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Hibridismo musical

EX-RESTART, EX-SELVA, PE LU É UM PESQUISADOR DE NOVAS VERTENTES. APROVEITOU A PANDEMIA PARA SE REINVENTAR, SEGUE LANÇANDO MÚSICAS SOLO E BUSCANDO PROJETOS INOVADORES NO CENÁRIO MUSICAL

Pe Lu é Pedro Lucas Munhoz, cantor, produtor e compositor que ficou conhecido nacionalmente por integrar a banda Restart, fundada em 2008. Foi também dupla de Brian Cohen no Selva, projeto de house pop que misturava pop com batidas eletrônicas. Mas veio a pandemia e o músico, que transita bem por muitas vertentes, encontrou novos caminhos. Hoje, além de produzir outros artistas, como João Guilherme (seu sobrinho), comanda dois selos – Papaya e Lofi Land – trabalha em projetos especiais e segue investindo numa carreira híbrida, sempre com o olhar atento às possibilidades de inovar no cenário musical.

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Como e quando nasceu o seu interesse pela música?

Quanto eu tinha 12 anos. Antes disso, eu dizia para todo mundo que queria ser jogador de futebol. Jogava em escolinha de bairro, fiz uma “peneira” no Corinthians e joguei um ano no time de base, mas fui dispensado. Fiquei com o coração partido e decidi que não queria mais jogar. Meu pai é músico, então já tinha isso em casa. Comecei a tocar guitarra, fui tomando gosto, conhecendo outras pessoas que gostavam de música, montava bandinha. Na época do vestibular, ser artista era a minha opção, fiz faculdade de Produção Musical.

Nos vimos pela última vez aqui em 2019. O que aconteceu nesse tempo?

A pandemia (risos). Quando paramos o Restart, logo veio o Selva, foi tudo na sequência. Eu vivi 13 anos nesse meio. E a pandemia foi essa loucura, me fez pensar sobre o que eu realmente queria como artista e como ser humano. A minha saída do Selva teve a ver com isso, eu não sabia se queria estar na estrada daquele jeito frenético. Nossa separação não foi logo no início da pandemia, foi um tempo depois. Mas eu e o Brian somos sócios de um estúdio em São Paulo. Seguimos juntos, escrevendo música. A pandemia me obrigou a andar para outros lugares. Fiquei seis meses fechado dentro de casa com a Natália, minha esposa. Então, montei um estudiozinho em casa, mas estava tudo muito estranho, né? Ninguém sabia o que ia acontecer. Tive um desespero inicial e, passada aquela esperança de que ia durar apenas um mês, comecei a buscar outras coisas. Comecei a focar em produção e composição para outras pessoas. Assim nasceram os selos Papaya e Lofi Land. O Papaya é o selo de música brasileira Indie Rock. O Lofi Land se refere, de maneira bem simplista, à música instrumental com beat. Uma música que ajuda a se concentrar, a entrar em um estado de flow. Comecei a ouvir esse tipo de música para relaxar e me envolvi nesse negócio, conheci os produtores. Apesar do conceito ser pouco conhecido, é uma cena muito grande, tem vários artistas nacionais fazendo. Eu comecei a cavar e achei muita gente com milhões de views em plataformas de música. Lançamos o Lofi Land e um compilado de dez músicas brasileiras muito famosas em versão Lofi.

Depois de tudo isso envolvendo a pandemia, como estão os seus projetos de carreira solo?

Eu comecei a lançar minhas músicas solo no final do ano passado. No começo deste ano, fizemos também um projeto de carnaval, o Carnaval no Sofá, um EP com quatro releituras de axés em uma ver- são de mais brasilidade. Tem Banda Eva, Claudia Leitte, Chiclete com Banana e Timbalada. É um projeto do qual tenho muito orgulho. Minha mãe é baiana, tenho uma relação muito forte com a Bahia, sempre que vou para lá é muito legal, é um lugar que me atrai, também gosto da Umbanda. Pensei em subverter músicas muito conhecidas do carnaval e trazer elas para a realidade do meu som, um som mais intimista e introspectivo. Pensei no axé, por conta dessa minha ligação sanguínea, espiritual e tal. Depois lancei mais dois singles. E agora estou a fim de lançar um disco. Estamos no processo, mas estou respeitando minha descoberta artística, não tenho pressa.

Quais são os seus outros grandes sonhos na música?

Eu sou muito inquieto. Os trabalhos que tenho feito com os selos são muito empolgantes, porque posso trabalhar de outra perspectiva. Sempre fui artista, produtor e compositor. Agora posso atuar como gerenciador de músicas. Perceber a diferença que dá para fazer na vida de outros artistas é muito legal. Ver o sucesso do outro é “irado”. Também sou empresário do João Guilherme. Sonhar os sonhos dele é muito legal. Eu sou muito realizado. Enxergo meu futuro muito híbrido, contribuindo com outras pessoas também.

Você tem alguma parceria dos sonhos? Em nível utópico (risos), Caetano, Gilberto Gil e João Gilberto. Por conta da minha influência de MPB, bossa nova etc. Em nível mais real, tenho um projeto que estamos tentando fazer com o Zeca Baleiro. Tenho buscado tornar a minha carreira um lugar de encontro com outras pessoas. Enxergo parcerias como encontros.

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