Número
Especial Temático 2020
Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020)
Magos
Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos n.ยบ especial | Ano 2020
Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
Magos
| Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos n.º especial Ano: 2020
Propriedade Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Coordenação Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Eng.º Hélder Manuel Esménio Textos Roberto Caneira Grafismo Soraia Magriço Capa Inauguração da praça de touros, 1 de agosto de 1920 Execução Gráfica Gráfica Central de Almeirim, Lda Depósito Legal 380652/14 ISBN 978-972-96915-7-7 Data Agosto de 2020 Tiragem 2000 exemplares
Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
Índice 1 | Dados históricos sobre tauromaquia no Concelho de Salvaterra de Magos | pág. 04 à 09 2 | As praças de touros em Salvaterra de Magos | pág. 10 à 18 3 | A comissão organizadora da construção da praça de touros de Salvaterra de Magos | pág. 19 à 42 4 | Figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos | pág. 43 à 70 5 | Forcados de Salvaterra de Magos | pág. 71 à 75 6 | Ganadarias de Salvaterra de Magos | pág.76 à 86 7 | Imagens de Arquivo | pág. 87 à 119 8 | Bibliografia e webgrafia | pág. 120 e 121
Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
Magos Prefácio | As tradições taurinas nas suas múltiplas vertentes, constituem um património cultural, que se manifesta nas festas populares com as entradas e largadas de touros, com as tentas, com os campinos, nas ganadarias e coudelarias, nos forcados, bandarilheiros, novilheiros, cavaleiros e nas corridas de touros. Estas manifestações culturais, fazem parte da nossa memória coletiva e da nossa identidade enquanto Povo e concelho. Celebra-se a 1 de agosto de 2020, o centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos, e a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, no âmbito do seu trabalho em prol do estudo, preservação e divulgação da história local e do seu património cultural concelhio, não podia deixar passar em claro esta data. A edição desta monografia, é um levantamento
do património tauromáquico, que faz um estudo exaustivo da história das corridas de touros no concelho, e reúne pela primeira vez factos e figuras da festa brava. A exposição que acompanha esta edição, a exposição de homenagem à Ana Batista, entre outras iniciativas, estão a ser promovidas pela autarquia para celebrar a efeméride do centenário da praça de touros de Salvaterra de Magos. A praça de touros de Salvaterra de Magos para além de ser um monumento de beleza arquitetónica, é o local onde se “escreveram” páginas da história da tauromaquia portuguesa, e onde se afirmaram os toureiros do concelho, é ainda um cartão de visita para quem nos visita. A celebração dos seus 100 anos de vida é também uma forma de exaltar os valores e as memórias culturais associadas à festa brava.
O Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos
Eng.º Hélder Manuel Esménio
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Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920-2020) Factos e figuras da festa brava de Salvaterra de Magos
Roberto Caneira
Técnico Superior de Hstória
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1 | Dados históricos sobre tauromaquia no Concelho de Salvaterra de Magos As vastas lezírias que fazem parte integrante da geografia do Concelho, ciclicamente eram inundadas pelas cheias do Tejo, originaram condições específicas para a criação do gado bovino e cavalar, cujas referências mais antigas remontam à Idade Média. Os Paços Reais de Muge e Salvaterra de Magos, eram frequentemente visitados pelos nossos monarcas, onde se refugiavam durante os meses de inverno, para se exercitarem em montarias e em exercícios equestres que envolviam lides de touros. Diz-nos a tradição popular, que junto dos Paços Reais haviam pequenos redondéis improvisados, onde eram corridos reses bravas para gáudio da família real e dos seus séquitos: «Sabemos porém que há muito eram criados touros em Portugal, nomeadamente nas Lezírias do Tejo, cuja fertilidade cedo havia atraído agricultores e criadores de gado (…). Desde os tempos mais remotos da monarquia portuguesa que nobres e reis se dedicavam à caça desses e doutros animais de grande porte, como forma de manterem a boa forma física e se exercitarem para a guerra:» 1 No séc. XVI, quando o Infante D. Luís se torna Senhorio da vila de Salvaterra de Magos, reestrutura o antigo Paço medieval da vila e passa grande parte do seu tempo nesta localidade. Francisco Câncio 2, afirma que as primeiras corridas reais em Salvaterra de Magos remontam ao Infante D. Luís.
Uma outra referência à realização de corridas de touros em Salvaterra de Magos, envolvendo a participação de um monarca, é datável do séc. XVI, concretamente ao reinado de D. Sebastião, que se divertia a lidar touros com os cornos pouco serrados: «Em Abril, já o rei enfrentava em Salvaterra, toiros com cornos pouco serrados. E mais, desafiando as recomendações dos médicos no sentido de moderar os exercícios físicos, depois de uma aparatosa queda em que se feriu num braço e numa perna, continuou a lidar até se acabar os touros.» 3 No séc. XVIII, durante a vigência de D. José I, a família Real passava grandes períodos no Paço Real de Salvaterra de Magos, a assistir a óperas ou a participar em pomposas caçadas reais com falcões, trata-se de uma corte barroca, com gosto pelo fausto e pela exuberância. É nesta época que se intensificam as corridas reais de touros: «É no reinado de D. José, que as toiradas em Salvaterra começam a deixar o seu traço histórico. Neste tempo as toiradas tinham lugar no Largo do Palácio e a elas assistiam toda a corte envergando as suas melhores galas. Valentes e garbosos fidalgos experimentavam rojões nos cachaços das feras lezirentas.» 4 O divertimento com touros em Salvaterra de Magos, durante a presença da corte nesta vila, acontecia várias vezes por semana, e muitos fidalgos que eram criadores de touros queriam ver as suas reses nestas corridas reais:
O touro, mitos, rituais e celebrações [coord: Carla Varela Fernandes], Alcochete, C.M. Alcochete, s.d., p.82 Cf. Francisco Câncio, A festa brava, Lisboa, Imprensa Baroeth, 1941, p. 479 3 Maria Augusta Lima Cruz, D. Sebastião, Lisboa, Círculo de Leitores, 2005, p. 226 Francisco Câncio, A festa brava, Lisboa, Imprensa Baroeth, 1941, p. 463 1 2
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«Sua Magestade já apareceu em público em Salvaterra, e assitiu ao divertimento de toiros, que ali se fizeram nos primeiros três dias da semana. O dito divertimento se há-de repetir, porque todos os fidalgos, que têm criações deles, os querem dar das suas raças para o dito fim. Com isto se vai Sua Magestade entretendo ainda ali.» 5 Outra descrição das corridas reais, durante a presença de D. José I em Salvaterra de Magos, está na obra de Francisco Câncio - «Ribatejo Histórico e Monumental»: «Muitas vezes enchia-se a praça de nobres e de povo e a fidalguia enterrava lanças nos gordos cachaços dos toiros das manadas reais. Trombetas, charamelas e timbales, tocavam em festa a cada toiro que tombava cheirando o chão onde ia morrer. À saída, entre alas do Povo passava El-Rei, feliz, contente, escutando da boca dos seus súbditos: - Viva El-Rei, nosso Senhor!... Quando El-Rei partia deixava atrás de si como que vácuo. Salvaterra ficava à espera que a corte voltasse! E a corte voltava…» 6 As memórias paroquiais de Muge (1758), referem que o Duque de Cadaval fazia criação de reses bravas, cuja bravura dos touros era reconhecida: «Tinha ainda uma manada de vacas bravas. Os bezerros seriam para regalo da mesa e outros ficavam
para touros, que haviam granjeado fama de bravíssimos.» 7 Ainda no reinado de D. José, em Muge o Duque de Cadaval, organizou-lhe uma festa em sua honra, pelo facto do monarca ter sobrevivido a um atentado. Estas festas incluíram missas, fogo de artifício e corridas de touros: «No dia 24 de Fevereiro [1759], o Duque ordenou que se fizessem festejos naquela localidade, em acção de graças a Deus por ter conservado a vida a El-Rei. Houve missa solene no altar de Nossa Senhora do Curro, seguida de pregação. Depois deu-se uma corrida de touros e lançou-se fogo de artifício.» 8 Rebello da Silva em meados do sec. XIX, influenciado por este ambiente da corte barroca de D. José I e das corridas de touros, escreveu no seu compêndio de Lendas e Narrativas, o episódio “A última corrida de touros em Salvaterra de Magos”. A narrativa de Rebello da Silva, descreve-nos de uma forma dramática, a colhida mortal do Conde d’Arcos e a descida à arena do seu Pai, o Marquês de Marialva, que estoqueou o toiro que tinha morto o seu filho. Na assistência estava o Marquês de Pombal que determinou o fim das corridas reais. O episódio é ficcional, contudo a tradição local afirma que este acontecimento histórico foi verídico. Eduardo Pizarro Monteiro 9, expõe dados históricos e apresenta a certidão de óbito do Conde d’Arcos numa data diferente do conto de Rebello da Silva.
Ana Maria Leitão Bandeira, «Mano muito do meu coração… Reconstrução do arquivo pessoal de D. Francisco de Lemos e transcrição das cartas de seu irmão João Pereira Ramos de Azevedo Coutinho (1775 – 1779», In Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra, vol. XXX, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, p. 127 6 Francisco Câncio, Ribatejo Histórico e Monumental, vol. 29/30/31, s.l., Junta de Província do Ribatejo, 1939, p. 166 7 José Estevam, Anais de Salvaterra, Lisboa, Edições de Couto Martins, 1959, p. 99-100 8 José Estevam, Anais de Salvaterra de Magos, Lisboa, Edições Couto Martins, 1959,p. 50 9 Eduardo Pizarro Monteiro, A última corrida de Salvaterra nunca existiu, Separata da Revista «Miscelânea História de Pombal», n.º 2, 1982 5
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Um outro episódio caricato, aconteceu com o Infante D. Miguel, que era muito querido pela população local e que encarnava o espírito de toureiro destemido. O acontecimento decorre aquando do aniversário de D. João VI, o Paço de Salvaterra de Magos, estava cheio de nobres, fidalgos e altos dignatários que queriam prestar homenagem a Sua Majestade. D. Miguel com ajuda de vários companheiros introduz no interior do Paço Real um opulente touro, criando sobressalto e pânico entre os convidados. Este incidente foi narrado por Eduardo Noronha na sua “História das touradas”, sendo depois republicado e acrescentado por Francisco Câncio na publicação “Festa Brava”. O relato é extenso e rigoroso com descrições do interior do Paço de Salvaterra de Magos e das investidas do touro aos convidados: “D. Miguel muito gostava de Salvaterra. Rei toureiro por excelência, foi célebre nesse Paço tão apreciado por seus avós. Dirigia com saber uma manada correndo na “ponta da unha”, o pampilho nas suas mãos, era uma seta que indicava um caminho. Valente e nobre, encarnava verdadeiramente o tipo de ribatejano travesso. Num dia de beija-mão real, por ocasião dos anos do Senhor Rei D. João VI – na sala do trono em Salvaterra, introduz com outros da sua força, um toiro negro e corpulento. O episódio vem assim contado por Eduardo de Noronha na sua História de Touradas: A corte estava em Salvaterra, e no dia 13 de Maio, aniversário do nascimento de D. João VI havia beija-mão. De Lisboa acudiam todos os altos dignitários a prestar homenagem ao soberano. Salvaterra regurgitava de militares, nobres magistrados e
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Magos funcionários de elevada categoria. Havia desusado movimento na tranquila vila. A sala de recepção do Palácio estava situada no pavimento térreo. Vasta, com o cunho especial das
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Figura 1 - Brincadeira de D. Miguel no Paço de Salvaterra – Composição de Martin Maqueda - Fonte: António Manuel Morais – “A Praça de Toiros de Lisboa - Campo Pequeno
Magos casas solarengas, era iluminada por grande cópia de janelas e de portas, que davam quasi todas para o jardim. No dia de gala, o salão foi-se enchendo pouco a pouco e próximo da hora de aparecer o monarca, seria difícil conter mais gente, de tal maneira se apinhavam os cortesãos. O aspecto dessa aglomeração aristocrática era deslumbrante: resplandeciam fardas de variados
matizes, veneras de ordens portuguesas e estrangeiras, bordados cintilantes, espadas sonoras, damas de trajes sumptuosos, decotados conforme os rigores da etiqueta, cobertas de pedrarias. Desta massa de tecidos grossos, de lavoures doirados, de metais em contacto, de joias preciosas sai um fulgor intenso e ofuscante. Ouvia-se o murmúrio prolongado, o sibilo característico
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Figura 2 - Um toiro no Paço de Salvaterra. Composição de Manuel Macedo - Fonte: António Rodovalho Duro - “História do Toureio em Portugal”
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de muitas bocas falando baixinho. O cerimonial em Salvaterra era diferente do Paço da Ajuda. Num dado momento sentiram-se ranger os gonzos de uma porta. Fez-se um silêncio respeitoso e a assistência esperou, de cabeça erguida para o chão, requebrando-se em abúlica mesura, que o reposteiro-mor anunciasse El-Rei. Repercutido pelas paredes do recinto um estranho resfolegar; os assistentes sacudidos por instintivo pavor estremeceram num calafrio; os medrosos ficaram petrefactos, incapazes de se moverem; os audazes levantaram os olhos e viram, mais tremendo que um horripilante monstro, um… toiro! O animal negro, lindamente armado, corpulento de membros bem a prumo, estancou a meio da porta, surpreendido com o espectáculo que se lhe oferecia. O solo que pisava, a falta de ar livre, a estreiteza relativa do âmbito, a massa humana que se erguia na sua frente a incitá-lo com vestuários flamejantes a deslumbrá-lo com cintilações estranhas quebrou-lhe durante um segundo a natural ferocidade. A hedionda aparição, que imobilizara temporariamente os músculos de tantas pessoas, depressa lhes restituiu a liberdade. Os circunstantes recuaram ante cela, como a onda que reflecte depois de bater na penedia. Os militares desembainharam as espadas e resolveram fazer frente ao inimigo, os magistrados ergueram as togas para não embaraçar o movimento das pernas, as senhoras desmaiaram e soltaram gritos, que constituíam uma original sinfonia de terror, os outros cortesãos procederam segundo o temperamento lhes aconselhava, buscando a fuga ou arrastando o inimigo. A maioria quis abrir portas, estavam fechadas pelo lado de fora. A indecisão do toiro durou pouco. Por detrás apareceu o semblante zombeteiro do D. Miguel, uma aguilhada aplicada em sítio próprio obrigou a fera a
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Magos desfechar uma parelha de coices e a crescer sobre a pintalgada barreira. O recuo foi genial. As vidraças feitas em estilhaços caíram nos ladrilhos dos pavimentos, produzindo vibrante estalido, as almofadas estoiraram, as molduras partiram-se em lascas. A corrente impetuosa encontrara uma saída. O toiro apesar da fúria, não podia baixar a cabeça para marrar, o ajuntamento não lho consentia, limitava-se a bater o focinho nos colos nus dos fidalgos e nos bordados cintilantes dos magnates. O medo, porém, auxiliava a fantasia e o perigo tomava proporções assombrosas. Havia pessoas que se encomendavam “in mente” a Deus, sentindo-se varadas de lado a lado pelas aguçadas pontas do monstro, outros confessavam depois que a horrível fera lhes parecera mais alta que o arco grande das Águas livres, outras ainda, as pobres senhoras esquecendo-se do natural recanto, mostravam na aflição íntimas particularidades que as obrigariam a morrer de vergonha em conjuntura menos apertada. Os cortesãos que não jaziam no solo, e espezinhados pelos timoratos espalharam-se pelo jardim como um rio que despedaça as represas. Extravagante espectáculo aquele! Os altos penteados da época tombavam e oscilavam com tumescências grotescas. Os rasgões dos uniformes contrastavam com a abundância do oiro que os matizava, os vestidos de brocado e de seda, amarfanhados, franjavam-se em retalhos caprichosos, as becas dos juízes e os hábitos do clero eram um enorme crivo de golpes. O toiro desejoso de recuperar a sua liberdade, entalara ao sair uma das hastes de encontro a um batente. Fora andavam já por ordem de D. João VI, a quem tinham participado o facto, campinos e chocas para recolherem o bruto, origem de tantas preocupações. D. Miguel divertia-se imenso, num grupo de rapazes
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da sua idade, apesar da repreensão do pai, com o pânico que espalhara, e numa janela, a Rainha Carlota Joaquina ria convulsivamente, como boa espanhola que era do terror cómico da sua corte.” 10 Trata-se de um episódio fantasioso, mas do ponto de vista histórico, D. Miguel sempre foi muito acarinhado pela população de Salvaterra de Magos, designando-o “Rei Toureiro”, e em termos políticos, esta vila manteve-se fiel aos ideais absolutistas. Uma outra manisfestação taurina eram as ferras em Muge realizadas pela Casa Cadaval, eram muito apreciadas pela população local e também por aficionados e sócios do Grupo Tauromáquico Sector 1 de Lisboa, que organizavam excursões a Muge para assistirem às ferras. O escritor Fialho Almeida, na sua obra “Os Gatos” assistiu a uma ferra em finais do séc. XIX e destaca a festa que era para a população local este evento, e como era feita a seleção das reses bravas: A ferra de Muge, noventa garraios negros pertencentes à valida adolescência das manadas Cadaval, sobre os pitorescos já assinados aos espectáculos similares doutras ganadarias, outras havia p’ra me tornarem particularmente interessante. Primeiro, os novilhos ferrados são o mais puro extracto das gerações selvagens da ganadaria, que só resolve assinar produtos absolutamente perfeitos de forma e execpcionais de agilidade e bravura. Há, segundo me disseram requisitos, que toda a rês deve possuir
para ser digna de trazer na nalga, o ferro em brasa, a coroa quase real dos Cadavais. Por exemplo, ser negra, ter a armação dum certo tipo, e caracteres de ligeireza de tal guiza, que esses toiros legitimistas, descendentes dos últimos que o Senhor Rei D. Miguel, correu, ou viu correr, no cercado do solar em Muge, possam servir de modelo ao toiro alado das teogonias orientais. (…) Quando chegamos à praça, a ferra está no meio, e dois novilhos acabam de espirrar como dois diabos, varrendo de ímpeto os magotes de saloiada, que viera bater-lhes palmas ao caminho e toureá-los com as pontas dos cajados. Há uma algazarra alegre em toda a quadra, gargalhadas, apupos, falatório, uma confusão de chapéus e lenços, cintas, saiotes por cima dos poiais, que bole e mistura continuamente os seus mosaicos de cores barbaras. Quadro soberbo, a erupção da fera em plena praça, da fera adolescente, que junta a brancura da seda.»11 As atividades taurinas espelham a identidade, a história e tradição do concelho de Salvaterra de Magos, desde o período medieval até aos nossos dias, há uma forte identificação com a festa brava, estando a história do nosso concelho intimamente ligada às lides taurinas e ao culto do toiro.
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Francisco Câncio, “A Festa Brava”, Lisboa, Imprensa Baroeth, 1941, pp. 194 -196 Fialho Almeida é citado por Francisco Câncio, Ribatejo Histórico e Monumental, vol. 29/30/31, s.l., Junta de Província do Ribatejo, 1939,p. 209
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Figura 3 - Ferra em Muge - década de 50 do séc. XX
2 | As Praças de touros em Salvaterra de Magos Com a evolução do toureio e o aparecimento de certas regras que regulamentavam os espetáculos taurinos, deixaram de ser espetáculos de uma elite de nobres e fidalgos e começaram a atrair populares. Desta forma, surge a necessidade de se construírem praças de touros que acolhessem os espetadores. Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
A primeira referência à existência de uma praça de alvenaria no concelho, estaria localizada na Glória do Ribatejo e remonta a 1830: «Na pitoresca aldeia da Glória, no Concelho de Salvaterra, aí à volta de 1830, havia uma praça de toiros onde toireavam entre outros, António Roberto - pai dos afamados toureiros Salvaterrenses Robertos
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- e o terrível caceteiro Vilafranquense Joaquim Emídio.»12 A existência de um recinto tauromáquico na Glória do Ribatejo é corroborada por Alves Redol, na década de 30 do séc. XX, quando recolhe informações para a sua monografia “Glória, uma aldeia do Ribatejo”. O escritor neo-realista ainda consegue visualizar algumas estruturas da antiga praça de touros da Glória: «Outrora, junto da igreja, havia um redondel, onde se correram touros para gaúdio da malta ribatejana, sempre destemida e disposta a bater palmas aos mais pintado, e mais tarde aproveitaram-na para ferras e tentas dos lavradores próximos. Da sua construção resta hoje um pedaço de parede e recordações nos velhos que a viram inteirinha, caiada, repletos os muros de multidão ruidosa a incitar capinhas e pegadores.» 13 Na vila de Salvaterra de Magos, a par dos improvisados redondéis junto do antigo Paço Real, vários largos serviam para montar tauródromos que recebiam corridas de touros, caso do Massapez, que ainda está muito presente na memória da população local, e como evidenciam estas fotografias do início do séc. XX. (fig. 1 e 2) Um outro local escolhido para montar uma praça para as corridas de touros, foi o Largo de S. Sebastião, localizado no final da atual Avenida Dr. Roberto Ferreira da Fonseca. António Rodovalho Duro descreve que em 1855 as corridas de touros, excediam-se em grandeza e aparato, com grandes atos de coragem e que as reses bravas eram oferecidas pelos lavradores e que obedeciam a uma escolha de pelagem: 12 13
Figura 1 e 2 - Tenta no Massapez - ano: inicío do séc. XX
Francisco Câncio, “A Festa Brava”, Lisboa, Imprensa Baroeth, 1941, p. 479 Alves Redol, Glória, uma aldeia do Ribatejo, Lisboa, 3.º edição, Caminho, 2004, p. 172.
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«Em 1855, a praça de touros era no Largo de S. Sebastião, hoje largo do Arneiro. As corridas n’aquelle tempo excediam todas as da província em apparato e grandeza. Faziam-se ornamentações lindíssimas no circo, e nos camarotes, enfeitados com ricas colgaduras e conchas, viam-se as mulheres mais formosas com toilettes esplendidas, imprimindo à festa a nota mais agradável. Durante a lide os aplausos aos toureiros chegaram ao excesso; commettiam-se actos de verdadeira coragem na lucta com os touros, e os amadores e os artistas caprichavam nas sortes a pé e a cavallo em ultrapassar os limites do valor, provocando assim as maiores e mais justas manifestações de apreço. Os lavradores, à porfia ofereciam curros soberbos: um dia mandavam vinte rezes malhadas, de bella estampa e bravura inexcedível; n’outro, a mesma quantidade de touros caraças (os que teem a fronte com pello de côr diffferente ao do resto da cabeça), e, em tres ou quatro touradas que havia pelos festejos a S. Sebastião, as rezes eram sempre de pelagem egual, em cada tarde.» 14 Um outro local que serviu de praça foi o quintalão de António Roquette, onde decorreram touradas entre 1871 até 1890. Uma famosa tourada de fidalgos, com touros de Ferreira Roquette, ficou imortalizada nesta canção: «Ergue a capa ó Vimioso Que ainda há touradas reais Corre, voa a Salvaterra Que lá brilham os teus rivais Já se ouve o murmurar D’uma festa auspiciosa Salvaterra, a mui formosa
Magos Uma tourada vae dar Anda ali tudo no ar Corre o povo pressuroso Para o festim animoso Da vila de Salvaterra, Marialva, sobe à terra Ergue a capa ó Vimioso Volve ó Marquez Cavaleiro A tourear com despique Junta Croft e Manique Com teu brio verdadeiro Rafael, gentil toureiro Tem denodo até demais São teus artistas rivais Quanto ao génio e galhardia Mostrando com valentia Que ainda há touradas reais Grupo ousado e destemido Aos bois, de cara, faz frente E cabo o Ponte valente Segue o Caldeira atrevido Ao sopé Rebelo querido Pega n’um boi, como uma serra Tinoco, nada o aterra Antas, Castelo e Ribeiro Para os ver, o mundo inteiro Corre, voa a Salvaterra Bravo ao valente abegão Que a cavalo ou de cernelha Parece da guarda velha Ser ousado campeão Roquette, o anfitrião Fornece seus animais
António Rodovalho Duro, História do toureio em Portugal, disponível em https://bibliotecadigital.jcyl.es/es/consulta/registro.cmd?id=14649, (consultado a 14 novembro 2019) 14
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Magos Não se pode exigir mais Mesmo à sombra do passado Gritam todos n’um só brado Que lá brilham teus rivais» 15
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No Largo do Charco, também existiu uma praça de touros, com capacidade para mil pessoas, cujas corridas, eram organizadas pelo Monte-Pio do Senhor Jesus das Almas. Nesta praça foi destruída num incêndio: «No largo do Charco fez-se também uma arena com mil logares que pertencia à sociedade do Monte-Pio do Senhor das Almas, protectora dos campinos, sendo inaugurada em 2 de agosto de 1891. Ahi se realisaram muitas corridas de beneficência, com o concurso de amadores e artistas e com touros oferecidos por diversos creadores. Esta praça ardeu em 8 de agosto de 1902, supondo-se que o fogo fosse lançado por mãos criminosas.» 16 Para além destas referências à existência de praças de touros em Salvaterra de Magos, no Arquivo Histórico Municipal, encontram-se documentos, referentes às licenças das corridas de touros. Estas corridas tinham sempre o caráter de beneficência. Uma corrida de touros em Salvaterra de Magos em 1875, cuja receita era a favor da Misericórdia de Salvaterra, menciona os cavaleiros Marquez de
Bellas e José d’Avillez, e que vinham dois vapores com espetadores para assistir à corrida, sendo necessário assegurar a ordem com uma força de 30 baionetas: «Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa que no dia 29 do corrente se faz n’este villa em beneficio da Sancta Caza da Misericordia da mesma, uma corrida de touros por curiosos fidalgos, em que são cavaleiros o Ex.mo Marquez de Bellas e Joze d’Avillez, capinhas, moços forcados, do curro e finalmente todos que hão de trabalhar na praça os que costumão ocupar estes logares nas touradas da Sociedade de Tauromachia de Lisboa. Veem aqui dois vapores conduzi-los a eles e a espectadores. A praça é gratuita assim como os touros, esperamos portanto que isto dê um bom resultado para a Misericordia e posto que eu não espero que a ordem publica seja alterada é do nosso dever prevenir e por isso vou regar a V. Exa nos forneça uma força de 30 baionetas que devem chegar aqui no dia 28 do corrente. Salvaterra de Magos, 22 de Junho de 1875» 17 No Arquivo Histórico Municipal, encontram-se mais corridas de touros organizadas pela Comissão Tauromáquica do Monte-Pio das Almas de Salvaterra de Magos:
José Pedro do Carmo, “Touros Arte Portuguesa”, Lisboa, Livraria Popular, sd., pp 133 - 134 António Rodovalho Duro, História do toureio em Portugal, disponível em https://bibliotecadigital.jcyl.es/es/consulta/registro.cmd?id=14649, (consultado a 14 novembro 2019) 17 AHMSM - Registo de ofícios para o Governador Civil: 1874 - 1876, Oficio de 22 junho 1875, fl 36v - 37 15 16
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18 de junho de 1877 A Commissão Tauromachica do Monte-Pio do Senhor Jezus das Almas, d’esta vila de Salvaterra de Magos, tenciona no dia 24 do corrente dar uma corrida de touros em benefício do mesmo Monte-Pio, na Praça construída n’esta villa. E como não possa levar a efeito este espetáculo sem licença, vem perante V. S.ª solicitar o respetivo alvará e por isso Pede a V. S.ª Ill.mo Snr Administrador de Salvaterra de Magos se figne assim deferir-lhe Salvaterra de Magos, 18 de junho de 1877 O Vogal da Comissão Francisco Maria Dinis 5 de junho 1878 A Commissão Tauromachica do Monte-Pio d’esta villa de Salvaterra de Magos tenciona nos dias 23 e 24 do corrente dar duas corridas de touros em beneficio do mesmo Monte-Pio, na Praça constituída n’esta villa, e como não possa levar a efeito este espetáculo sem licença vem perante V. S.ª solicitar o respectivo alvará, por isso: P. a V. S.ª deferimento Salvaterra de Magos, 4 de junho de 1878 O Prezidente da Comissão António Frois de Figueiredo
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Figura 3 - requerimento da Comissão Tauromaquica do Monte Pio ano: 1876 - A.H.M.S.M.
29 de agosto 1881 A Commissão Tauromachica do Monte-Pio do Senhor Jezus das Almas, d’esta vila de Salvaterra de Pede a V. Exa Ill.mo Snr Administrador d’este ConMagos, tenciona nos dias 4 e 5 do próximo futuro celho de Salvaterra de Magos, se digne assim dimez de Septembro, effectuar duas corridas de tou- ferir-lhe. ros, em beneficio dos mesmo Monte-Pio na praça Salvaterra de Magos, 29 d’agosto de 1881 para este fim construída n’este villa; e como não possa levar a efeito estes espetáculos sem licença, vem O Prezidente da Commissão Francisco Alvaro Castanheira perante V. Exa solicitar o respetivo alvará e por isso: Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
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Figura 4 - Cartaz corrida de touros Salvaterra de Magos - Ano: 1875 - Cedência João Ramalho
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Outro documento datado de 1881, a Comissão Tauromachica do Monte-Pio, solicita a licença para duas corridas de touros, a Câmara Municipal concede a licença, mas existem alguns requisitos que devem ser cumpridos: - a corrida não pode iniciar enquanto não for nomeado o inteligente da corrida; - estar presente uma força de polícia, uma maca e medicamentos para curativos; - nenhum touro deverá ser corrido por curiosos; - é vedada a entrada na Praça a pessoas armadas com varapaus. «Registo do alvará para licença de corrida de touros, Alvará = António Júlio da Costa bacherel formado em direito administrativo pela Universidade de Coimbra, Administrador d’este Concelho d’este Concelho de Salvaterra de Magos, usando das attribuições que me confere o artigo primeiro do decreto de vinte e dois de Outubro de mil oitocentos sessenta e oito e attendendo ao que me representou Francisco Álvaro Castanheira Prezidente da Commissão Tauromachica do Monte Pio do Senhor Jesus das Almas d’esta villa, pedindo licença para faser duas corridas de touros, na praça construída nesta ditta villa para esse fim nos dias quatro e cinco de Setembro próximo futuro em beneficio do mesmo monte-pio, pelo prezente alvará concedo a licença requerida com as condições seguintes = Primeira que esta licença será valida unicamente por dois dias, quatro e cinco de Setembro do corrente anno, Segunda = que as corridas não poderão começar emquanto a commissão não declarar à auctoridade administrativa quem é o intelligente, e esta não verificar que a força da policia se acha no recynto da praça para manter a ordem, assim Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
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Figura 5 - Alvará para licença de uma corrida de touro - 1881 A.H.M.S.M.
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como a existência de uma maca, de um facultativo e dos medicamentos para os primeiros curativos, o que tudo será prevenido pela commissão e a expensas suas, Terceiro = que se cumprirão os programmas das corridas previamente approvadas pela auctoridade administrativa, Quarta = que não será destinado boi algum para ser corrido por curioso, Quinta = que será proibido a entrada na praça de pessoas armadas de varapaus, assim como saltar à mesma durante a corrida, Sexta = que o producto liquido d’este espectáculo será applicado tão somente ao Monte Pio do Senhor Jesus das Almas, instituído nesta villa, Sétimo = que a commissão se conformará e executará todas as mais providencias adoptadas nos regulamentos administrativos. Dado e passado n’Administração d’este Concelho de Salvaterra de Magos aos trinta dias do mês d’Agosto de mil oitocentos oitenta e um António Júlio da Costa.»18 Fl. 17 - 17v Em 1894 a revista Tourada, destaca nas suas páginas a realização de uma corrida em Salvaterra de Magos, organizada pelo Real Club Tauromaquico, que contou com a presença de muitos forasteiros: «Agradou no conjunto a tourada realisada segunda feira em Salvaterra, em que tomaram parte os amadores do Real Club Tauromachico Portuguez. Victorino Froes trabalhou bem no touro que lhe coube na primeira parte, pondo ferros com arte e precisão. No que lhe pertenceu na segunda parte um animal de muito pé, citando em curto, o touro arrancou com grande vontade e apanhando o cavallo em cheio atirou com elle ao chão, ficando o cavaleiro enrolado debaixo do cavallo, calculando Figura 6 - A Tourada, Ano I, n. 19, 22 de junho 1894
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A.H.M.S.M. – Livro de Registo de Alvarás e Diplomas 1867 – 1896, Alvará de 30 Agosto 1881, fl. 17 – 17v
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toda a gente que Victorino Froes estava morto ou que pelo menos havia partido pela espinha, mas qual não foi o espanto dos espectadores quando o cavallo de repente se levanta com Victorino Froes na sella e sem ao menos se ter destribado, continuando serenamente a lide embora o touro se tornasse depois cobarde não deixando brilhar o disticto amador. Victorino Froes toureou no cavallo Perola, que pertenceu a Carlos Relvas. No final da lide foi muito aplaudido. Jorge Rebello da Silva teve uma lide acertada nos seus dois touros, pondo no ultimo ferros bem rematados, luctando no entanto com rezes de péssima qualidade. Também foi aplaudido. Dos bandarilheiros temos a especializar Pedro de Figueiredo e Mario Duarte, que metterram boas bandarilhas, sendo muito victoriados. Apresentou-se também o amador de Salvaterra Cardoso Fernandes que trabalhou bem. O publico chamou Antonio Perestrello e Pinto Coelho que assistiam à corrida, mas estes senhores não accederam a bandarilhar. Dos forcados distinguiram-se pelas valentes pégas de cara que executaram, Pedro de Oliveira, Lisboa e D. Simão Coutinho. Dos touros oferecidos pelos srs. António José da Silva, Pedro Lapa, Vasconcellos & Baptista e Ignacio Rebello de Andrande, saíram bravos os pertencentes, em primeiro logar, ao ultimo lavrador, depois os de Vasconcellos & Baptista, e dos restantes cumpriram alguns. À tourada assistiram as principaes famílias da sociedade elegante de Lisboa, que chamaram os
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A Tourada, Ano I, n. 19, 22 de junho 1894, p. 145
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Magos lidadores atirando-lhes flores, rebuçados, charutos, etc. Uma verdadeira animação. Muita gente de Lisboa ficou pessimamente acommodada, porque a terra não possue um hotel capaz, e essa péssima hospedagem foi paga por preços exhorbitantes. Os Irmãos Roberto receberam em sua casa grande número de pessoas, sendo para todos de uma amabilidade captivante, e dispensando-lhes os maiores obséquios. D. José Tenorio.» 19 As corridas de touros estavam bem enraizadas na comunidade local, atraiam público de fora, como tivemos a oportunidade de ler na correspondência do Arquivo Histórico, tinham uma forte componente benemérita, contudo faltava um local definitivo que acolhesse dignamente as corridas. Uma nova página da história da tauromaquia em Salvaterra de Magos é escrita, quando se inicia a construção da praça de touros.
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Magos 3 | A comissão organizadora da construção da Praça de Touros de Salvaterra de Magos A realização de touradas em locais improvisados e sem condições, não satisfazia as exigências dos espetadores, era urgente construir uma praça de touros, que enobrecesse as corridas. Um grupo de aficionados de Salvaterra de Magos, designado como “Comissão Organizadora da Construção da praça de touros”, decidiu avançar com a proposta de edificar uma praça de touros. O primeiro passo desta Comissão, foi escrever à Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, que era detentora de um baldio localizado no Largo dos Moinhos, a solicitar a cedência deste terreno para a construção de uma praça. A 28 de Outubro de 1919
o assunto é abordado em reunião de Câmara, que resolveu ceder o terreno: “Oficio d’uma commissão organizadora da construção d’uma praça de touros n’esta villa pedindo a cedência gratuita de sessenta metros diâmetro de terreno no Largo dos Moinhos no Sul do Hospital e ao Norte da estrada de Benavente para a referida construção. Foi resolvido satisfazer os pedidos de informação a que se referem os ofícios recebidos e auctorizar a construção da praça de touros no local indicado pela respectiva commissão voltando de novo à posse da Camara o terreno respectivo logo que a Praça deixe de existir”. 20 (fig. 8)
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Figura 1 - Excerto da Ata de 28 outubro 1919, relativo à cedência do terreno para a construção da Praça 20
A.H.M.S.M. - Livro de Actas 1918-1925, acta da sessão ordinária do dia 28 de Outubro de 1919, fl. 57v
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Com a cedência do terreno, era agora necessário reunir os materiais para a construção da praça, e para o efeito decidiu-se solicitar madeira da Mata Nacional do Escaroupim. O Estado Português concordou em ceder 350 pinheiros. O assunto foi à Câmara dos Deputados e não foi consensual entre os deputados, dado que as touradas já eram um assunto polémico, um dos deputados Mem Verdial manifestou-se contra, mas a cedência da madeira acabou por ser aprovada à Misericórdia de Salvaterra de Magos: «Projecto de lei n.º 239C Senhores Deputado - Uma Comissão de beneméritos de Salvaterra de Magos tomou a iniciativa de angariar donativos para a construção duma praça de touros, com o fim de a oferecer à Misericórdia daquela vila, tendo já, para o efeito, conseguido reunir importantes subsídios. Tem aquela instituição uma vida bastante difícil e a generosa oferta que lhe pretendem fazer, facultar-lhe há, pela exploração de diversões públicas, valiosos recursos para a manutenção e desenvolvimento da sua altruística acção. Incumbe ao Estado o dever de auxiliar empreendimentos desta natureza, interessando e estimulando o concurso particular na obra de solidariedade e de protecção aos desvalidos, que a um regime de verdadeira democracia cumpre realizar. Existe muito próximo de Salvaterra a mata nacional do Escaropim, donde sem sensível gravame para o Estado, pode ser cedida a madeira necessária para a construção que se projecta levar a efeito.
Magos É a cedência dessa madeira, que está calculada em 350 pinheiros, aproximadamente, que se pode que seja autorizada com a aprovação do seguinte projecto de lei: Artigo 1. - É autorizado o Governo, pelo Ministério da Agricultura, a ceder gratuitamente à Misericórdia de Salvaterra de Magos, da mata nacional de Escaroupim, a madeira necessária para a construção duma praça de touros naquela vila, e se computa em 350 pinheiros aproximadamente. Art. 2.ª - A quantidade, qualidade e dimensões das árvores a ceder serão determinadas pela direcção dos serviços florestais de acordo com a administração da Misericórdia beneficiada e em face do competente projecto de edificação. Art. 3 .º - Os membros da Mesa administrativa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, ficam solidariamente responsáveis pela estreita aplicação da madeira cedida ao fim a que é destinada. Câmara dos Deputados, 31 de outubro de 1919 – Jorge Nunes.»21 A cedência da madeira não foi assunto pacífico dado que o Deputado Mem Verdial, manifestou-se contra e afirmou que as touradas eram um espetáculo sanguinário e degradante, e o melhor aproveitamento da madeira seria para aquecer os lares das famílias, em vez da construção de uma praça de touros. A doação da madeira acabou por ser feita à Misericórdia: «O Sr. Mem Verdial: - Sr. Presidente: acho razoável que se peça ao Estado tudo aquilo que ele pode dar, e as misericórdias necessitam. Mas eu creio
Debates Parlamentares, Sessão de 12 janeiro de 1920, disponível em: http://debates.parlamento.pt/catalogo/r1/ cd/01/04/01/021/1920-01-12/18?q=salvaterra&pOffset=10&pPeriodo=r1&pPublicacao=cd, [consultado a 21 de outubro 2019 21
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que as misericórdias deste país daquilo que menos podem necessitar é de construir praças de touros, e o melhor emprego que se pode dar á madeira não é esse, mas o de aquecer aqueles lares que se vêem, nesta quadra de inverno, desacompanhados de calor, porque os chefes de família não possuem dinheiro para comprar lenha. Realmente seria mais proveitoso rachar os pinheiros e distribuir lenha pelos habitantes da povoação que se quer agora servir com uma praça de touros, e certamente melhores aplausos podia ter esta Câmara se ela tomasse essa deliberação. Não compreendo, Sr. Presidente, que assim se repitam os desperdícios do Estado. Construir uma praça de touros à custa do Estado é desperdiçar, como desperdiçar é construi-la à custa de quem quer que seja. Se alguma cousa se pode dispensar são as touradas. Touradas demasiadas temos visto na arena política. Não precisamos de mais uma tourada para que os instintos sanguinários dalguns nossos compatriotas possam cevar-se em ver correr o sangue dos touros. Não precisamos pedir como em Espanha, mais “cabalos”, quando é certo que, seguindo a evolução de Espanha, havemos de pedir em breve mais “hombres” para matar, como lá pedem touros. As touradas estavam quasi a desaparecer e não me parece que deva ser esta Câmara que vá contribuir para o incremento deste espectáculo que é degradante. Os circos romanos tiveram a sua época, como as touradas tiverem também a sua.
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É melhor empregar a madeira destinada a construir a praça de touros em aquecer os povos ou então construir com ela a feira dos Santos. Foram aprovados os artigos 1.º e 2.º e entrou em discussão o artigo 3.º. O Sr. Mem Verdial: Mando para a mesa o seguinte Proposta Proponho que seja eliminado o artigo 3 do projecto - Mem Verdial. Foi lido e admitida. O Sr. Mem Verdial: - Sr. Presidente: entendo que é melhor deixar á Misericórdia a faculdade de aplicar a madeira no que ela muito bem quiser. Talvez tenha melhor destino do que a sua aplicação à uma praça de touros. Por isso é preferível fazer-se a eliminação deste artigo. Há falta de pinheiros e seria mal empregado dá-los para a praça de touros. Os pinheiros que a Misericórdia receber deve emprega-los no que ela quiser. Foi lida, posta à votação e rejeitada a proposta do Sr. Mem Vertical.» 22 A madeira do Escaroupim foi a grande alavanca para iniciar a construção do tauródromo em Salvaterra de Magos, contudo muitos particulares também contribuíram com donativos para erguer a construção, como relatou José Luís das Neves23 numa entrevista realizada em 1970, por ocasião dos 50 anos da praça de touros: «Depois de se conseguir por intermédio do então Ministro do Comércio, Jorge Nunes que a madeira necessária fosse oferecida pelo Estado e cortada no Escaroupim, o dinheiro para o resto foi
Idem Jornal Aurora do Ribatejo [entrevista conduzida por José Gameiro], 1 de junho de 1970, p. 1
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conseguido com ofertas: dois tostões deste, três «Nós abaixo assignados vimos muito respeitosatostões daquele, um cruzado do outro, foram mi- mente pedir à Exma Camara, de que V. Exa é mui galhas que juntas a ofertas maiores formaram 74 digno Presidente, a concessão d’uns eucaliptos que contos de reis e picos, que custou a nova praça.» estorvavam a entrada de gado na Praça em consA construção da praça estava em marcha, contudo trução, e, o produto dos mesmos, reverter a favor era necessário assegurar os melhoramentos em re- da mesma Praça, futura propriedade da Misericórdor da Praça, e para o efeito mais uma vez a Comis- dia d’esta Villa, como é já do conhecimento de V. são Organizadora da Praça, solicita apoio à Câmara exa e mais vogaes. Municipal na cedência de eucaliptos que estavam Pedimos também para a Ex.ma Camara não tome próximos e que podiam dificultar a entrada de como falta de consideração o termos mandado deitar abaixo eucaliptos alem dos que nos concedegado na praça: ram, por se dizer serem do Estado, pois tendo-nos dirigido ao Sr. José Maria Baptista, este nos disse que não fazia oposição, sabendo nós mais tarde que esses ditos eucaliptos não pertenciam ao Estado, mas sim à Câmara. Pede diferimento. Saúde e Fraternidade Salvaterra de Magos, 16 de Janeiro 1920 A Comissão Organizadora da praça de touros O Presidente Francisco Maria Alexandre Francisco Maria Gonçalves Luíz Gonçalves da Luz Francisco Moraes António Henriques Alexandre Augusto Gonçalves da Luz Carlos Alberto Rebello Pedro Sousa Marques Figura 2 - Requerimento da Comissão Organizadora da praça de touros - ano: 16 janeiro 1920 - A.H.M.S.M. 24
AHMSM - Requerimento de 16 janeiro de 1920
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Augusto d’Almeida José Luiz Neves» 24
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Magos Neste requerimento aparecem 12 pessoas que integram a comissão organizadora da praça de touros, contudo na lápide que se encontra à entrada da Praça, colocada em 1993 pela Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia, aparecem apenas 11 nomes, não está referenciado o nome de Francisco Maria Alexandre que curiosamente era o Presidente da Comissão Organizadora como se encontra no requerimento de 1920. O jornal “A Elite” dá-nos a conhecer os dois dias da inauguração da praça e descreve-nos também os protagonistas e intervenientes nestes festejos: “Salvaterra inaugura hoje a sua nova praça de touros. São dois dias de festa que marcam um acontecimento tanto pelos elementos de valor que compõem os programas das corridas, como ainda por a direcção de uma delas - a primeira - ter sido confiada ao decano dos artistas tauromáquicos, o famoso Roberto Jacob da Fonseca. (...) Levou a efeito tão belo empreendimento, fazendo construir á custa de muitos sacrifícios, a praça de touros que hoje se inaugura, não devendo por isso deixar de considerar que Salvaterra fica devendo um grande serviço a inúmeros rapazes cheios de boa vontade e amantes da sua terra, que encontraram poderoso auxílio nos lavradores, comerciantes e industriaes desta formosa vila de tão belas tradições cujos filhos se honram por engradecê-la não se poupando a sacrifícios e trabalhando sempre com a mesma boa vontade admirável.
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Figura 3 - Requerimento da Comissão Organizadora da Praça de touros - ano: 16 janeiro 1920 - A.H.M.S.M.
Felicitando Salvaterra, abraçamos no mesmo amplexo os filhos dedicados da vila ribatejana que hoje veste galas tão galharmente. Parabéns.
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Figura 4 - Folha dos operรกrios da praรงa de touros - 24 abril 1920
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Figura 5 - Folha dos pedreiros da praรงa de touros - 22 de maio 1920
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Figura 6 - Cartaz da inauguração da praça de touros de Salvaterra de Magos - 1 de agosto de 1920
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Programa das Festas Dia 1 Domingo às 5 horas salva de 21 morteiros. Ás 8 horas entrada de touros a pé, às 13horas embolação. Ás 16 horas sessão solene no Club em homenagem ao falecido bandarilheiro Vicente Roberto da Fonseca e seu irmão Roberto Jacob da Fonseca descerrando retratos dos dois grandes artistas, executando por essa ocasião a banda de Euterpe Alhandrense o hino Irmãos Roberto, escrito expressamente para este fim, pelo seu inteligente maestro Serra e Moura. As 17h30m, corrida de touros em que tomam parte os laureados artistas José Casimiro e Adolfo Macedo a cavalo; a pé Teodoro Gonçalves, Ribeiro Tomé, Vital Mendes, Francisco Rocha, Mateus Falcão e Manuel dos Santos da Golegã. Forcados e valente grupo de que é capataz Manuel Burrico. Os touros desta corrida são generosamente oferecidos pela firma Roberto & Roberto. Dia 2 Segunda corrida em que tomaram parte José Casimiro e Adolfo Machado e os laureados bandarilheiros amadores D. Carlos Mascarenhas, D. Pedro de Bragança, Patrício Cecílio, Francisco d’Oliveira, João Malhou da Costa e Rafael Gonçalves. Campinos António Eugénio Menezes (abegão), Joaquim Coimbra, Manuel Coimbra, Francisco Souto Barreiros. Carecas, António José Rebelo de Andrade, Salvador Supardo, Augusto Rebelo de Andrade e D. Baltazar de Freitas Lino. Figura 7 - Ilustração Portuguesa - 16 agosto 1920
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Os touros oferecidos para esta corrida foram gentilmente oferecidos pelo novo ganadero Francisco Ferreira Lino, oriundos da antiga ganadaria António Ferreira Roquette”. 25 Outro testemunho interessante e pormenorizado é do Jornal “A Manhã”, que na sua primeira página destaca a inauguração da praça de Salvaterra de Magos: «A praça é alegre, tem uma ordem de camarotes, dois sectores de sombra e dois sol, e comporta cinco mil pessoas. Citamos os nomes dos aficionados que levantaram aquela iniciativa, toda benemérita. São os Srs. Pedro de Sousa Marques, Augusto da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Luís Gonçalves da Luz, Francisco Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves, Francisco Morais, António Henriques Alexandre, Augusto de Almeida e José Luís das Neves. A comissão organizativa das corridas era composta dos Sr.s António de Sousa Vinagre, incansável trabalhador para a organização das festas, dr. Roberto da Fonseca, dr. Armando dos Santos Calado, José Rebelo de Andrade e Henrique da Costa Freire. A primeira corrida, por profissionais, foi brilhantíssima. Tudo quando há conhecido de bons aficionados do Ribatejo, caiu em peso em Salvaterra. À frente destes aficionados estava o bom velhote e antigo lavrador ribatejano António Roberto Casaleiro, vulgo compadre Casaleiro, o decano dos aficionados, que apesar dos seus 75 anos, ainda corre lesto com o seu grande entusiasmo, a uma boa corrida de touros. De Lisboa também foi a Salvaterra grande número de aficionados. Ali estiveram os Sr.s Jorge Nunes, Joaquim Condeixa, João Máximo de Carvalho, 25
Jornal “A Elite”, 5 de Agosto 1920, pp. 2 -3
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Magos João e José Paim, Mário Infante, Carlos Cardoso, José da Silveira Viana, Conde do Sobral, Luís Patrício, Carlos da Silveira Viana, José Cirne, Luís Pereira, Cunha Belém, António Mota, José Pedro, Francisco Libório, Júlio Barreiros, etc, etc. O aspeto da praça é majestoso. Todos os sectores à cunha de espectadores, os camarotes são ocupados pelas principais famílias da localidade e arredores e das sacadas de todos os camarotes pendem as mais lindas e valiosas colchas de seda, os salerosos mantones de Manilla em grande quantidade, tudo numa decoração deslumbrante, que, juntamente com as toilletes das senhoras, dão um conjunto encantador, meio de cor e de característico. A gente dos campos e da borda d’água ocupa o sol, o movimentado sol, berrante e bem ribatejano. Os trajes de campino são de um efeito belo, jaqueta brinchenta, carapuça verde, com seu debrum, cinta vermelha, colete encarnado, esta é a povolaça que trata os gados e as terras, gente rija, bons rapazes, bons velhos, modestos, valentes, mãos secas, suíças curtas, face curtida do sol, olhos afeitos à frescura das várzeas e ao suor salgadiço, a quando a garracha dos potros folgados. Mas eis a primeira função... Na Presidência a venerada relíquia da tauromaquia portugueza, o grande bandarilheiro, que o Campo de Sant’ Ana aplaudiu freneticamente, Roberto da Fonseca, 84 anos, figura esbelta, vencendo a idade, um sorriso compassivo à rapaziada, e a praça a ir abaixo de palmas, lenços e manifestações, enquanto a banda executa o hino Roberto da Fonseca, com que o lindo circo ribatejano ferve de entusiasmo febril.
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Acalma tudo, sai o Padeiro. É um bicho de boa estampa, nobre e bravo, que arranca de largo a largo, sangue frio. José Casimiro que brindara a Roberto da Fonseca, faz um toureio magistral, inaugurado à maneira marialva, elegante e viril, a Praça de Salvaterra, outrora corte de folguedos. Foram quatro ferros compridos, dois à meia volta e dois à tira, e dois curtos colossais a fechar, o último dos quais oferecido à gente brava do sol, que fez ao simpático artista uma manifestação de barretes à praça, digna de respeito. Ovação, volta, flores, brindes e Manuel Burrico para a cara do bicho, com uma valentia de borda de água. E com este começo foi a corrida por ali fôra, como vamos descrever. Se bravo e nobre foi o primeiro touro de cavalo, não sabemos o que dizer do sexto, Cochicho lhe chamara o maioral, touro de bravura, metendo a cabeça ao estribo do cavaleiro, mal via o cite. José Casimiro toureia com alegria e arte, crava ferros com fabril entusiasmo. Grande ovação, da qual compartilha o lavrador Sr. Vicente Roberto, e o forcado que fez uma pega rija. O outro cavaleiro, foi o simpático artista Adolfo Machado, que também teve dois touros muito bravos, o Casquinha e o Gavião. Pena foi que o artista lhe tivesse dado uma lide muito precipitada, e quase sempre á meia volta. Se toureia com mais calma e tem saído mais vezes à tira, como lhe indicaram os seus amigos, tinha feito um figurão. Os toiros reais! Há muito que se não vê nas nossas arenas, quatro toiros de cavalo tão bravos! Os nossos parabéns aos lavradores Sr. João e Vicente Roberto. Dos nossos bandarilheiros, Teodoro e Tomé muito bem em quites, e com bandarilhas tiveram bons pares Rocha II, Falcão e M. Santos, da Golegã e Vital. O último touro, de nome criminoso foi o mais bravo
touro a pé. Teodoro Gonçalves ofereceu uma sorte ao seu antigo colega e ex-bandarilheiro João Roberto, que saiu magnifico. A direcção do velho Roberto da Fonseca, uma grande lição, ainda lá tem a ralé de toureador, o bom velhote. A arrelia dele se os animais eram mal corridos! A segunda corrida foi na segunda-feira, outra encente à cunha. Amadores e Adolfo Machado e Casimiro, trajando de curto. Houve esperas de gado, espectáculo esplêndido, cuja dedicação é sempre mesquinha. Nela tomaram parte mais de 50 cavaleiros, bem montados, todos com pampilho. À frente do gado, que entrou na porta da unha, vinham o lavrador Sr. Lino e o cavaleiro José Casimiro. A corrida foi animada, José Casimiro toureia com saber o primeiro bicho, que saiu manso, perdido, e na qual cravou dois bons ferros compridos e um curto. No seu segundo bicho, o Sexto que era bravissímo, José ofereceu a sorte a Roberto da Fonseca, e em seguida cravou mais três soberbos ferros compridos e três curtos magistrais. Um dos ferros curtos foi dedicado aos seus amigos de Vila Franca, à frente dos quais estava Carlos Gonçalves, e que foram a Salvaterra num hotel flutuante a que nos vamos referir. A lide fôra à altura. É chamado o lavrador, as comissões que levavam a efeito a corrida e promoveram o levantamento da praça. Casimiro recebe mais brindes. Delírio da gente de Salvaterra, a alma da população à solta, e sobre o circo o sol, o mais ardente de todo o Ribatejo. Todo o cavaleiro Adolfo Machado toureou bem o quarto touro, que cumpriu, e farpeou regularmente, tendo sido muito aplaudido. Dos bandarilheiros Rafael Gonçalves, filho de Teodoro, esteve primoroso, indo à cara dos touros; Carlos Mascarenhas que ofereceu a sua sorte a João Roberto, muito feliz; Patrício Cecílio bandarilhou com elegância e trabalhou muito bem
Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
com capote, oferecendo uma sorte ao grupo do tio Martins, Pedro Bragança teve dois bons pares, assim como Francisco Oliveira. Foi ainda lidado um garraio pelo filho mais novo do bandarilheiro Teodoro, tendo dois pares bons. Malhou da Costa pouco feliz. O clou desta corrida foi o grupo de moços forcados do Ribatejo, composto de valentes amadores, tendo como cabo Jaime Godinho, que se portaram à altura da sua fama, executando pegas de grande valentia, de cara e cernelha. Quase todos os toiros foram pegados, mas apega de cara do primeiro touro e outra de recurso feita pelo cabo Jaime Godinho foram magistrais. Palmas a granel, das quais compartilharam Serra e Moura, barreno, Matos, assim como os irmãos Coimbra. Direcção, a cargo do amador da velha guarda forcado Rui Rebelo de Andrade, excelente. Um primor! Enfim, duas touradas famasos, duas touradas “reais” com que se desfez a lenda que conta Rebelo da Silva, e que andava atravessada em Salvaterra, que não tinha Praça e que agora já tem! O fotográfo Gambeta e outros tiraram diversos grupos e vários aspetos da assistência. Depois da corrida, realizaram-se vários jantares nas casas dos lavradores João Roberto e António da Silva, a quem aqui deixamos o nosso agradecimento pela maneira como nos receberam, e também na dos Sr.s Vicente Roberto, Roberto da Fonseca, Henrique Freire e Roquette, sendo todos de uma grande amabilidade para os seus convidados, reinando a maior alegria e cantando-se lindos fados. A nota engraçada das festas em Salvaterra foi a de um grupo de trinta rapazes de Vila Franca aquela 26
Jornal A Manhã, 6 de agosto 1920, pp. 1 - 2
Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
Magos vila, ao qual deram o nome do Club Vila Taurino. Os simpáticos rapazes alugaram duas fragatas, em uma organizaram uma linda casa de jantar com um grande toldo, e ali nada faltava, mesas, cadeiras, espelho ao fundo, relógio de parede, quadros, tudo colocado com muito gosto, e a até um guarda-vento, com respectivo guichet para entrada de comidas da cozinha para a casa da jantar. A dispensa era um encanto! Nada faltava, canastras com galinhas, ditas com coelhos, um carneiro vivo para matar a bordo, peixe, frutas de todas as qualidade, barris com vinho, caixas com cerveja e até um caixote com 180 quilogramas de gelo! Uma cozinheira e duas ajudantes confeccionaram os deliciosos menús com seis pratos para cada refeição, o que já não é mau... nesta crise de subsistência. A outra fragata em camarata, com uma cama feita por cada passageiro, o seu respectivo lavatório, não esquecendo o w.c. e o guarda-fato. Assim que constou a chegada deste hotel flutuante a Salvaterra, toda a rapaziada o foi visitar, e ali todos eram recebidos com grande alegria, ao som da sua estudantina, sob a direcção de Sabino Gomes, tocando pandeireta com grande salero o dr. Gens, foram levantos muitos brindes pelos nossos amigos de Vila Franca, não esquecendo a Manhã, a quem dedicaram muita estima. Perguntava Sabino Gomes, com muita graça: - Gostaram do nosso lugre de recreio? Carlos Gonçalves, lavrador de Vila Franca, era o Presidente do grupo e o maître d’hotel e todos recebiam as suas ordens, com grande prazer, elogiando os seus apetitosos menus. Até nisto foi à Portuguesa antiga as festas de Salvaterra. B. Duarte.» 26
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Figura 8 - Jornal “A Manhã” - 6 agosto 1920
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No dia da inauguração uma grande excursão de aficionados e lavradores de Vila Franca de Xira, deslocaram-se de propósito a Salvaterra de Magos, para assistir aos festejos do novo recinto tauromáquico. Uma interessante reportagem fotográfica na Ilustração Portuguesa, posteriormente publicada na revista Vida Ribatejana dá-nos uma descrição minuciosa e revela- nos o ambiente festivo que decorreu: «Terra de gente sã e amigo que sempre manifestou por Vila Franca de Xira a mais franca solidariedade. Basta para o demonstrar a recepção proporcionada aos vilafranquenses, que ali foram em 1 de Agosto de 1920, assistir à inauguração da praça de toiros novamente construída, visto que o antigo redondel já de há muito não existia. O que foi essa festa, que pode classificar-se de triunfal, podem referi-lo os nossos conterrâneos que tomaram parte na feliz excursão fluvial e que ainda, felizmente, se encontram entre os nossos amigos Carlos José Gonçalves, Salomão Guerra, José Duarte Fróis e o diretor da “Vida Ribatejana”. Os excursionistas tomaram lugar numa lancha, seguida de outra com as bagagens, na sua maioria munições de boca. E não faltou um sol-e-dó, sob a direção do saudoso maestro Joaquim dos Reis Tralha, e vários cultores de fado. A chegada a Salvaterra foi pela madrugada, mas os vilafranquenses logo se dirigiram ao tauródromo, onde aguardavam a entrada de gado, que se efectuou ao romper do sol. O pior foi que a lancha com mantimentos sólidos e líquidos, assim como o vestuário próprio dos excursionistas, ficara para trás, com o mastro partido pela nortada. Valeu-lhes,
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Revista “Vida Ribatejana”, número especial, ano 1957, p.243
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Magos porém a gentileza e bondade do saudoso salvaterrense José Ferreira Estudante e dos seus filhos srs. José, Justiniano, Manuel e Joaquim, em cuja residência encontraram, com requintes de hospitalidade inexcedíveis, guarida e alimentação. Nas corridas, que foram duas, os excursionistas e outros vilafranquenses, que foram por terra, ocuparam a maioria dos lugares de um sector e foram alvo de carinhosas manifestações por parte do povo de Salvaterra, que assim demonstrou quanto lhe era simpática a atitude da gente de Vila Franca.» 27 Em 1922, o grupo de aficionados de Vila Franca de Xira, regressa a Salvaterra de Magos, para assistir a uma corrida de touros, sendo o evento registado pela revista Ilustração Portuguesa (fig.8 e 9). Passados dois anos, nos dias 29 e 30 de junho de 1924, foi a vez dos Salvaterrenses deslocaremse a Vila Franca de Xira para assistir a uma tourada, tendo sido recebidos na Câmara Municipal e destacando-se a participação na corrida de vários amadores de Salvaterra de Magos: «E porque assim é, quatro anos passados, em 29 e 30 de junho de 1924, vieram os salvaterrenses, em excursão fluvial, a Vila Franca retribuir as visitas dos amigos vilafranquenses. Traziam tudo consigo, e numa das fragatas vinham em jaulas, os toiros para a corrida a que adiante nos referiremos. Vila Franca de Xira engalanou-se e as festas então realizadas atingiram tal grau de entusiasmo popular, que ainda por certo há quem se recorde, com saudade, desses dias em que a alma franca e sincera dos dois povos, vibrou em requintes de amizade pura e afectiva solidariedade.
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Figura 9 - Ilustração Portuguesa - 26 agosto 1922
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Figura 10 - Ilustração Portuguesa - 26 agosto 1922
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As ruas foram alegremente decoradas e das janelas pendiam ricas colchas e as bandeiras ondulavam ao vento, como que a saudar o povo irmão e amigo. (...) A corrida de touros, organizada pelos salvaterrenses em honra dos vilafranquenses, foi à portuguesa, nela intervindo amadores de Salvaterra, com execpção dos cavaleiros Rafael e Francisco Gonçalves, da Golegã. Aquele foram: neto, A. de Sousa Vinagre; cavaleiros, José e Francisco Ferreira Lino, este o proprietário do curro, e João Roberto da Fonseca; bandarilheiros, Vicente Roberto, José Meneses, Manuel Carvalho, José Carlos da Silva Santos, Luíz da Luz, Joaquim Carvalho e Joaquim de Matos; campinos a cavalo Manuel e José Ferreira Estudante Junior, Joaquim Ferreira Estudante e José Baptista; moços de forcado António Alberto Rebelo (cabo), José Manuel Lopes, João Mendes, Justiniano valente, Miguel Ramalho e A. Carvalho; carecas, José Ferreira Estudante e José Maria Baptista; palafreneiros, João Nunes Vasco, Henrique Freire, Ernesto Freire e Gomes Leite; charameleiros, Francisco de Assis, Carlos Torraes e Francisco Henriques. A tourada, que foi dirigida pelo saudoso lavrador José Eugénio de Meneses, decorreu com o natural entusiasmo e os amadores foram muito aplaudidos.» 28 Voltando à história da praça de touros de Salvaterra de Magos, há a registar em 1920, um toureiro espanhol de seu nome Francisco Peralta “Facultades” que matou o toiro na arena ( ver figura 36, pag.106).
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Em 1924 a comissão construtora da praça de touros de Salvaterra de Magos, formaliza a entrega definitiva à Misericórdia de Salvaterra de Magos. Nos anos seguintes a praça de touros recebeu os nomes mais consagrados da tauromaquia, contudo em 1939, apresentava acentuado declínio. O Jornal “A Hora”, destaca na sua reportagem a ruína da Praça: «Não poderia deixar de existir em Salvaterra uma praça de touros. Mas ela está completamente arruinada e, como é pertença da Misericórdia, esta infelizmente não tem meios para a sustentar, quanto mais para fazer obras. Não haverá no concelho um grupo de aficionados que possa de momento olhar a sério para a resolução de tão interessante assunto.» 29 Neste jornal, páginas mais à frente, o assunto da ruína da Praça volta a ser mencionado e apelase à urgente salvaguarda: «Aproveitando, também, este ensejo que se nos depara, já que falámos em toureio, e porque Salvaterra de Magos sem uma praça de touros, é tão inconcebível, como um prior sem ama, um dia de verão sem sol, um nobre sem dom, etc, etc, permitam-nos que magoadamente estranhemos o estado deplorável em que fomos encontrar a do Concelho. Não haverá, francamente, meio de se mandar reparar a praça de touros?! Será possível que Salvaterra a deixe ao abandono? Se a não pode mandar reparar a Misericórdia, ela deve manter-se no estado de miséria, em que se encontra, na terra das ferras e de touros?
Idem, p. 243 Jornal A Hora, Tomo 5, abril 1939, p. 171
Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
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Não! Não pode continuar assim! Exige-o o brio dos Salvaterrenses amigos da sua terra e que não podem, por esse motivo, deixar de o ser também de touradas.» 30 No dia 15 de fevereiro de 1941, Portugal foi assolado por um ciclone que provocou destruição por todo o país, um elevado número de mortos, de feridos e de desaparecidos. Os danos provocados foram consideráveis: estradas cortadas, milhares de árvores arrancadas, casas destelhadas, chaminés derrubadas, famílias sem-abrigo, ligações telegráficas e telefónicas interrompidas e naufrágio de embarcações. A praça de touros de Salvaterra de Magos, foi destruída pela força devastadora do ciclone, mas graças à ação benemérita da família do Conde Monte Real e do lavrador Gaspar Ramalho, que contribuíram financeiramente para reconstruir a praça. A reinauguração da Praça ocorreu a 20 de julho de 1941, e teve a presença do Presidente da República – General Carmona. A reabertura da praça, mereceu destaque na primeira página do Jornal “O Século”, que fez uma minuciosa e longa reportagem sobre a presença do Sr. Presidente da República em Salvaterra de Magos, dos preparativos da receção onde uma multidão se deslocou à entrada da vila para fazer a receção ao Sr. Presidente da República e por fim a descrição da corrida de touros: «Num dia de sol quente e abrasador como o de hoje, Salvaterra tem a sua luz própria. Com ela a festa se acrescenta em beleza e esplendor. Desde as primeiras horas da manhã que as camionetas vindas do cabo, os automóveis, os carros de
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Idem, p. 178
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Magos besta, e outros veículos despejaram na vila centenas de pessoas de todas as categorias sociais. Há muitos anos que Salvaterra não tinha um dia assim. E isso só foi possível porque a formosa vila encontrou no Sr. Jorge Monte Real um amigo devotado e entusiasta. Ao brilhante desportista conquistador de importantes troféus em competições se deve a reconstrução da praça de touros e a organização do atraente programa da festa de hoje. Toda esta obra que representa longo dispêndio de energia e de dinheiro, tem para ser mais bela ainda, um fim beneficente: - o de acudir às necessidades prementes do Hospital da vila. Assim se reata uma tradição e acrescenta o prestígio de uma terra. (...) As 13 horas, em Salvaterra, cujos arruamentos são largos, especialmente a Avenida do Calvário, que atravessa a vila de lés-a-lés, havia milhares de pessoas. Momento a momento, a multidão adensava-se. Havia gente em toda a parte, nas janelas, nas portas, nos telhados, nos carros, que defendiam as embocaduras das ruas, nas árvores, todos esperavam o momento emocionante duma anunciada entrada de touros, não os que iam ser lidados, mas outros cedidos por lavradores, para alegria popular. Centenas de campinos, a cavalo numa luzida representação de todos os criadores de gado da região ribatejana, evolucionaram em rápido galopar pelas ruas, enriquecendo assim o quadro já bastante animado. Com o sol ao alto, abrasador e causticante, mas ninguém disso, parece se apercebia, tal o entusiasmo, de que a multidão estava possuída. Badalaram as 14horas. Do extremo da vila, do lado
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Figura 11 - Jornal O Século - 21 de julho 1941
de Muge, correram grupos de homens e de rapazes. Gritavam “vêm aí! Aí vêm eles”. A multidão movimentou-se e fitou os olhos no ponto onde os touros haviam de surgir. Um minuto decorrido, a curiosidade popular era satisfeita com o aparecimento de quatro touros no meio dos cabrestos seguidos e ladeados por dezenas de lavradores e campinos a cavalo.
A cena foi breve mas emocionante, os touros e os cavaleiros passaram rápidos pela multidão que gritava entusiasmada e depois, em grande correria, os seguiu até à praça. Como não se destinavam à corrida, seguiram para o campo. Não houve tresmalho por que muitos ambicionavam, mas um dos touros deu duas marradas em cavalos de campinos, felizmente sem consequências.
Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
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Figura 12 Jornal O Século 21 de julho 1941
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Magos Só quando tudo isto passou, a multidão se deu conta do calor asfixiante que fazia. E como é de hábito dessedentou-se como pôde. Muitos com vinho., alguns, poucos com água. (…) Às 18 e 30 chegou a Salvaterra, de automóvel, o Sr. General Carmona, acompanhado do Sr.s General Amílcar Mota e Capitão Carvalho Nunes, da sua casa militar. (…) À entrada de Salvaterra de Magos formavam uma guarda de honra, ao Chefe do Estado, o Batalhão n. 18 da Legião, formado por homens da vila de Samora, de Muge e de Coruche, sob comando do Sr. António Branco Teixeira. A curta distância, com campinos a cavalo, rica mancha de cor no ambiente. O povo, assinalada que foi a presença do Sr. General Carmona tributou-lhes as homenagens do seu respeito, admiração e simpatia, com palmas e “vivas” que se prolongaram entusiasticamente, por alguns minutos. Então o Supremo Magistrado tomou o caminho da Praça num trem do Sr. Jorge Monte Real. E as manifestações de simpatia repetiram-se como caíram curiosos, os olhos do Povo, sobre os cem campinos que trotavam junta da carruagem. Quando o Sr. General Carmona entrou no camarote, engalanado com mantas de campinos, alfaias agrícolas e feixes de trigo, a multidão ergueu-se, respeitosa. Ecoaram palmas e “vivas” numa carinhosa manifestação de apreço pelo Homem e pelo Magistrado. Foram longos os momentos de entusiasmo que a assistência viveu, aclamando-o. O aspecto da praça, com os trajos de cores vivas das mulheres ribatejanas, era de surpreendente efeito. Pouco depois houve uma curiosa exibição de um
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excelente jogo de cabrestos do Sr. António Silva, e não tardou que a corrida começasse. O primeiro touro, do Sr. Faustino da Gama, saiu para Simão da Veiga, que brindou o primeiro ferro, ao Sr. Presidente da República. O animal que saíra do curro já com uma hasta desembolada, assim que entrou na arena desembolou a outra, e assim sem se esperar tivemos um touro em pontas para o Simão. O cavaleiro com bom sangue frio e valentia, cravou três ferros um deles superior. Teve boas saídas em falso, de grande artista, e acabou com um curto magnífico em terreno apertado. Muitas palmas e chamada especial. Ricardo Torres passou o touro de “muleta”, brindando também pelo Sr. General Carmona. Teve porém um momento infeliz, pois foi colhido pelo bicho, que rasgou o fato, junto da virilha direita. António de Abreu e Rodes Sérgio não obstante, o touro – que era brando e investia mal, estar em pontas, pegaram-no de cernelha. Grande ovação a Simão e aos pegadores. A seguir Núncio toureou um bicho do Sr. Cláudio de Moura, o único bravo da corrida. Brindou também, pelo Sr. General Carmona. Teve um “comprido” á meia volta e emendando viagem. A seguir, cravou um “curto”, seguido do toque da montada, acabando com outro “curto” muitíssimo bom. D. Fernando de Mascarenhas pegou o bicho de caras com valentia. Chamada ao cavaleiro e ao forcado. Enorme ovação. Um touro em pontas do Sr. António Silva saiu então para Ricardo Torres, que desenhou algumas “verónicas” com suavidade e teve lances felizes “frente por detrás”. Cravou dois pares de bandarilhas, um dos quais muito bom e com a “muleta” teve “faenas” de
domínio, o que lhe valeu grandes aplausos. Fernando Salgueiro lidou outro touro do Sr. António Silva, brindando o primeiro ao Sr. Ministro da Educação. A lide não acrescentou aos méritos do cavaleiro, para o que muito contribuiu a má qualidade do bicho, brando como o anterior e o primeiro. José Laboreiro e Gabriel Barata fizeram uma pega de cernelha. O quinto touro para Vasco Jardim, que cravou um ferro à tira muito bom. Apesar de todas as diligências do cavaleiro, o bicho só a custo recebeu dois “curtos”. José de Abreu Alporim fez daí a momentos a mais bonita e melhor pega da tarde. Muitos aplausos. O 6.º touro de Roberto e Roberto, foi só lidado por João Núncio e não a duo, como estava anunciado com Simão, porque o artista disso foi impossibilitado por doença. Cravou três ferros à tira, um deles muito bom e apresentou várias recargas. Em dado momento o cavalo quando era perseguido pelo touro, escorregou e caiu, soltando o cavaleiro pela cabeça da montada. O touro investiu com Núncio, e só por verdadeiro acaso e graças à oportuna intervenção dos capotes não houve grande desgraça a lamentar. Apesar de pisado e magoado e com a casaca rasgada, João Núncio, brioso, valente, montou novamente e cravou dois “curtos” por forma a arrebatar a assistência, teve uma justíssima e prolongada ovação. O 7.º touro de Andrade e Irmão, saiu brando como os anteriores e não permitiu que Ricardo Tôrres, não obstante quanto procurou fazer, enriquecesse a sua glória de toureiro. O último bicho de Roberto e Roberto, foi lidado a duo pro Fernando Salgueiro e Vasco Jardim, que brindavam à Sr. D. Maria Teresa de Castro Pereira Monte Real, esposa do Sr. Jorge Monte Real, a
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Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
quem também a direcção do Hospital da Misericórdia ofereceu um ramo de flores. Dirigiu a corrida o Sr. Conde da Torre. O Chefe de Estado retirou-se após a lide do segundo toiro. Antes, porém, dois velhos campinos, numa manifestação de carinho que muito sensibilizou o Sr. General Carmona, ofereceram-lhe um barrete verde com uma placa de ouro com uma saudação. Um dos campinos formulou perante o Sr. Presidente da República votos para uma boa viagem aos Açores. Uma senhora ofereceu também ao Supremo Magistrado da Nação, ramo de flores, acto que com a oferta do barrete pelos campinos, a assistência sublinhou com grandes ovações. O Sr. Presidente da República regressou depois a Lisboa, por Vila Franca de Xira.
Após a corrida, houve jantar de confraternização de aficionados. Decorreu animadamente, para que muito contribuiu a exibição de elementos artísticos de valor e de “ranchos” típicos de Vila Franca de Xira em cantares e bailados regionais.» 31 Esta reconstrução deu novo alento às corridas de touros em Salvaterra de Magos. Nas décadas seguintes os grandes nomes da tauromaquia passam por Salvaterra de Magos, nomeadamente em maio, quando se realizava a feira anual de Salvaterra. Havia rivalidades saudáveis entre os aficionados que preferiam os cavaleiros João Núncio e Simão da Veiga, ou aqueles que idolatravam os matadores de toiros, Diamantino Viseu ou Manuel dos Santos. Depois das corridas, nas tabernas e cafés, as discussões mantinham-se a defender os seus ídolos.
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Figura 13 - Bilhete da reinauguração da praça de touros - 20 julho 1941
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Jornal “O Século”, 21 de julho de 1941
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Figura 14 - Guarda de honra de campinos à receção do Presidente da República - General Carmona - 20 julho 1941
A 23 de outubro de 1976 é inaugurado, na Praça de Salvaterra de Magos, um sistema de iluminação com uma corrida noturna. A 15 de maio de 1977, numa corrida mista com os cavaleiros Gustavo Zenkl e Emídio Pinto e os matadores Armando Soares e o espanhol Juan António “El Macareno”, houve toiros de morte, 4 touros foram
estoqueados. Foi uma corrida polémica, mas que agradou o público, fazendo os matadores sair pela porta grande da Praça: «Assistimos à saída dos matadores Armando Soares e Macareno, pela porta grande, tendo o público que ali se concentrou ovacionando os “heróis” da tarde, sendo o matador Espanhol sido levantado Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
Magos pelo público que lhe batia palmas, agradecendo este, os aplausos, nas mãos dos aficionados, viam-se os “troféus”, os rabos dos toiros mortos.» 32 As corridas de touros e outras tradições taurinas: ferras, tentas, largadas e entradas de touros fazem parte das tradições populares e da identidade concelhia, a praça de Salvaterra de Magos é o monumento que simboliza esta importância tauromáquica. Recebeu os grandes nomes nacionais e internacionais do toureio a pé e a cavalo.
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Figura 15 - Bilhete da corrida de 15 maio 1977
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José Gameiro, Jornal “Ribatejo Ilustrado”, 31 maio 1977
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Magos 4 | Figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
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Abordar a história de personalidades associadas à tauromaquia em Salvaterra de Magos, é uma tarefa complicada, escasseiam as fontes. No passado os intervenientes das corridas, eram quase todos amadores, contudo após pesquisas, consegue-se reunir as peças soltas e elaborar uma listagem das figuras da festa brava em Salvaterra de Magos. Júlia Ferreira de Abreu, no seu artigo dedicado às tradições tauromáquicas de Salvaterra de Magos, menciona em finais do séc. XIX, vários elementos da Família Freire ligados à tauromaquia: «O cavaleiro Carlos Avelar da Costa Freire, seus irmãos Henrique Avelar da Costa Freire como bandarilheiro, e Ernesto Avelar da Costa Freire que dirigia um grupo de forcados. Estes toureiros faziam parte do Grupo de Tauromaquia de Lisboa.» 1 Autores como José Pedro do Carmo2, Carlos Abreu3, António Manuel Morais4 entre muitos outros investigadores, mencionam personalidades ligados à tauromaquia em Salvaterra de Magos. A presente listagem foi elaborada tendo em conta estes autores, mas também na recolha em artigos de jornais e junto de aficionados e toureiros. Várias figuras possuem um currículo mais extenso devido à informação existente, enquanto outros mais reduzido pela falta de informação.
Ana Batista - natural de Salvaterra de Magos, nasceu no dia 16 de Junho de 1978, desde muito nova quis ser cavaleira tauromáquica. A 18 de junho de 1988 atuou pela primeira vez em público, na sua terra, com apenas 10 anos, apresentou-se montada no “Chinelo”, com ferro de Ribeiro Telles. A sua alternativa, ocorreu na praça de toiros de Coruche, em 8 de Julho de 2000, sendo seu padrinho Joaquim Bastinhas, que lhe cedeu o toiro “Cigarreiro”, n.º 15, com ferro de Manuel Assunção Coimbra. Destaque ainda na sua alternativa, a presença de Conchita Cintrón, que foi a sua madrinha de honra.
Figura 1 - Ana Batista
Júlia Ferreira de Abreu Barata, Salvaterra de Magos e as suas tradições tauromáquicas, In “Vida Ribatejana”, número especial de 1962, pp. 93 2 José Pedro do Carmo, Touros Arte Portuguesa, Lisboa, Livraria Popular, sd 3 Carlos Abreu, Touros e toureiros em Portugal, 1.º ano, Lisboa, Tabacaria Universal, 1931 4 António Manuel Morais, A Praça de toiros de Lisboa (Campo Pequeno), Lisboa, Fnac Editora, 1992
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Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
A revista Burladero destaca nas suas páginas a alternativa de Ana Batista: «Ana Batista esteve em excelente plano, apoderando-se do toiro logo de início com três bons ferros compridos, dando distância nos cites e partindo decidida para castigar o “Coimbra” em sortes frontais, com poderio e firmeza. Com os curtos, manteve o ritmo numa boa série culminada com um
Magos ferro de palmo, vistosa nas preparações, elegendo os terrenos com critério, e Valente na forma como abordou o toiro para concretizar as sortes. Uma bonita alternativa de Ana Batista a perspectivar-lhe uma auspiciosa carreira.» 5 A sua carreira tem sido de grandes êxitos, esteve presente em todas as arenas de Portugal, Espanha, França e México.
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Figura 2 - Ana Batista 5
Revista Nova Burladero, agosto 2000
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Andreia Oliveira - Andreia Sofia Figueiredo Tomaz, com nome artístico de “Andreia Oliveira”, nascida a 1 de Outubro de 1995, residente desde sempre em Foros de Salvaterra, criada com os seus avós maternos. Tendo uns avós desde sempre aficionados transmitiram-lhe o gosto pelo mundo tauromáquico, começando a montar a cavalo aos 10 anos e a seguir o caminho do toureio aos 14. Apresentando-se pela primeira vez em publico a 2 de outubro de 2011 na praça de toiros da Póvoa de São Miguel com os cavaleiros Cristina Marques, David Oliveira, Hugo Carvalho e Ricardo Neves. Mais tarde prestou prova para se consagrar cavaleira praticante na Praça de touros da Granja a 9 de Fevereiro de 2013 junto de Joaquim Bastinhas, Francisco Cortes, Joana Andrade, Pedro Salvador e Gonçalo Fernandes. Com toiros da ganadaria Varela Crujo e Silva Herculano. Recebendo no final da temporada de 2014 o prémio como triunfadora da temporada como cavaleira praticante. Tendo a oportunidade de ir um pouco mais longe Andreia Oliveira agarrou a oportunidade e foi tourear ao Canadá várias vezes e uma vez à Califórnia. Um acidente com o seu camião de cavalos a 15 de Agosto de 2015, ao vir de uma corrida em Urrós, a cavaleira foi obrigada a suspender a sua temporada, passado uns meses a sua avó ficou doente acabando por falecer, a cavaleira optou por dar finalizada a sua pequena carreira como cavaleira, não fazendo sentido continuar na vida dura do mundo da tauromaquia sem a pessoa que sempre a apoiou e acompanhava em todas as corridas, a sua avó. Figura 3 - Andreia Oliveira
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Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
António Cadório (O Mestiço) - Nasceu em Salvaterra de Magos a 27 de dezembro de 1921, em tenra idade aprendeu o ofício de sapateiro, profissão que manteve ao longo da sua vida. Mudou-se para Vila Franca de Xira, onde desempenhava a sua profissão, mas ao mesmo tempo dava aulas de toureio a jovens que queriam alcançar o sonho de ser toureiro, Vitor Mendes, Francisco Palhota e Bolieiro foram alguns dos jovens que Cadório ensinou. Faleceu a 20 de outubro 1979. Maurício do Vale, que tinha grande respeito por António Cadório, escreve-lhe uma emocionante dedicatória no Jornal “Vida Ribatejana”: «António Cadório, muito colhido pela vida morreu nos cornos da doença! “Estou arruinado” dizia-me há um tempo no Campo Pequeno, quando à hora do sorteio, por ali apareceu conforme combinara com Mário Coelho. António Cadório, todo ele era uma face abalada, era a imagem da amargura pelo o destino lhe guardara. O bilhete que o toureiro lhe ofereceu, apertou-o ele, Cadório, com força de quem se agarra a algo querido pela última vez. E quase o foi!... Morreu António Cadório! Morreu um ribatejano! Morreu um coração aficionado! Morreu um simples grande Homem dos Toiros!!! Um Homem do Ribatejo! Desde o sonho que teve e, ser toureiro ao não consegui-lo, a vida pregou-lhe várias colhidas. A incompreensão dos homens condena muitos Homens!... Mas essa condenação é uma medalha com outra face - a da nobreza de carácter e sentimento que, tarde ou cedo (e quase sempre mais tarde…), lhes é reconhecida e devidamente cantada! Muitos foram os toureiros que passaram pelas suas mãos, pelos seus olhos! Uns lograram voar para
Magos o êxito (José Falcão, Vitor Mendes, Palhota, Bolieiro entre outros); uns conseguiram sair da penumbra, mas não puderam ir além; outros, nem uma coisa nem outra. Com uma vida repartida por Vila Franca de Xira, Alhandra e Salvaterra de Magos, António Cadório, nunca soube fechar as portas para quem quer fosse! Moços, pobres, sem “padrinhos”, batiam-lhe à porta e ele aí estava com as suas ganas e o seu saber. Uma vida que valia a pena historiar e que, só por si, seria um romance, um drama. Vivendo pobremente, arranja sempre aquele tempo e aquele mínimo de cifrões para andar com os seus “maletillas”, de tenta em tenta, daqui para ali. A “Palha Blanco” viu-o muitas vezes encostado à trincheira a ver os seus pupilos a treinar. E pedia aos toureiros que aconselhassem os seus rapazes, dizendo a estes que ouvissem aqueles. Tinha bom sentido de toureiro, pelo que também opinava quando observava treinos de “maestro”, como acontecia às vezes com Mário. Este, aliás confessou sensibilizado que era de Cadório a primeira muleta que citou um bezerro (numa “ferra” já lá vai um par de anos), bem como o escutava quando trocavam impressões sobre o toureiro. Morreu António Cadório! Muito colhido pela vida, morreu nos cornos da doença! Morreu um dos poucos poetas do toureio! Sonhador que era diante do seus “maletillas”, sonhando neles os êxitos que em si não viveram, António Cadório merece o respeito de todos nós da Festa! Porque viveu sonhando! Porque amou a Festa sonhando! Porque talvez, morresse nos cornos da doença, sonhando que um toiro o matara na mais imponente Monumental ou… na sua linda Palha Blanco!!!» 6
6 José Gameiro, Salvaterra de Magos - Pedaços da História da Tauromaquia, disponível em: https://issuu.com/josegameiro/docs/ livro_-_peda__os_tauromaquia, (consultado a 27 de janeiro de 2020)
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Figura 4 - Antรณnio Cadรณrio com seus alunos na Praรงa de Touros Palha Blanco, destaca-se Vitor Mendes e Palhota
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António Roberto da Fonseca - «Foi em Salvaterra em 1801, que António Roberto da Fonseca, apenas com 11 anos idade, começou a demonstrar a sua grande afición, lidando garraios distintamente. Aos 16 anos iniciava a sua vida de toureiro, sempre muito aplaudido, tendo sido chamado
para trabalhar na praça de Salitre, na praça do Campo de Sant’Ana, retirando-se das lides, imensamente glorificado em 1859, vindo a falecer uns anos depois em Salvaterra, muito velho e arruinado por diversas colhidas, algumas de certa gravidade.» 7
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Figura 5 - António Roberto - Fonte: António Manuel Morais (1992) 7
José Pedro do Carmo, Op. Cit, p. 128
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Cláudio Travessa - Cavaleiro, nascido a 4 de Maio de 1975 em Salvaterra de Magos, filho de Manuel Fernandes Travessa e de Lídia da Silva Fernandes Travessa, apresentou-se em público no ano de 1988 numa dessas garraiadas de oportunidade ao novos que seu pai organizava nos Foros de Salvaterra. Prestou prova para cavaleiro praticante na sua terra natal no ano de 1994. Atua em 1996 pela primeira vez em Espanha - Vall de Uxo ao lado de José António Campuzano e El Molinero com toiros de Gabriel Rojas, atuando nessa temporada em 34 corridas, cortando 52 orelhas e 13 rabos. Depois de quatro anos como praticante chegou o dia 30 agosto de 1998, quando das mãos do saudoso e amigo Joaquim Bastinhas, lhe concedeu a alternativa de cavaleiro profissional, tendo ainda como testemunhas os cavaleiros Rui Salvador e Francisco Núncio, com touros da ganadaria salvaterrense João Ramalho. Atou um pouco por todo o universo taurino como Espanha França e América. Figura 6 - Cláudio Travessa
Fernando Henriques - «Bandarilheiro profissional, nascido a 12 de Janeiro de 1899. Recebeu a alternativa a 15 de Julho de 1923 na praça de toiros do Campo Pequeno. A sua carreira foi curta.»8
Figura 7 - Fernando Henriques - Fonte: António Manuel Morais (1992) 8
António Manuel Morais, Op. Cit, p. 731
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Filipe Gravito - A 1 de Fevereiro de 1995, nasceu um novo toureiro em Salvaterra de Magos, desde muito novo despertou a sua aficion e paixão pela festa brava, pois era difícil não ter a ligação à festa brava vivendo ele em Salvaterra de Magos, uma das terras mais aficionadas do Ribatejo! Filipe Gravito tinha três elementos na sua família ligados à festa brava: dois primos bandarilheiros e o seu avô campino e correeiro, que certamente o influenciaram a seguir o sonho de toureiro. Iniciou os passos de aprendizagem na escola de toureio de Almeirim apenas com 9 anos de idade. Em 2011 Filipe Gravito prestou provas a Bandarilheiro Praticante num tradicional festival taurino, no dia 25 de abril em Sobral de Monte Agraço. Mais tarde Ana Batista e seu marido Orlando Vicente fizeram-lhe o convite para integrar a quadrilha de Ana Batista. Filipe Gravito começou a sua carreira como Bandarilheiro Praticante às ordens da cavaleira da sua terra, até que chegou o dia do doutoramento - a passagem a bandarilheiro profissional, que ocorreu a 6 de julho de 2014, na praça de toiros de Vila Franca Xira numa grandiosa corrida de toiros do Colete Encarnado de homenagem ao grande matador de toiros José Falcão. A sua atuação foi considerada a melhor alternativa de Bandarilheiro profissional até á data em Vila Franca Xira, e foi concedida pelo seu padrinho de alternativa Manuel dos Santos Becas e, como testemunhas o matador de toiros Nuno Casquinha, António e João Ribeiro Telles Jr , com toiros de David Ribeiro Telles , saudou de montera em mão depois de um grande tércio de bandarilhas e de capote ! Filipe Gravito continuou as ordens da cavaleira Ana Batista e mais tarde recebeu um convite do rejoneador espanhol Sérgio Galan, onde fez a sua passagem por Espanha onde toureou em muitas Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
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Figura 8 - Filipe Gravito
das feiras mais importantes do mundo, como Madrid, Múrcia, Huelva, Albacete e muitas outras. Mais tarde fixou-se às ordens do cavaleiro João Moura Jr., onde segue a sua carreira de bandarilheiro de confiança do valoroso cavaleiro já pelo 3 ano consecutivo, onde tem toureado nas praças mais importantes do mundo entre Portugal, Espanha, França América e muitas outras. É um grande toureiro em ascensão, que nunca esquece a sua terra de nascença – Salvaterra de Magos.
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Figura 9 - Filipe Gravito
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Francisco Ferreira Estudante - «Há tempo afastado das lides, é natural de Salvaterra e o seu valor como bandarilheiro, está em relação com a fama dos seus conterrâneos toureiros.»9
Figura 10 - Francisco Freire com o matador de toiros Iván Fandiño - Crédito fotográfico: Emílio de Jesus (www.farpasblogue.blogspot.com) 9
José Pedro do Carmo, Op. Cit, p. 129
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Francisco Freire - Nascido a 4 de Março de 1985, natural de Salvaterra de Magos, descende de uma das mais antigas dinastias ligada ao toureiro em Portugal, encontrando registos de seus familiares toureiros de 1890. Desde cedo despertou em si a vontade de aprender a tourear, frequentando ferras, nas casas de ganaderos, quintas de cavaleiros tauromáquicos e festas camperas, e começando aprender a tourear na escola taurina de Santarém, dirigida pelo ganadero Dr.Joaquim Grave e o bandarilheiro João Pereira. A essa escola junta-se o seu amigo Mário Figueiredo e, desde aí seguem a treinar durante anos em tentaderos e festas camperas. Participa no concurso “A procura de um toureiro” promovido pela praça do Campo Pequeno, chegando aos 10 finalistas. A seguir tira a prova de novilheiro praticante no Forte da Casa (Vila Franca de Xira) a 7 de Junho de 2007 com um novilho do ganadero João Ramalho, saindo bravíssimo, sendo premiado com volta arena e regressando ao campo para ficar de semental da ganadaria. Integra depois a escola de toureiro de Coruche, onde é acompanhado e treinado, pelos famosos irmãos Badajoz, e o “maestro” José Simões, tendo toureado diversas vezes vários anos até a extinção da escola.
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53 Figura 11 - Francisco Freire, no Festival Equimagos em Salvaterra de Magos - 2006
Com poucas oportunidades para tourear, segue a carreira de bandarilheiro e tira a prova de praticante de bandarilheiro a 16 de junho no Campo Pequeno com toiro da ganadaria Grave. Ao longo da temporada 2011 integra a quadrilha de diversos cavaleiros, como Tiago Martins, João Ribeiro Teles Jr, Gonçalo Fernandes, Joana Andrade, Batista Duarte, entre outros. A 7 de julho de 2012, de traje sangue de toiro e azabache, toma a alternativa de bandarilheiro profissional na praça de toiros do Campo Pequeno, com toiros Santa Maria para os cavaleiros Joaquim e Marcos Bastinhas, e Falé Filipe para o matador Ivan Fandino, tendo este último lhe dedicado a lide do último toiro, pela coragem dada num par de bandarilhas em que podia ter perdido a vida. Nas temporadas seguintes integra a quadrilha de diversos cavaleiros, tais como, do falecido “maestro” Joaquim Bastinhas, do “maestro” João Moura, de Marco José, do jovem Joaquim Brito Paes, de Filipe Vinhais, Manuel Vacas de Carvalho, David Oliveira, João Moura Jr, Vítor Herrero, Tomás Pinto, Andreia Oliveira, José Moreira, entre outros, toureando por diversas Praças de toiros entre Portugal, Espanha e França. Francisco da Silva Faz-Cordas (“Palhota”) - Natural de Salvaterra de Magos, nasceu a 30 de outubro de 1946. Radicado em Vila Franca de Xira, onde principiou a sua vida taurina, pois acalentava o sonho de ser matador de toiros. O destino foi-lhe adverso e optou por ser bandarilheiro, atividade que exerceu com dignidade. Frequentou a Escola Taurina de Vila Franca de Xira do saudoso Mestre António Cadório, tirou a alternativa na Feira do Ribatejo, em Santarém em 1975, tendo sido seu padrinho o distinto bandarilheiro Manuel Cipriano Badajoz.
Figura 12 - Palhota
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Figura 13 - Palhota
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Magos João António Carvalho Rosa - Nascido em Marinhais, desde muito cedo começou a interessar-se pela festa brava. Frequentou a escola de toureio do Sector I, dirigida pelo Sebastião Saraiva e com a colaboração de António Garçoa, transmitiram a Carvalho da Rosa os segredos da difícil arte de tourear, e incutiram-lhe a vontade de triunfar nas arenas. Prestou prova para novilheiro na praça de touros de Salvaterra de Magos, a 30 de março de 1969, com o novilho da ganadaria de João Ramalho.
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Figura 15 - João António Carvalho Rosa
Figura 14 - João António Carvalho Rosa
O jornal “Diário Popular” destacou nas suas páginas a prova de Carvalho Rosa: «Para o amador Carvalho Rosa, de Marinhais, aluno da Escola do Sector I, saiu um novilho bravo e nobre do festival, de João Ramalho. Demasiada casta e bravura para um principiante, que nunca se viu em tais apuros. O rapaz precisa de aprender quase tudo da arte de tourear, mas possui um valor estoico que assusta. Sofreu violentas colhidas, mas nunca empalideceu nem mostrou qualquer hesitação. Senhores empresários e ganadeiros: por favor, ajudem-no. Convidem-no para as suas tentas e ofereçam-lhe contratos.» O jornal “O Século” na crítica jornalística à sua prova de novilheiro, define-o como um toureiro em potência: «Temos ali um toureiro em potência. Há que aproveitá-lo não para tourear de salão: para pisar arenas!» Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
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Magos João Roberto da Fonseca - «Bandarilheiro nascido em Salvaterra de Magos a 19 de Março de 1836, filho do antigo bandarilheiro com o mesmo nome, estreou-se em 1876 na praça de Alcácer do Sal e em 1878 na Praça do Campo de Sant’Ana numa corrida para amadores. Tomou alternativa em 1883, actuou nas praças da Barquinha com êxito e triunfou no campo de Sant’Ana e na praça do Campo Pequeno entre muitas outras. Era bastante popular e retirou-se na Praça de Portalegre. Faleceu na sua terra natal em 1927.»10
Figura 16 - João Roberto da Fonseca - Fonte: António Manuel Morais (1992)
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Figura 17 - João Roberto da Fonseca com os seus tios: Vicente Roberto e Roberto da Fonseca e o bandarilheiro José Peixinho 10
António Manuel Morais, Op. Cit., p. 743
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Magos Joaquim da Conceição (“Russo”) - natural de Salvaterra de Magos, a 10 de maio de 1953, na Praça de Toiros de Salvaterra de Magos, faz a prova para novilheiro. Na comissão de apreciação esteve o matador de toiros Diamantino Viseu. Joaquim “Russo” teve uma tarde apoteótica, saiu em ombros pela porta principal da Praça de Touros de Salvaterra de Magos.
57 Figura 18 - Joaquim Conceição
Figura 20 - Joaquim Conceição na Praça de Touros de Salvaterra de Magos - 10 de maio de 1953
José Ferreira Estudante - «Bandarilheiro profissional natural de Salvaterra de Magos. Iniciou-se na profissão em 1895, numa corrida realizada na praça de Almada. Recebeu a alternativa na praça do Campo Pequeno a 9 de Agosto de 1903. Após ter-se retirado do toureio passou a director da corrida.»11
Figura 19 - José Ferreira Estudante - Fonte: António Manuel Morais (1992) 11
António Manuel Morais, Op. Cit., p. 753
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José Luíz Fernandes - Cavaleiro nasceu em: 19/3/1872 em Salvaterra de Magos e faleceu em : 23/7/1893 «Foi um môço distinto de grande cultura intelectual e habilíssimo cavaleiro, que sempre soube honrar a fama taurina da nobre vila de Salvaterra, seu berço natal.»12
Mário Marques - Cavaleiro amador, nascido em Salvaterra de Magos, começou a tourear em 1953, sobretudo nas praças de toiros do Alentejo. A 20 de Fevereiro de 1955, apresentou-se na praça de toiros do Campo Pequeno. Em 10 de Outubro de 1956 atuou numa corrida realizada na praça de toiros de Vila Franca de Xira. Um acidente de viação, ocorrido a 25 de março de 1958, ceifou-lhe a vida.
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Figura 21 - Mário Marques
Mário Rui Duarte Pinto Figueiredo (Marinho) - Natural de Salvaterra de Magos, nasceu a 9 de setembro de 1987. Desde de que se lembra sempre teve uma grande paixão pelo o mundo da tauromaquia, sem nunca ter ascendentes ligados ao tema, toda a sua família é muito aficionada. Com apenas 9 anos teve o primeiro contacto com um bezerro bravo, a partir de aí o seu pai levou-o para a escola de toureio de Santarém, onde deu os primeiros passos mais a sério como bezerrista. No ano 2005 tomou a sua prova de praticante de bandarilheiro, toureou várias corridas como bandarilheiro praticante. 12
José Pedro do Carmo, Op. Cit, p. 129
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Figura 22 - Marinho no Festival Equimagos em Salvaterra de Magos - 2006
Magos A 20 de setembro de 2007 tirou a alternativa de bandarilheiro profissional, em Lisboa, na Praça do Campo Pequeno. A partir da temporada 2008, como bandarilheiro profissional toureou com vários toureiros em Portugal: Ana Batista, João Salgueiro, Joaquim Bastinhas, João Ribeiro Telles jr, Joao Salgueiro da Costa, José Luis Goncalves, Manuel Días Gomes entre muitos outros. No ano de 2011 recebeu o convite para acompanhar a cavaleira Ana Batista que fez a temporada no México. Em 2013, a convite do cavaleiro e figura do toureio mundial Diego Ventura, integrou a sua quadrilha até aos dias de hoje, onde passaram por vários momentos marcantes da história da tauromaquia mundial.
Figura 23 - Marinho
Miguel Faria - «Nascido em Salvaterra, aos 11 de junho de 1846, grande toureiro profissional da Praça de Salitre, foi um bandarilheiro de fama e de larga popularidade» 13
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Mónica Monteiro - nasceu a 05 de dezembro de 1973, e desde muito cedo se fascinou com o mundo da festa brava. A sua primeira corrida de touros com público, foi na praça de toiros de Albufeira a 21 de outubro de 1990, iniciando a 1.º fase de uma difícil carreira, que era maioritariamente masculina. A 23 de julho de 1993, na praça de toiros de Lagos, tendo como padrinho o cavaleiro Rui Santos e a pé o novilheiro Ricardo Pedro, com toiros de Ivone do Carmo Batista & Rosa Tátá, passou para a 2ª fase, aprovada pelos 3 membros que examinaram a sua atuação. 13
Pela primeira vez no nosso país, foi-lhe atribuída a carteira de Identificação Profissional nº 317 na categoria de Cavaleira Praticante, emitida pelo sindicato Nacional dos Toureiros Portugueses. Até então, era proibido qualquer mulher fazer este exame e obter a carteira de identificação profissional. O cavalo que lhe permitiu este “feito” foi (Sábio), pertencente ao seu grande mentor, David Ribeiro Telles. Ficam na memória as seguintes corridas: A 14 de agosto de 1994, na Praça de Coruche,
José Pedro do Carmo, Op. Cit, p. 129
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Figura 24 - Mónica Monteiro
Figura 25 - Roberto da Fonseca 14
António Manuel Morais, Op. Cit, p. 780
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Magos realizou-se uma corrida somente com mulheres profissionais vindas de Espanha, a Mónica Monteira, era na altura a única profissional em Portugal, foi um misto de cavaleiras e novilheiras. Em 25 de abril de 1995, na Praça de Salvaterra de Magos, um conjunto de cavaleiros e novilheiros portugueses, espanhóis e franceses, mulheres e homens profissionais tauromáquicos, Mónica Monteiro era a única mulher profissional em Portugal. A sua carreira terminou, num acidente que deixou lesões definitivas na medula, que a impossibilita de tourear. No decorrer da recuperação, seguiu pelo estudo do cavalo como terapeuta. No período entre 2000-2004, representou a seleção Nacional Portuguesa, na modalidade de Equitação Adaptada. Em 2006 até hoje representa a Associação Equestre “Entre Amigos”, apoiando pessoas com necessidades especiais, através do cavalo, de forma voluntária. Roberto da Fonseca - «Bandarilheiro filho de António Roberto da Fonseca, nasceu em Salvaterra de Magos a 20 de Outubro de 1840. Irmão de João e Vicente, apresentou-se ao público em 1859 na praça de toiros da Azaruja. Em 1860 actuou no campo de Sant’Ana, fazia parelha com o irmão Vicente e eram conhecidos por Irmãos Roberto. Em 1865 actuou na praça de Badajoz, com grande êxito, despediu-se do público a 18 de Agosto de 1892, na praça de toiros do Campo Pequeno que foi o dia de inauguração desta praça. Fundou a ganadaria de Roberto e Irmãos ou Roberto & Roberto. Faleceu em Salvaterra de Magos a 7 de Maio de 1923.»14
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Figura 26 - Roberto da Fonseca na capa da revista “A Tourada” - 15 abril 1894
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Rogério Amaro - Nasceu a 13 de Abril de 1922 em Salvaterra de Magos, órfão de pai, desde tenra idade começou a trabalhar. Aos 15 anos empregou-se numa pensão em Lisboa, onde um corretor que era aficionado lhe lançou o desafio para toureiro, que foi prontamente aceite. Frequentou a Escola de Toureio de Luciano Moreira, onde também estava Júlio Glória, estes dois nomes destacavam-se dos restantes alunos. Mais tarde haviam de fazer parelha por várias Praças portuguesas e espanholas em rivalidade com os bandarilheiros espanhóis Mella e Mafritas, uma rivalidade que na época fez grande furor entre os aficionados. Rogério Amaro tirou a sua alternativa a 25 de abril de 1943, na Praça de Touros do Campo Pequeno. Teve uma carreira longa e profícua recheada de triunfos. Atou nas várias Praças de Portugal, esteve em tournée em Africa, nomeadamente na inauguração da Praça de Touros da então Lourenço Marques em Moçambique, no sul de França e em Espanha onde integrou as quadrilhas de José Lupi e Figura 27 - Rogério Amaro Francisco Azurinha. Em 1974, abandonou o toureio e tornou-se diretor de corridas: «Desde 1974, ano da sua retirada, que Rogério Amaro - toureiro de inegáveis faculdades que tanto salientou na arte de bem bregar e bandarilhar - vem desempenhando com a maior dignidade, o sempre espinhoso cargo de diretor de corrida. Sempre se considerou mais aficionado ao toiro – figura central da Festa - e essa paixão leva-o a ler e reler inúmeras obras de tão apaixonante tema. Vai longe o dia, no princípio da sua brilhante carreira, em que lhe foi aplicada uma repreensão registada por ter chegado atrasado ao quartel, e consequentemente à formatura do rancho, mas não consta que alguma vez se tinha atrasado, quer a chegar ao páteo de quadrilhas, quer ainda na oportunidade dos quites. Rogério Amaro nasceu em Salvaterra de Magos, em 13 de abril de 1922, vinte e um anos antes da sua promissora Alternativa. A sua interligação ao espetáculo vai-se mantendo, na qualidade de diretor de corrida e aficionado esclarecido; a Festa, com todo o seu sortilégio, proporcionou-lhe momentos inolvidáveis que o aficionado não esquecerá.»15 15
Revista Burladero, n.º 108, Abril 1994, p.36
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Figura 28 - RogĂŠrio Amaro - colhido pela touro
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Figura 29 - Rogério Travessa
Rogério Manuel da Silva Travessa Fernandes Nasceu em Salvaterra de Magos a 16 de setembro de 1971, filho de Manuel Fernandes Travessa e de Lídia da Silva Fernandes Travessa. Apresentou-se em público em 1987, numa garraiada na sua terra natal. Depois de alguns anos como cavaleiro amador, prestou provas para cavaleiro praticante, em 1991 em Salvaterra, pelas mãos de Emídio Pinto. Passados 3 anos como cavaleiro praticante, chegou o tão sonhado dia da sua alternativa, a 24 julho de 1994, na extinta praça de Cascais, onde recebeu a alternativa de cavaleiro profissional das mãos de José Maldonado Cortes, tendo como testemunhos Emídio Pinto e Francisco Cortes, com touros de Vale do Sorraia. Rogério toureou um pouco por todo o universo taurino como Espanha França e América.
Figura 30 - Simão Neves
Simão Neves - Nascido a 30 de setembro de 1968. A sua paixão pelo mundo dos toiros começou por influência dos avós e familiares, fundadores e colaboradores na construção da Praça de Toiros de Salvaterra de Magos, e do seu pai, quando foi empresário em Salvaterra de Magos entre 1976/ 1979. Veste de forcado pela primeira vez no Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo, a 30 de agosto de 1985 na praça de toiros de Cascais, sob o comando do Sr. Rui Souto Barreiros. Manteve se neste Grupo ate 1994, passando depois para o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, sob o comando de Tiago Prestes ate ao final de época de 2008 Em 2008 acumula a função de forcado e picador, por isso deixa de ser forcado e dedica-se unicamente a picador. O gosto de picar começa nos tentaderos na Ganadeira do Sr. Conde de Murça.
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Magos Debuta como picador as ordens de Nuno Casquinha, na praça de toiros de Moraleja (Cáceres), com um toiro de Vitorino Martim com 523Kg. Cumpriu, em 2018, dez anos de profissional na categoria máxima de picador de toiros, tendo um palmarés notável. Em 2013, ganhou em Guadalix de La Sierra, o premio de melhor picador dessa feira e na época de 2017, ganha também o premio de melhor picador da Feira de Andorra (Teruel), contado já com 17 presenças na mais importante praça de toiros do mundo (Monumental de Las Ventas), tendo um total de 83 corridas feitas, termina a temporada de 2017, com 21 tarde Simão Neves, fez história na Monumental de Las Ventas em Madrid, ao ser o primeiro picador português a atuar, duas tardes seguidas, na maior praça de toiros do mundo.
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Figura 31 - João Ramalho e Tareca numa corrida de touros s/ data
Figura 32 - Simão Neves
Teresa Ramalho (Tareca) - Maria Teresa Guerra Bastos Gonçalves de Morais Sarmento Ramalho, conhecida como “Tareca”, foi uma atriz de renome que participou em inúmeras telenovelas. A sua vinda para Salvaterra de Magos, aconteceu após o casamento com o ganadero João Ramalho. Rapidamente se tornou aficionada e defensora da festa brava. Organizou vários festivais taurinos na Praça de Touros de Salvaterra de Magos com picadores, cuja receita revertia para o Movimento Nacional Feminino. Grandes nomes da tauromaquia nacional e espanhola, participaram nos festivais taurinos organizados por Tareca: «Os festivais foram sempre mistos, com a presença dos maiores nomes do nosso toureio a cavalo e completados com matadores e novilheiros portugueses, pois em cada festival, houve sempre um posto de oportunidade a um novato. O Grupo dos Salvaterra de Magos | n.º especial | Ano: 2020
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Centenário da Praça de Touros de Salvaterra de Magos (1920 - 2020) Factos e figuras da Festa Brava em Salvaterra de Magos
Forcados Amadores de Santarém, obviamente, pois era o grupo de João Ramalho, pegou em solitário todos os festivais. Os novilhos foram sempre oferecidos pelos mais destacados ganaderos da época, sempre prontos a colaborar com Tareca Ramalho na montagem de tão prestigioso evento. O dinamismo de Tareca Ramalho foi sempre fundamental no sucesso dos festivais, quer na parte organizativa quer nos pormenores que faziam a diferença e cativavam os participantes. Durante o jantar com que se obsequiavam os toureiros, ganaderos e demais convidados após os festivais, havia sempre a oferta de uma lembrança de muito bom gosto em reconhecimento à sua colaboração.» 16
Figura 33 - Festival taurino - 1970
Vicente Roberto da Fonseca - «Bandarilheiro, filho do antigo bandarilheiro António Roberto da Fonseca, nasceu em Salvaterra de Magos a 28 de Outubro de 1835. Aos nove anos já actuava como bezerrista e em 1848 foi convidado pelo Conde do Vimioso, para actuar na praça de toiros de Almada, onde obteve um grande êxito, tendo-lhe o fidalgo oferecido um trajo de luzes em azul e oiro, o primeiro que envergou. Em 1858 apresentou-se na praça do Campo de Sant’Ana. Formou parelha profissional com o seu irmão Roberto. Despediu-se em 1892 do público aquando da inauguração da praça do Campo Pequeno. Fundou a ganadaria Roberto e Roberto, faleceu em 1 de Junho de 1896.» 17 16 17
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Figura 34 - Vicente Roberto
Tareca Ramalho “alma mater” dos festivais picados de Salvaterra de Magos, In Nova Burladero, n. 361, Abril 2019 António Manuel Morais, Op. Cit., p. 784
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Figura 35 - Destaque aos Irmãos Roberto na revista “A tourada” - 19 de agosto de 1894
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Vitor Mendes - Victor Manuel Valentim Mendes, filho de Jaime da Conceição Mendes e de Esmeralda Ramos Valentim, nasceu a 14 de fevereiro de 1958 em Marinhais. Aos 4 anos de idade, veio com seus pais viver para Vila Franca de Xira. Prestou provas públicas para praticante de bandarilheiro a 24 de junho de 1976 na Praça de Toiros de Alcácer do Sal, tomando a alternativa como bandarilheiro das mãos de António Badajoz, a 11 de Agosto do mesmo ano, na Praça de Toiros de Coruche. A 7 de Maio de 1977, atuou como subalterno, em Vila Franca de Xira na célebre corrida com toiros de morte, na qual atuaram os matadores de toiros: José Júlio, “Rayito de Venezuela” e António de Portugal. Nesse dia foi visto pelo apoderado de “Rayito” e moço de espadas do Maestro Curro Romero, que elogiou as suas capacidades físicas, ficando impressionado com a qualidade de colocação de pares de bandarilhas, que nessa altura já demonstrava. Gonzalito, propõe-lhe que tente carreira além-fronteiras, ficando este homem a ser o seu moço de espadas e homem de confiança. Em janeiro de 1978, foi viver para Sevilha. Debutou com picadores em Girona a 3 de setembro de 1978, com novilhos de Rocio Martin Carmona, cortando uma orelha e alternando com Perez de Mendoza e Pepe Luís Vargas. A 13 de setembro de 1981, tomou a alternativa em Barcelona, com toiros de Carlos Nuñes, tendo como padrinho Sebastián Palomo Linares e como testemunha José María Manzanares, tendo cortado 1 orelha e 2 orelhas nessa tarde do seu doutoramento. Fez a confirmação da sua alternativa em Madrid a 16 de maio de 1982, com toiros de Pablo Romero, tendo como padrinho Luís Francisco Esplá e como
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68 Figura 36 - Vitor Mendes
testemunha “Morenito de Maracay”, tendo sido ovacionado em ambos os toiros. A 16 de setembro de 1984 em Madrid, durante a Feira de Outono, corta duas orelhas a um toiro de Vitorino Martín e vê abrir-se-lhe pela primeira vez a porta grande de Madrid, por onde sai ao lado do seu companheiro Francisco Ruiz Miguel. Na Feira de San Isidro de 1987, voltou a sair pela porta grande de Madrid, após cortar 3 orelhas a toiros de Baltazar Iban, sendo o triunfador da feira desse ano e voltando a escrever mais uma página ímpar na história da tauromaquia portuguesa.
Magos Foi um toureiro das chamadas “corridas duras”, tendo toureado 39 corridas de Vitorino Martin, 28 de Baltazar Ibán, 24 de Miura, entre outras, conseguido os contratos tarde após tarde. Toureou durante a sua carreira 1138 corridas de toiros, em Espanha, França, Portugal e América, tendo ficado nos 3 primeiros postos do “escalafón” espanhol entre o ano de 1986 e 1992, à exceção do ano de 1988, que terminou em 5.º lugar, após ter sofrido um acidente com um avião ultraligeiro. Tinha na altura 104 corridas contratadas nesse ano. Victor Mendes foi o matador de toiros estrangeiro, que mais tardes atuou na Monumental de Las Ventas de Madrid, “Catedral do Toureio Mundial”,
somando 43 atuações. Tem uma coleção particular com mais de 300 troféus, ganhos como prémios de melhores faenas, melhores quites, melhores pares de bandarilhas e melhores estocadas, bem como de triunfador de várias feiras. É comendador da Ordem de Mérito desde 1991. Em fevereiro de 2001, recebeu o prestigiado prémio Cosio, atribuído pela Real Federation Taurina de Espanha pela sua trajetória profissional. Atualmente está ligado à formação artística dos alunos da Escola de Toureio José Falcão, de Vila Franca de Xira.18
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Figura 37 - Vitor Mendes a colocar um par de bandarilhas Cf. Glória em Vila Franca de Xira (exposição de fotografia tauromáquica - 5 de julho a 14 de outubro 2012), V.F. Xira, Câmara Municipal de V.F. Xira, 2012 18
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Figura 38 - Vitor Mendes e a arte do toureio
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Magos 5 | Forcados de Salvaterra de Magos 19 A História dos forcados de Salvaterra de Magos, está ligada ao gosto e à arte de pegar touros. A primeira referência a “pegadores” de toiros, como grupo organizado surge na década de 40 do século passado. Deste grupo de Forcados Amadores encontra-se a seguinte foto, onde estão identificados
os moços forcados: Sebastião Nabiço; Manuel Ferrador; António Escalho; António Raimundo; Albino Marques; António Lapa; Manuel Lazão (cabo); Saguím (aprendiz de bandarilheiro); José da Cabaça; Victor Damásio; António da Chica (campino e amigo do Grupo).
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Figura 39 - Grupo de Forcados – década de 40
Informações obtidas na página dos Forcados de Salvaterra de Magos: http://gfasm.blogspot.com/, atualmente esta página encontra-se encerrada 19
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Figura 2 - Forcados na praça de touros de Salvaterra de Magos - Década de 50
Figura 3 - Pega do forcado Timpanas - Década de 60
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Magos Na década seguinte, destaca-se a figura José Carlos Hipólito o famoso “Timpanas”, para além de um grande forcado , também liderou o grupo de forcados de Salvaterra de Magos.
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Figura 4 - Forcados de Salvaterra - década de 60
Na década de 60, surge outro grupo, novamente liderado pelo José Carlos Hipólito “Timpanas” (Cabo), João Bernardino, Óscar Salazar, Mário Travessa, José Leandro, Luís Lino, João Nunes, Júlio Arguiça, Mário Marques, António Lapa, João Santa Bárbara, e Carlos Ferreira. Na década de 70, mais concretamente em 1978 surge um outro Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra de Magos, capitaneado pelo Sr. João Bernardino, composto pelos forcados: João Carlos Silva, José Mendes, José Faro Gonçalves, Joaquim Sardinha, João Amaro, José Mendes, José Matateu, António Lapa, Francisco Viegas, Alfredo Ferreira, Casélio Ferreira, Manuel Regador, João Venceslau, João Maquilão e José Gordo. Entretanto no ano seguinte passa a ser o cabo do Grupo, o grande Forcado António Alfredo Lapa, que passou pelo Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, pelos Lusitanos e pelos Amadores de Portugal. António Lapa foi considerado um expoente máximo da forcadagem a nível nacional e internacional. António Lapa estava a representar o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa de Salvação Barreto, logo não podia conciliar o Grupo da sua terra com o facto de ser elemento imprescindível nos Amadores de Lisboa, que o leva a entregar o comando do Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra de Magos, ao Sr. João Casimiro que deu continuidade ao mesmo até ao ano de 1981. No decorrer da década de 90 mais concretamente em 1991, um grupo de amigos decide reunir-se para formar o Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra de Magos, que era seu cabo novamente o grande forcado António Alfredo Lapa. Este Grupo de Forcados Amadores constituído na sua maioria por jovens Salvaterrenses inicia a sua
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atividade de pegar toiros, nesse mesmo ano, onde foram realizadas várias corridas divididas entre Portugal, Espanha e França. Deste Grupo de Forcados Amadores faziam parte os seguintes elementos: António Lapa (Cabo), José Faro Gonçalves, João Bernardino, Joaquim Sardinha, Simão Neves, José Eduardo Manique, Sérgio Patrício, Paulo Morais, Jorge Bernardino, António Morais, António Jacinto, Luís Viegas, Luís Marques, Miguel Piçarra, Silvino Canhoto, Carlos Miguel Coelho, Nuno Monteiro, Rafael Gaspar, Jorge Antão, Marco Engenheiro, Carlos Morais, Luís Almeida, Crespo, Paulo Jorge Damásio, Fernando, Mãozinhas entre muitos outros nomes. No ano de 2002 surge a oportunidade de formar um novo Grupo de Forcados Amadores em Salvaterra de Magos. Um grupo de amigos forcados já retirados, em conjunto com outros forcados de outros grupos ainda no activo, decidem fazer uma corrida de homenagem a um grande amigo, o saudoso forcado Miguel Piçarra que falecera vítima de acidente de viação. Por ocasião da corrida da feira anual em Maio, constitui-se um grupo de forcados com o nome da Selecção da Amizade de Salvaterra de Magos. Após esta corrida de homenagem ao forcado Miguel Piçarra, o Grupo Selecção da Amizade de Salvaterra de Magos, foi convidado pelo empresário da Praça para participar na IX Corrida Real que se realizou a 19 de Julho de 2002. Com estas atuações de mérito efetuadas, nesse mesmo ano, decidiram os forcados quer já retirados quer no ativo, formar novamente um Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra de Magos, que foram liderados por Joaquim Manuel Pereira Mendes.
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Figura 5 - Forcados de Salvaterra - década de 70
Magos Em 2003, o Grupo de Forcados Amadores integra a “A.N.G.F.” (Associação Nacional de Grupos de Forcados), faziam parte os seguintes elementos: Joaquim Mendes, José Faro Gonçalves, Joaquim Sardinha, António Jacinto, José Eduardo Manique, Paulo Morais, Luís Almeida, Paulo Jorge Damásio, Óscar Romão, Rogério Amaro, Alexandre Ferreira, António Vasco, Nilton Milho, José Luís Dias, Gonçalo Esteves, Nelson Romano, Isidoro Cirne, Lino Miranda, Sérgio Perleques, João Paulo Damásio, Marco Morais, Pedro Parrulas, Marco Guilherme, Carlos Luís Neves, Nuno Coutinho, Nuno Moço, Manuel Oliveira, Bruno Ferreira e Marco Santos, entre muitos novos valores que continuaram a aparecer. Ao longos das últimas décadas o Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra de Magos, tem levado a cabo a arte de pegar toiros, dignificando e honrando a tradição dos forcados de Salvaterra de Magos. Outra figura ligada à história da forcadagem, foi o senhor João Ramalho, nunca fez parte do grupo de Salvaterra, integrou o grupo de forcados de Santarém e ao longo da sua vida enquanto forcado, pegou 60 touros, quase sempre à primeira.
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Figura 6 - Forcados Amadores de Salvaterra de Magos
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6 | Ganadarias de Salvaterra de Magos António Ferreira Roquette - «Ganadaria de Salvaterra de Magos com divisa azul turquês e branco. Foi iniciada a primeira vacada com rezes provenientes do ganadero Manuel da Silveira e Brito. Estreou-se a 26 de Maio de 1861 com 14 toiros lidados pelo cavaleiro João José dos Santos Sedvem e pelos bandarilheiro José de Sousa Cadete, José Joaquim Peixinho, Manuel Botas, João Calabaça e pelos espanhóis António Biache Floro e João do Rio Sancho. Actuou como intervaleiro nessa corrida José da Avó. Esta ganadaria apresentou um toiro na Praça de Madrid a 7 de Maio de 1880, na qual actuaram Rafael Molina “Lagartixo”; Francisco Sanchez “Frascuelo” e Francisco argona “Currito”, sendo lidado pelo meio - espada Hipólito Sánchez Argona.»20
António José Ferreira da Silva - «Ganadaria de Salvaterra de Magos proveniente de António José da Silva. Lideram-se 12 toiros da mesma na praça de S. João de Setúbal a 20 de Setembro de 1863, sendo conhecida por ganadaria Travassos. A 27 de Outubro de 1895 e a 6 de Setembro de 1896, foram lidados toiros desta ganadaria na praça do Campo Pequeno.»21
?
António Roquete - «Ganadaria de Salvaterra de Magos, que existiu na década de vinte.»22
António Manuel Morais, Op. Cit., p. 329 Idem, p. 331 22 Idem, p. 333 20 21
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Figura 1 - Corrida na Praça do Campo de Sant’anna - Ano: 1887 ( touros da ganadaria salvaterrense - António Ferreira Roquette)
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Barão de Salvaterra - «(D. Luis Ferreira Roquette), ganadaria com a divisa azul e encarnado que existiu na segunda metade do século passado. A 30 de Maio de 1858 lidaram-se 14 toiros na Praça do Campo de Sant’Ana, o que já havia acontecido no dia 16 anterior. A 14 de Outubro de 1860 na mesma praça esta ganadaria, apresentou toiros ao lado dos de Rafael Cunha, José Ferreira Roquette, Borges e Sousa e Vaz Monteiro. Novamente foram lidados 14 toiros de Roquette nessa praça lisboeta a 9 de Junho de 1861 pelo cavaleiro de apelido Bettencourt.» 23 Duque de Cadaval (Casa Cadaval) - «Ganadaria de Muge que tinha como divisa azul e encarnado (ou violeta e roxo). Procedia do ferro Manuel Silveira e Brito. Posteriormente a Casa Cadaval, procedeu a cruzamentos desta casta. Durante muito tempo e por questões políticas os primitivos proprietários não autorizavam que os seus toiros fossem lidados em praças portuguesas, o que deixou de verificar-se mais tarde com os herdeiros. Nas décadas de 20 e 30 deste século, após o gado ter sido seleccionado pelo ganadeiro José Palha Blanco que de 300 vacas tentadas aproveitou 40. Com elas um semental de Eduardo Miura, fundou uma nova ganadaria com excelente resultado. Porém por completo desconhecimento do tratamento a dar ao semental, o administrador da Casa Cadaval, Alfredo Sena Azevedo mandou-o castrar e posteriormente envio-o para o matadouro, o que amargurou seriamente José Palha. Apesar de tudo isso, esta ganadaria entrou em competência a 9 de Julho 1922 na Praça de Santarém com as de António Luis Lopes. João Assunção Coimbra, Frederico Bonacho dos Anjos, Alves do Rio, Joaquim Martins e a Sociedade Agrícola da Golegã, numa corrida de concurso. Em 1931 esse ferro apresentou 8 toiros e 4 bezerros assim repartidos: a 26 de Abril na Praça de Santarém, 4 toiros e os restantes animais a 23 de Agosto seguinte na Praça da Moita do Ribatejo.» 24 23 24
Idem, p. 334 Idem, p. 346
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Felicidade Dias - «Ganadaria pertencente a D. Conceição Filipe Pereira Dias e que é representada por José Luis Pereira Dias. Da zona de Salvaterra de Magos, com divisa encarnado e amarelo e sinal de orelhas ambas rasgadas. Tem antiguidade de 1984 e procedência de Maria Manuela Andrade Salgueiro e Manuel César Rodrigues, antes Urquijo. Esta ganadaria teria sucedido a outra da mesma ganadaria que tinha antiguidade de 1969 e divisa verde e branco.»25 Firma Agrícola - «Ganadaria de Salvaterra de Magos, teve a sua existência no princípio do século 20. A 5 de julho de 1908 foi lidado um curro desta ganadaria na praça do Campo Pequeno.»26 Irmãos Dias - «Ganadaria de Salvaterra de Magos, com divisa verde, amarelo e branco, com sinal de orelhas ambas rasgadas. É representada por José Luis Pereira Dias, tem antiguidade desde 1976 e procedência de Norberto Pedroso.»27
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Figura 2 - Touro dos Irmãos Dias Idem, p. 357 Idem, p. 359 27 Idem, p. 371 25 26
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João Luís Fernandes Júnior - «Ganadeiro de Salvaterra de Magos que forneceu um curro de toiros para a corrida realizada a 27 de setembro de 1896 na praça do Campo Pequeno.»28
João Oliveira e Sousa - «Ganadaria de Salvaterra de Magos, herdada pelo sogro de João Sousa, Porfirio Neves da Silva. Esta ganadaria que era pequena e tinha cerca de 100 reses chegou fornecer por volta de 1950 alguns toiros para serem lidados nas corridas em benefício das Misericórdias de Santarém, Vila Franca de Xira, Salvaterra de Magos e Coruche.» 29
João Ramalho - «Ganadaria de João José Moraes Sarmento Costa Ramalho, tem divisa lilás e branco, sinal de orelhas folha de figueira em ambas, e antiguidade de 9 de Maio de 1965. Em 1961 comprou trinta vacas a José Marques Pedrosa e quatro vacas e o semental “Chamaco B”, procedentes de Pinto Barreiros e com ferro de Irmãos Roberto de Salvaterra de Magos. Dois anos depois juntou lhes 8 vacas de origem Alves do Rio e Urquijo, que adquiria ao Dr. José Manuel Andrade, linha que posteriormente foi para as filhas do ganadero Teresa e Helena para a fundação da ganadaria destas. Tem utilizado sementais do seu ferro e outros de Pinto Barreiros (n.º 643) do Dr. António Silva (n.º 104), Charuto de David Ribeiro Telles e o n. 89 Camieiro do Eng. Rui Gonçalves. No geral as vacas têm pelagem negra, mulata, castanha e chorreada. Desta ganadaria destacaram-se os toiros Sabonete, Pistolo II, Marquês, Lutador e Soldado II. Todos eles vendidos para sementais. O soldado I foi corrido a 9 de Maio de 1965
26 27
Idem, p. 359 Idem, p. 371
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Magos em Salvaterra de Magos, o Maçarico em Santarém a 10 de junho de 1966, o Varrido também em Salvaterra a 12 maio de 1967 e numa corrida com picadores, o Torrado na mesma praça a 7 de abril de 1968 e que foi picado, o Pistolo II também na mesma praça um ano depois e também picado, o Soldado II ainda na mesma praça a 23 março de 1970 e que levou varas, o Tentador II em Sobral de Monte Agraço a 1 de Novembro de 1986, o Desdenhoso lidado a 16 de setembro de 1972 na Praça da Nazaré e o Pistoleiro que foi corrido na praça de Vila Real de Santo António a 23 de agosto de 1983.» 30
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Figura 3 - João Ramalho, Quinta das Gatinheiras - década de 80 do séc. XX
? 30 31
José António da Silva - «Ganadeiro de Salvaterra de Magos que viveu na década de vinte.»31
Idem, pp. 377 - 378 Idem, p. 383
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José Ferreira Roquette – «Ganadaria de Salvaterra de Magos, com divisa verde e que teve a sua existência a partir de meados do séc. XIX. A 22 de Abril de 1860, o cavaleiro Diogo Henrique Bettencourt lidou toiros deste ferro na praça do Campo de Sant’Ana, numa corrida cujo curro comportava 14 animais desta divisa. Da mesma forma foram lidados dois ou três toiros a 14 de Outubro seguinte numa corrida em beneficio do Asilo dos Órfãos da Freguesia de Santa Luzia, na qual participaram toiros de Cunha, Borges e Sousa, Vaz Monteiro e Luis Roquette e que foram lidados pelos irmãos Carmona. A 26 de Maio de 1861 foi apresentado um curro de 14 toiros deste ferro que foram lidados pelos espadas João do Rio e António Dias Floro, e pelo cavaleiro Sedvem. Nos primeiros domingos de Junho e Julho desse ano esta ganadaria ofereceu duas reses para cada uma das corridas realizadas em benefício do Asilo de Mendicidade de Lisboa.»32
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Figura 4 - Toiros de José Ferreira Roquette na Praça do Campo de Santana - ano: 7 de outubro 1880 32
Idem, p. 384
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Magos José Pereira Dias - «Ganadaria com divisa azul e preto e sinal de orelhas “ambas rasgadas”. Situa-se em Salvaterra de Magos, tem antiguidade desde 1976 e tem origem em gado de José Manuel Andrade, Eng. Ruy Gonçalves e Cabral de Ascenção.»33
83 Figura 5 - José Dias - ano: 2017
José Vicente Costa Ramalho - «Ganadaria de Salvaterra de Magos, com divisa lilás e branco e sinal de orelhas “truncada à direita e rasgada à esquerda”. Foi iniciada com vacas de Vitorino Froes e de Alves do Rio, e sementais da Sociedade Froes e de Alves do Rio, e sementais da Sociedade Agrícola da Golegã . A 30 de Julho de 1930, na festa do Corpo de Deus, foi lidado um curro desta divisa na antiga praça de Tetuán de Las Victorias, tendo o quarto toiro de nome Zueco dado a volta à praça no arraste. Esta ganadaria negro, lombardo, jabonero e berrendo.»34 33 34
Idem, p. 388 Idem, p. 396
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Pereira Dias - «Ganadaria ribatejana, propriedade de José Luís Pereira Dias, com divisa, branco e preto. Procede de reses de José Manuel Andrade e do Eng.º Ruy Gonçalves. Tem antiguidade desde 1977.»35
Roberto (Irmãos) - «Ganadaria de Salvaterra de Magos também conhecida por Roberto & Roberto, possuía divisa branco e encarnado, fundada pelos bandarilheiros Vicente Roberto e Roberto da Fonseca. Começaram com vacas da Casa Junqueiro e da Raça Pegões, a que lançaram sementais de Estevão de Oliveira. O resultado do cruzamento foram óptimos, tendo alguns curros sido lidados em Espanha. Situado nas Herdade dos Coelhos, a ganadaria não manteve do princípio ao fim o sangue português, porquanto nos últimos tempos foi lançado às vacas um semental de ferro Pinto Barreiros. Vicente Roberto da Fonseca nasceu a 12 de Dezembro de 1836 e Roberto Jacob da Fonseca em 1841, ambos de Salvaterra de Magos. A ganadaria estreou-se a 8 de Julho de 1877, na Praça de Lisboa numa corrida em benefício dos ganaderos. Actuaram na mesma os cavaleiros Manuel Mourisca Junior e José Casimiro Monteiro e os bandarilheiros José Cadete, Irmãos Peixinho, Caixinhas, Pontes, Loureiro e os beneficiados. Por morte de Roberto da Fonseca, entraram para a Sociedade da ganadaria os seus filhos João e Vicente Ramalho, continuando no entanto a mesma denominação. Compraram sementais a Manuel Duarte Laranja de Coruche, e um a Emílio Infante da Câmara, em 1890 quando se realizou a última corrida na Praça do Campo de Sant’Ana foram lidados touros desta ganadaria. A mesma forneceu curros para as corridas realizadas a 23 de Maio e 18 de Julho de 1897, e a 27 Setembro de 1903 na Praça do Campo Pequeno, tendo actuado neste última os cavaleiros Francisco Simões Serra e Eduardo Macedo, e os espadas Faico e Jerezano. António Vaz Monteiro, ganadeiro do Carregado, refrescou a sua ganadaria com reses deste ferro. A 21 de Julho de 1907 e a 1 de Maio de 1910 foram lidados curros na praça de Lisboa. Em 1931 esta ganadaria já se encontrava decadente, pois somente venderam 8 vacas para um festival realizado a 17 de Maio em Salvaterra de Magos e um toiro para a corrida realizada em Santarém a 7 de Agosto.
35
Idem, p. 416
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Magos Ficaram célebres os toiros desta ganadaria Caracol, negro listão que foi lidado várias vezes mostrando sempre bravura, Boné corrido na praça da Moita do Ribatejo a 13 de Setembro de 1927 por Manuel del Pozo Rayito que lhe deu uma excelente faena. Esta ganadaria chegou a ser composta por cento e quarenta vacas e novilhos e setenta toiros. João Roberto da Fonseca, faleceu com oitenta e nove anos a 24 de Agosto de 1949 tendo a ganadaria passado para Vicente Roberto da Fonseca, João Roberto Ferreira da Fonseca e Henrique Ferreira da Fonseca. No principio do século a ganadaria chegou a ser anunciada também como Roberto da Fonseca.»36 (p. 421 - 422) Thereza e Helena Ramalho - «Ganadaria de Salvaterra, propriedade de Thereza Margarida Ramalho Aires de Campos e de sua irmã Helena Rita Basto de Moraes Sarmento, da Quinta da Gatinheira com divisa laranja e verde musgo, sinal de orelhas “forca na direita e despontada na esquerda”, e antiguidade desde 1976. Em 1974 a ganadaria foi fundada com uma ponta de vacas de João Ramalho e no ano seguinte juntou outra do Dr. Brito Paes. Estreou-se em Junho de 1976 na Praça de Toiros de Santo António das Areias com um curro de novilhos, filhos de sementais de João Ramalho, do Dr. Brito Paes e de António Barbeiro, Linha Gama. As vacas pastam em Moita Paredes, Salvaterra de Magos, e os machos em Montalvo Benavente. A ganadaria tem como pintas mais frequentes, negro, negro-interpelado, negro muito bragado e cardenho. Salientando-se neste ferro os toiros Rouxinol n.º 2, lidado na Moita do Ribatejo e o Tabaqueiro lidado na praça da Nazaré.»37
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Criadores de touros de Salvaterra de Magos que aparecem mencionados noutras publicações: - D. Diogo Ferreira da Costa - «falecido em 1877, os seguintes ganaderos de Salvaterra de Magos: importante ganadero de Salvaterra, forneceu ex- José Luís Brito Seabra, Porfírio Neves da Silva, Ancelentes curros para quasi todas as nossas praças, tónio Lapa e Pedro Sabino. inclusive a do Campo de Sant’Ana, onde foram li- O lavrador Francisco Ferreira Lino também foi dedados as suas bravíssimas reses de bela apresen- tentor de uma ganadaria, os touros da inauguração da Praça de Touros em Salvaterra de Magos, foram tação.»38 39 Júlia Ferreira de Abreu Barata , menciona também cedidos por ele. Idem, p. 421-422 Idem, pp. 427-428 38 José Pedro do Carmo, Op. Cit, p. 129 39 Júlia Ferreira de Abreu Barata, Op. Cit, p. 93 36 37
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Figura 6 - Touros - Ganadaria José Dias
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Imagens de Arquivo
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Figura 1 - Exterior da Praรงa de Touros - 1 agosto de 1920
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Figura 2 - Cortesias - 1 agosto de 1920
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Figura 3 - Forcados com a mula de farpas - 1 agosto de 1920
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Figura 4 - Aspeto da assistĂŞncia, sendo visĂvel o inteligente da corrida - Roberto Fonseca - 1 agosto de 1920
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Figura 5 - Aspeto da assistência - 1 agosto de 1920
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Figura 6 - Volta à Praça - 1 agosto de 1920
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Figura 7 - Aspeto da assistência - 1 agosto de 1920
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Figura 8 - Volta à Praça - 1 agosto de 1920
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Figura 9 - Tribuna da Praรงa de Touros - 1 agosto de 1920
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Figura 10 - Pega dos forcados - 1 agosto de 1920
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Figura 11 - Aspeto da Praรงa - 1 agosto de 1920
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Figura 12 - Pega dos forcados - 1 agosto de 1920
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Figura 13 - Aspeto da Praรงa - 1 agosto de 1920
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Figura 14 e 15 - Aspeto da Praça - Década de 30
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Figura 16 - Fachada da entrada da Praça com desenho - Década de 30
Figura 17 - Forcados - Década de 50
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Figura 18 - Exterior da Praça de Touros - Década de 60
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Figura 19 - Entrada para as Festas de Salvaterra, junto da Praça - Ano: 1966
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Figura 20 - Diamantino Viseu - ano: 1954
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Figura 21 - Simรฃo Veiga - Ano: 1954
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Figura 22 - Exterior da Praça de Touros - s/ data
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Figura 23 - Exterior da Praça de Touros - década de 50
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Figura 24 e 25 - Aspeto da assistência - s/ data
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Figura 26 - Exterior da Praça de Touros - Ano 1987 - Fotografia de José Gameiro
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Figura 27 - Fotografia áerea da Praça de Touros - Década de 90
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Figura 28 e 29 - Praça de Touros - Ano: 1995 - Fotografia de José Gameiro
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Figura 30 e 31 - Praรงa de Touros - Ano 2009
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Figura 32 - Curros - Ano: 2010
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Figura 33 - Capela - Ano 2010
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Figura 34 - Aspeto dos curros - Ano 2019
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Figura 35 - Trincheira - Ano: 2019
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Figura 36 - Corrida de touros - Ano: 1921
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Figura 37 - Corrida de touros - Ano: 1926
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Figura 38 - Corrida de touros - Ano: 1928
Figura 39 - Cartaz corrida de touros - Ano:1944
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Figura 40 - Corrida de touros - Ano: 1948
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Figura 41 - Corrida de touros - Ano: 1948
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Figura 42 - Corrida de touros - Ano: 1959
Figura 43 - Corrida de homenagem a Amรกlia Rodrigues - Ano: 1959
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Figura 44 - Corrida de touros - Ano: 1962
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Figura 45 - Corrida de touros - Ano: 1963
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Figura 46 - Corrida de touros - Ano: 1971
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Figura 47 - Corrida de touros - Ano: 1981 - Cartaz cedido pela Tertúlia Cabaço
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Figura 48 - Corrida de touros - Ano: 1992 - Cartaz cedido pela Tertúlia Cabaço
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Figura 49 - Corrida de touros - Ano: 2011
Figura 50 - Corrida de touros - Ano: 2012
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Figura 51 - Corrida de touros - Ano: 2016
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Figura 52 - Corrida de touros - Ano: 2017
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Figura 53 - Corrida de touros - Ano: 2017
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Figura 54 - Corrida de touros - Ano: 2018
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Figura 55 - Corrida de touros - Ano: 2019
Magos Figura 56 - Bilhete da corrida - Ano: 1942
117 Figura 57 - Bilhete da corrida - Ano: 1943
Figura 58 - Bilhete da corrida - Ano: 1942
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Figura 59 - Bilhete da corrida - Ano: 1947
118 Figura 60 - Bilhete da corrida - Ano: 1948
Figura 61 - Bilhete da corrida - Ano: 1950
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Figura 62 - Bilhete da corrida - Ano: 1951
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Figura 63 - Bilhete da corrida - Ano: 1959
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Bibliografia
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Periódicos - A Tourada, Ano I, n. 19, 22 de junho 1894 - Ilustração Portuguesa, 16 agosto 1920 - Ilustração Portuguesa, 26 agosto 1922 - Jornal A Hora, Tomo 5, abril 1939 - Jornal A Manhã, 6 de agosto 1920 - Jornal Aurora do Ribatejo, 1 de junho de 1970 - Jornal A Elite, 5 de Agosto 1920 Revista Cultural do Concelho de Salvaterra de Magos
- Jornal O Século, 21 de julho de 1941 - Revista Burladero, n.º 108, Abril 1994 - Revista Burladero, n.º 361, Abril 2019 - Revista Nova Burladero, agosto 2000 - Revista Vida Ribatejana, número especial, ano 1957 - Revista Vida Ribatejana, número especial, ano 1962
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Magos Webgrafia
- António Rodovalho Duro, História do toureio em Portugal, disponível em https://bibliotecadigital.jcyl.es/ es/consulta/registro.cmd?id=14649, (consultado a 14 novembro 2019) - Debates Parlamentares, Sessão de 12 janeiro de 1920, disponível em: http://debates.parlamento.pt/ catalogo/r1/cd/01/04/01/021/1920-01-12/18?q=salvaterra&pOffset=10&pPeriodo=r1&pPublicacao=cd, [consultado a 21 de outubro 2019] - Forcados de Salvaterra de Magos: http://gfasm.blogspot.com/ - José Gameiro, Salvaterra de Magos - Pedaços da História da Tauromaquia, disponível em: https://issuu. com/josegameiro/docs/livro_-_peda__os_tauromaquia, (consultado a 27 de janeiro de 2020)
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A.H.M.S.M. - Arquivo Histórico Municipal de Salvaterra de Magos - A.H.M.S.M. - Livro de Actas 1918-1925 - A.H.M.S.M. - Livro de Registo de Alvarás e Diplomas 1867-1896 - A.H.M.S.M. - Registo de ofícios para o Governador Civil: 1874-1876 - A.H.M.S.M. - Requerimento de 16 janeiro de 1920
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