Cadernos de História e Memória III - Amor a Muge - Livro de Poemas

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Concelho de Salvaterra de Magos


AMOR A MUGE - Livro de Poemas

Cadernos de História e Memória III


Ficha Técnica Título Amor a Muge - Livro de Poemas Propriedade Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Coordenação Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Eng.º Hélder Manuel Esménio Grafismo Soraia Magriço Foto de Capa Inauguração do Edifício da Casa do Povo 19-05-1963 Foto de Contra-capa Inauguração do Edifício da Casa do Povo 19-05-1963 Execução Gráfica Pimenta - indústria gráfica, lda Tiragem 500 exemplares Data: Maio de 2022 Depósito legal: ISBN: 978-989-53129-4-8


INDÍCE

AMOR A MUGE - Livro de Poemas

Mensagem do Sr. Presidente Prefácio Introdução Ribatejo Ao Trabalhador Rural Aos Emigrantes Rainha de Portugal Não Noite de Natal Nossa Senhora da Conceição Emigrantes da Nossa Terra Inesquecível Terra Minha Carnaval As Estações do Ano Companheiro Querida Susana Árvore da Vida Dão Perfume as Flores Campinos do Ribatejo Tu, Adulto Boatos A Família Santo Natal Saber Viver Vaidade O Patinho Mês de Maio Aos Meus Filhos Acorda, Oh Homem Os Campos da Minha Terra Vida e Morte Rio Tejo Um Mundo Melhor Ribatejo Primavera Carnaval Saldo do Ano Lectivo Mensagem Apelo Confiança O Mugense Resposta a Uma Carta Cadernos de História e Memória III

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INDÍCE

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Recordação do Passado Valeu a Pena Recordar é Viver Muge Poesia Santos Populares Apelo aos Emigrantes Muge Aos Meus Filhos Ser Mugense Meu Vestido Branco O Pobrezinho Trabalhador Rural Amor e Não Ódio A Vida Aos Jovens O Chico Jardineiro Ser Criança Requiem Gratidão Férias Ao Editor Outro Natal 21-3-85 Ano Internacional da Juventude Velhice Dia da Árvore Primavera da Vida Saudade À Nossa Casa do Povo Poesia sobre a Casa do Povo Poemas ao Faria Ao José António Um Sábado Diferente A Minha Rua Tem Dois Nomes Aos Antigos Rurais Coronavírus - Dá Que Pensar A Procissão do Mártir São Sebastião Ao Presidente da Câmara Tempos Difíceis Muge Sentinela “Filho és, Pai Serás” Os Netos são Esperanças Concelho de Salvaterra de Magos

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Por eles faço Oração As Casas do Povo

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Mensagem Sr. Presidente

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A Casa do Povo de Muge é uma instituição histórica do concelho de Salvaterra de Magos, desde a sua fundação tem colaborado no desenvolvimento económico social e cultural da população de Muge. Para além destes princípios altruístas, tem também inovado com a ocupação de tempos livres para os trabalhadores, promoção de convívios e bem-estar e organização de eventos desportivos e culturais. A presente edição “Amor a Muge - Livro de Poemas”, que integra o 3.º número dos Cadernos de História e Memória do Município de Salvaterra de Magos, é uma compilação de poemas que inicialmente foram publicados no jornal “O Mugense”, valorizando a memória dos poetas populares de Muge. É mais um documento histórico para o enriquecimento bibliográfico da nossa história local, que certamente vai contribuir para a divulgação do nosso património. Para além da edição do presente livro, vão ser homenageados o Sr. José António Brito Faria e a Prof.ª Bemvinda Margarida, fundador e primeira diretora do Jornal “O Mugense” (1976), por altura do 88º aniversário da fundação da Casa do Povo de Muge. É uma forma justa de reconhecimento e agradecimento público a duas personalidades ligadas ao nascimento e desenvolvimento do jornal “O Mugense” e à Casa do Povo de Muge. O Presidente da Câmara Municipal

Eng. Hélder Manuel Esménio

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PREFÁCIO Um Livro Prefaciar? Nunca tal me ocorreu. Como irei falar Do que é um pouco meu? Penso nunca o ter feito, Gera-se em mim uma guerra, Pediram-me e eu aceito, Por amor à minha terra. Versos feitos a correr, Não me apetece pensar, Versos sem muito saber. Podem à métrica faltar, Não são versos de cultura E não o querem ser, Têm uma intenção mais pura: Mostrar a quem os ler, Que temos no coração A nossa terra natal. Estar longe, na ocasião, O nosso amor é igual. Às vezes a terra se esquece, Quem nela um dia nasceu, Nem por isso ela merece Que alguém dela se esqueceu. Terra é sempre a “terrinha”, Embora lá não vivamos. Fomos à nossa “vidinha”, Mas nela nos enterramos. Bemvinda Margarida

Maio de 2021

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INTRODUÇÃO Quando estes corpos sociais assumiram a liderança da Casa do Povo de Muge para o triénio de 2019 a 2022, fizeram-no com os seguintes objectivos: - Sanar os graves problemas económicos e legais que se viviam; - Recuperar e revitalizar todo o seu património material e cultural; - Garantir o futuro desses bens e das suas memórias. Neste sentido reeditámos o jornal “O Mugense” e aí surgiu-me a ideia de perpetuar os poemas publicados na I Série -1976 a 1985, pois a mesma é um retrato das vivências, usos e costumes da nossa Vila. Para prefaciar este livro convidámos a Drª Bemvinda Margarida, primeira directora de “O Mugense”, que nos deixou um forte legado e assim poder também homenageá-la. Mais uma vez e como é o seu timbre disse “PRESENTE” e por solicitação nossa sugeriu o título “Amor a Muge” - o qual, na minha opinião, reflecte o trabalho que todos tiveram, têm ou terão, para manter o nosso património cultural. Este livro é também uma homenagem ao fundador de “O Mugense” – José António Brito Faria – que com a sua directora fez um percurso quase em solitário, repleto de cumplicidades, e que merece ser reconhecido e divulgado. Agradeço ao Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Engº Hélder Manuel Esménio, a cooperação permanente em todas as nossas actividades e que neste caso possibilita a publicação deste livro, contribuindo assim de forma decisiva para o registo das memórias e vivências da nossa comunidade. Anteriormente à publicação deste livro, conseguimos em 2020 que o encerramento das 7ª Jornadas da Cultura do Concelho de Salvaterra de Magos se tivesse realizado no nosso Auditório, em parceria com o Município, sendo realizados os seguintes eventos: A publicação da 7ª edição da Revista Magos sobre Muge; O lançamento “O livro do Tombo das Escrituras e Privilégios da Vila de Muge” de Gonçalo Lopes, que nos foi ofertado e que nós ofertámos à Câmara para publicação; A homenagem e exposição à Sociedade Filarmónica de Muge: 1902 - 2020. Concluo assim que estamos a cumprir em pleno os objectivos a que nos tínhamos proposto inicialmente. Aos leitores formulo votos de que possam experienciar, através da leitura, as vivências de uma comunidade cujas raízes nos sustentam no presente.

Vítor Lucas

Presidente da Direcção Casa do Povo de Muge 14/05/2021 Concelho de Salvaterra de Magos

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RIBATEJO I Ó meu lindo Ribatejo, Província de Portugal, Será sonho ou não vejo Como tu, outra igual?!...

VI Rios e ribeiras passando, Dão vida aos cereais. As planícies alagando, Alimentam arrozais.

II Tuas aldeias são formosas Com as suas capelinhas. São tuas árvores mimosas Beijadas p’las andorinhas.

VII Vinhas com doces cachos, Belos melões d’Almeirim, Saboroso vinho do Cartaxo, São delícias quase sem fim.

III Santarém, tua capital, Tem fandango e guitarras, Paisagens sem igual, Campinos e marialvas.

VIII Ribatejo afamado, Pelas suas produções, Oxalá sejas amado Por bondosos corações.

IV O Tejo sempre correndo Parece já mais cansado. A Borda d’Água vai tendo, Motivos para agradar.

XI Quando avisto teus campos, Recordo tempos passados, Parecem quebrar encantos Os chocalhos dos teus gados.

V As lezírias e toiros, Os ranchos, a tradição, Trazem excursões À nossa região.

X Abrigas aves dos céus, Em tuas árvores protectoras; Bem dizemos a Deus E às suas Bênçãos Criadoras!... Adélia Faria Raposo Ano I - Nº2 - O Mugense Setembro de 1976

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AO TRABALHADOR RURAL I Sem tuas mãos Não teríamos o pão Às nossas refeições, Teu trabalho de valor Merece por ti amor Em nossos corações. II Sem ti, com tua enxada, O pouco seria nada E amargurado o viver. Teu trabalho fatigante, Tua labuta constante, Oferece-nos de comer. III Os teus braços valiosos São membros preciosos Que às terras dão amor. São eles que as cultivam Que as tornam produtivas Com o teu suor e calor. IV Sem ti, trabalhador, Sem o teu muito labor, Seria imenso o sofrer. És útil na vida, És a pessoa querida Que nos ajuda a viver. V A ti muito devemos, Muito que não esquecemos, Deus te pague com Amor. Deus te dê um lar amigo, Saúde sempre contigo, E a bênção do Senhor!... Adélia Faria Raposo Ano I - Nº3 - O Mugense Outubro de 1976

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AOS EMIGRANTES I Tu que ganhas o pão, em país distante, Vem, lá de longe, a juntar-te a nós. Não estejas tímido … hesitante, Vem erguer, no “O Mugense”, a tua voz. II Não penses que, por cá, és esquecido, Queremos saber de ti, o que te rodeia, O que te acontece, como tens vivido, Quer habites uma cidade ou uma aldeia. III Terás muito que contar, que não sabemos, Queremos viajar, aprender contigo, Ver coisas, que, afinal, só as veremos Pelos teus olhos, bom amigo. IV Da nossa terra, da nossa Muge, Vista de longe, como tu a vês, Terás novas ideias. E agora urge Que, rapidamente, no-las dês. V Vamos para a luta, vamos combater, Precisamos de ti, como soldado, Para em breve, conseguirmos fazer Um Muge diferente e melhorado. VI Vem, lá de longe, a juntar-te a nós, Para bem de Muge e do nosso Portugal… De quem será a primeira voz Que se fará ouvir neste jornal? Bemvinda Margarida Ano I - Nº3 - O Mugense Outubro de 1976

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RAINHA DE PORTUGAL I Mãe do Céu, Virgem Pura, Mãe de sublime ternura E de beleza sem igual Que recorremos a Vós, Rogai a Deus por nós, Rainha de Portugal. II Da minha terra natal Sois Padroeira leal, Em quem temos confiança. Mãe gloriosa e amada, P’los bons filhos venerada, Santo Auxílio, Doce Esperança III Mãe dos pobres pecadores Aliviai as nossas dores E as nossas aflições. Sede a nossa companhia E o vosso amor o guia Dos nossos corações. IV Mãe de Deus e Mãe nossa, Não há alguém que possa A vós ser igual. Rogai a Deus por nós, Que recorremos a Vós, Rainha de Portugal. Adélia Faria Raposo Ano I - Nº4 - O Mugense Novembro de 1976

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Rancho a plantar arroz, década de 60

Rancho na Cura do arroz, década de 60

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NÃO I Não ao ódio, recuso-me a odiar. Não ao oportunismo, recuso-me a mentir. Não à violência, recuso-me a violentar. Digo não a tudo o que possa ferir. II Tudo que me rodeia é meu irmão. Não quero semear ódio e violência, Por isso grito não, não e não, A uma vida, vivida sem clemência. III Vem junto a mim, grita comigo O nosso alarme contra todo o fanatismo. “Se não pensas como eu, és inimigo”, Isto só pode levar a um abismo. IV Pensa como quiseres; és livre, oh homem, Não deves ser julgado pelo teu pensar, E, por piores atitudes que contra ti, tomem, Procura seres sempre tu e, nunca recuar. V Podes ser julgado, sim pelo que fizeres: Não tens o direito de te supores sozinho; E, mesmo que o não quiseres, Haverá sempre alguém no teu caminho. VI Não pensas como eu, isso que interessa? Tudo que me rodeia é meu irmão, E não haverá nada que me impeça De te estender a minha mão. Bemvinda Margarida Ano I - Nº4 - O Mugense Novembro de 1976

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NOITE DE NATAL I São lindas as figuras Do presépio. É Natal. Pensam as criaturas Nesta Noite sem igual.

V Há alegria e dor, Saudade que é amargura. Deus concede-nos Amor Que para nós é ventura.

II Noite de Natal, Noite Santa, Cheia de graça e de luz. Parece que a Terra canta O Nascimento de Jesus.

VI Cabem-nos no coração Aqueles que temos presentes. Recordamos, com afeição, Os nossos que estão ausentes.

III Badalam os grandes sinos, Ouvem-se cânticos d’amor. Os anjos oferecem hinos De graças ao Salvador.

VII Uns em longínquos países, Outros sobre águas do mar, Nem todos são felizes… Sempre nos hão-de lembrar!…

IV As crianças, bondosas, Esperam de Jesus presentes, Os mais velhos, saudosos, Recordam os seus ausentes.

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Adélia Faria Raposo Ano I - Nº5 - O Mugense Dezembro de 1976


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NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO Mais uma vez, Nossa Senhora percorreu a nossa terra, Mais uma vez, lhe pedimos paz em vez de guerra. Fomos afirmar-lhe com a nossa presença, Que n’Ela permanece a nossa crença. Sois a nossa Mãe, e neste mundo conturbado, O Vosso amor é refúgio desejado. A minha mãe, a única que já tenho, É perante Vós, Senhora que eu venho Chorar as lágrimas que trago escondidas, Confessar as minhas esperanças perdidas. Pedir mais fé, mais caridade e mais esperança, Venho junto a vós, como humilde criança, Dizer-Vos que, sem a minha Mãe nada sou, Que tudo o que possuo eu Vo-lo dou. Senhora da Conceição, Senhora de tanto nome, Só vós matais a minha fome. Fome de paz, de justiça, de amizade, Só vós minorais minha ansiedade. Sou má filha, uma filha esquecida, Lembro-Vos mais quando é amarga a vida. Ajudai-me, minha Mãe, com Vosso amor, A ser a cada momento, filha melhor. Bemvinda Margarida Ano I - Nº5 - O Mugense Dezembro de 1976

Procissão - Rua Mouzinho de Albuquerque, década de 50

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EMIGRANTES DA NOSSA TERRA I Emigrantes da nossa terra, Viveis longe do vosso ninho. No berço da nossa terra Recebemos igual carinho.

V Ir até junto do Tejo, Que corre no nosso Portugal, E que passa tão perto Da nossa terra natal!...

II Nela passamos a infância E também a mocidade. Hoje separa-nos a distância, Mas de vós temos saudade.

VI O cantinho onde nascemos Repousa em nosso coração. Esse lugar nunca esquecemos Com muita dedicação.

III Nem sempre longe da terra Tudo são felicidades. A muitos de vós quem dera … Vir aqui … matar saudades!...

VII Enviamos nossas saudades, Deus vos conceda ventura, Suavize a nossa vida P’ra que não vos seja dura.

IV Beber nas nossas fontes, Passar próximo da igreja, Admirar nossos horizontes Sob o Sol que nos beija.

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Adélia Faria Raposo Ano I - Nº6 - O Mugense Janeiro de 1977


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INESQUECÍVEL Muge … Minha terra natal … Em ti vejo encanto e beleza Para mim, não há outra igual.

A sombra das gigantescas faias Na fonte de meio tostão, Numa tarde de sol brilhante Passava-se a Ascensão.

Muge … Minha terra distante, Tenho saudades de ver As tardes de Sol brilhante.

Nas tardes de Domingo No coreto a Banda tocava, No largo da igreja A mocidade dançava.

Nas manhãs de Primavera O chilrear das andorinhas, No beiral do velho correio Construíam suas casinhas

Passeava-se até à estação Ao cheiro do rosmaninho, Conversando alegremente Não se dava pelo caminho.

Ao romper da madrugada Ao raiar da aurora, Ouve-se na torre a badalada Ai… que saudades de outrora.

Seus belos pinhais Cheios de encanto e graça, Nas tardes de Sol ardente Oferece repouso a quem passa.

Suas vinhas verdejantes Com seus cachos bem lourinhos, O perfume das flores campestres E o cantar dos passarinhos.

Ia à fonte das bicas Cântaro de barro ao lado, Agora a fonte é moderna Já tudo é acabado.

Havia garraios na rua Dia de festa na terra, Alegria para a gente nova, Hoje é dia da ferra.

É um passado distante Tudo agora é bem diferente, Olhando o que atrás ficou Faz saudade a muita gente.

Montava a cavalo o campino Com seu colete encarnado, Meia branca, barrete verde Ao ombro o seu cajado.

Meus cabelos estão branqueando Tudo é recordação, Morre aos nossos olhos Mas não morre no coração.

A escada do velho correio Que eu subia apressada, Buscar carta do noivo ausente Notícia tão desejada.

Paris: Jacinta Loureiro Cadete

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TERRA MINHA Muge, terra minha, Não te sentes sozinha… Terra do meu país, Onde há raiz De espigas louras Onde há lavouras, Lezírias cheias de cor E a bênção do Senhor!... Vila da nossa vida, Terra querida, De sonho e paz, Que nos dás Canções e hinos, Paisagens de verdura A inesquecível bravura De toiros… e os teus campinos!... Terra do Ribatejo, Repousas à beira do Tejo, Em ti há frio e calor E de Deus tens o Amor!... Sempre te recordamos, Com afecto te saudamos, Outra não temos igual, Terra do nosso Portugal!... Adélia Faria Raposo Ano I - Nº7 - O Mugense Fevereiro de 1977

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CARNAVAL Tão longe vão as cegadas… Pelas ruas, mascarados, Passavam tantas pessoas! Havia máscaras tão boas, Tão patuscas, engrançadas, Que ríamos, às gargalhadas! Tanta farinha no chão, E às vezes, um trambolhão P’ra não ser enfarinhada, Ou até ser mascarada. Saltavam-se muros, janelas, E às enfarinhadelas Não escapava velho ou novo, Era uma festa do Povo. Gastava-se graxa, carmin, Hoje, isto para mim Pode parecer porcaria, Mas causava-me alegria. Cansados de enfarinhadela, Jogava-se “apara panela” Íamos às olarias Fazer grandes razias, E toda a bilha partida Era sempre agradecida. Vendo a campina alagada, Recordo-me de uma cegada Que veio p’ra ma cantar

“Temos a cheia no campo, Não podemos trabalhar”. Mesmo com a vida mal, Brincava-se ao Carnaval. Teatros bem ensaiados, Bailes tão animados, Sempre as noites preenchida, E com alegria vividas. Tanta coisa a recordar, Tanta coisa p’ra contar! Lembro-me do baile das chitas, Raparigas tão bonitas, Hoje mães, até avós, Que será feito de vós? Companheiros de outros tempos, De alegres passatempos, Uns vivos outros já idos, Mas não por nós esquecidos. Patrício, Joaquim Padeiro, Tanto velho companheiro Do antigo Carnaval, Tanta saudade, afinal…

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AS ESTAÇÕES DO ANO És linda Primavera, És o perfume das flores!... Às andorinhas quem dera Sentir sempre os teus amores. És quente doce Verão, Os campos e praias visitas. Alegras o coração, Tornas as terras benditas!... Também és belo Outono, Em que as árvores dando vão As folhas, que dormem um sono, Já caídas pelo chão!... És muito frio Inverno, Mas dás-nos amor e luz, Porque nos trazes um dia terno: O dia em que nasceu Jesus!... Adélia Faria Raposo Ano I - Nº8 - O Mugense Março de 1977

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COMPANHEIRO Não queiras ser dono do Mundo: Conhece-te e sê dono de ti próprio Não optes pela solução mais cómoda: Escolhe antes a que te parecer mais correcta Não sejas bom: Elimina as situações que fazem os homens maus Não julgues os outros: Tenta percebê-los Não queiras todas as coisas: Utiliza só as que precisares Não sigas passivo as mensagens dos sábios: Aprende a fazê-las tuas Não confies na primeira impressão: Procura em cada realidade uma nova realidade Não isoles aquilo que observas: Vê os pormenores no conjunto e o conjunto nos pormenores Não creias em coisas estáveis: Aprende a ver tudo em perfeita mudança Não receies as prisões: Nada prende os homens livres. Ano I - Nº8 - O Mugense Março de 1977

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QUERIDA SUSANA Os teus cabelos loirinhos São muito do teu gosto. E os teus caracolinhos Ornamentam o teu rosto. És criança sossegada E sabes brincar sozinha. Parece que vives encantada Com a tua bonequinha. Falas… cantas e sorris A infância é descuidada. Seres criança é ser feliz É ser flor perfumada. Amas os teus paizinhos Com o teu puro amor. Dão-te eles seus carinhos, Deles, tu, és sua flor. És uma flor mimosa Que gostas do Ribatejo. És lindo botão de rosa. De nós recebe um beijo. Adeus até um dia Que queiras aqui voltar. Quando vieres, nesse dia, Te havemos de abraçar. Adélia Faria Raposo Ano I - Nº9 - O Mugense Abril de 1977

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ÁRVORE DA VIDA Árvore da vida, onde estão Os sonhos verdes de esperança, Com que com tanta ilusão Te enfeitei desde criança? Não foi o vento brutal, Que em cruel investida, Te causou tão grande mal, Te deixou assim despida. Veio um ano e outro ano, Deixaste de ser criança, Cada novo desengano Levou contigo uma esperança. Árvore de folhas despida Só te resta uma saudade, Mas ainda te prende à vida A esperança da eternidade. Bemvinda Margarida Ano I - Nº10 - O Mugense Maio de 1977

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DÃO PERFUME AS FLORES Dão perfume as flores, Crescem os AmoresPrefeitos no jardim. Canta o galo de manhã, Vem ao Sol a rã, No pinhal cheira a alecrim. Chegou a Primavera, A Estação terna, Que aos campos dá alegria. É mais lindo o Sol, Canta o rouxinol A sua melodia. Passa uma nuvem, Parecem que luzem, As águas do Tejo. Nas árvores toca o vento, Tenho o pensamento, Em nosso Ribatejo. As aves, voando, Também vão cantando Os seus belos hinos. E mesmo no ar Vão a recordar Os seus queridos ninhos. A natureza É a beleza Que a tudo dá calor. A natureza… é amor profundo Que oferece ao Mundo O nosso Salvador!... Adélia Faria Raposo Ano I - Nº10 - O Mugense Maio de 1977

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CAMPINOS DO RIBATEJO É’s forte, destemido, Alegre e leal. Na mão tens o teu pampilho, Campino de Portugal!... Montando no teu cavalo Percorres as margens do Tejo, Beijado pelo Sol doirado, Campino do Ribatejo!... Os toiros vais guiando, De noite e de madrugada, Na tua vida pensando, Sempre de vigia à manada. Os toiros não te fazem mal. Têm-te por companhia. Conhecem teu ideal, Sabem que deles és o guia. Tlim!... Tlim!... Tlão!... Cantam chocalhos Nas lezírias noite e dia. Campino, olha o teu gado Ele é a tua alegria. É’s um homem valente, Campino, és elegante, O teu trajo é decente, As suas cores são brilhantes. Barrete verde, cinta vermelha, Calça e jaqueta oferecem vistão. O toiro olha-te… baixa a cabeça, Parece fazer-te uma saudação! Adélia Faria Raposo Ano I - Nº11 - O Mugense Maio de 1977

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TU, ADULTO Que falas da Paz e fazes a guerra Que falas de Amor e crias o ódio Que falas de Revoluções e a ti não transformas Que falas do Homem Universal e crias fronteiras Que falas da Poluição e sujas o Mundo Escuta, ao menos neste dia, a voz da Criança. Da criança, a quem dás flores e brinquedos e doces e beijos

Da criança, Que ama os animais e a natureza e tudo o que é Toma o meu coração Dá-me a tua mão E deixa-me levar-te comigo pelo caminho que tu procuras e que talvez eu saiba qual é Porque sou simples e puro, não odeio, não invejo, não mato, não destruo. Sou criança, por isso vejo mais longe. Júlio Roberto

A quem gostas de ouvir cantar e recitar versos de Amor e da Vida

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(Dia Mundial da Criança - 1977) Ano I - Nº11 - O Mugense Junho de 1977


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BOATOS O boato torpe e cruel, A palavra mansa, mas que sabe a fel. A frase, quase murmurada, E que nos diz tudo, quando não diz nada… Há quanto tempo não te odeio, com ardor, O ardor das almas violentas, De verdade de ideal redentas. Serás talvez banal, Mas és, para meu mal, Conversa rasteira, sem princípio e fim, O que me fere a mim. Por que me atacas? Não. Não queiras ter a pretensão De me atingir Detesto-te, porque não sei mentir, Sei ser eu, E tudo o que é meu, O que tenho falado, o que tenho escrito, O que digo baixo, o que apregoo em grito, É meu E eu sou seu. Não posso ser o que os outros são, E dizer sim, quando sinto não. Por isso eu sou diferente. Eu sinto o que não sente O mundo à minha volta, E ardo em labaredas de revolta, Contra a mentira, contra a hipocrisia Faço a minha luta em pleno dia, Não busco vielas, ou ruas tortuosas, Não misturo os espinhos com as rosas. Tenho coragem para ser assim Para mostrar o que existe em mim, O que penso e sinto. E é porque não minto, Que existe entre mim e vós, fosso profundo, Separando o vosso do meu mundo. Bemvinda Margarida Ano - Nº12 e 13 - O Mugense Julho - Agosto de 1977

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A FAMÍLIA Família, sete letras somente, Mas que representa a obra maior do Criador. Família, que é flor, que é fruto e que é semente. E deveria ser a planta do verdadeiro amor. Planta forte, robusta e vigorosa, Com a graça delicada de uma rosa E a robustez do carvalho secular. Família e lar, Bendita realidade, Berço em que se embala toda a humanidade. Mas, ai, quantas e quantas vezes, Os lares portugueses, Em vez de serem a fonte da graça, São antes a semente da desgraça. A época é outra, o mundo está mudado. Isto é mentira, isto está errado. O mundo é o mesmo dos nossos avós, Quem está mudado somos nós. Hoje, filhos à solta, Filhos em cujos corações há a revolta. Em vez do amparo, o abandono, Em vez da vigilância, o profundo sono. Se a sociedade está assim, Torpe, mesquinha, mim, Se só ouvimos lamentações e ais, Não será porque não há bons pais?... Bemvinda Margarida Ano II - Nº15 - O Mugense Julho - Agosto de 1977

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SANTO NATAL Dezembro amigo Trazes contigo O Santo Natal. Cristo continua vivo Como Rei Divino De Portugal. Dezembro… frio e quente, Em que a Família sente As bênçãos do Salvador. Foi o querido Jesus Que ao Mundo trouxe a Cruz, A Luz do seu Amor!... Em noite de Natal, Por graça celestial, Nasceu o Deus-Menino. Rei da Humanidade, Chefe da Sociedade, Pai dos pobres, Pai Divino. Noite Santa e de união, Tu és uma lição P’ra os que respeitam a Cruz. Repleta de doçura, Dás ao Mundo a ternura Do nosso amado Jesus!... Dezembro… contigo nem O afecto e o bem, Dum dia lindo e melhor. Esse dia pequenino, Por graça do Rei Divino, É de todos o Maior!.. Adélia Faria Raposo Ano II - Nº17 - O Mugense Dezembro de 1977

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Equipa de futebol, ano de 1949, campo futebol da Casa do Povo de Muge

Carolina Jorge e Maria Margarida, a “Dar água à cura” na Corte Chamusca, ano 1961

Construção da Casa do Povo de Muge, Francisco Lindinho e João Oliveira, ano 1960

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SABER VIVER Mais um ano que passou, Uma folha se virou Ao calendário da vida. Passou-se numa corrida, Um dia, após outro dia, Numa louca correria. Atrás de quê nós corremos? Para quê nós viveremos? Fortuna… bens passageiros? Honras… bens lisonjeiros? Merece a pena, merece, Lutar-se pelo que apetece, Desprezando os bens eternos? E ao fim de muitos invernos, De uma luta em vida dura, Afinal, o que perdura? Por isto não quero lutar. Quando a vida terminar, Não importa as mãos vazias, Mas terão sido úteis os dias Que Deus me deu p’ra viver, Se cumprir o meu dever. Bemvinda Margarida Ano II - Nº17 - O Mugense Dezembro de 1977

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VAIDADE Vaidade… por que és vaidoso, Altaneiro, presunçoso, A pensar que és superior? És grande… por seres doutor? Agradece ires estudar E o teu pai poder pagar. Envaidece-te a formusura? Pensa, antes, na tortura De quem nasceu aleijado. És inteligente, atilado, Pensas ter grande valor? Mas já pensaste na dor De um atrasado mental? Hás-de concluir, afinal, Que, por ti, nada fizeste, Para os bens com que nasceste. E se já, pela vida fora, Bens e honras tens agora, Não os levas no caixão, Cá na terra ficarão. Peço-te licença, amigo, P’ra te dizer, como digo, O que sinto, de uma vez. A vaidade… é estupidez. Bemvinda Margarida Ano II - Nº18 - O Mugense Janeiro de 1978

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O PATINHO Sai do ovo um patinho, Muito quentinho, E diz p’ra uma flor: Que fazes aqui? Espero por ti… Com amor!... Vestida de branco, Com lindo manto, Uma gaivota passa a voar. Muito quentinho, Pergunta-lhe o patinho: Vais até ao mar? Uma cigarra Parece zangada Em sua canção. E o patinho, Muito quentinho, Aperta-lhe a mão. Passa um grilinho… Gri… gri… gri… É a sua canção. E o patinho, Muito quentinho, Escuta com atenção. Chega a mãe patinha, Chama o filhinho Com muita dedicação. E o patinho, Sempre quentinho, Fica junto do seu coração!... Adélia Faria Raposo Ano II - Nº21 - O Mugense Abril de 1978

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MÊS DE MAIO Mês de Maio, foi neste mês Que, pela primeira vez, Tive a dita de ser mãe. Foi neste mês que, também, Nasceu o meu primeiro neto. Mês, para mim, repleto De lembranças boas, más. Ao pensamento me traz, Com uma profunda saudade, Lembranças da mocidade, Sonhos de mulher-já-feita. E a lembrança me deleita De um sonho feito verdade, Hoje vivo na saudade. Maio lembra-me, a mim, As festas do Escaroupim As mais belas que vivi, Porque nelas eu senti A verdadeira amizade, Feita de amor e verdade, Que une os filhos de Deus. Ligou-se a Terra aos Céus, E mostrou-se, nesse dia, Uma cristã alegria Que só nos deixa saudades Três sonhos, três realidades, Que o mês de Maio me ofertou, E, por isso, grata estou. Bemvinda Margarida Ano II - Nº21 - O Mugense Abril de 1978

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AOS MEUS FILHOS Criança, a quem dei a vida, Que, ao meu colo, embalei. Oh tanta noite perdida, Tanta lágrima que chorei! Cada doença um tormento, Cada gracinha, um prazer, E, assim, em cada momento, Tu me ensinaste a viver. Vida mais rica e mais nobre, Porque p’ra ti a vivia. Como seria tão pobre Sem a tua companhia! És um pedaço de mim, Semente que me germinou, E nunca mais terá fim O laço que nos ligou. A tua infância fugiu, Mas já depois de crescer, O cordão que nos uniu, E foi partido aos nasceres, Continua em cicatriz, E em mim, num amor tão profundo, Que, para tu seres feliz, Eu daria a volta ao mundo. Não sei traduzir-vos bem, Por palavras tão banais, O que é amor de mãe, Ou, por outra, amor de pais. Hoje, dia da criança, Uma prenda queria dar, Mas já não tenho esperança De a conseguir alcançar. Sinto um desgosto profundo, Filhos, eu queria oferecer A melhor prenda do mundo, A mãe que não soube ser. Ano II - Nº22 - O Mugense Maio de 1978

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ACORDA, OH HOMEM “A água é vida”. Grito de alarme mundial, Verdade tão esquecida E que o homem, p’ra seu mal Tanto tem desprezado. Meu Tejo de antigamente, Tão de peixes povoado. E onde hoje, raramente, Pesca boa se alcança. Minha vala do Rossio, Onde brinquei em criança. A tua água, meu rio, Tão límpida, tão transparente, Que deixava ver o fundo, Causa repulsa à gente Pelo seu aspecto imundo. Peixes gostosos de outrora, Os sáveis tão abundantes E que são raros agora; Enguias, gostosas antes, E agora sabendo mal. Mas o que se passou, Que aconteceu afinal? É que o homem abusou

Do que tinha em seu redor, E, para melhorar a vida, Já torna a vida pior. Indústria desenvolvida, Melhores meios de cultivar, Sem dúvida que é preciso, Mas a água há que salvar, Precisamos de ter juízo. É companheira diária, Nós não vivemos sem ela, Para tudo é necessária, Precisamos ter cautela. Pesticidas, porcaria, Não vamos deitar à água. Os nossos filhos, um dia, Nos perguntarão, com mágoa: “Que fizestes vós dos rios? Que fizestes vós das fontes? De peixes já estão vazios, Só há lama sob as pontes”. Homens, de mente sã, Acordem, que o tempo foge, Não deixem para amanhã, Comecem a fazer “Hoje”. Bemvinda Margarida Ano II - Nº24 - O Mugense Julho de 1978

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OS CAMPOS DA MINHA TERRA Os campos da minha terra São extensos e produtivos. A muitas terras quem dera Ter assim campos amigos. Dá-nos legumes, cereais, E também frutas diversas. Dão-nos outras coisas mais Se o tempo for de promessas. Há terrenos com melões, Vinhas com cachos dourados, Há juvenis corações No peito dos namorados. Há o Tejo sempre a correr Para os campos refrescar. Há nele gado a beber P’rá sua sede matar. Há passarinhos voando E nos campos lindas flores. As avezinhas cantando, Procuram os seus amores. Gosto de ver as lavouras E o Sol luzindo a pino. Gosto das espigas louras, Gosto de ver um campino. Nos campos da minha terra Gostamos de passear, Nos belos campos de Muge Há saudades a recordar!... Adélia Faria Raposo Ano III - Nº25 - O Mugense Agosto de 1978

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VIDA E MORTE A Vida! O que é a Vida? É somente uma corrida Para um fim, que é a Morte. Ela leva fraco e forte, Leva o velho e leva o novo. Morre a nobreza e o povo. Diz-se e com muita razão, Que levamos p?ró caixão Somente o corpo mortal. Nem posição social, Nem bens que se possa ter, Nos poderão valer, Quando Ela bater à porta. Por isso, a mim, que mais importa, A minha união com Cristo. Tudo se resume nisto: A vida é breve passagem, Quando da “Grande Viagem”, Que eu pudesse dizer: Vivi bem, p’ra bem morrer. Bemvinda Margarida Ano III - Nº26 - O Mugense Setembro de 1978

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RIO TEJO Nasces em Espanha, És rio internacional. As nossas terras banhas, Atravessas Portugal. Tuas águas, suavemente, No teu leito deslizando, Parecem que, ternamente, Tuas margens vão beijando. Da Serra de d’Albarracim Partes sem nunca cansar. Parece quase sem fim O caminho até ao mar. Partes, cheio de ventura, P’ra visitares Portugal. E dares a tua frescura, À minha terra Natal. És o rio das lezírias, Delas és a toda a hora. As terras que fertilizas, Não querem que vás embora. Banha as terras portuguesas, Vem ao nosso Portugal, Admirar as belezas Da nossa Pátria Imortal!... Adélia Faria Raposo Ano III - Nº26 - O Mugense Setembro de 1978

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Escola Rua João de Deus, ano de 1960, Professora D.ª Virgínia

Escola Salão Paroquial, ano de 1959

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UM MUNDO MELHOR Fim de Dezembro, balanço De todo um ano vivido. E, sem demora ou descanso, O tempo foi-nos fugindo. Segundo, minuto, hora, Dia, mês, e faz um ano. Tem sido assim, vida fora… Ano novo, novo engano De um novo mundo melhor? Ou nasceu de nova esperança, Como a mãe, mesmo com dor, Ao nascer sua criança? Pode ser, eu sei que pode, Mudar-se o que está errado. Neste mundo, que sacode, Instável, convulsionado, Como em fúrias de vulcão, Grita-se de ódio e vingança, Luta-se, de armas na mão, Por uma réstia de esperança,

Opuséssemos o amor, Poderíamos já, nesta hora, Erguer um mundo melhor. “Não faças o que não queres Que, um dia, a ti alguém faça”. Todos nós, homens, mulheres, Para além da cor ou raça, Da política ou das crenças, Que nos causam desavenças, Podemos ser tolerantes E ajudarmo-nos, com amor, A construir, quanto antes, Um novo mundo melhor. Eu não posso exigir Dos outros, mais que de mim, Há quem só viva a mentir, Para alcançar o seu fim. Parece-me que um melhor mundo, Só se pode obter, Quando nos empenhamos, a fundo, Cumprindo nosso dever. Bemvinda Margarida Ano III - Nº27, 28 e 29 - O Mugense Outubro - Novembro - Dezembro de 1977

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RIBATEJO Meu Ribatejo amado, Os teus campinos, teu gado, Mancha de cor que não esquece, E a humildade enternece Daquele campino tão forte, Afrontando a própria morte P’ra cumprir o seu dever. Ribatejo, deves ser, És, pelo menos p’ra mim, Jóia de valor, sem fim, Pérola que não tem rival Na coroa de Portugal. O que te falta? Não sei. Entre as províncias és rei, Atrás de nenhuma ficas. As tuas terras tão ricas, A tua gente tão nobre, Fazem parecer pobre Outra província qualquer. Não é por muito te querer, Não por em ti ter nascido E em cada dia vivido, Que a minha boca assim diz. Do norte ao sul do país, Dizei-me aqui com verdade: Onde se encontra a variedade De culturas que aqui temos? Nós todos bem o sabemos, Se o Alentejo é o celeiro, Nós somos o fazendeiro Que tudo um pouco produz. Nós somos calor e luz. Tudo Deus aqui pôs: O trigo, milho e arroz, O azeite e muito vinho, Sobro, eucalipto e pinho, E toda a espécie de gado. Ribatejo abençoado, Por tudo aquilo que sei, Repito: tu és rei. Bemvinda Margarida Ano III - Nº27, 28 e 29 - O Mugense Outubro - Novembro - Dezembro de 1977 Cadernos de História e Memória III


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PRIMAVERA Já cá temos as andorinhas, Emigrantes avezinhas, Que nos haviam deixado. E em Portugal, de novo, Esperam por cada ovo Um filho muito amado. As andorinhas voando, Sob o nosso céu chilreando, Parecem jamais cansar. Mataram suas saudades, Sentem felicidades, Desejam Portugal saudar. À Pátria Portuguesa, Elas dão sua beleza, Esvoaçando no horizonte. Aos campos dão alegria, Voando à luz do dia Por cima de qualquer monte. Depois regressam aos ninhos, Onde têm seus filhinhos P’ra lhes dar o seu amor. No seu pequeno coração Há a maior gratidão Para louvar o Senhor!... Saem de novo do ninho, Feito de terra e carinho, Trabalhado com ardor. As belas andorinhas E todas as avezinhas Dão graças ao Salvador!... Adélia Faria Raposo Ano III - Nº31 - O Mugense Fevereiro de 1979

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INTRODUÇÃO No nosso último jornal, Houve grande trapalhada, E a poesia “Carnaval”, Apareceu lá mascarada. Por isso, ela volta a vir, Tal qual como a escrevi. Deu-me vontade de rir A primeira vez que a li. Uma poetisa afamada Concerteza não serei, Mas tão grande trapalhada É que nunca escreverei

CARNAVAL Carnaval está a morrer, Não é como antigamente, É o que se ouve dizer Na boca de muita gente. Na rua pouca alegria, Nem parece Carnaval. É como um outro dia Vivido no trivial. Pouca gente mascarada, Já não se usa empoar; Não se faz uma cegada, Que nós possamos lembrar. A que isto será devido, O desinteresse total Por este tempo vivido. Que se chama Carnaval?... Talvez seja por haver Um Carnaval todo o ano, Que nós não vamos fazer De três dias um engano. Tanta gente mascarada Durante um ano inteiro, A fazer a misturada Do falso com o verdadeiro Veste a máscara de estudar O que os livros só passeia, Veste a máscara de ensinar

O que só dinheiro anseia. Veste a máscara de um partido Aquele que quere subir. Só pretende ser servido, Não lhe importa mentir. A máscara do desinteresse, A máscara do bem servir, Em muita cara aparece De quem só quere subir, Ou vingar-se em alguém De ofensas já passadas. Se formos a olhar bem, Há pessoas mascaradas. Mascara-se o mandrião De trabalhador esforçado; Mascara-se o mau patrão De protector desvelado. Mascara-se o mau de bom, O parvo de intelectual, E vive-se, sem tom nem som, Um constante Carnaval. Para que havemos de ter Mascarados só três dias, Se estamos sempre a viver Carnaval de hipocrisias?

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Bemvinda Margarida Ano III - Nº32 - O Mugense Fevereiro de 1979


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SALDO DO ANO LECTIVO O ano lectivo acabou E para quem cabulou, Que rica vida passou! Os livros só passeou, A cabeça não cansou, Energias não gastou. E sem cábula chumbou Foi o professor que embirrou. Ele, coitadinho, estudou E bastante se esforçou, Mas o professor não ligou… Se alguém lhe perguntou, De uma coisa certa estou: Aquele que cabulou Dirá, culpado não sou Daquilo que se passou. Afirmará que estudou E que o professor embirrou. Bemvinda Margarida Ano V - Nº35 e 36 - O Mugense Agosto - Setembro de 1980

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MENSAGEM Como católica e mugense, Afirmo aqui a minha crença No papel que pertence A uma Rádio Renascença.

Para nós, mundo melhor, Resume-se apenas nisto: Aplicar com amor Os ensinamentos de Cristo.

Em época de convulsão, Neste mundo perturbado, Há uma constante agressão Pelo escrito e pelo falado.

Mas a verdade é esta: Muito de escrito e falado Só no traz o que não presta Deste mundo perturbado.

Precisamos todos nós De saber a realidade, Mas ouvindo uma voz De fé, esperança e caridade.

Pelo som e pela imagem, Em cada dia que passa, Chega-nos uma mensagem De violência e desgraça.

De fé em Cristo Senhor, Pois só Ele é a verdade; Esperança em mundo melhor, Fundado na caridade.

E o homem, que é nosso irmão, Sentindo-se desamparado, Sem ter Deus no coração, Tornou-se desesperado.

Caridade que é amor, Por isso, o único caminho Para um mundo melhor, De paz, partilha e carinho.

Temos de opor barreiras Ao desespero e descrença, E uma das maneiras É ajudando a Renascença.

Não a paz dos instalados, Mas a paz que será filha Dos homens interessados Numa fraterna partilha.

Ela é a nossa voz, É a voz do nosso amor, É a firmação de que nós Queremos mundo melhor. Bemvinda Margarida Ano V - Nº35 e 36 - O Mugense Agosto - Setembro de 1980

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APELO Há dentro de mim a esperança De cada criança, Que nesta terra morar, Venha a ter onde brincar Estando bem acompanhada. Mais tarde, valorizada, Continuará sua vida, Tendo em ponto de partida Melhor que o dos seus pais. Precisamos cada vez mais De cidadãos conscientes, E esses serão os entes, Pequeninos ainda agora, Que amanhã, vida fora, Com melhor preparação, Irão fazer a Nação, Segura, próspera e unida, Onde seja boa a vida. Não boa para os comodistas, Não boa para os egoístas, Que só pensam em bem-estar.

Boa sim, para quem lutar Por si, e por toda a gente, Com o propósito assente De ajudar a construção De uma bela Nação, Onde os jovens amanheçam E os velhos envelheçam, Sentindo que são amados, E nunca abandonados. Para isto nós lutamos, Para isto nós precisamos De termos aqui em Muge, Certas obras, que urge Edificar sem demora Para que amanhã, vida fora, Velhos, novos, desta terra, Possam fazer sua guerra Por um amanhã melhor. Eles precisam de amor, Da nossa generosidade, Para tornar realidade, O que ontem era sonho. Para que, em dia risonho, Estejam edificadas As obras tão desejadas Por isso levanto a voz: Mugense, junta-te a nós. Bemvinda Margarida Ano V - Nº37 - O Mugense Outubro de 1980

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CONFIANÇA Querer é poder, diz o nosso povo E, parece-nos, que desse querer, Nos virá a surgir algo de novo, Que será como que um renascer Para a nossa terra muito amada. Possamos nós ter uns anos de vida, Para ver nossa Muge transformada. Vila velhinha, para nós tão querida, Desperta, abre os olhos para o mundo. São mais que horas para o despertar! Deixarás de dormir sono profundo, E aos teus vindouros irás poder dar A paz do pão ganho em sua terra. Praza a Deus que cada, filho teu Que, longe, em país alheio erra, Possa, em breve, voltar ao ninho seu, E criar famílias reunidas. Que não volte a ser preciso emigrar, Para poderem ganhar as suas vidas. Sonhos… Nós não estamos a sonhar; Mais do que esperança, há uma certeza De que Muge irá mudar para melhor. Se tivermos fé e muita firmeza, Se nos pusermos sempre ao seu dispor, A nossa terra irá engrandecer E poderá seus filhos albergar. Que cada um de nós possa dizer: “Que estou disposto a colaborar”. A obra é de todos, não só de uns. Todos passamos e a obra fica. Pelo menos calemos os zunzuns De quem nada faz e só critica. Este novo ano já viu nascer Empreendimentos que, no futuro, Serão a garantia de um viver Mais desafogado e mais seguro. Cresce e jardim de infância já nasceram Nasceu o nosso corpo de bombeiros, Terrenos para fábrica já se venderam. Por isso, há motivos verdadeiros

Para que o nosso optimismo se mantenha. Mas é preciso muito trabalhar. Não esperemos que só do céu venha O que devemos nós realizar. Deus nos ajude, mas o nosso esforço Tem de ser constante, dia a dia, Para que vejamos aquilo que é nosso, Prosperando em paz e alegria. Obras começadas, outras a fazer, Como o centro de dia para idosos, Elas terão de vir do nosso querer, E não obras duns tantos, desejosos De verem sua terra progredir. Todos unidos muito poderemos, Muito longe conseguiremos ir E nossa meta assim alcançaremos. Eu, que sei do bairrismo dos mugenses, Digo com orgulho e alegria À terra a que tu e tu pertences, E minha também: “Muge confia”.

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Bemvinda Margarida Ano V - Nº40 - O Mugense Janeiro de 1981


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O MUGENSE Bem ou mal Temos um jornal Podia ser melhor, Mas, se não existisse, era pior. Há necessidade de um jornal de verdade, Que nos ligue a todos nós, E que vá, lá longe, levar a nossa voz. Os que estão ausentes Tornam-se presentes E a sua terra fica-lhes mais perto… Está profundamente certo Termos um jornal, Mas está profundamente mal, Que tu e tu, mugenses como eu, Não o sintas, como se fosse teu. Não terás pena, se acabar um dia? Não sentirás Muge mais vazia, Sem um valor Que lhe foi dado por amor? Estará mal O nosso jornal? Muito poderia melhorar, Se o quisesses ajudar. Sinto que o Mugense, Que a todos nós pertence, Merecia um maior carinho Para prosseguir o seu caminho. O comodismo, a apatia, O limitar-se a viver o dia a dia, A crítica destrutiva, Que é uma chaga viva A ferir o corpo social, Entravam o jornal. No entanto, alguma coisa fica De quem se sacrifica. E há uma razão forte Para não o condenar à morte E ir avante: O emigrante. Bemvinda Margarida Ano V - Nº41 - O Mugense Fevereiro de 1981

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RESPOSTA A UMA CARTA Agradeço-te, Maria Rita, Porque me deste a dita De receber uma carta. Às vezes, exausta, farta De tanto e tanto afazer, Penso de nada valer O esforço despendido. Que em vão, sem sentido, O constante labutar, Que será melhor parar. Deste resposta concreta À pergunta inquieta, Que muitas vezes eu faço: Vale a pena este cansaço? Parece até que sabias Os versos, que só lerias No nosso último jornal. A tua carta, afinal, Vem dar razão aos meus versos. “O Mugense” une os dispersos, Ligando-os, em pensamento, Aumentando o sentimento De uma fraterna união. Mas vai surgir um senão, Como lerás no “O Mugense”. O futuro a Deus pertence, Mas talvez, para nosso mal, Acabará o jornal. Bemvinda Margarida Ano V - Nº42 - O Mugense Março de 1981

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Banda de Música de Muge, Rua Henrique Martins, ano de 1955

Banda de Música de Muge no Largo da Igreja, década de 40

Procissão, Rua Armindo de Jesus, ano de 1957

Banda de Música de Muge no Largo da Igreja, ano de 1962

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RECORDAÇÃO DO PASSADO Há datas nunca esquecidas Pois marcaram nossas vidas. Por um ou outro motivo, Ficaram em nosso arquivo Esta, a outra e aquela… Domingo de Pascoela É data sempre lembrada, Pois, em época passada, Era um dia de festa. Dele, afinal, só nos resta A lembrança do passado. Dia da ferra do gado, Que valor para nós tinha! Oh tanta gente que vinha, Até mesmo de Lisboa, Por a festa ser tão boa. Ficavam todos contentes, E, nunca, para estas gentes, A expectativa foi vã. Logo, a meio da manhã, Começava a desfilada Dos toiros vindo em largada, Pelos campos do Rossio. E, se algum mais bravio, Se desviava e fugia, Oh meu Deus, que correria Das gentes em debandada, Com medo de uma cornada! Por fim, sem haver desgraça, O gado entrava na praça. Depois, à tarde, era a ferra, Como que uma guerra Entre toiros e peões. Com os carros lezirões

Aos meus muros encostados, Com camarotes armados, A praça estava catita, Colorida, bem bonita. Sempre cheia, como um ovo, Sem poder levar mais povo. Oh tanta e tanta cena Se passou naquela arena! Riamo-nos como uns perdidos, Dos toureiros atrevidos. E, quando em vez de um bezerro, Saído para pôr o ferro, Soltavam dois e até mais, Que barafunda! Jamais Esquecerei as brincadeiras Destas tardes soalheiras. Houve anos de lauto almoço, E, de repente, eu posso Lembrar-me, talvez, de algum. Já sei: o do “Sector 1” Que alegria nesse ano! Almoço ribatejano, Muito bem acompanhado Por belas vozes do fado. À noite, sempre havia, Para acabar bem o dia, Um espectáculo, não na arena, Mas na casa do cinema. Bom teatro de amadores! Muge sempre teve actores. Já vai longa a poesia Recordando aquele dia Da longínqua mocidade, Hoje vive pela saudade. Bemvinda Margarida Ano V - Nº43 e 44 - O Mugense Abril - Maio de 1981

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VALEU A PENA Tenho feito tantos versos, Que se encontram dispersos Por onde? Nem eu sei bem. Pareço-me com uma mãe, Que perde os filhos de vista. É provável que exista Em poder de quem me leia, Algo de que não tenho ideia. Muito do que escrevi Há tanto tempo esqueci! É que esta realidade É fruto de uma verdade: Nunca escrevi para mim. Tudo o que fiz tinha o fim De contribuir, com amor, Para haver um mundo melhor, Detestei sempre escrever E somente, por dever, Por um dever de amizade, Eu escrevo, mas sem vontade. Versos feitos a correr, Sem tempo para os reler; Artigos alinhavados Em uns momentos roubados Aos deveres de cada dia. Feitos em correria, Sem tempo para pensar. Mas se isto te ajudar, A ti, amigo distante, Direi muito confiante E de consciência serena, Que tudo valeu a pena. Bemvinda Margarida Ano V - Nº43 e 44 - O Mugense Abril - Maio de 1981

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RECORDAR É VIVER Muge… Meu pequeno torrão Estás bem vincado Dentro do meu coração. Se o nosso querido jornal É um cantinho familiar Com os meus velhos conterrâneos Com saudade quero o passado recordar. É simples esta poesia Singeleza de coração Não tem sombra de categoria É somente recordação. À entrada da nossa terra Já quase esquecida Vê-se a velha ponte romana Pelas águas carcomida. No rio que corria ao lado Viam-se mulheres nas pedras a lavar Um campino que surgia gritando… Fujam mulheres… Os touros vão chegar; Fugia-se a toda a pressa Sem da roupa quase saber Do cimo do aterro contemplava-se Os corpulentos e negros touros a beber; Era chegado o inverno A cheia inundava o campo Era lamentável a situação Mas paisagem de beleza e encanto; Uma pequena e tosca barca Atravessava as águas barrentas O bater dos remos, parecia dizer Ao enrugado barqueiro: Porque te lamentas? Tem coragem… Deus cuidará de ti; Porque te atormentas?... Para suavizar a situação

Logo mais, chega o carnaval Diziam os mais idosos Quem tem vontade de brincar Com tanto mal? Mas gente nova Dias de folia e brincadeira E no grande berço de madeira O bebé Patrício Ficou-nos na memória E de que maneira; Rapazes vinham para a rua As moças enfarinhar Elas fugiam gritando, Mãe… não os deixe entrar; Outras mais destemidas Vinham para a rua também Deixando-se enfarinhar; Era chegado o verão, Tempo das vindimas Canecos à cabeça das raparigas Enchiam de uva a dorna Cantando improvisadas cantigas; Saía a banda para a rua Estalavam foguetes no ar Crianças corriam felizes, contentes, Via-se também velhas mães chorar. Era dia de futebol Ouvia-se numa só voz de entusiasmo, Marosca passa a bola, Jarego ela está perto Chuta agora Cadete E era golo certo; era golo certo!... A Troupe Jazz os Trafulhas Grupo alegre e de bom som musical Havia um saxofone tenor Jamais houvera outro igual; A este Deus chamou; Ao Lar Celestial…

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Blusa azul, calça preta Ao pescoço lenço amarelo Foi a farda que estrearam Ao levantar do pano com entusiasmo A marcha dos foliões tocaram; Uma lágrima teimosa Caiu-me pelo rosto ao recordar A mocidade do meu tempo… Manuel Augusto, José António, Vital, e outro que não quero falar… Também as raparigas Manuela, M. Faria, Adélia E outras mais Passeávamos em grupo ao domingo Com nossos vestidos domingueiros E pensamentos iguais. 40 anos são passados E uma saudade Se deixa transparecer Recordar é viver. J. M. L. G. - Paris Ano V - Nº43 e 44 - O Mugense Abril - Maio de 1981

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MUGE Tens filhos teus, Espalhados p’lo Mundo, Que recordam os seus Com afecto profundo. Alguns falam com saudade, Nos tempos que já lá vão, Recordando a mocidade Que nos alegrou o coração. Esses, por mim, são estimados Com sincera ternura. Merecem ser lembrados Em horas tristes ou de ventura. A mocidade passou. É fácil ela passar. Mas com isso não deixou O passado terminar. O passado liga ao presente Numa saudade infinita. E aquele que está ausente Mais na saudade medita. Quem vive em sua Nação Ou na terra onde nasceu, Não diz com emoção: -Onde m’encontro eu?!... Tão longe da terra minha!... Tão longe donde vivi!... Quem me dera ainda Na terra onde nasci!... Mas… estou a imensa distância De suas casas e pinhais. Sinto saudades da minha infância E da minha terra… ainda mais!... Adélia Faria Raposo Ano V - Nº45 e 46 - O Mugense Junho de 1981

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POESIA Eu tinha de estar presente… Colégio de Benavente Ele marcou na minha vida Época nunca esquecida. Época plena de amizade, Que recordo com saudade E uma profunda ternura. A recordação perdura, Acompanhando os meus dias. Nem me lembram arrelias. Foram bem recompensadas. Horas boas lá passadas, Eu que senti o calor De uma vivência de amor. Pois foi amor que vos dei, Quando convosco ralhei: “Não estudaram a lição”. E vos pregava um sermão: “Tendes de vencer na vida”. Quando fazia a partida, Que me levavam a mal, De uma chamada geral. Quando, algumas vezes, Para evitar os reveses. Pontos todas as semanas.

Vocês já sentiam ganas Até de pragas rogar, Para que eu fosse faltar. Mas fiz tudo por amor, Queria para vós o melhor. Meus filhos, como eu dizia. Acreditem, que sentia Que Vós ereis meus também Talvez fosse uma mãe Exigente, rabugenta, Mas procurei estar atenta Ao que julguei vosso bem, Como se fora uma mãe. Falhei às vezes, talvez Em muita e muita vez, Sem disso me aperceber. Mas, hoje, quere-vos dizer: Por tudo o que fiz de errado, Talvez por ter magoado, Por toda a incompreensão, Eu vos peço perdão. Mas acima dos fracassos, Que acompanharam os meus passos, Há um bem, maior talvez: O meu amor por vocês. Bemvinda Margarida Ano V - Nº45 e 46 - O Mugense Junho de 1981

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Procissão, ano de 1960, junto à Capela da Casa Cadaval

Igreja da Misericórdia, década de 40

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SANTOS POPULARES Rapazes de Muge Com certa emoção Vamos a cantar Que é p’rá nimar O nosso São João A cantar bem alto P’ra que tudo oiça e veja Da rua de Santo André, tudo bate o pé Até à igreja Estribilho Rapazes e raparigas Não se mostrem com fadigas Que lhes traia o coração Mostramos pois com cantigas Em bicha como formigas Que é noite de São João. Vamos cantar bem alto, rapazes Porque no fim tudo resta Até mesmo o próprio santo Diz adeus com um certo encanto Que a sua noite está em festa “Outrora a quadra dos santos populares era festejada cá no burgo. Rapazes e raparigas armavam arrais, queimavam alecrim e pinheiros, dançavam ao som de concertina e jazz e, ainda tinham tempo para explorar quermesse, barraca de chá, etc. Faziam dinheiro e divertiam a terra. A mocidade de hoje não quer esse trabalho. Para quê? No entanto sabem dizer que não se faz nada, que vamos a trás de todos, etc…. Mas, antigamente, quem divertia e em que houve marchas populares, era a mocidade dos quinze aos vinte anos. Belos tempos. Ainda nos recordamos de um ano em que houve marchas populares. O “poeta” foi o nosso conterrâneo João Vieira Sabino. Para que fique, publicamos a letra de uma das marchas” João Vieira Sabino Ano V - Nº45 e 46 - O Mugense Junho de 1981

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APELO AOS EMIGRANTES Chegas alegre num sentido E triste noutro Pois ao teu país chegaste E o encontraste como novo. Pensas ir novamente Mas também um dia voltar; Emigrante sentes-te capaz De um dia regressar. Regressar à tua terra Tão querida e para ti linda; Sabes tão bem quanto eu Que é assim a tua vida. Não penses que te esqueceram, Há alguém que te recorda; Pensa na tua vida futura E vem a Portugal agora. Portugal o teu país, Tão querido e estimado, Todos amamos emigrante Não te sentas humilhado. Cá procuraste a tua vida, Não encontraste infelizmente. Volta emigrante! Te esperamos alegremente. Da família tens saudades E eles de ti também; Emigrante eu te espero E cá te recebo bem. Pensas vir um dia mais tarde Para a tua terra natal; É tudo quanto desejo; Chegues feliz a Portugal. Virgínia Vieira Ano V - Nº46 e 47 - O Mugense Julho - Agosto de 1981

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MUGE Ó Muge, minha terra, Terra esta onde nasci, Conheço-te muito bem, Pois sempre cá vivi. Vivi e espero viver, Com ela muito aprenderei A andar a sonhar Assim sempre sorrirei. Sorrio com alegria E pena de te deixar Tenho saudades de ti Muge Se pensar te abandonar. Se te abandonar voltarei Para fazer várias visitas Mas de ti sempre sentirei Umas saudades infinitas. Sinto saudades! Porque aqui nasci, cresci, estudei E fiz tudo É pena não haver mais Para termos mais futuro. Espero progresso em todos os aspectos Pois Muge tens possibilidades, Mas não tentes imitar A personalidade das outras cidades. Cidades com poluição Não são muito interessantes Podes vir a ser também Mas sem tantos desencantos. A poluição faz mal Todos sabemos muito bem Mas a zona industrial Não fará mal a ninguém. Virgínia Vieira Ano V - Nº46 e 47 - O Mugense Julho - Agosto de 1981

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Casamento Dolores e Arménio, ano de 1966, Rua Vasco da Gama

Casamento na Igreja Matriz de Muge de D.ª Virgínia e Dr. David, década de 30

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AOS MEUS FILHOS Eu hei-de ser capaz De caminhar, p’ro alto. E com passo firme Sem sobressalto, Não voltar atrás. Se cair na subida Eu hei-de ser capaz De lutar, De me erguer De sonhar E de cabeça erguida Hei-de tentar Hei-de sorrir Mesmo em horas más Hei-de subir Hei-de teimar Até sucumbir Mas hei-de, hei-de ser capaz. Aida Carvalho - 1980 Ano VI - Nº48 e 49 - O Mugense Setembro - Outubro de 1981

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SER MUGENSE Muge, Muge, oh minha terra, Para mim não há igual, És das Vilas mais antigas Das Vilas de Portugal.

Muge, minha terra querida, Em ti não perdemos a crença, Já tens para te difundir, A Rádio Renascença.

Num constante labutar, Arrancas da terra o pão Para os filhos sustentar, Ao som de uma canção.

Teus campinos afamados, Orgulho da nossa raça, É vê-los, bem aprumados, Conduzir toiros à praça.

Estribilho Pr’a frente, p’ra frente, Não te deixaremos morrer, P’ra frente, p’ra frente, É preciso renascer. Oh terra querida Não pares, que o tempo urge, Teus filhos querem-te grande, Oh Muge, Oh Muge. Tens ao Norte os teus vinhedos E Casa Cadaval, Ao Centro o parque de jogos, A Sul a zona industrial.

Teus campinos são famosos, São a flor do Ribatejo Nas lezírias verdejantes, Junto às margens do Tejo. Teus concheiros encerrados Estão na História Universal; Tens a Ponte dos Romanos Que habitaram Portugal. Muge, Muge, minha terra, O nome te fica bem. És banhada pelo Tejo, Distrito de Santarém. M. R. Ano VI - Nº48 e 49 - O Mugense Setembro - Outubro de 1981

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MEU VESTIDO BRANCO Como sonhei contigo, meu vestido branco, Meu vestido puro, meu vestido querido, Hoje estás esquecido, metido a um canto, Como estás velhinho, meu lindo vestido! Tua cauda branca, agora amarela, As tuas missangas já não têm cor, Meu vestido branco, agora aguarela, Resto dum passado, pedaço de Amor. Mas quando partir e sentir saudade, Enlaça-me o corpo, aperta-me bem, E lá bem no alto, na Eternidade, Vivamos unidos, sonhando também. Aida Paiva de Carvalho Marinhais, 22-10-1980 Ano VI - Nº50 e 51 - O Mugense Novembro - Dezembro de 1981

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O POBREZINHO O pobre vai caminhando, Sem alegria sentir, E, tristemente, pensando Que não tem onde dormir. Não tem família nem lar, Não tem bem à sua beira, Não sente um pouco de bem-estar Nem o calor da lareira. O pobre, chorando, disse Que vive muito sozinho E é a sua velhice O ninho que tem de carinho. Ele chora e tem razão, As lágrimas são companhia. Sente triste o coração, Não pode ter alegria. Deus dê ao pobrezinho Alívios na sua dor, E lhe dê o seu carinho E a bênção do seu Amor. Se o pobre mereceu a graça, Do amparo do Senhor, Não será pobre… Deus o faça Herdeiro do seu Amor!... Adélia Faria Raposo Ano VI - Nº52 e 53 - O Mugense Janeiro - Fevereiro de 1982

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TRABALHADOR RURAL Das agruras da vida, desenganos, De labutas constantes, todos estes anos Que gastaste de enxada na mão. O teu sangue e o teu suor, Com algumas alegrias e muita dor. Eu te agradeço a ti, do coração, Tu, homem rural, trabalhador, Sujeito à chuva, frio ou calor Tu, homem rural… Que nasceste para produzir, Que vieste para trabalhar, Tu, és, o trabalhador de Portugal! H. F.

Ano VI - Nº52 e 53 - O Mugense Janeiro - Fevereiro de 1982

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AMOR E NÃO ÓDIO A humana impaciência Vai quando a violência, Que campeia pelo mundo. Há um mal-estar profundo Na nossa sociedade. Apelos à fraternidade, À justiça social, São ouvidos muito mal Por homens, p’ra quem a vida É uma constante corrida Ao dinheiro e ao prazer. Gente, para quem viver Tem um sentido egoísta. Eu não nego que exista Boa gente cá na terra. Mas, o que fomenta a guerra, É o egoísmo de quem Só pensa em viver bem, Mesmo à custa de terceiros. Não é com muitos berreiros Com muita frase empolada, Hipócrita, dissimulada, Que se vai conseguir, P’ra todos, melhor porvir. Nós queremos, de verdade, Mudar a sociedade Em que estamos inseridos? Estaremos convencidos De que depende de nós, Não do que fizermos sós, Orgulhosos, isolados, Mas uns aos outros ligados, Que o mundo seja melhor? Ele será o que eu for, E o que tu fores também. Façamos nós o bem, Cumpramos nosso dever, P’ra mundo melhor haver. Bemvinda Margarida Ano VI - Nº52 e 53 - O Mugense Janeiro - Fevereiro de 1982

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Campinos da Casa Cadaval, década de 50

Campinos da Casa Cadaval, Rua Capitão Tenente Souza Dias, década de 50

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A VIDA Como é diferente o mundo daquilo qu’eu pensava: Como é diferente a alegria e mocidade, Como é diferente o amor, a amizade, Como é diferente a vida qu’eu idolatrava. Há ódio onde eu julgava haver amor, Há erro onde eu pensava haver verdade; Brinca-se com o fogo, com a eternidade; Não há luz, há trevas e há dor. Não há caridade, só há snobismo; Não há simplicidade, só há cinismo. Cada qual mostra aquilo que não tem. Quanto mais hipócrita mais o valor aumenta, Quanto mais cobarde mais se acalenta, Quanto mais desumano, mais se é alguém.! Aida Paiva de Carvalho Ano VI - Nº54 e 55 - O Mugense Março - Abril de 1982

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AOS JOVENS Desejo, do coração, Que todos vençam na vida. Deus queira que a rebelião Não nos pregue uma partida… É uma realidade Esta minha afirmação: Que a vocês com a idade, Surge a rebelião. É preciso ter cuidado, E, a tempo, saber parar, Porque o mais prejudicado É aquele que abusar. Digo-vos, de boa fé, E acreditem no que digo: A luta p’la vida é Como vencer inimigo. E darem ocasião A, na luta, ficar feridos, É uma afirmação De sermos irreflectidos. Pensem que a personalidade Vai ser moldada p’los anos; Amanhã, vossa verdade, Feita de alguns desenganos, Será da d’hoje diferente. Sede vós, mas sabei sê-lo,

Disciplinai vossa mente. Errar e reconhecê-lo, Não menosprezar ninguém. Quanto a mim, algumas vezes, E digo-vos, p’ra vosso bem, Vós sofrestes revezes, Por estardes convencidos De que, mudando atitudes, Era ficardes vencidos. Mas de entre as virtudes, Uma que ensina a viver Uma vida de verdade, Já vós deveis saber, Tem o nome de humildade. Vós tendes todo o direito De exprimir vosso pensar, Mas, fazê-lo, a preceito, Só poderá ajudar.

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Bemvinda Margarida Ano VI - Nº54 e 55 - O Mugense Março - Abril de 1982

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O CHICO JARDINEIRO O Chico é bom rapaz, E cuida do nosso jardim. O trabalho que nele faz É como se fosse p’ra mim.

O jardim da nossa Infância, Da meninice descuidada!... Não nos separa a distância… Do jardim da terra amada.

Se ao jardim chamamos nosso Por ele devemos olhar. Também é dever nosso O jardineiro ajudar.

Quando passarmos p’lo largo da Igreja, E que o Chico esteja a trabalhar, Dir-lhe-emos: Deus te abençoe e proteja E no Céu te guarde um lugar!...

Ele lá vai, certamente, Com sacrifício trabalhando… Merece, carinhosamente, Que o Povo o vá ajudando.

Desejo para o Chico e Família, Saúde e felicidades, E, quando ele estiver longe, Que do jardim sinta saudades!...

E com a ajuda de Alguém, E belo perfume das flores, Ele no jardim se sente bem; As flores são seus amores!... Elas são lindas!... São de várias cores Sem precisarem de tinta!... Quem não gosta de flores?!... Oferecidas representam agradecimento. Simbolizam saudade nas sepulturas. Elas não merecem esquecimento Em horas felizes ou de amarguras. Quem nos dera um jardim lindo, Lindo como foi outrora!... E que esse jardim tão lindo, Voltasse a ser o de agora.

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Adélia Faria Raposo Ano VII - Nº58 e 59 - O Mugense Julho - Agosto de 1982


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SER CRIANÇA Ser Criança é ser Flor, Muito linda e perfumada, Que ao Mundo dá Amor E será sempre lembrada. Ser Criança é viver, É sorrir e sonhar!... Ser Criança é receber Muito que Deus tem p’ra nos dar. A Criança é tão pura Como uma rosa em botão, A paz de sua candura Habita no seu coração. A Infância é bela!... É ventura que por nós passa, Sem darmos por ela, Sem sentirmos essa graça. Depois de sermos crianças, A sabemos analisar… O tempo de termos esp’ranças Ficamos a recordar!... Ser Criança é ser feliz, É ser flor num jardim. É Jesus que assim diz: -Deixai as crianças vir até mim!... Adélia Faria Raposo Ano VI - Nº56 e 57 - O Mugense Maio - Junho de 1982

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Família Mayer, Largo Teófilo de Braga, ano de 1927

Sabugueiro, década de 40

Cheia, década 40

Trabalhadores da Casa Cadaval, década de 40

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REQUIEM Mês de Novembro, Mês das saudades maiores E sempre renovadas, Com que lembro Aquelas pessoas tão amadas, Que comigo viveram E que já partiram para a eternidade… O mundo diz que morreram, No sentido de que a morte seja um fim. Isto não é verdade. Não é verdade para mim E para qualquer cristão. Para nós não é eterna a separação. Com a morte a vida muda, não termina. É como uma porta que se abriu E se fechou após A separá-los de nós. E sentimos saudade, Mas não o desespero que mina E corrói. É saudade que dói, Mas não desespera. O cristão crê e espera Que um dia se reunirá Aos que o precederam No reino da paz, da justiça e do amor. Connosco na terra viveram, E, um dia, junto Senhor, Connosco no céu viverão. Como conforta o coração Esta doutrina sublime Duma união eterna! Novembro… inverna, Mas que importa? Sucederá ao frio e à chama A alegre Primavera, E como na natureza, Também para quem crê e reza, Se abrirá a porta

Que nos separa da feliz eternidade. E acabará esta saudade, Acabará o desgosto profundo, De quem se sente Degredado deste mundo. Neste vale de lágrimas, Gemendo e chorando, Vamos arrastando Uma vida, Tecida De sonhos e esperança, De dores e lamentos. Unido a Deus, Com as alegrias e os sofrimentos, O cristão vai construindo uma morada Que será sua pelos séculos fora. O resto é nada, Só tem valor agora Toda a vida Vivida Ao acaso, sem norte, Não terá valor quando chegar a morte. Que valerá ao homem A glória e o dinheiro, Que lhe valerá Ser senhor do mundo inteiro, Se perder a alma quando chegar o fim? Só desejaria, Que um dia Quando o Senhor me chamar a mim, Eu pudesse dizer com verdade Que tinha aproveitado O tempo para a eternidade. Bemvinda Margarida Ano VII - Nº60, 61, 62 e 63 - O Mugense Setembro - Outubro - Novembro - Dezembro 1982

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GRATIDÃO Por vezes, eu fui tentada A abandonar o jornal, Decisão sempre adiada E esquecida afinal. Trazia o peso comigo De não escrever, por preguiça, Pois sempre disse e redigo, Que temos de entrar na liça, Na liça do social. Não basta dar, mas “nos” dar; E este nosso jornal, Por nós, ele irá levar, Sabe Deus até aonde, Não uma dávida de esmola, Que só egoísmo esconde, Mas palavras que consola; O partilhar de outras dores E de alegrias também, De todos fazendo amores, Como em coração de mãe. Levará ao emigrante O adeus da amizade, Pois mesmo em terra distante, Está aqui, pela saudade. A todo o mugense ausente, Mas aqui, p’lo coração, Irá levar o presente De um abraço de irmão. Não só o bem colectivo Me impõe a colaboração, Também o laço afectivo, Que liga o meu coração À terra onde eu nasci. Grata estou pela ternura Que lá eu sempre senti. E, enquanto a vida perdura, A ela estarei ligada. Colaborar em “O Mugense”, É dizer-nos “obrigada”, Meu afecto a vós pertence. Bemvinda Margarida Ano VII - Nº64 e 65 - O Mugense Janeiro - Fevereiro de 1983 Cadernos de História e Memória III


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FÉRIAS Esta palavra “férias”; Para alguns desconhecida, É sinónimo de “lérias”: Nunca as tiveram na vida. Têm férias tanto tempo Os que estão “bem-instalados”! A vida é-lhes passa-tempo, Nunca ficaram cansados. Uns e outros vivem mal, Falta-lhes à vida sabor; Nem ou muito, afinal, O equilíbrio é melhor. Quem trabalha duramente, Dia após dia, esforçados, Deviam ter, certamente, Uns dias mais descansados, Que o mundo seja melhor, Não nos impinjam só “lérias”, Para todo o trabalhador Poder gozar suas férias. Bemvinda Margarida Ano VIII - Nº70 e 71 - O Mugense Julho - Agosto de 1983

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AO EDITOR Nesta hora eu te digo Muito e muito obrigada. Não é por seres meu amigo E eu te ser dedicada. São palavras de verdade O que escreve a minha pena, Porque a tua actividade, Às vezes, não mui serena, Em favor da nossa terra, Eu desejo aqui louvar. Lamento que haja guerra Aos que querem trabalhar Em favor de quem precisa. Avante, sem hesitação, Atira sempre à baliza, Com muita determinação. Às vezes não metes golo, Mas vale a pena jogar. Pode ser amargo o bolo Que os outros te queiram dar… Mas a doçura maior, E essa ninguém a tira, É a dávida de amor De todo aquele que aspira

A dar-se a quem o rodeia, Críticos de “meia-tigela” Podem enredar a teia, Não te deixes cair nela. Toda a vida tu sonhaste Com uma Muge melhor, E, mais ainda, lutaste Com energia e valor. Daquilo que tens escrito, Do que nós temos falado, Eu, p’ra mim, já tenho dito: “Que pena não ter estudado Este homem de tal valor”! Só te faltou oportunidade Para seres um doutor. Mas, no entanto, é verdade Que a vida te doutorou, Como o distinto estudante! Os meus parabéns te dou E digo-te: vai p’ra diante. É preciso não vergar, Lutando com amor e fé. Não vás agora parar, P’ra frente, amigo Zé. Bemvinda Margarida Ano VII - Nº72 e 73 - O Mugense Setembro - Outubro de 1983

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OUTRO NATAL Mugense! Obrigado Mugense. Obrigado pelo prazer que tenho, quando te recebo. Obrigado pelas notícias que trazes. Notícias do nosso Muge, por isso não morras!!! Para te agradecer, mando-te aqui um poema que escrevi: “Outro Natal… Outro Natal passado longe do seu país, Seu país que ele já não vê há tanto tempo, Outro Natal passado aqui tão longe, Tão longe da família, dos amigos. Outro Natal passado a evocar os velhos tempos, Velhos tempos pobres, mas cheios de alegria, Outro Natal passado sozinho, Sozinho e triste, Mais outro Natal sim, mas outro Natal de emigrante.”. Gina (filha do Toino da Arminda - França) Ano IX - Nº78 - O Mugense Janeiro de 1985

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ANO INTERNACIONAL DA JUVENTUDE Já começou novo ano: O ano da juventude; Que não haja desengano E que alguma coisa mude.

Toda a maldade do mundo, A ânsia do muito ter. Que descalabro profundo, Que vida de não-viver!

Mas, para haver mudança, Não basta só decretar, É preciso que a esperança Tenha base em que assentar.

Quase que parece mal, Falar-se em bem, em virtude, Nós não temos ideal, Traímos a juventude.

É preciso haver vontade De meter as “mãos à obra”. Estamos fartos, é verdade, De ouvir “a banha da cobra”.

A geração dos mais velhos Vive o seu “bel-prazer”, Limita-se a dar conselhos E esquece-se de os viver.

Temos de mudar o quê? Há tanta coisa a mudar! Tanta coisa que se vê E nos faz desanimar!

Ao jovem desempregado, Sem casa para morar, Até lhe é negado O desejo de sonhar.

“A juventude está mal, E faz muito de errado”; Mas eu pergunto: afinal, O que nós lhe temos dado?

Vivemos mal nossa vida E a juventude é que apanha: Ela é mosca caída Em nossa teia de aranha.

Violência e pornografia, A ânsia de muito ter, É o que ela nos copia, É o que nos vê fazer.

Juventude da mudança, Da era das transições, Conservai em vós a esperança, Não mateis as ilusões.

Hoje é certo o que é errado, Alteram-se os valores, Mas deste espírito criado, Não fomos nós causadores?

Jovem, sê sempre jovem, Não queiras envelhecer, Mesmo velho, qualquer homem, Juventude pode ter.

A droga dá lucro a quem? Quem os filmes realiza? Não é jovem “esse alguém”, Que p’ra si capitaliza.

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Bemvinda Margarida Ano IX - Nº78 - O Mugense Janeiro de 1985


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VELHICE Centro de idosos, p’ra quando? Até lá, vamos sonhando Com uma velhice melhor. Que não haja tanta dor, Tanta lágrima vertida, Por quem chega ao fim da vida. Hoje, nesta sociedade, Infeliz terceira idade, Que, como trapo usado, É tanto posto de lado! Foi útil, mas hoje não, E falta consideração Por quem deixou de ser novo. Mas lá diz o nosso povo: “Filho és e pai serás, Como fizeres, acharás”. Compete à sociedade Dar à terceira idade Não só o pão mas carinho. Proporcionar-lhe um ninho, Que os seus lhe negam, por vezes, Onde amenizem os revezes, Que a própria idade lhes traz. Velhice com muita paz, Com o pão assegurado, Em ambiente de amor. Velhice um pouco melhor Para vós vamos sonhando. Centro de idosos, p’ra quando? Bemvinda Margarida Ano IX - Nº79 - O Mugense Fevereiro de 1985

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DIA DA ÁRVORE 21-3-85 Árvore como te respeito! E, por isso, não aceito O modo como és tratada, Pelos homens desprezada, Sendo tu fonte de vida. Tanta riqueza perdida! Riqueza, no bom sentido, Não o ganho imerecido De quem só pensa em dinheiro, Vêem-te só como madeiro, Como lenha para queimar, Como tronco a derrubar, Para ir criar riqueza. Quem pensa em tua beleza? Na sombra que tu nos dás? No ambiente de paz Que crias em teu redor? Pagamos-te com desamor O muito que nos ofereces. A lenha com que aqueces, Madeira p’ra construção, São factores de produção. Mas, viva, és uma “mina”. Quem não sabe da resina, Das essências, da borracha? Mas, hoje, o homem acha Que vales mais, quando morta, E cortar-te não se importa, Sem piedade nem dó. No teu lugar fica o pó, Que, sem ser por coberto, Se transforma num deserto.

E, assim, o deserto avança, Roubando a muitos a esperança De deixarem de ter fome. Importa o que se consome Hoje, o máximo, amanhã, Numa canseira, que é vã, De mais e mais possuir. Que importa os que hão-de vir? Que importam os descendentes Àqueles hoje viventes? Este mundo de egoístas Só pensa em falsas conquistas. Árvore, hoje derrubada, Bem cedo, serás vingada, E o homem, p’ra respirar, Sem oxigénio no ar, Terá de o trazer consigo, Ou viver num abrigo Com ar artificial. E, talvez, para seu mal, A humanidade, que é louca, Traga posta na boca Máscara anti-poluição. Viva a industrialização! Viva o cimento armado, Onde antes pastava o gado! Viva o progresso, a riqueza! Agricultura é pobreza… Oh árvore, oh minha amiga, O meu coração que te diga, Expresso p’la minha boca: “A humanidade está louca.” Bemvinda Margarida Ano IX - Nº80 - O Mugense Março de 1985

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PRIMAVERA DA VIDA Será difícil amar? É difícil aceitar Os outros tal como são? À ofensa dar perdão, Ao ódio pagar amor, Ao próximo dar calor Da verdadeira amizade? É difícil na verdade. Há dias dizia alguém: “Custa fazermos o bem, É fácil fazer o mal”. Todos queremos, afinal, Ser felizes nesta vida. Mas, se esta for despida De folhas, verde de esperança, Se não houver confiança Na vitória do amor, Se dermos guarida à dor, Sem lugar para a alegria, Esquecendo cada dia, Será vivência de inverno, Sem esperança no Eterno. Deus nos livre desta vida! Nós a queremos bem florida Com as flores da amizade, Perfumadas com a saudade Dos amigos que partiram. Mesmo que os outros nos firam, Saibamos nós dar amor Como quem dá uma flor. Não queremos um frio jardim, Nem inverno sem ter fim. Ao amor demos guarida, Haja primavera na vida. Bemvinda Margarida Ano IX - Nº85 e 86 - O Mugense Agosto - Setembro de 1985

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Lavadeiras no Rio, ano de 1962

Carnaval, ano de 1953, Fonte do Pião, Armindo Lucas e José Sousa

Teatro 23/03/1957, Armindo Lucas e José A.B. Faria

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SAUDADE Saudade!... palavra amiga Que todos sabem dizer, Saudade!... palavra querida Que ninguém pode esquecer. Todos sentem a saudade Pois ela é companhia, Quando falta felicidade E quando há alegria. Muitos choram com saudade Quando a sentem a valer. Dar guarida à saudade Também é saber sofrer. Seja a vida como for, Teremos sempre amizade Por quem nos deu amor E nos deixou a saudade. Saudade… saudade tanta Que às vezes é amargura, Saudade que em nós descansa Na vida e na sepultura. Saudade!… quem te não sente Se p’ra nós és realidade? Cada um na sua mente Tem a palavra Saudade!... Prima Adélia Adélia Faria Raposo Poema inédito, feito após a morte de Gustavo Adriano e ofertado à sua mãe, Natércia Brito

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À NOSSA CASA DO POVO I No campo jogava-se à bola Aí uns vinte para cada lado No bar fazia-se o Totobola Eu sentia-me um felizardo

V E quando foi a tua inauguração Dela muito tempo se falou Até veio o Ministro da Cooperação O teu nome a todo lado levou

II O cinema era à noitinha Vinha gente de todo o lado Nesse tempo mais ninguém tinha Como foi lindo o teu passado

VI Houve tantos que passaram por cá Para tu poderes ir em frente Dizer o nome de todos não dá Mas era tudo boa gente

III Sempre cheia que nem um ovo Não havia barulho nem banzé Mas para entrares na Casa do Povo Tu tinhas de tirar o boné

VII Agora tu tens nova vida Estão a querer-te levantar Para esta missão ser conseguida O povo terá mesmo de ajudar

IV Pois não existia nada igual Tudo arrumado e branquinho Mas para os que se portavam mal Só existia o tal caminho

VIII Não pode haver só lamentações Que em Muge tudo vai morrer Agora já existem as soluções A eles temos de agradecer. António Saraiva Série III - Ano 1 - Nº1 - O Mugense 13 de Junho de 2019

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POESIA SOBRE A CASA DO POVO I Chegou a cavalaria Com sangue velho e novo Com vontade quem diria É isto a raça d’um povo II Reuniu as tropas o Comandante Com entusiasmo e alegria Com uma vontade constante Já era assim que fazia III Votaram-te ao abandono Foste glória no passado Mais pareces cão sem dono Projecto abandonado IV Hoje és como és Sem perspectiva nem futuro Talvez tenhas um revés O trabalho vai ser duro V Chegou uma nova era Queremos um mundo novo Não desesperes pela espera Vamos salvar-te Casa do Povo Poesia do sócio e dirigente, João Augusto Correia Gonçalves

(Após as eleições para a CPM)

Série III - Ano 1 - Nº1 - O Mugense - Junho de 2019 23 de Março de 2019

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AO SR. JOSÉ

AO FARIA

I Com séculos de história Muge terra de bem Sabe honrar a memória Daquele que lhe fez bem

I É tão difícil de explicar O que por Muge fizeste Até a tua família prejudicar Quantas vezes tu o disseste

II Obra feita deixou Em legado à sua gente A nossa terra mudou É uma vila diferente

II Eras uma força da natureza Fazias quase tudo sozinho Pois tu tinhas a certeza Que era esse o caminho III Se alguém te perguntava Usavas o teu sorrisinho Não dizias nenhuma palavra Que alertasse o tal vizinho

III José António Brito Faria À muito que merecia Esta homenagem sentida Homem de grande valor Tudo fez com amor Ao longo da sua vida.

IV A música, o teatro, o futebol Os porcos nas ruas, as tasquinhas A ponte D.ª Amélia também estava no teu rol E a creche para as criancinhas

Ao Sr. José, pelo Sr. João (tratamento habitual entre ambos) João Augusto Correia Gonçalves Muge, Abril de 2019

V A rede da água e o centro de dia As festas e a zona industrial Fora aqueles que não se sabia De certeza ninguém fez igual VI Para Muge foi com tristeza Quando tiveste que partir Mas deixaste uma certeza Que Muge podia e devia progredir. Ao Sr. José, pelo Sr. João (tratamento habitual entre ambos) António Saraiva Muge, Abril de 2019

Poemas feitos ao Sr. José António Brito Faria aquando da homenagem prestada pela Junta de Freguesia de Muge e lidos no Parque de Merendas, o qual passou a ter o seu nome, em 30 de Maio de 2019, quinta-feira da espiga. Série III - Ano 1 - Nº1 - O Mugense - Junho de 2019 Cadernos de História e Memória III


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AO JOSÉ ANTÓNIO Meu muito saudoso amigo, Já não podes ouvir o que digo, mas, enquanto tu viveste, Muito bem, sempre soubeste, A amizade, que sentia, O laço forte, que nos unia, Pela amizade à nossa terra. Por ela tu tratavas guerra, Civilizada, mas constante, Para tu levares avante, O que para ela sonhavas. E tu lutavas, lutavas, E, por fim se realizar. O “mugense” irá voltar. Ele já foi um filho teu, Que, um dia em ti nasceu. Eu já falei em amizade, Mas, além dela, na verdade, Eu sentia admiração. Pela tua formação, Nunca criticaste alguém. Teu coração só tinha o bem. À tua grande inteligência, Unias grande persistência. Eras grato aos que, no passado, Por muge tinham trabalhado. E agradeço-te o respeito, Pelo que meu pai tinha feito. Honro-me ser tua amiga, E por muito e muito, que diga, Fica sempre algo por dizer, Pois tu és um grande “ser”. Já partiste, mas nossa fé, Diz-me, “até um dia, zé” Bemvinda Margarida Série III - Ano 1 - Nº2 - O Mugense - Setembro de 2019 19 de Agosto de 2019

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UM SÁBADO DIFERENTE I Foi num ambiente novo E de grande elevação À nossa Casa do Povo Vai ficar-lhe de recordação

V A Columbófila colaborou Pois cedeu o salão E a eles proporcionou Aquela bela refeição

II Aquelas centenas de pessoas Que vieram para o retiro Tudo almas sãs e boas A elas eu me refiro

VI A Conferência confeccionou A tal apetitosa sopinha E depois tudo limpou Desde o salão à cozinha

III Quando entraram no salão Para consultar o horário Tiveram toda a informação Dada pelo padre Mário

VII Depois seguimos o horário E a missa fomos celebrar Com o Sr. padre Mário Que nos ia abençoar

IV Houve a primeira oração Rezou-se com muita fé Mostrando toda a devoção Ao Senhor rezaram de pé

VIII A tal hora então chegou Felgueiras era o caminho A saudade, essa ficou Muge recebe-os com carinho. António Saraiva Série III - Ano 1 - Nº3 - O Mugense Dezembro de 2019

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A MINHA RUA TEM DOIS NOMES A minha rua tem dois nomes, desde e sempre que me lembro Era um beco sem fundo que prometia talento Antes de rua era apenas uma passagem de trabalho e pouco movimento Um caminho de terra e lama nos dias chuva e de vento. A minha rua era Campo da bola Nos dias de festa era garraiada A minha rua era o muro em que via o Muge Campeão A minha rua era linda e está no meu coração. Foi nela que passei a melhor parte da minha vida Brinquei em toda a parte e por isso a chamo minha. No dia em que a deixei, foi sentida partida Foi ali que abandonei o amor que recebia Por todos lados fui, lá tinha que escrever Que era filho dos meus pais e também da minha Rua E quando uma carta escrevia para matar a saudade Para a Rua da Ascensão La trazia a novidade. MS Série III - Ano 2 - Nº4 - O Mugense Março de 2020

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AOS ANTIGOS RURAIS Mão dura e calejada Levantando sua enxada Cavou a terra dura Comem o pão com suor Esperou um dia melhor Deram-lhe a sepultura. Não sonha e sem esperança Uma vida cheia de nada Não cultivou a vingança Mão dura e calejada. Sacrificado e sem lamento Um vulto na noite escura Semeou palavras ao vento Deram-lhe a sepultura. (Soneto sujeito a mote) Velho/JACG Série III - Ano 2 - Nº2 - O Mugense Fevereiro de 2020

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CORONAVÍRUS DÁ QUE PENSAR I Parece que Portugal É um País milagreiro Que tem um povo sem igual Elogiado pelo mundo inteiro

V Foram tantos os que partiram Sem direito a despedidas Como as famílias se sentiram Pelas perdas dessas vidas

II Não havia outra solução Mas isto a todos arrasa Foi como estar na prisão Tivemos de ficar em casa

VI Será que não vamos aprender E pensar, eu não sou ninguém? Ver o que está a acontecer Pode ocorrer a mim também

III Pois esta maldita pandemia Que teremos que ultrapassar Embora com muita agonia Mas a vitória há-de chegar

VII E ver esta realidade Pois ninguém é especial Aqui não há vaidade Tu és um pobre mortal

IV É nesta triste ocasião Que devemos meditar E olhar pelo nosso irmão Por aquilo que está a passar

VIII Tenho ou não tenho razão? O Sol nasce todos os dias Todos têm direito ao pão Será que tu não sabias?. António Saraiva Série III - Ano 2 - Nº5 - O Mugense Junho de 2020

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Inauguração da BP, década de 60

Campo de Jogos da Casa Povo Muge, década de 50

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A PROCISSÃO DO MÁRTIR SÃO SEBASTIÃO I Foi com grande sentimento Dedicação, Fé e muito gosto Para recordar a todo o momento Aquele dia 9 de Agosto

V O Santo estava contente Pelas flores do seu andor Com a ajuda de pouca gente Tivemos o apoio do Sr. Prior

II A Igreja quis organizar Lembrando a nossa tradição Pois queria festejar A festa do Mártir São Sebastião

VI Na carrinha do Rui Pinheiro Os padres Fernando e João Rezaram ao nosso milagreiro Que é o Mártir São Sebastião

III Sem foguetes nem morteiros Pois é tempo de pandemia Em cautelas somos os primeiros Mas festejou-se como se podia

VII No coreto a Banda tocou Para o nosso Povo divertir Sempre que a música acabava Toda a gente estava a aplaudir

IV A procissão foi especial Pelas ruas ela passou Não houve o cortejo habitual Mesmo assim a Banda tocou

VIII A procissão lá terminou Os sinos não paravam de tocar O Povo na Igreja entrou Tudo isto é de recordar António Saraiva Série III - Ano 2 - Nº6 - O Mugense Setembro de 2020

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AO PRESIDENTE DA CÂMARA I Muge hoje tem a cara lavada Está outra no presente Para quem não tinha nada Estava a ficar quase desabitada Agora está bem diferente II Quem dá o apoio à Banda? À Casa do Povo também? A Farmácia já cá anda E o médico também cá vem III Na Igreja também contamos Com a sua colaboração Água já não pagamos Pelo relógio feliz estamos E por toda a manutenção

IV Ele está sempre na frente Para com Muge cooperar Está à vista de toda a gente É só preciso é olhar V Tenho de ficar grato É bonito reconhecer Não posso ser ingrato Nem cuspir no prato A Quem nos dá de comer VI Cada um vota onde quer O seu mandato está quase a acabar Se se recandidatar e se o povo quiser Com certeza que vai continuar António Saraiva Série III - Ano 2 - Nº7 - O Mugense Dezembro de 2020

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TEMPOS DIFÍCEIS I Como temos de viver Com a maldita epidemia O que nos devia de acontecer Mas há-de melhorar um dia

VI Nem dá para classificar O que alguns fizeram Sabiam que iam infectar Tão mal eles estiveram

II São tempos de sofrimento Com saudade e solidão Mas há-de chegar o momento De podermos apertar a mão

VII Foi falta de respeito Sabiam que estavam infectados Depois de o ter feito Diziam estar envergonhados

III Tivemos de cumprir Com o que o governo mandou Para o vírus extinguir Cada um sabe o que passou

VIII Andavam na rua a rir Eles não tinham graça Tantos tiveram de partir Por culpa dos daquela raça

IV Deixámos de viver e sorrir Houve tantos que partiram Não tiveram culpa de ir Ao vírus não resistiram

IX Certamente o vírus será vencido Com fé vamos acreditar Fica aqui prometido Que todos iremos ajudar

V Como o Renato, o cangalheiro E também o Manuel Zé Que era um amigo verdadeiro Daqueles de se tirar o boné

António Saraiva Série III - Ano 3 - Nº8 - O Mugense Março de 2021

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MUGE Muge, terra de mil cores De paixões e amores Que formosa que és. Rainha da beleza Escolhida pela natureza E com o Tejo aos teus pés. Tens encanto, tens magia És a melhor deste meio Quem te roubou a alegria E te mandou para escanteio. Tens ruas bem cuidadas, E gente que te conduz. Tens paredes caiadas E um sol que te dá luz. João A. C. Gonçalves “O Velho” Série III - Ano 3 - Nº9 - O Mugense Junho de 2021

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SENTINELA Sentinela vigilante, Não hesites um instante Em cumprir o teu dever. De coragem desmedida, Será tua a nossa vida Se não usares o teu saber. Vestes o símbolo da pureza E enfrentas com firmeza O sofrimento e a morte. Profissional dedicado, Com bravura de soldado Voluntarioso, altivo e forte. Não é difícil a tua missão, Se transportares no coração Calor, humildade e virtude. E terás então a certeza Que não há maior riqueza, Que o amor e a saúde. Como cidadão responsável, não podia ficar alheio à terrível pandemia que nos afetou a todos. Socorrendo-me do nosso Jornal, o Mugense, quero homenagear e agradecer a todos os profissionais de saúde com um poema que fiz, que dei o nome “Sentinela”. João A. C. Gonçalves “O Velho” Série III - Ano 3 - Nº9 - O Mugense Junho de 2021

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“FILHO ÉS, PAI SERÁS” I Filho és Pai serás Como fizeres Assim acharás

V Os hospitais estão cheios De pessoas abandonadas Por eles não terem meios E lá ficam desprezadas

II É um adágio popular Certo como dois serem dois Até podes não te ralar O pior vem depois III Não vês a realidade Tens de tomar conta dos teus Saber que eles têm necessidade Tu irás dar contas a Deus IV De casa os pais vão tirar Eles nada podem fazer Para lares vão morar Ficam lá até morrer

VI Há pessoas sem compaixão Por quem lhes deu o ser Saibam que não têm razão É muito triste podem crer VII Temos de aprender a lição E ter muito mais respeito Por quem nos deu o pão Não ficar a isto sujeito VIII Este adágio nos alerta Cada um sabe de si Deves estar alerta Pode-te calhar a ti. António Saraiva 02 de Dezembro de 2021 Muge

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OS NETOS SÃO ESPERANÇAS Os avós são flores De pétalas perfumadas!... Os netos são seus amores E suas jóias amadas!... Os netos são companhia Que aos avós traz ventura. Os netos são alegria De santo amor e candura. Os netos são esperanças E dos avós a riqueza. Os avós já foram crianças Também com sua beleza!... Por eles a infância passou Alegre e descuidada. Infância que Deus amou E por Ele abençoada. Para todos os netinhos Desejo paz e ventura E que sejam p’ra os avozinhos Um Mundo cheio de ternura!... Adélia “Ofereço aos bondosos avós, Graziela e Álvaro, desejando-lhes e para todos que lhe são queridos, saúde, felicidades, graças e bênçãos de Jesus” - Adélia Poema oferecido pela D. Adélia Faria ao Sr. Álvaro Jesus Baptista e à D. Graziela Mayer Raposo, aquando do nascimento da sua neta, no ano de 1993.

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POR ELES FAÇO ORAÇÃO Sou uma sobrevivente. E já morreu tanta gente! Gente que eu tinha amado, Com quem eu tinha brincado E feito a mocidade. Foi aumentando a idade, Os anos ceifando vidas, E entre tantas partidas, Foi-se a minha geração. Por eles é só rezar, O que é nosso, partilhar, Tendo-os no pensamento, Com o mesmo sentimento, Que a morte não matou, E que até acentuou. Partiram só fisicamente. Continuam malmente Presentes na nossa vida. Foi relativa a partida. Eu só estou esperando, E também a Deus rezando, Que chegue a minha hora. Tem sido longa a demora, Um prolongado advento. Só peço a Deus que o momento, Esteja a si tão ligado, Que eu parta sem pecado. Bemvinda Margarida Abril de 2021

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AS CASAS DO POVO I Foi uma enorme revelação Quando à época se recebeu Era tudo a bem da Nação E a Casa do Povo apareceu

VIII Com uma disciplina nunca vista Estava tudo arrumado e limpinho Quando alguém levantava a crista Era-lhe indicado o tal caminho

II Foi com muita elevação Quando ao povo vieram falar Estava tudo fora de questão O Povo só tinha de aceitar

IX As vacas gordas morreram Ficou fechado o tal canal Os mais velhos desapareceram Passou a estar tudo mal

III Havia aquela boa orientação Que foi criada pelo Estado Novo Para se viver em associação Foram criadas as Casas do Povo

X Foi um período para esquecer Estava tudo mal orientado Já ninguém queria saber O edifício ficou abandonado

IV Muge até foi pioneiro Com uma direcção a comandar E também a lei do rendeiro Era para as pessoas ajudar V A direcção da Casa do Povo Criou a lista do associado Prometeram um Bairro Novo Que foi com o tempo concretizado VI Fundaram a equipa de futebol Cinema, teatro e a Legião A Banda também naquele rol Tudo foi recebido com satisfação VII Depois apareceu outra gente O actual edifício mandaram construir Com uma cultura diferente Bons anos estavam para vir

XI Agora voltou a renascer Hoje até já tem vida Ela voltou a aparecer Como sabem esteve desaparecida XIII Tem dado muito trabalhinho E também muita dedicação Para ela entrar no caminho Não tem sido fácil não XIV O Povo deve agradecer A esta nova Direcção Têm valor podem crer Obrigado do coração António Saraiva Série III - Ano 4 - Nº13 - O Mugense Junho de 2022

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AMOR A MUGE - Livro de Poemas

Igreja de Muge

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Os Netos são Esperanças

2min
pages 104-108

“Filho és, Pai Serás”

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page 103

Tempos Difíceis

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page 100

Sentinela

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page 102

Coronavírus - Dá Que Pensar

1min
pages 96-97

A Procissão do Mártir São Sebastião

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Ao Presidente da Câmara

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A Minha Rua Tem Dois Nomes

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Aos Antigos Rurais

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Um Sábado Diferente

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Poemas ao Faria

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Primavera da Vida

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pages 86-87

Ao José António

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À Nossa Casa do Povo

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Poesia sobre a Casa do Povo

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Ao Editor

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Ano Internacional da Juventude

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Férias

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Gratidão

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Requiem

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Ser Criança

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pages 76-77

O Chico Jardineiro

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Aos Jovens

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Amor e Não Ódio

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pages 71-72

A Vida

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Trabalhador Rural

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O Pobrezinho

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Meu Vestido Branco

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Aos Meus Filhos

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Ser Mugense

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Apelo aos Emigrantes

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Muge

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Santos Populares

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Recordar é Viver

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Valeu a Pena

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Recordação do Passado

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Resposta a Uma Carta

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Apelo

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Mensagem

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Saldo do Ano Lectivo

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Carnaval

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Primavera

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Ribatejo

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Um Mundo Melhor

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O Patinho

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Os Campos da Minha Terra

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Rio Tejo

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Santo Natal

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A Família

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Boatos

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Campinos do Ribatejo

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Tu, Adulto

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Dão Perfume as Flores

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Terra Minha

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As Estações do Ano

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Inesquecível

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Emigrantes da Nossa Terra

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Introdução

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Noite de Natal

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Aos Emigrantes

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Ribatejo

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Mensagem do Sr. Presidente

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Não

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Ao Trabalhador Rural

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