Revista NB - Comportamento

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Comportamento

Por Murilo Melo Fotos Divulgação

Injeção de ânimo Manter a autoestima em dia é essencial para conquistar a sonhada felicidade

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s livros de autoajuda para uma parcela significativa de pessoas se tornaram tão importantes quanto a internet e o smartphone. Cada vez mais gente encontra inspiração nessas publicações para construir uma vida melhor, seja do ponto de vista material, seja do espiritual. Nas bancadas das livrarias, os títulos de maior sucesso aconselham o leitor a aceitar o seu corpo como ele é, a superar um grande amor, a ficar rico em pouco tempo, a atrair a sorte e a conquistar rapidamente um cargo alto na empresa em que trabalha. Mas, se todos os manuais de autoajuda fossem triturados em um liquidificador, o conselho supremo que resultaria daí seria o seguinte: goste de você, tenha confiança em si mesmo, aposte em sua capacidade, se ame mais. Em resumo, estimule e preserve a autoestima. Nos consultórios, os psicólogos estão convictos de que para solucionar qualquer problema é impossível não contar com a ajuda da autoestima. “É o fenômeno mais estudado na psicologia porque ela é o ponto de partida para viver bem consigo, para ter boa convivência com os outros e saber resolver problemas, que vão desde a crise de pânico até a depressão, por exemplo”, diz a psicanalista Chris Cunha. Basicamente, é a autoestima que determina a maneira como as pessoas enxergam o mundo, encaram os desafios da rotina diária e se protegem ou se expõem em situações que exigem controle emocional. Ela é importante não apenas para as pessoas,

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mas também para as famílias, grupos, gerenciamento de instituições e até nos resultados das competições esportivas. Sem ela, a pessoa passa a recear os desafios porque tem medo de não ser capaz de enfrentá-los. Além de não haver avanço para as grandes descobertas nem para o surgimento dos líderes. Segundo a psicanalista Chris Cunha, algumas pessoas nem reparam, mas vira e mexe retrucam a um elogio com um “imagina, essa calça é tão velhinha”. Outras vivem o tempo todo pedindo desculpas por qualquer bobagem ou se sentem inferiores quando o amigo de trabalho consegue uma promoção. “É normal duvidar da própria capacidade e sentir-se

inadequado de vez em quando. O problema é quando depreciar-se vira um costume irredutível e diário, que gera insegurança e falta de amor próprio”, explica. A saída, segundo a psicanalista, é encontrar o caminho para tentar entender o que se passa a partir de um trabalho de autoconhecimento e finalmente superar a baixa autoestima. Foi o que fez o soteropolitano Victor Gonçalves, de 22 anos. Ele conta ter sido um adolescente tímido. Ao contrário dos amigos, nunca conseguia uma namorada porque tinha medo de conversar com as meninas e ser rejeitado nos primeiros minutos da conversa. Victor só adquiriu autoconfiança quando percebeu que a insatisfação com o corpo o deixava com baixa autoestima. Detectado o problema, decidiu começar a praticar natação e musculação em um clube perto de sua casa. “Fiquei mais forte fisicamente em poucos meses e isso me deixou mais seguro, alegre e com papo”, diz ele, que namora há dois anos a estudante de medicina veterinária Maíra Araújo. Já o professor de história Leonardo Correia, de 37 anos, teve uma crise de autoestima no início do ano passado, quando foi demitido de um colégio particular. Em menos de um mês após o acontecimento, recebeu a notícia de que sua mulher estava grávida de Ana Luíza, a primeira filha do casal. “Eu não sabia o que fazer da minha vida porque


as coisas estavam indo de mal a pior. Eu não sabia, acima de tudo, como sustentar minha família e não queria ajuda de ninguém”, lembra o professor. O resultado de tanta aflição, segundo ele, foi surgindo após alguns dias. “Passei a ter dores de cabeça e nos ombros. Tive insônia e quando eu acordava não tinha vontade de fazer nada, mas eu precisava de um plano de ação”, conta.

É normal duvidar da própria capacidade e sentir-se inadequado de vez em quando. O problema é quando depreciar-se vira um costume irredutível e diário, que gera insegurança e falta de amor próprio

Segundo Leonardo, o apoio da família e dos amigos o ajudou a superar a crise. “Eles me incentivaram a acreditar no meu potencial como profissional. Ainda que eu estivesse fragilizado, não queria continuar daquele jeito. Comecei a colocar currículo em vários colégios até que fui chamado para duas entrevistas e passei nas duas”, relata. A psicanalista Chris Cunha diz que a baixa autoestima é capaz de desencadear sintomas como pressão arterial alta, problemas gastrointestinais, sentimentos de raiva, culpa e até depressão. “A pessoa pode se tornar agressiva, que se sente ameaçada nas mais variadas situações e reage com comportamento inapropriado. Ou então, uma pessoa que não reage a nada, que deixa de lado suas próprias necessidades e passa a viver segundo a expectativa dos outros para conseguir aprovação ao redor”, explica a especialista. l

Afaste o inimigo Com ajuda da psicanalista Chris Cunha, a NB Plus reuniu seis regras básicas para elevar a autoestima e ganhar confiança de maneira permanente. Elas funcionam a partir do momento em que se decide identificar as crenças negativas e se trabalha continuamente para modificá-las.

1. Examinar o passado

Esse é um passo crucial para elevar a autoestima. Ao fazer essa retrospectiva, é possível perceber que alguns erros do passado podem ser corrigidos e outros não. Ao deparar com o que não pode ser mudado, o melhor a fazer é aceitar a situação, esquecer esses erros e se concentrar apenas no que pode ser melhorado.

2. Não seja radical

Quem sofre de baixa autoestima costuma seguir a linha de pensamento do “oito ou oitenta”, “tudo ou nada”. Ou seja: se uma tarefa realizada não saiu perfeita, foi um tremendo fiasco. Há uma grande diferença entre dizer “eu fracassei” e “eu sou um fracassado”. Uma tarefa que não saiu boa dessa vez pode ser perfeita no futuro.

3. Enxergar além

Quem presta serviços comunitários, ajuda uma ONG ou investe numa segunda carreira se sente mais satisfeito e apresenta autoestima elevada e estável.

4. Focar os aspectos positivos

A pessoa que sofre de baixa autoestima tende a concentrar sua atenção apenas nos aspectos negativos de determinada situação. Se o professor menciona os pontos fortes e fracos de um projeto apresentado, por exemplo, ela vai lembrar e remoer apenas as críticas, ignorando os elogios. Ao se concentrar nos pontos positivos e fazer um plano de combate aos aspectos negativos, a percepção da pessoa sobre a mesma situação muda para melhor.

5. Contar para amigos e familiares as realizações

Alardear o próprio sucesso, acredite, ajuda a aumentar a autoconfiança e a elevar a autoestima e neutralizar os pensamentos de “não sou nada e nem ninguém”.

6. Fazer exercícios

Vários estudos mostram que a prática regular de exercícios ajuda a elevar a autoestima, já que melhora a saúde e a qualidade de vida em geral. Reserve uma ou duas horinhas da sua agenda para correr na praia ou até mesmo se alongar em casa.

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