sabe admirar Não sabe amar…”

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Felosa-comum (Phylloscopus collybita) Amora, Seixal – 08/03/2014


Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) BelÊm, Lisboa – 15/03/2014




Poupa (Upupa epops) Amora, Seixal – 04/05/2014



Pardal-comum (Passer domesticus) Amora, Seixal – 16/03/2014



Guincho-comum (Larus ridibundus) Amora, Seixal – 09/03/2014

Veja mais sobre aves em: - http://www.mundodosanimais.pt/aves/

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Cria


as de Andorinhão O QUE FAZER SE ENCONTRAR UMA Texto e Fotos* Marta Fonseca

*exceção: Klaus Roggel via Wikimedia Commons



CRIAS DE ANDORINHÃO

A

pesar do que muitas pessoas pensam, as andorinhas e os andorinhões não são espécies próximas, pertencem a famílias distintas. As andorinhas pertencem à família Hirundinidae enquanto os andorinhões pertencem à família Apodidae. É evolução convergente que as espécies sofreram ao longo da história evolutiva que leva muitas vezes as pessoas a pensarem que são próximas. Isto é, estes passeriformes desenvolveram características semelhantes tendo origens diferentes, sendo o resultado de terem hábitos de vida semelhantes. Os andorinhões têm uma plumagem castanha escura parecendo por vezes preta. São distintos e identificados pelo seu voo rápido e ágil, que é conseguido pela forma do seu corpo. Têm corpo aerodinâmico e asas compridas e estreitas em forma de foice, excedendo a cauda bifurcada. As suas patas são pequenas, pois a sua alimentação dá-se durante o voo, sendo exclusivamente insectívoros, por esse motivo têm pouca necessidade de pousar.

Todas estas características são facilmente visíveis a um observador de natureza, ou apenas a alguém que ao passear na rua despenda um pouco de tempo a observá-los. Em Portugal é uma espécie estival, podendo ser visto entre os meses de Maio a Agosto e nidifica de Maio a Julho. É durante estes meses que muita gente se depara com crias caídas dos ninhos e não sabe o que fazer. A minha experiência no Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa (LxCRAS) permitiu-me aprender como tratar destes passeriformes para depois os devolver à natureza, onde pertencem e são felizes. É esta aprendizagem que irei descrever no restante artigo.

1. Entrega a entidades competentes Quando nos deparamos com crias de andorinhão, o melhor procedimento é levá-los a um centro de recuperação próximo da zona ou contactar o SEPNA, que está encarregue de entregar animais silvestres aos centros de recuperação.

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2. Como mantê-los e recuperá-los Os andorinhões ficam bem em caixas de cartão com panos ou mantas presas nas laterais, para que lhes seja possível empoleirar-se. Esta é a melhor opção, pois os andorinhões ao contrário das andorinhas não conseguem equilibrar-se em poleiros, apenas conseguem prender-se na vertical devido ás patas diminuídas.

A higiene na caixa também é importante, caso contrário podem ficar com as asas danificadas. Deverá ter jornal no fundo e ser mudado diariamente. Antes da se proceder à alimentação pode-se exercitar um pouco os músculos de voo. Deve segurar-se as patas pela base com os dedos, colocando o dedo indicador entre as patas e fazer movimentos na vertical, movimento que será suficiente


para o andorinhão bater as asas. Este procedimento deve ser feito com cuidado pois as suas patas frágeis podem correr o risco de partir.

conhecidos como tenébrio gigante, ou então grilos mortos. Este alimento pode ser encontrado em lojas de animais exóticos ou de répteis.

Para se ter uma noção precisa da recuperação da cria, deve-se periodicamente pesar para verificar se há aumento de peso.

Como já referido, os andorinhões apenas se alimentam em voo e por isso não comem na mão. Para os alimentar é necessário partir os tenébrios ao meio, abrir o bico do andorinhão e colocar meio tenébrio no fundo da cavidade bocal.

Uma vez que são insectívoros, na sua alimentação podem ser usados Zophoba morio, também


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Os andorinhões podem por várias vezes rejeitar o alimento, mas é necessário insistir com paciência. Também se deve dar água com a ajuda de uma seringa. Com a experiência torna-se mais fácil alimentá-los e de forma mais rápida. A alimentação deve ser feita pelo menos três vezes por dia. Caso sejam crias muito novas a alimentação deve ser mais frequente, idealmente de duas em duas horas. Por fim, qualquer animal silvestre tratado para ser devolvido à natureza deve ter o mínimo contacto com pessoas, por isso só devem estar em contacto durante a alimentação.

Veja mais sobre aves em: - http://www.mundodosanimais.pt/aves/



Pulgas

Como Eliminar Texto Sara Guiomar e Sara Bastos

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s pulgas são um dos maiores pesadelos que assombram os donos de cães e gatos. Principalmente nos meses mais quentes, como no Verão, conseguem infestar rapidamente um animal e a casa inteira onde ele vive. Não é por acaso que a pulga é “apenas” o parasita externo mais comum que existe em cães e gatos. Apesar de ser uma praga mais antiga que o próprio ser humano, muitas pessoas com animais de estimação não sabem como eliminar as pulgas de forma segura e eficaz. Existe uma vasta gama de produtos destinados a eliminar pulgas, mas só funcionam quando bem escolhidos tendo em conta o animal, o ambiente e as diferentes etapas da infestação. Uma má escolha do produto pode inclusive colocar em risco a saúde do seu amigo, pelo que não deve descuidar este assunto. Mas então, o que é preciso fazer para conseguir acabar com as pulgas? Antes demais, temos de perceber o que são pulgas.


Eli Duke via Flickr


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s pulgas são insetos que gostam de temperaturas quentes, humidade e que se alimentam do sangue (hematófagos) de animais com sangue quente, especialmente cães, gatos, coelhos, esquilos, guaxinins, ratos e sim, seres humanos. Apesar de poderem parecer todas iguais – castanhas escuras e do tamanho da cabeça de um alfinete – já foram descritas mais de duas mil espécies de pulgas em todo o mundo. Uma das principais características das pulgas é a sua enorme capacidade de salto: conseguem catapultar-se até cerca de 200 vezes o seu próprio tamanho. Quando encontra uma pulga e a tenta apanhar, o salto é a sua arma de defesa para escapar. Uma pulga pode viver até um ano (ou mais em determinadas condições) e, no caso das fêmeas, pôr mais de dois mil ovos durante a sua vida. Não admira que o número de pulgas numa infestação aumente tão rapidamente. As pulgas transmitem-se pelo

contacto com animais infetados ou com ambientes onde elas estejam presentes. As pulgas que parasitam cães e gatos não estão relacionadas com qualquer tipo de classe social ou condições de higiene, pois basta passear com o seu cão num jardim onde tenha passado anteriormente outro animal com pulgas, para as poder trazer para casa. Uma vez em casa, basta uma pulga fêmea colocar ovos para dar início à infestação. Os ovos caem do pêlo do seu animal e ficam instalados em frestas de soalho, carpetes, a cama do animal, o seu jardim (se for o caso), ou outros locais menos acessíveis. Estes ovos desenvolvem-se e deles nascem larvas, que se deslocam para locais quentes ao abrigo da luz, sendo as frestas dos soalhos os seus locais de eleição. As larvas vão-se alimentando da matéria orgânica que encontram pelo chão, principalmente no pó. Estas larvas evoluem para um casulo, onde aguardam condições favoráveis para eclodir.


PULGAS: COMO ELIMINAR

Basta pressentirem um ligeiro aumento de temperatura, ou a respiração (dióxido de carbono) de um animal, para eclodirem em pulgas adultas. Como o ciclo de vida das pulgas, desde

o ovo à pulga adulta, está dependente das condições que encontra no meio, a limpeza e desinfeção da casa é um dos passos mais importantes para as eliminar. Já lá vamos.

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Os Perigos das Pulgas Para a Saúde As pulgas não são simplesmente parasitas incómodos. Podem mesmo causar doenças e transmitir parasitas internos: • A saliva que a pulga injeta para melhor sugar o sangue, pode provocar irritação, eczemas e outras doenças cutâneas, como a DAPP (Dermatite Alérgica à Picada da Pulga); • Se o número de pulgas for elevado, o animal pode ficar anémico devido à quantidade de sangue perdida; • As pulgas podem transmitir parasitas internos como é o caso do verme intestinal Dipylidium caninum, que além de infetar o intestino dos cães e dos gatos, também é transmitido a seres humanos, em especial crianças; • O constante desassossego do animal, em stress com a comichão incessante, pode levar o animal a comer menos, tornar-se deprimido e até agressivo, dependendo da sua personalidade.


Pulga-de-cão (Ctenocephalides canis) Luis Fernández García via Wikimedia Commons


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m dos erros que as pessoas frequentemente cometem ao tentar eliminar as pulgas, é só desparasitarem os seus animais. A verdade é que quando encontra uma pulga no pêlo do seu animal, isso significa que a sua casa já terá uma infestação em curso. Dizem as estimativas que os animais possuem apenas entre 5 a 10% das pulgas presentes em casa. Portanto vamos começar pelo ambiente / casa. • Aspire tudo o que for possível: chão (principalmente frinchas), carpetes, móveis (por baixo e nos cantos), caixas de transporte, tapetes, almofadas, sofás, porão (se for o caso), etc; • Tenha especial atenção em zonas mais húmidas e que não estejam muito expostas à luz do Sol, pois é onde as larvas se refugiam até se tornarem pulgas adultas; • Quando terminar de aspirar,

coloque o saco do aspirador dentro de outro saco ou recipiente isolado (para evitar fuga de pulgas) e deposite-o fora de casa no ponto de recolha de lixo habitual; • Lave toda a roupa em que o animal tenha estado em contacto, em especial das camas (a dele e a sua), com água bem quente; • Note que a eliminação das pulgas pode demorar um par de semanas ou mesmo um mês, pelo que as lavagens e aspirações devem ser repetidas com frequência até que não existam quaisquer pulgas no ambiente; • Se for uma infestação mais grave, poderá ter de recorrer a um inseticida antipulgas em casa, sendo mais recomendado o Biokill. Caso escolha outro produto, tenha muita atenção aos rótulos para se certificar que não corre o risco de intoxicação de pessoas e animais; • Em casos de gravidade extrema, recorrer aos serviços de uma empresa de desinfestação poderá ser a solução para resolver de vez o problema.


A desparasitação nos animais deve começar após ter feito a primeira aspiração e limpeza em casa. Todos os cães e gatos em casa devem ser tratados, mesmo que acredite que apenas um deles está com pulgas. Apesar de existirem diversos tipos de produtos, não aconselhamos o uso de sabonetes ou champôs antipulgas (salvo recomendação do seu veterinário), devido ao fraco efeito residual assim que é enxaguado e por alguns riscos associados a animais idosos ou debilitados.

Tenha atenção a talcos antipulgas ou outros venenos inseticidas, pois podem ser tóxicos para os animais e criar problemas sérios, inclusivamente fatais. Tenha também especial cuidado com alguns antipulgas para cães, como o Advantix e o Pulvex, pois são altamente tóxicos para gatos. Certifique-se que o produto que vai utilizar é 1) de uso veterinário e 2) indicado para o animal que pretende desparasitar. Consulte primeiro o seu veterinário para dissipar qualquer dúvida.


chris jd via Flickr


PULGAS: COMO ELIMINAR

Como Evitar o Reaparecimento

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pós eliminar com sucesso as pulgas do seu animal e da sua casa, deve adotar medidas preventivas para que estas não reapareçam. Como em muitos problemas, a prevenção é o melhor remédio. Existem algumas dicas práticas que pode aplicar, para evitar que as pulgas voltem a entrar em sua casa. Nomeadamente: • Manter o ambiente limpo e arejado, evitando a humidade excessiva; • Aspirar frequentemente a casa e ter especial atenção a cestas e roupas em contacto com os animais (como as camas deles); • Encerar os soalhos, pois a cera é tóxica para as pulgas;

• No jardim / exterior, pode aplicar produtos biodegradáveis contra pulgas. Quanto ao seu animal, certifique-se de que lhe dá banho frequentemente (nos cães, menos frequente nos gatos) e de que não entra em contacto com outros animais que possam ter pulgas. Caso tenha dúvidas sobre qual o produto mais aconselhável para o seu animal, ou se o seu animal foi afetado por outros problemas associados a uma infestação de pulgas (como alergias e parasitas internos), deve consultar o veterinário assistente, que saberá qual a melhor estratégia a adotar.

Leia mais sobre animais de estimação em: - http://www.mundodosanimais.pt/animaisestimacao/

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Inspirar pessoas a melhor dos ani

www.mundodosanimais.p


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Produção / Edição / Design Carlos Gandra Autores nesta edição Carlos Gandra Elisabete Rodrigues Marta Fonseca Sara Bastos Sara Guiomar Contacto geral geral@mundodosanimais.pt Colaboração editor@mundodosanimais.pt A Revista Mundo dos Animais é uma publicação digital gratuita. Sinta-se livre para a distribuir por email, twitter, blog ou qualquer outro meio, desde que nenhum dos conteúdos seja de alguma forma alterado. Todas as edições podem ser acedidas gratuitamente em: http://www.mundodosanimais.pt/ revista/ © 2015 Mundo dos Animais



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