Arqueólogos descobriram antiga porta monumental de Idanha-a-Velha

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FUNDADOR ANTÓNIO PAULOURO DIRETOR INTERINO NUNO FRANCISCO SEMANÁRIO ANO 73.° . N.° 3757 . 16 DE AGOSTO DE 2018 . € 0,80 INCLUINDO IVA

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Escavações revelam porta sul de Idanha-a-Velha Escavações arqueológicas nesta aldeia histórica trouxeram à luz do dia aquela que será “a porta mais antiga e monumental” da localidade, como explicou ao JF Pedro Carvalho, o coordenador científico deste projeto que une duas universidades portuguesas e o município de Idanha-a-Nova

FUNDÃO PÁGINA 6

CARIA PÁGINA 11

António Quelhas Centro escolar renuncia ao mandato pronto para de vereador o novo ano letivo

JF/CÉLIA DOMINGUES

ARQUEOLOGIA GRANDE TEMA

COVILHÃ PÁGINA 10

CASTELO BRANCO PÁGINA 7

Primeiro doutoramento em moda na UBI

Colégio de S. Fiel sem interessados na recuperação PUBLICIDADE


16 DE AGOSTO DE 2018

GRANDE TEMA HISTÓRIA ✦ PRINCIPAL ENTRADA NA ANTIGA CIDADE

Arqueólogos descobriram antiga porta monumental de Idanha-a-Velha ■ Uma equipa de 15 pessoas, professores e estudantes, escavou e deixou

a nu, após limpeza, um troço do antigo cerco de Idanha-a-Velha. A muralha conserva toda a história do local e, mais importante, a principal porta de entrada na antiga Egitânea, que agora pode ser vista JF/CÉLIA DOMINGUES

Célia Domingues - JF A EQUIPA de arqueólogos que há um ano está a trabalhar em Idanha-aVelha descobriu aquela que é a Porta Sul da antiga cidade romana de Igaedis, designada de Egitânea em época alto-medieval, a principal cidade da atual Beira Interior durante cerca de mil anos. Esta descoberta ocorre depois de D. Fernando de Almeida, há cerca de 50 anos, ter identificado a Porta Norte da antiga cidade, sendo a já conhecida e até agora designada “porta sul” uma obra posterior, talvez do tempo dos Templários. A descoberta aconteceu durante os trabalhos de escavação e limpeza de um troço de muralha encontrado a cerca de 300 metros da Sé Catedral daquela que é na atualidade uma pequena aldeia com cerca de 50 habitantes, mas que foi uma das principais cidades romana e suevo-visigótica do atual território português. “A descoberta daquilo que poderemos agora designar como Porta Sul da cidade pode mudar a forma como olhamos para este local. Esta será, provavelmente, com as necessárias reservas, a porta mais antiga e mais monumental da cidade”, explica Pedro Carvalho, coordenador científico do projeto a três anos que resulta de uma parceria estabelecida entre a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Coimbra e o município de Idanha-a-Nova. Depois de uma primeira fase de sondagens de diagnóstico levadas a cabo num campo de olival, para tentar perceber o que é que aquela área poderá ter em termos do potencial científico e patrimonial, foi sinalizado um troço de muralha, com cerca de 10 metros de comprimento. Mais tarde, foi identificada a porta, que deveria ter uns três metros de largo, e as várias formas que esta ganhou conforme os diferentes po-

A aldeia já foi uma das principais cidades da península

vos que ocuparam Idanha-a-Velha. “Era a porta que serviria quem vinha de Mérida, capital da província romana da Lusitânia e depois sede de Diocese na Alta Idade Média, pela grande estrada que passava o Tejo na ponte de Alcântara, e depois pela ponte de Segura. Os viajantes quando se dirigiam para norte, para esta Beira Interior, e depois até Viseu ou Braga, percorriam essa estrada que vinha de Mérida, passando por Idanha-a-Velha”, especifica o investigador. Uma equipa de 15 pessoas, professores e estudantes, escavou e deixou a nu, após limpeza, um troço de perto de dez metros do antigo cerco de Idanha-a-Velha. A muralha conserva toda a história do local. “Conhece-se o perímetro amuralhado e sabe-se que tem quase 800 mestros, o que torna a muralha de Idanha uma das mais significativas e melhor conservada do território português. Tem uma história muito complexa porque, tal como as escavações nos demonstraram, ao longo de praticamente mil anos foi sendo construída

e reconstruída, reparada continuadamente, desde a época romana até ao século XII\XIII, até à instalação dos Templários”, explica o docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que partilha a coordenação cientifica deste projeto arqueológico com Catarina Tente, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A porta encontrada está voltada a sul, ou seja para Mérida, capital da província da antiga Lusitânia romana, e que depois na época sueva e visigótica passou a ser a capital da Diocese. “Simbolicamente esta era a porta que dava para a sede do distrito administrativo romano e depois distrito eclesiástico. E por isso poderá ser a mais antiga, a mais monumental. Mas isso só com a continuidade das escavações poderemos comprovar”, contudo, uma coisa é certa: “saber com exatidão quando foi feita, como era a porta constituída, a sua configuração e complexidade, será possível com um trabalho posterior de gabinete e com o alar-

gar da escavação no próximo ano. Isso permitir-nos-á, provavelmente, reconstituir como é que no passado a porta era”. Uma vasta equipa de investigadores, entre os quais espanhóis, poderá desenvolver a construção dessa entrada em 3D. Esta não é a primeira vez que o arqueólogo Pedro Carvalho desenvolve trabalhos em Idanha-a-Velha, aquela que considera ser uma cidade extremamente importante da época romana, tendo sido capital de um distrito administrativo, continuando a ser importante na época sueva, visigótica, enquanto sede de bispado, até à sua transferência nos finais do século XII para a Guarda. “Eu diria que, muito provavelmente, durante esse tempo de quase 1200 anos, entre o Tejo e o Douro, no atual território português e nesta zona mais interior do País, terá sido a cidade mais importante. Um dos mais importantes cenários dessa nossa história está aqui”, garante. E a sua importância está também comprovada na recuperação que os sucessivos povos fizeram da muralha de Idanha-a-Velha. “Seria uma muralha imponente, para ser vista de longe, bastante alta e larga. Refletiria a importância da cidade antiga, palco de confronto ao longo de boa parte daqueles mil anos”. “O município de Idanha, em articulação com a Direção Regional de Cultura do Centro, ao longo destas últimas décadas, fez muito trabalho em Idanha-a-Velha. Mas este sítio, hoje Aldeia Histórica, classificada como Monumento Nacional, encerra uma história tão rica e notável que ainda há muito trabalho para fazer, na perspetiva de ficar a conhecer melhor a cidade antiga e também a devolver, e de devolver o conhecimento novo adquirido, a quem a visita”, frisa o docente que regressará a Idanha-a-Velha no verão do próximo ano.


GRANDE TEMA 17

JF/CÉLIA DOMINGUES

CAIXA

Pesquisa continuará nos próximos anos

Arqueológo e docente Pedro Carvalho junto à descoberta que acoteceu depois de D. Fernando de Almeida, há cerca de 50 anos, ter identificado a Porta Norte da antiga cidade, sendo a já conhecida e até agora designada “porta sul” uma obra posterior, talvez do tempo dos Templários. O achado aconteceu durante os trabalhos de escavação e limpeza de um troço de muralha encontrado a cerca de 300 metros da Sé Catedral daquela que é na atualidade uma pequena aldeia com cerca de 50 habitantes. O plano de escavações prolonga-se por três anos e agrupa arqueológos, investigadores e estudantes.

O projeto IGAEDIS - Da Civitas Igaeditanorum à Egitânia, decorre numa primeira fase até dezembro de 2019, e visa caracterizar e compreender a cidade antiga de Idanha-a-Velha e os seus territórios desde o século I a.C. ao século XII. Pedro Carvalho, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e Catarina Tente, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, são os coordenadores deste projeto, cujo protocolo foi assinado em 8 de junho, na Sé Catedral de Idanha-a-Velha. A cantora brasileira e embaixadora da Universidade de Coimbra na área da língua e da cultura, Adriana Calcanhotto, é a “madrinha” do projeto IGAEDIS. O coordenador do projeto explicou que, apesar de se conhecer muita da história de Idanha-a-Velha e do muito que foi feito por outros investigadores, a área física onde estão agora a trabalhar, “nunca foi intervencionada”. Um dos vários objetivos da investigação em curso é datar a muralha, uma das mais bem conservadas em atual território português. A muralha apresenta cerca de 800 metros de perímetros o que reflete a importância da cidade antiga e permite aferir a sua dimensão a dado momento. Todo o material encontrado nesta primeira fase dos trabalhos será estudado em Idanhaa-Nova, uma vez que o município disponibilizou instalações para isso e uma equipa técnica que, em articulação com os cientistas das duas universidades, desenvolve esse trabalho. Quando estavam a limpar a muralha, os arqueológos descobriram uma árvore que cresceu no meio dessa cintura. As raízes seguram as pedras.


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