5 minute read

Na rota dos Bálcãs

Next Article
A melhor energia

A melhor energia

Um tour por dois países — Bósnia e Herzegovina e Sérvia — que passaram por guerras recentes e fogem do tradicional circuito europeu

Talvez Bósnia e Herzegovina e Sérvia não sejam os dois primeiros destinos na lista daqueles que pretendem desbravar a Europa. Mas são países tão ricos em cultura e história que, sem dúvida, merecem uma visita. E foi isso que eu fiz. Comecei a viagem pela Bósnia e Herzegovina. Visitar Sarajevo, sua capital, é como estar nas páginas de um livro de história! A Guerra da Bósnia, que teve início em 1992, devastou o país. Após ter sofrido tantos bombardeios — o City Hall e a biblioteca foram destruídos, todos os livros e arquivos foram perdidos, mas o prédio foi reconstruído —, é surpreendente perceber que a cidade está bem recuperada arquitetonicamente. A Bósnia recebeu muito dinheiro da Europa e das Nações Unidas para se reerguer. Entretanto, as marcas do conflito ainda estão muito presentes na população, já que a maioria perdeu familiares ou amigos. É claro que a vida foi muito difícil durante e no pós-guerra, mas, para eles, apesar de as feridas se arrastarem ao longo das gerações, as coisas estão melhorando aos poucos. O país tem três grupos — bósnios são muçulmanos, croatas são católicos e sérvios são ortodoxos — e, por isso, tem três presidentes ao longo de um mandato e as principais decisões são tomadas em conjunto.

Advertisement

Visitar

Para conhecer um pouco mais sobre a cidade e sua história, fiz o tour “Queda da Iugoslávia”, com a Meet Bosnia Travel, que te leva para conhecer a rica e violenta história da cidade e da região dos Bálcãs. Visitei os principais pontos turísticos, incluindo o Museu do Túnel da Esperança, que tem parte do Túnel da Esperança, que era usado para terem acesso à comida e para levarem feridos. Fui também ao Parque Olímpico, sede das Olimpíadas de Inverno de 1984, que foi quase completamente destruído durante a guerra — uma parte da pista de bobsled está preservada e pude caminhar por ela.

Para um drinque em Sarajevo, o S One Sky Lounge, localizado no topo do Courtyard Marriott Hotel, é uma boa opção, pois tem uma vista belíssima. Para comer, há muitos restaurantes no centro antigo que servem comidas típicas, como o goulash — carne ensopada com legumes e servida com batata — e abobrinha recheada com carne moída e batatas. Além disso, tem inúmeras opções de vinhos e grapas a um preço justo. Prove também o misto de carnes que inclui o cevapi, semelhante a uma kafta pequena servida com cebola, repolho, batatas e o pão tradicional, que lembra o pão sírio. Para saborear o típico bu- rek, uma espécie de massa folhada geralmente recheada de carne, queijo ou espinafre, há restaurantes especializados também no centro da cidade. Se você é mais chegado em doces, não deixe de provar a baklava, sobremesa bem tradicional feita com nozes e servida com agda, uma calda de água e açúcar, tipo um caramelo — você pode encontrá-la em vários lugares. O Kibe Mahala foi muito bem recomendado, porém, não consegui ir porque é necessário fazer reserva prévia — fica a dica para os viajantes. Fugindo um pouco da culinária tradicional, o Vinoteka oferece comida internacional e tem decoração rústica.

Com mais de 80% da população muçulmana, em Sarajevo é possível perceber uma grande influência árabe. O centro antigo, conhecido como Baščaršija, é todo de pedra e foi construído no século 15 pelos otomanos. Há muitos restaurantes, lojas de souvenirs e cafés. Vale a pena sentar, observar o movimento de pessoas, tomar um café bosniano e apreciar uma baklava.

Há um túnel de 650 metros que divide a Bósnia de Herzegovina. Apesar de a distância ser mínima, dizem que é o suficiente para chegar a um lugar bem diferente e que tem até outra temperatura. Durante o passeio, vi paisagens deslumbrantes, como o Lago Jablanica, que tem uma água bem verde. Como durante a guerra as pessoas não podiam sair do país, criaram praias no lago e que até hoje são muito usadas, especialmente porque Herzegovina só tem 20 km de costa. O famoso Rio Neretva, que cruza a Bósnia e Herzegovina e a Croácia, tem mais de 200 km e funciona como hidrelétrica e ponto turístico. De lá, consegui avistar os lindos cânions.

Em Blagaj — vila na região sudeste da Bacia de Mostar, no Cantão da Herzegovina-Neretva da Bósnia e Herzegovina —, há um monastério e é possível ver a nascente do Rio Buna e o bonito paredão de pedras. Mostar é a terceira maior cidade do país e conta com 113 mil habitantes. Ela foi muito destruída na guerra e é um lugar totalmente dividido: metade bosníacos e metade croatas. As escolas são um bom exemplo dessa divisão. Uma mesma instituição de ensino pode ter uma parte exclusiva para cada cidadania, professores e matérias diferentes, como história, política e língua. Em Mostar há, inclusive, uma rua que separa os povos.

Para ir de Sarajevo a Belgrado, antiga capital da Iugoslávia e atual capital da Sérvia, optei por viajar com a Air Serbia, pois há um voo diário que demora 50 minutos e que tem capacidade para apenas 66 passageiros. A cidade tem mais de um milhão de habitantes e muitas atrações turísticas. O forte é considerado um museu a céu aberto e tem o Kalemegdan Park ao redor. Nele, há um museu, um parque de dinossauros, quadras e parquinhos. Do forte, é possível avistar o encontro dos rios Sava e Danúbio, e é considerado um lugar muito romântico. Próximo ao parque há um calçadão de comércio com prédios históricos, igrejas e muitos restaurantes. Recomendo fazer um walking tour. Há diversos que são oferecidos na cidade, a maior parte é gratuita e sai da Praça da República (fiz com a empresa

Belgrade Walking Tours).

Em Belgrado há mais opções de hotéis do que em Sarajevo. O mais tradicional da cidade é o Moskva, que tem 111 anos, mas continua elegante e confortável — ele já recebeu muitas pessoas importantes ao longo de sua história, como Albert Einstein e Robert De Niro. O café ainda é um ponto de referência na cidade e está sempre movimentado. Fiquei hospedada no Hilton, que é muito bonito e bem localizado, já que é possível ir a pé a todos os principais pontos turísticos. Seu rooftop SkyLounge ocupa um andar inteiro com uma linda vista para a cidade. A cozinha é asiática, com carnes e peixes frescos, e há DJ todos os dias.

Por falar em comida, a Sérvia tem pratos bem semelhantes aos que experimentamos na Bósnia. No restaurante Lovac, o prato mais pedido é o mix de grelhados, que inclui o cevapi servido com pão pita. Experimentei um delicioso pão de milho, semelhante a uma broa, e recheado com queijo. Para um jantar mais requintado, a melhor opção na cidade é o Langouste, do estrelado chef Guillaume Iskandar, que faz criações diárias para o menu de carnes ou frutos do mar, mas há também opções à la carte. A vista do restaurante impressiona, já que é possível apreciar um lindo pôr do sol! O menu inovador e com diferentes sabores é uma experiência ao paladar e para a vida. O restaurante Madera fica dentro do Tasmajdan Park e tem um ambiente muito agradável, atendimento impecável e comida muito saborosa. Apesar de ter sido muito recomendada, acabei não provando a Rakia, uma espécie de cachaça, bem tradicional na Sérvia. A Crna ovca é considerada a melhor sorveteria da cidade e oferece sabores em massa e também palitos de frutas naturais. No geral, gostei muito da comida em Bel - grado e os preços são bem mais baixos do que em outras cidades europeias.

Passeando por Belgrado, conheci a Skadarlija, rua de pedestres pequena e bem interessante, com vários restaurantes e cafés. Fica bem próxima ao centro, mas tem um ar interiorano, sempre com bandas de músicas antigas. A rua é de paralelepípedos, então salto alto não é bem-vindo. Outros lugares interessantes para visitar na capital são o Museu Nikola Tesla, o Museu da Iugoslávia, o Museu Nacional da Sérvia e o zoológico.

Na Sérvia, 80% da população é ortodoxa, e a Saint Sava é a maior igreja ortodoxa do país e uma das maiores do mundo. A beleza e o tamanho impressionam. Visitamos também a catedral católica de Belgrado, cujo interior é muito bonito e decorado. Ela fica próxima ao Parque Kalemegdan. A religião sempre foi um ponto importante na cultura e história da Iugoslávia e ainda hoje os povos são muito divididos. A religião é estabelecida pelo nascimento e há poucas misturas.

This article is from: