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pesar do tempo ser curto, a reflexão que podemos fazer acerca do que aconteceu em Óbidos nos últimos anos obrigou-nos a olhar para a reinvenção do futuro. O trabalho feito até aqui foi marcado por sucessivas realizações que tiveram a virtude de validar que estamos perante uma boa ideia. A construção de uma rede física de livrarias sonhada em 2012, foi o início de uma escolha e de um caminho cuja força está na territorialização da cultura e numa certa ideia de nova utopia, nascida para se tornar realidade, e nos desafiar constantemente. A criação de uma malha urbana habitada por livrarias, ateliers, restaurantes e hotéis literários que se entrelaçam com o comércio e os serviços, e que criam novos empregos e atraem novos actores, novas organizações e novos parceiros não tem já paralelo em Portugal e é já um caso sério no mundo. Óbidos está aqui a dar um exemplo de como se pode reinventar hoje e no futuro numa discussão mais global em que o “lugar urbano” parece por vezes parco de ideias, atrofiado por vaidades efémeras, individualizado, preso num certo paroquialismo e surge com pouca esperança no futuro. Uma vez mais demonstramos que o útil não matou o belo e que é possível fazer renascer a beleza da história e afirmar um património vivo, a partir de Óbidos. Se o crescimento dos investimentos dão uma configuração estrutural e menos conjuntural a um destino de livros, a realização do FOLIO cumpre uma outra dimensão: a de realizar a grande festa à volta da criação literária aproximando centenas de autores do público, revelando talento, antecipando o futuro de uma forma intensa durante 11 dias. Queremos cada vez mais o escritor e a escrita perto de nós-comunidade e não criar mais uma cápsula cripto-cultural onde nos fechamos e mimetizamos comportamentos, ou cair na “tentação dos nomes” mais sonantes da ficção ou dos palcos do mundo. A nossa responsabilidade é a de, em conjunto com o município, afirmar esta visão estratégica e ajudar a que um festival como o FOLIO possa ser mais aberto, mais próximo das novas gerações, intuitivo e original nos conteúdos de discussão, inovador na dimensão criativa, e humilde na reflexão crítica final para que o caminho desta bela ideia seja longo e estruturado. O FOLIO e a sua colecção de abordagens como o Folio Autores, o Folio Educa, o Folio Ilustra, a Folia, ou os novos Folio Boémia, Folio e outros Festivais ou o Folio +Ativo, mais não são do que vários enredos e várias oportunidades para gerar um forte contexto de socialização, de novas dinâmicas que certamente contribuirão para reinventar o futuro da nossa comunidade. Mais do que olhar para trás, queremos o futuro e construir com a participação de todos um sonho muito maior. Um sonho maior na construção de novos projectos e de fases mais ambiciosas em relação ao que já foi feito até aqui: a de termos em Óbidos um Museu da Língua em estreita colaboração com o Museu da Língua de S.Paulo; a de construirmos uma grande rede literária nacional que possa dar lugar a uma nova plataforma cultural que promova Portugal, ou a de construirmos uma cooperação desafiante. A direcção da Sociedade Vila Literária, Associação Cultural Telmo Faria, presidente | José Pinho, vice-presidente