Pedro e o Falcão por Patrícia Reis
Para a Raquel e o Pedro, dois dos meus “miúdos” preferidos. 1
Ficha técnica TÍTULO Pedro e o Falcão AUTORA Patrícia Reis ILUSTRAÇÃO Raquel Marques EDIÇÃO Câmara Municipal de Salvaterra de Magos PROJECTO Câmara Municipal de Salvaterra de Mágos PROJECTO GRÁFICO Pedro Leitão | Pacote de Açúcar Design FOTOGRAFIA Olho Negro Fotografia REVISÃO TEXTO Vera Vilhena Leonor Cadório AGUARELAS FALCÃO Dulce Marques IMPRESSÃO Gráfica ISBN: 978-989-53129-1-7 TIRAGEM: 2000 exemplares DEPÓSITO LEGAL: 00 1ª EDIÇÃO: Setembro 2021 Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor. Publicação inclusiva para dautónicos disponível no site do município.
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Mensagem do presidente A Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, pelo 8º ano consecutivo, volta a publicar um livro infantojuvenil, com objetivo de promover e divulgar a história do nosso concelho e de contribuir para a criação de hábitos de leitura junto dos mais novos. A coleção de livros que já publicámos, ou apoiámos, como é o caso do livro lançado pela CAMINHO em 2020 “Uma Aventura Voadora” permitem apresentar o nosso património histórico - cultural de forma criativa e divertida, ao mesmo tempo que apoiamos o sector cultural - escritores, ilustradores, editores, entre outros. Os tempos conturbados vividos mundialmente exigiram de todos novas adaptações, também deste executivo, ainda assim, e porque consideramos que a cultura é um bem essencial, mantemos estas publicações por acreditarmos que fazem parte de um importante processo de identificação socio - cultural. A escritora e jornalista Patrícia Reis aceitou o nosso convite e apresenta-nos “Pedro e o Falcão”, uma história de mudança e de adaptação, vivida por uma criança que pela primeira vez visita Salvaterra de Magos. Através das suas peripécias vamos ficar a conhecer um pouco mais sobre o nosso património e sobre a prática da falcoaria. Nesta obra, personagens, edifícios e a paisagem natural estão muito bem apresentados através dos trabalhos de ilustração em papel, da designer Raquel Marques, nossa conterrânea. Façam como o Pedro, aceitem o nosso desafio e vivam connosco mais esta aventura. Desejo-vos uma óptima leitura, um bom regresso às aulas e um excelente ano letivo 2021/2022. O Presidente da Câmara Municipal Hélder Manuel Esménio
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1. Destino: Salvaterra Vocês lembram-se bem de 2020? Eu lembro-me muito bem. Apesar de ter apenas dez anos, percebi que muitas coisas mudaram e descobri novas palavras: pandemia, confinamento, virologista, distância social, higienização e outras tantas. Imagino que tu também. A minha vida deu uma grande, grande volta. Nós morávamos em Lisboa, eu nasci na Maternidade Alfredo da Costa, sou aquilo a que se chama um “alfacinha de gema”. A minha mãe é ribatejana, tem essa costela familiar que preza muito, mas a verdade é que, desde que a minha avó morreu, nunca mais voltámos. Tudo mudou com o confinamento. Ficámos em casa, tive aulas no computador do meu primo Rui, estava desesperado por sair de casa e não podia. Os dias pareciam infinitos e eu queria era ir jogar à bola, ver os meus amigos, passear na rua, esquecer-me do uso da máscara e do álcool nas mãos. Eu até queria voltar para a escola! A minha mãe estava muito stressada e o meu pai mais ainda. Quando finalmente conseguimos sair de casa, a vida tinha mudado em muitas coisas, mas o tempo foi passando e fomos ganhando outros hábitos. Pouco tempo depois, a minha mãe anuncia-me com a maior naturalidade do mundo: – Vamos viver para Salvaterra de Magos, vou voltar às origens!
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Vamos viver para Salvaterra de Magos, vou voltar às origens!
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Pensei que estava a falar de uns dias de férias ou uma semana. Depois percebi que o plano era mais complicado e que a minha vida iria mudar radicalmente. Confesso-te que dizer adeus ao meu quarto, já para não falar de meter tudo nos caixotes não foi nada fácil. Despedir-me dos meus amigos e dos meus primos, que sempre foram nossos vizinhos, ainda foi pior. Eu sei que as pessoas não conversam sobre estas coisas, mas aprendi com a minha mãe que é a falar que nos entendemos e que precisamos de ser honestos, por isso, digo-te já: eu não estava contente, mas esta história que te quero contar é uma boa história e vais descobrir como um alfacinha de gema se tornou um salvaterrense animado e feliz. Mas espera aí, preciso de te contar que, além da mudança para o Ribatejo, o meu pai foi trabalhar para o estrangeiro. E isso foi a pior coisa de todas. O meu pai, quando não está stressado, é um homem divertido e bem-disposto, dá-se bem com todas as pessoas e gosta de rir às gargalhadas. Os meus amigos sempre me disseram: – O teu pai é fantástico! E é. Mas foi viver para fora do país e isso custa muito. Diz-me que muitos portugueses trabalham em vários países pelo mundo fora. Não o vejo as vezes que gostaria. Quer dizer, vemo-nos todas as noites (recebi o computador no dia em que fomos levar o meu pai ao aeroporto), mas não é a mesma coisa. Faz-me falta e gostava muito de o abraçar. Já sei, já sei, a distância social não permite, mas é o meu pai e, por isso, garante a minha mãe, os abraços são permitidos.
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Pedro, isto é outra vida, aqui não tens de te ralar com isso. Anda comigo, que vais ver que não te arrependes.
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Aposto que queres é ouvir a minha aventura que me fez sentir aqui da terra, por isso vamos a ela que se faz tarde. Mudámo-nos em junho, já estava um calor incrível. Íamos no carro, atulhado de coisas até ao teto, e a minha diz-me: – Olha, Pedro, vamos fazer um percurso diferente, tu tens de ver a lezíria e vamos ver se apanhamos flamingos, são lindos. Eu, chateado até à ponta dos cabelos e a antecipar uma carga de trabalhos com os sacos e caixotes, malas e malinhas, suspirei. Aceitei, porque custa menos. É uma frase do meu pai, di-la sempre que as coisas não me correm de feição. E lá fomos, fizemos um desvio perto de uma estalagem (a minha mãe não se recordava do nome), e fomos campo adentro. Se primeiro estava aborrecido, depois fiquei maravilhado. O Ribatejo é lindo! Talvez tu mores por aqui e isto seja tudo normal, por isso, não te comoves, mas eu senti que via uma das paisagens mais bonitas de sempre e que Lisboa tinha ficado num planeta muito, muito diferente. Os flamingos são quase como os unicórnios, achei que podiam ser do mundo da fantasia, muito elegantes, cor de salmão e apoiados numa pata, a ver a paisagem. Ao levantarem voo são umas aves que impressionam, não são? Quando, por fim, chegámos à rotunda onde está o touro e o campino, fiz uma pergunta sobre as estátuas – afinal, não é todos os dias que vemos um campino e um touro! – e a minha mãe riu-se e disse: – Espera que ainda vais ver melhor que isto. Já dentro da vila, estacionou e disse-me para sair do carro. Olhei para ela espantado,
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então, vamos deixar tudo dentro do carro? À vista? A minha cara deve ter denunciado a minha preocupação. E a minha mãe, a rir outra vez, garantiu: – Pedro, isto é outra vida, aqui não tens de te ralar com isso. Anda comigo, que vais ver que não te arrependes. Era o dia da festa da vila, ou melhor, são as Festas do Foral dos Toiros e do Fandango. Ia haver largada de touros. Tenho de admitir que foi um dos melhores dias da minha vida, as pessoas, os touros, o café, a Cabana dos Parodiantes de Lisboa. Na altura não os conhecia, depois fiquei a saber a história deste grupo de comediantes: nos anos 40 do século passado, criaram programas de humor para a rádio portuguesa com tanto sucesso, que ainda hoje são famosos. E também não sabia que eram daqui, de Salvaterra, e que no café iria provar os famosos barretes, uns doces incríveis que nos entregam em pacotes, com o desenho do barrete de campino. Enfim, não sabia nada, percebes? A minha mãe estava mesmo feliz e ficámos os dois agarrados a uma vedação, que se chama “tronqueira”, como aprendi mais tarde, a gritar para os touros, a vê-los perseguir os homens mais destemidos e as mulheres mais corajosas. Não é uma coisa para crianças, aviso já. Imaginar-me ali naquele espaço vedado com um touro? Nem pensar. Quando levaram o bicho embora, alguns miúdos saltaram para o espaço cheio de areia (a minha mãe diz que se põe areia no chão para não ferir as patas dos animais), e eu fiquei a vê-los a brincar às touradas, a observar as famílias, as pessoas contentes por estarem ali. Sim, o desconfinamento tinha sido em maio e a festa não era como em anos anteriores, já sabes, todos de máscara, muita distância entre as pessoas, muito álcool gel para higienizar as mãos. Uma pessoa habitua-se, não é? E eu, ali a ver a vila em festa, agora também a
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minha vila, a comer um segundo barrete. Pensei que também podia habituar-me. Também eu faria amigos. A minha mãe arrastou-me da avenida principal para o carro. Era tempo de vermos a casa nova. Sem dúvida de que era um bom sítio, garantia-me a minha mãe que estava realmente muito entusiasmada, eu ia gostar com toda a certeza, repetia-me: – Tu nem imaginas o que te espera! É preciso dizer que eu sempre vivi num apartamento com três divisões e uma cozinha pequena, sem varanda. Imaginam a minha cara quando vi que a minha mãe tinha alugado uma casa? Quer dizer, uma casa mesmo casa, sem ninguém a morar em cima nem em baixo? Tu não podes imaginar o meu ar de espanto e entusiasmo, mas a minha mãe registou tudo num vídeo que mandou para o meu pai e que, ainda hoje, é motivo de brincadeira sempre que se querem meter comigo. E porquê? Porque, além de ter a boca aberta, a primeira coisa que eu disse foi: – Eh pá! Vamos viver como a rainha de Inglaterra! Pois, foi o que me saiu. A minha mãe, antes de entrarmos, fez uma das coisas mais incríveis de sempre. Pegou na chave e disse: – Abre tu a porta, Pedro. E este porta-chaves é para ti.
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Não tens ideia de como fiquei contente. Foi a primeira vez que tive “a minha chave de casa”. Nunca me vou esquecer daquele momento. A casa é espetacular, tem um único piso, um quarto para mim, outro para a minha mãe, um quarto que será escritório, uma lavandaria, uma sala com cozinha incorporada e, a maior surpresa de todas, um jardim e... uma piscina! O que fez a minha mãe mais feliz não foi nada disto, foi ter, finalmente, o seu espaço de trabalho. Já te disse que a minha mãe é artista? Ela faz coisas maravilhosas, às vezes é uma seca porque quer ajuda, mas aqui entre nós, tenho muito orgulho no trabalho que faz. Agora está dedicada às construções de papel e faz coisas que tu não tens ideia. Há uns dias construiu uma cidade, até tinha um carrossel. Por isso, estava feliz com o seu espaço de trabalho, e eu feliz por ter um quintal e uma piscina (eu chamo-lhe piscina, na verdade é uma espécie de tanque). É uma mudança muito grande, sabes? Viver numa cidade como Lisboa, num prédio com doze andares, com muitos apartamentos, parece-me – agora! – uma coisa realmente estranha e escusada, quem é que quer viver assim? Só de pensar nisso até me falta o ar. Nessa primeira noite, comemos frango assado e batatas fritas, bebemos um sumo e brindámos. Estávamos contentes. Eu estava apreensivo, sabia lá se iria fazer amigos, se a escola seria fácil, se os professores seriam simpáticos… Não sabia nada. E ainda faltava muito para a escola começar. Os nossos vizinhos não pareciam ter crianças, não vi bolas nem bicicletas por ali. Apesar desses receios, brindámos, fizemos um zoom com o meu pai e foi fácil adormecer. Posso dizer que sonhei com a largada dos touros, mas isso talvez fosse mais ou menos previsível, não é? Para mim, foi como aterrar num outro planeta, como já te disse.
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Pedro, está tudo arrumado, agora é que começa a nossa vida. Amanhã vou levar-te a um dos meus sítios preferidos em Salvaterra. 15
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Depois do trabalhão todo para montar a casa, e de tratar dos caixotes e de ter água quente nas torneiras, a nossa vida começou. Pelo menos foi o que anunciou a minha mãe certa noite, quando aterrou no sofá ao meu lado: - Pedro, está tudo arrumado, agora é que começa a nossa vida. Amanhã vou levar-te a um dos meus sítios preferidos em Salvaterra. – Onde vamos, mãe? – Vamos à Falcoaria Real. – E isso é o quê? Estás a ver como eu era um rapaz da cidade? Até tenho vergonha! Não tinha tido curiosidade para pesquisar sobre Salvaterra, não sabia que era banhada pelo rio Tejo nem da quantidade de reis que caçou aqui por perto; não fazia ideia de haver uma capela e um teatro de ópera. Zero. Era um ignorante. E “falcoaria” era uma palavra estranha, nunca a tinha ouvido, por isso não associei a falcões. A minha mãe queria animar-me com esta notícia e eu, que não a queria desiludir, tentei parecer entusiasmado. Na verdade, estava a jogar playstation e a tentar ver se ela não me impedia de jogar mais meia hora. Como sabia que estava desanimado com a mudança e com a viagem do meu pai, não me aborreceu com nada e foi à sua vida, a cantarolar qualquer coisa que eu não entendi. Creio que, apesar da cantoria, não percebi o grau de felicidade da minha mãe. E, como prometido, lá fomos ver a Falcoaria Real. Era de manhã e eu não entendia por que carga de água é que tinha de me levantar tão cedo se eram as férias de verão. A minha mãe é madrugadora e estava entusiasmada com os falcões.
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– Tu vais ver, Pedro. São umas aves incríveis, quando abrem as asas têm mais de um metro de largura. Têm a visão muito, muitíssimo apurada e, isto é importante, fazem parte da história da vila. – Nós agora vivemos numa vila... – Pedro, tu não sabes ainda o privilégio que é morar aqui, mas vais descobrir. – Se tu dizes, mãe... A minha mãe estacionou o carro e eu fiquei ali a olhar para o edifício da Falcoaria, que é mesmo bonito e está muito bem arranjado. Quando a minha mãe me disse que existia há séculos, pensei que estivesse a gozar comigo e não fiz perguntas, eu já só queria ver os falcões. E quando, finalmente, vi o meu primeiro falcão-peregrino, apanhei o maior susto da minha vida! Imagina que tens uma ave de rapina a olhar para ti – não tinha os olhos tapados como costumam ter, quando saem para treinar (os falcoeiros, como descobri mais tarde, usam um caparão, uma espécie de capuz em couro, que cobre a cabeça da ave e que as deixa mais tranquilas), e ouves na tua cabeça: – Olá. Era uma voz distinta, meio rouca, como se fosse, quase, de alguém mais velho. – Olá. E eu a olhar para o falcão, que depois descobri chamar-se Excalibur, como a espada do rei Artur (já lá vamos!), a ouvir esta saudação e, feito parvo, sem perceber o que estava a
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acontecer. O Excalibur olhava-me intensamente e, de repente, fez-se luz: a voz vinha do falcão! Não podia ser. Ou podia…? – Estás a falar comigo? – Havia de ser com quem? Não está aqui mais ninguém. A tua mãe está ali ao fundo, não nos ouve. – Mas tu falas como as pessoas! – Tu também. – Bem, eu sou um ser humano. – E eu sou um falcão. – As pessoas não conversam com os animais. – Ah, não viste o Harry Potter? Ele fala com as serpentes. Não é um talento para qualquer um, tu tens sorte, Pedro. – Como é que sabes o meu nome? – Ouvi a tua mãe chamar-te. Ficámos calados durante um momento. Eu ainda estava meio abananado, afinal, aquilo era uma grande novidade na minha vida e sabia que não era um truque, porque a voz estava na minha cabeça e eu conseguia perceber que o falcão me fixava com um certo ar de gozo. Tenho de confessar que senti medo, mas não lhe quis mostrar. – Olha, prazer em conhecer-te, adeus. – Não te vás embora, Pedro.
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Parei e fiquei a olhar para ele. O falcão abriu ligeiramente as asas, sacudiu a cabeça e suspirou. Bebeu um pouco de água (o recipiente chama-se “banho” na gíria da falcoaria, mas, mais uma vez, foi coisa que só descobri depois). – Vê se consegues vir cá sem a tua mãe, tenho muito para te contar e preciso da tua ajuda. – Mas... ah... porquê eu? – Porque não há muita gente que me consiga ouvir dentro da cabeça, mas tu consegues e há muito tempo que não tenho com quem conversar. Tens amigos por aqui? Não és de cá, isso é evidente... – Não conheço ninguém. – Então precisas de um amigo. Eu sou Excalibur. Nesse instante, ouvi a minha mãe chamar por mim e despedi-me do falcão, fazendo – sabe-se lá porquê – a promessa de voltar. Demos uma volta na exposição permanente, da Falcoaria Real, e fiquei a perceber que os reis gostavam de falcões, que são preciosos nas caçadas. São treinados desde pequenos e alguns podem ser muitíssimo valiosos. Na Falcoaria Real existem cerca de 30 aves, mas nem todas são falcões; também lá podemos ver águias e açores. As pessoas que sabem como os treinar chamam-se falcoeiros. E há várias espécies diferentes, os falcões-peregrinos, por exemplo, existem no mundo inteiro, exceto na Antártida. Calcula tu que até os podes ver em cidades como Nova Iorque, não é bestial? A UNESCO transformou a arte da falcoaria em Património Imaterial da Humanidade, sabias, tu? Eu não fazia ideia de nada disto, como é normal num rapaz acabado de chegar da cidade, mas, tenho de admitir, de repente queria saber tudo sobre aves de rapina e estava no sítio ideal.
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A UNESCO transformou a arte da falcoaria em Património Imaterial da Humanidade, sabias, tu?
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À porta de uma casa amarela, com janelas de portadas verdes, estava um rapaz mais ou menos da minha idade.
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2. Os melhores amigos Fiquei um bocadinho nervoso, porque não quero que fiques com a ideia de que tudo isto me pareceu natural. Cruzei-me com animais ao longo da minha vida, até com as lontras que estão no Oceanário de Lisboa, com cães e gatos, com porquinhos-da-índia e peixinhos dourados, mas nenhum, juro, nenhum animal falou comigo como o Excalibur. Pior ainda, descobri que Excalibur, tão grande e de aspeto poderoso, é – imaginem! – uma menina, quer dizer, uma senhora, porque já tem alguns anos. Também aprendi que as fêmeas são maiores que os machos e ideais para as caçadas. Fiquei a remoer no nosso encontro e decidi ir dar um passeio ao quarteirão. A minha mãe acenou com a cabeça e deixou, já estava metida nos papéis de cores variadas, para fazer sabe-se lá o quê. Eu pree cisava de andar e de pensar. Teria eu ouvido a ave a falar comigo? Aquilo estava mesmo a acontecer? Perguntei à minha mãe, quando saímos da Falcoaria e viemos para casa, se poderia voltar no dia seguinte e ela nem estranhou, achou absolutamente normal. E agora? Excalibur tinha dito que precisava da minha ajuda. Para quê? Eu não conhecia a vila, e sabia zero sobre aves de rapina. E seria eu como o Harry Potter? Tantas perguntas e tão poucas respostas! Ia eu a caminhar de chapéu, estava calor, e oiço: – Psst, psst!
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À porta de uma casa amarela, com janelas de portadas verdes, estava um rapaz mais ou menos da minha idade. Olhei para trás – poderia ser que estivesse a chamar outra pessoa, mas não, era mesmo comigo. Fez-me um gesto com a mão e eu lá fui. – Eu sou o Rafael. – Olá. Eu sou o Pedro. – Já sei, és filho da Mariana, não és? A minha mãe andou na escola com a tua mãe, é a Rita. Já sabia que vinham para cá. Queres entrar? Está muito calor. Foi a melhor decisão da minha vida. O Rafael tornou-se o meu melhor amigo. Vamos à escola juntos, somos da mesma turma, gostamos de pão com banana e açúcar e aguentamos 35 segundos debaixo de água, sem respirar. Somos do mesmo clube desportivo e membros honorários da Falcoaria Real. Ah, espera, estou a meter a carroça à frente dos bois, como dizia a minha avó. Desculpa, eu vou voltar atrás. Entrei em casa do Rafael ainda sem saber exatamente porquê. Gostei da cara dele ou talvez estivesse a sentir-me sozinho, não sei, mas ainda bem que o fiz. Ficámos no alpendre a ver a horta que o pai dele cultiva e, no fim da tarde, vim para casa com um saco cheio de couves-portuguesas e de limões. O pai do Rafael é muito simpático. O Rafael é aquele tipo de pessoa que nos cativa de imediato: tem um sorriso sempre aberto, gesticula muito enquanto fala e ri-se com facilidade. Gostei dele logo à primeira. Senti que o conhecia há muito tempo e não tive problema algum em mostrar quem sou. É raro isto acontecer, não é? A minha mãe diz que existem relações de amizade assim, que são para a vida, e são fáceis, como se as pessoas se entendessem sem palavras. Bom, sem palavras será difícil porque o Rafael fala pelos cotovelos!
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Ainda bem que conheci o Rafael naquela tarde. Afinal, eu tinha uma missão um pouco estranha, agendada para o dia seguinte, e não podia ficar com aquilo só para mim, pois não? – Tu já foste à Falcoaria? – Claro! As minhas aves preferidas são os açores, são lindos. – Pois eu, olha, vou dizer-te uma coisa esquisita. Fui lá com a minha mãe e está lá um falcão chamado Excalibur... – Sim, é um falcão fêmea, talvez o mais antigo que existe ali. – Ah, isso não sabia, é uma fêmea. Pois, não vais acreditar no que te vou contar, mas ela falou comigo. O Rafael olhou para mim e ficou calado – deve ter sido das poucas ocasiões em que não soube o que dizer! – E depois aproximou-se, mas não muito (estávamos a uma distância segura por causa de toda a cena do vírus, sabes como é), e disse: – Tu consegues ouvir as aves... isso é incrível! – Não acreditas em mim. – Acredito, acredito! E explicou-me: que na família dele conta-se a história de um tio (o Rafael não chegou a conhecê-lo), que trabalhava na Falcoaria e que garantia conseguir entender as aves. Constava histórias. Atenção, as aves não são como os cães, são sempre selvagens, mantêm os instintos mesmo quando são criadas em cativeiro. O tio do Rafael jurava a pés juntos que
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conseguia entender o que diziam; fazia relatos dos voos como se ele próprio estivesse a voar, porque as aves lhe contavam tudo. – Isto até poderia parecer uma maluquice, há muita gente que dizia que o meu tio era um bocado doido, mas depois acabaram por respeitá-lo, porque ele nos salvou de uma grande desgraça, só por conseguir entender os falcões. – O que é que aconteceu? – Aconteceu que um falcão estava num voo e regressou sem ser chamado – os falcoeiros usam apitos, para os atrair de volta, e têm umas peças de cabedal com asas, e com comida, e as aves não resistem. Este falcão voltou à luva sem chamada, para contar ao meu tio que estava a começar um fogo na mata, e que aquilo ia ser um desastre. O tio do Rafael chamou os bombeiros, deixou o falcão voar outra vez e, antes que se desse uma grande desgraça, o fogo foi extinto. – Nunca mais disseram que o meu tio era maluco. É maravilhoso que tu consigas ouvir e falar com as aves, Pedro, é uma grande sorte. E olhou para mim com imenso orgulho. Seria razão para me sentir orgulhoso e sortudo? Contei-lhe que tinha prometido regressar à Falcoaria e que me intrigava o pedido de ajuda da Excalibur. Precisaria de ajuda para quê? – Amanhã vamos os dois e veremos o que ela te diz!
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Os falcoeiros usam apitos, para os atrair de volta, e têm umas peças de cabedal com asas, e com comida, e as aves não resistem.
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3. à procura do falcão A minha mãe ficou muito contente com a minha nova amizade, sobretudo por ser filho da Rita, a sua amiga de escola. Um telefonema e ficou resolvido: o Rafael e eu iríamos à Falcoaria, a mãe dele deixava-nos lá e depois apanhava-nos, para lancharmos algures. Pensei logo em barretes, mas não disse nada, a minha mãe diz que tenho de controlar o consumo de açúcar e eu sei que ela tem razão, mas... são tão bons! O Rafael contou-me tudo o que sabia sobre a Falcoaria e sobre os falcoeiros. – O meu preferido é o Rui. É um senhor muito simpático que largou um emprego em Lisboa, para se dedicar às aves. Acho que tinha um lugar importante, mas decidiu que a sua vida iria melhorar, se fosse falcoeiro. Eu pensei que era preciso ter coragem. Fiquei com curiosidade, queria muito conhecer um falcoeiro e fazer-lhe mil perguntas: o que comiam os falcões? Quando é que voavam? E o acasalamento, era quando? Quanto tempo vivem? Enfim, tu calculas as muitas perguntas que se podem fazer sobre aves de rapina. Quando chegámos à porta da Falcoaria Real, eu estava um pouco nervoso. O Rafael puxou-me pela manga e riu-se: – Não estejas assim, Pedro, tens um poder incrível. Anda, vamos ver o que ela quer.
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E lá estava ela, a Excalibur, no poleiro (que se chama “banco”), a olhar para mim com aquele ar inteligente. Fixou o Rafael e não disse nada. Foi um momento terrível, durou uma eternidade e eu pensei que me tinha enganado, tinha delirado, afinal não ouvia as aves. De repente, a Excalibur agitou-se e eu enchi-me de coragem e disse: – Olá. Este é o Rafael. – Boa escolha, Pedro. Vão ser amigos para o resto da vida e isso é bom. – Disseste que precisas de ajuda...? O Rafael não se conteve e sussurrou: – Tu não te importas de me contar o que ela está a dizer, Pedro? Só para não ficar aqui tipo parvo... – Espera, vai dizer-me agora de que ajuda precisa. A Excalibur começou o seu relato devagar, percebi logo que estava cansada. Tinha voado nessa manhã e precisava de umas horas de descanso, contudo não queria perder a oportunidade de conversarmos. – Há um jovem falcão, que se chama Artur... Nós, os falcões, acasalamos uma vez por ano e sempre com o mesmo parceiro. Em março deste ano, tive seis filhotes, seis ovos. Uns filhotes muito bonitos, alguns mais preguiçosos para sair do ninho. O Artur foi o primeiro, já a saltitar, ainda não tinha dois meses de vida. Foi um instante para aprender a voar. Eu preciso de ajuda para o encontrar e trazer de volta à Falcoaria.
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Uns filhotes muito bonitos, alguns mais preguiçosos para sair do ninho.
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Fui contando a história do filho da Excalibur ao Rafael que, para meu grande espanto, conseguia conter as perguntas e ficar à espera do desfecho da narrativa. Todas as crias da Excalibur começaram o seu treino, algumas até foram para outras paragens, mas o Artur ficou e, no seu primeiro voo com o falcoeiro Rui, rapidamente decidiu que precisava de ver o mundo. – Eu percebi logo que ele iria quebrar as regras e que, mais tarde ou mais cedo, o voo seria maior e talvez o Artur corresse o perigo de se perder. – Mas os falcões têm uma espécie de chip... – Diz ao Rafael que é verdade, chama-se “emissor”, mas no caso do Artur parece que o emissor perdeu energia, ou talvez esteja estragado. O Artur não voltava à Falcoaria há duas semanas, e a Excalibur estava convencida de que seria possível procurá-lo. Na Falcoaria já tinham desistido. – O Rui ficou muito aborrecido de perder uma ave tão jovem, e com tanto potencial, mas ao fim destes dias teve de desistir, eu percebo. A Excalibur estava preocupada com o filhote. O Artur não teria grande capacidade para caçar, nem tinha tido treino suficiente, talvez não conseguisse sobreviver. Era urgente procurá-lo. – Mas nós vamos procurar como? – Eu sei como!
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O Rafael estava agora muito entusiasmado com a nossa missão. E tinha um plano, o que era bestial, porque eu não tinha a mínima ideia de como ajudar a mãe do Artur. A Excalibur suspirou, ou pensei eu que tivesse suspirado, nunca teremos a certeza, e disse-me: – Preciso mesmo de descansar, Pedro, por favor, vê com o Rafael o que podem fazer. – Fica prometido, Excalibur. E qual era o plano do Rafael? Muito simples. Para o meu novo amigo estávamos de férias de verão, não tínhamos obrigações, podíamos percorrer todos os espaços à volta. Ele até tinha duas bicicletas e podíamos pedir ajuda ao Rui, ao falcoeiro. – E tu achas que nos vai ajudar? – Vamos falar com ele! O Rui estava de volta de um açor, uma das aves mais bonitas de sempre, e nós esperámos pacientemente. Não lhe contámos que a Excalibur consegue comunicar comigo, não queríamos que ficasse a ter ideias estranhas sobre mim, por isso dissemos apenas que queríamos ajudar. – Rapazes, vocês são muito fixes e eu agradeço, tenho a certeza de que todos aqui na Falcoaria agradecemos, mas não estou a ver como é que vocês podem ajudar a encontrar o jovem falcão. – Chama-se Artur.
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Também percorremos os arrozais – voltei a ver flamingos!
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Erro! Percebi no momento em que o nome do falcão desaparecido me saiu da boca. Primeiro, as aves não têm nomes, ou se têm os falcoeiros não os revelam, até porque não são cães nem gatos, não respondem ao nome; segundo, porque não havia qualquer razão para se chamar Artur e, por fim, porque eu era um desconhecido, um miúdo acabado de chegar. Podia deitar tudo a perder com o meu deslize. – Artur? Vocês sabem que as aves não têm nomes, não sabem? – Sim, sim, não são cães, nós sabemos, mas achamos que este falcão podia ter o nome do rei Artur. Andámos a ler sobre a lenda e sobre a espada Excalibur. – Ah, boa história! Eu também li essas lendas quando era da vossa idade, Rafael... Bom, voltando à nossa conversa, não sei como podem ajudar. – E se formos dando voltas e levarmos uns binóculos? Se a avistarmos podemos ligar-lhe, Rui. – Por acaso, tenho uma fotografia dele aqui no telemóvel. Eu fiquei com a impressão de que o Rui achou que mal não fazia, por isso, mostrou-nos a fotografia do Artur, um falcão muito, muito bonito, mais pequeno do que a mãe, é claro, porque os machos são sempre mais pequenos. O Rafael e eu saímos da Falcoaria com a missão espinhosa de convencer as nossas mães a deixarem-nos andar à solta, com binóculos, à procura de uma ave de rapina que, infelizmente, não responde pelo nome.
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4.à descoberta Andar à procura do Artur tornou-se o nosso dia-a-dia. Sem queixas, porque fui vendo a vila e tendo noção de coisas que, de outra forma, teria levado muito mais tempo a perceber. E sempre com um final feliz: um grande mergulho no nosso tanque! O Rafael sabe tudo sobre a vila. Foi com ele que descobri a marina de Escaroupim, o museu, que quero muito visitar, e vi os barcos (podemos fazer passeios no Tejo!) e a grande mata. Até fomos visitar a antiga casa do guarda-florestal, porque o Rafael tem imenso orgulho de o bisavô ter sido guarda-florestal. Também percorremos os arrozais – voltei a ver flamingos! – e visitámos o clube náutico. Foi quando concluí que viver em Salvaterra era uma coisa fantástica! Para grande pena nossa, apanhámos o picadeiro fechado… Foi uma desilusão, porque gostamos os dois muito de cavalos. Conversámos com os bombeiros no novo quartel e fomos ver o antigo, que agora é uma escola de música. As pessoas andavam todas a fugir do coronavírus, mas só falavam sobre isso, não era muito interessante para nós. Tínhamos contado aos nossos pais sobre a nossa aventura de procurar o falcão Artur e, posso garantir-te, nenhum deles acreditou que fosse possível. Mas a sorte protege os audazes (sim, mais uma coisa que a minha avó me disse muitas vezes) e nós estávamos decididos a dar essa alegria à Excalibur. Todos os dias, antes de começarmos a nossa busca, íamos dizer-lhe “bom-dia”. Aprendi a gostar dela, ou melhor, a não ter medo,
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porque as aves metem um pouco de medo, não achas?
Foi com ele que descobri a marina de Escaroupim, o museu, que quero muito visitar, e vi os barcos (podemos fazer passeios no Tejo!) e a grande mata.
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– Pedro, estive a pensar... quando eu era mais jovem gostava muito da zona dos arrozais. Já foram aí? – A Excalibur pergunta se já fomos aos arrozais, Rafael, mas já fomos, não foi? – Sim, mas podemos ir de novo e talvez explorar outra parte. Diz-lhe que vamos hoje. – Ela entende-te, Rafael. – Ah, bom! O Rafael corou de contentamento e fomos na direção dos arrozais. Enquanto percorríamos os caminhos, o Rafael explicou-me que os portugueses são grandes consumidores de arroz: cada um de nós come em média dezoito quilos por ano. Consegues ter uma ideia do que são dezoito quilos de arroz? E Portugal é o terceiro produtor da União Europeia, sabias? Pois, eu também não sabia nada disso, o Rafael é uma espécie de tudólogo, sabe quase tudo e quando não sabe gosta de pesquisar. Eu acho que ele detesta ter de dizer “Não sei”. Mais tarde, quando começámos a escola, a curiosidade do Rafael ajudou-me muito a ter interesse por coisas nas quais nunca tinha pensado. Quando chegámos aos arrozais, a extensão era tão grande que eu desmoralizei. – Nunca o iremos encontrar… – Não digas isso, nunca se sabe. Estava muito calor e suávamos em bica nas nossas bicicletas. O Rafael riu-se, porque os binóculos estavam embaciados com tanto calor. Limpei-os à camisola que trazia presa à cintura e, para meu espanto, quando olhei para o céu, eis que planava uma ave que me pareceu bastante familiar. Seria o Artur?
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– Rafael, olha ali!
Ficámos a ver o falcão voar, a fazer círculos e a planar... 47
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Ficámos num enorme entusiasmo. O Rafael pegou no telemóvel que a mãe lhe tinha oferecido no Natal e ligou ao Rui, o falcoeiro. A chamada não durou nem dois segundos. – Ele vem para cá. Ficámos a ver o falcão voar, a fazer círculos e a planar, e eu só pensava que, de repente, o Artur podia lembrar-se de ir embora dali, voar para outro sítio, e ainda passávamos por mentirosos. Pouquíssimos minutos depois de termos telefonado ao Rui, vi um falcão maior aproximar-se. Era a Excalibur! Vou contar-te um segredo e agradeço que não o repitas a ninguém: até fiquei de lágrimas nos olhos... A mãe vinha buscar o filhote perdido. Ouvimos um carro a chegar e, num instante, o Rui já estava a correr na nossa direção. Trazia um apito e uma falsa presa, o rol, e estava claramente contente com o reencontro entre mãe e filho. – Rapazes! Vocês são incríveis! – Rui, acha que... – Diz lá, Pedro. – Tenho a certeza de que não precisamos de fazer nada, a mãe vai levar o Artur para casa. – E lá estás tu com o Artur! Um falcão não é... E o Rafael e eu dissemos em coro: – Um cão!
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O FALCÃO Ilustração tridimensional em papel de aguarela.
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5. salvaterra no coração Tornámo-nos amigos do Artur. Na verdade, de todas as aves que estão na Falcoaria Real; porém o melhor não foi isso, o melhor foi percebermos que podíamos aprender a arte da falcoaria e que o Rui iria explicar-nos tudo durante o tempo que tivéssemos para o ouvir. Nunca nos disse: – Agora não posso, rapazes. A Excalibur contou-nos muitas histórias e o Artur decidiu que seria um falcão de caça de grande qualidade, apesar das suas dimensões mais pequenas. O Rafael e eu fizemos um pacto para o resto da vida: não escondemos nada um do outro, dizemos tudo o que sentimos, sem vergonha, e seremos amigos, quase irmãos. Porque a vida é muito melhor quando temos amigos, não é? Salvaterra é hoje a minha terra, não tenho saudades de Lisboa, pelo contrário. Sempre que os meus primos vêm de visita, mostro-lhes a Falcoaria Real e tudo o resto – ficam de boca aberta. Eu fiquei! E pronto, agora já sabes como um alfacinha de gema se tornou um salvaterrense de coração.
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PUBLICAÇÕES ANTERIORES 1 | O Amigo Voador, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, ilustrações de Pedro Rocha e Mello (2014) 2 | O Diário do Guigas I, Falcões Mágicos em Salvaterra, Maria João Lopo de Carvalho, ilustrações de Pedro Semeano e Susana Diniz, (2015) 3 | Diário do Guigas II, Em Salvaterra seguindo a pena do Gerigalte, Maria João Lopo de Carvalho, ilustrações de Pedro Semeano e Susana Diniz, (2016) 4 |O Príncipe D. Luís e o mistério do mapa roubado, Isabel Stilwell, ilustrações de Miguel Cardoso (2017) 5 | O Falcão e a Formiga, Rita Ferro, ilustrações de Pedro Rocha e Mello (2018) 6 | Niki e Vick, Assalto em Salvaterra, Thereza Ameal, ilustrações de Miguel Cardoso, (2019) VEJA MAIS EM
www.falcoariareal.pt Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Setembro 2021
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