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No mundo das marionetas
Portugal
Augusto e Benjamin à procura da Terra do Nunca
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Teatro
Com direção artística de Adriana Melo e Magnum Soares, a companhia Universo
Paralelo dedica-se, desde 2020, à criação e difusão de obras originais de teatro de marionetas e formas animadas. Através de uma dramaturgia autoral, exploram-se temas contemporâneos que promovam a reflexão.
Em 2021, em coprodução com o Museu da Marioneta, apresentaram Australopiteco, um espetáculo de teatro para a infância, com encenação e texto de Adriana Melo, no qual se abordam as questões da diferença.
Este ano levam a palco Augusto e Benjamin à Procura da Terra do Nunca, um espetáculo de teatro de marionetas e formas animadas para todo o público.
Nesta peça, aborda-se o encontro geracional, numa narrativa que cruza as vivências do quotidiano com as do imaginário das personagens.
Com estreia marcada para dia 30 de maio no Festival Internacional de Marionetas de Montemor-o-Novo, produzido pela Alma d’Arame.
Festivais de marionetas, dentro e fora de Portugal
FIMFA Lx 23
Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas
18 de maio a 4 de junho
Lisboa
XV Encontro Internacional de Marionetas de Montemor-o-Novo
Alma d’Arame
25 de maio a 5 de junho
Montemor-o-Novo
BIME
Bienal Internacional de Marionetas de Évora
6 a 11 de junho Évora
FIMO
Festival Internacional de Marionetas de Ovar
9 a 11 de junho
Ovar
Les Marionnet’Ic
Festival International Marionnettes en Côtes d’Armor
2 a 6 de maio
Saint-Brieuc, França
National Puppetry Festival
18 a 22 de julho
Minneapolis, Estados Unidos da América
Titirimundi
Festival Internacional de Teatro de Títeres de Segóvia
10 a 15 de maio
Segóvia, Espanha
Num museu de marionetas, o teatro, a narrativa, a imaginação, estão sempre presentes. No Museu tudo isto se faz com várias pessoas, criando-se múltiplas pontes, dentro e fora do museu.
A Escola é onde a descoberta do Museu e gosto pelo Teatro muitas vezes começam. Foi assim que surgiu o encontro entre o Museu da Marioneta, o Teatro da Cidade e a Escola EB1 n.º72, e que se iniciou a viagem conjunta ao encontro da mitologia clássica e da história de Orfeu.
Orpheus: entre o Museu, a Escola e o Teatro
Projeto de continuidade com proximidade. O Serviço
Educativo do Museu da Marioneta e a Escola EB1 n.º72
O que acontece quando a mitologia clássica vai à escola pela mão de um museu e de uma companhia de teatro? O projeto de continuidade do Museu da Marioneta - Museu à Medida - foi pensado em parceria com o Teatro da Cidade e com a Escola EB1 n.º 72 do Agrupamento de Escolas Padre Bartolomeu de Gusmão.
A equipa do Serviço Educativo do Museu desafiou os 20 alunos da turma do 4ºB a participarem na peça de teatro Orpheus, com a produção plástica dos adereços e elementos cenográficos. Orientados pela Filipa Camacho, do Serviço Educativo do Museu, os alunos, o museu e o teatro trabalharam conjuntamente. Entre descoberta do mito, imaginação e criação, construíram-se os cenários e adereços para a peça, encenada por Nídia Roque. Orpheus é o terceiro espetáculo de uma tetralogia concebida pelo Teatro da Cidade e inspirada nas Metamorfoses, escritas por Ovídio há mais de 2000 anos.
Os dois primeiros espetáculos, Agora que o carro do sol já passou e O voo de Ícaro, foram igualmente produzidos com a colaboração de alunos do ensino básico na criação dos cenários. A peça será apresentada no Museu da Marioneta, desta vez no âmbito do Plano Nacional das Artes, para a Bienal Cultura e Educação 2023.
O mito de Orfeu e Eurídice
Orfeu, filho de Apolo, deus das artes, do canto e da música, e de Calíope, musa da poesia, recebe muito jovem uma lira de sete cordas. Apaixonado por música, a sua melodia era tão perfeita que não só os animais, como até as árvores, rochedos e a água dos rios, se uniam para a ouvir.
Orfeu acompanha a viagem dos Argonautas (no nome do barco em que viajam – Argo), e a sua música ajuda-os a ultrapassar inúmeras dificuldades, encorajando os remadores a nunca desistir. É no regresso da viagem que Orfeu casa com Eurídice.
Um dia, Eurídice é mordida no calcanhar por uma serpente venenosa, tendo morte imediata. Inconsolável, Orfeu decide ir às profundezas da terra, ao reino de Plutão, recuperar Eurídice. Enfrenta Cérbero, o cão tricéfalo guardião dos infernos, convence Plutão e Proserpina, e consegue trazer Eurídice para o mundo dos vivos com uma condição: enquanto Eurídice não vir a luz do sol, Orfeu não pode olhar para trás.
Quando estão a sair dos infernos Orfeu olha para trás para verificar que não tinha sido enganado e que Eurídice vem com ele. Não cumprindo o prometido, perde a sua amada para sempre.
Do reino das marionetas ao palco
A viagem da escola foi mais curta do que a de Orfeu. A Escola n.º 72 fica umas ruas acima do Convento das Bernardas. Com sol ou com chuva, a equipa do Serviço Educativo fez várias viagens até à escola, guiada pelo empenho da professora e pelo imaginário dos 20 alunos do 4ºB. Sob orientação da equipa do serviço Educativo, da professora e da encenadora leram-se os textos, pensou-se o mito, puseram-se mãos-à-obra e construíram-se os cenários e adereços.
Entusiasmados, os alunos vieram também ao Museu da Marioneta, numa visita orientada onde ficaram a conhecer marionetas e máscaras de várias partes do mundo e os seus diferentes tipos de manipulação. Reunidas as informações, os alunos apresentaram as suas propostas. E assim como Orfeu convenceu Plutão e Proserpina, também os alunos convenceram os mediadores do Serviço Educativo. Foram assim concretizadas plasticamente todas as ideias, com o objetivo de as levar a palco. Havia também uma condição: confiarem uns nos outros, inspirarem-se uns aos outros, e acreditarem no resultado do trabalho em equipa.
Do mito à produção
Depois de apresentado e analisado o mito de Orfeu, os 20 alunos da turma foram divididos em cinco grupos. Cérbero, o cão tricéfalo guardião do reino dos mortos e a serpente responsável pela morte de Eurídice, foram construídos por um dos grupos em marionetas de sombra articuladas. Jasão, Eurídice, a Morte, Proserpina e o Dragão surgem como adereço de cena num Livro de Máscaras, em que cada personagem foi desenhada pelos alunos. Os restantes dois grupos ficaram responsáveis por ilustrar a viagem dos argonautas, construindo montanhas e rochedos para o cenário.
Em cena há ainda um exército, composto por vinte figuras em silhueta inspiradas nas pinturas “A Dança” (1988) de Paula Rego e “La Danse” (1909-1910) de Henri Matisse.
Nídia Roque
Licenciada pela Escola Superior de Teatro e Cinema, ramo de interpretação. Trabalhou no Teatro da Cornucópia com Luis Miguel Cintra, nos Artistas Unidos em encenações de Jorge Silva Melo e Pedro Carraca, trabalhou também com João Mota, Ricardo Neves-Neves, Os Possessos, e Bruno Bravo. Em 2016 fundou a companhia Teatro da Cidade onde é criadora e atriz. A partir de 2018 começou a desenvolver projetos com crianças e jovens, incentivando práticas da expressão dramática através da participação em oficinas de interpretação. Em 2018 iniciou uma parceria com o Museu da Marioneta, com o objetivo de aproximar a escola, o museu e o teatro, através de projetos participativos. Este primeiro projeto foi pensado em quatro etapas, formando uma tetralogia inspirada em temas das Metamorfoses, de Ovídio. Este ano, a peça Orpheus entrará em cena no dia 13 de maio.
De onde surgiu o interesse pelos mitos clássicos como tema de teatro para os mais jovens?
A mitologia começou a interessar-me durante a minha formação como atriz, quando estudei o período da Antiguidade Clássica e quando comecei a ler tragédias gregas. Os textos como Hipólito de Eurípides, ou Rei Édipo de Sófocles, A Odisseia de Homero ou as Metamorfoses de Ovídio, comunicam muito comigo, pela beleza de como são escritos, e pelas imagens que transmitem através da escrita, e isso a mim comove-me e inspira-me muitíssimo. Mas a relação da mitologia com o público mais jovem começou só em 2017 quando o Teatro da Cidade fez duas curtas de teatro na mostra Noites Curtas, um festival desenvolvido pelo Projeto Ruínas, em que um dos espectáculos que fizemos se chamava Orfeu e Eurídice. Começámos por ler e explorar o capítulo A Criação, presente nas Metamorfoses, como incitação de leitura para pensarmos noutras temáticas, e acabámos por ir ao encontro do mito de Orfeu e Eurídice. Sentia que tinha sido uma abordagem tão estimulante, que merecia mais estudo, mais pensamento, apetecia-me abordar a mitologia em espectáculos, e queria levar mais longe o contacto que tinha tido com esta obra. Propus assim ao Teatro da Cidade fazermos um espectáculo a partir das Metamorfoses de Ovídio, mas para a infância. Até então nunca tínhamos feito espectáculos para este público, mas tinha a intuição de que era por ali que devia seguir. A partir daí começámos a pensar nesta tetralogia, porque um só espectáculo seria pouco para abarcar esta obra, e fui dirigindo o projeto com a perspetiva de trazer este universo fantástico para a infância.
Ainda que as histórias, a animação, os videojogos, estejam inundados de referências desta herança mitológica, eu quis fazê-lo porque pensava que podia ser um contributo interessante nestas idades, conhecerem-se histórias milenares que fazem parte da nossa identidade cultural e do nosso universo coletivo.
“Como se contam os mitos?” era a pergunta que mais me ocorria. Sendo na sua maioria bastante trágicos e complexos, comecei a questionar-me de que forma os mitos que escolhia comunicavam comigo e com o mundo que me rodeia, com a contemporaneidade e com as pessoas que são o público-alvo destes espectáculos.
Não é muito comum um museu escolher um teatro/uma companhia de teatro para uma parceria e vice-versa. Mas a verdade é que já vamos na terceira peça de teatro feita no âmbito desta colaboração. Pode falar-nos um pouco deste projeto, e da sua importância?
Pessoal e artisticamente é de uma importância gigantesca, e para o Teatro da Cidade também. É a primeira vez que trabalhamos com uma instituição de forma tão continuada, o que por um lado nos permite crescer e desenvolver o nosso trabalho, e por outro, creio que é das sinergias mais interessantes. Temos a possibilidade de conhecer dinâmicas de trabalho diferentes da nossa, de cruzar conhecimentos, e de ter a confiança mútua no objeto artístico final. As equipas conhecem-se, trabalham em conjunto, há um diálogo constante e é tudo mais simples. Ensaiar no lugar onde se vai estrear o espectáculo é muito enriquecedor - por exemplo, de vez em quando vou espreitar a sala de exposições para me inspirar, porque está ali, ao meu alcance – as ideias nascem também do lugar onde se trabalha, e isso é muito rico. E o facto de podermos ensaiar na sala de espectáculos com algum tempo antes da estreia é um privilégio, que faz toda a diferença.
Quando pensámos no Museu da Marioneta para propor estes espectáculos, o desejo era o de precisamente integrar a linguagem e a dimensão cultural do próprio museu com a visão artística que temos do teatro. Poder cruzar as convenções teatrais com o que caracteriza o Museu da Marioneta – o universo das marionetas, do teatro de sombras, das máscaras – era o nosso objetivo artístico também, e isso tem sido possível porque sentimos que temos as portas abertas, onde podemos cruzar estas linguagens com liberdade criativa, que enriquecem os espectáculos, e esta relação só existe porque estas parcerias acontecem. Não pensaria nisto provavelmente de forma tão clara se estivesse num teatro, ou numa sala de ensaios convencional.
O que a motivou a escolher o mito de Orfeu e Eurídice e o que a orientou na revisitação da história?
É dos mitos mais bonitos de sempre, eu acho. Senti o impulso de o contar porque na verdade me comove muito. Acho que esperei por este capítulo avidamente, para poder falar sobre ele. Depois de abordarmos histórias como o mito de Narciso ou do Minotauro onde me interessava pensar em conceitos como a diferença, o reconhecimento do outro, a relação com o “eu”, agora com o mito de Orfeu e Eurídice desejo abordar a questão da identidade enquanto lugar de metamorfose e do amor como lugar para o espanto. Nesta revisitação do mito, o actor conta-nos o dia em que se metamorfoseou na personagem de Orfeu (referências ao universo de máscaras que habita o museu, e à obra A Metamorfose de Kafka), experiência esta que começa com ele (o actor do espectáculo) a ouvir uma melodia que acaba por o perseguir. É esta melodia que o conduz a viver as aventuras desta personagem mitológica, incluindo a sua relação com Eurídice, que decide resgatar, transpondo o reino das sombras. Esta melodia, na minha imaginação, poderá ser uma metáfora para a intuição, como caminho que desagua nas experiências que desejamos viver.
Ao longo do processo de escrita do texto interroguei-me muito sobre a personagem de Eurídice. Qual terá sido o seu ponto de vista, porque há muita coisa escrita sobre Orfeu, mas sobre Eurídice nem por isso e no entanto, não se pode falar de Orfeu sem Eurídice. E por isso, o resgate desta personagem feminina, foi um dos elementos que mais me motivou a pensar no espectáculo. Elucidou-me pensar nisto quando li o poema Eurydice, de E.D (Hilda Doolittle) e alguns poemas da Sophia de Mello Breyner Anderson, como o Soneto de Eurydice. Contribuíram para a revisitação do mito as pesquisas que fiz ao Orfeu da Conceição de Vinícius de Morais, a poemas do Miguel Torga, a textos da Maria Helena da Rocha Pereira, algumas passagens por As Argonáuticas de Apolónio de Rodes, todos estes materiais me ajudaram a construir e a pensar o espectáculo. O modernismo português, sobretudo algumas pinturas de Amadeo de Souza Cardoso ajudavam-me a pensar na linguagem das sombras, o abstracionismo enquanto movimento, acompanhou-me na imaginação da estética do espectáculo; e há três livros que estão sempre comigo: Metamorfoses, de Ovídio, claro, Os Mitos Gregos de Robert Graves, e O Dicionário da Mitologia Grega e Romana de Pierre Grimal. Também a composição de Gluck Orfeu e Eurídice, e a Jessye Norman a cantar O Lamento de Dido, em Dido e Eneias de Purcell, acompanharam a escrita do texto, num processo que é sempre muito solitário e que sofre alterações quando começamos os ensaios, mas que enriquece o processo e a revisitação do mito. E porque o espectáculo foi pensado para um actor e uma violoncelista, porque também a música é indissociável de Orfeu e de Eurídice, inspirar-me com a música era inevitável. Conduziram-me outras referências que provavelmente não estou a mencionar, mas enfim...
De que forma teve influência nesta criação a participação de alunos de 9 e 10 anos na construção dos cenários, sendo eles simultaneamente o público-alvo deste espectáculo?
Desde o início deste projeto que tive vontade de estabelecer uma relação com o nosso público-alvo, e pensei que uma maneira disso acontecer podia ser a dos alunos se envolverem na criação, construindo connosco adereços que fizessem parte do espectáculo. Esta relação de proximidade com os alunos e com as escolas com quem temos feito esta parceria é uma relação que tem sido possível graças ao trabalho e cumplicidade do Serviço Educativo do Museu da Marioneta que é a grande ponte e é quem conduz as oficinas com os alunos, em diálogo connosco.
Poder envolver o nosso público-alvo permite-nos ter acesso à espontaneidade do seu pensamento e da sua expressividade na criação dos materiais, o que não existiria se não estivéssemos a fazer isto com eles, alunos. Conversámos com eles sobre os mitos que vamos abordar e a visão deles é riquíssima. Têm muito sentido de humor, e isso é incrível. E levantam muitas questões interessantes para se pensar em conjunto.
Qual foi a reação dos alunos em relação a uma história milenar e à sua adaptação ao teatro?
Ficaram espantados com este final trágico, e perguntaram porque é que o Orfeu olhou para trás. Uns acharam que Orfeu se tinha virado por medo, medo de perder a Eurídice; que teria sido um instinto, como os pais fazem quando as crianças caminham atrás, e os pais se voltam para confirmar que os filhos os estão a seguir; O reino dos mortos, o reino das sombras, o inferno, suscitaram múltiplas interrogações. Alguns alunos acharam que se devia ter definido um limite para Orfeu saber qual o momento em que estava a sair do reino das sombras. Outros imaginaram que Eurídice teria dito alguma coisa que fez com que Orfeu olhasse para trás… todos se identificaram com algo que lhes era próximo… foi surpreendente discutir com eles este mito, e ver as suas reações naturais à história do amor de dois jovens, mesmo com a sua tragédia no final. A parte da reescrita do mito vai ficar para quando eles vierem ver o espectáculo.
Ao longo deste projeto de continuidade desenvolvido com o Museu e com uma escola de proximidade qual o melhor momento que destacaria?
É muito bonito quando os alunos vêm ver o espectáculo e no final conversamos, e há uma cumplicidade em que sentimos que fizemos todos parte do mesmo projecto e da mesma criação, mas se pudesse descrever as reações deles quando contamos os mitos e eles levam as mãos à cabeça e dizem: “Eishhh!...”, como se dissessem “Não acredito!”, sentindo compaixão por estas personagens, seria o que destacaria. As reações são muito engraçadas e percebe-se que os mitos são intemporais, em qualquer época há uma identificação e uma leitura.
Falta uma peça para encerrar esta tetralogia. Continua a acreditar que teatros e museus são úteis e necessários, e trabalhar em uníssono com as escolas é fundamental?
Completamente. Tenho vontade de continuar este diálogo com as escolas e com os alunos. Trabalho com crianças noutros contextos, e as crianças inspiram-me muito a pensar nos espectáculos, seja em contexto de aulas, seja durante as oficinas que temos com os alunos, no contexto dos espectáculos. São pessoas criativas por natureza, e imaginam coisas que, muitas vezes, a mim não me passariam pela cabeça. Não estão fechadas em tantos códigos, como os adultos, e imaginar com elas é abrir horizontes. Esta relação com o público-alvo é fundamental e tenho muita vontade de desenvolver outro género de relação com este público, de aprofundar este contacto, como por exemplo, ter ensaios assistidos com elas, para que possam estar cada vez mais envolvidas connosco e nós com elas. Perceber também o que gostariam elas de ver em cena, o que as faria ter ainda mais vontade de voltar a um museu ou a um teatro. Tentar que queiram perpetuar a sua relação com a arte, com a fruição da experiência cultural, é uma das coisas em que penso muito. Fala-se tanto da construção de públicos...acho que as crianças são precisamente as pessoas nas quais mais podemos pensar e investir.
Estas parcerias com museus, e com teatros que investem em espectáculos para a infância, com um serviço educativo empenhado, e com uma direcção artística que pensa nos espectáculos para a infância com seriedade e visão artística, cultural, social é muito estimulante e importante. Devolvem-nos, a nós, criadores, a responsabilidade e a vontade de pensar em espectáculos para estas idades e de trabalhar em conjunto, também a partilhar pensamento com as equipas dos teatros e dos museus. A parceria com instituições que trazem outras aprendizagens e outras perspetivas, outras abordagens, permitem abrir caminho, explorar novos conceitos, convenções e códigos artísticos que me interessam continuar a explorar.
Há alguma coisa que gostasse de dizer?
Aproveito apenas para agradecer ao Museu, a toda a sua equipa, em particular à Ana Paula Rebelo Correia, que nos permite continuar este projecto, acreditando nele, de forma tão implicada, à Maria Carrelhas que nos acompanhou muito num ano conturbado para todos, e à Maria José Machado Santos, que nos abriu as portas pela primeira vez em 2018. Esta tetralogia não acabou, e apesar de já sonhar com algumas ideias para o último espectáculo, tenho desde já comigo um sentimento de grande gratidão para com o museu, com toda a sua equipa. Agradeço também a toda a equipa artística que está comigo, alguns desde o primeiro espectáculo, outros que entraram apenas em alguns, artistas incríveis, e pessoas maravilhosas, que confiaram neste projecto e que o têm construído comigo de forma muito bonita e generosa.
Nota: O autor escreve sem acordo ortográfico