Apontamentos Históricos 2014

Page 1


Apontamentos Histรณricos do concelho de

Salvaterra de Magos 1863-1911


APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Ficha tecnica: Título: Apontamentos Históricos do concelho de Salvaterra de Magos 1863-1911 Textos: Roberto Caneira Grafismo: Soraia Magriço Edição: Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Execução Gráfica: Silvas artes gráficas - Ana Teresa da Costa Silva Marques Depósito Legal: 380650/14 Tiragem: 1000 exemplares

Setembro de 2014


Município de Salvaterra de Magos

Prefácio A Exposição «Apontamentos Históricos do concelho de Salvaterra de Magos: 1863 - 1911», resulta de um trabalho de pesquisa da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos tendo por base o Arquivo Histórico Municipal. O espólio documental do Arquivo Histórico, que atualmente se encontra acessível ao público, é um importante repositório para auxiliar no estudo e compreensão dos diferentes períodos históricos. O hiato temporal da exposição situa-se entre 1863 e 1911, a escolha da primeira data está associada à recuperação do concelho de Salvaterra de Magos, dado que foi extinto em 1855 e incorporado no concelho de Benavente, enquanto a data de 1911 está associada ao ano seguinte à implantação da República. O leitor tem a oportunidade de percorrer um período temporal de cerca de 50 anos, e deslindar alguns dos acontecimentos inéditos que marcaram a História do nosso concelho, exemplo da demolição dos pelourinhos de Muge e Salvaterra de Magos, a limpeza da Vala Real, a barca da Palhota ou os acontecimentos ocorridos logo após a implantação da República. A edição do presente catálogo integra-se na política cultural que a autarquia tem vindo a desenvolver com o objetivo de valorizar e divulgar a história local. Esta publicação serve também para estabelecer trocas e partilhas de conhecimentos entre todos aqueles que se interessam pelas temáticas da história e do património cultural, de forma a estimular futuras investigações que possam engradecer a História do concelho de Salvaterra de Magos.

O Presidente da Câmara Eng. Hélder Manuel Esménio


APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Índice - Introdução

Pag. 2

- O Século XIX e a implantação da República: Portugal e Salvaterra de Magos: breve visão histórica.

Pag. 3 à 5

1863

Pag. 6 à 9

1864

Extinção e restauração do concelho de Salvaterra de Magos Degradação do paço

de Salvaterra

Os aforamentos

da Glória

1866

de Magos

do Ribatejo

Destruição dos pelourinhos de

Salvaterra de Magos e Muge Demolição da

Igreja de S. Sebastião

1876 1878 1880

Montaria aos lobos

em Salvaterra

de Magos

Limpeza da vala

O Cais de Salvaterra de Magos Congresso Antropológico e Arqueológico em Muge Barcas de passagem no Tejo

A Barca da Palhota

Pag. 10 à 14

Pag. 15 à 19

Pag. 20 à 22

Pag. 23 à 25

Pag. 26 à 29

Pag. 30 à 34

Pag. 35 à 38

Pag. 39 à 44


Município de Salvaterra de Magos

1884 1896 1899 1904 1906 1909 1910 1911

Colocação de uma grade na Capela Real Construção de um coreto nao

Jardim da Praça Terrenos para

Habitações Inauguração do Caminho-de-ferro no concelho:

Linha Setil - Vendas Novas Falecimento e atribuição de toponímia ao

Dr. Gregório Fernandes o Sismo e a Sineta da

Câmara Municipal

A implantação da República em

Salvaterra de Magos Destruição da Cruz

do Calvário

Pag. 45 à 47

Pag. 48 à 53

Pag. 54 à 56

Pag. 57 à 61

Pag. 62 à 65

Pag. 66 à 69

Pag. 70 à 73

Pag. 74 à 77


2

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

1 – Introdução O presente trabalho tem com hiato temporal duas datas: 1863 e 1911. A primeira data está relacionada com a restauração do concelho de Salvaterra de Magos, que esteve desde 1855 integrado no concelho de Benavente, foram 8 anos de incorporação forçada no concelho vizinho, até que em 1863, se restabelece novamente a autonomia do Município de Salvaterra de Magos. A última data está relacionada com a implantação da República, e as diversas consequências que ocorrem no concelho nos tempos seguintes, com a mudança da monarquia para a república. Esta edição pretende ser uma abordagem à história do concelho de Salvaterra de Magos neste período. Ao longo do texto vamos percebendo a importância dos acontecimentos a nível nacional e as suas repercussões a nível local, mas também conseguimos entender o dinamismo de alguns executivos municipais em querer modernizar o concelho, mas por outro lado também se descortina através das pesquisas municipais a inércia de outros executivos que resultou em destruição do património e da história do concelho, cujos exemplo mais flagrante são as demolições dos pelourinhos de Muge e Salvaterra de Magos, ou o apeamento da cruz do calvário, que ficava localizado na atual Avenida Dr. Roberto Ferreira da Fonseca. Os apontamentos históricos apresentados no livro foram escolhidos tendo em conta a sua importância de mudança no contexto local e também se privilegiou o caráter inédito de alguns eventos, pois são a primeira vez que estão expostas ao público, fruto do trabalho de investigação no Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos.


Município de Salvaterra de Magos

3

2 - O Século XIX e a implantação da República: Portugal e Salvaterra de Magos – breve visão histórica. O século XIX foi um século de grande instabilidade politica e social, mas também foi um século de grande mudança para Portugal. Em finais do século XVIII dois fatores políticos influenciaram a sociedade europeia e tiveram repercussões ao longo do século XIX, trata-se da independência os Estados Unidos da América em 1776 e a revolução francesa em 1789. Estes novos ideais marcaram a sociedade oitocentista e influenciaram também a sociedade portuguesa do século XIX. Em Portugal o início do século XIX é marcado pelas invasões francesas e fuga da família real para o Brasil, onde se manteve até 1821. Durante este período o País esteve a saque pelas tropas francesas e sem governo, D. João VI governa Portugal a partir do Brasil. O regresso da corte em 1821, não consegue evitar uma guerra civil. Portugal está a braços com uma profunda crise económica e social, um conflito pela disputa do trono entre dois irmãos, agudiza esta situação. De um lado D. Miguel que personifica os ideais absolutistas e do outro D. Pedro que defende o liberalismo. A guerra civil divide o País, a acalmia surge em 1834 com a expatriação de D. Miguel, a aclamação de D. Pedro IV e a instauração do regime liberal. O fim da guerra civil não significou estabilidade para o País, a conturbada situação de Portugal e a fraqueza dos diversos Governos deu azo a vários levantamentos populares. Em setembro de 1836, um levantamento popular obrigou o governo a demitir-se e ficou conhecido como o Setembrismo. Deste episódio histórico sobressai a figura de Costa Cabral, que rapidamente se tornou um déspota, e estabeleceu um regime de repressão e violência, o que determinou vários levantamentos populares, como foi o caso da Revolta da Maria da Fonte. Só na 2.ª metade do século, em 1852 surge uma reconciliação política com a demissão do governo de Costa Cabral e o aparecimento de um novo episódio histórico, conhecido como a Regeneração. Fontes Pereira de Melo, foi a figura que marcou a Regeneração e a 2.ª metade do séc. XIX. As várias medidas realizadas foram essenciais no desenvolvimento do País, impulsionou o desenvolvimento viário, com a construção de estradas, a introdução do caminho-de-ferro, modernizou a agricultura com a mecanização e contribuiu para a industrialização de vários setores. O final do séc. XIX é marcado por uma instabilidade política e económica. O partido republicano agita a opinião pública e deixa de ser um simples movimento político. Em 1890 o ultimatum inglês contribui para o desgaste da monarquia, e passado sensivelmente um ano, a 31 de Janeiro de 1891, implode um movimento militar protagonizado por militares apoiantes da República, muitos consideram este episódio o início da desagregação da monarquia e a afirmação do movimento republicano e a sua implantação junto das massas populares. Em 1908 na Praça do Comércio em Lisboa, o rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís são assassinados por dois elementos da carboaria: Manuel Buiça e Alfredo Costa. O regicídio contribui para o evidente declínio da monarquia, o que vai acontecer a 5 de Outubro de 1910. A República é implantada em Portugal, grandes mudanças ao nível social, económico e político vão decorrer, contudo nos primeiros anos da República, a instabilidade política dos republicanos, conduziu à mudança de vários presidentes da República.


4

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

2.1 - Salvaterra de Magos O início do século XIX em Salvaterra de Magos é caraterizado por um grave incêndio que danificou o Paço, que já se encontrava em lamentável estado de degradação devido ao terramoto de 1755 que provocou sérios danos, e por isso estava em reconstrução, associado ainda ao facto da ausência da família real que entretanto fugira para o Brasil aquando da invasão das tropas francesas, também ajudou à ruina do Paço. O incêndio no Paço ocorre em 1817, devido ao desleixo do Almoxarife e também às más condições em que se encontrava o Palácio. Em 1824 num dos aposentos que ainda restava do Paço, foi misteriosamente assassinado o Marquês de Loulé, que tinha uma postura assumidamente liberal, há quem atribua a sua morte ao envolvimento do próprio D. Miguel. Neste contexto de liberais e absolutistas, a vila de Salvaterra de Magos, optou pelo apoio incondicional a D. Miguel. Após a guerra civil e com a vitória do liberalismo, houve várias reformas protagonizadas por Mouzinho da Silveira, com especial destaque para a reforma administrativa, que decretou a extinção de vários concelhos. O concelho de Muge em 1837 é extinto e incorporado no concelho de Salvaterra de Magos. Na década seguinte, em setembro de 1849, a rainha D. Maria II, determinou a cedência ao Estado de todos prédios da coroa dependentes do Almoxarifado de Salvaterra, visto que se encontravam muito arruinados. Em poucos anos os vários bens dependentes do Paço Real foram vendidos em hasta pública, com excepção da Capela Real que o Estado conservou. Grande parte dos destroços do Palácio Real de Salvaterra de Magos foram aproveitados para as estradas. No período da Regeneração, e com as medidas adotadas por Fontes Pereira de Melo, um nova reforma administrativa decreta a extinção de mais concelhos. Em 1855 o concelho de Salvaterra de Magos é extinto e incorporado no concelho de Benavente. Salvaterra de Magos esteve integrado no concelho de Benavente até 1863. No que respeita à população, o recenseamento de 1864 regista a seguinte população: a freguesia de Muge possuía 1717 pessoas recenseadas, enquanto a freguesia de Salvaterra de Magos tinha 2485 pessoas perfazendo um total de 4202 habitantes.1

Estatística de Portugal, «Censo no 1. De Janeiro - 1864» [em linha], Lisboa, 1868, p.193, (consultado a 05-06-2012), disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=65580105&PUBLICACOESmodo=2

1


Município de Salvaterra de Magos

5

No início do século XX, passado cerca de 40 anos do primeiro recenseamento verifica-se um aumento gradual da população que agora possui os seguintes dados demográficos: Muge, 3776 pessoas e Salvaterra de Magos possuía 4640. A soma total das duas freguesias que compõe o concelho de Salvaterra de Magos é de 8416 habitantes2 , o dobro dos habitantes em relação ao censo de 1864. No primeira década do século XX, um violento sismo que ocorreu no dia 23 de Abril de 1909, e que teve o epicentro em Benavente arrasou esta vila e pela consequente proximidade, também afetou seriamente Salvaterra de Magos, ao nível do tecido urbano, o que obrigou a construção de várias barracas para desalojados, ação humanitária suportada pela Cruz Vermelha Portuguesa. O sismo também trouxe mudanças ao nível da arquitetura da vila, substituiram-se os beirados por platibandas e as habitações deveriam ter no mínimo 3 metros de altura: «(…) os proprietários que estão procedendo à reconstrução dos seus prédios podiam concorrer n’esta occasião poderosamente para o aformoseamento da villa sem maior dispêndio, dando às cazas um typo moderno, principalmente substituindo os beiraes por platibandas e não consentindo de forma alguma que as novas cazas tenham menos de trez metros d’altura, como está regulamentado».3 No ano seguinte dá-se a implantação da República e a exemplo dos outros municípios, surgem alterações ao nível da toponímia, que privilegia episódios e figuras associadas à causa republicana, verifica-se também a destruição do símbolo da coroa no edifício da Junta de Muge, curiosamente a coroa dos Paços do Concelho não foi destruída, assim como a da igreja da Misericórdia, que resistiram à fúria iconoclasta dos republicanos. Em traços gerais estes foram os acontecimentos que marcaram o século XIX. Nas páginas seguintes verifica-se um estudo mais minucioso sobre a história do concelho, trata-se de apontamentos históricos que tem uma grande relevância para conhecer e valorizar a história local e o património cultural concelhio.

2 Ministério dos Negócios da Fazenda – Direcção Geral da Estatística e dos Próprios Nacionais, «Censo da População de Portugal no 1.º Dezembro 1900), [em linha],Lisboa, 1901, p.80, (consultado a 05-06-2012), disponível em: http://www.ine.pt/xportal/ xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=65582797&PUBLICACOESmodo=2 3

A.H.M.S.M. – Livro de Actas 1904 – 1912, Fl. 102v - 103


Extinção e restauração do concelho de

Salvaterra de Magos

Ano de 1863


Município de Salvaterra de Magos

Extinção e restauração do concelho de Salvaterra de Magos

7

1863 Na primeira metade do séc. XX é reformulado o mapa dos concelhos em Portugal, politica adotada por Mouzinho da Silveira. Em 1837 é extinto o concelho de Muge e incorporado no concelho de Salvaterra de Magos. A 24 de Outubro de 1855, na sequência de novas reformas administrativas realizadas por Fontes Pereira de Melo é extinto o concelho de Salvaterra de Magos que é anexado ao concelho de Benavente. Esta incorporação no concelho vizinho durou 8 anos, até que a 10 de Julho de 1863 é restaurado novamente o concelho de Salvaterra de Magos. O novo executivo municipal de Salvaterra de Magos procede à instalação da Comissão Administrativa, no dia 3 de Setembro de 1863, compareceram nos Paços do Concelho os seguintes cidadãos: Luiz Ferreira Roquette, Vicente Lucas d’Aguiar, Joaquim de Menezes e Jozé Xavier Pinto. Foi eleito para a Presidência da Comissão Municipal o cidadão mais votado, Luíz Ferreira Roquette: «Anno de nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e sessenta e tres, aos tres dias do mez de Septembro, nesta villa de Salvaterra de Magos em os Paços do Concelho, e sala de sessões da antiga Camara aonde foi chamado por convite dos cidadãos Luiz Ferreira Roquette, Vicente Lucas d’Aguiar, Joaquim de Menezes e Joze Xavier Pinto, aqui eram todos prezentes e os próprios de que dou fé e de cada um deles apresentar pelo mesmo theor o seu alvará de vinte e nove d’Agosto findo, pelo qual o Excelentissimo Governador Civil do Districto os nomeia para administrarem as cousas e negocios municipaes deste concelho restabelecido por Carta de Lei de dez de Julho último athé que sejão por eleição chamados os membros da Camara Municipal. (Acta da sessão de 3 Setembro 1863, fl. 2)

Acta da sessão de 3 Setembro 1863


8

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Na acta de 12 de Outubro de 1863, procedeu-se à nomeação do Presidente da Câmara Municipal, a escolha recaiu em Vicente Lucas d’Aguiar: Passaram logo os vereadores prezentes em cumprimento do artigo primeiro da ley de seis de Julho de mil oitocentos cincoenta e cinco a nomear Prezidente e Vice Prezidente, sendo Prezidente d’esta eleição – Vicente Lucas d’Aguiar e escrutinadores Maximiano Monteiro Grillo, e Joze Xavier Pinto lançando por sua ordem em uma urna, as listas que separadamente escreveram para a eleição do Prezidente e tiradas alternadamente pelos escrutinadores foram dadas ao Prezidente d’esta Assembleia por quem eram lidas e os votos por mim colhidos, derão em resultado trez votos a Vicente Lucas d’Aguiar, e um voto a Maximiano Monteiro Grillo pelo que foi proclamada Prezidente Vicente Lucas d’Aguiar do mesmo modo procederam na elleição do Vice-Prezidente o qual recahio em Maximiano Monteiro Grillo com dois votos contra um a Joze Xavier Pinto e outro a Joze Augusto de Sousa Pimentel, tornando logo os eleitos os seus lugares. Ficando d’este modo instalado a nova câmara. (Acta da sessão de 12 Outubro 1863, fl. 5 e 5v)

Brasão da fachada da Câmara Municipal

Decreto-lei de 6 Maio 1837 – extinção do concelho de Muge

Decreto – lei de 10 Julho de 1863 – restauração do concelho de Salvaterra de Magos


Município de Salvaterra de Magos

Com este ato de nomeação do Presidente, retomou-se a autonomia e as atividades do Município de Salvaterra de Magos.

Edifício da Câmara Municipal

9


APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Degradação do Paço

de

Salvaterra de Magos

Ano de 1864


Município de Salvaterra de Magos

Degradação do Paço de Salvaterra de Magos A referência mais antiga que se conhece ao Palácio Real de Salvaterra de Magos, remonta ao séc. XIV, ao ano de 1383 quando se celebra o Tratado de Salvaterra de Magos. No séc. XVI, o Infante D. Luís, filho de D. Manuel I, reedifica o antigo paço medieval e manda construir a Capela Real. Nos séculos seguintes o Paço sofreu alterações especialmente nos reinados de D. Pedro II e D. José. O terramoto de 1755 provocou graves danos ao Paço.

Interior da Capela Real

11

1864 Trabalharam na sua reconstrução os arquitectos José Ludovice e Carlos Mardel. No início do séc. XIX, com as invasões francesas e a consequente fuga da corte para o Brasil O Paço entra num longo processo de abandono. Em 1817 um incêndio afectou gravemente certas dependências do Palácio, e em 1849 a rainha D. Maria II vende em hasta pública as ruína do Paço e mais dependências, com excepção da Capela Real.


12

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Em finais do século XIX era evidente o lastimável estado de degradação do Paço, muitas fachadas ameaçavam desabar. Apesar da degradação do Paço Real, continuavam a viver em alguns anexos várias pessoas em estado deplorável sem o mínimo de condições, o que motivou o executivo municipal a agir para acabar com este problema: «Nesta acta propoz o Vereador Maximiano Monteiro Grillo que se oficiasse ao Administrador d’este Concelho para providenciar a respeito da aglomeração de gente no Palácio das Damas, vivendo n’um estado de imundice de saúde pública, proposta que foi aceite pela Camara» (Acta da sessão ordinária de 28 de Dezembro 1864)

-Acta da sessão ordinária de 28 de Dezembro 1864

Após a venda dos anexos do Paço, muito dos seus destroços, caso da pedra e caliça foram aproveitados para as ruas e estradas do concelho. Com a demolição de paredes e fachadas do Paço, surgiram novos locais que foram aproveitados para edificações, caso do Largo do Charco, Canto da Ferrugenta entre outros locais que outrora estavam ocupados pelo Paço Real. No início do séc. XX praticamente já não havia vestígios do Paço de Salvaterra de Magos, com exeção da Capela Real e das chaminés das cozinhas.

Capitel de uma coluna do Paço de Salvaterra de Magos

Pormenor do tecto da Capela Real


Município de Salvaterra de Magos

Mapa de Salvaterra de Magos datado de 1788

Chaminés das cozinhas do Paço

Planta do Paço de Salvaterra - Fonte: Joaquim Manuel da Silva Correia; Natália Brito Correia Guedes.

13


14

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Coro da Capela Real. Fonte: www.monumentos.pt

Requerimento de António Eugénio de Menezes de compra de um terreno que pertencia ao antigo “Palácio Real de Salvaterra de Magos”. Ano: 1864, Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos

Ex-voto do milagre da Horta d’el Reil. Ano: 1746


Os aforamentos na

Glรณria do Ribatejo

Ano de 1864


16

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Os aforamentos na Glória do Ribatejo

Planta dos baldios da Glória do Ribatejo

1864 Em finais da década de 40 do século XIX, as Juntas de Paróquias de Muge e de Salvaterra de Magos iniciaram os aforamentos dos baldios, o que provocou alterações às estruturas agrárias locais. Os baldios eram terrenos incultos, que muitas vezes serviam para pastagens dos gados. Com os aforamentos, os terrenos são divididos em glebas, os rendeiros exploravam os terrenos durante um período de tempo, mediante um pagamento. Com a divisão dos terrenos surgem conflitos nomeadamente com os moradores da Glória do Ribatejo, que desde os séculos passados usavam os baldios para pastagem dos seus gados, e agora estavam impedidos de o fazer, o que motivou várias queixas e até conflitos com a Junta de Paroquia de Muge.

A primeira queixa remonta a 1864, quando uma multidão se desloca a Muge para protestar contra os aforamentos, obrigando o regedor da Junta de Paroquia a retirar-se para evitar confrontos: Em Septembro de mil oitocentos e sessenta, estando a Junta de Parochia de Mugem autorizada para dar d’aforamento certa porção de mattos e maninhos lemitados pelos marcos acima referidos e tendo anunciado o dia de tais aforamentos se farião. E nesta ocasião que aparecem grupos de gente amotinada da povoação próxima (logar da Glória) vociferando contra a realização de aforamentos, e em vista do caracter ameasador que o tumulto tomava, a junta entendeo retirar-se para evitar as funestas consequências que do conflito podesse resultar, pois estava ao facto das circonstancias que mais deliberadamente tinham preparado aquele pronunciamento. Acta de sessão de Camara em 22 de Janeiro de 1864

Acta de sessão de Camara em 22 de Janeiro de 1864


Município de Salvaterra de Magos

17

A questão dos baldios motivou a origem de um requerimento por parte dos moradores da Glória a reclamarem antigas regalias que agora estavam ameaçadas. Estas reclamações vão continuar no início do século XX, a questão dos baldios não foi pacífica, junto dos habitantes de Glória do Ribatejo: «Acta da Sessão ordinária da Camara em 2 de Novembro 1864 Nesta acto prezente um requerimento dos moradores do lugar da Glória queixando-se da Junta de Parochia daquela freguesia lhes ter evadido as suas regalias relativamente a pastagens da charneca, e tendo a Camara apreciado a exposição contida no mesmo requerimento deliberou se ordenasse um despacho que informasse a Junta de Parochia de Muge» (fl. 35v)

Acta da Sessão ordinária da Camara em 2 de Novembro 1864

Superfícies dos baldios da Glória e entre a Ribeira da Lamarosa e da Raposa


18

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Em 1900, realizam-se novos aforamentos entre as ribeiras de Muge e Lamarosa, e mais uma vez os glorianos reclamam os direitos de pastarem os seus gados nos baldios, que eram terrenos destinados a pastos comuns, e eram precisamente estes os terrenos a aforar: «Tenho a honra de responder ao officio n.º 106 do corrente relativo aos baldios que a Junta de Parochia de Muge, pretende arrendar entre as Ribeiras de Muge e da Lamarosa com a cópia que junto remeto d’um officio da mesma Junta, o que ella não diz é que estes baldios foram o ano passado arrendados à Casa Cadaval por cem mil reis, e sem prévia autorização antes da concessão que ella requereu superiormente para aforar uma grande parte da sua charneca e nessa época não era tão grave o transtorno que causaria em arrendamento aos povos da Freguesia de Muge com especialidade aos do logar da Glória, porém agora que uma grande parte da dita charneca foi já medida e dividida para se aforar, conforme a aucthorização que por despacho de 14 de Junho de 1899 lhe foi concedido ficam aqueles pobres pastores privados do único recurso que tinham para os seus gados nos baldios que lhes foram destinados para pastos comuns, sendo justamente uma parte e a melhor parte d’eles os que a Junta agora quer arrendar. Segundo o meu informe na cópia de acta de sessão em que a Junta de Parochia de Muge pede aucthorização para por em praça este arrendamento (…). Attendendo ao grande sacrifício que ella vae infligir aos parochianos pobres d’aquelle freguesia com especialidade do logar da Glória, onde todos vivem dos seus rebanhos. Também alli se trata do arrendamento d’uns valles que é o único sítio em que os gados no verão encontram água para beber e por consequente também não é conveniente arrendar-se porque estão situados em baldios destinados a pastos comuns.» Oficio n.º 51 – 10 Abril de 1900 fl. 18-18v

Oficio do regedor da Paróquia de Muge – data: 10 Abril 1900


Município de Salvaterra de Magos

Mapa de aforamentos na Glória do Ribatejo

Mapa de aforamentos na Glória do Ribatejo

Mapa de aforamentos na Glória do Ribatejo

Mapa de aforamentos na Glória do Ribatejo

19


Destruição dos pelourinhos:

Salvaterra de Magos e Muge

Ano de 1866


Município de Salvaterra de Magos

Destruição dos pelourinhos: Salvaterra de Magos e Muge

21

1866

Os pelourinhos eram símbolos do poder local, representavam a jurisdição, a administração e a autonomia dos concelhos. Era nos pelourinhos que se executavam algumas penas de direito e se fixavam os decretos régios e municipais.

Ficavam localizados em lugares centrais, normalmente próximos do edifício dos Paços do Concelho. Era junto dos pelourinhos que se aplicavam castigos e multas, muitas vezes são designados erradamente como o local onde se efetuavam enforcamentos, o que eventualmente acontecia era a penalização de castigos corporais feitos no pelourinho para dar o exemplo aos demais populares.

Mapa da vila de Salvaterra de Magos

Mapa da vila de Salvaterra de Magos


22

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Após o contexto das guerras entre liberais e absolutistas, alguns pelourinhos foram destruídos, dado que os liberais associavam os pelourinhos como uma afirmação de autoritarismo e repressão e por isso muitos foram apeados e destruídos. Os pelourinhos de Salvaterra de Magos e de Muge foram destruídos em finais do séc. XIX, não por razões políticas de índole liberal, mas porque os executivos municipais, consideravam que os pelourinhos estavam degradados e pejavam os lugares e como na sua opinião não tinham interesse histórico foram destruídos. Pelourinho de Muge – Foi destruído em 1866 porque segundo os critérios dos eleitos de Muge, este estava a pejar o Largo onde se encontrava e como a igreja de Muge estava em obras, determinou-se que se o pedestal e o pelourinho poderia ser empregue nas obras de recuperação: “Foi presente um requerimento da Juncta da Parochia de Muge allegando que sendo n’aquella villa um pelourinho com seu pedestral de pedra sem utilidade publica ou particular antes com pejamento do Largo onde está situado e podendo tanto o pelourinho como o seu pedestral ser empregado com utilidade na reparação da Egreja Matriz pedia a Camara a concessão do mencionado pelourinho e seu pedestal para o fim mencionado. Tomado o requerimento refferido na devida consideração deferiram a elle”. Acta da Sessão Ordinária em 30 de Maio de 1866 [Fl. 78]

Acta da Sessão ordinária em 30 de Maio de 1866

Pelourinho de Salvaterra de Magos – foi destruído em 1872, por proposta do Vereador António José da Silva, dado que o jardim estava a ser remodelado e como o pelourinho estava a estorvar este arranjo urbanístico, foi unanimemente aprovado a destruição do pelourinho: «Em seguida propôs o Vereador António José da Silva que para aformosear os Paços do Concelho se demolisse o pelourinho e se estendesse o arvoredo até à frente do edifício municipal o que foi unanimemente aprovado.» Acta da sessão ordinaria da Camara em 7 de Outubro de 1872, (fl. 230)

Acta da sessão ordinária em 7 de Outubro de 1872


Demolição da

Igreja de S. Sebastião

Ano de 1866


24

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Demolição da Igreja de S. Sebastião Nas memórias paroquiais de Salvaterra de Magos, datadas de 1758, estão referenciadas 5 igrejas na vila: Capela Real, Igreja da Misericórdia, Igreja de S. Paulo e Igreja de S. Sebastião. Não possuímos dados históricos sobre a Igreja de S. Sebastião, nomeadamente sobre a sua edificação e caracterização, apenas sabemos a sua localização que ficava no Largo S. Sebastião, actual Avenida José Brito Seabra.

1866 Um documento datado de 1752 dá-nos a conhecer que a Igreja de S. Sebastião estava bem paramentada, estava aberta ao culto, havia uma ermitoa que administrava as esmolas dos fiéis, o que não era de muito agrado do pároco local. Em finais do séc. XIX apresentava sinais de degradação, as ruínas evidenciavam pejamento e ameaçavam ruir a qualquer altura. A edilidade pretendia construir uma escola e argumentando que não havia mais terreno decidiu adquirir as ruínas e demolir a igreja:

«(…) Acquisição das ruínas da Ermida de S. Sebastião para a edificação da escola primária.» (Acta da Sessão de 5 de Novembro de 1866, fl. 85)

Acta da Sessão de 5 de Novembro de 1866

A Câmara Municipal de Salvaterra de Magos decide enviar um ofício ao Governador Civil a solicitar o terreno da Igreja de S. Sebastião e explica a razão porque pretende demolir este edifício religioso: Oficio de 6 de Novembro 1866 – Dirigido ao Governador Civil «No Largo de S. Sebastião existem uns restos d’umma ermida d’aquelle Sancto, as quaes com o terreno onde estava a ermida forão concedidas pelo Governo aos festeiros do mesmo Sancto para reedificarem aquella; porem vendo estes que não podiam realizar o seu intento, desistirão do seu direito por termo, cuja Copia V. Ex.a achará juncta. Aquelles restos como V.Ex.a observou, alem d’immundos e do pejamento e deformidade que fazem ao Largo pelo excessivo estado de ruína, em que se acham ameaçam um desabamento próximo; acrescendo que não há outro terreno para a edificação da escola primária em conformidade com as instruções de 20 de Julho ultimo senão o largo mencionado onde há a capacidade, isolamento, e salubridade, concorrendo também a circunstancia de ser o local mais central da povoação. Na presença a Camara se propõem deliberou pedir ao Governo de Sua Magestade a concessão das ruínas, e terreno da ermida refferidos.» (Registo de saída de correspondência 1854-1868, fl. 73)


Município de Salvaterra de Magos

25

Oficio de 6 de Novembro 1866 – Dirigido ao Governador Civil

A igreja de S. Sebastião foi demolida, contudo a escola só seria construída na década de 40 do séc. XX, com o nome Marechal Carmona, passados quase 80 anos! Na população mais idosa, o local onde se estava a igreja ainda é conhecido como o Largo de S. Sebastião.


Montaria aos lobos em

Salvaterra de Magos

Ano de 1876


Município de Salvaterra de Magos

Montaria aos lobos em Salvaterra de Magos

27

1876

O lobo foi animal que no imaginário popular sempre esteve associado ao pânico e temor junto das populações. Foi um animal perseguido até à sua extinção. Em finais do século XIX ainda existiam lobos no concelho de Salvaterra de Magos, o que levou a Administração do Concelho a realizar uma montaria aos lobos para caçar estes animais. A montaria englobou uma parceria entre vários concelhos de forma a ter um cordão humano que abrangesse uma grande área. Nesta montaria participaram as populações de Benavente, Salvaterra, Muge, Benfica, Raposa, Lamarosa, Erra, Coruche, Montes da Ribeira, Marinhais e Glória: «No dia 25 do corrente deve ter logar uma montaria aos lobos feita pelos povos de Benavente, Salvaterra, Muge, Benfica, Raposa, Lamaroza, Erra, Coruche, Montes da Ribeira, Marinhais e Glória, deve portanto V. Exa, amanhã, domingo, mandar pelos cabos d’essa villa avizarem todas as suas esquadras para se prevenirem e reunirem no ditto dia 25 aos moinhos de vento, advertindo-lhes que os que faltarem soffreram as penas impostas pela lei, em tempo remeterei a V. Exa os mais esclarecimentos necessários e já dei as convenientes ordem para Marinhaes e Glória» - Oficio n. 239 – 18 de Março 1876, dirigido ao regedor de Muge fl. 72-72v

Oficio n. 239 – 18 de Março 1876, dirigido ao regedor de Muge


28

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Os lobos estavam na Herdade das Figueiras e para tal foi necessário criar um cordão humano para os cercar. «Tendo prezente o officio de V. Exa sob n.º 45 de 17 do corrente e conjuntamente o plano da montaria, e ouvindo sobre elle alguns lavradores meus patrícios me pedem com o devido respeito faça a V. Exa a seguinte refflexão: os lobos estão na herdade das Figueiras é aqui o seu paradeiro, logo que aqui lhes toquem estão em caminho para cima, porque é esta a sua ferida e por isso é preciso que à hora que aqui lhe mecherem esteja já lançado e estendido o cordão dos povos da Erra, Lamaroza, Raposa e Benfica, aliás é muito facil escaparem, e que estes povos venham em melhor ordem do que vieram na montaria do anno preterido em que vieram muito tarde, e ranchos separados e não em cordão alinhado, o que talvez desse motivo a não se mattarem mais lobos e será uma pena que se encommodem milhares de pessoas para por culpa de 20 ou 30 de não tirar o dezejado rezultado, entendendo por consequência que os povos da Erra, Lamaroza e Raposa, devem começar a batida mais tardar pelas 9 horas da manhã» fl. 173-173v Oficio n. 244 – 22 de Março 1876 – Oficio dirigido ao Administrador do Concelho de Coruche.

22 de Março 1876 – Oficio dirigido ao Administrador do Concelho de Coruche

O resultado da montaria ditou o fim do lobo na região, nas pesquisas efetuados nos anos seguintes não se voltam a encontrar referências a montarias no concelho de Salvaterra de Magos.


Mapa das coutadas de Salvaterra de Magos – Ano: 1817


Limpeza da vala

Cais de Salvaterra de Magos

Ano de 1878


Município de Salvaterra de Magos

O cais de Salvaterra de Magos Limpeza da vala

Mapa do Tejo

Cais da Vala de Salvaterra de Magos. Ano: década de 50

31

1878 A origem deste porto fluvial surge devido às drenagens das águas do Paul de Magos, uma medida circunscrita no foral de Salvaterra de Magos, outorgado pelo Rei D. Dinis no dia 1 de Junho de 1295. O escoamento das águas contribuiu para o alargamento do leito natural da Ribeira de Magos, o que determinou o aparecimento de um porto fluvial e o desenvolvimento do comércio fluvial. Desde a época medieval até à primeira metade do séc. XX, o Cais da Vala de Salvaterra de Magos teve um papel preponderante no desenvolvimento económico e social da vila. Este Cais foi considerado a principal “porta de entrada e saída” de mercadorias e pessoas. Este cais teve sempre problemas com a acumulação de lodos e nateiros que dificultavam a circulação dos barcos e na época de estio eram focos de infecção devido às águas parádas. Os diferentes executivos municipais acautelaram ao longo dos séculos o desimpedimento do leito da Vala Real. Em 1878 em sessão de Câmara, revela a necessidade urgente de limpar o leito da vala, que era a principal via de comunicação por onde eram escoados e recebidos os produtos e diferentes mercadorias.


32

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

(…) Este canal constitui a principal via, a indespensavel communicação que ligando-nos ao Tejo, conduz aos grandes centros de commercio, as diferentes industrias exercidas nas povoações do Alentejo. Conservando aquelle canal apto à navegação e progredindo a estrada, que esta Camara tem ja construída em parte, e continua a ser a sua construção que nos liga com o concelho de Coruche, affluirão ao porto de Salvaterra a abundancia de cereaes cultivados nas férteis campinas de Coruche, Couço, Monte da Barca e etecetera…. Estabelecendo aqui o empério das riquezas cerealíferas que exportam aquellas povoações. Assim este concelho circunvizinhos mais vantajosamente se porão em comunicação com o mercado de Lisboa, levando alli os seus produtos, com pouca despeza dos transportes, tornando-se manifestos os lucros para aquella povoação, e Salvaterra augmentara de importância, com o acrescido movimento commercial e a importância do seu porto. Inúmeras são portanto as vantagens d’este grande melhoramento para que se requer capital importante como obra de grande magnitude que é. » Acta da sessão ordinária de 31 de Outubro 1878, fl. 115 – 115v

Acta da sessão ordinária de 31 de Outubro 1878

Nas décadas seguintes, o assunto da limpeza da vala é mencionado em várias reuniões da Câmara. Na década de 40 do século XX, a construção da muralha do Cais da Vala, foi um importante melhoramento que auxiliou as cargas e descargas de mercadorias deste cais


Município de Salvaterra de Magos

Barcos no Cais da Vala – Fotografia de Carlos Relvas – data: finais do século XIX

Depósitos de gasóleo localizados no Cais da Vala – Ano: década de 40

33


34

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Embarcações no Cais da Vala – Ano: década de 40

Mapa do Tejo e campos de Salvaterra de Magos

Vala Real


Congresso Antropolรณgico e Arqueolรณgico

em

Muge

Ano de 1880


36

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Congresso Antropológico e Arqueológico em Muge

1880

O Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-históricas decorreu entre 20 e 29 de Setembro de 1880. Foi um acontecimento único que marcou o estudo da pré-história em Portugal. Neste congresso participaram vários cientistas e académicos portugueses e estrangeiros que representavam a arqueologia da época. No decorrer do congresso, houve uma visita aos concheiros de Muge, que tinham sido descobertos em 1863 e que despertaram o interesse por parte dos congressistas.

A visita a Muge decorreu no dia 24 de Setembro, os elementos do congresso foram recebidos por uma parada de campinos em Muge e depois deslocaram-se para o concheiro Cabeço da Arruda. A Câmara Municipal fez-se representar com o estandarte de armas e convidou a Sociedade Filarmónica a tocar no evento.

Correspondência de Carlos Ribeiro a agradecer o empenho da Câmara Municipal na organização da visita dos congressistas ao concheiro Cabeço da Arruda

Capa da revista “O Ocidente” sobre o Congresso de 1888 – Ano: 19 de Outubro de 1880


Município de Salvaterra de Magos

37

«A Camara em virtude do officio do Excellentissimo Conselheiro Governador Civil aos quinze do corrente, sob numero cento e sessenta e seis (…) deliberou solenizar a recepção do Congresso Antropologico que há de chegar a visitar os montículos d’Arruda em Muge no dia vinte e quatro para o devem partir de Lisboa as seis horas da manha e chegar a Santarem, hora e meia depois, partindo em seguida para o seu destino de modo seguinte: A Camara levará um estandarte com as armas reais, dirigirá uma circular as principaes pessoas convidando-as a reunirem para assistirem ao congresso, convidará as Camaras limítrofes a comparecerem n’aquella festa, bem como as authoridades da Camara, convidam a Sociedade Pylarmonica d’esta villa para tocar n’aquelle sitio n’aquelle acto; encarregar o Vereador Menezes para tratar dos festejos.» Acta da sessão extraordinária de 17 Septembro de 1880, fl. 159

Carlos Ribeiro – Geólogo que descobriu os concheiros de Muge

Correspondência do Governador Civil sobre o congresso de 1888

A visita dos congressistas contribuiu para o reconhecimento internacional dos concheiros de Muge, os principais nomes da arqueologia europeia do século XIX, visitaram os concheiros. O Governador Civil escreveu à Câmara Municipal a agradecer o esforço que a Câmara fez para acolher os congressistas:


38

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

«Os festejos celebrados no nosso concelho por ocasião da visita dos illustres congressistas aos montículos d’Arruda excederam muitíssimo a expectativa dos que ainda que confiadas na nossa boa vontade nos julgavam demasiadamente pequenas para lhes fizermos uma recepção brilhante numa manifestação ruidosa. Felizmente enganaram-se. Os nossos esforços forma coroados do mais feliz êxito. Trabalhamos com perseverança mas mostra-mos aos externos que sabemos compreender as aspirações sublimes dos povos cultos que estamos envoltos na corrente impetuosa que arrasta as modernas sociedades e que veneramos religiosamente as tradições cavalheirosas que os nossas paes nos legaram. N’esta demonstração de respeito pelos grandes mestres da Sciencia, V. Exa não se poupou à fadiga, nem regateou despesas. A espontaneadade com que V. Exa acolhem o meu humilde apelo. Constitue-me devedor d’uma grande fineza que já mais se me riscará da memória. Em meu nome, e no do Ex.mo Governador Civil d’este Districto agradeço sumamente penhorado da parte activa e importante que V. Exa tomou nos festejos concorrendo assim para o luzimento d’uma recepção que deixou gratas impressões no animo dos estrangeiros, e que nos elevou muitíssimo na consideração dos nossos compatriotas.» Oficio n.º 188 – 28 Setembro 1880, fl. 93

Menu do almoço dos congressista na visita ao concheiro Cabeço da Arruda

Elementos que participaram no Congresso de 1888


Barcas de Passagem no Tejo

A Barca da Palhota

Ano de 1880


40

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Barcas de passagem no Tejo A Barca da Palhota As barcas de passagem no Tejo foram um meio de transporte fundamental na ligação das duas margens do rio. Desde o período romano que existem testemunhos de barcas de passagem no Tejo no concelho, exemplo do Escaroupim, Porto de Muge ou a Palhota.

Rio Tejo e campos de Salvaterra

1880 Em meados do séc. XIX, a barca do Escaroupim deixa de ser usada e surge uma nova barca – a barca da Palhota, o que motivou a necessidade de se promover obras no local. A exploração da Barca estava entregue à Câmara que procedia à sua arrematação em hasta pública.


Município de Salvaterra de Magos

41

Sabemos pela análise do documento de arrematação, que neste porto, existiam 3 barcas de passagem, duas mais pequenas que tinham capacidade para fazer a passagem de dez pessoas e oito cavalos, enquanto a maior poderia levar dezasseis cavalos, um carro e 20 pessoas, e também a forma de funcionamento das barcas e os preços de passagem: (…) deliberou-se o seguinte: que no dia nove de Julho próximo futuro pelas dez horas da manhã se proceda à arrematação em hasta publica do rendimento da passagem nas barcas estabelecidas ao porto da Palhota pelo tempo de trez anos, com principio em o primeiro de Outubro do corrente anno, devendo o arrematante ter tres barcas ou lanchas o mais bem aparelhadas possível devendo ter uma lancha ou barco do lado norte e outra do lado sul, de modo que não haja a mais pequena demora na passagem de passageiros, quer do lado Norte, quer do lado Sul. As barcas ou lanchas terão quatro homens competentes para as tripularem, sendo duas barcas para comportarem, cada uma d’elas a passagem de dez pessoas e oito cavallos e a grande dezasseis cavalos e um carro e vinte pessoas, devendo cada uma das barcas pequenas ter dois caes, um do lado da barca, com um metro e cincoenta centímetros de comprido e um de largo, e dois estrados rampados, com metro de comprimento e um de largo e vinte e dois centímetros d’altura na parte superior e dez centímetros na inferior; e a barca grande também terá dois caes, um de cada lado com a largura de dois metros e com um estrado de dois metros e cincoenta centímetros de largo e ao nível do bordo do barco, sujeitando-se ás seguintes condicções: - os tripulantes ficarão de noite dentro das barcas - a passagem nas barcas é a toda a hora do dia o da noite - as barcas fundearão ao largo da terra a distancia nunca superior a dez metros e so por força maior poderão ficar fundeadas mais ao largo, afim de passarem os passageiros com a maior pontualidade a toda a hora do dia com de noite, por isso que as lanchas ficam a pequena distancia do caes - o arrematante é obrigado a dar passagem gratuito a militares em serviço, a todos os agentes de autoridade também em serviço e aos presos ou alienados que por ali tenham de passar quer na ida quer na volta - o arrematante e seus empregados terão toda a afabilidade com os passageiros - o arrematante so recebera pela passagem nos barcos as seguintes taxas: • Vinte reis por cada pessoa que passar • Trinta reis por cada cavalgadura • Cinco reis por cada cabeça de gado suíno, sendo miúdo • Cinco reis por cada cabeça de gado lanígero ou caprino • Dez reis por cada cabeça de gado suíno, sendo grande • Vinte reis por cada cabeça de gado suíno, sendo gordo • Cincoenta reis por cada de gado vaccum • Vinte reis por cada cabeça de gado vacum ou cavallar, passado a vau • Vinte reis por cada carga de besta grande • Dez reis por cada carga de besta pequena • Duzentos e quarenta reis por cada carro de duas rodas, por ida e volta, e cento e sessenta por uma só passagem • Trezentos e vinte reis por cada carro de quatro rodas, por ida e volta e duzentos e quarenta reis por uma so passagem • Trezentos e vinte reis por cada carro ou carreta de carga, para serviço de passageiros, por ida e volta e duzentos e quarenta reis por uma so vez • Trezentos e vinte reis por cada carro ou carreta sem carga por ida e volta e por uma so vez duzentos e quarenta reis, e levando mercadorias pagará por cada vez que passar, quatrocentos reis


42

APONTAMENTOS HISTÓRIOCOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

• Cada passageiro tem direito a levar gratuitamente bagagem não superior a quinze kylos e por cada quinze kylos que levar a mais pagará vinte reis Além dos preços estipulados haverá na passagem da noite a seguinte alteração: - passageiro, quarenta reis (o dobro da taxa da passagem sendo dia) - cavalgadura, sessenta reis (também o dobro de passagem sendo dia) Os preços estipulados só poderão ser alterados em ocasião de inundações que não possam ir desembarcar nos portos do costume, não servindo de pretexto para tal fim, as marés vivas, devendo n’esta ocasião os preços serem os seguintes: • Da Palhota ao Mouchão sessenta reis por pessoa e igual quantia por cada cavalgadura • Da Palhota à Tapada cem reis por pessoa, e egual quantia por cavalgadura, e sendo de noite, o dobro • E os carros mais um terço dos preços estabelecidos, sendo de dia e dois sendo de noite – não é permitido a pessoa alguma o passar em lancha ou qualquer outro barco do sul para nascente ou vice versa, na distancia do Mouchão da Saudade até Escaroupim, sem que seja no barco, pena de pagarem mil reis de multa pela primeira vez e dois mil reis pela segunda. Acta da sessão ordinaria do dia 11 de Junho de 1888, Fl 126v – 127

Mapa da rede viária romana, com pormenor da passagem no Escaroupim


Planta do Tejo


Barca de passagem no Tejo – Ano: s/ data


Colocação de uma grade na

Capela Real

Ano de 1884


46

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Colocação de uma grade na Capela Real

1884

A Capela Real foi um dos poucos imóveis do Paço de Salvaterra de Magos que não foi vendido em hasta pública em 1849. Não estava em melhores condições porque anos anteriores o terramoto de 1858 provocou danos a igreja e ao que ainda restava do Paço.

Fachada da Capela Real com o gradeamento: Ano: década de 50


Município de Salvaterra de Magos

47

Como tinha a perdido a opulência do passado, devido ao seu ar de abandono e degradação, era um local que servia para fazer as necessidades, o que levou a Câmara Municipal a tomar medidas para vedar este espaço e acabar com esta imundice que estava a afetar a Capela Real: Officio da Junta de Parochia d’esta freguesia de São Paulo sob numero cinco de quinze do corrente, pedindo para se mandar colocar a grade de ferro ao canto da Egreja (do Paço à escada do lado Norte) afim de evitar o grande escândalo que continuamente se esta praticando de ali se fazer mijadeiro, visto já esta comprado a referida grade» Acta da Sessão ordinaria do dia 19 de Maio de 1884, fl. 275

Acta da Sessão ordinaria do dia 19 de Maio de 1884

Planta da Capela Real – Fonte: www.monumentos.pt


Construção de um coreto no

Jardim da Praça

Ano de 1896


Município de Salvaterra de Magos

Construção de um coreto no Jardim da Praça

49

1896

Em meados do século XIX com o aparecimento das formações musicais que escolhem os espaços públicos para tocar, surgem os coretos, que rapidamente se tornam locais de sociabilidade, entretenimento e de encontros.

Mercado diário – Jardim da Praça da República – Ano: década de 50


50

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Em Salvaterra de Magos a origem do coreto no jardim remonta a 1896 quando a Sociedade Musica Recreativa Salvaterrense solicita à Câmara Municipal um local no jardim para construir um coreto: « Presente um requerimento datado do primeiro do corrente de António Marcos da Silva, na qualidade de Presidente da Sociedade Musica Recreativa Salvaterrense, em que pretende construir no passeio público d’esta vila um coreto para alli tocar a fanfarra da mesma sociedade, e como não pode mandar proceder à respectiva construção sem previa licença da Camara, pede ao Excellentissimo Presidente da Camara Municipal, a quem o requerimento é dirigido se digne auctorizar a alluida construção.» Acta da sessão ordinaria do dia 8 de Julho de 1896,(fl. 14v)

Acta da Sessão ordinária do dia 19 de Maio de 1884

Pormenor do Jardim da república ainda com gradeamento. Anos: 1943 - 44

Pormenor do Jardim da república ainda com gradeamento. Anos: 1943 - 44


Município de Salvaterra de Magos

51

O coreto inaugura ao público em 1897, numa cerimónia pública em que é entregue à Câmara Municipal o coreto, devendo a autarquia cumprir a única cláusula de conservar e manter o estado actual do coreto. A Presidencia declarou que o fim d’esta reunião era para se receber a Direcção da Sociedade Pylarmónica Recreativa d’esta villa que vinha fazer a entrega do coreto que com a devida auctorização da Camara manda construir no Jardim da Praça pública d’esta villa. Sendo tres horas da tarde compareceu a Direcção da mencionada Pylarmónica composta do seu Presidente Ignacio Rebello d’Andrade e dos cavalheiros Francisco Correia Coelho de Carvalho e António Peixoto, bem como dos cidadãos Virgilio Roquette Costa, João Roberto da Fonseca, Francisco Maria Luz e Augusto Alves Barboza, acompanhados da mencionada Pylarmónica que ao chegar defronte dos Paços do Concelho logo rompeu com o hymno nacional e em seguida com o hymno da Sociedade; acto contínuo e depois de trocado os cumprimentos, o Presidente da referida Direcção declarou em nome da marcha que achando-se concluído o coreto que devidamente auctorizado por esta Camara, tinha mandado construir na praça d’esta vila, por isso vinha convidar a Camara a tomar posse e entrega do alluido coreto, por isso que conforme o pedido que a referida Direcção havia feito à Camara, fica pertencendo à mesma Camara, com a única clausula de ser sempre conservado ou mantido o seu estado actual.» Acta da sessão extraordinária do dia 14 de Novembro de 1897, fl. 47v – 48

Jardim e coreto – Ano: 1908


52

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

A Câmara Municipal não respeitou a cláusula e em meados da década de 50, quando avança com obras no jardim da Praça, o coreto é demolido. Depósito de água no Jardim da República – Ano: 1944


Município de Salvaterra de Magos

Funcionário municipal junto da entrada do portão do jardim da República

53


Terreno para habitaçþes

Ano de 1899


Município de Salvaterra de Magos

Terrenos para habitações

55

1899

No final do séc. XIX, (1899) o executivo debate-se com um grave problema de habitação e leva o assunto à reunião de Câmara, para se proceder ao aforamento de terrenos municipais com o intuito de serem aproveitados para a construção de habitações. Na análise do documento consta um conjunto de terrenos localizados junto das dependência do antigo Paço Real, caso do Canto da Ferrugenta, Largo do Charco, mas também em locais mais afastados do centro, exemplo do Largo da Fonte do Arneiro e terrenos próximos da Falcoaria, ou seja para locais considerados arrabaldes sem habitações: «A Camara attendendo à enorme falta de edificações pequenas para a classe proletária e attendendo a que possui uns terrenos condignos a esta villa que não são precisos para logradouro comum, podendo por isso ser aforados para edificações pequenas e outras maiores, deliberou pedir à competente aucthorização para dar de aforamento os seguintes terrenos: - numero um: que se compõe dos terrenos próximos ao Largo do Canto da Ferrugenta, Avenida do Calvario, Largo do Charco e, Estrada Real numero dezasseis (…) - numero dois, que se compõe dos terrenos para aforar próximos à Avenida do Calvario; Largo dos Moinhos e Omnia do João Francisco Lino (…) - número tres – que se compõe do terreno para aforar na Falcoaria, Rocio e Largo da Fonte do Arneiro (…) (Acta da Sessão Ordinário de 12 Abril 1899), fl. 83-84

Aforamento de lotes de terrenos – Ano: 1899 – Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos

A necessidade de construção de habitações em Salvaterra de Magos em finais do século XIX, coincide com o aumento da população. Abandonou-se o denominado “centro histórico”, que englobava as ruas que partem da Praça em direcção à vala, que eram delimitados pela zona de Transmonturos e a vala da Pardaleira e do lado oposto a Avenida servia de zona que fechava o centro. Para lá desta artéria eram os arrabaldes da vila que lentamente começam a ser urbanizados.


56

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Exemplares de arquitetura térrea construídas nos terrenos aforados

Terrenos para aforar junto do Canto da Ferrugenta – Ano: 1899 - Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos

Exemplares de arquitetura térrea construídas nos terrenos aforados

Ainda hoje em alguns destes locais que foram aforados no final do século XIX, possuem exemplares da arquitetura da época, trata-se de edificações térreas de adobe ou taipa, normalmente de pequenas dimensões e com telhado de uma ou duas águas e a respetiva telha de canudo que termina no denominado beirado à portuguesa.


Inauguração do caminho-de-ferro no concelho:

Linha Setil - Vendas Novas

Ano de 1904


58

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Inauguração caminho-de-ferro no conselho: Linha Setil - Vendas Novas

1904

O Caminho-de-ferro em Portugal é introduzido em 1856, com a inauguração da linha Lisboa – Carregado. Com a evolução da linha-férrea em Portugal, surge a necessidade de ligar as linhas férreas do Norte ao Sul. Esta ligação ferroviária, designada de Setil – Vendas Novas, foi concedida em alvará datado de 22 de Setembro de 1887.

Alvará de 22 de Setembro de 1887

Revista Brasil – Portugal, 1 de Fevereiro de 1904

Revista Brasil – Portugal, 1 de Fevereiro de 1904

Revista Brasil – Portugal, 1 de Fevereiro de 1904


Município de Salvaterra de Magos

Expropriação de terrenos da linha férrea Setil – Vendas Novas – Ano: 1891

59

Revista Occidente, 20 de Janeiro 1904

A construção da linha não foi tarefa fácil, dado que a região possuía inúmeras linhas de água, que era necessário transpor. O rio Tejo era o maior dos obstáculos, o que determinou a construção de uma ponte que ligou o Porto de Muge a Muge e que foi batizada de Ponte Rainha D. Amélia. Esta ponte é representativa da arquitetura do ferro e é um projeto do Gustave Eifell. A inauguração da linha ocorreu a 14 de Janeiro de 1904, com a presença do rei D. Carlos, que inaugurou a ponte D. Amélia e as várias estações do concelho: Muge e Marinhais.


60

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

O executivo municipal esteve presente na inauguração da linha-férrea: A Presidencia comunicou à Camara que lhe conste que Sua Magestade El-Rei passa por este concelho, no próximo dia quatorze a inaugurar o novo caminho de ferro de Vendas Novas ao Setil e por isso propõe e a Camara aprova que esta Municipalidade vá n’aquelle dia à estação de Muge apresentar os devidos cumprimentoso ao Chefe de Estado (…).(Acta da sessão ordinaria do 12 de Janeiro de 1904, fl. 190)

Acta da sessão ordinaria do 12 de Janeiro de 1904

Estação de Marinhais – Ano: s/data


Município de Salvaterra de Magos

61

Esta linha permitiu a ligação do ramal férreo do Norte ao Sul do País, foi desenvolvimento económica da região, contudo com a perda e o abandono da linha férrea em Portugal perdeu a importância que tinha no passado, e hoje em dia ainda continua a ser utilizado para transporte de mercadorias.

Estação de Marinhais – Ano: s/ data

Estação de Marinhais – Ano: s/ data

Iconografia de um campino referente à linha férrea Setil – Vendas Novas – Gazeta dos Caminhos de Ferro – 1 Janeiro 1967


Falecimento a atribuição de toponímia ao Dr.

Gregório Fernandes

Ano de 1906


Município de Salvaterra de Magos

Falecimento e atribuição de toponímia ao Dr. Gregório Fernandes

63

1906 O Dr. Gregório Fernandes foi um ilustre médico de Salvaterra de Magos, especializou-se em cirurgia. Foi o primeiro médico a fazer uma ressecção ao joelho em Portugal, e autor de vários artigos científicos sobre medicina. O Dr. Gregório Fernandes gozava de uma grande consideração no meio médico da cidade de Lisboa, apesar de estar a viver nesta cidade, deslocava-se sempre a Salvaterra de Magos, onde fazia consultas gratuitas para os mais pobres e necessitados. Conviveu com vários médicos da época, com especial destaque para Sousa Martins.

Dr. Gregório Fernandes

Lápide que se encontra na fachada da sua casa

Faleceu em Lisboa no dia 24 de Junho de 1906, o executivo municipal decide atribuir-lhe uma placa com a sua toponímia: Em seguida o mencionado Presidente disse que tendo falecido em Lisboa, no dia vinte e quatro do corrente, o Excellentissimo Senhor Douctor Gregorio Rodrigues Fernandes, julga interpretar os sentimentos de toda a vereação, proponho que na acta d’esta sessão se consigne um voto de profundo pezar por tão triste acontecimento. O Douctor Gregorio Fernandes foi não so um illustre filho de Salvaterra de Magos que muito honrou a sua terra, como tambem uma das maiores glorias da cirurgia portugueza; caractter diamanttino e alma generosa, veio o seu prematuro fallecimento enlutar todos os seus patrícios a quem elle sempre tentou distinguir. Como feito prestado à sua inolvidável memoria, propõe tambem que a Travessa da Estallagem d’esta villa onde nasceu e morou o distincto medico passe a denominar-se “Rua Doutor Gregório Fernandes” e que em signal de sentimento se encerre já esta sessão.» Acta da sessão ordinaria do dia 28 de Junho de 1906, fl. 39


64

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Acta da sessão ordinaria do dia 28 de Junho de 1906


Município de Salvaterra de Magos

Lápide de homenagem ao Dr. Gregório Fernandes

Ainda hoje a casa onde morou o Dr. Gregório Fernandes, tem na sua fachada duas placas evocativas da sua memória.

65


O sismo de 1909 e a sineta

da

Câmara Municipal

Ano de 1909


Município de Salvaterra de Magos

O sismo de 1909 e a sineta da Câmara Municipal

67

1909 No dia 23 de Abril de 1909, um grande sismo que teve o epicentro em Benavente, arrasou praticamente esta vila. Salvaterra de Magos devido à proximidade do epicentro do sismo também sofreu graves consequência provocados por este cataclismo. O terramoto provocou danos na torre da Igreja Matriz, onde estava o relógio municipal. Como a torre estava em risco de ruir, o relógio não podia continuar a dar horas neste local, para colmatar esta lacuna de “falta de horas” na vila, é instalado no edifício dos Paços do Concelho uma sineta, para a qual um soldado seria mobilizado para informar a população das horas:

Sineta da Câmara Municipal

“O Vereador Almeida Lembra a conveniência de se mandar arranjar a sineta onde até agora se tem dado as horas, em substituição do relógio municipal, que em virtude da respectiva torre ter ficado arruinada com o terramoto de vinte e trez d’Abril ultimo, não pode funcionar. a referida sineta deixou há dias de annunciar as horas que eram dadas pelo sentinella, por se ter partido o respectivo badalo. A Camara resolveu adaptar para esse fim a sineta e pedir ao Senhor Comandante da força militar d’esta villa para o sentinella ir alli tocar as horas, ao que o mesmo senhor comandante assumiu fornecendo a Camara um relógio para a guarita do sentinela.”Acta da sessão ordinária 19 de Agosto 1909, fl. 101v – 102

Acta da sessão ordinária 19 de Agosto 1909

A sineta ainda hoje se encontra no edifício dos Paços do Concelho.


68

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Aspeto das barracas para os desalojados do sismo de 1909

Correspondência da Cruz Vermelha – Ano: 1910

Aspeto das barracas para os desalojados do sismo de 1909

Aspeto das barracas para os desalojados do sismo de 1909


MunicĂ­pio de Salvaterra de Magos

Aspeto das barracas para os desalojados do sismo de 1909

69


A implantação da república em Salvaterra

de Magos

Ano de 1910


Município de Salvaterra de Magos

A implantação da República em Salvaterra de Magos

71

1910

Proclamada a República a 5 de Outubro de 1910, os republicanos procuraram por todos meios consolidar o novo regime, manter a ordem pública e divulgar os seus ideais. A nível do poder local, os executivos municipais mudaram afastando do poder aqueles que tinham simpatia ou estavam conectados com a monarquia, destruíram alguns símbolos monárquicos e muitas ruas mudaram de nome e optaram por topónimos associados a acontecimentos ou figuras da República.

Nomes dos eleitos locais após a implantação da República – Ano: 13 de Outubro 1910


72

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Em Salvaterra de Magos reúne-se a Comissão Municipal Republicana e a primeira medida foi a substituição do Presidente da Câmara – Manuel Alberto Rebello, por António Jorge de Carvalho, farmacêutico e um homem ligado à causa republicana. A 12 de Outubro, apenas dois dias após a República ocorrem mudanças ao nível da toponímia, vários nomes das ruas de Salvaterra de Magos foram substituídos por nomes republicanos, e que ainda hoje se mantêm na toponímia da vila de Salvaterra de Magos: Tambem por proposta do Vice Presidente resolveu-se dar o nome da rua Machados Santos à rua de São Paulo; rua Almirante Cândido dos Reis à rua de Sancto António; rua Dr. Miguel Bombarda à rua do Pinheiro; Praça da República à Praça Dr. Oliveira Feijão, Rua Theophilo Braga à rua Porfirio Neves da Silva e Largo Cinco d’Outubro ao Largo do Palácio, todas d’esta villa» Acta da sessão extraordinária do dia 12 d’Outubro 1910fl.

Acta da sessão extraordinária do dia 12 d’Outubro 1910

Em Muge, as mudanças toponímicas ocorrem meses mais tarde a 22 de Dezembro: Tendo a Commissão Administrativa da Junta de Parochia de Muge pedido um officio a esta Camara a substituição de nomes d’algummas ruas d’aquella villa em conformidade com a relação que acompanhou o referido officio, assim foi resolvido substituindo-se a Rua D. João Quarto por rua da Restauração; Avenida D. Jayme de Mello por rua da Liberdade; Rua Marquez de Ferreira por Rua Cinco d’Outubro; Rua Duqueza de Cadaval por Rua Miguel Bombarda; Largo do Condestável D. Nuno Alvares Pereira por Largo da República; Largo D. Diniz por Largo Theophilo Braga; Rua Almeida Garrett por Rua Capitão-Tenente Sousa Dias; Largo da Misericordia por Largo Machado dos Santos; Rua D. João Primeiro por Rua João Chagas; Rua Mousinho d’Albuquerque por Rua Almirante Reis; Rua da Palmeira por Rua Almeida Garrett; Rua de Janeiro por Rua Elias Garcia; Rua do Salgado por Rua José Falcão; Travessa da Palmira por Rua Latino Coelho; Largo do Chafariz por Praça do Povo e Travessa da Egreja por Rua Rodrigues de Freitas» Acta da sessão ordinaria do dia 22 de Dezembro 1910 fls 142-142v


Município de Salvaterra de Magos

Brasão do edifício da Junta de Freguesia de Muge, sem a coroa real

73

Enquanto que em Marinhais, também se regista mudanças ao nível da toponímia: Por proposta do vogal Pereira Rodrigues, resolveu-se dar o nome “Praça da República” ao novo Largo dos Marinhaes, próximo da capella, cujo terreno há pouco tempo esta Camara adquiriu.» Acta da sessão ordinaria do dia 1 de Junho de 1911, fl. 165 A junta de Paróquia de Muge, edifício do antigo Paços do Concelho de Muge, possuía um brasão com uma coroa que foi arreada. A 29 de Dezembro a Junta de Paróquia comunica que vai arrear a coroa real que estava neste edifício: «Acta da sessão ordinaria do dia 29 Dezembro 1910 Leu-se um officio da Presidencia da Juncta de Parochia de Muge, pedindo à Camara para esta mandar arrear a corôa real existente no edifício municipal onde se acha instalada a estação telegrafa d’aquella villa o que foi deliberado afirmativamente e conforme aquelle pedido» fl 143

Brasão da fachada da Câmara Municipal

Primeira Acta Municipal Republicana – Ano: 7 de Outubro 1910

Outra mudança com a implantação da República foi no estandarte do Município, que optou por uma bandeira que respeitava as cores da República: «Para substituir o estandarte municipal azul e branco, representativo do antigo regimem, a Camara resolveu mandar fazer o novo estandarte verde e encarnado de setim, com letras pintadas a ouro.» Acta da sessão ordinaria do dia 17 d’Agosto de 1911fl. 176v


Destruição da

Cruz do Calvário

Ano de 1911


Município de Salvaterra de Magos

Destruição da Cruz do Calvário

75

1911

A atual Avenida Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, era no Na tradição local está enraizado que o apeamento desta passado designada Avenida do Calvário, pelo facto de existir cruz, ocorreu logo à seguir à implantação da República, denesta artéria uma cruz. Tratava-se de um dos sete passos da vido à fúria iconoclasta dos republicanos, o que é um erro paixão de Cristo. histórico, a razão do apeamento tem a ver com o aproveitamento do terreno para habitações.

Mapa com a localização da cruz do Calvário – Ano: 1899


76

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

No início do séc. XX (1911), o município iniciou um processo de aforamento para converter terrenos em locais de construção de habitações. Como o Calvário estava localizado num desses terrenos que era necessário aforar, o executivo municipal deliberou apear esta cruz, e levou-a para o cemitério. Em virtude dos aforamentos ultimamente feitos nos terrenos junctos ao Calvario, a camara deliberou apear a cruz de pedra que alli se encontra e mandar conduzi-la para o cemitério d’esta villa, concedendo-se aucthorização para ser erigida no mesmo cemitério, por quem a expensas suas o desejar fazer.» (Acta da sessão ordinária do dia 9 de Novembro 1911, fl. 186-186v)

Acta da sessão ordinária do dia 9 de Novembro 1911

Menor sorte teve o pedestal que foi colocado nos alicerces das obras do hospital que se estava a iniciar. «Por proposta do Presidente e unanimemente aceite foram cedidas à provedoria da Sancta Caza da Misericordia d’esta villa, para serem utilizadas nas obras do hospital algumas pedras e degraus do antigo cruzeiro do Calvario d’esta villa.» (Acta da sessão ordinaria do dia 30 de Novembro 1911, fl. 189) Passados dois anos, o morro onde estava esta cruz, ainda estava por arrasar, o que prova que o terreno ainda não estava ocupado por nenhuma habitação: «Acta da sessã ordinaria do dia 20 de Março de 1913 Foi resolvido mandar arrazar o morro de terra do calvário quando o permittam as circunstâncias económicas da Camara, devendo proceder-se desde já ao estudo respectivo» fl. 47 Actualmente esta cruz encontra-se no cemitério de Salvaterra de Magos.


Município de Salvaterra de Magos

Cruz do Calvário que se encontra no cemitério de Salvaterra de Magos

77


APONTAMENTOS HISTÓRICOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS


Município de Salvaterra de Magos

Bibliografia A.H.M.S.M. – Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos

Livros de Actas - Livro de Actas:10 de Julho 1863 a 19 Novembro 1875 - Livro de Actas: 13 de Dezembro 1875 a 24 de Novembro 1884 - Livro de Actas: 5 de Dezembro 1884 a 1 Dezembro de 1892 - Livro de Actas: 1 de Dezembro 1892 a 19 de Abril 1893 - Livro de Actas: 7 de Janeiro 1896 a 18 Outubro 1904 - Livro de Actas: 25 de Outubro a 15 Fevereiro a 1912

Livros de Registo de correspondência Livro de registo de saída de ofícios: 11 de Janeiro 1854 a 10 de Julho 1868 Livro de registo de saída de ofícios: 12 Abril 1871 a 25 de Junho 1872 Livro de registo de ofícios para o Governador Civil: 20 de Junho 1872 a 13 de Agosto 1873 Livro de registo de ofícios para o Governador Civil de Santarém: 8 de Outubro 1874 a 7 de Novembro 1876 Livro de registo de ofícios para o Governador Civil: 8 Novembro 1876 a 8 de Abril 1879 Livro de registo de ofícios para diferentes autoridades 17 Março 1879 a 28 de Outubro 1881 Livro de registo de ofícios para o Governador Civil: 28 de Agosto 1899 a 30 de Dezembro 1903

Internet Estatística de Portugal, «Censo no 1. De Janeiro - 1864» [em linha], Lisboa, 1868, p.193, (consultado a 05-06-2012), disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=65580105&PUBLICACOESmodo=2 Ministério dos Negócios da Fazenda – Direcção Geral da Estatística e dos Próprios Nacionais, «Censo da População de Portugal no 1.º Dezembro 1900), [em linha],Lisboa, 1901, p.80, (consultado a 05-06-2012), disponível em: http://www.ine.pt/xportal/ xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=65582797&PUBLICACOESmodo=2

Bibliografia CORREIA, Joaquim Manuel da Silva; GUEDES, Natália Correia, O Paço Real de Salvaterra de Magos, A Corte, A Ópera, A Falcoaria, Lisboa, Livros Horizonte, 1989 - FRANCISCO, Vicente, Recordações de Navegação, Lisboa, Edição Associação Amigos do Tejo, 1987 - O Foral. O Concelho de Salvaterra de Magos da Pré-História ao Séc. XVIII. Compilação de textos, Salvaterra de Magos, Edição Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, s.d - SOUSA, J. Manuel Nazareth Fernando de, Aspectos sócio-demográficos de Salvaterra de Magos nos finais do séc. XVIII, In Análise Social, vol. XVIII, n. 66, 1981-82


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.