Revista NB - Comportamento

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Comportamento

Por Murilo Melo Fotos Divulgação

Marcado

na pele TATUAGEM JÁ NÃO É MAIS TABU E VIROU SINÔNIMO DE GENTE DESCOLADA. MAS HÁ QUEM AINDA TORÇA O NARIZ E ATÉ OS QUE SE ARREPENDEM DE TER RISCADO A CARNE

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Mesmo que exista a popularização das tatuagens, existe também, junto com ela, o julgamento de valores

tatuagem, que já foi sinônimo de rebeldia e considerada cafona pela moda nos anos 1990, tomou conta de corpos de todas as cores, de gente com personalidades e idades diferentes, no mundo inteiro. Só no Brasil, a adesão cresce mais de 20% ao ano, diz o Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body Piercing (Setap). “O acesso a materiais de ponta ficou mais fácil e há quem diga que, em um futuro não muito distante, o diferente será aquele que não tiver tatuagem”, diz o tatuador Marcelo Leite. Uma tatuagem, na prática, é a aplicação com agulhas de pigmentos de tinta na derme, a camada interna da pele. Os adeptos dizem que o desenho é usado como forma de expressão, independente do que se quer expressar, e não pode ser vista como um desvio de caráter. Mas o problema, segundo Marli Caldas, psicóloga especialista em recursos humanos, é que nem sempre tatuagens são encaradas de forma positiva por determinados setores do mercado de trabalho. Nos mais formais, como o jurídico, ela ainda é tida como um grande empecilho. “Mesmo que exista a popularização das tatuagens, existe também, junto com ela, o julgamento de valores”, explica. “Muitas vezes pode ser exatamente o que as empresas não querem transmitir aos seus clientes. E é aí que a opção de ser descolado, dono de suas próprias atitudes ou apenas mais um tatuado pode acabar com as chances de conquistar o emprego dos sonhos”. Com quinze tatuagens espalhadas pelo corpo, três à mostra apenas no braço esquerdo, a estudante de direito Naomi Carvalho, 25, diz que foi desclassificada no processo seletivo de estágio para um renomado escritório de advocacia, em Salvador, no ano passado, por causa dos desenhos presos à pele. “Assim que fui chamada para o feedback, o entrevistador me disse que eu era a candidata que tinha maior potencial, mas que ele não podia

optar por mim porque eu tinha tatuagens e isso ia de encontro à política da empresa”, relata. “Nunca entendi esse pensamento de que tatuagens podem determinar caráter”, acrescenta. A psicóloga especialista em recursos humanos Marli Caldas explica que embora pareça discriminatório, pessoas com muitas tatuagens e piercings mais chamativos, por exemplo, podem ter algum tipo de restrição no processo seletivo, caso destoem do esperado para a posição. “A percepção do mercado vem mudando em relação a isso há um bom tempo. Mas acredito que, qualquer que seja a situação, o profissional deve procurar se adequar e ter bom senso, da mesma forma como irá aplicá-lo à escolha de suas roupas, maquiagem e postura”, salienta. Em compensação, em algumas áreas, a tinta na pele faz sucesso e pode até abrir portas no mercado de trabalho. Foi o que aconteceu com a vendedora Eduarda Mendonça, 22. Para conseguir o emprego na loja em que trabalha, o estilo dela foi fundamental. Além das roupas e acessórios mais despojados, as tatuagens ajudaram

durante a seleção. “A loja em que trabalho dialoga com jovens descolados. São pessoas que veem os vendedores como espelho de estilo e a tatuagem ajuda nisso”, explica ela, que calcula ter sete tatuagens, sempre com desenhos que remetem à música, seu hobby. “Talvez eu faça mais uma até o final do ano”, planeja. Para o antropólogo Adalberto Fontes, a tatuagem firma-se cada vez mais como expressão cultural e vai perdendo a marginalização a que foi submetida por anos. “Passou a ser considerada como uma arte democrática. Mas como qualquer coisa que no passado era discriminada, a visão preconceituosa não deixa de existir de uma hora para outra”, analisa. NUNCA É TARDE Se antes as tatuagens estampavam apenas os corpos do jovens, hoje a coisa é totalmente diferente. O administrador de empresas Marcos Andrade, 57, adiou por décadas o sonho de ter uma tatuagem por temer o preconceito principalmente no ambiente de trabalho. Este ano, dono do seu próprio negócio, finalmente tomou coragem de entrar em um estúdio. Apesar do incômodo das agulhadas, saiu realizado, com o rosto de seu neto de seis anos desenhado no braço direito. “Sempre tive vontade de tê-lo aqui no meu corpo”, conta ele, que pretende fazer mais duas tatuagens. A esposa, Lúcia, da mesma idade, não só aprovou a novidade como também aproveitou a onda e resolveu tatuar as iniciais dos filhos dentro de um coração, no pulso. “A gente tatua o que ama”, acredita. Depois de ter conseguido sair do submundo e conquistado as classes média e


Recebo pelo menos duas pessoas por mês com idades entre 50 e 70 anos, a maioria mulheres

alta, a tatuagem também rompe a barreira da idade. É cada vez mais comum encontrar pessoas com mais de 60 anos nos estúdios e até famílias inteiras decorando o corpo. “Já tatuei um senhor de 80 anos”, conta o tatuador Marcelo Leite, que atende clientes com hora marcada em um estúdio em Salvador. “Recebo pelo menos duas pessoas por mês com idades entre 50 e 70 anos, a maioria mulheres”, comenta. O fato de os procedimentos terem se tornado mais confiáveis e menos dolorosos ajudou a quebrar o receio dos mais velhos, acredita Marcelo. “Tatuagem não é mais uma coisa de gente maluca”, diz. Esse público, porém, é mais exigente. “Eles só aderiram às tatuagens após o surgimento de equipamentos mais modernos, ambientes mais higienizados e bom atendimento”, afirma o tatuador. Hoje, os estúdios sérios usam agulhas descartáveis, acessórios esterilizados e tintas de qualidade. Mudanças de vida também encorajam os mais velhos a encarar a agulha. Só após se separar do marido, que não aprovava a ideia de a mulher ter uma tatuagem, a dona de casa Nilza Macedo, 59, decidiu fazer uma tattoo. A primeira, uma rosa no tornozelo, veio perto dos 45. A segunda, uma frase de uma música do cantor Tom Jobim, há dois meses, e a terceira, o símbolo do infinito, em junho deste ano. “Fica chique, me sinto mais bonita e cheia de estilo”, diz ela. Aumentar a autoestima é a principal vantagem desse tipo de atitude, segundo o psicólogo João Lucas Monteiro. “Uma pessoa nesta idade se sente mais livre para realizar uma vontade de longa data e isso é muito positivo”, afirma. Ele apenas alerta para que a vontade de parecer mais jovem não se torne uma obsessão. “Realizar um desejo é diferente de negar a idade”, diz. Segundo os tatuadores, não existem restrições para uma pessoa de meia-idade fazer uma tatuagem. E os cuidados logo após o procedimento são os mesmos, como a higienização com sabonete neutro, escondê -la do sol e não mergulhar no mar ou na piscina por um mês.

niella virou mais um R, de Ronald, filho do atacante. Um coração instável não é privilégio das celebridades. Arrependimento por ter feito tatuagem não é raro. O tempo muda muita coisa e o que parecia tão definitivo pode perder a importância ou até incomodar. “É preciso ter certeza do que quer para não haver arrependimentos. É bom pensar em uma tatuagem e só fazê-la algum tempo depois, que é quando a adrenalina vai embora, quando a vontade que acaba cegando deixa de existir. É preciso ter cautela e não ser influenciado por modismo porque a escolha do desenho, nome ou frase não sai com água e sabão”, diz o psicólogo João Lucas Monteiro. Felizmente, nos casos das tatuagens, o laser permite essa mudança. Antes desse tipo de tratamento, só era possível remover uma tatuagem com cirurgia ou com abrasão, que é uma raspagem controlada da pele, mas que causava muita dor e deixava cicatrizes. O laser revolucionou o tratamento, dói bem menos e, na maioria dos casos, não deixa cicatriz – embora possa não retirar o desenho por completo. O que o laser faz é destruir o pigmento de tinta. Desfeito em vários pedaços, ele acaba absorvido pela pele. Segundo a dermatologista Sandra Loyola, há diversos tipos de laser que

funcionam melhor em cores específicas. A cor mais fácil de tirar é a preta, e, logo, as cores mais escuras costumam sair mais facilmente. Verde, azul claro, vermelho e rosa têm uma dificuldade intermediária. O amarelo é a cor mais difícil, independente da cor da pele da pessoa. Quanto maior e mais profundo for o desenho mais difícil é a remoção. Pequenas tatuagens escuras são as mais fáceis e quase sempre são eliminadas. Mas, como cada pessoa tem uma resposta diferente do organismo, ninguém garante que a tatuagem seja apagada totalmente. “Não podemos garantir que a pele da pessoa ficará exatamente como era antes da tatuagem. Às vezes, ela fica mais fina e sensível, mas sem atrapalhar muito. Outras vezes, ficam restos de tinta que o laser não consegue apagar. Algumas cores podem mudar de tom e não sair. E, às vezes, as cores saem, mas a pele fica marcada com uma sombra, mais clara ou mais escura, exatamente no formato do desenho”, explica a dermatologista. Normalmente são necessárias várias sessões para retirar uma tatuagem, quantidade que varia, obviamente, com a extensão, a profundidade e a diversidade de cores do desenho. Os preços são por sessão e variam muito, dependendo do profissional, do aparelho, da cidade e da cor a ser apagada. De acordo com Sandra, em Salvador, cada sessão custa em média R$ 150, mas pode chegar a R$ 500. “O problema é que tem pacientes que precisam de três sessões e outros que precisam de dez”, diz. Após o tratamento com laser, a pele pode apresentar uma descoloração e a área ao redor da tatuagem pode ficar avermelhada e um pouco inchada. Segundo a dermatologista, isso é normal e desaparece lentamente com o passar de algumas horas. l

SE ARREPENDIMENTO MATASSE A atriz Alessandra Negrini tinha tatuado no braço direito o nome do cantor e ex-marido Otto. Em 2008, depois de sete anos juntos, a atriz se separou do músico e mudou o desenho “Otto” para a palavra “Amor”. O ex-jogador da seleção brasileira Ronaldo confessou em rede nacional amar a modelo Daniella Cicarelli. Com menos de 20 dias de namoro, tatuou no pulso esquerdo as iniciais do par. O casamento durou três meses. Retocado, o D de Da-

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